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fevereiro/abril 2015
Dições Cn?
O Senhor vos conceda o perdão e a paz
1a Edição - 2014
C748r Conferência Nacional dos Bispos do Brasil/ Roteiros Homiléticos para a Quaresma. Ano B — São
Marcos. Brasília, Edições CNBB. 2014.
p.68:14x21 cm
ISSN: 2359-1935
1. Domingo da Quaresma - Cinzas;
2. Domingo de Ramos - Quaresma;
3. Quaresma - Paixão do Senhor.
CDU: 264-041.1
As citações bíblicas dos textos da celebração são do Lecionário Dominical, À, B, €, Paulinas, Paulus 1994.
Somente as citações que são para reforçar o sentido do texto foram retiradas diretamente da tradução bíblica
da CNBB e assim já citadas.
: Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios :
: (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de :
dados sem permissão da CNBB. Todos os direitos reservados O
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Sumário
APRESENTAÇÃO..............cereeeeseseremeserereeeseneas 7
INTRODUÇÃO... eee 9
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
18 de fevereiro de 2015..............cecccee
sec ecerererererereesarerereenea 15
1º DOMINGO DA QUARESMA
22 de fevereiro de 2015 ...........eeec essere rr rerererenereerasasa 21
2º DOMINGO DA QUARESMA
1º de março de 2015..............eceeses
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3º DOMINGO DA QUARESMA
8 de março de 2015... ces ecerereerer eee area rena nercererna 36
4º DOMINGO DA QUARESMA
15 de março de 2015 ...........ccecec
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5º DOMINGO DA QUARESMA
22 de março de 2015 ..........eceeces
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DOMINGO DE RAMOS E DA
PAIXÃO DO SENHOR
29 de março de 2015 . . . . . .cec eee ererererrrrererenenenenerenererereasesa 60
APRESENTAÇÃO
Eis que chegou o tempo da Quaresma e do Senhor, ouvimos o
convite: “Convertei-vos e crede na Boa-Nova” (Mc 1,15). É tempo
também de acolher em nossa vida o dom da graça da reconciliação:
“Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20).
A caminhada quaresmal visa preparar a celebração da Páscoa:
“a liturgia quaresmal, com efeito, dispõe para a celebração do mis-
tério pascal tanto os catecúmenos, pelos diversos graus de iniciação
cristã, como os fiéis, pela comemoração do Batismo e pela penitên-
cia” (Normas Universais do Ano Litúrgico, n. 27). À Igreja, cami-
nhando em direção ao amanhecer do 1º dia, isto é, da Páscoa do
Senhor, suplica: “Fazei, ó Deus, que o nosso coração corresponda a
estas ofertas com as quais iniciamos nossa caminhada para a Páscoa”
(Oração sobre as oferendas do 1º domingo da Quaresma).
Neste tempo forte da vida das comunidades eclesiais, a escuta e
a meditação assídua da Palavra de Deus, a oração, a esmola e o jejum
alentam a caminhada quaresmal rumo ao monte santo da Ressurrei-
ção do Senhor.
A Campanha da Fraternidade nos insere na dimensão comuni-
tária da conversão e da solidariedade quaresmal. Neste ano, a Igreja
do Brasil nos convida a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e
a recíproca colaboração entre a Igreja e a sociedade, como um serviço
ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus (cf. CNBB.
Campanha da Fraternidade 2015: Texto-Base. Brasília, Edições
CNBB. 2014. p. 10).
Que na escuta da Palavra de Deus e na oração compreendamos o
mistério de Jesus, o Messias Servo-Sofredor que, na sua morte na cruz
foi reconhecido como Filho de Deus: “Na verdade, este homem era
Filho de Deus!” (Mc 15,39).
O presente Roteiro Homilético preparado pela Irmã Ema-
nuela Mélo de Souza (Irmãs Beneditinas Missionárias de Tutzing),
H "O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
1 BARROS, Marcelo; CARPANEDO, Penha. Tempo para amar; Mística para viver o Ano
Litúrgico. Paulus: São Paulo, 1997, p. 51.
2 Cf. Regra Beneditina 49, p. 5-7.
In "OQ Senhor vos conceda o perdão e a paz”
4 CNBB. Campanha da Fraternidade 2015: Texto-Base. Brasília, Edições CNBB. 2014. p. 10.
Roteiros homiléticos para a Quaresma RB
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
18 de fevereiro de 2015
Situando-nos
Quarenta dias antes da Páscoa, a Igreja inaugura solenemente o tempo
forte de conversão — a Quaresma — em preparação à celebração da
Páscoa: é a Quarta-feira de Cinzas.
Neste dia, após a Liturgia da Palavra, na qual se proclama, no
Evangelho, a recomendação de Jesus sobre a oração, o jejum e a esmola
como exercícios de conversão (cf. Mt 6,1-6.16-18), realiza-se o rito
da imposição das cinzas, sinal de penitência, no sentido de conver-
são. Reconhecemos a nossa condição de criaturas limitadas, mortais e
pecadoras. “Convertei-vos e crede no Evangelho” (cf. Mc 1,15), aquilo
que ouvimos no gesto da imposição das cinzas sobre nossas cabeças.
À conversão consiste em crer no Evangelho. Crer é aderir a ele, viver
segundo os ensinamentos do Senhor Jesus.
Certamente, não é fácil aceitar ser cinza. Contudo, a fé em Jesus
Cristo ressuscitado faz com que a vida renasça das cinzas. Jesus Cristo
faz brotar a vida, onde o ser humano reconhece sua condição de cria-
tura necessitada da ação de Deus: é entrar na atitude pascal.
A Campanha da Fraternidade se inicia, neste dia, na Igreja no
Brasil, com o tema: “Fraternidade: Igreja e sociedade”, e o lema:
“Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45).
nH “O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
Recordando a Palavra
A Quaresma começa, hoje, fazendo ecoar novamente em nossos ouvidos
as inquietantes palavras do profeta Joel: “rasgai o coração, e não as vestes”
(2,133). Após descrever a invasão dos gafanhotos, presságio de que está
próximo o dia do Senhor (2,1), o profeta mostra que, para o juízo de
Deus, não basta preparar-se com um rito penitencial meramente exterior
6 » e . . .
(“rasgar as vestes”), que não seja acompanhado do gesto interior de
' « 9 É .
mudança de vida (“rasgar o coração”). E preciso que o ser humano, em
sua inteireza, se volte para Deus. Assim, criaremos em nós o espaço para
que a graça de Deus nos refaça e nos preencha. Nosso Deus é miseri-
córdia, e toma sempre de novo, a iniciativa de nos perdoar.
