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CNBB

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

“Mestre, que eu veja!”


(Mc 10,51)

Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il


Ano B - Setembro / Novembro de 2009

Projeto Nacional de Evangelização


O Brasil na Missão Continental

(5) Ns

Cições CNS?
C748m Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / “Mestre, que eu veja!”
(Mc 10,51): Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II Ano B -
Setembro/ Novembro de 2009. Brasília, Edições CNBB. 2009.
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51): Roteiros Homiléticos do
Tempo Comum II Ano B - Setembro/ Novembro de 2009.
Brasília, Edições CNBB. 2009.
12p.:14x21em
ISBN: 978-85-60263-74-5
1. Liturgia 2. Igreja Católica.
CDU - 264.941.6

Coordenação:
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
Coordenação Editorial:
Pe. Valdeir dos Santos Goulart
Projeto Gráfico:
Fábio Ney Koch dos Santos
Diagramação e Capa:
Henrique Billygran da Silva Santos
Revisão Doutrinal:
Pe. Antônio Silva Paixão
Revisão:
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12 Edição - 2009

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Sumário
Apresentação ...................
rr errre rear re era r arraia 7

A Liturgia no Tempo Comum:


Considerações e Sugestões Gerais ........................, 9

23º Domingo do Tempo Comum


06 de setembro de 2000 .................iee
nr errrererereererrrsanra 13

24º Domingo do Tempo Comum


13 de setembro de 2009 .................eiercrererrerrrrrrerereraeeero 19

25º Domingo do Tempo Comum


20 de setembro de 2000 ................eerererrererereerenenernenenenoo 24

26º Domingo do Tempo Comum


27 de setembro de 2000 ..................eere
re rererrrrererreneraneneea 28

27º Domingo do Tempo Comum


04 de outubro de 2009 ..............eee
re rerererenrenererererrereneso 35

28º Domingo do Tempo Comum


11 de outubro de 2000 .................e
eos er rr rererereerenernranaa 44

Solenidade de N. S. Aparecida
12 de outubro de 2000 ..............eeee
eres ererrrrerrerrrreeneronra 52

29º Domingo do Tempo Comum


18 de outubro de 2000 ...............eee
re rerererreerreronrrneranoo 58
30º Domingo do Tempo Comum
25 de outubro de 2000 ............eeirererererereererercenenenaranansos 66

31º Domingo do Tempo Comum


01 de novembro de 2000 .............eieer
err rrrrrrrerrerenereronnos 73

Comemoração de todos
os Fiéis Defuntos - Finados
02 de novembro de 2000 ..............eer
eres errrrernnornerererernero 81

32º Domingo do Tempo Comum


08 de novembro de 2000 ..............eeee
re rerererrerereeerenesaano 87

33º Domingo do Tempo Comum


15 de novembro de 2000 ..............ee
rc errerrererrorerenenra 94

34º Domingo do Tempo Comum


Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo
22 de novembro de 2009 .............eeene
res eerrerrrerenrrarreo 101
Apresentação

“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Vivenciando com toda a Igreja o Mistério Pascal, durante o Tem-


po Comum, apresentamos os roteiros homiléticos do 23º domingo
(06 de setembro) ao 34º domingo (22 de novembro), com as soleni-
dades dos Santos e Santas de Deus no 31º domingo (01 de novembro)
e de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, no 34º domingo
(22 de novembro), conclusão do ano litúrgico.
Agradecemos a colaboração da Irmã Veronice Fernandes,
pddm, que muito contribuirá para a reflexão e a oração em nossas
liturgias dominicais, motivando as comunidades eclesiais, ao segui-
mento de Jesus, o Missionário do Pai. Com o evangelista Marcos,
somos chamados a fazer a experiência de Jesus, que, com gestos e
palavras, aproximou o Reino de Deus de toda a humanidade, não
de modo ostensivo, mas segundo a profecia de Isaías, como Messias
— Servo. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45).
Seguindo os passos de Jesus, nossas comunidades e cada um de
nós é convocado ao discipulado e à missionariedade, no cotidiano
da vida. Como ontem, hoje, o Ressuscitado vai à nossa frente, dan-
do-nos o exemplo. Como servo sofredor, compadece-se dos pobres
e doentes, ajudando-os a resgatar a dignidade e o sentido da vida.
Aos discípulos, pede que sejam acolhedores, evitem escândalos, se-
jam tolerantes e capazes de dialogar e de respeitar os que não estão
no caminho com eles. Resgata o projeto original do criador, quan-
10,51)
“Mestre, que eu veja!” (Mc

do apresenta a união do homem e da mulher, apontando para a


aliança esponsal de Deus com seu povo. Propõe a desabsolutização
das coisas: dinheiro, posses..., revelando que, para ser discípulo, é
necessário despojar-se de todo poder e desejo de grandeza, mar-
cando a caminhada pelo serviço aos irmãos. Garante que as cruzes
da caminhada levam ao encontro e ao reconhecimento d'Ele como
Messias, vencedor da morte. Quem o encontra e aceita o desafio
de segui-lo, torna-se discípulo, empenha-se pela causa do Reino, já
presente na história, colabora na construção de uma sociedade com
relações justas e solidárias e, com os pés no chão, correndo riscos,
segue em frente com coragem e esperança.
“. Em cada Eucaristia, os cristãos celebram e assumem o mis-
tério pascal, participando n'Ele. Portanto, os fiéis devem viver sua
fé na centralidade do mistério pascal de Cristo através da Eucaris-
tia, de maneira que toda sua vida seja cada vez mais vida eucarís-
tica. A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao mesmo
tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Aí, o Espírito
Santo fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida
vontade de anunciar, com audácia, aos demais o que tem escutado
e vivido” (Documento de Aparecida, n. 251).

t Dom Sérgio Aparecido Colombo


Bispo de Paranavaí
Membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia
A liturgia no tempo comum:
considerações e sugestões gerais
Nos domingos do tempo comum, o mistério da Páscoa do Senhor
nos é revelado pelo cotidiano de sua vida: suas palavras, ensinamen-
tos, trabalhos, amizades, sonhos, conflitos e desafios.
O mistério celebrado em cada domingo é encontrado no evan-
gelho do dia. Junto com os discípulos que deixaram tudo para seguir
o Mestre e junto com todo o povo que coloca nele suas esperanças,
acompanhamos Jesus em sua caminhada missionária.
O Concílio Vaticano II pediu que a mesa da Palavra fosse mais
enriquecida, para que o povo pudesse alimentar-se também da Pa-
lavra (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 51). Dessa forma, o lecionário
foi organizado em um ciclo trienal A,B,C. Cada ano é caracterizado
pela leitura de um dos evangelhos sinóticos: no ano A, lemos o evan-
gelho de Mateus; no ano B, o de Marcos; no ano €, o de Lucas.

Há certa lógica igual para todos os anos:


» domingos da memória do discipulado de Jesus - no início do
tempo comum, depois do Natal e antes da Quaresma, lemos
o início da missão de Jesus, com o chamado dos discípulos, a
proposta do Reino;
h em seguida, acompanhamos cada evangelho, quase do co-
meço ao fim, não considerando apenas aquelas passagens
que são lidas nos tempos fortes do ano litúrgico;
à no final do tempo comum, ouvimos as palavras de Jesus so-
bre o fim do mundo — o discurso escatológico.
Este ano, estamos seguindo os passos de Jesus, no caminho pro-
posto pelo evangelista Marcos. Ele coloca-nos frente a frente com
Jesus Cristo, o Messias que vem instaurar o reino de Deus. Ele não
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

vem de forma triunfante, vem como servo sofredor, perseguido,


executado na cruz.
Para entrar neste caminho, é preciso fazer a opção pela pessoa de
Jesus, rompendo com tudo aquilo que não condiz com sua proposta.

Lembretes

EN Preparar bem, para assegurar uma celebração mais autêntica


do mistério pascal do Senhor, tendo em conta os aconteci-
mentos da vida, inseridos neste mesmo mistério de Cristo
(cf. Doc. 43 da CNBB, n. 48-50).

É preciso cuidar da formação técnica, teológica e espiritual


de todo/as os/as ministros/as, para que, no exercício do mi-
nistério, o exerçam com tal unção, de modo a facilitar a par-
ticipação ativa, consciente, interior e plena da assembleia.

A celebração da vigília ajuda a retomar o sentido do domin-


go, como páscoa semanal, como já é prática de muitas comu-
nidades. O Ofício Divino das Comunidades oferece propos-
tas para estas celebrações que enriquecem a espiritualidade
do domingo.
O espaço celebrativo precisa ser zelado, para que todos os
sinais sensíveis aí presentes (altar, ambão, cadeira do presi-
dente, lugar da assembleia, livros litúrgicos, flores, etc.) “ma-
nifestem” o mistério celebrado e favoreçam a participação
de todos.
A escolha dos cantos deve ser cuidadosa e criteriosa, para que
a comunidade tenha o direito de cantar o mistério celebrado.
Neste sentido, uma ótima referência é o Hinário Litúrgico da
CNBB, fascículo 3, que é resultado do esforço de recuperar,
principalmente nos cantos de abertura e comunhão, o senti-
do do mistério de Cristo em cada domingo. Além disso, este
hinário contém rico repertório de cantos do ordinário da
e | PNE- BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

missa, como também melodias para salmos responsoriais e acla-


mações ao Evangelho para os domingos dos anos A, B,e C.
h À cor usada, no Tempo Comum, é a verde.

h Valorizar o silêncio como espaço para acolher o mistério de Deus.


à Fazer a recordação da vida no início da celebração (após o si-
nal da cruz e a saudação presidencial) ajuda a comunidade de
fé a ligar os acontecimentos da vida ao mistério de Cristo.
à O canto do Glória não é um hino trinitário, mas cristológico,
portanto, sua escolha merece atenção.
à A homilia seja um espaço de profunda educação à fé, à mis-
tagogia, fundada na teologia das atividades de Jesus, como é
apresentada pela narrativa do evangelista. A leitura semicon-
tínua dos evangelhos sinóticos permite isto.
hà Ao menos aos domingos e dias festivos, cante-se, em tom de
exultação, a aclamação memorial: “Anunciamos Senhor a
vossa morte...” Os cantos devocionais não têm sentido neste
momento.
à E imprescindível valorizar a fração do pão, acompanhada
pela assembleia com o canto do Cordeiro de Deus.
à O canto da comunhão retoma o evangelho do dia e, desta forma,
ajuda a garantir a unidade das duas mesas (Palavra e Eucaristia).
à Muitas comunidades estão impossibilitadas de celebrar a Euca-
ristia e, para celebrar a páscoa de Cristo, aos domingos, reúnem-
se ao redor da Palavra de Deus. As equipes devem se empenhar,
para que tais celebrações sejam um encontro dialogal, orante
e de relação gratuita com o Senhor. Que a presença carinhosa
de Deus seja reconhecida, e a força do seu amor possa fecundar
misteriosamente o corpo de Cristo que é a assembleia.
à Às festas dos santos e da Virgem Maria ganham uma dimen-
são pascal, ligadas ao mistério de Cristo.
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

à Os acontecimentos eclesiais, tais como: assembleia de pastoral,


campanha de evangelização, mês temático, sejam mais inseri-
dos na dinâmica da celebração dominical. Por exemplo:

» O mês de setembro, mês da Bíblia, pode ser momento propício


para a comunidade desenvolver algum gesto ou rito que edu-
que para uma relação familiar com a Palavra e que seja assumi-
do em todos os domingos: cantar o Evangelho ou proclamá-lo
entre velas acesas, ou, se for de noite, acompanhado de velas
acesas nas mãos das pessoas; a assembleia pode aproximar-se
do ambão; conduzir o livro em procissão e incensá-lo; passar o
livro de mão em mão pela grande assembleia.
à No mês das missões, outubro, entrar em comunhão com aque-
les e aquelas que, no mundo inteiro, dão testemunho do Evange-
lho. Podem ser valorizadas as preces dos fieis e o rito da bênção
e do envio, como formas de redescobrir a missão que o Senhor
nos dá, na cidade e no campo, dentro e fora do país”.
»» 1

à “A caminhada de libertação dos pobres, as lutas dos movi-


mentos sociais por terra, pão, trabalho e educação, a busca
da justiça, dos direitos humanos e da paz constituem mo-
mentos densos da páscoa de Cristo na páscoa do povo e que,
por isso mesmo, pedem um espaço na celebração semanal.
Assim, a memória dos mártires pode ser lembrada, trazendo
na procissão de entrada um retrato seu; (...) a bandeira da
paz, trazida solenemente e tocada por todos para pedir o fim
da violência neste ou naquele lugar.”
à Os avisos ligam a liturgia à vida. Daí a importância de serem
dados com objetividade, clareza e a devida motivação, para
maior envolvimento da comunidade.

1 Cf. CARPANEDO, Penha; GUIMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor: guia para as celebrações das
comunidades, tempo comum, ano C. São Paulo: Apostolado Litúrgico, 2004. p. 29.
2 Cf. Ibidem. p. 29.
06 de setembro de 2009

AOS SURDOS FAZ OUVIR E AOS MUDOS FALAR.

Leituras: Isaías 35,4-7a; Salmo 146(145),7.8-9a.9bc-10; Tiago 2,1-5; ,

Marcos 7,31-37 (cura do surdo-mudo)

Situando-nos

Neste domingo, somos convidados, como discípulos e discípulas,


a descobrir quem é Jesus. É uma descoberta que passa não só pela
cabeça (mente), mas pelo coração, pelo corpo todo. A pessoa toda,
em sua inteireza, faz a experiência de Jesus, o Filho do Deus vivo.
O encontro com Jesus se dá no meio dos pobres, no campo,
na periferia, nas ruas dos grandes centros urbanos. Deste encontro
com Jesus, nasce uma verdadeira mudança de vida.
Hoje, celebramos a páscoa de Cristo, manifestada na vida do
surdo-mudo. Jesus, vendo-o, se compadece de sua situação e abre-
lhe os ouvidos e a boca.
Nesta celebração, renovamos o nosso compromisso de associar-
nos à missão de Jesus Cristo, de resgatar a dignidade e liberdade das
pessoas, especialmente em nossa pátria amada, que amanhã recor-
da sua independência.

Recordando a Palavra

Retomamos hoje a leitura do evangelho de Marcos que, provavel


mente, foi o primeiro catecismo da comunidade cristã. Aos poucos,
o evangelista vai ajudando os discípulos e outras pessoas a percebe-
rem quem é mesmo Jesus e o que significa ser discípulo e seguidor
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

dEle. Tal percepção só é possível, à medida que as pessoas se compro-


metem com o projeto de Deus, com a prática libertadora de Jesus.
O evangelho de hoje apresenta Jesus percorrendo regiões pa-
gãs: Tiro, Sidônia e a região da Decápole (7,31). Aí neste território,
Jesus encontra-se com um homem surdo e que tinha ainda dificul-
dade para falar (7,32).
Retirando o homem do meio da multidão, Jesus cura-o com
gestos corporais (põe-lhe os dedos no ouvido e, com a saliva, toca-
lhe a língua) e com sua palavra (efatá) (v. 32-35).
No processo da cura, foi importante o contato de Jesus com o
surdo-mudo, por meio da saliva que, para o mundo antigo, possuia
um caráter terapêutico e por meio da palavra de ordem: “Abre-te”.
Houve gesto e palavra. É curioso que a cura acontece depois da
palavra: “Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se
soltou e ele começou a falar sem dificuldade” (v. 35).
Narrando este fato, Marcos oferece aos ouvintes uma cateque-
se sobre Jesus, a partir de Isaías 35. Jesus é o verdadeiro realizador
da salvação de Deus. Ele abre os ouvidos e a boca das pessoas, para
que possam testemunhá-lo.
A primeira leitura, extraída do livro do profeta Isaías, está in-
serida no “pequeno apocalipse de Isaías” (capítulos 34-35). Os dois
capítulos mostram um quadro negativo (destruição das socieda-
des opressoras — capítulo 34) e um positivo (a construção da paz
em Sião-Jerusalém — capítulo 35).
O texto lido, hoje, traz uma mensagem cheia de alegria e fe-
licidade. Tendo sido, provavelmente, escrito em tempos de exílio
babilônico, há explosões de alegria e júbilo pela manifestação de
Deus. Surge uma esperança para os enfraquecidos e desanima-
dos: Deus vem. Vem com poder, em favor de seu povo. Vem para
salvar. Ele vai dar saúde aos doentes, vai fazer brotar água do de-
serto, transformando-o num jardim. Deus vai fazer desabrochar
vida, onde antes só havia sinais de morte. As mudanças que Deus
vai provocar atingem as deficiências do corpo mutilado, a fraque-
za da natureza deserta.
1 5 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

No Salmo 146(145), o salmista convida os ouvintes a confiar


no Senhor que criou todas as coisas. Deus cuida, restaurando as
pessoas e as coisas.
Tiago, na palavra lida hoje, garante que “a fé em nosso Senhor
Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas”, A
crítica do autor concentra-se na maneira como os cristãos avaliam
os ricos e os pobres.
A Igreja é convidada a testemunhar sua fé com atitudes de
imparcialidade, valorizando todas as pessoas, sem excluir os mais
pobres.

