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A Igreja
e as Comunidades
Quilombolas
96 - Deixai-vos Reconciliar
97 - Iniciação à Vida Cristã: Um Processo de Inspiração
Catecumenal
98 - Questões de Bioética
99 - Igreja e Questão Agrária no início do Século XXI
100 - Missionários(as) para a amazônia
101 - A Comunicação na vida e missão da Igreja no Brasil
102 - O segmento de Jesus Cristo e a Ação Evangelizadora no
Âmbito Universitário
103 - Pastoral Juvenil no Brasil - Identidade e Horizontes
104 - Comunidade de Comunidades: Uma nova Paróquia
105 - A Igreja e as Comunidades Quilombolas
106 - Orientações para projeto e construção de Igrejas e
disposição do Espaço Ceiebrativo
107a - Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade
108 - Missão e Cooperação Missionária
109- O solo urbano e a urgência da paz
110 - Pastoral da Educação: Estudo para diretrizes nacionais
111 - Orientações Pastorais para as Mídias Católicas-Imprensa,
rádio, TV e novas mídias
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
CNBB
A IGREJA
E AS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS
A Igreja e as Comunidades Quilombolas
2a Edição-2018
C748i Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / A Igreja e as Comunidades Quilombolas. Brasília:
Edições CNBB, 2013.
104p.: 14x21 cm
ISBN: 978-85-7972-260-8
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SUMARIO
Apresentação.................................................................................. 7
Lista de Siglas................................................................................ 9
Introdução ao texto.................................................................... 11
Introdução Geral........................................................................ 13
PARTE 1-VER.......................................................................... 15
1.1. Introdução ....................................................................................... 15
1.2. Como chegaram e como ficaram: Processo histórico de
resistência negra.....................................................
1.3. Escravidão: realidade universal?............................................... 19
1.4. Usos e sentidos do termo quilombo:
o debate acadêmico....................................................................... 21
1.5. Como os negros católicos organizaram-se
nestes 500 anos? ............................................................................. 24
1.6. Situação das comunidades quilombolas no Brasil............... 26
1.7. Quilombo de fato e quilombo de direito: direitos
assegurados e usurpados.............................................................. 33
1.8. As garantias legais à posse da terra aos remanescentes das
comunidades de quilombo.......................................................... 35
1.9. O direito coletivo à terra ............................................................. 37
PARTE 2 - JULGAR.............. 41
2.1. Introdução....................... ..41
2.2. A resistência das comunidades quilombolas
ao avanço avassalador do capital.......... ............ ..42
2.3. Direito à identidade e à diversidade
sem discriminação........... ......................... 45
2.4. As riquezas que as comunidades quilombolas
nos oferecem ............................. 58
2.5. Um apelo à conversão...................... 64
2.6. Quilombolas nos Documentos da Igreja............ ........... 70
2.6.1. Documentos do Magistério da Igreja................ 70
2.6.2. Documentos da Igreja latino-americana............. ........ ....72
2.6.3. Documentos da Igreja no Brasil................. 76
2.6.4. Concluindo: Esperança........... ....................... 77
REFERÊNCIAS...........................................................................97
APRESENTAÇÃO
"Voltemos para visitar os irmãos em cada cidade onde anunciamos
a palavra do Senhor, para ver como estão" (At 15,36).
7
suscitar contribuições de estudiosos, dos quilombolas, das Igrejas
Particulares para o aprimoramento do estudo.
8
LISTA DE SIGLAS
VER
1.1. Introdução
2 Por exemplo: Malês (BA) em 1835; Balaiada (MA) em 1838-1841 e Queimado (ES) em 1849 etc.
3 Essas organizações sociais receberam nomes diferentes: na América espanhola: Palenques, Cumbes; na
inglesa, Maroons; na francesa, grand Marronage e petit Marronage; no Brasil, Quilombos e Mocambos
e seus membros: Quilombolas, Calhambolas ou Mocambeiros (REIS; GOMES, 1996, p. 47).
4 Idem.
17
segurança ou por omissão do Estado, passaram por um longo
período de esquecimento e invisibilidade, mantendo-se vivos
por força de sua organização social, política, cultural e religiosa.
Alguns deles no decorrer dos anos se constituíram em distritos,
povoados e em municípios, com ampliação e diversificação de
suas populações originais de maioria negra.
18
11. Percebe-se que, apesar do sentido comum de que as
leis acima teriam garantido a liberdade dos escravos, ou foram
ineficazes, ou a liberdade era condicionada à indenização a ser
paga pelo Estado aos "donos de escravos" ou à prestação de
serviço durante determinado período. A Lei Áurea, tão feste-
jada pelos antigos escravos e pelos abolicionistas, não adotou
qualquer medida compensatória em favor dos escravos, nem
regulou os efeitos maléficos de quatro séculos do perverso
regime escravagista. Não os livrou, porém, do preconceito de
serem considerados seres inferiores. A falta de adoção de qual-
quer política afirmativa que os integrasse à sociedade nacional,
a necessidade de disputar o mercado de trabalho em condições
totalmente desiguais com os brancos, relegou a grande maioria
dos negros à margem da sociedade.
5 ARRUTI, José Maurício. Diferenciar, redistribuir, reconhecer: ensaio de atualização dos debates sobre
terra e educação para quilombos. Revista Cadernos de Campo, São Paulo, 2011.
dinâmica da luta de classes excluíra qualquer consideração sobre
as diferenças socioculturais internas ao campesinato".6
8 MOURA, Glória. Festas dos Quilombos. Brasília: Editora UnB, 2012, p. 45.
9 MELLO, Marcelo Moura. Reminiscência dos quilombos: territórios da memória em uma comunidade
negra rural. São Paulo: Terceiro Nome, 2012, p. 35.
23
"extrativista", "nômade" etc. Ou, finalmente, quando se
fala em "histórico", de maneira complementar ou concor-
rente àquelas formas anteriores, já que falar em "quilombo
histórico", tem servido para especificar quanto para deslegi-
timar os "quilombos contemporâneos".111
10 ARRUTI, J. M. Quilombo. In: SANSONE, Lívio; OSMUNDO, Pinho (Orgs.). Raça: Perspectivas
Antropológica. São Paulo: ABA / Ed. Unicamp; Salvador: EDUFBA, 2008, p. 314.
