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CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

Convertei-vos!
O Reino de Deus está
no meio de vós.

Roteiros Homiléticos da Quaresma


Ano B - 2009

Projeto Nacional de Evangelização


O Brasil na Missão Continental
C748c Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Convertei-vos! O Reino
de Deus está no meio de vós: Roteiros Homiléticos da Quaresma
Ano - B - 2009. Brasília, Edições CNBB. 2008.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós: Roteiros
Homiléticos da Quaresma Ano - B - 2009.
64 p.:14x21cm
ISBN: 978-85-60263-56-1
T.Liturgia 2.Quaresma
CDU - 264.941.4

Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Pe. Valdeir dos Santos Goulart
Projeto Gráfico e Diagramação:
Fábio Ney Koch dos Santos
Capa:
Henrique Billygran da Silva Santos
Revisão Doutrinal:
Pe. Wilson Luís Angotti Filho
Revisão:
Lúcia Soldera

12 Edição - 2008

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Sumário
Apresentação ......................r
rr rrreeeerrrernererrrenranrrao 7
Quaresma, um Convite Especial ........... eeeeneneeearenrarerarero 9
Sugestões para as Celebrações
do Tempo da Quaresma ....................
ren 15
Quarta-Feira de Cinzas
25 de feveiro de 2000 ............ececrereernrereareeerenensecenesrasansaresasoa 19

Primeiro Domingo da Quaresma


01 de março de 2009 ..............
e rerrerererenrrrenrenaneraarero 25

Segundo Domingo da Quaresma


08 de março de 2000 ............. er rreereeeerernrrenerreanrananeos 31

Terceiro Domingo da Quaresma


15 de março de 2009 ..............iieriserersrrrenerennrrranrenncrananaas 39

Quarto Domingo da Quaresma


22 de março de 2000 ..............ierrrenerreearrrenereeransenaerennaneos 45

Quinto Domingo da Quaresma


29 de março de 2000 ................eerrrieerrerereerrerreerereearrenos 51
Domingo de Ramos
5 de abril de 2000 .....................
e reerrreeeerrrreenerrerenororenareos 57

Oração da CF 2000 .......................


rr rrrreereerrrersaeeneo 63
Apresentação
Com toda a Igreja iniciamos a caminhada para a Páscoa, aconteci-
mento mais importante da vida cristã e ponto alto do ano litúrgico.
Na quarta-feira de cinzas, um novo apelo à conversão se faz ouvir:
“.. retornai a mim de todo vosso coração...” (Jl 2,12). Recordando
os 40 anos do povo de Deus no deserto em busca de liberdade e
de vida, e os 40 dias de Jesus, também no deserto, na comunhão
com o Pai, acolhendo seu projeto, para realizá-lo, com a entrega da
vida até as últimas consequências, a Quaresma nos impulsiona para
uma renovada adesão a Jesus, tornando-nos autênticos discípulos e
missionários d'Ele, marcando nossas relações pela defesa dos valo-
res que dignificam a vida. Não tendo um fim em si mesma, a Qua-
resma aponta para o horizonte da Páscoa, não só como anseio dos
cristãos, mas de toda a humanidade por reconciliação e paz.
A Constituição Sacrosanctum Concilium — A Sagrada liturgia,
pela qual o Concílio Vaticano II adentrou na Igreja, propõe que na
Quaresma os fiéis ouçam de modo novo a Palavra de Deus, se en-
treguem à penitência, à oração preparando-se para viver com digni-
dade, tão grande mistério: a Morte e a Ressurreição de Jesus. Lem-
bra a Constituição que a penitência não é algo meramente pessoal,
individual, mas social. As práticas quaresmais, com seus ritos pró-
prios, nos fazem mergulhar na experiência de Jesus, para aprender
com Ele, como realizar na vida a Vontade de Deus. Com o evange-
lista Marcos, contemplamos Jesus que foi batizado por João, no rio
Jordão, declarado pela voz vinda do seu como Filho Amado que
agrada ao Pai, assumindo publicamente e solenemente a missão de
anunciar o Reino de Deus. Vamos também nós com Ele ao deser-
to, para renovar nosso compromisso batismal, e pelo jejum e pela
esmola, expressar nossa comunhão e solidariedade com os irmãos
pobres e excluídos da caminhada.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. o EO

No Brasil, a Quaresma e a Campanha da Fraternidade são inse-


paráveis. Este ano, com o tema: “Fraternidade e Segurança Pública”,
e o lema: “a Paz é Fruto de Justiça”, a Igreja acolhe uma vez mais
o clamor que sobe do povo sofrido, com a vida ferida, ameaçada,
banalizada e violentada. Com um grande debate sobre a Segurança
Pública, a Igreja deseja “contribuir para a promoção da cultura de
paz nas pessoas, na família, na comunidade e na sociedade, a fim
de que todos se empenhem efetivamente na construção da justiça
social, que seja garantia de segurança para todos. A paz buscada é a
paz positiva, orientada por valores humanos como a solidariedade,
a fraternidade, o respeito ao 'outro' e a mediação pacífica dos con-
flitos, e não a paz negativa, orientada pelo uso da força das armas,
a intolerância com os “diferentes”, e tendo como foco os bens mate-
riais” (Texto base da CF 2009, n. 04).
Na Conferência de Aparecida, a Igreja no Brasil e no Conti-
nente Latino Americano e Caribenho, recebeu um novo SOPRO
DO ESPÍRITO, que com certeza a tornará sempre mais discípula
missionária, continuando a pessoa e a missão de Jesus. Alimentada
cotidianamente pelo “clima pascal de alegria no Espírito”, realizará
sua missão de proporção continental, o que a levará a dizer sempre
como o Apóstolo das Gentes, “Ai de mim se eu não Evangelizar”.
A Ação do Espírito Santo nos conduza nesta Quaresma, ao
encontro de Jesus Cristo. Segui-lo, amá-lo, adorá-lo, anunciá-lo e
comunicá-lo a todos, não obstante os desafios, seja a nossa maior
alegria e felicidade, o melhor serviço que oferecemos aos nossos
irmãos, a verdadeira conversão (Cf. DAp, n.14).
Nossa gratidão ao padre Marcelino Sivinski, que pela prepa-
ração deste roteiro homilético para a Quaresma — Ano B, cola-
borou para que nossas comunidades vivam o Mistério de Cristo
em sua Páscoa.

t Sérgio Aparecido Colombo


Bispo Diocesano de Paranavaí — PR.
Membro da Comissão Episcopal para a Liturgia
Quaresma, um Convite Especial
Entramos na Quaresma, ouvindo um convite especial do Senhor:
“Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós”.
Convite feito na Quarta-feira de Cinzas para a festa da Vigília Pas-
cal, no Sábado Santo, na celebração solene e bela da Páscoa, memória
da nossa fé, centro do ano litúrgico e da história da humanidade.
Jesus ressuscitou “no primeiro dia da semana” (Mt 28,1). As primei-
ras comunidades começaram a reunir-se todas as semanas para festejar
a vitória de Jesus sobre a morte, no domingo, um dia depois do sábado,
observado pelos judeus como dia de descanso e celebração. À
Ainda bem no começo, os cristãos sentiram a necessidade de
solenizar de maneira muito especial o acontecimento que mudou
os rumos da história, Decidiram fazer, uma vez por ano, uma gran-
de festa, com cuidadosa preparação, para celebrar intensamente a
Páscoa de Jesus Cristo. A maior de todas as festas, a Festa das festas,
o Domingo dos domingos.
Toda festa que se preze merece uma boa e prolongada prepa-
ração. Não podia ser diferente a preparação da festa da Páscoa. São
quarenta dias que, com o tempo, receberam o nome de Quaresma.
Quaresma como caminho para a festa, preparada no coração,
através da oração, do jejum e da caridade. Quaresma como tempo
de conversão e entrada na prática e na solidariedade de Jesus. Não
é um tempo de luto ou tristeza, mas de intensa expectativa e inteli-
gente concentração para viver gostosa e intensamente as alegrias da
Ressurreição do Senhor.
O convite é renovado hoje a toda a comunidade dos batizados:
Convertei-vos! A festa da Páscoa se aproxima. O Reino de Deus está
no meio de vós.

Em que consiste a preparação para a Páscoa?


Desde os tempos mais antigos a Quaresma foi considerada como um
tempo de renovação espiritual, de revigoramento das promessas do
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. RES;

Batismo e fortalecimento interior para o testemunho do evangelho.


Isso através de três práticas muito significativas: a oração, a luta contra
o male o jejum.
A oração como experiência de fé e gratuidade para pedir a Deus
forças e convertermo-nos, para viver o evangelho e permanecer no
bom caminho.
A luta contra o mal como espaço privilegiado de exercício para
dominar as paixões, vencer o egoísmo e cultivar o bem.
O jejum como expressão do seguimento do Mestre que exige
abandono de nós mesmos e doação aos irmãos. O jejum centra-se na
partilha de bens: “Nós vos prescrevemos o jejum, lembrando-vos não
só a abstinência, mas também as obras de misericórdia. Desse modo,
o que tiverdes economizado nos gastos normais, se transforme em ali-
mento para os pobres” (São Leão Magno).
Tudo isso para fazermos da Quaresma uma verdadeira participação
no mistério pascal de Cristo. Sofremos com Cristo para participar de
sua glória e sentir, na vida, a alegria de sua Ressurreição (cf. Rm 8,17).

Quaresma, memória do Batismo


O grande liturgista Bergamini diz que “a Quaresma tem caráter essencial-
mente batismal, sobre o qual se baseia o caráter penitencial. Na verdade,
a Igreja é comunidade pascal porque é batismal. Isso deve ser afirmado
não só no sentido de que nela entramos mediante o Batismo, mas, sobre-
tudo, no sentido de que a Igreja é chamada a exprimir com vida de contí-
nua conversão o sacramento que a gera. Daí também o caráter eclesial da
Quaresma. Ela é o tempo da grande convocação de todo o povo de Deus,
para que se deixe purificar e santificar pelo seu salvador e Senhor”.
Essa afirmação de Bergamini nos mostra a ligação da Quaresma com
o Batismo. Neste tempo, intensificam-se a preparação dos catecúmenos
com a catequese e as celebrações diárias ou semanais com um itinerário
pedagógico e catequético, objetivando ajudar o catequizando a penetrar
nos grandes eventos da história da salvação.

1 Bergamimi, À. Vuarema. JM Dicionário de Liturgia, SP, 1992, P. 984.


PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

Para os batizados, o tempo da Quaresma é sempre uma nova opor-


tunidade de recolocar a vida nos trilhos da Salvação e renovar a aliança
batismal. Tempo de conversão, de aprofundamento da fé e um processo
de crescimento na vida comunitária.

O que é a Quaresma na vida do cristão?


Irmã Penha Carpanedo e Pe. Marcelo Guimarães têm uma explica-
ção primorosa. Escrevem: “Celebrar a Quaresma é festejar o refazer a
aliança de Deus com a gente e que o nosso pecado e nossa negligência
romperam. É renunciar aos nossos instintos egoístas e abrir-nos mais
ao plano do Deus da vida. Celebrar a Quaresma é intensificar a oração,
o jejum e a caridade, para vivermos mais consagrados ao Deus que
nos reconciliou com ele. Celebrar a Quaresma é deixar-se conduzir ao
deserto, para que o Senhor nos fale ao coração. É rever as linhas de con-
duta, corrigir os erros de trajetória, aprofundar a unidade entre nós. É
assumir e reconhecer o negativo, a morte, o sofrimento, para vencê-los
e superá-los. Como o grão de trigo que morre para nascer. Como a mu-
lher que está para dar à luz e sofre as dores do parto. Como a uva que se
esmaga para fazer o vinho que alegra o nosso coração”.
Quaresma é:

à tempo abençoado e privilegiado na vida da Igreja de conversão,


purificação e glorificação do Senhor.
à Tempo de abrir o coração para a novidade do evangelho, tendo
como centro a cruz de Cristo, sinal de salvação e reconciliação
da humanidade.
à Tempo de renovação da aliança, de revitalização das promessas
do Batismo e inserção consciente na comunidade.

