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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade De Gestão De Recursos Naturais E Mineralogia

Tema: Liberdade, Igualdade e Estado de calamidade Pública no Direito Moçambicano

Nome de Estudante: Ema da Luz Aníbal

Primeiro Trabalho Individual Da Cadeira De Direitos Humanos e Fundamentais, 2º Ano


Do Curso De Direito, Período Laboral, Por Orientação Do Docente Jacques Kazadi.

Tete, Outubro de 2021


Índice

CAPITULO I...................................................................................................................1

1.1. Introdução...........................................................................................................1

1.2. Objectivos...........................................................................................................2

1.2.1. Objectivos Gerais:.......................................................................................2

1.2.2. Objectivos Específico:.................................................................................2

1.3. Metodologia........................................................................................................2

CAPITULO II..................................................................................................................3

2.1. Direitos e liberdades fundamentais........................................................................3

2.2. Compreensão dos Direitos Fundamentais..............................................................3

2.3. Princípios atinentes aos Direitos Fundamentais.....................................................4

2.3.1. Princípio da Igualdade.....................................................................................4

2.3.2. Direito à Liberdade..........................................................................................5

2.3.3. Estado de calamidade pública.........................................................................6

2.4. Definições...............................................................................................................7

2.4.1. Procedimentos de Declaração da calamidade pública.....................................8

2.4.2. Restrição de direitos fundamentais em estado de Calamidade Pública...........8

2.4.3. Impactos do Estado de Calamidade...............................................................10

2.5. A suspensão ou a limitação dos direitos de Liberdade e Igualdade.....................11

3. Conclusão................................................................................................................12

4. Referencias Bibliográficas.......................................................................................14
CAPITULO I
1.1. Introdução
O presente trabalho enquadra-se na cadeira de Direitos Humanos e Fundamentais,
pretende-se abordar acerca da Liberdade, Igualdade e Calamidade pública no direito
Moçambicano. Parecia uma simples doença, tornou-se uma preocupante epidemia, as
deficiências de gestão pública, não só de saúde, mas igualmente a múltiplas limitações
dos direitos fundamentais, assim como a Liberdade e a igualdade. E, “boom” virou uma
pandemia aterrorizante que reconfigurou toda a sociedade global! As sociedades estão
em constante transformação, mas há que se reconhecer que com o novo Coronavírus
(Covid-19) emergiu uma nova realidade de descontrolo social, cultural, político,
educacional e económico.

O Estado de emergência pode ser declarado em casos de calamidade pública, como uma
pandemia, e pode determinar a suspensão ou a limitação de alguns direitos, liberdades e
garantias constitucionalmente consagrados. O Estado de direito democrático implica o
reconhecimento dos direitos fundamentais constitucionalmente consagrados e,
consequentemente, a subordinação do Estado e de todos os organismos que o compõem,
à Constituição e à legalidade democrática. Os direitos fundamentais constituem o
fundamento de qualquer Estado de direito democrático e Moçambique não deve ser
excepção. Moçambique é uma República e um Estado de direito organizado
democraticamente e respeitador dos direitos, liberdades e garantias fundamentais de
todos os cidadãos. Pretende-se, assim neste trabalho, analisar a situação da Liberdade,
Igualdade e Estado de calamidade pública do direito de Moçambique.
1.2. Objectivos
1.2.1. Objectivos Gerais:
 Analisar os Direitos fundamentais, direito à liberdade e à igualdade face à
situação da Calamidade pública no Estado de direito democrático, como
Moçambique, no âmbito da protecção dos direitos, liberdade e igualdade dos
cidadãos.
1.2.2. Objectivos Específico:
 Analisar se a liberdade, igualdade são plenamente efectivados em Moçambique
no âmbito da calamidade pública;
 Identificar eventuais constrangimentos ao exercício da liberdade e igualdade na
situação da calamidade Pública no direito de Moçambique.

