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APOSTILA DE DIREITO
CONSTITUCIONAL
Focada no concurso para o

CEFET – 2024

Prof.ª Roberta da Costa Santos


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Sumário

Capítulo 1 – Dos princípios fundamentais ................................................................................. 3


1.1 O art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil ..................................... 3
1.1.1 República ................................................................................................... 4
1.1.2 Federação .................................................................................................. 4
1.1.3 Democracia ................................................................................................ 5
1.2 O art. 2º da Constituição da República Federativa do Brasil ......................................7
1.3 O art. 3º da Constituição da República Federativa do Brasil ..................................... 9
1.4 O art. 4º da Constituição da República Federativa do Brasil ................................... 10
Capítulo 2 – Dos Direitos e Garantias Fundamentais ...............................................................12
2.1 Diferença entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais.....................................12
2.2 Diferença entre Direitos e Garantias Fundamentais.................................................12
2.3 Principais características dos Direitos Fundamentais .............................................12
2.4 Gerações ou dimensões dos Direitos Fundamentais................................................13
2.5 Dos Direitos Individuais e Coletivos.........................................................................14
2.5.1 Destinatários dos Direitos e das Garantias previstos na Constituição.........15
2.6 Direitos sociais .......................................................................................................46
2.7 Direitos de Nacionalidade .......................................................................................56
2.8 Direitos Políticos .....................................................................................................63
2.8.1 Direito ao sufrágio......................................................................................63
2.8.2 Perda e suspensão dos direitos políticos....................................................71
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Capítulo 1 – Dos princípios fundamentais

Vários são os princípios presentes no texto constitucional. Quanto a eles, é importante


destacar, primeiramente, que são considerados normas jurídicas, normas constitucionais e,
como tais, são dotados de normatividade jurídica e, portanto, de eficácia.
No que diz respeito aos Princípios Fundamentais, presentes no primeiro Título da
Constituição, nos artigos 1º ao 4º, o professor Flávio Martins assevera que:

“A Constituição de 1988 é (...) uma constituição principiológica, diante do


elevado número de princípios constitucionais nela presente. Todavia, no
Título I, os princípios que ali se encontram são “fundamentais”.
Fundamento, do latim fundamentum, significa base, alicerce. Portanto, os
primeiros princípios previstos na Constituição foram tidos pelo
constituinte originário como os mais importantes, os que servem para
todo o ordenamento jurídico-constitucional”.

Assim, percebe-se que os Princípios Fundamentais são as características essenciais


de nosso Estado e representam os valores que orientam suas escolhas políticas.
Como mencionado anteriormente, o Título I da Constituição compõe-se de quatro
artigos que tratam dos seguintes assuntos:

art. 1º - fundamentos da República;


art. 2º - separação dos poderes;
art. 3º - objetivos da República;
art. 4º - princípios que regem as relações internacionais.

1.1 O art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil

O art. 1º da Constituição de 1988 é bastante esclarecedor, tendo em vista que já começa


nos apresentando o nome oficial do Estado brasileiro:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: (...)

Com base na leitura desse artigo, é possível conhecermos a nossa forma de governo
(República) assim como a nossa forma de estado (Federação). Quanto à Federação, o art. 60,
§4º, da Constituição, a coloca como uma cláusula pétrea, ou seja, ela não pode ser abolida por
emenda constitucional. Já a República, não é colocada como cláusula pétrea, podendo ser
alterada tal forma de Governo através de emenda constitucional, se a sociedade assim o
decidir.
Dessa forma, pode-se resumir as características iniciais da República Federativa do
Brasil da seguinte forma:
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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Forma de Governo é a República;


Forma de Estado é a Federação;
Regime de Governo (ou Político) é a Democracia;
Entes federativos: União, Estados, Distrito Federal e Municípios (todos
dotados, apenas, de autonomia (nenhum dos entes possui soberania,
somente a Federação possui soberania).

Vamos, a partir de agora, estudar isoladamente cada uma dessas características.

1.1.1 República

República é uma palavra que vem do latim res publica e significa coisa pública. Trata-se
de forma de governo por meio da qual o governante, escolhido pelo povo, chega ao poder por
meio de eleições periódicas, exerce um mandato temporário e tem o dever de prestar contas
(responsabilidade) por seus atos de governo, tendo em vista que é um gestor da coisa pública.
A República se opõe à Monarquia, outra forma de governo. Veja, a seguir, as
características que diferenciam uma da outra.

REPÚBLICA MONARQUIA
 eletividade  hereditariedade
 temporariedade  vitaliciedade
 responsabilidade  irresponsabilidade

A título de exemplo, observe o caso da nossa República: o Presidente da República


adquire o poder por meio de eleições, exerce esse poder por um período determinado (quatro
anos), representa o povo brasileiro e responde perante este pelos seus atos de governo (a
própria Constituição define os crimes de responsabilidade do Presidente da República e
estabelece o procedimento para perda do seu cargo, por meio do impeachment, conforme os
artigos 85 e 52, respectivamente).

1.1.2 Federação

O Brasil é uma Federação desde a Constituição de 1891. Entende-se a Federação (ou a


Forma Federativa de Estado) como a união de vários estados, cada qual gozando de
autonomia.
No entendimento de Celso Ribeiro Bastos, “a Federação é a forma de Estado pela qual
se objetiva distribuir o poder, preservando a autonomia dos entes políticos que a compõem”.
Dessa forma, os entes federativos possuem capacidade para se autolegislar e se
autoadministrar.
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A Federação opõe-se ao Estado Unitário, uma vez que esse último possui um comando
central único, ainda que descentralizado administrativa e / ou politicamente.
Vale ressaltar que a Federação é considerada cláusula pétrea (art. 60, § 4º, I), não sendo
possível qualquer proposta de Emenda à Constituição tendente a aboli-la.
Ademais, a previsão do princípio da indissolubilidade da Federação, expresso no art. 1º
da CRFB/88, veda o direito de secessão, ou seja, o direito de separação do território brasileiro.
Apesar de cada Estado federativo apresentar características peculiares, inerentes às
suas realidades locais, há pontos em comum que podem ser sistematizados. Assim, segue uma
tabela com as principais características da Federação:

As entidades federativas são autônomas e se unem para formar (através de uma


Constituição) a Federação, que é dotada de Soberania.
A formação da Federação Brasileira se deu por um movimento centrífugo ou por
segregação. Isso porque, no passado, o Estado brasileiro era centralizado (um
único poder), tendo se desmembrado para a formação dos Estados membros.
Na federação não existe o direito de secessão (princípio da indissolubilidade do
vínculo federativo), porque o pacto federativo é indissolúvel e, além disso, é
cláusula pétrea (art. 60, § 4º, I), não podendo sofrer emenda tendente a aboli-la.
Há igualdade jurídica entre os estados membros, pois não existe hierarquia entre
a União, os Estados, os municípios e o Distrito Federal (há apenas uma repartição
de competências prevista na Constituição).
Há um órgão representativo dos Estados-membros (Senado Federal).

E por último, mas não menos importante, é importante destacar que os Territórios não
são entes federados, não são entes políticos dotados de autonomia. Com efeito, os Territórios
são meras divisões territoriais pertencentes à União. Ainda assim, eles podem ser divididos em
Municípios e possuem Câmara Territorial, com membros eleitos e competência deliberativa
própria, conforme previsto na Constituição no art. 33, §§ 1º e 3º.
Fique atento (a), pois a Selecon pode colocar os Territórios Federais como integrantes
da Federação e, acabamos de explicar, eles NÃO são considerados entes políticos, mas sim,
descentralizações administrativas pertencentes à União.

1.1.3 Democracia

Democracia é o regime político em que a soberania é exercida pelo povo. A palavra


democracia tem origem no grego demokratía, que é composta por demos (que significa povo) e
kratos (que significa poder). Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo através do
sufrágio universal (que se materializa no direito de votar e de ser votado).
O Estado Democrático de Direito assegura, também, a garantia de uma sociedade
pluralista, em que todas as pessoas se submetem às leis e ao Direito que, por sua vez, são
criados pelo povo, por meio de seus representantes. A lei e o Direito, nesse Estado, visam a
garantir o respeito aos direitos fundamentais, assegurando a todos uma igualdade material, ou
seja, condições materiais mínimas a uma existência digna.
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No Brasil vige a democracia semidireta ou participativa, na qual o povo tanto exerce o


poder diretamente quanto por meio de representantes, como previsto no § único do art. 1º:

Art. 1º (...)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Trata-se de um sistema híbrido, no qual existe uma combinação de representação


política (democracia indireta) com mecanismos da democracia direta, como por exemplo, o
plebiscito, o referendo e a iniciativa popular.

1.1.4 Fundamentos da República

Evidenciam-se, no art. 1º da CRFB/88, os Fundamentos da República, previstos nos


incisos I a V. São eles: a) soberania, b) cidadania, c) dignidade da pessoa humana, d) valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa e e) pluralismo político.
É importante ressaltar que, como estes são a base principiológica sobre a qual será
construído todo o país, eles são conhecidos como metaprincípios, ou seja, princípios dos quais
derivarão todos os outros princípios e regras constitucionais.
Para facilitar a sua compreensão e garantir a sua assimilação desse conteúdo, vamos
esquematizar os princípios fundamentais a seguir e discorrer, ainda que brevemente, sobre
cada um deles.

FUNDAMENTOS DA
REPÚBLICA SO CI DI VA PLU
Art. 1º, I ao V, CRFB/88

VAlores sociais
DIgnidade da PLUralismo
SOberania CIdadania do trabalho e da
pessoa humana político
livre iniciativa

Essa é a base principiológica sobre a qual será construído o país. Assim, eles são
considerados metaprincípios, dos quais decorrerão todos os outros princípios e regras
constitucionais. Vamos explicar, de forma objetiva, cada um deles, na medida em que há a
possibilidade de a Selecon explorar esses conceitos de forma isolada.

a) Soberania

A soberania consiste em um poder político supremo, formado pela união da


independência, no plano internacional, e da supremacia, no plano nacional, ou seja, o ente
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soberano não está limitado por nenhum outro na ordem interna nem na ordem externa, pois não
precisa seguir regras que não sejam voluntariamente aceitas.

b) Cidadania

Há uma visão estrita e uma visão ampla de cidadania. Na visão estrita, cidadania é a
possibilidade de os indivíduos interferirem nas decisões políticas do Estado. Dessa forma,
cidadãos seriam aqueles detentores de direitos políticos (capacidade de votar e de ser votado;
participação em plebiscitos e referendos). Por sua vez, na visão ampla de cidadania, esta
corresponde à titularidade de direitos fundamentais, bem como de deveres perante os
semelhantes.

c) Dignidade da pessoa humana

É princípio de valor supremo em nosso Estado com influência e eficácia sobre todo o
ordenamento jurídico. Ele atrai para si o conteúdo de todos os direitos fundamentais, impondo
ao Estado o respeito à dignidade da pessoa em todos os seus aspectos, ou seja, há um dever
de abstenção (dever de não-interferência ou de não-intromissão) por parte do Estado e
também um dever de atuação positiva (dever de prestação), que se materializa com a
efetivação de direitos sociais, econômicos e culturais que promovam a liberdade e a igualdade
materiais.

d) Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

Visa a criar uma relação de harmonia e de cooperação entre o capital e o trabalho. Com
efeito, no mesmo dispositivo, foi mantida a ponderação entre os valores sociais do trabalho (e a
necessidade de proteção constitucional dos direitos dos trabalhadores) e a importância da
livre iniciativa, da iniciativa privada, do capitalismo. Dessa forma, entende-se que um não pode
sobrepor-se ao outro, tendo como principal objetivo alcançar a justiça social.

e) Pluralismo político

Decorre do princípio democrático e impõe a opção por uma sociedade plural. É garantia
da liberdade de convicção filosófica e política e, também, a possibilidade de organização e
participação em partidos políticos. Ressalte-se, todavia, que pluralismo político não se
confunde com pluripartidarismo (pluralismo de partidos), que é apenas uma das espécies de
sua manifestação. Com isso, um sistema plural é aquele que aceita, reconhece e tolera a
existência de diferentes ideias e cultura de costumes.

Fique atento (a) porque esses assuntos podem aparecer em prova de duas formas: pode
ser cobrada a simples “decoreba”, ou seja, a Selecon pode explorar apenas a literalidade dos
incisos, ou ela pode elaborar uma questão envolvendo o conceito de algum desses
fundamentos.

1.2 O art. 2º da Constituição da República Federativa do Brasil

O art. 2º da CRFB/88 estabelece o princípio da tripartição dos Poderes no Brasil.


Segundo o referido artigo:
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Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o


Executivo e o Judiciário.

O objetivo dessa separação é evitar que o poder se concentre nas mãos de uma única
pessoa, para que não haja abuso, como o ocorrido no Estado Absolutista, por exemplo, em que
todo o poder se concentrava nas mãos do rei.
E, além disso, a independência entre os Poderes é limitada pelo sistema de freios e
contrapesos (checks and balances). Esse sistema prevê a interferência legítima de um Poder
sobre o outro, nos limites estabelecidos pela Constituição. É o que acontece, por exemplo,
quando o Congresso Nacional fiscaliza os atos do Poder Executivo ou o judiciário declara a
inconstitucionalidade de alguma lei.
Vale ressaltar também que a independência entre os Poderes não significa
exclusividade no exercício das funções que lhe são atribuídas, mas, sim, predominância no seu
desempenho. Assim, ainda que determinadas funções sejam exercidas, predominantemente,
pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário (funções típicas), elas também podem ser
desempenhadas pelos outros Poderes de modo subsidiário (funções atípicas), com vistas a
garantir a sua própria autonomia e independência.
Vamos agora tecer breves comentários sobre cada um desses poderes e de suas
funções típicas e atípicas, pois esses assuntos vêm caindo muito em prova e já foram cobrados
pela Selecon.
Observe o quadro a seguir:

PODERES FUNÇÕES TÍPICAS FUNÇÕES ATÍPICAS


(exercidas com (exercidas secundariamente)
preponderância)

Executivo Pratica atos de chefia de Natureza legislativa: O Presidente da


estado, chefia de governo e República, por exemplo, adota medida
atos de administração provisória, com força de lei (Art. 62);
Natureza jurisdicional: O Executivo julga,
apreciando defesas e recursos
administrativos.

Legislativo Legislação; fiscalização Natureza executiva: dispõe sobre sua


contábil, financeira, organização, provendo cargos, concedendo
orçamentária e patrimonial do férias, licenças a servidores etc.;
executivo. Natureza jurisdicional: o Senado julga o
presidente da república nos crimes de
responsabilidade (Art. 51, 1).

