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As competências relacionadas com as exigências específicas para ingresso na

carreira de investigação criminal, categoria de inspetor, são, designadamente,


as seguintes:

a) Direito constitucional:

i) Princípios fundamentais;

ii) Direitos e deveres fundamentais;

iii) Princípios gerais;

iv) Direitos, liberdades e garantias pessoais.

b) Direito penal:

i) Princípios gerais;

ii) Pressupostos da punição;

iii) Formas de crime;

iv) Queixa e acusação particular;

v) Crimes contra as pessoas: crimes contra a vida, crimes contra a liberdade e


autodeterminação sexual, crimes contra a liberdade pessoal;

vi) Crimes contra a propriedade: furto, roubo;

vii) Crimes contra a paz e integridade pessoal: tortura;

viii) Crimes contra a vida em sociedade: falsificação de documentos, contrafação de moeda,


associação criminosa, organizações terroristas, tráfico de armas, tráfico e consumo de
estupefacientes e substâncias psicotrópicas;

ix) Crimes cometidos no exercício de funções públicas: corrupção, peculato, do abuso de


autoridade e da violação de segredo;

x) Crimes informáticos;

c) Direito processual penal:

i) Princípios gerais;

ii) Sujeitos do processo;

iii) Prova;

iv) Notícia do crime;

v) Medidas cautelares e de polícia;

vi) Detenção;

vii) lnquérito.

d) Segurança interna;

i) Lei de segurança interna;


ii) Sistema nacional de coordenação;

iii) Forças e serviços de segurança;

e) Organização da investigação criminal; 0 Orgânica e Estatuto do Pessoal da PJ;

g) Cooperação policial internacional:

i) lnterpol;

ii) Europol;

iii) Schengen.

h) Etica e deontologia:

i) Direitodisciplinar;

ii) Código Deontológico da PJ;

iii) Convenção Universal dos Direitos Humanos;

iv) Convenção Europeia dos Direitos Humanos;

v) Código de conduta das Nações Unidas para os responsáveis pela aplicação da lei.

a) Direito constitucional:
i) Princípios fundamentais;
Princípios fundamentais da Constituição da República Portuguesa
1) Princípio do Estado de Direito: O poder está limitado e fundamentado no
Direito em sentido amplo. É a sua fonte de organização e da sua atuação. Tem
um sistema de direitos fundamentais, escrito ou não. Direitos fundamentais
são direitos inalienáveis que decorrem da existência da dignidade humana que
se 19 impões ao Estado que não é livre de os tirar. O Estado não os cria, eles
nascem do Direito Natural. O Estado só os reconhece e os garantes. Este tem
de proteger esses direitos. Em Portugal, com o Estado social, a garantia de
direitos fundamentais não se baseia só da não interferência do Estado mas
também da intervenção com o sistema de saúde, etc. Art. 2° - Estado de
Direito democrático “A República Portuguesa é um Estado de direito
democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e
organização política democráticas, no respeito e na garantia de efetivação dos
direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de
poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa.”
Sub Princípios do Princípio do Estado de Direito
a) Princípio da dignidade da pessoa humana Art. 1° - República Portuguesa
“Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa
humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade
livre, justa e solidária.” As pessoas têm dignidade e esta não tem um preço. As
pessoas são um fim em si mesmas, não um meio para alcançar objetivos
políticos. O indivíduo tem autonomia própria e decide o que ele próprio quer
fazer. “Cada pessoa deve ser o artífice de si mesma” Art. 26° - Outros Direitos
Pessoais “. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao
desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania...” O
Estado, para além de proibir leis que objectifiquem as pessoas (vertente
negativa), tem também uma vertente positiva. Por exemplo, não deixa ninguém
viver sem dignidade, a abaixo do limiar do nível de sobrevivência. Visão
constitucional da pessoa humana - Pessoa concretamente situada, pessoa em
relação com os outros, pessoa que é um fim em si mesma.
Funções do princípio da dignidade da pessoa humana:

 Função legitimadora: só o direito baseado na pessoa humana é que é


direito, o resto é não direito.

 Função positivadora: os direitos manifestam e concretizam a dignidade da


pessoa humana (lei reconhece positivadamente os direitos fundamentais que
protegem a dignidade humana).

 Função integradora: a dignidade da pessoa humana pode justificar a


existência de outros direitos fundamentais que não estão na constituição.
Artigo 16° - Âmbito e sentido dos direitos fundamentais 1. Os direitos
fundamentais consagrados na Constituição não excluem quaisquer outros
constantes das leis e das regras aplicáveis de direito internacional.  Função
interpretativa: cada lei deve ser interpretada da melhor forma para garantir a
dignidade da pessoa humana.  Função prospectiva: os direitos fundamentais
devem permitir aos cidadãos o seu próprio desenvolvimento. b) Princípio da
juridicidade e da constitucionalidade Discute como é que se organiza o
sistema jurídico português. Para ser um sistema jurídico típico de um Estado
de direito tem de estar estruturado de determinada forma. A ordem jurídica
interna tem de ser um sistema jurídico, hierarquizado e desta hierarquia
deriva que as normas inferiores são inválidas quando vão contra normas
superiores. As normas não se podem contradizer. O sistema é hierarquizado e
organizado de acordo com a pirâmide de Hans Kelsen: constituição; tratados
internacionais; leis; Decretos-lei; etc. Nota: para Ana Rita Gil, a constituição e
o direito internacional estão no mesmo patamar e são comunicastes quando se
trata de direitos humanos. O diálogo é sempre na perspectiva do
enriquecimento. 21 “Regulamento que viola a lei é ilegal, lei que viola a
constituição é inconstitucional“. As normas tem de se respeitar umas as
outras. As de base respeitam as superiores. Efeitos de relações de
internormatividade. Os regulamentos têm de se basear numa lei. Só pode
haver regulamentos quando houver permissão da lei. Exemplo: a câmara
municipal só pode demolir uma casa se houver uma lei que o possibilita. Due
process:  Procedimento administrativo justo – Art. 268º (refugiado que pede
asilo)  Processo judicial equitativo – Art. 20° (direito a um advogado e a
responder a qualquer processo)  Garantias em processo penal – Art. 32°
(presunção de inocência - ind dubio pro reu)  Acesso ao direito – Art. 20° 
Princípio da responsabilidade do Estado – Art. 22° (se o estado condenar
alguém injustamente ele deve atribuir indemnizações).  c) Princípio da
separação de poderes: John Locke definiu:  Poder legislativo – capacidade de
emitir leis;  Poder executivo – faculdade de aplicação das leis;  Poder
federativo – gestão de relações internacionais do Estado;  Poder residual –
poder ilimitado do rei para situações anormais. Montesquieu definiu o sistema
que hoje usamos: o Poder legislativo, Poder executivo e o Poder judicial. “Le
Pouvoir Arrête le Pouvoir” Mas houve evoluções:  Deixa de haver
exclusividade parlamentar da função legislativa;  Novas formas de legislar (ex.
Negociações); 22  Partilha do poder com o executivo;  Partilha com as regiões
autónomas;  Crescente participação dos cidadãos;  Crescente delegação em
direito infraconstitucional. Modelo da CRP: Art 111 - Separação e
interdependência 1. Os órgãos de soberania devem observar a separação e a
interdependência estabelecidas na Constituição. 2. Nenhum órgão de
soberania, de região autónoma ou de poder local pode delegar os seus poderes
noutros órgãos, a não ser nos casos e nos termos expressamente previstos na
Constituição e na lei. d) Princípio da segurança jurídica e da proteção da
confiança É a certeza das leis e do Direito. O Direito deve ser aplicado e
interpretado de forma uniforme e segura.  Clareza das normas  Publicidade
das normas – Art. 119º  Proibição de normas retroativas:  Lei penal e
incriminadora - Art. 29°  Lei processual penal em matéria de competência –
Art. 32.°/9  Matéria fiscal – Art. 103°  Restrições a direitos, liberdades e
garantias – Art. 18°/3 Nota: O Bacelar não acredita que a constituição não
proíbe normas retroativas, apenas nos casos em cima. Se a constituição prevê
estas proibições, numa interpretação à contrário, nas outras situações não há
proibição. Ana Rita Gil acredita que há sempre uma proibição de leis
retroativas. Proíbe se a retroatividade com exceções para situações de
interesse público. A lei nova não deve violar expectativas jurídicas. 23
Retroatividade inautêntica – quando afeta situações constituídas no passado.
Caso prático: O governo diz que quem plantar laranjas vai ter beneficiados
fiscais. Um agricultor faz um grande investimento num pomar de laranjas.
Passado um ano o Estado diz que as laranjas são demais e que acabaram os
benefícios fiscais para as laranjas. Este é um exemplo de retrospetividade. O
agricultor planificou a sua vida a contar com os benefícios e agora ficou sem
chão. Como não há a necessidade de o agricultor devolver o dinheiro não há
retroatividade mas sim retrospetividade. 1. Há uma alteração que só produz
efeitos para o futuro 2. Situação duradoura 3. Fundamento das expectativas
4. O novo ato frustrou expectativas 5. O que justifica a alteração? Será que o
agricultor tinha uma expectativa jurídica merecedora de proteção? Tinha,
porque havia uma lei. e) Princípio de igualdade Deve haver uma igualdade na
criação do direito e na aplicação do direito. Para as mesmas características
deve haver o mesmo tratamento. Há um princípio da igualdade material - dar
duas caixas ao mais pequeno enquanto só damos uma ao mais alto. Cada um
tem a mesma oportunidade para alcançar os seus objetivos. É a dimensão
igualizadora e diferenciadora. 24 Método de resolução de casos: Os homens
têm de trabalhar 8 horas mas a mãe que está a amamentar tem o direito a
trabalhar só 5. 1. As duas situações são equiparáveis? 2. São tratados de
forma diferente? 3. Há motivos para distinguir? É a diferença entre distinção e
discriminação. A distinção não viola o princípio da igualdade. No artigo 13°/2
da CRP há razões de discriminação que podem diferenciar a distinção da
discriminação. Princípio da proibição da discriminação: Artigo 13.º - Princípio
da igualdade 1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais
perante a lei. 2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado,
privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de
ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções
políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou
orientação sexual. f) Princípio da proporcionalidade As multas e penas têm de
ser proporcionais ao crime cometido. Este princípio vincula toda a atuação
estadual:  Na administração: atuação restritiva – artigo 266 e 272 
Legislador: restrição a direitos, liberdades e garantias – Artigo 18º No título II e
no capítulo I, a constituição refere os nossos direitos, liberdades e garantias.
Artigo 24.º - Direito à vida 1. A vida humana é inviolável. 2. Em caso algum
haverá pena de morte. 25 Por vezes há DLG que chocam entre si. Por exemplo,
o direito ao bom nome e o direito à liberdade de expressão. Ou eu ficar em
casa se estiver infetado com o vírus para salvaguardar um bem público que é
a saúde pública. Métodos de resolução de casos: A ordem pública pesa mais
do que a liberdade do terrorista na balança. Logo, vou puni-lo. Na mesma
balança, a liberdade de um mendigo que furta um pão é mais pesada do que a
ordem pública.  Relação meios-fins: o meio é prender e o fim é salvaguardar a
ordem pública;  Subtestes:  Adequação - (será que o fim é adequado ao
meio?) (preciso de expropriar para construir o hospital?)  Necessidade - (para
que?) (só tenho aquela hipótese? Tinha mesmo de expropriar? Não havia outra
medida alternativa?)  Racionalidade - (Será que o que eu ganho para o
interesse público é superior à perda de liberdade privada?) 2) Princípio do
Estado Republicano