Com o Salmo 51(50) respondemos à exortação do profeta Joel.
Este salmo nos transporta do mundo do pecado para o reino da graça.
Confessando-nos pecadores e pedindo o perdão de Deus, começamos
a ressuscitar: “dai-me de novo a alegria de ser salvo” (v. 14).
Paulo nos convoca, em nome de Cristo, a nos deixar reconciliar
com Deus, a não deixar passar em vão a sua graça (cf. 2Cor 5,20; 6,1).
E o Senhor nos diz: “no momento favorável eu te escutei, no dia da sal-
vação eu te ajudei” (Is 49,8). “É agora o momento favorável, é agora o
dia da salvação” (cf. 2Cor 6,2). O movimento da reconciliação começa
com a iniciativa divina. Cabe a nós deixar-nos reconciliar com ele.
O Evangelho repete três vezes: “o Pai vê o que está oculto”. Ele
sabe o que se passa dentro de nós, conhece nossas verdadeiras intenções
e os valores para os quais orientamos nossa vida. À oração, a esmola e
o jejum, as “obras de piedade” do judaísmo antigo, são gestos que mar-
cam a nossa experiência com Deus, mas podem ser pura exterioridade,
não terem ligação alguma com o nosso coração. O Pai é quem sabe
com que intenção eu rezo, faço caridade e jejuo.
Atualizando a Palavra
Tendo escutado com o ouvido do coração a Palavra proclamada na
celebração, resta-nos atualizá-la. Entramos em diálogo com Deus,
Roteiros homiléticos para a Quaresma IR
Situando-nos
À Quaresma foi inaugurada com a celebração da Quarta-feira de
Cinzas. Ressoou, mais uma vez, em nossos ouvidos, o convite de
percorrer um itinerário pedagógico e catequético, que nos faz penetrar
nos grandes eventos da história da salvação.
Durante as cinco semanas da Quaresma, na liturgia da Palavra,
escutamos e atualizamos os textos bíblicos, que eram fonte de estudo e
compromisso dos catecúmenos, nos primeiros séculos do Cristianismo.
Neste primeiro domingo, conduzidos pelo Espírito, vamos com
Jesus ao deserto. Com ele, seremos tentados, testados, postos à prova.
Damo-nos conta de que as leituras apresentam uma forte conota-
ção batismal: a Quaresma tem caráter essencialmente batismal, o qual
fundamenta o seu caráter penitencial.
Recordando a Palavra
A nova Aliança de Deus com a humanidade, realizada na morte e
ressurreição de Cristo, fora prefigurada na Aliança de Deus com Noé,
salvo das águas do dilúvio (primeira leitura: Gn 9,8-15). Para os povos
antigos, a água, especialmente a água dos grandes mares e rios, era
símbolo de caos, de perigo e morte. Ser libertado da água significava
ser salvo.
O dilúvio de que fala a narração de Noé simboliza o caos do
pecado. Noé e sua família foram salvos e Deus fez uma Aliança com
ele, e não só com ele, mas com toda a criação, com todos os seres
vivos. É uma aliança universal e eterna. Deus não romperá seu pacto.
O arco-íris é o símbolo da Aliança de Deus com a humanidade. É o
símbolo do compromisso divino com a vida. E para nós, quais são,
hoje, os sinais de que Deus é nosso parceiro na luta pela defesa da vida?
Neste texto do livro do Gênesis, proclamado no primeiro domingo
da Quaresma, temos uma imagem do Batismo: salvos pela água, Deus
faz aliança conosco.
Com o Salmo 25(24) cantamos a fidelidade do nosso Deus. Que
sua verdade e seu amor nos orientem e nos conduzam para sermos fiéis
à sua Aliança.
Na segunda leitura (1Pd 3,18-22) Pedro também se refere às
águas do dilúvio, ligando-as às águas do nosso Batismo. E de grande
importância esta espécie de profissão batismal, que descobrimos no
8 Cf CNBB, Campanha da Fraternidade 2015: Texto-Base. Brasília, Edições CNBB. 2015. p. 10.
Roteiros homiléticos para a Quaresma RB
texto: “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o
justo pelos injustos” (v. 18a); “ele recebeu nova vida pelo Espírito”
(v. 18b). “No Espírito, ele foi também pregar aos espíritos na prisão”
(= “mansão dos mortos”) (v. 19). “Subiu ao céu e está à direita de Deus”
(v. 224).
No tempo em que esta carta de Pedro foi escrita, os cristãos eram
minoria, mas são justamente eles que provocam na humanidade inteira
o confronto com o Evangelho de Jesus. A identidade e a missão dos
cristãos surgem daí e darão origem a novas criaturas e a nova huma-
nidade. Pedro explica que esta novidade se realiza pela purificação
batismal (simbolismo do dilúvio) que nos torna aptos a viver segundo
uma boa consciência, nos confere uma identidade nova, torna-nos pes-
soas novas.
No Evangelho (Mc 1,12-15), escutamos as primeiras palavras que
Marcos colhe da boca de Jesus: “o tempo já se completou e o Reino de
Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (v. 15). Isso,
depois que Jesus, levado pelo Espírito para o deserto, lá permaneceu
quarenta dias, foi tentado por Satanás e enfrentou os animais selvagens
(cf. vv. 12-13).
É o início do Evangelho, da boa notícia proclamada por Jesus:
“convertei-vos”! Conversão é mudança de atitude que se manifesta na
prática. Deus quer estar junto de seu povo — o Reino de Deus chegou
— e por causa desta iniciativa de Deus, que se volta para nós, devemos
voltar para ele.
Marcos liga imediatamente ao Batismo de Jesus, que é o início de
sua missão, o episódio da tentação (cf. vv. 12-13), o que indica que ele
vê, como ponto fundamental da missão do Filho de Deus, a luta contra
Satanás. Vencendo o demônio, Jesus anuncia a salvação, dá início ao
Reino de Deus (cf. vv. 14-15). Este anúncio exige de nós uma mudança
de mentalidade, uma “virada”, um afastamento do caminho habitual
e uma volta para outra direção. Esta mudança, esta conversão procede
da fé: crer no Evangelho (cf. v. 15b).
E sempre ilusório crer-nos convertidos de uma vez por todas.