à Tempo de envolver-se de corpo e alma na libertação das


pessoas excluídas e oprimidas, vítimas de tanta corrupção,
violência e descasos com a vida.

2 Carpanedo, P. e Guimarães, M. Dia do Senhor - guia para as celebrações das comunidades,


ciclo pascal. SP, Paulinas, 2002, p. 28.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. 14

Tempo de abandonar os ídolos e de renovar a nossa fidelidade ao


Deus de Jesus Cristo por meio da escuta da Palavra e da oração.
Tempo único e precioso de subir com Jesus ao monte Tabor,
de viver na intimidade com Ele, de conhecer seus desígnios.
k Tempo de nos deixarmos acolher e tocar pela misericórdia
do Senhor.
k Tempo de ressuscitarmos com Cristo e nos colocarmos a
serviço de seu Reino.

Quaresma e Campanha da Fraternidade


Trazemos presente as palavras do Secretário Geral da CNBB, Dom
Dimas Lara Barbosa e Pe. José Adalberto Vanzella, secretário execu-
tivo da CF, apresentando o sentido da Campanha da Fraternidade de
2009 dentro do espírito quaresmal:
“Este ano, a Campanha da Fraternidade apresenta-nos como tema
“Fraternidade e segurança pública” e como lema: “A paz é fruto da Justiça
(Is 32,17)”. A CNBB pretende, com esta Campanha, debater a segurança
pública, com a finalidade de colaborar na criação de condições para que o
Evangelho seja mais bem vivido em nossa sociedade por meio da promo-
ção de uma cultura da paz, fundamentada na justiça social.
Diariamente, chegam de todos os cantos do País notícias de in-
justiças e violências as mais diversas. Nossa sociedade se torna cada
vez mais insegura, e a convivência entre as pessoas é cada vez mais
difícil e delicada. A CNBB quer contribuir para que esse processo seja
revertido através da força transformadora do Evangelho. Todos so-
mos convidados a uma profunda conversão, e a assumir as atitudes
e opções de Jesus, únicos valores capazes de garantir, de verdade, a
eficaz construção de uma sociedade mais justa e solidária e, conse-
quentemente, mais segura.
Celebrar a Quaresma implica, também, assumir juntos, num au-
têntico mutirão, como povo de Deus, a busca da paz e da concórdia,
autênticos dons de Deus, mas frutos, também, de nossa co-responsabi-
lidade. A dimensão comunitária da Quaresma é, no Brasil, vivenciada
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

e assumida pela Campanha da Fraternidade. Focalizando a cada ano


uma situação específica da realidade social, a Campanha da Fraternida-
de nos ajuda a viver concretamente a experiência da Páscoa de Jesus na
vida do povo. Ela mantém e fortalece o espírito quaresmal””

Enfim, uma palavra sobre paz e segurança:


“Paz, palavra sagrada, que meus lábios não te pronunciem em vão.
Quero, neste ano, plantar tua semente no terreno fecundo da justiça.
Quero viver num país seguro, mas não a custas apenas de uma
ordem social repressiva. A segurança que almejo para o meu país não
virá nem da adoção da pena de morte nem do exército nas ruas, mas
brotará do pão das mesas, da terra partilhada, do trabalho com digni-
dade, da igualdade de oportunidades, de saúde e educação para todos.
A segurança que desejo virá de um trabalho longo de educação
para uma cultura de paz, que transforme a mente e a prática das
pessoas e grupos, ajudando-os a descobrir os instrumentos da não-
violência e da reconciliação para fazer face à violência e à injustiça.
Quero aquela segurança que seja consequência de um processo
amplo de democratização. A violação é muda e é inerte: só o resgate
pleno da condição humana, do dizer sua palavra e recuperar sua
dimensão política de transformar situações pode ser o suporte de
uma ação eficaz na linha da segurança pública.
A segurança que proponho passa também por uma renovação
e transformação das instituições ligadas à segurança, por uma jus-
tiça mais ágil, por adoção de práticas da justiça restaurativa, pela
mudança do sistema penitenciário, por uma polícia menos militar e
mais cidadã, pelo fim da corrupção.
Quero viver num país onde segurança pública seja também um
ato de fraternidade!”

3 Manual da CF 2009, Edições CNBB, p. 9.


4 Marcelo Irineu Guimarães, prior do Mosteiro da Anunciação, Goiás, in Agenda Litúrgica 2009,
Apostolado Litúrgico e Paulus.
Sugestões para as Celebrações
do Tempo da Quaresma
Sugestões para vivermos bem a Quaresma e fazermos uma boa
preparação para a Páscoa.
1. A oração, o jejum, o silêncio e a solidariedade são inten-
sificados e permeiam todo tempo da Quaresma. São práticas
concretas, exercícios livremente assumidos e alavancam a nossa
preparação para a festa da Páscoa.
2. Na preparação da celebração e da homilia, importa ter sem-
pre alguns cuidados, como: partir dos textos bíblicos e litúrgicos,
num clima de oração e comunhão com Deus, voltado para a re-
alidade que nos cerca e na qual está em realização a páscoa de
Cristo. Uma atenção especial ao povo reunido para a celebração:
sua situação social, suas aspirações e necessidades, suas atividades
profissionais. Tendo presente a natureza e o sentido da celebração
litúrgica, não pode ser dispensada a oração pessoal e a preparação
adequada.
3. O segredo da preparação da homilia e da celebração é o
trabalho e o esforço da equipe de liturgia, num clima orante, na
gratuidade, congregada pelo amor à liturgia e à comunidade, de-
safiada a preparar celebrações vivas, participadas, criativas, ale-
gres e cheias de Deus.
4. A celebração litúrgica torna presente e atual o maior gesto
de amor do Pai para conosco: a cruz e a ressurreição de seu Fi-
lho, que iluminou as trevas e reavivou a esperança de um mundo
novo. Como povo peregrino, comemos de seu pão, antecipando,
na fé, a realização da comunhão entre nós, com a comunidade,
com a humanidade e com Deus.
5. À cruz, pela qual fomos marcados no Batismo, é destacada
no espaço celebrativo. Ela lembra que somos discípulos missioná-
rios de Jesus Cristo. Ele superou o fracasso humano da cruz com o
amor que vence a morte e traz vida em abundância para todos.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. HRS

6. Alguns gestos e ações simbólicas são mais valorizados neste


tempo, como: o ajoelhar-se, o rito de bênção e a aspersão da água
durante o ato penitencial, o silêncio nos momentos previstos, o re-
colhimento, o ato penitencial.
7. Na Quaresma é oportuno usar mais frequentemente as ora-
ções eucarísticas da Reconciliação, as mais indicadas para esse tem-
po, sem esquecer os prefácios próprios que são de uma densidade
pascal muito grande. É bom valorizar ainda as bênçãos previstas
para o final da celebração que se encontram no missal.
8. As cinzas colocadas em nossas cabeças lembram a necessida-
de de conversão e de fé no evangelho. Recebendo-as, reconhecemos
que somos pó.
9. Preparação do espaço litúrgico levando em conta o tempo
quaresmal: o ambiente despojado e austero, valorizando o que é
essencial para a celebração do mistério de Cristo, ou seja, o altar,
o ambão (de onde se proclama a Palavra), a cadeira presidencial e a
pia batismal.
10. O cartaz da CF seja apresentado no momento da abertura
oficial da Campanha e depois fixado na entrada da igreja ou em lo-
cal que possa ser bem visualizado. Não é aconselhável fixar o cartaz
no altar ou no ambão (mesa da Palavra).
11. Tudo é importante na celebração, pois nós celebramos a li-
turgia com palavras, gestos, cantos e orações. Celebramos com nos-
so COrpo, com nossos sentimentos, com nossa atitude espiritual. É
importante integrar tudo isso no mistério que estamos celebrando.
12. É sumamente aconselhável “cantar a liturgia da Quaresma,
com cantos próprios para este tempo e para cada parte da celebra-
ção. Temos cantos propostos pelo Hinário Litúrgico da CNBB, vo-
lume II. Muitos desses cantos estão gravados nos CDs Liturgia X/II
e X/V da Paulus.
13. Logo após o sinal da cruz e a saudação de quem preside,
é aconselhável fazer uma recordação da vida, lembrando fatos e
acontecimentos da comunidade, da cidade, da Igreja e do mundo,
para mostrar que nessa história está em realização a Páscoa de
RÉ PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

Cristo que celebramos na liturgia e tem sua expressão máxima na


Vigília Pascal.
14. Fazer, durante a homilia, a ligação da Palavra com a ce-
lebração que se está realizando. Cada celebração é ação de graças
ao Pai por seu Filho, Jesus. Ele não se apegou ciosamente à sua dig-
nidade e nos entregou sua vida, obediente e fiel ao mandamento do
Pai. Entrando em comunhão com este mistério, o Espírito Santo
nos torna atentos e disponíveis à vontade do Pai.
15. É muito oportuno e salutar, no tempo da Quaresma, valori-
zar e promover as celebrações penitenciais com ou sem a absolvição
sacramental. O Ritual da Penitência oferece várias alternativas.
16. Um breve silêncio entre as leituras e após a homilia permite
que o diálogo entre Deus e seu povo atinja mais profundamente
cada pessoa.
17. A cor litúrgica para a Quaresma é a roxa, que expressa a di-
mensão maior de penitência e de disposição à conversão.
18. Lembrar à assembléia, no momento oportuno, o compro-
misso da coleta como participação consciente na Campanha da Fra-
ternidade. A Campanha da Fraternidade é inserida na Quaresma
como exercício de partilha, participação na evangelização e expres-
são de conversão e mudança de vida.
Quarta-Feira de Cinzas
25 de fevereiro de 2009

Leituras: Joel 2,11-18; Salmo: 51(50), 2-4.6a.12-14-17;


2 Coríntios 5,20-6,2: Mateus 6,1-6; 16-18

A Celebração das cinzas é anúncio da Páscoa

Situando-nos

Na Quarta-feira de Cinzas, iniciamos a Quaresma, preparação para


a festa Pascal. O rito da imposição das cinzas lembra as palavras de
Jesus: “convertei-vos e crede no evangelho”. Receber as cinzas sig-
nifica confirmar nossa fé na Páscoa de Cristo, na reconciliação, na
esperança de um dia estar ressuscitado com Ele.
Nesse tempo, voltamos especialmente o coração para o Senhor.
Permanecemos atentos à sua Palavra, em atitude de conversão sin-
cera, em espírito de penitência, no cultivo da oração, na prática da
caridade e do jejum em busca da santidade. Jejum é sinal de dispo-
nibilidade e solidariedade, de entregar-se nas mãos de Deus.
Quaresma é tempo de volta confiante ao Senhor: “O Deus, vós
tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: per-
doais nossos pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso
Deus” (Antífona da missa de hoje).
A comunidade recolhe-se e concentra-se na meditação da Palavra
de Deus para encontrar forças e inspiração no anúncio do evangelho,
pois está inserida em um mundo onde existem milhões de pessoas
passando fome, onde a violência ceifa tantas vidas e a desigualdade
social é uma triste realidade que afronta o coração de Deus.
Entramos na Quaresma em comunhão com todas as comuni-
dades que rezam com a Igreja no Brasil e assumem as propostas da
Campanha da Fraternidade.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. 8)

Celebramos o convite que o Senhor nos faz à conversão e à vida


nova, ouvindo sua Palavra e deixando que Ele nos purifique e nos en-
vie para junto dos necessitados de paz, pão, segurança e vida digna.