 Existência de um Presidente da República: Artigo 120.º - Definição - O


Presidente da República representa a República Portuguesa, garante a
independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das
instituições democráticas e é, por inerência, Comandante Supremo das Forças
Armadas.” Este tem algumas funções como a promulgação de leis.  Há
símbolos do Estado  Princípio da Renovação dos cargos. Ninguém pode
exercer a título vitalício qualquer título político a nível nacional ou local. 26
Artigo 118.º Princípio da renovação 1. Ninguém pode exercer a título vitalício
qualquer cargo político de âmbito nacional, regional ou local. Há a exceção do
artigo 142º alínea f), uma vez que os antigos presidentes da República fazem
parte do concelho de Estado. 3) Princípio do Estado laico Possíveis relações
entre o direito e a religião:  Modelo de fusão – estado islâmico. O Estado é a
religião  Modelo de interferência – duas estruturas separadas que interferem
uma na outra.  Modelo da separação ou neutralidade – o Estado e a religião
estão separados e o Estado é neutro.  Laicismo – há um antagonismo e não
neutralidade. O Estado combate a religião. Por exemplo, o pós revolução
francesa. O Estado português é de neutralidade. Ele tenta não interferir na
religião e tem uma certa abertura a todas as religiões. Contudo, pode haver
limites. Religiões que sejam um atentado à ordem pública não são permitidas.
Religiões/seitas que advoguem o suicídio coletivo não convivem com o Estado
português. Nós temos um modelo de separação cooperativa. Existe também a
lei da liberdade religiosa. Existe a igualdade entre as religiões. Artigos: Artigo
41.º Liberdade de consciência, de religião e de culto 1. A liberdade de
consciência, de religião e de culto é inviolável. 2. Ninguém pode ser
perseguido, privado de direitos ou isento de obrigações ou deveres cívicos por
causa das suas convicções ou prática religiosa. 3. Ninguém pode ser
perguntado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática
religiosa, salvo para recolha de dados estatísticos não individualmente
identificáveis, nem ser prejudicado por se recusar a responder. 27 4. As igrejas
e outras comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua
organização e no exercício das suas funções e do culto. 5. É garantida a
liberdade de ensino de qualquer religião praticado no âmbito da respetiva
confissão, bem como a utilização de meios de comunicação social próprios
para o prosseguimento das suas atividades. 6. É garantido o direito à objeção
de consciência, nos termos da lei. Artigo 43.º Liberdade de aprender e ensinar
1. É garantida a liberdade de aprender e ensinar. 2. O Estado não pode
programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas,
estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas. 3. O ensino público não será
confessional. No artigo 288 há matérias que não podem ser alteradas numa
revisão constitucional é uma delas é a liberdade religiosa. 4) Princípio do
Estado Democrático Artigo 1.º República Portuguesa Portugal é uma
República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade
popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Artigo 2.º Estado de direito democrático A República Portuguesa é um Estado
de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de
expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de
efetivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e
interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica,
social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa. 28 Artigo 3.º
Soberania e legalidade 1. A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a
exerce segundo as formas previstas na Constituição. 2. O Estado subordina-se
à Constituição e funda-se na legalidade democrática. 3. A validade das leis e
dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, do poder local e de
quaisquer outras entidades públicas depende da sua conformidade com a
Constituição. A ideia da democracia representativa é que não é o povo a
decidir diretamente mas é o povo a votar nos seus representantes que vai
decidir em seu nome. Modelos de representação:  Representação
proporcional: Diversidade da vontade eleitoral com a diversidade da
composição dos órgãos  Representação maioritária: Apenas assente no
candidato que teve mais votos Modelo Português  Representação
proporcional- artigo 113°/5 da CRP  Método de Hondt  Número de
deputados a eleger por cada ciclo – proporcional de eleitores – Art 152°/1 da
CRP Eleições – Direito Eleitoral: Artigo 113º da CRP  Presidente da República
 Assembleia da República  Etc. A eleição tem 8 fases:  Recenseamento
eleitoral (registo que é feito das pessoas que podem votar); 29  Marcação das
eleições;  Apresentação de candidaturas;  Campanha eleitoral;  Votação
(ato central);  Apuramento dos resultados (contagem dos votos);  Denúncia
de irregularidades (comum nos países africanos);  Publicação dos resultados
definitivos e validados pelos órgãos de controlo. Sufrágio: artigo 10 da CRP 
Universal  Igual  Direto  Secreto  Periódico  Pessoal O voto é um dever
cívico dos portugueses. Artigo 49°/2 in fine: Referendo Objecto - Art 115°/3 da
CRP Exclusões - Art 115°/4 da CRP O povo pode pedir um referendo
recolhendo 60000 cidadãos eleitores. Não pode haver dois referendos iguais na
mesma legislatura. Pode ainda ser proposta pela A.R. ou pelo governo. Depois
de formulada uma proposta, submete-se a fiscalização preventiva obrigatória
para averiguar a sua constitucionalidade e legalidade. Este pedido é feito pelo
P.R. ao TC que deve decidir num prazo de 25 dias. Se o TC verificar a
constitucionalidade e a legalidade, o PR decide discricionariamente sobre a
realização do referendo. Em caso afirmativo, deve ser no prazo de 20 dias. A
instituição da regionalização administrativa está dependente de um referendo
que ganhe o sim. 30 O referendo nacional tem força vinculativa (isto só
quando o numero de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no
recenseamento). Referendo local  Só pode ter como objeto questões de
interesse local que se delimitem à competência dos órgãos autárquicos;  É
sempre de realização facultativa. Nenhuma decisão administrativa está dele
dependente;  A iniciativa do procedimento é dos órgãos autárquicos ou dos
cidadãos eleitores. A decisão é sempre da assembleia municipal ou da
assembleia de freguesia. Este processo passa também pela fiscalização
obrigatória da constitucionalidade e legalidade por parte do TC;  Também
aqui os efeitos são vinculativos, nunca consultivos. Democracia participativa e
partidos políticos  Liberdade de opinião – Os cidadãos podem exprimir
livremente os seus pontos de vista, sem censura ou discriminação – 37º 
Liberdade de imprensa – Os cidadãos podem se exprimir livremente utilizando
os meios de comunicação social – 38º e 39º  Liberdade de reunião – A
liberdade das pessoas se juntarem para partilharem opiniões ou levarem a
cabo projetos - 45º/1  Liberdade de manifestação – 45º/2  Liberdade de
associação – As pessoas podem criar pessoas jurídicas coletivas e associativas
– 46º  Liberdade de criação de Partidos Políticos – As pessoas podem criar
partidos políticos e podem desenvolver a sua atividade de militância – 51º 
Direito de petição – as pessoas podem fazer chegar as autoridades públicas:
pedidos, representações e reclamações – 52º Oposição política: Art. 114º da
CRP  Direito de informação;  Direito de consulta prévia; 31  Direito de
participação;  Direito de participação legislativa;  Direito de depor. Partidos
políticos São associações de organização de cidadãos com carácter
permanente e que tem como objectivo participar democraticamente na vida
política do país.  Liberdade (de criar partidos) – 51º/1  Limite – ideologia
fascista ou racista – 46º  Criação – 7500 cidadãos – registo no TC  Princípio
democrático de organização interna – 51º/5  Fiscalização externa 
Financiamento – misto público / privado 5) Princípio do Estado unitário
regional e descentralizado O legislador constituinte português preferiu o
modelo de Estado unitário regional e descentralizado. Artigo 6.º - Estado
unitário 1. O Estado é unitário e respeita na sua organização e funcionamento
o regime autonómico insular e os princípios da subsidiariedade, da autonomia
das autarquias locais e da descentralização democrática da administração
pública. 2. Os arquipélagos dos Açores e da Madeira constituem regiões
autónomas dotadas de estatutos político-administrativos e de órgãos de
governo próprio. Só há a cidadania portuguesa, o poder publico está
unitariamente definido e nasceu de um só poder constituinte, e o território
está apenas submetido ao poder do Estado. Temos, sim, uma descentralização
político-legislativa e na descentralização administrativa. 32 A descentralização
político-legislativa é a realidade dos arquipélagos. São regiões autónomas
dotadas de poderes político-legislativos e administrativos bastante amplos. A
descentralização administrativa traduz-se na criação de entidades publicas
menores que exercem poderes administrativos – Autarquias locais.
Princípios Fundamentais
O princípio do Estado de Direito
A afirmação multidimensional do princípio do Estado de Direito.
Portugal como Estado de Direito.
O princípio da dignidade da pessoa humana
A pessoa é colocada como um fim supremo do Estado e do Direito, consagrado
sobretudo nos direitos fundamentais. A dignidade humana como o critério de
fundamentação do Direito parte das características da liberdade e da
racionalidade da pessoa, antropologicamente sustentada numa inserção
social, garantindo o seu desenvolvimento pessoal.
Este princípio é suportado, sobretudo, pela conceção jusnaturalista do Direito,
a qual se assume como decorrendo da objetividade da natureza humana não
voluntariamente criada e, por isso, imutável em face de circunstancialismos de
tempo e de lugar. Assim, caso a lei positiva desrespeite o Direito Natural, o
cumprimento dessa lei deixa de ser obrigatório, pois é considerada injusta.
Assim, a pessoa assume-se como: pessoa concreta: situada na História e não
fora dela, vivendo no seu tempo e sentindo um conjunto de necessidade de
ordenação social;
pessoa solidária: a pessoa que está em relação com os outros, com um desejo
constante promoção social, em que o Direito está atento às desigualdades
reais (e não só da lei) através da consagração de direitos de natureza social;
pessoa-fim: (e não pessoa instrumento) a pessoa que se assume como a
finalidade última do Direito e do Poder, que não pode ser secundarizada em
nome de bens coletivos que espezinhem a sua dignidade elementar;
pessoa-essência: a pessoa como ser humano, que postula sempre certos
direitos, não se moldando ao sabor de conjunturas ou de evoluções de vida,
mais ou menos ocasionais.
Tendo como âncora a dignidade da pessoa humana, muito embora nela não
podendo esgotar-se, o conceito de Constituição pode ser encarado de acordo
com as seguintes dimensões: conceito supra-positivo: orientações metafísicas,
de raiz axiológica;
conceito normativo-legalista: expressa uma dada conceção de poder e de
organização da sociedade, segundo opções políticas inteiramente livres;
conceito de raiz sociológica: reflete a consciência social dominante. Como
função do princípio da dignidade da pessoa humana e demais princípios
constitucionais em geral: função legitimadora: coloca o Direito Positivo sob a
alçada do Direito SupraPositivo, impedindo a sua modificação; é um conteúdo
que se afirma segundo uma conceção personalista do Direito, servindo a
pessoa humana, concreta e socialmente situada; função positivadora: a
dignidade da pessoa humana é invocável como fonte direta de alguns direitos
fundamentais, cuja violação traz a invalidade ou a ilegitimidade – consoante
haja ou não o reconhecimento positivo de tal critério – das normas infratoras;
função integradora: o princípio da dignidade da pessoa humana é um conceito
vasto, pelo que permite a defesa de várias condutas e ações que estejam com
ele de acordo mas não expressamente consagrados na lei; função
interpretativa: determinação das respetivas regras, servindo a dignidade da
pessoa de critério interpretativo auxiliar; função prospetiva: permite a sua
progressiva concretização, forçando o desenvolvimento do Ordenamento
Jurídico no sentido da sua maximização, segundo as circunstâncias, sociais e
económicas, de acordo com uma conceção temporalmente dependente. A
observação do Direito Constitucional Português não permite qualquer dúvida
acerca da posição eminente que a dignidade da pessoa humana ocupa: ➢ nos
preceitos inicias: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade
da pessoa humana…” Direito Constitucional 94 ➢ nos preceitos sobre direitos
fundamentais: “A lei estabelecerá garantias efetivas contra a obtenção e
utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana, de informações
relativas às pessoas e famílias” 194. O princípio da juridicidade e da
constitucionalidade O princípio da juridicidade comporta três características
essencias: ➢ ser um sistema jurídico, organizado e não caótico, dotado de
unidade intrínseca; ➢ ser um sistema jurídico escalonado ou hierarquizado,
encimado pelo texto constitucional; ➢ ser um sistema jurídico apetrechado
com mecanismos de verificação das relações de desconformidade com
parâmetros superiores, podendo eliminá-los. Este princípio explicita o sentido
sistemático da Ordem Jurídica como conjunto de normas e princípios, da qual
o Ordenamento Constitucional é soberana. As diversas parcelas da Ordem
Jurídica apresentam, por natureza, imparidade, pelo que carecem de uma
ordenação hierárquica tendo em conta: a importância das matérias reguladas;
a autoridade dos órgãos que as produzem; o âmbito subjetivo da aplicação
dessas fontes. É neste contexto que vale o princípio da constitucionalidade
como especificação do princípio da juridicidade, parcialmente atendendo
àquelas funções. 195. O princípio da separação de poderes Segundo
Montesquieu, muito embora a teoria já houvesse sido trabalhado por outros
pensadores, distinguem-se três poderes: poder legislativo – parlamento; poder
executivo – rei e governo; poder judicial – tribunais. Estes direitos comunicam
e influenciam-se mutuamente, de acordo com as seguintes dimensões: ➢
faculdade de estatuir, de fazer e dispor ativamente sobre certas matérias; ➢
faculdade de impedir, de negar a realização ou a consecução de certo ato. Esta
conceção correspondeu a uma necessidade sentida, e mais tarde praticada, de
conter o poder régio. A separação de poderes, quer como teoria política quer
como jurídica, desenvolveu-se em duas importantes direções, com o escopo
comum da defesa do estatuto dos cidadãos frente ao poder político. O primado
da lei, pela qual só se admitiria a intervenção do Estado nos direitos dos
cidadãos através da lei prévia, geral e abstrata; A defesa desses direitos em
face de atos antijurídicos a cargo de tribunais independentes, os quais
poderiam depreciá-los. Com o nascimento do Estado Social, no século XX, a
separação entre a função legislativa e administrativa foi esbatendo-se, pela
necessidade de uma mais rápida e maior intervenção do estado na vida em
sociedade. Direito Constitucional 95 Assim, a função legislativa deixou de ser
monopólio parlamentar, passando a ser partilhada com o órgão executivo, pois
a lei passou a exigir maior tecnicidade, incompatível com a produção
parlamentar, e elevada celeridade. Considera-se estar em curso uma
novíssima formatação da doutrina de separação de poderes, devido a:
Atribuição de poderes no âmbito da função legislativa às regiões autónomas;
Possibilidade de Referendo, interferindo diretamente na produção normativa
(entre o Estado-poder e o Estado-comunidade); Concertação legislativa (acordo
com sindicatos, associações de empresários, etc); As grandes contraposições
políticas estão relacionadas com o sistema partidário, entre maioria e
oposição. Apesar de tudo isto, os órgãos parlamentares mantiveram sempre o
primado da competência legislativa. A separação de poderes no século XX, por
tudo isto, deixou de ser uma separação matematicamente firmada num
esquema orgânico-funcional, mas permitiu a dissociação entre a perspetiva
material ou objetiva – na qual se avaliam as características de tipo de
intervenção jurídica que se quer – e a perspetiva formal ou organizatória (ou
ainda subjetiva) – em que se atende ao órgão do Estado que fica incumbido de
a exercer, segregando os correspondentes atos. 196. O princípio da segurança
jurídica e da proteção de confiança Princípio da segurança jurídica: exige a
publicidade nos atos de poder público, assim como a clareza e a
determinabilidade das fontes de Direito; Princípio da proteção da confiança:
requerendo que o quadro normativo vigente não mude de modo a frustrar as
expectativas geradas nos cidadãos acerca da sua continuidade, com a
proibição de uma intolerável retroatividade das leis, assim como a necessidade
da sua alteração em conformidade com as expectativas que sejam
constitucionalmente tuteladas; Toda a lei, para vigorar como tal, tem que ser
publicada no jornal oficial do estado para se considerar estar em vigência, já
depois de decorrido o tempo de vacatio legis, a fim de permitir tomar um
conhecimento prévio da normação produzida antes de esta ser eficaz. Em
contraponto, ninguém pode alegar, no Ordenamento Jurídico Português, a
ignorância da lei para não a cumprir, embora com algumas exceções. 197. O
princípio da igualdade Assume duas dimensões distintas mas
complementares: ❖ Uma dimensão igualizadora: tratar igualmente o que é
igual; ❖ Uma dimensão diferenciadora: tratar diferenciadamente o que é
desigual; A CRP, neste aspeto refere-se à imposição geral da igualdade e à
proibição do tratamento arbitrário e discriminatório, negativo e positivo.
Apresenta ainda uma lista de critérios segundo os quais não considera
legítimo fundar um tratamento diferente: ascendência, sexo, raça, língua,
religião, convicções políticas/ideológicas, orientação social… Direito
Constitucional 96 198. O princípio da proporcionalidade Assenta numa
limitação material interna à atuação jurídico-pública arbitrária. Relaciona-se,
portanto com a limitação do exercício do poder público, de modo a assegurar a
coerência global do Ordenamento Jurídico. Este principio começou por ser
apena suma orientação para as atuações agressivas do poder público na
esfera dos cidadãos, mas acabou por se expandir a outros setores. A ideia de
proporcionalidade desdobra-se em três vertentes: ❖ Adequação ❖ Necessidade
❖ Racionalidade 43. O Princípio do Estado Republicano 199. A autonomização
tardia do princípio republicano Esta forma de governo é muito mais tardia,
tendo surgido com o Constitucionalismo. No entanto, o princípio republicano
foi dos que teve mais dificuldade em obter a aceitação dos textos
constitucionais. A república caracteriza-se pela aceitação de que a Chefia de
Estado deve ser atribuída a um órgão unipessoal ou colegial, que seja
democraticamente legitimado. Caracteriza-se, ainda pela separação formal
entre o Estado e o fenómeno religioso. Esta pode consistir na separação
cooperativa (diferenciada ou igualitária), no princípio da neutralidade religiosa,
ou ainda no princípio do pluralismo religioso. O princípio republicano
relaciona-se, ainda, com o princípio democrático, que subjaz na Chefia do
estado e na relação entre o poder político e a religião, permitindo o
aperfeiçoamento da democracia. 200. Portugal como Estado Republicano 201.
A temporariedade dos cargos públicos em geral No caso do direito
Constitucional português, o princípio republicano concretiza-se: • No
Presidente da República ser eleito democraticamente para um cargo de 5 anos
por sistema maioritário de duas voltas; • Nos princípios fundamentais, nos
quais Portugal é definido como uma República inúmeras vezes; • Na
organização do poder político, no qual os cargos são temporários; • Na
garantia da Constituição em que as leis têm de respeitar a forma Republicana
de governo; Quanto à temporariedade dos cargos é importante referir que o PR
não pode efetuar um terceiro mandato consecutivo. Para isso, terá que esperar
cinco anos após o término do segundo mandato. Também os juízes do
Tribunal Constitucional não podem renovar o seu mandato, que é
exclusivamente de nove anos. Direito Constitucional 97 Existe uma exceção a
esta regra: O Conselho de Estado integra cidadãos a título vitalício. Neste
caso, o princípio republicano é violado. 44. O princípio do Estado Laico 202.
Direito, Estado e Religião: modelos e sistemas constitucionais de relação 203.
A laicidade cooperativa da República Portuguesa Quanto ao fenómeno
religioso, a República Portuguesa adota o modelo de separação cooperativa.
Para além disto, afirma nos princípios fundamentais a liberdade religiosa
como inviolável, tanto a título individual como pessoal. Quanto à organização
do poder político, o Estado adota uma posição de neutralidade religiosa. Esta
manifesta-se também no âmbito da comunicação social, na educação e na
cultura públicas e no ensino público. Em matéria de revisão constitucional, a
liberdade religiosa e a separação da igreja e do Estado consistem num limite
material à revisão. 45. O Princípio do Estado Democrático 204. A diversidade
morfológica do princípio democrático As democracias são uma organização
política na qual os governados influenciam o percurso dos governantes. A
concretização da democracia na CRP consiste no apelo ao princípio da
soberania popular e na titularidade do povo. A operacionalização da
democracia depende da regra da maioria, segundo a qual a decisão é tomada
em função da vontade da maioria, o que não quer dizer que a minoria seja
excluída. Esta apenas tem menos preponderância. Os cidadãos intervêm na
escolha dos governantes, na atividade levada a cabo pelos mesmos, na
fiscalização das suas atividades e na possibilidade de não redesignar os
governantes (mandatos limitados). Basicamente, os governados controlam os
governantes, ainda que nem sempre isto seja eficaz. A democracia pode
assumir várias dimensões: • Representativa • Referendária • Participativa A
democracia tem algumas vantagens quando comparada com a ditadura. Esta
forma de organização política ajuda a evitar a governação por autocratas
cruéis, confere aos cidadãos um maior conjunto de direitos, favorece a
igualdade política, garante uma maior liberdade pessoal, etc. 205. Portugal
como Estado democrático Direito Constitucional 98 Portugal, para além de ser
uma república, é também um Estado democrático. Este princípio assume-se
como princípio geral do Direito Constitucional Português sendo mencionado,
em inúmeras ocasiões, ao longo da CRP. Estas indicações começam no
preâmbulo e estendem-se ao articulado do texto constitucional. Estas alusões
surgem no contexto dos direitos fundamentais, da soberania popular, do tipo
de sufrágio utilizado nas diferentes eleições, e no pluralismo político. 206. A
democracia representativa e a eleição em geral A dimensão da democracia
representativa relaciona-se com a designação dos titulares dos órgãos
públicos, que desempenham funções em nome da comunidade. Este
fenómeno, o da representação política, faz com que os representantes
persigam não interesses particulares, mas sim interesses gerais. A ligação
entre os governantes e os governados surge, precisamente pelo fenómeno da
representação política, definido pelo mandato político. Os mandatos têm duas
vertentes distintas: • Mandato imperativo: os eleitos tinham de submeter-se à
vontade geral, podendo ser destituídos em consequência da sua violação; (J. J.
Rousseau) • Mandato representativo: os eleitos, ainda que submetidos ao
interesse público teriam mais possibilidades de ação, dentro do que é a
vontade popular. Deste modo, era-lhe permitido ser reeleito (se cumprisse a
vontade dos eleitores) (E. Sieyes). Denota-se que a eleição é um aspeto
importante na democracia. Esta pode assumir várias classificações: política,
legislativa, administrativa ou internacional… Podem ainda ser externas ou
internas, conforme o colégio eleitoral seja composto pelos cidadãos ou por
órgãos políticos já eleitos, respetivamente. Por fim, podem ser gerais ou
intercalares. O sistema eleitoral é o método que permite traduzir em mandatos
os votos que foram depositados nas urnas pelos cidadãos eleitores. Este
sistema permite várias combinações, sejam elas: a representação proporcional,
a representação maioritária e a representação de minorias. 207. Os traços
fundamentais do Direito Eleitoral Português Em Portugal, a eleição é fixada
por várias coordenadas: o recenseamento de eleitores, a campanha política, a
votação por sufrágio, a fiscalização dos atos eleitorais e a transformação dos
votos em mandatos. Para além disto existe uma imensidão de normas e leis
que regulam as eleições. O recenseamento eleitoral pretende evitar a fraude
eleitoral, de forma que só podem votar os inscritos nos cadernos eleitorais. Os
princípios fundamentais do recenseamento eleitoral são a universalidade
(universalidade no sufrágio), a permanência, a atualidade, a obrigatoriedade e
a oficiosidade, e a unicidade. Em Portugal o voto é universal (por oposição ao
censitário ou capacitário), uma vez que todos os maiores de 18 anos votam;
igual, sendo que todos os votos têm o mesmo valor; Direito Constitucional 99
periódico, por se repetir nos períodos de tempo determinados pela lei; direto,
secreto, e pessoal. O sufrágio constitui, na CRP, um dever cívico. Não se trata
de uma obrigação, trata-se apenas de um dever do plano moral. O
procedimento eleitoral efetua-se da seguinte forma: 1. Marcação da data das
eleições; 2. Apresentação das candidaturas; 3. Campanha eleitoral; 4.
Organização das Assembleias de voto; 5. Votação; 6. Apuramento; 7.
Contencioso da votação e apuramento; 208. A representação proporcional em
especial No que toca ao sistema eleitoral, Portugal escolheu para vigorar a
representação proporcional: “A conversão dos votos em mandatos far-se-á de
harmonia com o princípio da representação proporcional” (Art. 113.º, nº5 da
CRP). Como afirmações desse principio surgem: • A assembleia da república; •
As Assembleias Legislativas das RA; • Os órgãos de tipo assembleia das
autarquias locais; • A assembleia regional da região administrativa, em
particular; 209. A democracia semidirecta e o referendo em geral A dimensão
referendária possibilita aos cidadãos se pronunciarem acerca dos assuntos
que se colocam à governação. Esta caracteriza-se pelo referendo, uma das
formas pelas quais o povo exerce o poder. 210. As principais opções do Direito
Referendário Português Portugal acolheu, nas revisões à constituição, o
referendo em três modalidades: local, nacional e regional (a ter lugar nas RA).
A regulação sobre o referendo é desenvolvida por duas leis ordinárias, a LORR,
para o referendo nacional e a LORL, para o referendo local. Existiram, até
agora, três referendos nacionais em Portugal. 1. 1998, sobre o aborto – “não”
2. 1998, sobre a regionalização administrativa do território continental – “não”
3. 2007, sobre a despenalização do aborto – “sim” Segundo a CRP, o referendo
nacional “…só pode ter por objeto questões de relevante interesse nacional que
devam ser decididas pela Assembleia da República ou pelo Governo através da
aprovação de convenção internacional ou de ato legislativo”. Direito
Constitucional 100 As “questões de relevante interesse nacional” são um
assunto controverso. A CRP e a LORR chegaram já a ideia de que estas devem
“ser decididas pela Assembleia da República ou pelo Governo através da
aprovação de convenção internacional ou de ato legislativo”. Chegou-se,
também, à limitação de algumas matérias que não podem ser colocadas em
referendo: as alterações constitucionais, questões orçamentais, tributárias ou
financeiras e matérias de reserva exclusiva da AR. A convocação do referendo
organiza-se por partes: proposta, fiscalização preventiva da
constitucionalidade, decisão, campanha, organização das assembleias de voto,
o exercício do voto e o apuramento dos resultados. Os efeitos do referendo são
vinculativos, uma vez que não fazia sentido efetuar-se referendos só pelo
caráter consultivo. Os seus resultados compreendem assim a atuação, de
duas formas: • Um dever positivo, de facere (agir), segundo o qual se deve
aprovar diplomas em adequação à realização prática da decisão do referendo; •
Um dever negativo, de non facere (não agir), segundo o qual não se deve
aprovar diplomas que contrariem a decisão referendária; O regime referendário
em Portugal tem alguns problemas, tratando-se de uma lex imperfecta. Um
desses problemas é a falta de mecanismos que obriguem o Estado a agir
consoante o resultado do referendo. O referendo local organiza-se à
semelhança do nacional, com algumas diferenças. Só pode ter por objeto
questões de interesse local, é de realização facultativa, a sua iniciativa repousa
nos órgãos autárquicos, e os efeitos são, também vinculativos. 211. A
democracia participativa e os partidos políticos em geral A dimensão
participativa da democracia é a que se liga ao exercício dos direitos de
natureza política que permitem a expressão da opinião pública, que
indiretamente influencia as decisões políticas tomadas pelos governantes,
opinião pública que se constrói com base nas opiniões individuais livremente
produzidas no espaço público. Isto quer dizer que a vontade popular não se
resume ao sufrágio e ao referendo. A opinião pública tem duas funções: a de
legitimação - aceitação da atuação dos governantes, - e a de controlo –
limitação do poder público. A democracia participativa possibilita-se, em
parte, pelos direitos fundamentais como a liberdade de opinião, a liberdade de
imprensa, de reunião, de manifestação, de associação, de criação e militância
de partidos políticos, de petição perante os órgãos públicos… A democracia
participativa caracteriza-se pela oposição democrática, segundo a qual a
maioria governa e a minoria fiscaliza. Estas minorias que compõem os órgãos
políticos também gozam de alguns direitos que os auxiliam na sua função
fiscalizadora: direito de informação, de consulta prévia, de participação, de
depor… Assume-se, assim a importância dos partidos políticos. Estes
consistem em pessoas coletivas de tipo associativo, com caráter de
permanência, tendo por finalidade representar o estado-Sociedade ao nível dos
órgãos do poder público, assim contribuindo para o funcionamento de sistema
de poder político instituído. Direito Constitucional 101 Os partidos Políticos
podem ser comissões eleitorais, associações políticas, ou grupos de pressão.
Em função destes determina-se, ainda que um regime possa ter um sistema: •
monopartidário, em que apenas existe um partido único, o que está no poder;
• bipartidário, perfeito (85%-90% dos mandatos) ou imperfeito (75%-85%dos
mandatos); • multipartidários, perfeitos (se os partidos são equilibrados
quando à representatividade), ou imperfeitos (se um deles sobressai com mais
de 35% dos mandato); Já os sistemas eleitorais, podem funcionar segundo o
sistema de representação maioritária, e o sistema de representação
proporcional. 212. O novo direito dos Partidos Políticos em Portugal No Direito
Português, os Partidos políticos foram acolhidos com a aprovação do
Decretolei nº 595/74 de 7 de Novembro. Este positivou o regime jurídico dos
partidos políticos que se proliferaram após a revolução do 25 de abril. Este
diploma foi substituído, em 2003, pela Lei dos Partidos Políticos: um texto
composto por 6 capítulos e 41 artigos. Este assunto é também referido na CRP
(estatuto dos partidos) nos princípios introdutórios, nos direitos fundamentais
e na organização do poder político. Os principais traços caracterizadores do
estabelecido pela CRP quanto a este assunto são: • A fiscalização externa da
atividade dos partidos; • O reconhecimento dos fins e funções partidárias no
âmbito do sistema político consagrado; • Reconhecimento do direito de
oposição aos partidos; A Constituição reconhece, no entanto, alguns limites
aos partidos políticos, nomeadamente, que eles adotem uma ideologia fascista
ou racista. Neste caso, o partido pode ser extinto. Também a LPP tem alguns
princípios fundamentais: • Princípio da duração indeterminada; • Princípio da
liberdade; • Princípio democrático na sua organização interna; • Princípio da
transparência quanto às suas atividades; • Princípio do caráter nacional; Pela
constituição: “É livre e sem dependência de autorização a constituição de um
partido político”. No entanto são precisas algumas exigências: a apresentação
de um requerimento subscrito por um mínimo de 7500 cidadãos eleitores,
acompanhados pelo projeto de estatutos, da declaração de princípios ou
programa político e da denominação do partido, sigla e símbolo. Um partido
político pode extinguir-se voluntariamente ou por meio judicial. Direito
Constitucional 102 Apesar de cada partido ser livre de adotar a organização
interna que lhe aprouver, A LPP, quanto à organização interna dos partidos,
tem algumas exigências. Por exemplo, nas eleições internas vigora sempre o
sufrágio pessoal e secreto, delas sempre cabendo recurso para o Tribunal
Constitucional. Nos órgãos internos são de destacar o órgão representativo, o
órgão de direção política e o órgão de jurisdição. Na generalidade dos países
europeus, os partidos políticos têm financiamento público. Não deixam, por
isso, de ter de angariar contribuições privadas para patrocinar as suas
campanhas. Isto gerou o problema de , através dos investimentos privados, as
entidades privadas ganharem influência sobre a vida política. Para além disto,
o financiamento privado acentua a desigualdade entre os partidos em função
do critério económico. Também o financiamento público pode provocar a
dependência dos partidos face ao Estado. Daí que, na generalidade dos países,
quanto a este assunto, se tenha adotado regimes mistos. 46. O Princípio do
Estado Unitário Descentralizado 213. A complexidade crescente da
organização vertical do Estado A organização do poder público, a
esquematização das suas modalidades e a sua configuração estrutural e
funcional correspondem à forma de Estado. Atendendo aos elementos
constitutivos do Estado é possível distinguir Estados simples (um só povo,
uma só soberania e um só território), de estados compostos, que assentam
numa multiplicidade de unidades estaduais. Os estados compostos podem ser,
por exemplo, os Estados Federais ou as Uniões Reais. 214. Portugal como
Estado unitário regional e descentralizado O Estado Português engloba estas
cinco características: • Caráter unitário: rejeição de qualquer espécie de
federalismo, permanecendo exclusivamente no Estado o poder constituinte, o
poder de revisão constitucional e o poder jurisdicional. Porém, também não se
caiu no extremo de conceber um Estado detentor de todos os poderes
públicos, denotando-se, assim, uma descentralização político-legislativa e
administrativa. A primeira, é uma realidade para as Regiões Autónomas,
enquanto a segunda se relaciona com a criação de entidades públicas menores
que, no entanto, exercem também poderes de nível administrativo. • Caráter
regionalizado: Este incide na existência das RA. Estas diferenciam-se dos
Estados federados pro não terem poder constituinte, nem poder na alteração
dos estatutos regionais. O estatuto jurídico dos arquipélagos dos Açores e da
Madeira Direito Constitucional 103 encontra-se estipulado na constituição, no
EPARAA e EPARAM (Estatuto políticoadministrativo da Região autónoma dos
Açores/Madeira). A regionalização dos arquipélagos não é total (afigura-se na
geografia portuguesa) nem é heterogénea (a regionalização é feita de modo
semelhante para ambas as RA) As RA têm poder administrativo e são dotadas
de órgãos próprios. Nomeadamente, a Assembleia Legislativa, o Governo
regional e o Representante da República, que funcionam à semelhança dos
órgãos de Portugal continental. Por fim, o seu sistema de governo caracteriza-
se como parlamentar • Caráter descentralizado: É a descentralização
administrativa que explica o paralelismo entre a Administração Pública e
Privada. A satisfação das necessidades coletivas não pode ser preenchida pela
iniciativa privada, pelo que não se pode prescindir do poder público. É assim
que surge a função administrativa, parcela do poder público que tem como
função a satisfação das necessidades coletivas das pessoas. A função
administrativa pode ser vista enquanto atividade, organização e poder. Ao
conjunto de entidades que desenvolvem a função administrativa dá-se o nome
de Administração Pública, delas fazendo parte as pessoas coletivas de Direito
Público. Pode falar-se em: ❖ Administração estadual Direta: que tem no
Estado a entidade jurídicoadministrativa máxima; ❖ Administração Estadual
Interna: que integra instituições que constituem pessoas coletivas de Direito
Público ❖ Administração Autónoma do Estado: integra o conjunto de
instituições se autonomizam, em maior medida, do Estado. A descentralização
administrativa pode, também, ser vista da perspetiva do Poder Local –
estruturas com poder público secundário – através do qual são transferidas
competências para centros decisórios periféricos. • Caráter unitário II: O
princípio da unidade do Estado relaciona-se com a integração das RA e com a
aceitação de autarquias locais e outras estruturas com poder público
secundário. Para este efeito, são necessárias divisões no território
administrativo: distritos (a divisão distrital só se aplica em Portugal
continental). O estatuto jurídico das autarquias locais é definido na CRP, na
LAL (Legislação das Autarquias locais) e noutras legislações complementares.
Esta vasta legislação visa regular assuntos como: a estrutura orgânica, as
finanças locais, as atribuições e competências, o referendo local, a tutela
administrativa… Constitucionalmente, as autarquias locais são “… pessoas
coletivas territoriais dotadas de órgãos representativos, que visam a
prossecução de interesses próprios das populações respetivas”. Este conceito
engloba quatro elementos das autarquias locais: ❖ Elemento formal:
existência autónoma como pessoa coletiva de direito Público; ❖ Elemento
humano: vinculação da entidade coletiva a um conjunto de cidadãos; ❖
Elemento territorial: delimitação da atividade da pessoa coletiva em função da
dimensão territorial; ❖ Elemento funcional: atribuições e competências de
Direito Administrativo; Direito Constitucional 104 As autarquias locais
dividem-se, hierarquicamente, em municípios e freguesias, diferenciadas pela
dimensão territorial, pelo conjunto de atribuições e pela estrutura dos
respetivos órgãos. Podem, ainda, existir estruturas especiais, que não
precisam de se enquadrar, necessariamente, no conceito de autarquia local,
mas que compõem também formas de organização territorial autárquica. Estas
têm, maioritariamente, competências associadas à insularidade e aos
aglomerados urbanos. São exemplos: os conselhos de ilha, as áreas
metropolitanas, as organizações de moradores… Existe a possibilidade de as
autarquias locais de associarem em projetos comuns, criando as comunidades
intermunicipais, a nível de municípios, ou simples associações de freguesias.
As autarquias locais apoiam-se no dualismo órgão administrativo vs. órgão
executivo, fazendo-se exercer dois níveis de poder decisório diferente. Os
municípios têm como órgãos: a assembleia municipal, a câmara municipal e o
presidente da câmara municipal. As freguesias têm como órgãos: a assembleia
de freguesia e a junta de freguesia. O sistema de governo das autarquias
locais: ❖ Não é parlamentar: os órgãos executivos não são responsáveis
perante a assembleia; ❖ Não é presidencial: há uma dissociação entre o
presidente da câmara e a câmara municipal, na medida em que os órgãos
executivos não podem dissolver a assembleia municipal; ❖ Não é
semipresidencial: pelos mesmos motivos referidos acima; É, portanto,
diretorial, uma vez que se concebe a existência, separadamente e sem
responsabilidade política de dois órgãos para cada um dos poderes. O caráter
diretorial das AL, relaciona-se ainda com afeição colegial do órgão executivo.
215. O Estado Português e a Comunidade Internacional A CRP expressa a
posição de Portugal face às relações internacionais. Assume, neste domínio
alguns princípios: ❖ Princípio da proteção dos Direitos Humanos; ❖ Princípio
da formação de uma comunidade lusíada; ❖ Princípio da integração europeia;
❖ Princípio da independência nacional; ❖ Princípio do respeito pelos direitos
dos povos; ❖ Princípio da igualdade dos estados; ❖ Princípio da solução
pacífica dos conflitos internacionais; ❖ Princípio da não ingerência nos
assuntos internos de outros estados; ❖ Princípio da cooperação com os outros
Estados para a emancipação e progresso da Humanidade; ❖ Princípio da
abolição do colonialismo, imperialismo, e outras formas de agressão, domínio
e exploração nas relações entre Estados; ❖ Princípio do desarmamento geral;
216. O princípio da integração europeia Direito Constitucional 105 A
integração de Portugal na União Europeia definem-no como Estado
comunitário. Neste domínio, Portugal empenha-se no reforço da identidade
europeia, contribui para a construção e aprofundamento da União Europeia e
aplica as disposições dos tratados da União Europeia no seu território. A
caracterização política da UE não é totalmente possível, uma vez que esta
oscila entre organização internacional supranacional, estrutura confederal e
entidade federal. No que toca à evolução do Direito Comunitário são de
evidenciar: o Ato Único Europeu (1987), o Tratado de Maastricht (1993), o
Tratado de Amsterdão (1998), e o Tratado de Nice (2001). No domínio do
Direito constitucional, o Direito da UE é composto pelos regulamentos, pelas
diretivas, pelas decisões, pelos pareceres e pelos princípios gerais de Direito
Comunitário. Os órgãos da UE são: o Parlamento Europeu, o Conselho
Europeu, o Conselho de Ministros, a Comissão Europeia e o Tribunal de
Justiça da União Europeia. 217. Portugal e a integração lusófona Outra
dimensão da inserção internacional do estado Português corresponde ao
princípio da integração lusófona, que manifesta relações privilegiadas entre os
cidadãos portugueses e os cidadãos de estados de Língua Portuguesa. A
integração lusófona integra-se em dois planos: o da valorização da língua
portuguesa e o plano da atribuição de direitos políticos reservados aos
cidadãos. O princípio da integração lusófona prevê também a participação de
Portugal em estruturas internacionais que agreguem Estados de Língua
Portuguesa. Nomeadamente, a CPLP. Esta tem como objetivos a concertação
político-diplomática, a cooperação nos mais variados domínio e a promoção e a
difusão da língua portuguesa. A sua estrutura compreende quatro órgãos: a
Conferência dos Chefes de Estado e do Governo, o Conselho de ministros, o
Comité de Concertação Permanente e o Secretariado Executivo.
ii) Direitos e deveres fundamentais;
A importância constitucional dos direitos fundamentais
Os Direitos Fundamentais são incluídos no Direito Constitucional e,
consequentemente, na CRP. Para além de integrarem o Direito Constitucional,
estes direitos são também levados a cabo pelo Direito Penal, pelo Direito
Internacional Público, pelo Direito da UE e pelo Direito Civil. Os direitos
fundamentais sofreram um longo processo de aceitação e positivação. Este
permitiu chegar ao seguinte conceito de direitos fundamentais: “posições
jurídicas ativas das pessoas integradas no Estado-Sociedade, exercidas por
contraposição ao Estado-Poder, positivadas no texto constitucional”. Daqui se
retiram três elementos constitutivos:
• Elemento subjetivo: prende-se com as pessoas jurídicas a quem os direitos
dizem respeito;
• Elemento objetivo: o conjunto de vantagens inerentes a cada direito
fundamental;
• Elemento formal: consagração das posições de vantagem, a nível formal, na
Constituição;
Os direitos fundamentais podem, também, ser perspetivados de acordo com
diversas classificações:
• Classificações subjetivas: Modo como os direitos fundamentais se
relacionam com os titulares;
• Classificações materiais: Consideração do objeto e conteúdo do direito;
• Classificações formais: Traços que, normalmente, definem os direitos
fundamentais a nível formal;
• Classificações regimentais: Procedem à separação das categorias dos DF pela
aplicação de regras;
A evolução dos direitos fundamentais
As grandes linhas de viragem dos séculos XIX e XX que implicaram alterações
a nível da consagração de direitos fundamentais organizam-se segundo:
1. Período liberal: Caracteriza-se pela primeira geração de direitos
fundamentais, através dos quais se tinha em mente a garantia de um espaço
de autonomia e de defesa dos cidadãos face ao poder público;
2. Período social: Consagrou uma segunda geração de direitos fundamentais
relacionados com a proteção de natureza social;
3. Período cultural: Traduz uma terceira geração de direitos fundamentais
associados a questões ambientais;
O percurso da positivação constitucional dos direitos fundamentais engloba
também as alterações do Direito Internacional Público do século XX,
nomeadamente a proteção internacional dos direitos do homem.
Os direitos fundamentais e o futuro
Os direitos fundamentais não são direitos infalíveis e, por isso, existe perigos
que atualmente se concebem e que podem lançar dúvidas quanto à efetividade
da sua proteção.
1. Multiplicação do número de direitos fundamentais existentes: esta pode
levar à adulteração da hierarquia de valores que são implícitos aos direitos
fundamentais e levar a pensar que os direitos valem todos o mesmo. Este facto
afeta ainda a menor proteção que recai sobre cada direito.
2. Uniformização dos direitos fundamentais: No que diz respeito à
globalização, é cada vez mais difícil lidar corresponder a heterogeneização dos
direitos fundamentais, em resposta às diversidades – culturais, religiosas…
3. Processualização dos direitos fundamentais: Esta pode resultar na perda da
fundamentação material dos direitos que é a chave para responder a um
conjunto de opções que dizem respeito à vida coletiva.
O Sistema português de direitos fundamentais
A conceção pluralista dos direitos fundamentais
Relativamente à lógica material, coloca-se o problema de saber qual o critério
unificador dos direitos fundamentais. Paralelamente a este problema, vão
surgindo teorias que se afirmam como explicativas das tipologias de direitos
fundamentais. O Constitucionalismo liberal fez vingar a Teoria Liberal,
segundo a qual os direitos e as liberdades são dominados por uma ideia de
abstenção do Estado em relação à Sociedade e à Economia, radicando todos
de uma posição jusnaturalista. Outras teorias relativas aos direitos
fundamentais foram surgindo:
• Teoria socialista: os direitos fundamentais colocam-se ao serviço de uma
ideologia única e de uma ditadura coletivista de esquerda;
• Teoria fascista: Os direitos fundamentais assumem uma relevância
socialcorporativa;
• Teoria Social: Defende-se a existência de direitos sociais;
• Teoria democratizadora
Olhando para a CRP, o único índice que podemos encontrar é o
reconhecimento da necessidade de um conceito material de direito
fundamental, pois é através dele que podemos operacionalizar a abertura do
sistema constitucional de direitos fundamentais. A abertura do sistema de
direitos fundamentais manifesta-se por exemplo no preceito de que “Os
direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quaisquer
outros constantes das leis e das regras aplicáveis de Direito Internacional.
O conceito de direito fundamental tem três elementos:
• Elemento subjetivo: implicando a subjectivização nas pessoas integradas no
Estado Comunidade;
• Elemento material: retratando uma vantagem relacionada com o valor que
se afirma protegido;
• Elemento formal: relacionado com as características de supremacia
relacionadas com o Direito Constitucional;
A posição constitucional, tipológica e aberta dos direitos fundamentais
Os direitos fundamentais possuem uma força jurídica constitucional que lhes
é dada pelo caráter das fontes constitucionais normativas que os consagram.
Como são fundamentais, estes direitos têm, de alguma forma, de estar
vinculados ao texto supremo de um Estado: a constituição.
Cabe à Constituição – e às fontes constitucionais em geral – este papel
fundacional do sistema jurídico, devendo as fontes inconstitucionais ser
destruídas. O caráter constitucional dos direitos fundamentais implica que
estes se encontrem no topo da Ordem Jurídica, tendo as características
próprias dos preceitos constitucionais. Nomeadamente, supremacia
hierárquica e a rigidez constitucional, que implica que a sua alteração tenha
de respeitar determinados mecanismos e procedimentos. Os direitos
fundamentais não deixam, por isso de contactar com outros estratos do
sistema jurídico que os podem até completar. Nestes casos estamos perante
mecanismos de abertura dos direitos fundamentais que são positivados na
Constituição de outros níveis. Esta abertura permite por um lado a integração
de novos direitos fundamentais e também o seu aperfeiçoamento. Para além
da força normativo-constitucional, os direitos fundamentais caracterizam-se
também pela dimensão tipológica. Esta significa que os direitos fundamentais
são agrupados em realidades pouco amplas de tipos jurídicos que permitem
captar melhor o objeto e a realidade respeitante a cada direito fundamental e
lhes dá um valor coletivo. As tipologias dos direitos são abertas ou
exemplificativas, havendo a possibilidade de se reconhecer um conceito geral
na formulação de novos direitos denominados direitos fundamentais atípicos.
Os direitos fundamentais atípicos em especial
Os direitos fundamentais atípicos abrangem três questões: a sua extensão
material, as fontes de onde emanam e o regime que lhes é aplicável. Na
perspetiva da identificação dos DF atípicos, difícil é saber qual o critério
material que os permite encontrar. Em termos práticos, a aplicação desse
critério material permite que os DF atípicos se processem de acordo com uma
analogia para com os direitos fundamentais típicos. Do ponto de vista das
fontes, a CRP condicionou o acolhimento dos direitos fundamentais atípicos ao
facto de os mesmos serem previamente positivados nalgumas fontes
normativas que o texto constitucional mencionou. Nomeadamente, as regras
de Direito Internacional e as leis. Quanto ao regime, a dúvida é saber se estes
direitos atípicos também têm um estatuto constitucional, não se justificando
quaisquer negações a propósito do regime constitucional destes direitos.
Os Direitos, liberdades e garantias e os direitos económicos, sociais e culturais
A nível constitucional, os direitos não têm sempre a mesma intensidade
normativa, sendo possível vislumbrar diferentes alcances no modo como os
respetivos conteúdos e objetos condicionam os destinatários e chegam à
realidade. O texto articulado concebe a existência de um regime específico
atribuído aos direitos, liberdades e garantias que não é aplicável aos direitos
económicos, sociais e culturais. O que a CRP faz é somente fornecer ao
intérprete um critério qualificativo segundo o qual considera que tudo o que se
encontra nesse conjunto de artigos corresponde a tipos de direitos
fundamentais pertencentes à espécie “direitos, liberdade e garantias”. O
critério mais aceite na tarefa de distinção entre esses conceitos é o da
determinação, em que os direitos, liberdades e garantias se erguem segundo
um conjunto de opções regulativas que pertencem ao domínio do texto
constitucional. Os direitos, liberdades e garantias definem-se em razão da
norma atributiva dos mesmos, enquanto categoria mais restrita do que os
direitos fundamentais em geral: são as posições subjetivas
constitucionalmente positivadas em normas percetivas. Inversamente, as
normas constitucionais que consagram os direitos económicos, sociais e
culturais têm natureza programática, oferecendo uma menor vinculatividade
em relação à força inerente às normas percetivas. O critério de separação
entre estes dois grupos de direitos fundamentais é normativo-formal. A força
diretiva dos direitos fundamentais que sejam direitos, liberdades e garantias é
inevitavelmente mais forte do que aquela que os direitos económicos, sociais e
culturais ostentam.
Os direitos fundamentais análogos
Existem outros direitos, para além das liberdades e garantias assim
consideradas no título II da parte I da CRP que gozam do seu regime
específico. É o caso de direitos, liberdades e garantias típicos não numerados
ou noutra terminologia, e dos direitos fundamentais análogos.

iii) Princípios gerais;


iv) Direitos, liberdades e garantias pessoais.
DIREITOS FUNDAMENTAIS Introdução Para salvaguardar o Estado de Direito
Democrático (art. 2º) positivado na Constituição da República Portuguesa são
necessariamente pressupostas duas «balizas», a separação de poderes e os
direitos fundamentais. Estes últimos são um dos grandes desígnios da Direito
Constitucional Português Página 49 de 74 Constituição e para que estejam
assegurados não basta apenas que nela venham previstos, é também crucial
que os seus incumprimentos sejam fiscalizados. A expressão «Estado de
Direito Democrático» remete imediatamente para um Estado regulado por
regras, umas passíveis de serem modificadas (Leis e DL’s) e outras não (CRP),
e por um preceito democrático, sendo que o governo é levado a cabo segundo
as maiorias mas protege, ao mesmo tempo, as minorias. Os direitos
fundamentais (arts. 12º e 13º), na sua maioria compilados na CRP,
encontram-se acima de qualquer poder político, sendo resistentes à lei,
intocáveis, mesmo que a Constituição seja alterada. Distinções: Podemos fazer
a distinção entre dois tipos de direitos e, ainda, dentro de cada um desses
tipos a distinção entre as chamadas gerações de direitos. Quanto à tipologia
dos direitos, fazemos a diferenciação entre Direitos, Liberdades e Garantias
(DLG) e Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC). Os primeiros podem
ser catalogados como direitos do presente ou direitos negativos pois não
necessitam da intervenção do Estado, exercem-se por si mesmo, são imediatos
e imediatamente aplicáveis (art. 18º/1). O Estado deve garanti-los (art. 9º/b)
sem os perturbar (abster-se). Apenas se exige que o Estado não perturbe esses
direitos e impeça terceiros de os perturbar. Já os segundos preenchem a
categoria de direitos como objetivo ou direitos positivos pois requerem a
intervenção do Estado para proceder à sua efetivação e cumprimento (art.
9º/d), são mediatos pois estão dependentes da capacidade financeira do
Estado para os assegurar. Dos DLG fazem parte os direitos de primeira
geração (liberdades fundamentais como a liberdade, segurança e propriedade)
e os de segunda geração (direitos de participação civil e política como o direito
de sufrágio e o direito à liberdade de expressão e opinião). Aos DESC
pertencem os direitos de terceira geração associados ao Estado Social de
Direito (direito à saúde (art. 64º), à educação (art. 74º) e à segurança social) e
à sua função reguladora de desigualdades e promotora do bem-estar e
equilíbrio económicosocial, e os direitos de quarta geração associados
sobretudo a questões da atualidade, sendo direitos de proteção contra a
inovação e a discriminação (direitos ambientais, patrimoniais, proteção da
privacidade, genética). Direito Constitucional Português Página 50 de 74 
Localização: Título II DLG pessoais – 24º e ss; DLG de participação política –
48º ss DLG dos trabalhadores – 53 e ss Título III Direitos e deveres
económicos – capítulo I Direitos e deveres sociais – capítulo II Direitos e
deveres culturais – capítulo III  Artigo 16º Podem existir direitos que pela sua
natureza sejam considerados análogos aos consagrados na CRP, podendo
considerar-se que estes direitos têm valor constitucional, não sendo assim
possível revoga-los por lei. O artigo 17º contém o regime aplicável aos direitos
análogos. Quer estes direitos estejam consagrados em leis (ou normas de
direito internacional) ou em outras partes da Constituição que não o Título II,
aplicamos o mesmo regime jurídico que aplicamos aos direitos consagrados
nesse título. Assim, temos de perceber quais as características essenciais dos
direitos do título II para podermos identificar outros direitos que partilhem
dessas características, ou seja, que só precisem da protecção do Estado.
Exemplos: - Artigo 62º: é um direito análogo, na medida em que para ser
assegurado basta que o estado se abstenha de expropriar. Este direito está
formalmente inserido nos DESC, mas é um DLG análogo, logo, nos termos do
artigo 17º, aplicamos o mesmo regime dos direitos consagrados no título II.
Direitos, Liberdades e Garantias O regime dos DLG aplica-se não só aos
enunciados no Título II da CRP mas também aos direitos fundamentais
análogos como os constantes de leis, regras de Direito Internacional e da
Constituição, fora do Título II (arts. 16º e 17º). Direito Constitucional
Português Página 51 de 74 Revisão Constitucional: Não podem ser postos em
causa pelas revisões constitucionais, estão protegidos por fazerem parte dos
seus limites materiais (art. 288º/d).  Regime: - Regime Orgânico: Órgão com
legitimidade para legislar sobre os mesmos (AR ou Governo; Lei ou DL
autorizado). Artigo 165/1/b). - Regime Material: Regras próprias dos DLG,
essenciais para determinar os limites do legislador. Direitos que são
diretamente aplicáveis (vinculam as entidades públicas e privadas) e cuja não
aplicação é punível por lei. Artigos 17º; 18/1 e 2; 19º; 21º e 22º - Regime de
revisão constitucional – artigo 288/d) – Os DLG não podem ser alterados, nem
mesmo através de revisão constitucional. Mas o princípio do artigo (que
enumera as matérias protegidas de revisão constitucional) pode ser revogado e
o objectivo ser conseguido através de dupla revisão constitucional. Leis
restritivas (REQUISITOS) –art. 18º/2 1º - A lei só pode restringir/Só a lei pode
restringir (Lei ou Decreto-Lei autorizado); 2º - A restrição só pode ser feita nos
casos expressamente previstos na Constituição (arts. 35º/4 e 47º/1); por vezes
a possibilidade de restrição não é expressa (a Doutrina diverge). 3º - A
restrição deve limitar-se ao necessário. Há uma referência ao princípio da
proporcionalidade. 4º - A restrição deve salvaguardar os outros direitos e
interesses constitucionalmente protegidos; 5º - As leis restritivas devem
revestir carácter geral e abstrato; 6º - As leis restritivas não podem ter efeito
retroativo; a retroatividade implicaria a destruição de efeitos já produzidos.
Direito Constitucional Português Página 52 de 74 7º - As leis restritivas devem
respeitar o conteúdo essencial do preceito constitucional (para que não haja
destruição do direito restringido). NOTA: A expressão “lei” utilizada no artigo
18º tem um sentido material, referindo-se tanto a leis da AR como a DL
autorizados. Colisão de direitos Em caso de colisão de direitos, deve procurar-
se delimitar e redefinir as fronteiras dos mesmos (harmonização), para que os
direitos possam coexistir (princípio da concordância prática). Esta restrição
corresponde a uma intervenção do legislador dentro das fronteiras de cada
direito, com o intuito de salvaguardar outros direitos em risco. Primeiro
teremos de delimitar as fronteiras do Direito, interpretando-o à luz da CRP, de
forma a perceber quais as manifestações possíveis do Direito.
b) Direito penal:
i) Princípios gerais; (imprimido à parte)
ii) Pressupostos da punição;

Para que exista a punição de um crime, tem obrigatoriamente de se verificar


um
Conjunto de pressupostos que sustentem essa mesma punição. São eles:
Facto Humano;
Tipicidade;
Ilicitude;
Causalidade;
Culpabilidade;
Punibilidade;
Crime* - art. 1.º CP: comportamento humano, consciente e voluntário,
praticado injustificada e culposamente, que corresponde a um modelo descrito
na lei, e que é lesivo de um bem jurídico protegido pela Lei Penal.

Facto Humano
Conduta: comportamento humano, executado de forma consciente e
voluntária, que produz um resultado. Isto é:
Um comportamento do Homem eu não existe por reflexo ou
inconscientemente, que pode ser ativo (por ação) ou negativo (por
omissão/inércia), que tem obrigatoriamente de produzir um efeito externo.
Comissão por ação: O agente abstém-se de agir, violando a norma jurídica por
não fazer o que a lei exige, uma vez que a sua ação evitaria o resultado típico.
Crimes omissivos
Punibilidade da omissão: art.º 10 CP
Por regra, a omissão é punida de forma igual à ação salvo se a lei dispuser o
contrário.
Sendo possível uma atenuação especial na pena quando sobre o omitente
recair um dever jurídico que pessoalmente obrigue a evitar esse resultado.
*Crime de omissão de auxilio
Princípio da Individualidade da Responsabilidade criminal
Segundo este princípio que consta no art.11º, são as pessoa singulares quem é
criminalmente responsabilizado, ainda que pessoas coletivas também o
possam ser mas apenas em determinados casos.
 Princípio da Intransmissibilidade
Como consta nos artigos 30º nº3 da CRP e 27º CP, as penas são
intransmissíveis (não se passam a outra pessoa)
 Punibilidade da ação em nome de outrem Agente age voluntariamente como
titular dos órgãos da pessoa coletiva.
 Irresponsabilidade das multidões
Note-se que pessoas coletivas e multidões não são a mesma coisa.
Por exemplo: A comissão de festas da paróquia de São Romão é uma entidade
com autonomia mesmo sem personalidade jurídica, não pode ser considerada
uma multidão, uma vez que os seus indivíduos não trabalham por conta
própria.
No caso de indivíduos com fins próprios (multidão), julga-.se cada uma
individualmente, pois não constituem uma entidade organizada.

Tipicidade
A tipicidade é a “adequação da conduta ao tipo, ou seja, o enquadramento de
um comportamento real à hipótese lega”.
Já o tipo é a descrição legal de um crime ou delito. Isto é:
São modelos ou padrões de comportamento humano considerados como
censuráveis para determinada sociedade, por violarem valores essenciais para
a mesma, em determinado momento histórico.
O tipo é constituído por dois elementos, são eles:
 Elementos objetivos - estes podem ser ainda: o Descritivos- podem estar
relacionados com a coisa, lugar, tempo, modo de execução, objetos etc.
o Normativos- que são necessários para que uma conduta seja considerada
formalmente típica.
 Elementos subjetivos - tratam da intenção do agente que causa mal injusto
a partir de sua conduta.