Não somos nunca simples pecadores, mas pecadores perdoados,
“O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
Atualizando a Palavra
Neste domingo do deserto de Jesus, também nós somos conduzidos
com ele pelo Espírito. Ir para o deserto, permanecer no deserto supõe
disponibilidade para se deixar conduzir pelo Espírito, em solidarie-
dade com Jesus e com o povo dos crentes. O deserto não é casa para ser
habitada, mas espaço que se tem de atravessar para realizar uma forte
experiência espiritual, que torne mais verdadeira a relação com Deus
e com os irmãos.
No deserto, Jesus é tentado. Portanto, o deserto não é a fuga da
tentação. Jesus se retira para o deserto para escapar do messianismo
triunfalista, que as multidões, sob a direção de Satanás, pretendem
impor-lhe. Jesus quer que o deserto seja o símbolo do espaço infinito
que separa Deus do homem pecador. Esta distância só é superada por
meio do lento caminho da fé.
A Quaresma é caminho de fé, que percorremos guiados pelo
Espírito Santo. Deus nos chama ao deserto para renovar a sua Aliança
conosco. Estamos prontos para renunciar, para esquecer o que ficou
para trás a fim de alcançar o Cristo, como fomos alcançados por
ele? (cf. Fl 3,12-13) Estamos dispostos a levar a sério a renovação da
Aliança com Deus?
Roteiros homiléticos para a Quaresma RB
Situando-nos
Recordando a Palavra
Abraão é exemplo de obediência a Deus; a vivência da fé está sempre
ligada à sua pessoa. Pela fé, ele se torna fonte de bênçãos para todas as
famílias da terra.
Mas, como aconteceria isso se Abraão não tinha filho? Final-
mente, ele recebe um filho, Isaac, no qual sua descendência seria
numerosa como as estrelas do céu e as areias do mar. Isaac é o fruto da
promessa, o filho muito amado, a esperança do futuro. Observando,
porém, que os povos vizinhos de Israel sacrificavam crianças aos seus
deuses para manifestar o amor que tinham por eles, Abraão começa
a se perguntar se também o Deus de Israel queria que ele sacrificasse
o seu único filho. Mas, Deus não aceitou o sacrifício de Abraão e isto
fez o povo entender que Deus não quer sacrifícios humanos, não quer
a morte do homem, mas a vida (cf. Jo 10,10). Abraão passa, então, a
considerar Isaac como duplo dom de Deus: nascido de Sara estéril e
liberto da morte.
À narração (Gn 22,1-2.93.10-13.15-18) quer mostrar que a dispo-
nibilidade da fé de Abraão é agradável a Deus, que renovará as pro-
messas a ele feitas. Abraão viveu a fé em situações adversas: acredita
9 (CNBB. Campanha da Fraternidade 2015: Texto-Base. Brasília, Edições CNBB. 2014. n. 62.
Roteiros homiléticos para a Quaresma 29.
que podia ser pai, apesar de sua velhice e de Sara; acredita que a obe-
diência a Deus está acima dos próprios laços de sangue (sacrifício de
Isaac, o primogênito). Na realidade, o pano de fundo deste quadro
bíblico bem antigo reforça ainda mais a fé de Abraão no Deus da Vida.
Abraão se encontrava em um dilema: seguir os costumes da reli-
gião cananeia, que ordenava sacrificar o primogênito para ter a bên-
ção dos deuses? Ou confiar no Deus da Vida que mandava acreditar
na promessa? O núcleo central do texto de Gênesis proclamado neste
domingo é crer, mesmo em meio à escuridão. Abraão cala diante do
mistério. Ele teve de enfrentar tudo sozinho, em silêncio e envolvido
pelo mistério incomparável de Deus, superando pela fé e confiança os
absurdos que a vida lhe apresentava.
O Salmo 116 é uma oração pessoal de ação de graças. O justo, que
guarda a sua fé, dirige a Deus o agradecimento, depois de violentas
provações. Com o salmista, agradecemos a pronta resposta de Deus ao
nosso grito, nos momentos de tribulação.
Na segunda leitura (Rm 8,31b-34), descobrimos que a fidelidade
de Deus, anunciada na primeira leitura, é aqui plenamente procla-
mada: Deus está com todos os que têm fé e que por ela são justificados
(cf. 8,30).
O texto paulino segue a linha de pensamento da primeira leitura:
Deus não poupou seu próprio Filho, para que ele intercedesse por nós
(cf. 8,32). E em sua fidelidade ao Pai, Cristo dá a vida por nós, não
quer condenar-nos. “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (8,31b).
de Deus não é contra nós, não nos nega nada, não nos acusa, não nos
condena. Esse argumento pode resumir-se em uma pergunta: “Quem
nos separará do amor de Cristo e do Pai?” (cf. 8,33). Só nós podemos
separar-nos do amor de Deus em Cristo Jesus. Deus jamais romperá a
sua Aliança conosco, pois ele é um Deus fiel. Nele temos a certeza da
vitória, a libertação plena.
O texto da transfiguração se encontra no meio da narrativa de
Marcos. Os discípulos, finalmente reconheceram em Jesus o Messias,
o Cristo (cf. 8,29). Mas Jesus lhes explica que o “Filho do Homem”,
E “O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
Atualizando a Palavra
Abraão é provado, e a prova de Abraão não consiste simplesmente
no sacrifício do filho, mas deste filho. Isaac é um dom especial de
Deus, prova de seu amor onipotente; é a promessa cumprida. O velho
patriarca tem de sacrificar um filho que ama e uma promessa cumprida
que ele reconhece; e tem de continuar crendo e esperando. Tem de
sacrificar uma experiência recebida de Deus, para abrir-se a outra nova
por meio do mistério.
O que significa hoje para nós, ter de percorrer um caminho dolo-
roso, o caminho da cruz e do sofrimento, acreditando que é justamente
este caminho que nos conduzirá à bênção, à salvação? Nos momentos
de provação, angústia e abandono, que ultrapassam nossa natureza e
nossa lógica, como continuar crendo que o nosso Deus quer a vida e
não a morte? (cf. Jo 10,10).
O trecho da carta de Paulo aos Romanos inicia com uma per-
gunta: “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (8,31b). E seguem
outras perguntas cujas respostas parecem óbvias.
Como alguém que se defende de um processo de acusação, a
pessoa justificada por Deus possui a certeza da vitória, pois tem
como advogado de defesa o próprio Jesus ressuscitado, que intercede
à direita de Deus.