1.3. Metodologia

Na realização do presente trabalho iremos recorrer a análise documental e


bibliográfica, pesquisa de conteúdo e relatórios, fazendo assim um estudo descritivo
com abordagem qualitativa.
CAPITULO II

2.1. Direitos e liberdades fundamentais


Os direitos humanos representam uma forma abreviada de mencionar os direitos
fundamentais da pessoa humana e correspondem ao conjunto de faculdades e
instituições que em cada momento histórico, concretizam as exigências de dignidade,
liberdade e igualdade humanas, as quais devem e são reconhecidas positivamente pelos
ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional. Esses direitos são
considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não consegue existir ou
não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida social e política.

A República de Moçambique é um Estado de Direito Democrático, que regida pela


Constituição (2004), garante, nos seus princípios fundamentais, que o Estado respeite os
direitos e liberdades fundamentais do Homem. Porém, apesar da Constituição
estabelecer esses princípios orientadores do Estado de Direito, várias questões têm posto
em causa os Direitos Humanos, a liberdade e a igualdade própria dentre essas questões
violação de Direitos Humanos .

Além de abordar acerca da estrutura do Estado e os seus princípios fundamentais, a


Constituição da República de Moçambique consagra direitos e liberdades fundamentais.
Esses se referem a todos os cidadãos. Os mais importantes apresentaremos neste
trabalho, tais como, o princípio de igualdade, a liberdade de expressão, liberdade de
imprensa, liberdade de associação.

2.2. Compreensão dos Direitos Fundamentais


Direitos Humanos, segundo a Organização das Nações Unidas, foram definidos como
sendo uma garantida fundamental e universal que visa proteger os indivíduos e grupos
sociais contra as diversas acções ou omissões daqueles que atentem contra a dignidade
da pessoa humana.
2.3. Princípios atinentes aos Direitos Fundamentais

2.3.1. Princípio da Igualdade


No constitucionalismo contemporâneo alguns princípios, como o da igualdade e
respeito pela dignidade da pessoa humana, caracterizam os direitos fundamentais. Esses
princípios encontram-se reflectidos em todos os diplomas legais que versam acerca da
matéria dos direitos fundamentais, com premissa da Constituição. Ora, num Estado
democrático de Direito como o nosso pretende ser são, indubitavelmente, irrenunciáveis
tais princípios no quadro geral dos direitos fundamentais.

a) Princípio da Igualdade

Um dos princípios estruturantes do regime geral dos direitos fundamentais é o princípio


da igualdade, esta entendida, desde logo, como a igualdade formal, isto é, a igualdade
jurídica, aquela que surge indissociada da própria liberdade individual. O princípio da
igualdade surge no como um princípio estruturante ou conformador das ordens jurídicas
no constitucionalismo moderno e vem proclamado como um valor fundamental não só
pelas Constituições dos diferentes países, mas também pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem. Nas sociedades contemporâneas, caracterizadas cada vez mais
como plurais, heterogéneas e, por vezes multiculturais, a procura de um equilíbrio entre
o bem comum e o interesse de grupos, bem como entre a igualdade e aquilo a que se
vem chamando direito à diferença, se tornou a ordem do dia. O princípio da igualdade
concretiza-se pela proibição de todas as formas de discriminação fundadas quer no
género, na posição social, etnia, convicção política, religião, raça, idade, ou sexo. Aliás,
a Constituição da República moçambicana cuidou de consagrar este princípio no seu
artº 35. Porém, a Constituição, escreve Jorge Miranda, não se circunscreve apenas a
declarar o princípio de igualdade. Ela vai longe, aplicando-o a zonas mais sensíveis na
perspectiva da sua ideia de Direito. Mais do que decorrências puras e simples da
igualdade jurídica, encontramos nela preceitos de diferenciação em função de diferenças
de circunstâncias, imposições derivadas da igualdade social e discriminação positiva (é
exemplo disso o art.37 da CRM). Trata-se aqui, segundo Flávia Piovesani, da igualdade
material, correspondente ao ideal de justiça como reconhecimento de identidades
(igualdade orientada pelos critérios género, orientação sexual, idade, raça, etnia e
demais critérios).
2.3.2. Direito à Liberdade
Os direitos de liberdade têm como conteúdo positivo o direito de agir e como conteúdo
negativo não sofrer o sujeito interferência ou impedimento. Segundo Jorge Reis Novais,
nos direitos de liberdade a norma constitucional de direitos fundamentais cria, ela
própria, uma área juridicamente delimitada ou delimitável de livre acesso ou fruição de
um bem ou interesse de liberdade protegido pelo direito fundamental, impondo, por
conseguinte, aos poderes constituídos a obrigação de acatarem e garantirem a
inviolabilidade e possibilidade jurídica de realização e concretização do poder de
autodeterminação individual assim, directa ou indirectamente, reconhecido. Segundo o
Prof. Jorge Miranda, tal como nos direitos de liberdade se recorta uma dimensão
positiva, também nos direitos sociais se encontra, pois, uma dimensão negativa. As
prestações que lhe correspondem não podem ser impostas às pessoas contra a sua
vontade, salvo quando envolvam deveres e, mesmo aqui, com certos limites.

