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FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique

Discente: Tonito João Francisco Código: 91230557

Pemba, Maio de 2023


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FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique

Discente: Tonito João Francisco Código: 91230557

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Direito do
ISCED, 1º Ano no Módulo de
Introdução a Direito sob orientação do
docente da disciplina.

Pemba, Maio de 2023


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Índice
Introdução............................................................................................................................. 3

Objectivos............................................................................................................................. 3

Metodologia.......................................................................................................................... 3

1. Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique .............................. 4

1.2. Sentido e Alcance do Direito à Liberdade De Manifestação............................................ 4

1.3. Chamamento Das Instituições Chave Para Agir .............................................................. 6

1.4. Ingerências no Direito De Reunião ................................................................................. 6

1.5. Limitações à Liberdade de Reunião e de Manifestação ................................................... 7

1.5.1. Proibição de Participação em Reunião ......................................................................... 7

1.5.2. Direito Constitucional Colidente.................................................................................. 7

Conclusão ............................................................................................................................. 8

Referencias Bibliográficas..................................................................................................... 9
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Introdução
Há vários anos que é recorrente o governo de Moçambique, através da sua força policial,
limitar ilegalmente o exercício do direito à manifestação pacífica pelos cidadãos ou diferentes
grupos sociais, por violação dos seus direitos e interesses legalmente reconhecidos ou contra
a má gestão da coisa pública. A manifestação do tipo marcha na via pública é praticamente a
mais temida pela Administração Pública. A intervenção da Polícia da República de
Moçambique (PRM) para impedir o exercício do direito a manifestação pacífica e livre tem
sido caracterizado por detecções arbitrárias, agressão física, baleamentos, tortura e outros
maus tractos que consubstanciam violação dos direitos humanos, para além de argumentos
falaciosos de que a manifestação não foi autorizada.

Perante esta situação, é curioso e notório a injustificada inércia das instituições de justiça
relevantes nesta matéria, o que é problemático, preocupante, na medida em que perpetua a
impunidade das autoridades policiais e civis que violam o direito à liberdade de reunião e
manifestação e outros direitos humanos neste contexto.

Objectivos
Geral:
 Descrever os critérios utilizados pelo direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso
de Moçambique.

Específicos:
 Compreender as limitações à Liberdade de Reunião e de Manifestação;
 Identificar as principais limitações à Liberdade de Reunião e de Manifestação.

Metodologia
A metodologia usada para a elaboração do presente trabalho foi com base na pesquisa
documental e consulta de forma censurada e sucinta de algumas obras que abordam sobre o
assunto. Quanto a estrutura o trabalho é regido de regras da ISCED, medidas vigentes tais
como: introdução, desenvolvimento, conclusão e referencias bibliográficas que esta presente
no final do trabalho.
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1. Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique


1.1. Precisão Conceptual
Diferentemente do que acontece com outras Constituições europeias, a Constituição da
República (CR) assume uma posição clara quanto a uma questão fundamental
frequentemente discutida na doutrina: a de saber se o direito de reunião compreende o direito
de manifestação ou se são dois direitos distintos. A epígrafe do art. 45º da Constituição da
República Moçambicana (CRP), seguida da estruturação clara do preceito em duas
regulações distintas, não deixa dúvidas no sentido de que se trata de dois direitos distintos:
“direito de reunião e de manifestação”.

1.2. Sentido e Alcance do Direito à Liberdade De Manifestação


De acordo com o disposto no artigo 51 da Constituição da República de Moçambique
(CRM): “Todos os cidadãos têm direito à liberdade de reunião e manifestação nos termos da
lei.” O que significa que se trata de um direito fundamental que é directamente
aplicável, vincula as entidades públicas e privadas, deve ser garantido pelo Estado e deve ser
exercido no quadro da Constituição e das leis, conforme se depreende do n.º 1 do artigo 56 da
CRM.

No entanto, na interpretação do n.º 2 do artigo 56 da CRM, é fácil perceber que o direito à


manifestação pode ser limitado em razão da salvaguarda de outros direitos ou interesse
protegidos pela Constituição, como é o caso da salvaguarda da ordem e tranquilidade
públicas, da saúde pública e da vida. A manifestação do tipo marcha pode ser limitada em
virtude da luta contra a Pandemia da Covid-19, tendo sempre em conta que pelo imperativo
constitucional, essa limitação só por ter lugar nos casos expressamente previstos na
Constituição. (Vide n.º 3 do artigo 56 da CRM).

