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A Constituição da República de Moçambique é o documento que estabelece a forma de

organização e funcionamento do Estado bem como reconhece os direitos, deveres e


liberdades fundamentais dos cidadãos. A Constituição é a lei fundamental do nosso
Estado e serve como base de todas as leis que existem em Moçambique.

A Constituição é a lei fundamental de um determinado Estado. Pois, aí estão


consagrados e protegidos os direitos e garantias fundamentais do cidadão. Também
estão estabelecidas as regras de organização e funcionamento dos órgãos estatuais bem
como princípios
Fundamentais válidos nesse Estado.

Princípios fundamentais
A Constituição da República de Moçambique estabelece alguns princípios que regem no
nosso país. Os mais importantes são: o princípio do Estado de Direito e o princípio de
democracia. Além desses é para destacar que o nosso Estado é laico (Artigo 3 da
Constituição da República de Moçambique)

(Estado de Direito Democrático)


A República de Moçambique é um Estado de Direito, baseado no pluralismo de
expressão, na organização política democrática, no respeito e garantia dos direitos e
liberdades fundamentais do homem.

Estado de Direito
O princípio de Estado de Direito trata do conteúdo, extensão e modo, como o Estado
deve proceder com as suas actividades. O princípio de Estado de Direito conforma as
estruturas do poder político e a organização da sociedade segundo a medida do direito.
O direito estabelece regras e medidas, prescreve formas e procedimentos, e cria
instituições.

As características mais importantes do Estado de Direito são:


Império da lei como expressão da vontade geral; todos os actos do Estado são limitados
pela lei;
Divisão dos poderes: legislativo, executivo e judicial;
Direitos e liberdades fundamentais
Garantia jurídica formal e efectiva realização.

No entanto, a Constituição da República de Moçambique consagra um vasto conjunto


de requisitos do Estado de Direito. Queremos salientar artigo 2:

Artigo 2
(Soberania e Legalidade)
3. O Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade.
Neste artigo está consagrado que todos os actos do Estado devem cumprir com a
Constituição da República bem coma as leis.

Democracia
A República de Moçambique é uma democracia. Isto quer dizer que, é dirigido pelo
povo. É uma democracia representativa, significa que o povo exerce o seu poder através
de representantes eleitos por ele. A democracia como princípio fundamental da
República de Moçambique explicámos intensivamente na nossa outra brochura sobre:
“Estrutura do Estado e democracia em Moçambique”.

Estado Laico
Em Moçambique, a religião é separada do Estado. Há uma divisão total, em que a
religião não tem nada a ver com o Estado. A constituição reconhece a liberdade de se
praticar a religião assim como desenvolver actividades de interesse social, mas sempre
em observância com asleis do Estado.

Artigo 12
(Estado laico)
1. A República de Moçambique é um Estado laico.
2. A laicidade assenta na separação entre o Estado e as confissões religiosas.
3. As confissões religiosas são livres na sua organização e no exercício das suas funções
e devem conformar-se com as leis do Estado.
4. O Estado reconhece e valoriza as actividades das confissões religiosas visando
promover um clima de entendimento, tolerância, paz e o reforço da unidade nacional, o
bem estar espiritual e material dos cidadãos e desenvolvimento económico e social.
Direitos e liberdades fundamentais
Além de abordar acerca da estrutura do Estado e os seus princípios fundamentais, a
Constituição da República de Moçambique consagra direitos e liberdades fundamentais.
Esses se referem a todos os cidadãos. Os mais importantes apresentaremos neste
trabalho, tais como, o princípio de igualdade, a liberdade de expressão, liberdade de
imprensa, liberdade de associação, direito de propriedade etc.

Direito à vida
Artigo 40
1. Todo o cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito
à tortura ou tratamento cruéis ou desumanos.
2. Na República de Moçambique não há pena de morte.

Princípio de igualdade

Artigo 35
(Princípio da universalidade e da igualdade)
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitas
aos mesmos deveres, independentemente da cor, raças, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão
ou opção política.