O Estado de direito democrático tem a incumbência de garantir os direitos, liberdades e


garantias individuais dos seus cidadãos. Sendo que a liberdade individual vai-se
materializar na valorização da dignidade da pessoa humana, no direito à vida, no direito
de não ser detido ou preso, impedido de se movimentar, na protecção da intimidade e na
defesa contra as agressões de outrem. Nesse sentido, importa destacar que o
ordenamento jurídico moçambicano consagra os deveres fundamentais do Estado, onde
passamos a destacar no âmbito do presente estudo o objectivo que se refere ao reforço
da democracia, da liberdade, da estabilidade dos cidadãos perante a lei.

Segundo Aristóteles, a liberdade é um conjunto complexo de direitos e de deveres que


os homens e as suas instituições definem e proclamam e como realidade inerente ao ser
humano. No que diz respeito aos direitos fundamentais, a CRM é clara e não deixa
qualquer margem para dúvidas, ao prever que os preceitos constitucionais, que versam
sobre os direitos fundamentais, devem ser interpretados e integrados de harmonia com a
Declaração Universal dos Direitos do Homem (DUDH) e com a CADHP. Na
perspectiva de Manuel Valente, a “liberdade não só é, indubitavelmente, um direito
natural, um valor, um ideal, mas é também um princípio que deve ser cultivado pela
polícia/OPC de modo que cada sujeito de direitos e deveres possa auto determinar-se,
escolher voluntária e espontaneamente, (…) e seu ideal crescimento e desenvolvimento
no seio comunitário”. Nesse âmbito e com vista a se garantir efectivamente os direitos,
liberdades e garantias fundamentais, a DUDH estabelece que o Estado deve “promover
o reconhecimento e o respeito dos direitos e liberdades dos outros e a fim de satisfazer
as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar numa sociedade
democrática”, a CRM, vai de encontro com o que se encontra estipulado na DUDH,
consagrando o direito à liberdade e à segurança onde estipula que “todos tem direito à
segurança, e ninguém pode ser preso e submetido a julgamento senão nos termos da lei”

b) Da liberdade como Princípio

A liberdade deve estar presente em qualquer Estado de direito democrático e os


cidadãos devem sentir-se livres para gozarem e exercerem dos seus direitos, os quais
devem ser garantidos pelo Estados através de organismos de que dispõe para o efeito.
No caso de Moçambique, a Constituição consagra que o “Estado de direito, baseado no
pluralismo de expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia dos
direitos e liberdades fundamentais do homem” (artigo 3.º da CRM). Na perspectiva de
MANUEL VALENTE, a liberdade compreende um conjunto de vários direitos e
obrigações que os homens e as instituições das quais fazem parte definem e celebram e
como facto inseparável ao ser humano, tendo a Polícia um papel fundamental para a
efetivação desse Direito. O Autor afirma, ainda, que a liberdade “só se concretiza
quando a justiça, como (insubstancial que de nada depende, mas do qual, no mundo
jurídico, tudo depende), se enraíza em princípios como os da igualdade e da
imparcialidade ”.