E “O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
Situando-nos
Chegamos ao terceiro domingo da Quaresma, o domingo da expulsão
dos vendilhões do templo. Somos convidados a viver o mistério da
restauração do ser humano em Cristo a partir do símbolo do templo
(cf. Jo 2,13-25). Também para Jesus, como bom judeu, o templo de
Jerusalém constituía um lugar sagrado, devotado a Deus. Desrespeitá-
lo significava desrespeitar o próprio Deus, pois templo significa a
presença de Deus entre os seres humanos, lugar onde habita Deus.
Comparando com os outros evangelistas (Mt 21,12-17; Mc 11,15-17;
Lc 19,45-46), percebemos que João dá um sentido diferente à purifi-
cação do templo antecipando-a e carregando-a de sentido simbólico
referindo-o à morte e ressurreição de Jesus.
Jesus se escandaliza com a decadência do culto e mostra que a ver-
dadeira habitação de Deus entre os seres humanos é ele mesmo, o seu
corpo ressuscitado, que é o novo templo. Assim, quem desrespeita o
templo está desrespeitando a sua pessoa, o próprio Deus e toda pessoa
humana chamada a ser templo de Deus (cf. 1Cor 6,19). Doravante, o
culto estará ligado a Jesus, o verdadeiro templo (Jo 1,14; 1,51; 4,20-24).
Jesus profetiza sobre uma prática religiosa ligada à justiça e à realização
plena do seu Reino, e anuncia a sua ressurreição.
Conforme a tradição dos profetas (cf. Zc 14,21), a prática da
religião, o culto só são verdadeiros se promoverem a vida e a liber-
dade de cada uma e de todas as pessoas. Com o gesto da expulsão dos
Roteiros homiléticos para a Quaresma
Recordando a Palavra
“s
templo tem lugar no começo de sua vida pública. Nos sinóticos, este
gesto, no final do seu ministério, faria transbordar um cálice já cheio:
a hostilidade dos chefes judeus contra Jesus.
Voltemos à questão do templo. Trata-se do conflito entre o tem-
plo antigo, feito de pedra com seus muitos sacrifícios de animais, e o
templo novo que é Jesus, presente nas comunidades. O templo antigo
ficava em Jerusalém. Era um só para todos! Deus ficava longe. Mas o
povo fazia romarias para visitá-lo e sentir a sua presença. Jesus, o novo
templo, está presente em cada comunidade, em toda parte. Ele faz
Deus ficar bem perto de nós.
Jesus vai ao templo para encontrar o Pai, e encontra o comércio.
Encontramos aqui um contraste entre o antigo templo, que se trans-
formou em casa de comércio, e o novo templo que é Jesus.
Observando o que se passava no templo, Jesus faz um chicote de
cordas e de lá expulsa os vendedores com seus animais. Derruba as
mesas dos cambistas, joga o dinheiro no chão e diz aos vendedores de
pombas: “Tirai isso daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de
comércio” (Jo 2,16). O gesto e as palavras de Jesus lembram várias pro-
fecias; a casa de Deus não pode ser transformada em covil de ladrões
(cf. Jr 7,11); no futuro não haverá mais vendedor na casa de Deus
(cf. Zc 14,21); a casa de Deus deve ser uma casa de oração para todos
os povos (cf. Is 56,7).
Vendo o gesto de Jesus, os discípulos foram lembrando outras fra-
ses e fatos do Primeiro Testamento: “O zelo de tua casa me devora”
(Sl 68,10), e o profeta Elias que dizia: “Eu me consumo de zelo pela
causa de Deus” (1Rs 19,10).
Tocando no templo, Jesus tocava no fundamento da religião do
seu povo. Os judeus, isto é, os líderes, perceberam que ele tinha agido
com grande autoridade. Por isso, pedem que apresente as credenciais:
“Que sinal nos mostras para agir assim”? (Jo 2,18). Jesus responde:
“Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei” (2,19). Jesus falava
do templo do seu corpo, que seria destruído pelos judeus e em três
dias seria totalmente renovado por meio da ressurreição. Os judeus
so] “O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
Atualizando a Palavra
O Código da Aliança (Ex 19-24) trata de leis. Nele estão os dez
mandamentos. O que podemos aprender destas leis? Afinal, qual o
ideal que o decálogo queria realizar? Qual a posição que ele tomava
nos conflitos daquele tempo: defendia o interesse dos pequenos ou dos
grandes? Como animava a fé do povo?
O Decálogo privilegia a vida, propondo-a como valor ímpar. Há
estudiosos que apontam o quinto mandamento como o eixo das dez
palavras; “não matarás” (20,12). Podemos, pois, concluir que o espírito
sagrado dos mandamentos está no versículo 2: a experiência de Deus
como presença libertadora e protetora da vida.
Por meio da Aliança expressa nos mandamentos, o povo prome-
tera amar e servir a Deus. Mas caiu em um legalismo estéril. Jesus
veio comunicar à humanidade o verdadeiro espírito da lei, uma lei que
sustentasse a pessoa humana: é a lei do amor a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo. Na vida prática de cada dia,
Roteiros homiléticos para a Quaresma mB
o que fazer para que Deus ocupe, de fato, o primeiro lugar? Em que
podemos contribuir para promover a vida do irmão, da irmã, especial-
mente dos excluídos?
À lei do amor passa pela loucura da cruz (segunda leitura).
Os judeus exigiam uma religião de sinais prodigiosos para acreditar.
Em outras palavras, uma religião sem riscos. Os gregos procuravam
sabedoria (1Cor 1,22), ou seja, uma religião que não se encarna jamais,
puramente racional. Jesus escolheu o caminho da cruz, que é símbolo
do fracasso, da fraqueza, da vergonha e da maldição, mas ao mesmo
tempo é símbolo da encarnação do Filho de Deus em nossa realidade
mais concreta. Morrendo na cruz, Jesus nos libertou. Ele é a revelação
máxima do projeto do amor de Deus. Paulo nos ajuda, pois, a descobrir
a verdadeira religião. Como encarnar a religião, a nossa vida de dis-
cípulos de Cristo, na realidade concreta do povo pobre e crucificado?
