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CURSO DE ATUALIZAÇÃO DE TÉCNICA DE POLÍCIA

JUDICIÁRIA MILITAR

DIREITO CONSTITUCIONAL MILITAR

O que é CRFB/1998. Fundamentos e Princípios;


Direitos e garantias fundamentais
Militares Estaduais – direitos, obrigações e
prerrogativas
OBJETIVOS DESTA AULA

Nesta aula você irá:

Conhecer o que é CRFB/1998, seus Fundamentos e Princípios.


Identificar os Direitos e garantias fundamentais, dando ênfase
aos direitos, obrigações e prerrogativas dos Militares Estaduais.
DISCIPLINA: NOÇÕES DE DIREITO MILITAR
UNIDADE DIDÁTICA II: DIREITO CONSTITUCIONAL MILITAR
 
ASSUNTO 02.01.: O que é CRFB/1998. Fundamentos e Princípios;
ASSUNTO 02.02.: Direitos e garantias fundamentais
ASSUNTO 02.03.: Militares Estaduais – direitos, obrigações e
prerrogativas
 SUMÁRIO
UNIDADE II – DIREITO CONSTITUCIONAL MILITAR
2.1) O que é CRFB/1998. Fundamentos e Princípios
2.1.1 - O que é CRFB/1988.
2.1.2 – Princípio/Fundamentos
2.2) Direitos e garantias fundamentais
­ 2.2.1. Dos direitos e deveres fundamentais
2.2.2 Princípios importantes ligados aos direitos e deveres
2.3) Militares Estaduais – direitos, obrigações e prerrogativas
2.3.1 - Abordagem histórica
2.3.2- Os Militares Estaduais na CRFB/88
2.3.3 - A Justiça Militar na Constituição Federal
UNIDADE II – DIREITO CONSTITUCIONAL MILITAR
 
2.1) O que é CRFB/1998. Fundamentos e Princípios
 2.1.1 - O que é CRFB/1988.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é
o conjunto de leis fundamentais que organiza e rege o funcionamento
de um país. É considerada a lei máxima e obrigatória entre todos os
cidadãos de determinada nação, servindo como garantia dos seus
direitos e deveres.
A Constituição Federal Brasileira de 1988 é a atual legislação do
país, criada por uma Assembleia Constituinte e promulgada oficialmente em
5 de outubro de 1988.
Nos países democráticos, a elaboração de uma Constituição é feita
pela Assembleia Constituinte, sendo que os seus participantes são todos
escolhidos através de eleição popular.
A Constituição Federal de 1988 ficou conhecida como a
"Constituição Cidadã", pois marca a conquista da democracia entre todos os
cidadãos do país, após anos sob um regime de ditadura militar.
Por ser a maior instância legislativa do país, a Constituição Federal só pode
sofrer alterações após a aprovação das chamadas Emendas Constitucionais, que servem
para alterar ou modificar o texto e interpretação de alguns aspectos presentes na
Constituição. Para que o projeto de uma emenda constitucional (PEC) seja aprovado,
este precisa passar por um longo processo de apreciação, com votação qualificada nas
duas casas do Congresso nacional.
A atual Constituição do país é a sétima, desde a sua independência em 1822. A
partir de então, o Brasil teve: Constituição do Império (1824), Constituição da
República dos Estados Unidos do Brasil (1891), Constituição Brasileira de 1934,
Constituição Brasileira de 1937 (apelidada de "Polaca"), Constituição Brasileira de
1946, Constituição Brasileira de 1967 (proveniente a partir do Golpe Militar de 1964),
e a Constituição Federal de 1988 (a "Constituição Cidadã").
2.1.2 – Princípio/Fundamentos
  Quando falamos em princípios fundamentais nos referimos aos
elementos basilares da Constituição Federal de 1988, que por sua vez
nos guia no entendimento das principais características da República
Federativa do Brasil. Dessa forma os princípios fundamentais traçam o
perfil do nosso país, nos auxiliando a entender sua composição, forma
de Estado, forma de governo, distribuição de poderes, objetivos,
postura quanto as questões internacionais e etc.
Presentes no título I da Constituição Federal os princípios fundamentais
designam elementos importantes para compreensão do Brasil como Estado,
claro que se refere as características mais essenciais e não a totalidade delas.
Por isso analisaremos os artigos referentes ao assunto para entendermos
melhor a questão.
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de direito e tem
como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político
Parágrafo único. Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Da leitura do artigo podemos destacar seis elementos importantes:
1. O nome do nosso país é República Federativa do Brasil, o que já
nos leva a perceber sua forma de Estado e sua forma de governo.

Forma de Governo = Mostra como será a relação entre governante


e governados e também como um governante chegará ao poder. O
Brasil adota a República (coisa do povo) como forma de governo.
As características dessa forma de governo são:
 