Atualizando a Palavra
A palavra de Deus, dirigida a nós, neste domingo, faz reacender
a esperança e a certeza de que Deus cuida, com carinho, de to-
das as pessoas e, de maneira especial, dos necessitados e margi-
nalizados.
Tanto na experiência do povo da primeira aliança, quan-
to do povo da segunda aliança, acontece uma nova criação. Um
novo mundo é possível. Deus não nos abandona. Ele é fiel para
sempre.
O evangelho de Marcos é um alerta para os que se dizem cris-
tãos. O surdo-gago, depois de curado, torna-se um evangelizador.
Nele há disponibilidade para crer e comprometer-se, não facilmen-
te encontrada nos discípulos. A fé emerge rapidamente naqueles
que estavam fora, os pagãos. Tudo isso é um grande desafio para
os que já creem ser cristãos maduros e comprometidos.
Podemos dizer que é um desafio para nós, hoje, fazer opção
por Jesus Cristo, sua vida, suas ações, sua proposta.
A palavra de Deus nos faz rever também nossas opções como
pessoas e comunidades. E a evangélica opção pelos pobres? Preci-
samos ser tocados por Jesus e escutar sua palavra, para termos mais
coragem e decisão para assumirmos sua missão aqui e agora.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Alimentamo-nos, na mesa da Palavra, onde Jesus recria com sua
palavra “Efatá”. Com gesto e palavra, ele cura e reintegra o surdo-
mudo. A palavra de Deus é viva e eficaz. Ela gera vida nova.
No rito do Batismo, o ministro toca o ouvido e a boca do bati-
zando e diz: “O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos
falar; te conceda que possas logo ouvir sua Palavra e professar a fé
para louvor e glória de Deus Pai”.
Como o surdo-gago, somos tocados pelo Senhor que abre nos-
sos ouvidos, fazendo-os ouvidos de discípulo que escuta atenta-
mente a Palavra de vida e salvação.
O Concilio Vaticano II fala das duas mesas (Palavra e Eucaristia)
como um só ato de culto (Sacrosanctum Concilium, n. 56). Em virtude
da Palavra, a ação de graças do povo reunido em memória da paixão
e ressurreição de Cristo, adquire toda a sua atualidade e promove
maior fidelidade à vontade de Deus, expressa nos sinais dos tempos.
Na oração pós-comunhão, pedimos: “Ó Deus, que nutris e
fortificais vossos fiéis com o alimento da vossa palavra e do vosso
pão, concedei-nos, por estes dons do vosso Filho, viver com ele
para sempre”.
Viver com ele, por ele e nele, atualizando em nossa realidade
suas ações e opções, sem medo. Eis a nossa missão.

Sugestões:

1. Preparar bem os leitores e salmistas para a proclamação da


Palavra de Deus, pois “o que mais contribui para uma adequada co-
municação da Palavra de Deus à assembleia, por meio das leituras, é
a própria maneira de proclamar dos leitores, que devem fazê-lo em
voz alta e clara, tendo conhecimento do que leem..” (Introdução do
Elenco das leituras da missa, n. 14).
2. Valorizar o livro da Palavra de Deus, levando-o ladeado com
velas durante a procissão de abertura.
A PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Ii Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

3. Antes da proclamação das leituras, pode ser cantado um re-


frão para preparar a escuta, por exemplo: “Desça como a chuva, a
tua palavra, que se espalhe como orvalho, como chuvisco na relva,
como aguaceiro na grama. Amém”
4. No rito do envio: Ide em paz. Sejam praticantes e testemunhas
eloquentes da Palavra do Senhor.
5. Amanhã, 07 de setembro, é Dia da Pátria e da Independência
e Dia do Grito dos Excluídos. No dia 08, é a festa do Nascimento de
Maria, mãe do Senhor.

Setembro - Mês da Bíblia


Durante o mês da Bíblia 2009, propõe-se à nossa reflexão a
Carta de S. Paulo aos Filipenses, sob o tema: “alegria de servir
no amor e na gratuidade”. O lema é: “Tende entre vós os mes-
mos sentimentos de Cristo Jesus”. É uma excelente oportuni-
dade para analisarmos nosso modo de agir no mundo de hoje,
fazendo séria revisão de nossa vida cristã, pessoal e comunitá-
ria, à luz da experiência exemplar dos cristãos da comunidade
de Filipos.

3 Suplemento do Ofício Divino das Comunidades: refrões meditativos. São Paulo, Apostolado
Litúrgico. Também gravado em CD.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Grito dos Excluídos - 7 de setembro

O Grito dos Excluídos, em sua 15º edição, vem se afir-


mando como momento de mobilização popular, na Semana
da Pátria, em vista da construção de um projeto para o Brasil.
Nascido na Campanha da Fraternidade de 1995, com o tema
Fraternidade e os Excluídos, o objetivo principal do Grito tem
sido a defesa da vida das populações excluídas, contribuindo
para que saiam das arquibancadas, onde prevalece uma atitu-
de de passividade, e se coloquem no jogo dos debates, como
protagonistas de sua cidadania.
O tema deste ano, “Vida em primeiro lugar: a força da
transformação está na organização popular”, pretende anun-
ciar, em diferentes manifestações populares, os sinais de espe-
rança, através da unidade, da organização e da luta popular,
e denunciar todas as formas de injustiça que, em nosso país,
causam a destruição e a precarização da vida do povo e do
Planeta. A exemplo da flor, da espiga e da construção, as mu-
danças levantam-se do solo e crescem a partir da semente e
dos alicerces.
No dia 07 de setembro, junto com o Grito dos Excluídos,
em Aparecida/SP, acontece a 22º Romaria dos Trabalhadores/
as que neste ano traz o lema: “A sabedoria dos pobres derrota
as armas dos poderosos”.
EDISON OR QE NNE rr Da O RT CR :
po Reis Mesa Ma Rue ns EA Ea SL EN E PERDOA dt

24 o MA Cat DE DRA CAORAUM


13 de setembro de 2009

TU ÉS O MESSIAS... O FILHO DO HOMEM DEVE SOFRER MUITO.

Leituras: Isaías 50,5-9a; Salmo 114(116),1-2.3-4.5-6.8-9 (R/. 9);


Tiago 2,14-18; Marcos 8,27-35 (duas reações de Pedro)

Situando-nos

Caminhando na estrada de Jesus, segundo o itinerário proposto por


Marcos, chegamos, neste domingo, a um ponto decisivo. Jesus é o
messias-servo-sofredor, que “devia sofrer muito, ser rejeitado pelos
anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei; devia ser morto
e ressuscitar depois de três dias” (v. 31).
Diante da revelação do jeito da messianidade de Jesus, cabe ao
discípulo responder não só com palavras, mas com ações concretas a
pergunta que o próprio Jesus faz: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
Nesta celebração dominical, fazendo memória e atualizando o
mistério da entrega de Jesus, o servo-sofredor, exaltado por Deus,
nos tornamos parte de sua vida e seu destino.
Com o coração renovado e nutrido nas mesas da fraternidade,
da Palavra e da Eucaristia, nos propomos vencer a tentação do su-
cesso e do triunfo e aprender a viver de um jeito mais pascal.

Recordando a Palavra
O evangelho de Marcos contém duas partes. A primeira, concluída
no capítulo 8, versículo 30, objetiva levar ao reconhecimento de que
Jesus é o Messias (cf. 1,1). A partir do versículo 31, do capítulo 8,
inicia-se a segunda parte que tem a finalidade de explicar que tipo
de Messias é Jesus.
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

O texto de hoje pertence às duas partes. A primeira parte come-


ça com Jesus no deserto (cf. 1,1) e a segunda é o início do “caminho
para Jerusalém”, lugar do acontecimento pascal de Jesus.
Outro dado importante para compreendermos o evangelho
de hoje é saber que Marcos introduz o tema do Messias Sofredor
(três anúncios da paixão — jeito messiânico de Jesus ser), por meio
de palavras e testemunhos de Jesus. Os anúncios da paixão encon-
tram-se inseridos entre duas curas de cego (cf. 8,22 até 10,52). Cer-
tamente, esta construção não é por acaso. Justifica-se por causa da
cegueira e da dificuldade dos discípulos em compreenderem quem
é mesmo Jesus.
O evangelho de hoje se desenvolve em Cesareia de Filipe, re-
gião pagã, reconstruída por Filipe, filho de Herodes, o Grande. O
nome Cesareia é uma homenagem ao imperador Augusto.
Jesus escolheu propositalmente esta região romanizada, para
que os discípulos tomassem consciência de que tipo de Messias
Ele era. Um lugar longe da Galileia que identificava o messias
como um revolucionário, um libertador nacionalista. Eis, por-
tanto, um significado teológico: só através da fé, consegue-se se-
guir Jesus.
Este seguimento na fé é um caminho que vai se fazendo aos
poucos. Isto fica claro na resposta dos discípulos à pergunta de Jesus
(vv. 27-29) e na reação de Pedro, diante da explicitação de Jesus a
respeito do próprio messianismo (cf. vv. 30-32).
Com o anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus, feito
por Ele próprio, o evangelista corrige qualquer ideia falsa em torno
do messianismo de Jesus.
O discípulo segue os caminhos do Mestre. Deve renunciar a si
mesmo, tomar a cruz e seguir Jesus (vv. 34-34). Veja que o convite é
aberto a todos: multidão e discípulos.
A primeira leitura de Isaías — o terceiro poema do Servo de Javé
— está em consonância com o Evangelho. Até porque é inconcebível
falar da paixão do Senhor, sem dirigir o pensamento para os cânticos
do Servo Sofredor.
a PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

O tema central deste poema é o sofrimento que o Servo terá


que suportar, provocado por seus adversários. Os sofrimentos e
ultrajes são aceitos sem revolta. São sofrimentos físicos e humi-
lhação. A barba era símbolo de dignidade social, arrancá-la causa-
va dor física e vexame. Cuspir no rosto era o máximo da injúria.
Tudo é enfrentado com tranquilidade e firmeza, pois o Senhor é
auxilio e segurança.
O Salmo 114(116) é um hino de ação de graças. O orante agra-
dece a Javé, porque o livrou de todas as desgraças: preso nas cordas
da morte e nos laços do abismo, invadido pela angústia e tristeza,
chegou à beira da morte...
Na segunda leitura, Tiago mostra a relação profunda entre fé e
obras. A fé sem obras é morta. O autor responde a alguns membros
da comunidade, que interpretaram erroneamente as palavras de
Paulo, em Romanos 3,28 e Gálatas 2,16, afirmando que era possível
salvar-se mediante certo tipo de fé que podia até dispensar as pesso-
as das consequências que a mesma fé traz.
Tiago deixa claro: não há como separar a fé das obras. Cristão
de verdade “mostra a fé pelas obras”.

Atualizando a Palavra

As três leituras de hoje estão em consonância. O evangelho apre-


senta quem é Jesus: “o Messias”. Não um Messias nos moldes que
muita gente esperava. Ele é o Messias-Servo. O Servo Sofredor que
foi injuriado, maltratado, flagelado, crucificado. Aos seguidores de
Jesus, cabe uma opção livre, porém radical: arriscar a própria vida,
assumir todos os riscos, pois a fé sem obras é morta.
O que o mundo pode esperar de nós? A proposta cristã é a de
morrer para dar a vida.
A pergunta está feita: “E vós, quem dizeis que eu sou?” O quê e
como vamos responder? A nossa resposta por palavras e ações deve
ser coerente com o que professamos. Os bispos em Aparecida nos
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51) PD)

recordam: “... sentimos a necessidade de promover uma globaliza-


ção diferente, que esteja marcada pela solidariedade, pela justiça e
pelo respeito aos direitos humanos...” (Documento de Aparecida,
n. 64). Direitos estes desrespeitados no rosto dos que sofrem: po-
vos indígenas e afro-americanos; mulheres excluídas; jovens sem
possibilidades de estudo e emprego; pobres; desempregados; mi-
grantes; agricultores sem terra; trabalhadores da economia infor-
mal; meninos e meninas submetidos à prostituição infantil; vítimas
do aborto; dependentes químicos; os que sofrem doenças graves...”
(Documento de Aparecida, n. 65).
São manifestações históricas do rosto sofredor de Jesus. Colo-
quemo-nos a serviço.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Como Messias-Servo, Jesus experimentou a morte, o sofrimento de
uma maneira livre, consciente e por amor.
Neste domingo, reunidos e unidos, fazemos o memorial da en-
trega de Jesus à morte e da vitória da justiça que não tardou a se ma-
nifestar, pois o Pai ressuscitou a Jesus de entre os mortos, tornando-
O assim a fonte de vida para todos os que assumem, como própria,
a tarefa de serem, hoje, “servos de Javé”.
Este é o mistério de nossa fé, anunciado e vivido por Jesus, e
que se torna vida e realidade na nossa história.

Sugestões: +

1. Destacar a cruz a ser levada na procissão de abertura.


2. Toda a comunidade pode renovar sua adesão a Cristo, fa-
zendo sua profissão de fé à semelhança da Vigília Pascal, dialoga-
da, com a renovação das promessas batismais e o rito da aspersão,
acompanhado do canto: “Banhados em Cristo, somos uma nova cria-
tura. As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo”,
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

3. Na bênção final e despedida, enfatizar a missão de renunciar


a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Jesus, o Messias-Servo.
4. Amanhã, 14 de setembro, é festa da Exaltação da Santa Cruz.
No dia 15, é memória de Nossa Senhora das Dores. Dia 16, celebra-
mos a memória de Cornélio e Cipriano, mártires do século III. No
dia 19, façamos a nossa comunhão com todas as comunidades judai-
cas, no primeiro dia da festa do ano novo para os judeus.
PRE COUENA
DO Mean 00S CR rr Tapa mTa jose mA ça Ure pio eram mo nan

2 DO *ê e adere: O DO A? TD EMO
ao COMB AV
20 de setembro de 2009

O FILHO DO HOMEM VAI SER ENTREGUE. SE ALGUÉM QUISER SER O PRIMEIRO,


QUE SEJA AQUELE QUE SERVE A TODOS!

Leituras: Sabedoria 2,12.17-20; Salmo 53(54),3-4.5.6.8 (R/. 6b);


Tiago 3,16-4,3; Marcos 9,30-37 (paixão e ambições)

Situando-nos

Neste domingo, como os discípulos, continuamos a caminhar com


Jesus rumo a Jerusalém, escutando suas instruções sobre o seu jeito
de ser messias: Messias-Servo. Mais uma vez, os discípulos não con-
seguem entender a proposta de Jesus.
Perante mais um anúncio de sua paixão, os discípulos de Jesus,
continuam com dificuldades para compreender e ocupam-se em sa-
ber quem será o maior.
Há ainda muito que aprender. O caminho se fez caminhando e Je-
sus, pacientemente, vai ensinando-lhes com palavras e com exemplos.
Ele, que sendo rico se fez pobre, nos ensina o caminho do servi-
ço humilde, sem ambições e títulos. É o mistério da Kenosis.

Recordando a Palavra
No evangelho de hoje, lemos o texto do segundo anúncio que Jesus
faz de sua paixão e morte.
Jesus faz três anúncios de sua paixão. Em cada anúncio, há uma
predição, um mal-entendido e uma instrução.
No segundo anúncio, que lemos hoje, Jesus exige de seus dis-
cípulos que se façam servos de todos e recebam as crianças como
Pis PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

se fossem Ele mesmo (vv. 35-37). O ensinamento contrasta com a


atitude dos discípulos.
«x O segundo anúncio da paixão é feito na travessia da Galileia.
Os discípulos não compreendem, mas têm medo de perguntar
(v. 32). À conversa que é feita no caminho, logo depois do anúncio,
denota que permanece a dificuldade de entender o projeto divino.
Chegando à casa, Jesus pergunta sobre o conteúdo da conver-
sa que eles tiveram no caminho. Eles se calam, pois a conversa
continha uma preocupação que não condizia com a causa do Rei-
no de Deus.
y Então, com um gesto simbólico, Jesus, o Mestre, sentado, os
ensina. Colocando uma criança no centro e abraçando-a, Ele ensina
o que é ser discípulo, o que significa ser o maior dentro da comuni-
dade. Quem quer ser o maior, seja o servo de todos como fez Jesus.
A primeira leitura, tirada do livro da Sabedoria, apresenta o dis-
curso dos ímpios. O texto mostra os conflitos existentes na comuni-
dade judaica de Alexandria, no século I a. C. Há um conflito entre
a prática da justiça e a injustiça. O ímpio não
suportaO justo, pois
este, com seu jeito de ser, denuncia a maldade do ímpio.
<«S O salmo 54(53) é uma súplica diante do perigo, da persegui-
ção do inimigo e da certeza da bondade de Deus. O orante pede
justiça.
Tiago, na segunda leitura, apresenta uma comunidade dividi-
da. Diante das dificuldades e desavenças, é preciso ter a sabedoria
que vem de Deus, para discernir o caminho a seguir.