2.3.3. Estado de calamidade pública

Por meio do decreto assinado pelo chefe de Estado, regimentou-se o disposto da lei
10/2020 de 24 de Agosto, aprovado pelo decreto nº 30/2021, de 26 Maio, ao abrigo do
disposto da alínea a) do número 1 do artigo 33 estabelecendo a Declaração de Situação
de Calamidade Pública no seu artigo 1.
O COVID-19 pode justificar medidas regulatórias ou autoritárias com impacto directo
na actividade de entidades públicas e/ou privadas, incluindo a suspensão de actividade
ou o encerramento dos serviços, estabelecimentos e locais de utilização pública e
privada, bem como o internamento ou a prestação compulsiva de cuidados de saúde a
pessoas que constituam perigo para a saúde pública.
No âmbito da declaração do estado de calamidade pública, o Governo está autorizado a
adoptar medidas para o combate e prevenção do COVID-19, tendo este, através do
Decreto n.º 79/2020, tomado um conjunto de medidas restritivas obrigatórias com
fundamento na necessidade de combater o COVID-19.

A situação de calamidade pública encontra-se prevista no Regime Jurídico de Gestão e


Redução do Risco de Desastres, aprovado pela Lei n.º 10/2020 de 24 de Agosto, que por
sua vez é regulamentada pelo Regulamento da Lei de Gestão e Redução do Risco de
Desastres, aprovado através do Decreto n.º 76/2020 de 1 de Setembro.

Este novo quadro legal veio revogar a Lei n.º 15/2014, de 20 de Junho, que estabelecia
o anterior regime jurídico da gestão das calamidades, compreendendo a prevenção,
mitigação dos efeitos destruidores das calamidades, desenvolvimento de acções de
socorro e assistência, bem como as acções de reconstrução e recuperação das áreas
afectadas.

2.4. Definições
O Estado de Calamidade Pública é um instrumento jurídico projectado para responder a
crises de longo prazo, que destroem ou causam significativa perturbação à infra-
estrutura essencial do país.

Calamidade ou catástrofe significa desgraça pública, flagelo. Podemos definir como


estado de calamidade pública uma situação anormal, provocada por desastres, causando
danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de
resposta do poder público do ente atingido.

Calamidade é, nos termos da já citada Lei de Gestão de Calamidades, sinistro causado


por um fenómeno natural, tecnológico, biológico, geológico ou derivado da acção
humana, em proporções susceptíveis de criar risco de vida, danos humanos e materiais,
bem assim a ruptura de infra-estruturas económicas e sociais de uma comunidade. Diz a
mesma lei (artigo 17) que as calamidades naturais podem causar emergência local e
nacional, resultando claro que a situação causada pela pandemia da COVID-19 produziu
uma emergência nacional, uma vez que o risco a ela associado se estende a todo o
território nacional, conforme o tem consubstanciado diariamente os porta-vozes do
Ministério da Saúde. Como resposta a uma situação tal, a Lei de Gestão de Calamidades
(artigo 13) refere que podem ser aprovados planos de gestão de calamidades e planos de
previsão de riscos de epidemias, onde se enquadra (ria), a nosso ver, a declaração de
Calamidade Pública em virtude da pandemia da COVID-19. Considerando que os danos
humanos e materiais por conta da COVID-19 estão a ocorrer em proporções tais que
poderão se transformar em calamidade (artigo 16), teria que ser inevitavelmente
activado o alerta vermelho, estando os alertas amarelo e laranja reservados a situações
de menor probabilidade de ocorrência de danos avultados.

2.4.1. Procedimentos de Declaração da calamidade pública


Considera-se situação de calamidade pública, face à ocorrência ou perigo de ocorrência
de acidente grave, catástrofe ou calamidade pública um evento anormal provocado por
uma catástrofe de grande dimensão, que causa danos e prejuízos que impliquem o
comprometimento substancial de capacidade de resposta do poder público.

De acordo com a nova Lei, a declaração do estado de calamidade pública resulta da


decisão do Presidente da República ou do Primeiro-Ministro quando, após deliberação
da Assembleia da República.