O exercício do direito à manifestação está regulado na Lei n.º 9/91, de 18 de Julho (Lei das
Manifestações) e na Lei n.º 2/2001, de 7 de Julho que altera alguns artigos da Lei das
Manifestações.

“A manifestação tem por finalidade a expressão pública de uma vontade sobre assuntos
políticos e sociais, de interesse público ou outros.” É o que dispõe o n.º 3 do artigo 2 da Lei
das Manifestações. Trata-se, pois, de exercício de um direito que serve como um meio de
supervisão da Administração Pública ou da actividade do Estado pelo cidadão e é exercida
nos processos de planeamento, acompanhamento, monitoramento e avaliação das acções de
gestão pública e na execução das políticas e programas públicos, visando o aperfeiçoamento
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da gestão pública à legalidade e justiça e respeito pelos direitos humanos. A manifestação é,


indubitavelmente, pressuposto do princípio constitucional da participação democrática dos
cidadãos na vida pública.

Nos termos do n.º 1 do artigo 3 da Lei das Manifestações; “Todos os cidadãos podem,
pacífica e livremente, exercer o seu direito de reunião e de manifestação sem dependência de
qualquer autorização nos termos da lei.” Desta disposição resulta clara e expressamente que a
manifestação não carece de qualquer autorização. O que significa que não há necessidade de
formular pedido para realização da manifestação à nenhuma autoridade pública ou privada.

Todavia, aqueles que pretendem realizar manifestação do tipo marcha, desfile ou cortejo em
lugares públicos ou abertos ao público devem informar nesse sentido, avisando ou
comunicando, por escrito, essa pretensão com antecedência mínima de quatro dias úteis, as
autoridades civis e policiais da área em questão. É o que determina o n.º 1 do artigo 10 da Lei
das Manifestações. Cumpridas essas formalidades, que também são questionáveis à luz das
garantias constitucionais dos direitos e liberdades fundamentais, as autoridades civis e
policiais devem garantir o livre exercício da manifestação pacífica e não procurar artimanhas
sem cobertura legal para impedir, a todo o custo, a realização da manifestação. (Vide artigo 8
da Lei das Manifestações).

Aliás, qualquer decisão de proibição ou restrição da manifestação compete a autoridade civil


da área em causa e não à autoridade policial, para além de que essa proibição deve ser
fundamentada e notificada por escrito aos promotores da manifestação, no prazo de dois dias
a contar da data da recepção da comunicação pelas autoridades, sob pena de ineficácia da
proibição caso não sejam respeitados estes requisitos consagrados no artigo 11 da Lei das
Manifestações e sobretudo os critérios de limitação dos direitos e liberdades fundamentais
constitucionalmente estabelecidos.

As normas do direito internacional sobre os direitos humanos de que o Estado moçambicano


é parte, cujos princípios orientadores inspiraram a elaboração da CRM, também protegem os
direitos e liberdades fundamentais, incluindo o direito à liberdade de reunião e de
manifestação, de restrições ou limitações arbitrárias como se pode aferir da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, da Carta Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos,
do Pacto internacional dos Direitos Civis e Políticos, da Carta Africana sobre os Valores e
Princípios da Função, Administração Pública, etc. Aliás, determina o artigo 43 da CRM que:
“Os preceitos constitucionais relativos aos direitos fundamentais são interpretados e
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integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Carta


Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos.”

1.3. Chamamento Das Instituições Chave Para Agir


Considerando que há anos que é deveras difícil os cidadãos exercerem livre e pacificamente
a liberdade de reunião e de manifestação, sobretudo, na vertente de marcha na via pública,
devido a brutalidade policial, a denegação das autoridades civis para o exercício das
liberdades em causa, com a consequente violação de direitos humanos, da legalidade e da
justiça urge a intervenção e pronunciamento público de determinados actores chave nesta
matéria, quais sejam:

a) O Ministério Público como garante da legalidade e enquanto titular da acção penal,


tem a obrigação de investigar os factos supra descritos de modo a apurar a existência
ou não de ilícitos de natureza criminal por parte dos agentes da PRM e também repor
a legalidade violada por parte das autoridades civis que denegam a realização da
manifestação infundadamente.
b) O Provedor de Justiça na qualidade de órgão que tem como função a garantia dos
direitos dos cidadãos, a defesa da legalidade e da justiça na actuação da
Administração Pública;
c) A comissão nacional dos direitos humanos que tem o mandato de promover,
proteger e monitorar os direitos humanos no país, bem como consolidar a Cultura de
Paz;
d) A Assembleia da República na qualidade do mais alto órgão legislativo na República
de Moçambique e autor da Lei das Manifestações para proceder a interpretação
autêntica das normas sobre o exercício do direito à liberdade de reunião e
manifestação com vista a dissipar as dúvidas e problemas de interpretação que
permitem espaço para abuso de poder e violação dos direitos humanos, no contexto do
exercício destas liberdades.

