Você está na página 1de 18

Direitos fundamentais em Moçambique

Falar de Direitos constitucionais ou fundamentais em Moçambique significa rebuscar inúmeros


aspectos da história de um País do século XX e, tentar condensá-los para justificar o conceito,
sendo assim, não se mostra tarefa fácil e muito menos algo que possa ser esgotado numa reflexão
apenas, contudo, a necessidade de fazer este trabalho e tentar entender a real essência de
direitose deveres em Moçambique, devido aos conturbados momentos que marcam o
quotidiano moçambicano.

1. Direitos fundamentais na Constituição Moçambicana

A Constituição Moçambicana atribui os direitos fundamentais a todos os cidadãos perante a


lei, e todos gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres. O artigo 35º e
seguintes da CRM enumeram princípios e uma série de direitos, deveres e liberdades
consignados na “lei-mãe” do país. Refere ainda que: “...os direitos fundamentais consagrados
na Constituição não excluem quaisquer outros constantes das leis” (CRM, 2004). Isto para
dizer que todos os assuntos sobre os direitos fundamentais não se esgotam apenas na
Constituição, existindo outros instrumentos legais ou leis que de forma específica nos
remetem à sua consulta e apreciação. Ou seja, a fonte de reconhecimento dos direitos
humanos em si não é, apenas, a Constituição mas também a Lei ordinária. Assim, as
atribuições dos direitos fundamentais na CRM encontram-se dispostos em:

1.1. Princípio da Universalidade

Este é o primeiro comum a quaisquer direitos fundamentais. Todos quanto fazem parte da
comunidade política são titulares dos direitos e deveres aí consagrados. Portanto, este
princípio diz respeito aos destinatários das normas.

1.2. Princípio da Igualdade

Neste princípio, odos têm os mesmos direitos e deveres, e diz respeito ao conteúdo do
princípio da universalidade. No positivismo os valores éticos são aqueles que devem ou
deviam ser seguidos pela sociedade. Actualmente os princípios já não são vistos como eram
no antigamente, mas sim carregados de normatividade, o que os faz um tipo de norma, bem
assim como regras. Os princípios constitucionais são normas que sustentam e servem de
fundamento jurídico para o ordenamento constitucional; são valores primordiais e bases do
sistema normativo da sociedade. Não são meros programas ou sugestões que visem acções
para iniciativa privada ou simplesmente para um poder público, dão a direcção e possuem
verdadeira força vinculativa.

Diferença entre os direitos

Nunca se devem confundir os direitos dos povos e os direitos do homem. Quando falamos dos
direitos dos povos estamos a falar do direito a autodeterminação, direito a paz, etc. São direitos
da colectividade bem definidos e em situações variáveis. Direito do homem refere-se ao direito à
vida, à liberdade, às convicções religiosas, direito ao trabalho, etc.

2. Direitos fundamentais e Deveres fundamentais

Segundo MENDES, “direitos fundamentais são direitos de defesa que se destinam


a proteger determinadas posições subjectivas contra a intervenção do poder público”. Ainda
nesta mesma linha de pensamento, o autor diz que “os direitos fundamentais do homem são
situações jurídicas objectivas e subjectivas definidas no direito positivo em prol da dignidade,
igualdade e liberdade da pessoa humana”. Direitos fundamentais e Deveres fundamentais são
situações jurídicas ou adstrição de comportamentos impostas constitucionalmente às pessoas, aos
membros da comunidade política. São deveres que o homem tem perante o Estado, ou
perante outros homens enquanto cidadão e que derivam do seu estatuto básico, a Constituição,
em conformidade com os princípios que a enformam.

4. Categorias de direitos fundamentais quanto aos sujeitos

Quanto aos sujeitos os direitos podem ser:

a) Direitos fundamentais individuais e institucionais: Enquanto os Direitos


fundamentais individuais referem-se ao direito à vida, à liberdade pessoal, à objecção de
consciência, o direito ao trabalho, direito ao ensino, etc. Os direitos fundamentais
institucionais dizem respeito por exemplo ao direito de livre organização, de confissões
religiosas, direito de antena, livre acção de associação, associações sindicais, etc.
b) Direitos comuns e particulares: Por direitos comuns entende-se os direitos de todos os
3.
c) membros da comunidade política só por virtude dessa qualidade, por exemplo os direitos
dos cônjuges, direitos de exercício do sufrágio universal.

