Você está na página 1de 11

UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


Curso de Licenciatura em Administração Pública

Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique

Nome do estudante:

Nampula, Maio 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Licenciatura em Administração Pública

Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique

Trabalho de Campo a ser submetido


na Coordenação do Curso de
Licenciatura em Administração
Pública da UnISCED.
Tutores:

Nampula, Maio 2023

Índice

2
1. Introdução............................................................................................................................4

1.1. Objectivos.....................................................................................................................4

1.2. Metodologia.................................................................................................................4

1.3. Estrutura do trabalho....................................................................................................4

2. Direito a liberdade de reunião e manifestação.....................................................................5

2.1. Conceito e elementos...................................................................................................5

2.2. Liberdade de reunião e democracia..............................................................................6

3. Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique.............................7

3.1. Restrições legais do direito à liberdade de reunião e manifestação.............................8

3.2. Controlo das medidas restritivas de direito às liberdades de reunião e manifestação..9

4. Conclusão..........................................................................................................................10

Referencia bibliografica............................................................................................................11

1. Introdução
3
O tema da liberdade de reunião e de manifestação é, sem dúvida, um dos temas centrais do
Estado de direito democrático, pois é através do exercício desta liberdade que os
cidadãos podem exprimir livremente a sua opinião, criticar o poder, fazer exigências,
enfim, erguer a voz contra a injustiça e a opressão. Sem liberdade de reunião e de
manifestação não há verdadeira democracia.

Neste presente trabalho tem como Tema: “Direito a liberdade de reunião e manifestação: o
caso de Moçambique.”

1.1. Objectivos

Geral:

 Refletir sobre o Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique

Específicos:

 Falar do Direito a liberdade de reunião e manifestação num contexto geral;


 Conceituar o Direito a liberdade de reunião e manifestação;
 Falar do Direito a liberdade de reunião e manifestação em Moçambique.

1.2. Metodologia

Portanto, sendo um estudo de natureza investigativo, para a realização do presente trabalho


recorreu-se a consulta de diferentes fontes bibliográficas. Conforme Lakatos e Marconi
(2007), este tipo de pesquisa tem como finalidade colocar o pesquisador em contacto directo
com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto. E, no entanto, Martins
(2001) afirma que a pesquisa bibliográfica procura explicar e discutir um tema com base em
referências teóricas publicadas em livros, revistas, periódicos e outros. Busca também,
conhecer e analisar conteúdos científicos sobre determinado tema.

1.3. Estrutura do trabalho

O trabalho encontra-se estruturado da seguinte maneira: primeiro a contextualização do tema,


onde abordou-se o conceito de Direito a liberdade de reunião e manifestação num contexto
geral, e de seguida falou – se do caso de Moçambique. E lá para o fim do trabalho apresenta-
se a conclusão e a sua respectiva referência bibliográfica.

2. Direito a liberdade de reunião e manifestação


4
2.1. Conceito e elementos

A liberdade de reunião compreende o direito de convocar, promover, organizar ou liderar


uma reunião, além de efetivamente dela participar, integrando-se aos demais componentes.

De acordo com os ensinamentos de Silva (2005, p. 264), reunião é “qualquer agrupamento


formado em certo momento com o objetivo comum de trocar ideias ou de receber
manifestação de pensamento político, filosófico, religioso, científico ou artístico”.

Segundo Menezes de Almeida (2001, p. 144-157), a reunião constitucionalmente tutelada é


composta por cinco elementos: pessoal, espacial, temporal, organizacional e teleológico.

O elemento pessoal refere-se à necessidade de uma pluralidade de sujeitos. Afinal, não é


possível reunir-se consigo mesmo. O elemento pessoal evidencia a dimensão coletiva da
liberdade de reunião. Todavia, embora o seu exercício proclame a atuação de duas ou mais
pessoas, a titularidade permanece de cada um dos indivíduos. Dessa forma, pode-se afirmar
que a liberdade de reunião constitui um direito individual, porém de exercício coletivo.

O elemento espacial pressupõe a aproximação física ou espacial entre os participantes da


reunião. No entanto, tal elemento tem sido relativizado em razão do avanço tecnológico dos
meios de comunicação nas últimas décadas, permitindo a conformação de “reuniões virtuais”,
cujos participantes encontram-se situados, simultaneamente, em diferentes espaços
geográficos.

O elemento temporal correlaciona-se ao caráter transitório e descontinuado das reuniões. As


reuniões apresentam duração limitada no tempo, encerrando-se com a dispersão dos seus
participantes.

O elemento organizacional remete à exigência de um mínimo de direção comum, ainda que


de maneira tênue. Tal elemento visa diferenciar a reunião de uma mera aglomeração fortuita e
desordenada, sendo esta última um irrelevante jurídico, que não goza de proteção específica.

Todavia, a organização inerente ao direito de reunião não requer uma institucionalização


jurídica, como no caso das associações, ou o cumprimento de maiores complexidades ou
formalidades.