Judiciário Julgar (função jurisdicional), Natureza legislativa: edita regime interno de


dizendo o direito no caso seus tribunais (Art. 96, I, “a”);
concreto e dirimindo os Natureza executiva: Administra, v.g., ao
conflitos que lhe são levados, conceder licenças e férias aos magistrados e
quando da aplicação da lei. serventuários (art. 96, I, “f”).
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1.3 O art. 3º da Constituição da República Federativa do Brasil

O Constituinte originário estabeleceu no art. 3º da CRFB/88 os objetivos fundamentais da


República, que são verdadeiras metas a serem alcançadas pelo Estado. Consoante o disposto
no referido artigo:

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

CON GA ER RE PRO
(todos verbos)

Diferentemente dos fundamentos, previstos no art. 1.º, os objetivos são normas de


conteúdo principiológico e programático, pois exigem uma atuação positiva (um dever de
fazer) do Estado. Assim, elas não produzem todos os efeitos imediatamente, mas devem ser
vistas como mandamentos de otimização, ou seja, o Estado deve cumprir o máximo possível
desses objetivos, dentro dos limites fáticos, jurídicos e orçamentários.
Um exemplo dessa atuação positiva foi a criação de reserva de vagas para negros nas
universidades, tema polêmico, mas já debatido e decidido pelo STF (Supremo Tribunal
Federal), como podemos ver na decisão abaixo:

Trechos dos votos de alguns Ministros do STF

Todos os ministros seguiram o voto do relator, ministro Lewandowski. Primeiro a


votar na sessão plenária desta quinta-feira (26), na continuação do julgamento, o
ministro Luiz Fux sustentou que a Constituição Federal impõe uma reparação de danos
pretéritos do país em relação aos negros, com base no artigo 3º, inciso I, da Constituição
Federal, que preconiza, entre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil,
a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Na sequência da votação, o ministro Cezar Peluso afirmou que é fato histórico
incontroverso o déficit educacional e cultural dos negros, em razão de barreiras
institucionais de acesso às fontes da educação. Assim, concluiu que existe “um dever, não
apenas ético, mas também jurídico, da sociedade e do Estado perante tamanha
desigualdade, à luz dos objetivos fundamentais da Constituição e da República, por conta
do artigo 3º da Constituição Federal”. Esse dispositivo preconiza uma sociedade solidária,
a erradicação da situação de marginalidade e de desigualdade, além da promoção do bem
de todos, sem preconceito de cor.
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1.4 O art. 4º da Constituição da República Federativa do Brasil

O art. 4º, reservado aos princípios que regem as relações internacionais, é uma
inovação da Constituição de 1988. Este artigo dispõe que:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.

“CONDE PRESO NÃO REINA, COOPERA IGUAL.”

CONcessão de asilo político


DEfesa da paz
PREvalência dos direitos humanos
SOlução pacífica dos conflitos
NÃO-intervenção
REpúdio ao terrorismo e ao racismo
INdependência nacional
Autodeterminação dos povos
COOPERAção entre os povos para o progresso da humanidade
IGUALdade entre os Estados

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a


integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.
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Os dez incisos e seu parágrafo único, previstos no art. 4º da Constituição, demonstram


os valores e a tradição do Brasil nas suas relações com outros Estados. Na maioria das vezes,
a banca costuma cobrar a literalidade da lei em questões de provas.

Nessa etapa final do estudo dos Princípios Fundamentais (arts. 1º ao 4º), é bom salientar
como esses assuntos costumam cair nas provas. Em se tratando da Selecon, além de cobrar
situações hipotéticas com os temas abordados, o examinador também tenta confundir os
fundamentos (So Ci Di Va Plu), previstos no art. 1º, com os objetivos (Con Gar Er Re Pro),
previstos no artigo 3º, e também os misturando com os princípios que regem as relações
internacionais, expressos no art. 4º da Constituição, os quais acabamos de estudar.

HORA DE PRATICAR

1. A utilização, por quaisquer cidadãos, de certos aplicativos cívicos com o objetivo de


aproveitar a tecnologia a favor da participação e do controle social, dentre os fundamentos que
enfeixam o Estado Democrático de Direito da República Federativa do Brasil previstos na atual
Constituição Federal de 1988, Título I (Princípios Fundamentais), é exemplo de:
a) cidadania
b) soberania
c) defesa da paz
d) autodeterminação dos povos

2. Construir uma sociedade livre, justa e solidária, garantir o desenvolvimento nacional,


erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais e
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação constituem-se, com base no atual texto da Constituição
Federal/88, em:
a) objetivos próprios da organização político-administrativa do Estado
b) objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
c) princípios que regem as relações internacionais da República Federativa do Brasil
d) princípios da República Federativa do Brasil que visam à integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América do Norte
e) princípios da República Federativa do Brasil que visam à integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, com vistas à formação de uma comunidade
latino-americana de nações

GABARITO

1. A
2. B
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Capítulo 2 – Dos direitos e garantias fundamentais

A Constituição, em seu Título II, aborda os chamados Direitos e Garantias Fundamentais,


regulados entre os artigos 5º ao 17. Trata-se de tema de grande relevância quando se estuda a
Constituição, pois este se refere a um conjunto de dispositivos destinados a estabelecer o
conjunto de normas que garantem a convivência pacífica e digna de uma sociedade.
Antes de passarmos ao estudo desses artigos, de forma isolada, é importante destacar
algumas características gerais envolvendo todos esses direitos e garantias, visto que essas
informações têm sido frequentemente cobradas em prova.

2.1 Diferença entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais

Embora uma parte da doutrina considere as expressões Direitos Humanos e Direitos


Fundamentais como sinônimas, é possível fazer uma distinção entre elas. Direitos Humanos
são aqueles conferidos aos seres humanos previstos em tratados e convenções internacionais,
que resguardam a pessoa humana de uma série de interferências que podem ser praticadas
pelo Estado ou por outras pessoas, bem como obrigam o Estado a realizar prestações mínimas
que assegurem a todos uma existência digna. Os Direitos Fundamentais, por sua vez, são os
direitos humanos que foram incorporados à ordem interna, ou seja, à Constituição.

2.2 Diferença entre Direitos e Garantias Fundamentais

Direitos Fundamentais são normas de conteúdo declaratório. A CRFB/88 assegura, por


exemplo, o direito à vida (art. 5º, caput), à liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º,
IV), à liberdade de religião (art. 5º, VI), entre outros. Por outro lado, as Garantias Fundamentais
são normas de conteúdo assecuratório, ou seja, são instrumentos destinados a garantir, a
assegurar os direitos fundamentais. Os remédios constitucionais são exemplos de Garantias
Fundamentais.

2.3 Principais características dos Direitos Fundamentais

Os Direitos Fundamentais apresentam as seguintes características:

Historicidade

Universalidade
direitos fundamentais
Características dos

Limitabilidade
(relatividade)

Concorrência

Inalienabilidade

Imprescritibilidade

Vedação ao
retrocesso
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Historicidade – possuem caráter histórico, nascendo com o Cristianismo, passando


pelas diversas revoluções e chegando aos dias atuais.
Universalidade – são dirigidos a todas as pessoas, sem restrições, independentemente
de sua raça, credo, nacionalidade ou convicção política;
Limitabilidade ou relatividade – afirma-se que nenhum direito fundamental poderá ser
considerado absoluto, sendo que tais direitos deverão ser interpretados e aplicados
levando-se em consideração os limites fáticos e jurídicos existentes.
Irrenunciabilidade – os Direitos Fundamentais não podem ser renunciados de maneira
definitiva.
Concorrência – podem ser exercidos vários Direitos Fundamentais ao mesmo tempo;
Inalienabilidade – como são conferidos a todos, são indisponíveis; não se pode aliená-los
por não terem conteúdo econômico-patrimonial.
Imprescritibilidade – os Direitos Fundamentais não prescrevem, ou seja, não se perdem
com o decurso do tempo. São permanentes.
Vedação ao retrocesso – a aquisição dos direitos fundamentais não pode ser objeto de
um retrocesso, ou seja, uma vez estabelecidos os direitos fundamentais, não se admite o
seu retrocesso visando a sua limitação ou diminuição.

2.4 Gerações ou dimensões dos Direitos Fundamentais

Segundo Marcelo Novelino, os direitos fundamentais não surgiram simultaneamente,


mas em períodos distintos conforme a demanda de cada época, tendo essa consagração
progressiva e sequencial, nos textos constitucionais, dado origem à classificação em
gerações, ou como prefere a doutrina mais atual, em dimensões, visto que uma nova dimensão
não abandonaria as conquistas da dimensão anterior e, assim, essa expressão se mostraria
mais adequada.
Em um primeiro momento, anunciavam-se os direitos de primeira, de segunda e de
terceira dimensão, com base nos lemas da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e
fraternidade. Mais adiante, estes iriam evoluir para uma quarta e uma quinta dimensão.

a) direitos de primeira dimensão


Os direitos fundamentais de primeira dimensão são os ligados ao valor liberdade:
direitos civis e políticos. São direitos individuais com caráter negativo, tendo em vista que
nesses direitos o Estado tem o dever principal de não fazer, de não agir, de não interferir na
liberdade pública do indivíduo.
Ex.: O Estado não pode tirar a vida, a propriedade, a liberdade de um indivíduo indevidamente,
a não ser nos casos permitidos por lei.

b) direitos de segunda geração


Ligados ao valor igualdade, os direitos fundamentais de segunda dimensão são os
direitos sociais, econômicos e culturais. São direitos de titularidade coletiva e com caráter
positivo, pois exigem atuações do Estado.
Ex.: Direito à saúde, à educação, ao trabalho etc.

c) direitos de terceira geração


Os direitos fundamentais de terceira geração, ligados ao valor fraternidade ou
solidariedade, são os relacionados ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, ao
consumidor, à autodeterminação dos povos, bem como ao direito de propriedade sobre o
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patrimônio comum da humanidade e ao direito de comunicação. São direitos transindividuais,


em rol exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano.

d) direitos de quarta geração


Introduzidos no âmbito jurídico pela globalização política, os direitos de quarta geração
compreendem os direitos à democracia, à informação e ao pluralismo.

e) direitos de quinta geração


Por fim, consoante parte da doutrina, os direitos de quinta dimensão contemplam o
direito à paz (universal) e os direitos virtuais ou cibernéticos.

Agora, após ao estudo das principais características dos Direitos e Garantias


Fundamentais, passaremos a análise sistemática dos direitos e garantias fundamentais,
começando pelos Direitos Individuais e Coletivos previstos no art. 5º e seus incisos e
parágrafos.

2.5 Dos Direitos Individuais e Coletivos

O primeiro capítulo do Título II da CRFB/88 trata dos Direitos e Garantias Fundamentais.


Este capítulo é formado por apenas um artigo: o bem conhecido artigo 5º.
Esse artigo, embora trate primordialmente de direitos individuais, tais como: vida,
liberdade, honra, propriedade, etc., aborda também direitos coletivos, como tutela
constitucional do consumidor, mandado de segurança coletivo, ação popular para defesa do
patrimônio público etc.
Analisemos o que prevê o art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

O art. 5º, caput, da Constituição Federal começa afirmando que “todos são iguais
perante à lei”. Trata-se do chamado princípio da igualdade ou da isonomia, que é um princípio
jurídico informador de toda a ordem constitucional. Ele pode ser analisado sob alguns
aspectos, segundo jurisprudência do próprio STF:

a) da igualdade na lei
A igualdade na lei – que opera numa fase de generalidade puramente abstrata – constitui
exigência destinada ao legislador que, no processo de elaboração das leis, nelas não poderá
incluir fatores de discriminação, responsáveis pela ruptura da ordem isonômica.

b) da igualdade perante a lei (ou da igualdade formal)


A igualdade perante a lei, contudo, pressupondo a lei já elaborada, traduz imposição
destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma legal, não poderão
15

subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. Com efeito,


consiste em dar a todos idêntico tratamento, não importando a cor, a origem, a nacionalidade,
o gênero ou a situação financeira.
No entendimento do Professor Flávio Martins:

“A igualdade formal em um país de “elevada desigualdade real”, em vez de


igualar, apenas reforça a desigualdade que existe na vida. Dizer que todos
devem lutar com suas armas é injusto quando as “armas” são de calibres
tão diversos. Vejamos um exemplo: historicamente, os vestibulares das
universidades públicas brasileiras foram perfeitos exemplos de igualdade
formal. Não importando o perfil dos candidatos (sua origem, cor, condição
social etc.), as condições de acesso sempre foram idênticas. Qual a
conclusão histórica disso? Aos cursos universitários mais concorridos,
somente os mais ricos, os que tiveram uma melhor educação básica (que,
no Brasil, infelizmente, encontra-se no ensino privado, e não no público),
têm acesso. Quando um pobre, egresso do ensino público, ingressa num
desses cursos, torna-se “capa de jornal”, exemplo a ser seguido, a vitória
da meritocracia. Segundo o INEP (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais), apenas 2,66% dos concluintes dos cursos de
medicina em 2010 eram negros ou pardos. Realmente, séculos de
igualdade formal deram ensejo a uma desigualdade real de gigantescas
proporções.

c) da igualdade material
Denominada por alguns de igualdade real ou substancial, a igualdade material tem por
finalidade igualar os indivíduos, que essencialmente são desiguais.
Sabe-se que as pessoas apresentam diversidades que, muitas vezes, não são superadas
quando submetidas ao império de uma mesma lei, o que aumenta ainda mais a desigualdade
existente no plano fático. Nesse sentido, faz-se necessário que o legislador, atentando para
essa realidade, leve em consideração os aspectos diferenciadores existentes na sociedade,
adequando o direito às peculiaridades dos indivíduos.

Diante do que acabamos de discutir, a igualdade a ser buscada pelo Estado, prevista no
art. 5º, caput, da CRFB/88, é a igualdade material, cuja origem teórica remonta a Aristóteles.
Assim, a igualdade material consiste em dar aos desiguais um tratamento desigual, na medida
da sua desigualdade. No Brasil, um dos primeiros a pregar esse tipo de igualdade foi Ruy
Barbosa, num discurso proferido na capital paulista, intitulado “Oração aos Moços”: “a regra
da igualdade não consiste senão em aquinhoar desigualmente aos desiguais na medida em que
se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se
acha a verdadeira lei da igualdade”.

2.5.1 Destinatários dos Direitos e das Garantias previstos na Constituição

Ainda com relação ao caput do art. 5º, é preciso atentar para o fato de que apesar da
referência apenas a “brasileiros e estrangeiros residentes no país”, há consenso na doutrina e
na jurisprudência do STF de que eles alcançam também qualquer pessoa física que se
encontre em território nacional, mesmo que seja estrangeira e residente no exterior.
Por fim, vale lembrar também, que a pessoa jurídica (nacional ou estrangeira) também
é titular de direitos e garantias naquilo que couber, segundo o entendimento dominante.
16

Depois de estudarmos o caput do art. 5º, vamos, a partir de agora, discorrer sobre os
seus incisos:

Princípio da igualdade ou da isonomia

Apesar do princípio da igualdade, expressamente previsto no art. 5º, caput, da CRFB/88,


o constituinte originário entendeu ser necessário o estabelecimento de um inciso específico
para a igualdade de gênero:

Art. 5º (...)
I. homens e mulheres são iguais nos termos desta Constituição;

Assim, esse inciso reforça o princípio segundo o qual todos são iguais perante a lei sem
distinção de qualquer natureza, mas dessa vez com ênfase na igualdade entre os sexos,
afastando assim qualquer forma de discriminação entre homens e mulheres. Contudo há que
se destacar que homens e mulheres não têm tratamento idêntico por parte do Estado, que
poderá dar tratamento diferenciado, na medida em que os gêneros se desigualam.

(Imagem retirada de: https://luchtenbergeguilherme.jusbrasil.com.br/artigos/485455199/i-legalidade-da-diferenciacao-de-


preco-entre-homens-e-mulheres.)

Segundo a jurisprudência do STF (RE 227.114/SP, 2012), o foro especial para a mulher
nas ações de separação judicial não ofende o princípio da isonomia entre homens e mulheres
ou da igualdade entre os cônjuges. Isso porque não se trata de um privilégio estabelecido em
favor das mulheres, mas de uma norma que visa a estabelecer um tratamento menos gravoso à
parte que, em regra, se encontrava e, ainda se encontra, em situação menos favorável
econômica e financeiramente.