Relendo o Evangelho deste domingo, concluímos, como as comu-
nidades que viveram depois do ano 70 d.C., quando o templo fora des-
truído, que o templo de Jerusalém estava ultrapassado. À glória de Deus
não habitava mais aquele espaço. As comunidades de João foram as que
mais avançaram nesta reflexão. Elas concluíram que em Jesus, Palavra
de Deus feita carne, reside a glória de Deus (cf. Jo 1,14). O corpo de
Jesus, ou seja, a sua realidade humana, é o local em que habita a pleni-
tude da divindade (cf. Jo 2,21-22). O que o Pai quer são os verdadeiros
adoradores, aquelas pessoas que manifestam Deus em suas vidas por
meio do amor ao próximo. Estas são as que adoram “em espírito e ver-
dade” (Jo 4,23). O verdadeiro templo de Deus é a comunidade, onde
as pessoas são “as pedras vivas, que continuamente oferecem a Deus o
autêntico sacrifício espiritual (cf. 1Pd 2,4-5), que não consta de práticas
a cumprir em determinados momentos. Percebemos a diferença entre o
legalismo condenado por Jesus e a lei do amor que liberta?
Situando-nos
Aceitamos a Quaresma como o preço de entrada para a Páscoa ou,
na melhor das hipóteses, como uma árdua preparação espiritual para
a alegria da Páscoa. Neste caso, este Domingo da Alegria —Latare
— seria um tipo de oásis: “Coragem! Mais três semanas e termina a
Quaresma, e poderemos cantar de novo o Aleluia”.
Mas, a relação entre a Quaresma e a Páscoa é muito mais pro-
funda. De fato, a Quaresma é a Páscoa, vivida nas condições deste
mundo.
O Evangelho do 1º Domingo da Quaresma apresenta a tentação
de Jesus no deserto. Ele foi tentado e nós o somos também. Mas, o
sentido interior desse texto não consiste no mero fato da tentação, e
sim na fidelidade de Jesus em meio à tentação. Assim, o 1º Domingo
da Quaresma já significa uma pascalização, porque proclama a vitó-
ria de Cristo sobre o demônio e o mal, que está no coração mesmo
do anúncio pascal.
O Evangelho do 2º Domingo narra a transfiguração do Senhor.
Podemos considerar a transfiguração, como o faziam vários padres
da Igreja, como um consolo e fortalecimento dos discípulos, antes
da crucifixão. Mais: a transfiguração é a declaração de Jesus como
Filho eterno da parte do Pai. “Este é o meu Filho amado. Escutai
o que ele diz” (Mc 9,7). E o que é a ressurreição, senão exatamente
Roteiros homiléticos para a Quaresma RB
10 Cf. CNBB. Campanha da Fraternidade 2015: Texto-Base. Brasília, Edições CNBB. 2014, p. 10.
Fã “O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
À exemplo de Cristo
e ouvindo sua Palavra
que chama à conversão,
seja vossa Igreja testemunha viva de fraternidade
e de liberdade, de justiça e de paz.
Recordando a Palavra
O livro das Crônicas, posteriormente separado em dois, faz uma
releitura teológica da história do Reino de Judá. Pode-se dizer que os
dois são uma grande história do templo de Jerusalém, tão importante
na vida do povo, por ser o lugar escolhido por Deus para a sua morada.
Crônicas foi escrito em Jerusalém por volta dos 340-300 a.C. O livro
é bastante sucinto na descrição da tragédia que culminou com o exílio
do povo. Não interessa aos cronistas narrar a derrota da Casa de
Davi, com a destruição da cidade e do templo. Após rápidos registros
inspirados no segundo livro dos Reis 23-31-25,30, sobre os últimos
reis de Judá, os cronistas narram a chegada de Ciro ao trono da Pérsia.
Concluem a narrativa transcrevendo o conhecido decreto real, que
permitiu a volta dos exilados para Judá.
Os cronistas encerram o livro (2Cr 36,22-23) com o decreto de
Ciro (cf. Esd 1,1-3). O livro de Crônicas se dirige à comunidade dos
judeus que voltaram do exílio, após setenta anos, e estão empenhados na
Roteiros homiléticos para a Quaresma B
reconstrução de Judá. Após todos os erros dos seus reis, o povo conseguiu
retornar por bênção e graça do Senhor. Dessa forma, a história precisa ser
lida de maneira positiva: Deus é o Senhor da história. Nada acontecerá ao
povo, enquanto o culto a Deus, celebrado no templo de Jerusalém, conti-
nuar a existir. Preservar a nação e o culto se tornará a grande tarefa histó-
rica do povo, liderado pelos sacerdotes e levitas. É preciso, pois, uma nova
capacidade de escuta para compreender os caminhos com que o Senhor
executa seu plano. O povo infiel viu no retorno à sua terra e na reconstru-
ção do templo a salvação e a misericórdia de Deus.
O Salmo 136(137), que é um lamento dos exilados na Babilônia,
nos põe em sintonia com todos os escravizados e exilados do mundo
e nos faz recordar o lamento dos cativos, que apesar do sofrimento,
demonstram grande resistência espiritual.
Na segunda leitura (Ef 2,4-10), encontramos os atributos de Deus,
provindos do Primeiro Testamento: rico em misericórdia, amor, favor
e bondade. Por sua iniciativa e por causa de sua misericórdia, Deus fez
todos passarem da morte para a vida, do pecado para a graça, e permi-
tiu que todos participassem antecipadamente, da vida divina, por meio
da ressurreição de Jesus (cf. vv. 4-7). Tudo isso é dom maravilhoso da
graça de Deus, em vista das boas obras a serem praticadas (cf. vv. 8-10).
O Evangelho deste domingo (Jo 3,14-21) é o encontro de Jesus
com Nicodemos. Este fariseu e membro do sinédrio percebe que a exi-
gência de Jesus está na transformação, no novo nascimento — mas não
entende de que maneira possa realizar-se tal mudança. Esta é possível
somente no impulso do Espírito, que leva a uma aceitação da proposta
de Jesus — “quem nele crê não será condenado” (3,18) — e então, a uma
prática segundo a verdade, realizando as obras de Deus (cf. 3,21).
O Batismo é o sinal — sacramento — dessa transformação radical,
que provoca um agir na verdade e na luz.
Essa transformação que permite entrar na novidade do Reino
realiza-se plenamente na cruz de Jesus: “Como Moisés levantou a ser-
pente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a
fim de que todo o que nele crer tenha a vida eterna” (3,14-15).
