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Ciência Politica e Direito Constitucional I

Setembro 2023
Direito Constitucional

Conceito

O Direito Constitucional consiste no conjunto de princípios e de normas que


regulam a organização, o funcionamento e os limites do poder público do
Estado, assim como estabelecem os direitos das pessoas que pertencem à
respetiva comunidade política.
Direito Constitucional

O Direito Constitucional assenta numa tensão que reflete um equilíbrio entre:

O poder público estadual que monopoliza os meios públicos de coação e de


força física;

A comunidade de pessoas em nome das quais aquele poder é exercido,


pessoas essas que carecem de autonomia e de liberdade face ao poder
público estadual.
Direito Constitucional – Noções Gerais

• O direito constitucional na divisão dos ramos de direito insere-se no


direito público, como tronco da ordem jurídica estadual, enformando-os,
nos princípios fundamentais dos restantes ramos de direito, quer público,
quer privado.

• É formado pelo conjunto de normas que estabelecem os princípios


políticos e jurídicos da sociedade.

• Assume um carácter interdisciplinar ao consagrar princípios que


nenhuma norma infra constitucional pode contrariar (sob pena de
inconstitucionalidade) sobre vários ramos
Direito Constitucional
Ramos do Direito
Direito Constitucional
Direito Administrativo
Dto. Direito Fiscal (Tributário e Financeiro)
Público Direito Penal

Direito Processual

Direito das Obrigações

Direito Privado Direitos Reais


Comum Direito da Família
Dto. Direito das Sucessões
Privado Direito Comercial
Direito Privado Direito do Trabalho
Especial Direito do Consumo
Direito Constitucional – Noções Gerais

DEFINE:

• A estrutura (povo, território, e poder politico)


• Fins (segurança, justiça e bem estar social)
• Funções do estado (politica, legislativa, judicial e administrativa)
• Organização (económica, social e politica)
• Titularidade (órgãos)
• Exercício (processo de elaboração e execução das leis)
• Controlo de poder politico (fiscalização da constitucionalidade e tribunais)
Direito Constitucional – Noções Gerais

O direito Constitucional enquanto direito público:

É tendencialmente caracterizado por adotar formas de ação


unilateralmente fixadas (Direito Coativo)
– Os poderes públicos têm e só podem agir na competência constitucional, ou
legalmente fixada.
– A atuação dos poderes públicos subordina-se princípios constitucionais
irrevogáveis.
– Controlo jurisdicional especifico para atos das entidades públicas
• inconstitucionalidade no tribunal constitucional;
• controlo da legalidade e
• representatividade civil nos tribunais administrativos.
Direito Constitucional

O Direito Constitucional assenta numa tensão que reflete um


equilíbrio entre:

• O poder público estadual que monopoliza os meios públicos de coação e de força


física;

• A comunidade de pessoas em nome das quais aquele poder é exercido, pessoas


essas que carecem de autonomia e de liberdade face ao poder público estadual.
Direito Constitucional

O Direito Constitucional apresenta as


seguintes divisões:

Direito Constitucional Material;

Direito Constitucional Económico;

Direito constitucional Organizatório;

Direito Constitucional Garantistico


Direito Constitucional

São características do Direito Constitucional:


Supremacia;
Transversalidade;
Politicidade;
Estadualidade;
Legalismo;
Fragmentarismo;
Juventude;
Abertura.
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

A ideia de que aos seres humanos deve ser reconhecido um estatuto especial, um conjunto de direitos e de deveres
adequados à sua especial natureza.

Desde a Antiguidade Clássica que encontramos autores que refletiram sobre valores como a dignidade e a igualdade,
havendo na filosofia clássica importantes afloramentos das ideias de igualdade e dignidade. O Cristianismo e a
afirmação de que todos os seres humanos são filhos de Deus, de que cada ser humano é único e de que têm igual
dignidade marcou decisivamente a nossa cultura e o modo como nela se manifestam os direitos fundamentais

É com o Estado constitucional de final do século XVIII, em particular, com as Revolução Americana e Francesa, que se
dão as primeiras consagrações globais, universais e com valor constitucional dos direitos fundamentais.

