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1ª Fase | XXXV Exame de Ordem

1ª FASE XXXV EXAME

Direito
ADMINISTRATIVO

Profa. Me. Franciele L. Kühl


1ª Fase | XXXV Exame de Ordem

Estudar para Exame de Ordem exige muita preparação!


Contudo, essa preparação precisa ser adequada, isto é, bem
orientada para que você tenha o melhor aproveitamento
possível de cada tempo dedicado ao estudo. Você também
precisa acreditar que é capaz.

Acredite na estrela que brilha dentro de você.

Quando falamos em prova da ordem, a primeira coisa


que o(a) candidato(a) precisa fazer é se programar, a
organização do espaço e tempo de estudo é fundamental para
que você tenha sucesso. Feito isso, você deve conhecer a
banca. Conhecer o inimigo é saber quais armas ele utiliza e,
assim, criar uma preparação estratégica para dominá-lo! Por
isso que estamos aqui, para lhe auxiliar nessa preparação
estratégica.
Comece lendo o edital, conhecer as regras do jogo é
fundamental! Então não deixe de fazer isso. Prepare-se com
um cronograma de estudos, separe o tempo que você terá
para dedicar-se a esse objetivo e deixe a gente guiar você
nessa jornada de estudo!
1ª Fase | XXXV Exame de Ordem
1ª Fase | XXXV Exame de Ordem

1. LEI ANTICORRUPÇÃO

Prof.ª Franciele L. Kühl


@prof.frankuhl

1.1 Natureza. Incidência sujeitos e responsabilização

A responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas por atos corruptivos está


disciplinada na Lei 12.846/2013, chamada Lei Anticorrupção; Legislação de compliance; Lei de
Improbidade da Pessoa Jurídica; Lei Anticorrupção Empresarial; Lei Empresa Limpa; A qual é
regulamentada pelo Decreto n. 8.420/2015.
Diferente da lei de improbidade administrativa (Lei n. 8.429/92) que puni especificamente
pessoas físicas (ainda que determinadas penas possam ser aplicadas às pessoas jurídicas), a
Lei 12.846/2013 é que visa aplicação específica às pessoas jurídicas.
A lei anticorrupção afeta às empresas “que resultarem de alteração contratual,
transformação, incorporação, fusão ou cisão societária (art. 4º); e alcança também os respectivos
dirigentes, com previsão expressa da desconsideração da personalidade jurídica (art. 3º e14)”
(DI PIETRO, 2017, p. 1034).
A responsabilização acontece na esfera civil e administrativa, portanto, sua natureza não
é penal. “Possuem natureza de direito coletivo lato sensu, na modalidade de direito difuso, dado
o interesse tutelado”. (HEINEN, 2021, p. 515).
Na esfera administrativa, ocorre a cargo da Administração Pública a apuração dos danos
a serem ressarcidos e a aplicação de sanções, já na esfera judicial, são apurados os ilícitos
definidos em lei (no artigo 19) e são aplicadas sanções cíveis, conforme o artigo 20.
O ato lesivo pode ser praticado tanto contra patrimônio público nacional ou estrangeiro,
contra princípios da Administração Pública ou contra os compromissos internacionais firmados
pelo Brasil: “Art. 28. Esta Lei aplica-se aos atos lesivos praticados por pessoa jurídica brasileira
contra a administração pública estrangeira, ainda que cometidos no exterior”.
Os atos lesivos estão definidos no artigo 5º da Lei 12.846/2013:
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Os sujeitos ativo do ato, ou seja, aqueles praticam atos punidos por esta lei são: pessoas
jurídicas nacionais ou estrangeiras, inclusive as estatais (art. 94, da Lei n. 13.303/2016).
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Já o sujeito passivo do ato, ou seja, aquele que sofre o ato poderá ser: entes da
administração pública direta, entidades da administração pública indireta, administração pública
estrangeira.
As sanções administrativas estão previstas no artigo 6º, as quais podem ser aplicadas
isolamento ou cumulativamente, a depender da gravidade do ato e da natureza da infração. As
sanções administrativas são:
• Multa;
o Caso não seja possível utilizar o critério do valor do faturamento bruto da
pessoa jurídica, a multa será de R$ 6.000,00 (seis mil reais) a R$
60.000.000,00 (sessenta milhões de reais).
• Publicação extraordinária da decisão condenatória.
o A publicação extraordinária da decisão condenatória ocorrerá na forma de
extrato de sentença, a expensas da pessoa jurídica, em meios de
comunicação de grande circulação na área da prática da infração e de
atuação da pessoa jurídica ou, na sua falta, em publicação de circulação
nacional, bem como por meio de afixação de edital, pelo prazo mínimo de
30 (trinta) dias, no próprio estabelecimento ou no local de exercício da
atividade, de modo visível ao público, e no sítio eletrônico na rede mundial
de computadores.
A aplicação de sanções não isenta da responsabilidade de ressarcir o erário, caso haja
prejuízo aos cofres públicos!
Já o artigo 7º trata sobre os critérios para a aplicação discricionária das sanções:
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Segundo o artigo 1º, podem ser sujeitos ativos do ato lesivo tanto as pessoas jurídicas
nacionais e internacionais, também se aplicam às sociedades empresárias e às sociedades
simples, bem como a quaisquer fundações, associações de entidades ou pessoas, ou
sociedades estrangeiras, que tenham sede, filial ou representação no território brasileiro,
constituídas de fato ou de direito, ainda que temporariamente, inclusive as empresas estatais,
apesar não haver a previsão expressa, isso porque a elas se aplica o regime jurídico de empresa
privada.
A responsabilidade aplicada é objetiva, sendo assim, é necessária a comprovação da
conduta (ativa ou omissiva), o nexo causal e o resultado (o dano):
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Para todos verem: esquema mostrando que a responsabilidade da Pessoa Jurídica é