5. Direitos e Deveres Cívicos

Deveres cívicos são um conjunto de deveres que se impõem ao cidadão para uma justa e salutar
convivência em sociedade. Os direitos cívicos correspondem aos valores fundamentais dos seres
humanos. Por exemplo, o direito à vida, a constituir família, a escolher livremente o emprego e a
religião, o direito à liberdade e defesa em tribunal e o direito à liberdade de expressão. Para mais
enfase, podem compreender-se os seguintes:

5.1. Respeitar os outros Cidadãos

Respeitar os outros cidadãos é um dever cívico e de cada um.

5.2. Pagamento de impostos

Pagar impostos é um dever cívico e de cada um. Consiste em dar parte dos lucros que se tenha ao
Estado. Serve para pagar aos polícias, aos médicos, aos professores, etc.

5.3. Serviço Militar Obrigatório

Cumprir serviço militar é um dever cívico e de cada um

5.4. O voto

Votar é um dever cívico e de cada um

Consiste em escolher uma opção duma lista de opções. É extremamente limitativo, ter que
escolher entre duas (no caso de referendo) ou meia dúzia de hipóteses (eleições), embora o povo
fique todo contente a pensar que escolhe alguma coisacumprir pena. Num regime político
democrático (democracia), os cidadãos têm mais garantias dever os direitos fundamentais
respeitados pois são eles que elegem os poderes políticos que fazem as leis e as fazem cumprir.

6. A cidadania em Moçambique

A Constituição moçambicana sugere uma concepção de cidadania baseada em direitos. Ela


enumera, por exemplo no seu capítulo V, uma série de direitos sociais e económicos, tais como o
direito à educação, saúde, habitação, assistência na velhice e incapacidade e trabalho. Embora a
Constituição da República Moçambicana não o defina claramente, a cidadania podeser
compreendida como um direito fundamental ligado a uma nacionalidade: o «direito a ser
membro da República Moçambicana».

Exige, portanto, um vínculo ou conexão relevante a Moçambique — ter nascido em território


Moçambicano, ser filho ou neto de Moçambicano, casar-se com um cidadão Moçambicano —
que justifique tal estatuto de inclusão/pertença à comunidade política e jurídica Moçambicana.

7. Cidadania: Lato senso

Um cidadão é uma pessoa que se considera em uma fase madura o suficiente desenvolvido para
agir consciente e responsavelmente dentro da sociedade. Cidadania é a prática dos direitos e
deveres de um(a) indivíduo (pessoa) emum Estado. Os direitos e deveres dos cidadãos
devem andar sempre juntos, uma vez que o direitode um cidadão implica necessariamente numa
obrigação de outro cidadão. Conjunto de direitos, meios, recursos e práticas que dá à pessoa a
possibilidade de participar activamente da vida e dogoverno de seu povo.

Em suma, a cidadania é reconhecida como o «direito a ter direitos». Por isso, há autores que
a entendem como um estatuto que confere um leque de direitos constitucionalmente
previstos.

Direito positivo em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana. Direitos


fundamentais e Deveres fundamentais são situações jurídicas ou adstrição de comportamentos
impostas constitucionalmente às pessoas, aos membros da comunidade política. São
deveres que ohomem tem perante o Estado, ou perante outros homens enquanto cidadão e que
derivam do seu estatuto básico, a Constituição, em conformidade com os princípios que a
enformam.
direito

Poder é a capacidade de deliberar arbitrariamente, agir, mandar e também, dependendo do


contexto, a faculdade de exercer a autoridade

os princípios são chamados de conjunto de valores éticos ou morais em que se baseiam os


comportamentos e decisões dos sujeitos.

Liberdade a condição do indivíduo que possui o direito de fazer escolhas autonomamente, de


acordo com a própria vontade.

A sujeição, é a expressão subjetiva do comando jurídico, considerado no seu lado passivo, isto é,
da parte de quem é comandado; significa necessidade de obedecer. Pelo

lado ativo, o comando jurídico se realiza, enquanto expressão subjetiva,

e m poder. Está e m situação de sujeição, pois, quem quer que esteja

colocado no lado passivo, e m relação àquele ao qual o comando tenha

atribuído u m poder jurídico. Nela se situa, por exemplo, o mandatário, quando decida o
mandante revogar a outorga expedida. O mandatário, e m situação de sujeição, há de obedecer,
suportando os efeitos

da revogação.