Ilicitude
Art.31º CP
“a ilicitude é a desconformidade com o direito (…) ou seja, o facto é ilicitude
quando ofende ou põe em perigo um bem juridicamente tutelado por lei”.
Assim, em regra, consideram-se ilícitos todos dos factos típicos, excetuando-
se aqueles que se enquadrem na exclusão da Ilicitude.
Exclusão da Ilicitude:
Causas genéricas – art.31º nº1 CP (“assume o compromisso de não censurar
criminalmente uma conduta que, ainda que não protegida por uma causa de
justificação estritamente penal, está, todavia, justificada por outro ramo do
ordenamento jurídico.”)
Exemplos previstos em outros ramos do Direito:
→Ação direta – 336º CC: por exemplo, alguém cometer o crime de ofensa à
integridade física (art.143º CP) porque contra si está a ser cometido o crime de
sequestro (art.158º CP).
→Estado de necessidade – 339º CC: por exemplo, danificar uma porta
(art.212º CP) para evitar a propagação de incêndio.
→Direito de correção dos pais sobre os filhos – art.1878º CC.
Art.31, nº2 CP – outras causas de exclusão da ilicitude:
 Legitima defesa:
Art.31º, nº2 CP
Art.32º CP
Art.21º CRP
“a legitima defesa será, pois, a atuação de quem, «usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou
de outrem»”
Requisitos para a existência de legitima defesa:
o Facto praticado como meio necessário(“a defesa só é legitima se surgir como
indispensável para salvaguarda de um interesse jurídico do agredido ou de
terceiro”)
o Para repelir a agressão atual e ilícita: “o direito de legitima defesa só é
justificável se houver uma agressão por parte de alguém, entendendo-se por
agressão todo e qualquer comportamento humano que represente uma meaça
para interesses do defendente ou de terceiro protegidos pela ordem jurídica na
sua totalidade”.
o De interesses juridicamente protegidos do agente ou de terceiro. (equilíbrio
de valores; hierarquia dos valores)
 Exercício de um direito – direito de necessidade
Art.31º, nº2 CP
“O exercício de um direito de necessidade “é integrado pelo «complexo de atos
que o titular do direito pratica para conseguir a satisfação do interesse que a
lei tutela»””
Art.34º CP:
Existem requisitos necessários para que se justifique que o exercício do direito
de necessidade exclua a ilicitude do ato:
 Necessidade de afastar um perigo atual
 O perigo não ter sido voluntariamente criado pelo agente (“o perigo pode
provir de ação humana (…), do facto de um irracional, de força da natureza ou
de qualquer acontecimento desfavorável (incêndio, desabamento, desastre
(…))”
 Superioridade do interesse a salvaguardar dobre o interesse a sacrificar.
 Razoabilidade do sacrifício face à natureza ou ao valor do interesse
ameaçado
Direito de necessidade:
“é diferente do exercício do direito de legitima defesa, já que neste há uma
reação que se destina a pôr termo a um ato ilícito de terceiro, enquanto que no
direito de necessidade não há qualquer ato ilícito a travar, configurando-se
antes uma situação em que um direito de terceiro conflitua, colide com um
direito do agente e em que este é posta a alternativa de ter que sacrificar o
alheio para evitar o perigo de que o direito próprio preponderante saia
prejudicado”.
“Desse sacrifício resulta que será licita a conduta tendente a salvar o interesse
mais valioso”
Cumprimento de um dever
Art.31º, nº2 CP -> o agente atua no cumprimento de um dever ou de uma
ordem legítima da autoridade
“quando assim acontece o facto não é ilícito por se encontrar justificado por
tal vinculação”.
Exemplo: “a atuação da polícia no cumprimento do dever legal de manutenção
da ordem pública”
“nestas situações, e ao contrário do que acontece com o exercício de um
direito em que o agente é livre de agir ou não, não há liberdade de escolha: o
agente vinculado ao dever tem a obrigação de agir.”
Consentimento do lesado
Art.31º, nº2
CP Art.38º e 39 CP
O agente atua com autorização do titular do interesse lesado.
Pressupostos formais :
 Capacidade para consentir: “discernimento suficiente para avaliar o
significado do consentimento prestado, que nada tem a ver, pois, com a
capacidade jurídico civil” - art.38º, nº3.
 Consentimento sério e livre: “isto é, sinceridade, integridade do
consentimento prestado e sua manifestação sem coação” – art.38º, nº2 CP
 Consentimento anterior ao ato
 Consentimento revogável – art.38º, nº2 CP
 Consentimento inequívoco: “ou seja, o consentimento claro e que não
ofereça dúvidas”. – art.38º, nº2 CP.

Pressupostos materiais:
 Bem jurídico disponível: “ou seja, que o bem a que se reporta o
consentimento possa ser disponibilizado, utilizado livremente, por quem o
tutela” – art.38º, nº1 CP
 artigo 149º : “bens jurídicos relativos ao corpo e à saúde são livremente
disponíveis pelo seu titular e de que, portanto, o consentimento exclui a
ilicitude, exceto se a ofensa contrariar os bons costumes”.
“no que tange à vida humana, a regra geral é a indisponibilidade”.
 Conforme aos bons costumes: para decidir se contraria ou não os bons
costumes “tomar-se-ão em conta, nomeadamente, os motivos e os fins do
agente ou do ofendido, bem como os meios empregados e a amplitude
previsível da ofensa.”
Consentimento Presumido:
Art.39º CP
“trata-se de uma atuação levada a cabo no interesse do lesado, tomada a
expressão no sentido de que, nas condições dadas, o interesse desse (isto é, a
sua vontade) levaria a consentir.”
Exemplo: “quando alguém utiliza a bicicleta de um seu amigo, na base de que
a vontade deste seria, perante as circunstâncias do caso de autorizar o seu
uso”.
 A distinção ente estado de necessidade e consentimento é, o facto de, no
estado de necessidade, “os interesses implicados respeitam à mesma pessoa, a
escolha é feita por um terceiro não chamado e a vontade presumida do titular
do bem jurídico é sempre decisiva”.
 “a relevância do consentimento presumido depende da verificação dos
mesmos requisitos exigidos para o consentimento “expresso”. E deve verificar-
se no momento da prática do ato, sendo irrelevante a esperança de uma
aprovação posterior.”
 “O titular bem jurídico, cujo consentimento presumido há-de justificar o
facto, deve possuir a capacidade a que se refere o nº3 do art.38º do código. Se
a não tiver deve ter-se em conta a vontade presumida do seu representante
legal”.

Conflito de deveres
Art.36º CP
 “existe conflito de deveres sempre que o agente seja confrontado com a
concorrência de deveres jurídicos ou ordens legitimas da autoridade e se lhe
põe a opção de escolher, de entre eles, aquele ou aqueles que deve sacrificar
em detrimento dos demais”.
No caso do cumprimento do dever, o dever ou ordem sacrificada deve ter valor
igual ou inferior ao do dever cumprido, para além de a ordem não poderem
constituir um crime.
Causalidade
Tem de existe um nexo de causalidade entre a conduta e o resultado. Isto é,
tem de haver uma ligação entre o comportamento (que se está a avaliar a
criminalidade) e o seu resultado.
 Princípio da causalidade adequada – “segundo a qual a causa de um
determinado evento é a que for mais adequada ou idónea para o produzir”
Ligação de uma ação/omissão a um resultado:
“omissão é ação, e desde que o resultado se adeque à conduta (seja ela
comissiva ou omissiva) uma e outra têm a mesma relevância em direito penal.”
Ex: Se eu roubo uma carteira à joana ela fica sem dinheiro, há uma ligação
causal entre o meu comportamento e o facto dela ter ficado sem o dinheiro.
No entanto, se ela atravessa a rua sem ver um carro para correr atras de mim
e é atropelada n há ligação causal por não é um resultado que se adequa (não
é culpa minha ela ter sido atropelada).
→ “Essa adequação terá que ser determinada pelo julgador segundo um juízo
ex ante ou de prognose póstuma, referido ao momento em que uma ação se
realiza, como se a produção o resultado se não tivesse ainda verificado”
(pensar o que no momento da ação era previsível acontecer).

Culpabilidade
“Para haver responsabilização jurídico-penal do agente não basta a realização
por este de um tipo-de-ilícito (facto humano correspondente ao tipo ou modelo
legal e antijurídico), sendo ainda necessário que aquela realização lhe possa
ser censurada em razão de culpa.”
“segundo o princípio da culpa, «não há pena sem culpa e a culpa decide da
medida da pena»”
Logo:
 O agente tem de ter culpa
 Entre a vontade do agente e a sua conduta tem de existir uma relação
 Ligação de um resultado à vontade de alguém

Dolo e Negligência
Art.13º CP
“Para que exista culpabilidade do agente no cometimento e um facto é
necessário que o mesmo lhe possa ser imputado a titulo de dolo (art.14º CP)
ou de negligência (art.º15 CP), como claramente resulta do estatuído no
art.13º CP”
 O dolo: “consiste no «propósito de praticar o facto descrito na lei penal»”
art.14º CP
Elementos essenciais do dolo:
 Elemento intelectual ou cognoscitivo: “conhecimento material dos
elementos e circunstâncias do tipo legal do crime em causa, bem como do seu
sentido e alcance”
 Elemento emocional ou volitivo: relaciona-se com a vontade, podendo dar
lugar a tipos de dolo diferentes, são eles: tem a ver com a vontade e pode dar
lugar a diferentes tipos de dolo:
o O dolo direto: “em que o agente tem como fim, como intenção, a realização
do facto criminoso, isto é, quer, deseja, o resultado da sua conduta”
o Dolo necessário: “em que o agente, tendo porventura outro fim diferente,
prevê o facto criminoso como consequência necessária da sua conduta e, no
entanto, não se abstém da sua prática”.
o Dolo eventual: “em que o agente, ao atuar, se conforma com a possível
realização do facto criminoso como consequência da sua conduta. Isto é, o
agente não quer diretamente o resultado da ação, mas assume o risco de
produzi-lo”
Para que exista dolo eventual, é necessário que a violação do bem jurídico em
causa faça previamente parte das previsões do agente. “O dolo eventual só
será afastado se ele, ao agir, confiou na não produção desse resultado, caso
em que se configurará apenas a negligência consciente”
A negligência
art.15 CP
Só se tem a negligencia em casos expressamente previstos pela lei.
Exemplos: crimes negligentes:
art.137º, 148º, 228º, 351º.
Negligência punível: art.272º, 277º, 281º, 291º CP
A negligência tem dois sentido que podem ser tidos em conta:
 Negligência consciente: “quando o agente previu o resultado da conduta,
mas confiou em que ele não teria lugar ou se mostrou indiferente a sua
produção”, isto é, o agente sabia o que podia acontecer mas acredita que não
vai
Ex: Joaquim sabe como usar uma arma porque desde pequeno que caça com
o pai. Ao passear no parque vê Laura, a ex namorada com o seu pior inimigo
João, como vinha de caçar, tinha uma arma com ele e decidiu que ia matar
Joao.
Do sitio onde estava sabia que era um risco e poderia matar Laura sem querer
mas, tendo em conta a sua habilidade pensa que isso não ocorrerá e atira
sobre joao e acaba por matar Laura.
 Negligência inconsciente: o agente não prevê o resultado
Ex: disparo uma arma sem querer.

Condições de Imputação
Para que determinado facto possa ser imputado ao seu auto existe duas
condições necessárias e indispensáveis:
 Liberdade de decisão: “ implica que o agente seja responsabilizado por ter
preferido a prática do facto ao controle dos seus impulsos criminais”.
→Inimputabilidade em função de idade- art.19 CP-menores de 16 anos
→Inimputabilidade por anomalia psíquica: “é inimputável quem sofrer de
qualquer transtorno mental ou intelectual, isto é, qualquer alteração ou mau
funcionamento das faculdades psíquicas ou da inteligência que «impeçam o
agente de compreender o caracter ilícito do facto ou de se conduzir de acordo
com essa compreensão».” Art.20º CP

 Decisão correta: “o que pressupõe que à liberdade de querer ande associada


a capacidade para os valores, uma vez que sem ela as decisões humanas não
poderão ser determinadas por normas de dever.”
▪ Erro sobre as circunstâncias de facto: o agente precisa de conhecer todas as
circunstâncias é “do facto que pertencem ao tipo legal, para que a sua atuação
se deve considerar dolosa”. Art.16º CP

Ex: “um caçador vai à caça de coelhos, e sem querer matou uma pessoa
porque ele pensava que era um coelho” - erro sobre elemento do facto -> tinha
intenção de matar um coelho e não uma pessoa
▪ Erro sobre a ilicitude: “é necessário o conhecimento ou consciência do
caracter ilícito, imoral ou antissocial da conduta assumida pelo agente”
art.17º CP
Nota (erro de ilicitude): Têm que ser analisados vários parâmetros para
atestar se é ou não censurável, já que esta situação só é possível para
situações muito técnicas.
Causas de exclusão da Culpa
Inexigibilidade de conduta diversa:
Razões muito específicas que afastam a culpa pelo facto de que naquela
mesma situação qualquer pessoa faria o mesmo -> não era exigível que fizesse
outra coisa.
Por excesso de legitima defesa- art.33º, nº2 CP:
O excesso de legítima defesa afasta a culpa ainda que seja diversa da legítima
defesa que afasta a ilicitude.
 “Não é qualquer perturbação, medo ou susto que é suscetível de afastar a
punição em caso de excesso de legitima defesa. Só assim sucederá quando os
mesmos não forem censuráveis. Há, pois, que os relacioná-los sempre com a
falta de culpa no excesso, que torna o facto não censurável pela via da não
exigibilidade, já que sem culpa não há punição criminal”.
Nº1 do artigo: existe uma clara desproporção entre o peigo e o meio por mim
utilizado para o afastar.
O nº2 é o que tratamos aqui.
Estado de necessidade desculpante art.35º CP:
“Aqui a culpa é excluída porque o agente pratica um facto ilícito, mas que é
considerado indispensável para afastar um perigo atual, e não removível de
outro modo, que ameaça a vida, a integridade física, a honra ou a liberdade do
agente ou de terceiro e não for razoável exigir-lhe, no caso concreto, outro
comportamento.”
O estado de necessidade que afasta a ilicitude e o Estado de necessidade
desculpante distinguem se pelo facto de que o estado de necessidade
desculpante se aplica quando o interesse violado é de valor superior ao que se
pretende proteger. Pelo contrário, se a violação for de um interesse de valor
menos ao que se está a proteger, aplica-se o estado de necessidade (que afasta
a ilicitude).
Por outro lado, podemos dizer que no estado de necessidade, apenas estão em
causa interesses como a hora, a liberdade ou a vida humana, não se tendo em
conta valores patrimoniais, estes últimos, dizem respeito ao estado de
necessidade (que afasta a ilicitude).
Obediência indevida desculpante art.37º CP:
“Nesta situação a culpa é excluída com fundamento numa ordem emana de
legitimo superior hierárquico “
“O facto praticado pelo subordinado à sombra da ordem que traduz um crime
será sempre censurável. Esta regra, contudo, não é absoluta. Assim, se o
subordinado não sabe que a ordem conduz à prática de um crime, a sua culpa
será excluída se não tiver sido evidente, no quadro das circunstâncias por si
representadas, que apreendeu que o cumprimento dessa ordem teria tal
consequência”

Punição
As penas podem ser:
 Penas principais
 Penas acessórias “É uma pena aplicada, em simultâneo e pressupondo a
aplicação de uma pena principal, visando proteger determinados interesses
colocados em perigo com a prática do crime (p. ex., proibição de conduzir, nos
caos de condução sob influência do álcool).” – procuradoria geral distrital do
porto.
Pressupostos da punição:
Quanto aos pressupostos da punição importa referir que podem ser positivos,
quando nos referimos à queixa e acusação particular, ou negativos, quando
nos referimos ao direito de graça/clemência e à prescrição.

A legitimidade para abrir processos reside no Ministério Publico, segundo o


art.48 cpp , assim, é necessário que este seja notificado do crime -> cabe ao
ministério publico, após de receber a notificação, analisá-la e verificar se será
ou não aberto o processo crime
iii) Formas de crime;

CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE CRIME

Quanto ao agente

Pode-se classificar a tipicidade em crimes gerais ou comuns, e crimes específicos ou próprios,


podendo estes ainda ser: crimes específicos em sentido próprio e em sentido impróprio.

Os crimes gerais ou comuns são aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa, ou
seja, qualquer pessoa pode ser agente ou autor do crime tipificado.
São portanto crimes que não postulam de determinadas qualidades, naturalísticas ou não, na
pessoa do agente.

Os crimes específicos ou próprios são aqueles em que os agentes são qualificados por um
qualquer dever jurídicos, ou por uma qualquer situação juridicamente definida.

São aqueles que pressupõem como autores dos crimes apenas as pessoas que têm uma
qualidade exigida pelo próprio tipo.

Dizem-se crimes específicos em sentido próprio quando para além de só poder ser agente ou
autor da incriminação aquela pessoa que tenha as características exigidas pelo próprio tipo,
não existe na lei penal nenhuma tipificação correspondente para o comum das pessoas.

É um crime que só pode ser praticado por aquelas pessoas e mais nenhumas. Não existe
responsabilidade jurídico-penal paralela para quem não tenha essas qualidades pressupostas
pelo tipo na pessoa do seu agente.

Os crimes específicos em sentido impróprio são aqueles que exigindo embora essas qualidades
específicas do agente, têm paralelo para o comum das pessoas em termos de
responsabilização jurídico-penal.

Ainda quanto ao agente, há uma outra classificação que distingue entre: crimes
plurisubjectivos, também chamados de participação necessária e, crimes unisubjectivos ou
unisingulares.

Os crimes plurisubjectivos ou de participação necessária são aqueles em que o tipo


incriminador exige o envolvimento, exige mais do que um agente para integrar o tipo.

Estes tipos, para estarem preenchidos quanto à pessoa do agente, pressupõem um


envolvimento plural.

Os crimes unisubjectivos ou unisingulares que podem ser praticados por um único agente. São
a maior parte deles: o crime de furto, roubo, homicídio etc., podem ser praticados única e
exclusivamente com a colaboração, ou o consenso de uma só pessoa, de um só autor.

Klaus Roxin fala nos chamados crimes de violação de dever. São crimes que são definidos
através de um dever jurídico, não tanto pelo desenvolvimento de qualquer actividade, mas
essencialmente pela titularidade de um dever jurídico.

Klaus Roxin propõe uma sistemática bipartida da teoria do facto punível. Essa teoria bipartida
devia assentar:

- Por um lado, nos crimes que consistem em levar a cabo uma determinada actividade;

- Por outro lado, os crimes que violam deveres jurídicos, normalmente deveres jurídicos de
natureza profissional ou deveres jurídicos funcionais a que uma determinada pessoa está
adstrita.

Princípio da responsabilidade singular ou princípio da responsabilidade individual

Salvo quando a lei expressamente o disser, apenas as pessoas singulares são susceptíveis de
responsabilidade jurídico-criminal.
Portanto, só existe responsabilidade jurídico-penal das pessoas colectivas quando a lei
expressamente o determinar. É o que preceitua o art. 11º CP.

Fundamentalmente tem-se acentuado o carácter pessoal da responsabilidade criminal com


base em duas ideias:

Por um lado, Füerbach vem dizer que as pessoas colectivas são incapazes de agir. E isto porque
as pessoas colectivas estão dominadas e só têm capacidade de para agir de harmonia com a
especificidade do fim.

Neste sentido, as pessoas colectivas não podem agir como as pessoas singulares. Se o fim das
pessoas colectivas tem de ser um fim legítimo, então elas só têm capacidade de agir
legitimamente, porque senão eram nulas por contrariedade à lei, à ordem pública e aos bons
costumes.

Por outro lado, Savigny tem afirmado também a ideia de que não existe responsabilidade
penal das pessoas colectivas, acentuando já não a ideia de incapacidade de agir, mas
acentuando a ideia da incapacidade de culpa.

A culpa é um juízo individualizado de censura feita pela ordem jurídica e que se dirige a uma
pessoa pela prática de um facto ilícito. E naquilo que no juízo de censura se reprova ao agente
é precisamente o facto dessa pessoa, tendo capacidade e possibilidade de se decidir de forma
diferente, de se decidir pelo direito, ter-se decidido pelo torto, ter-se decidido pelo ilícito.

Neste sentido, uma vez que as pessoas colectivas não têm uma vontade própria real, têm só
uma vontade fictícia. Daí a insusceptibilidade de culpabilizar as pessoas colectivas.

Crimes e função do resultado

Os crimes formais ou de mera actividade, não são só crimes de mera actividade. Crimes
formais são também omissões puras; enquanto crimes de resultado ou crimes materiais são
também omissões impuras.

Os crimes por acção em cuja tipicidade e cuja conduta típica está descrita efectivamente em
termos de acção. Acção que, a ser efectuada pelo agente, viola uma proibição ou um comando
legal.

Existe responsabilidade por acção quando o agente pratica actos que são subsumíveis às
condutas descritas nos tipos legais em termos de acção.

Mas também existe responsabilidade por omissão.

As omissões podem ser de duas ordens. Pode-se classificar ou distinguir as chamadas omissões
puras das omissões impuras, também designadas por alguns autores de omissões próprias e
omissões impróprias, respectivamente.

Dentro das omissões puras, tem-se a responsabilidade jurídico-penal do agente, na porque ele
tenha actuado, mas precisamente porque omitiu uma conduta que lhe era exigível por lei.
Nos caos de omissões puras o agente incorre em responsabilidade jurídico-penal por ter
violado uma norma preceptiva, uma norma que impõe a adopção de uma determinada
conduta que é omitida, ou não tem lugar.

No âmbito das omissões impuras tem-se uma situação diferente. Aqui o agente é
responsabilizado por um determinado resultado que tem lugar não por sua acção, não porque
ele tenha directamente adoptado uma conduta típica descrita na lei, mas precisamente
porque dá origem a um resultado por uma inactividade sua, violando desta forma uma norma
ou um preceito de natureza proibitiva.

Na omissão imprópria o agente é responsabilizado por um crime, porque sobre ele impendia
um dever jurídico que pessoalmente o obrigava a evitar a produção do resultado. E este dever
jurídico que impende sobre o agente e que pessoalmente o obriga a evitar a produção do
resultado lesivo, ou típico, pode resultar principalmente de três fontes:

- Directamente da lei;

- Indirectamente da lei ou do contrato;

- De situações de ingerência.

Nas omissões impuras o agente dá origem a um determinado resultado através da sua


passividade; por tanto, existe aqui assim a violação de uma norma proibitiva mediante um
comportamento omissivo.

Mas por força do art. 10º CP, que equipara a acção à omissão, e onde se encontra a base legal
da construção das omissões impuras é necessário, para responsabilizar alguém por uma
omissão impura, que sobre essa pessoa recaísse o dever jurídico, oriundo de qualquer destas
fontes que pessoalmente o obrigasse a evitar a produção do resultado lesivo.

Portanto, pode-se dizer que:

- Os crimes de omissão pura são os que consistem directamente, pelo próprio tipo legal, na
violação de um comando;

- Enquanto que os crimes de omissão impura não consistem já na violação directa de um


comando legal, mas sim no levar a cabo, por remissão, um resultado previsto num tipo que
está desenhado em termos de acção.

Pode-se ver então que os crimes materiais ou crimes de resultado são também as omissões
impuras, mas crimes formais ou de mera actividade são também omissões puras.

Os crimes de resultado são aqueles em que espaço-temporalmente se podem destacar ou


distinguir algo de diferenciado da conduta, que é o resultado típico. Os crimes de resultado, ou
materiais (omissões impuras), são aqueles que, segundo o tipo desenhado na lei, pressupõe a
verificação de um certo resultado para se poder dizer que se consumou esse crime.

Os crimes de mera actividade também ditos formais (omissões puras) são aqueles em que a
mera conduta típica consuma imediatamente o crime.
Importância dogmática e prática da distinção crimes de resultado e crimes de mera
actividade.

Tem importância prática desde logo para efeitos de início da prescrição do procedimento
criminal.

Os arts. 117º e 118º CP dizem a partir de que momento é que se começa a contar o praz de
prescrição do procedimento criminal, e não maior parte dos casos é a partir da consumação.

- Enquanto o crime de mera actividade está consumado no momento em que o agente actua;

- Nos crimes de resultado o facto só está consumado quando o resultado típico se verifica; e
entre o momento em que o agente actuou e o momento em que o resultado típico se
produziu, pode decorrer um espaço de tempo mais ou menos longo.

Por outro lado, esta distinção é também importante para efeitos de possibilidade ou não
possibilidade de responsabilidade criminal por facto tentado.

A tentativa, tal como está tipificada no art. 22º CP, consiste na prática de actos de execução de
um crime que o agente decidiu cometer, sem que o resultado típico se chegue a verificar.

Portanto, está construída para os chamados crimes materiais ou de resultado. A tentativa só se


distingue da consumação precisamente pela não verificação de um elemento que é o resultado
típico.

A tentativa tem três elementos:

1) A prática de actos de execução, elemento positivo e objectivo;

2) A decisão do cometimento de um crime, elemento positivo e subjectivo;

3) A não verificação do resultado típico, elemento negativo e objectivo.

É concebível nos crimes de resultado, falar em tentativa, porque são concebíveis actos de
execução com a intenção criminosa do cometimento de um facto mas em que, por um outro
motivo estranho à vontade do agente, o resultado pretendido pelo agente não se tenha
verificado.

Tipo em função do objecto

Distingue os chamados crimes de perigo e os crimes de dano ou lesão.

Nos crimes de perigo a descrição típica não exige a lesão efectiva dos bens jurídicos tutelados
pela incriminação, mas tão só a colocação em perigo, tão só a ameaça de lesão desse bem ou
bens jurídicos tutelados pela norma.
Pelo contrário, nos crimes de lesão, exige-se um dano ou uma lesão efectiva no bem ou bens
jurídicos tutelados pela norma. E fala em bem ou bens jurídicos tutelados pela norma porque
há tipos legais de crimes que tutelam mais do que um bem jurídico. São os chamados crimes
pluridimensionais. Os crimes de lesão são desde logo entre outros:

- O crime do art. 131º CP: uma vez ocorrida a morte, há uma lesão do bem jurídico vida;

- O crime de ofensas corporais (ainda que um pouco controvertidamente) do art. 142º CP;

- O crime de burla, previsto no art. 313º CP, etc.

Os crimes de perigo podem distinguir-se em:

- Perigo concreto;

- Perigo abstracto;

- Perigo abstracto-concreto.

Nos chamados crimes de perigo concreto, o legislador tipifica o próprio perigo pela descrição
de uma conduta perigosa, da qual se autonomiza o resultado típico, resultado que é o próprio
perigo para o bem ou bens jurídicos tutelados pela incriminação. Donde, os crimes de perigo
concreto, uma vez que têm autonomizado o resultado da conduta perigosa descrita pelo
legislador, que é o próprio perigo, são crimes de resultado.

E os crimes de perigo concreto, quanto ao seu elemento subjectivo, postulam um dolo especial
ou específico, que é o chamado dolo de perigo.

Quanto aos crimes de perigo abstracto pelo legislador, que


__________________________________________________ aqui o legislador parte da
presunção de que aquela conduta descrita é uma conduta perigosa. E perigosa por referência
ao mais variado leque de bens jurídicos.

Nos crimes de perigo abstracto o legislador contenta-se com a presunção que tem de aquele
comportamento, aquela actividade, é uma actividade que pode pôr em perigo, pode ameaçar
de lesão, vários bens jurídicos, sem tão pouco ter a preocupação de se lhe referir
expressamente.

Neste tipo de crime, já não é preciso que se autonomize nenhum resultado típico que seja o
próprio perigo, porque a lei contenta-se com a descrição da conduta que tem como perigosa.

Quanto aos crimes de perigo abstracto-concreto:

É esta uma classificação intermédia entre os crimes de perigo abstracto e os crimes de perigo
concreto, em que se pode dizer que o legislador é menos exigente do que em relação aos
crimes de perigo concreto, mas mais exigente do que em relação aos crimes de perigo
abstracto.
É menos do que nos crimes de perigo concreto porque o legislador descreve no tipo a própria
conduta que considera perigosa, sem necessidade de autonomizar o resultado perigoso, tal
como acontece no âmbito dos crimes de perigo concreto, e que é o próprio perigo.

Crimes de mão própria

Estes crimes são aqueles que alguns autores consideram que só podem ser cometidos pelo
próprio agente da infracção, pelo próprio agente material do crime, não admitindo outra
forma de autoria, desde logo autoria mediata.

A autoria mediata é uma das formas de autoria tipificada no art. 26º CP.

Outra situação típica de autoria mediata é o caso da coacção, em que alguém coage outrem à
prática de um determinado facto.

Não se pode confundir estes crimes de mão própria com os crimes específicos ou próprios:

- Nos crimes específicos ou próprios exige-se uma especial qualidade do agente;

- Os crimes de mão própria são crimes que podem ser praticados por qualquer agente.

Crimes simples e crimes pluri-ofensivos[26]

a) Crimes simples

São aqueles em que é violado, por lesão ou ameaça de lesão[27] um determinado bem
jurídico.

b) Crimes pluri-ofensivos, pluridimensionais ou crimes compostos

São aqueles em que são violados, por lesão ou ameaça de lesão, vários bens jurídicos.

Qualquer um destes tipos está inserido na parte especial do Código Penal, num determinado
capítulo. Com a adopção das condutas típicas proibidas por estes tipos o agente lesa vários
bens jurídicos.

Crimes agravados pelo resultado e crimes praeter intencionais

Os crimes praeter intencionais têm uma estrutura mista, são um misto de um resultado a título
doloso. O nexo de imputação dá origem a segundo resultado imputado ao agente a título de
negligência.

Diz-se que nos crimes praeter intencionais há uma estrutura mista: misto de dolo e
negligência, ligados por um nexo de imputação objectiva[28].

Os crimes agravados pelo resultado, é uma espécie desta figura da praeter intencionalidade,
mas abrange um conceito mais amplo.
E mais amplo, porque não supõe que o crime básico, que o primeiro resultado, seja sempre
doloso; por hipótese, um resultado negligentemente provocado pode dar origem a um
resultado mais grave, negligentemente ocorrido.

Crimes simples ou básicos; crimes qualificados; crimes privilegiados

Os crimes qualificados e os crimes privilegiados distinguem-se dos crimes básicos ou simples


pelas suas variações agravadas, designando-se então crimes qualificados, e pelas suas
variações privilegiadas, designando-se então crimes privilegiados.

O crimes básico ou crime simples é aquele que descreve os elementos fundamentais de uma
certa forma de violação de bem jurídico tutelado pela incriminação, descrição essa a partir da
qual outros tipos fazem inserir determinadas variações ou variantes, no sentido de impôs
fazem inserir determinadas variaçmais grave, negligentemente
ocorrido.___________________r uma agravação ou uma atenuação de pena.

- Se essas variantes se traduzirem numa agravação da pena, tem-se os crimes qualificados;

- Se se traduzirem numa atenuação, tem-se os crimes privilegiados.

Repara-se que esta classificação é também importante desde logo porque quando estão em
causa tipos básicos, tipos qualificados e tipos privilegiados, normalmente entre eles pode estar
em causa uma relação consensual, uma relação de concurso aparente, legal ou de normas,
neste caso numa relação de especialidade.

Crimes de intenção ou crimes de resultado parcial

Estes tipos de crime são aqueles em que a tipicidade é descrita em função de uma especial
intenção ou tendência, sem a qual o tipo não está preenchido.

Mas, para a consumação do tipo, curiosamente, não se exige que o resultado dessas intenções,
ou dessas tendências se verifique.

Quem chamou a atenção para que os tipos por vezes pressupunham determinados elementos
subjectivos específicos e refiram as especiais intenções, foram os Neo-clássicos:

- O tipo de furto, para além de ser um tipo doloso, postula também para além do dolo (em
sede de tipicidade), um elemento subjectivo específico que é a especial intenção de
aprovação;

- O crime de burla (art. 313º CP) pressupõe uma intenção de enriquecimento;

- O crime de envenenamento (art. 146º CP) postula uma intenção de lesar a saúde física, ou
psíquica de outra pessoa;

- O tipo legal do art. 235º CP tem uma especial intenção: intenção de causar prejuízos ao
Estado ou a terceiros.
Significa pois que a tipicidade aqui é descrita em função desta especial tendência ou intenção.
Se não se verificar esse elemento subjectivo específico, o tipo não está preenchido.

Crimes instantâneos, crimes de Estado e crimes duradouros

Estas distinções têm reflexos práticos importantes, nomeadamente para contagem dos prazos
de prescrição do procedimento criminal, para a determinação do momento da prática do
facto, para a matéria da comparticipação e desistência, entre outras.

Crimes instantâneos são aqueles em que o agente com o seu comportamento dá origem a uma
situação de ilicitude que ocorre e se esgota com a produção desse comportamento.

Nos crimes duradouros o agente com o seu comportamento dá origem também a uma
situação de ilicitude, situação essa que fica privada em relação à coisa de que é proprietário
das suas faculdades de uso, gozo e fruição. Mas esse estado lesivo dura enquanto pelo menos
a pessoa que furtou não devolveu o objecto furtado a quem de direito.

E então como é que estes crimes que são ditos de Estado se distinguem dos crimes
instantâneos?

Nos crimes instantâneos, efectivamente, detecta-se um momento preciso em que corre e se


esgota o estado lesivo, mas em que não há possibilidade de recomposição do estado lesivo.

Como é que se distinguem, por sua vez, os crimes de estado dos crimes duradouros?

Nos crimes duradouros de que é exemplo o sequestro há efectivamente, para efeitos de


consumação formal do crime, a determinação do momento em que o agente com o seu
comportamento dá origem a uma situação de ilicitude, situação de ilicitude que é mantida no
tempo pela própria vontade do agente; e o agente, através de um comportamento seu, pode
fazer cessar esse estado ilícito de coisas.

Mas nos crimes duradouros há um estado decrescente de ilicitude progressiva.

Conclusão:

- Nos crimes instantâneos não se verifica um estado lesivo que possa ser removido;

- Enquanto nos crimes de estado já há a possibilidade de remover o estado lesivo;

- Nos crimes duradouros, havendo também a possibilidade de remoção do estado lesivo tem-
se que, contrariamente aos crimes de estado, existem graus crescentes de ilicitude, ou uma
ilicitude progressiva, o que não acontece nos crimes de estado em que o grau de ilicitude é
sempre o mesmo.

Uma outra distinção que é necessária fazer é aquela que estabelece a diferença entre actos
preparatórios:
- De tentativa;

- E de consumação.

Em primeiro lugar, tem-se que atender a dois conceitos de consumação. Por um lado fala-se
em consumação formal e essa consumação formal pressupõe o preenchimento de todos os
elementos do tipo incriminatório.

Por outro lado, fala-se num conceito de consumação material que tem a ver com a lesão
efectiva do bem jurídico tutelado pela norma jurídico-penal.

Nos crimes materiais ou de resultado só há uma consumação pelo menos formal, quando o
resultado típico se tenha produzido. Enquanto que nos crimes de mera actividade, ou nos
crimes formais, como não há um resultado que se tenha que distinguir ou autonomizar da
conduta do agente, o tipo está consumado formalmente quando se verifica a actuação ou a
conduta típica do agente.

Mas por vezes, tem-se de distinguir a responsabilidade penal do agente não por facto
consumado, mas por actos preparatórios ou por factos tentados.

Quanto aos actos preparatórios eles são uma fase do “inter criminis”, em que normalmente é
possível cindir e destacar várias etapas na evolução do cometimento do crime:

- Há normalmente a pessoa que tem uma intenção criminosa[29];

- Depois a pessoa passa efectivamente a procurar esse plano, que mentalmente concebeu e
prática para efeito determinados actos que são preparatórios à execução;

- Passa depois aos actos de execução;

- E finalmente, quando acaba os actos de execução, está perante a consumação.

Os actos preparatórios regra geral e por força do disposto no art. 21º CP, os actos
preparatórios não são punidos.

Só existe punição por actos preparatórios quando a lei expressamente o disser; ou então o
próprio legislador tipifica como crime autónomo actos que são actos de preparação.

Mas a regra geral é a da impunidade dos actos preparatórios e isto porque:

Em primeiro lugar, porque se tem no Código Penal um pendor objectivista da tentativa. O


nosso direito é um Direito Penal de factos exteriorizados; e o nosso legislador não valora da
mesma maneira a intenção e a execução dessa intenção diferentemente.

A punibilidade da tentativa é muito menor do que a punibilidade por facto consumado, pois de
harmonia com o que preceitua o art. 23º CP:
- Em primeiro lugar a tentativa só é punida se ao crime consumado respectivo corresponder
pena superior a três anos de prisão, a não ser que a lei expressamente diga que a tentativa é
punível.

- Por outro lado, sendo ainda punível a tentativa, a pena é especialmente atenuada.