Quanto ao procedimento de declaração da Calamidade Pública, estabelece a Lei de


Gestão de Calamidades (artigos 14 e 18) que compete ao Conselho de Ministros, qual
Governo, a sua declaração. Nos termos da CRM, o Conselho de Ministros é chefiado
pelo PR, que, caso decida por esta via, cuidaria de acondicionar a sua efectivação em
sessão do Governo. Em caso de passagem de Estado de Emergência para o de
Calamidade Pública, nos termos referidos acima, o Instituto Nacional de Gestão de
Calamidades (INGC) passaria a assumir maior protagonismo, sem se secundarizar o
papel de outras instituições públicas relevantes numa situação dessas, como é o caso
Instituto Nacional de Acção Social (INAS), sobretudo no que à protecção social diz
respeito.

2.4.2. Restrição de direitos fundamentais em estado de Calamidade Pública


Numa primeira análise, parece claro que em estado de Calamidade Pública não podem
ser restringidos direitos fundamentais, diferentemente do que sucede em Estado de
Emergência ou Estado de Sítio, conforme o confirmam os decretos presidenciais de
declaração pelo PR e as leis de ratificação pela AR, em ambos os casos com respaldo na
CRM (artigos 290 e seguintes). É, aliás, no quadro dessa perspectiva que o
constitucionalista Vital Moreira defende que “o estado de calamidade não pode fazer o
que só o estado de excepção constitucional, por decreto presidencial, pode fazer, ou
seja, suspender direitos” . Sucede, entretanto, que a Lei de Gestão de Calamidades
elenca, no seu artigo 18, alguns direitos fundamentais que podem ser restringidos pelo
Governo em estado de Calamidade Pública, atendidos os princípios da
proporcionalidade, necessidade e adequação. De entre as medidas de carácter
excepcional que o Governo pode decretar em estado de Calamidade Pública, destacam-
se as seguintes:

a. Limitar a circulação ou permanência de pessoas ou veículos de qualquer


natureza em horas e locais determinados, ou condicioná-las a certos requisitos;
b. Requisitar temporariamente quaisquer bens móveis ou imóveis e serviços;
c. Ocupar instalações e quaisquer outros locais de qualquer natureza ou destino,
com excepção dos que sejam usados como habitação;
d. Limitar ou racionar a utilização dos serviços públicos de transporte,
comunicações, abastecimento de água, energia, combustíveis e lubrificantes,
bem como o consumo de bens e serviços de primeira necessidade;
e. Proceder à aquisição de bens e serviços de carácter urgente, usando regras
excepcionais, a serem aprovadas pelo Conselho de Ministros;
f. Afectar meios financeiros destinados a apoiar diversas entidades públicas e
privadas envolvidas na prestação de socorro e assistência às populações
afectadas;
g. Determinar a mobilização civil por determinados períodos de tempo, por zonas
territoriais ou sectores de actividade;

Sendo a norma do artigo 18 da Lei de Gestão de Calamidades de constitucionalidade


duvidosa, julgamos que seria demonstração inequívoca de compromisso com a
consolidação do Estado de Direito Democrático se as autoridades competentes se
abstivessem de a implementar, até porque, a nosso ver, existem outras vias
constitucionalmente quites de acondicionar a defesa e promoção da saúde.

Contudo, entendimento diferente do nosso quanto ao artigo 18 da Lei de Gestão de


Calamidades, ainda que quanto a nós de forma problemática, teria o Conselho
Constitucional (CC), a avaliar pela jurisprudência fixada pelo Acórdão número
6/CC/2020, de 1 de Abril, com fundamento na norma do número 4 do artigo 56 da
CRM, nos termos da qual os direitos fundamentais podem ser limitados em sede de lei
ordinária, desde que “as limitações [em causa] sejam gerais e abstractas e não tenham
efeito retroactivo”.