Princípio da legalidade

Um dos princípios mais importantes de nossa Constituição, o princípio da legalidade,


está insculpido no art. 5º, II, da Constituição Federal, que estabelece:

Art. 5º (...)
II. ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;
17

É preciso atentar para o fato de que o princípio da legalidade tem uma aplicação
diferenciada para o Estado e para os indivíduos em geral.
De fato, o Estado tem o dever de fazer o que a lei impõe (art. 37 da CRFB/88). Podemos
citar como exemplo a licitação feita pelo poder público. Neste caso, o princípio da legalidade
possui caráter absolutamente vinculado, reduzindo ao mínimo a liberdade do administrador.
Por sua vez, o princípio da legalidade para o particular tem aplicação diversa: o
particular pode fazer o que a lei não proíbe. A título de ilustração, os estabelecimentos
comerciais podem se recusar a aceitar cheques. A conduta não é proibida por lei, que só exige
como forma de pagamento o dinheiro em moeda corrente.

Proibição da tortura

O constituinte originário não se limitou a fixar a dignidade da pessoa humana como um


dos principais fundamentos da República Federativa do Brasil. No inciso III do art. 5º dispôs
que:

Art. 5º (...)
III. ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

A Regra Constitucional condena, e, mais do que isso, veda a prática da tortura e o


tratamento desumano ou degradante aos indivíduos. Por tortura, deve-se entender toda a
prática de medidas de cunho físico ou mental que tenham potencial de ofender a integridade
humana. O tratamento digno e a prática da tortura são noções diametralmente opostas.
Este princípio é voltado para todos os integrantes de nossa sociedade e, em especial,
para alguns agentes públicos, na medida em que veda às autoridades policiais o uso
indiscriminado da força, da tortura, física ou mental, para alcançar os seus objetivos
institucionais de combate à violência.
Vale ressaltar que a vedação da prática de tortura não está sujeita à regulamentação ou
restrição por parte do legislador.

(Imagem retirada de: https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/768504341/tortura-em-presidios)

Com base nesse inciso, o STF editou a súmula vinculante nº 11, muito cobrada em
concursos públicos:
18

Súmula Vinculante 11

Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de


perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada
a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

Liberdade de manifestação do pensamento

Sem sombra de dúvidas, um dos direitos fundamentais mais importantes está previsto
no art. 5º, IV, da CRFB/88:

Art. 5º (...)
IV. é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.

Como se pode observar, a liberdade de manifestação do pensamento é, ao mesmo


tempo, um direito (previsto na primeira parte do inciso) e uma garantia fundamental (prevista
na primeira parte do inciso). Com efeito, a primeira parte (“é livre a manifestação do
pensamento”) é um direito individual ou direito negativo, ou seja, o Estado não poderá, em
regra, interferir em nossa liberdade de expressão. Trata-se de um direito de primeira
dimensão, conforme já estudamos no capítulo 1. A segunda parte do inciso (“sendo vedado o
anonimato”) é uma garantia constitucional destinada a proteger uma série de outros direitos
fundamentais, tais como honra e intimidade.
Assim, tal liberdade, como qualquer outra, não se dá de maneira absoluta, havendo
limites que impossibilitam manifestações de conteúdo imoral e / ou que venham a implicar
qualquer ilicitude.
Ademais, de acordo com a jurisprudência do STF, é vedado o acolhimento de
denúncias anônimas. Estas podem servir de base para gerar investigação pelo Poder Público,
mas jamais poderão ser causa única de exercício de atividade punitiva pelo Estado.

Direito de resposta

O inciso V do art. 5º da CRFB/88 apresenta as consequências civis e constitucionais do


uso inadequado ou desmedido do art. 5º, IV (a liberdade de manifestação do pensamento).
Consoante esse inciso:

Art. 5º (...)
V. é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por
dano material, moral ou à imagem;
19

Conforme já mencionado, esse inciso encontra-se diretamente ligado ao inciso IV (acima


estudado), tornando-se uma verdadeira garantia para coibir possíveis abusos praticados pela
manifestação do pensamento, possibilitando a responsabilização na esfera cível (indenização)
e também na esfera criminal por atos caluniosos ou difamatórios. E, é claro, sem contar
também com o direito de resposta proporcional ao agravo.

Liberdade de Consciência e de Crença

Consoante o disposto no art. 5º, VI, da Constituição Federal,

Art. 5º (...)
VI. é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício
dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas
liturgias;
VII. é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis
e militares de internação coletiva.

A liberdade de consciência equivale à liberdade de pensamento. Ter liberdade de


consciência significa que ninguém poderá ser cerceado por defender uma ideologia diversa da
que defende a maioria (por exemplo: ser comunista numa sociedade que majoritariamente
defende o capitalismo, ser defensor dos direitos sociais numa sociedade que majoritariamente
defende o liberalismo etc.).
A liberdade de crença, por sua vez, consiste na liberdade de consciência, só que voltada
para o aspecto religioso, transcendental. Ela apresenta dois aspectos diversos: a) positivo: o
direito de escolher a própria religião; b) negativo: o direito de não seguir, de não professar
qualquer religião.
O Estado brasileiro é laico, ou seja, não possui religião oficial, mas isso não afasta o
dever que o Governo tem de assegurar o livre exercício das diferentes formas de
manifestações religiosas praticadas no país. Ademais, ele também tem o dever de garantir (nos
limites da lei) o acesso, aos representantes de cada religião, às entidades de internação
coletiva, como por exemplo os presídios.

Escusa de consciência

O inciso VIII, art. 5º da Constituição Federal apregoa que:

Art. 5º (...)
VIII. ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção
filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação a todos imposta e
recusar-se a cumprir prestação alternativa fixada em lei.
20

Esse inciso traz como regra que ninguém será privado de direitos por motivo de crença
ou de convicção política ou filosófica, mas, poderá sim, ser privada de direitos (como exceção)
se fizer a chamada “dupla recusa”, ou seja, se recusar a exercer uma obrigação a todos
impostas e também se recusar a cumprir prestação alternativa, fixada em Lei.

Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação

Consequência da liberdade de expressão, o inciso IX do art. 5º traz um direito


fundamental que é umbilicalmente ligado à dignidade da pessoa humana:

Art. 5º (...)
IX. é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença.

Esse inciso visa a resguardar a propagação do pensamento no exercício da atividade


intelectual, artística, científica e de comunicação, guardando íntima relação com a livre
manifestação do pensamento, que está prevista no inciso IV do art. 5º da nossa Constituição.
Contudo, como não existem direitos absolutos, a própria Constituição determina que,
observados seus limites, a lei poderá restringir a manifestação dessas liberdades. Como
exemplo, podemos citar a classificação indicativa de cinemas, teatros e programas de
televisão, bem como as restrições à propaganda de produtos fumígenos, bebidas alcoólicas ou
medicamentos.

Intimidade e vida privada

O inciso X do art. 5º da Constituição Federal dispõe que:

Art. 5º (...)
X. são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Quatro são os direitos tutelados pelo art. 5º, X, da CRFB/88:


a) intimidade;
b) vida privada;
c) honra;
d) imagem.
Ademais, ao final, este inciso prevê uma garantia constitucional de proteção (a
indenização por dano material e moral).
Ou seja, àquele que se sentir lesado em relação a sua intimidade, vida privada, honra ou
imagem é garantido o direito de ingressar com ação judicial para pleitear a devida indenização.
Segundo a jurisprudência do STF, quem se dedica à vida pública tem também direito à
privacidade, no que diz respeito a fatos íntimos e da vida familiar, contudo, essa privacidade é
21

relativa, uma vez que estes devem prestar contas à sociedade da atuação desenvolvida. Vale
ressaltar que não há que se falar em violação da vida íntima ou privada quando na realização
de suas funções.

Inviolabilidade do domicílio

A inviolabilidade domiciliar deriva diretamente do direito à intimidade. Ela está


insculpida no inciso XI do art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
XI. a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem
consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;

De acordo com esse inciso, “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador…”. Pode-se então formular a seguinte pergunta: o
que se entende por casa?
Para o STF, o conceito de casa deve ser entendido de forma mais ampla,
compreendendo qualquer compartimento habitado ou qualquer aposento coletivo, tais como:
quartos de hotel, pensão, motel e hospedaria ou, ainda, qualquer outro local privado não
aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade, e até mesmo o barco ou o
automóvel (incluindo trailers, motor-homes ou a boleia de um caminhão), caso sirvam de
morada.
Aos analisarmos o conceito de casa é importante destacar que a casa é asilo inviolável,
contudo existem exceções a essa inviolabilidade:

1ª exceção – com o consentimento do morador (em qualquer horário)


2ª exceção – Em flagrante delito, desastre ou para prestar socorro (em qualquer horário)
3ª exceção – Com ordem judicial (apenas durante o dia)

Sigilo da correspondência e das comunicações

O sigilo da correspondência e das comunicações também deriva diretamente do direito


à intimidade. Ele está prescrito no inciso XII do art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
XII. é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e
das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na
forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual
penal;
22

Esse inciso prevê quatro formas de comunicação, tidas como invioláveis, a saber:

a) correspondência;
b) comunicações telegráficas;
c) dados;
d) comunicações telefônicas.

Todavia, a Constituição estabeleceu expressamente uma exceção a esse direito, ao


autorizar a quebra do sigilo das comunicações telefônicas, mas para que isso ocorra, alguns
requisitos precisam ser observados. São eles:

Lei regulamentadora (Lei nº 9.296/96);


Investigação criminal ou instrução processual penal;
Determinada por ordem judicial

(Imagem retirada de: https://br.freepik.com/fotos-premium/as-algemas-estao-penduradas-em-uma-grade-de-metal-foto-de-alta-


qualidade_19234961.htm.)

Contudo, é sempre bom lembrar que não existem direitos absolutos. Dessa forma,
admite-se, também, a interceptação das correspondências e das comunicações telegráficas e
de dados, sempre que a norma constitucional esteja sendo usada para acobertar a prática de
ilícitos. Isso porque, segundo o próprio entendimento do STF: “a Constituição não pode servir
como manto protetor para a pratica de ilicitudes”.
Nesse sentido, entende o STF, no julgamento do HC 70.814 que: “a administração
penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de
preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a
norma inscrita no art. 41, da Lei 7.210/84(Lei de execuções Penais), proceder à interceptação
da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade
do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas .”

Liberdade de profissão

A liberdade de profissão é mais um direito umbilicalmente ligado à dignidade da pessoa


humana. Consoante o disposto no art. 5º, XIII, da Constituição Federal,

Art. 5º (...)
XIII. é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações
profissionais que a lei estabelecer;

Tendo em vista que o trabalho corresponde a um ingrediente significativo da vida e da


personalidade de cada pessoa, é muito natural que cada indivíduo tenha a liberdade para
escolher qual trabalho deseja exercer.
23

Todavia, de acordo com o texto, percebe-se que a Constituição, neste inciso, estabelece
uma restrição ao princípio da liberdade profissional (trata-se de uma norma de eficácia
contida), quando estabelece o atendimento de certas qualificações profissionais, para
condicionar o indivíduo ao regular exercício de determinado trabalho, ofício ou profissão.
Diante do exposto, vale ressaltar que essas restrições não poderão ser utilizadas de
maneira arbitrária ou desproporcional, devendo se levar em conta o tipo de trabalho que está
sendo desempenhado, conforme a própria jurisprudência do STF, abaixo relatada:

“Há profissões cujo exercício diz, diretamente, com a vida, a saúde, a liberdade, a honra e
a segurança do cidadão e, por isso, a lei cerca seu exercício de determinadas condições
de capacidade. Fora deste terreno, não podemos admitir exceções, porque estaríamos
mutilando o regime democrático da Constituição (...), dando à lei ordinária uma força que
não deve e não pode ter” (RE 511.961/SP, Rel. Min. GILMAR MENDES)

Assim, regra geral, as leis infraconstitucionais que restringem normas constitucionais


devem obedecer a três critérios, quais sejam:

a) não podem ferir o núcleo essencial dos direitos fundamentais;


b) devem ser razoáveis;
c) devem ser proporcionais.

Liberdade de informação e o sigilo da fonte

O inciso XIV do art. 5º da CRFB/88 traz um direito fundamental não apenas ligado à
dignidade da pessoa humana, mas também umbilicalmente relacionado ao Estado Democrático
de Direito e à República: a liberdade de informação e o sigilo da fonte. Com efeito, esse inciso
dispõe que:

Art. 5º (...)
XIV. é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional;

Esse inciso deve ser analisado sob dois aspectos: o primeiro é sobre a garantia ao
direito de conhecer as informações de interesse público ou privado, através da liberdade de
acesso à informação. E o segundo, que é o mais importante, possibilita que jornalistas
obtenham informações sem terem que revelar sua fonte, até mesmo no que diz respeito a
questões judiciais. Consoante o entendimento do Professor Flávio Martins:

“O sigilo de fonte, comumente exercido na atividade jornalística, serve de


preservação do direito à informação, do direito de informar e do direito de
se informar. Ciente da existência dessa garantia constitucional, qualquer
pessoa que seja detentora de uma informação de relevante interesse
24

público, sabe que poderá transmiti-la a um jornalista, sem que sua


identidade seja revelada. Essa pessoa, “a fonte da informação”, será
mantida sob sigilo”.

É importante destacar que, caso alguém se sinta prejudicado pela informação, o jornalista
que responderá por isso.

Liberdade de locomoção

A liberdade de locomoção, ou direito ambulatorial, é um dos direitos há mais tempo


reconhecidos pela legislação dos povos. Trata-se de um direito fundamental de primeira
geração, que garante a todos o direito de ir, de vir e de permanecer. Ele está expresso no
inciso XV do art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
XV. é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa,
nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Observe que a liberdade de locomoção poderá sofrer restrições referentes ao ingresso,


à saída e à circulação interna de pessoas e patrimônio, nos termos da lei, caracterizando-a
assim, como uma norma de eficácia contida.
Além disso, caso ocorra algum abuso por parte de autoridade pública, ou até mesmo de
autoridade particular (diretor de um hospital particular psiquiátrico, por exemplo) no direito de
locomoção, o indivíduo se utilizará de um “remédio constitucional” para se proteger, o
chamado habeas corpus, prescrito no inciso LXVIII do art. 5º:

Art. 5º (...)
LXVIII. conceder-se-á habeas-corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de
poder;

O habeas corpus é uma garantia fundamental utilizada sempre que alguém sofrer
(habeas corpus repressivo) ou se achar ameaçado de sofrer (habeas corpus preventivo)
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
Ele é considerado uma ação de natureza penal, e não é necessário ter capacidade
postulatória para impetrá-lo (ou seja, o indivíduo não precisa de advogado para a impetração).
Ademais, ele pode ser proposto por qualquer pessoa (física ou jurídica), brasileiro ou
estrangeiro, além de ser gratuito, conforme o inciso LXXVII:

Art. 5º (...)
LXXVII. são gratuitas as ações de habeas-corpus e habeas-data, e, na forma da lei, os atos
necessários ao exercício da cidadania.
25

Direito de reunião

O direito de reunião é estreitamente ligado à democracia, à República e ao direito à


liberdade de manifestação do pensamento (art. 5º, IV, CF). Ele está previsto no art. 5º, XVI, da
Constituição Federal:

Art. 5º (...)
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público,
independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade
competente;

Esse inciso costuma ser muito cobrado em prova e, geralmente,


na sua literalidade. Dessa forma, é importante memorizar os requisitos
para o direito de reunião:

Reunião pacífica (sem armas) e em locais abertos ao público;


Não é necessário pedir AUTORIZAÇÃO;
É exigido o prévio aviso, porque o seu direito de reunião não pode frustrar outro
anteriormente marcado (“avisado”).