Artigo 36
(Princípio da igualdade de género)
O homem e a mulher são iguais perante a lei em todos os domínios da vida política,
económica, social e cultural.
A lei não distingue as pessoas quanto aos seus direitos de cidadão. Perante a lei não há
ministro nem camponês, nem branco nem negro, nem mulher nem homem, nem Macena
nem makonde, nem que este nasceu em Cabo Delgado ou em Niassa, não há
muçulmano nem católico, não há rico nem pobre, nem doutor nem analfabeto. Não
importa se os pais são casados pelo registo ou não, se trabalham ou não, se são da PDD
ou da FRELIMO. Todos cidadãos são iguais perante a lei e gozam dos mesmos direitos.
Liberdade de expressão

Artigo 48
(Liberdades de expressão e informação)
1. Todos os cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem
como o direito à informação.
2. O exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente, a faculdade
de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à
informação não podem ser limitadas por censura.
Artigo 48º da Constituição da República de Moçambique reconhece que cada um pode
ter as próprias opiniões e pode manifestá-las aos outros. As pessoas têm o direito de
falarem aquilo que sentem, desde que isso não prejudique o bem comum. Todos os
cidadãos podem trocar ideias com os outros e manifestar as suas próprias opiniões sem
medo.
Contra este direito vai à proibição de exprimir as próprias opiniões. Também contra a
lei é quando alguém está sendo condenado porque ele tinha a coragem de manifestar as
suas ideias.
A liberdade de expressão tem limites nos direitos dos outros. Há, no entanto, actos que a
lei pune como calúnia ou difamação.

Liberdade de imprensa
Artigo 48
3. A liberdade da imprensa compreende, nomeadamente, a liberdade de expressão e de
criação dos jornalistas, o acesso às fontes de informação, a protecção da independência
e do sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e outros meios de
difusão.
5. O Estado garante a isenção dos meios de comunicação social do sector público, bem
como a independência dos jornalistas perante o Governo, a Administração e os demais
poderes políticos.
A Constituição da República de Moçambique protege a liberdade da imprensa. Esta é
um dos direitos fundamentais mais importantes para uma democracia viva. Quando os
jornalistas têm o direito de acesso às fontes de informação, têm a possibilidade de
exprimir livremente as suas opiniões e os jornais podem publicá-las livremente etc. cria-
se uma base para o pluralismo de opiniões que é impertinente para uma sociedade
democrática. Também importante é que jornalistas podem ser formados e exercer a sua
profissão sem intervenções do Estado.

Liberdade de associação

Artigo 52
(Liberdade de associação)
1. Os cidadãos gozam da liberdade de associação.
2. As organizações sociais e as associações têm direito de prosseguir os seus fins, criar
instituições destinadas a alcançar os seus objectivos específicos e possuir património
para a realização das suas actividades, nos termos da lei.
3. São proibidas as associações armadas de tipo militar ou paramilitar e as que
promovam a violência, o racismo, a xenofobia ou que prossigam fins contrários à lei.
É muito normal que o homem se reúna com outros para conversar, trabalhar, para
resolver problemas, para trocar experiências etc. O homem é um ser social, por isso tem
necessidade de conviver e de se associar aos outros.

Artigo 53º da Constituição da República de Moçambique consagra o direito de todos os


cidadãos para se juntarem em associações pacíficas. Existem associações com objetivos
culturais, religiosos, políticos, desportivos, estudantis etc.

Liberdade de constituir, participar e aderir a partidos políticos

(Constituir, participar e aderir a partidos políticos)


1. Todos os cidadãos gozam de liberdade de constituir ou participar em partidos
políticos.
2. A adesão a um partido político é voluntária e deriva da liberdade dos cidadãos de se
associarem em torno dos mesmos ideais políticos.
Em Moçambique hoje trabalham mais de 30 partidos políticos. Eles ajudam pôr a
democracia na prática, porque formam um meio para formar e expressar a vontade
política dos cidadãos.
Democracia é o governo pelo povo. No nosso país, a democracia é executada por
representantes, em primeiro lugar os deputados da Assembleia da República. Os
partidos políticos intervêm no processo eleitoral, mediante apresentação ou patrocínio
de candidatura.

Os partidos políticos expressam o pluralismo político, concorrem para a formação e


manifestação da vontade popular e são um instrumento fundamental para a participação
democrática dos cidadãos na governação do país, art. 74º n.º 1 da Constituição da
República de Moçambique. Essas funções, os partidos políticos só podem exercer,
quando os cidadãos têm o direito de livremente constituir e participar em partidos
políticos, assim como está consagrado no art.53º da Constituição da República. Ao
mesmo tempo, o Estado deve assegurar que cada cidadão possa decidir sem pressão, se
ele quer aderir a um partido ou não.