objetiva e do dirigente é subjetiva.
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1.2 Responsabilização administrativa e judicial

A lei abrande duas possibilidades de sanção:


1) Na esfera administrativa: art. 6º
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2) Na esfera judicial: art. 19


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O processo administrativo pode ser iniciado por qualquer órgão ou entidade do Poder
Legislativo, Executivo e Judiciário. No âmbito do Poder Executivo, o §2º, do artigo 8º, da lei,
refere que também cabe à Controladoria Geral da União (CGU) avocar processos instaurados
por outras autoridades, a CGU trabalha como órgão controlador, sendo hierarquicamente
superior aos demais. Também é órgão responsável por instaurar o processo quando os atos
forem praticados contra Administração Pública estrangeira.
Procedimento administrativo:
• Competência: art. 8º e 9º (atenção, a competência pode ser delegado, mas vedada
a subdelegação);
• Prazo: 180 dias para conclusão (podendo ser prorrogado);
• Inicia pela fase Investigativa – opcional;
• Abertura do Processo Administrativo de Responsabilização (PAR);
• Designação da comissão (art. 8º, caput e 10, §3º) – 2 ou mais servidores estáveis;
• Defesa – 30 dias + Súmula Vinculante n. 11 (não exige defesa técnica por
advogado);
• Instrução processual;
• Alegações finais – facultativa;
• Relatório pela comissão;
• Manifestação prévia da Advocacia Pública – art. 6º, §2º;
• Julgamento – art. 12;
• Notificação aos acusados;
• Interposição de recurso ou pedido de reconsideração (de acordo com a Lei
9.784/99);
• Conhecimento ao MP – art. 15;
• Inscrição em dívida ativa da Fazenda Pública – art. 13;
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A prescrição para apuração do ato lesivo, para aplicação de sanções (a lei é omissa
quanto a prescrição da ação visando a reparação do dano é imprescritível, segundo o artigo 37,
§5º, da CF), tanto na esfera administrativa, quanto na judicial, é de 5 anos, contados da ciência
ou do dia que tiver cessado, caso seja um ato lesivo de caráter contínuo ou permanente, de
acordo com o artigo 25 da lei. Atenção: a instauração do processo de responsabilização provoca
a interrupção do prazo prescricional.
A responsabilização administrativa não afasta a judicial. O artigo 19 prevê a competência
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por meio das respectivas
Advocacias Públicas ou órgãos de representação judicial, ou equivalentes, e o Ministério Público,
para ajuizar ação com vistas à aplicação das seguintes sanções às pessoas jurídicas infratoras:

Caso a Administração Pública tenha sido omissa em promover a responsabilização


administrativa, o Ministério Público também poder buscar judicialmente a aplicação das sanções
previstas no artigo 6º da lei. A ação segue o rito da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85).
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1.3 ACORDO DE LENIÊNCIA

O acordo de leniência trata-se da cooperação da pessoa jurídica para a apuração das


infrações, de acordo com o previsto no artigo 7º, inciso VII, da Lei Anticorrupção. É ato
discricionário e bilateral. Os artigos 16 e 17 também tratam sobre tema, regulando a competência
da autoridade máxima de cada órgão ou entidade pública como autorizado para celebrar o
acordo de leniência, observado o disposto no §10, do artigo 16, que reserva competência para a
CGU quando se tratar de acordo firmado no âmbito do Poder Executivo.
O acordo de leniência é celebrado desde que a colaboração resulte (art. 16): I - a
identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e II - a obtenção célere de
informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração. Ademais, é necessário o
preenchimento de alguns requisitos para que haja o acordo:

A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica das sanções previstas no


inciso II do art. 6º e no inciso IV do art. 19 e reduzirá em até 2/3 (dois terços) o valor da multa
aplicável. Todavia o acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar
integralmente o dano causado (§§ 2º e 3º, do art. 16).
Segundo o artigo 17, a administração pública poderá também celebrar acordo de leniência
com a pessoa jurídica responsável pela prática de ilícitos previstos na Lei nº 8.666, de 21 de
junho de 1993, com vistas à isenção ou atenuação das sanções administrativas estabelecidas
em seus arts. 86 a 88.

1.4 Responsabilização pela lei de licitações e improbidade

A lei anticorrupção trata da aplicação das sanções previstas na referida (Lei 12.846/13) às
pessoas jurídicas que venham atentar contra à Administração Pública, mas essa conduta
também pode configurar em transgressões disciplinadas por outras legislações, como é o caso
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da Lei de Improbidade Administrativa e Lei de Licitações e Contratos. Tanto é que a própria lei
anticorrupção traz em seu artigo 30 a possibilidade de aplicação de sanções previstas nesta lei,
ainda que seja aplicada sanção da Lei 12.846/13:

Contudo, ocorre que com as alterações na Lei de Improbidade Administrativa, advindas


com a Lei 14.230/2021, esse dispositivo precisa ser lido a luz das novas regras legais:

Diante dessa nova regra, a pessoa jurídica que venha a incorrer em transgressão pela Lei
anticorrupção, cujo fato também se enquadre na Lei de Improbidade Administrativa (na posição
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de beneficiado do ato de improbidade do agente público) não poderá ser responsabilizado pelas
duas leis, por violação ao princípio do non bis in idem.

1.5 QUADRO RESUMO

Nome Lei Anticorrupção; Legislação de compliance; Lei de Improbidade da Pessoa Jurídica; Lei
Anticorrupção Empresarial; Lei Empresa Limpa;
Responsabilização Civil e administrativa
Responsabilidade • Da pessoa jurídica: objetiva
• Do dirigente ou administrador: subjetiva
Atos Internos ou externos que que atentem contra:
• patrimônio público nacional ou estrangeiro
• contra princípios da administração
• compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
Sujeito ativo do Pessoa jurídica estrangeira ou nacional, inclusive as estatais.
ato
Sujeito passivo do Administração direta, administração indireta e administração pública estrangeira.
ato
Sanções Na esfera administrativa e/ou judicia.
Procedimento Aplica-se a lei da Ação Civil Pública
judicial
Acordo de Cooperação do infrator com a instrução, recebendo sanções para brandas,
leniência
Colaboração deve resultar em: art. 16, I e II:
I - a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e
II - a obtenção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob apuração.
Requisitos do I - A pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em cooperar para
acordo a apuração do ato ilícito;
II - A pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na infração investigada a
partir da data de propositura do acordo;
III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e permanentemente
com as investigações e o processo administrativo, comparecendo, sob suas expensas,
sempre que solicitada, a todos os atos processuais, até seu encerramento.
Prescrição 5 anos contados da data da infração ou de quando tiver cessado (se infração permanente
ou contínua).