- Eletividade: Os governantes são eleitos, escolhidos e não herdeiros do
cargo;
- Mandato: O governo é exercido por um período determinado, ou seja, não
é vitalício;
- Igualdade: Teoricamente qualquer pessoa pode concorrer a um cargo
eletivo;
- Prestação de contas: O governante tem a obrigação de prestar contas
Forma de Estado = Demonstra como se organiza o Estado, como será
exercido o poder dentro de determinado Estado, o Brasil adotou como
forma de Estado a forma Federativa, que se caracteriza pela presença de
uma constituição, mesma competência administrativa e política, os entes
tem autonomia para tomar decisões. Existe um poder central, mas não há
hierarquia entre os entes federativos; na verdade o que existe entre eles são
competências diferentes e todos estão sob o interesse da constituição. Vale
frisar que a forma de Estado trata-se de uma cláusula pétrea, logo não pode
ser alterada. Art. 60, § 4º, I.
As características dessa forma de Estado são:
- Inexistência de direito de secessão: nenhum Estado pode se retirar ou separar-se do
Estado Brasileiro.
- Repartição de competência: Cada ente desempenha as atribuições dadas pela
Constituição. Não há hierarquia entre eles.
- Presença de uma Constituição Federal: Todos se submetem a CF que rege a
federação.
- Nacionalidade única: não há diferenças entre os nascidos no território nacional, ou
seja, todos que nascem no território será indistintamente Brasileiro.(Salvo quando a
constituição estipula em contrário )
- Poder de auto-organização: Constituições Estaduais e leis orgânicas, cada Estado
pode criar normas, possuem sua própria constituição. Porem derivado e submetido ao
império da Constituição Federal.
Composição da República Federativa do Brasil
 “... formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal”.
  O artigo primeiro nos remete a uma visão territorial da República
Federativa do Brasil, pois nos traz os entes federativos existentes no território
Brasileiro a saber: Estados, Municípios e o Distrito Federal, por isso não temos a
menção da União que é uma criação jurídica e, é preciso ficar bem atento a isto. No
que se refere a organização político-administrativa, ou seja, em uma visão
funcional teremos a presença da União, na qual a Constituição Federal atribui-lhe
competências e o status de ente federativo (art. 18, CF/88). Assim a RFB é
composta pela União, Estados, Municípios e o Distrito Federal.
Regime de Governo
O Brasil adota como regime de governo o Estado democrático de direito e
isto quer dizer que se rege pela lei ou com base na lei, pressupõe, porém, que essa lei
seja legítima criada de maneira regular e legal conforme prevê o ordenamento, ou seja,
deve ser fruto da vontade do povo exercida por seus representantes ou por iniciativa
popular.
Sistema de Governo
A República Federativa do Brasil adota o sistema Presidencialista, onde a
chefia é monocrática, ou seja, o mesmo chefe exerce a função de Estado e de
Governo. O Presidente da República tanto é o representante de Governo (gestão)
como o representante de Estado (representa o país nas relações internacionais).
Fundamentos
Quando falamos em fundamentos nos referimos a base, os
pilares, ou seja, em que se apoia ou se alicerça determinado o Estado.
No nosso caso o Brasil tem como fundamentos ...
Da leitura dos incisos conhecemos os fundamentos da
República Federativa do Brasil.
I - a soberania;
  Não somos uma colônia, não dependemos de outro país,
somos soberanos. Soberania pode ser definida como um poder
político supremo e independente. Supremo, por não estar limitado por
nenhum outro na ordem interna; independente, por não ter de acatar,
na ordem internacional, regras que não sejam voluntariamente aceitas
e por estar em igualdade com os poderes supremos dos outros povos.
II - a cidadania;
  Enquanto conceito decorrente do princípio do Estado
Democrático de Direito, consiste na participação política do
indivíduo nos negócios do Estado e até mesmo em outras áreas de
interesse público. Os brasileiros possuem direitos e deveres e podem
exercer sua cidadania. Participar da vida do Estado, opinando,
exigindo, contribuindo, votando e etc.
III - a dignidade da pessoa humana;
  Trata-se de direito inerente ao indivíduo, indisponível e
significa respeitar a pessoa tratar como digna, respeitar seus direitos
como humano. Juridicamente falando o Brasil tem sim como
fundamento a dignidade da pessoa humana; assim em tese o Brasil
respeita a dignidade da pessoa humana.
 
IV- os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
  Como bem sabemos o trabalho e a livre iniciativa são
elementos importantíssimos para o desenvolvimento do país e do
povo, além disso a livre iniciativa demonstra o caráter capitalista do
Brasil que para não ser adotado de modo agressivo deve observar os
valores sociais do trabalho.

V - o pluralismo político.
  Reflete a liberdade de expressão e pensamento, o respeito a diversidade, o
respeito as diversas opiniões.
Divisão de poderes
 
Art. 2ª. São poderes da União, independentes e harmônicos entre
si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Em uma breve análise histórica sabemos que o poder já foi


exercido de diversas formas, dentre elas destaca - se o período absolutista
onde todo poder estava centralizado nas vontades do monarca o que gerava
inúmeras injustiças, pois o rei agiu conforme queria, sem freios nem
moderação. A história por si só mostrou que isso não é bom e por isso
descentralizar o poder pareceu ser a melhor solução.
No nosso país os poderes são independentes porém harmônicos entre si, e
regem-se pela norma maior que é a Constituição Federal, que resolveu
atribuir a cada poder características e ou competências específicas. Ao
mesmo tempo que a constituição garante a independência dos poderes no
sentido de atribuir funções específicas para cada um onde os outros não
podem contrariar, a Constituição também garante a harmonia entre esses
poderes no sentido de estabelecer uma relação de cooperação estre eles. Deste
raciocínio construiu-se a ideia de atividades típicas e atípicas, desempenhadas
pelos poderes, onde as atividades típicas relacionam-se com a independência
e as atividades atípicas com a harmonia.
Tipicamente cabe ao:
 LEGISLATIVO
Elaborar leis, criação de normas (Gerais, abstratas e genéricas). É a "inovação originária
na ordem jurídica" desempenhada pelo poder legislativo que exerce uma função primária, (no
sentido de inovação jurídica), pois estabelece as normas que irão ser seguidas e aplicadas pelo
Executivo e Judiciário dando-lhes uma função secundário no sentido de inovação jurídica.
Isso porque como bem assevera o art. 1º, PU. CF. Todo poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. O
parlamento que representa o povo por meio das leis, manifestando a vontade da coletividade,
o Executivo e o Judiciário por sua vez são "apenas" aplicadores da vontade do povo (Mazza,
2011, p. 56 e 57). Desta forma temos a função principal do poder Legislativo.
Função atípica do Legislativo
1. Executiva = quando administra seus bens e serviços.
2. Judiciária = quando julga autoridades por crime de
responsabilidade.
JUDICIÁRIO
Solução de conflitos, Julga / Aplica as leis, criadas pelo
parlamento, ao caso concreto (Lida com conflitos, interesses sociais. É
chamado ou provocado).
Existem várias formas de resolução de conflitos, qualquer pessoa pode
resolver um conflito e normalizar uma situação. Porém, apenas o judiciário a priori
possui a última palavra com relação aos litígios da sociedade; isso acontece por que
cabe ao Estado a resolução dos problemas entre os indivíduos, para evitar a
selvageria e desequilíbrio social. O poder judiciário tem o condão de tornar imutável
uma decisão através do devido processo legal, repete-se e frisa-se que os conflitos
podem ser resolvidos em outras esferas ou de outras formas (lícitas), mas só no
judiciário tem-se a imutabilidade da decisão. É oportuno destacar, no entanto, que o
judiciário é estático, ou seja, a atividade jurisdicional é inerte depende de
provocação, para resolução dos conflitos o judiciário deverá ser provocado pelo
interessado.
Função atípica do Judiciário
1. Executiva = quando administra seus bens, agentes e serviços.
2. Legislativa = quando elaboram o regimento interno de seus
tribunais.
 