Distinguindo a sujeição do dever, CARNELUTTI4

aponta que este

O dever jurídico e a conduta imposta pela ordem juridica a ser adoptada por um individuo
consubstancia precisamente uma vinculação ou limitação imposta à vontade de quem por ele
alcançado. Definido

como tal pelo ordenamento jurídico, o dever há de ser compulsoriamente cumprido, sob pena de
sanção jurídica — o seu não atendimento configura comportamento ilícito.

A obrigação — tomado o vocábulo em sentido estrito — supõe

uma situação de dever, em que se coloca o devedor.

obrigação é "o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do
devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação".

onus como o instrumento através do qual o ordenamento jurídico impõe ao sujeito u m


determinado comportamento, que deverá ser adotado se não pretender ele arcar com
conseqüências que lhe serão prejudiciais

8. A integração dos direitos humanos na Constituição de Moçambique

O Estado moçambicano assumiu a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Carta Africana
dos Direitos Humanos e outros documentos internacionais sobre direitos humanos desde a
primeira Constituição da República de Moçambique de 1975.

Introdução

Em Moçambique, os primeiros sinais de direitos humanos foram integrados na Constituição da


República Popular de Moçambique (CRPM), a primeira do país enquanto Estado independente.
Estes direitos estavam, no entanto, muito limitados, dispersos e muitas das vezes dificultavam a
sua interpretação. De forma clara, estes direitos foram incorporados no texto Constitucional de
1990. Apesar da sua instituição no ordenamento jurídico moçambicano, na prática sua aplicação
e observância continua sendo um grande desafio, visto que as diferentes instituições sociais e
económicas do Estado que deveriam garantir estes direitos carecem de políticas públicas
assertivas para sua concretização, por forma a que o povo possa viver condignamente, conforme
objectivos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Carta Africana dos Direitos
Humanos e dos Povos, da Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade Cultural e
demais instrumentos jurídicos sobre a matéria, tanto nacionais como internacionais. Em termos
de desenvolvimento humano, o país é classificado como tendo um dos índices mais baixos do
planeta. O Estado não é capaz de garantir políticas públicas que visem a diminuição das
desigualdades sociais e garantir a inclusão social e econômica das classes sociais estratificadas e
desfavorecidas, por processos históricos ao longo dos tempos. Estes são os entraves condenáveis
a luz dos direitos humanos, visto que não permitem que o cidadão possa gozar dos direitos
económicos, sociais e culturais, que a principio deveriam ser garantidos pelo próprio Estado
através da contenção de custos, corrupção zero e justiça igual para todos. Este estudo pretende
compreender como os direitos humanos são integrados na Constituição de Moçambique. Para o
efeito faz uma análise dos três textos Constitucionais da República de Moçambique,
nomeadamente: de 1975; de 1990 e, de 2004, revisto em 2018.

8.1. O direito internacional dos direitos humanos

O direito internacional de direitos humanos é reconhecido e ampliado a partir da Declaração


Universal dos Direitos Humanos (DUDH), de 1948. Este instrumento jurídico internacional, tem
como propósito regular as relações humanas entre os povos numa convivência pacífica. O artigo
5º desta Declaração, recomenda as nações a tratar os direitos humanos globalmente de forma
justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase, universais, interdependentes e
interrelacionados.
Com o reconhecimento da DUDH, pelos vários países do mundo, membros da ONU,
internacionaliza-se a questão de direitos humanos e para a sua validação dois outros importantes
documentos foram elaborados e ratificados por diferentes Estados, a citar:

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (1966);

Pacto internacional sobre os direitos económicos, sociais e culturais (1966).

Estes importantes documentos internacionais sobre direitos humanos, apesar de parte das suas
cláusulas não terem encontrado consenso em algumas nações, são considerados como os
documentos que estabeleceram os princípios universais da dignidade humana. A partir destes
inegáveis, inseparáveis, complementares e valiosos instrumentos sobre direitos humanos, vários
outros documentos de âmbito regional sobre direitos humanos foram sendo criados por diferentes
organizações de países que, na sua essência tem em comum as semelhanças culturais, por forma
a incorporar os valores comuns à compreensão, defesa e garantia dos Direitos Humanos (DH).