24
muitos agentes que se utilizavam da Igreja Católica para opri-
mi-los e justificar os atos de violência praticados pela sociedade
e pelos órgãos públicos.
a) A fé em um Criador
31. A fé em um Criador da vida é uma energia presente em
todos os povos do mundo. A fé desenvolvida pelos afro-brasi-
leiros permitia o surgimento de um novo código de postura
ética a partir da tradição milenar africana. A observação coleti-
va desta fé-tradição canalizando-a para o bem comum do grupo
humano é o que chamamos de "mística".
d) Valorização da vida
34. Toda estrutura organizativa, social, política e religiosa
do Quilombo dos Palmares tinha como uma das principais fina-
lidades a valorização da vida. Ela consiste fundamentalmente
em ajudar os quilombolas a crescer com autoestima positiva,
superando toda humilhação passada no contato com o setor
dominante colonizador. Gostar de si, de seu povo, seus traços
físicos, seus cabelos, de seus costumes, de sua identidade cultu-
ral era dizer gosto da vida! Gosto do autor da vida!
e) Integração ecológica
35. Para a mística africana a vida não é um atributo só
da pessoa humana. As plantas, os animais, a terra, a pedra, a
água, o ar, todos têm axé, têm vida. "Consequentemente, havia
grande comunhão com todos os elementos da natureza, onde a
relação era de parceria e corresponsabilidade".11
26
derive de um processo vivido historicamente desde o período
escravista, preocupa-nos perceber, na atualidade, o aumento
significativo desta violência, a qual é decorrente de um modelo
de desenvolvimento assumido pelos governos e grandes empre-
sas. Este modelo concentra a terra e os lucros nas mãos de poucos
e quer expulsar dos territórios as comunidades negras que histo-
ricamente estabeleceram outro tipo de relação com o território.
12 ARRUTI, José Maurício; FIGUEREDO André. Processos Cruzados: configuração da questão quilombola e
campo jurídico no Rio de Janeiro. In: Territórios Quilombolas. Reconhecimento e Titulação das Terras.
Boletim Informativo do NUER, v. 2, n. 2, 2005. p. 73-93.
13 Enquanto a FCP (Fundação Cultural Palmares) cadastrou 1.749 comunidades (http://www.palmares.
gov.br/quilombola/) a Conaq (Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas) afirma serem
mais de quatro mil. Acesso em: 24 de fevereiro de 2013.
14 O Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva chegou a classificar as questões quilombolas como
"entraves" ao desenvolvimento do país (Estado de São Paulo - 22/11/2006).
46. Embora a legislação atual seja favorável aos quilombo-
las, é flagrante o seu descumprimento. Os interesses escusos de
muitos latifundiários aliados a políticos e profissionais corruptos
têm impedido que territórios sejam demarcados, muitas comu-
nidades perecem no total abandono (sem acesso a saneamen-
to básico, educação), além de sofrerem todo tipo de violência
psicológica (com ameaça de despejo, preconceito) e muitas vezes
física. Num levantamento recente, foram identificadas 148 ações
judiciais propostas e atualmente em curso em defesa dos quilom-
bolas, envolvendo 131 comunidades, localizadas em 20 diferen-
tes estados.15 Quando analisamos os dados sobre o processo de
regularização fundiária realizado pelo governo desde o Decreto
n. 4.887/2003, ficamos espantados com a lentidão do processo e
falta de prioridade, principalmente pelo governo federal. E um
dado alarmante que de 2003 a 2012, dos apenas 89 territórios titu-
lados, 71 foram pelos órgãos daqueles estados que têm leis esta-
duais, sendo que em quase 10 anos pelo governo federal foram
titulados apenas 18 territórios em todo território nacional.16
15 O levantamento da Comissão Pró-Índio de São Paulo aponta a existência de outras 101 ações ajuizadas
contra comunidades quilombolas. Ver em: <http://www.cpisp.org.br/acoes/html/resultados.aspx>.
Acesso em: outubro de 2013.
16 Monitoramento da política fundiária elaborado pela Comissão Pró-Índio de São Paulo.
guardiãs das tradições da cultura afro-brasileira, além de cuidar
da casa, dos filhos, dos idosos, da roça, dos animais e da preser-
vação dos recursos naturais. Nos tempos da escravatura, provi-
denciavam alimento e proteção aos refugiados das lutas de
resistência pela liberdade e estavam diretamente envolvidas na
organização do quilombo e de muitas revoltas. Foram e conti-
nuam a ser fundamentais na luta de todos os quilombolas pelos
seus direitos. Atualmente, muitas mães quilombolas enfrentam
a fúria dos fazendeiros e grileiros, por vezes pagando com a
própria vida a defesa de seus territórios; também assistem à
morte de seus filhos nos conflitos agrários.
17 Também as seguintes Constituições estaduais de 1989 apresentam dispositivos similares: Bahia (art. 51
do ADCT); Goiás (art. 16 do ADCT); Maranhão (art. 229); Mato Grosso (art. 33 do ADCT) e Pará (art. 322).
55. Este artigo enseja para os juristas e para toda a socie-
dade a responsabilidade de responder a algumas questões:
"Remanescentes": quem são? Comunidades: podem ter título
individual? Quilombos: qual a melhor definição, utilizam-se as
definições antigas? É reconhecida: trata-se de uma expropria-
ção constitucional que cancela os registros de propriedade já
emitidos? Qual titulação: coletiva, condominial ou individual?
Propriedade definitiva: Pode ter um título com alguma condi-
ção resolutiva? Pode se ter concessão de uso em lugar de título?
Devendo: Preenchidos os requisitos legais pode o Estado se
negar a emitir o título? Estado: Entende-se União ou também os
Estados e Municípios?
34
1.8. As garantias legais à posse da terra aos
remanescentes das comunidades de quilombo
20 Corrêa defende a defesa destes territórios por parte do poder público: "Mas elas são também essenciais
como instrumento de identidade cultural e antropológica das comunidades que nelas se estabeleceram
para escapar à escravização, criando um mundo próprio que cumpre ao Estado defender e preservar, re-
gistrando-o no acervo histórico do seu povo (grifos no original)". Corrêa, Carlos Alberto Lamarão. Parecer
em resposta à consulta do Presidente do Instituto de Terras do Pará - Iterpa, a respeito da utilização do
instituto jurídico da desapropriação por utilidade pública. In: OLIVEIRA, Leinad Ayer de. Quilombos: a
hora e a vez dos sobreviventes, São Paulo: Comissão Pró-Índio de São Paulo, 2001, p. 34-39.