Aí começa um movimento de positivação dos direitos fundamentais, que fora já iniciado na Inglaterra há alguns
séculos atrás, mas que agora se expande universalmente. Por todo o lado surgem “Declarações de Direitos”, dirigidas
ao próprio Estado, que as edita. São direitos que o Direito não cria, mas reconhece, declarando-os.
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

“A expressão Estado de Direito significa que o poder do Estado só pode


ser exercido com fundamento na Constituição, e em leis que formal e
materialmente sejam conformes com ela, e com o fim de garantir a
dignidade da pessoa humana, a liberdade, a justiça e a segurança.” -
Klaus Stern
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

Contém uma parte especificamente dedicada aos direitos fundamentais,


designada de “Direitos, Deveres, Liberdades e Garantias Fundamentais:

Parte I – Direitos e Deveres Fundamentais:


Titulo I – Princípios Gerais;
Titulo II – Direitos, Liberdades e Garantias (DLG);
Titulo III – Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais (DESC).
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

• A CRP dispõe de um catálogo de direitos fundamentais – artigo 24º-79º.


• Consagra uma cláusula aberta em matéria de direitos fundamentais – artigo 16º

Como funciona a cláusula aberta?


Direitos fora do catálogo
Direitos só materialmente constitucionais
Direitos de fonte legal
Direitos de fonte internacional
Direitos fundamentais dispersos
Previstos fora dos títulos II e III da Parte I da CRP
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

 Toda a matéria dos direitos fundamentais visa a prossecução de valores


ligados à dignidade humana dos indivíduos

•O artigo 18.º que versa sobre a interpretação dos direitos fundamentais


▪ Dando orientações específicas sobre como estes direitos devem ser interpretado
▪ Os direitos fundamentais encerram uma componente subjetiva e uma componente objetiva
“dupla função”
▪ A subjetividade está relacionada com o reconhecimento do poder de um indivíduo de exigir a
implementação do direito fundamental aos poderes públicos, tanto através de ações como por
omissões
▪ A Função objetiva. A essência desta função objetiva dos direitos fundamentais reside no dever ou
obrigação imposto ao Estado de assegurar o direito fundamental
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

Deveres
Dever cívico previsto no artigo 49º/2
Deveres fundamentais conexos ou associados a direitos
- Deveres dos pais relativamente aos filhos – art. 36º/5
- Dever de protecção da saúde – art. 64º/1
- Dever de protecção do ambiente – art. 66º/1
- Dever de protecção do património – art. 78º/1
Deveres autónomos
- Dever (implícito) de pagar impostos – art. 103º
- Dever de recenseamento eleitoral – art. 113º/2
Direitos, liberdades e garantias vs Direitos económicos, sociais e culturais vs
Direitos fundamentais de natureza análoga
Direitos, Liberdades e Garantias

• Têm uma estrutura essencialmente negativa, apresentando um acentuado cunho preceptivo.


• Articulados de forma privilegiada com os princípios da liberdade, da igualdade formal e do Estado de Direito;
• A protecção está associada ao carácter dos direitos subjectivos, sendo que o conteúdo jurídico destes direitos depende apenas de uma
concretização interpretativa da Constituição;
• Assente numa protecção que constitui obrigação permanente, irrecusável e incondicionada do Estado – são direitos fortes.
• Aplicabilidade directa; Vinculação de entidades públicas e privadas; Direito de Resistência; Responsabilidade do Estado; Restrição Limitada.

Direitos Económicos, Sociais e Culturais

• Características: juventude; instrumentalidade; debilidade; não-prioridade.