2.2. Liberdade de reunião e democracia


5
A liberdade de reunião consiste em um direito fundamental caro ao Estado Democrático de Direito, na
medida em que propicia a difusão de diferentes ideias no âmbito de uma sociedade plural e
heterogénea, fomentando o pluralismo político.

Nesse sentido, a liberdade de reunião apresenta um carácter eminentemente instrumental.


Trata-se de um direito-meio com vistas ao pleno exercício do direito-fim da liberdade de
expressão. Ou seja, a liberdade de reunião se traduz em um mecanismo para o exercício
colectivo da liberdade de pensamento.

Mendes e Branco (2015, p. 295) expressam a íntima correlação entre a liberdade de


expressão, o direito de reunião e a democracia, ao constatarem que:

A livre opinião pública é fundamental para o controle do exercício do poder e é


tributária da garantia da liberdade de expressão e também do direito de reunião, pelo
qual se assegura às pessoas a possibilidade de ingressarem na vida pública e
interferirem activamente nas deliberações políticas, pressionando por uma variante
de acção estatal.

A tutela da liberdade de expressão e o direito ao voto popular são os alicerces de uma


sociedade democrática. A livre circulação de ideias e informações contribui para o controle e
a fiscalização das atividades do Estado, além de promover uma melhor conscientização da
população acerca dos problemas que a circunda, o que resulta em maior participação política e
aptidão para a tomada de decisões.

O direito de manifestação constitui alicerce para a edificação de uma sociedade dialogista.


Pois, por meio deste direito os cidadãos podem expressar as suas demandas, realizar o
controlo sobre a gestão da coisa pública e limitar a acção arbitrária dos governantes. Do latim
manifestare, significa mostrar, demonstrar, revelar, isto é, retirar algo do oculto, tornando –o
publico. Neste sentido, o livre exercício do direito de manifestação seria a exteriorização de
demandas ocultas ou não resolvidas pelo poder público para que estes as resolvam.

O caso mais recente foi o de 18 de Marco, onde a Polícia moçambicana reprimiu as marchas
em homenagem ao rapper Azagaia em várias cidades Moçambicanas. Fortemente armado ate
aos dedos, com cães, as autoridades policiais dispersaram jovens que queriam exaltar a obra
do músico e activista de intervenção social, tendo usando o gás lacrimogéneo para atingir os
seus intentos o que agitava os presentes.

6
Activistas, rappers e fãs reagiram com tristeza à notícia e encheram as suas páginas nas redes
sociais com homenagens ao "símbolo do desassossego", cujas músicas ganharam repercussão
nos demais países africanos de língua portuguesa.

3. Direito a liberdade de reunião e manifestação: o caso de Moçambique

A Lei moçambicana sobre Direito à Reuniões e Manifestações n. 9/1991, parcialmente


modificada pela Lei 7/2001 e o artigo 51 da Constituição, permitem protestos pacíficos, mas
este direito é muitas vezes mal interpretado e não implementado como por lei. A lei exige que
os organizadores notifiquem a polícia antes da manifestação (artigo 10 da Lei 9/1991).

“A manifestação tem por finalidade a expressão pública de uma vontade sobre assuntos
políticos e sociais de interesse público e outros.” É o que dispõe o nᵒ 3 do artigo 2 da lei das
manifestações. Trata-se, pós, de exercício de um direito que serve como um meio de
supervisão da Administração Publica ou da actividade do Estado pelo cidadão e é exercida
nos processos de planeamento, acompanhamento, monitoramento e avaliação das acções de
gestão publica e na execução das politicas e programas públicos, visando o aperfeiçoamento
da gestão publica a legalidade e justiça e respeito pelos direitos humanos. A manifestação é,
indubitavelmente, pressuposto do principio constitucional da participação democrática dos
cidadãos na via publica.

Nos termos do nᵒ 1 do artigo 3 da lei das manifestações; “ Todos os cidadãos podem, pacifica
e livremente, exercer o seu direito de reunião de manifestação sem dependência de qualquer
autorização nos termos da lei”. Desta disposição resulta clara e expressamente que a
manifestação não carece de qualquer autorização. O que significa que não há necessidade de
formular pedido para a realização da manifestação a nenhuma autoridade pública ou privada.

Todavia, aqueles que pretendem realizar manifestação do tipo marcha, desfile ou cortejo em
lugares públicos ou abertos ao publico devem informar nesse sentido, avisando ou
comunicando, por escrito, essa pretensão com antecedência mínima de quatro dias úteis, as
autoridades civis e policias da área em questão. É que determina o nᵒ 1 do artigo 10 da Lei
das Manifestações. Cumpridas essas formalidades que também são questionáveis a luz das
garantias constitucionais dos direitos e liberdade fundamentais as autoridades civis e policiais
devem garantir o livre exercício da manifestação pacifica e não procurar artimanhas sem
cobertura legal para impedir, a todo o custo, a realizarão da manifestação.

7
Na prática, a polícia trata isso como um procedimento de aprovação, permitindo-se negar
permissão para protestos. Em 2013, uma organização da sociedade civil local na província do
Niassa foi solicitada a cancelar uma manifestação relativa ao mau estado de uma estrada.