Só há tentativa, nos termos do art. 22º CP quando o agente passa dos actos preparatórios para
os actos de execução. Então a tentativa é virtualmente punível. Mas para isso o agente tem de
empreender já actos de execução, tem de ter a decisão criminosa; e é preciso o resultado
típico não se produzir.

Por isso, pode-se assentar que os elementos da tipicidade do facto tentado sejam três:

1) Actos de execução (art. 22º/2 CP), elemento positivo e objectivo;

2) De um crime que o agente decidiu cometer (tem de haver a intenção do cometimento do


crime), elemento positivo e subjectivo;

3) A não produção do resultado típico, elemento negativo e objectivo.

Em Direito Penal não existem tentativas negligentes, as tentativas são sempre dolosas.

Encontra-se por referência ao disposto no art. 23º CP, as tentativas impossíveis que também,
nalguns casos, não são puníveis.

Nomeadamente não é punível a tentativa impossível por referência ao meio empregue se


revelar um meio manifestamente inadequado à produção do resultado lesivo.

Essa tentativa, quando existe numa manifesta inaptidão do meio empregue com vista à
produção do resultado pretendido, é uma tentativa não punida.

Embora seja necessário o elemento subjectivo – o dolo – para a construção da figura da


tentativa, não se valora da mesma maneira a intenção quando há consumação e a intenção
havendo tão só tentativa.

Também a distinção entre tentativa e consumação é importante para efeitos de


comparticipação.

As várias formas de comparticipação criminosa só são possíveis a partir do momento em que


existem actos de execução por parte de um dos agentes ou intervenientes[30]. Antes disso,
não há comparticipação criminosa.

Comparticipação criminosa – envolvimento plural de vários agentes, sendo eles autores ou


participantes – só existe efectivamente a partir do momento em que o agente/autor tenha
praticado pelo menos um acto de execução dos previstos nas várias alíneas do art. 22º CP.

A distinção entre tentativa e consumação é também importante para efeitos de desistência


(art. 24º CP).
Regra geral, só é possível desistir enquanto não há consumação, pelo menos enquanto não há
consumação material.

A tentativa é uma figura que está especialmente concebida para os crimes materiais ou de
resultado. Como a tentativa pressupõe um elemento negativo que é a não produção do
resultado típico está concebida para os crimes de resultado.

Crimes uniexecutivos e crimes pluriexecutivos

Nos crimes formais, de que são exemplo os crimes de mera actividade ou as omissões puras,
há quem distinga e fale em:

- Crimes formais uniexecutivos - Nos crimes uniexecutivos já não é possível nem pensável uma
fragmentação de actos antes da consumação.

- Crimes formais pluriexecutivos - Os crimes pluriexecutivos têm uma descrição típica que
pressupõe um fraccionamento da actuação ou do comportamento ilícito; ou em que
ontologicamente se pode retirar essa conclusão.

A classificação dos crimes pluriexecutivos, dentro dos crimes formais, vem permitir duas
coisas:

1) Por um lado, vem permitir considerar-se que também é possível falar de tentativa nos
crimes formais que sejam pluriexecutivos;

2) Por outro lado, ainda, nestes crimes formais, que estão preenchidos com a mera conduta do
agente e que não exigem a verificação de um resultado ontologicamente diferenciado da
conduta, vem permitir que nos crimes formais pluriexecutivos se possa falar por exemplo em
desistência.

Nos termos do art. 18º CP, a imputação de um resultado ao agente há-de fazer-se sempre com
base numa culpa, quando mais não haja a título de negligência. Não há responsabilidade
objectiva em Direito Penal – consagra-se no art. 18º CP o princípio da responsabilidade
subjectiva ou com culpa.

[26] Também designados crimes compostos ou crimes dimensionais.

[27] Por lesar ou colocar em perigo.

[28] Repare-se que em Direito Penal – e é um princípio de Direito Penal que o distingue do
Direito Civil – não há responsabilidade objectiva.

[29] Que pode não exteriorizar, mas que está em plano.

[30] Actos de execução daqueles que se encontram previstos nas várias alíneas do art. 22º CP.

iv) Queixa e acusação particular;

Crimes públicos, semipúblicos e particulares


A classificação dos crimes está ligada ao direito substantivo, na medida em que é o direito
substantivo que classifica os crimes como públicos, semipúblicos ou privados.

Apesar de a classificação ser feita no Código Penal, as maiores consequências desta


classificação são processuais.

O regime traduz-se então no condicionamento do Ministério Público na participação do


processo. Assim:

• Crime Público: O Ministério Público tem uma maior margem de participação. Tem liberdade
de promoção do processo e o dever de o impulsionar. Não está condicionado pelos impulsos
dos particulares.

• Crime Semipúblico: O Ministério Público tem legitimidade condicionada.

• Crime particular: O Ministério Público está muito condicionado, cabendo a legitimidade de


promover o processo aos particulares. Figuras com repercussão processual, mas exteriores ao
facto material

Há uma lógica reflexa na relação dos poderes do Ministério Público e do Ofendido. Quanto
maior for o poder do particular, maior o condicionamento do Ministério Público.

Bases legais do regime:

As bases legais destes regimes estão distribuídas pelo Código Penal e pelo Código de Processo
Penal.

Por exemplo, o Código Penal contém já parte do regime da queixa nos artigos 113º e ss.,
aplicável também à acusação particular (artigo 117º). Parte substancial deste regime encontra-
se logo regulado no CP. Por outro lado, é também no CP que se procede à classificação dos
crimes como Públicos, Semipúblicos ou Particulares.

Concretamente, no Código de Processo Penal, temos uma série de normas de caráter


processual (artigos 48º-52º, 68º, 246º, 285º CPP).

Nem sempre foi desta forma. As reformas dos anos 80 levaram a uma mudança de inserção
sistemática do regime da queixa, por exemplo, passando para o Código Penal uma parte deste
regime, como a legitimidade para queixa que ates constava do CPP.

Isto ocorreu essencialmente devido a duas razões:

• O regime da queixa, sendo processual para uma parte da doutrina, está muito associado à
classificação de crimes, pelo que não está de todo errado que sendo o Código Penal a
classificar os crimes, seja também ele a estabelecer o regime de quem tem legitimidade para
apresentar queixa. Há aqui uma certa congruência.

• O legislador, quando levou a cabo as reformas dos anos 80 não as fez simultaneamente: não
alterou o CP o CPP e a legislação avulsa tudo ao mesmo tempo. Em 82 publicou o Código
Penal, em 84 um conjunto de legislação avulsa em 87 o Código de Processo Penal. Assim, em
82 o legislador apresentava o Código Penal com um catálogo de crimes diferentes e com uma
determinada classificação processual, em relação à qual se nada se dissesse, era aplicável o
CPP da altura (ainda não atualizado – só viria a ser em 87). Assim, para não haverem dúvidas, o
legislador adiantou aparte da queixa no Código Penal.
Saber se a legitimidade para apresentar uma queixa é uma questão processual ou substantiva
depende da estrutura dogmática.

Para o professor é processual porque não é por estas matérias estarem no CP que passam a ter
uma natureza substantiva ou mista. São de natureza processual porque contemplam atos de
carater processual já que tem a ver com factos exteriores ao facto tipicamente ilícito. Ou seja,
são elementos exteriores ao ilícitos que não têm com ele ligação que definem a natureza
processual.

Fundamentos da classificação legal dos crimes

Existem essencialmente dois fundamentos para a inserção dos tipos nas diversas
modalidades: • Gravidade: consoante a gravidade, o legislador deixa à consideração do
ofendido ou não a necessidade de tutela. A tendência será que os crimes de menor gravidade
sejam particulares, havendo margem para o não exercício da tutela, já que esta dependerá da
queixa do ofendido. Em contrapartida, quanto maior a gravidade, maior a tendência para que
se trate de um crime público, na medida em que o Ministério Público será sempre obrigado a
atuar e haverá sempre tutela pois não há margem para os particulares decidirem se vai ou não
haver acusação.

• Proteção da vítima: o legislador considera semipúblicos ou particulares alguns crimes por


razões de proteção da vítima e consideração da mesma quanto aos factos que a ofenderam.

A existência de crimes públicos, semipúblicos ou particulares tem também a ver com a


natureza do bem jurídico, mas não depende completamente da mesma. Ainda assim, podemos
estabelecer por este critério algumas regras hermenêuticas:

• Quando o bem jurídico é supraindividual (crimes contra a economia, por exemplo), o


legislador trata esse crime como público. Não se poderia colocar nas mãos de uma só pessoa a
concreta decisão de processo criminal.

• O legislador admite a existência de crimes semipúblicos e particulares quanto a bens


jurídicos pessoais, quer quanto a bens jurídicos patrimoniais.

Está aqui também subjacente o principio da intervenção mínima. O legislador, em vez de punir
em qualquer caso, permite que a punição recue se a vitima não tiver interesse em sujeitar o
caso a processo penal. O fundamento legal da classificação dos crimes são opções de política
criminal em que se utiliza o processo como instrumento de politica criminal, o que permite
uma melhor concretização do principio da intervenção mínima. O legislador, em vez de
descriminalizar certos crimes, coloca-os como crimes privados, o que já condiciona a existência
de processos criminais.

Técnicas legislativas e exemplos no Código Penal

Quando o legislador faz a classificação dos crimes que técnica jurídica utiliza que nos permita
identificar a natureza processual do crime? O legislador nunca declara de forma expressa se o
crime é Público, Semipúblico ou Particular. Utiliza outro tipo de expressões que apontam para
a modalidade:

• Nos crimes semipúblicos o legislador utiliza a expressão “o inicio do procedimento criminal


depende de queixa”;
• Nos crimes particulares o legislador utiliza a expressão “o procedimento depende de
acusação particular”. Ao dizer isto o legislador diz que aquele crime depende na sua
tramitação de cários aspetos associados ao regime de acusação particular;

• Se o legislador nada disser, trata-se de um crime público.

A regra é que só existe referência expressa à necessidade de uma acusação.

Exemplo 1: Artigo 188º - contempla um regime de vários crimes contra a honra, do qual
resulta que a maior parte deles são crimes particulares. Exceciona as alíneas a) e b), em que os
crimes passam a ser semipúblicos, sendo suficiente a queixa ou a participação*.

É preciso ter cautela porque se estabelece o regime do procedimento criminal em relação a


uma categoria de crimes que se referiu em artigos anteriores. Às vezes o legislador não coloca
a expressão no próprio artigo, mas isso não quer dizer que o regime não esteja descrito noutra
norma.

*Queixa – pessoa titular do bem lesado Participação – entidade pública que conhece os factos
e transmite o conhecimento dos mesmos

Há outros elementos de técnica legislativa úteis para entender o regime dos crimes.
Normalmente o legislador utiliza dosi tipos de técnica legislativa para classificar
processualmente os crimes:

• Ou, no artigo, acrescenta um número a dizer que “o procedimento depende de acusação


particular”/”o inicio do procedimento criminal depende de queixa”;

• Ou inclui, numa outra norma, aspetos de caráter processual;

Exemplo 2: 203º - crime semipúblico. 204º - crime público. Muitas vezes, em alguns crimes,
classifica-se a forma simples como semipública e as agravadas ou qualificadas perdem essa
qualidade. O nº3 do 203º apenas está previsto para o furto simples. Os demais perdem essa
natureza.

Exemplo 2.1: No artigo 207º o que acontece é que o legislador torna crimes na sua forma
simples em particulares em determinadas situações. Mas e se a versão qualificada do crime for
cometida nas mesmas circunstâncias? Quem classifica a natureza processual dos crimes é o
legislador. O que aqui acontece é que o legislador permite que nos crimes menos graves o
crime se possa tornar particular.

Em regra o legislador converte crimes semipúblicos em particulares, mas não ao contrário.


Conclusões:

• A qualificação dos crimes não resulta do Código de Processo Penal, mas do Código Penal;

• O legislador faz, em regra, essa declaração dizendo que o processo depende de acusação ou
queixa;

• Por vezes o legislador utiliza a técnica de classificar artigo a artigo a modalidade do crime,
noutros casos utiliza uma norma para categorizar vários artigos;

Crimes Públicos: promoção oficiosa e inadmissibilidade de desistência

Se o crime for público porque o legislador nada disse, há uma promoção oficiosa do processo,
o que significa uma impossibilidade de desistência. O Ministério Público tem o dever de abrir
inquérito, a primeira fase do processo penal, nos termos do artigo 262º CPP e de promover
esse inquérito. O Ministério Público conhece determinados factos, enquadra-os perante um
tipo incriminador e em função do regime do mesmo abre inquérito se o crime for público. Isto
significa que o início do procedimento criminal não está dependente da vontade de outras
entidades, nomeadamente de particulares. Assim, sendo o crime público, o MP está obrigado a
abrir inquérito, a investigar os factos e, no final do inquérito, se tiver indícios suficientes, deve
deduzir acuação pública (artigo 283º). Para deduzir acusação depois do inquérito, o Ministério
Público tem de fazer uma avaliação da prova que tem e do tipo incriminador em causa. Como a
promoção oficiosa é obrigatória, não há possibilidade de desistência ou renúncia. O Ministério
Público não pode retirar a acusação dos crimes públicos nem renunciar à acusação. As únicas
coisas que pode fazer é, não sendo a prova suficiente, não acusar, arquivando o inquérito; ou
pedir a absolvição. A impossibilidade de desistência é uma garantia para os visados pelo
processo que desta forma não ficarão numa situação nova.

Crimes semipúblicos: queixa (115º CP), renúncia e desistência (116º CP)

Nos crimes semipúblicos, o regime é diferente em vários aspetos. O inicio do procedimento


está condicionado pela apresentação de uma queixa por parte do ofendido ou de quem
legitimamente o represente. Essa queixa tem de ser tempestiva. Uma queixa é uma
manifestação de vontade do ofendido ou de quem o represente quanto à sua vontade de
existir processo. Distingue-se da denúncia no sentido em que esta apenas é uma transmissão
de informação. A necessidade de queixa significa já um condicionamento processual à
abertura de inquérito. Ou seja, o Ministério Público não pode iniciar o inquérito criminal
porque a lei cria um pressuposto processual que é a necessidade de apresentação de queixa
tempestiva (duplo requisito) por parte do ofendido. Recebendo uma queixa e sendo ela
tempestiva, o MP deve então abrir inquérito e iniciar a investigação.

Quando a queixa é apresentada, é preciso verificar dois aspetos:

• Legitimidade: a queixa tem de ser feita pelo titular do bem jurídico agredido ou de quem o
represente;

• Tempestividade: seis meses a contar da data em que o titular tiver tido conhecimento do
facto e dos seus autores (artigo 115º/1), caso contrário o direito de queixa extinguir-se-á por
caducidade por decurso do tempo.

Se o Ministério Público receber uma queixa legítima e tempestiva por um crime semipúblico,
tem de abrir inquérito. Pode não o fazer se a queixa for manifestamente infundada (não
haverem condições nenhumas para os factos serem crime), ou se não tiver qualquer tipo de
qualificação típica como crime. O juízo sobre a natureza infundada da queixa é diferente do
juízo sobre a suficiência da prova. Se o facto relatado tiver enquadramento criminal, a abertura
de inquérito serve para investigar os crimes, identificar os autores e recolher as provas. A
queixa não tem de ser necessariamente acompanhada de provas porque as provas também se
podem obter no inquérito.

Quando o Ministério Público receba uma queixa fundada e tempestiva de um crime


semipúblico, tem de abrir inquérito e não será por o crime ser semipúblico que o MP o vai
tratar como um crime não prioritário ou menos importante no que toca à investigação.
Se o crime for semipúblico, o queixoso condiciona o processo no momento inicial, mas não
condiciona no momento da acusação. Chegado ao final do inquérito quem acusa é o Ministério
Público (artigo 282º) em primeira linha e depois, a lei permite que nos termos do artigo 284º
também o particular possa acusar. Porém, o poder de avaliar os indícios e decidir se há
acusação ou arquivamento é do Ministério Público. O ofendido só condiciona o processo
através da desistência. Os indícios são suficientes nos termos do 283º.

Os crimes semipúblicos distinguem-se pela questão do impulso inicial e pela possibilidade de


renuncia ou desistência. A renuncia opera antes de haver processo. A queixa opera depois de
haver processo. Este aspeto é importante porque se o crime mantiver a natureza de
semipúblico, o Ministério Público exerce a ação penal sempre de uma forma não condicionada,
mas sujeita a uma eventual desistência. O ofendido que apresente queixa pode nos termos do
artigo 116º desistir da ação até à publicação da decisão em primeira instância. Isto quer dizer
que o queixoso pode condicionar o processo através da possibilidade de desistência. Esta
desistência, uma vez verificada, impede a renovação do processo. A desistência é homologada,
o caso torna-se definitivo e gera-se um processo definitivo, de modo que não pode haver um
processo futuro com o mesmo objeto. Este aspeto é importante pare entender que se o
Ministério Público receber uma queixa tem de investigar. É que na prática, muitas vezes, o
Ministério Público tem problemas em afetar meios para a investigação de um crime
semipúblico porque sabe que o ofendido pode desistir. Porém, não lhe cabe a si alterar o
regime e a qualidade de investigação em função da natureza do crime, isso depende do
legislador.

Os crimes particulares: queixa (113º CP), constituição de assistente (256º e 68º CPP) e
acusação particular (285º)

Os crimes particulares têm mais pressupostos processuais para a tramitação do processo. São
o único caso na lei portuguesa em que alguém pode ir a julgamento acusado por um particular.
No caso dos outros crimes o particular também pode acusar, constituindo-se assistente, mas
numa segunda linha (o controlo do processo fica no Ministério Público).

Estes crimes têm muitos limites à atuação do Ministério Público que não existem se o crime for
de outra natureza. O processo fica condicionado pelo ofendido em três momentos distintos:
• Apresentação da queixa: a apresentação da queixa é necessária tal como nos crimes
semipúblicos. Através da queixa, o ofendido está a levar factos ao conhecimento do Ministério
Público e a manifestar a sua vontade de que haja processo. Sem queixa, o Ministério Público
fica legalmente impedido de abrir inquérito. No momento da queixa, o ofendido deve também
manifestar a sua vontade/intenção de se tornar assistente através de uma declaração de
constituição de assistente, obrigatória nos termos do artigo 246º/4. Ao obrigar a que a queixa
seja acompanhada deste outro elemento, o legislador pretende que quem receba a queixa dê
um andamento normal ao processo sabendo que isso não vai ser inútil por desconhecimento
do queixoso. O queixoso saberá que tem de se constituir assistente porque essa declaração
terá de ser feita logo de início.

• Constituição de assistente: após a apresentação da queixa, o ofendido tem dez dias para
requerer a constituição de assistente (artigo 68º/2, CPP). Este requerimento não se confunde
com a declaração de constituição de assistente. O assistente é um sujeito processual que vai
intervir formalmente no processo com poderes de promoção do mesmo e de controlo da sua
tramitação. Normalmente o assistente é o ofendido ou quem o representa. Quem decide da
constituição de assistente é o juiz, que verifica se a pessoa tem legitimidade parasse constituir
assistente. Sendo uma decisão do juiz, esta é recorrível. A constituição de assistente não é
obrigatória, mas sim um ónus. Se o queixoso quiser que o processo ande tem de se constituir
assistente. Exemplo 1: A mata C. Os filhos de C podem constituir-se assistentes para que
possam acompanhar o processo, levando-lhe a sua perspetiva enquanto filhos da vítima;
Exemplo 2: Se o ofendido não se constituir assistente na interrogação, por exemplo, será
tratado como testemunha.

• Notificação para acusação: Se o crime for particular, no final do inquérito o Ministério


Público não pode acusar livremente. A lei obriga a que o Ministério Público notifique o
assistente nos termos do artigo 285º, para que este, querendo, deduza acusação. Só depois
disto é que o Ministério Público, se quiser, pode apresentar também acusação. Funciona desta
forma porque, tratando-se de um crime particular, quem decide da tramitação do processo é o
assistente. Em 2007, o legislador acrescentou ao artigo 285º uma norma que permite que o
Ministério Público faça um pouco mais do que notificar o assistente. Pode, na notificação, nos
termos do artigo 285º/2, informar o assistente se na sua perspetiva foram, ou não, recolhidos
indícios suficientes. A informação do Ministério Público não é um parecer, muito menos é
vinculativa: o assistente pode decidir deduzir acusação independente do sentido da
informação do Ministério Público.

O problema do prazo (246º/4) e o Acórdão STJ 1/2011

A tramitação condicionada dos crimes particulares tem suscitado algumas dúvidas na


jurisprudência, em particular a articulação dos poderes do assistente e o regime dos prazos
para a prática de certos atos. O que acontece nos crimes particulares é que a lei transfere para
o sujeito processual uma parte da litigância, sujeitando a tramitação processual à constituição
do particular como assistente – transferência do ónus de produção do processo da entidade
pública para o particular/ofendido. Isto é, o particular não é obrigado a constituir-se
assistente, mas se quiser que o processo avance e se desenvolva tem de exercer o ónus de
constituição de assistente para que, quando necessário, possa impulsionar o processo através
da prática de vários atos. Apresentada a queixa, acompanhada da declaração de constituição
de assistente, o ofendido tem de apresentar o requerimento para se tornar assistente num
prazo de 10 dias a contar da advertência feita (artigo 264º/4). Ao ter que ser apresentado num
prazo de dez dias, coloca-se uma pergunta acerca do requerimento de constituição de
assistente: E se o requerimento não for apresentado neste prazo? Esta questão divide-se em
dois cenários

1. O que acontece se não for feita a declaração de assistente?

2. O que acontece se for apresentada declaração de assistente e no prazo de dez dias não for
apresentado o requerimento?

Quanto à pergunta 1, tem sido entendido de forma praticamente dominante que esta
declaração de intenção de constituição de assistente não é absolutamente essencial porque
existe um prazo para a efetivação do assistente.

Se faltar a intenção, o particular ainda tem dez dias para esclarecer a situação com a existência
(ou não) do requerimento. Se se apresentar requerimento e não declaração, a questão da
declaração fica sanada com a apresentação do requerimento.

Em suma, a falta da declaração de intenção não se torna decisiva e não invalida a


apresentação da queixa. É o desrespeito por um requisito legal e uma irregularidade, mas que
é ultrapassável por um prazo que exige mais do que a declaração de intenção.

Quanto à pergunta 2 tem surgido jurisprudência divergente no sentido de saber a


consequência de ter sido apresentada uma queixa, mas de não ter sido respeitado o prazo de
dez dias para o requerimento para a constituição e assistente. Existem essencialmente duas
correntes que versam sobre o assunto:

• O prazo é perentório, o que quer dizer que passados dez dias se não houver assistente falta
um pressuposto processual, pelo que o processo é arquivado e não pode ser reaberto, uma
vez que a lei não permite várias queixas contra o mesmo objeto. O processo cessa por razões
formais. Assim, os três argumentos utilizados são que o prazo de dez dias é um prazo legal, a
sua formulação é perentória, e o legislador não permite a renovação de queixa nestes casos. O
Supremo Tribunal de Justiça corroborou esta tese, ainda que com três votos de vencido, o que
quer dizer que apesar de uniformizada a questão há quem considere a solução
desproporcionada.

• O professor Costa Pinto entende que o que se estabelece no artigo 246º/4 é um prazo em
função de uma informação que se dá ao queixoso. Sendo cumprido o dever de advertência
mencionado na parte final do artigo 246º/4, então faz sentido que o prazo seja perentório.
Porém, se a advertência não for feita já não deverá ser possível abdicar totalmente do artigo
em questão. Aceita-se que o prazo seja tido como perentório a partir do momento em que seja
feita a advertência. Só quando a advertência seja feita é que os dez dias decorrem de forma
perentória. O problema passa a ser: quando não seja feita a advertência quanto tempo é que o
processo fica à espera? Esta é uma situação lacunar que precisa de regulação. A solução
possível é dizer que o processo é arquivado já que o Ministério Público não lhe pode dar
andamento sem a figura do assistente, ou fazer a advertência para que se inicie o prazo de dez
dias. Se a advertência não for feita, por analogia com o problema da caducidade da queixa,
contam-se seis meses a partir do momento da queixa. O decurso desse prazo dá fim ao
processo.
A queixa

Legitimidade (artigo 113º, CP)

O regime da legitimidade do ofendido para apresentar queixa é composto por várias regras. A
fundamental resulta do artigo 113º/1, CP. De acordo com este preceito, a legitimidade recai no
ofendido, considerando-se como tal o titular do bem jurídico que a lei quis proteger. Tem de
fazer-se a interpretação do tipo incriminador, identificar o bem jurídico e ver se a pessoa que
apresentou queixa é titular do mesmo.

Na jurisprudência portuguesa, tem sido discutido se o ofendido num crime de dano é só o


proprietário ou qualquer outra pessoa que tenha direito de indemnização do bem. A questão é
discutida no Ac. 7/2011. Será que alguém que utiliza diariamente o veículo de alguém pode
apresentar queixa? O STJ entendeu que sim. Ao fazê-lo protegem-se os direitos do proprietário
e direitos reais menores que assistiam ao utilizador do veículo

Fazendo uma interpretação declarativa lata, entendeu-se que ofendido não era só o
proprietário, mas também o possuidor da coisa que a podia utilizar de forma regular. Há um
problema interpretativo quanto às situações de sucessão. O artigo 113º/2 apresenta duas
listagens de pessoas com possibilidade de apresentarem a queixa em sucedendo ao ofendido.
Temos no primeiro grupo o cônjuge, descendentes, adotados, ascendentes e adotantes (artigo
113º/2, a). Do segundo grupo fazem parte os irmãos e seus descendentes (artigo 113º/2, b). A
questão é se entre estes dois grupos de pessoas existem uma qualquer hierarquia. A melhor
interpretação tem de ter em conta a letra da lei e que o legislador estabelece uma certa
ordem. A lista de pessoas da aliena a) é meramente descritiva, o que quer dizer que qualquer
uma destas pessoas pode apresentar queixa desde que tenha a qualidade referida na alínea.
Não se considera, portanto, existir hierarquia entre as pessoas mencionadas na alínea a). Já
entre a alínea b) parece haver uma hierarquia. Isto quer dizer que se existir um ofendido que
morreu, o cônjuge e os filhos podem apresentar queixa indiferenciadamente – todos têm essa
legitimidade. Contudo, os irmãos do ofendido e os seus descendentes só têm legitimidade se
não existir ninguém do primeiro grupo. Em suma, dentro de cada alínea não há hierarquia nem
precedência, mas entre as duas alíneas há precedência do grupo de pessoas referido na alínea
a) em relação às da alínea b).

Tempestividade (artigo 115º, CP)

A queixa não tem só de ser legítima, também tem de ser tempestiva. A regra encontra-se no
artigo 115º, CP, de acordo com a qual “o direito de queixa extingue-se no prazo de seis meses
a contar da data em que o titular tiver tido conhecimento do facto e dos seus autores, ou a
partir da morte do ofendido, ou da data em que ele se tiver tornado incapaz”. Assim, o
ofendido tem seis meses para apresentar queixa, a partir do momento em que teve
conhecimento do facto e dos seus autores. Estando redigido de forma cumulativa, nãos e pode
decretar a caducidade se se desconhecerem os autores ou o facto. Se o ofendido não
apresentar queixa no prazo de seis meses, este direito extingue-se por caducidade e já não se
pode dar inicio ao processo.

Renúncia e desistência (artigo 116º, CP)

Nos crimes semipúblicos e particulares é renunciar e desistir da queixa. A renúncia à queixa é


uma manifestação do não exercício do direito de queixa. A desistência da queixa exige um ato
processual posterior à queixa e a sua eficácia é condicionada à não oposição nos termos do
artigo 116º. O queixoso pode desistir da queixa apresentada, mas a eficácia dessa desistência
depende da oposição do arguido. Este podo opor-se até à publicação da sentença da 1ª
instância. Tanto a renúncia como a desistência impedem que a queixa seja renovada.

Casos excecionais de promoção oficiosa do MP (113º/5 e 116º/4 CP)

Existem situações excecionais de promoção oficiosa do Ministério Público para evitar


problemas que possam existir quanto à legitimidade processual (artigo 113º/5). Tratam-se de
casos especiais em que apesar de o procedimento criminal depender de queixa o Ministério
Público pode dar inicio ao procedimento sempre que o interesse do ofendido o aconselhar e
estivermos perante uma de duas situações:

• O ofendido é menor ou não tem discernimento para entender o alcance e significado do


direito de queixa;

• O direito de queixa não puder ser exercido porque a sua titularidade caberia ao agente do
crime;

Nos casos em que o Ministério Público atue ao abrigo deste artigo, o ofendido pode requerer
que seja posto termo ao processo depois de perfazer 16 anos (artigo 116º/4).

Efeitos práticos da classificação dos crimes

Em suma, aqui ficam as consequências práticas que a classificação de crimes pode ter:

• Início do processo: Se o crime for semipúblico ou particular, o Ministério Público tem de


estar habilitado por uma queixa para poder atuar. Não pode investigar autonomamente um
crime semipúblico ou particular a menos que exista a situação excecional da promoção oficiosa
prevista no artigo 113º/5.

• Dedução de acusação: Se o crime for publico ou semipúblico o Ministério Público tem


legitimidade autónoma não condicionada para promover a decisão final do inquérito. Pode
deduzir acusação ou pode arquivar os autos sem que essa decisão esteja condicionada. Se o
crime for particular o MP não tem esse poder, tem de notificar o assistente para este,
querendo, acusar (artigo 285º). Se o Ministério Público optar pela forma sumaríssima de
processo pode acusar o arguido por um crime particular, mas tem de propor logo na acusação
uma sanção concreta. Esta proposta vai ao juiz e se este concordar envia-a para o assistente.
Se este concordar, o caso fica resolvido. É então necessário que o crime particular possa ser
julgado sob a forma sumaríssima e uma dupla aprovação: a do juiz e a do assistente (artigo
291º/b).

• Detenção em flagrante delito: Temos três formas de processos especiais e uma comum. As
especiais são a sumária, a sumaríssima e a abreviada. A forma comum é a residual que se
aplica a todos os outros casos. As formas especiais são formas abreviadas, mais expeditas que
não têm todas as fases processuais. Uma das formas especiais é a sumária que acontece
quando alguém é detido em flagrante delito e em função disso fica privado da liberdade
temporariamente e é instruído um processo sumário. Pro exemplo, alguém está a cometer um
crime de furto simples, é encontrado em flagrante delito, pode ser detido e conduzido a
julgamento em processo sumário (artigo 381º e ss. CPP). A natureza do crime interfere porque
o processo sumário começa com uma detenção, não tem inquérito. O processo sumário não
pode ser aplicado a crimes particulares porque o processo sumário tem de começar com uma
detenção em flagrante delito e se o crime for particular, exclui-se a detenção em flagrante
delito. Assim, conclui-se que a nossa lei não admite que os crimes particulares sejam julgados
em processo sumário. Esta forma de processo fica adstrita às outras duas classificações de
crimes.

• Regime da desistência: só se aplica aos crimes semipúblicos e particulares. É possível um


processo que tenha por objeto um destes crimes, independentemente da sua forma, cessar
por desistência do ofendido/queixoso. Isso está previsto no artigo 116º, CP até ao momento
da publicação da sentença em primeira instância. A lei é muito generosa porque permite que
após a decisão, mas antes da publicação possa existir desistência. A desistência é um ato
potestativo contra o Ministério Público, mas condicionado quanto ao arguido. Potestativo
porque o Ministério Público não a pode questionar. É condicionado quanto ao arguido porque
este pode opor se à desistência. Opondo-se tem direito a que o processo continue ou não
cesse por desistência.

v) Crimes contra as pessoas: crimes contra a vida, crimes contra a liberdade e


autodeterminação sexual, crimes contra a liberdade pessoal; à parte
vi) Crimes contra a propriedade: furto, roubo;

ARTIGO 202.º

DEFINIÇÕES LEGAIS

Para efeito do disposto nos artigos seguintes considera-se:

b) Valor elevado: aquele que exceder 50 unidades de conta avaliadas no momento da prática
do facto; (> a € 5 100 até € 20 400 - este valor vigora até ao ano 2011)

c) Valor consideravelmente elevado: aquele que exceder 200 unidades de conta avaliadas no
momento da prática do facto;(> a € 20 400 - este valor vigora até ao ano 2011)

d) Valor diminuto: aquele que não exceder uma unidade de conta avaliada no momento da
prática do facto;(< a € 102 - este valor vigora até ao ano 2011) – (DL 323/2001, 17DEZ)

e) Arrombamento: o rompimento, fractura ou destruição, no todo ou em parte, de dispositivo


destinado a fechar ou impedir a entrada, exterior ou interiormente, de casa ou de lugar
fechado dela dependente;

f) Escalamento: a introdução em casa ou em lugar fechado dela dependente, por local não
destinado normalmente à entrada, nomeadamente por telhados, portas de terraços ou de
varandas, janelas, paredes, aberturas subterrâneas ou por qualquer dispositivo destinado a
fechar ou impedir a entrada ou passagem;

g) Chaves falsas:

i) As imitadas, contrafeitas ou alteradas;

ii) As verdadeiras quando, fortuita ou subrepticiamente, estiverem fora do poder de quem


tiver o direito de as usar; e
iii) As gazuas ou quaisquer instrumentos que possam servir para abrir fechaduras ou outros
dispositivos de segurança;

g) Marco: qualquer construção, plantação, valado, tapume ou outro sinal destinado a


estabelecer os limites entre diferentes propriedades, postos por decisão judicial ou com o
acordo de quem esteja legitimamente autorizado para o dar. _______________________ 
ANOTAÇÕES: 

UNIDADE DE CONTA PROCESSUAL (UC) – quantia em dinheiro equivalente a um quarto do


salário mínimo nacional mais elevado garantido no momento da aplicação da sanção
arredondado quando necessário para a centena de escudos imediatamente superior. (é
actualizado de 2 em 2 anos)

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

O conceito de arrombamento vertido na al. d) do nº 2 do artº 202, do CP, contempla o


rompimento, fractura ou destruição dos dispositivos destinados a fechar ou impedir a entrada,
exterior ou interior de uma casa, quer esta seja entendida como uma construção destinada à
habitação, quer um estabelecimento comercial, não havendo que distinguir estas duas
realidades em termos de tutela jurídico-penal. 29-10-1998 Proc. n.º 624/98 - 3.ª Secção
Relator: Conselheiro Sousa Guedes Utiliza "chave falsa", no sentido preconizado no art.º 202,
al. f), do CP, o arguido que conhecedor do local onde era escondida a chave de um
determinado estábulo, a retira sub-repticiamente, sem autorização do dono, e posteriormente
a utiliza para o abrir e daí subtrair animais.

12-11-1998

Proc. n.º 866/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Sousa Guedes

CAPÍTULO II DOS CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE

ARTIGO 203.º FURTO

(Crime Semi-Público ou Particular se se verificar o disposto no Artigo 207.º)

1 - Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, subtrair coisa
móvel alheia, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.

2 - A tentativa é punível.

3 - O procedimento criminal depende de queixa.

 O crime de furto consuma-se com a violação do poder de facto de guardar ou dispor de


coisa que sobre ela tem o seu proprietário ou detentor e com a substituição desse poder pelo
do agente, independentemente de a coisa ficar ou não pacificamente por mais ou menos
tempo na posse do agente;

 Consuma-se o crime de furto com a subtracção dos materiais já recolhidos pelo agente, não
se poderá já falar de tentativa do mesmo crime, relativamente à parte dos materiais ainda não
recolhidos, que os arguidos tenham projectado substair;

 O crime de furto consuma-se quando o agente tira ou subtrai a coisa da posse do respectivo
dono ou detentor, contra a vontade deste, e a coloca na sua própria posse, substituindo-se ao
poder de facto sob o qual se encontrava. Logo que a coisa subtraída passa do poder do seu
detentor para a esfera do poder do agente do crime, tem-se por consumado, nesse momento
se verificando o evento jurídico ou lesão do interesse tutelado.