Interrompe a prescrição: instauração do processo administrativo ou judicial


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2. CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Prof.ª Franciele L. Kühl


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2.1. Conceito

A Administração Pública tem o dever-poder de controle de seus atos. Ela pode exercer
ela mesma o controle (princípio da autotutela), assim como, também está sujeita ao controle do
Poder Judiciário e Poder Legislativo. Esse controle não recai apenas sobre os órgãos do Poder
Executivo, mas também a qualquer entidades administrativa da administração indireta, qualquer
órgão, de qualquer dos Poderes, da administração direta, ou seja, abrange a Administração
Pública no sentido amplo.
O controle pode (e deve) ser exercido de forma popular também, a Constituição Federal
traz em seu artigo 37, §3º:

O inciso II foi parcialmente disciplinado pela Lei n. 12.527/2011, regulamentada pelo


Decreto n. 7.724/2012, chamada Lei de Acesso à Informação (LAI).
O controle da Administração Pública também é uma tarefa do Ministério Público, o artigo
129 da Constituição Federal trouxe essa atribuição ao órgão. A principal ferramenta de controle
é a Ação Civil Pública.
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Segundo José dos Santos Carvalho Filho, os mecanismos de controla da Administração


Pública tem como objetivo garantir os direitos subjetivos dos usuários e assegurar a observância
das diretrizes constitucionais da Administração (2019, p. 894).
Segundo o Decreto-lei 200/1967, as atividades da Administração Federal obedecerão aos
seguintes princípios fundamentais:
I - Planejamento.
II - Coordenação.
III - Descentralização.
IV - Delegação de Competência.
V - Controle.

7.2 Espécies de controle


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* Para todos verem: fluxogramas trazendo resumidamente as principais espécies de controle


da Administração Pública.

7.3 Controle administrativo:

O controle administrativo é o poder de fiscalização e correção que a Administração Pública


tem sobre os atos. Esse controle pode se dar em razão da legalidade ou pode ser controle de
mérito. No Decreto-lei 200/1967 ele é denominado como supervisão ministerial. Esse controle
da Administração Pública é um controle interno que vem do poder de autotutela (ou princípio da
autotutela), ele permite a Administração Pública rever seus atos. Esse poder é reconhecido pelo
judiciário nas súmulas 346 e 473, do Supremo Tribunal Federal:
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No âmbito federal, a redação da súmula 473 encontra-se no artigo 53, da Lei n.


9.784/1999: “Art. 53. A Administração deve anular seus próprios atos, quando eivados de vício
de legalidade, e pode revogá-los por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos”.
Assim sendo, podemos verificar o seguinte:

* Para todos verem: fluxogramas sintetizando a súmula 473, do STF.

O controle pode ser por própria iniciativa da Administração Pública, ou seja, de ofício,
como também por provocação. Importante destacar que controle de mérito somente a própria
administração pode realizar, o Poder Judiciário só pode, quando provocado, analisar a legalidade
dos atos, buscando a sua anulação.
A Constituição Federal assegura o direito de apreciação pelo Poder Judiciário quando
houver lesão ou ameaça a direito, segundo o artigo 5º, inciso XXXV: “A lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Assim como assegura que todos tem
direito de petição nos Poderes Públicos (art. 5º, inciso XXXIV):
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A súmula n. 373, do Superior Tribunal de Justiça reafirma que “É ilegítima a exigência de


depósito prévio para admissibilidade de recurso administrativo”. Esse também tem sido o
entendimento em julgados do Supremo Tribunal Federal, tanto é que ficou consagrada a Súmula
Vinculante n. 21: “É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro
ou bens para admissibilidade de recurso administrativo”.
Esses recursos administrativo que se referem as súmulas, advém do direito de petição,
ele se manifesta com diversas nomenclaturas na legislação esparsa: representação, reclamação
administrativa, pedido de reconsideração, recurso hierárquico próprio e impróprio e revisão.
Dentre essas legislações esparsas podemos destacar: a Lei n. 13.869/2019 (Lei que
dispõe sobre o abuso de autoridade); Lei 9.784/1999 (Lei que dispõe sobre o processo
administrativo federal); Lei 8.112/1990 (Estatuto Jurídico dos Servidores Públicos Federais);
Decreto n. 20.910/1932 (regula a prescrição quinquenal do direito de reclamação); E o art. 103-
A, §3º, da Constituição Federal (que prevê a reclamação administrativa perante o Supremo
Tribunal Federal, nos casos de decisão da Administração Pública contrariar Súmulas Vinculante).