"O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
Atualizando a Palavra
Continuando a recordar a Palavra proclamada neste 4º Domingo da
Quaresma, tentemos atualizá-la. A ideia central do final do segundo
livro de Crônicas é, por um lado, destacar a infidelidade do povo e
das lideranças de Israel ao projeto de Deus: ou seja, o desprezo pelos
profetas, a profanação do templo e as consequências deste pecado com
o exílio do povo para a Babilônia. Por outro lado, o texto destaca a
fidelidade do Senhor que não abandona seu povo, mas, por meio de
Ciro, rei da Pérsia, permite a repatriação, a volta do povo cativo à sua
terra: nos desígnios de Deus, Ciro se torna um colaborador de Deus.
O povo pode ter novamente liberdade, esperança e vida, porque Deus
não o abandona, não o condena.
É verdade que o povo permaneceu exilado na Babilônia durante
setenta longos anos, tornando-se escravo do rei Nabucodonosor. Esta
situação é devida, como vimos, ao abandono do projeto de Deus e o
consequente desprezo dos mensageiros (profetas), que denunciavam os
desmandos dos dirigentes do povo.
Roteiros homiléticos para a Quaresma
À carta aos Efésios destaca a vida nova trazida ao novo povo de Deus
das primeiras comunidades cristãs pela morte e ressurreição de Jesus.
“Quando ainda estávamos mortos por causa dos nossos pecados, deu-nos
a vida com Cristo” (2,5). A comunidade cristã é o lugar da realização do
projeto de Deus, lugar do testemunho de um mundo novo.
À marca do texto paulino é a novidade de Deus trazida por Jesus, que
é fruto do Deus rico em misericórdia (cf. v. 4a), amoroso, gratuito e doa-
dor da graça. É a fé é o compromisso que brota espontâneo em quem se
descobre salvo e glorificado: “É pela graça que fostes salvos” (v. 8a). A fé é
nossa resposta ao amor misericordioso de Deus, e esta gera novas relações
entre as pessoas: relações de vida nova e de esperança renovada. Como
concretizar isso em nossa vida diária, em nossa caminhada?
O texto do Evangelho de hoje (Jo 3,14-21) traz uma bonita e ao
mesmo tempo controversa frase: “Deus amou tanto o mundo, que deu
o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha
a vida eterna” (Jo 3,16). Tamanho foi o amor de Deus, que nos deu seu
único filho! Mas, por que o mesmo Deus que proibiu o sacrifício de Isaac
(cf. Gn 22) entregaria seu próprio filho? Queria o Pai que seu Filho fosse
morto por nós? Se não queria, por que permitiu isso? Era necessário que o
Filho do Homem fosse levantado no madeiro (cf. Jo 3,14)?
O termo mundo é utilizado pelo quarto Evangelho para desig-
nar tudo o que se opõe.ao Reino, ao projeto de Jesus. Por isso, diante
de Pilatos, Jesus afirma categoricamente: “O meu Reino não é deste
mundo” (Jo 18,36). O mundo de Pilatos era o mundo do Império
Romano: ocupação militar, exploração dos pobres, violência contra as
mulheres e crianças. Jesus denuncia publicamente essa farsa e por isso
E "O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
uma explicação dos ritos e símbolos, mas por uma experiência, que se
aprofunda sempre mais.
Nossa Eucaristia é memória do amor do Filho do Homem que foi
levantado na cruz, para que todos os que nele crerem, tenham a vida eterna.
Como ligar a Palavra escutada neste domingo e a Eucaristia que
celebramos? Unimo-nos à oferta de Cristo, que atualiza a sua entrega
no madeiro da cruz, prova maior do amor do Pai, que deu seu Filho
único, nos propondo a continuar a nossa caminhada de conversão —
não viver conforme o “mundo” — que nos aproxima da Luz e nos com-
promete na construção de um mundo fraterno e solidário, verdadeira-
mente feliz.
5º DOMINGO DA QUARESMA
22 de março de 2015
"SE O GRÃO DE TRIGO CAIR NA TERRA E MORRER, PRODUZIRÁ MUITO FRUTO” (cr. do 12.24)
Situando-nos
O nosso retiro de quarenta dias está chegando ao fim. Neste domingo,
ouvimos a passagem do Evangelho sobre o grão de trigo que cai na
terra e morre. Morre e produz frutos infinitos. Nessa mensagem do
Evangelho de João, proclama-se a vida eterna, proclama-se a produti-
vidade ilimitada do amor. Onde alguém vive por amor, o mundo se
torna uma colheita abundante; uma semente de amor, uma lavoura
cheia de trigo. Ainda mais quando este alguém é o Verbo feito carne!
Quando o Deus feito homem vive e morre por amor, todos nós
brotamos como tantas espigas de trigo, douradas, saudáveis e eternas.
Deste modo, o 5º Domingo da Quaresma nos coloca nos átrios da glo-
rificação de Jesus. Ele mostra qual o seu caminho para a glória dos que
desejam vê-lo (cf. Jo 12,20-33): é o caminho da cruz, o caminho da semente
lançada à terra, que não fica só, mas, morrendo, produz muito fruto. É che-
gada a hora de Jesus. Trata-se de sua paixão e ressurreição, pela qual ele se
lança totalmente no plano do Pai e realiza de modo pleno sua vontade.
Jesus prometeu aos que desejam vê-lo: “Quando eu for levantado
da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Acrescenta o evangelista:
“Ele falava assim para indicar de que morte iria morrer” (Jo 12,33).
Na próxima quarta-feira, celebraremos a Anunciação do Senhor.
Podemos descobrir uma relação entre esta celebração e a Quaresma
que estamos vivendo: ao entrar no mundo, Jesus faz a vontade do Pai e
torna-se Senhor na ordem da Redenção, vencendo a morte e o pecado,
constituindo-se, assim, em Senhor da vida.
A “O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
Recordando a Palavra
Na primeira leitura (Jr 31,31-34), texto relevante do Primeiro Testamento,
que se encontra no “Livro da Consolação de Israel”? (Jr 30-31), Deus sela
a reconciliação estabelecendo uma nova Aliança. À Aliança do Sinai, que
o Senhor concluiu com o povo, quando o tirou da escravidão do Egito
(cf. vv. 31-32), não teve êxito. Esta exigia adesão exclusiva ao Senhor,
traduzida no cumprimento integral da lei, a qual era formulada com toda
a clareza e respaldada por bênçãos e maldições. Mas, era externa, gravada
em uma pedra, com a qual as pessoas não sintonizavam. À nova Aliança
inscreverá a lei no fundo do ser e no coração, de modo que se converta no
impulso ou dinamismo da conduta; o coração estará regenerado, conver-
tido pela marca viva da lei. “Colocarei a minha lei no seu coração, vou
gravá-la em seu coração; serei o Deus deles, e eles, o meu povo” (Jr 31,33).