 O crime de furto é um crime instantâneo.  O furto tem que ser praticado com intenção,
tem que haver dolo específico.

Qual é o elemento Subjectivo do furto?

É a vontade de subtrair coisa contra o desejo do detentor (possuidor). Quando é que se


consuma o crime de furto? Com a entrada da coisa furtada na esfera patrimonial do agente do
crime ou de terceiro.

 A energia eléctrica é uma coisa susceptível de apropriação e valiosa, cuja subtracção integra
o crime de furto.

PROCEDIMENTO:

1. Nos casos em que o crime é de natureza semi-pública, o procedimento é o mesmo que foi
referido em relação aos artigos 143.º, 153.º, entre outros, para aí se remetendo.

2. Nos casos em que o crime é de natureza particular, nunca há lugar à detenção em flagrante
delito, mas apenas à identificação do infractor, artigo 255.º, n.º 4, do CPP. Nestes termos, a
intervenção dos órgãos de polícia criminal limita-se à formalização da queixa, caso o titular
desse direito o queira exercer. Sobre a detenção, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO:

1. Nos casos em que o crime é de natureza semi-pública, a forma normal de processo é a


SUMÁRIA ou ABREVIADA, consoante estejamos perante uma situação de flagrante delito ou
fora do flagrante delito, respectivamente, e na medida em que estejam ou não reunidos os
requisitos dos artigos 381.º e 391.º-A, do CPP.

2. Nos casos em que o crime é particular, a forma normal de processo, é a COMUM,


ABREVIADA ou SUMARÍSSIMA, consoante estejam ou não reunidos os requisitos dos art.ºs
391.º-A e 392.º e nunca a sumária, pelos motivos constantes na anotação ao artigo 180.º.
Sobre as formas processuais, ver anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - O crime de furto consuma-se no momento em que a coisa móvel é retirada da esfera


patrimonial do respectivo dono ou do possuidor e deslocada para a esfera patrimonial do
agente ou de terceiro.

II - A atenuação especial relativa a jovens, prevista no art.º 4, do DL n.º 401/82, de 23 de


Setembro, não é de aplicação automática, sendo necessário que dela resultem vantagens para
a reinserção social do jovem condenado. 01-04-1998 Processo n.º 116/98 - 3.ª Secção Relator:
Conselheiro Pires Salpico

*****

I - A colocação do produto do crime em pleno sossego ou em estado de tranquilidade, ainda


que transitoriamente, diz respeito ao exaurimento do crime e não à sua consumação. II - No
crime de furto a consumação formal ocorre no momento em que a coisa alheia entra na esfera
patrimonial do arguido, ficando à sua disposição. 22-10-1998 Proc. n.º 726/98 - 3.ª Secção
Relator: Conselheiro José Girão

*****

I - O crime de furto consuma-se quando o agente subtrai a coisa da posse do respectivo dono
ou detentor, contra a vontade deste e a coloca na sua própria posse, substituindo-se ao poder
de facto sob o qual se encontrava. II - O crime de furto é instantâneo, sendo, portanto,
indiferente à sua perfeição o lapso de tempo em que a coisa alheia subtraída esteve na posse
do infractor. III - Não é, também, necessário à consumação do furto que o agente tenha o
objecto subtraído em pleno sossego ou em estado de tranquilidade, ainda que transitório. 12-
11-1998 Proc. n.º 747/98 - 3.ª Secção Relator: Cons. Dinis Alves

*****

Pratica um crime de furto o arguido que, sem conhecimento e contra a vontade do


proprietário de um terreno, abre neste um furo artesiano, dele extraindo a água, que utilizava
na rega do mesmo terreno, em que cultivava melão e tomate com o consentimento do
rendeiro mas igualmente sem conhecimento do proprietário. 09-12-1998 Proc. n.º 1041/98 -
3.ª Secção Relator: Cons. Pires Salpico

*****

A circunstância de o arguido ter vendido por determinada quantia que fez sua, três éguas e um
potro que sabia não lhe pertencerem, não é suficiente para integrar a intenção de apropriação
indispensável ao tipo legal do furto. 3/07/1996 Processo nº 23/96 -3ª Secção Flores Ribeiro

*****

IV - Comete o crime de furto o arguido que vendeu os pinheiros que se encontravam nesse
terreno, tendo-se provado que o mesmo sabia não lhe pertencerem e que agia contra a
vontade do proprietário.

14/02/1996

Processo nº 47787 - 3ª Secção

Relator: Augusto Alves

Exemplos:

 Um indivíduo que, se dirige ao veículo automóvel, que se encontrava devidamente


estacionado e fechado, com a intenção de se apoderar dos objectos que se encontrassem no
seu interior, com o auxílio de uma chave de fendas, estroncou as portas, abriu uma delas,
introduziu-se no seu interior e forçou o “tablier” para retirar o auto-rádio, provocando
prejuízos no valor de 674,63 €. Retirou do interior um auto-rádio de marca “BLAUPUNKT”, no
valor de 257,38 €, CD’s no valor de 144,65 €, fazendo destes objectos coisa sua. Bem sabia que
os mesmos não lhe pertenciam e que agia contra a vontade do seu legítimo proprietário. Agiu
com a intenção de se apoderar dos referidos objectos como de facto fez, bem sabendo que a
sua conduta era e é punida por lei. Cometeu o arguido, em autoria material e na forma
consumada, em concurso real, um crime de furto p. e p. pelo art.º 203.º, n.º 1, do C.P. e um
crime de dano, p. e p. pelo Art.º 212.º do C.P..
ARTIGO 204.º

FURTO QUALIFICADO

(Crime Público)

1 - Quem furtar coisa móvel alheia:

a) De valor elevado (> a € 5 100 até € 20 400);

b) Colocada ou transportada em veículo ou colocada em lugar destinado ao depósito de


objectos ou transportada por passageiros utentes de transporte colectivo, mesmo que a
subtracção tenha lugar na estação, gare ou cais; Redacção dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET

c) Afecta ao culto religioso ou à veneração da memória dos mortos e que se encontre em lugar
destinado ao culto ou em cemitério;

d) Explorando situação de especial debilidade da vítima, de desastre, acidente, calamidade


pública ou perigo comum;

e) Fechada em gaveta, cofre ou outro receptáculo equipados com fechadura ou outro


dispositivo especialmente destinado à sua segurança;

f) Introduzindo-se ilegitimamente em habitação, ainda que móvel, estabelecimento comercial


ou industrial ou espaço fechado, ou aí permanecendo escondido com intenção de furtar; (não
é qualificado se o agente não entrar totalmente no estabelecimento)

g) Com usurpação de título, uniforme ou insígnia de empregado público, civil ou militar, ou


alegando falsa ordem de autoridade pública;

h) Fazendo da prática de furtos modo de vida; ou

i) Deixando a vítima em difícil situação económica;

j) Impedindo ou perturbando, por qualquer forma, a exploração de serviços de comunicações


ou de fornecimento ao público de água, luz, energia, calor, óleo, gasolina ou gás;

é punido com pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias.

2 - Quem furtar coisa móvel alheia:

a) De valor consideravelmente elevado (>€ 20 400);

b) Que possua significado importante para o desenvolvimento tecnológico ou económico;

c) Que por sua natureza seja altamente perigosa;

d) Que possua importante valor científico, artístico ou histórico e se encontre em colecção ou


exposição públicas ou acessíveis ao público;

e) Penetrando em habitação, ainda que móvel, estabelecimento comercial ou industrial ou


outro espaço fechado, por arrombamento, escalamento ou chaves falsas; (Assento n.º 7/2000,
não se aplica a veículo automóvel)

f) Trazendo, no momento do crime, arma aparente ou oculta; (apenas se pune o porte da arma
e não é preciso que seja uma arma proibida, pode ser arma permitida) ou
g) Como membro de bando destinado à prática reiterada de crimes contra o património, com a
colaboração de pelo menos outro membro do bando; é punido com pena de prisão de 2 a 8
anos.

3 - Se na mesma conduta concorrerem mais do que um dos requisitos referidos nos números
anteriores, só é considerado para efeito de determinação da pena aplicável o que tiver efeito
agravante mais forte, sendo o outro ou outros valorados na medida da pena. 4 - Não há lugar à
qualificação se a coisa furtada for de diminuto valor. (neste caso o crime de furto qualificado,
passa a furto simples (Artigo 203.º), logo o procedimento criminal depende de queixa).
_______________________

ANOTAÇÕES:

 Se o crime se enquadrar no artigo 204.º do C.P., independentemente do grau de parentesco,


é sempre crime público e em flagrante delito é detido, excepto se se verificar o previsto no n.º
4 do mesmo artigo, em que deixa de haver qualificação se o valor da coisa subtraída for de
valor diminuto.

 O crime de furto qualificado (e não também o de introdução em casa alheia ou violação de


domicílio), quem, no interior da casa alheia onde entrou por arrombamento ou escalamento,
subtrai diversos objectos.

 A punição pelo crime de furto qualificado, entrando o agente por arrombamento em casa
alheia, consome a punição pelo crime de dano cometido por esse arrombamento.

 Assim, não se verifica concurso real de crimes de furto qualificado e de dano, quando o
agente, para se apropriar de algo que se encontra no interior de uma habitação, e sabendo
que para lá entrar tem que destruir qualquer bem, objecto ou parte do imóvel, apesar disso
prossegue a sua conduta.

EXEMPLOS:

 Um indivíduo que furtar um auto-rádio de um automóvel, no valor de € 60 (12.000$),


comete o crime de furto (simples), em virtude de, embora o local tipifique o crime como
qualificado, o valor da coisa furtada é de valor diminuto (não excede 1 UC), logo, com base no
n.º 4 deste artigo, não há lugar a qualificação, pelo que o procedimento criminal depende de
queixa do ofendido. Se nesta mesma situação anterior, houver uma relação familiar entre o
agente do crime e o ofendido, o crime passa a ser de natureza particular (Artigo 207.º).

 O João de 16 anos de idade, é encontrado na posse de uma gazua destinada a abrir


fechaduras de veículos automóveis. Aquando da intervenção policial, o João preparava-se para
escolher o veículo a furtar. O crime que pretendi praticar é punível com pena de prisão
superior a 3 anos. Diga se a conduta do João pode ser punível e justifique? Os factos praticados
pelo João, são meros actos preparatórios, pelo que não existe possibilidade de tentativa. A
conduta do João só será punível se a lei expressamente para aquele crime admitir a
punibilidade dos actos preparatórios.

 Um indivíduo que é encontrado num banco a sacar um cheque que havia sido furtado, neste
caso não há o flagrante delito quanto ao furto, mas pode ser detido pelo crime de burla e
falsificação de documentos, embora venha também a ser punido em concurso real de crimes,
pelo crime de furto.
 Um indivíduo que furtar do interior de um estabelecimento (supermercado) uma garrafa de
whisky no valor de € 25 (5.000$), e o indivíduo for alcoólico e tem necessidade de ingerir
bebidas alcoólicas, o crime de furto é de natureza particular, com base no Artigo 207.º, al. b)
do C.P.;  Um indivíduo que furtar uma carteira no interior do autocarro, com € 50 (10.000$)
no interior e destinando-se essa quantia a comprar droga, por o agente do crime ser
toxicodependente e necessita de consumir, neste caso dado que o valor é diminuto e o
produto se destina a satisfazer uma necessidade do agente, o crime é de natureza particular
(Artigo 207.º, al. b) do C.P.);

 Um indivíduo que, cerca das 00H30, acercou-se de um veículo automóvel, que se encontrava
devidamente estacionado e fechado à chave e forçar a fechadura de uma das portas do
veículo, abriu a porta e por ali conseguiu entrar no interior do mesmo. Uma vez aí apoderou-se
de objectos no valor de 412.717$00, comete um crime em autoria material e na sua forma
consumada de furto qualificado p. e p. pelo art.º 204.º, n.º 1, al. b) do C.P.

PROCEDIMENTO: O procedimento, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1 a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA,


consoante estejam ou não reunidos os requisitos do art.º 391.º-A. Relativamente ao n.º 2, a
forma de processo é sempre a COMUM. Sobre as formas processuais, ver anotação ao artigo
131.º.

Não é enquadrável na previsão da alínea e) do n.º 2 do artigo 204.º do Código Penal a conduta
do agente que, em ordem à subtracção de coisa alheia, se introduz em veículo automóvel
através do rompimento, fractura ou destruição, no todo ou em parte, de dispositivo destinado
a fechar ou impedir a entrada no interior daquele veículo.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - Se o crime de furto não se consumar por inidoneidade do meio empregado pelo agente,
mas esta não for manifesta, a conduta do arguido é punível como tentativa.

II - Se o arguido quebrou o vidro de uma janela de um cartório paroquial, correu os fechos que
cerravam aquela, levantou a parte inferior da mesma, com o propósito de se apoderar de
dinheiro e certos objectos, e não atingiu os seus desígnios por a janela em causa estar
protegida interiormente com grades, que não lhe permitiam a entrada no referido local, e das
quais ele só se apercebeu no momento em que actuou da forma descrita, usou meio idóneo
ou apto para consumar o crime de furto, que se tornou depois inapto dadas as circunstâncias,
verificando-se, assim, uma inidoneidade superveniente que se integra no conceito de
inidoneidade relativa (não manifesta).

III - Por outro lado, a conduta do arguido demonstrou perigosidade em relação ao bem
jurídico protegido pela ordem jurídica, pelo que merece ser punido. IV - No circunstancialismo
traçado no ponto II há que concluir pela existência de uma situação de tentativa impossível
punível. 07-01-1998 Processo n.º 1030/97 - 3.ª Secção Relator: Mariano Pereira

*****

O furto de diverso material de um semi-reboque alcançado mediante corte dos cadeados que
fechavam as respectivas portas não integra a figura do arrombamento, uma vez que tendo
sido eliminada a referência constante do anterior art.º 298, n.º 1, do CP de 82, aos "móveis
destinados a guardar quaisquer objectos", a subtracção efectuada em tal tipo de lugares,
vulgarmente denominados de "galeras", não se enquadra na al. e) do n.º 2, do art.º 204, do CP,
sem prejuízo de o ser, na al. e) do n.º 1, do mesmo preceito.

20-01-1998 Processo n.º 1148/97 - 3.ª Secção

Relator: Mota e Costa

II - A consumação de um tipo de crime tem lugar logo que se verifiquem todos os elementos
constitutivos do respectivo tipo (consumação formal ou judicial), momento em que se verifica
o evento jurídico ou lesão do interesse tutelado. No furto, a consumação preenche-se com o
acto de subtrair a coisa da esfera de poder do detentor e sua colocação na esfera de poder do
agente, não sendo necessário que este a detenha em pleno sossego e tranquilidade.

III - Portanto, consuma-se o crime com a violação do poder de facto de guardar ou de dispor da
coisa que tem sobre ela o proprietário e seu detentor e com a substituição desse poder pelo
do agente, independentemente de a coisa ficar ou não pacificamente, por mais ou menos
tempo, na posse do agente.

IV - Assim, comete o crime de furto qualificado consumado, p. e p. pelo art.º 296 e 297, n.º 2,
al. d), do CP de 82 - hoje p. e p. 204, n.º 2, al. e), do CP de 95 - e não tentado quando se prova
que o arguido: a) se introduz no interior de uma casa , pega em dois anéis e quatro pulseiras
que encontrou num guarda jóias; b) pouco tempo depois é surpreendido pelos proprietários
da mesma que o detiveram e entregaram à GNR; c) e que já no posto da GNR o arguido
entregou tais objectos aos seus proprietários.

12-02-1998

Processo n.º 1272/97 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Oliveira Guimarães

*****

I - O vocábulo "forçar" pode e deve haver-se como sinónimo de "arrombar".

II - Tendo-se apurado que o arguido, de noite, se dirigiu aos armazéns dum estabelecimento e,
servindo-se de um martelo de carpinteiro, de uma chave de fendas e de um alicate de pontas
e, com estes instrumentos, procurou forçar a porta do estabelecimento, com o propósito de
retirar do interior deste e fazer seus vários sacos, com cerca de cinquenta fatos de treino cada
um, só não conseguindo concretizar tais intentos porque foi interrompido pelo guarda-
nocturno, cometeu aquele um crime de furto, qualificado pelo arrombamento, na forma
tentada. 15-04-1998

Processo n.º 187/98 - 3.ª Secção Relator: Conselheiro Pires Salpico

*****

I - Comete o crime de furto qualificado, p. p. pelo n.º 2, al. e), do art.º 204, do CP, em concurso
real com o crime de violência depois da subtracção, p. p. pelo art.º 211, do mesmo diploma, o
arguido que entrou numa habitação, através de uma janela do rés-do-chão, se dirige ao
primeiro andar, se introduziu no quatro da ofendida F..., donde retirou vários objectos, sendo
surpreendido por aquela quando já tinha os objectos dentro do bolso, e, ao ver-se agarrado
por a mesma a empurra, pondo-se em fuga.

II - No crime de furto qualificado o interesse protegido é em exclusivo o da protecção do


património, enquanto que no crime de violência depois da subtracção o interesse protegido é
o da integridade física do ofendido. III- Para a verificação da reincidência é essencial a
existência de averiguação em matéria de facto, com respeito pelo princípio do contraditório.

16-04-1998

Processo n.º 1532/97 - 3ª Secção

Relator: Conselheiro Oliveira Guimarães

*****

I - Resultando da matéria de facto provada que: - o arguido e outra pessoa, de comum acordo
e em conjugação de esforços, se dirigiram a um estabelecimento de café, com o propósito de
se apoderarem e fazerem seus bens que lhes não pertenciam; - ali chegados, partiram o vidro
da porta do estabelecimento; - nesse momento, o arguido decidiu não entrar no
estabelecimento, dando conhecimento ao seu acompanhante da sua decisão, dizendo-lhe que
"nunca se tinha metido numa coisa daquelas e que não queria arranjar problemas para o
futuro", e afastou-se do café, nada levando consigo; - o seu acompanhante entrou no
estabelecimento e apoderou-se de certos bens; da mesma não decorre que o arguido tenha
desenvolvido esforço sério no sentido de impedir a consumação do ilícito ou a verificação do
resultado, e, assim, não pode ela integrar-se na previsão do art.º 25, do CP.

II - No circunstancialismo descrito no ponto I, cometeu o arguido o crime de furto qualificado,


na forma tentada, p.p. pelos art.ºs 204, n.º 2, al. e), 22, n.º 1, 23, n.º 2, e 73, do CP. 06-05-1998
Processo n.º 177/98 - 3.ª Secção Relator: Conselheiro Augusto Alves

*****

I - O conceito de arrombamento dado agora pelo art.º 202, al. d), do CP de 1995, sofreu uma
redução do seu âmbito, relativamente à definição contida no art.º 298, n.º 1, do CP de 1982,
através da eliminação do segmento «ou de móveis destinados a guardar quaisquer objectos»,
que deste constava.

II - Como consequência, o «arrombamento» de veículo automóvel deixou de estar


contemplado no art.º 204, n.º 2, al. e), do CP revisto e, por outro lado, a expressão «espaço
fechado» constante do mesmo artigo - seus n.ºs 1, al. f) e 2, al. e) - passou a ter de ser
compreendida com o sentido de «lugar fechado dependente de casa», ficando arredada, deste
modo, a inclusão da noção de veículo automóvel no referido conceito legal actual de espaço
fechado.

III- Não existe razão para distinguir entre coisa furtada fechada em gaveta ou cofre ou fechada
numa viatura automóvel equipada com fechadura destinada à sua segurança.

IV- A subtracção ilegítima de objectos do interior de veículo automóvel que tinha as portas
fechadas e trancadas (para o efeito o arguido partiu o vidro da porta da frente ou forçou o
fecho de uma das portas da viatura) integra a autoria do crime dos art.ºs 203 e 204, n.º 1, al.
e), do CP 1995.
V - A subtracção ilegítima de diversos objectos do interior de um barraco, por rebentamento
do fecho da porta, sem que conste da matéria de facto apurada que aquele é um lugar
dependente de casa, não integra o crime de furto qualificado, p.p. pelo art.º 204, n.º 2, al. e),
do CP, configurando, sim, o crime de furto qualificado, p.p. pela al. e), do n.º 1, do mesmo
artigo e diploma.

VI- Não estando minimamente identificados os bens subtraídos pelo arguido, sendo, por isso,
desconhecidos os respectivos valores e insusceptíveis de determinar pela factualidade
provada, e quando as regras da experiência indicam que o produto do furto não é
necessariamente superior a um unidade de conta, há que considerar que ele é de valor
diminuto face ao princípio in dubio pro reo, não havendo lugar à qualificação do mesmo, nos
termos do art.º 204, n.º 4, do CP.

13-05-1998

Processo n.º 171/98 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro Martins Ramires

*****

I - Para que se verifique a qualificativa prevista na al. e) do n.º 1 do art.º 204, do CP, é
necessário que seja violado o receptáculo onde a coisa se encontra, vencendo-se a resistência
da fechadura ou do dispositivo de segurança.

II - Tal já não sucede, quando a subtracção é levada a efeito no momento em que a ofendida
"se preparava para introduzir na caixa registadora o dinheiro proveniente da venda de dois
bolos", isto é, não estando aquela fechada. 15-10-1998 Proc. n.º 537/98 - 3.ª Secção Relator:
Conselheiro Sousa Guedes

*****

O conceito de arrombamento vertido na al. d) do nº 2 do artº 202, do CP, contempla o


rompimento, fractura ou destruição dos dispositivos destinados a fechar ou impedir a entrada,
exterior ou interior de uma casa, quer esta seja entendida como uma construção destinada à
habitação, quer um estabelecimento comercial, não havendo que distinguir estas duas
realidades em termos de tutela jurídico-penal.

29-10-1998

Proc. n.º 624/98 - 3.ª Secção Relator: Conselheiro Sousa Guedes

ARTIGO 205.º

ABUSO DE CONFIANÇA

(Crime Semi-Público/Público no caso do n.º 4, ou Particular, se se verificar o disposto no artigo


207.º do C.P.)

1 - Quem ilegitimamente se apropriar de coisa móvel que lhe tenha sido entregue por título
não translativo da propriedade é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.

2 - A tentativa é punível.

3 - O procedimento criminal depende de queixa.


4 - Se a coisa referida no n.º 1 for: a) De valor elevado, o agente é punido com pena de prisão
até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias; b) De valor consideravelmente elevado, o
agente é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

5 - Se o agente tiver recebido a coisa em depósito imposto por lei em razão de ofício, emprego
ou profissão, ou na qualidade de tutor, curador ou depositário judicial, é punido com pena de
prisão de 1 a 8 anos. _______________________

ANOTAÇÕES:  Elemento do tipo:

 Apropriação ilegítima;

 Coisa móvel;

 Entrega de coisa por título não translativo de propriedade.

 Apropriar-se – significa fazer sua uma coisa alheia;

 1.º momento – o agente detém validamente o objecto;

 2.º momento – o agente passa a inverter o título pelo qual possui o objecto.

 A apropriação legítima pode aferir-se pela:

 Venda da coisa;

 Penhor da coisa;

 Dissipação da coisa;

 Caução da coisa.

 No crime de abuso de confiança, o agente passa a dispor do bem como se fosse o seu
legítimo proprietário.

 A simples recusa de entrega ou omissão de entrega não configura só por si o crime de abuso
de confiança, pois que ainda não se verifica a apropriação.

 O procedimento criminal depende de acusação particular, no caso do n.º 1, se ter observado


alguma das alíneas a) ou b) do Artigo 207.º do C.P..

Se um indivíduo recebe um que sabe que foi furtado, estamos perante o crime de receptação,
se não sabe naquele momento, mas mais tarde vem a saber e não o entrega – abuso de
confiança.

Exemplo: Um indivíduo que aluga um veículo automóvel, pelo período de um mês, e findo o
qual não procede à entrega do mesmo à empresa proprietária, comete o crime de abuso de
confiança.

PROCEDIMENTO:

1. Nos casos do n.º 1 e quando o crime for de natureza semipública, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação aos artigos 143.º, 153.º, entre outros, para aí se
remetendo. Nos casos em que o crime é de natureza particular, nunca há lugar à detenção em
flagrante delito, mas apenas à identificação do infractor, artigo 255.º, n.º 4, do CPP e anotação
ao art.º 180.º. Nestes termos, a intervenção dos órgãos de polícia criminal limita-se à
formalização da queixa, caso o titular desse direito o queira exercer.

2 Nos casos dos n.ºs 4 e 5, o procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo
131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção, quer em flagrante delito quer fora do flagrante
delito, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO:

1. Nos casos do n.º 1 e quando o crime for de natureza semipública, a forma normal de
processo é a SUMÁRIA ou ABREVIADA, consoante se trate de uma situação de flagrante delito
ou fora do flagrante delito, respectivamente, e na medida em que estejam ou não reunidos os
requisitos dos artigos 381.º e 391.º-A, do CPP. Nos casos em que o crime é particular, a forma
normal de processo é a COMUM, ABREVIADA ou SUMARÍSSIMA, consoante estejam ou não
reunidos os requisitos dos art.ºs 381.º, 391.º-A e 392.º, e nunca a sumária pelos motivos
constantes na anotação ao artigo 180.º.

2. Na situação referida no n.º 4, al. a), a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA,


consoante estejam ou não preenchidos os requisitos do art.º 391.º-A.

3. Nos casos referidos na al. b) do n.º 4 e no n.º 5, a forma de processo é sempre a COMUM.
Sobre as formas processuais, ver anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I – A consumação do crime de abuso de confiança verifica-se quando há inversão do título de


posse, isto é, quando o agente passa a dispor da coisa móvel como se fosse sua, o que, no
entanto, deve ser evidenciado por actos objectivos.

II – O tribunal competente para conhecer de tal crime é o da área onde o agente passa a dispor
da coisa móvel como se fosse sua.

III – O Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa é o competente para conhecer da matéria da


participação feita pela participante, quando na mesma refere que a participada se apoderou
da documentação de contabilidade das instalações da Firma Z..., sita em S. João da Talha,
Loures, onde exercia funções de contabilista, fazendo-a sua. Pois a recusa da entrega da
mesma é um acto posterior ao da apropriação.

08-01-1998

Processo n.º 921/97 – 3.ª Secção

Relator: Abranches Martins

*****

III - O crime de abuso de confiança consiste na inversão do título da posse, ou seja, na


passagem do agente a dispor da coisa móvel animo dominis, não sendo porém licito tirar
efeito de meras atitudes subjectivas sem reflexos exteriores.
IV - O crime consuma-se quando o agente que recebe a coisa móvel por título não translativo
de propriedade para lhe dar determinado destino, dela se apropria, passando a agir animus
domini, devendo, porém, entender-se que a inversão do título carece de ser demonstrada por
actos objectivos, reveladores de que o agente já está a dispor da coisa como se sua fosse.

15-01-1998

Processo n.º 544/97 - 3.ª Secção

Relator: Oliveira Guimarães

*****

V - Estando provado, por um lado, que, cessada a relação contratual, a demandante ficou a
dever ao demandado certa quantia em dinheiro, correspondente a "comissões" que
constituíam retribuição da sua actividade na execução do mandato, e que ainda não pagou
essa dívida, e, por outro, que o demandado, tendo sempre presente que as coisas que
recebera não lhe pertenciam, as reteve para pressionar a demandante ao pagamento das
aludidas "comissões", não pode deixar de concluir-se que tal retenção, correspondendo ao
exercício daquele direito, é perfeitamente lícita.

21-01-1998

Processo n.º 1306/97 - 3.ª Secção

Relator: Leonardo Dias

*****

I - O comissário é uma espécie de mandatário sem representação: age em nome próprio,


embora por conta do comitente. Isto significa que o comissário fica sendo titular dos direitos
adquiridos em execução da comissão, os quais depois deve transferir para o comitente (art.º
1181, n.º 1, do CC).

II - Resultando provado que o arguido ficou com o dinheiro que devia à assistente, gastando-o
em proveito próprio, com conhecimento e aceitação desta, qualquer que tenha sido o
contrato celebrado entre ambos - de trabalho, de fornecimento, de comissão ou qualquer
outro - sempre faltaria um elemento constitutivo do crime de abuso de confiança: a actuação
do agente contra a vontade do lesado.

III - A indemnização civil referida no art.º 377, n.º 1, do CPP, é a emergente da


responsabilidade civil extracontratual reportada ao facto ilícito descrito na acusação ou na
pronúncia, em qualquer das suas modalidades - responsabilidade civil fundada na culpa e
responsabilidade civil fundada no risco.

IV - Embora o pedido de indemnização civil em processo penal tenha sempre por fundamento
um facto ilícito e culposo, penalmente punível, a condenação no pedido pode ter por
fundamento tão só o mesmo facto ilícito, mas desprovido de culpa, como é o caso da
responsabilidade civil fundada no risco, mas sempre responsabilidade civil extracontratual. V -
O n.º 2, do art.º 660, do CPC, proíbe que o tribunal se ocupe de questões não suscitadas pelas
partes, excepto as de conhecimento oficioso imposto por lei. Assim, destinando-se o pedido de
indemnização em processo penal a exigir a responsabilidade civil extracontratual, nunca a
sentença poderá condenar por factos diversos, definidores de responsabilidade civil
contratual. 18-03-1998
Processo n.º 1529/97 – 3.ª Secção Relator: Cons. Joaquim Dias

*****

I - O crime de abuso de confiança consuma-se com a inversão do título de posse.

II - Se da acusação não consta expressamente o(s) lugar(es) onde o arguido recebeu e,


imediatamente, fez suas as quantias, face aos elementos disponíveis, é territorialmente
competente para conhecer do crime de abuso de confiança, em conformidade com o disposto
no art.º 21, n.º 2, do CPP, o tribunal da área onde primeiro houve notícia dele.

11-11-1998 Proc. n.º 848/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Leonardo Dias

*****

II - No crime de abuso de confiança, para delinear o elemento "entrega" não é necessário um


prévio acto material de entrega da coisa móvel, bastando que o agente se encontre investido
num poder sobre a mesma que lhe dê a possibilidade de a desencaminhar ou dissipar,
podendo assim tratar-se de uma entrega directa ou indirecta.

ARTIGO 206.º RESTITUIÇÃO OU REPARAÇÃO

1 - Nos casos previstos nas alíneas a), b) e e) do n.º 1 e na alínea a) do n.º 2 do artigo 204.º e
no n.º 4 do artigo 205.º, extingue-se a responsabilidade criminal, mediante a concordância do
ofendido e do arguido, sem dano ilegítimo de terceiro, até à publicação da sentença da 1.ª
instância, desde que tenha havido restituição da coisa furtada ou ilegitimamente apropriada
ou reparação integral dos prejuízos causados. Redacção dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET

2 - Quando a coisa furtada ou ilegitimamente apropriada for restituída, ou tiver lugar a


reparação integral do prejuízo causado, sem dano ilegítimo de terceiro, até ao início da
audiência de julgamento em 1.ª instância, a pena é especialmente atenuada.

3 - Se a restituição ou a reparação forem parciais, a pena pode ser especialmente atenuada.

ANOTAÇÕES:

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A restituição prevista no art.º 206, do CP de 1995, reporta-se à restituição voluntária.

13-01-1998 Processo n.º 1106/97 - 3.ª Secção Relator: Virgílio Oliveira

*****

I - A inserção na redacção do actual art.º 72, do CP, da expressão "atenua especialmente", em


lugar da anteriormente constante no art.º 75, do CP de 82, "pode atenuar especialmente", e
bem assim a extensão da necessidade da diminuição de forma acentuada, à própria
"necessidade da pena", traduz, no que respeita à atenuação especial da pena, uma alteração
legislativa significativa, transfigurando o que era uma opção, num poder vinculado, a que o juiz
não se pode eximir, verificados que sejam os pressupostos em que se radica.
II - Por isso, os factos que a devam consubstanciar terão de emergir do acervo factológico
provado com um recorte tal que, por atenção a eles e alicerçado neles, o tribunal tenha
obrigatoriamente de conceder a atenuação especial.

III - A restituição ou reparação efectuadas por outrem (ou logradas através da actividade ou
iniciativa de outrem) que não o agente, não podem valer por si sós, para levarem à atenuação
especial, por muito que isso pareça derivar, numa perspectiva literal, do texto do actual n.º 1,
do art.º 206, do CP, em cotejo com o art.º 301, n.º 1, do CP de 82.

IV - A atenuação que este mencionado art.º 206 impõe há-de resultar de factos que
inequivocamente exprimam (ou onde claramente se expresse) um sentimento espontâneo,
livre e não pressionado (ou determinado por incentivos ou condicionalismo exógenos) de
restituição ou reparação, uma vez que apenas esse se pode compatibilizar com a diminuição
por forma acentuada da ilicitude do facto, da culpa do agente ou da necessidade da pena.

V - O arrependimento, sem que se verifiquem ou factualizem "os actos demonstrativos" a que


refere o n.º 2, do art.º 72, do CP, não passa de um mero substracto da confissão, duma
decorrência desta que não inculca nem revela, por si só, contrição sincera e repúdio sentido
pelos factos praticados. VI - A confissão nem sempre traduz, de per si, uma abonação
significativa da personalidade do arguido, designadamente se os factos cometidos são
evidentes e não foi a confissão, que única e decisivamente, contribuiu para a sua descoberta.
15-01-1998 Processo n.º 942/97 - 3.ª Secção Relator: Oliveira Guimarães

*****

I - O art.º 206, do CP, contém um verdadeiro furto privilegiado, criado no sentido de estimular
a restituição da coisa furtada e a extinção do dano, o que se justifica dada a sua grande eficácia
social e o seu alto interesse de contribuir eficazmente para a defesa da propriedade.

II - Num Código Penal como o vigente, em que a raiz da censura é a culpa, a atenuação prevista
no citado artigo deve justificar-se numa diminuição desta ou na redução da ilicitude. Ora, se
tais circunstâncias podem ocorrer quando tem lugar a restituição voluntária pelo agente, ou a
reparação do dano quando tal restituição não seja possível, já o mesmo não se poderá
concluir, sem mais, quando a recuperação dos objectos foi antes devida à acção da PSP.

III - A lei é clara no sentido de que não basta a ocorrência das circunstâncias enumeradas no
n.º 2, do art.º 72, do CP, para efeito de atenuação especial. Esta só poderá ocorrer se se
verificar diminuição acentuada da ilicitude do facto, da culpa do agente ou da necessidade da
pena. 25-02-1998 Processo n.º 1333/97 - 3.ª Secção Relator: Cons. Augusto Alves

*****

I - No regime do CP/82, quando o objecto do furto fosse restituído pelo agente, sem dano
ilegítimo de terceiro, antes de instaurado o procedimento criminal, os limites da pena eram
reduzidos a metade (art.º 301).

II - Aquela atenuante, além do fundamento utilitário, realçava sobretudo, através da reparação


espontânea pelo agente, a mitigação da culpa e a diminuição das exigências de prevenção
especial.

III - A supressão da expressão «pelo agente», no actual art.º 206, do CP (redacção de 1995), só
pode significar que aquela atenuante deixou de ter por fundamento necessário a diminuição
da culpa do agente e das exigências de prevenção especial, sendo, portanto, razões de
prevenção geral, atinentes à ilicitude do facto, que agora a fundamentam.

IV - Donde se conclui que, para o funcionamento da aludida atenuante é suficiente o facto


objectivo da restituição ou reparação integral do dano, até ao início do julgamento em
primeira instância.