Então, tenha cuidado, pois o direito de reunião independe de autorização, mas depende
de prévio aviso. Ademais, caso o poder público, de forma arbitrária, impeça o exercício desse
direito, o remédio constitucional a ser utilizado será o mandado de segurança, e não o habeas
corpus. Fique ligado (a), pois a banca pode explorar esse tipo de questão.

Direito de associação

A CRFB/88 assegura o direito de associação num conjunto de incisos do art. 5º (XVII a


XXI):

Art. 5º (...)
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de
autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades
suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
26

As associações são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que se
formam pela reunião de pessoas em prol de um objetivo comum, e diferenciam-se da reunião
por ter caráter permanente (a reunião, prevista no inciso XVI, tem caráter transitório).
No que diz respeito aos incisos que tratam do direito de associação (direitos coletivos), é
importante se preocupar com a sua literalidade, porque é o que costuma aparecer em provas.
Dê atenção especial para o inciso XIX, que é o mais cobrado.

Direito de propriedade e sua Função Social

O direito de propriedade está previsto num conjunto de incisos do art. 5º (XXII a XXVI):

Art. 5º (...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade
pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela
família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua
atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

É importante perceber que, além de um direito (inciso XXII), a propriedade também tem
um dever a cumprir (inciso XXIII): atender a sua função social.
Caso fique comprovado o não cumprimento da função social, segundo a própria
Constituição, a propriedade poderá ser desapropriada (a doutrina chama de desapropriação-
sanção
, essa modalidade), mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida pública (art.
182, § 4º, III e art. 184).
Como vimos anteriormente, a Constituição prevê em seu artigo 5º que a propriedade
será inviolável, mas como bem sabemos, não existem direitos absolutos, assim, pode o poder
público intervir na propriedade privada, utilizando-se do princípio da supremacia do interesse
público sobre o particular, para a satisfação do interesse de toda a coletividade e para que seja
possível o equilíbrio social.
Aqui estamos diante de duas formas distintas de intervenção na propriedade: a
desapropriação (inciso XXIV) e a requisição administrativa (inciso XXV). Cuidado para não
confundir a desapropriação com a desapropriação-sanção.
A primeira (desapropriação), como observado, ocorrerá em caso de necessidade,
utilidade pública ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
ocasionando assim uma transferência compulsória da propriedade do indivíduo para o Estado.
Já a segunda (requisição administrativa), será uma espécie de utilização compulsória
(“pegar emprestado”) pelo Estado e será efetivada em caso de iminente perigo público e
somente ocorrerá pagamento de indenização, se, após a utilização, for constatado algum dano
à propriedade.
27

Dessa forma, podemos esquematizar os institutos, da seguinte maneira:

Desapropriação Requisição
Art. 5º, XXIV Art. 5º, XXV
Definitiva Temporária
Necessidade, utilidade pública e interesse social Iminente perigo público
Prévia e justa indenização em dinheiro (em regra). Indenização se houver dano
Exceções: art. 182, § 4º, III, 184, caput e 243, CF.

Já no inciso XXVI, é nítida a preocupação do legislador constituinte com a proteção dos


pequenos trabalhadores rurais, tornando impenhorável sua pequena propriedade rural.
Todavia, essa garantia depende do somatório de dois requisitos: a propriedade deve ser
trabalhada pela família e a origem do débito deve estar relacionada a sua atividade produtiva.
Perceba, também, que a própria Constituição determina que a lei irá dispor sobre meios
de financiamento do pequeno produtor/proprietário rural.

Propriedade intelectual

Os incisos XXVII a XXIX do art. 5º da CRFB/88 tratam da propriedade intelectual. A


professora Elisabete Vido esclarece que “a propriedade intelectual envolve a proteção de
todos os bens imateriais oriundos de uma criação intelectual”. Consoante o disposto nos
referidos artigos:

Art. 5º (...)
XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de
suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;
XXVIII - são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e
voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que
participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e
associativas;
XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos
nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País;

Com relação ao direito do autor, vale frisar que enquanto estiver vivo, ele usufruirá de
sua criação plenamente. Contudo, no que diz respeito à transferência dos direitos autorais da
obra aos herdeiros após a sua morte, esta poderá sofrer uma restrição, podendo a lei
estabelecer um prazo máximo de proteção das criações, findo o qual a obra cai em domínio
público.

,
28

No caso do Brasil, via de regra, as obras são protegidas até 70 anos após a morte do
autor. No entanto, há algumas particularidades específicas, como no caso de obra audiovisual,
caso em que a proteção é de setenta anos após a sua divulgação. Findo o prazo de proteção, a
obra pode ser livremente divulgada e reproduzida, ressalvados os direitos morais, que são
perpétuos.
Quanto ao inciso XXIX, a Constituição determina que a propriedade industrial e a sua
utilização por seus autores serão temporárias. Perceba que existe uma diferença em relação
ao direito autoral previsto no inciso XXVII, pois, nos inventos industriais, os inventores terão
apenas o privilégio temporário (enquanto vivos), contados a partir da sua criação, e não
necessariamente após a sua morte, pois o que prevalece nesse caso é o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do país.

Direito de Herança

O Direito de Herança está previsto nos incisos XXX e XXXI do art. 5º:

Art. 5º (...)
XXX - é garantido o direito de herança;
XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira
em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável
a lei pessoal do "de cujus";

Destaque-se aqui que, no caso de sucessão de bens que estão dentro do território
brasileiro, em regra, aplica-se a lei brasileira, contudo, se a lei pessoal do “de cujus” for mais
favorável, esta será aplicada, mesmo sendo lei de outro país.

Defesa do consumidor

Consoante o disposto no inciso XXXII do art. 5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Quanto a sua classificação (no tocante à Eficácia das Normas Constitucionais), o inciso
XXXII é considerado uma norma de eficácia limitada, pois depende de lei posterior para
produzir plenamente seus efeitos. Vale ressaltar que a defesa do consumidor já está
regulamentada pela Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor).

Acesso à informação

Considerado um direito básico fundamental, o acesso à informação, previsto no inciso


XXXIII do art. 5º, encontra-se regulamentado pela Lei nº 12.527/2011 (Lei de acesso à
29

informação), que dispõe sobre os procedimentos a serem observados pelos órgãos dos
poderes públicos, com o fim de garantir o acesso a informações de interesse coletivo ou geral.
Segundo nos informa o inciso XXXIII:

Art. 5º (...)
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena
de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado;

É importante destacar que, com a recusa do fornecimento dessas informações pelo


Poder Público ou o não cumprimento dos prazos legais, o indivíduo poderá lançar mão do
mandado de segurança para fazer valer o seu direito, desde que as informações não estejam
resguardadas sob o manto das hipóteses de sigilo previstas em lei.

Direito de petição e Direito de certidão

O art. 5º, inciso XXXIV, alínea “a”, da Constituição Federal prevê o direito de petição e, da
mesma forma, o art. 5º, inciso XXXIV, alínea “b”, prevê o direito de certidão:

Art. 5º (...)
XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou
abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;

O Direito de petição é considerado um instrumento da cidadania, que permite a qualquer


pessoa se dirigir ao Poder Público para reivindicar algum direito ou informação. Ele possui
dupla função: a defesa dos próprios interesses do indivíduo e, a mais relevante, apresentação
de notícia de fato ilegal ou abusivo ao poder público, para que este providencie as medidas
adequadas.
Por outro lado, certidões são documentos oriundos de autoridade ou de agente do Poder
Público que, nessa qualidade, provam ou confirmam determinado ato ou fato, tornando-se
assim provas documentais. Sendo o direito à obtenção de certidão um direito líquido e certo,
ele também apresenta uma dupla função: defesa de direitos e esclarecimento de situações de
interesse pessoal. O remédio adequado para a proteção do direito de certidão é o mandado de
segurança.

Princípio da inafastabilidade da jurisdição

Segundo o inciso XXXV do art. 5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
30

Por meio desse princípio, a Constituição garante a todos o direito de buscar a Justiça
sempre que houver uma ameaça ou uma violação ao seu direito. Assim, o Poder Judiciário, no
exercício da sua função, deverá solucionar o conflito aplicando o direito ao caso em concreto.
Importante ressaltar que tal direito não está condicionado ao esgotamento das
instâncias administrativas, podendo, a qualquer tempo, o interessado ingressar com a ação
competente, exceção feita à Justiça Desportiva no que se refere à disciplina e às competições
esportivas, hipóteses em que a Constituição, em seu artigo 217, §1º, determina expressamente
que o Judiciário só admitirá ações a elas referentes após esgotarem-se as instâncias da justiça
desportiva.
Outro destaque encontra-se no fato de que o princípio da inafastabilidade não assegura
o chamado “duplo grau de jurisdição”, pois inexiste obrigatoriedade de duplo grau de
jurisdição, uma vez que a Constituição menciona a existência de juízes e tribunais, prevê a
existência de recursos, mas não prevê essa obrigatoriedade. Isso porque existem
competências originárias em que não há o duplo grau de jurisdição, como por exemplo,
naqueles casos em que a competência originária é dos Tribunais.

Princípio da segurança jurídica ou da irretroatividade da lei

Derivação direta do princípio da segurança jurídica, decorrente do art. 5º, caput, da


CRFB/88, o art. 5º, XXXVI, dispõe que:

Art. 5º (...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

O direito adquirido (aquele que cumpriu todos os requisitos exigidos por lei para sua
formação), o ato jurídico perfeito (a consequência do exercício efetivo de um direito adquirido)
e a coisa julgada (decisão judicial da qual não cabe mais recurso) são considerados
instrumentos de segurança jurídica, impedindo que as leis retroajam para prejudicar situações
jurídicas consolidadas.

Princípio do juiz natural ou legal

O princípio do juiz natural pode ser encontrado em dois incisos do art. 5º da Constituição
Federal. O primeiro deles é o art. 5º, XXXVII. O outro é o art. 5º, LIII:

Art. 5º (...)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

Esses dois incisos garantem ao indivíduo que suas ações judiciais serão apreciadas por
um juiz imparcial e independente. O inciso XXXVII repudia a existência de juízos ou tribunais de
exceção, seja qual for a circunstância. Isso significa que qualquer ação será submetida,
sempre, aos Tribunais existentes, criados e previstos na própria Constituição, que a julgará
dentro das leis existentes à época do fato.
31

Já no inciso LIII, o legislador constituinte buscou impedir que o indivíduo venha a sofrer
consequências de um processo ou de uma sentença eventualmente proferida por um juiz ou um
Tribunal incompetente para apreciá-lo, pois apenas os órgãos jurisdicionais que tiveram suas
competências estabelecidas pela Constituição e por leis infraconstitucionais poderão exercer
a função jurisdicional, cada um na esfera de suas competências, seja territorial ou material.

Tribunal do Júri

O art. 5º, XXXVIII, da CRFB/88 estabelece o seguinte:

Art. 5º (...)
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Com relação ao Tribunal do júri, é importante destacar que a Constituição não


estabelece o número exato de jurados, deixando a cargo da lei estabelece-lo. Ademais, esse
Tribunal possui competência apenas para julgamento dos crimes dolosos contra a vida e não
dos crimes culposos. Fique atento (a), pois geralmente as bancas costumam trocar as palavras
para confundir os candidatos.
Outro ponto importante é que as chamadas prerrogativas de função (foro privilegiado)
prevalecem sobre a competência do Tribunal do Júri, ou seja, se um Senador da República
cometer um crime doloso contra a vida, ele não será julgado pelo Tribunal do Júri, mas sim pelo
STF, conforme estabelece a Constituição.

Princípio da anterioridade da lei penal incriminadora

Consoante o disposto no inciso XXXIX do art. 5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

Esse princípio confere mais segurança jurídica às relações sociais, porquanto


estabelece que uma conduta só será considerada crime, se for cometida após a entrada em
vigor da lei penal incriminadora.
A lei brasileira exige que um fato seja típico e antijurídico para que seja considerado
criminoso, ou seja, que o fato esteja tipificado na norma legal e que a contrarie. Sem isso, não
há que se falar em crime e muito menos em cominação legal (aplicação de pena).
32

Princípio da Irretroatividade da lei penal in pejus ou da retroatividade benéfica

Derivado do princípio da anterioridade, previsto no inciso anterior, o disposto no inciso


XL do art. 5º da CRFB/88 enuncia que:

Art. 5º (...)
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

É o princípio segundo o qual uma lei apenas pode retroagir se for para beneficiar o réu.
Assim, se alguém comete hoje um ato que a lei não imputa como crime e amanhã esse ato, por
força de determinação legal, for transformado em um ato ilegal, a lei não poderá ser aplicada
de forma retroativa.
Contudo, se ocorrer o contrário, a lei poderá retroagir em benefício do réu, seja
diminuindo penas, trazendo benefícios penais quanto à execução da pena ou até mesmo
transformando a conduta em fato atípico.

Práticas discriminatórias

Segundo o inciso XLI do art. 5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais;

Além da preocupação com os direitos e as liberdades fundamentais, tais como o direito


à vida, à igualdade etc., o constituinte originário se preocupou também com a possibilidade de
violação desses direitos tão importantes para a vida em sociedade.
Dessa forma, é por intermédio do inciso XLI do art. 5º da CRFB/88, que é definida a
punição de condutas que venham a ferir esses direitos e essas liberdades fundamentais.
Trata-se de uma determinação ao legislador infraconstitucional, que terá o dever de
declarar as condutas consideradas atentatórias aos direitos e liberdades fundamentais como
criminosas, levando os infratores às penas previstas em Lei.

Crimes inafiançáveis e imprescritíveis e insuscetíveis de graça ou anistia

A CRFB/88 estabelece quais são os dois crimes imprescritíveis, nos incisos XLII e XLIV
do artigo 5º.
Por sua vez, o inciso XLIII do mesmo artigo, apresenta-nos os crimes hediondos e
equiparados, quais sejam:
33

Art. 5º (...)
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei;
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem;
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

O crime de racismo e a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o


Estado Democrático não admitem fiança, ou seja, o réu responde preso pela prática do delito.
Ademais, esses são imprescritíveis, vale dizer, não prescreve o direito de promover a ação
contra os autores desses crimes.
Já os crimes de tráfico, terrorismo, tortura e os hediondos, são apenas inafiançáveis,
portanto, eles prescrevem (após os prazos estabelecidos em lei). Além disso, são considerados
também insuscetíveis de graça (perdão da pena de uma pessoa condenada) ou anistia (atinge
todos os efeitos penais decorrentes da prática do crime, referindo-se assim a fatos e não a
pessoas)

ATENÇÃO!
Insuscetível de graça ou anistia = os autores do crime não
poderão gozar dos benefícios da graça nem da anistia.