Recordando a Palavra

O profeta Joel descreve a praga dos gafanhotos que assola a terra


de Judá e devasta toda a plantação. A praga é considerada como
sinal de Deus para dizer que está próximo o dia de Javé. O profeta
aproveita a ocasião para refletir com o povo sobre o acontecido.
Incentiva-o a cuidar da terra devastada e convoca a todos à conver-
são, à penitência e à mudança de vida.
Mas como entender tudo o que aconteceu e retomar o cami-
nho que leva ao Senhor? O profeta pede uma renovação interior
que nasça das profundezas do nosso ser. Não pode ser algo exterior,
aparente e sem conseqjiiências práticas. Importa que o homem todo
se volte para Deus. Confiando na misericórdia de Deus o pecador
pode estar certo do perdão.
O Salmo 51 é uma oração confiante do pecador arrependido e
disposto a retomar o bom caminho. Deus nos purifica e nos lava de
todo o pecado. Só com as nossas forças nada podemos. Contudo,
urge reconhecer nosso pecado e nos dar conta de nossa maldade. O
verdadeiro culto e o perfeito sacrifício consistem no coração puro e
honesto. Reconheçamos nosso pecado e peçamos que Deus renove
nosso coração e imprima em nós seu Espírito de santidade.
Paulo nos coloca frente a Jesus Cristo, aquele que nos reconcilia
com Deus. A pregação, no contexto dos conflitos existentes na co-
munidade e das dificuldades de aceitar o apóstolo em Corinto, é um
convite, uma exortação e uma oração para acolher, na vida, o dom
da reconciliação. Recorda que essa é a hora oportuna e o momento
favorável da salvação.
No evangelho, no contexto do sermão da montanha, Jesus nos
fala ao coração, lembrando a transparência, a veracidade de nossos
E PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

atos, a sinceridade do coração e a honestidade de nossas práticas. Jesus


dá um conselho de ouro: que, na medida do possível, só o Pai veja e
saiba o bem que fazemos. Aí está o segredo do homem justo e santo.
A esmola, o jejum e a oração são conselhos muito antigos e con-
siderados um caminho de ascese espiritual. Eles sempre foram reto-
mados pelos mestres nos ensinamentos aos seus discípulos e segui-
dores. Jesus não faz diferente, porém tem consciência muito clara
que eles não são suficientes e, em muitos casos, podem nos desviar
do que é essencial. Por isso, ele os coloca na relação profunda e de
intimidade na comunhão com o Pai e com seus desígnios.
Jesus deixa muito claro que é preciso libertar-se de vaidades e das
aparências, como “praticar a justiça só para ser visto pelos outros”.
Ele insiste: tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita; entra
no teu quarto e fecha a porta; perfuma a cabeça e lava o rosto...”.

Atualizando a Palavra

Atualizar a Palavra significa acolhê-la em nossas vidas e permitir


que ela realize em nós a salvação, em meio às diferentes realidades
e situações que nos é dado viver e experimentar.
Isso supõe abertura do coração aos apelos do Senhor e mergu-
lho na realidade social, política, econômica e cultural. Atualizar a
Palavra significa não só buscar um sentido para tudo que acontece
ao nosso lado, mas torná-la Palavra de Salvação, de Vida, de Ressur-
reição, de Comunhão com o Pai, na força do Espírito Santo.
No início da Quaresma é preciso tomar consciência que um dia
acontecerá o julgamento de Deus que é paciente e misericordioso,
mas também exigente e ciumento: quer que façamos o jejum sa-
grado e estejamos congregados em assembléia para a celebração da
liturgia, com a prece calorosa na boca dos ministros: “Perdoa, Se-
nhor, a teu povo, e não deixes que essa tua herança sofra infâmia”.
Da carta aos Coríntios deduzimos que a Quaresma, com as nos-
sas práticas e opções de vida, é momento propício de nossa salvação.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. [2

Importante nos deixarmos reconciliar com Deus. Deus respeita


nossa liberdade e pede nossa colaboração para não recebermos em
vão a sua graça.
No tempo da Quaresma somos instados a rever nossa atitude
frente à esmola, à justiça, à oração e à caridade no contexto da his-
tória da salvação e frente aos milhões de irmãos que passam tantas
necessidades. Esmola, justiça e caridade colocam-se em meio à res-
posta dada à pergunta: o que podemos e devemos fazer por eles e
com eles para garantir uma vida digna para todos?
As cinzas lembram o que somos — pó e ao pó voltaremos — mas
a misericórdia do Senhor é imensa. A Quaresma, na graça do Se-
nhor, é um grande retorno ao primeiro amor e uma profunda puri-
ficação das nossas vidas na concretização da solidariedade.

Ligando a Palavra com a ação eucarística

O grande desafio da Quaresma é cada um conscientemente assu-


mir o compromisso de fazer uma caminhada séria, honesta, pro-
vocadora de mudanças em sua vida. Isso é graça de Deus e decisão
pessoal.
Jesus, no início deste tempo litúrgico, nos mostra a firme
decisão de realizar a vontade do Pai e reconciliar a humanidade
com Ele. A força da sua páscoa é lembrada e atualizada em cada
liturgia e vivenciada profundamente neste tempo de preparação
pascal. Na celebração, nos tornamos muito íntimos de Jesus e de
seus gestos, palavras e ações e também do mistério do Pai que
ele nos revela.
A celebração tem uma força pedagógica muito forte para que
tudo isso aconteça. A proclamação da Palavra é Deus mesmo fa-
lando ao seu povo, convocando-o a uma vida melhor, mais justa,
mais santa e solidária. A comunidade reunida é composta de pesso-
as amadas por Deus, sedentas de paz e necessitadas de perdão e re-
conciliação. As preces e os cantos são clamores nascidos no coração
E] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

das pessoas em busca de Deus e de sua misericórdia. A preparação


da mesa é a explicitação do sonho profundo da refeição comuni-
tária, do pão partilhado, dos bens condivididos e da fraternidade
entre os povos. À prece eucarística, memorial da Páscoa, canta as
maravilhas do Senhor realizadas na pessoa de Jesus Cristo e hoje
oferecidas para nós, povo sacerdotal, raça eleita, povo chamado a
ser discípulo missionário nas veredas do mundo. O pão eucarístico,
repartido para a comunhão de todos, realiza na Páscoa do Cordei-
ro a profunda comunhão entre nós, fazendo-nos um só corpo em
Cristo, presença do Ressuscitado, a serviço da vida de todos, espe-
cialmente dos mais pobres e necessitados.

Sugestões

1. Preparar as cinzas antecipadamente, se possível com os ramos


entregues no Domingo de Ramos do ano anterior. As cinzas e os
recipientes com água para a aspersão devem ser colocados numa
mesa à parte ao lado do altar. Cuidar para que o recipiente onde
estarão as cinzas seja bem visível para a assembléia.
2. Fazer a procissão de entrada com o presidente, os ministros
ou equipe de liturgia e a participação de um grupo de pessoas, le-
vando o cartaz da Campanha da Fraternidade e outros símbolos
quaresmais. Após a saudação inicial, pode acontecer o lançamento
da Campanha da Fraternidade, com a explicação dos objetivos e
das ações a serem realizadas. O lançamento pode também ser feito
durante ou logo após a homilia.
Primeiro Domingo da Quaresma
01 de março de 2009

Leituras: Gênesis 9,8-15; Salmo 25(24) 4bc-5ab.6-7bc.8-9;


1 Pedro 3,18-22; Marcos 1,12-15 (Tentação de Jesus)

Convertei-vos e crede no evangelho

Situando-nos
Na Quarta-feira de Cinzas iniciamos a Quaresma - tempo de pre-
paração da comunidade e de cada cristão para a celebração Pascal,
centro da vida cristã e do Ano Litúrgico. Quaresma é caminho
marcado pela conversão através da oração, da escuta da Palavra de
Deus, do jejum, da esmola e de gestos concretos de caridade. Com
Jesus vamos ao deserto: o tempo já se completou e o Reino de Deus
está no meio de nós. Importa que o Reino, que nos é dado viver e
construir, se realize em nossas vidas e na história. Na Vigília Pas-
cal, celebraremos em Cristo e com Cristo a vitória sobre a morte, o
pecado, a violência, a prepotência, o egoísmo e a auto-suficiência.
Nesse tempo, mora, em nosso coração, a oração do salmista: Quan-
do meu servo chamar, hei de atendê-lo, estarei com ele na tribula-
ção. Hei de livrá-lo e glorificá-lo e lhe darei longos dias (antífona de
entrada, Sl 90,15-16).
O Documento de Aparecida insiste na conversão para a
missão. O Projeto Nacional de Evangelização, o Brasil na Mis-
são Continental, nos conclama a ...incentivar o processo de con-
versão pessoal e pastoral ao estado permanente de Missão para a
Vida plena.
No horizonte maior do caminho da Quaresma está o tema
da Campanha da Fraternidade: Fraternidade e Segurança Pública,
evocando o profeta Isaías: A paz é fruto da justiça (Is 32,17).
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. Z 0:

Recordando a Palavra
As leituras bíblicas propostas para esse domingo nos apresentam a
destruição do mundo dominado pelo mal e pela morte e nos apon-
tam o surgimento de um novo mundo e o nascer de uma nova so-
ciedade. Na primeira leitura, o dilúvio que purifica o mundo do mal
e faz surgir uma nova humanidade com o símbolo da paz plantada
na gratuidade da aliança que Deus faz conosco. No Salmo, Deus
eternamente fiel e amoroso mostra-se como o Deus da salvação. Na
segunda leitura, a água do dilúvio é símbolo do Batismo. Pelo Ba-
tismo, mergulhados na morte e ressurreição de Cristo, renascemos
para uma vida nova e nos tornamos homens novos. No evangelho,
Jesus está no centro de toda renovação e vida nova. Em sua vida
sempre derrotou o mal e venceu o pecado. É o novo Adão que nos
introduz na humanidade renovada.
Na leitura do Gênesis, encontramos uma história muito antiga.
Está na Bíblia porque tem ensinamentos muito importantes. Deus
não castiga os homens. Somente tem amor por eles e os quer felizes.
Deus não fica indiferente diante das ações e projetos dos homens.
Suas obras boas e também maldades, egoísmos e injustiças não pas-
sam despercebidos diante de Deus. Como Pai, intervém para criar
uma nova sociedade. O dilúvio não é um desastre provocado por
Deus, mas um retrato da ruína que os pecados provocam. A Bíblia
fala em castigo, pois, naquele tempo, as pessoas assim se expressa-
vam e atribuíam a Deus os fenômenos da natureza.
No texto do Gênesis, ainda há outro ensinamento: Deus nun-
ca silencia diante do mal e da injustiça, mas age para reconciliar e
renovar. Deus faz aliança com a humanidade num gesto de gra-
tuidade. Ele sabe que somos pecadores. Mesmo assim nos ama e
nos transforma em novas criaturas. O arco-íris, símbolo da aliança,
significa a paz entre o céu e a terra, o abraço entre Deus e a huma-
nidade. Arco-íris: simbolo da salvação oferecida a todos os homens
em todos os tempos.
Na Primeira Carta de Pedro aparece a ligação das águas do di-
lúvio com as águas do Batismo. Os efeitos da água do dilúvio es-
EJA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

tão presentes, simbolicamente nas águas do Batismo: destruição


do homem antigo e nascimento do homem novo. É Jesus Cristo, o
Ressuscitado, que comunica pela água do Batismo a força capaz de
destruir o pecado e a morte e nos ressuscitar para uma vida nova.
Ser batizado significa entrar na Igreja, comunidade dos redimidos.
No evangelho, são descritas as tentações de Jesus no deserto.
Mas a pergunta é: o que Jesus nos quer ensinar com este evangelho
no início da Quaresma? O Espírito, logo depois de descer sobre Je-
sus no Batismo das águas do Jordão, o envia para o lugar da tenta-
ção. Tudo acontece no deserto durante 40 dias. Aqui, por tentação
deve se entender as situações que temos que viver ou enfrentar, nas
quais precisamos fazer opções e escolhas. São ocasiões e oportuni-
dades para fortalecer a fé e professar nossa fidelidade.
No Batismo recebemos o Espírito Santo, o mesmo Espírito que
animava Jesus. Isso não significa que estejamos livres de dificulda-
des e provações. O Espírito nos impele e fortalece para sermos dis-
cípulos missionários no deserto da vida, nos conflitos da sociedade,
nas lutas por justiça e pão.
Jesus é tentado no deserto durante 40 dias. É uma maneira
simbólica de falar. Quarenta dias quer dizer uma vida inteira, de
manhã à noite, em todas as circunstâncias. Deserto, na linguagem
antiga, era o local onde moravam os inimigos do bem. Marcos quer
mostrar que Jesus, ao sair das águas do Jordão, batizado por João
Batista, teve que viver em luta permanente durante toda sua vida
contra as propostas do inimigo, contrárias ao Plano de Deus.
Jesus experimentou na carne o sofrimento, a rejeição, o ódio
dos inimigos, as ciladas dos adversários, por isso, o cristão nunca
deve se sentir sozinho. Em nós também atua a força do Espírito.
No evangelho, há um acréscimo curioso: “Jesus estava na com-
panhia de animais selvagens e os anjos o serviam” (Mc 1,13). Isso
lembra Adão no paraíso, que vivia na companhia dos animais. Le-
mos em Isaías que um dia a paz universal voltará: “Então, o lobo
será hóspede do cordeiro, e a pantera se deitará ao pé do cabrito,
a criança de peito brincará junto à toca da víbora...” (Is 11,6-8).
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós.