21 Artigo 15 da Convenção 169 da OIT: "Os direitos dos povos interessados aos recursos naturais existen-
tes nas suas terras deverão ser especialmente protegidos. Esses direitos abrangem o direito desses
povos a participarem da utilização, administração e conservação dos recursos mencionados".
22 Decreto de aprobación dei Convênio sobre pueblos Indígenas y Tribales 1989 (n. 169) da OIT: Art. 2.
La aplicación de las disposiciones jurídicas contenidas en el Convênio es extensivas para los Pueblos y
Comunidades Afrodescendientes (Garífunas y Creoles) de nuestro país.
só identifica de maneira mais precisa os beneficiários desta
política: Comunidades Afrodescendientes (Garífunas y Creoles), mas
a firma textualmente que a eles se aplica a Convenção 169 da
OIT (Organização Internacional do Trabalho).
I I ><•< reto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007 - institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável
<!<>•. Povos e Comunidades Tradicionais.
66. Pensar o território como um resultado e não como
um dado implica em admitir que essas comunidades e povos
produziram histórica e culturalmente os seus espaços. E estes
só existem por existirem tais povos.
24 0 artigo primeiro da Convenção 169 atesta que ela se aplica a povos que se distinguem dos demais
grupos sociais presentes num país devido a "seus próprios costumes ou tradições".
25 Os artigos 27-34, da Lei n. 12.288, de 20 de julho de 2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial,
no capítulo em que é regulamentado o acesso à terra, utilizam as expressões: "população negra" ou
"trabalhadores negros e as comunidades negras rurais", isto é, realidades que reconhecem direitos
coletivos e não individuais.
O Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003, bem como as diferentes Instruções Normativas do Incra que
o regulamentaram: n. 16, de 24 de março de 2004; n. 20, de 19 de setembro de 2005; n. 49, de 29 de
setembro de 2008; n. 56, de 7 de outubro e n. 57, de 20 de outubro de 2008.
26 Nove estados têm uma legislação específica que determina como deve ser o processo de titulação das
terras de quilombo: Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio
Grande do Sul e São Paulo. A eles devem se somar outros dez que estabeleceram políticas públicas
específicas em favor de quilombos: Amapá, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Sergipe.
OIT27 prevê expressamente a necessidade de os estados respei-
tarem os costumes específicos destes grupos.
27 O texto na íntegra assim expressa: "1. Ao aplicar a legislação nacional aos povos interessados deve-
rão ser levados na devida consideração seus costumes ou seu direito consuetudinário; 2. Esses povos
deverão ter o direito de conservar seus costumes e instituições próprias, desde que eles não sejam
incompatíveis com os direitos fundamentais definidos pelo sistema jurídico nacional nem com os direi-
tos humanos internacionalmente reconhecidos. Sempre que for necessário, deverão ser estabelecidos
procedimentos para se solucionar os conflitos que possam surgir na aplicação deste princípio; 3. A
aplicação dos parágrafos 1 e 2 deste Artigo não deverá impedir que os membros desses povos exerçam
os direitos reconhecidos para todos os cidadãos do país e assumam as obrigações correspondentes".
28 Para a UFBA: "A terra e seus recursos naturais são apropriados pelos grupos étnicos - no caso em tela
por quilombolas - como uma espécie de patrimônio coletivo, sem valor comercial e cuja proprieda-
de assegura a manutenção dos marcos de referência de sua história". Ver UNIVERSIDADE FEDERAL
DA BAHIA. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Antropologia.
Departamento de Antropologia e Etnologia. Nota Técnica. Salvador/BA, 15 de abril de 2012.
39
PARTE 2
JULGAR
2.1. Introdução
29 A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos enviou às conferências episcopais do
mundo uma cartam na qual fala sobre o nome de Deus, pedindo que não se use o termo "Javé" nas litur-
gias, nas orações e nos cantos. A carta se refere ao uso do nome "YHWH", que se refere a Deus no Antigo
Testamento e que em português se lê "Javé". O texto explica que esse termo deve ser traduzido de acordo
com o equivalente hebraico "Adonai", e como exemplo de tradução aceitável "Deus" ou "Senhor".
sabemos que o nosso Deus está presente, no meio deles, com
seu poder e seu amor. Lembramos a proclamação de fé firme
que saiu da oração de Judite, cerca de oito séculos depois do
Exodo, e que é uma das mais singelas e profundas sínteses da
fé dos pobres do Senhor: "Tu és o Deus dos humildes, o socorro
dos mais pequenos, o defensor dos fracos, o protetor dos rejei-
tados, o salvador dos desesperados" (Jt 9,11). Esta é a fé que
sustentou os profetas do antigo Israel em sua denúncia e resis-
tência contra o poder opressor do palácio, do mercado, dos
juízes corruptos, dos falsos profetas e dos sacerdotes coniventes
e coautores de uma sociedade construída sobre a dominação e
a exploração. As palavras proféticas, contundentes e seguras,
continuam ressoando aos nossos ouvidos, aquecendo o nosso
coração e provocando nossa fidelidade. Com a mesma força
relembramos as palavras de Maria, mãe de Jesus e nossa mãe:
"Ele mostrou a força do seu braço: dispersou os que têm planos
orgulhosos no coração. Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e mandou
embora os ricos de mãos vazias" (Lc 1,51-53).
43
pessoas. Em hipótese nenhuma as despesas de um governo
podem privilegiar os compromissos com a dívida financeira,
muitas vezes resultado de inescrupulosas especulações, acima
dos compromissos com a dívida social, exigência principal em
relação à nação que paga os impostos.
30 PAULO VI. Carta Encíclica Populorum Progressio (PP), n. 23,1967; Pontifício Conselho Justiça e Paz: Para
uma melhor distribuição da terra. Os desafios da reforma agrária, n. 32-34, 1997; Pontifício Conselho
Justiça e Paz: Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 300, 2004.
2.3. Direito à identidade e à diversidade
sem discriminação
36 A Nova Vulgata e a Bíblia de Jerusalém optam por outra tradução: desde o sul até as encostas ou até
Asedot.
ao leste do caminho da Arabá, terra de Esaú, o primogênito de
Isaac (Gn 36,8).37
37 O profeta Habacuc, mais tarde, também lembrou: "Nosso Deus vem dos lados de Temã, surge o todo
Santo lá na montanha de Farã" (Hab 3,3). Temã era o netinho de Esaú (Gn 36,15).