Com efeito, e retomando o ponto acima quanto à existência de outras vias


constitucionalmente quites de efectivação da protecção da saúde pública, resulta da
CRM que todos nós, enquanto cidadãos, temos deveres para com a comunidade, sendo
que um desses deveres é a defesa e promoção da saúde pública – alínea e) do artigo 45,
sendo esta, a nosso ver, uma plataforma de reforço de eventuais medidas que seriam
consideradas em sede de uma hipotética declaração de Calamidade Pública, tendo
sempre em atenção os princípios da proporcionalidade, necessidade e adequação. Bem
vistas as coisas, reforçaria um eventual recurso à norma da alínea e) do artigo 45 da
CRM o facto de, ainda nos termos da CRM, ser competência do Governo assegurar a
ordem pública e a disciplina social – alínea b) do número 1 do artigo 203 –, ao que se
acresce a função de garantir a segurança e estabilidade dos cidadãos.

2.4.3. Impactos do Estado de Calamidade


Durante a vigência da situação de calamidade pública o Governo pode:

(i) tomar as seguintes necessárias para garantir a adopção e respeito das medidas de
segurança; (ii) reorganizar o exercício da actividade comercial, industrial e o acesso a
bens e serviços; (iii) reorganizar o funcionamento dos transportes colectivos, o tráfego
rodoviário, aéreo, marítimo, fluvial e ferroviário; (iv) reorganizar o funcionamento das
instituições de ensino, da administração pública, do movimento fronteiriço, bem como a
realização de espectáculos, actividades desportivas, culturais e de lazer; (v) coordenar,
com as lideranças religiosas, as condições de uso dos locais de culto; (vi) limitar ou
racionalizar a utilização dos serviços públicos de abastecimento de água, energia,
combustíveis e lubrificantes, bem como o consumo de bens e serviços de primeira
necessidade; (vii) proceder à aquisição de bens e serviços de carácter urgente, usando
regras excepcionais, nos termos da legislação aplicável; (viii) determinar a mobilização
civil por determinados períodos de tempo certos, por zonas territoriais ou sectores de
actividade caso se mostre necessário; (ix) usar de forma proporcional os meios
coercivos apropriados para garantir o cumprimento das medidas.
Para além do que acaba de ser referido, durante a situação de calamidade pública, todos
os cidadãos nacionais e estrangeiros têm o dever geral de colaborar com as autoridades
e tomar as medidas necessárias para prevenir, gerir e mitigar o risco de desastre.

Hoje, Moçambique tem uma Constituição que consagra de forma clara todos os direitos,
liberdades e garantias dos seus cidadãos e estabelece também de forma clara todos os
princípios atinentes à garantia desses mesmos direitos por parte do Estado DA SILVA,
J. A.; Curso de Direito Constitucional Positivo, 31.ª Edição, Malheiros Editores, São
Paulo, 2008.

2.5. A suspensão ou a limitação dos direitos de Liberdade e Igualdade


A Constituição estabelece, claramente, o regime e os fundamentos da suspensão ou
limitação dos direitos, liberdades e garantias, não havendo motivos extra constitucionais
que possam justificar essas limitações, pois as razões de saúde pública encontram
enquadramento no estado de emergência, a vida é um valor constitucional. Se o Estado
pretender limitar ou suspender direitos, liberdade e garantias, terá que observador o
estatuído pela Constituição.

A suspensão ou a limitação dos direitos, liberdades e garantias segue o regime da