EXECUTIVO
Administra a coisa pública, Aplica/ Obedece as leis, criadas pelo parlamento,
(finalidade de administrar ) Assim como o poder judiciário o poder executivo possui
função secundária no sentido de agir em coerência as leis preestabelecidas pelo poder
legislativo, MAS o poder executivo não é estático como o poder judiciário que
precisa de provocação e sim dinâmico aplicando a lei ao caso concreto de ofício.
Desta forma o poder executivo não precisa esperar pela solicitação do interessado
para agir isso por que o a função administrativa que é a função típica do poder
executivo é cuidar dos interesses da coletividade.
Função atípica do Executivo
1. Judiciária = quando julga os processos administrativos.
2. Legislativa = Adoção de medida provisória com força de lei. Art.
62, CF.
Objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil
Quando falamos em objetivo nos referimos a algo que desejamos atingir,
assim o artigo terceiro traz os anseios, os desejos que a República Federativa

do Brasil tem como meta.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.
Princípios que regem as relações internacionais
Nos mostra a atuação e postura do Brasil diante de questões
internacionais. Como o Brasil se porta perante os demais Estados no mundo ou
ainda quais seus interesses no âmbito internacional.
 
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios:
I - independência nacional
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não - intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
 
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino -
americana de nações.
Portanto esses são os princípios e fundamentos nos
quais devem balizar os parâmetros para a existência do
Estado brasileiro, de modo que atinja os seus objetivos
traçados quando da sua criação.
2.2) Direitos e garantias fundamentais
­
A CRFB/88 subdividiu em cinco capítulos menores o título
II, portanto existem cinco espécies do gênero de direitos e garantias
fundamentais: dos direitos e deveres individuais e coletivos; dos
direitos sociais; da nacionalidade; dos direitos políticos e dos
partidos políticos.
Destacamos dentre eles os direitos e deveres individuais e
coletivos para o nosso estudo.
2.2.1. Dos direitos e deveres fundamentais
  Consagrada no art. 5º da CRFB/88, esta premissa funciona como um
limite do poder do Estado e do exercício do direito individual e coletivo, pois
o fato de cada um de nós sermos titulares de direito não significa abuso de
direito. Cabe ressaltar: o estabelecimento das Constituições escritas tem a
finalidade do estabelecimento de limites do poder político, sob pena de
desrespeito a um verdadeiro Estado de Direito.
Os direitos e garantias consagrados não são ilimitados; quando houver
conflito entre dois ou mais direitos ou garantias, o intérprete deve usar a
ponderação dos princípios, a fim de coordenar os bens jurídicos em conflito.
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”: Art. 5º da
CRFB/88

  Neste artigo da CRFB/88, ressalta-se que a vida é o mais


fundamental de todos os direitos, constitui-se em pré-requisito à
existência e ao exercício de todos os demais direitos e possui dupla
acepção: a primeira, quanto ao direito do indivíduo de continuar
vivo; a segunda, quanto a se ter vida digna no tocante à subsistência.
Os destinatários de tal proteção são: pessoas naturais,
brasileiros (natos e naturalizados) ou estrangeiros no território
nacional, bem como as pessoas jurídicas, pois estas têm direito à
existência, à segurança, à proteção tributária e aos remédios
constitucionais.
2.2.2 Princípios importantes ligados aos direitos e deveres
 
Princípio da igualdade (art. 5º, caput e inciso I)
 
A CRFB/88 adotou o princípio da igualdade de direitos, ou seja,
todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei. O que se
veda são as diferenciações arbitrárias, pois o tratamento desigual dos
casos desiguais – na medida em que se desigualam - é exigência do
próprio conceito de justiça.
De acordo com a Súmula 683 do STF: “O limite de idade para inscrição em
concurso público só se legitima em face do art.7, XXX, da CRFB/88, quando
possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”.
 
Exemplo 1: Limitação de idade no serviço público
 
De acordo com a Súmula 683 do STF: “O limite de idade para inscrição em
concurso público só se legitima em face do art.7, XXX, da CRFB/88, quando
possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido”.
Exemplo 2: Tratamento isonômico entre homens e mulheres- art. 5º, I
Além de tratamentos diferenciados entre homens e mulheres previstos na
própria Constituição (art. 7º, XVIII e XIX; art. 40, parágrafo 1º, inciso III,
letras “a” e “b”), poderá a legislação infraconstitucional atenuar os desníveis
de tratamento em relação ao sexo.
Obs.: critérios para a admissão em concurso público – os art. 5º, I e parágrafo
3º do art. 39 permitem-se exceções, tendo em vista a ordem sócio-
constitucional.
Ex: concurso para agente penitenciário, a fim de trabalhar em presídios
femininos.
Princípio da legalidade (art. 5º, inciso II)
 
  Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado, pois
ele mais se aproxima de uma garantia constitucional do que de um
direito individual, já que o princípio da legalidade é a submissão e o
respeito à lei, de abrangência mais ampla do que a do princípio da
reserva legal, pois este incide nos campos materiais especificados pela
Constituição. Assim sendo, todos os comportamentos humanos estão
sujeitos ao princípio da legalidade.
Isto significa, por fim, que somente alguns comportamentos humanos estão
submetidos ao princípio da reserva legal, cujo tratamento de matéria é exclusivo do
Legislativo, sem a participação do ExecIsto significa, por fim, que somente alguns
comportamentos humanos estão submetidos ao princípio da reserva legal, cujo
tratamento de matéria é exclusivo do Legislativo, sem a participação do Executivo; tal
consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas matérias há de se fazer por
lei formal.
Ocorre que o princípio da legalidade deve ser lido de forma diferente para o
ambiente particular e para a administração. Vejamos:
utivo; tal consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas matérias há de se
fazer por lei formal.
Ocorre que o princípio da legalidade deve ser lido de forma diferente
para o ambiente particular e para a administração. Vejamos:
 
·Particular: no âmbito de suas relações, pode-se fazer tudo que a lei não
proíba, prevalecendo à autonomia da vontade;
 
·Administração: só poderá o administrador fazer o que a lei permite.
Princípio da inviolabilidade domiciliar (art. 5º, inciso XI):
 

  No sentido constitucional, o termo domicílio tem uma grande


amplitude, não significando somente residência, habitação ou ainda
intenção definitiva de estabelecimento; considera-se, na verdade, todo
local, delimitado e separado, que alguém ocupa com exclusividade, a
qualquer título, inclusive profissionalmente - como é o caso típico dos
escritórios profissionais.
.

O conceito de casa está consagrado nos art. 150 do Código Penal (CP) e
246 do Código de Processo Penal (CPP), através de interpretação; porém, não
se pode limitar a interpretação de casa por meio destes diplomas legais, devido
às garantias individuais previstas na CRFB.
O Supremo Tribunal Federal vai mais além, pois entende que, mesmo a
casa sendo asilo inviolável do indivíduo, ela não pode ser transformada em
garantia de impunidade de crimes praticados em seu interior. Supremo Tribunal
Federal vai mais além, pois entende que, mesmo a casa sendo asilo inviolável
do indivíduo, ela não pode ser transformada em garantia de impunidade de
crimes praticados em seu interior.
A CRFB/88 estabelece exceções à violação de domicílio sem
consentimento do morador:

- DURANTE O DIA: flagrante delito; desastre ou prestação de


socorro; ou ainda por determinação judicial - somente durante o dia a
proteção constitucional deixará de existir por determinação judicial.
- À NOITE: flagrante delito; desastre ou prestação de socorro.
Apesar disso, o conceito de dia também é muito discutido, pois não há
previsão para ele na Constituição Federal; para compreendê-lo, precisamos da
interpretação de juristas, os quais se dividem em duas correntes:
- Primeira corrente: dia é o período compreendido entre 6h e 18h;
- Segunda corrente: dia é o período de tempo que medeia entre o nascer e o pôr-do-
sol. Cabe ressaltar: o limite temporal é imposto somente para o início da busca;
depois de iniciada, ele pode se estender pelo tempo necessário.
Portanto, é necessário bom senso, pois não há lei que estabeleça critérios ou
horários fixos, embora deva ser destacado o posicionamento do ministro do Supremo
Tribunal Federal, José Celso de Mello Filho; para ele, a expressão dia deve ser
compreendida entre a aurora e o crepúsculo.
Sigilo de correspondência e de comunicação (art. 5º, inciso XIII)
 
Apesar de a exceção constitucional ser expressa somente para a
interceptação telefônica, entende-se que nenhuma liberdade individual é
absoluta, sendo possível, respeitados certos parâmetros, a interceptação
de correspondências, comunicações telegráficas e de dados, quando a
liberdade pública estiver sendo utilizada como instrumento de
salvaguarda de práticas ilícitas.
Possibilidade de interceptação telefônica
 
A interceptação telefônica é a captação e gravação de conversa telefônica, no
mesmo momento em que ela se realiza, por terceira pessoa, sem o conhecimento de
qualquer dos interlocutores, portanto ninguém tem a ciência da invasão de privacidade
- desta forma, difere da escuta telefônica, aquela feita por uma terceira pessoa, na qual
um dos interlocutores tem ciência de que a escuta será realizada.
Já a gravação clandestina ocorre quando um dos interlocutores está gravando a
conversa sem que o (s) outro(s) saiba(m); esta conduta afronta o art.5º, inciso X,
diferentemente do ocorrido com as interceptações telefônicas, as quais afrontam o
inciso XII.
Porém, para que a interceptação telefônica seja legal, há uma exceção e
devem estar presentes três requisitos:
 
1) Ordem judicial;
 
2) Existir para fins de investigação criminal (fase de inquérito) ou
instrução processual penal (fase de processo);
 
3) Existir nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer (lei n.º
9.296 de 24/07/1996).
Diferença entre intimidade e vida privada (art. 5º, inciso X)
 
  A proteção constitucional consagrada no inciso X do art. 5º
refere-se tanto à pessoa física como à jurídica, abrangendo inclusive a
proteção à própria imagem frente aos meios de comunicação em massa
(televisão, rádio, jornais, revistas etc).
A intimidade relaciona-se às relações subjetivas de trato íntimo
da pessoa, seus familiares e seus contatos de amizade, enquanto a vida
privada envolve todos os demais relacionamentos humanos, inclusive
com objetos, tais como relações comerciais, de trabalho e de estudo.
Encontra-se em contradição com o fundamento constitucional de
dignidade da pessoa humana (CRFB/88, art.1º, inciso III), com o direito
à honra, à intimidade, à vida privada (CRFB/88, art. 5º, inciso X)
converter em instrumento de diversão ou entretenimento assuntos de
natureza tão íntima quanto falecimentos, padecimentos ou quaisquer
desgraças alheias, as quais não demonstrem nenhuma finalidade pública
de caráter jornalístico em sua divulgação.
Tratamento constitucional da tortura (art.5º, inciso III)
 