• Escorados em direitos a prestações positivas do Estado;
• Articulados de forma privilegiada com os princípios da solidariedade, da igualdade material e do Estado Social;
• A protecção está associada a um dever do legislador na respectiva promoção (estando o respectivo conteúdo dependente de uma concretização
política da CRP;
• A realização dos direitos económicos sociais e culturais depende não só do debate político como de factores materiais que o Estado em grande
medida não domina – direitos fracos, por estarem sob reserva do possível, por terem um conteúdo indeterminado e por dependerem de uma
realização necessariamente móvel e gradual.
• São deixados ao legislador democrático as opções sobre a afectação dos recursos, bem como o primado da respectiva concretização.
• A dimensão objectiva (princípios e deveres)têm precedência sobre a dimensão subjectiva (direitos subjectivos).
• Princípio da proporcionalidade (18.º, n.º 2) enquanto critério aferidos de legitimidade das opções do legislador em matéria de concretização dos
direitos económicos, sociais e culturais.
• Princípio do retrocesso social ou do não retrocesso (Acórdão n.º 39/84 do TC, vs Acórdão n.º 590/2004 do TC).

Direitos fundamentais de natureza análoga


Direitos, liberdades e garantias vs Direitos económicos, sociais e culturais vs
Direitos fundamentais de natureza análoga

Direitos, Liberdades e Garantias


Direitos Económicos, Sociais e Culturais

Direitos fundamentais de natureza análoga

• Artigo 17.º, n.º 1, in fine.


• Direitos fundamentais que, não estando previstos nos artigos 24.º a 57.º da CRP, por força de um critério jurídico
de qualificação, tenham um objecto e mereçam um tratamento análogo aos dos direitos, liberdades e garantias.
• 3 TESES: 1. Oliveira Ascensão: o artigo 17.º apenas serviria para direitos extraconstitucionais, não sendo aplicável
a direitos constitucionais; 2.Blanco de Morais: o artigo 17.º é aplicável exclusivamente a direitos constitucionais
(assumida pelo Tribunal Constitucional a partir de 1982); 3. Jorge Miranda, Sérvulo Correia, Vieira de Andrade:
essencialmente aplicável aos direitos previstos na CRP, mas sem excluir eventuais direitos extraconstitucionais
que se mostrem equivalentes aos direitos, liberdades e garantias, num fenómeno a que chamamos dupla
analogia (ver 16.º, n.º 1 da CRP): exemplos: direito de recusa de exames e tratamentos hospitalares; direito a
visitas de reclusos; direito dos estrangeiros ao reagrupamento familiar; proibição por dívidas; proibição de
sujeição de qualquer pessoa a uma experiência médica ou científica sem o seu livre consentimento.
• Artigos 20.º, n.º 1 e n.º 2; 21.º; 22.º; 23.º; 58.º, n.º 2, alínea b); 59.º, n.º 1, alíneas a) e d); 60.º, n.º 1; 61.º, n.º 1;
61.º, n.º 2, 62.º, n.º 1; 62.º, n.º2; 63.º, n.º 4; 78.º, n.º 1; 103.º, n.º 3; 113.º, n.º 2; 115.º, n.º 2; 239.º, n.º 4; 268.º,
n.º 1; 268.º, n.º 2; 268.º, n.º 4 e 5; 271.º, n.º 3; 276.º, n.º 7; 280.º, n.º 1, alínea b) e n.º 2, alínea d), todos da CRP.
Direitos, liberdades e garantias vs Direitos económicos, sociais e culturais vs
Direitos fundamentais de natureza análoga

Direitos, Liberdades e Garantias


Direitos Económicos, Sociais e Culturais

Direitos fundamentais de natureza análoga

• Ingredientes:
• Num primeiro momento, impõe-se a identificação de um direito (ou de uma posição ou dimensão de
m direito) que sirva o estatuto básico da pessoa na sua relação com o Estado (ou seja, tem de tratar-
se de um direito fundamental) e a ostentação, ao nível do objecto do direito, de um nível
significativo de fundamentalidade material (ou seja, tem de tratar-se de uma expressão qualificada
da “igual dignidade” de todas as pessoas, por intermediação de alguns dos elementos estruturantes
materiais ou, excepcionalmente, instrumentais do sistema);
• Num segundo momento, a analogia pressupõe a satisfação de uma medida de equivalência aos
direitos, liberdades e garantias, valendo então aí o critério da determinabilidade constitucional do
conteúdo, nos termos do qual será análogo aquele direito cujo conteúdo possa ser extraído
imediatamente por interpretação das normas constitucionais que o reconhecem.
• Regime: artigo 18.º a 23.º; 165.º, n.º 1, alínea b); 288.º, alínea d), todos da CRP.
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