38 Segundo muitos estudiosos, a palavra 'hebreu' e a palavra hapiru têm a mesma raiz. Nas cartas entre o
faraó do Egito e os reis de Canaã são nomeados os hapirus como sendo pessoas perigosas, às margens
da lei, assaltantes ou mercenários de algum poderoso.
48
condenado, com seus descendentes, a ser o escravo dos escra-
vos de seus irmãos (Gn 9,25-27). Não há dúvida que, por tempo
demais, esta maldição foi aplicada aos povos negros, legitiman-
do, até em nome de Deus,39 a escravidão deles por parte dos
brancos cristãos, descendentes de Sem e de Jafet.40
39 CNBB. Ouvi o clamor deste povo. São Paulo: Editora Ipiranga 1988, n. 73.
40 Hoje, a ciência defende a hipótese da descendência africana comum a todas as raças.
porém, não podemos esquecer as memórias que o próprio Jesus fez
questão de retomar, de Elias com a viúva de Sarepta e de Eliseu com
o sírio Naamã. A preocupação com o "estrangeiro" residente nas
terras de Israel é evidente na legislação de origem profética: "Não
maltrates o estrangeiro nem o oprimas, pois vós fostes estrangeiros
no Egito" (Ex 22,21; 23,9; Lv 19,33-34; Dt 10,18-19; 24,17; 27,10).
41 Este último versículo deu origem à palavra hebraica anawim: os pobres do Senhor que aguardavam
ansiosamente a chegada do Reino de Deus.
Ebed-Melec, servo do rei. Foi ele que convenceu o rei a retirar
Jeremias da cisterna na qual tinha sido jogado pela pressão dos
nobres de Jerusalém (Jr 38,7-12). A ele, no momento da devasta-
ção de Jerusalém, Jeremias anunciará a salvação e a libertação,
"porque em mim confiaste, oráculo do Senhor" (Jr 39,18).
52
98. Mesmo assim, as Sagradas Escrituras conseguiram
guardar as memórias proféticas celebradas em maneira magistral
nos livros de Rute, a moabita. "O teu povo é o meu povo, o teu
Deus é o meu Deus (...). Que o Senhor me cumule de castigos, se
não for só a morte a nos separar uma da outra" (Rt 1,16.17). Rute,
a avó de Davi, a tataravó de Jesus. Uma memória que nos leva ao
essencial da lei divina42 em favor dos pobres: garantir o direito ao
pão, à terra e à descendência. Na mesma linha se move o Livro de
Jonas, o profeta enviado a anunciar aos ninivitas - entre os piores
de todos os povos na novelística judaica - que suas injustiças
tinham chegado à presença de Deus (Jn 1,2). Depois das conhe-
cidas peripécias, Jonas entrou em Nínive anunciando o que ele
considerava ser o inevitável castigo de Deus: "dentro de quarenta
dias Nínive será destruída" (Jn 3,4). Será o próprio rei de Nínive
a propor aos ninivitas que se convertam, para que Deus tenha
compaixão do povo. E nem precisa se tornar israelita, basta crer
em Deus e "deixar de praticar todo tipo de opressão" (Jn 3,8). O
rei de Nínive conhecia melhor o rosto de Deus do que o profeta
Jonas que, vendo a compaixão de Deus, fica amargurado e irri-
tado: "Eu sabia que és um Deus bondoso demais, sentimental,
lerdo para ficar com raiva, de muita misericórdia e tolerante com
a injustiça" (Jn 4,2). Jonas conhecia o verdadeiro rosto paterno de
Deus, mas, como os sacerdotes de Jerusalém, ele preferia falar de
castigo, de destruição, de medo.
42 Vale lembrar que na tradição talmúdica o Livro de Rute é o livro lido nas casas e nas sinagogas judias
durante a celebração da Festa das Semanas, a festa que os gregos chamaram de "pentecostes", na qual
se celebrava o dom da lei de Deus ao seu povo.
53
anexada à terra de Israel. Os galileus eram vistos com descon-
fiança pelos judeus. Jesus também foi vítima desta desconfian-
ça: "De Nazaré pode sair algo de bom?" (Jo 1,46); "Um profeta
só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na
própria casa" (Mc 6,4). "Os escribas vindos de Jerusalém diziam
que ele estava possuído por Belzebu" (Mc 3,22). Até seus fami-
liares acharam que ele tinha ficado louco (Mc 3,21).
54
privilegiado, o grupo dos nossos: "Quem não é contra nós, está
a nosso favor" (Mc 9,40). Numa sociedade centrada na pureza
da semente santa, Jesus vai na contramão, esquecendo a carne e
o sangue, para anunciar: "Quem faz a vontade de Deus, esse é
meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,35).
43 O cristianismo, assim como as religiões mistéricas, que, também, se pretendiam supraétnicas, foram
duramente perseguidas como "superstições" (algo que está acima). A única religião supraétnica, admi-
tida pelo império, era o culto ao divino imperador.
55
transmitiu era clara e possuía uma verdadeira força subversiva:
“Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome que está acima
de todo nome, para que em o Nome de Jesus, todo joelho se
dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua confesse:
Jesus Cristo é o Senhor", para a glória de Deus Pai" (F1 2,9-11).
A certeza que a glória de Deus Pai se manifesta na proclamação
do único senhorio de Jesus tem, como consequência, a supera-
ção da dimensão étnica da fé e, ao mesmo tempo, de todas as
separações sociopolíticas que as diversas religiões provocavam.
"Vós todos sois filhos de Deus pela fé no Cristo Jesus. Vós todos
que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. Não
há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher,
pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus. Sendo de Cristo,
sois, então, descendência de Abraão, herdeiros segundo a
promessa" (G13,26-29; Cl 3,11). É o abandono total de qualquer
etnocentrismo. É a declaração inquestionável que não há mais
nenhuma razão de divisão e, sobretudo, é o fim das relações
baseadas na dominação de uns sobre os outros.
56
são alguma coisa. Assim, ninguém poderá gloriar-se diante de
Deus" (ICor 1,27-29).