Princípio da Pessoalidade ou da Personificação da Pena

O inciso XLV do art. 5º da CRFB/88 apregoa que:

Art. 5º (...)
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o
dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

A parte inicial deste inciso determina que a pena não poderá ser transmitida para
familiares do condenado ou terceiros, extinguindo-se com a morte do agente.
Contudo, em relação aos aspectos patrimoniais envolvidos nessa questão, o tratamento
dado será diferente. Com efeito, será transferida para os sucessores a obrigação de reparar o
dano ou mesmo a possibilidade do perdimento de bens, mas é claro, há uma limitação ao
patrimônio deixado em herança, tratando-se assim de um caso de transmissibilidade do dever
de indenizar em decorrência da transmissão do patrimônio do responsável pelo dano.
34

Penas permitidas e penas proibidas

O inciso XLVI do art. 5º da CRFB/88 apresenta um rol das penas permitidas no


ordenamento jurídico brasileiro, ao passo que o inciso XLVII traz um rol das penas proibidas:

Art. 5º (...)
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;

XLVII - não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;

Com relação às penas admitidas, vale destacar que o seu rol não é exaustivo, podendo a
lei criar outras formas de penalidade, desde que estas não estejam no rol das penas proibidas
(inciso XLVII).
Já no que diz respeito às penas proibidas, é preciso dar atenção à pena de morte, pois
em regra ela é vedada, mas uma única possibilidade é admitida, a saber, nos crimes praticados
durante a guerra.

Princípio da individualização da pena

Segundo o inciso XLVIII do art. 5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado;

O inciso XLVIII trata de um direito fundamental que necessita de reiteradas políticas


públicas no tocante ao sistema carcerário brasileiro. Esse dispositivo busca colaborar com a
recuperação do criminoso enquanto este estiver no cumprimento de sua pena. Essa finalidade
jamais seria alcançada se fossem colocados em um mesmo estabelecimento prisional pessoas
de grande periculosidade e réus primários, jovens e adultos ou homens e mulheres.
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Respeito à integridade física e moral dos presos / Direito das presidiárias

Dois incisos do art. 5º estão umbilicalmente ligados à dignidade da pessoa humana


aplicada aos encarcerados: os incisos XLIX e L.

Art. 5º (...)
XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L - às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus
filhos durante o período de amamentação;

O inciso XLIX garante a integridade física e moral do preso. A mesma regra também está
descrita no art. 38 do Código Penal.

Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se
a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral.

Dessa forma, o sujeito passivo desta norma é o presidiário, ao passo que o Estado é o
responsável pela sua integridade física e moral enquanto o presidiário se encontrar sob sua
custódia. Note que o Estado pode ser condenado ao pagamento de indenizações por danos
morais, conforme decisão recente do STF no Recurso Extraordinário nº 580252:

“O preso submetido à situação degradante e à superlotação na prisão tem direito a


indenização do Estado por danos morais”.

Por sua vez, no inciso L, a Constituição assegura às presidiárias o direito de amamentar


seus filhos. Assim, o Estado deve propiciar-lhe os meios e as condições. Para tanto, a Lei de
Execução Penal (Lei nº 7.210/84) determina que os estabelecimentos penais destinados a
mulheres serão dotados de berçários, onde as condenadas possam amamentar seus filhos. Em
caso de descumprimento, cabe a utilização de medidas judiciais, inclusive de mandado de
segurança.

Hipóteses de extradição

Extradição é o envio de uma pessoa para outro país, para que ela seja processada ou
para que cumpra pena. Segundo o inciso LI do art.5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum,
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
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A extradição é a transferência compulsória (após um processo de julgamento legítimo)


de alguém de um Estado para outro, a pedido deste último, para que venha a responder a
processo por crime comum ou para cumprir pena.
De acordo com o inciso LI do texto constitucional, apenas o brasileiro naturalizado
poderá ser extraditado em duas situações específicas: crime comum antes da naturalização ou
crime de tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins a qualquer tempo.
É preciso ficar atento (a), pois existem duas hipóteses de extradição:

a) a passiva, que está prevista na Constituição e ocorre quando outras nações soberanas
requerem ao Brasil a extradição de um indivíduo (nesse caso somente o naturalizado poderá
ser extraditado); e
b) a ativa, quando o Brasil solicita a extradição de um indivíduo a outros países soberanos e,
nesse caso, o Brasil poderá solicitar a extradição de brasileiro nato, pelo simples fato de que
ele voltará para o Brasil.

Com relação ao inciso LII, vale destacar que ninguém será extraditado por crime político
ou de opinião, nem mesmo o estrangeiro.
Não existe uma definição legal de qual conduta tipifique esse crime de caráter político,
ficando então, a cargo do Supremo Tribunal Federal, determinar seu enquadramento ou não.
Após esse enquadramento, a competência para o julgamento do crime político será do juiz
federal, conforme o artigo 109, inciso IV, da Constituição.

Princípio do Devido Processo Legal

Consoante o disposto no inciso LIV do art. 5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

O princípio do devido processo legal é considerado pela doutrina como um “princípio


mãe”, porquanto engloba os princípios e o conjunto de práticas jurídicas que norteiam o
exercício da jurisdição, que tem como finalidade garantir a concretização da justiça.
Esse princípio garante ao indivíduo meios de defesa frente ao Estado, caso este último
tente agir sobre sua liberdade ou seus bens. Vale destacar que o referido princípio também
deverá ser observado nos processos de natureza administrativa.

Princípio do contraditório e da ampla defesa

O princípio do contraditório e da ampla defesa, que tem íntima relação com o princípio
do devido processo legal, o qual acabamos de comentar, está expresso no inciso LV do art. 5º
da CRFB/88:
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Art. 5º (...)
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

O inciso LV garante a todos, em processo judicial ou administrativo, a ampla defesa e o


contraditório.
O contraditório envolve duas garantias: em primeiro lugar, a ciência aos litigados (réu,
acusado, interessados, etc.) de que contra eles corre uma certa demanda e, em segundo lugar,
possibilitar-lhes a oportunidade de manifestação nesse processo e a apresentação de suas
razões em relação aos fatos que lhe são opostos.
A ampla defesa, por sua vez, trata da garantia conferida à parte de se utilizar de todos os
meios a seu dispor para produzir sua defesa e efetivar o que alega.

Princípio da inadmissibilidade de Provas ilícitas

De acordo com o disposto no inciso LVI do art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

As provas obtidas por meios ilícitos não são admitidas no ordenamento jurídico
brasileiro. Assim, elas devem ser retiradas do processo e, se da prova ilícita resultarem outras
provas, elas também deverão ser retiradas do processo, pois foram contaminadas pela
ilicitude. É o que preconiza a Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada, já pacífica na doutrina e
na jurisprudência.
Provas ilícitas são aquelas consideradas inadequadas para serem utilizadas no
processo, geralmente por vícios em sua obtenção ou por vícios materiais em si. São exemplos
de provas obtidas por meio ilícito a confissão mediante tortura, o furto de um documento
essencial para provação em juízo, o “grampo” sem autorização judicial. Já documentos
falsificados ideologicamente ou materialmente são provas ilícitas.
Entretanto, tendo em vista que nenhuma liberdade pública é absoluta, a jurisprudência
do STF permite a possibilidade excepcional da sua utilização em caso de defesa. Com efeito, há
situações em que se observa que o direito a ser tutelado – por exemplo, o direito à ampla
defesa – é mais importante do que o direito à intimidade, ao segredo, à liberdade de
comunicação, etc.
De qualquer modo, a regra geral ainda é a da inadmissibilidade das provas ilícitas, que
só excepcionalmente poderão ser admitidas em juízo, em respeito às liberdades públicas e ao
princípio da dignidade humana na colheita de provas e na própria persecução penal do Estado.

Princípio da Presunção da Inocência

O princípio da presunção da inocência está previsto no inciso LVII do art. 5º da CRFB/88:


38

Art. 5º (...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;

Para que haja condenação, é necessário que o juízo esteja realmente convencido da
culpabilidade do autor, caso contrário, infirma-se a presunção da inocência. Dessa forma, o
nome do acusado somente pode ser lançado no rol dos culpados após o trânsito em julgado da
sentença condenatória, vale dizer, quando da sentença não cabe mais nenhum recurso.
Vale destacar que esse princípio, em regra, veda a prisão do réu antes que sua
condenação transite em julgado, mas, como exceção, é possível a prisão preventiva
processual, obedecidos os requisitos estabelecidos em Lei.

O civilmente identificado e a Identificação criminal

O inciso LVIII do art. 5º da CRFB/88 estabelece que:

Art. 5º (...)
LVIII - o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas
hipóteses previstas em lei;

Todo aquele registrado civilmente, ou seja, que possua RG, por exemplo, não poderá ser
identificado criminalmente. Isso porque, uma vez que o Poder Público já dispõe da
identificação da pessoa, a identificação criminal se constituiria em uma medida vexatória
imposta ao cidadão indiciado, presumivelmente inocente.
Contudo, como o próprio dispositivo determina, a lei poderá prever, excepcionalmente,
hipóteses de identificação criminal mesmo quando o indivíduo já foi identificado civilmente. É o
caso da Lei nº 9034/1995 (Lei de combate ao crime organizado), por exemplo.

Ação penal privada subsidiária da pública

A previsão da ação penal privada subsidiária da pública encontra-se no inciso LIX do art.
5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no
prazo legal;

O processo criminal, em nosso Estado, somente pode ser promovido por meio de
denúncia ou de queixa, sendo a ação penal pública privativa do Ministério Público. Entretanto,
em alguns casos, o particular poderá exercer essa prerrogativa, de maneira excepcional,
quando a ação penal pública não for intentada no prazo legal. Por esse motivo, essa ação é
chamada de ação penal privada subsidiária da pública.
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Princípio da Publicidade dos Atos Processuais

O princípio da publicidade dos atos processuais está previsto expressamente no inciso


LX do art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da
intimidade ou o interesse social o exigirem;

Percebe-se que, via de regra, os atos processuais são públicos, contudo, esse direito
não é absoluto. Observe que o legislador constituinte excepcionou, no próprio comando
constitucional, as hipóteses da defesa da intimidade e o interesse social.

Prisão em flagrante por ordem judicial e por transgressões militares

Consoante o disposto no inciso LXI do art. 5º da CRFB/88:

Art. 5º (...)
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei;

Este comando constitucional visa a proteger o direito fundamental da liberdade de


locomoção contra a prisão ilegal e / ou arbitrária. Com efeito, a prisão, para ser legítima,
somente pode ocorrer em flagrante delito ou por ordem de autoridade judiciária competente.

Obs.: Cuidado! As bancas costumam trocar autoridade judiciária por autoridade policial.

Vale ressaltar que a prisão em flagrante pode ser realizada por qualquer pessoa.
Observe que o dispositivo legal foi enfático no sentido de que “qualquer do povo poderá”
enquanto “as autoridades policiais e seus agentes deverão”, expressando que a faculdade do
cidadão seria o dever da polícia.
As transgressões militares e os crimes militares, definidos em lei própria, dão ensejo à
prisão em flagrante, pela autoridade competente, independentemente de ordem judicial.

Demais regras sobre a prisão

Nos incisos LXII a LXVI do art. 5º da CRFB/88, encontram-se outras regras sobre a
prisão, a saber:
40

Art. 5º (...)
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado,
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
LXIV - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;

Aqui, é recomendada uma leitura simples, mas atenta, desses incisos, pois a sua
literalidade é o que geralmente é cobrado em provas.
É preciso destacar que o legislador visou a assegurar ao preso todas as condições
possíveis de auxílio, como por exemplo: o direito à assistência da família para assegurar-lhe
conforto material e moral, bem como para contratar defensor que possa elaborar a sua defesa.

Prisão civil por dívida

Nos termos do art. 5º, LXVII, da Constituição Federal,

Art. 5º (...)
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Com a leitura deste inciso, pode-se concluir que, em regra, não há prisão civil por dívida,
admitindo a Constituição de forma expressa apenas duas exceções: a prisão do devedor da
pensão alimentícia e a do depositário infiel.
Contudo, o STF entende que o depositário infiel não pode mais ser levado à prisão, pois
o Brasil é signatário do Pacto de San José, (Tratado internacional sobre direitos humanos
firmado pelo Brasil em 1992), o qual permite apenas a prisão civil por não pagamento de
obrigação alimentícia. Dessa forma, o STF suspendeu a eficácia da legislação a ele contrária,
editando inclusive a súmula vinculante nº 25.

Súmula vinculante nº 25
É ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.

Remédios constitucionais

Os remédios constitucionais, garantias constitucionais que têm o formato de ações


judiciais, estão previstos nos incisos LXVIII a LXXIII do art. 5º da CRFB/88:
41

Art. 5º (...)

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
LXXII - conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante,
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial
ou administrativo;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

a) Mandado de segurança

O mandado de segurança é um instrumento jurídico, cuja finalidade é proteger direito


líquido e certo, ou seja, provado por documentos, que tenha sido violado por ato ilegal ou
abusivo de autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do
Poder Público.
Ele é considerado um remédio constitucional judicial, de natureza civil, utilizado para
proteger direito de pessoa física ou jurídica, quando esse direito não puder ser protegido por
habeas corpus ou habeas data, possuindo assim caráter residual.
O mais importante para a prova é, sem dúvida, a memorização dos legitimados para
propor o mandado de segurança coletivo, que está previsto no inciso LXX. São eles: o Partido
político com ao menos um representante na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal;
organização sindical; entidade de classe (como a OAB ou CREA, por exemplo) e por fim, as
associações legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um ano.
Vale destacar que a exigência de funcionamento e constituição há pelo menos um ano é
apenas para as associações.
42

b) Mandado de injunção

O mandado de injunção, por sua vez, consiste em uma ação constitucional de caráter
civil e de procedimento especial, que visa a suprir uma omissão do Poder Público, no intuito de
viabilizar o exercício de um direito, uma liberdade ou uma prerrogativa prevista na Constituição
Federal.
Ele possui um papel relevante em nosso ordenamento jurídico, tendo em vista que vários
dispositivos constitucionais precisam de regulamentação para produzirem plenamente seus
efeitos. Dessa forma, o mandado de injunção torna-se um instrumento para combater a
omissão do legislador infraconstitucional. Ele é também aceito na modalidade coletiva, tendo
como legitimados os mesmos que podem impetrar mandado de segurança coletivo.
Julgado importante e muito cobrado em prova foi o do Mandado de Injunção nº 712/PA,
em que o STF adotou a posição concretista, ao analisar mandados de injunção referentes à
falta de norma regulamentadora do direito de greve dos servidores públicos civis (art. 37, VII,
CF). Nessa decisão, o STF não só declarou a omissão do legislador, como também determinou
a aplicação ao servidor público, no que couber, a lei de greve do setor privado (Lei nº
7.783/1989) até que sobrevenha norma específica regulamentadora.
Por fim, vale ressaltar que o sujeito passivo do mandado de injunção será somente o
Poder Público. Assim, se a omissão for legislativa federal, o mandado de injunção deve ser
proposto contra o Congresso Nacional, salvo se a iniciativa da lei for privativa do Presidente da
República, hipótese em que o mandado de injunção deverá ser proposto contra ele.

c) Habeas data

O objeto do habeas data é assegurar ao impetrante o acesso às suas informações


pessoais (informações que digam respeito a sua intimidade), constantes de registros ou
bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, inclusive para o fim de
retificação.
O sujeito ativo no habeas data é a pessoa física, o cidadão (devendo este ser
representado por advogado) e o sujeito passivo é o Estado ou o particular que controle um
banco de dados de caráter público (Serasa ou o SPC, por exemplo).
Com relação ao habeas data, é muito importante destacar que é jurisprudência pacífica
no STF e no STJ a necessidade de negativa na via administrativa para justificar o ajuizamento
do habeas data. Isso porque, sendo o habeas data uma ação constitucional, estará submetida
às condições da ação, dentre elas o interesse de agir.
O habeas data é um remédio gratuito, assim como o habeas corpus.

d) Ação popular

A ação popular é uma das formas de exercício da soberania popular, por intermédio da
qual permite-se a qualquer cidadão (eleitor) a função fiscalizadora do Poder Público, com base
no princípio da legalidade dos atos administrativos e do respeito ao patrimônio coletivo.
Quanto ao seu cabimento, o entendimento do STF é de que não cabe ação popular
contra ato de conteúdo jurisdicional, praticado por membro do Poder Judiciário no
desempenho de sua função típica (decisões judiciais). Isso porque a ação popular só incide
sobre a atuação administrativa do Poder Público.
43

Ademais, como determina o inciso, o autor em regra ficará isento de custas, mesmo não
confirmando a sua pretensão diante dos órgãos judiciais. Contudo, se for comprovada a sua
litigância de má-fé, ele arcará com essas custas e também com o “preço da derrota” (ônus de
sucumbência).
Vale destacar por último que a ação popular, por ser uma expressão do exercício da
soberania e de fiscalização do poder público, poderá ser proposta no juízo de primeiro grau de
jurisdição, mesmo se o ato lesivo for praticado por autoridade que possua prerrogativa de foro.