V - A autoria da restituição ou da reparação - se provém do agente do crime ou de outrem - só


releva num aspecto: no primeiro caso, a atenuante indicia uma diminuição da culpa
(atenuante de carácter geral) e da ilicitude; no segundo caso, apenas diminuição da ilicitude do
facto. 06-05-1998 Processo n.º 159/98 - 3.ª Secção Relator: Conselheiro Joaquim Dias

*****

A restituição ou reparação de que fala o art.º 206, do CP, não podem ser identificadas, jurídico-
conceitualmente, com a apreensão das coisas subtraídas ou ilegitimamente apropriadas, ou
com a sua recuperação, exigindo antes, uma acção espontânea e voluntária do agente no
sentido de restituir ou reparar, espontaneidade e voluntariedade essas que são de exigir a
quem quer que eventualmente providencie por tal restituição ou reparação, já que o art.º 206,
na secura da redacção utilizada, parece admitir que possa ser efectivada por outrem, que não
pelo próprio agente do crime.

10-12-1998

Proc. n.º 1133/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Oliveira Guimarães

*****

I - A tradição da nossa lei vai no sentido de considerar a restituição como voluntária e


espontânea.

II - A entrega dos objectos não constitui uma restituição quando é feita a troco de uma
importância que a ofendida foi obrigada a pagar.

III - Não se verificam os pressupostos do art.º 301 do CP de 82 ou do art.º 206 do CP de 95,


quando o arguido restituiu a coisa a troco de uma importância que o ofendido foi obrigado a
pagar.

ARTIGO 207.º ACUSAÇÃO PARTICULAR

1 - No caso do artigo 203.º e do n.º 1 do artigo 205.º, o procedimento criminal depende de


acusação particular se:(Para que haja procedimento criminal, é necessário que o ofendido se
queixe, deduza acusação particular e se constitua assistente no processo)

a) O agente for cônjuge, ascendente, descendente, adoptante, adoptado, parente ou afim até
ao 2.º grau da vítima, ou com ela viver em condições análogas às dos cônjuges; ou

b) A coisa furtada ou ilegitimamente apropriada for de valor diminuto e destinada a utilização


imediata e indispensável à satisfação de uma necessidade do agente ou de outra pessoa
mencionada na alínea a).
2 – No caso do artigo 203.º, o procedimento criminal depende de acusação particular quando
a conduta ocorrer em estabelecimento comercial, durante o período de abertura ao público,
relativamente á subtração de coisas móveis expostas de valor diminuto e desde que tenha
havido recuperação imediata destas, salvo quando cometida por duas ou mais pessoas.

ARTIGO 208.º

FURTO DE USO DE VEÍCULO

(Crime Semi-Público, excepto se o agente do crime for um do mencionados no artigo 207.º, em


passa a particular)

1 - Quem utilizar automóvel ou outro veículo motorizado, aeronave, barco ou bicicleta, sem
autorização de quem de direito, é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de
multa até 240 dias, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.
(Crime de natureza permanente, em que existe sempre o flagrante delito).

2 - A tentativa é punível.

3 - O procedimento criminal depende de queixa ou, nos casos previstos no artigo 207.º, de
acusação particular.

ANOTAÇÕES:

 A tentativa é sempre punível;

 É um crime permanente;

 Tem natureza semi-pública ou particular;

 Furto de uso de veículo – é co-autor deste crime, aquele que aceita o convite de outrem
para passear numa caravana e nela entra, sabendo que ele, qualquer familiar ou amigo, não
eram possuidores deste tipo de veículo, nada pergunta sobre a proveniência da viatura e logo
que entra nela, é informado de que fora subtraída fraudulentamente.

 NO CRIME DE FURTO DE USO DE VEÍCULO, IMPORTA RETER QUE:

a) Subtracção ou apropriação tal como no furto / subtracção com intenção de a usar.

b) Coisa alheia móvel e infungível. (Ex: Bicicleta, um barca, um carro, etc.);

c) O fim é sempre passageiro ou momentâneo, já que se visa um uso sem Ter intenção
definitiva; d) A restituição é sempre importante, mas tal restituição deve ser integral e não
parcial. Se o arguido abandona o veículo automóvel – Há furto e não furto de uso de veículo.

e) É competente para a sua apreciação o tribunal da comarca em cuja área o veículo veio a ser
apreendido ao arguido.

f) Se o agente se apoderar definitivamente do veículo, com a intenção de não o restituir é


crime de furto simples/qualificado, em função do valor do veículo.

Exemplos:

Mário, sem intenção de apropriação, subtraiu o automóvel a Joaquim sem o consentimento


deste, apenas com a intenção de o utilizar por algumas horas. Após ter dado umas voltas
estacionou-o junto à residência de Joaquim, local onde anteriormente se encontrava. Mário
tem 19 anos e é filho de Joaquim. Mário não causou qualquer dano no veículo, avaliado em
2.000 contos. Mário cometeu algum crime? Qual? Indique a natureza? Mário cometeu o crime
de FURTO DE USO DE VEÍCULO. Atendendo à relação de parentesco entre o agente do crime e
a vítima (filho e pai), este crime que normalmente é de natureza semi-pública, passa a revestir
a natureza particular.

PROCEDIMENTO:

1. Nos casos em que o crime é de natureza semipública, o procedimento é o mesmo que foi
referido em relação aos artigos 143.º, 153.º, entre outros, para aí se remetendo.

2. Nos casos em que o crime é particular, nunca há lugar à detenção em flagrante delito, mas
apenas à identificação do infractor, artigo 255.º, n.º 4, do CPP e anotação ao art.º 180.º.
Nestes termos, a intervenção dos órgãos de polícia criminal limita-se à formalização da queixa,
caso o titular desse direito o queira exercer. Sobre a detenção, desenvolvidamente, vidé
anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação à forma de processo tem pleno cabimento aqui o que se
referiu a propósito do art.º 203.º, para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, ver
anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - Pratica o crime receptação, e não o de furto de uso de veículo automóvel, o arguido que,
embora tendo plena consciência de que o aludido veículo fora furtado por outro co-arguido,
nele se faz transportar, conduzindo-o durante vários dias, com a intenção de obter para si
vantagem patrimonial.

II - No tipo legal de crime de receptação, o elemento material da infracção, consiste na


detenção ou uso da coisa obtida por outrem mediante facto ilícito contra o património.

III - No crime de receptação dolosa, o elemento moral desta infracção reside no


conhecimento, por parte do receptador, que a coisa é de proveniência criminosa.

23-04-1997 Processo n.º 1282/96 - 3ª Secção

Relator: Pires Salpico *

ARTIGO 209.º

APROPRIAÇÃO ILEGÍTIMA EM CASO DE ACESSÃO OU DE COISA ACHADA

(Crime Semi-Público, excepto se o agente do crime for um do mencionados no artigo 207.º, em


passa a particular)

1 - Quem se apropriar ilegitimamente de coisa alheia que tenha entrado na sua posse ou
detenção por efeito de força natural, erro, caso fortuito ou por qualquer maneira
independente da sua vontade é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa
até 120 dias. (Comete este crime, quem encontre um objecto ou animal e não participa o
achado)

2 - Na mesma pena incorre quem se apropriar ilegitimamente de coisa alheia que haja
encontrado.
3 - O procedimento criminal depende de queixa. É correspondentemente aplicável o disposto
nos artigos 206.º e 207.º. (Acusação particular)

ANOTAÇÕES:

NATUREZA DO CRIME:

Em regra é semipública. Sobre este conceito, vide anotação ao artigo 143.º. Porém, se o
agente do crime for cônjuge, ascendente, descendente, adoptante, adoptado, parente ou afim
até 2.º grau da vitima, ou com ela viver em condições análogas às dos cônjuges ou a coisa
ilegitimamente apropriada for de valor diminuto e destinada a utilização imediata e
indispensável à satisfação de uma necessidade do agente ou de qualquer outra pessoa das
referidas acima, o crime é de natureza particular, artigos 209.º, n.º 3 e 207.º. Sobre os crimes
particulares, vide anotação ao artigo 180.º.

PROCEDIMENTOS: 1. Nos casos em que o crime é de natureza semipública, o procedimento é


o mesmo que foi referido em relação aos artigos 143.º, 153.º, entre outros, para aí se
remetendo. 2. Nos casos em que o crime é de natureza particular, nunca há lugar à detenção
em flagrante delito, mas apenas à identificação do infractor, artigo 255.º, n.º 4, do CPP e
anotação ao art.º 180.º. Nestes termos, a intervenção dos órgãos de polícia criminal, limita-se
à formalização da queixa, caso o titular desse direito o queira exercer. Sobre a detenção, vide
anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Relativamente à forma de processo vale aqui o que se referiu a


propósito do art.º 203.º, para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, ver anotação ao
artigo 131.º.

ARTIGO 210.º

ROUBO

(Crime Público)

1 - Quem, com ilegítima intenção de apropriação para si ou para outra pessoa, subtrair, ou
constranger a que lhe seja entregue, coisa móvel alheia, por meio de violência contra uma
pessoa, de ameaça com perigo iminente para a vida ou para a integridade física, ou pondo-a na
impossibilidade de resistir, é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

2 - A pena é a de prisão de 3 a 15 anos se:(verifica-se uma agravação da moldura penal) a)


Qualquer dos agentes produzir perigo para a vida da vítima ou lhe infligir, pelo menos por
negligência, ofensa à integridade física grave; ou b) Se verificarem, singular ou
cumulativamente, quaisquer requisitos referidos nos n.ºs 1 e 2 do artigo 204.º, sendo
correspondentemente aplicável o disposto no n.º 4 do mesmo artigo. (continua a haver a
qualificação se a coisa roubada for de valor diminuto. Neste caso o crime continua a revestir-se
de natureza pública mas é punido nos termos do n.º 1, do Artigo 210.º do C.P.)

3 - Se do facto resultar a morte de outra pessoa, o agente é punido com pena de prisão de 8 a
16 anos. (A morte terá que ser por negligência, se for com dolo, comete o crime de roubo e
homicídio) _______________________
ANOTAÇÕES:

 No crime de ROUBO, há pressão física, psíquica, intimidação, constrangimento e violência. 


O elemento objectivo do roubo, à semelhança do que se verifica no furto, é a intenção de
subtracção e apropriação para si ou para outrem.

 O CRIME DE ROUBO, é um crime complexo, que contém como elemento essencial, a lesão
de um bem jurídico, eminentemente pessoal, pelo que ao respectivo agente são imputáveis
tantos crimes dessa espécie, quantas as pessoas ofendidas. O crime de roubo, tal como o de
furto, consuma-se com a violação do poder de facto de guardar ou de dispor da coisa que tem
sobre ela o primitivo detentor e com a subtracção desse poder pelo agente,
independentemente de tal coisa ficar ou não pacificamente por maior ou menor tempo na
posse do infractor.

 DIFERENÇAS ENTRE O CRIME DE ROUBO E DE FURTO:  O crime de roubo distingue-se do


crime de furto, porque no primeiro há violência ou ameaça com um perigo eminente para a
integridade física, ou para a vida, ou a colocação da vítima na impossibilidade de resistir, o que
não sucede no furto.  O crime de roubo distingue-se do crime de extorsão, porque é um
crime contra a propriedade, enquanto que extorsão, é um crime contra o património em geral.
Em face de redacção ampla, tudo o que não for roubo nem furto é extorsão.

 Não obstante o crime de roubo ser um crime contra a propriedade, o elemento pessoal tem
no mesmo uma particular relevância, porque com a sua prática, é posta em causa a liberdade,
a integridade física ou até mesmo a própria vida da pessoa roubada.

 É indiferente para a caracterização de uma ameaça como violenta e em vista da qualificação


de uma subtracção como roubo que a mesma tenha sido feita com uma pistola de alarme, se
esta última foi utilizada por forma a criar no ofendido a ideia de se tratar de uma verdadeira
arma de fogo, e se, assim, o mesmo ficou intimidado pelo seu uso e exibição.

PROCEDIMENTO: O procedimento, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, desenvolvidamente, vidé anotação ao
artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

I - A razão de política criminal fundante da consagração da agravante qualificativa do crime de


roubo "trazendo, no momento do crime, arma aparente ou oculta" (art.ºs 204, n.º 2, al. f) e
210, n.º 2, al. b), do CP) é uma especial censura do agente, por o tornar mais audaz e criar
maiores dificuldades de defesa da vítima.

II - A utilização (ou a exibição) de uma pistola de alarme pelo arguido constitui uma forma de
intimidação idónea a fazer o ofendido recear pela sua integridade física, logo causal da entrega
de bens e valores, ou seja, na terminologia legal, constitutiva de um "constrangimento".

III - Todavia, na ordem fáctica (o arguido apontou ao ofendido uma pistola de alarme, e exigiu
que este lhe desse determinada quantia em dinheiro) parece mais adequado falar de um meio
astucioso do que propriamente da expressão de uma vontade firme de induzir no ofendido a
ideia de que se seguiria uma agressão caso aquele meio - pistola de alarme - não produzisse o
resultado querido pelo arguido.
IV - Assim, a exibição daquele instrumento - pistola de alarme - não foi, do ponto de vista
objectivo, apto a configurar o conceito de "arma", ainda que aparente, e, por essa via, a
justificar a qualificação do roubo à luz da circunstância agravativa da al. f), do n.º 2, do art.º
204, do CP. 18-03-1998

Processo n.º 1461/97 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Lopes Rocha

*****

Uma pistola de alarme, sendo apta para criar no ofendido a convicção de tratar-se de uma
arma de fogo e como tal apta para realizar a ameaça de perigo eminente, elemento típico do
crime de "roubo simples", é facto atípico para efeitos de actuar como qualificativa. 26-03-1998

ARTIGO 211.º

VIOLÊNCIA DEPOIS DA SUBTRACÇÃO

As penas previstas no artigo anterior são, conforme os casos, aplicáveis a quem utilizar os
meios previstos no mesmo artigo para, quando encontrado em flagrante delito de furto,
conservar ou não restituir as coisas subtraídas. _______________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: O procedimento, quer em flagrante delito quer fora do


flagrante delito, é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo.

Sobre a detenção, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - Comete o crime de furto qualificado, p. p. pelo n.º 2, al. e), do art.º 204, do CP, em concurso
real com o crime de violência depois da subtracção, p. p. pelo art.º 211, do mesmo diploma, o
arguido que entrou numa habitação, através de uma janela do rés-do-chão, se dirige ao
primeiro andar, se introduziu no quatro da ofendida F..., donde retirou vários objectos, sendo
surpreendido por aquela quando já tinha os objectos dentro do bolso, e, ao ver-se agarrado
por a mesma a empurra, pondo-se em fuga.

II - No crime de furto qualificado o interesse protegido é em exclusivo o da protecção do


património, enquanto que no crime de violência depois da subtracção o interesse protegido é
o da integridade física do ofendido.

III- Para a verificação da reincidência é essencial a existência de averiguação em matéria de


facto, com respeito pelo princípio do contraditório.

*****

I - Pratica um crime de violência depois da apropriação, o arguido que tendo furtado vários
objectos do interior de uma residência, porque um dos ofendidos o pretendesse agarrar
quando se aprestava a sair, para manter em seu poder os objectos que subtraíra e se furtar à
acção da justiça, lhe aponta uma chave de fendas em disposição de agredir, logrando assim,
pelo receio causado para a sua integridade física, que o mesmo desistisse de tal intenção.
II - Nas circunstâncias descritas, a presença no local de outras pessoas para além do ofendido é
irrelevante para a perfeição do crime, pois medindo-se a eficácia virtual da ameaça pela
psicologia média dos indivíduos da mesma condição do sujeito passivo, é evidente que o
apontar de uma chave de fendas, que se pode considerar uma arma perfurante, tem de
necessariamente provocar medo neste último.

*****

Comete um crime de roubo, p.p. pelo art.º 210, n.º 1, do CP, o arguido que conduz um veículo
a uma bomba de gasolina, solicita ao funcionário que ali presta serviço o enchimento do
depósito de combustível e, depois de colocado o mesmo, agride aquele com uma "forte
bofetada" - comportamento que faz o agredido fugir do local, temendo pela sua integridade
física -, pondo-se depois em fuga, sem pagar o preço devido.

ARTIGO 212.º

DANO

(Crime Semi-Público, excepto se o agente do crime for um do mencionados no artigo 207.º, em


passa a particular)

1 - Quem destruir, no todo ou em parte, danificar, desfigurar ou tornar não utilizável coisa
alheia, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.

2 - A tentativa é punível.

3 - O procedimento criminal depende de queixa.

4 - É correspondentemente aplicável o disposto nos artigos 206.º e 207.º Redacção dada pela
Lei n.º 59/2007, de 04SET (Acusação particular – para que haja procedimento criminal é
necessário que o ofendido se queixe, deduza acusação particular e se constitua assistente no
processo). _______________________

ANOTAÇÕES:  Para haver o crime de dano, é necessário haver dolo, intenção.

 Qualquer maus tratos a animais é crime de dano. Exemplo: Soltar um cão ou outro animal e
este na estrada é atropelado por um veículo automóvel danificando-o, é crime de dano e é
responsável o proprietário do animal.

PROCEDIMENTO:

1. Nos casos em que o crime é de natureza semipública, o procedimento é o mesmo que foi
referido em relação aos artigos 143.º, 153.º, entre outros, para aí se remetendo.

2. Nos casos em que o crime é de natureza particular, nunca há lugar à detenção em flagrante
delito, mas apenas à identificação do infractor, artigo 255.º, n.º 4, do CPP. Nestes termos, a
intervenção dos órgãos de polícia criminal, limita-se à formalização da queixa, caso o titular
desse direito o queira exercer. Sobre a detenção, vide anotação ao artigo 131.º.
FORMA DE PROCESSO: Em relação à forma de processo vale aqui o que se referiu a propósito
do art.º 203.º, para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, ver anotação ao artigo
131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I -Assentando a convicção do julgador em meios de prova permitidos por lei (art.º 355, do
CPP), o uso que o tribunal faz do princípio da livre apreciação da prova contido no art.º 127, do
mesmo Código, é insindicável pelo STJ.

II -Para a verificação do crime de dano basta o dolo genérico, não sendo necessário o dolo
específico, ou seja, o fim de causar dano.

III -O acto danoso tem de ser praticado sobre coisa alheia.

ARTIGO 213.º

DANO QUALIFICADO

(Crime Público, excepto se se verificar o disposto no n.º 3, casos em passa a ser de natureza
Semi-Pública ou Particular

1 - Quem destruir, no todo ou em parte, danificar, desfigurar ou tornar não utilizável:

a) Coisa alheia de valor elevado; (> a € 5 100 até € 20 400 - até ao ano 2011)

b) Monumento público;

c) Coisa destinada ao uso e utilidade públicos ou a organismo ou serviços públicos; Redacção


dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET (Carro da PSP, instalações policiais, Autocarro, táxi,
caixote do lixo, banco do jardim, etc.)

d) Coisa pertencente ao património cultural e legalmente classificada ou em vias de


classificação; ou

e) Coisa alheia afecta ao culto religioso ou à veneração da memória dos mortos e que se
encontre em lugar destinado ao culto ou em cemitério. é punido com pena de prisão até 5
anos ou com pena de multa até 600 dias.

2 - Quem destruir, no todo ou em parte, danificar, desfigurar ou tornar não utilizável coisa
alheia: a) De valor consideravelmente elevado; (> a € 20 400 - até ao ano 2011)

b) Natural ou produzida pelo homem, oficialmente arrolada ou posta sob protecção oficial pela
lei;

c) Que possua importante valor científico, artístico ou histórico e se encontre em colecção ou


exposição públicas ou acessíveis ao público; ou

d) Que possua significado importante para o desenvolvimento tecnológico ou económico;


(económico. Ex: rasgar acções) é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos.

3 - É correspondentemente aplicável o disposto nos n.ºs 3 e 4 do artigo 204.º, (não há lugar à


qualificação se a coisa danificada for de valor diminuto, neste caso o crime que seria de
natureza pública passa a revestir-se de natureza Semi-Pública), e 2 e 3 do artigo 206.º e na
alínea a) do nº 1 do artigo 207 .º, (caso se verifique uma relação de parentesco entre o agente
do crime e o lesado – cônjuge, ascendente, descendente, adoptado, adoptante, parente ou
afim até ao 2.º grau da vítima, ou com ela viver em condições análogas às dos cônjuges, o
crime passa logo a revestir-se de natureza Particular, independentemente do valor da coisa
danificada.

4 - O n.º 1 do artigo 206.º aplica-se nos casos da alínea a) do n.º 1 e da alínea a) do n.º 2.
Redacção dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET

ANOTAÇÕES:

 No caso do n.º 3 deste artigo, verificando-se que existe um grau de parentesco entre o
agente do crime e o ofendido, nos termos da alínea a) do Artigo 207.º do C.P., o crime de dano
passa a revestir-se de natureza Particular e então para haver procedimento criminal, o
ofendido tem que se queixar, deduzir acusação particular e constituir-se assistente em
processo penal, isto acontece independentemente do valor da coisa danificada. Neste caso e
devido à natureza do crime passar a particular, mesmo em flagrante delito, nunca há lugar à
detenção do indivíduo (arguido), mas apenas à sua identificação.

Exemplos:  Cerca das 03H00 da madrugada, um indivíduo de 18 anos de idade, imputável,


destruiu completamente, com o auxílio de uma pedra, um caixote do lixo, pertença da Câmara
Municipal local. O caixote do lixo, no valor de 9.000$00, destinava-se ao uso público. Indicar se
existe ilícito criminal? Sim. Os factos indiciam um crime de DANO (SIMPLES). Embora o objecto
danificado seja destinado ao uso público, o seu valor é considerado diminuto (< a 1 U.C.), pelo
que não há lugar a qualificação. Pelo mesmo motivo o crime passa a ser de natureza semi-
pública.  Um veículo automóvel, conduzido por um indivíduo embriagado, embateu contra
um monumento público, destruindo-o completamente. O monumento tinha um valor
consideravelmente elevado e importante valor artístico e histórico. O acidente ocorreu devido
ao excesso de velocidade. Qual o crime cometido? Não foi praticado qualquer crime de dano.
A destruição do monumento só seria crime de dano, se tivesse sido praticado dolosamente, o
que não ocorreu na presente situação. A negligência só é punível nos casos especialmente
previstos na lei, o que não é o caso no crime de dano.

PROCEDIMENTO: 1. Nos casos em que o crime é público, o procedimento é o mesmo que foi
referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. 2. Nos casos em que o crime é
particular, nunca há lugar à detenção em flagrante delito, mas apenas à identificação do
infractor, artigo 255.º, n.º 4, do CPP. Neste caso, a intervenção dos órgãos de polícia criminal,
limita-se à formalização da queixa, caso o titular desse direito o queira exercer. Sobre a
detenção, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1, a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA,


consoante estejam ou não preenchidos os requisitos do art.º 391.ºA. Relativamente ao n.º 2, a
forma de processo é sempre a COMUM. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo
131.º.

ARTIGO 214.º

DANO COM VIOLÊNCIA

(Crime Público)
1 - Se os factos descritos nos artigos 212.º e 213.º forem praticados com violência contra uma
pessoa, ou ameaça com perigo iminente para a vida ou a integridade física, ou pondo-a na
impossibilidade de resistir, o agente é punido:

a) No caso do artigo 212.º, com pena de prisão de 1 a 8 anos;

b) No caso do artigo 213.º, com pena de prisão de 3 a 15 anos;

c) Se do facto resultar a morte de outra pessoa, com pena de prisão de 8 a 16 anos.

2 - As penas previstas no número anterior são aplicáveis a quem utilizar os meios nele
previstos para, quando encontrado em flagrante delito de dano, continuar o acto criminoso.
_______________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: O procedimento, quer em flagrante delito quer fora do


flagrante delito, é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo.
Sobre a detenção, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, vide anotação ao
artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

III - Por outro lado, para a verificação do crime de dano com violência, não basta o ter-se
querido "destruir, no todo ou em parte, danificar, desfigurar ou tornar não utilizável coisa
alheia", importando ainda, que uma actuação com tais propósitos, ocorra adjuvada ou por
aquela violência, ou por aquela ameaça, ou por aquela colocação do ofendido na
impossibilidade de resistir, representando o agente qualquer destes condicionalismos.

ARTIGO 215.º

USURPAÇÃO DE COISA IMÓVEL

(Crime Semi-Público)

1 - Quem, por meio de violência ou ameaça grave, invadir ou ocupar coisa imóvel alheia, com
intenção de exercer direito de propriedade, posse, uso ou servidão não tutelados por lei,
sentença ou acto administrativo, é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de
multa até 240 dias, se pena mais grave lhe não couber em atenção ao meio utilizado. (É
necessário que haja violência ou ameaça de violência e só se refere a imóveis)

2 - A pena prevista no número anterior é aplicável a quem, pelos meios indicados no número
anterior, desviar ou represar águas, sem que a isso tenha direito, com intenção de alcançar,
para si ou para outra pessoa, benefício ilegítimo.

3 - O procedimento criminal depende de queixa. _______________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: O procedimento, quer em flagrante delito quer fora do


flagrante delito, é o mesmo que foi referido em relação aos artigos 143.º, 153.º, entre outros,
para aí se remetendo. Sobre a detenção, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: A forma normal de processo é a SUMÁRIA ou ABREVIADA, consoante


estejamos perante uma situação de flagrante delito ou fora do flagrante delito,
respectivamente, e na medida em que estejam ou não reunidos os requisitos dos art.ºs 381.º e
391.º-A. Sobre as formas processuais, ver anotação ao artigo 131.º.
ARTIGO 216.º

ALTERAÇÃO DE MARCOS

(Crime Semi-Público ou Particular, verificando-se o disposto no n.º 3)

1 - Quem, com intenção de apropriação, total ou parcial, de coisa imóvel alheia, para si ou para
outra pessoa, arrancar ou alterar marco é punido com pena de prisão até 6 meses ou com
pena de multa até 60 dias.

2 - O procedimento criminal depende de queixa. (apenas para o n.º 1 deste artigo)

3 - É correspondentemente aplicável o disposto nos artigos 206.º e 207.º. (a) caso se verifique
uma relação de parentesco entre o agente do crime e o lesado – cônjuge, ascendente,
descendente, adoptado, adoptante, parente ou afim até ao 2.º grau da vítima, ou com ela
viver em condições análogas às dos cônjuges, b) A coisa furtada ou ilegitimamente apropriada
for de valor diminuto e destinada a utilização imediata e indispensável à satisfação de uma
necessidade do agente ou de outra pessoa mencionada na alínea a). o crime passa logo a
revestir-se de natureza Particular – para que haja procedimento criminal é necessário que o
ofendido se queixe, deduza acusação particular e se constitua assistente em processo judicial)
Redacção dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET ________________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: 1. Nos casos em que o crime é de natureza semipública, o


procedimento é o mesmo que foi referido em relação aos artigos 143.º, 153.º, entre outros,
para aí se remetendo. 2. Nos casos em que o crime é particular, nunca há lugar à detenção em
flagrante delito, mas apenas à identificação do infractor, artigo 255.º, n.º 4, do CPP. Nestes
termos, a intervenção dos órgãos de polícia criminal, limita-se à formalização da queixa, caso o
titular desse direito o queira exercer. Sobre a detenção, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Tanto nos casos em que o crime é de natureza semipública, como
naqueles em que o crime assume a natureza particular, tem aqui pleno cabimento o que se
referiu a propósito do art.º 203.º, para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, ver
anotação ao artigo 131.º.

vii) Crimes contra a paz e integridade pessoal: tortura;

ARTIGO 244.º

TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS CRUÉIS, DEGRADANTES OU DESUMANOS GRAVES

(Crime Público)

1 - Quem, nos termos e condições referidos no artigo anterior:

a) Produzir ofensa à integridade física grave;

b) Empregar meios ou métodos de tortura particularmente graves, designadamente


espancamentos, electrochoques, simulacros de execução ou substâncias alucinatórias; ou c)
Praticar habitualmente actos referidos no artigo anterior: é punido com pena de prisão de 3 a
12 anos.

2 - Se dos factos descritos neste artigo ou no artigo anterior resultar suicídio ou morte da
vítima, o agente é punido com pena de prisão de 8 a 16 anos.
viii) Crimes contra a vida em sociedade: falsificação de documentos,
contrafação de moeda, associação criminosa´, organizações terroristas´, tráfico
de armas, tráfico e consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas;

SECÇÃO II FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS

ARTIGO 256.º

FALSIFICAÇÃO OU CONTRAFACÇÃO DE DOCUMENTO

(Crime Público)

1 - Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, de obter para si ou
para outra pessoa benefício ilegítimo, ou de preparar, facilitar, executar ou encobrir outro
crime: a) Fabricar ou elaborar documento falso, ou qualquer dos componentes destinados a
corporizá-lo; b) Falsificar ou alterar documento ou qualquer dos componentes que o integram;
c) Abusar da assinatura de outra pessoa para falsificar ou contrafazer documento; d) Fizer
constar falsamente de documento ou de qualquer dos seus componentes facto juridicamente
relevante; e) Usar documento a que se referem as alíneas anteriores; ou f) Por qualquer meio,
facultar ou detiver documento falsificado ou contrafeito; é punido com pena de prisão até três
anos ou com pena de multa.

2 - A tentativa é punível.

3 - Se os factos referidos no n.º 1 disserem respeito a documento autêntico ou com igual


força, a testamento cerrado, a vale do correio, a letra de câmbio, a cheque ou a outro
documento comercial transmissível por endosso, ou a qualquer outro título de crédito não
compreendido no artigo 267.º, o agente é punido com pena de prisão de seis meses a cinco
anos ou com pena de multa de 60 a 600 dias.

4 - Se os factos referidos nos n.ºs 1 e 3 forem praticados por funcionário, no exercício das suas
funções, o agente é punido com pena de prisão de um a cinco anos. Redacção dada pela Lei n.º
59/2007, de 04SET

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito o
procedimento é o mesmo que foi referido a propósito do artigo 245.º (crimes contra a
humanidade), para aí se remetendo. Relativamente aos n.ºs 3 e 4, quer em flagrante delito
quer fora do flagrante delito, o procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo
131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção, desenvolvidamente, ver anotação ao artigo
131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1, e em flagrante delito, a forma de processo normal


é a SUMÁRIA, reunidos que estejam os requisitos do art.º 381.º, do CPP, caso contrário é a
COMUM, ABREVIADA ou mesma a SUMARÍSSIMA. Fora do flagrante delito, a forma normal de
processo é a COMUM, ABREVIADA ou SUMARÍSSIMA, mas nunca a SUMÁRIA, como resulta
expressamente do disposto no art.º 381.º, do CPP. Em relação aos n.ºs 3 e 4, quer em flagrante
delito quer fora do flagrante delito, a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA, reunidos
que estejam os requisitos dos art.ºs 391.º-A e sgs., do CPP. Sobre as formas processuais, vide
anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Assento n.º 3/98, de 22DEZ, do S.T.J., a chapa de matrícula de um veículo automóvel nele
aposta, é um documento com igual força à de um documento autêntico, pelo que a sua
alteração dolosa consubstancia um crime de falsificação de documento. (D.R. n.º 294/98, de
22DEZ98).

*****

Assento n.º 8/2000, de 23MAI, do STJ - «No caso de a conduta da agente preencher as
previsões de falsificação e de burla do artigo 256.º, n.º 1, alínea a), e do artigo 217.º, n.º 1,
respectivamente, do Código Penal, revisto pelo Decreto-Lei n.º 48/95, de 15MAR, verifica-se
concurso real ou efectivo de crimes - Cheques».

*****

I -A chapa de matrícula de veículo é um sinal material colocado neste, dando a conhecer à


generalidade das pessoas a sua matrícula. A sua força probatória reside na credibilidade
proveniente do facto de na operação respectiva ter intervindo a autoridade competente do
Estado, fixando-lhe essa matrícula. Daí concluir-se que tal sinal material é equiparado a
documento autêntico quanto à sua força probatória.

II -Consequentemente, o arguido que arrancou as chapas de matrícula originais de um


velocípede com motor, colocando no seu lugar outras chapas com matrícula diferente,
passando a circular com aquele, constituiu-se autor de um crime de falsificação, p.p. pelo art.º
228, n.ºs 1, al. a) e 2, do CP de 1982 (actualmente, pelo art.º 256, n.ºs 1, al. a) e 3, do mesmo
Código, na redacção do DL n.º 48/95, de 15/03).

13-01-1998

Processo n.º 984/97 - 3.ª Secção

Relator: Augusto Alves

*****

V - Tendo o acórdão dado como provado: - que o arguido entrou na posse de determinado
impresso de cheque e nele dactilografou o seu próprio nome no local do tomador, a data, local
de emissão e quantia, e apôs pelo seu próprio punho, no local a isso destinado, a assinatura da
assistente, como dela se tratasse, dando assim pretensa ordem de pagamento da importância
de 5.000 contos; - que ao actuar do modo descrito pretendeu e logrou locupletar-se
injustificadamente com tal importância á custa do património da assistente; - que agiu de
modo livre e voluntário, ciente de que com a sua conduta não só causava prejuízos à titular da
respectiva conta bancária como também ao próprio Estado, e que abalava a credibilidade
pública que os títulos de crédito devem merecer para a generalidade das pessoas; - que tudo
fez sem o conhecimento e contra a vontade da ofendida, com plena consciência da
reprovabilidade e ilicitude do seu comportamento; verificam-se todos os elementos típicos
integradores dos crimes de burla e falsificação, designadamente os respectivos elementos
subjectivos, que se mostram devidamente caracterizados, não ocorrendo assim qualquer
insuficiência da matéria de facto provada.

20-01-1998

Processo n.º 690/97 - 3.ª Secção

Relator: Mota e Costa

*****

I - À luz da al. c), do n.º 1, do art.º 11, do DL 454/91, na sua redacção inicial, a declaração
inverídica de extravio de um cheque emitido e entregue, mais não era do que uma das formas
de que se podia revestir a proibição do seu pagamento à entidade sacada, ou seja, uma das
modalidades da comissão do crime de emissão de cheque sem provisão, pelo que a sua
punição em termos de concurso real com o da falsificação intelectual de tal declaração colide
frontalmente com o princípio ne bis in idem.

II - Embora no DL 316/97, de 19/11, se continue a prever como crime de emissão de cheque


sem provisão a proibição, à instituição sacada, de pagamento de um cheque entregue pelo
próprio ou por terceiro, deve-se concluir pela inconstitucionalidade actual dessa previsão
criminal.

III - Com efeito, para o legislador deste diploma, só se considera como susceptível de sujeição à
lei penal a emissão e entrega de um cheque que se destine ao pagamento de uma dívida
actual, baseada num negócio jurídico, de cujos termos e cláusulas deve ser dado
conhecimento ao tribunal, com a queixa ou posteriormente, mas sempre antes da efectivação
das diligencias de apuramento dos factos.

IV - Nesta medida e pese embora a terminologia utilizada, a realidade a que nele se chama de
"crime de emissão de cheque sem provisão" mais não é do que uma autêntica "prisão por
dívidas", destinada a sancionar criminalmente a falta de cumprimento de uma obrigação
pecuniária dentro de um prazo de moratória legal concedido ao devedor.

20-01-1998

Processo n.º 1301/97 - 3.ª Secção

Relator: Sá Nogueira

*****

VI - No crime de falsificação o bem jurídico protegido é a segurança e a confiança do tráfego


probatório, a verdade intrínseca do documento enquanto tal. VII - Se a denúncia do crime de
falsificação se reporta à actividade de um magistrado e não a documentação que para a sua
criação e elaboração tenha sido essencial e determinante da actividade do lesado, então, o
interesse público é preponderante. ~

20-01-1998

Processo n.º 1326/97 - 3.ª Secção

Relator: José Girão

*****
Quando alguém altera o número da chapa de matrícula ou do quadro de um automóvel, em
desconformidade daqueles que figuram na matrícula existente na Direcção-Geral de Viação
(DGV) e no livrete, comete o crime de falsificação de documento autêntico, porque alterou
declaração escrita emanada de oficial público.