7.4 Recurso hierárquico próprio e impróprio

O recurso próprio é o recurso endereçado à autoridade superior à que praticou o ato


recorrido. Esse recurso é inerente à organização escalonada da Administração, por tal razão
pode ser interposto sem necessidade de previsão legal. Já o recurso impróprio é aquele dirigido
à uma autoridade que não ocupa posição de superioridade hierárquica em relação a quem
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praticou o ato recorrido. Nessa forma só poderá ocorrer o recurso se houver previsão legal.
Exemplo: recurso contra decisão tomada por autarquia endereçado ao Ministro da pasta à qual
a entidade recorrida está vinculada. (MAZZA, 2021, p. 510).

7.5 Prescrição administrativa:

A prescrição administrativa deve ser vista sob três aspectos: a possibilidade da


Administração Pública rever seus atos; A perda do prazo para que possa aplicar penalidades
administrativas; E a prescrição do administrado de recorrer de decisão administrativa.
Por exemplo, o servidor público federal, segundo a Lei 8.112/1990, tem o prazo de cinco
anos para pleitear na esfera administrativa quanto aos atos de demissão, cassação de
aposentadoria ou disponibilidade e 120 dias nos demais casos, segundo o artigo 110 da referida
legislação.

Outro dispositivo importante sobre prescrição é o artigo 142, da Lei 8.112/1990, estatuto
dos servidores federais, ele traz a prescrição de 5 anos para a administração pública aplicar a
demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo em comissão; A
prescrição de 180 dias para a pena de advertência; E 2 anos a prescrição para aplicação da
pena de suspensão.
Ao que tange o Poder Polícia, a prescrição para punição é de 5 anos para ação punitiva
da Administração Pública Federal, Direta ou Indireta, contados da data da prática do ato ou, no
caso de infração permanente ou continuada, no dia em que tiver cessado, de acordo com o artigo
1º, da Lei n. 9.873/1999. Cuidado: essa lei só se aplica na esfera federal.
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7.6 Controle legislativo

Trata-se do controle que é exercido pelo Poder Legislativo sobre a Administração


Pública. São hipóteses previstas na Constituição Federal de intervenção entre poderes. O
controle legislativo implica na possibilidade de interferência no Poder Judiciário (quando executa
função administrativa) e no Poder Executivo, neste último, abrange a Administração Direita e
Indireta. Essa possibilidade de controle constitui uma exceção ao princípio da separação de
Poderes, previsto no artigo 2º, da Constituição Federal (DI PIETRO, 2020, P. 944).
Segundo a mesma doutrinadora, esse controle pode ocorrer de duas formas:
1) Controle político: esse controle pode ser de legalidade e de mérito, pois vai apreciar as
decisões administrativas sob o aspecto inclusive da discricionariedade, ou seja, da
oportunidade e conveniência do interesse público.
a) Segundo o artigo 49, incisos I, II, III, IV, XII, XIV, XVI, XVII, bem como, o artigo 52,
incisos III, IV, V, XI, tratam sobre a competência do Congresso Nacional e do
Senado para apreciar a priori ou a posteriori os atos do Poder Executivo.
b) Convocação de Ministro de Estado pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado
para prestar informações, sob pena de crime de responsabilidade no caso de
ausência (art. 50, da CF). Esse pedido de informação também poderá ser escrito
para o Ministro ou qualquer outro órgão subordinado à Presidência da República.
c) Apuração de irregularidades pelas Comissões Parlamentares de Inquérito, as quais
tem poder de investigação (não de sanção) próprios das autoridades judiciais, suas
conclusões são encaminhadas ao Ministério Público para que promovo a
responsabilidade civil ou criminal (Art. 58, §3º, da CF).
d) Competência do Senado Federal para processar e julgar o Presidente e o Vice-
Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como, os Ministros
de Estado, Comandantes da Marinha, Exercício e Aeronáutica, nos crimes conexos
com aqueles; Competência para julgar os Ministros do STF e os membros do
Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o
Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de
responsabilidade (art. 52, da CF).
e) A competência do Senado para fixar, por proposta do Presidente da República,
limites globais para o montante da dívida consolidada da União, estados, Distrito
Federal e dos Municípios; para dispor sobre o limite e condições para operação de
crédito externo e dispor sobre o limite e condição de concessão de garantia da
União em operação de crédito externo e interno (art. 52, incisos VI, VII e VIII, da
CF).
f) Competência do Congresso Nacional para sustar os atos normativos do Poder
Executivo que exorbitam o poder regulamentar ou dos limites de delegação
legislativa (art. 49, V, CF).
g) Controle financeiro com o auxílio do Tribunal de Contas.
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2) Controle financeiro: já o exercício financeiro está disciplinado entre os artigo 70 e 75, da