Assistência gratuita

Consoante o disposto no inciso LXXIV do art. 5º da CRFB/88,

Art. 5º (...)
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;

O direito à assistência gratuita é decorrente da dignidade da pessoa humana, tendo em


vista que todos, não apenas os privilegiados, têm o direito de contar com auxílio jurídico
habilitado para resolver seus problemas.
Esse direito é concretizado principalmente através da Defensoria Pública, prevista no
art. 134 da Constituição Federal.

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do


Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,
fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em
todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral
e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição
Federal.

Responsabilidade Civil do Estado por erro judiciário

Dispõe o inciso LXXV do art. 5º da CRFB/88, que:

Art. 5º (...)
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso
além do tempo fixado na sentença;

Neste inciso há a previsão da chamada responsabilidade civil do Estado nas hipóteses


em que houver condenação por erro judiciário ou manutenção de uma pessoa presa por mais
tempo do que o fixado na sentença judicial.
44

Gratuidade das certidões de nascimento e de óbito

Segundo o art. 5º, LXXVI, da Constituição Federal:

Art. 5º (...)
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;

Apesar do previsto no inciso LXXVI, é importante destacar que o STF julgou


constitucional a Lei nº 9534/97, que prevê gratuidade do registro de nascimento ou de óbito,
bem como da primeira certidão, a todos os cidadãos (e não só para os pobres), por entender
que o fato de a Constituição assegurar esses direitos apenas aos pobres não impede que o
legislador os estenda a outros cidadãos.

Princípio da Celeridade Processual

O princípio da celeridade processual está previsto no inciso LXXVIII do art. 5º da


CRFB/88:

Art. 5º (...)
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

O objetivo deste princípio é garantir aos cidadãos o direito de verem julgados seus
processos em um prazo razoável. Ele é aplicável tanto aos processos administrativos quanto
aos judiciais.

Art. 5º (...)
LXXIX – é assegurado, nos termos da lei, o direito à proteção dos dados pessoais, inclusive
nos meios digitais.

Esse inciso foi inserido na CRFB/88 pela Emenda Constitucional por meio da Emenda
Constitucional nº 115 de 2022 e é muito importante para a sua prova.
Vale ressaltar que a Lei nº 13.709 de 2018 (Lei Geral de Proteção de Dados) é a lei que
regulamenta esse inciso. Essa lei já havia inserido a proteção dos dados pessoais como sendo
um direito fundamental. Todavia, no texto constitucional, esse direito estava implícito. O papel
da EC nº 115 foi o de explicitar esse direito que já estava regulamentado pela lei
infraconstitucional.
45

Para finalizar o artigo 5º, vamos, a partir de agora, comentar seus quatro parágrafos,
que costumam ser muito cobrados em prova.

Aplicação Imediata dos Direitos Fundamentais

Art. 5º (...)
§1º As normas definidoras dos direito e garantias individuais têm aplicação imediata.

Em relação a sua aplicabilidade, via de regra, as normas definidoras dos direitos e


garantias têm aplicação imediata (não se trata apenas dos direitos arrolados no art. 5º, mas de
todos os direitos e garantias fundamentais). Todavia, faz-se necessário ressaltar que apesar de
os direitos fundamentais terem aplicação imediata, isso não significa que todas as normas ali
descritas são normas de eficácia plena.
Com efeito, vários direitos e garantias fundamentais estão previstos em normas de
eficácia limitada, dependendo de regulamentação para a produção plena de seus efeitos, mas
mesmo assim devem ser sempre interpretadas de modo a terem a maior eficácia possível,
ainda quando não regulamentadas pelo legislador ordinário.

O catálogo “aberto” dos direitos Fundamentais

Art. 5º (...)
§2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela dotados, ou dos tratados internacionais em que a
República federativa do Brasil seja parte.

Por meio desse parágrafo, a Constituição abre o rol dos direitos fundamentais (rol
exemplificativo) ao prever que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais
em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos

Art. 5º (...)
convenções
§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados,
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

Por meio desse inciso, a Constituição determina que alguns tratados e convenções
internacionais têm força de emenda constitucional. Contudo, para que isso aconteça, dois
requisitos deverão ser observados:
46

1º - Os tratados devem versar sobre direitos humanos (requisito material) e;


2º - Os tratados devem ter sido aprovados de acordo com o rito próprio das emendas
constitucionais: três quintos dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos de votação (requisito formal).

Tribunal Penal Internacional

Art. 5º (...)
§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional à cuja criação tenha
manifestado adesão.

O Brasil se submeteu à jurisdição do Tribunal Penal Internacional, fazendo com que


certos crimes que estão previstos no Estatuto de Roma (Tratado Internacional do qual o Brasil
é signatário) possam ser submetidos ao julgamento dessa Corte Penal Internacional. Veja o
artigo 5º, item 1, do referido Estatuto:

1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves, que afetam a


comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos do presente Estatuto, o Tribunal terá
competência para julgar os seguintes crimes:
a) O crime de genocídio;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Crimes de guerra;
d) O crime de agressão.

Finalmente, chegamos ao final do estudo do artigo 5º e de seus 79 incisos e 4


parágrafos... Ufa!!! Contudo, não pense que acabou, pois vamos direto para o estudo dos
Direitos Sociais.

2.6 Direitos Sociais

Os direitos sociais são aqueles que têm por objetivo garantir aos indivíduos condições
materiais consideradas imprescindíveis para o pleno gozo dos seus direitos fundamentais, por
isso tendem a exigir do Estado intervenções na ordem social, segundo critérios de justiça
distributiva.
Assim, diferentemente dos direitos liberais ou negativos (1ª geração), eles se realizam
por meio de uma atuação positiva estatal, com a finalidade de diminuir as desigualdades
sociais. A título de exemplo, no que diz respeito ao direito à vida, o Estado teria o dever de não
tirar a vida das pessoas, ao passo que, no que toca o direito à saúde, o Estado teria uma série
de deveres destinados a implementar esse direito social. Segundo nos ensina José Afonso da
Silva, os direitos sociais:

“[...] são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou


indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam
melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar
47

a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se


ligam ao direito de igualdade”.

Eles são considerados direitos fundamentais de 2ª geração ou dimensão e constituem


um rol exemplificativo, ou seja, não se limita apenas aos direitos que estão ali apresentados,
podendo surgir outros, conforme previsto no art. 5º, § 2º.
É com a Constituição de 1988 que os direitos sociais ganham maior projeção. Isso se
deve ao fato de estarem previstos no início da Constituição Federal (a partir do art. 6º, CF), bem
como pelo grau de amplitude e especificidade de muitos dos direitos sociais.
Conforme mencionado anteriormente, os direitos sociais exigem uma prestação
positiva por parte do Estado. Todavia, dada a crescente demanda por esses direitos, cabe à
administração pública o gerenciamento desses recursos.
Assim, a efetivação dos direitos sociais estaria limitada por parâmetros de ordem
financeira (limitador fático à efetivação dos direitos sociais prestacionais), surgindo assim um
conceito denominado Reserva do Possível, ou Reserva do Financeiramente Possível.

Reserva do Possível

O princípio da "Reserva do Financeiramente Possível" regula a possibilidade e a


extensão da atuação estatal no tocante à efetivação de alguns direitos, condicionando a
prestação do Estado à existência de recursos públicos disponíveis. Esse conceito, todavia, é
interpretado, na atual jurisprudência (ADPF nº45) do STF com o seguinte sentido:

Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental – nº45 - STF

A falta de recursos orçamentários para a execução de direitos sociais previstos no


texto constitucional é um óbice, mas não pode ser um limite que nulifique o atendimento
dessa demanda, já que as normas constitucionais consubstanciam direitos exigíveis e não
simplesmente promessas dependentes do alvedrio do administrador.

Cabe ao Estado reservar os seus recursos para atender às demandas sociais


indispensáveis, decorrentes do mínimo existencial (sem as quais o indivíduo não tem
existência digna) e, apenas num segundo momento, aplicar o que restar em outras
demandas. Apenas quando comprovada a ausência de recursos é que o Estado pode
deixar, justificadamente, de atender a uma dessas necessidades.

Antes de começarmos o estudo literal dos artigos 6º ao 11, vale destacar mais dois
conceitos ligados aos direitos sociais, frequentemente cobrados em prova. São eles: O Mínimo
Existencial e o Princípio da Vedação do Retrocesso:
48

O Mínimo Existencial

A doutrina e a jurisprudência desenvolveram o conceito de mínimo existencial, que nada


mais é que o conjunto de condições materiais essenciais e elementares cuja presença é
pressuposto da dignidade para qualquer pessoa. Se alguém viver abaixo daquele patamar, o
mandamento constitucional estará sendo desrespeitado.

Princípio da Vedação do Retrocesso

O Princípio da vedação do retrocesso não está expressamente previsto na Constituição,


mas foi acolhido pela doutrina e pela jurisprudência. Segundo esse princípio, os direitos não
podem retroagir, mas apenas avançar na proteção dos indivíduos.
Assim, qualquer medida tendente a revogar os direitos sociais já regulamentados, sem a
criação de outros meios alternativos capazes de compensar a anulação desses benefícios é
passível da decretação de inconstitucionalidade. Tal princípio vincula não só o legislador
infraconstitucional, mas também o legislador constituinte derivado reformador, ao elaborar
emendas à Constituição.
Todavia, não se trata de conferir imutabilidade às normas relativas aos direitos sociais,
mas segurança jurídica ao assegurar que eles não sejam suprimidos ou diminuídos em sua
importância e alcance.

Localização dos Direitos Sociais

Os direitos sociais estão dispostos na CRFB/88, no Título II - Dos Direitos e Garantias


Fundamentais (arts. 6º ao 11).
Vale lembrar que a Banca pode cobrar a literalidade desse artigo, sendo muito
importante memorizá-lo. O art. 6º dispõe que:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o


transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Da leitura do art. 6º, percebe-se um rol de direitos sociais básicos: educação, saúde,
alimentação, trabalho, moradia, transporte, segurança, lazer, previdência social, proteção à
maternidade e à infância e assistência aos desamparados. É importante ressaltar que esse rol
vem sendo ampliado sistematicamente em virtude do disposto no §2º do art. 5º da CRFB/88 (§2º
Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte.).
Observe o esquema a seguir:
49

Direito social Ato normativo


Educação, saúde, trabalho, transporte, lazer, Texto originário da Constituição
segurança, previdência social, proteção à
maternidade e à infância, assistência aos
desamparados
Moradia Emenda Constitucional n. 26/2000
Alimentação Emenda Constitucional n. 64/2010
Transporte Emenda Constitucional n. 90/2015

Uma boa forma de memorizar determinados conteúdos é por meio de mnemônicos. O


seguinte mnemônico pode ajudar você a memorizar os direitos sociais:

EDU MORA LA no TRANSPORTE


SAÚ TRABALHA ALI
ASSIS PRO SEG PRE SO

Do artigo 7º ao 11, o constituinte privilegiou os direitos sociais do trabalhador, em suas


relações individuais e coletivas, incluindo também, a liberdade sindical (art. 8º), o direito de
greve (art. 9º), o direito de participação dos trabalhadores em colegiados dos órgãos públicos
(art. 10) e o direito de representação na empresa (art.11).

Direitos dos Trabalhadores Urbanos e Rurais

O artigo 7º trata dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:

Os direitos sociais contidos neste artigo 7º são exemplificativos, vale dizer, não são
taxativos (ou numerus clausus), pois não esgotam os direitos constitucionais dos
trabalhadores, que se encontram previstos na própria Constituição Federal. Alguns desses
direitos são aplicados aos servidores públicos (artigo 39, §3º, da Constituição):

Art. 39, §3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV,
VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer
requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.
50

Vale destacar a parte final do artigo 39, § 3º, que já foi alvo de debates no STF, gerando
uma súmula muito cobrada em prova:

Súmula 683 – STF

O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º,
XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo
a ser preenchido.

Outro destaque importante é o inciso XXXIV, que trouxe a igualdade entre o trabalhador
com vínculo empregatício e o trabalhador avulso.

Art. 7º (...)
XXXIV – igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo permanente e o trabalhador
avulso.

O trabalhador avulso é aquele que presta serviço para diversas empresas, sem vínculo
empregatício com essas empresas, mas por intermédio de um órgão de gestão de mão-de-
obra ou de um sindicato.
Com relação aos demais direitos dos trabalhadores previstos no texto constitucional,
que veremos a seguir, alguns têm aplicabilidade imediata (eficácia plena ou contida), outros
dependem de lei para sua efetiva aplicação (eficácia limitada), devendo o Estado assegurá-los
materialmente, já que o direito do trabalho é regulamentado por leis específicas.
Para facilitar o seu estudo, vamos dividir os direitos dos trabalhadores por categorias,
conforme divisão da doutrina majoritária. Frise-se que é muito importante a leitura e a
memorização desses assuntos, porque o que costuma ser cobrado em provas de concurso é
a literalidade desses incisos.

Direito ao trabalho e à garantia do emprego

Art. 7º (...)
I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos
termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros
direitos;
II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
III - fundo de garantia do tempo de serviço;
XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos
termos da lei;

Vale destacar que os direitos dos trabalhadores previstos no art. 7º serão (em regra)
regulados por Lei (Lei Ordinária), com exceção de apenas um desses direitos que será
regulamentado por Lei Complementar, que é o caso do inciso I do artigo 7°.
51

Direitos relativos ao salário

Art. 7º (...)
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas
necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;
VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável;
VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da
aposentadoria;
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos
da lei;

Direitos relativos ao repouso

Art. 7º (...)
XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o
salário normal;
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e
vinte dias;
XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;
XXIV - aposentadoria;

Com relação à licença paternidade, o ADCT (Atos das Disposições Constitucionais


Transitórias) determina que será de 5 dias, como veremos abaixo:

Art. 10, § 1º Até que a lei venha a disciplinar o disposto no art. 7º, XIX, da Constituição, o
prazo da licença-paternidade a que se refere o inciso é de cinco dias.
52

Direito à proteção

Art. 7º (...)
XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos
termos da lei;
XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;
XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;
XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a
indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão
por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;
XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do
trabalhador portador de deficiência;
XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os
profissionais respectivos;
XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de
qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos;

Deve-se ter atenção especial ao inciso XXXIII, muito cobrado em prova. Cuidado para
não confundir as idades!!!