Assim, se restabelecem as relações pessoais, substância autêntica
da aliança. O conhecimento e reconhecimento do Senhor se traduzem
em compromisso.
Um “perdão” total, sem reservas, é o primeiro ato da reconci-
liação, no qual se manifesta o “amor eterno” do Senhor. Vale notar
que Jeremias 31,31-34 é amplamente citado no Segundo Testamento
(cf. Rm 11,27; Hb 8,8-12; 10,16-17).
Em termos de aliança, o Senhor é o soberano que cumpriu seus
compromissos; em termos de matrimônio, o Senhor é o marido ao
qual a esposa — o povo — foi infiel.
Na verdade, já não necessitamos mediações exteriores (sacrifícios,
ritos legais, tábuas de pedra), pois o Senhor fez conosco uma aliança
definitiva, gravada em nosso coração, escrita em nosso peito, pois
somos o novo povo de Deus. Esta nova Aliança nos dá a esperança e a
certeza de pertencermos a uma nova humanidade reconciliada.
O Salmo 50(51) pede que, com sua graça, Deus crie em nós um
coração puro e confirme em nosso interior um espírito novo, contrito e
simples. Ao arrepender-nos de nossa infidelidade, reconhecemos que
somente Deus é fiel. O perdão divino é a oportunidade que temos de
retomar a proposta da Aliança.
Roteiros homiléticos para a Quaresma B
Vida: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus
amigos” (Jo 15,13).
Com o Evangelho de hoje estamos longe dos julgamentos, das
condenações e das exclusões. Isso não nos conduz a lugar nenhum,
mas ao contrário, para bem longe do Deus de Jesus Cristo: “Quando
eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Morrendo
numa cruz por amor, Cristo salva a todos sem exceção. É a hora de
Jesus, que coincide com a sua exaltação, e que é, antes de tudo, eleva-
ção na cruz (cf. vv. 32-33). João coloca a morte de Jesus como glorifi-
cação, mas não esconde o drama humano da sua existência, o drama
da obediência ao Pai.
Aproximando-nos da Páscoa, neste quinto domingo da Qua-
resma, estamos face a face com o ponto central da nossa fé. Diante do
Crucificado, cada um de nós se encontra sozinho: é o mistério da cruz
que implica solidão.
O Cristo crucificado e ressuscitado, o Cristo da Páscoa realizou
plenamente a Aliança nova anunciada pelo profeta Jeremias (primeira
leitura de hoje). A Aliança nova, inscrita nos corações, torna-nos capa-
zes de amar, e nos convida a libertar outras pessoas de tudo o que as
impede de amar.
Atualizando a Palavra
Quando São Bento diz que toda a vida do monge deve ser uma
Quaresma!! não está falando antes de tudo de penitência. Ele está
falando da Páscoa deste mundo, está insistindo que vivamos toda a
nossa existência cristã iluminada pelos raios da ressurreição. À liturgia
da Palavra de hoje, cujo eixo é a imagem do grão de trigo que cai na terra
e produz fruto, antecipa o sentido da Páscoa de Jesus e também da nossa.
Os gregos quiseram ver Jesus. Encontraram Filipe e André que
os conduziram a ele. Tendo visto Jesus, tendo acreditado nele, Filipe e
André guiam outras pessoas para verem e conhecerem Jesus. E a vocação
de todos os que queiram seguir a Cristo. Tendo visto Jesus, tendo feito
a experiência de Deus em nossa vida, — “vinde e vede” (Jo 1,39) — tendo
aceitado transformar-nos em semente lançada a terra, somos chamados
a conduzir outras pessoas a Jesus, para o verem, para o seguirem, para
viverem a sua vida.
A Quaresma é tempo oportuno para nos perguntarmos: como
cultivamos a graça e ao mesmo tempo o desafio do nosso discipulado
de Jesus? Queremos ver Jesus de verdade? Temos os olhos fixos nele?
Renovamos aquela aliança de amor com Cristo (lei gravada em nosso
coração), iniciada no Batismo?
Em Hebreus, vemos a semelhança de Jesus com cada um de nós: ele
viveu o dia a dia do sofrimento humano. Ele experimentou a nossa con-
dição humana, conheceu nossas fraquezas. Não é um sacerdote separado
das pessoas pelas quais intercede e oferece sacrifícios. Não é um Deus
distante, mas bem próximo. À sua obediência foi sendo construída, con-
quistada, aprendida pelo sofrimento. E só quando consumado, perfeito,
chegou a ser causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.
Jesus é o Messias, Servo humilde: ele assume as dores e esperanças de
seu povo na contramão do poder dos reis deste mundo. Que sentido tem
o sacerdócio para nós? Recorremos à oração quando não entendemos a
vontade de Deus em nossa vida, como o fez Jesus?
O caminho de Jesus é o caminho da cruz que se faz luz, pois
é caminho de vida. Ficamos parados ou bloqueados na Sexta-feira
Santa? O que esperamos para fazer com que se levante o Sol da Páscoa
em nossa vida? Ele é um ponto de referência em nossa noite? Seguir a
cruz como coluna luminosa em meio ao deserto não significa conten-
tar-nos com o sofrimento e a morte, mas é seguimento do Cristo vivo.
O mais importante não é despender o tempo impondo-nos sacrifícios,
privações e mortificações, mas seguir o mesmo itinerário de vida de
Jesus. Este Amor que morre por amor a nós, esse amor crucificado já
se transformou em luz que atravessa as trevas das nossas provas?
Como relacionar a liturgia da Palavra de hoje com a CF 2015?
À Igreja deve ser atuante, participativa, consoladora, misericordiosa,
“O Senhor vos conceda o perdão e a paz”
samaritana e por isso não pode ficar voltada para si mesma. À Igreja
precisa “sair”, como tem dito reiteradas vezes o Papa Francisco, ser
“ « 3) . . .
servidora como Jesus, que aceitando ser grão de trigo caído na terra,
dá-nos a vida. O diálogo
8 e a recíproca
P colaboração
ç entre a Igreja
Bte) e a
sociedade é a concretização do “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45) de
Jesus, que deve ser também o nosso.
morte surge a vida, que do grão de trigo caído na terra surge vida nova
e ressurreição.