Atualizando a Palavra

Na catequese de Marcos, ouvimos o segundo anúncio da paixão


de Jesus. Faz lembrar o hino da carta aos filipenses: “Ele, tinha a
condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a
que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a
condição de servo... (2,6-7).
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Jesus não fugiu de sua missão de libertar e salvar as pessoas,


não se importando com as consequências de suas ações.
Pelo Batismo, fomos inseridos em Cristo. Renunciamos a tudo
o que impede a fidelidade ao Reino e assumimos testemunhar o
Evangelho, com eloquência e coragem.
A Devemos aprender com Jesus a viver como servos e servas.
Nós, muitas vezes, caminhamos na contramão, contrariando
a vontade do Senhor. Muitas vezes, se misturam dentro de nós o
justo e o ímpio. Resta escolher. Certamente, optaremos pela vida.
Vamos dizer o nosso sim, dentro de uma realidade bem con-
creta que, muitas vezes, propõe o carreirismo, o renome, a fama. O
desafio é imenso, mas não é impossível.
Na homilia da ordenação diaconal, o bispo diz aos ordenan-
dos: “... Amparados por Deus, procedei de tal modo, em vosso
ministério, que todos possam reconhecer-vos como verdadeiros
discípulos dAquele que veio não para ser servido, mas para servir
(...) O Senhor vos deu o exemplo, para que, assim como ele fez,
façais também vós”.
Vivamos a nossa diaconia a cada dia.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Na celebração, Jesus se faz servo e entrega-se totalmente: “Eis o
meu corpo, eis o meu sangue, dados por vós”. Entregou-se livre-
mente para fazer a vontade do Pai. Nele, nos tornamos uma oferta
agradável a Deus.
A cada domingo, celebramos, com todo o coração, o memorial
da paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus.
Celebrar este mistério tão sublime nos ajuda a abrir os olhos, a
mente, o coração, para compreendermos que é morrendo que se vive.
O gesto supremo de amor de Jesus foi realizado livremente.
Que a participação na mesa eucarística nos ajude a “colher os frutos
da redenção na liturgia e na vida” (oração pós-comunhão).
Sugestões:

*—- 1. Na recordação da vida, que pode ser feita após a saudação


inicial, a comunidade pode lembrar pessoas que são exemplos de
serviço.
- 2. Pode ser feita a bênção aos pequeninos" antes de dar a bênção
para a toda a assembleia:
O(a) presidente chama todas as crianças e convida a comunidade a
estender as mãos sobre elas e a rezar em silêncio. Depois conclui:
Deus de bondade, teu filho Jesus mandou-nos acolher o
menor.
Seguindo sua palavra, nós te pedimos: abençoa nossos ir-
mãos e irmãs menores.
Sê para eles compaixão e força. E dá a todos nós a graça de
construir
Comunidades e sociedades que sempre respeitem e valori-
zem as crianças,
Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
Segue-se um canto, enquanto os(as) ministros(as) fazem o sinal-da-
cruz nas crianças.

3. Amanhã, 21 de setembro, é festa de São Mateus, apóstolo. No


dia 22, é o início da primavera. No dia 26, é memória dos mártires
Cosme e Damião.

4 CARPANEDO, Penha e GUIMARÃES, Marcelo. Dia do Senhor: guia para as celebrações das comu-
nidades, Tempo Comum, Ano B, p. 174.
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27 de setembro de 2009

QUEM NÃO É CONTRA NÓS É A NOSSO FAVOR.

Leituras: Números 11,25-29; Salmo 18(19),8.10.12-13.14 (R/. 8a e 9b);


Tiago 5,1-6; Marcos 9,38-43.45.47-48 (ensinamentos)

Situando-nos
No domingo passado, escutamos o segundo anúncio do mistério
pascal de Jesus.
Hoje, o evangelho de Marcos continua a apresentar Jesus ensi-
nando a seus discípulos e indicando as exigências para quem quer
segui-lo: máximo de abertura para com os de fora da comunidade
(cf. vv. 38-40); acolhimento para os pequenos e excluídos; comporta-
mento que não escandalize estes pequenos (vv. 9,41-50).
Somos alertados que o monopólio não é ação do Espírito. Deus
é livre e age onde quer.

Recordando a Palavra
O evangelista Marcos, no texto que lemos hoje, continua a narrar
ensinamentos de Jesus à comunidade, perante algumas atitudes que
não condizem com o Messias-Servo. No caminho, podem aconte-
cer ambição (vv.33-37) inveja, intolerância (vv. 38-41) e escândalos
(vv. 42-48).
À inveja e a intolerância apresentam-se, quando João e outros dis-
cípulos tentam impedir uma pessoa, que está “fora da comunidade”,
de exercer um ministério em nome de Jesus (v. 38). Jesus exorta-os
para que sejam tolerantes e receptivos, pois não deve haver mono-
Ao PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

pólio sobre o nome de Jesus. Outro perigo que ameaça o caminho


de seguimento a Jesus é o de “escandalizar os pequenos”. E melhor
cortar a mão ou o pé e entrar no céu, sem mão ou sem pé, do que es-
candalizar os pequenos e ser lançado no inferno. É melhor perder-
se do que perder alguém.
Cabe ao seguidor do Messias-Servo erradicar tudo o que possa
prejudicar a adesão a Ele.
A primeira leitura é tirada do livro dos Números. Este livro narra
a organização e a marcha do povo de Deus rumo à terra prometida.
Nesta travessia, surgem muitos problemas, como a falta de comida
(11,4-9) e a dificuldade de Moisés para, sozinho, liderar o povo (v. 14).
Deus responde a Moisés e pede para separar setenta anciãos
do povo para ajudarem na liderança. Eles recebem parte do espí-
rito de Moisés e ajudam a dirigir o povo. Dois dos representantes,
no entanto, não comparecem à assembleia na tenda da reunião
e profetizam no acampamento (v. 26). Isto incomoda a alguns, e
um jovem, juntamente com Josué, vai comunicar o fato a Moisés
(v. 27-28). Moisés, no entanto, reconhece o profetismo fora da
instituição, não os impede e ainda diz: “... Quem dera que todo
<«€

o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o


seu espírito” (v. 29).
Ninguém pode prender o Espírito.
O Salmo 19(18) é uma oração para que a lei do Senhor, que tem
poder para iluminar e tornar sábia a pessoa (vv. 8-11), não seja nega-
da aos servos de Deus.
Em sua carta, Tiago faz a mais severa condenação aos ricos.
Os ricos são chamados de ímpios. O autor denuncia a injustiça, a
ganância, o acúmulo de riquezas à custa da pobreza e miséria de
muitos: “Vede: o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos
campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos
trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso” (v. 4).
E Deus de que lado fica? Ele escuta o clamor. Faz lembrar o li-
vro do Êxodo. Deus escuta o clamor e desce para salvar. Ele o Deus
dos pobres e oprimidos não abandona os seus eleitos.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Atualizando a Palavra

A Palavra de Deus nos convida a abrir o coração, a mente para a


universalidade da salvação. Não podemos prender Deus. O Reino
de Deus é maior do que nós. É maior do que a Igreja. O Espírito do
Senhor não tem fronteiras, nem limites.
“Não o impeçais”. Esta é uma palavra de ordem de Jesus, diante
do limite que João e outros discípulos queriam impor aos que agiam
“fora” da comunidade. “Quem dera que todo o povo fosse profeta”, é
a palavra de Moisés, diante do ciúme de Josué. Diante da mentalidade
fechada dos seus, Jesus e Moisés possuem um espírito aberto.
Esta palavra nos interpela ao diálogo ecumênico, inter-religio-
so € macroecumênico. São tantos os projetos que nos unem. A luta
contra a fome, as doenças, o aquecimento global, a crise econômica
mundial...
Somos muitos, diferentes, mas podemos ser unidos. Unidade
na diversidade. Atitude coerente com o que acreditamos. “Não de-
vemos fazer separados o que podemos fazer unidos”
A carta de Tiago também nos convoca a revermos nossa postu-
ra diante do pecado da injustiça e da ganância.
A realidade é desafiadora: conforme estudiosos, há 800 milhões
de pessoas desnutridas no mundo. São 11 mil crianças que morrem
de fome a cada dia. Um terço das crianças, nos países em desen-
volvimento, apresentam atraso no crescimento físico e intelectu-
al. No mundo, 1,3 bilhão de pessoas não dispõem de água potável.
Das mulheres, nos países em desenvolvimento, 40% são anêmicas
e encontram-se abaixo do peso. As profundas desigualdades, na
distribuição da riqueza no mundo, atingiram atualmente propor-
ções verdadeiramente chocantes. O número de pobres não para de
crescer e já chega a 307 milhões de pessoas. Um relatório da Con-
ferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento
(Unctad), recentemente publicado, mostra que, nos últimos 30 anos,
o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1,00 duplicou,
nos países menos desenvolvidos. Para a ONU, o dado mais preo-
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

cupante é a tendência de aumento deste número, até 2015, quando


os países menos desenvolvidos poderão passar a ter 420 milhões de
pessoas, vivendo abaixo da linha de pobreza.
Em algumas regiões, principalmente na África, parte da popu-
lação tem um consumo diário de apenas 57 centavos de dólares,
enquanto um cidadão suíço gasta, por dia, US$ 61,9. Nos anos 70,
cerca de 56% da população africana viviam com menos de US$ 1,00,
hoje são 65%. A pobreza está aumentando, em vez de diminuir.
(...) Calcula-se que 815 milhões, em todo o mundo, sejam vítimas
crônicas ou graves de subnutrição, sendo a maior parte mulheres
e crianças. A subnutrição crônica não conduz apenas à morte física.
Implica frequentemente grave mutilação, nomeadamente a falta de
desenvolvimento das células cerebrais nos bebês e a cegueira por
falta de vitamina A...
O texto de Tiago é mais atual do que imaginamos. E nós o que
vamos fazer? Que a opção de Jesus seja também a nossa. Não va-
mos apagar da memória o que foi assumido nas conferências epis-
copais latino-americanas em Medellín, Puebla, Santo Domingo e
Aparecida.
Recordemos Puebla: “Do coração dos vários países que for-
mam a América Latina está subindo ao céu um clamor cada vez
mais impressionante. É o grito de um povo que sofre e que reclama
justiça, liberdade e respeito aos direitos fundamentais dos homens
e dos povos...” (nº 87; ver também os números 27-30). “Esta situa-
ção de extrema pobreza generalizada adquire, na vida real, feições
concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredo-
ras de Cristo, o Senhor... nas crianças... nos jovens... nos indígenas...
nos camponeses... nos operários... nos subempregados e desempre-
gados... nos marginalizados... nos anciãos... (Puebla, nn. 32-39).
Que o Espírito nos dê a força profética de Moisés, de Tiago e de
Jesus Cristo, nosso Messias-Servo que entregou a vida por nós, com
especial predileção aos pequenos e pobres.
D. Helder Câmara, cujo centenário de nascimento comemora-
mos, neste ano, disse certa ocasião: “Se eu dou comida a um pobre,
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me


chamam de comunista”. Sabemos que a opção pelos pobres não se
resume a um ato de “dar comida”. É também nos envolvermos nas
iniciativas sociais, políticas e econômicas que transformam as es-
truturas injustas que causam as diferenças e as desigualdades.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Interpelada pela Palavra de Deus, a comunidade de fé é convidada a
ser sinal de unidade e comunhão nas diferenças.
Ter uma atitude aberta e ecumênica é exigência da Palavra de
Deus que, hoje, nos propõe acolher a salvação oferecida a todas as
pessoas, independente do grupo a que pertençam.
A Eucaristia, como sacramento da unidade e da comunhão
eclesial, leva-nos a um empenho ecumênico e inter-religioso. O
Documento de Aparecida recomenda: “Nesta nova etapa evangeli-
zadora, queremos que o diálogo e a cooperação ecumênica se enca-
minhem para despertar novas formas de discipulado e missão em
comunhão...” (n. 233). Falando do diálogo inter-religioso: “O diá-
logo inter-religioso, além de seu caráter teológico, tem significado
especial na construção da nova humanidade...” (n. 239).
Cristo ofereceu-se livremente como vítima de “reconciliação”.
Participando do seu mistério pascal, nós nos reconciliamos conos-
co, com os outros e com o mundo.
Em sua Exortação Apostólica, o papa Bento XVIafirma: *... as
nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia, devem cons-
cientizar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus é para todos;
e, assim, a Eucaristia impele todo o que acredita nele a fazer-se
pão repartido” para os outros e, consequentemente, a empenhar-
se por um mundo mais justo e fraterno” (Sacramentum Caritatis, n.
88). E o Papa continua: “Não podemos ficar inativos perante cer-
tos processos de globalização que, não raro, fazem crescer desme-
suradamente a distância entre ricos e pobres em âmbito mundial.
EK PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Devemos denunciar quem dilapida as riquezas da terra, provocan-


do desigualdades que bradam ao céu (cf. Tg 5,4)...” (Sacramentum
Caritatis n. 90).
Participar da mesa, onde o alimento da verdade é repartido, “le-
va-nos a denunciar as situações indignas da pessoa humana, nas quais
se morre à míngua de alimento, por causa da injustiça e da explora-
ção, e dá-nos nova força e coragem para trabalhar, sem descanso, na
edificação da civilização do amor...” ('Sacramentum Caritatis, n. 90).

Sugestões:

1. Hoje é o Dia da Bíblia para os católicos. Preparar bem a mesa


da Palavra.
2. Fazer, no início da celebração, procissão com o livro da Pala-
vra de Deus.
3. Cantar um refrão meditativo antes da escuta. Pode ser: “Tua
Palavra é lâmpada para os meus pés Senhor. Lâmpada para os meus
pés e luz. Luz para o meu caminho...”
4. Dar especial atenção a toda a Liturgia da Palavra.
5. Na homilia, pedir a uma pessoa que conte sua experiência de
compromisso em algum projeto que resgata a vida e a dignidade
das pessoas. Ou alguém que fale de práticas ecumênicas e inter-
religiosas.
6. Na profissão de fé, que pode ser dialogada, a exemplo da
Vigília Pascal, a comunidade, iluminada pela Palavra de Deus, re-
nove seu compromisso de solidariedade, seu compromisso com os
pobres e seu compromisso com a necessidade de respeito e diálogo
com outras igrejas e religiões.
7. Pode ser rezada a oração eucarística para Diversas Circuns-
tâncias I — A unidade da Igreja.
8. As palavras do rito de envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado. Tenham um coração aberto e solidário. Lu-
tem contra a fome, a miséria e a injustiça. Vivei em continua conversão.
Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

9. Amanhã, 28 de setembro, é festa do perdão para a comunida-


de judaica (Yon Kipur). Dia 29, é festa dos arcanjos Miguel, Gabriel
e Rafael. Dia 30, fazemos memória de São Jerônimo. No dia 1º de
outubro, fazemos memória de Santa Terezinha e Dia das Pessoas da
Terceira Idade. Dia 2, fazemos memória dos Santos Anjos da Guar-
da e lembramos o massacre na casa de detenção no Carandiru, em
São Paulo, onde morreram 111 pessoas.
No dia 2 de outubro, é aniversário de nascimento de Gandhi
e Dia Internacional da Não-Violência (declarado pelas Nações Uni-
das). Neste dia, iniciará uma Marcha Mundial, convocada pela ONG
“Mundo sem Guerras”, para celebrar a paz e pedir o fim dos arma-
mentos e das agressões entre pessoas e povos. A Marcha partirá da
Nova Zelândia e terminará na Cordilheira dos Andes, em Punta
de Vacas, aos pés do Monte Aconcágua, em 2 de janeiro de 2010.
Durante 90 dias, passará por mais de 90 países e 100 cidades, nos
cinco continentes. Em cada local, comitês voluntários organizarão
manifestações, eventos e celebrações, para fazer ouvir aqueles que
pedem o fim das guerras e da violência na Terra.
No dia 3 de outubro, lembramos o martírio de André de Sove-
ral, Ambrósio Francisco Forro e vinte e oito companheiros, márti-
res do Rio Grande do Norte.
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04 de outubro de 2009

O QUE DEUS UNIU, O HOMEM NÃO SEPARE!

Leituras: Gênesis 2,18-24; Salmo 127(128),1-2.3.4-5.6 (R/. cf. 5);


Hebreus 2,9-11; Marcos 10,2-16 ou abrev.
Marcos 2,2-12 (Nova lei do matrimônio).