Entre esses documentos regionais que enriqueceram os valores defendidos na DUDH, destacam-
se os seguintes:

Declaração Solene dos Povos Indígenas do Mundo (1975);

Declaração dos Direitos Humanos e Direitos dos Povos (1976):

Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (1981):

Declaração dos Direitos do Homem no Islão (1990)

Carta Árabe dos Direitos do Homem (1994)

Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia (2000).

A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos de 1981 diferencia-se das demais, visto
que, não só defende os direitos humanos individuais, como também colectivos, traduzindo-se nos
direitos dos povos ao rol dos direitos fundamentais, como uma condição indissolúvel e
indivisível dos direitos humanos, para a sua livre determinação no sentido de garantir o seu
estatuto político e liberdade económica, sem interferências de outros Estados.
Entendemos, por isso que o consenso alcançado pelos dirigentes africanos que assinaram esta
carta é de que os direitos humanos, para além de ter uma proteção nacional e internacional,
porque emanam dos atributos dos seres humanos, o respeito aos direitos dos povos, segundo as
suas peculiaridades, é a garantia necessária para a concretização dos direitos humanos
fundamentais.

8.2. Declaração Universal dos Direitos Humanos

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, adoptada e proclamada em 10 de Dezembro de


1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, representa o culminar de um processo ético
que, iniciado com os movimentos de luta medievais, clássicas, liberais, capitalistas e socialistas,
em particular a Declaração de Independência dos EUA (1776), a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão da Revolução Francesa (1789), assim como as revoluções mexicana
( 1910-1917), Russa (1917) e Alemã (1919); o Tratado de Versalhes (1919), e os movimentos
internacionais como a SDN (1919), a OIT (1919), e a ONU (1945), levou ao reconhecimento da
igualdade essencial de todo ser humano em sua dignidade de pessoa, isto é, como fonte de todos
os valores, independentemente das diferenças de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião, origem
nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

a DUDH é que enuncia os grandes princípios de respeito pela pessoa e pela sua dignidade,
conforme expresso nos artigos 1º 2 º 28º, 29 º 30 º e um conjunto de direitos, sendo uns
pertencentes a direitos cívicos e políticos, contidos nos artigos 3º e 21º e outros a direitos
económicos, sociais e culturais, artigos 22º a 27º.

A DUDH busca não somente prevenir as gerações vindouras de atrocidades de guerras, como
também de promover o bem social e boas condições de vida num ambiente de direitos e
liberdades mais amplas, para todos e em todas as nações.

No nosso entendimento o sentido objectivo da DUDH é de que as nações do mundo usando este
documento vejam os direitos fundamentais, no geral, como um desafio diário, um dever e uma
meta a ser atingida, por cada individuo, por cada grupo social, por cada Estado, como referência
para a integração das nações num único propósito de convivência pacifica e harmoniosa, entre os
homens, para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e as liberdades fundamentais
com igual acesso às diferentes necessidades básicas, como educação, saúde, segurança, justiça e
igual garantia de direitos e liberdades.

A essência deste histórico e importante documento sobre os direitos humanos fundamentais se


resume segundo nossa análise nos seguintes articulados:

Direitos cívicos, correspondem aos direitos inerentes a pessoa como um ser humano, cuja sua
dignidade deve ser reconhecida e respeitada e inclui-se nos artigos: 1º, 2º 3º, 4º 5º, 6º. 7º, 8º. 9º,
10º, 11º, 12º, 13 º e 18º. Este conjunto de artigos estabelece sobre a dignidade do ser humano,
igualdade de todos à direitos e liberdades, sem distinção de qualquer natureza, o direito à vida,
liberdade e segurança pessoal, a proibição da escravidão e do trabalho forçado; proibição da
tortura e dos maus tratos ou penas desumanas ou degradantes, direitos de justiça (tratamento
igual perante a lei, presunção de inocência, devido processo legal, não retroatividade da lei), não
invasão do domicílio e da correspondência, direito à liberdade de pensamento, consciência e
religião; direito à liberdade de opinião e expressão;

O direito á vida não é, no entanto, respeitado por todos os países signatários desta Declaração.
Infelizmente ainda persiste em alguns Estados a aplicação da pena de morte para indivíduos
acusados de prática de algum tipo de crime. Em outros Estados, mesmo com a abolição formal
da pena de morte alguns políticos usam-na para eliminar os seus adversários políticos.

A pena de morte representa a total negação dos direitos humanos traduzindo-se num assassínio
premeditado, a sangue frio de um ser humano pelo Estado em nome de uma (pseudo) justiça,
sendo o castigo mais cruel, desumano, degradante e um acto de violência irreversível,
incompatível com as normas de comportamento civilizado, para além de que se traduz numa
resposta inapropriada e inaceitável ao crime violento.