O pãoeo vinho da Eucaristia remetem à última ceia. Num gesto
profético, anunciando a sua morte, Jesus partiu o pão e deu um pedaço
a cada um de seus discípulos, significando que, comendo este pão, eles
se tornariam companheiros e cúmplices na entrega da vida em favor
do Reino. Eis o nosso compromisso com a causa do Reino, a causa de
Jesus, nesta celebração já tão próxima da festa da Páscoa.
29 de março de 2015
“HOSANA! BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR! (Me 11,9).
Situando-nos
Hoje, celebramos o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor.
O duplo nome indica dois diferentes mistérios, duas diferentes
tonalidades espirituais, duas histórias diferentes: “Ramos” e “Paixão”.
Com a celebração deste domingo, iniciamos a Semana Santa, a
Semana Maior do ano litúrgico.
À procissão com os ramos tem sua origem na liturgia de Jeru-
salém; de lá passou para a liturgia da Espanha e da Gália; bem mais
tarde (por volta dos séculos VII e VIII), a Igreja de Roma também a
assumiu. Nesta procissão celebramos a entrada messiânica de Jesus em
Jerusalém para realizar seu mistério pascal. O uso dos ramos faz alusão
à festa das Tendas. Agitando nossos ramos, caminhando e cantando
hinos de vitória ao Cristo, Rei e Redentor, aclamamos Jesus como
Messias. Ele vem realizar todas as promessas dos profetas e instaurar
o Reino de Deus: justiça para os pequenos; participação de todos em
igualdade, em vez de grupos poderosos dominando o povo; convivên-
cia fraterna sem exclusões, sem discriminações, paz entre os povos e
diálogo entre as culturas, plena comunhão com Deus.
À celebração da Palavra deste domingo, com a leitura da Pai-
xão do Senhor tem sua origem na liturgia romana. Ela é toda cen-
trada na figura de Cristo como Servo Sofredor. As leituras falam da
Roteiros homiléticos para a Quaresma
Recordando a Palavra
O texto de Isaías 50,4-7 relata o terceiro canto do Servo Sofredor, que
é marcado pela escuta da palavra de Deus, pela fidelidade no anúncio,
pela perseguição e resistência. Ter a barba arrancada e receber cuspe
no rosto são gestos dolorosos e humilhantes. À expressão “endurecer o
rosto como pedra” mostra a resistência do servo. De quem o profeta está
falando? Ficamos com a interpretação messiânica: segundo os autores
do Segundo Testamento, esse ideal encontrou perfeita realização em
Jesus: a profecia do servo sofredor descreve antecipadamente a vida de
Jesus. Sua confiança em Deus e seu amor pelos irmãos deixam-no em
uma suprema liberdade diante de qualquer provação. Ele tem certeza
de que sua missão não é vã.
Realmente, Jesus assume a missão deste Servo misterioso: uma
missão de discípulo que escuta, que encoraja os desanimados e apre-
senta resistência não violenta ante os sofrimentos e humilhações que
lhe são impostos pelos inimigos.
O Salmo 21(22), oração pessoal de súplica, expressa a esperança
do justo sofredor e responde ao canto do Servo anteriormente pro-
clamado. O inocente perseguido, vivendo profunda experiência de
abandono, sente-se esquecido pelo próprio Deus (cf. Mt 27,46):
“Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes?”. Será que até Deus
se afastou? Mas da oração suplicante brota a certeza de que Deus está
presente e vai socorrer o fiel contra os inimigos violentos.
À carta aos Filipenses 2,6-11 canta, em síntese, toda a trajetória
de Jesus Cristo. Este hino descreve o aniquilamento, o “esvaziamento”
do Filho de Deus. Este aniquilamento expressa o movimento de Jesus
que parte de Deus, desce até a morte na cruz, e volta para Deus como
Senhor. Jesus não teve medo e, como verdadeiro Servo sofredor, viveu
Roteiros homiléticos para a Quaresma RB
era Filho de Deus!” (Mc 15,39). Jesus é Messias-Rei, mas a sua realeza
não coincide com os padrões de poder e autoridade daquele tempo e
de hoje.
À história da Paixão e Morte de Jesus Cristo não é algo distante
ou sem interesse. Toda a humanidade e cada pessoa estão envolvidas
nela, dela participam de alguma maneira e dela são chamadas a dar
testemunho. Na verdade, cada um de nós poderá exercer o papel de
Pedro, que nega o Mestre, mas se deixa atingir pelo olhar misericor-
dioso de Cristo (cf. Mc 14,72). Pode acontecer que façamos o papel de
Pedro, Tiago e João: em vez de vigiarem, adormecem enquanto Jesus
sofre a agonia de sua hora. Seremos talvez, em certas circunstâncias
da vida, as testemunhas falsas, os sumos sacerdotes, os anciãos e os
escribas, que não reconhecem em Jesus o Filho de Deus bendito nem
o Filho do Homem que verão sentado à direita do Pai.
De repente, poderá se manifestar em nós a figura de Pilatos, e, por
covardia, acabamos por condená-lo. Seremos ainda o povo, preferindo
Barrabás a Cristo. Por vezes, talvez contra a vontade, fazemos o papel
de Simão Cireneu, ajudando a carregar a cruz de Jesus, pesando sobre
os ombros da humanidade injustiçada e sofrida hoje.
Cada pessoa já terá sentido em si o conflito entre o personagem
que faz o Cristo sofrer mais e aquele que se solidariza com ele e pro-
cura aliviar seus sofrimentos. Importa que, por entre os altos e baixos
da vida, reconheçamos no Filho do Homem quem ele é, e digamos
como o oficial romano, um pagão: “De fato, este homem era Filho de
Deus” (Mc 15,39).
Atualizando a Palavra
Chegando ao Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, encontramo-
-nos no portal da Semana Santa. Como o povo da Primeira Aliança,
que durante a festa das Tendas levava ramos nas mãos, simbolizando
a esperança messiânica, hoje, nós aclamamos o Cristo, Rei Redentor
e renovamos nossa adesão a ele. Escutando com atenção e adentrando
Roteiros homiléticos para a Quaresma RB
Foi o caminho que o Pai escolheu com a encarnação de Jesus: ele assu-
miu nossa condição humana. Assumiu sobre si nossas dores. Enfren-
tou a perseguição dos poderosos.
Porém, contraditoriamente, dessa cruz, instrumento de morte,
brotou a vida, a ressurreição, a semente do novo. E esta outra proposta
de mundo que, como seguidores de Jesus, queremos adotar.