Situando-nos
Hoje, Jesus, fiel à aliança com Deus Pai, assumindo todas as conse-
quências deste pacto até o fim, convida-nos a enxergar que a rela-
ção amorosa entre o homem e a mulher é o mais forte sinal da sua
aliança com a humanidade.
A introdução do ritual do matrimônio afirma: “na verdade, fa-
zendo nova criatura e novas todas as coisas, o Cristo Senhor quis o
Matrimônio reconduzido à sua forma e santidade primitivas, de tal
modo que o que Deus uniu, o homem não separe; e, ainda mais,
elevou o pacto conjugal indissolúvel à dignidade de sacramento,
para que significasse mais claramente e exprimisse mais facilmente
a imagem da sua própria aliança com a Igreja”(n. 5).
Celebrando, somos envolvidos pelo amor de Deus que nos aju-
da a vencer nossas contradições e infidelidades, e a participarmos
mais profundamente no amor de Cristo até a crucifixão.
Na celebração do mistério pascal de Cristo, nós, Igreja-esposa,
renovamos nossa aliança com Jesus Cristo, o Esposo fiel. Em seu
corpo e sangue entregues, sinais eloquentes da nova e eterna alian-
ça, nós somos fortalecidos na capacidade de doação e fidelidade nas
relações fraternas, em todos os âmbitos e espaços, com o coração
simples, acolhedor e puro de uma criança.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Recordando a Palavra
No evangelho hoje proclamado, Jesus encontra-se no território da
Judeia, do outro lado do rio Jordão (v. 1). A caminho de Jerusalém,
ele continua ensinando seus discípulos.
Antes da entrada de Jesus em Jerusalém, o evangelista Marcos
expõe o ensinamento sobre quatro questões básicas: o matrimônio,
as crianças, a cobiça e a ambição.
A palavra, proclamada hoje, narra duas questões: sobre o ma-
trimônio e sobre as crianças.
A uma interpelação difícil sobre o matrimônio, com a intenção
de colocá-Lo à prova (v. 2), Jesus se contrapõe com outra pergunta
(v. 3) que os interlocutores respondem, revelando seus pontos fracos
(v. 4). Jesus corrige a resposta dada, apresentando a novidade (vv. 5-9).
Os fariseus querem saber de Jesus se o divórcio é permitido
ou não. Jesus devolve-lhes a pergunta, fazendo-os recordar a lei
de Moisés. Os fariseus, conhecedores da Lei, sabem-na na ponta
da língua: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e
despedi-la” (v. 4).
Escrita desta forma, a lei de Moisés (Dt 24,1-3) visava proteger
os direitos da mulher, embora concedesse vantagens ao homem. A
mulher, recebendo o documento do divórcio, estaria livre para se
casar com outro homem, sem o perigo de adultério.
A dureza de coração é o alvo desta lei. A carta (documento)
de divórcio deveria ser assinada por duas testemunhas (homens).
O homem (marido) tinha que reconhecer formalmente o fracasso
do seu casamento e a “violação” da ordem estabelecida por Deus
(Gn 1,27; 2,24; 5,2). Sancionando esta lei, Moisés não contrariou a lei
divina, mas buscou corrigir um comportamento errôneo por parte
dos homens que lesavam o direito da mulher. A carta servia de tes-
temunho, diante de Deus e da sociedade.
Jesus não nega a Lei de Moisés, mas resgata um significado mais
profundo. Ele une num só pensamento o dizer do livro do Gênesis
1,27 e 2,24. Diz que homem e mulher, unidos em matrimônio,
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

formam uma unidade corpórea indissolúvel, mais forte que os laços


de sangue ou parentesco. Jesus recupera o sentido original da união
entre um homem e uma mulher: “... desde o começo da criação,
Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e
sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas
uma só carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!”
O tempo de concessões e infidelidades à vontade de Deus che-
gou ao fim.
Em casa, os discípulos continuam o assunto sobre o divórcio.
Aqui, já há um acréscimo, baseado no direito romano que dava
também à mulher o direito de tomar a iniciativa de divorciar-se
(vv. 11-12). Homem e mulher são responsáveis um pelo outro.
Nos versículos 13 a 16, encontramos a segunda questão, tratada
por Marcos, para expor ensinamentos de Jesus a seus discípulos. As
crianças são modelo e exemplo. Algumas pessoas levavam até Jesus
crianças para ele abençoar. Os discípulos impedem tal ação. Jesus
fica irado e repreende-os.
As crianças eram desejadas e bem tratadas, porém não goza-
vam de plena consideração até atingirem a maturidade responsável.
Elas tinham a capacidade de receber na gratuidade, que é condição
para entrar no reino de Jesus.
Os discípulos de Jesus, por ainda não compreenderem a propos-
ta de Jesus, afastam as crianças. Merecedoras de carinho e atenção,
as crianças têm acesso livre a Jesus.
Qual é o perfil daqueles que querem seguir Jesus? “Quem não
receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”
(v. 15). O Reino é dom. Para alcançá-lo, é necessário ser livre. Para
entrar nele, é necessário ser despojado.
* A primeira leitura, do livro do Gênesis, é um texto de tradição
javista. Esta tradição reflete sobre a condição humanaà luz daquilo
que caracteriza Israel como povo de Deus. Um povo que faz parce-
ria com Deus, assumindo colaborar com o Criador.
+ O autor relata a criação da mulher e mostra o que significa ser
humano na perspectiva do projeto de Deus.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

A criação da mulher aconteceu, enquanto o homem dormia.


Ela foi criada porque “não é bom que o homem esteja só” (v. 18).
A mulher se torna uma “auxiliar” do homem. Ser auxílio significa
dar apoio ou força, possibilitar que os outros realizem seu destino.
Na relação homem-mulher, a mulher é destinada a ser alguém em
quem o homem encontra força.
É importante notar que esta auxiliar não é bicho e nem fera.
Nestes, o homem não encontrou um auxiliar semelhante a ele (v.
20 b).
A mulher é dom gratuito de Deus. É criada enquanto o homem
está dormindo, para que o ato da criação não seja testemunhado.
Permanece um mistério divino.
A mulher foi tirada da “costela” de Adão para manifestar que,
entre homem e mulher, deve existir comunidade perfeita: “eles se-
rão uma só carne” (v. 24).
“O homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher...” (v. 24).
É o relacionamento mais estreito que pode haver entre as pessoas —
relacionamento homem-mulher.
Somos capacitados para estabelecer relações, formar comu-
nhão. Homem e mulher, seres humanos, em pé de igualdade; um é
parte do outro; qualquer um deles, sem o outro é incompleto.
O Salmo 128(127) é uma bem-aventurança que canta a felicida-
de da vida familiar no contexto de Jerusalém e Israel.
TA segunda leitura é tirada da carta aos Hebreus que tem como
tema doutrinal o sacerdócio de Cristo, fundamentado na encarna-
ção e na ressurreição de Jesus.
Os destinatários da carta são cristãos que se encontram em
grande perigo de rejeitar a fé em Jesus, como revelador e portador
da salvação. Eles têm dificuldade de compreender a kénosis de Jesus
(seu abaixamento — v. 9) e também de aceitar os próprios sofrimentos
que precisam enfrentar, por serem cristãos (10,32ss). O autor indica o
verdadeiro lugar de Cristo, no contexto da criação. Sendo rico, se fez
pobre. Assumiu os sofrimentos e a morte. Por isso, Deus o elevou
grandemente e lhe deu um nome que está acima de todo nome.
EI] PNE- BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

/
“es

Os cristãos são convidados a superar o escândalo da encarna-


ção, paixão e morte de Jesus, contemplando-o na glória eterna.
Jesus, encarnando-se na história humana e morrendo na cruz,
solidarizou-se conosco a tal ponto que nos chama de irmãos.

Atualizando a Palavra
A palavra de Deus hoje nos faz reconhecer que somos chamados à
união, à convivência, a sermos pessoas de relação. Embora cada um
seja inteiro em si e possua tudo em si é, no entanto, inacabado. O ser
humano possui uma estrutura dialogal.
? A primeira leitura e o evangelho nos convidam à reflexão pro-
funda sobre o relacionamento entre um homem e uma mulher.
Diante da provocação dos fariseus, Jesus mais uma vez mani-
festa seu jeito de ser, e ressalta a dignidade da mulher, colocando-
a em igualdade com o homem. “A mensagem e a prática de Jesus
significam uma ruptura com a situação imperante e a introdução
de um novo tipo de relação, fundado não na ordem patriarcal da
subordinação, mas no amor indiscriminado que inclui a igualda-
de entre homem e mulher. A mulher irrompe como pessoa, filha
de Deus, destinatária do sonho de Jesus e convidada a ser, como
os homens, também discípula e membro da nova comunidade
messiânico-libertadora”.
Sabemos que não obstante todos os esforços para diminuição da
desigualdade entre homem e mulher, a situação da mulher ainda é
muito difícil. Vale lembrar a afirmação feita pelos bispos em Apare-
cida: “Lamentamos que inúmeras mulheres de toda a condição não
sejam valorizadas em sua dignidade, estejam com frequência so-
zinhas e abandonadas; não se reconhecem nelas suficientemente o
abnegado sacrifício, inclusive a heroica generosidade no cuidado e
educação dos filhos e na transmissão da fé na família. Muito menos

5 MURARO, Rose Marie; BOFF, Leonardo. Feminino e masculino: uma nova consciência para o en-
contro das diferenças. Rio de Janeiro: Sextante, 2002. p. 99.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

se valoriza nem se promove adequadamente sua indispensável e pe-


culiar participação na construção de uma vida social mais humana
e na edificação da Igreja. Ao mesmo tempo, sua urgente dignifica-
ção e participação são distorcidas por correntes ideológicas marca-
das com o selo cultural das sociedades de consumo e do espetácu-
lo, que são capazes de submetê-las a novas formas de escravidão.
Na América Latina e no Caribe, é necessário superar o machismo
que ignora a novidade do cristianismo que reconhece e proclama
a “igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao ho-
mem” (Documento de Aparecida, n. 453).
Como discípulos e discípulas que seguem Jesus, nós, homens
e mulheres, podemos edificar um mundo em que haja encontro
das diferenças, citando mais uma vez os bispos: “A relação entre a
mulher e o homem é de reciprocidade e colaboração mútua. Trata-
se de harmonizar, complementar e trabalhar somando esforços. A
mulher é corresponsável junto com o homem, pelo presente e futu-
ro de nossa sociedade humana” (Documento de Aparecida, n. 452)
=- O ser humano, homem ou mulher, é um ser que se realiza na
relação. Pela aliança matrimonial, a mulher e o homem constituem
entre si uma aliança para toda a vida (Ritual do Matrimônio, n. 1).
Não obstante os desafios nesta relação, os dois vão, a cada dia de
suas vidas, construindo um caminho de fidelidade, no amor e no
respeito mútuo, qualquer que sejam as circunstâncias da vida: na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença. No encontro e no cultivo
das diferenças, feminino e masculino vão construindo sua história,
rumo ao grande encontro, no qual o diverso constrói a unidade.
É interessante ressaltar que homem e mulher resultam da ação
criadora de Deus. Temos maior responsabilidade no mundo. “Cui-
dar” da grande casa que é o universo.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A relação de Deus com o mundo criado é uma relação de amor. As
ações de Deus são pautadas no amor e na misericórdia.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Jesus Cristo é o sinal visível do amor infinito do Pai por nós.


Ele, mesmo tendo condição divina, se fez servo de todos. Como
diz a carta aos Hebreus: “pela graça de Deus, em favor de todos, ele
provou a morte” (v. 9).
A aliança entre Deus e as pessoas sempre foi representada pelo
amor entre um homem e uma mulher. Em cada Eucaristia, Deus
renova sua aliança conosco na pessoa de Jesus, único e eterno sacer-
dote que, no seu mistério pascal, sela, para sempre, em seu sangue,
derramado por todos, a nova e eterna aliança.
Nós rezamos na oração eucarística IV: “Nós proclamamos a
vossa grandeza, Pai santo, a sabedoria e o amor com que fizestes
todas as coisas: criastes o homem e a mulher à vossa imagem e lhes
confiastes todo o universo, para que, servindo a vós, seu Criador,
dominassem toda criatura. E quando, pela desobediência, perde-
ram a vossa amizade, não os abandonastes ao poder da morte, mas
a todos socorrestes com bondade, para que, ao procurar-vos, vos
pudessem encontrar.
E, ainda mais, oferecestes muitas vezes aliança aos homens e às
mulheres e os instruístes pelos profetas, na esperança da salvação. E
de tal modo, Pai santo, amastes o mundo que, chegada à plenitude dos
tempos, nos enviastes vosso próprio Filho, para ser o nosso Salvador.
Verdadeiro homem, concebido do Espírito Santo e nascido da
Virgem Maria, viveu em tudo a condição humana, menos o pecado,
anunciou aos pobres a salvação, aos oprimidos, a liberdade, aos tris-
tes, a alegria. E, para realizar o vosso plano de amor, entregou-se
à morte e, ressuscitando dos mortos, venceu a morte e renovou a
vida. E a fim de não mais vivermos para nós, mas para ele, que por
nós morreu e ressuscitou, enviou de vós, ó Pai, o Espírito Santo,
como primeiro dom aos vossos fiéis, para santificar todas as coisas,
levando à plenitude a sua obra..”
Anunciando e proclamando este grande mistério, na celebração
e na vida, renovamos a nossa relação profunda com Deus, Uno e
Trino, com as pessoas, com toda a criação e, de maneira particular,
com os pequenos e pobres, como nos ensina Jesus, no evangelho.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

A celebração do mistério pascal do Senhor Jesus aponta para


uma dimensão cósmica da eucaristia: “... A eucaristia é sempre ce-
lebrada sobre o altar do mundo. Une o céu e a terra. Abraça e im-
pregna toda a criação (...). Este é o mysterium fidei que se realiza na
Eucaristia: o mundo, saído das mãos de Deus criador, volta a ele
redimido por Cristo” (João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 8)

Sugestões:

1. Alguns casais e algumas crianças podem entrar na procissão


de abertura. A cruz processional é carregada por um casal.
2. Após a homilia, os casais podem renovar o compromisso ma-
trimonial. Sendo o dia em que a Igreja lembra Francisco de Assis,
irmão dos pobres e da natureza, toda a comunidade pode renovar o
seu compromisso de cuidar da grande casa, o nosso planeta.
3. Rezar a oração eucarística IV. |
À 4. Distribuir a comunhão sob as duas espécies.
5. Dar uma bênção especial para os casais e para as crianças, no
final da celebração.
6. As palavras do rito de envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado: Quem não receber o Reino de Deus como uma
criança, não entrará nele. Ide em paz e que o Senhor vos
7. Amanhã, dia 05, fazemos memória de São Benedito. No dia
07, fazemos memória de N.Sra. do Rosário.
8. Fazer uma prece especial pela 3º Semana Brasileira de Cate-
quese, que se realizará de 06 a 11 de outubro, em Itaici, São Paulo.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

O Ano Catequético Nacional, em 2009, aprovado na 44º


Assembleia Geral dos Bispos (2006) - com o tema: “Catequese,
caminho para o discipulado” e com o lema: “Nosso coração
arde quando ele fala, explica as escrituras e parte o pão” (cf. Lc
24,13-35) - vem consolidar a caminhada da catequese renovada
e apontar luzes e pistas para os novos desafios da realidade.
A realização da 3º Semana Brasileira de Catequese de 6
a 11 de outubro, em Itaici-SP, vem coroar toda a mobilização
realizada durante o ano e traz a marca de uma catequese de
caráter iniciático. Acredita-se que o tema: “Iniciação à Vida
Cristã”, será o eixo norteador de novas propostas e de novos
rumos, para a ação catequética da Igreja no Brasil.
11 de outubro de 2009

VENDE TUDO O QUE TENS E SEGUE-ME!

Leituras: Sabedoria 7,7-11; Salmo 89(90),12-13.14-15.16-17 (R/. cf. 14);


Hebreus 4,12-13; Marcos 10,17-30 ou abrev.
Marcos 10,17-27 (homem rico)

Situando-nos

Prosseguindo o caminho, rumo à Jerusalém, Jesus encontra um


jovem que deseja fazer alguma coisa para ganhar a vida eterna. As
exigências são mais fortes do que ele imagina: é preciso se desfazer
dos bens e dar o dinheiro aos pobres. O jovem rico não faz opção
por jesus.
Proclamando e recordando esta palavra de vida e salvação,
somos chamados a rever o nosso relacionamento com os bens ma-
teriais. É-nos pedido o máximo de abnegação: “Uma só coisa te
falta: vai vende tudo o que tens e dá aos pobres” (10,17-27).
Queremos celebrar, em profunda comunhão com tantos gru-
pos e pessoas que promovem a partilha e a divisão de bens e ri-
quezas. O Fórum Social Mundial propõe: “Frente à crise econô-
mica internacional, afirmamos que a economia social e solidária
é uma das estratégias que vem permitindo o crescimento econô-
mico sustentável, a partir da construção de um novo modelo de
desenvolvimento, centrado no bem estar das pessoas, nos cinco
continentes”.
Não absolutizar as falsas seguranças, o poder, as riquezas, as
posses, é atitude condizente com o seguimento de Jesus Cristo.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Recordando a Palavra
O evangelho propõe o episódio do encontro que acontece entre o
jovem rico e Jesus. O evangelista apresenta uma situação concreta,
sinal de luz e discernimento para o discípulo de Jesus. Como se po-
sicionar diante das riquezas?
O episódio, inserido entre o segundo e o terceiro anúncio da
paixão, faz parte das instruções de Jesus aos discípulos.
O relato transmite ensinamentos sobre a posse de bens mate-
riais: a vocação de um rico (vv. 12-22), o impedimento da riqueza
(vv. 23-27), o prêmio da pobreza (vv. 28-31). O tema da vida eterna
está no começo e no fim do relato (vv. 17 e 30). O tema do Reino de
Deus está no centro (vv. 23.24.25).
Um homem entusiasta e decidido corre ao encontro de Jesus.
Essa pessoa não tem nome. O que se sabe é que ele está à procura
da vida eterna (v. 17b).
Notemos que a série de mandamentos que Jesus recorda, ao
responder ao homem, diz “respeito às relações sociais justas: o res-
peito pela vida, propriedade, integridade e bens vitais dos outros,
bem como o respeito por aqueles que foram a origem da vida das
pessoas (pai e mãe).
O mandamento 'não enganarás” diz respeito às normas de Ex
21,10 e Dt 24,14. Trata-se de não reter o salário dos empregados,
forma de evitar o acúmulo injusto do capital; é também a síntese
do 9º e 10º mandamentos que proíbem a cobiça e os delitos contra
a propriedade. Deus, portanto, nada pede para si; o que fazemos às
pessoas é a Ele que o fazemos (cf. Mt 25,40)".
O homem responde que tem observado estes mandamentos,
desde a sua juventude. Jesus o olha com amor e lança-lhe um desafio
que parece ultrapassar suas capacidades: “Só uma coisa te falta: vai,
vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu.