Para estes autores, nenhum sistema é e, nem mesmo será capaz de tomar decisão justa, sem o
mínimo de erro, com consciência sobre quem devera viver e quem deve perder a vida, sendi que
praticamente os Estados que praticam tal medida se deixam influenciar por vários factores como
a descriminação racial, étnica, religiosa, a força da opinião pública, entre outros. Embora a pena
de morte garanta que o crime não seja repetido pelo mesmo individuo, uma vez já executado, ela
não assegura, no entanto a correção do erro judicial, quando a condenação é feita ou mais tarde é
descoberta que foi para um inocente.

Direitos políticos, correspondem aos direitos que permitem ao cidadão participar activamente no
desenvolvimento do seu país, contribuindo com ideias quer seja individualmente como em
grupo. Estes direitos estão inseridos nos artigos 14º, 15º, 19º, 25º e preconizam o direito de
procurar e de gozar asilo; liberdade de reunião e associação pacífica, direito de acesso aos
serviços públicos; direito de votar e de ser eleito.

Direitos económicos, preconizam o direito á propriedade, ao trabalho, igualdade de remuneração


para trabalho igual, remuneração justa e satisfatória, direito a limitação de horas de trabalho,
direito ao repouso e lazer incluindo às férias remuneradas, o direito de constituir uma família,
saúde e bem-estar, protecção segurança social, educação; cultura. Estes direitos estão integrados
nos artigos 16º, 17º, 23º, 24º, 25º, 26º, da DUDH.

O artigo 29º da DUDH, estabelece como um dever de cada individuo o respeito universal dos
direitos humanos e liberdades fundamentais como necessários para a criação de estabilidade e
bem estar entre os homens e que por sua vez são cruciais, para as relações pacíficas e
harmoniosas entre as nações, sempre tendo em atenção ao respeito pelo principio da igualdade de
direitos e da autodeterminação dos povos. A DUDH, portanto, é um conjunto de valores éticos
que se impõem ao ser humano, e que segundo o nosso entendimento podem se resumir em:
Dignidade humana, significa reconhecer o ser humano igual a nós próprios e por isso, tratá-lo
com o respeito que desejamos ser dados. A dignidade é considerada como um princípio da
liberdade, da justiça e da paz. A paz significa que os indivíduos, grupos ou Estados devem
sempre procurar estabelecer uma convivência pacífica, através da tolerância, do diálogo;
igualdade, significa tratamentos iguais às situações idênticas, seja no âmbito econômico, social,
cultural como político. Em outros termos quer dizer que aquilo que pretendo para mim não posso
não reconhecer como um direito para outra pessoa na mesma situação. Isto significa que
ninguém pode tratar e considerar o outro, seja um indivíduo, uma classe social ou um povo,
como inferior a si sob pretexto da diferença de cor, sexo, origem social e económica, costumes,
descendência. Em nosso entendimento, algumas diferenças humanas, são fontes de valores
positivos e, como tal, devem ser protegidas e estimuladas; Liberdade significa que a pessoa deve
ser livre de escolher a sua religião, o seu domicílio, o seu grupo de associação, liberdade de
ensino, de casamento, política, etc. Esta liberdade compreende tanto a dimensão política, quanto
a individual, pois a liberdade política, sem as liberdades individuais, é característica de Estados
autoritários ou totalitários.

Os valores contidos na DUDH, se colocam como um ideal comum, a ser seguido por todos,
como indivíduos pertencentes a uma sociedade, como instituições, empresas, como sociedade
civil, como Estados ou nação.

8.3. Os Direitos humanos na Constituição da República de Moçambique

A primeira Carta Magna, a Constituição da República Popular de Moçambique, entrou em vigor


em 1975, com a institucionalização do Estado moçambicano, através da independência do país.
No mesmo ano o país aderiu os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da
Carta Africana, para além de reconhecer no artigo 8º a Carta dos Direitos e Deveres Económicos
dos Estados adotada pela XXIX sessão da assembleia das Nações Unidas.