O evangelista coloca em confronto as consequências do pecado de


Adão e a vitória de Jesus sobre o mal. A desobediência do primeiro
homem trouxe a dor, a fome, a guerra, a corrupção, a violência e a
desunião. A obediência de Jesus deu início à nova criação e à cons-
trução de um novo paraíso.

Atualizando a Palavra

No final do evangelho está o resumo da pregação de Jesus: “Comple-


tou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: fazei penitência e
crede no evangelho” (Mc 1,14-15). Este é um convite concreto e pes-
soal de Jesus dirigido a todos. A sociedade onde as pessoas se com-
portam como animais selvagens e ferozes chegou ao fim. Chegou o
momento de mudar, abrir o coração para o novo e acolher com ale-
gria a proposta de Jesus. Quaresma é para isso. É um caminho rumo
à Páscoa reassumindo nosso Batismo. Isso exige conversão. É preciso
acreditar na boa notícia: que Jesus pode nos redimir e salvar.
Na Vigília Pascal ouviremos: “Meus irmãos e minhas irmãs,
pelo mistério pascal fomos no Batismo sepultados com Cristo para
vivermos com ele uma vida nova. Por isso, terminados os exercícios
da Quaresma, renovemos as promessas do nosso Batismo, pelas
quais já renunciamos a Satanás e suas obras, e prometemos servir a
Deus na Santa Igreja Católica.”
Esse é o resumo da caminhada quaresmal. Portanto, é preciso
colocar-se a caminho: intensificar a vida cristã, ouvir a Palavra de
Deus, dedicar mais tempo à oração e ao jejum, converter-se ao Se-
nhor e aos irmãos.
Jesus no deserto, vencedor das tentações, é a luz a iluminar o
nosso caminho. “Arrependei-vos e acreditai no evangelho” é o roteiro
do nosso retiro quaresmal.
Na Quaresma há um convite gratuito de Deus. Oportunida-
de de renovar a nossa aliança batismal. Tempo de cultivo da nossa
identidade cristã.
[2 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Ê por demais significativa a reunião da comunidade, no Dia do Senhor,
para fazer memória de Jesus no deserto e com ele iniciar a peregrinação
quaresmal. Aí se toma consciência da sua missão no mundo com tantas
provocações, tentações e desafios. Faz a ligação da vida com a liturgia.
É aí que a comunidade é chamada a celebrar a prática de Jesus e assu-
me construir a nova sociedade. Sim, ela se reúne no deserto do mun-
do com Jesus, que foi tentado pelo demônio. Aí ela ouve a Palavra de
Deus. A partir da Palavra e com a Palavra de Deus sofre as provações e
é chamada a vencer as tentações de Satanás. Confessa sua confiança no
Senhor. Deixa-se impregnar pela força pascal do Ressuscitado. Prepara
a mesa da Eucaristia para avivar, em seu coração, o compromisso de
lutar pelo pão para todos. Canta os louvores do Senhor para dizer que a
vida está ligada a Ele. Na alegria, promete servir gratuitamente a todos.
Reza o Pai Nosso, ao redor da mesa da Eucaristia, proclamando Deus
como Pai e aceitando a todos como irmãos e companheiros de jornada.
Alimenta-se do pão e do vinho, Corpo e Sangue dele entregues para a
salvação do mundo, para assimilar, em seu ser e em suas atitudes, as
posturas e práticas de Jesus, sempre fiel ao Pai.

Sugestões

1. Onde for possível, a comunidade se reúne ao redor de uma gran-


de cruz, na frente da igreja ou em outro lugar adequado. Quem
preside faz a saudação inicial e dá o sentido da celebração, convida
a comunidade a fazer a caminhada quaresmal, a assumir os apelos
de conversão em sua vida pessoal, familiar, social e comunitária. A
seguir, a comunidade faz a procissão de entrada, entoa um canto
que expresse a caminhada rumo à Páscoa e carrega a cruz que será
colocada num lugar de destaque, previamente preparado.
2. Acolher com carinho o Livro da Palavra de Deus, entoando
ou repetindo o refrão: “Não vivemos só de pão, mas do que o Se-
nhor falou” (ou outro refrão).
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. EM

3. Integrar a renovação das promessas batismais com as preces,


tomando presentes as tentações de hoje. Como sugestão:
Pres.: Irmãos e irmãs, neste primeiro domingo da Quaresma,
Jesus nos ensina a renunciar a tudo o que não é de seu Reino. Faça-
mos também nossas renúncias dizendo:
Todos: Queremos renunciar.

dh Ao consumismo exagerado e ao acúmulo de riquezas.


Da À corrupção, à mentira e à falsidade.
Ao apego ao dinheiro, aos bens e às vaidades do mundo.
À busca de prestígio, de poder e de privilégios.
Às drogas, ao fumo e a tudo que destrói vidas.
Ao supérfluo e ao desnecessário.
À ganância, ao orgulho e à prepotência.
À busca de dinheiro a qualquer preço.
À pornografia e à prostituição.
À destruição da natureza e à poluição das águas.
Ao desperdício de alimentos.
Segundo Domingo da Quaresma
08 de março de 2009

Leituras: Gênesis 22,1-2a.10-13.15-18; Salmo 115(116),10.15.16-17.18-19


(R/. Sl 114,9) Rm 8,31b-34; Marcos 9,2-10 (Transfiguração)

A salvação é oferecida a todos os homens

Situando-nos
Estamos no segundo domingo da Quaresma. Lentamente avança-
mos para a solene celebração da Vigília Pascal. À luz do evange-
lho da Transfiguração, somos convidados por Deus a um tempo
especial de conversão, de mudança de caminhos. Ao nosso redor,
tantas coisas mexem com o coração e desafiam a nossa fé. Tan-
tas pessoas que se afastaram das nossas comunidades. Milhões de
crianças que moram nas ruas, na mais triste pobreza. Tantos jo-
vens entregues às drogas. É incontável a fila de irmãos e irmãs que
passam fome e não têm casa para morar. Entre os poderosos e do-
nos do dinheiro imperam o egoísmo, a concentração de poder e os
privilégios. São milhões os sobrantes e excluídos da mesa da vida,
no dizer dos Bispos em Aparecida. O que essa situação tem a ver
com a nossa preparação para a festa da Páscoa e com o evangelho
da Transfiguração de Jesus? Esta realidade é uma denúncia muito
séria: porque ainda não somos plenamente convertidos ao Reino,
existem milhões na pobreza.
O projeto do Brasil na Missão Continental, a Campanha da Fra-
ternidade sobre Segurança Pública e as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora querem inspirar uma ação fraterna, solidária e profé-
tica para mudar ou transfigurar em Cristo essa triste e dura realidade.
Com o sofrimento e o grito dos pobres, nos aproximamos hoje da
comunidade reunida e nos colocamos em oração diante do Senhor,
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. RES

trazendo nos lábios uma súplica: “Lembrai-vos, Senhor, de vossa mi-


sericórdia e de vosso amor, pois são eternos. Nossos inimigos (a fome,
a injustiça, a violência, a acomodação, o egoismo..) não triunfem so-
bre nós: Libertai-nos, ó Deus, de toda angústia”.
Lembremos, hoje, com carinho muito especial, o Dia Interna-
cional da Mulher.

Recordando a Palavra
No livro do Gênesis, há uma pergunta intrigante: como é possível
Deus pedir a um homem que sacrifique seu filho? A Bíblia, escrita
há milhares de anos, nos obriga a recordar o modo de pensar das
pessoas daquele tempo.
Por exemplo, “Deus falou para Abraão”. Foi certamente um
pensamento ou conclusão de Abraão que, em dado momento de
sua vida, achava que Deus exigia dele o sacrifício de seu filho. Hoje,
nos perguntamos: será possível que um pai seja tão cruel com seu
filho? No tempo de Abraão, contudo, era costume oferecer aos deu-
ses os próprios filhos, queimando-os em fogueiras.
Na verdade, o texto quer nos mostrar que Deus condena o cos-
tume pagão de sacrificar crianças. Ele é o Deus da vida e não da
morte. Os ídolos é que exigem sacrifícios humanos e não o Deus de
Israel. Por causa do deus mercado, cujas catedrais são os shoppin-
gs, cuja espiritualidade é o consumismo, cujo culto é o lucro, cujo
coração é o dinheiro e não a pessoa humana, morrem no mundo,
diariamente, milhares de pessoas por fome e violência.
O texto ressalta a fidelidade de Abraão. Ele acreditou profun-
damente em Deus: abandonou sua terra; deixou a segurança e a
comodidade que encontrava na família; dispensou a proteção que
possuía em sua tribo e na organização da sociedade. Deixou tudo,
cortou os laços com o passado, partiu para uma terra longínqua,
porque tinha certeza que Deus lhe daria uma descendência nume-
rosa. E como resultado, dele nasceu um novo povo que caminha
movido pela fé.
sf PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

O texto da carta aos Romanos confirma a aliança de Deus com


Abraão e a humanidade: a salvação é oferecida a todos os homens,
por isso, Paulo proclama bem alto: “Se Deus está conosco, quem
será contra nós”? No contexto, está a multidão dos pecadores para
serem julgados. Eles reconhecem os seus pecados. Tremem de
medo. Mas eis a surpresa: ninguém aparece para acusá-los e nin-
guém se levanta para condená-los ou destruí-los.
Deus, aquele que tudo conhece e tudo sabe, é o único capaz de
lavrar a sentença condenatória. Mas não os acusa nem os condena,
porque entregou o seu Filho para salvá-los. E vamos mais longe: Je-
sus também não os condena. Jesus morreu para destruir os pecados e
libertar os pecadores.
No evangelho, na narrativa da Transfiguração, Jesus sobe com
três discípulos para um monte muito alto, num lugar solitário. São
os mesmos que irão testemunhar a sua agonia no Getsêmani. Na-
quele tempo, quando os mestres tinham coisas importantes a co-
municar aos seus discípulos, retiravam-se para lugares reservados
e afastados. Jesus age assim e, no final da narrativa, faz a recomen-
dação importante: que o acontecido não seja divulgado. No Sinai,
Moisés sobe sozinho para se encontrar com Deus. O povo fica lá
embaixo. Moisés também leva pessoas importantes: Aarão, Abiu,
Nadab... O lugar das manifestações de Deus não devia ser acessível
a todos. Para a aproximação dos lugares das manifestações do Se-
nhor, exigia-se santidade, justiça, fidelidade...
Na montanha acontecem os encontros de Deus com o povo,
suas grandes manifestações. Moisés e Elias receberam manifesta-
ções de Deus numa montanha. Montanha é, lugar simbólico da ex-
periência de comunhão ou de intimidade com Deus.
Jesus deixa a planície, lugar que pode ser entendido como onde
se vive na rotina, na lógica do mercado, nos conflitos de interesses,
princípios que não casam com os desígnios de Deus Pai e geram a
fome, a violência, a guerra, as destruições....
Jesus sobe com os três discípulos e os introduz na lógica do
Reino. Introduz os discípulos em seus pensamentos e sentimentos
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. [5 |

mais secretos. Quer que eles entrem mais profundamente nos in-
sondáveis desígnios do seu Pai sobre a vida e a missão do Messias.
As vestes brancas indicam quem é Jesus. Para os israelitas a cor
branca é símbolo de Deus e sinal de festa, alegria e felicidade.
Elias e Moisés, dois ícones no Antigo Testamento. Elias, profe-
ta, líder, recordado na história como homem de Deus e tido como
aquele que não morreu, mas foi arrebatado aos céus, é lembrado
como aquele que um dia voltará para apresentar o Messias a seu
povo. No texto, ele aparece para mostrar Jesus, o Messias espera-
do. Moisés está na Transfiguração porque antes de morrer dissera:
“O Senhor teu Deus te suscitará dentre os teus irmãos um profeta
como eu: é a ele que deveis ouvir” (Dt 18,15). Está na montanha
para testemunhar que Jesus é quem fala em nome de Deus, o pro-
feta por excelência.
As tendas têm um significado especial. Todos os anos celebrava-
se a festa das Tendas no encerramento das colheitas. O povo cons-
truía tendas para lembrar a passagem pelo deserto. Era de fato uma
grande festa. Ela continha também uma inspiração voltada para o
futuro: o dia da chegada do Messias, quando todos os povos da terra
se encontrariam em Jerusalém para celebrar juntos a festa das ten-
das (Zc 14,16-19).
Pedro, ao falar das tendas, refere-se a este futuro e a esta festa.
Aposta na chegada do Reino de Deus: época de descanso e da festa
perene, prometida e anunciada pelos profetas. Escapa-lhe, porém,
um dado fundamental: ele pensava que seria possível entrar na festa
e no Reino de Deus sem passar pela doação da vida, sem passar pela
cruz e pelo caminho de Jesus. Marcos observa: “Ele não sabia o que
estava dizendo, porque tinha sido tomado de medo”.
A nuvem e a sombra são imagens conhecidas no Antigo Tes-
tamento para indicar a presença de Deus. No evangelho de hoje
temos: da nuvem sai uma voz, ou seja, para dizer que Deus estava
presente, agindo no acontecimento da Transfiguração.
ER) PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