6 BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos: anos A, B, C, festas e solenidades. 2 ed. São Paulo:
Paulus, 2006. p. 464.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Depois vem e segue-me!”.(v. 21). “Mas quando ele ouviu isso, ficou
abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (v. 22).
Jesus deixa claro que a fortuna pode ser grande impedimento
para entrar no Reino dos Céus (cf. 23-25). No entender do homem
rico, ter muitos bens era sinal de bênçãos. Para Jesus, é dificuldade
para entrar no Reino. Jesus é radical: é preciso se desfazer de tudo e
ficar livre para segui-lo.
Sozinho com seus discípulos, Jesus deixa claro que é muito difi-
cilum rico entrar no Reino dos Céus (vv. 23-25). Os discípulos ficam
espantados com a exigência radical de Jesus. Parece ser impossível a
salvação, mas sendo esta um dom, não se compra com riquezas.
Ainda com dificuldade de compreender as exigências de Jesus,
Pedro diz: “Eis que deixamos tudo e te seguimos” (v. 28b). Quem
segue Jesus, encontra a felicidade já aqui, porém com perseguições
(Cv. vv. 29-30).
A primeira leitura é tirada do livro da Sabedoria. Este livro sur-
giu na primeira metade do primeiro século antes de Cristo, no meio
de uma comunidade de israelitas que viviam na cidade de Alexan-
dria. Eles viviam numa cultura helenística, numa sociedade rica e
poderosa, correndo o perigo de trocar valores que eram fundamen-
tais para a cultura israelita. As reflexões sapienciais ajudavam os
judeus da diáspora a se defenderem contra a sabedoria do mundo
(riqueza, poc
poder...) para buscarem a sabedoria divina.
Oautor chama a comunidadeà reflexão: o que torna uma pes-
soa feliz de verdade? O que é ser sábio numa sociedade que se apoia
no poder e na riqueza? Onde está a verdadeira sabedoria?
— Israel, como povo, não pode se desviar de sua vocação à liberda-
de, inaugurada com a experiência do êxodo. A verdadeira sabedoria
é optar por caminhos que não tolhem a liberdade. É não deixar-se
escravizar pelo dinheiro, pelo poder ou pelas riquezas.
Salomão é o protótipo da pessoa sábia. Por isso, é atribuída a ele
a autoria da obra.
O texto que lemos hoje é uma releitura sapiencial da oração de
Salomão e da resposta de Deus (1 Rs 3,7-12).
EV PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

N,

Salomão, em seu discernimento, constatou que a busca de po-


der e riquezas não traz segurança nem realização à pessoa.
7 A sabedoria vale mais que todo o ouro do mundo. Diante dela,
o ouro é um punhado de areia, e a prata é uma lama (v. 9).
As riquezas, na maioria das vezes, geram dependências e tor-
nam as pessoas gananciosas e insensatas.
A sabedoria vale mais do que tudo o que há no mundo, porque
pertence ao plano divino e é princípio de todo o entendimento, do
bom senso e da virtude.
O salmo 90(89) é uma meditação com sabor sapiencial. O oran-
te pede a Deus a graça de saber contar bem os dias, com sabedoria
e discernimento.
Os versículos lidos hoje pertencem a uma seção maior da Carta
aos Hebreus (3,7-4,14). Todo o capítulo 3 e a maior parte do capítulo
4 abordam o tema da fidelidade: primeiro a fidelidade do Filho Je-
sus, comparado com Moisés (3,1-6); em seguida, a fidelidade exigida
dos israelitas na caminhada pelo deserto (3,7-19); depois a fidelidade
exigida dos cristãos (4,1-11) e, de maneira implícita, a fidelidade de
Deus à sua palavra na Escritura.
Na seção, o autor começa lembrando Moisés e Josué e chega a
Jesus, sinal de vitória e salvação.
Deus falou de muitos modos: pelos profetas, pelos sábios. Agora,
fala-nos através de seu Filho — Verbo feito carne (1,1-2). Esta Palavra
é viva e eficaz. Deus fala, as coisas acontecem. A Palavra é cortante
como espada de dois gumes. Ela “julga os pensamentos e as inten-
ções do coração” (v. 12). Penetra tão profundamente na pessoa que é
“capaz de dividir alma e espírito, articulações e medulas” (v. 12).
A Palavra, Jesus Cristo, dá força para resistir a todo tipo de in-
justiça e ações que não condizem com o plano divino de salvação.

Atualizando a Palavra
Hoje, nos sentimos profundamente tocados pela Palavra de Deus
que é “mais cortante do que qualquer espada de dois gumes”
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

(Hb 7,12). É uma palavra radical que pede de nós uma resposta: sim
ou não. Não suporta meio termo. São dois caminhos: o da vida e
o da morte (cf. Sl 1). Temos liberdade para escolher. Deus nos dá a
sabedoria para discernir.
São muitas as vozes querendo seduzir-nos para a confiança no
poder, nas riquezas, no prazer, na posse...
A iluminação nos vem da própria Palavra. O rei Salomão prefe-
re a sabedoria à riqueza. Esta atitude é exemplar para a comunidade
judaica que vive fora de suas terras, num mundo que tem como
prática outras opções de vida. No entender da comunidade judaica,
são atitudes que não condizem com aquilo que Deus quer. A carta
aos Hebreus nos oferece a Palavra que é lâmpada para nossos passos
e luz para o caminho. Ela não deve voltar para Deus em vão. Deve
ser como o ditado popular: “dito e feito”. Ela desvenda tudo. No
evangelho, temos o exemplo do homem que queria fazer alguma
coisa para ganhar a vida eterna (cf. v. 17), mas diante das exigências
radicais colocadas por Jesus, desiste, sente-se incapaz, apegado às
riquezas e vai embora sem fazer uma opção profunda.
O que esta palavra tem a ver conosco? Com nossa caminhada
pessoal, comunitária e social? Qual a nossa resposta? Quais são nos-
sas opções?
Jesus afirma que é difícil um rico entrar no Reino dos Céus
(cf. v. 23b). Muitas notícias que ouvimos e fatos que presenciamos e
até algumas ações que nós praticamos ou assistimos parados, sem
fazer nada, não condizem com a proposta de Jesus.
Viver coerente com a proposta do Reino de Deus significa es-
colher Deus em primeiro lugar, não só com palavras, mas também
com ações concretas, ou seja, mais ainda, é fazer com que ele tenha
o único lugar em nossa vida: “vai, vende tudo o que tens e dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!”
O Deus que seguimos é aquele que “tem sua glória na pessoa
viva”, como já dizia Santo Irineu.
O homem rico do evangelho era bom, cumpria os seus deveres
legais para com o próximo (cf. vv. 19-20). Porém, o amor de Deus
49 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

e ao próximo não era a única razão da vida dele. Ele tinha “outros
amores” — a riqueza (cf. v. 22).
A riqueza acaba escravizando. Deixa a pessoa egoísta, centrada
em si, narcisista. A palavra de Deus nos conclama, como aos discí-
pulos ontem, a revermos nossas opções.
Em Medellín, há quarenta e um anos, os bispos afirmaram:
“O Episcopado Latino-Americano não pode ficar indiferente ante
as tremendas injustiças sociais existentes na América Latina, que
mantêm a maioria de nossos povos numa dolorosa pobreza que, em
muitos casos, chega a ser miséria humana” (capítulo 4).
Em Puebla os bispos retomaram: “Do coração dos vários países
que formam a América Latina está subindo ao céu um clamor cada
vez mais impressionante. É o grito de um povo que sofre e que
reclama justiça, liberdade e respeito aos direitos fundamentais dos
homens e dos povos” (n. 87)
Hoje a realidade continua desafiadora: fome, guerras, desastres
ecológicos, desemprego, políticos que não se interessam pelo bem
do povo e tantos outros desafios. O convite e o apelo de Jesus são
para nós hoje: “Só uma coisa te falta: vai vende tudo o que tens e dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (v. 21). O que
vamos fazer? Qual a nossa resposta?

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Deus nos ama e quer nos salvar. Ele nos convida. Sua palavra, que
é viva e eficaz, nos convoca, nos reúne e nos une. É uma palavra
que “penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas, que
julga os pensamentos e intenções do coração” (v. 12).
Nós, nesta celebração pascal, renovamos a nossa aliança com o
Senhor, a exemplo do povo de Israel, no Sinai, lugar da aliança com
Deus, e da promessa de fidelidade por parte de Deus e do povo:
Deus vai fazer de Israel um povo, e Israel vai ouvir e praticar a pa-
lavra do Senhor.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

No itinerário de seguimento e de escolhas, precisamos pedir


sabedoria, como Salomão e o salmista: “Ensinai-nos a contar os nos-
sos dias, e dai ao nosso coração sabedoria” (v. 12). Somente por meio
da graça divina saberemos o que fazer.
O discernimento nos vem do Espírito, presente no meio de nós,
na pessoa que preside, na Palavra e no pão e vinho consagrados.
A mesa da Eucaristia é a mesa da partilha, sinal de solida-
riedade. Pão repartido, pão doado. Participar da mesa eucarística
nos permite entrar no sim de Jesus, para pronunciarmos o nosso
próprio sim.
Ele foi obediente até a morte. “O nosso Cordeiro pascal, Cristo,
foi imolado (1 Coríntios 5,7). Ele é a vítima e o sacerdote: sacerdote
porque é nosso propiciador — de fato temos nele o nosso “defensor
junto do Pai” —; vítima porque nos remiu com o seu sangue” (Santo
Ambrósio).
Jesus, sendo rico se fez pobre por nós. Deu a vida, para que o
Reino do Pai se concretize entre nós.

Sugestões: ne

1. Desde a chegada, acolher as pessoas com carinho, particular-


mente os considerados fracos, sem vez, marginalizados.
2. Dar um destaque ao livro da Palavra de Deus, levando-o em
procissão.
3. Antes da primeira leitura, cantar um refrão meditativo que
prepare a assembleia para a escuta: “Tua palavra é lâmpada para os
meus pés, Senhor...” Ou outro apropriado.
4. Após a homilia, a comunidade toda pode assumir um com-
promisso bem concreto. Dia 16 é Dia Mundial da Alimentação.
A comunidade poderia assumir um compromisso concreto, colabo-
rando para a erradicação da fome.
5. As palavras do rito de envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado: Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres.
Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
E PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

6. Amanhã é festa de N.Sra. Aparecida, padroeira do Brasil e


Dia da Criança. Dia 15, fazemos memória de Santa Tereza de Ávila
e é Dia do Professor. Dia 16, é Dia Mundial da Alimentação. Dia 17
fazemos memória de Santo Inácio de Antioquia.
12 de outubro de 2009

“FAÇAM TUDO O QUE ELE LHES DISSER

Leituras: Ester 5,1b-2;7,2b-3; Salmo 44(45);


Apocalipse 12,1.5.13?.15-16?; João 2,1-11 (Bodas de Caná)*

Situando-nos brevemente

Hoje fazemos memória da Páscoa de Jesus, celebrando Nossa Se-


nhora Aparecida, que desde 1930 foi proclamada, pelo Papa Pio XI,
a padroeira do Brasil, “para promover o bem espiritual dos fiéis e
aumentar cada vez mais a devoção à Imaculada Mãe de Deus”.
Sua imagem colhida por três pescadores, em outubro de 1717,
quando lançavam suas redes no rio Paraíba é hoje venerada no
Santuário Nacional em Aparecida do Norte, por multidões de pe-
regrinos e peregrinas de todas as partes do Brasil.
Toda a liturgia de hoje é marcada pelo pedido de intercessão
a Maria, padroeira de nossa Pátria, junto de Deus. Ao pedirmos
bênçãos para a Pátria, nos dispomos também a sermos instru-
mentos daquilo que pedimos, no empenho incansável por uma
Pátria melhor, mais justa, mais fraterna e feliz, mais conforme
o projeto de Jesus.
Lembremos também hoje de todas as crianças, na comemo-
ração de seu dia.

* Este roteiro foi preparado pela liturgista Maria de Lourdes Zavarez e pela biblista Maria do
Carmo, publicado no subsídio “Ele está no meio de nós”, Edições CNBB, 2008.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Recordando a Palavra
Uma festa de casamento em uma aldeia sustenta e unifica um gran-
de número de ações simbólicas. Momento que costuma reunir mui-
tas pessoas, o matrimônio é, no Primeiro Testamento, símbolo fre-
quente do amor do Senhor pela comunidade. Na Segunda Aliança,
é símbolo da união do Messias com a Igreja. O vinho é dom do
amor e se anuncia como dom messiânico e símbolo do Espírito.
No Evangelho de João, o “terceiro dia” refere-se ao terceiro dia
depois da promessa feita a Natanael, sete dias depois do testemunho
de João Batista, em Betânia, perto do Rio Jordão. O sinal em Caná
passa-se no sétimo dia, como releitura da la semana do livro do
Gênesis. É a primeira manifestação da glória de Jesus. O versículo 4
demonstra a diferença de planos entre Jesus e Maria. O uso da pala-
vra mulher, não é um tratamento ofensivo, mas um costume grego
existente na época. O v. 6, ao falar das seis talhas de pedra, traz
à tona a necessidade de mudança de uma religião que já não tem
um vinho novo para oferecer, principalmente para os mais pobres.
Cada vasilha de água continha de setenta a cem litros, conforme
nos diz a Bíblia do Peregrino. A tradução da TEB diz 40 litros. Seja
como for, o vinho novo trazido por Jesus é uma quantidade bem
considerável! É abundância! João considera os atos de Jesus como
gestos simbólicos (sinais/sêméion), característicos dos tempos mes-
siânicos. É o primeiro sinal, encabeçando, no Evangelho de João,
uma série de sete sinais.
Qual é o papel de Maria nesse casamento? Ela está presente,
mas não é dito que ela seja uma simples convidada. Sua presença
é importante, pois possui autoridade de circular entre os criados
e de dar-lhes a ordem de obedecer a seu filho Jesus. Ela sabe o que
acontece e tem conhecimento da necessidade do vinho. Como este
casamento é simbólico do casamento messiânico, Maria é a Mãe do
Noivo. (Filhas de Sião, saí para admirar o rei Salomão com a coroa
com que sua mãe o coroa no dia de seu casamento: no dia em que
ele é todo alegria.)-(Cantares 3,11) Jesus retira-se com Maria para
"Mestre. que eu veja!” (Mc 10,51)

Cafarnaum. É uma notícia que precisamos aprofundar. Jesus e Ma-


ria são companheiros de caminhada, além de mãe e filho!
O livro de Ester, um relato muito didático e lido durante a ale-
gre festa de Purim, narra a libertação do povo que está no exílio, em
terra estrangeira da Pérsia, sob o imperador Xerxes(486-465 aC.) O
qual, na história (meguilot), toma o nome de Assuero. Ester, jovem
judia, é tomada como esposa pelo imperador. O povo é condenado
à morte por Amã e ela atua como mediadora, intercede junto ao rei,
inverte a situação e salva seu povo.
O Salmo 45(44) é um salmo real, celebrando o casamento do
rei. À princesa apronta-se para o casamento e nada diz. Suas vestes
é que “falam”. Nós cristãos rezamos esse salmo pensando em Jesus
como rei ou em Maria como esposa.
O Ap 12 começa falando de um grande sinal que apareceu no
céu: uma mulher vestida de sol, pisando sobre a lua, coroada de
doze estrelas. Deu à luz um filho menino, pastor com vara de ferro,
arrebatado para junto de Deus. O dragão persegue a mulher. Surge
a serpente que vomita um rio para arrastar a mulher em sua cor-
renteza, mas a terra ajudou a mulher engolindo a água. A mulher é
a matriarca fecunda que tem, em Isaías 66,7-14, o texto básico. Esta
mulher simboliza a comunidade cristã que luta para dar a luz a um
mundo novo, manifestação da aliança com Deus, espaço de festa e
vinho para todas as pessoas.

Atualizando a Palavra
O primeiro sinal que Jesus realiza acontece no terceiro dia, lem-
brando o dia da ressurreição, da nova criação, da transformação
da situação de menos vida para uma vida plena e cheia de alegria!
A mãe de Jesus é parte integrante da realização desse sinal. Ela
ocupa o lugar central. Nela se manifesta o povo simples e pobre
que espera a chegada do reino do Amor, a plenitude da salvação.
A função de Maria não está determinada apenas pelo fato de ser a mãe
física de Jesus, mas sua figura e sua atuação devem ser entendidas em
termos do seguimento, do discipulado de Jesus e de seu projeto.
55 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Maria de Nazaré surge como intermediária entre a realidade


dos pobres e Jesus como Messias. Por um lado, ela avisa seu filho so-
bre a necessidade dos noivos e dos convidados. Ela nada pede, mas
faz uma insinuação gentil, sutil. Jesus não reconhece ser aquele o
momento que o Pai escolheu para ser “sua hora”. A mãe não insiste
com o filho, mas muda de relação, passando para o nível da fé. O
amor profundo e sua comunhão com ele expressam-se nas palavras
dirigidas aos servidores: “Fazei tudo o que ele vos disser”. O clima
transforma-se: ela indica o caminho do encontro com o enviado
pelo Pai; é momento de escuta e de confiança na Palavra de Jesus.
Maria é a Mãe que se põe a serviço do Reino.
A liturgia de hoje nos convida a contemplar a mãe de Jesus
como uma mulher maravilhosa que não acompanha os projetos
deste mundo, mas luta para que se realize o que Deus sonhou para
a humanidade. Maria é símbolo dessa humanidade que realiza o
projeto de Deus e faz o “que Jesus mandou”.
Nossas comunidades se parecem com Maria do Evangelho, com
a mulher do Apocalipse, com Ester que luta pela vida de seu povo?
Deus pode se encantar com nossa Igreja, vestida de justiça, con-
forme cantamos no Salmo 45(44), Deus continua nos amando: “Foi
amada quando era feia, para não permanecer feia. Cristo tirou-lhe
a fealdade e deu-lhe a beleza”, diz Santo Agostinho. Maria, Mãe de
Jesus nos ensina a beleza da fidelidade à nova aliança realizada por
seu Filho e nosso Senhor, Jesus o Messias, enviado pelo Pai.

A palavra de Deus na celebração


Lembrando Maria, Aparecida na rede de pobres pescadores e tra-
zendo a cor negra, bendizemos o Senhor da Vida e sua predileção
pelos pequenos e sofredores.
Unimos nossa voz ao clamor de todo o povo pobre, peregrino
em busca de melhores condições de vida, força e alento para vencer
suas dificuldades. Que o Senhor renove nosso desejo de optar sem-
pre e, em primeiro lugar, pela vida.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Fazendo o que Ele nos mandou, com Maria participamos do ban-


quete da Vida pela palavra e pela Eucaristia. Saboreamos do vinho
novo que nos alegra, nos torna atentos às necessidades dos outros e
nos encoraja na luta para que não falte a alegria na festa da vida, so-
bretudo para as crianças, os povos indígenas e afro-descendentes.
“Contemplando hoje Maria, Mãe do Senhor, primeira evangeli-
zada e primeira evangelizadora, invocada no Brasil com o título de
Aparecida, ícone da Igreja em missão, sejamos inspirados com seu
exemplo de fidelidade e disponibilidade incondicional ao Reino de
Deus...”