O repúdio à tortura é resultado do processo histórico brasileiro,
mas a previsão constitucional que reprova o recurso à tortura também
responde a clamor mundial para incorporação da repulsa a
determinados sistemas internos de punição de cada país.
A presente norma constitucional é de eficácia limitada, pois
necessita da atuação do legislador infraconstitucional para que seu
efeito se produza.
Observe-se que a Assembleia das Nações Unidas, em 1984, delimitou o
significado de tortura, aprovando a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos
ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que foi adotada pelo Brasil em 1991
(Decreto 40, de 15.02.1991). A Constituição brasileira a ela fez referência (art. 5.º, inc.
XLIII), equiparando sua prática aos crimes hediondos. Não tínhamos, no entanto,
nenhuma descrição típica, em nível infraconstitucional, dessa conduta criminosa, até o
advento da Lei 9.455/97, de 7 de abril de 1997, que consagra o conceito de tortura no
art. 1º, incisos I e II, embora ela já estivesse contemplada no art. 233 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), ainda que de forma totalmente aberta. A chamada lei
da tortura trouxe muitas novidades para nosso ordenamento jurídico (definição de
crimes, regulação de aspectos processuais etc).
Direito ao silêncio (art. 5º, inciso LXIII) e devido processo legal (art. 5º,
inciso LIV)
 
  Como não existe no Brasil o crime de perjúrio (constatação de que o
réu mentiu), o acusado encontra-se protegido contra a autoincriminação. Este
direito individual se dirige à pessoa indiciada em inquérito, acusada ou mesmo
testemunha em processo judicial, contudo diferente de como sucede nos EUA –
aliás, caso não se informe ao réu acerca do seu direito de permanecer calado,
impõe-se a nulidade do processo. E, mesmo em se tratando de inquérito policial
no qual a autoridade não tenha informado ao indiciado acerca do silêncio,
considera o STF ilícita a prova assim obtida (STF0HC 80949-RJ- 1º T. – Rel.
Min. Sepúlveda Pertence).
Direito de reunião (art. 5º, inciso XVI) e liberdade de manifestação
de pensamento (art. 5º, incisos IV e V)
 
Esses direitos estão intimamente ligados um ao outro, pois o
direito de reunião se torna o direito-meio para que possamos viabilizar a
manifestação de nosso pensamento.
Para melhor esclarecer os direitos ora estudados, citaremos um fato
recente que foi alçado à decisão do Supremo Tribunal Federal: a
chamada “Marcha da maconha”.
No julgamento da Arguição de descumprimento de preceito
fundamental (ADPF) de n.º 187, o STF entendeu “que a mera proposta
de descriminalização de determinado ilícito penal não se confundiria
com ato de incitação à prática do crime, nem com o de apologia de fato
criminoso”. Estaria, isto sim, ocorrendo o legítimo exercício do direito
à livre manifestação do pensamento, propiciada pelo exercício do
direito de reunião (informativo 631/STF). Ainda assim, a suprema
corte entendeu que, para tal tipo de ocorrência, deverão ser respeitados
alguns requisitos:
·A reunião deve ser pacífica e sem armas, tendo que ser previamente
comunicada às autoridades competentes;

· Não poderá haver a incitação, incentivo ou estímulo ao consumo de


drogas, tampouco seu consumo efetivo;

· Não será permitida a participação de crianças e adolescentes.


Sendo assim, você, como policial militar, que porventura seja designado
para o policiamento de uma manifestação de tal natureza, deverá atuar de
maneira desprovida de qualquer preconceito, pois o guardião da
Constituição já se posicionou e disse ser possível a realização deste tipo
de manifestação.
Direito de liberdade de locomoção (art. 5º, inciso XV e LXI)
  Importante direito fundamental garantido por nossa Constituição,
pois, em não se tratando de transgressão disciplinar ou crime propriamente
militar, ninguém será preso senão em flagrante delito ou através de ordem de
autoridade judiciária competente.
Sendo assim, caro aluno, você, na qualidade de policial militar, deverá ter
plena consciência de que qualquer condução coercitiva feita fora dos
parâmetros acima definidos poderá acarretar responsabilização
administrativa, penal e, quiçá, cível.
Desta forma, espera-se que sua atuação profissional seja
estritamente dentro dos ditames legais.
Direitos assegurados aos presos (art. 5º, incisos XLIX, L, LXII, LXIII,
LXIV)
  Aos presos são garantidos, dentre outros, os seguintes direitos:
 ·Respeito à integridade física e moral, cabendo responsabilização àqueles
que não atentarem para tal premissa constitucional;
·Comunicação imediata da prisão do indivíduo e do local onde este se
encontra ao juiz competente, à sua família ou a pessoa por ele indicada;
· Informação ao preso de seus direitos, inclusive o de permanecer
calado, o de ser assistido por sua família e por advogado;
· Identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório.
2.3) Militares Estaduais – direitos, obrigações e prerrogativas
  2.3.1 Abordagem histórica
  Os integrantes das Corporações Militares Estaduais constituem uma
categoria especial de agentes públicos, tendo a Constituição Federal dado a
estes agentes tratamento distinto daquele atribuído aos servidores públicos
em geral.
Como bem asseverou Assis (2009, p. 219), a Constituição de 1934,
em seu art. 108, parágrafo único, já previa que não poderiam alistar-se como
eleitores: “b) as praças-de-pré, salvo os sargentos, do Exército e da Armada
e das forças auxiliares do Exército, bem como os alunos das escolas
militares de ensino superior e os aspirantes a oficial”.
As corporações militares dos estados foram criadas aos moldes
da Forças Armadas, possuindo como bases institucionais a hierarquia e a
disciplina. A forma como aquelas foram aplicadas, uma extensão destas
no período da ditadura militar, evidencia bem esse aspecto. A doutrina da
segurança nacional fez parte do universo das polícias durante o período,
que assumiram a função de órgãos de proteção do Estado, sendo a ponta
da linha do aparelho de repressão. A esta função as bases militares
serviram bem, já que a obediência irrestrita às ordens emanadas das
autoridades serviu de resguardo para tais ações. Não por acaso a PMERJ
foi comandada por militares nesse período.
 