11-03-1998

Processo n.º 1373/97 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Joaquim Dias

*****

I - A chapa de matrícula de um veículo é uma declaração receptícia emanada da DGV,


destinada a provar o registo do veículo e a sua identificação, individualizando-o e distinguindo-
o dos restantes, corporizada em placa materialmente feita. Sendo assim, destina-se a provar
um facto juridicamente relevante, pelo que se integra no conceito de documento, do art.º 255,
do CP.

II - O autor do documento é a DGV, entidade pública. Embora não seja esta entidade que
executa materialmente a chapa, mas servindo esta para provar o registo e a matrícula, que é
documento autêntico, a chapa de matrícula tem, nos termos do art.º 364, do CC, igual força
probatória à do documento que prova, o que equivale a dizer à de documento autêntico.

18-03-1998

Processo n.º 1550/97 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Mariano Pereira Tem votos de vencido

*****

III- As chapas de matrícula de veículos automóveis, ainda que estrangeiras, devem ser
consideradas documentos com força probatória idêntica à dos documentos autênticos. 19-03-
1998 Processo n.º1256/97 -3.ª Secção Relator: Cons. Dinis Alves

*****

VIII - No crime de falsificação de documento o bem jurídico protegido é a segurança e a


confiança do tráfico jurídico, especialmente o tráfico probatório, a verdade intrínseca do
documento, a sua fé pública e a sua transmissibilidade. IX - Há, pois, concurso real entre tais
crimes. 25-03-1998 Processo n.º 53/98 - 3.ª Secção Relator: Cons. Mariano Pereira

*****

X - A falsificação do número do chassis e da chapa de matrícula dos automóveis enquadra-se


na figura da falsificação de documento equiparado a autêntico. 22-04-1998 Processo n.º 440 -
3.ª SecçãoPratica um crime de falsificação p.p. no artº 256, al. b) e 3, do CP, o arguido que
sendo médico, mediante o pagamento de uma determinada quantia, faz inscrever no
certificado de óbito um diferente lugar do decesso, tendo em vista a satisfação dos interesse
dos familiares do defunto no sentido deste ser enterrado num cemitério diferente do que
competiria ao da zona do hospital onde na realidade se verificou a morte. 29-10-1998 Proc. n.º
1346/97 - 3.ª Secção Relator: Conselheiro Mota e Costa

*****
Na vigência do Código Penal de 1982, redacção original, a chapa de matrícula de um veículo
automóvel, nele aposta, é um documento com igual força à de um documento autêntico, pelo
que a sua alteração dolosa consubstancia um crime de falsificação de documento previsto e
punível pelas disposições combinadas dos art.ºs 228, n.ºs 1, alínea a) e 2, e 229, n.º 3, daquele
diploma. 05-11-1998 Proc. n.º 45.887 - 3.ª Secção Relator: Cons. Hugo Lopes

*****

III - No crime de falsificação de documento pretende-se proteger o documento enquanto meio


de prova, intenta-se evitar o perigo para a segurança do tráfico jurídico resultante da falsidade
nele incorporada, por colocar em risco a especial segurança e credibilidade que a comunidade
deposita nos meios de prova em geral como instrumento fundamental daquele tráfico. 27-01-
1999 Proc. n.º 350/98 - 3.ª Secção Relator: Conselheiro Armando Leandro

*****

I - O crime de falsificação de documento autêntico p.p. no artº 228 do CP de 1982 tem como
elemento subjectivo, a intenção do agente causar prejuízo a outrem ou ao Estado com a sua
conduta ou de com a mesma alcançar um benefício ilegítimo para si ou para terceiro. Assim,
além da consciência e da vontade de praticar o acto de falsificação, exige-se uma particular
intenção do agente, isto é, um dolo específico.

II - A rápida renovação de um bilhete de identidade não configura um prejuízo para quem quer
que seja nem, um benefício ilegítimo. 03-07-1996 Processo nº 45616 - 3ª Secção Relator:
Joaquim Dias

*****

I - A chapa de matrícula constitui um documento autêntico.

II - Diferentemente, os números de motor e do quadro de um velocípede com motor são


meros documentos particulares, integrando a sua alteração ou falsificação apenas o crime p.p.
no artº 228 nº 1 al. a) do CP de 1982. 03-07-1996 Processo nº 15/96 - 3ª Secção Relator: Flores
Ribeiro

*****

IV - A falsificação da chapa de matrícula é equiparável a documento com igual força de


documento autêntico. 10-07-1996 Processo nº 48280 - 3ª Secção Relator: Augusto Alves

*****

I - O vício da contradição insanável da fundamentação verifica-se, quando, segundo um


raciocínio lógico, é de concluir que a fundamentação justifica precisamente a decisão contrária
ou, quando, seguindo o mesmo raciocínio, se conclui que a decisão não fica suficientemente
esclarecida, quer porque existe contradição entre os fundamentos e a decisão, quer porque se
dá como provado e como não provado o mesmo facto.

II - Essa contradição insanável de fundamentação só pode resultar do texto da decisão


recorrida, sem possibilidade, portanto, de se recorrer a outros elementos do processo.

III - A aposição num veículo automóvel de uma chapa de matrícula com elementos
identificadores diferentes dos que lhe foram atribuídos pela autoridade pública integra o crime
de falsificação de documento p.p. pelo n.º 2 do art.º 228, do CP de 82, com correspondência
no n.º 3 do art.º 256 do CP de 95.

IV - São declarados perdidos a favor do Estado, não só os objectos que tiverem servido ou
estivessem destinados a servir para a prática de um facto ilícito típico, como também os que
por este tiverem sido produzido, verificados determinados requisitos.

V - Para que se considere um veículo automóvel instrumento do crime, é necessário


demonstrar que ele se integrou no próprio processo criminoso ou que se revelou indispensável
ao cometimento do crime.

VI - O veículo que foi posto ao serviço dos arguidos e por estes utilizado para o transporte das
armas e para a concretização do crime, é de considerar instrumento do crime. 10-12-1996
Processo n.º 903/96 - 3ª Secção Relator: Silva Paixão

*****

Se determinada viatura não pertencer a nenhuma categoria especial de veículos automóveis a


cuja cor esteja por lei atribuída valor distintivo específico, a alteração da mesma não integra o
tipo legal de falsificação de documento equiparado a autêntico ou particular.

*****

III - Comete o crime de falsificação, na forma continuada, p.p. pelos artigos 30, nº 2, 228º, nº 1
al. a) e 229º, nº 1 do CP de 82, - hoje p. p. pelos artigos 30, nº 2, 255º, al. a) e 256º, nº 1, al a)
do CP de 95 - uma arguida (médica) que pelo menos por 7 vezes manuscreveu, com o seu
punho, atestados médicos, imitando a letra de outro médico, colocando nos atestados a
vinheta deste, e com os mesmos justificou as faltas dadas ao serviço. 24-10-1996 Processo nº
253/96 - 3ª Secção Relator: Sousa Guedes

*****

A chapa da matrícula atribuída a uma motorizada pela competente entidade municipal passa a
constituir, no plano do direito penal, um documento com igual força ao de um documento
autêntico.

09-01-1997 Processo n.º 346/96 - 3ª Secção Relator: Hugo Lopes

*****

I - As chapas de matrícula de uma viatura, sendo lavradas como são por repartições ou serviços
públicos, merecem a fé-pública inerente a todo e qualquer documento desta natureza,
constituindo o que se poderia chamar o seu "bilhete de identidade".

II - Assim, devendo ser considerados documentos com força probatória idêntica à dos
documentos autênticos, a sua violação integra a prática de um crime de falsificação previsto e
punido no art.º 228, n.º 1 e 2, do CP de 1982, ou no art.º 256, n.º 3, do CP revisto. 15-01-1997
Processo n.º 240/96 - 3ª Secção Relator: Lopes Rocha

*****

I - Comete um crime de falsificação, na forma continuada, p.p. pelos art.ºs 30 e 228, n.º 1, al a)
e n.º 2 do CP de 82, o arguido que se apodera de "forma ilícita" de vinte impressos de cheque
da conta de F... e, sempre da mesma forma, escreveu pelo seu punho no espaço destinado à
assinatura o nome da titular da conta, procurando imitar a assinatura do gerente desta
empresa, que conhecia, opondo sobre essa assinatura o carimbo da empresa, assinando
depois o verso dos cheques como forma de endosso, obtendo, assim, vários produtos.

II - A desistência de queixa só é eficaz, "até à publicação da sentença da 1ª instância", ou seja,


desde que "produzida no processo até à publicação da decisão da primeira instância.

23-01-1997 Processo n.º 5394/95 - 3ª Secção Relator: Hugo Lopes

*****

A falsificação do número do motor, do número do chassis ou da chapa de matricula não


constituem falsificação de um documento autêntico ou autenticado.

09-05-1996 Processo nº 270/96 - 3ª Secção Relator: Costa Pereira

*****

I - Para se falar em crime continuado tem de haver pluralidades de resoluções criminosas.

II- Tendo a arguida a seu cargo o processamento dos vencimentos dos professores, sabendo
ser a única pessoa com conhecimentos de informática, idealizando um plano para defraudar o
Estado, todos os meses, desviando para contas suas ou de um seu filho, tais vencimentos,
actua apenas com uma resolução criminosa, não se podendo, pois, falar em crime continuado.

III - Com essa conduta cometeu a arguida um crime de falsificação e um crime de peculato em
concurso real. 23-05-1996 Processo nº 149/96 - 3ª Secção Relator: Araújo dos Anjos

ARTIGO 257.º

FALSIFICAÇÃO PRATICADA POR FUNCIONÁRIO

(Crime Público)

O funcionário que, no exercício das suas funções:

a) Omitir em documento, a que a lei atribui fé pública, facto que esse documento se destina a
certificar ou autenticar; ou

b) Intercalar acto ou documento em protocolo, registo ou livro oficial, sem cumprir as


formalidades legais; com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, ou de obter
para si ou para outra pessoa benefício ilegítimo, é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação ao art.º 131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, vide anotação ao art.º 131.º.

FORMA DE PROCESSO: COMUM ou ABREVIADA. Sobre as formas processuais, vide anotação ao


artigo 131.º.

ARTIGO 258.º

FALSIFICAÇÃO DE NOTAÇÃO TÉCNICA

(Crime Público)
1 - Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, ou de obter para si ou
para outra pessoa beneficio ilegítimo:

a) Fabricar notação técnica falsa;

b) Falsificar ou alterar notação técnica;

c) Fizer constar falsamente de notação técnica facto juridicamente relevante; ou

d) Fizer uso de notação técnica a que se referem as alíneas anteriores, falsificada por outra
pessoa; é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.

2 - É equiparável à falsificação de notação técnica a acção perturbadora sobre aparelhos


técnicos ou automáticos por meio da qual se influenciem os resultados da notação.

3 - A tentativa é punível.

4 - É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 4 do artigo 256.º.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Nos casos referidos no n.º 1, o procedimento é o mesmo que foi referido em
relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Na situação referida no n.º 4, ou seja, se os
factos forem praticados por funcionário, no exercício das suas funções, o procedimento é o
mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante
delito, as formas normais de processo são as mesmas que foram referidas em relação ao n.º 1
do artigo 256.º, para aí se remetendo. Em relação ao n.º 4, a forma de processo é a COMUM
ou ABREVIADA, conforme estejam ou não preenchidos os requisitos dos art.ºs 391.º-A e segs,
do CPP. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Sendo o veículo automóvel em si mesmo o objecto do crime (dadas as viciações efectuadas na


respectiva carroçaria, que para além de não ser a original, tem os números de inscrição da
matrícula e do número de chassis modificados) e não podendo aquele ser susceptível de
legalização, deve o mesmo ser declarado perdido a favor do Estado nos termos do art.º 109,
do CP, tanto mais que a sua circulação, nessas condições, na via pública, se traduz na prática
permanente de um crime de falsificação, envolvendo a sua utilização a certeza do
cometimento de novos crimes.

08-01-1998 Processo n.º 1088/97 - 3.ª Secção

Relator: Guimarães Dias

ARTIGO 259.º

DANIFICAÇÃO OU SUBTRACÇÃO DE DOCUMENTO E NOTAÇÃO TÉCNICA

(Crime Público)
1 - Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, ou de obter para si ou
para outra pessoa beneficio ilegítimo, destruir, danificar, tornar não utilizável, fizer
desaparecer, dissimular ou subtrair documento ou notação técnica, de que não pode ou não
pode exclusivamente dispor, ou de que outra pessoa pode legalmente exigir a entrega ou
apresentação, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.

2 - A tentativa é punível.

3 - É correspondentemente aplicável o disposto no n.º 4 do artigo 256.º

4 - Quando sejam particulares os ofendidos, o procedimento criminal depende de queixa.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: 1. O crime é de natureza pública, e é punível com pena de prisão até 3 anos
ou com pena de multa (n.º 1): neste caso, o procedimento é o mesmo que foi referido em
relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. 2. O crime é de natureza pública, e é punível
com pena de prisão de 1 a 5 anos, ou seja, o crime foi praticado por funcionário, no exercício
das suas funções, contra o Estado (n.º 3 e art.º 256.º, n.º 4). Neste caso o procedimento é o
mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. 3. O crime é de
natureza semipública e é punível com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa (n.ºs 1
e 4). Neste caso o procedimento é o mesmo que foi referido em relação aos artigos 143.º e
153.º, para aí se remetendo. 4. O crime é de natureza semipública e é punível com pena de
prisão de 1 a 5 anos, ou seja, o crime foi praticado por funcionário no exercício das suas
funções, contra um particular (n.ºs 4 e 3 e artigo 256.º, n.º 4).

Em flagrante delito procede-se à detenção. Note-se, no entanto, que, a detenção só se


mantém quando, em acto a ela seguido, o titular do direito de queixa apresentar a respectiva
queixa. Neste caso, a autoridade judiciária ou entidade policial levantam ou mandam levantar
auto em que a queixa fique registada (artigo 255.º, n.º 3, do CPP). Se o titular do direito de
queixa a não apresentar, proceder-se-á à libertação imediata do detido, elaborando-se
relatório sumário da ocorrência o qual será transmitido, de imediato, ao Ministério Público
(art.º 261.º, n.º 1, última parte e n.º 2, do CPP). Fora do flagrante delito e no caso de existir
queixa formalizada pelo respectivo titular desse direito, o procedimento é o mesmo que foi
referido em relação ao artigo 131.º (uma vez que, neste caso o crime é passível de medida de
coacção prisão preventiva, artigo 202.º, n.º 1, al. a), do CPP), para aí se remetendo. Sobre a
detenção, desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Nos casos em que o crime é punido com pena de prisão até 3 anos ou
com pena de multa (n.º 1), quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas
normais de processo são as mesmas que foram referidas em relação ao n.º 1 do artigo 256.º,
para aí se remetendo. Nos casos em que o crime é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos
(n.º 3 e artigo 256.º, n.º 4), as formas normais de processo são as mesmas que foram referidas
a propósito dos números 3 e 4, do artigo 256.º, para aí se remetendo. Sobre as formas
processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I -O simples impresso de um cheque, não preenchido e assinado, não pode ser considerado
como um "documento", para efeitos do art.º 259, n.º 1, do CP. II -O crime de subtracção de
documento visa proteger a força probatória do documento e não o prejuízo resultante da sua
destruição ou inutilização.
19-01-1999

Proc. n.º 1253/98 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro Flores Ribeiro

ARTIGO 260.º

ATESTADO FALSO

(Crime Público)

1 - O médico, dentista, enfermeiro, parteira, dirigente ou empregado de laboratório ou de


instituição de investigação que sirva fins médicos, ou pessoa encarregada de fazer autópsias,
que passar atestado ou certificado que sabe não corresponder à verdade, sobre o estado do
corpo ou da saúde física ou mental, o nascimento ou a morte de uma pessoa, destinado a fazer
fé perante autoridade pública ou a prejudicar interesses de outra pessoa, é punido com pena
de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias. (pune-se quem emite os atestados)

2 - Na mesma pena incorre o veterinário que passar atestados nos termos e com os fins
descritos no número anterior relativamente a animais. (pune-se quem emite os atestados)

3 - Na mesma pena incorrem as pessoas referidas nos números anteriores que passarem
atestado ou certificado ignorando se correspondem à verdade os factos deles constantes.
Redacção dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET

4 - Na mesma pena incorre quem passar atestado ou certificado referido nos n.os 1 e 2
arrogando-se falsamente as qualidades ou funções neles referidas. Redacção dada pela Lei n.º
59/2007, de 04SET 5 - Quem fizer uso dos referidos certificados ou atestados falsos, com o fim
de enganar autoridade pública ou prejudicar interesses de outra pessoa, é punido com pena
de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias. (pune-se quem faz uso dos atestados)

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas
normais de processo são as mesmas que foram referidas a propósito do n.º 1, do artigo 256.º,
para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ARTIGO 261.º

USO DE DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO OU DE VIAGEM ALHEIO

(Crime Público)

1 - Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado, de obter para si ou
para outra pessoa benefício ilegítimo, ou de preparar, facilitar, executar ou encobrir outro
crime, utilizar documento de identificação ou de viagem emitido a favor de outra pessoa, é
punido com pena de prisão até dois anos ou com pena de multa até 240 dias.
2 - Na mesma pena incorre quem, com intenção de tornar possível o facto descrito no número
anterior, facultar documento de identificação ou de viagem a pessoa a favor de quem não foi
emitido. Redacção dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET ________________________

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas
normais de processo são as mesmas que foram referidas a propósito do n.º 1, do artigo 256.º,
para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

XVII - São elementos do crime de uso de documento autêntico falso o uso de documento
autêntico ou de igual força, falsificado ou fabricado por outrem, com intenção de causar
prejuízo a outra pessoa ou ao Estado ou alcançar para si um benefício ilegítimo.

XVIII - O bem jurídico-penal que os crimes de falsificação visam proteger é a segurança e


confiança do tráfico jurídico, designadamente do tráfico probatório.

19-12-1996

Processo n.º 348/96 - 3ª Secção

Relator: Nunes da Cruz.

Exemplos:  Um indivíduo que seguia como passageiro no comboio n.º 18553 da C.P., no
trajecto entre as estações do Rossio e Campolide, em Lisboa, altura em que foi interceptado
pelo fiscal da C.P., a quem exibiu, como se do seu título de transporte se tratasse, o passe
social n.º 55244069, emitido em nome de outra pessoa. O arguido ao actuar da forma descrita,
tinha perfeito conhecimento de que para utilizar aquele transporte deveria ser possuidor de
um título de transporte válido, bem como sabia que o passe social que utilizou não lhe
pertencia e que não podia utilizá-lo. Não obstante ter de tal facto pleno conhecimento o
arguido utilizou aquele passe como se fosse seu, bem como se fez transportar na C.P. como se
fosse possuidor de título de transporte válido. Cometeu um crime de uso de documento de
identificação alheio, p. e p. pelo art.º 261.º do C.P.

SECÇÃO III FALSIFICAÇÃO DE MOEDA, TÍTULO DE CRÉDITO E VALOR SELADO

ARTIGO 262.º

CONTRAFACÇÃO DE MOEDA

(Crime Público)

1 - Quem praticar contrafacção de moeda, com intenção de a pôr em circulação como legítima,
é punido com pena de prisão de 3 a 12 anos. (Redacção dada pela Lei n.º 97/2001, de 25AGO)
2 - Quem, com intenção de a pôr em circulação, falsificar ou alterar o valor facial de moeda
legítima para valor superior é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos. (Redacção dada pela
Lei n.º 97/2001, de 25AGO)

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1, a forma de processo é sempre a COMUM.


Relativamente ao n.º 2, a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA, conforme estejam ou
não preenchidos os requisitos dos art.ºs 391.º-A e segs., do CPP. Sobre as formas processuais,
vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - Sucessivos actos de aperfeiçoamento da falsificação de moeda, destinados à obtenção de


uma cópia original tão perfeita quanto possível, traduzem actos de execução da contrafacção
enquadráveis no conceito de tentativa.

II - Sabendo-se que através de fotocópias é possível obter a imitação de notas verdadeiras, é


de repudiar, no caso, a existência de manifesta inaptidão do meio empregue, em ordem a
integrar tal conduta na figura da tentativa impossível. 12-11-1996

ARTIGO 263.º

DEPRECIAÇÃO DO VALOR DE MOEDA METÁLICA

(Crime Público)

1 - Quem, com intenção de a pôr em circulação como íntegra, depreciar moeda metálica
legítima, diminuindo por qualquer modo o seu valor, é punido com pena de prisão até 2 anos
ou com pena de multa até 240 dias.

2 - Com a mesma pena é punido quem, sem autorização legal e com intenção de a passar ou
pôr em circulação, fabricar moeda metálica com o mesmo ou com maior valor que o da
legítima.

3 - A tentativa é punível.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas em relação ao n.º 1, do artigo 256.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

NOTA: Os actos preparatórios são puníveis nos termos do artigo 271.º do C.P.

ARTIGO 264.º
PASSAGEM DE MOEDA FALSA DE CONCERTO COM O FALSIFICADOR

(Crime Público)

1 - Nas penas indicadas nos artigos 262.º e 263.º incorre quem, concertando-se com o agente
dos factos neles descritos, passar ou puser em circulação por qualquer modo, incluindo a
exposição à venda, as ditas moedas.

2 - A tentativa é punível. ________________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: O mesmo que foi referido em relação aos artigos 262.º ou
263.º, consoante os casos, para aí se remetendo. Sobre a detenção, desenvolvidamente, ver
anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: A mesma que foi referida em relação aos artigos 262.º ou 263.º,
consoante os casos, para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao
artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - Entre os crimes de burla e de passagem de moeda falsa existe uma relação de concurso
aparente.

II - Não existe crime continuado, se não houver uma pluralidade de resoluções ou desígnios
criminosos.

III - A circunstância de os arguidos poderem passar por várias vezes moeda falsa por dela
disporem em quantidade suficiente para o efeito, não é uma circunstância alheia ao crime
planeado, se a detinham precisamente por dela se haverem munido ao formar o seu desígnio.
IV - Neste caso não se verifica a existência de uma situação que de fora e de maneira
considerável facilite a repetição da actividade criminosa tornando cada vez menos exigível que
os réus se comportassem de maneira diferente, o mesmo é dizer, não estamos perante uma
situação de crime continuado. 30-10-1996 Processo nº 733/96 - 3ª Secção Relator: Ribeiro
Coelho

*****

III - O crime de passagem de moeda falsa para além de visar proteger o interesse patrimonial
das pessoas individualmente consideradas, destina-se fundamentalmente à defesa do
interesse público na circulação da moeda legal, um dos esteios da manutenção dos Estados.

09-01-1997

Processo n.º 772/96 - 3ª Secção

Relator: Lúcio Teixeira

ARTIGO 265.º

PASSAGEM DE MOEDA FALSA

Crime Público)

1 - Quem, por qualquer modo, incluindo a exposição à venda, passar ou puser em circulação:

a) Como legítima ou intacta, moeda falsa ou falsificada;


b) Moeda metálica depreciada, pelo seu pleno valor; ou

c) Moeda metálica com o mesmo ou maior valor que o da legítima, mas fabricada sem
autorização legal;

é punido, no caso da alínea a), com pena de prisão até 5 anos e, no caso das alíneas b) e c),
com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias. (Em flagrante delito é
detido)

2 - Se o agente só tiver conhecimento de que a moeda é falsa ou falsificada depois de a ter


recebido, é punido: (Redacção dada pela Lei n.º 97/2001, de 25AGO)

a) No caso da alínea a) do número anterior, com prisão até 1 ano ou multa até 240 dias;
(Redacção dada pela Lei n.º 97/2001, de 25AGO)

b) No caso das alíneas b) e c) do número anterior com pena de multa até 90 dias.

3 – No caso da alínea a) do n.º 1, a tentativa é punível. (Aditado pela Lei n.º 97/2001, de
25AGO)

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: No caso da alínea a) do n.º 1, o procedimento é o mesmo que foi referido


em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. Relativamente às alíneas b) e c), do mesmo
n.º 1, o procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se
remetendo.

Nos casos referidos no n.º 2, al. a), actualmente em flagrante delito dá lugar a detenção, por
ser punível com com prisão até 1 ano ou multa até 240 dias(Redacção dada pela Lei n.º
97/2001, de 25AGO)

Nos casos referidos no n.º 2, al. b) ou seja, quando «o agente só tiver tido conhecimento de
que a moeda é falsa ou falsificada depois de a ter recebido», não há lugar à detenção uma vez
que, para que ela possa ocorrer, estatui o art.º 255.º do CPP que, o respectivo crime seja
punível com pena de prisão e, nestes casos, o crime é apenas punível com pena de multa até
240 dias ou até 90 dias, consoante os casos. Nestes termos, face a estas situações, os órgãos
de polícia criminal limitar-se-ão a elaborar o competente Auto de Notícia ou Auto de Denúncia,
consoante os casos, nos termos dos art.ºs 243 ou 246.º, do CPP, respectivamente, os quais
serão obrigatoriamente remetidos ao Ministério Público no mais curto prazo, nos termos dos
artºs 243.º, n.º 3 e 245.º, do mesmo diploma legal. Sobre a detenção, desenvolvidamente, ver
anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: No caso da alínea a), do n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do
flagrante delito, as formas de processo são as mesmas que foram referidas a propósito dos
n.ºs 3 e 4, do artigo 256.º, para aí se rementendo.

Nos casos das alíneas b) e c), do mesmo número, quer em flagrante delito quer fora do
flagrante delito, as formas de processo são as mesmas que foram referidas em relação ao n.º
1, do art.º 256.º, para aí se rementendo. Relativamente ao n.º 2, a forma normal de processo é
a ABREVIADA ou SUMARÍSSIMA, conforme estejam ou não preenchidos os requisitos dos art.ºs
391.º-A ou 392.º, do CPP, pois, estes casos são apenas puníveis com pena de multa. Sobre as
formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


I - No crime de passagem de moeda falsa, "passar" é transmitir e supõe o mínimo de duas
pessoas, a que entrega a moeda e a que a recebe: tanto é passadora a primeira como a
segunda. II - Torna-se autor material daquele crime quem passar ou puser em circulação
moeda falsa ou falsificada, quando esta desempenhe uma função aparentemente semelhante
à da moeda legítima ou intacta, à moeda com curso legal, seja como meio de pagamento seja
como mercadoria.

III - O elemento subjectivo é integrado pelo dolo genérico: o agente sabe que se trata de
moeda falsa ou falsificada, e, no caso do agente recebedor, esse conhecimento pode ser
posterior ao recebimento da moeda falsa ou falsificada, conforme resulta do n.º 2, do art.º
265, do CP.

04-03-1998

Recurso n.º 1361/97 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Joaquim Dias

ARTIGO 266.º

AQUISIÇÃO DE MOEDA FALSA PARA SER POSTA EM CIRCULAÇÃO

(Crime Público)

1 - Quem adquirir, receber em depósito, transportar, exportar, importar ou por outro modo
introduzir em território português, para si ou para outra pessoa, com intenção de, por
qualquer meio, incluindo a exposição à venda, a passar ou pôr em circulação:

a) Como legítima ou intacta, moeda falsa ou falsificada;

b) Moeda metálica depreciada, pelo seu pleno valor; ou

c) Moeda metálica com o mesmo ou maior valor do que o da legítima, mas fabricada sem
autorização legal;

é punido, no caso da alínea a), com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa e, no caso
das alíneas b) e c), com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 60 dias.

2 — A tentativa é punível. (Todo o artigo foi alterado pela Lei n.º 97/2001, de 25AGO)

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas a propósito do n.º 1, do artigo 256.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ARTIGO 267.º
TÍTULOS EQUIPARADOS A MOEDA

1 - Para efeitos do disposto nos artigos 262.º a 266.º, são equiparados a moeda: a) Os Títulos
de crédito nacionais e estrangeiros constantes, por força da lei, de um tipo de papel e de
impressão especialmente destinados a garanti-los contra o perigo de imitações e que, pela sua
natureza e finalidade, não possam, só por si, deixar de incorporar um valor patrimonial; b) Os
bilhetes ou fracções da lotaria nacional; e c) Os cartões de garantia ou de crédito.

2 - O disposto no número anterior não abrange a falsificação relativamente a elementos a cuja


garantia e identificação especialmente se não destine o uso do papel ou da impressão.

ANOTAÇÕES:

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VIII - Os títulos de crédito para que possam ser abarcados pelo art.º 267, n.º 1, al. a) do CP, é
necessário que constem "por força de lei, de um tipo de papel e de impressão especialmente
destinadas a garanti-los contra o perigo de imitações e que, pela sua natureza e finalidade, não
possam, só por si, deixar de incorporar um valor patrimonial.

IX - Assim, o arguido que fabrique módulos de cheque não comete o crime p. e p. pelo art.º
267, n.º 1, al. a) do CP, que equipara a moeda a diversos títulos de crédito, mas sim, o crime de
falsificação p. e p. pelo n.º 3, do CP.

27-01-1998

Processo n.º 696/97 - 3.ª Secção

Relator: Hugo Lopes

ARTIGO 268.º

CONTRAFACÇÃO DE VALORES SELADOS

(Crime Público)

1 - Quem, com intenção de os empregar ou de, por qualquer forma, incluindo a exposição à
venda, os pôr em circulação como legítimos ou intactos, praticar contrafacção ou falsificação
de valores selados ou timbrados cujo fornecimento seja exclusivo do Estado Português,
nomeadamente papel selado de letra, selos fiscais ou postais, é punido com pena de prisão de
1 a 5 anos.

2 - Quem:

a) Empregar como legítimos ou intactos os referidos valores selados ou timbrados, quando


falsos ou falsificados; ou

b) Com a intenção referida no n.º 1, adquirir, receber em depósito, importar ou por outro
modo introduzir em território português, para si ou para outra pessoa, os referidos valores
selados ou timbrados, quando falsos ou falsificados;

é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa.


3 - Se, no caso da alínea a) do número anterior, o agente só tiver tido conhecimento de que os
valores selados ou timbrados são falsos ou falsificados depois de os ter recebido, é punido com
pena de multa até 90 dias.

4 - Se a falsificação consistir em fazer desaparecer dos referidos valores selados ou timbrados


o sinal de já haverem servido, o agente é punido com pena de multa até 60 dias.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Relativamente ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante


delito, o procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se
remetendo. Em relação ao n.º 2, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o
procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo.

Nos casos referidos nos n.ºs 3 e 4, o procedimento é o mesmo que foi referido a propósito do
n.º 2, do art.º 265.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção, desenvolvidamente, ver
anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante
delito, a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA, conforme estejam ou não reunidos os
requisitos do art.º 391.º-A, do CPP.

Relativamente ao n.º 2, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas a propósito do n.º 1, do artigo 256.º, para aí se
remetendo.

Nos casos referidos nos n.ºs 3 e 4, a forma de processo é a ABREVIADA ou SUMARÍSSIMA,


conforme estejam ou não reunidos os requisitos dos art.ºs 391.º-A ou 392.º, do CPP, pois,
estes casos, são apenas puníveis com pena de multa. Sobre as formas processuais, vide
anotação ao artigo 131.º

SECÇÃO IV FALSIFICAÇÃO DE CUNHOS, PESOS E OBJECTOS ANÁLOGOS

ARTIGO 269.º

CONTRAFACÇÃO DE SELOS, CUNHOS, MARCAS OU CHANCELAS

(Crime Público)

1 - Quem, com intenção de os empregar como autênticos ou intactos, contrafizer ou falsificar


selos, cunhos, marcas ou chancelas de qualquer autoridade ou repartição pública é punido
com pena de prisão de 1 a 5 anos. (Os actos preparatórios são puníveis nos termos do artigo
271.º do C.P) 2 - Quem, com a referida intenção, adquirir, receber em depósito, importar, ou
por outro modo introduzir em território português, para si ou para outra pessoa, os objectos
referidos no número anterior, quando falsos ou falsificados, é punido com pena de prisão até 3
anos ou com pena de multa. 3 - Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao
Estado, utilizar, sem autorização de quem de direito, objectos referidos no n.º 1, é punido com
pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias. ________________________

ANOTAÇÕES:
PROCEDIMENTO: Relativamente ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante
delito, o procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se
remetendo.

Em relação aos n.ºs 2 e 3, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o
procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo.
Sobre a detenção, desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Relativamente ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante
delito, a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA, consoante estejam ou não reunidos
os requisitos do art.º 391.º-A, do CPP. Em relação aos n.ºs 2 e 3, quer em flagrante delito quer
fora do flagrante delito, as formas de processo são as mesmas que foram referidas a propósito
do n.º 1, do artigo 256.º, para aí se remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao
artigo 131.º.

ARTIGO 270.º

PESOS E MEDIDAS FALSOS

(Crime Público)

1 - Quem, com intenção de causar prejuízo a outra pessoa ou ao Estado:

a) Apuser sobre pesos, medidas, balanças ou outros instrumentos de medida uma punção falsa
ou tiver falsificado a existente;

b) Alterar, qualquer que seja a sua natureza, pesos, medidas, balanças ou outros instrumentos
de medida, que estejam sujeitos legalmente a existência de uma punção; ou

c) Utilizar pesos, medidas, balanças ou outros instrumentos de medida falsos ou falsificados; é


punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias

2 - A tentativa é punível. ________________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o


procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo.
Sobre a detenção, desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas em relação ao n.º 1, do artigo 256.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º. NOTA: Os actos
preparatórios são puníveis nos termos do artigo 271.º do C.P..

SECÇÃO V DISPOSIÇÃO COMUM

ARTIGO 271.º

ACTOS PREPARATÓRIOS

1 - Quem preparar a execução dos actos referidos nos artigos 256.º, 262.º, 263.º, no n.º 1 do
artigo 268.º, no n.º 1 do artigo 269.º, ou no artigo 270.º, fabricando, importando, adquirindo
para si ou para outra pessoa, fornecendo, expondo à venda ou retendo: Redacção dada pela
Lei n.º 59/2007, de 04SET
a) Formas, cunhos, clichés, prensas de cunhar, punções, negativos, fotografias ou outros
instrumentos que, pela sua natureza, são utilizáveis para realizar crimes; ou.

b) Papel, holograma ou outro elemento igual ou susceptível de se confundir com os que são
particularmente fabricados para evitar imitações ou utilizados no fabrico de documento
autêntico ou de igual valor, moeda, título de crédito ou valor selado; Redacção dada pela Lei
n.º 59/2007, de 04SET

é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.

2 - É correspondentemente aplicável à falsificação dos títulos constantes do artigo 267.º o


disposto no número anterior.

3 - Não é punível pelos números anteriores quem voluntariamente:

a) Abandonar a execução do acto preparado e prevenir o perigo, por ele causado, de que outra
pessoa continue a preparar o acto ou o execute, ou se esforçar seriamente nesse sentido, ou
impedir a consumação;

b) Destruir ou inutilizar os meios ou objectos referidos nos números anteriores, ou der à


autoridade pública conhecimento deles ou a ela os entregar. ________________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o


procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo.
Sobre a detenção, desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas em relação ao n.º 1, do artigo 256.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º

ARTIGO 299.º

ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

(Crime Público)

1 - Quem promover ou fundar grupo, organização ou associação cuja finalidade ou actividade


seja dirigida à prática de um ou mais crimes é punido com pena de prisão de um a cinco anos.

2 - Na mesma pena incorre quem fizer parte de tais grupos, organizações ou associações ou
quem os apoiar, nomeadamente fornecendo armas, munições, instrumentos de crime, guarda
ou locais para as reuniões, ou qualquer auxílio para que se recrutem novos elementos.

3 - Quem chefiar ou dirigir os grupos, organizações ou associações referidos nos números


anteriores é punido com pena de prisão de dois a oito anos.

4 - As penas referidas podem ser especialmente atenuadas ou não ter lugar a punição se o
agente impedir ou se esforçar seriamente por impedir a continuação dos grupos, organizações
ou associações, ou comunicar à autoridade a sua existência de modo a esta poder evitar a
prática de crimes.
5 - Para os efeitos do presente artigo, considera-se que existe grupo, organização ou
associação quando esteja em causa um conjunto de, pelo menos, três pessoas, actuando
concertadamente durante um certo período de tempo.