Sugestões: a

1. Colocar, em destaque, no espaço celebrativo, a imagem


de Maria, que pode ser incensada nos ritos iniciais, juntamente
com o altar, a mesa da Palavra e a assembléia, símbolos do Cristo
Ressuscitado.
2. Valorizar, neste dia, a participação das mulheres nos vários mi-
nistérios litúrgicos. Dar destaque também à participação das crianças.
3. Onde for possível, cantar o Evangelho.
4. Na preparação das oferendas, trazer “vinho abundante”
numa jarra, para que toda a comunidade possa participar também
da comunhão no Sangue do Senhor.
5. Cantar o que está previsto na Oração Eucarística ou, pelo
menos, o prefácio, que é próprio, as aclamações, a doxologia e o
Amém final.
6. Para os cantos, o Hinário Litúrgico 4 apresenta sugestões nas
p. 168-227.
7. Integrar à bênção final, que é própria, uma bênção especial
para as crianças, que, neste dia, podem receber um agrado no final
da celebração.

7 Cf CNBB. Doc. 87. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2008 - 2010. Brasília:
Edições CNBB, 2008. n. 216.
5 A PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

“Maria Mãe do Senhor, primeira evangelizada e primeira evan-


gelizadora, invocada no Brasil como titulo de Nossa Senhora Apa-
recida, icone da Igreja em Missão, nos inspire com seu exemplo de
fidelidade e disponibilidade incondicional ao Reino de Deus e nos
acompanhe com sua materna intercessão”. (Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, n. 216).
Pe pe DRA
v DO ER O O ORA

18 de outubro de 2009

O FILHO DO HOMEM VEIO PARA DAR


A SUA VIDA COMO RESGATE PARA MUITOS.

Leituras: Isaías 53,10-11; Salmo 32(33),4-5.18-19.20 e 22(R/. 22);


Hebreus 4,14-16; Marcos 10,35-45 ou abrev.
Mc 10,42-45 (os filhos de Zebedeu)

Situando-nos

Continuando seu caminho rumo à Jerusalém, após fazer o ter-


ceiro anúncio de sua paixão, Jesus depara-se mais uma vez com a
mm TR —

incompreensão de seus discípulos.


————— O O

No caminho de iniciação ao seguimento de Jesus, o discípulo


vai assimilando, aos poucos, o jeito de ser messiânico de Jesus. O
Senhor propõe radicalidade no seguimento: tomar a cruz a cada
dia, beber o mesmo cálice que Ele
ice que Ele vai
vai Ebeber e ser servo de todos.
Ê significativa a palavra do Senhor, hoje, no Dia das Missões.
Todos, homens e mulheres, que se colocam a serviço, anunciando
o Reino de Deus, são convidados a ouvir e praticar a palavra de
Jesus: “... quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser
ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem
não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como
resgate para muitos” (v. 43-45).
Ne
Recordando a Palavra
O texto, escolhido para a leitura de hoje, localiza-se, no Evangelho
de Marcos, logo após o episódio do jovem rico e do terceiro anúncio
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

que Jesus faz de sua paixão. Para compreendermos esta palavra de


Jesus, é fundamental ler sobretudo os versículos 32 a 34.
Os três anúncios da paixão seguem o mesmo esquema: pri-
meiro, Jesus anuncia o conflito que o levará à morte e à vitória na
ressurreição (cf. 8,31-32a; 9,30-31; 10,32-34); em seguida, acontece a
reação dos discípulos, opondo-se ao que Jesus anuncia (cf. 8,32b-
33; 9,33-34; 10,35-41); por último, vem o ensinamento catequético
(cf. 8,34-38; 9,36-37; 10,42-45).
É bom relembrar que, a partir do capítulo 8, 31, Jesus dedi-
ca-se à instrução dos discípulos sobre a maneira de ser de seu
messianismo.
O pedido dos dois filhos de Zebedeu, para ocuparem a direita
e a esquerda de Jesus na glória, é a última cena antes da chegada de
Jesus em Jerusalém, o lugar de sua paixão e morte.
Após tanta instrução que os discípulos recebem de Jesus, pa-
rece impossível pensar que eles ainda seriam capazes de fazer um
pedido tão ambicioso e impróprio. Jesus responde, dizendo que eles
não sabem o que estão pedindo e desafia-os perguntando: *. Por
ec

acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados
com o batismo com que vou ser batizado?” (v. 38).
O cálice e o batismo são imagens da agonia e da morte de Jesus.
Participação e imersão na paixão e morte de Jesus — eis o caminho
da glória. Mesmo aceitando beberem do cálice e participarem do
mesmo batismo de Jesus, os discípulos não recebem a garantia dos
postos de honra, cobiçados por eles.
A resposta de Jesus é desafiadora e convoca todo o grupo a não
repetir o mesmo esquema que está acostumado a ver. É preciso ser
servo de todos, a exemplo do Filho do Homem que veio para servir,
tanto que foi capaz de lavar os pés dos seus.
A lei fundamental que rege a comunidade dos doze e de todos
os discípulos e discípulas de Jesus é, portanto, fazer-se servidor (a)
dos demais. Caracterizada pelo serviço, a comunidade deve cres-
cer, sem desejo de ambição e de poder — renunciar os “valores”
não-evangélicos, como “ser senhor absoluto dos outros”. Ser cris-
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

tão é ser servo, como Jesus (v. 45). Ser o primeiro e o maior é servir
a todos, como Jesus fez (v. 44). Esse é o caminho da glória para um
discípulo de Jesus.
Tudo isto não significa que a comunidade deve caminhar sem
uma autoridade. A autoridade, o líder deve ser o maior servidor, o
primeiro a “beber o cálice”, servindo sempre às necessidades dos ir-
mãos e irmãs, não importa a condição social, a raça, a cor... Só uma
comunidade de servidores poderá contribuir eficazmente na luta
contra as forças opressoras.
Na comunidade dos seguidores de Jesus, a autoridade deve ser
exercida diferentemente de como a exercem os grandes e os chefes das
nações, os quais oprimem e tiranizam as pessoas: “... entre vós não deve
ser assim..”. Nesta comunidade, a grandeza está na opção de servir, a
exemplo de Jesus que veio para servir e dar a sua vida para todos.
Os versículos da primeira leitura do livro do profeta Isaías fa-
zem parte do quarto canto do servo de Javé (52,12-53,12). Este canto
fala da paixão, morte e vitória de um personagem, vítima da socie-
dade injusta em que vive.
O início do canto (52,12-15) narra os sofrimentos a que o servo vai
ser submetido e anuncia também o seu triunfo que pasmará até reis.
O versículo 10 conta que o sofrimento do servo não é por aca-
so, mas desígnio de Deus. O servo, fiel a Deus, aceita livremente o
sofrimento, sendo fiel ao plano de Deus. A aceitação livre vai fazer
com que o seu gesto seja extremamente fecundo.
A morte do servo tem caráter de sacrifício expiatório — o sofri-
mento do justo carrega o pecado de outros. O justo morre por todos
e ele próprio torna-se vitorioso. Depois de morto, verá a luz (v. 11).
O canto não descreve o sofrimento pelo sofrimento. Como
Deus quer o sofrimento, se este era tido como punição pelo mal
praticado? O justo não sofre por si mesmo, mas carrega o pecado
dos outros. É um sofrimento redentor. A vitória do servo que passa
pelo sofrimento, mostra que Deus não sente prazer no sofrimento
das pessoas e nem o deseja. O que ele quer e suscita é a vitória da
justiça e o triunfo dos que são esmagados pela sociedade injusta.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Esta passagem bíblica mostra que o sofrimento pode ter um


propósito positivo, rompendo com a longa tradição bíblica que con-
siderava o sofrimento como castigo pelo pecado. Desta forma, lan-
çou as bases para uma das ideias fundamentais do cristianismo. Para
os cristãos, tal modelo foi intensificado pelo exemplo de Jesus que,
através da cruz, adquiriu para si uma descendência que continua a
luta pela justiça neste mundo e, por sua vitória sobre o sofrimento
e a morte, desautoriza toda e qualquer forma de opressão que possa
existir na face da terra.
O salmo 33(32) louva a Deus como criador e regente da história.
Os justos são chamados para louvar o Senhor da história.
Na segunda leitura, lemos três versículos que resumem a men-
sagem central da Carta aos Hebreus. Nestes versículos, o autor res-
salta a figura de Cristo, como sumo e eterno Sacerdote da Nova
Aliança. Este é um dos temas centrais da Revelação. Jesus Cristo é o
sumo sacerdote magnífico, digno de todo o crédito. Ele foi solidário
conosco, compadecendo-se de nossas fraquezas. Fazendo-se um de
nós, fez-se igual a nós, exceto no pecado.

Atualizando a Palavra
No caminho para Jerusalém, os discípulos vão assimilando, pouco
a pouco, o jeito de ser do Messias. Ao contrário do que compreen-
diam, Jesus é um Messias-Servo, a exemplo do Servo-Sofredor do
profeta Isaías. Não é fácil desfazer-se das concepções velhas e anti-
gas em favor de uma nova mentalidade. Chegar a dizer: “as coisas
antigas já se passaram, somos nascidos de novo”, é um caminho
feito a duras penas, com esforço e desejo de conversão, de mudança
de atitudes e opções claras e decididas por Jesus, o Servo de todos.
A palavra de Deus, dirigida a nós hoje, nos convoca a uma mu-
dança radical. O seguimento é exigente. Jesus quer sua comunidade
diferente das que se orientam pelos princípios que regem o mundo
do poder, do dinheiro, da dominação. As atitudes de dominação, de
ganância, de busca de poder e de prestígio devem ser substituídas
pelo espírito de serviço.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

A ideia de triunfalismo não é condizente com a proposta de


Jesus que sobe a Jerusalém, é entregue aos sumos sacerdotes,
condenado à morte, sofre zombarias e acoites e depois ressuscita
(cf. Mc 10,33-34).
- Geralmente, procuramos caminhos aparentemente fáceis, mais
curtos e menos exigentes. Poder, dinheiro, status, riquezas acabam
sendo o sonho de realização para muitas pessoas. O evangelho de
Jesus nos indica o caminho inverso. Os seguidores e seguidoras de
Jesus não podem repetir o sistema injusto e opressor. Precisam ser
sinais do Reino.
Para que o anúncio seja sempre mais eloquente e eficaz, as co-
munidades cristãs devem ser as primeiras a praticar a palavra do
Senhor. É preciso ser pobre e servir aos pobres, com eles contra a
miséria, como foi a opção da Igreja latino-americana em Puebla,
confirmada em Aparecida: “A Igreja deve cumprir sua missão, se-
guindo os passos de Jesus e adotando suas atitudes (cf. Mt 9,35-36).
Ele, sendo o Senhor, se fez servidor e obediente até à morte de cruz
(cf. Fl 2,8); sendo rico, escolheu ser pobre por nós (cf. 2Cor 8,9), en-
sinando-nos o caminho de nossa vocação de discípulos e missioná-
rios. No Evangelho, aprendemos a sublime lição de ser pobres, se-
guindo a Jesus pobre (cf. Lc 6,20; 9,58), e a de anunciar o Evangelho
da paz, sem bolsa ou alforje, sem colocar nossa confiança no dinhei-
ro nem no poder deste mundo (cf. Lc 10,4ss). Na generosidade dos
missionários, se manifesta a generosidade de Deus. Na gratuidade
dos apóstolos, aparece a gratuidade do Evangelho” (Documento de
Aparecida, n. 31).
Sigamos a palavra de Jesus: “Vós sabeis que os chefes das nações
as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós não deve ser
assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser
o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem veio
não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate
para muitos” (vv. 42-45).
Servir a quem e por quê? Servir aos que mais necessitam de
nossa ajuda — os oprimidos, miseráveis, marginalizados, famintos
e injustiçados...
63 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

“A Igreja faz a opção pela vida, mergulhando nas profundezas


da existência humana: o nascer e o morrer, a criança e o idoso, O
adolescente e o jovem, o sadio e o enfermo, o recém-nascido e o
envelhecido, o excluído, o renegado e o jogado à margem da dig-
nidade humana.Opção pelos pobres e opção pela vida não são duas
realidades distintas. Ao contrário, estamos diante de um período
fecundo, no qual se fortalece ainda mais o compromisso solidário
que brota do Evangelho”.
“O compromisso social tem sua raiz na própria fé. O interesse au-
têntico e sincero pelos problemas da sociedade nasce da solidariedade
para com as pessoas e do privilegiado do seguimento daquele que veio
para servir e não para ser servido,devendo ser manifestado por toda
a comunidade cristã e não apenas por algum grupo ou alguma pasto-
ral social. Uma comunidade insensível às necessidades dos irmãos e à
luta para vencer a injustiça é um contra-testemunho e celebra indigna-
mente a própria liturgia.Não é comunidade missionária, empenhada
na promoção da vida em plenitude que Jesus veio trazer”.
Cada vez que nos calamos diante das injustiças ou nos omiti-
mos diante das necessidades do próximo, estamos negando a mis-
são que recebemos de Jesus Cristo, o Servidor por excelência.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Participar da celebração do mistério pascal do Senhor é partilhar de
seu destino.
A Eucaristia é o mais eloquente sinal do serviço de Cristo. A
cada celebração, fazemos memória de sua entrega: “Eis o meu cor-
po... eis o meu sangue, dados por vós...” Ele se doou livremente.
Entregou-se, demonstrando-nos um amor até o extremo, um amor
sem medida.

8 CNBB. Doc. 87. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2008 - 2010. Brasília:
Edições CNBB, 2008. n. 142.
9 Ibidem, n. 178.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51) eai

Com Cristo nós também nos oferecemos ao Pai. *... Ao entre-


gar à Igreja o seu sacrifício, Cristo quis também assumir o sacrifício
espiritual da Igreja, chamada, por sua vez, a oferecer-se a si própria
juntamente com o sacrifício de Cristo. Assim no-lo ensina o Conci-
lio Vaticano II: “Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo,
fonte e centro de toda a vida cristã, (os fiéis) oferecem a Deus a
vítima divina e a si mesmos juntamente com ela” (João Paulo II,
Ecclesia de Eucharistia, n. 13).
A Igreja missionária e servidora expressa-se também nas cele-
brações litúrgicas, nos seus diversos serviços e ministérios. Cada
um, segundo o que lhe compete, coloca seus dons e carismas em
comum, assumindo a mística do serviço. Somos muitos, há diversi-
dade de dons, mas o espírito é o mesmo. Todos, unidos e reunidos,
formamos o corpo de Cristo.

Pe
Sugestões:

1. Hoje, Dia das Missões e da Mística do Serviço, é importante


valorizar os diversos ministérios presentes na comunidade.
2. Na procissão de entrada, valorizar a cruz, sinal da entrega de Jesus.
3. Na recordação da vida, que pode ser após a saudação inicial,
lembrar pessoas e atividades missionárias da comunidade.
4. Após a homilia, todos os ministros, servidores, missionários
podem renovar seu compromisso de servir.
5. Nas preces dos fiéis, fazer a Oração Missionária 2009:
“Deus, Pai de toda a humanidade, ouvi o clamor dos vossos fi-
lhos. Enviai-nos aonde nada mais existe, senão a dor e a incer-
teza. Dai-nos as mãos de Marta e o coração de Maria, para que
sejamos Boa-notícia para os povos. Maria, Mãe da Igreja, inter-
cedei por nós! Amém.”
6. Antes da bênção final a toda a comunidade, dar uma bênção
especial para os missionários e ministros da comunidade. Sendo
também hoje Dia do Médico, pode ser dada uma bênção especial
para eles.
Ojo) PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

7. As palavras do rito de envio podem estar em consonância


com o mistério celebrado: Quem quiser ser grande, seja vosso servo;
e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Ide em paz e que o
Senhor vos acompanhe.
8. Amanhã, 19 de outubro, recordamos madre Teresa de Calcu-
tá, servidora dos pobres.
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25 de outubro de 2009

MESTRE, QUE EU VEJA!