Jornada de trabalho e dos turnos ininterruptos

Art. 7º (...)
XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo
ou convenção coletiva de trabalho;
XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de
revezamento, salvo negociação coletiva;

Atenção para não confundir a jornada de trabalho do servidor público federal prevista
na Lei nº 8112/90 (Estatuto Federal), que é de 40 horas semanais, com a jornada do
trabalhador/empregado que é regido pela CLT, como mostra o inciso XIII (acima citado) da
Constituição, que é de 44 semanais.
53

Lei 8112/90 - Art. 19. Os servidores cumprirão jornada de trabalho fixada em razão das
atribuições pertinentes aos respectivos cargos, respeitada a duração máxima do trabalho
semanal de quarenta horas e observados os limites mínimo e máximo de seis horas e oito
horas diárias, respectivamente.

Outros direitos sociais do trabalhador

Art. 7º (...)
XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e,
excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;
XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à
do normal;
XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos
de idade em creches e pré-escolas;
XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;
XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo
prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois
anos após a extinção do contrato de trabalho;

Extensão dos direitos relativos aos trabalhadores domésticos

Art. 7º (...)
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos
previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX,
XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do
cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação
de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem
como a sua integração à previdência social.

Por fim, vale destacar que a Emenda Constitucional nº 72, de 2013, ampliou os direitos
dos trabalhadores domésticos, exigindo, para algum desses direitos, uma regulamentação
específica, como mostra a parte final do parágrafo único.

Liberdade de associação profissional e sindical

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

O art. 8º trata da liberdade de associação profissional ou sindical, estabelecendo a


forma e as restrições a serem obedecidas, a saber:
54

Art. 8º (...)
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o
registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na
organização sindical;

Embora a Constituição declare expressamente a liberdade de associação, vedando ao


Poder Público a interferência na organização sindical, ela própria vedou a criação de mais de
uma organização sindical (na mesma base territorial, não podendo esta ser inferior à área de
um município).

Art. 8º (...)
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau,
representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será
definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à
área de um Município;

O inciso II, acima descrito, traz o respeito ao Princípio da unicidade sindical. Assim, não
podem coexistir mais de um sindicato da mesma categoria profissional (trabalhadores) ou
econômica (empregadores), dentro de uma mesma base territorial.

Art. 8º (...)
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da
categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas;

Segundo o entendimento do STF, com base no inciso acima, o sindicato pode atuar na
defesa de todos os direitos individuais dos integrantes da categoria que representa, contudo, é
necessário que o membro do sindicato autorize essa ação, através de uma procuração, como
trata o artigo 5º, inciso XXI.

Art. 8º (...)
IV - a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional,
será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação
sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;

Neste inciso, estão previstas duas espécies de contribuição: a contribuição


confederativa, que possui caráter facultativo e é fixada em assembleia pelos filiados da
entidade associativa, e a contribuição sindical que é exigida de todos os integrantes da
categoria econômica ou profissional, independentemente de serem sindicalizados ou não, pois
se trata de uma espécie de tributo previsto no artigo 149 da Constituição, de cobrança
compulsória.
Inclusive, vale ressaltar que a súmula vinculante de nº 40 do STF, exige apenas a
contribuição confederativa aos filiados da organização sindical:
55

Súmula Vinculante 40
A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição Federal, só é exigível
dos filiados ao sindicato respectivo.

Direitos aos sindicalizados

Art. 8º (...)
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a
cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano
após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

É importante ressaltar a estabilidade provisória prevista no inciso VIII do artigo 8º, que
se dá a partir do registro da candidatura e, caso o empregado seja eleito, ainda que suplente,
até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave.
Por último, as disposições do artigo 8º aplicam-se também à organização de sindicatos
rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

Direito de greve

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a


oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

O art. 9º da Constituição e seus parágrafos asseguram o direito de greve aos


trabalhadores urbanos e rurais. Entretanto, determina que tal direito não é absoluto, uma vez
que as necessidades inadiáveis da comunidade deverão ser atendidas e aqueles que abusarem
do direito ficarão sujeitos a penas fixadas em lei.

Participação nos colegiados dos órgãos públicos

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados


dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto
de discussão e deliberação.
56

Esse artigo assegura a participação dos trabalhadores e também dos empregadores em


órgãos públicos que cuidem de seus interesses profissionais e previdenciários, como por
exemplo, o Conselho Curador do FGTS e do INSS.

Eleição de representantes nas empresas

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um


representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto
com os empregadores.

O representante eleito, neste caso específico, segundo a doutrina, goza também de


estabilidade provisória, da mesma forma que o membro do sindicato ou de associação.

Após o estudo dos direitos sociais (artigos 6º ao 11), iniciaremos a parte que trata dos
Direitos da Nacionalidade, que estão previstos no artigo 12 da Constituição Federal.

2.7 Direitos de nacionalidade

Nacionalidade é o vínculo jurídico e político que liga um indivíduo a um Estado, o que


torna esse indivíduo um componente do povo (um nacional), da dimensão pessoal desse
Estado. Outrossim, a vinculação política se dá porque, preenchidas as condições mínimas
previstas na Constituição, poderá a pessoa interferir nos destinos políticos do país.
Existem dois tipos de nacionalidade: a nacionalidade primária, também chamada de
originária e a nacionalidade secundária ou derivada.

Nacionalidade Primária ou Originária

Tem origem com o nascimento, a partir do qual, aplicam-se critérios definidores da


nacionalidade. Esses critérios podem ser territoriais (jus solis) ou sanguíneos (jus sanguinis).
O critério territorial determina a nacionalidade de um indivíduo em decorrência do local
do seu nascimento, independentemente da nacionalidade de seus ascendentes. Dessa forma, a
aquisição decorre do local do nascimento de indivíduo.
O critério sanguíneo, por sua vez, determina a nacionalidade de um indivíduo em
decorrência da nacionalidade dos seus ascendentes, independentemente do seu local de
nascimento. Assim sendo, para adquirir a nacionalidade, basta ser filho de um nacional. Em
outras palavras, a aquisição da nacionalidade decorre da hereditariedade.

Hipóteses de aquisição da nacionalidade primária na Constituição Federal de 1988

De acordo com o artigo 12, I, alíneas a, b e c, da Constituição, verifica-se a aplicação dos


critérios territorial (alínea “a”) e sanguíneo (alíneas “b” e “c”), para aquisição da nacionalidade
originária, ou seja, a condição de brasileiro nato.
57

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde
que estes não estejam a serviço de seu país;

Perceba que a Constituição adota, na alínea “a”, o critério territorial, considerando


brasileiro nato qualquer pessoa nascida em território nacional, mesmo que de pais
estrangeiros.
Contudo, existe uma exceção a essa regra: se o nascido no solo brasileiro for filho de
estrangeiros a serviço de seu país, não será brasileiro nato.

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

Na alínea “b”, adota-se o critério do sangue, mas com uma condição adicional: o fato de
qualquer um dos pais (ou ambos) estarem a serviço oficial do Brasil, o que significa qualquer
serviço prestado por órgão ou entidade da Administração Direta ou Indireta.

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira;

Por último, a alínea “c”, nos traz a existência de duas formas diferentes de aquisição de
nacionalidade originária (nato) daquele que tem pai ou mãe brasileira, que no momento do
nascimento (no exterior) não estavam a serviço do Brasil. Vejamos:
1ª forma: filho de brasileiro (pai ou mãe), somado ao registro em repartição brasileira
competente;

2ª forma: filho de brasileiro (pai ou mãe) somado com a residência no território brasileiro e a
opção confirmativa, depois de adquirida a maioridade. É a chamada nacionalidade potestativa,
pois depende da vontade da pessoa.

Nacionalidade Secundária ou Derivada

A nacionalidade derivada é aquela que se adquire voluntariamente através de um ato


jurídico, denominado de naturalização. A naturalização pode ser tácita (não é mais adotada no
Brasil) ou expressa (ainda hoje adotada no Brasil). A naturalização expressa depende de
requerimento do interessado, podendo ser do tipo ordinária ou extraordinária.
58

Resumindo:

Originária (primária) – adquirida pelo nascimento. Prevista apenas na CRFB/88


Nacionalidade (art. 12, I). Tem dois critérios tradicionais (ius solis e ius sanguinis).

Secundária (derivada) – adquirida por um ato posterior de vontade


(naturalização). Pode estar prevista na CRFB/88 e na lei infraconstitucional
(Lei Federal, art. 22, XIII, CF), não podendo ser Medida Provisória.

Naturalização Ordinária

A naturalização ordinária será concedida aos estrangeiros que cumpram os requisitos


descritos na Constituição e na lei. É importante esclarecer que nesse caso, não existe um
direito público subjetivo à obtenção da naturalização ordinária, pois este é um ato de soberania
e depende de uma análise quanto à conveniência e à oportunidade por parte do Estado.
Consoante o inciso II do art. 12,

Art. 12. São brasileiros:


II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de
países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

Perceba, na alínea “a”, que no caso dos estrangeiros originários de países de língua
portuguesa, a naturalização é mais simples, sendo apenas exigidos dois requisitos:

residência no Brasil por um ano ininterrupto e


idoneidade moral.

Contudo, vale destacar que, mesmo o estrangeiro preenchendo todos os requisitos


constitucionais e legais, o Governo brasileiro não é obrigado a conceder a naturalização, pois
nessa hipótese (alínea “a”) trata-se de um ato discricionário do Poder Executivo. Como ressalta
Valério Mazzuoli:

“Não existe direito público subjetivo à naturalização, a qual é sempre


discricionária do governo e se opera em atenção aos interesses nacionais,
mesmo que o requerente satisfaça todos os requisitos necessários à sua
concessão. A esse respeito, aliás, existe a regra expressa do art. 121 do Estatuto
do Estrangeiro”.

Assim, como mencionado anteriormente, ainda que preenchidos os requisitos legais,


não terá o estrangeiro direito subjetivo à naturalização ordinária.
59

Naturalização Extraordinária

Diferentemente da naturalização ordinária (que é ato discricionário), a naturalização


extraordinária cria um direito público subjetivo para o naturalizando, ou seja, preenchidos os
requisitos exigidos no artigo 12, inciso II, alínea “b”, o ato de concessão da naturalização
extraordinária é vinculado, dependendo apenas do requerimento do estrangeiro.

Art. 12. São brasileiros:


II - naturalizados:
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil
há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a
nacionalidade brasileira.

Vejamos então quais os requisitos necessários para a naturalização extraordinária:

Residência ininterrupta no Brasil por mais de quinze anos;


Sem condenação penal;
Requerimento do interessado

Equiparação

Antes de passarmos ao estudo das diferenças entre brasileiros natos e naturalizados,


vale uma atenção especial ao que a doutrina denomina de equiparação, que está prevista no
Art. 12, § 1º da Constituição:

Art. 12. (...)


§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em
favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
previstos nesta Constituição.

Atenção! Não há, no art. 12, § 1º, uma hipótese de naturalização, e sim de equiparação,
ou seja, o português residente no Brasil continuará sendo português, mas agora na condição
de equiparado ao brasileiro.
E por que isso acontece? Porque serão estendidos aos portugueses equiparados os
mesmos direitos inerentes ao brasileiro naturalizado, mas é claro que se atendidas às
condições previstas no, §1º do art. 12:

reciprocidade no ordenamento jurídico português em favor dos brasileiros e


residência permanente no Brasil.
60

Tratamento diferenciado entre brasileiros natos e brasileiros naturalizados

A Constituição determina que a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos na própria Constituição.

Art. 12. (...)


§ 2º. A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo
nos casos previstos nesta Constituição.

Vamos analisar cada uma das diferenças previstas na Constituição da República. São elas:

Cargos privativos de brasileiros natos (art.12, § 3º)


Funções no Conselho da República (art. 89, VII)
Casos de extradição (Art. 5°, LI)
Propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão (Art. 222).

Cargos privativos de brasileiros natos

Em relação à diferenciação decorrente de alguns cargos, a Constituição determina em


seu artigo 12, § 3º, os cargos que somente poderão ser ocupados por brasileiros natos, são
eles:

Art. 12. (...)


§3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas;
VII - de Ministro de Estado da Defesa.

Atenção, pois somente para os cargos de presidente da Câmara e presidente do


Senado é exigida a nacionalidade originária (brasileiro nato), sendo assim, é perfeitamente
possível que um brasileiro naturalizado se torne Deputado Federal ou Senador da República,
contudo, não poderá se candidatar à presidência da sua respectiva casa.

Funções no Conselho da República

Em relação à diferenciação decorrente de algumas funções, a Constituição determina


em seu artigo 89, VII, o seguinte:
61

Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República,


e dele participam:
I - o Vice-Presidente da República;
II - o Presidente da Câmara dos Deputados;
III - o Presidente do Senado Federal;
IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados;
V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal;
VI - o Ministro da Justiça;
VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois
nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos
pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.

Vale aqui destacar que a Constituição não exige que todos os membros do Conselho da
República sejam brasileiros natos, mas apenas os seis cidadãos escolhidos.

Casos de extradição

O artigo 5º, inciso LI da Constituição Federal, conforme já mencionado na seção sobre


Direitos e Garantias Fundamentais, determina que:

Art. 5º, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime
comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

Depreende-se, da leitura deste inciso, a opção pelo legislador constituinte de não


permitir a extradição (passiva) do brasileiro nato. Contudo, abriu-se uma exceção ao
naturalizado por crime comum antes da naturalização ou por crime de tráfico ilícito de
entorpecentes antes ou depois do processo de naturalização. Estabelecendo assim um
tratamento diferenciado entre eles.

Propriedade de empresas jornalísticas e de radiodifusão

Por fim, é feita uma distinção entre brasileiros natos e naturalizados, no tocante à
propriedade de empresas jornalísticas, de radiodifusão sonora e de sons e imagens.

Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e


imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de
pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.

Há que se fazer um destaque especial para o naturalizado há mais de 10 anos.


Geralmente as bancas costumam substituir esse prazo de 10 anos pelo de 15 anos (para
confundir o (a) candidato (a) com o prazo para aquisição da naturalização extraordinária).
62

Sendo assim, o naturalizado para ser proprietário dessas empresas, deverá ter, no mínimo, dez
anos de naturalização.

Perda do direito de nacionalidade

A perda da nacionalidade tem caráter personalíssimo. Isso significa que ela não se
estende aos descendentes, limitando-se apenas à pessoa em questão. Ela ocorrerá com a
concretização de uma das hipóteses previstas no § 4º, do artigo 12 da Constituição Federal, a
saber:

Art. 12 § 4º. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:


I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva
ao interesse nacional;

Nesta hipótese, fica claro que apenas o brasileiro naturalizado poderá sofrer a perda da
nacionalidade, pois se trata do cancelamento da naturalização, mas para que isso ocorra é
necessária uma decisão judicial com trânsito em julgado. Ademais, conforme entendimento
jurisprudencial do STF, o cancelamento da naturalização não pode ser declarado por decisão
administrativa, pois se configura como cláusula de reserva jurisdicional.
Outro detalhe importante é que, com o cancelamento da naturalização pela justiça, o
indivíduo volta à condição de estrangeiro. Contudo, ele pode tentar readquirir a nacionalidade
brasileira através de uma ação rescisória (remédio jurídico utilizado para impugnar sentença
transitada em julgado).