Redacção dada pela Lei n.º 59/2007, de 04SET

___________________

ANOTAÇÕES: PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o


procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo.
Sobre a detenção, desenvolvidamente, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROESSO: Em relação aos n.ºs 1 e 2, a forma de processo é COMUM ou


ABREVIADA, consoante estejam ou não reunidos os requisitos do art.º 391.ºA, do CPP.
Relativamente ao n.º 3, a forma de processo é sempre a COMUM. Sobre as formas processuais
vide anotação ao artigo 131.º

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - São elementos do crime de associação criminosa: a) pluralidade de pessoas; b) uma certa


duração; c) um mínimo de estrutura organizatória, que sirva de substracto material à
existência de algo que supere os agentes; d) uma qualquer formação de vontade colectiva e e)
um sentimento de ligação por parte dos membros da associação.

II - Para que haja verdadeiramente uma associação criminosa, o legislador exige três
elementos essenciais: a) o elemento organizativo; b) o elemento de estabilidade associativa e
c) o elemento da finalidade criminosa.

III - Para que haja organização criminosa com carácter de permanência, não é essencial que
ela tenha uma sede, um lugar determinado de reunião. Não é mesmo essencial que os seus
membros se reúnam e nem sequer que se conheçam. Não é preciso que tenham um comando
ou uma direcção que lhe dê unidade e impulso, nem que possua qualquer convenção
reguladora da sua actividade ou da distribuição dos seus encargos e lucros.

IV - Assim, para demonstrar a existência da associação basta haver um acordo de vontades de


duas ou mais pessoas para a consecução de fins criminosos e uma certa estabilidade ou
permanência, ou ao menos, o propósito de ter esta estabilidade.

V - O que caracteriza fundamentalmente a associação criminosa e a distingue da


comparticipação é a ideia de estabilidade e permanência, ideia esta que já não está imanente
na comparticipação, embora o fim, num e noutro instituto, possa ser o mesmo.

08-01-1998

Processo n.º 1042/97 - 3.ª Secção

Relator: Costa Pereira

*****

I - Se duas ou mais pessoas se unem voluntariamente para cooperar na realização de um


programa criminoso, se se juntam e acordam em dedicar-se, mesmo sem qualquer
organização sofisticada, específica ou complexa, a uma actividade delitual, se ocorre uma
confluência de vontades (de duas ou mais pessoas) para prossecução e consecução de
desideratos delinquenciais, e se se verifica, em ordem ao desencadeamento de tais acções
negativas, um certo carácter de permanência, estabilidade e duração, não pode deixar de ter-
se como perfectibilizado o crime de associação criminosa.

27-01-1998

Processo n.º 490/97 - 3.ª Secção

Relator: Oliveira Guimarães

*****

X - O crime de associação criminosa tem como pressupostos: a promoção ou criação de um


grupo, organização ou associação, a finalidade ou actividade dirigida à prática de crimes, uma
certa estabilidade ou permanência associativa e o dolo. Para que tal crime se demonstre não
se torna necessária a evidência nem de plano estruturado, com divisão de tarefas, nem de
cadeias de comando. O que verdadeiramente releva é o acordo de vontades "para a
consecução de fins criminosos" e uma certa "estabilidade ou permanência". XI - Cometem o
crime de associação criminosa os arguidos que criaram ou fundaram um com o outro uma
organização ou associação destinada à prática de crimes de falsificação e burla, a qual realizou
a sua finalidade durante período temporal relativamente largo, tudo livre e voluntariamente,
com consciência de que as suas condutas eram proibidas por lei. 27-01-1998 Processo n.º
696/97 - 3.ª Secção Relator: Hugo Lopes

*****

III- A existência de uma certa organização não basta para distinguir a associação criminosa da
comparticipação, já que, pela sua natureza, aquela existirá também na comparticipação, mais
não seja, para que funcione. O que essencialmente caracteriza a associação criminosa, é a
ideia de estabilidade e permanência, ideia esta não presente na comparticipação.

02-07-1998

Processo n.º 555/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Costa Pereira

*****

XII- Assim, cometeram, em concurso real, os crimes de associação criminosa e de contrabando


agravado p. p. pelos art.ºs 45-A, 35, 15, n.ºs 3 e 5 e 37 § 4, do CAd e 78, do CP, os réus que se
conluiaram e se congregaram de forma organizada, em data não apurada e cuja actividade
perdurou até 22 de Março de 1988, para fazerem entrar no País mercadorias, provindas do
estrangeiro, sem passarem pelas alfândegas, com o objectivo de não pagarem os impostos
devidos, tendo para o efeito corrompido funcionários, e ou tendo a qualidade de funcionário.
21-05-1998

Processo n.º 1020 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro José Girão

*****

II -O específico bem jurídico protegido pelo tipo de crime (de perigo abstracto) dos art.ºs 287,
do CP/82 e 299, do CP/95 - associação criminosa - é a paz pública ou a ordem e a tranquilidade
públicas.
27-01-1999

Proc. n.º 350/98 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro Armando Leandro

*****

I - A associação criminosa, pressupõe sempre uma certa estabilidade e durabilidade que não é
compatível com a prática de um só crime.

11-07-1996

Processo nº 483/96 - 3ª secção

Relator: Costa Pereira

*****

III - O crime de associação criminosa pressupõe como elementos constitutivos a existência de


uma associação e a sua finalidade criminosa, sendo necessário um acordo de vontades entre
pelo menos duas pessoas, com certo carácter de permanência, para a realização de crimes. 09-
10-1996 Processo nº 48956 - 3ª Secção Relator: Mariano Pereira

*****

I - Para se verificar o crime de associação criminosa é necessário: a) A existência de uma


associação (grupo) com a finalidade de cometer crimes; b) Que haja uma organização
permanente; c) E, em consequência, que entre os seus membros se observem laços de
disciplina e de hierarquia.

II - O bem jurídico protegido pelo tipo legal de crime de associação criminosa é a ordem e a
tranquilidade pública, e a necessidade de impedir que se formem associações criminosas
encaminhadas a cometer delitos.

09-10-1996

Processo nº 47295 - 3ª Secção

Relator: Pires Salpico

* *****

I - O "bando" é um agrupamento de pessoas conexionadas, mais emotiva que racionalmente, à


volta da realização mais ou menos persistente e ronceira da actividade criminosa, com vista a
determinado objectivo, aproveitando fundamentalmente em cada momento, a experiência e a
capacidade de cada elemento individual e colectivamente considerados.

II - Não se exige na sua constituição ou existência, a organização típica da associação


criminosa, que a pressupõe bem definida, nem se contenta, como a co-autoria, com a mera
comparticipação.

III - Como também não se exige que o grupo que o integre se dedique apenas á actividade
criminosa. Outra actividade do grupo, e até lícita, pode servir para a realização da actividade
criminosa, ou para a camuflar.
IV - A qualidade de membro de uma família não afasta a estrutura criminal do bando, já que
desviada aquela das suas finalidades próprias, pode até servir para melhor e mais facilmente,
se agregar e constituir tal figura penal.

27-02-1997

Processo nº 908/96 - 3ª Secção

Relator: Lúcio Teixeira

*****

VII -Não é essencial à associação criminosa que exista um "comando ou uma direcção" que lhe
dê unidade e impulso, mas se existir esse comando, está aí um elemento agregador que indicia
uma maior coesão e perigosidade, de tal forma que a lei pune de forma especial aquele que
chefia a associação. VIII - A Jurisprudência deste STJ tem considerado suficiente para a
existência de associação criminosa a união voluntária de duas ou mais pessoas para cooperar
na realização de um programa criminoso, possuindo essa associação o carácter de certa
permanência e estabilidade.

09/05/1995

Processo nº 48690 - 3ª Secção

Relator: Sousa Guedes

ARTIGO 300.º

ORGANIZAÇÕES TERRORISTAS

REVOGADO PELA LEI N.º 52/2003, DE 22AGO

ANOTAÇÕES:

Lei n.º 52/2003

de 22 de Agosto

Lei de combate ao terrorismo (em cumprimento da Decisão Quadro n.º 2002/475/JAI, do


Conselho, de 13 de Junho) — Décima segunda alteração ao Código de Processo Penal e décima
quarta alteração ao Código Penal.

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição,


para valer como lei geral da República, o seguinte:

Artigo 1.º

Objecto

A presente lei tem como objecto a previsão e a punição dos actos e organizações terroristas,
em cumprimento da Decisão Quadro n.º 2002/475/JAI, do Conselho, de 13 de Junho, relativa à
luta contra o terrorismo.

Artigo 2.º
Organizações terroristas

1 — Considera-se grupo, organização ou associação terrorista todo o agrupamento de duas ou


mais pessoas que, actuando concertadamente, visem prejudicar a integridade e a
independência nacionais, impedir, alterar ou subverter o funcionamento das instituições do
Estado previstas na Constituição, forçar a autoridade pública a praticar um acto, a abster-se de
o praticar ou a tolerar que se pratique, ou ainda intimidar certas pessoas, grupos de pessoas
ou a população em geral, mediante:

a) Crime contra a vida, a integridade física ou a liberdade das pessoas;

b) Crime contra a segurança dos transportes e das comunicações, incluindo as informáticas,


telegráficas, telefónicas, de rádio ou de televisão;

c) Crime de produção dolosa de perigo comum, através de incêndio, explosão, libertação de


substâncias radioactivas ou de gases tóxicos ou asfixiantes, de inundação ou avalancha,
desmoronamento de construção, contaminação de alimentos e águas destinadas a consumo
humano ou difusão de doença, praga, planta ou animal nocivos;

d) Actos que destruam ou que impossibilitem o funcionamento ou desviem dos seus fins
normais, definitiva ou temporariamente, total ou parcialmente, meios ou vias de comunicação,
instalações de serviços públicos ou destinadas ao abastecimento e satisfação de necessidades
vitais da população;

e) Investigação e desenvolvimento de armas biológicas ou químicas;

f) Crimes que impliquem o emprego de energia nuclear, armas de fogo, biológicas ou


químicas, substâncias ou engenhos explosivos, meios incendiários de qualquer natureza,
encomendas ou cartas armadilhadas, sempre que, pela sua natureza ou pelo contexto em que
são cometidos, estes crimes sejam susceptíveis de afectar gravemente o Estado ou a
população que se visa intimidar.

2 — Quem promover ou fundar grupo, organização ou associação terrorista, a eles aderir ou os


apoiar, nomeadamente através do fornecimento de informações ou meios materiais, ou
através de qualquer forma de financiamento das suas actividades, é punido com pena de
prisão de 8 a 15 anos.

3 — Quem chefiar ou dirigir grupo, organização ou associação terrorista é punido com pena de
prisão de 15 a 20 anos

4 — Quem praticar actos preparatórios da constituição de grupo, organização ou associação


terrorista é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

5 — A pena pode ser especialmente atenuada ou não ter lugar a punição se o agente
abandonar voluntariamente a sua actividade, afastar ou fizer diminuir consideravelmente o
perigo por ela provocado ou auxiliar concretamente na recolha das provas decisivas para a
identificação ou a captura de outros responsáveis.

Artigo 3.º

Outras organizações terroristas

1 — Aos grupos, organizações e associações previstas no n.º 1 do artigo anterior são


equiparados os agrupamentos de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente,
visem, mediante a prática dos factos aí descritos, prejudicar a integridade ou a independência
de um Estado, impedir, alterar ou subverter o funcionamento das instituições desse Estado ou
de uma organização pública internacional, forçar as respectivas autoridades a praticar um
acto, a abster-se de o praticar ou a tolerar que se pratique, ou ainda intimidar certos grupos de
pessoas ou populações.

2 — É correspondentemente aplicável o disposto nos n.os 2 a 5 do artigo anterior.

Artigo 4.º

Terrorismo

1 — Quem praticar os factos previstos no n.º 1 do artigo 2.º, com a intenção nele referida, é
punido com pena de prisão de 2 a 10 anos, ou com a pena correspondente ao crime praticado,
agravada de um terço nos seus limites mínimo e máximo, se for igual ou superior àquela, não
podendo a pena aplicada exceder o limite referido no n.º 2 do artigo 41.º do Código Penal.

2 — Quem praticar crime de furto qualificado, roubo, extorsão ou falsificação de documento


administrativo com vista ao cometimento dos factos previstos no n.º 1 do artigo 2.º é punido
com a pena correspondente ao crime praticado, agravada de um terço nos seus limites mínimo
e máximo.

3 — A pena pode ser especialmente atenuada ou não ter lugar a punição se o agente
abandonar voluntariamente a sua actividade, afastar ou fizer diminuir consideravelmente o
perigo por ela provocado, impedir que o resultado que a lei quer evitar se verifique, ou auxiliar
concretamente na recolha das provas decisivas para a identificação ou a captura de outros
responsáveis.

Artigo 5.º

Terrorismo internacional

1 — Quem praticar os factos previstos no n.º 1 do artigo 2.º com a intenção referida no n.º 1
do artigo 3.º é punido com a pena de 2 a 10 anos, ou com a pena correspondente ao crime
praticado, agravada de um terço nos seus limites mínimo e máximo, se for igual ou superior
àquela.

2 — É correspondentemente aplicável o disposto nos n.os 2 e 3 do artigo anterior.

Artigo 6.º

Responsabilidade criminal das pessoas colectivas e equiparadas e penas aplicáveis

1 — As pessoas colectivas, sociedades e meras associações de facto são responsáveis pelos


crimes previstos nos artigos 2.º a 5.º, quando cometidos em seu nome e no interesse colectivo
pelos seus órgãos ou representantes, ou por uma pessoa sob a autoridade destes quando o
cometimento do crime se tenha tornado possível em virtude de uma violação dolosa dos
deveres de vigilância ou controlo que lhes incumbem.

2 — A responsabilidade das entidades referidas no número anterior não exclui a


responsabilidade individual dos respectivos agentes.

3 — Pelos crimes previstos no n.º 1 são aplicáveis às pessoas colectivas as seguintes penas
principais: a) Multa; b) Dissolução.
4 — A pena de multa é fixada em dias, no mínimo de 100 e no máximo de 1000.

5 — Cada dia de multa corresponde a uma quantia entre € 5 e € 5000.

6 — Se a multa for aplicada a uma entidade sem personalidade jurídica, responde por ela o
património comum e, na sua falta ou insuficiência, solidariamente, o património de cada um
dos associados.

7 — A pena de dissolução só será decretada quando os fundadores da pessoa colectiva


tenham tido a intenção, exclusiva ou predominante, de, por meio dela, praticar os crimes
indicados no n.º 1 ou quando a prática reiterada de tais crimes mostre que a pessoa colectiva
ou sociedade está a ser utilizada, exclusiva ou predominantemente, para esse efeito, quer
pelos seus membros quer por quem exerça a respectiva administração.

8 — Pelos crimes previstos no n.º 1 podem ser aplicadas às pessoas colectivas as seguintes
penas acessórias:

a) Injunção judiciária;

b) Interdição temporária do exercício de uma actividade;

c) Privação do direito a subsídios ou subvenções outorgados por entidades ou serviços


públicos; d) Publicidade da decisão condenatória.

9 — É correspondentemente aplicável o disposto nos artigos 11.º, 12.º, 14.º e 19.º do Decreto-
Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro.

Artigo 7.º

Direito subsidiário

São aplicáveis subsidiariamente à matéria constante da presente lei as disposições do Código


Penal e respectiva legislação complementar.

Artigo 8.º

Aplicação no espaço

1 — Para efeitos da presente lei, e salvo tratado ou convenção internacional em contrário, a lei
penal portuguesa é aplicável aos factos cometidos fora do território nacional:

a) Quando constituírem os crimes previstos nos artigos 2.º e 4.º;

b) Quando constituírem os crimes previstos nos artigos 3.º e 5.º, desde que o agente seja
encontrado em Portugal e não possa ser extraditado ou entregue em execução de mandado
de detenção europeu.

2 — Aos crimes previstos na alínea a) do número anterior não é aplicável o n.º 2 do artigo 6.º
do Código Penal.

Artigo 11.º

Norma revogatória

São revogados os artigos 300.º e 301.º do Código Penal.


PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o
mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: COMUM. Sobre as formas processuais vide anotação ao artigo 131.º

ix) Crimes cometidos no exercício de funções públicas: corrupção, peculato,


do abuso de autoridade e da violação de segredo;

CAPÍTULO IV DOS CRIMES COMETIDOS NO EXERCÍCIO DE FUNÇÕES PÚBLICAS

SECÇÃO I DA CORRUPÇÃO

ARTIGO 372.º

RECEBIMENTO INDEVIDO DE VANTAGEM

(Crime Público)

1 — O funcionário que, no exercício das suas funções ou por causa delas, por si, ou por
interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, solicitar ou aceitar, para si ou para
terceiro, vantagem patrimonial ou não patrimonial, que não lhe seja devida, é punido com
pena de prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias.

2 – Quem, por si ou interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, der ou


prometer a funcionário, ou a terceiro por indicação ou conhecimento daquele, vantagem
patrimonial ou não patrimonial, que não lhe seja devida, no exercício das suas funções ou por
causa delas, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa até 360 dias.

3 — Excluem-se dos números anteriores as condutas socialmente adequadas e conformes aos


usos e costumes.

ANOTAÇÕES:

Redacção dada pela Lei n.º 108/2001, de 28NOV.

PROCEDIMENTO:

Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o
mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo.

Relativamente ao n.º 2, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento
é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a
detenção, desenvolvidamente, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO:

Em relação ao n.º 1, a forma de processo é sempre a COMUM.

Relativamente ao n.º 2, em flagrante delito, a forma normal de processo é a SUMÁRIA,


reunidos que estejam os requisitos do art.º 381.º, do CPP, caso contrário, é a COMUM
ABREVIADA ou até mesmo a SUMARÍSSIMA, consoante estejam ou não preenchidos os
pressupostos dos art.ºs 391.º-A e 392.º, do CPP. Fora do flagrante delito a forma normal de
processo é a COMUM, ABREVIADA ou SUMARÍSSIMA, mas nunca a SUMÁRIA, como resulta,
expressamente, do disposto no art.º 381.º, do CPP. Sobre as formas processuais, vide anotação
ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

XIII- A norma do art.º 420, do CP de 1982 (corrupção passiva para acto ilícito), destina-se a
proteger o interesse administrativo do Estado, a fim de que os seus funcionários, que
desempenham funções públicas, que têm como destinatários os cidadãos, sejam imparciais e
honestos, não se deixando corromper por dádivas ou promessas para praticarem actos
violadores dos deveres do seu cargo.

XIV- O crime do art.º 420, do CP de 1982, tem natureza formal ou de consumação antecipada,
pois basta a simples solicitação, aceitação ou promessa de vantagem para que o ilícito fique
perfeito. XV- O n.º 2, do art.º 420, do CP de 1982, consagra uma circunstância atenuativa típica
que ocorre depois da consumação, traduzindo-se num arrependimento activo parcial em que
se omite o comportamento venal.

XVI- Tendo alguns arguidos, na qualidade de funcionários públicos, aceitado dinheiro de um


sociedade, representada por outros dois arguidos, como recompensa para um tratamento de
favor dado àquela, que passaria pela violação das regras legais, e estando ainda provado que
agiram sempre com a intenção de fazerem uso dos cargos públicos que exerciam, para
obterem vantagens patrimoniais que não lhes eram devidas, o que conseguiram, e não
havendo por parte dos mesmos arguidos qualquer arrependimento activo parcial,
designadamente a de repudiarem os comportamentos que assumiram e disponibilizaram,
cometeram eles o ilícito criminal do art.º 420, n.º 1, do CP de 1982.

27-05-1998

Processo n.º 1393/97 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro Mariano Pereira

*****

I - Tendo sido o arguido quem predispôs toda a situação de modo a possibilitar os contactos
com os canditados a um concurso de ingresso na função pública, propondo-lhes a correcção
das provas a troco de uma compensação monetária, insistindo em abordar outra concorrente
a quem sugeriu a repetição da prova, mesmo depois da recusa do primeiro contactado em lhe
pagar o montante inicialmente exigido ou a redução por si sugerida, não se pode falar em
crime continuado, uma vez não foram quaisquer factos exógenos que facilitaram tal conduta.

II - O crime de corrupção passiva tem natureza formal, bastando a simples solicitação da


vantagem patrimonial para a sua perfeição, independentemente de o agentefuncionário ter ou
não a intenção de praticar o acto que está na base da solicitação.

III - Consumando-se assim a infracção com a referida solicitação, tal crime não admite a forma
tentada.

15-01-1997

Processo n.º 48892 - 3ª Secção

Relator: Lopes Rocha

*****
IV - Preenche o conceito de ameaça a afirmação feita ao ofendido, por agentes da PSP, de
modo sério, que o caso era muito grave pois, por causa dele, teria de ficar sem carta de
condução e de ir responder em tribunal. V - Para se verificar a ameaça a que alude o art.º 317,
n.º 1, al. c) do CP de 82, hoje art.º 222, n.º 1 do CP revisto, não é necessário que a vítima, em
consequência da ameaça, seja posta na impossibilidade de reagir.

VI - Para se verificar o crime de corrupção passiva p. e p. pelo art.º 422 do CP de 82, é


necessário que os arguidos exijam ao ofendido dinheiro como contrapartida de acto ou de
omissão não contrários aos deveres do cargo. VII - São co-autores de um crime de abuso de
poder p. e p. pelo art.º 432 do CP de 82, em concurso aparente, com um crime de extorsão p. e
p. pelo art.º 317, n.º 1, al. c) do mesmo diploma, os arguidos, agentes de PSP, que seguem o
veículo, do ofendido, obrigando-o a parar, referindo-lhe que tinha passado um sinal vermelho,
sabendo que tal não era verdade, com o próposito de lhe "extorquir dessa forma dinheiro",
tendo o ofendido ainda lhe entregue 2.000$00 em dinheiro.

05-03-1997

Processo n.º 1135 - 3ª Secção

Relator: Martins Ramires

ARTIGO 373.º

CORRUPÇÃO PASSIVA

(Crime Público)

1 — O funcionário que por si, ou por interposta pessoa, com o seu consentimento ou
ratificação, solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro, vantagem patrimonial ou não
patrimonial, ou a sua promessa, para a prática de um qualquer acto ou omissão não contrários
aos deveres do cargo, ainda que anteriores àquela solicitação ou aceitação, é punido com pena
de prisão de 1 a 8 anos. 2 — Se o acto ou omissão não forem contrários aos deveres do cargo e
a vantagem não lhe for devida, o agente é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o


mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas a propósito do n.º 2 do art.º 372.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ARTIGO 374.º

CORRUPÇÃO ACTIVA

(Crime Público)

1 - Quem por si, ou por interposta pessoa com o seu consentimento ou ratificação, der ou
prometer a funcionário, ou a terceiro com conhecimento daquele, vantagem patrimonial ou
não patrimonial com o fim indicado no nº 1 do artigo 373.º, é punido com pena de prisão de 1
a 5 anos.

2 - Se o fim for o indicado no nº 2 do artigo 373.º, o agente é punido com pena de prisão até 3
anos ou com pena de multa até 360 dias.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o
procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo.
Relativamente ao n.º 2, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento
é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a
detenção, desenvolvidamente, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante
delito, a forma de processo é a COMUM ou ABREVIADA, consonate estejam ou não reunidos
os pressupostos do art.º 391.º-A, do CPP.

Relativamente ao n.º 2, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas a propósito do n.º 2, do art.º 372.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

I - Um agente da GNR, integrado na Brigada de Trânsito, no exercício das suas funções, é um


funcionário público, nos termos e para os efeitos do art.º 374, n.º 1, do CP.

II - Resultando da matéria de facto provada que o arguido «ofereceu ao autuante (elemento


da Brigada de Trânsito da GNR) a quantia de Esc: 20.000$00 para que a carta de condução não
ficasse apreendida e o caso fosse abafado», ao que se seguiu a recusa do autuante, cometeu
aquele um crime de corrupção activa, na forma consumada, p. p. pelo art.º 374, n.º 1, do CP,
pois tal ilícito consuma-se com o mero oferecimento de dinheiro ou valores ao funcionário,
para a corrupção deste, ainda que o mesmo recuse tal oferecimento.

06-05-1998

Processo n.º 306/98 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro Pires Salpico

*****

II - O crime de corrupção activa consuma-se com a simples dádiva ou promessa de dádiva e


nesse momento é violado o bem jurídico protegido. O que quer dizer que a ilicitude a
considerar é a resultante da prática daquelas condutas e não a que resulta da execução do
acto ilícito por parte do corrupto passivo. No entanto, no plano das consequências do crime, é
de aceitar que a não execução do acto ilícito possa ser atendida na fixação da pena,
funcionando como atenuante geral.

III - O fenómeno da corrupção apresenta-se actualmente como um dos maiores flagelos das
sociedades modernas. Pondo em causa a honorabilidade dos serviços públicos, o regular
funcionamento das instituições e a credibilidade da função pública, o combate à corrupção
constitui hoje em dia uma das maiores preocupações dos Estados modernos.
IV - A falta de confissão do crime não pode agravar a pena, dado que um dos direitos do
arguido é o direito ao silêncio.

13-05-1998

Processo n.º 46663 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro Lopes Rocha

*****

O tipo legal do art.º 347, do CP/95 (crime de resistência à autoridade pública) protege não só o
funcionário ou membro das forças de segurança no exercício das suas funções como também,
indirectamente, o interesse público na execução daquelas funções.

10-12-1998

Proc. n.º 1059/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Sousa Guedes

ARTIGO 374.º -

A AGRAVAÇÃO

(Crime Público)

1 - Se a vantagem referida nos artigos 372.º a 374.º for de valor elevado, o agente é punido
com a pena aplicável ao crime respectivo agravada em um quarto nos seus limites mínimo e
máximo. 2 - Se a vantagem referida nos artigos 372.º a 374.º for de valor consideravelmente
elevado, o agente é punido com a pena aplicável ao crime respectivo em um terço nos seus
limites mínimo e máximo.

3 - Para efeitos do disposto nos números anteriores, é correspondentemente aplicável o


disposto nas alíneas a) e b) do artigo 202.º

4 - Sem prejuízo do disposto no artigo 11.º, quando o agente actue nos termos do artigo 12.º é
punido com a pena aplicável ao crime respectivo agravada em um terço nos seus limites
mínimo e máximo

ARTIGO 374.º - B

DISPENSA OU ATENUAÇÃO DE PENA

(Crime Público)

1 - O agente é dispensado de pena sempre que: a) Tiver denunciado o crime no prazo máximo
de 30 dias após a prática do acto e sempre antes da instauração de procedimento criminal; b)
Antes da prática do facto, voluntariamente repudiar o oferecimento ou a promessa que
aceitara, ou restituir a vantagem, ou, tratando-se de coisa fungível, o seu valor; ou c) Antes da
prática do facto, retirar a promessa ou recusar o oferecimento da vantagem ou solicitar a sua
restituição. 2 - A pena é especialmente atenuada se o agente:

a) Até ao encerramento da audiência de julgamento em primeira instância, auxiliar


concretamente na obtenção ou produção das provas decisivas para a identificação ou a
captura de outros responsáveis; ou
b) Tiver praticado o acto a solicitação do funcionário, directamente ou por interposta pessoa..

SECÇÃO II DO PECULATO

ARTIGO 375.º

PECULATO

(Crime Público)

1 - O funcionário que ilegitimamente se apropriar, em proveito próprio ou de outra pessoa, de


dinheiro ou qualquer coisa móvel, pública ou particular, que lhe tenha sido entregue, esteja na
sua posse ou lhe seja acessível em razão das suas funções, é punido com pena de prisão de 1 a
8 anos, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.

2 - Se os valores ou objectos referidos no número anterior forem de diminuto valor, nos


termos da alínea c) do artigo 202.º, o agente é punido com pena de prisão até 3 anos ou com
pena de multa.

3 - Se o funcionário der de empréstimo, empenhar ou, de qualquer forma, onerar valores ou


objectos referidos no n.º 1, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa, se
pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO: Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o
procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 131.º, para aí se remetendo.
Relativamente aos n.ºs 2 e 3, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o
procedimento é o mesmo que foi referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo.
Sobre a detenção, desenvolvidamente, vide anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Em relação ao n.º 1, quer em flagrante delito quer fora do flagrante
delito, a forma de processo é sempre a COMUM.

Relativamente aos n.ºs 2 e 3, quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito as formas
de processo são as mesmas que foram referidas em relação ao n.º 2, do art.º 372.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VI - O crime de peculato protege o interesse do Estado e dos organismos públicos em que os


seus funcionários e agentes sejam honestos.

25-03-1998

Processo n.º 53/98 - 3.ª Secção

Relator: Cons. Mariano Pereira

*****

O crime de peculato consome os de burla e falsificação, quando dos actos que configuram
burla e daqueles que definem falsificação fica delineada uma actividade que, no seu conjunto e
no seu escopo, visa e logra uma apropriação ilegítima, traduzida num enriquecimento ilegítimo
do arguido (funcionário), à custa do património da entidade (pública) lesada e de um seu
prejuízo, com obtenção para o mesmo arguido de um benefício ilegítimo.

07-01-1999

Proc. n.º 953/98 - 3.ª Secção

Relator: Conselheiro Oliveira Guimarães

*****

I - São elementos do crime de peculato: a) o agente ser funcionário; b) que em razão dessa
qualidade tenha em seu poder ou lhe seja entregue dinheiro ou qualquer outra coisa móvel,
pública ou particular ou lhe sejam acessíveis; c) que se aproprie ilegitimamente de tais bens
em proveito próprio ou de outra pessoa.

II - A alínea b) pressupõe que o agente tenha a posse precária ou em confiança da res mobilis
de que se apropria ou desvia do fim a que era destinada.

III - Essa posse deve ser entendida em sentido amplo compreendendo, inclusive, a
disponibilidade jurídica sem detenção material.

IV -Para efeitos penais, é equiparado a funcionário, o arguido que é vogal do Conselho


Directivo do Instituto Nacional de Habitação.

V - Comete tal ilícito o arguido que é vogal desse mesmo instituto e utiliza um cartão de
crédito -que lhe foi cedido por esse instituto- para fins diferentes daqueles a que ele se
destina; tendo-se através dele apropriado de verbas avultadas que integrou no seu
património.

04-12-1996

Processo n.º 48830 - 3ª Secção

Relator: Mariano Pereira

*****

Comete um crime de peculato, na forma continuada, o enfermeiro que, no serviço de medicina


e ortopedia de um hospital do Estado, onde exercicia funções, em datas diversas, se apropria
ilicitamente, em proveito próprio, para seu consumo, de ampolas de estupefacientes, que
estavam guardadas num cofre.

30-10-1996

Processo nº 47846 - 3ª Secção

Relator: Pires Salpico

* *****

XIII - Comete o crime de peculato na forma continuada, p. e p. pelos art.ºs 424 e 30 do CP de


82, o arguido que num espaço de tempo curto (30/12/93 e 2/2/94) faz constar na participação,
uma quantidade de dinheiro inferior àquela que na realidade foi apreendida. 09-01-1997
Processo n.º 210/96 - 3ª Secção Relator: Sousa Guedes

*****
I - Os crimes de peculato e de falsificação de documento protegem bens jurídicos diversos: o
primeiro o interesse do Estado em que os seus funcionários sejam honestos, o segundo, o
valor probatório dos documentos.

II - Consequentemente, nada na lei permite afastar a aplicabilidade da norma sancionatória de


um deles para só punir o outro, encontrando-se tais infracções numa relação de concurso real.
23-01-1997 Processo n.º 19/96 - 3ª Secção Relator: Hugo Lopes

*****

I - Para se falar em crime continuado tem de haver pluralidades de resoluções criminosas.

II- Tendo a arguida a seu cargo o processamento dos vencimentos dos professores, sabendo
ser a única pessoa com conhecimentos de informática, idealizando um plano para defraudar o
Estado, todos os meses, desviando para contas suas ou de um seu filho, tais vencimentos,
actua apenas com uma resolução criminosa, não se podendo, pois, falar em crime continuado.

III - Com essa conduta cometeu a arguida um crime de falsificação e um crime de peculato em
concurso real.

23-05-1996

Processo nº 149/96 - 3ª Secção

Relator: Araújo dos Anjos

ARTIGO 376.º

PECULATO DE USO

(Crime Público)

1 - O funcionário que fizer uso ou permitir que outra pessoa faça uso, para fins alheios àqueles
a que se destinem, de veículos ou de outras coisas móveis de valor apreciável, públicos ou
particulares, que lhe forem entregues, estiverem na sua posse ou lhe forem acessíveis em
razão das suas funções, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120
dias.

2 - Se o funcionário, sem que especiais razões de interesse público o justifiquem, der a


dinheiro público destino para uso público diferente daquele a que está legalmente afectado, é
punido com pena de prisão até I ano ou com pena de multa até 120 dias.

ANOTAÇÕES:

PROCEDIMENTO:

Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, o procedimento é o mesmo que foi
referido em relação ao artigo 245.º, para aí se remetendo. Sobre a detenção,
desenvolvidamente, ver anotação ao artigo 131.º.

FORMA DE PROCESSO: Quer em flagrante delito quer fora do flagrante delito, as formas de
processo são as mesmas que foram referidas a propósito do n.º 2, do art.º 372.º, para aí se
remetendo. Sobre as formas processuais, vide anotação ao artigo 131.º.

ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA


V - Consubstanciando-se o peculato de uso no exercício de um desvio de poder, tanto comete
aquele crime o funcionário que permite o uso ilícito como aquele que o ordena.

VI - Segundo a definição de dolo consagrada no art.º 14, do CP, ele compreende dois
elementos - o cognoscitivo e o volitivo.

VII - Seja qual for a modalidade do dolo - directo, necessário ou eventual - sempre o agente
representa um facto na sua consciência.

VIII - Essa representação tem de ser completa, isto é, há-de compreender todos os elementos
do facto ilícito e, portanto, a falta de consciência da ilicitude exclui o dolo.

IX - Só quando a proibição faz parte do tipo de crime é que se exige uma referência expressa à
consciência da ilicitude no espírito do agente. Fora desses casos, a consciência da ilicitude
subjaz ao conhecimento das elementos constitutivos.

X - Além da qualidade de funcionário do agente, são elementos constitutivos do crime de


peculato de uso: - elementos objectivos: a existência de veículo ou coisa móvel de valor
apreciável na posse, detenção ou alcance do agente em razão das suas funções; o uso de tais
coisas para fins alheios àqueles a que se destinam; - elemento subjectivo: o dolo do agente nos
seus elementos cognoscitivo e volitivo: ele quer o desvio do uso da coisa, embora sabendo que
é ilegal. Conhecedor de que o seu poder sobre a coisa advém das suas funções públicas e que a
mesma coisa se destina exclusivamente ao exercício de tais funções, não obstante utiliza-a ou
permite a sua utilização em serviço de interesse meramente particular. XI - Assim, o crime de
peculato de uso não contém a proibição entre os seus elementos constitutivos. XII - Tendo o
arguido, capitão da GNR, ordenado ao seu motorista a utilização, para fins alheios àqueles a
que se destinavam, de veículos que lhe foram entregues em razão das suas funções, tornou-se
autor material do crime de peculato de uso, p. p. pelos art.ºs 425, n.º1, do CP de 1982, e 376,
n.º 1, do Código Penal de 1995.

28-01-1998

Processo n.º 1229/97 - 3.ª Secção

Relator: Joaquim Dias

*****

Não é equiparada a funcionário público, para o efeito da sua conduta ser enquadrada na figura
criminal de peculato, a arguida que desempenha funções de chefe de secção de contabilidade
numa casa de cultura da juventude.

12-02-1998

Processo n.º 1249/97 - 3.ª Secção

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