Atualizando a Palavra
Pelo Batismo, nós constituímos esse novo Povo de Deus, que ca-
minha para a “Terra Prometida”, onde haverá fartura de bens, sufi-
ciente para saciar a todos.
A fé experimentada por Abraão é proposta hoje aos catecúme-
nos. Chamados a serem discípulos missionários, devem abandonar
muitas coisas: o consumismo, o individualismo, a auto-suficiência,
a mediocridade, a passividade e muitas atitudes incompatíveis com
o evangelho.
Aos que estão no catecumenato, Deus faz grandes e solenes
promessas: a paz, o perdão, alegrias, serenidade, bênçãos, acolhida
na sua misericórdia.... Mas, de repente, aparecem as desilusões, as
horas difíceis e as noites muito escuras, momentos de abandono,
nos quais parece que Deus não está presente e não cumpre tudo
que prometeu.
Da experiência concluímos: das coisas maravilhosas que Deus
nos prometeu percebemos, muitas vezes, apenas pequenas realiza-
ções. Aparecem apenas sinais da nova realidade que está surgindo.
No meio dos grandes sofrimentos, só temos pequenos consolos. E
aí vem a pergunta provocadora: nestes momentos, conseguimos
nos alimentar na fé de Abraão? No momento em que as esperanças
somem, continuamos acreditando em Deus? Contudo, Deus nunca
nos abandona, é sempre fiel e sempre está confirmando suas pro-
messas. Nós muitas vezes não conseguimos perceber isso.
Na leitura da carta aos Romanos, aprendemos que o amor de
Deus Pai é imenso, gratuito, generoso, infinito e que não pode
ser destruído por nenhuma quebra da aliança ou infidelidade
por parte do ser humano.
A narrativa da Transfiguração está no centro do evangelho de
Marcos. O evangelista quer responder a uma pergunta bem con-
creta: Quem é Jesus? (Mc 1,27; 4,41; 6,2-3). O povo vai descobrindo
que ele é o Messias. Mas não um Messias milagreiro, rei glorioso,
vencedor, rico, poderoso, capaz de mudar rapidamente a condição
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. pl)

da humanidade e fazer acontecer num rito mágico a presença do


Reino. Pedro na montanha tem essa idéia e acredita que o Reino,
simbolizado nas três tendas, pode acontecer sem a doação, sem
sacrifícios, sem a morte e a entrega da vida. Esquece que, para cons-
truir o Reino, que Jesus na transfiguração deixa entrever, é necessá-
rio passar pelo sacrifício da própria vida.
Hoje, nas filosofias do mundo, somos contaminados por falsas
expectativas presentes na conversa de Pedro na montanha. A fé é
entrada nos desígnios de Deus que resulta na solidariedade com to-
dos os excluídos e abandonados. O gesto e a expressão da fé aconte-
cem na doação, na perspectiva de Jesus. A doação na força da páscoa
de Jesus nos transfigura por dentro e por fora. Transforma a situa-
ção e a realidade dos abandonados e dos privados do necessário para
viver e cantar a vida: pão, terra, casa, salário digno, respeito e amor
pela vida...
A fome do irmão, as crianças abandonadas nas ruas, as violên-
cias ao ser humano, são chamadas de Jesus para subirmos com ele a
um monte alto e entrarmos nos desígnios de Deus Pai e descermos
da montanha e fazermos a nossa parte. Páscoa é isso: passagem de
situações de menos vida para situações de mais vida, de situações
de pobreza e miséria para uma vida digna, bonita, feliz e realizada
para todos os seres viventes.
Hoje, na montanha, inspirados no acontecimento da Trans-
figuração rezamos: Ô Deus, que nos mandastes ouvir o vosso
Filho amado, alimentai nosso espírito com a vossa Palavra, para
que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão
de vossa glória.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Toda vigília implica concentração e austeridade. A Quaresma é
tempo de bênção e conversão, é preparação e espera que se situa
num clima muito especial de busca do Reino de Deus.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

Os textos bíblicos de hoje nos levam ao encontro com Deus e


nos apontam o caminho da doação e da solidariedade como cami-
nhos de nossa Transfiguração, Ressurreição e Salvação.
Na celebração da comunidade reunida, revivemos intensa-
mente os desafios da fé de Abraão, entramos no coração de Paulo,
bendizendo a ação de Deus em nosso favor e subimos com Jesus
a um monte alto. Estamos envoltos nas nuvens e nas sombras da
misericórdia do Senhor. Nossa atitude é permitir que o Senhor nos
transfigure e fortaleça. Com essa intenção, preparamos a mesa das
oferendas e participamos do hino de ação de graças. Na comunhão,
comungamos com o sentimento e a entrega de Jesus para que todos
os pobres, excluídos e sobrantes sejam acolhidos, amados e saciados
na grande festa das tendas, a festa do Reino.
Na celebração, a ação pascal de Jesus Cristo nos transfigura e
nos leva a descer da montanha para transformar o mercado da ló-
gica do capital e ressuscitar tantos abatidos pela fome e recriar o
mundo de modo que não haja tantas crianças jogadas na miséria.

Sugestões

1. Preparar bem o espaço celebrativo, dando destaque a três símbo-


los fortes: a cruz, a caminhada e a luz.
2. Se possível, reunir o povo fora da igreja, fazendo uma aco-
lhida muito fraterna. A equipe de celebração vai acolhendo a cada
um com um abraço ou aperto de mão. Podem ser distribuídas velas
acesas, enquanto se entoam refrões quaresmais.
3. Após o sinal-da-cruz e a saudação, fazer uma recordação da
vida, tornando presentes as realidades que hoje precisam ser trans-
figuradas, transformadas, especialmente em relação ao tema da
Campanha da Fraternidade. Em seguida, com as velas acesas, ini-
ciar a procissão para o interior da igreja.
4. Fazer uma prece especial pelas mulheres, no seu Dia
Internacional.
Terceiro Domingo da Quaresma
15 de março de 2009

Leituras: Êxodo 20,1-17 ou abreviado Êxodo 20,1-3.7-8.12-17:


Salmo 18(19b), 8.9.10.11 (R/. Jo 6, 680); 1 Coríntios
1,22-25; João 2,13-25 (Mercadores no Templo)

A nova casa de Deus é a comunidade dos crentes

Situando-nos
Estamos no terceiro domingo da Quaresma - caminho que nos
leva à festa da Páscoa. A liturgia da Palavra e as orações nos co-
locam diante do Senhor que nos pede um culto perfeito, nascido
na sinceridade do coração e fonte do bem, da solidariedade e da
justiça. Somos chamados a uma verdadeira purificação e a respon-
der algumas perguntas: em que consiste o nosso culto a Deus? O
que esse culto traz de novo e significativo para as nossas vidas?
O Senhor não nos pede coisas, dinheiro, liturgias pomposas, mas
obediência à sua vontade e solidariedade com todas as pessoas frá-
geis, abandonadas e deixadas ao longo da estrada, do mercado e
da Igreja. Somos chamados a ser santos e perfeitos com a graça e a
força de Deus. Com a antífona entramos no espírito e no sentido
da liturgia e do culto: “Quando reconhecerdes a minha santidade,
eu vos reunirei de todas as nações. Derramarei sobre vós uma
água pura, e sereis purificados de todas as faltas. Dar-vos-ei um
espírito novo, diz o Senhor”.
Jesus expulsa os vendilhões do Templo de Jerusalém para mos-
trar que a sua casa, a assembléia reunida, não é lugar de exploração
nem de alienação. Essa assembléia é o novo templo, construído sobre
Cristo, morto e ressuscitado, que fundamenta a nova aliança e a nova
religião em espírito e verdade. Ela veio substituir o antigo culto.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. se

Recordando a Palavra
Na leitura do livro do Êxodo, Deus nos oferece os Dez Mandamentos
como condição da aliança que faz conosco. São normas curtas e fáceis
de serem guardadas e regulam as relações das pessoas entre si e com
Deus. O israelita piedoso e fiel é comprometido com a observância
dos mandamentos que envolvem toda a vida e supõem uma adesão
pessoal a Deus, que se revelou, e conduz os caminhos do povo. Para
o israelita, Deus é um Pai que conhece e ama seus filhos, dialoga com
eles e lhes indica os segredos da felicidade e da realização.
Chama atenção o modo como Deus propõe os mandamentos.
Antes de tudo diz: “Eu sou o Senhor que fez sair da terra do Egito,
da casa da escravidão”. Ou seja, mostra o que fez pelo povo e depois
coloca as condições do pacto. Os mandamentos não foram decreta-
dos por um senhor poderoso e tirano, mas por um Deus libertador,
que escolheu esse povo e quer ser amigo e parceiro. Os Dez Manda-
mentos não são leis severas, difíceis ou absurdas, impostas por um
dominador. São indicações, chamadas não para cercear a liberdade,
mas para indicar o caminho certo. Quem segue as orientações do
Senhor foge da opressão das próprias paixões e do fechamento so-
bre si. Não destrói a própria vida, mas se torna uma pessoa livre,
feliz e segura.
Na leitura da carta de Paulo aos Coríntios, encontramos o co-
ração da pregação de Paulo: o Cristo crucificado. Os judeus espera-
vam que Deus manifestasse seu poder e destruísse todos os inimi-
gos. Contudo, Jesus se apresenta diante deles não como vencedor,
mas como derrotado. Os sábios gregos confiavam na sabedoria e no
poder das idéias.
Nessa lógica, a morte na cruz não se enquadra em nenhuma
lógica humana. A cruz é uma verdadeira loucura.
A expulsão dos vendilhões do templo acontece em pleno tem-
po da Páscoa dos judeus, quando Jerusalém encontra-se apinhada
de peregrinos, vindos de todas as partes do mundo para celebrar,
oferecer sacrifícios e cumprir suas promessas. Muitos peregrinos
St PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

vêm de longe e fazem economias, durante anos, para conseguir,


uma vez na vida, realizar a peregrinação santa. Durante os dias de
festa, passam bem, comem à vontade, tomam bons vinhos, com-
pram presentes e frequentam o templo para rezar, pedir conselhos e
oferecer sacrifícios ao Senhor. Os comerciantes sabem que a festa da
Páscoa é uma privilegiada ocasião de fazer muitos e bons negócios.
Em poucos dias lucram mais do que ao longo do ano.
O evangelho relata a presença e a indignação de Jesus diante
desse comércio. Jesus vê tudo o que acontece. Não diz uma só pa-
lavra. Faz um chicote com as cordas e expulsa os vendilhões do
Templo; derruba as mesas, as cadeiras, o dinheiro, as gaiolas com
as pombas. A reação de Jesus é surpreendente. Por que ele reage
assim? Com duas frases ele mesmo explica tudo.
Primeira frase: “Tirai daqui tudo isso e não façais da casa de
meu Pai uma casa de negócios”. Lembra a profecia de Zacarias: no
dia do Messias “não haverá mais nenhum negócio na casa do Senhor
do universo” (Zc 14,21). Tendo purificado o templo da presença dos
mercadores, declara que chegou o reino do Messias e condena qual-
quer ligação entre religião e interesses econômicos.
A segunda frase de Jesus: “Destruí este templo e em três dias eu
o reerguerei”. Aqui, Jesus mostra a inauguração de um novo templo
e o início de um novo culto.
Mas que templo novo é esse? Tendo ressuscitado o Filho, o Pai
coloca a pedra fundamental do novo templo. Sobre essa pedra co-
loca outras pedras vivas que são os discípulos missionários. Todos
juntos formam o corpo de Cristo, o novo templo onde Deus habi-
ta. Jesus mesmo explica o significado desse templo: “Se alguém me
ama, observará a minha palavra, meu Pai o amará e nós viremos a
ele e nele estabeleceremos a nossa morada”(Jo 14,23).
Portanto, a nova casa de Deus, o lugar onde ele habita, é Cristo
e com ele a comunidade dos crentes.
Cristo e os membros da comunidade cristã formam o novo santu-
ário no qual se elevam a Deus, em todos os momentos, os perfumes, os
louvores, os cantos, os incensos e os sacrifícios que lhe são agradáveis.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. Ra