declaração do estado de excepção com o respeito pelo princípio da reserva de
constituição e no que toca as restrições de direitos, liberdades e garantias, em estado de
normalidade constitucional, deve ser seguido o regime estabelecido pelo artigo 56.º da
CRM. Assim, de acordo com o art.º 56 n. 3 “A lei só pode limitar os direitos, liberdades
e garantias nos casos expressamente previstos na Constituição”. A referência à Lei, que
deve ser entendido como acto legislativo, comete ao órgão legislativo a competência,
para a restrição, sem descurar obviamente a necessidade de haver autorização
constitucional expressa para essa restrição.
1. Conclusão
Findo do trabalho pode-se concluir que o direito à liberdade e à segurança são direitos
fundamentais e inalienáveis pelo que ninguém pode ficar privado de usufruir dos
mesmos senão nos termos previstos na lei (artigo 59.º da CRM e artigo 27.º da
CRP) .Calamidade Pública, mormente no que diz respeito à limitação dos direitos
fundamentais, mesmo sem prorrogação do Estado de Emergência ou sua ou, findas as
possibilidades constitucionais de manutenção do estado de excepção – impor medidas
de defesa e promoção da saúde pública, como a proibição de aglomerados e a
obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares públicos. Das aprendizagens trazidas
por esta situação de efectivação de medidas excepcionais por conta da pandemia da
COVID-19, bem assim das lições aprendidas em 2019 (ciclones tropicais Idai e
Kenneth), é recomendável que na próxima revisão constitucional se acautele a questão
de período de gestão governativa, nomeadamente de passagem de um PR para outro e
de um Governo para outro, curando questões sobre como deverá ser accionado um
estado de excepção, sem necessidade de se recorrer a um regime de gestão de negócio,
de resto de duvidosa constitucionalidade, como se assistiu quando, a 20 de Março, o PR
Filipe Nyusi fez uma comunicação à nação, na qual anunciou a limitação, a partir de 23
do mesmo mês, de certos direitos fundamentais, sem que se seguisse rigorosamente o
que se acha a propósito consignado na CRM; Por uma questão de rigor nos conceitos
apresentados, o autor refere a suspensão ou restrição de direitos, liberdades e garantias
segue o regime da declaração do estado de excepção com o respeito pelo princípio da
reserva de constituição e no que toca as restrições de direitos, liberdades e garantias, em
estado de normalidade constitucional, deve ser seguido o regime estabelecido pelo
artigo 56.º da CRM. Assim, de acordo com o art.º 56 n. 3 “A lei só pode limitar os
direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente previstos na Constituição”. A
referência à Lei, que deve ser entendido como acto legislativo, comete ao órgão
legislativo a competência, para a restrição, sem descurar obviamente a necessidade de
haver autorização constitucional expressa para essa restrição. É importante referir que a
Constituição estabelece, claramente, o regime e os fundamentos da suspensão ou
limitação dos direitos, liberdades e garantias, não havendo motivos extra constitucionais
que possam justificar essas limitações, pois as razões de saúde pública encontram
enquadramento no estado de emergência, a vida é um valor constitucional.
4 Referencias Bibliográficas

ANDRADE, José Carlos Vieira. Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa


de 1976, 5.ª Edição, Almedina, 2012, p.358.

CANOTILHO, J.J. Gomes; Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 5.ª Edição,


Almedina, Coimbra.

Castel-Branco, R. (2020). O Trabalho e a Protecção Social num contexto do Estado de


Emergência em Moçambique. In: IDeIAS, nº 125, IESE (disponível em:
https://www.iese.ac.mz/ideias-125/, acesso em 2021).

DIMOULIS, Dimitri; MARTIS, Leonardo. Teoria geral dos Direitos Fundamentais.


4.ed. São Paulo: 2021. p.20

MIRANDA, Direitos Fundamentais: Introdução Geral, 56.

MIRANDA, Jorge; Manual de Direito Constitucional, 3.ª Edição, Tomo IV (Coimbra:


Coimbra Editora, 2000), 113.

MIRANDA, Jorge; Manual de Direito Constitucional, Tomo IV, 4.ª Edição, Coimbra
Editora, 2008.

https://www.gdaadvogados.com/pt/publicacoes/insights/estado-de-emergencia-e-de-
calamidade-publica/210/

Legislação:

MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, Imprensa nacional,


2004, Maputo.

Constituição Da República De Moçambique Actualizada 2020

Lei n.º 10/2020 de 24 de Agosto, Regulamento da Lei de Gestão e Redução do Risco de


Desastres, aprovado através do Decreto n.º 76/2020 de 1 de Setembro.

Lei 10/2020 de 24 de Agosto, aprovado pelo decreto nº 30/2021, de 26 Maio, alínea a)


do número 1 do artigo 33 estabelecendo a Declaração de Situação de Calamidade
Pública no seu artigo 1.

Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Assembleia Geral da


ONU, a 10 de Dezembro de 1948.

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