6. Liberdade e consciência, de religião e de culto

Artigo 54
(Liberdade de consciência, de religião e de culto)
1. Os cidadãos gozam de liberdade de praticar ou de não praticar uma religião.
2. Ninguém pode ser discriminado, perseguido, prejudicado, privado de direitos,
beneficiado ou isento de deveres por causa da sua fé, convicção ou prática religiosa.
A liberdade de religião abrange a possibilidade de escolher, praticar ou não praticar uma
religião. Cada pessoa é livre de seguir a sua religião, podendo praticá-la sozinho ou em
grupo, na sua casa ou em público. O Estado não tem o direito de intervir na escolha ou
na prática ou não prática da religião dos seus cidadãos.

Direito de propriedade

Artigo 82

(Direito de propriedade)
1. O Estado reconhece e garante o direito de propriedade.
2. A expropriação só pode ter lugar por causa de necessidade, utilidade ou interesse
públicos, definidos nos termos da lei e dá lugar a justa indemnização.
Art. 82º da Constituição da República de Moçambique protege o direito de propriedade.
Embora que a terra consoante art. 109º da Constituição da República de Moçambique
seja do Estado, cada cidadão pode ter outros bens, como casas, bicicletas, rádios etc. O
Estado só tem direito de tirar este direito do cidadão pagando uma justa indemnização

Direitos no processo penal


A Constituição da República de Moçambique também prevê alguns direitos que se
referem especialmente ao processo penal. Quando um cidadão fica preso por
alegadamente ter cometido um crime, ele perde um direito muitíssimo importante, que é
a sua liberdade. Para assegurar que a estadia na prisão assim como o julgamento não
ultrapassem os limites do necessário para manter a ordem do Estado, a Constituição põe
ao lado da pessoa acusada dum crime alguns direitos. Os mais importantes explicaremos
neste capítulo

Artigo 59
(Direito à liberdade e a segurança)
1. Na República de Moçambique, todos têm direito à segurança e ninguém pode ser
preso e submetido a julgamento senão nos termos da lei.
As pessoas em Moçambique só podem ser presas nos casos em que a lei o determina.
Isso é, por exemplo, quando a pessoa é encontrada a cometer um crime ou nos casos em
que a pessoa comete um crime punível com pena de prisão por mais de um ano (p.e. em
caso alguém matar uma outra pessoa).

Artigo 59
3. Nenhum cidadão pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime,
nem ser punido com pena não prevista na lei ou com pena mais grave do que a
estabelecida na lei no momento da prática da infracção criminal.

Artigo 60
(Aplicação da lei criminal)
1. Ninguém pode ser condenado por acto não qualificado como crime no momento da
sua prática.
2. A lei penal só se aplica retroactivamente quando disso resultar benefício ao arguido.

Direito à defesa, audiências públicas e proibição da tortura


Artigo 62
(Acesso aos tribunais)
1. O Estado garante o acesso dos cidadãos aos tribunais e garante aos arguidos o direito
à defesa e o direito à assistência jurídica e patrocínio judiciário.
2. O arguido tem o direito de escolher livremente o seu defensor para o assistir em todos
os actos do processo, devendo ao arguido, que por razões económicas não possa
constituir advogado, ser assegurada a adequada assistência jurídica e patrocínio judicial.
Cada pessoa, contra qual o Estado está a realizar uma investigação ou um processo
criminal, tem o direito de ser defendido por um advogado escolhido por ela. Se alguém
não tem dinheiro para pagar um advogado, o Estado deve disponibilizar um defensor.

Artigo 65
(Princípios de processo criminal)
2. As audiências de julgamento em processo criminal são públicas, salvo quando a
salvaguarda da intimidade pessoal, familiar, social ou da moral, ou ponderosas razões
de segurança da audiência ou de ordem pública aconselharem a exclusão ou restrição de
publicidade.
3. São nulas todas provas obtidas mediante tortura, coacção, ofensa da integridade física
ou moral da pessoa, abusiva intromissão na sua vida privada e familiar, no domicílio, na
correspondência ou nas telecomunicações.