2.3.2 - Os Militares Estaduais na CRFB/88

Com a promulgação da CRFB/88, houve uma


distinção entre militares federais (que compõe as Forças
Armadas) e os integrantes das corporações militares estaduais,
então denominados servidores públicos militares.
Contudo, a Emendas Constitucionais nº 18, 19 e 20, todas de
1998, implementaram mudanças no regime jurídico dos
militares estaduais, alterando a redação do art. 42, bem como a
redação do título da seção III, do Capítulo VII. Com a redação
da EC nº 20/1998, os integrantes das corporações e do Exército
tiveram suas prerrogativas e vedações constitucionais mantidas,
uma vez que vários dispositivos alusivos às Forças Armadas
também são aplicados às PMs e BMs:
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de
Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na
hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998)
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as
disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e
3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art.
142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos
respectivos governadores. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 15/12/98)
Por força da Constituição da República, os integrantes das
Polícias Militares Estaduais e do Distrito Federal são militares.
Cada Estado da Federação, bem como o Distrito Federal, possui
uma polícia militar com estatutos e regimentos próprios.
A peculiaridade do serviço militar encontra-se evidenciada
na própria Constituição Federal, que inseriu os militares em uma
categoria própria de servidores, possuindo privilégios e encargos
diferentes daqueles que alcançam os servidores públicos civis.
Essa diferenciação entre servidores civis e militares se dá porque
cabe às instituições militares a garantia da soberania, que é o primeiro
princípio da nossa Constituição, razão pela qual elas devem ser
regulares, permanentes e submetidas a um regime especial. Sendo
assim, embora presentes em toda a Administração Pública, nas
instituições militares a hierarquia e a disciplina constituem a sua base
organizacional. Não por acaso só são mencionadas em dois momentos
na Constituição, quando esta trata das Forças Armadas e das Polícias
Militares.
A organização de uma Força Armada pressupõe laços especiais
de hierarquia e subordinação entre todos os seus membros. Por sua
vez, a subordinação militar envolve a necessidade de uma disciplina
especial, nitidamente diferenciada da que se exige na vida civil. O
emprego eficaz da força combativa só é possível se todas as
vontades individuais, que integram o seu efetivo, se unificarem
rigidamente sob a vontade suprema de quem comanda.
O maior exemplo de como o tratamento dado aos militares é
diferenciado está na liberdade, um bem jurídico de extrema
relevância balizado pelo art. 5º da CF. O art. 5º, inciso LXI dispõe:
“ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita
e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos
casos de transgressão militar ou crime propriamente militar,
definidos em lei”.
A liberdade é citada já no preâmbulo de nossa Constituição como um
das destinações da existência do Estado, sendo a privação da liberdade uma
exceção só cabível no caso de flagrante delito ou ordem por escrito de
autoridade judiciária. Contudo o militar foi excluído dessa regra, podendo
ter sua liberdade cerceada por simples transgressão disciplinar, o que
demonstra serem a hierarquia e a disciplina mais importantes para o
militar do que a liberdade. Ou seja, são a base das organizações militares,
sobrepondo-se aos demais princípios, a ponto de justificar a restrição da
liberdade de um militar em nome da preservação dos pilares institucionais.
Conforme Mayrink (1978), “na esfera militar, é a disciplina e não a
liberdade a nota suprema predominante e necessária”.
Ademais, as restrições impostas aos militares vão além de uma
mitigação ao princípio da liberdade, já que o militar possui também a sua
cidadania restringida, como no caso dos menores de 18 anos conscritos no
serviço militar obrigatório. Os jovens entre 16 e 18 anos têm o seu direito
ao voto garantido pela Constituição, mas os jovens dessa mesma faixa
etária que estejam prestando serviço militar obrigatório não têm direito ao
voto. Isto é algo quase inimaginável em um Estado sob a égide de um
regime democrático, mas se atentarmos para a evolução do nosso sistema
constitucional, observaremos que os cabos e soldados só passaram ater o
direito à cidadania plena com a Constituição de 1988.
Ocorre que as sucessivas emendas constitucionais e decisões jurisprudenciais
foram suprimindo as garantias dessa classe, pensões vitalícias e gratificações por
ano de serviço prestado foram canceladas sob o argumento de que se tratava de
gasto público injustificado, remanescente de uma época de privilégios em que o
Estado era controlado pelos militares. Tais discursos atendiam na verdade a um
requisito imposto pela agenda neoliberal implementada no país no início da
abertura política, que atingiu na verdade todo o serviço público, já que uma
massiva propaganda tratou de desconstituí-lo de qualquer valor, deixando o terreno
preparado para a privatização dos órgãos estatais e enxugamento da estrutura
pública.
A maioria das prerrogativas dos policiais militares encontra-se
na legislação infraconstitucional, principalmente no Estatuto da
PMERJ, instituído pela Lei 443/81
OBRIGAÇÕES: Art. 26 ao Art. 29 
DIREITOS: Art.48 ao Art. 50;
PRERROGATIVAS: do Art. 71 ao Art. 73.
O art. 142 da Constituição Federal faz menção à perda do posto e
da patente dos oficiais das Forças Armadas, sem mencionar as praças,
estendendo ainda esta competência ao tribunal militar, de caráter
permanente, como se vê:
Art. 142. (...)
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das
que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 18, de 1998)
VI – o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele
incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de
tribunal especial, em tempo de guerra; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
VII – o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena privativa de liberdade superior a
dois anos, por sentença transitada em julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso
anterior; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998 – grifo nosso)
O dispositivo supramencionado refere-se aos oficiais das Forças
Armadas, todavia os oficiais das Forças Auxiliares receberam o mesmo
tratamento, por força do art. 42, § 1º, da Constituição Federal, com redação
dada pela EC nº 20/98:
Art. 42 Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,
instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 18, de 1998).
§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios,
além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, §
9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as
matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos
respectivos governadores. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de
15.12.98).
Como leciona Assis (2009, p. 206), o posto e da patente dos oficiais
sempre foram disciplinados de forma especial nas constituições brasileiras,
sendo uma tradição do direito brasileiro a previsão de proteção especial às
prerrogativas dos oficiais, condicionando a perda do posto e da patente à
sentença proferida por tribunal competente, conforme já previa a Constituição
do Império que “os oficiais do Exército e Armada não podem ser privados de
suas patentes, senão por sentença proferida em juízo competente”. Como bem
observa o ilustre doutrinador, essa garantia esteve presente nas Cartas de
1891, 1934, 1946, 1967, 1969, aparecendo inicialmente, na Constituição
vigente, em seu art. 42, tanto em relação aos oficiais das Forças Armadas
como dos militares estaduais.
Outra prerrogativa do militar é a estabilidade prevista no artigo
42, § 9º, da Constituição da República, embora dependente de lei que
sobre ela disponha.
Com as mudanças implementadas pela EC nº 18/98, a redação
do art. 42, foi completamente modificada, passando a tratar somente
dos militares estaduais, mantendo as prerrogativas já existentes.
Todavia, a grande inovação trazida na Constituição de 1988, no
que diz respeito às garantias atribuídas aos militares ficou por conta
do art. 125, §4º. O citado dispositivo, ao definir a competência da
justiça militar estadual, condicionou a perda do posto e da patente
dos oficiais, bem como da graduação das praças ao julgamento pelo
tribunal competente.
Em avaliação apropriada, bem salientou Assis (2009, p.206), “a
inserção da expressão ‘da graduação das praças’, não levada em conta logo
após a edição da Constituição, veio posteriormente trazer seus reflexos,
causando muita discussão e polêmica, em razão dos recursos chegados ao
Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.” De fato, com o
citado dispositivo constitucional, as praças das corporações militares
estaduais passaram a gozar de uma prerrogativa que até então não
possuíam.
As questões suscitadas acerca da perda da graduação das praças
com a edição da EC 45/04 apreciadas posteriormente.
As modificações formuladas na Constituição Federal, em especial pelas Emendas
Constitucionais n°s 18, 19 e 20, todas de 1998, definiram claramente o “status” militar
dos policiais militares e bombeiros militares, restando inequívoca essa especial
condição diante dos demais agentes públicos.
Do seu lado, a Emenda Constitucional n° 19, de 1998, ao tratar da Reforma
Administrativa do Estado, estabeleceu dispositivos que, no que concerne aos
princípios da Administração Pública, têm aplicação concreta às instituições militares
estaduais, bem como, aos seus integrantes. No entanto, alguns dispositivos guardam
uma potencial modificação de direitos para os militares estaduais, especialmente no
que diz respeito aos vencimentos e, consequentemente, aos proventos e pensões.
A Emenda Constitucional n° 20/98 estabeleceu nova redação aos
dispositivos dos arts. 42 e 142 da Constituição Federal, artigos que
cuidam respectivamente dos militares estaduais e dos federais. No
entanto, essas alterações tiveram o condão de modificar apenas
referências aos dispositivos do art. 40 aplicáveis aos militares.
Desse modo, para os militares estaduais, aplicavam-se as
disposições dos §§ 7°, 8° e 9° do art. 40, e, aos militares federais as
disposições dos §§ 7° e 8°. Com a Emenda Constitucional nº 41, de
2003, para os militares estaduais passou-se a aplicar somente o § 9º
do art. 40 e, aos militares federais mais nenhum parágrafo desse
artigo.
Verifica-se que o regramento geral do art. 37, XVI da
Constituição Federal, que permite, excepcionalmente, a acumulação
remunerada de cargos, empregos e funções públicas, não se aplica
aos militares estaduais, conforme dispõe o art. 142 da CRFB/88,
devendo-se observar a vedação constante no art. 37, §10 da Lei
Maior:
§ 10. É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrentes
do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função
pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos
eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
Para os militares foi estabelecido um sistema especial, no qual a
investidura em qualquer cargo, emprego ou função pública civil
resultará na imediata transferência para a reserva ou na agregação
ao respectivo quadro:
 