Art. 12 § 4º. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:


II – adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em
Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício
de direitos civis.

Cabe aqui ressaltar que nas hipóteses do inciso II, alíneas “a” e “b”, tanto o brasileiro
nato, quanto o naturalizado poderão perder a nacionalidade brasileira.
Sendo assim, conforme o disposto, o brasileiro (nato ou naturalizado) perderá a sua
nacionalidade quando voluntariamente adquirir outra nacionalidade, e não se enquadrar em
nenhuma das exceções previstas na Constituição (alíneas “a” e “b”).
Dito de outra forma, a nacionalidade brasileira não será perdida se for reconhecida a
nacionalidade originária pela lei estrangeira ou se a naturalização for condição imposta pela lei
estrangeira para que o brasileiro possa permanecer no território estrangeiro ou lá exercer
direitos civis. Nessas situações excepcionais, o indivíduo terá dupla nacionalidade: a brasileira
e a estrangeira.

Possibilidade da reaquisição da nacionalidade do brasileiro nato

Conforme previsão legal, a nacionalidade, originária ou derivada, pode ser readquirida,


pois a sua perda não tem caráter irreversível.
63

Todavia, não é pacífico o entendimento da doutrina quanto aos efeitos da reaquisição da


nacionalidade pelo brasileiro nato, existindo assim, duas correntes:
Para a primeira e majoritária, entende-se que terá efeitos ex tunc (retroativo), isto é,
voltará à condição de nato e, por conseguinte, os efeitos da reaquisição irão retroagir à época
anterior à sua naturalização.
Já a segunda, terá efeitos ex nunc (a partir de um momento determinado), ou seja, o
brasileiro nato, após adquirir outra nacionalidade, ao pretender sua nacionalidade brasileira,
voltará como brasileiro naturalizado.

Encerramos aqui os assuntos referentes à nacionalidade e passaremos, a seguir, para


os direitos políticos, assunto extremamente importante e atual.

2.8 Direitos Políticos

Direitos políticos são aqueles destinados a assegurar a soberania popular, dando


ensejo à possibilidade de se interferir nas decisões políticas do Estado, direta ou
indiretamente, ou seja, por meio das diversas formas de sufrágio: direito de votar, de ser
votado, de participação popular e através de plebiscito ou referendo.
A Constituição Federal de 1988 dedica o capítulo IV (arts. 14 ao 16) do título II, aos
direitos políticos, fazendo parte assim dos Direitos e Garantias Fundamentais.

(Imagem retirada de: https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-


tse/2021/Maio/urna-eletronica-25-anos-em-maio-tse-homenageou-o-principal-simbolo-das-eleicoes-brasileiras)

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

2.8.1 Direito ao Sufrágio

Segundo José Afonso da Silva, o sufrágio é o direito público subjetivo de natureza


política que tem o cidadão de eleger, de ser eleito e de participar da organização e da atividade
do poder estatal. Em suma, o direito de sufrágio é o direito de votar e de ser votado, sendo
considerado a essência dos direitos políticos.
De acordo com a doutrina, o sufrágio pode ser de dois tipos:

Sufrágio Universal: pode ser definido como aquele em que a possibilidade de


participação do cidadão na vida política de um Estado não fica restrita às condições
econômicas, acadêmicas, profissionais ou étnicas.
64

Sufrágio Restrito: é quando o poder de participação se confere somente àqueles que


preenchem certos requisitos econômicos, sociais ou culturais, por exemplo. Podendo
ser do tipo censitário ou capacitário, sendo o primeiro aquele do qual participam
somente os que apresentem determinada condição econômica e o segundo, aquele do
qual participam todos que tenham determinado grau de instrução ou capacidade
intelectual.

Características do voto

A Constituição Federal prevê quais são as características do voto, a saber: direto e


secreto, com valor igual para todos e obrigatório.
É direto tendo em vista que o eleitor brasileiro escolhe seus governantes sem
intermediários e é secreto porque seu conteúdo não pode ser revelado pela Justiça Eleitoral,
que deve garantir ao eleitor que seu voto será resguardado e mantido em sigilo.
Diz-se de igual valor, quando o voto de cada eleitor tem o mesmo peso,
independentemente de sua posição, fortuna, religião, clã social ou outra forma de
diferenciação.
Por fim, o voto é obrigatório, porque, além de um direito, é também um dever jurídico,
social e político.
Assunto muito cobrado em prova é a obrigatoriedade do voto. Será essa obrigatoriedade
uma cláusula pétrea, ou seja, será que o voto poderia deixar de ser obrigatório? A resposta a
essa pergunta está prevista no artigo 60 § 4º da Constituição Federal:

Art. 60 (...)

§4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I - a forma federativa de Estado;


II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.

Depreende-se do artigo 60, §4º, então, que é clausula pétrea apenas o voto direto,
secreto, universal e periódico (e com valor igual para todos, conforme entendimento do STF), e
não a sua obrigatoriedade.

Plebiscito, Referendo e Leis de iniciativa popular

A Constituição Federal brasileira traz, no seu artigo 14, a previsão de três instrumentos
de democracia participativa, a saber: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular.
65

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e
secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.

A Lei nº 9.709 de 1998 regulamenta a execução do disposto nos incisos I, II e III do art.
14, trazendo o conceito de Plebiscito e Referendo, que são espécies de consultas formuladas
aos eleitores.

Art. 2º Plebiscito e referendo são consultas formuladas ao povo para que delibere sobre
matéria de acentuada relevância, de natureza constitucional, legislativa ou administrativa.
§1º O plebiscito é convocado com anterioridade a ato legislativo ou administrativo,
cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido submetido.
§2º O referendo é convocado com posterioridade a ato legislativo ou administrativo,
cumprindo ao povo a respectiva ratificação ou rejeição.

Plebiscito

Analisando o artigo 2º e seu parágrafo primeiro, chega-se à conclusão de que, no


plebiscito, o eleitor é convocado para opinar sobre o assunto em debate antes que qualquer
medida tenha sido adotada, fazendo com que a opinião popular seja a base para a elaboração
de lei posterior ou da realização do ato administrativo.

Referendo

No que tange ao parágrafo segundo, caso do referendo, o Congresso Nacional discute e


aprova inicialmente uma lei ou então executa determinado ato administrativo e então,
posteriormente, os cidadãos são convocados a dizer se são contra ou a favor do ato legislativo
ou administrativo.
Cabe ressaltar que a convocação de plebiscito ou a aprovação de referendo é
competência exclusiva do Congresso Nacional, conforme previsto na Constituição Federal:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

V - autorizar referendo e convocar plebiscito;


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Iniciativa Popular

Na iniciativa popular de lei, os eleitores têm o direito de apresentar projetos à Câmara


dos Deputados desde que reúnam um número mínimo de assinaturas, conforme o art. 61 § 2º
da Constituição:

Art. 61 (...)
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados de
projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído
pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de
cada um deles.

Após o estudo do caput do art. 14 e de seus incisos, passaremos agora ao estudo da


capacidade eleitoral ativa (direito de se alistar como eleitor – condições de alistabilidade) e a
capacidade eleitoral passiva (direito de ser votado – condições de elegibilidade).
Vamos então à análise desses dois aspectos, que estão ligados diretamente ao conceito
de sufrágio.

Capacidade Eleitoral Ativa – (Condições de alistabilidade)

A Constituição determina no parágrafo 1º do art. 14 que, no Brasil, o alistamento


eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de 18 anos e facultativos para os
analfabetos, os maiores de 70 anos e os maiores de 16 e menores de 18 anos.

Art. 14 (...)

§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:


I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

Vamos esquematizar esse artigo para que você o compreenda melhor:


67

Em seu parágrafo § 2º, o artigo 14 determina a vedação (proibição) ao alistamento


eleitoral e, em consequência disso, o direito ao voto, aos estrangeiros e aos conscritos (jovens
que foram recrutados para o serviço militar inicial obrigatório).

Art. 14 (...)

§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço


militar obrigatório, os conscritos.

Somente o nacional e o português equiparado, no gozo de seus direitos políticos, podem


alistar-se.
É importante destacar a diferença entre o conscrito, que é considerado um militar (não
alistável), com o militar alistável e elegível previsto na Constituição Federal:

Art. 14 (...)

§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições:

I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade;


II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se
eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

Observe, então, que o militar alistável pode ser eleito, mas para isso precisa afastar-se
da atividade, se tiver menos de dez anos de serviço. Caso tenha mais do que esse tempo de
serviço, será afastado (agregado) pela autoridade superior, conservando-se ativo até a
diplomação, momento em que passará automaticamente para a inatividade.

Capacidade eleitoral passiva – (condições de elegibilidade)

Qualquer cidadão pode pretender investidura em cargo eletivo, desde


que atenda às condições constitucionais e legais de elegibilidade, previstas no § 3º do art. 14:
68

Art. 14 (...)

§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:


I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador.

Pode-se destacar neste parágrafo que, dentre as condições de elegibilidade, a idade


para concorrer aos cargos se mostra a mais presente em concursos. Dessa forma, dê atenção
especial principalmente no que diz respeito à idade de 21 anos, pois possui um rol bem
extensivo de cargos, inclusive o de juiz de paz. Segundo entendimento do STF, para se
candidatar a juiz de paz, o indivíduo deverá apresentar todas as condições de elegibilidades
previstas no artigo 14, §3º, inclusive a filiação partidária.

Inelegibilidades

As inelegibilidades, previstas na Constituição Federal e na Lei complementar nº 64/90,


têm por finalidade proteger a moralidade para o exercício dos mandatos, bem como a
normalidade e a legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso
do exercício de função, cargo ou emprego na administração pública.
Na Constituição está previsto que são inelegíveis, para qualquer cargo, os inalistáveis e
os analfabetos:

Art. 14 (...)

§ 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

Veja que o analfabeto, apesar de poder votar facultativamente, não pode ser votado. E
que, entre os inalistáveis, temos os estrangeiros e os conscritos, durante o período do serviço
militar obrigatório. E segundo a doutrina os inalistáveis e os analfabetos se enquadram na
chamada inelegibilidade absoluta, onde não podem concorrer a nenhum cargo eletivo.
Vamos esquematizar o que estudamos sobre condições de inelegibilidade até agora:
69

Inelegibilidade para o próprio cargo

Os chefes do Poder Executivo são inelegíveis para mais de uma reeleição subsequente.

Art. 14 (...)

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os


Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser
reeleitos para um único período subsequente.

Aqui há uma hipótese de inelegibilidade relativa. Observe que a expressão “para um


único período subsequente” veda a reeleição para um terceiro mandato sucessivo. Se o
terceiro mandato vier alternado com o mandato de outra pessoa, entretanto, não há vedação.

Inelegibilidade para concorrer a outro cargo

Quem está como Chefe do Executivo dentro dos seis meses anteriores ao pleito eleitoral
fica inelegível para outros cargos.

Art. 14 (...)

§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de


Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até
seis meses antes do pleito.

Hipótese de inelegibilidade relativa, pois para concorrerem a outros cargos devem


renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.
70

Outra observação importante é que o Vice-Presidente, o Vice-Governador e o Vice-


Prefeito poderão concorrer livremente a outros cargos, preservando seus mandatos, desde
que nos seis meses anteriores ao pleito não sucedam ou substituam o titular.

Inelegibilidade Reflexa

As inelegibilidades relativas reflexas estão presentes no


artigo 14, § 7º, da Constituição Federal e impedem que sejam eleitos
parentes de ocupantes de cargos do Poder Executivo, no respectivo
território, salvo se detentores de mandato anterior, ou candidatos à
reeleição.

Art. 14 (...)

§7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes


consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de
Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja
substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo
e candidato à reeleição.

Com base nesse parágrafo, o STF editou súmula para coibir práticas que eram utilizadas
principalmente nas eleições para prefeito.

Súmula vinculante nº 18

“A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a


inelegibilidade prevista no § 7º do art. 14 da CF.”

Outras hipóteses de inelegibilidades

Art. 14 (...)

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua


cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de
mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das
eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
ou emprego na administração direta ou indireta.

As inelegibilidades relativas estão previstas na Constituição de forma exemplificativa,


podendo novas formas serem estabelecidas por meio de lei complementar, com a finalidade de
71

proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida


pregressa do candidato, dentre outros fatores, conforme o parágrafo 9º da Constituição.

Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME)

A AIME é uma ação de natureza constitucional destinada a coibir práticas abusivas por
um candidato e impugnar seu mandato. Seu fundamento encontra-se na redação do artigo 14, §
10, da Constituição Federal de 1988:

Art. 14 (...)

§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze
dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico,
corrupção ou fraude.

Conforme o previsto no § 11, A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo


de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária (sem fundamento) ou de
manifesta má-fé.

2.8.2 Perda e suspensão dos direitos políticos

Encontra-se na plenitude do gozo dos direitos políticos aquele que não incorrer em
nenhuma das hipóteses de perda ou suspensão desses direitos, elencadas na legislação em
vigor.
No art. 15, a Constituição traz as hipóteses de privação dos direitos políticos. Esta pode
dar-se de maneira definitiva (perda) ou temporária (suspensão). É importante ressaltar que a
Constituição, em resposta à ditadura que a precedeu, não permite, em nenhuma hipótese, a
cassação dos direitos políticos.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do
art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

Vale destacar que a Constituição veda a cassação (arbitrária, sem direito de defesa) dos
direitos políticos. Todavia, permite que eles sejam perdidos ou suspensos, desde que seja
observado o devido processo legal.
72

A Constituição não determina exatamente as hipóteses de perda e suspensão, ficando a


cargo da doutrina essa divisão. Vejamos:
A perda dos direitos políticos se dará na ocorrência de:
cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
perda voluntária da nacionalidade brasileira

Já a suspensão de direitos políticos ocorre nos seguintes casos:


decretação da incapacidade civil absoluta;
condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem os seus efeitos;
improbidade administrativa;
recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do
art. 5º, VIII da Constituição Federal;
outorga a brasileiros do gozo dos direitos políticos em Portugal com base no estatuto
especial de igualdade entre brasileiros e portugueses.

HORA DE PRATICAR

1. O remédio ou a ação constitucional destinada a prevenir ou a anular a prisão arbitrária, com


base em motivos que não se compatibilizam com o estrito cumprimento da lei, é o:
a) habeas data
b) habeas corpus
c) mandado de injunção
d) mandado de segurança

2. Os direitos sociais estão plasmados na Constituição Federal de 1988, conhecida como


Constituição Cidadã. Em 2015, uma emenda constitucional adicionou um direito social que
ainda não havia sido abarcado. Trata-se:
a) do transporte
b) da educação
c) do sufrágio
d) da herança

GABARITO

1. B
2. A

E aqui, meu querido aluno / minha querida aluna do Focado no Edital chegamos ao fim dessa
etapa, com o encerramento da parte de Direito Constitucional proposta para o material
conforme o seu edital. Espero que tenha gostado da abordagem realizada em nossas aulas e
não se esqueça: estude que a vida muda!!!
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