44 EN, n. 20.
57
2.4. As riquezas que as comunidades
quilombolas nos oferecem
58
sagrada que ultrapassa e questiona a visão mercantilista que
domina o mundo ocidental, seja ele capitalista ou socialista. Em
sintonia com o mais genuíno pensamento bíblico, a terra é vida,
é mãe, é casa de todos e de todas. Como dizia São Francisco em
seu Cântico das Criaturas: a nossa irmã, a mãe terra, nos susten-
ta e nos governa. E sinal benfazejo do amor providente de Deus
que alimenta todos os seres vivos ou "almas viventes",45 como
os chama o Livro do Gênesis. A mãe terra, também, nos governa,
a ela devemos "servir e obedecer".46.As comunidades quilombo-
las nos ajudam, assim, a ultrapassar a visão racionalista, típica
das culturas eurocêntricas que consideram a terra algo inanima-
do, mera matéria prima que só adquire valor quando vira merca-
doria. Encontramos esta dimensão sagrada da terra, também
num antigo texto bíblico: "Durante seis anos semearás a terra
e recolherás os seus frutos. No sétimo ano, porém, deixarás de
preparar e de cultivar a terra, para que se alimentem os pobres
do teu povo, e os animais selvagens comam o resto. O mesmo
farás com a vinha e o olival" (Ex 23,10-11); e o Livro do Levítico
acrescentava: "O sétimo ano será um sábado, um descanso abso-
luto para a terra, um sábado em honra do Senhor" (Lv 25,4). Um
descanso que celebrava a ligação da terra com Deus, conosco,
com os mais pobres no meio de nós e com os animais, até os
selvagens. A terra, a natureza, os seres vivos fazem parte de
uma única vida que, na perspectiva paulina, é a própria vida do
Cristo que circula em todos e em tudo: "Ele é imagem do Deus
invisível, o primogênito de toda a criação" (Cl 1,15).
45 A expressão hebraica nefesh haiah (seres vivos - literalmente: almas viventes) é usada igualmente para
os animais e o ser humano (Gn 1,20.21.24.30; 2,7).
46 É um sentido mais costumeiro dos verbos hebraicos 'abad e shamar que em muitos textos bíblicos
descrevem a relação do ser humano com Deus.
59
e os invisíveis, tronos, dominações, principados, potestades; tudo
foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e
nele todas as coisas têm consistência" (Cl 1,16-17). É importante
notar que, em outros textos paulinos, estes seres celestes invisíveis,
próprios da cultura local, foram considerados como forças inimi-
gas a serem vencidas (Ef 2,2; 6,12; Cl 3,15). Esta vitória, porém,
não se dá pela eliminação, mas pelo seu ordenamento em relação
ao Cristo cabeça.47 Esta também é missão da Igreja: "Assim, dora-
vante, os principados e as potestades celestes conhecem, por meio
da Igreja, a multiforme sabedoria de Deus" (Ef 3,10).
47 Não esqueçamos que, no imaginário posterior, estes "seres invisíveis" foram identificados com os coros
angélicos.
60
112. E esta é a terceira riqueza que precisamos manter e
alimentar sempre mais. As comunidades quilombolas são, hoje,
como o foram antigamente, sinais de resistência e de luta. Na
história destas comunidades, encontramos memórias que nos
lembram os sinais da libertação presentes em inúmeras memó-
rias da história do povo de Israel. Desde a defesa do território,
que marca as narrativas antigas do Livro dos Juízes, até as lutas
dos macabeus que, além de defender sua terra, lutaram para
defender sua identidade de povo, seu direito de cultuar o seu
Deus conforme seus costumes, e para defender sua liberdade,
diante do avanço avassalador do poder do mercado e da cultura
grega, que centrava a produção de sua riqueza na colonização
e na mercantilização de tudo que era produzido pelo sistema
escravagista do latifúndio.
62
quilombola é o reflexo da realidade sofrida destas comunidades
que se encontram abandonadas e até marginalizadas proposi-
talmente pelos poderes. Herdeiras de longa história de brutal
exploração, elas recorrem a Deus pela mediação de santos e
orixás, ajudadas por benzedores/as, mães e pais de santo, pois
guardam a certeza de que Deus não os abandonou de todo, que,
se há uma justiça, ela deve se manifestar, que não se perde a
vida dos que confiam em Deus. A nossa lógica racionalista nos
levou a falar, talvez rápida e superficialmente, de sincretismo,
animismo, politeísmo ou outras palavras de conotação nega-
tiva, mas não podemos esquecer que o fundamento desta fé
popular é a consciência de que Deus está do lado da vida.
49 JOÃO PAULO II. Mensagem aos afro-americanos, n. 5. Texto anexo ao Documento de Santo Domingo.
64
Gênesis (9,18-29), não deve ser lida numa perspectiva racial.
Trata-se de um texto etiológico que explica o conflito cons-
tante entre israelitas e cananeus.50 Canaã, por isso, é o único a
ser amaldiçoado. Não é legítimo estender a mítica maldição a
todos os descendentes de Cam, sobretudo aos que seriam os
ancestrais dos africanos e dos árabes. Os cananeus, com efeito,
são, também, de estirpe semita, como os israelitas. Não há nada
neste texto que possa levar a considerar inferior uma descen-
dência ou uma raça mais do que outra, nem a justificar a escra-
vização de inúmeros negros.
50 Esta página, de possível redação javista, justifica a submissão dos povos cananeus que aconteceu com
a chegada da monarquia em Israel e, ao mesmo tempo, a preocupação com os cultos cananeus que
sempre estiveram presentes no meio de Israel.
65
123. Havia, também, a possibilidade de que o escravo
quisesse continuar na casa do patrão, por se sentir bem com ele.
Neste caso, deixava de ser escravo e passava a ter todos os direi-
tos de um membro da família (Ex 21,5-6; Dt 15,16-17). O princí-
pio norteador desta legislação era claro e deve continuar sendo
um referencial, também para nós, em que pesem as mudanças
sociais, econômicas e políticas que tenham acontecido: "para
que não haja pobres em teu meio" (Dt 15,4). Este é o critério que
deve, dialeticamente, orientar a realidade: "uma vez que nunca
deixará de haver pobres na terra, eu te dou este mandamento:
abre tua mão para teu irmão, teu necessitado, teu pobre em tua
terra" (Dt 15,11).