II - o militar emreserva, nos termos da lei; (Incluído pela Emenda Constitucional atividade
que tomar posse em cargo ou emprego público civil permanente será transferido para a nº
18, de 1998)
Desse modo, se o militar em atividade tomar posse em cargo ou
emprego público civil permanente, será transferido para a reserva. Por
outro lado, sendo o cargo, emprego ou função pública civil de natureza
temporária, não eletiva, ainda que da Administração indireta, o militar
ficará agregado ao respectivo quadro, sendo, depois de dois anos de
afastamento, contínuos ou não, transferido para a reserva (Art. 142, II da
CRFB/88).
Desta forma, a regra constitucional vigente para os militares é a da
inacumulabilidade de cargos, empregos ou funções públicas.
Excepcionalmente, havia a previsão de que seria possível a acumulação
remunerada por profissional da área de saúde de dois cargos ou empregos
privativos de médico na Administração Pública direta ou indireta, desde que
já estivessem sendo exercidos na data da promulgação da Constituição
Federal de 1988, nos termos do art. 17, § 1º, do ADCT.
Todavia, por meio da Emenda Constitucional nº 77, de 2014, passou
a permitir a acumulação de cargo público referente a profissionais da área
de saúde.
Aos militares dos Estados, por força do art. 142 da CRFB/88
também são vedadas a sindicalização, a greve e a filiação a partidos
políticos.
Art. 142. (...)
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a
partidos políticos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de
1998)
Como já mencionamos, antes da promulgação da Constituição cidadã os
cabos e soldados sequer tinham direito ao voto. Mesmo trazendo esta
possibilidade para o texto constitucional, optou o legislador constituinte por
manter o militar afastado dos movimentos político-partidários, em razão da
peculiaridade que envolve esta categoria de agentes públicos.
O direito de greve e a liberdade sindical foram tratados na Convenção 87 da
OIT, que não proibiu o direito de greve dos militares, deixando a critério de
cada país a sua regulamentação. Todavia, com base no direito comparado,
observa-se que, em regra, a greve é proibida aos militares, mesmo nos países
em que se permite a greve de servidores públicos.
2.3.3 - A Justiça Militar na Constituição Federal
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar:
I - o Superior Tribunal Militar;
II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios,
nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo
Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre
oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da
ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis.
Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República
dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:
I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de
dez anos de efetiva atividade profissional;
II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério
Público da Justiça Militar.

Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos
em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a
competência da Justiça Militar.
SEÇÃO VIII
DOS TRIBUNAIS E JUÍZES DOS ESTADOS
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os
princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do
Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal
de Justiça.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou
municipais em face da Constituição Estadual, vedada a atribuição da
legitimação para agir a um único órgão.
§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a
Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e
pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de
Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar
seja superior a vinte mil integrantes. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos
Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for
civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da
patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,
singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais
contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a
presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.
REFERENCIAS

Cf. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua


portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 926.
Cf. RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 1998. v. 1, p. 3:
“não se pode conceber a vida social sem se pressupor a existência de um certo número de
normas reguladoras das relações entre os homens, por estes mesmo julgadas obrigatórias”.
Cf. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 2: “o
Direito corresponde à exigência essencial e indeclinável de uma convivência ordenada, pois
nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade”.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 69: “Pela palavra coercibilidade entendemos a possibilidade
lógica da interferência da força no cumprimento de uma regra de direito”.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 71: “O Direito [...] é de tal natureza que implica uma
organização do poder, a fim de que sejam cumpridos os seus preceitos. Como as normas
jurídicas visam a preservar o que há de essencial na convivência humana, elas não podem ficar
à mercê da simples boa vontade, da adesão espontânea dos obrigados. É necessário prever-se a
possibilidade do seu cumprimento obrigatório. Quando a força se organiza em defesa do
cumprimento do Direito mesmo é que nós temos a segunda acepção da palavra coação”.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 72-74: “As formas de garantia do cumprimento das regras
denominam-se ‘sanções’. Sanção é, pois, todo e qualquer processo de garantia daquilo que se
determina em uma regra. [...] O que caracteriza a sanção jurídica é a sua predeterminação e
organização”.
Cf. RODRIGUES, Silvio. Op. cit., p. 4: “À medida que as sociedades evoluem e se
organizam politicamente, a sanção, em vez de se manifestar pela própria reação do ofendido,
parte da autoridade constituída. Esta atribui à norma força coercitiva, impondo, por
conseguinte, sua observância”.
Cf. DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 19. ed. São Paulo:
Saraiva, 2008. p. 378: “Exemplificativamente: a multa contratual é sanção, e a cobrança
judicial dessa multa é coação”.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 48-49.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 76-77.
REALE, Miguel. Op. cit., p. 49
Cf. MARTINS, Sergio Pinto. O pluralismo do direito do trabalho. São Paulo: Atlas, 2001. p.
62: “Fontes heterônomas são as que vêm de fora da vontade das partes e são emanadas do
Estado. Exemplos: as Constituições, as leis, os decretos, as sentenças normativas. Fontes
autônomas são oriundas das próprias partes, como o contrato de trabalho, o regulamento de
empresa, a convenção e o acordo coletivo”.
REALE, Miguel. Op. cit., p. 51.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 51-52.
DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p. 382.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 65: “a) onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre
e necessariamente, um fato subjacente (fato econômico, geográfico, demográfico, de ordem
técnica etc.); um valor, que confere determinada significação a esse fato, inclinando ou
determinando a ação dos homens no sentido de atingir ou preservar certa finalidade ou
objetivo; e, finalmente, uma regra ou norma, que representa a relação ou medida que integra
um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor; b) tais elementos ou fatores (fato, valor e
norma) não existem separados um dos outros, mas coexistem numa unidade concreta; c) mais
ainda, esses elementos ou fatores não só se exigem reciprocamente, mas atuam como elos de
um processo (... o Direito é uma realidade histórico-cultural), de tal modo que a vida do
Direito resulta da interação dinâmica e dialética dos três elementos que a interagem”.
Cf. DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p. 246.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 77: “na realidade, existe Direito também em outros grupos,
em outras instituições, que não o Estado. [...] Parece-nos, pois, procedente a teoria da
pluralidade das ordens jurídicas positivas”.
Cf. DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p. 220.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 18: “É claro, portanto, que a Ciência Jurídica se eleve ao plano
de uma Teoria Geral do Direito, que [...] representa a parte geral comum a todas as formas de
conhecimento positivo do Direito, aquela na qual se fixam os princípios ou diretrizes capazes
de elucidar-nos sobre a estrutura das regras jurídicas e sua concatenação lógica, bem como
sobre os motivos que governam os distintos campos da experiência jurídica”.
Cf. REALE, Miguel. Op. cit., p. 329.
Cf. GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao estudo do direito. 45. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2012. p. 17, destaques do original.
 ASSIS. Jorge Cesar. Curso de Direito Disciplinar Militar. 2ª ed. Revisada e Atualizada -
Curitida: Juruá: 2011.
 DIREITO CONSTITUCIONAL - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS, disponível em
http://resumojuridicoaqui.blogspot.com.br/2015/12/direito-constitucional-principios.html.
Acesso em 01/10/2017.
 DUARTE, Antônio Pereira. Visão científica da ordem jurídica militar. In: Âmbito Jurídico,
Rio Grande, XI, n. 60, dez 2008. Disponível em: <
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4
588
>. Acesso em set 2017.
GRACIA, Gustavo Filipe Barbosa Introdução ao estudo do direito : teoria geral do direito /
Gustavo Filipe Barbosa Garcia. – 3. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense: São Paulo:
MÉTODO, 2015.
 
MARTINS, Eliezer Pereira. Direito Constitucional Militar. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-
4862, Teresina, ano 8, n. 63, 1 mar. 2003. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/3854>.
Acesso em: 1 out. 2017.

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