1.4. Ingerências no Direito De Reunião


Outro aspecto que suscita problemas importantes na abordagem do direito de reunião e de
manifestação consiste na questão da ingerência. Constituem ingerência no direito de reunião
as exigências que a lei ordinária faz para o seu exercício. Estão em causa, por exemplo, a
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obrigação de “avisar” as autoridades competentes ou, em certos casos, de obter junto delas
uma licença prévia ao exercício do direito de reunião (Correia, 2006).

1.5. Limitações à Liberdade de Reunião e de Manifestação


A “Lei das Reuniões” é uma lei especial face à legislação policial e ordenacional geral e ao
código de estrada. Por isso, aplica-se com prioridade face a estas leis (princípio segundo o
qual a lei especial precede e bloqueia a aplicação da lei geral). Mas a lei das reuniões,
enquanto lei especial, apenas se aplica até onde ela alcança. Assim, na falta de regulação
expressa da Lei das Reuniões, as autoridades competentes e as forças policiais devem apoiar
as suas medidas nas leis policiais gerais (especialmente leis orgânicas da PSP e da GNR, no
que regulam em matéria de actuação policial) (Sousa, 2009).

Também deve ser aplicado o princípio da precedência das “medidas menos ablativas”, que
não está previsto na lei das reuniões, mas que faz parte das regras de actuação policial em
geral. Assim, as forças policiais devem, na sua actuação ligada a reuniões (e manifestações)
públicas, dar preferência a uma ingerência menos ablativa quando esta se revele igualmente
adequada a atingir o fim legal em vista (Guys, 2002).

1.5.1. Proibição de Participação em Reunião


Outra importante questão que se suscita no domínio do direito de reunião e de manifestação
consiste em saber até que ponto este direito pode ser negado aos militares e aos agentes
policiais. A lei militar e a legislação das forças policiais proíbe que militares e agentes
policiais se manifestem fardados ou participem fardados em reuniões de carácter político em
espaços fechados ou abertos (Sousa, 2009).

1.5.2. Direito Constitucional Colidente


Não menos importante é a questão da colisão do direito de reunião e de manifestação com
outros direitos fundamentais, que acontece frequentemente na prática. Se, por exemplo, a
polícia toma conhecimento de que, possivelmente, uma bomba irá explodir numa reunião
pública em espaço fechado (ou aberto), poderá dissolver imediatamente a reunião. Neste
caso, verifica-se uma situação de “perigo directo para a vida e para a saúde dos
participantes”. A salvaguarda da vida e da saúde dos participantes colide com a garantia do
direito de reunião (ou de manifestação) (Sousa, 2009).
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Conclusão
Os direitos de reunião e de manifestação suscitam muitas questões jurídicas importantes e de
difícil resposta. Por se tratar de uma figura central do Estado de direito democrático, o direito
de reunião e de manifestação deve merecer a maior atenção por parte dos estudiosos e
práticos do direito para que os direitos e liberdades subjacentes sejam devidamente
conciliados com outros direitos e liberdades de cada um, de grupos sociais e da sociedade em
geral. Por se estar no domínio dos direitos e liberdades fundamentais, a actuação das forças
policiais encarregadas de salvaguardar a ordem e a segurança públicas deve também ser clara
e transparente, para que as restrições sejam legais e reduzidas ao mínimo indispensável.
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Referencias Bibliográficas
Baumler, Helmut. (1986), Para uma “Lei das Reuniões e Manifestações em Lugares
Públicos ou Abertos ao Público. Juristen Zeitung.

Constituição da Republica de Moçambique.

Correia, J. M. Sérvulo. (2006), O Direito de Manifestação – Âmbito de Protecção e


Restrições. Coimbra: Almedina.

Gusy, Christoph. (2002), Reuniões e Manifestações. Actuação Policial. Centro de


Investigação do ISCPSI.

Sousa, António Francisco de. (2009), Direito de Reunião e de Manifestação. Quid Juris:
Lisboa.

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