8.4. Análise na Constituição da República de Moçambique 1975

Alguns autores, analistas, juristas, acidémicos e jornalistas consideram que os direitos humanos
(DH) foram instituídos em Moçambique com a Constituição da República de 1990. No entanto
nossa opinião diverge com esses pensadores, pois da análise que fazemos à Constituição da
República Popular de 1975,entendemis existirem elementos materiais suficientes para configurá-
los como o princípio da institucionalização dos direitos humanos em Moçambique.

O princípio de Estado democrático, que é âncora dos direitos humanos, nos seguintes
subprincípios:

O princípio da dignidade da pessoa humana;


O princípio da juridicidade e da constitucionalidade;

O princípio da separação de poderes;

O princípio da segurança jurídica e da proteção da confiança

O princípio da igualdade;

O princípio da proporcionalidade,

Baseando-se na classificação feita por Gouveia, entendemos que alguns dos subprincípios
elencados por ele, enquadram-se na primeira Constituição da República Moçambique, a
destacar: O principio de igualdade, que se encontra reflectida no artigo 26º e que preconiza a
igualdade de todos perante a lei, sem distinção de nenhuma natureza; o princípio da separação de
poderes preconizado no Titulo III, do capítulo I a VI: o Princípio da proporcionalidade que se
pode aferir no título III, relativo aos direitos e deveres fundamentais dos cidadãos; o princípio do
Estado republicano que aparece enunciado várias vezes no texto constitucional, desde o titulo I
que preconiza os princípios gerais ao titulo III que estatui sobre os Órgãos do Estado onde a
maioria dos artigos inicia com a expressão “República” deixando sem margens de dúvidas de
que Moçambique é um Estado Republicano desde a primeira Constituição; O princípio da
laicidade do Estado elencado no artigo 19º que imbui que a República Popular de Moçambique
é um Estado Laico, nela existindo a separação absoluta entre o Estado e as instituições religiosas.
Por outro lado, o Estado através do artigo 23º da Constituição aceita observa e pratica os
princípios da carta da DUDH da ONU e da CADHP da OUA. Sendo em atenção e observância a
esses instrumentos que os Títulos I e II incluíam, de forma dispersa, limitada e pouco
compreensiva um conjunto de direitos e deveres fundamentais que estavam incorporados nos
seguintes artigos:

 Direitos cívicos e políticos, contemplavam os artigos 17º, 26º 27º e 29º 33º, 35º
preconizava a igualdade de direitos e deveres de homens e mulheres em todos os
domínios e a igualdade de todos, sem distinção de qualquer natureza, a inviolabilidade de
domicílio e de correspondência e a liberdade de prática ou não de uma religião, o direito
à liberdade de opinião, associação e reunião. o direito à defesa e de não ser preso e
submetido à julgamento sem o devido processo legal.
 Direitos económicos, estavam inseridos no artigo 12º e preconizavam o reconhecimento
e a garantia pelo Estado, à propriedade pessoal:
 Direitos Sociais e culturais, estavam enquadrados nos artigos 15º, 16º e 32º e
preconizavam a promoção da Educação, cultura e personalidades nacionais, o benefício
do povo aos cuidados de saúde. o direito a assistência social em caso de incapacidade e
velhice. Embora o principio de dignidade humana considerada a base de todos outros
direitos e dos direitos humanos em particular, não tenham sido incluído na Constituição
da República de 1975, não se pode em nosso entender se generalizar que os direitos
humanos não foram introduzidos, nesta Carta Magna. É, no entanto, de reconhecer que
estes preceitos sobre direitos humanos eram neste texto constitucional, pouco
compreensivos e muito limitados o que de certa forma contribuiu para a sua má
interpretação que propiciou a criação ilegal de normas contra a dignidade humana, como
foi o caso da previsão normativa ordinária da pena de morte e de chicotada em 1979 e
1980 respetivamente. embora a pena de morte tenha sido instituída durante a vigência
desta Constituição, ela não era sistematicamente aplicada. Esta não aplicação a nosso ver
deve ser o reflexo da aceitação dos preceitos estatuídos nos documentos internacionais e
assumidos pelo Estado moçambicano, sobre os direitos humanos.

8.5. Análise da Constituição da República de Moçambique de 1990

A constituição da República de Moçambique de 1990, ampliou e desenvolveu os preceitos sobre


direitos humanos introduzidos na Constituição de 1975. Esta ampliação foi em nosso entender o
resultado do amadurecimento das instituições jurídicas ora criadas e da participação da sociedade
civil no anteprojecto constitucional, abrindo assim caminho para a democracia e concretização
da liberdade de expressão e de opinião.