Atualizando a Palavra
A grande pergunta que precisamos responder: por que observamos
os mandamentos de Deus? Por que temos medo do castigo? Por que
temos medo de sermos descobertos? Ou por que confiamos nas pa-
lavras de um Pai que nos ama e a quem queremos bem e, por isso,
respondemos com o nosso “sim”?
Os Dez Mandamentos têm sentido nos dias de hoje? Jesus redu-
ziu a dois todos os mandamentos: amar a Deus e amar ao próximo
(Mt 22,34-40). No evangelho de João, há um só mandamento: amar
o irmão (Jo 13,34-35). Paulo vai mais longe e diz: “Quem ama o
irmão cumpriu toda a lei”. Pois os preceitos: “Não cometerás adul-
tério, não matarás, não furtarás, não cobiçarás” e ainda outros man-
damentos que existem, se resumem nestas palavras: “Amarás ao teu
próximo como a ti mesmo” (Rm 13,8-9). Logo, o mandamento do
amor engloba todos os outros.
Não podemos negar que o amor é muito mais exigente do que
qualquer lei. O amor me compromete muito mais com o irmão e
com sua história. Coloca-me em atitude de alerta permanente com
a seguinte pergunta: o que posso e devo fazer para tornar o meu
próximo mais feliz e pleno de vida?
Os Dez Mandamentos exercem uma pedagogia em nosso rela-
cionamento com Deus: servem para mostrar e indicar as coisas mí-
nimas das exigências do amor. Contudo não esgotam a lei de Deus,
porque “somente o amor é a plena perfeição da lei” (Rm 13,10).
Relendo a carta aos Coríntios (1 Cor. 1,22), ainda hoje encontra-
mos pessoas, em nossas comunidades, que são como aqueles judeus:
consideram a religião como fonte de milagres, privilégios, curas...
Frequentam as celebrações para estarem livres de desgraças. Re-
zam só quando estão doentes ou em meio a dificuldades financei-
ras, quando estão desempregadas ou quando precisam passar no
final do ano...
Existem pessoas que se comportam como aqueles gregos e pen-
sam que é possível levar as pessoas à fé só pelo raciocínio, reunindo
el PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

provas convincentes. À lógica do Evangelho não pode ser colocada


na mesma lógica do mundo. Ou seja, a lógica dos cristãos é a cruz
de Cristo: uma vida doada, transformada em dom desinteressado.
Na cena da expulsão dos vendilhões, lembramos que a his-
tória da Igreja está permeada de negociatas. Tantas vezes a re-
ligião foi utilizada para justificar interesses, vantagens, bene-
fícios que nada tinham a ver com o evangelho ou com o culto
ao Deus vivo.
Nossos cantos, nossas celebrações e rezas devem ser signi-
ficativas para Deus. Os sacrifícios agradáveis são as obras de
amor, O serviço prestado ao ser humano, especialmente ao do-
ente, ao pobre, ao faminto... A solidariedade, a partilha do pão,
a acolhida fraterna são ofertas que se elevam aos céus e nos
transformam em templo de Deus. As celebrações expressam e
alimentam a solidariedade e a partilha e nos fazem compreender
melhor o significado e o alcance do culto espiritual. Pelo poder
do Espírito Santo, nas celebrações, somos acolhidos, purificados
e nos tornamos templos do Deus vivo.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Toda celebração da Eucaristia é um divisor de águas. Nela vivemos
a tensão entre o culto perfeito e o culto baseado nos interesses pes-
soais e mesquinhos. O evangelho fala da substituição do templo
antigo pelo novo. Nós já somos o novo templo, contudo, a cada
momento, precisamos ser purificados de tudo aquilo que não nos
deixa oferecer sacrifícios agradáveis ao Senhor. Daí a importância
da escuta da Palavra de Deus, da avaliação das nossas práticas, do
afinar-se com os desígnios do Senhor e do entrar no espírito do cul-
to em espírito e verdade. A liturgia transpira, do começo ao fim,
o sentido e a espiritualidade do culto prestado por Cristo ao Pai.
Importa deixar-nos impregnar por esta liturgia e fazer da vida um
culto perfeito. Na celebração, bebemos na fonte que é a misericór-
dia de Deus Pai. Nele aprendemos a confessar as nossas faltas.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. Fetg]

Na liturgia importa cantar tudo que o Senhor fez por nós antes e
depois de ter proposto o código da aliança. A oração eucarística canta
exatamente isso, tendo como centro o memorial da páscoa de Cristo.
Celebrar a Eucaristia, memória da páscoa de Cristo, significa
entrar de corpo e alma na liturgia que Ele oferece eternamente ao
Pai. Significa tornar-se discípulo missionário e adorador perfeito e
privilegiado.

Sugestões

1. Acolher a todos, destacando a presença dos visitantes.


2. No ato penitencial, a comunidade pode rever sua prática em
relação à prática da justiça, como obediência à vontade do Pai. O
rito de aspersão pode encerrar este momento, enquanto a assem-
bléia canta um hino ou refrão apropriado, como: “Lavai-me, Se-
nhor, lavai-me”, “Água santa, ó, água pura, vem, purifica este povo”
ou outro.
3. Proclamar bem as leituras e cantar o salmo responsorial. Um
breve silêncio entre as leituras permite que o diálogo entre Deus e
seu povo atinja mais profundamente cada pessoa.
4. Motivar os grupos que fazem os encontros da Campanha da
Fraternidade nas casas a que convidem mais pessoas para participar.
Esta é uma forma muito concreta de sermos discípulos missioná-
rios, no espírito da Missão Continental — “A alegria de ser discípulo
missionário”.
5. Lembrar que dia 19 de março celebramos a solenidade de São
José, homem justo e fiel.
Ouacto Domingo ca Oh a Dl

22 de março de 2009

Leituras: 2 Crônicas 36,14-16.19-23; Salmo 136(137),1-2.3.4-5.6


(R/.6a); Efésios 2,4-10; João 3,14-21 (Jesus, vida e luz)

Deus é rico em misericórdia

Situando-nos

Na celebração de hoje, somos conduzidos pelo Espírito para o en-


contro com Jesus. Como aconteceu com Nicodemos, nos recolhe-
mos na sombra do silêncio que envolve o mistério da comunidade
reunida para a oração. Pelos cantos e orações, na escuta da Palavra
e na prece eucarística, penetramos no sentido da liturgia. Ela nos
apresenta o anúncio da paixão e da entrega de Jesus como prova do
seu amor à humanidade.
Não podemos ficar indiferentes e insensíveis ao que acontece
nessa celebração. Nós já estamos bem próximos da festa da Páscoa e
com alegria aguardamos o dia da nossa libertação. Com Isaías can-
tamos na antífona de entrada: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós
todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-
vos com abundância de suas consolações” (Is 66,10-11).
Vindos de um mundo dividido entre trevas e luz, morte e vida,
pecado e comunhão, tristezas e alegrias, nos acercamos da assem-
bléia, certos que pela força da páscoa de Cristo, cuja memória celebra-
mos na liturgia, podemos fazer a passagem da morte para a vida.
É necessário, contudo, fazer uma opção clara e decidida por
Jesus. Huminados por Ele, e sustentados por seu Espírito, esta opção
nos torna capazes de cativar os que andam nas trevas e desmascarar
os projetos que nos mantêm nas sombras da noite da injustiça e da
pobreza.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. +40)

Uma confiança extrema perpassa toda celebração: Jesus er-


guido numa cruz atrai e salva a todos. Ele é a prova do quanto
Deus amou o mundo. Nossos olhos contemplam o testemunho
vivo do seu amor pela humanidade. Somos agraciados por co-
nhecer esse mistério e participar desse dom: “Deus é rico em mi-
sericórdia... é por graça que vós sois salvos! Deus nos ressuscitou
com Cristo e nos fez sentar nos céus, em virtude de nossa união
com Jesus Cristo... (Ef 2,4-6).

Recordando a Palavra

O livro das Crônicas foi escrito depois do exílio da Babilônia. Passa-


ram-se mais de duzentos anos depois que Nabucodonosor, no ano
de 587 a.C., destruiu a cidade de Jerusalém e mandou para o exílio
os que escaparam da morte, reduzindo todos à escravidão. Depois
de muitos anos, os israelitas voltam à terra dos antepassados, porém
algumas perguntas continuaram atravessadas na garganta: por que
o povo foi castigado com uma desgraça tão grande? Por que Deus
permitiu que o Templo e a cidade de Jerusalém fossem arrasados
pelos inimigos?
A resposta é dada pelo autor do livro das Crônicas: tudo acon-
teceu por causa da infidelidade de Israel, dos chefes, dos sacerdotes
e das lideranças. O Senhor amava o seu povo, enviava profetas para
indicar-lhe o caminho do bem. Mas o povo não acolheu a palavra
dos profetas. Diante da crescente maldade, a interpretação feita foi
que Deus irritou-se e a punição foi dolorosa e longa.
Outra causa do castigo foi Israel ter desobedecido ao preceito
do descanso da terra a cada seis anos, permitindo assim aos pobres
e aos animais alimentar-se dos frutos naturais do solo.
O que Deus fez, então? Permitiu que ficassem exilados durante
setenta anos. Com isso, a terra descansou durante todo esse tempo.
Obviamente, a lógica do autor do livro nos surpreende e não
se encaixa nos pensamentos e nas atitudes de Deus, ao longo da
EJA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

história da salvação. É uma maneira muito primitiva de interpretar


as relações com Deus e levanta muitos problemas. Por exemplo,
como explicar os sofrimentos e angústias dos justos e a prosperi-
dade dos maus? Encontramos várias passagens que mostram que,
quando este povo era fiel ao Senhor, foi derrotado pelos inimigos.
Então, está errado o ensinamento do livro de Crônicas? Não está,
se for entendido corretamente.
O que autor nos quer dizer na linguagem própria do tempo é o
seguinte: o castigo de Deus não é outra coisa senão aquilo que acon-
tece ao homem que envereda pelo caminho do pecado. Ele mesmo
provoca sua própria ruína e a dos outros.
A carta aos Efésios mostra que o homem sozinho não consegue
livrar-se das situações embaraçosas e complicadas. Deus, contudo,
em sua infinita misericórdia vem ao seu encontro para libertá-lo,
ou seja, o ressuscita em Cristo para uma vida nova. Tal fato é um
presente gratuito do Pai. Por isso, ninguém pode vangloriar-se do
bem que consegue fazer e muito menos pode desprezar quem ainda
não abriu seu coração a uma graça tão fascinante.
O evangelho fala da serpente de bronze erguida no deserto. Na
penosa passagem pelo deserto, acontecia de tudo: o sol quente, a
sede, a falta de alimentos, as murmurações, os desânimos, as críti-
cas dos insatisfeitos e, para coroar a lista dos infortúnios, aparecem
as serpentes que picam mortalmente as pessoas. Moisés desespera-
do dirige-se ao Senhor. Ele lhe manda erguer uma serpente num
poste. As pessoas picadas deveriam olhar para a serpente para se-
rem curadas. Parece algo muito mágico.
Os rabinos diziam que as pessoas eram curadas não porque di-
rigiam o seu olhar para a serpente, mas porque erguiam o seu cora-
ção para Deus e confiavam nele. Era o Senhor que as salvava e não
o objeto de bronze.
Jesus recupera essa imagem como sinal de tudo que lhe iria
acontecer. Ele também será levantado numa cruz e todos que o con-
templarem encontrarão a salvação para as suas vidas. Na prática, O
que isso significa?
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. [onteil