Leituras: Jeremias 31,7-9; Salmo 125(126),1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R/. 3);


Hebreus 5,1-6; Marcos 10,46-52 (o cego de Jericó)

Situando-nos

Depois de ensinar aos discípulos a mística do serviço, Jesus conti-


nua seu caminho rumo a Jerusalém. Porém, a compreensão plena
do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas
sim pelo compromisso prático, caminhando com ele no caminho
do serviço, desde a Galileia até Jerusalém. Quem insiste em se opor
a este caminho de Jesus, como alguns discípulos o fizeram, terá
dificuldade de agir como verdadeiro discípulo.
Sem a cruz, é impossível entender quem é Jesus e o que signifi-
ca segui-lo. É preciso fazer a “entrega de si” (8,35), aceitar “ser o úl-
timo” (9,35), “beber o cálice e carregar sua cruz” (10,38), não repetir
os esquemas de reis e poderosos, e ser “servidor de todos” (10,43-44).
Quem for capaz de aceitar as exigências do seguimento, conseguirá
enxergar e seguirá Jesus no caminho, como o cego Bartimeu.
Hoje, somos convidados a deixar as seguranças, os medos e ir ao
encontro do Mestre Jesus, seguindo-o até a morte e morte de cruz.
ma,

Recordando a Palavra
A palavra do evangelho de hoje narra a cura do cego Bartimeu. Este
episódio é de grande importância, do ponto de vista da iniciação e
da catequese, pois o cego Bartimeu, embora condenado por sua do-
ença e discriminado pelo povo, percebe o que outros não veem.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Y É interessante recordar que esta cura é narrada depois dos três


anúncios da paixão, com as reações dos discípulos e as instruções de
Jesus. Antes dos três anúncios, o evangelista Marcos narra a cura de
um cego (cf. 8,22-26). Certamente, não é por acaso que o evangelista
coloca entre duas curas de cegos a longa instrução sobre a Cruz (cf.
8,22 a 10,52).
A cura de Bartimeu esclarece o ponto de chegada desta lon-
ga instrução sobre a cruz (10,56-52). Bartimeu é pobre e cego. Está
sentado à beira da estrada. É um excluído, Não pode participar da
procissão que acompanha e aclama Jesus. Mas ele grita. Diferente-
mente do primeiro cego, ele grita por iniciativa própria. É o grito do
pobre que incomoda os que estão na procissão. Estes tentam abafar
o grito do pobre: “Muitos o repreendiam para que se calasse” (10,48).
Mas ninguém consegue, pois 'ele gritava mais ainda!” (10,48). E Jesus
escuta o grito de Bartimeu. Ele para e manda chamá-lo! Bartimeu
larga tudo o que tem e vai até Jesus. Não tem muito. Apenas um
manto (10,50). Mas era o que ele tinha para cobrir seu corpo (cf. Ex
22,25-26). Era a sua segurança, o seu chão! Bartimeu tinha invocado
Jesus com ideias não inteiramente corretas: “Filho de Davi, tem dó
de mim! (10,47.48). Mas ele teve fé! Embora não tendo, olhos viu.
Acreditou mais em Jesus que o chamou, do que nas ideias que ele
mesmo tinha sobre Jesus. Converteu-se, largou tudo e seguiu Jesus
no caminho para o Calvário! (10,52). Obedeceu ao chamado de Je-
sus, seguiu o Mestre pelo caminho. Mestre é um título dado a Jesus
somente por Bartimeu, no evangelho de Marcos.
Na experiência de Bartimeu com Jesus, temos um itinerário de
fé e iluminação, de chamado e seguimento. O evangelista Marcos
quer despertar em seus ouvintes a profunda confiança em Jesus.
Nesta certeza de caminhar com Jesus, está a fonte da coragem e
a semente da vitória sobre a cruz, pois a cruz não é uma fatalidade,
nem uma exigência de Deus. Ela é consequência do compromisso
assumido com Deus, de servir aos irmãos e de recusar privilégios.!

10 CNBB. Caminhamos na estrada de Jesus: o evangelho de Marcos. São Paulo: Paulinas, 1996. p. 59.
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

A primeira leitura é tirada do livro do profeta Jeremias. O ca-


pítulo 31 é um dos capítulos mais importantes e densos do livro
de Jeremias. É ápice da mensagem de esperança. Este capítulo faz
parte da seção chamada “livro da consolação”.
“São palavras de consolação e esperança, dirigidas provavelmen-
te ao povo que está exilado na Assíria, desde 722 a.C.
Com o declínio do império Assírio, reacenderam-se as esperan-
ças do povo sofrido. Cheio de esperança num tempo promissor, Je-
remias proclama que chegou o tempo da libertação para Israel.
Jeremias explode de felicidade e anuncia a alegria, abandonan-
do a triste e monótona mensagem de destruição (cf. 20,8). O profeta
anuncia a boa notícia de que Deus tem predileção por seu povo:
cegos, coxos, mulheres grávidas e parturientes, os que choram. Em
meio a tanta gente sofrida, Jeremias menciona estes marginalizados
que sintetizam os sofredores da época. É interessante notar que são
sinais de esperança no meio da dor. Apesar do exílio, dos sofrimen-
tos, há sinais de vida no ventre das mulheres grávidas e nas crianças
que ainda estão sendo amamentadas.
Deus, como pai cuidadoso, tem um o carinho especial por este
povo sofrido e promete recebê-lo e conduzi-lo por torrentes d'água,
por um caminho reto onde não tropeçará (cf. v. 9).
O salmo 126(125) canta a ação de graças pela restauração: “Quan-
do o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar (...) nossos
lábios encheram-se de canções” (vv. 1-2). O salmista ainda pede para
que a restauração se complete: “Muda, Senhor, a nossa sorte...” (v. 4).
A carta aos Hebreus, capítulo 5, versículos 1-10, desenvolve o
tema do sacerdócio de Cristo. Jesus é o único e eterno sacerdote, só
elÉé
mediador
o entre Deus éas pessoas.
Por várias vezes, o autor da carta aos Hebreus identifica Jesus
como sumo sacerdote (cf. 2,17; 3,1; 4,14-15). Nestes versículos que le-
mos hoje, ele explicita as características de um sumo sacerdote e mos-
tra que tais características se adaptam a Jesus Cristo: 1) o sumo sacer-
dote é escolhido entre os seres humanos e os representa nos sacrifícios
que oferece; 2) é capaz de desempenhar sua missão representativa,
Ts PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

porque compartilha da fraqueza humana. Ser de origem humana faz


com que ele tenha capacidade de compadecer-se dos humanos; 3) é
chamado a essa honra por Deus, não por sua livre escolha.
O sacerdócio de Jesus Cristo é de uma eficácia infalível, graças
à iniciativa e à vocação divina (v. 4). Ele que se fez um de nós, em
tudo, menos no pecado, entenderá a miséria humana. Jesus é sumo
sacerdote, porém, diferente dos outros sumos sacerdotes. Uma di-
ferença radical é de não ter cometido pecado. Outra diferença é que
Jesus foi escolhido e nomeado sumo sacerdote de uma linha não le-
vítica. “Ele não atribuiu a si mesmo a honra de ser sumo sacerdote,
mas foi aquele que lhe disse: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”.
Como diz em outra passagem: “Tu és sacerdote para sempre, na
ordem de Melquisedec” (vv. 5b-6).

Atualizando a Palavra

A leitura de Jeremias 31,7-9, paralela ao evangelho da cura do cego


Bartimeu, leva a liturgia a nos apresentar Cristo como o verdadei-
ro restaurador de Israel. Cristo é quem traz a salvação a todos os
deserdados, reintegrando-os no povo de Deus, A compaixão de
Jesus para com o cego de Jericó revela este amor paterno de Deus,
em relação a todos os homens e mulheres, especialmente aos mais
necessitados.
A carta aos Hebreus apresenta Jesus, o sumo sacerdote. Seguin-
do o evangelho de Marcos e os outros evangelistas, vamos desco-
brindo o jeito de Jesus ser Messias e Sacerdote.
Jesus praticou um culto, em espírito e verdade. A própria carta
aos Hebreus confirma esta prática de Jesus, quando diz que, “ao
entrar no mundo, Ele (Jesus Cristo) afirmou: “Tu não quiseste sacri-
fício e oferenda. Tu, porém, formaste-me um corpo. Holocaustos e
sacrifícios pelo pecado não foram do teu agrado. Por isso, eu digo:
“Eis-me aqui, — no rolo do livro está escrito a meu respeito — eu vim,
ó Deus, para fazer a tua vontade” (10,5-9).
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

A vida de Jesus foi uma entrega contínua. Hoje, na experiência


de Bartimeu, percebemos a compaixão de Jesus que dedica sua vida
em favor dos pequenos e pobres.
Ao mesmo tempo, Ele pede de nós doação, capacidade de en-
trega, sem reservas. Bartimeu é exemplo de discipulado para nós.
Deixa tudo o que tem e segue o Mestre. Ele supera Simão Pedro
que, após confessar Jesus como o Messias, quer impedi-lo de sofrer
(8,32); supera os doze, que, no caminho, discutem quem é o maior
dentre eles (9,34); supera os filhos de Zebedeu que querem garantir
para si a direita e a esquerda de Jesus, querem poder (10,37)
O discípulo e discípula de verdade são capazes de seguir Je-
sus na “caminhada para Jerusalém”. É o caminho da entrega, do
abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação do conflito,
sabendo que haverá ressurreição. A cruz faz parte deste caminho.
Quem faz da sua vida um serviço aos outros, incomoda os que vi-
vem agarrados aos privilégios.
Nós, povo sacerdotal, somos convocados a olhar para frente,
seguir o caminho da luz, pois o Senhor nos ama e nos conduz para
um caminho reto, onde não tropeçaremos. Temos que sair da mar-
gem, da beira do caminho e seguir Jesus que nos salva e nos liberta,
abandonar o medo e as falsas seguranças e ser capazes de arriscar.
O discípulo e a discípula de verdade são capazes de levantar a
bandeira da paz, da liberdade, da igualdade social, da justiça e da so-
lidariedade, e gastar a vida em favor dos irmãos, mesmo que tenham
que passar pelo caminho da cruz. Lembremos que o culto agradável
a Deus é a entrega da própria vida, feita doação a cada dia.
J

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A comunidade cristã, povo sacerdotal, participa de forma plena,
consciente e ativa da celebração do mistério pascal de Jesus Cristo,
único e eterno sacerdote. Ele preside nossas assembleias e torna-se
presente no meio de nós.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Ele, a cabeça de seu corpo que é a Igreja, “ora por nós como nos-
so sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração
como nosso Deus. Reconheçamos nele a nossa voz, e em nós a sua
voz. E quando se disser sobre o Senhor Jesus, sobretudo nos profe-
tas, algo referente âquela humilhação, aparentemente indigna de
Deus, não hesitemos em lhe atribuir, já que não hesitou em fazer-se
um de nós...” (Santo Agostinho).
Com confiança renovamos nossa fé no Senhor, que nos tira da es-
curidão, nos liberta do medo e nos traz de volta à vida. Sem Ele, nada
podemos, por isso, já no início da celebração, pedimos: “Deus eterno e
todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e dai-nos amar o que
ordenais para conseguirmos o que prometeis...” (oração do dia).
Na celebração da Eucaristia, oferecemos o pão que dá vida e
o cálice da nossa salvação. Junto com Jesus, entregamos ao Pai a
nossa vida (cf. oração eucarística para missa com crianças). Diz a
Sacrosanctum Concilium “que os fiéis aprendam a oferecerem-se a si
próprios, oferecendo a hóstia imaculada, não só pelas mãos do sa-
cerdote, mas também juntamente com ele e assim, tendo a Cristo
como Mediador, dia a dia, se aperfeiçoem, na união com Deus e
entre si, para que, finalmente, Deus seja tudo em todos” (48).
Que o Senhor faça de nós, povo gerado pela aliança, instituída
por Cristo, uma oferenda perfeita e saibamos, na vida e na celebra-
ção, oferecer nossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a
Deus (cf. Rm 12,1).
O povo de Deus, “constituído raça eleita, sarcerdócio do Rei-
no, nação santa, povo que Ele conquistou... que antes não eram
povo, agora, são povo de Deus (1 Pd 2,9-10) (...) tem como lei o novo
mandamento de amar como o próprio Cristo nos amou (..) este
povo é para todo o gênero humano, fecundíssima semente de uni-
dade, de esperança e de salvação. Constituído por Cristo para uma
comunhão de vida, de amor e de verdade, e por ele assumido, para
ser instrumento da redenção universal, é enviado ao mundo intei-
ro, como luz do mundo e sal da terra” (Lumen Gentium, n. 9).
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51) 72

Sugestões:

1. Hoje é Dia Nacional da Juventude. Alguns jovens podem en-


trar, carregando a cruz, o círio pascal e o evangeliário.
As 2. Antes da primeira leitura, pode ser cantado o refrão: “Tua
palavra é lâmpada para os meus, pés, Senhor”... Durante o cântico,
algumas pessoas podem ir ladeando o ambão com algumas velas
acesas.
3. Se possível, alguns jovens podem encenar o evangelho.
4. Na homilia, se oportuno, ouvir o testemunho de um jovem.
5. Após a homilia, toda a comunidade, se for oportuno, antes
da profissão de fé, pode receber a luz: Acendem-se as velas dos fiéis, e
quem preside, tomando ou tocando o círio pascal, reza: Deus vos tornou
luz em Cristo. Caminhai sempre como filhos e filhas da luz, para
que, perseverando na fé, possais seguir o Senhor
6. Em comunidades menores, a oração dos fiéis pode ser espon-
tânea, de modo que o povo exerça o seu sacerdócio batismal, e a
comunidade possa rezar a própria realidade.
Y 7 Antes da bênção final para toda a comunidade, dar uma bên-
ção especial para os jovens.
8. As palavras do rito de envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado: A tua fé te curou! Ide em paz e que o Senhor
vos acompanhe. ,
9. No dia 28, é festa dos apóstolos Simão e Judas Tadeu. No dia
30, lembramos Santo Dias, operário e ministro da comunhão, de-
fensor da causa operária. No dia 31, recordando Martinho Lutero,
rezemos pela Igreja luterana.
SAD aO A DMD TERA o CU RALIUIRA
Rd NE A À DOES ANE dra di, HDs
A 4 Rd LAS hPoti | k ai 1h Jó 4

01 de novembro de 2009

ALEGRAI-VOS E EXULTAI, PORQUE SERÁ GRANDE A VOSSA RECOMPENSA NOS CÉUS.

Leituras: Apocalipse 7,2-4.9-14; Salmo 23(24),1-2.3-4ab.5-6


(R/. cf. 6); 1João 3,1-3; Mateus 5,1-12a (Bem-aventuranças)

Situando-nos

Hoje, na celebração da solenidade de todos os santos e santas de


Deus, damos graças ao Pai, Santo e fonte de toda a santidade, parti-
cipando do memorial da Páscoa de Jesus.
A santidade é dom do amor de Deus. É pura gratuidade divina.
É resposta das pessoas ao amor gratuito de Deus.
Neste dia, recebemos de Jesus seu programa de vida, um ca-
minho para todo discípulo e toda discípula que o seguem. Não são
mandamentos, mas dons que vem de Deus, por meio de Jesus.
“— Muitas mulheres e homens colocaram-se em marcha, tiveram
capacidade de ir além de si mesmos, por isso são bem-aventurados
— estão de pé diante do trono e do Cordeiro, com vestes brancas e
palmas na mão —; fieis até o fim, lavaram as vestes no sangue do
Cordeiro (cf. Ap 7,9.14).
Em Jesus, o bem-aventurado de Deus, nos colocamos a cami-
nho, buscando a cada dia, corresponder ao amor divino que nos
chama à santidade. Somos chamados a fazer as opções que nos
comprometem com o Reino de Deus.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Recordando a Palavra
A palavra do evangelho de hoje, sobre as bem-aventuranças, faz
parte do Sermão da Montanha (cf. capítulos 5-7). O Sermão da Mon-
tanha é a constituição do novo povo de Deus, protocolo da segunda
aliança, manifesto do Messias Salvador.
O Sermão da Montanha é dirigido à multidão, à “nova comu-
nidade”, É um discurso exigente, convidando o ouvinte à constante
superação de si mesmo. Ele denuncia a mesquinhez e as infidelida-
des e apresenta a misericórdia de Deus.
wi. Deste discurso fazem parte, além das bem-aventuranças
(5,1-16.17-48), três obras de justiça ou fidelidade: esmola, oração e
jejum (6,1-4.5-15.16-18). Há ainda temas como a confiança em Deus e
a misericórdia para com o próximo (6,19-7,12) e um esclarecimento
sobre os dois caminhos e os falsos profetas. Por último, há o discur-
so de comparação de duas construções (7,24-29)."
As bem-aventuranças, início do Sermão da Montanha, são di-
rigidas às multidões vindas da Síria, da Galileia, da Decápole, de
Jerusalém, da Judeia e da Transjordânia (cf. 4,24-25).
Vendo as multidões, Jesus sobe ao monte, lugar do encontro
com Deus e com Ele. O monte, e/ou a montanha, é o lugar privile-
giado para revelações ou vindas de Deus.
Na montanha do Sinai, no primeiro testamento, foi selada a pri-
meira aliança entre Deus e o povo hebreu que saiu da escravidão do
Egito. Neste monte, Moisés recebeu a Lei, a constituição do povo
de Deus. Jesus, também num monte, promulga a nova aliança do
povo de Deus. Enquanto, na primeira aliança, o povo deveria per-
manecer longe de Moisés, na segunda, os discípulos aproximam-se
de Jesus (cf. v. 1).
O evangelista Mateus reuniu as palavras de Jesus, para propor-
cionar aos seguidores e seguidoras do Mestre ensinamentos básicos
para a vida cristã. Jesus, no monte, sinal da presença de Deus e sen-
tado numa posição de mestre, ensina os discípulos e a multidão.