Constituição Federal, se referem a fiscalização contábil, financeira e orçamentária. O artigo
70 traz normas básicas como:
a) A fiscalização abrange a contábil, a financeira, a orçamentária, operacional e a
patrimonial.
b) Os aspectos controlados são:
i. Legalidade de ato;
ii. Controle de legitimidade;
iii. Controle de economicidade;
iv. Controle de fidelidade funcional;
v. Controle de resultados de cumprimento de programas de trabalho e meta;
c) As pessoas controladas são: União, estados, municípios, Distrito Federal e
entidades da Administração Direta e Indireta, bem como, qualquer pessoa física ou
entidade pública, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros,
bens e valores públicos.
d) A fiscalização compreende em controle externo, realizado pelo Poder Legislativo,
com auxílio do Tribunal de Contas, ou controle interno, feito por cada um dos
Poderes. O controle externo compreende (art. 71, da CF):
i. Fiscalização financeira
ii. Consulta (quando emite parecer prévio sobre as contas prestadas pelo
Presidente da República).
iii. Informação ao Congresso Nacional, as casas legislativas, ou às comissões.
iv. Julgamento de contas.
v. Aplicação de sanção nos casos de ilegalidade ou irregularidade.
vi. Correção, quando assina prazo para o órgão ou entidades adotar
providências necessárias para o cumprimento da lei; ou quando susta a
execução de ato impugnado;
vii. Ouvidor, quando recebe denúncia de irregularidades ou ilegalidades (Art. 74,
§1º e §2º, da CF).
Conforme o artigo 75, as mesmas regras são aplicadas nas esferas estaduais e
municipais, mas neste caso pelo Tribunais e Conselhos de Contas. Importante a leitura do artigo
31 neste ponto:
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De acordo com o artigo 74, §1º e §2º, da Constituição Federal, os responsáveis pelo
controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão
ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária. Inclusive,
qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei,
denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.
Cabe ao Tribunal de Contas da União sustar a execução do ato impugnado, se não
atendido, comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal. Essa
atribuição também cabe ao Congresso Nacional, o artigo 49, inciso V, da CF que trata sobre a
competência do Congresso de: “sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa”.

7.7 Controle judicial

O controle judicial é aquele exercido pelo Poder Judiciário, realizado mediante provocação
(não pode ser por ofício). Essa análise pode ser prévia ou a posteriori. Para o controle judicial
temos as principais ações:
a) Mandado de Segurança: prevista na Constituição Federal, no artigo 5º, inciso
LXIX e LXX, assim como na Lei 12.016/2019. De acordo com o dispositivo
constitucional:
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Algumas súmulas do Supremo Tribunal Federal merecem atenção nesse ponto:

b) Habeas corpus: previsto no artigo 5º, inciso LXVIII, da CF, “conceder-se-á


"habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder”.

c) Ação Civil Pública: prevista no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal e na
Lei 7.347/1985, ação proposta para a proteção de direitos difusos e coletivos, com
o objetivo a condenação em dinheiro ou cumprimento de obrigação de fazer ou não
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fazer. São legitimados a propor tal ação: Conselho Federal da OAB (art. 54, XIV,
da Lei 8.906/1994) Ministério Público, Defensoria Pública, União, estados, DF,
municípios, autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista
e associações que preencham os requisitos do artigo 5º, inciso V, da Lei 7.347/1985
(esteja constituída há pelo menos um ano e tem entre suas finalidade institucionais
a proteção daquilo que for objeto da ação proposta).

d) Ação popular: prevista no artigo 5º, inciso LXXIII, da CF e na Lei n. 4.717/1965, é


a ação que pode ser proposta por qualquer cidadão, visando anula ato lesivo contra
o patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, é uma ação para o
cidadão promover pessoalmente o controle da Administração Pública.