66
grilhões. Entretanto, não cometas excessos contra ninguém, e
nada faças de grave contra o direito" (Eclo 33,25-30).51
51 Trata-se do amo que tem vários servos em sua casa, pois o mesmo texto dá orientações diferentes a
quem possui só um servo: "Se tens um servo só, estima-o como a ti mesmo, pois precisarás dele como
de ti. Se tens um servo só, trata-o como a um irmão, para que não te indisponhas contra o teu próprio
sangue. Se o tratares mal sem motivo, ele te fugirá; se, levantando-se, afastar-se de ti, não saberás por
qual caminho procurá-lo" (Eclo 33,31-33).
67
superficial, parecer legitimador da submissão - como na relação
da mulher com o homem e dos filhos com o os pais52 é na reali-
dade o elemento subversivo, pois a mesma relação com o Cristo
deve ser vivenciada pelos senhores, pelos maridos e pelos pais.
Esta clareza provoca a verdadeira novidade evangélica que ultra-
passa e transforma as relações de dominação: "E vós, senhores,
fazei o mesmo para com os escravos. Deixai de lado as ameaças,
sabendo que o Senhor - Senhor deles e vosso - está nos céus e
não faz acepção de pessoas" (Ef 6,9); e: "senhores, tratai com
justiça e equidade os vossos escravos, sabendo que vós também
tendes um 'Senhor' no céu'" (Cl 4,1). Este o evangelho da mais
livre escravidão: "Sede submissos uns aos outros, no temor de
Cristo" (Ef 5,21). Esta fé levou Paulo a escrever a magistral Carta
a Filêmon, na qual estabelece as verdadeiras relações do amo
com seu escravo, centradas na igualdade, na fraternidade e na
reciprocidade do serviço. A escravidão perde seu sentido.
127. Mas esta relação não é assim tão clara nas cartas pasto-
rais. Nestas, não há nenhum recado para os patrões, só para os
servos: "Todos os que estão sob o jugo, como escravos conside-
rem os seus senhores como dignos de todo apreço, para que o
nome de Deus e a sua doutrina não sejam blasfemados" (lTm
6,1; Tt 2,9). O motivo é importante: para que não se fale mal da
nossa doutrina. Estas cartas apresentam outra preocupação e,
por isso, outra visão: fazer a diferença em relação aos costu-
mes da sociedade pode provocar a rejeição da nossa doutrina, o
afastamento e,53 quem sabe, a perseguição.54
52 As mulheres sejam submissas aos maridos, como ao Senhor (Ef 5,22); "Filhos, obedecei a vossos pais,
no Senhor" (Ef 6,1); "mulheres, sede submissas a vossos maridos, como convém no Senhor" (Cl 3,18);
"filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isto agrada ao Senhor" (Cl 3,20).
53 AZZI, Riolando. A teologia católica na formação da sociedade colonial. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 94ss.
54 O mesmo será dito das mulheres em sua relação aos homens (Tt 2,4-5). A preocupação com a convivên-
cia na sociedade romana norteia estas cartas: "para que possamos levar uma vida calma e tranquila,
com toda a piedade e dignidade" (lTm 2,2). A virtude por excelência a ser vivida é a "piedade", que,
para os romanos, consistia no respeito e na reverência a todos que ocupavam um lugar sagrado de
poder (hierarquia): Deus, os antepassados, os governantes, os pais etc.
68
128. Os argumentos usados pela Primeira Carta de Pedro
foram usados, também, aqui no Brasil, em muitas pregações feitas
para justificar a escravidão: "Servos domésticos, submetei-vos
aos patrões com todo o respeito, não só aos bons e afáveis, mas
também aos que são difíceis. Nisto consiste a graça: sofrer injusta-
mente, suportando as aflições, com a consciência da presença de
Deus. Pois que merecimento há em fazer o mal e suportar castigo
por isso? Entretanto, se fazeis o bem e suportais o sofrimento,
isto vos toma agradáveis junto a Deus. De fato, para isto fostes
chamados. Pois também Cristo sofreu por vós deixando-vos um
exemplo, para que sigais os seus passos" (lPd 2,18-21).
69
no lugar de exigir nossos direitos, quando achamos normal
que uns poucos privilegiados concentrem e gozem de riquezas
e privilégios, quando muitos irmãos e irmãs, comunidades, e
até populações inteiras, são obrigados a viver na exclusão e na
humilhação. Que o Espírito Santo nos ilumine para que possa-
mos fazer escolhas coerentes com o Evangelho que anunciamos.
55 PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Tradução Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). São Paulo: Paulinas, 2005, n. 111 a 113, p. 73-74.
70
cristãos, ou seja, dos negros também. Outras bulas ou cartas,
como Sicut Dudum, de 13 de janeiro de 1434, do Papa Eugênio
IV; o Papa Pio II, 1458-1464, em 7 de outubro de 1462; uma carta
do Papa Pio VII, enviada ao Imperador Napoleão Bonaparte, da
França; o Papa Gregório XIV, 1590-1591, publicou a Cum Sicut;
o Papa Urbano VIII, 1623-1644, Commissum Nobis; o Papa Bento
XIV, 1740-1758, na Bula Immensa Pastorum; o Papa Gregório XVI,
1831-1846, Bula In Supremis; Pio VII, no Congresso Internacional
de Viena, 1814-15, pedia para restituir a liberdade, condenar o
comércio ou os maus tratos de pessoas escravizadas.
71
135. A Igreja percebe na luta das comunidades quilombo-
las um apelo de Deus. A identificação com este povo faz surgir
a dimensão profética da luta. Juntos, com os olhos dos pobres e
a partir deles, lança ao mundo um clamor de justiça, um clamor
de libertação. O Concilio Vaticano II, no Decreto Ad Gentes, de
7 de dezembro de 1965, adverte os cristãos que evitem todo o
racismo. A Igreja também reprova qualquer discriminação por
causa da raça ou da cor, na Declaração Nostra Aetate, de 28 de
outubro de 1965, n. 5, sobre as relações da Igreja com as religiões
não cristãs. A promoção da dignidade da pessoa, o bem mais
precioso que o homem possui, é a tarefa central e unificadora
do serviço que a Igreja é chamada a prestar à humanidade.56
A ação pastoral da Igreja no âmbito social deve testemunhar,
antes de tudo, a verdade sobre a pessoa humana. Como comu-
nidade daqueles que são convocados pelo Cristo Ressuscitado
e se põem no seu seguimento, é o "sinal e a salvaguarda da
dignidade da pessoa humana".57 A ação social dos cristãos
deve inspirar-se no princípio fundamental da centralidade do
homem.58 A pessoa humana, tomada na sua concretude históri-
ca, representa o coração e a alma do ensinamento social.59
56 GS, n. 91.
57 Ibidem, n. 76.
58 JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Centesimus Annus (CA), n. 54.
59 Ibidem, n. 11.
60 SILVA, Antônio Aparecido da (Org.). Existe um pensar teológico negro? São Paulo: Paulinas, 1998, p. 5.
72
e toda a experiência do povo negro, desde a escravidão. Este
processo de reflexão contribuiu para as Conferências na Igreja
Latino-Americana.