Olhar para Jesus levantado” numa cruz significa crer nele. Crer
nele significa acolher a mensagem que Ele, do alto da cruz, dirige a
todos os homens: a única maneira de realizar a própria vida é doá-la
por amor como Ele fez. Crer, numa palavra, é identificar a própria
vida com a vida de Cristo, ou seja vivê-la a serviço dos irmãos. Este
é o único caminho para conseguir a salvação.
No evangelho, temos ainda outra afirmação importantíssima:
“Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu próprio Filho e este
não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo; quem, porém, não
crê, já está condenado”,
Como entender essa palavra de Jesus? Estamos no contexto da
proposta feita do alto da cruz, ou seja de dar a vida por amor, como
única maneira de valorizá-la. Diante da doação de Jesus é preciso se
definir e acolher a proposta de também entregar a vida e fazer dela
um dom para Deus e para os irmãos.

Atualizando a Palavra
Do livro das Crônicas concluímos: a história de amor entre Deus e
o homem nunca termina como uma condenação. Tal como aconte-
ceu com os israelitas, o homem que se afasta de Deus mete-se em
complicações e desajustes e torna-se escravo dos ídolos. Mas Deus
nunca o abandona. Não há situações desastrosas nem forças resis-
tentes que possam impedir o poder de seu amor misericordioso.
Contudo é grande a responsabilidade do homem que, ao negar-se
a seguir o caminho de Deus, se condena e se destrói. Entretanto,
nunca será o mal que prevalecerá mas o amor de Deus.
Na carta aos Efésios, aparece claramente que não é o homem
a causa da sua salvação por suas boas obras. As boas obras são uma
resposta ao amor e à ação de Deus. São sinais que indicam que a
graça de Deus conseguiu penetrar e produzir frutos no coração do
homem e da comunidade. Nós nada fazemos para merecer a salva-
ção. As nossas ações maldosas nos trazem a condenação. Mas Deus
nos ama e salva gratuitamente.
RA PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

Do evangelho de hoje colhemos um ensinamento: é salvo quem


tem a coragem de doar a sua vida como fez Jesus. Aquele que não
aceita doar a vida e escolhe o egoísmo, prazeres e satisfações conde-
na-se à morte e, portanto, destrói a própria vida.
O julgamento não acontece só no final do mundo, mas já no hoje
da história. Cada instante é tempo de salvação ou condenação. De-
pende da adesão a Cristo, pregado na cruz e ressuscitado. Recusar a
proposta da cruz significa condenar-se.
As boas obras são a resposta ao carinho de Deus e opção pela
luz e verdade que é Cristo, luz do caminho. Assim, a comunidade e
o mundo vêem que nossa conduta está de acordo com a vontade de
Deus e com nossa condição de renascidos em Cristo, pela força do
Espirito Santo.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


No dia de hoje encontramos um motivo especial para celebrar a
Eucaristia: com o nosso sacrifício de louvor, realizado em comu-
nidade, no Dia do Senhor, acolhemos o Filho de Deus que ilumi-
nou as nossas trevas e reavivou a esperança de um mundo novo.
Partilhando e comendo do Pão eucarístico, nesta terra, como pe-
regrinos, antecipamos, na fé e sacramentalmente, a realização de-
finitiva da perfeita comunhão entre o homem, o mundo e Deus.
Por isso podemos rezar na oração depois da comunhão: “Ô Deus,
luz de todo o ser humano que vem a este mundo, iluminai nossos corações
com o esplendor da vossa graça, para pensarmos sempre o que vos agrada
e amar-vos de todo o coração”.
A assembléia reunida lembra o povo no deserto a caminho da
Terra Prometida. Ela também enfrenta todo o tipo de dificuldades.
Sente desânimos. É picada pelo veneno do egoísmo, do poder, da des-
confiança e pela acomodação. A Palavra proclamada lembra os males
da infidelidade e mostra que seguir os caminhos do Senhor traz paz,
segurança e salvação. Salvação presente e atualizada na proclamação
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. DU!

da Palavra, na preparação da mesa, na oração eucarística, na partilha


do pão. Na celebração, está presente e age o Ressuscitado que a todos
atrai e salva, liberta e reconcilia com o Pai. Celebrar a liturgia é entrar
no Mistério da Salvação e deixar-se impregnar por Ele. Este é o sinal
da alegria visibilizado especialmente na celebração de hoje

Sugestões

1. Preparar o espaço da celebração com sinais de alegria: flores e


a cor rosa, substituindo o roxo, nas toalhas e vestes litúrgicas. Os
instrumentos musicais podem dar um toque de festividade a toda
a celebração.
2. Fazer entrada solene da cruz, acompanhada de velas e de
algum símbolo ligado à CF. Colocá-la em lugar de destaque.
3. Durante a proclamação do Evangelho, erguer a cruz diante
da comunidade.
4. Fazer a profissão de fé e as preces dos fiéis diante da cruz er-
guida e, se for possível, com velas acesas.
5. Lembrar que no próximo dia 25 de março celebramos a sole-
nidade da Anunciação do Senhor.
Quinto Domingo da Quaresma
29 de março de 2009

Leituras: Jeremias 31,31-34; Salmo 50(51),3-4.12-13.14-15 (R/. 12º);


Hebreus 5,7-9; João 12,20-33 (Morte e glorificação)

Em Cristo repousa a nova aliança

Situando-nos

Estamos chegando ao final da Quaresma. No próximo domingo


iniciaremos a Semana Santa, com o Domingo de Ramos. Neste dia,
também concluiremos a Campanha da Fraternidade 2009, com o
gesto concreto da coleta manifestaremos nossa atitude de partilha
e solidariedade.
Na celebração de hoje somos convidados a ver Jesus em sua
missão recebida do Pai. Seguimos os passos dos gregos que subi-
ram à Jerusalém para adorar a Deus. Mas eles querem ver Jesus. O
que significa ver Jesus? Por que ver Jesus? Ver Jesus é compreender
sua atitude e desvendar seu projeto. Jesus mesmo o explica, fazendo
uma meditação sobre a “hora”.
“Hora” é o final de sua vida terrestre. Tudo caminha para essa
hora. A “hora” é o momento no qual o amor gratuito de Deus, ma-
terializado em seu carinho pelos pobres, encontra-se com a força
social e religiosa que o rejeita: o pecado. Esse conflito expressa-se
na cruz. Por isso, a cruz é levantada como denúncia daquilo que
leva Jesus à morte e como testemunho de sua entrega de amor.
Jesus pregado na cruz revela, com sua morte, o Deus da vida. Este
é o Jesus que será visto pelos gregos e que nós encontramos na
celebração de hoje.
Vindos de uma sociedade marcada por tantos conflitos, injus-
tiças, violência, mortes, fome, guerras, vamos ao Senhor e dele
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. a

recebemos o ensinamento do grão que cai na terra e o anúncio de


sua morte e glorificação.
Ao participar da liturgia, descobrimos a relação profunda que
existe entre a realidade complexa e conflitiva e o mistério do grão
de trigo. A antífona da missa de hoje nos anima a celebrarmos a
Páscoa do cordeiro: “A mim, ó Deus, fazei justiça, defendei a minha
causa contra a gente sem piedade; do homem perverso e traidor,
libertai-me, porque sois, ó Deus, o meu socorro”.

Recordando a Palavra

No livro de Jeremias, no capítulo 31, é anunciado que um dia Deus


estabelecerá uma nova aliança com o seu povo. Este é um texto
referencial do Antigo Testamento.
Após o reinado desastroso e corrupto de Manassés, sobe ao tro-
no o rei Josias. Ele é ainda criança quando assume o poder, mas,
aos poucos, revela-se muito piedoso e inicia uma profunda reforma
religiosa. Jeremias observa tudo em silêncio e mostra-se favorável à
escolha do novo monarca.
Em todos se despertam esperanças de dias melhores. Está em
andamento uma renovação espiritual e política. Enfim, Israel pode-
ria voltar a ser um povo unido, poderoso e forte, como nos tempos
de Davi e Salomão.
Nos bastidores dos novos tempos há, porém, uma inquie-
tante reflexão: é preciso descobrir os erros do passado e tomar
providências para que certas coisas não mais se repitam. Jere-
mias lembra um fato histórico decisivo: cem anos antes as tribos
do Norte foram aniquiladas pelos assírios. E pergunta: por que
Deus permitiu tal desgraça?
Nos versos 31 e 32, o Senhor responde dizendo: o reino do Norte
foi destruído por causa da sua infidelidade à aliança. Sim, algumas
centenas de anos atrás, os israelitas no Sinai tinham feito uma alian-
ça com Deus que os tirou do Egito e que tinha se comprometido
23] PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

em defendê-los e fartá-los de bens; havia-lhes prometido uma vida


feliz e próspera. Essa promessa tinha, no entanto, uma condição:
que eles observassem seus mandamentos e ouvissem seus profetas.
O povo tinha jurado fidelidade, mas, na prática, tinha acontecido o
contrário.
Como reatar essa aliança? Com que garantias? Em que contex-
to? É necessário estabelecer uma nova aliança. A aliança e a lei de-
verão ser escritas não em pedras frias, mas no coração das pessoas.
Gravadas pela força do Espírito. Quem recebe esse Espírito é capaz
de vencer todas as tentações.
Quando se realizará essa profecia? A profecia começa a realizar-
se na Páscoa de Cristo, quando ele, morrendo e entrando na glória
do Pai, enviou o Espírito Santo. A partir daquele dia, a lei de Deus
foi gravada em nosso coração.
Na carta aos Hebreus, encontramos um Jesus marcadamente
humano. Ele não fingiu ser homem, ele passou verdadeiramente
por todas as dificuldades e tentações comuns aos seres mortais.
Tudo isso, porém, com uma diferença: nunca se deixou vencer pelo
mal e sempre se manteve fiel ao Pai.
Hoje, aparece claramente a reação de Jesus frente à morte e
ao sofrimento. Sentiu na carne aquilo que se passa com o ser hu-
mano nessas situações. Dirigindo-se ao Pai pediu que Ele o aju-
dasse e, se possível, o poupasse da dor e da morte. Orou, sentiu
necessidade de invocar o Pai para acolher a sua vontade e para
ter forças para realizá-la.
No evangelho de João é narrado um fato acontecido poucos
dias antes da última páscoa de Jesus. Um grupo de gregos ou de
estrangeiros que se tinha convertido à religião judaica ouvira falar
de Jesus e queria encontrá-lo, ou melhor, vê-lo.
Para João, ver Jesus não significa só contemplá-lo com os olhos,
mas conhecê-lo em profundidade, descobrir quem ele é realmen-
te. Os gregos querem penetrar no íntimo da pessoa de Jesus. Eles
antes eram pagãos, adoravam ídolos e tinham práticas supersti-
ciosas. Mas um dia conheceram o Deus de Abraão e aceitaram a
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. eu

religião hebraica. Por ocasião da Páscoa, sobem até Jerusalém não


para fazer turismo, mas para rezar, para encontrar-se com Deus
e descobrir o que Ele ainda quer deles. Tomam consciência que
ainda não alcançaram aquilo que o Senhor lhes pede. Sentem que
Deus quer que eles se dirijam a Cristo. Eles, no entanto, não se
dirigem diretamente a Jesus, mas a Felipe e André, os únicos após-
tolos com nome grego, portanto, os interlocutores e mediadores
mais apropriados.