e) Mandado de Injunção: encontra-se positivada no artigo 5º, inciso LXXI, da


Constituição Federal e na Lei n. 13.300/2016, pode ser impetrado sempre que
houver falta de lei regulamentadora ou ato administrativo e que torne inviável o
exercício dos direitos e liberdades constitucionais.

f) Habeas Data: previsto no artigo 5º, inciso LXXII, da CF e na Lei n. 9.507/1997,


remédio constitucional utilizado para assegurar o conhecimento, retificação ou
contestação de informações relativas ao impetrante, constantes de registro ou
bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público.

g) Ação de improbidade administrativa: prevista no artigo 37, §4º, da CF e


regulamentada na Lei n. 8.429/1992, é a ação utilizada para aplicação de sanções
aos agentes públicos que praticaram ato de improbidade tipificados na lei, as penas
são: suspensão dos direitos políticos, devolução de bens, multa civil, perda da
função pública, indisponibilidade dos bens, proibição de contratar com o Estado e
ressarcimento integral do dano.

Essas são as principais ações de controle da Administração Pública, mas isso não impede
outras ações, como por exemplo a Ação Direta de Inconstitucionalidade (artigo 102, inciso I,
alínea “a” e artigo 103, ambos das Constituição Federal e previsto na Lei n. 9.868/1999).

7.6 Em resumo:

Instrumento jurídico de fiscalização sobre a atuação dos agentes, órgãos e entidades da


O que é:
Administração Pública.
Natureza Natureza jurídica de princípio fundamental da administração pública.
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Administrativo: Legislativo ou Parlamentar Judicial


Pode ser político, exemplo:
Pode ocorrer de ofício ou quando o Congresso susta um
mediante provocação. ato normativo do Executivo, por
exorbitar o Poder Somente se for
Órgão controlador Fundado no poder da Regulamentador; provocado.
autotutela;
Pode ser financeiro: como a
Pode ser pela supervisão fiscalização contábil, financeira
ministerial/ secretarial. e orçamentária exercida com
auxílio do Tribunal de Contas.
Prévio, exemplo: parecer Concomitante, exemplo: Posterior, exemplo:
Momento de
da advocacia pública fiscalização/auditoria de obras julgamento de contas
controle
orientando gestor. em execução. pelo Tribunal de Contas.
Popular/Social:
Interno: dentro do mesmo
Externo: um Poder sobre o realizado pelo povo,
Origem do Poder, exemplo controle
outro, exemplo, quando o como pela denúncia de
controle ou a exercido pelas chefias
judiciário anula ato ilegal do irregularidade perante o
extensão: sobre seus subordinados,
Executivo. Tribunal de Contas da
dentro do mesmo órgão.
União.
Mérito: praticado apenas pela
Obs.: O Poder Judiciário
Legalidade (ou Administração, podendo
pode revogar atos em
legitimidade): realizado pela revogar atos por
razão do mérito quando
Quanto ao própria Administração, em inconveniência e
se tratar de seus
aspecto: razão do princípio da inoportunidade. Exemplo:
próprios atos, no
autotutela, ou pelo revogação de férias de servidor
exercício da função
judiciário. por situação de calamidade
atípica administrativa.
pública.
Mandado de Segurança; Habeas Corpus; Ação Civil Pública; Ação Popular; Mandado de
Ações de controle: Injunção; Habeas Data; Ação de Improbidade Administrativa; Ação Direta de
Inconstitucionalidade.
Prescrição Regra é de 5 anos.
Obs.: No Brasil não é
Hierárquico próprio: para a Hierárquico impróprio: para exigido esgotamento da
autoridade superior àquela outra autoridade não é superior via administrativa para
Recurso
que praticou o ato àquela que praticou o ato acesso ao Poder
recorrido. recorrido. Exige previsão legal. Judiciário (art. 5º,
XXXV, da CF).

REFERÊNCIAS:

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 30. ed. São Paulo:
Atlas-Gen, 2019.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 30. ed. rev. atual e apl. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 33. ed. rev. atual e apl. Rio de Janeiro:
Forense, 2020.
MAZZA, Alexandre. Manual de direito administrativo. 11. ed. rev. atual e apl. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021.
1ª Fase | XXXV Exame de Ordem

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