5. Prisão preventiva
Artigo 64
(Prisão preventiva)
1. A prisão preventiva só é permitida nos casos previstos na lei, que fixa os respectivos
prazos.
2. O cidadão sob prisão preventiva deve ser apresentado no prazo fixado na lei à decisão
de autoridade judicial, que é a única competente para decidir sobre a validação e a
manutenção da prisão.
3. Toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada imediatamente e de forma
compreensível das razões da sua prisão ou detenção e dos seus direitos.
4. A decisão judicial que ordene ou mantenha uma medida de privação da liberdade
deve ser logo comunicada a parente ou pessoa da confiança do detido, por este indicado.

A prisão preventiva só é permitida nos casos previstos na lei. Estes são: Uma pessoa
pode ser presa preventivamente:
 Quando for encontrada a praticar crime ou tendo acabada de o cometer;
 Quando for perseguida logo após a prática do crime por qualquer pessoa;
 Com mandado de captura.

Um mandado de captura pode ser emitido por:


• Juízes dos tribunais judiciais ou equivalentes;
• Procuradores;
• Directores, inspectores e subinspetores da PIC;
• Oficiais da PRM com funções de comando;
• Administradores distritais, chefes de postos administrativos ou presidentes dos
conselhos municipais, onde não existam oficiais da PRM.

Dentro de 48 horas depois de captura, o cidadão na prisão preventiva tem que ser
apresentado ao juiz. Só esse pode determinar se se justifica manter a prisão preventiva.

Outras garantias
Existem mais garantias da Constituição importantes para os cidadãos, por exemplo o
princípio de proporcionalidade, o princípio de divisão de poderes ou o princípio que o
Estado só pode interferir em direitos dos cidadãos quando uma lei admite este acto.
Aqui queremos apresentar mais dois princípios, quais são o acesso aos tribunais, a
independência dos juízes bem como direitos dos administrados.
Acesso aos tribunais
Artigo 70
(Direito de recorrer aos tribunais)
O cidadão tem o direito de recorrer aos tribunais contra os actos que violem os seus
direitos e interesses reconhecidos pela Constituição e pela lei.
Artigo 253
(Direitos e garantias dos administrados)
3. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso contencioso fundado em
ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos.
Pilar fundamental do Estado de Direito é o livre acesso à via aos tribunais. Este direito
não só está preconizado em caso que o cidadão sentir violado os seus direitos por um
outro cidadão, mas sim, também pelo actos do Estado. Qualquer cidadão, sofrendo uma
violação dos seus direitos, pode recorrer aos tribunais.

Independência dos juízes


Artigo 217
(Independência dos juízes)
1. No exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem
obediência à lei.
2. Os juízes têm igualmente as garantias de imparcialidade e irresponsabilidade

Direitos e garantias dos administrados


Artigo 249
(Princípios fundamentais)
1. A Administração Pública serve o interesse público e na sua actuação respeita os
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
2. Os órgãos da Administração Pública obedecem à Constituição e à lei e actuam com
respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça.

Artigo 250
(Estrutura)
1. A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de descentralização e
desconcentração, promovendo a modernização e a eficiência dos seus serviços, sem
prejuízo da unidade de acção e dos poderes de direcção do Governo.
2. A Administração Pública promove a simplificação de procedimentos administrativos
e a aproximação dos serviços aos cidadãos.

Artigo 253
(Direitos e garantias dos administrados)
1. Os cidadãos têm o direito de serem informados pelos serviços competentes da
Administração Pública sempre que requeiram sobre o andamento dos processos em que
estejam directamente interessados nos termos da lei.
2. Os actos administrativos são notificados aos interessados nos termos e nos prazos da
lei e são fundamentados quando afectam direitos ou interesses dos cidadãos legalmente
tutelados.
3. É assegurado aos cidadãos interessados o direito ao recurso contencioso fundado em
ilegalidade de actos administrativos, desde que prejudiquem os seus direitos.
A Administração Pública tem a tarefa de implementar as leis em todo o país, da capital
até ao nível das comunidades locais. Na sua função, serve o interesse público e na sua
actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. Consoante art.
249º da Constituição da República de Moçambique, os órgãos da Administração Pública
obedecem à constituição e à lei. Eles actuam com o respeito dos princípios da igualdade,
da imparcialidade, da ética e da justiça (veja também a brochura sobre Estrutura do
Estado e democracia.

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