73
e na defesa dos direitos dos excluídos encontra-se a fidelidade
da Igreja a Jesus Cristo. O encontro com Jesus Cristo através
dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus
Cristo. Da contemplação do rosto sofredor de Cristo neles e
do encontro com Ele nos aflitos e marginalizados, cuja imensa
dignidade Ele mesmo nos revela, surge nossa opção por eles. A
mesma união a Jesus Cristo é a que nos faz amigos dos pobres e
solidários com seu destino".61
61 DAp, n. 257.
62 CELAM. IV Conferência do Episcopado Latino-Americano. Documento de Santo Domingo (DSD).
Tradução oficial da CNBB. 7. ed. 1992, n. 243.
63 Ibidem, n. 249.
64 JOÃO PAULO II. Discurso aos Afro-Americanos, em Santo Domingo.
74
afro-americana, o que fica assim expresso: "os afro-americanos
se caracterizam, entre outros elementos, pela expressividade
corporal, o enraizamento familiar e o sentido de Deus".65
65 DAp, n. 56.
66 Ibidem, n. 532.
67 Ibidem, n. 32.
75
diálogo entre cultura negra e fé cristã e suas lutas pela justiça
social, e incentiva a participação ativa dos afro-americanos nas
ações pastorais de nossas Igrejas e do CELAM".68
68 Ibidem, n. 533.
69 Ibidem, n. 89.
70 Ibidem, n. 90.
76
Minas Gerais, e Dom Joaquim José Vieira, 1833, Fortaleza,
Ceará, no posicionamento contra a escravidão e a favor da vida
de liberdade do povo negro.
71 CNBB. Ouvi o clamor deste povo. Texto-Base da Campanha da Fraternidade. Brasília: Editora Gráfica
Ipiranga Ltda, 1988, p. 64.
154. "A atuação da Pastoral, na perspectiva atro, tem ocor-
rido não só dentro da Igreja, mas também fora, e como exigência
da sociedade civil, solidarizando-se com as legítimas reivindi-
cações dos movimentos populares, sobretudo os remanescentes
dos Quilombos, que lutam pela democratização da terra e da
moradia, onde os negros são as principais vítimas".72
72 CNBB. Pastoral Afro-brasileira. Estudos da CNBB 85. São Paulo: Paulus, 2002, n. 45.
73 CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 1999-2002 (DGAE), São Paulo, 2002,
n. 174; Estudos da CNBB 85, n. 69.
74 DSD, n. 206.
78
PARTE 3
AGIR
75 DAp, n. 532.
76 JOÃO PAULO II Carta Encíclica Redemptoris Missio (RMi), n. 28.
79
com toda a verdade e humildade.77 Esta caminhada dialogai
desemboca na luta comum pela justiça social, sustentada num
protagonismo que é um verdadeiro kairós para aprofundar o
encontro da Igreja com aqueles que reivindicam o reconheci-
mento pleno de seus direitos individuais e coletivos.78
77 JOÃO PAULO. Discurso aos afro-americanos por ocasião da Conferência de Santo Domingo.
78 DAp, n. 91.
79 Em 18 de abril de 2013, durante a 50^ Assembleia Geral da CNBB, emitiu-se uma nota em defesa dos
territórios quilombolas.
80 Por exemplo, a Transposição do Rio São Francisco, a Ferrovia Transnordestina, a Ferrovia Leste-Sul, pro-
jetos de mineração. Estaleiro Paraguaçu, a construção das hidrelétricas de Belo Monte e Rio Madeira.
80
163. Causa preocupação a ausência de uma política gover-
namental efetiva de titulação dos territórios quilombolas que
foi e tem sido a principal causa de despejos violentos, da inse-
gurança jurídica, dos deslocamentos forçados, das ameaças, das
agressões físicas e psicológicas, das prisões arbitrárias e proces-
sos criminais direcionados aos quilombolas quando se mobili-
zam para terem garantida a sobrevivência e a permanência no
território historicamente utilizado por seus ancestrais.
81
d) Garantia dos direitos territoriais e regularização
fundiária das comunidades quilombolas
167. Cabe aos órgãos públicos responsáveis agilizar o
processo de reconhecimento, demarcação e titulação dos terri-
tórios das comunidades quilombolas, obedecendo ao princípio
do caráter coletivo da terra. A titulação individual representa
uma ruptura com a identidade cultural do grupo, colocando em
perigo a manutenção dos valores identitários. A Constituição
Federal reconhece o caráter pluriétnico da formação histórico-
-cultural brasileira e garante às comunidades quilombolas
o direito à manutenção de sua cultura própria. O direito dos
quilombolas ao reconhecimento de sua terra está diretamente
associado à preservação de sua organização social específica, à
defesa de direitos culturais imateriais.81
81 CNBB. Igreja e Questão Agrária no início do Século XXI. Estudos CNBB 99. Brasília: Edições CNBB, 20109,
n. 255.
82
disposto no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias determina que cabe ao Estado garantir a proprieda-
de dos ocupantes das terras remanescentes dos quilombos".82 O
respeito a estes dispositivos legais garantirá a tradição quilombo-
la ligada à posse e à propriedade da terra. Unimo-nos ao conjunto
das comunidades quilombolas, suas articulações e as inúmeras
entidades sociais que fazem a defesa dos direitos quilombolas.
82 CNBB, 2012.
83
uma comunidade de pessoas, a menor célula social, e como tal é
uma instituição fundamental para a vida de cada sociedade".83
Portanto, é dever de todas as pessoas e instituições públicas
defender a maneira própria da constituição familiar quilombola
na qual todos são responsáveis por todos.