Com o envolvimento de todas as forças vivas da sociedade moçambicana no enriquecimento do


texto legal, o resultado foi satisfatório e surpreendente visto que a Constituição da República de
1990, não só clarificou melhor os artigos constantes do primeiro texto constitucional, através da
separação dos direitos, deveres e liberdades fundamentais em capítulos que permitiam melhor
enquadramento e interpretação, como também trouxe mudanças bastante significativas em
matéria de direitos fundamentais. Os direitos fundamentais que no texto legal anterior estavam
dispersos ou mesmo omissos, foram separados de acordo com a sua interpretação, podendo
assim se distinguir os direitos cívicos, políticos, económicos, sociais e culturais. Para além desta
diferenciação dos direitos fundamentais foram acrescentados outros, que consubstanciam a
dignidade humana.

A dignidade humana é o “critério da fundamentação do direito, em geral e dos direitos


fundamentais em particular”. Desta forma ao incorporar-se o artigo 70º na CRM, que estatui
sobre o direito á vida, à integridade física, à proibição da tortura, tratamentos desumanos ou
degradantes, abolição da pena de morte; o direito á honra, reputação, imagem e privacidade
enquadrado no artigo 71º prestigiou-se o individuo em Moçambique elevando-o ao topo da sua
consideração como ser humano que deve ser respeitado. Assim, os direitos humanos
fundamentais que na I República eram pouco claros ou mesmo omissos, a partir da Constituição
da República de 1990, passaram a ser assumidos e considerados como um valor supremo que
incorpora todos os outros direitos de natureza individual, política, social e garantidas
formalmente no espirito da letra, à luz dos documentos internacionais e regionais sobre direitos
humanos.

Entendemos, por isso, que a incorporação do direito á vida e do direito á integridade física
proibindo formalmente a tortura e os tratamentos cruéis e desumanos ou degradantes que os
indivíduos acusados de traição à pátria eram sujeitos, assim como, a abolição da pena de morte
prevista no paragrafo 2 do artigo 71º e que foi introduzida no quadro legal das penas de 1979,
representou em nossa análise, o corolário da valorização da dignidade humana em Moçambique,
tendo em consideração que durante a vigência da pena de chicotada e de morte, na I República,
a ética, a moral, ou, seja os princípios da dignidade humana não faziam parte do dicionário
jurídico sobre direitos humanos para o Estado, visto que as pessoas acusadas de cometer algum
crime eram chicoteadas, humilhados ou mesmo executadas, algumas vezes em público, durante
os comícios populares obrigatórios e muitas das vezes sem ter o devido processo legal.

A ordem jurídica moçambicana ao preconizar na lei mãe da nação o direito à vida e ao


estabelecer a proibição da tortura os tratamentos cruéis e desumanos ou degradantes veio dar
garantias para o futuro da irrevogabilidade da decisão do juiz, de abolir a pena de chicotada
introduzida no quadro legal das penas de 1980 e da pena de morte introduzida em 1979.

Vale ressaltar que o Estado Moçambicano não era nessa época um caso isolado de aplicação de
penas degradantes. Estados como Angola, Portugal, Bélgica, Alemanha, Costa Rica, Cambodja,
entre outros, aboliram a pena de morte com o decorrer do tempo. Estando ainda outros, como
China, Estados Unidos da América, Japão, Ruanda, Marrocos, Síria, entre outros, apesar de ser
signatários da Declaração Universal dos Direitos do Homem, a manter a pena de morte, violando
desta forma um dos direitos senão o primeiro direito fundamental do homem.

Os direitos de cidadania previstos no artigo 73º, que garantem aos moçambicanos à participação
na vida política e na consolidação da democracia, através do voto, constituem uma patente que
eleva o individuo ao faze-lo membro activo da colectividade. No contexto do artigo 73º da
Constituição da República de Moçambique, em análise torna-se cidadão o moçambicano com a
capacidade de votar e ser eleito (a partir dos 18 anos), portanto de exercer os direitos políticos.
Significa dizer que o sentido de cidadão não se restringe apenas aos moçambicanos cultos,
educados, com capacidade de critica e intervenção activa na vida politica, social e económica do
país, mas a todos, desde que tenham 18 ou mais anos e participem dos sufrágios universais
mesmo sem entender dos seus direitos e deveres consequentes dessa participação no voto
democrático.