Atualizando a Palavra

Na primeira leitura temos a profecia de Jeremias sobre a nova alian-


ça a qual nós vivemos hoje. Em Cristo realiza-se a nova aliança.
Para estar nessa aliança, precisamos da força pascal do Cristo. Essa
força nós recebemos no Batismo e continuamos recebendo na cele-
bração dos sacramentos e na oração da Igreja: é o Espírito de Cristo,
a lei da nova aliança, escrita no coração de cada um de nós.
Da carta aos Hebreus, colhemos uma lição preciosa: Jesus não
permaneceu nos céus, contemplando as nossas angústias, mas
tornou-se companheiro de viagem. Percorreu o caminho da hu-
milhação e da morte. Por isso, podemos confiar nele e aceitar o
convite que nos faz para sermos discípulos missionários. A segun-
da leitura nos convida a seguir o mesmo caminho de Cristo, um
caminho marcado por dificuldades. Ele, porém, o percorreu an-
tes de nós e por isso compreende nossas dificuldades e incertezas,
nossos receios e fraquezas.
No evangelho, Jesus convida os seus discípulos a seguir o gesto
prudente do agricultor que se priva da semente. Diz-lhes para não
terem medo de perder a própria vida, porque quem morre por amor
entra na glória de Deus.
O evangelho interpreta a morte de Jesus como uma manifes-
tação de seu amor. Para ele o homem cresce e se realiza somente
quando ama, ou seja, quando doa sua vida pelos irmãos.
PM PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

O grupo dos gregos representa todos os pagãos que querem


conhecer Cristo. Não se sabe se aqueles gregos se encontraram com
Jesus. Fica, porém, uma palavra importante de Jesus: o grão de trigo
para se transformar em espiga deve ser semeado na terra. Igual-
mente o homem, se quiser valorizar a sua vida, se quiser fazer sur-
gir um mundo novo, deve antes ter a coragem de morrer, ou seja,
doar a si mesmo por amor. Para Cristo, o homem atinge o ponto
mais alto da realização de sua vida quando se entrega à morte por
amor aos seus irmãos.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Logo mais entraremos na Semana Santa e a liturgia de hoje tem a
finalidade de preparar os cristãos para o acontecimento da Páscoa.
Hoje o Pai nos entrega Jesus, o grão fecundado pela força do
Espírito, feito Pão da Vida para nossa salvação.
Às vésperas da festa da Páscoa, reunidos em assembléia, atentos
na escuta da Palavra, permitimos que a ação do Espírito nos purifi-
que. Na oração eucarística, renovemos a aliança que o Pai nos oferece
no sangue de seu Filho. Partilhando o pão da eucaristia, comungan-
do em seu sacrifício, acolhemos a cruz em nossa vida como passagem
necessária para a salvação e a realização plena em nossas vidas.

Sugestões

1. Fazer a procissão de entrada com a cruz, velas e vasilha com terra


e alguns grãos de trigo.
2. Logo após a saudação inicial, quem dirige a celebração pode
convidar a assembléia a lembrar os acontecimentos e as ações da
comunidade que são sinais de vida e ressurreição: a Páscoa de Je-
sus acontecendo em nossa Páscoa. Ter presente a existência de
tantos mártires que, como grãos fecundos, entregaram a vida pela
vida de muitos.
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. Is

3. Na homilia, é importante ligar a Palavra recebida com a ação


celebrativa.
4. Motivar para a coleta da CF que será realizada no próximo
domingo em todas as igrejas do Brasil.
Domingo
de Ramos
5 de abril de 2009

Leituras: Marcos 11,1-10 (antes da bênção dos ramos$ Isaías 50,4-7;


Salmo 21(22),8-9.17-182.19-20.23-24 (R/. 2º)
Filipenses 2,6-114 Marcos 14,1-15,47 ou abrev.
Marcos 15,1-39 (Paixão do Senhor)

Situando-nos

Com a celebração de hoje, entramos na Semana Santa. O que é a Se-


mana Santa? Por que ela é tão importante no calendário litúrgico?
Especialmente nestes dias é relembrada a história da salvação de
um Deus que se abaixou e tornou-se homem para caminhar conosco,
conhecer a nossa história e nos apontar caminhos de vida. Mas não
é só isso. No Getsêmani, Jesus experimenta uma grande tristeza e
sente a dor da angústia. Suspenso entre o céu e a terra, numa cruz,
Ele vive o doloroso abandono por parte do Pai. Enfrenta a traição de
Judas que com um beijo o entrega aos seus inimigos. Pedro, o líder do
grupo, não o reconhece na presença de uma empregada. Os discípu-
los, seus amigos prediletos, fogem e o deixam só nas mãos dos solda-
dos. A condenação é forjada e tramada para eliminar sua pessoa e os
desígnios de Deus nele manifestos. Jesus, o Servo Sofredor, despido
de toda dignidade é reduzido a um farrapo humano.
Essa experiência de Jesus na Semana Santa é a história viva da
humanidade. Contemplando a paixão e morte de Jesus, fazemos
memória dos sofrimentos, das injustiças e das violências experi-
mentadas por milhões de seres humanos. Ele assume e faz seus
todos esses sofrimentos. Em sua morte e ressurreição, Ele se faz
presente em todos os sofrimentos humanos.
A Semana Santa, tempo de comunhão e solidariedade com
Jesus, é um tempo santo e precioso para entrarmos na História
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. Pl

da Salvação e da Libertação. Somos convidados a entender e to-


mar parte nela como agentes, como discípulos missionários, não
permitindo que o pecado que levou Jesus à morte e destrói tantas
vidas invada o nosso ser e condicione nosso agir.
Nessa Semana meditamos o evangelho de Jesus, contemplamos
sua prática, acolhemos sua proposta de doação e partilha, entramos
em sua atitude de obediência ao Pai e de serviço à humanidade. Na
oração da coleta, imploramos a graça da conversão e mudança de
vida, dizendo ao Pai: “concedei-nos aprender o ensinamento da sua
paixão e ressuscitar com Ele em sua glória”.
Unidos com toda a Igreja no Brasil, concluímos hoje a Campa-
nha da Fraternidade 2009.

Recordando a Palavra

A leitura do profeta Isaías fala do Servo do Senhor ou Servo Sofre-


dor. Quem é ele? Ele é o escolhido, dotado de dons, capaz de atrair
e provocar a adesão dos ouvintes. Esses dons lhe são concedidos em
vista da missão: “transmitir uma mensagem a quem perdeu toda a
confiança”,
A leitura mostra as disposições interiores do Servo do Senhor:
vive na permanente escuta da Palavra de Deus; o coração e os ou-
vidos estão abertos para não deixar escapar nada do que o Senhor
lhe revela.
A missão implica, porém, muitos sofrimentos. Sua pregação de-
nuncia injustiças, atinge aqueles que exploram e escravizam, apon-
ta a corrupção política e moral... Tudo isso lhe acarreta perseguição.
Ele é flagelado e espezinhado.
Qual sua reação? Resiste firme, não abre a boca, não reclama,
mas confia no Senhor, porque sabe que ele está ao seu lado.
Tudo isso faz lembrar Jesus e os soldados romanos. Aos dois
aconteceram as mesmas coisas. Jesus é o Servo que dedicou sua vida
para libertar e consolar os oprimidos.
EX PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

Na história do Servo Sofredor e de Jesus, é fácil reconhecer a


história de todos os homens e mulheres que querem praticar e pro-
clamar a justiça.
A comunidade dos filipenses, amada e muito querida por Paulo,
encontra-se em situações de ciumeiras, desavenças , fofocas e disputas
de poder. Paulo reage com palavra forte: “Nada façais por espírito de
partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar
os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os
seus próprios interesses e sim os dos outros”(FI 2,3-4). Ele recorre a um
hino muito antigo para fundamentar a sua intervenção (FI 2,6-11).

Atualizando a Palavra
A Palavra que ouvimos na celebração de hoje é muito forte. Ela nos
confronta com nossa própria fé, com o modo como a vivemos e tes-
temunhamos. No Evangelho que segue a bênção dos ramos, vemos
Jesus a caminho de Jerusalém. Em que ponto deste caminho nós
estamos? Estamos à frente, atrás ou nos mantemos à beira da estra-
da? Exultamos convictos “bendito o que vem em nome do Senhor”
ou o fazemos superficialmente, levados pelo 'embalo da multidão”?
Não basta clamar “bendito o que vem em nome do Senhor”, urge
agir e ser para que efetivamente haja espaço para Ele se tornar pre-
sente em nossa sociedade. Há várias formas de buscar que isto se
realize, uma delas é nos fazermos portadores da paz positiva, que é
fruto da justiça. É assumir, apesar de todas as pedras no caminho, o
chamado que nos é feito e, a exemplo do servo sofredor, poder dizer
“não lhe resisti nem voltei atrás”... “ sei que não sairei humilhado”.
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Esta certeza nos é reforçada pelo próprio Cristo que se esvaziou, se


humilhou e depois foi por Deus Pai exaltado.
Participar da Eucaristia significa viver o mistério de Jesus Cristo
em sua totalidade. Hoje, porém, somos chamados a viver mais inten-
samente sua paixão e morte e, com o hino da Campanha da Fraterni-
dade, reafirmar “ é o amor que tudo alcança, só a justiça gera a paz.”
Convertei-vos! O Reino de Deus está no meio de vós. Ko Jo!

O Evangelho da Paixão nos conduz à contemplação. O sofri-


mento intenso de Jesus nos faz ver o quanto o projeto de amor e paz
que Ele trouxe entra em choque com o contexto mundano. Como
gera tensões e resistências.
Vivendo os valores evangélicos, somos chamados a instau-
rar este projeto sendo portadores da paz positiva, caracterizada
pela presença do amor que gera justiça e da justiça que gera paz e
segurança.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A celebração do Domingo de Ramos nos coloca em um ambiente
de contraste entre a exaltação da chegada de Jesus a Jerusalém e
sua paixão e morte. Sacudidos pelo contexto divergente destes dois
pólos, pedimos ao Pai “concedei-nos aprender o ensinamento da sua
paixão e ressuscitar com ele em sua glória” (oração da coleta).
Todo o sentido do sacrifício de Jesus emerge na oração sobre as
oferendas e no prefácio quando, pela voz de quem preside, dizemos:
“Ó Deus, pela paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, sejamos recon-
ciliados convosco, de modo que, ajudados pela vossa misericórdia,
alcancemos pelo sacrifício de vosso Filho o perdão que não mere-
cemos por nossas obras”. E também afirmamos “sua morte apagou
nossos pecados e sua ressurreição nos trouxe a vida”.
Com esta celebração, inicia-se a Semana Santa durante a qual,
incessantemente, pediremos ao Pai: “como pela morte de vosso Fi-
lho nos destes esperar o que cremos, dai-nos pela sua ressurreição
alcançar o que buscamos” (oração após a comunhão).

Sugestões

1. Os ritos iniciais desta celebração, nos quais se dá a bênção dos


ramos, devem ser realizados a certa distância da igreja para que
depois se possa fazer uma verdadeira procissão.
Boo PNE - BMC - Roteiros Homiléticos da Quaresma - Ano B - 2009

2. Providenciar ramos e ervas medicinais para entregar para as


pessoas, à medida que vão chegando para a celebração.
3. Ao entrar na igreja, atrás da cruz e do presidente, a assembléia
caminha com Cristo e deixa-se introduzir na celebração do mistério
da sua paixão, morte e ressurreição.
4. Preparar a forma como será feita a coleta e um recipiente
onde as pessoas poderão deixar sua oferta. Perto, também poderá
ser colocado um cartaz da CF 2009. As pessoas irão em procissão
até perto do altar. Neste momento poderá ser feita a Oração da CF
e também cantar o Hino.

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