84
176. Pensar em políticas de preservação do patrimônio
material e imaterial da produção cultural quilombola não signi-
fica cristalizá-las ou tomá-las como folclore. Pelo contrário, é
reconhecer sua importância para a história nacional e assegurar
que elas possam continuar se (re)produzindo dinamicamente.
84 DAp, n. 533.
85
3.5. Políticas Públicas
87
nos tempos atuais, ausculte com cuidado a realidade olhando
com carinho maternal os novos protagonistas sociais que estão
emergindo especialmente nas comunidades quilombolas.
85 DAp, n. 53.
86 CNBB. DGAE 2011-2015, n. 78.
88
processos pastorais e se comprometam com a sua trans-
formação. Este compromisso sugere o passo a seguir.
• Colocar as estruturas eclesiais a serviço das comu-
nidades quilombolas - O Documento de Aparecida
menciona a conversão das estruturas pastorais. As dio-
ceses discutem a necessidade de colocarem as estrutu-
ras físicas a serviço dos pobres, dos grupos sociais his-
toricamente alijados destes espaços. Em alguns casos,
o apoio das paróquias e dioceses é fundamental para
que os quilombolas avancem na conquista dos seus di-
reitos. Nestes espaços institucionais de ação evangeli-
zadora é possível concretizar o compromisso de apoio
aos pobres e marginalizados. E um caminho de evange-
lização promissor.
• Suscitar o protagonismo eclesial dos quilombolas -
Eles sabem quem são e o que querem, têm uma iden-
tidade conquistada, cidadãos em luta para dignificar a
vida cidadã, recriar a cultura, daí o protagonismo que,
apesar das tensões, se densifica cada vez mais e tem
provocado o questionamento de como este protagonis-
mo está sendo suscitado em nossas comunidades. O
espaço do protagonismo dos quilombolas e também de
outros grupos étnico-culturais é um caminho de mão
dupla. De um lado está a oportunidade para que os
quilombolas possam viver a profundidade da sua con-
dição de batizados, de membros do povo de Deus com
direitos e deveres enquanto partícipes da comunidade
cristã. "Em outra perspectiva, a participação ativa des-
tes grupos, o que podemos chamar de protagonismo,
enriquece a vida das comunidades por imprimir um
novo dinamismo à comunidade cristã", como assegura
o Documento de Aparecida.
89
• Evangelização inculturada dialogante com a cultura
quilombola - A abertura e acolhida ao protagonismo
dos quilombolas sugere a evangelização inculturada
e o conhecimento dos quilombos contemporâneos e
suas festas. O Papa Paulo VI na Exortação Apostólica
Evangeli Nuntiandi dizia: "o Evangelho e a evangeliza-
ção independentes, em relação às culturas, não são ne-
cessariamente incompatíveis com elas, mas suscetíveis
de as impregnar a todas sem se escravizar a nenhuma
delas".87 Antes, nesta mesma exortação, afirmou que o
Evangelho não se confunde com a cultura, mas a eleva.
A preocupação com a inculturação do Evangelho tam-
bém é manifesta no Documento de Santo Domingo88 e
no Documento de Aparecida.89 A ação evangelizadora
junto aos povos quilombolas é a oportunidade da con-
cretização do que já foi tão ricamente tratado nos do-
cumentos da Igreja. Os quilombolas revelam uma di-
mensão humana, uma vida espiritual e uma tradição
cultural ricas. A aproximação desta cultura rica e diver-
sa na perspectiva evangelizadora é uma tarefa urgen-
te. Compreende os princípios: do cuidado diante das
situações de vulnerabilidade social; do diálogo frente a
uma forma de vida diferenciada; compromisso evangé-
lico, pois o anúncio do Reino é o horizonte último.
• Metodologia de catequese condizente com a cultura
quilombola - A inculturação sugere um pensar a ca-
tequese de uma forma especial. A ação evangelizadora
que compreende a inculturação do Evangelho convida
a um olhar cuidadoso para os interlocutores da ação
87 EN, n. 20.
88 DSD, capítulo III, n. 228-286.
89 Dap, n. 99b.
90
catequética. Daí a necessidade de uma metodologia sin-
tonizada com os valores da cultura quilombola. Cabe a
perspicácia de compreender-se diante de duas grande-
zas que entram em interação via trabalho catequético:
a grandeza da cultura quilombola e a profundidade do
Evangelho de Jesus Cristo, como fonte de luz para esta
cultura.
• Iniciativas na perspectiva de inibir toda a forma de
preconceito e discriminação - O preconceito e a discri-
minação ainda permeiam as relações sociais e nossas co-
munidades não estão alheias a situações de preconceito
e discriminação contra os quilombolas. Diante destes
fatos, muitas vezes velados, cabe compreendermos que
evangelizar significa também apoiar as reivindicações
por políticas de enfrentamento ao racismo e à discrimi-
nação, para superar as práticas que negam a dignidade
humana.90 A superação destas situações convida a uma
situação proativa na perspectiva da solidariedade das
comunidades com as lutas dos povos quilombolas.
• Compreender, em alguns casos, a necessidade do diá-
logo inter-religioso segundo a orientação da DGAE91
- Muitas comunidades quilombolas mantiveram vivos
alguns elementos da religiosidade da matriz africana.
Procuram manter viva esta tradição religiosa. Neste
caso, seriam possíveis iniciativas de diálogo inter-reli-
gioso. Normalmente, as lideranças das religiões de ma-
triz africana têm apreço pela Igreja Católica e não co-
locam impedimento ao diálogo. Neste caso, o diálogo
poderia assumir o caminho da luta pela justiça social,
pois a exclusão de negros e negras é pauta de uma ação
90 DAp, n. 533.
91 CNBB. DGAE 2011-2015, n. 83.
91
cristã consequente. E a ação cristã consequente pode le-
var ao diálogo com outras tradições religiosas em nome
de algo maior.
CONCLUSÃO
93
se referem à implantação de políticas públicas de apoio às suas
demandas econômicas, sociais e culturais.
95
REFERÊNCIAS
97
______ . Decreto n. 4.886, de 20 de novembro de 2003: Institui
a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
_____ Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003: Regulamenta
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delimitação, demarcação e titulação das terras ocu-
padas por remanescentes das comunidades dos qui-
lombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições
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______ . Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, Institui a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos
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