Os direitos à liberdade, que também fazem parte integrante do direito à cidadania, que no
anterior texto constitucional estavam previstos num único artigo e limitados a penas à liberdade
de opinião, associação e reunião, foram alargadas e incorporadas novas matérias. É o caso do
artigo 74º que previa o pluralismo de informação, criando assim condições para a elaboração e
aprovação da Lei de imprensa, em 1991 e que contribuiu bastante para a abertura de canais de
informação privados, com jornalistas independentes, assim como a formação de massa crítica e
abertura das mentes dos cidadãos através de acesso a fontes e meios de informação
diversificados e imparciais. O artigo 77º que previa o direito ao pluralismo político criou
condições para o reconhecimento do movimento armado Resistência Nacional Moçambicana,
(RENAMO) e sua transformação em partido político, assim como o surgimento de mais partidos
políticos, com a possibilidade de emitir suas opiniões sobre os actos do governo e da
administração, assim como apresentar suas propostas alternativas de governação e participar nas
eleições democráticas. O artigo 78º que previa o pluralismo religioso abriu espaço para a
tolerância religiosa e o surgimento de novas religiões e ceitas, contribuindo assim para o
desenvolvimento da moral e da ética em Moçambique. Portanto os direitos cívicos, políticos,
económicos, sociais e culturais foram, duma forma geral alargados abrindo assim espaço para a
promoção da cidadania em Moçambique.

2.3. Análise da Constituição da República de Moçambique de 2004, revista em 2018

A Constituição da República de 2004, revista em 2018, consolidou os preceitos sobre direitos


humanos, ao deixar patente no paragrafo do preâmbulo do texto constitucional, que “reafirma,
desenvolve e aprofunda os princípios fundamentais do Estado moçambicano, consagra o carácter
soberano do Estado de Direito Democrático, baseado no pluralismo de expressão, organização
partidária, o respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos”. A defesa e
a promoção dos direitos humanos e a igualdade dos cidadãos perante a lei, é um dos objectivos
fundamentais estatuídos na alínea e) do artigo 11º, que faz parte do titulo I que alude sobre os
princípios fundamentais. O nº 02 do artigo 17º estabelece que a República de Moçambique
aceita, observa e aplica os princípios da Carta da Organização das Nações Unidas e da Carta da
União Africana , assumindo os direitos humanos fundamentais neles e as garantias dos direitos e
liberdades fundamentais dos cidadãos conforme o artigo 43º são interpretados e integrados de
harmonia com a DUDH e Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos assumindo os
direitos humanos fundamentais neles consagrado, numa alusão clara à continuidade da
formalização e desenvolvimento dos direitos humanos nos instrumentos jurídicos internos. A
formalização e desenvolvimento dos direitos humanos pelo Estado moçambicano vai além da sua
Carta Magna, ao ractificar através da Resolução nº 23/2013, de 03 de Maio, o Protocolo
Facultativo à Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes. Por força do artigo 17 desse Protocolo, que estabelece a criação de um ou mais
mecanismos preventivos nacionais independentes para a prevenção da tortura a nível interno, e
de exercer a função de monitoramento regular e independente, sobre aplicação dos direitos
humanos fundamentais, principalmente nos locais onde se encontrem pessoas privadas de
liberdade o Estado atribuiu a Comissão Nacional de Direitos Humanos criada através da Lei no
33/09 de 22 de Dezembro, a competência para exercer essa função.
O artigo 43º da CRM, estabelece que os direitos humanos são interpretados de acordo com a
Carta das Noções Unidas, sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Carta
Africana, sobre os Direitos Humanos e dos povos, dando se assim primazia formal sobre outros
tipos de direitos estatuídos na Constituição de Moçambique.

O Titulo III, que preconiza sobre os direitos, deveres e liberdades fundamentais, ampliou as
matérias sobre os direitos humanos fundamentais distribuindo-os em cinco capítulos, com um
total de 59 artigos, portanto um acréscimo de mais 19 artigos que o texto legal anterior que
continha somente 40 artigos. Isto é de acordo com o nosso entendimento uma demonstração
clara de que o Estado existe para servir ao homem e não o homem ao Estado circunscrevendo-se
assim num Estado de Direito e, portanto, que observa os direitos humanos.

Para a sua melhor compreensão, os direitos fundamentais foram separados de acordo com a sua
interpretação, clarificando -se assim os preceitos do texto constitucional.

Você também pode gostar