As autoridades foram notificadas do protesto, mas alegaram que não podiam fornecer
segurança adequada. As organizações da sociedade civil (OSC) foram adiante com o protesto
e mais tarde foram multadas em US 8.80023.

Em 2015, a polícia interrompeu uma marcha de solidariedade em apoio a um advogado


constitucionalista, assassinado, alegando que não havia permissão para a marcha.

A polícia também intimida os manifestantes enviando um número excessivo de polícias


fortemente armados acompanhados por cães, até mesmo para pequenos protestos onde não há
probabilidade de violência. Houve incidentes de uso excessivo da força pela polícia durante
protestos.

3.1. Restrições legais do direito à liberdade de reunião e manifestação

As restrições relativas à liberdade de manifestação parecem estar a circundar todas as esferas


e de forma constante. No plano constitucional, decorre do número 2 do artigo 56 que as
liberdades de reunião e manifestação não são absolutas, podendo ser limitadas em razão de
salvaguarda de outros direitos ou interesses protegidos pela Constituição, mormente a saúde
pública. Deste dispositivo depreende-se que para evitar arbitrariedade, o legislador
constituinte desenhou todo um quadro em que limitações às liberdades de reunião e
manifestação são possíveis.

Assim, dispõem os números 2, 3 e 4 do artigo 56, que o “exercício dos direitos e liberdades
pode ser limitado em razão da salvaguarda de outros direitos ou interesses protegidos pela
constituição”; a “lei só pode limitar os direitos, liberdades e garantias nos casos
expressamente previstos na Constituição”; e que “as restrições legais dos direitos e das
liberdades devem revestir carácter geral e abstracto e não podem ter efeito retroactivo.”
Estas exigências da lei vinculam as autoridades públicas, ainda que tomadas em
circunstâncias ou situações excepcionais como o estado de emergência.

As liberdades de reunião e manifestação são igualmente objecto de tutela pela Carta Africana
de Direitos do Homem e dos Povos, artigo 11. Este instrumento dispõe que as liberdades de

8
reunião e manifestação se exercem sob reserva de restrições previstas por leis, no interesse de
segurança nacional, segurança de outrem, saúde, moral ou direitos e liberdades de outrem.

Decorre de jurisprudência constante da Comissão Africana de Direitos do Homem e dos Povo


o sistema africano de direitos humanos não permite distinções entre restrições de direitos em
circunstâncias e situações excepcionais e em períodos ditos normais4 , e as restrições
permitidas aos direitos consagrados da Carta são nos termos definidos pela Carta, seu artigo
27, número 2.

Número 2 do artigo 27 da Carta estabelece as mesmas exigências da reserva estabelecida no


artigo 11, designadamente restrição por via de lei, para respeitar os direitos de outrem,
segurança colectiva, moral e interesse comum.

3.2. Controlo das medidas restritivas de direito às liberdades de reunião e


manifestação

Como liberdade e direito afectado por certo coeficiente de relatividade e cujas razões são
cobertas pela margem nacional de apreciação, as restrições às liberdades de reunião e
manifestação não são feitas de forma discricionária.

Os critérios estabelecidos, tanto pela Constituição (limitação legal, salvaguarda de outros


interesses protegidos ou direitos de outrem) como pela Carta Africana (legalidade, respeito de
direitos de outrem, segurança colectiva, saúde, moral e interesse comum) resumem-se em
três:

1. Legalidade - restrição de um direito fundamental apenas pode resultar de lei;


2. Necessidade da restrição, dito motivos/razões imperiosas; salvaguarda de outros
interesses protegidos pela CRM, tal como a segurança, saúde pública ou de direitos de
outrem;
3. Proporcionalidade das medidas restritivas das liberdades e dos direitos fundamentais
à situação que as tornou necessárias. Estas exigências decorrem da preeminência do
Estado de Direito mencionado no artigo 3 da Constituição e permite reforçar a eficácia
do controlo da interferência das autoridades na esfera de direitos das pessoas e recurso
aos órgãos jurisdicionais em caso de excesso ou abuso de poderes das autoridades
públicas e consequentes violações de direitos fundamentais.

9
4. Conclusão

O ambiente legal para a liberdade de expressão e reunião é geralmente favorável. No entanto,


a plena implementação e respeito destas disposições legais continuam problemáticas.
Frequentemente há uma coordenação deficiente entre as partes interessadas, falta de
conhecimento e capacidades do lado dos funcionários do governo responsáveis pela
implementação no terreno (ou seja, em relação à Lei do Direito à Informação), não
cumprimento dos prazos e falta de mecanismos de monitoramento e avaliação.

10
Referencia bibliografica

Menezes, A, F. D (2001). Liberdade de reunião. São Paulo: Max Limonad

Silva, J.A. da.(2005) Curso de direito constitucional positivo. (25ª ed.) São Paulo: Malheiros.

Mendes, G. F. & Branco, P. G.(2015) Curso de Direito Constitucional. (1ª. ed.) rev. e atual. –
São Paulo: Saraiva.

11

Você também pode gostar