Objeto de um longo processo de consolidação:

- Primeiro no campo das ideias, da filosofia;

- Depois, nas Constituição dos Estados;

- Mais recentemente, no plano internacional.


Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

Primeira geração:
Incluir-se-iam a liberdade física, as liberdades intelectuais e espirituais – de
pensamento, de consciência, de religião, de expressão, de criação artística.

Segunda geração:
Encontraríamos o direito à saúde, o direito à educação.

Terceira geração:
Abrangem o direito dos povos à autodeterminação, o direito ao desenvolvimento e
o direito ao ambiente
Direito Constitucional
Direitos Fundamentais

O regime orgânico dos direitos, liberdades e garantias:

Os direitos, liberdades e garantias: reserva relativa da Assembleia da República (artigo


165º, número 1, alínea b) da Constituição.

Excepção: alíneas a),b),c),e),h),i),j),l),m) e o) do artigo 164º.

Direitos, liberdades e garantias como limite material de revisão: art. 288.º, d) CRP
Direito Constitucional
Funções e Fins do Estado

• Os fins do estado são os objetivos que o estado visa atingir :


– Segurança

– Justiça

– Bem-estar e económico e social


Direito Constitucional
Funções e Fins do Estado

Os fins do estado são concretizados através do exercício das suas funções

• As funções do estado
– São as atividades desenvolvidas pelo órgãos de poder politico com vista à realização dos fins do estado.
– Essas funções têm um carácter de duradouro específico e diferenciado.

• As funções do estado dividem-se em:


– Função politica
– Função judicial
– Função administrativa
– Função legislativa
Direito Constitucional
Funções e Fins do Estado
Direito Constitucional
Direito Constitucional
Direito Constitucional
Garantia Constitucional
Direito Constitucional
Garantia Constitucional

A fiscalização preventiva da constitucionalidade

Efetua-se num momento intermédio em que o procedimento de produção do ato jurídico público
ainda não se completou
Assim, temos:
Fiscalização preventiva da constitucionalidade de atos legislativos em geral
Fiscalização preventiva da constitucionalidade das leis orgânicas
Fiscalização preventiva da constitucionalidade das convenções internacionais
Fiscalização preventiva da constitucionalidade dos decretos legislativos regionais
Fiscalização preventiva da constitucionalidade e legalidade dos referendos
Este pedido é feito pelo P.R. ou pelo Representante da República nas regiões autónomas
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Garantia Constitucional

A fiscalização Sucessiva - Abstrata da constitucionalidade

Este juízo de inconstitucionalidade exerce-se com total independência dos casos concretos
Corresponde em exclusivo a uma atividade do Tribunal Constitucional
Podem pedir a fiscalização abstrata:
O PR
O Presidente da Assembleia da República
O Primeiro Ministro
O Provedor de Justiça
O Procurador-Geral da República
Um décimo dos deputados à Assembleia da República
Direito Constitucional
Garantia Constitucional

A fiscalização concreta da constitucionalidade

É realizada no quotidiano da atividade dos tribunais

Partilham a competência
Os tribunais em geral
O Tribunal Constitucional em especial
Têm legitimidade
O Ministério Público
As partes com legitimidade processual
Direito Constitucional
Garantia Constitucional

A fiscalização da inconstitucionalidade por omissão

Verifica-se quando estamos perante a ausência de atos-jurídico públicos que a


Constituição imponha e sem os quais ela não pode ser cumprida

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