11 Cf. Bíblia do Peregrino, nota de rodapé do capítulo 5 do evangelho de Mateus.


PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

7%. No primeiro conjunto (vv. 3-6), Jesus proclama felizes os pobres


de coração, os que choram, os mansos e os que têm fome e sede de
justiça. São declarações sobre a felicidade que possuem todos aque-
les que se abrem à ação de Deus, numa atitude de acolhida sincera.
A felicidade é, em grande parte, futura, mas já começa aqui.
MN. O segundo conjunto de bem-aventuranças (vv. 7-10) - os mise-
ricordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz € os que
são perseguidos por causa da justiça - termina com uma referência
à justiça, assim como acontece com o primeiro conjunto (cf. v. 6).
Estas declarações estão mais orientadas ao comportamento cristão.
| Enquanto nas quatro primeiras fala-se de situações, as últimas
própõem atitudes que os discípulos devem ter.
*. Aúltima proposta de felicidade (vv. 11-12) desenvolve o tema da
perseguição e parece uma aplicação da anterior: “Bem-aventurados
os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino
dos Céus” (v. 10). O evangelista redigiu esta bem-aventurança na
segunda pessoa do plural, dirigindo-se diretamente aos membros
da comunidade que são perseguidos por causa de Jesus: “Bem- aven-
turados sereis vós...”
Em cada bem-aventurança existe uma tensão entre a situação
presente e o que vai surgir — o presente e o futuro. O Reino já está
presente nos pobres, nos misericordiosos, nos mansos..., porém,
Deus vai instaurar definitivamente o Reino, e tudo vai mudar de
uma maneira radical. São palavras de esperança e de alento, fazen-
do perceber o Reino já presente e sua realização definitiva.
A primeira leitura é tirada do livro do Apocalipse, livro que foi
escrito para animar os cristãos perseguidos até a morte pelo im-
pério romano, opressor e repressor. Fiéis a Jesus Cristo, as comu-
nidades cristãs negavam a divinização do estado, de seus líderes e
especialmente do imperador romano.
O autor do livro do Apocalipse revela aos cristãos os verdadei-
ros interesses que estavam presentes na luta entre o império roma-
no e a fé cristã, simbolizados na figura de dois animais. O dragão
representa o império e as forças contrárias à fé cristã.) O cordeiro
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

representa o Reino de Deus e Cristo. Em suas visões, o autor vê


paradoxalmente o esmagamento do dragão pelo cordeiro.
A perseguição e o desejo da vitória da fé cristã são interpretados
à luz da morte e ressurreição de Jesus. Mesmo sendo perseguido pe-
los poderes deste mundo, Deus ressuscita Jesus de entre os mortos.
A morte não é a última palavra.
Os versículos do livro do Apocalipse, propostos hoje, fazem
parte da seção dos “sete selos” (6,1-7-7,17). Os selos são abertos pelo
Cordeiro (5,7.9;6,1).
Após a abertura do 6º selo, que revela a ira do que senta no trono
e a ira do Cordeiro, surge a pergunta: “Quem poderá ficar de pé?”
(cf. 6,17). O capitulo 7 responde à pergunta precedente: os que creem
na ressurreição e vivem segundo esta fé, os servos, marcados na fron-
te. Segundo o autor, são 144 mil. Utilizando-se do simbolismo dos nú-
meros, mostra que os que lutam e resistem são muitos e formam uma
totalidade perfeita (144 mil é o resultado da multiplicação de números
perfeitos: 12 x 12 x 1000). Numa segunda visão, enxerga-se uma mul-
tidão imensa, gente de todas as nações, tribos e línguas (do mundo
inteiro) (v. 9b). Estão de pé (são declarados inocentes) e participam da
própria vida divina (vestes brancas e palmas nas mãos). Os que estão
vestidos de branco são os que chegaram da grande tribulação e lava-
ram as vestes no sangue do Cordeiro (cf. vv. 13-14).
O salmo 24(23), nos primeiros versículos, celebra a soberania
do Senhor sobre o mundo criado. Os últimos descrevem a procissão
do Senhor, chegando triunfante ao Templo.
A segunda leitura, tirada da 1º carta de São João, é, ao mesmo
tempo, uma meditação contemplativa e prática.
TA carta dirigida “às comunidades cristãs da Ásia Menor que
passavam por uma crise, provocada por um grupo de dissidentes
carismáticos que propunham uma doutrina gnóstica, que afirmava
que o homem se salva graças a um conhecimento religioso espe-
cial e pessoal. Os gnósticos negavam que Jesus fosse o Messias e se
gloriavam de conhecer a Deus, de amá-lo e de estar em íntima co-
munhão com ele; afirmavam ser iluminados, livres do pecado e da
/7 PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II Ano B - Setembro / Novembro de 2009

baixeza do mundo; não davam importância ao amor ao próximo e


talvez até odiassem e hostilizassem a comunidade... A carta mostra
que é vazio e sem valor qualquer espiritualismo que não se traduz
em comportamento prático. Não é possível amar a Deus, sem amar
ao próximo e sem formar comunidade. Se Deus é Pai, os homens
são filhos e família de Deus, e, consequentemente, todos devem
amar-se como irmãos”!
Nos versículos lidos hoje, o autor mostra que a filiação divina
é fundamentada no amor de Deus. Sermos filhos de Deus nos faz
participar de uma vida nova, semelhante à de Deus. O amor do Pai
sustenta a caminhada da comunidade cristã. Desde já somos filhos
de Deus. Todavia, a nossa filiação divina só terá sua plenitude no
céu. Quando Cristo manifestar-se, seremos semelhantes a ele, por-
que nós o veremos como ele é (3,2). Enquanto não houver a plena
manifestação, cabe a cada cristão praticar a justiça e sempre lutar
para ser como Jesus.

Atualizando a Palavra
Hoje, Dia de Todos os Santos e Santas de Deus, refletimos sobre a
gratuidade divina: Deus nos ama e nos sustenta na fé.
Recebemos a palavra de Jesus como bênçãos, ou seja, dons que
vem da parte de Deus, por meio de Jesus. Neste caminho de santi-
dade, participamos da vida de Deus, por iniciativa dele.
Nosso destino é Deus. Ele nos santifica, e nós passamos a agir,
correspondendo à dignidade de santificados por Deus.
A carta aos Romanos diz que “pelo batismo fomos sepultados
com Jesus Cristo na morte, para vivermos uma vida nova, assim
como Ele ressuscitou da morte pela ação gloriosa do Pai. Pois, se fo-
mos, de certo modo, identificados a ele por uma morte semelhante
à sua, seremos semelhantes a ele também pela ressurreição. (...) Se

12 BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos: anos A, B, C, festas e solenidades. São Paulo: Paulus, 2006.
pp. 788-789.
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele” (6,4-
5.8). Ou seja, morrendo com Cristo e ressuscitando com Ele para uma
vida nova, no batismo, no coração da Igreja, somos santificados.
Deus, o santo por excelência, transforma-nos interiormente e
nos capacita a entrarmos em outro universo, a exemplo de tantos
homens e mulheres, santos e santas, pessoas que deram provas de
serem capazes de superar a si mesmas, em vista do Reino de Deus.
Hoje celebramos muitas testemunhas que “lavaram e alveja-
ram as suas vestes no sangue do Cordeiro e, com vestes brancas e
palmas nas mãos, estão de pé diante do trono e do Cordeiro” (v. 9).
Todas são testemunhas do único mistério pascal do Senhor, revivi-
do em seus membros.
Ao celebrarmos a memória das testemunhas de Cristo, crucif-
cado e glorificado, acolhemos o exemplo de suas vidas e nos unimos
à intercessão de suas preces.
Lembrar dos santos e das santas nos ajuda a olhar para a nossa
caminhada. Os que se deixaram santificar por Deus não são pesso-
as acomodadas. Esforçaram-se para viverem fielmente, conforme
o Evangelho. Tornaram-se pobres e abertas à ação divina. Foram
famintas e sedentas de justiça, da justiça que vem de Deus. Foram
mansas e misericordiosas...
Vivamos fiéis ao amor que Deus tem por nós. Caminhemos
certos de que, ao sermos testemunhas da paz, da justiça e da verda-
de, enfim da Boa Notícia, podem até matar nosso corpo, mas nunca
matarão nossa alma.
A realidade de injustiça, desigualdade, desamor, exploração,
fome e miséria, clama por testemunhas vivas e eficazes do Evange-
lho de Jesus. Que sejamos, verdadeiramente, seguidores de Cristo.

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Reunimo-nos, para proclamar a grandeza, a sabedoria e amor de Deus,
Pai santo. Ele que criou o homem e a mulher à sua imagem e seme-
lhança. E, mesmo depois da desobediência e do pecado, não os aban-
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

donou ao poder da morte, mas os socorreu com bondade, dando-lhes a


possibilidade de retomar o caminho (cf. oração eucarística IV).
Celebramos o mistério da nossa fé, em comunhão com todos
os santos e as santas que ainda peregrinam aqui e os que já contem-
plam eternamente a face de Deus.
Jesus, o bem-aventurado do Pai, se faz presente no meio de nós,
quando nos reunimos pelo amor. Somos fortalecidos também pela
intercessão dos santos e das santas, como cantamos na ladainha,
invocando as testemunhas fiéis do Evangelho.
A morte e a ressurreição de Jesus, celebradas na Eucaristia, e
a memória de tantos mártires nos fortalecem, para sermos firmes
na luta diária, a fim de que possamos permanecer de pé, diante do
Cordeiro, conforme rezamos: “Ao celebrarmos, ó Deus, todos os
Santos, nós vos adoramos e admiramos, porque só vós sois o Santo,
e imploramos que a vossa graça nos santifique, na plenitude do vos-
so amor, para que, desta mesa de peregrinos, passemos ao banquete
do vosso reino” (oração pós-comunhão).

Sugestões: ( otm
» Pere (o IN
. Na procissão de abertura levar o círio Pascal, um ícone de Je-
sus-e/a imagem do padroeiro. Algumas pessoas podem entrar com

Na recordação da xjida, lembrar pessoas que são testemunhas


d santidade. 40 OA Ve NE A, f [ | EC ee Co pl era rt Cet; ,

q 3. No lugar das preces, invocar as testemunhas fiéis, cantando a


ladainha de todos os santos e santas.
4. No momento do santo da oração eucarística, se for oportuno,
zer uma dança com incenso. As pessoas que entraram com vestes
brancas e palmas nas mãos podem participar da dança.
C 5.) A prece eucarística pode ser a 1 ou No momento da in-
tercessão, quando lembramos santos ee santas, se oportuno, deixar
espaço para que os membros da comunidade recordem alguns no-
mes de santos e mártires.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)
,, as

; ' |
6. Ab palavras do rito de envio podem estar em consonância
corró mistério celebrado: Bem-aventurados sois vós! Ide em paz e que o
Senhor vos acompanhe.
7. Amanhã é a comemoração de todos os fiéis defuntos. No dia
3, lembramos Martinho de Lima, irmão dedicado à medicina popu-
lar no Peru. Dia 4, fazemos memória de Carlos Borromeu, amigo
dos pobres.
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02 de novembro de 2009

"FELIZES OS POBRES EM ESPÍRITO, PORQUE DELES É O REINO DO CEU.”


EEN
Av = Odd
Leituras (Missa IID(Sabedoria 3,1-9) Salmo 42(41);
Apocalipse 21,1-5.6b-7; Mateus 5,1-12*
E s f
Do AM
Situando-nos brevemente:

Conforme antiga tradição da Igreja, hoje celebramos, de modo


especial, os nossos mortos. Fazemos esta memória no Mistério da
Páscoa de Jesus, que venceu definitivamente a morte. Todos os que
pelo batismo são incorporados a Cristo, com Ele ressuscitarão den-
tre os mortos à semelhança de sua ressurreição.
O Missal Romano e o Lecionário dominical apresentam três
propostas diferentes para a liturgia de hoje. De acordo com as ne-
cessidades pastorais, a comunidade celebrante faz sua escolha.
Optamos aqui pelos textos da 3º Missa.
Nesta celebração, damos graças ao Pai porque experimentamos
em nossa realidade este mistério da vida que passa pela morte e po-
demos viver em comunhão com tantas pessoas queridas que vivem
agora a plenitude da vida partilhada conosco, precedendo-nos no
caminho da fé.
Já nos últimos domingos do ano litúrgico, celebramos a voca-
ção escatológica de toda a humanidade, chamada à vida plena e à

* Este roteiro foi preparado pela liturgista Maria de Lourdes Zavarez e pela biblista Maria do
Carmo, publicado no subsídio “Ele está no meio de nós”, Edições CNBB, 2008..
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

felicidade completa na Jerusalém celeste, onde não haverá morte ,


nem luto, nem clamor, nem dor.

Recordando a Palavra

No Sermão da Montanha (Mt 5-7,27), Mateus reúne a nova justiça


trazida por Jesus. As bem-aventuranças abrem esse sermão, anun-
ciando a felicidade verdadeira de ser merecedor do Reino. São pro-
clamações de salvação para aqueles que aderem à comunidade dos
seguidores de Jesus Cristo. Existe o texto paralelo de Lucas 6,20-
26. São duas formulações da palavra de Jesus. Em Mateus, são oito
bem-aventuranças e mais uma a se realizar com quem segue Je-
sus; em Lucas são quatro bem-aventuranças e quatro infelicidades.
Este gênero (ashrê em hebraico) é frequente nos salmos e na poesia
sapiencial. São mandamentos como o decálogo do Sinai. Revelam
uma felicidade quase que humanamente incompreensível. Reúnem
promessas de bens excelentes e exigências extraordinárias.
Mateus fala em “pobres em espírito”; é uma noção que vem do
profeta Sofonias. São os anawim, os que buscam Deus e a justiça,
que mantêm viva a Aliança na espera do Messias. Este espírito não
é a inteligência ou o Espírito Santo, mas é o centro, o coração, a
totalidade da pessoa. Essa expressão, de acordo com a mentalidade
bíblica, significa dinamismo, sopro, força vital. Esses pobres são os
que, por seus sofrimentos e carências, aprenderam a confiar somen-
te em Deus e contar com seu socorro. “Em espírito” indica a inte-
rioridade consciente: sabem que são pobres e também rejeitam a
cobiça e a ganância. O reinado de Deus é para eles. A evangelização
dos pobres foi o sinal dado por Jesus aos discípulos de João Batista,
para reconhecerem que Ele era o Messias.
A palavra da Sabedoria gira em torno do conflito justo versus
injustos, chamados de insensatos. O conflito ocorria pela hostilida-
de e perseguição advindas de pessoas da cultura grega contra a fé e
cultura do povo judaico, que habitava em Alexandria do Egito, por
volta dos anos 50 antes de Cristo. Para não serem marginalizados
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

e perseguidos, muitos deixavam os costumes e até a fé, perdendo a


própria identidade de povo escolhido. Além disso, a crença na “te-
ologia da retribuição” estava em crise. A realidade mostrava o con-
trário. Os corruptos € injustos viviam sossegados por longos anos.
Os justos eram atribulados, perseguidos, mortos na juventude. Para
superar essa crise, a sabedoria afirma com toda a convicção: “As
almas (as vidas) dos justos estão nas mãos de Deus, e nenhum tor-
mento os atingirá”. “Os justos estão em paz”. Os justos no dia do
133

julgamento brilharão como fagulhas no meio da palha” e gover-


narão as nações, submetendo os povos, participando com o Senhor
do senhorio da história. Deus e os justos são aliados inseparáveis e,
mesmo que venha a morte por causa da luta pela justiça, os justos
continuarão vivendo.
O Salmo 42(41) expressa uma saudade imensa de Deus e man-
tém nossa esperança de voltar a nos encontrarmos com Ele. Deus
se faz presente na vida em forma de ausência sentida. Para falar da
ausência, é usada a imagem da corça bramindo de sede. Todo ser
sem Deus seca e morre. Cantemos este salmo na certeza de que
Deus atende nossa sede profunda.
Hoje ouvimos três versículos do Apocalipse com uma revela-
ção preciosa! “Pronto! Está feito! Acabou! Eis que faço novas todas
as coisas!... eu sou o começo e o fim. O vencedor receberá a heran-
ça!”. Quando tudo parecer acabado, novas coisas surgirão e quem
se manteve fiel receberá sua herança! Será tudo novo, sem dor, sem
choro, sem luto! Nem morte haverá!

Atualizando a Palavra
A Palavra de Deus é um apelo para sermos pobres em espírito e nos
propõe o aspecto dinâmico do ser humano, de buscar a inteireza do
ser. Expressa muita exigência e não apenas desprendimento dos bens
materiais. Ser pobre “em espírito” nos leva a transformar a referên-
cia de uma situação econômica e social em uma atitude para aceitar
a Palavra de Deus. Este é um tema central das Sagradas Escrituras
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

que nos convida a viver em total disponibilidade à vontade de Deus


e fazer dela nosso alimento. É uma atitude de filhos e filhas, irmãos e
irmãs dos demais filhos de Deus; ser pobre em espírito é ser discípulo
de Cristo. O discipulado exige abertura ao dom do amor de Deus e
solidariedade preferencial com os pobres e oprimidos.
As demais bem-aventuranças referem-se a outras atitudes do
discípulo, do pobre: bom trato, aflição pela ausência do Senhor,
fome e sede de justiça, misericórdia, coerência de vida, construção
da paz, perseguição por causa da justiça. Elas enriquecem e apro-
fundam a primeira bem-aventurança.
Neste dia de esperança, de comunhão com quem amamos e
continuamos amando, mesmo sem a presença física, a Ressurreição
de Jesus é uma luz cintilante para nossa fé na vida. Temos certeza
que todo mal já foi vencido e nos aguarda um futuro onde a morte
não existirá mais. É essa também a certeza que temos quanto a nos-
sos pais, irmãos, amigos e a todos os que adormeceram no Senhor.
Temos que construir o novo céu e nova terra durante o tempo
de nossa história, mas temos a confiança que quem morreu tendo
guardado a fidelidade a Jesus Cristo já pode usufruir do novo céu e
nova terra sem fim!

Ligando a palavra com a ação litúrgica


Damos graças ao Pai, Santo e fonte de toda a santidade, participan-
do do memorial da morte e ressurreição do Cristo, o bem-aventu-
rado do Pai, o Alfa e o Ômega, Princípio e Fim, que nos oferece,
gratuitamente, a fonte de água viva, seu Espírito Santo.
Antecipamos nossa participação na assembléia celeste com to-
dos os irmãos e irmãs que partiram, os santos e santas que entoam
incessantemente a Deus, o louvor pascal e resplandecem como fais-
cas luminosas, provados como o ouro no cadinho.
Suplicamos ao Pai, na certeza da ressurreição, que nossos faleci-
dos gozem da imortalidade, da alegria plena prometida.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Nesta Eucaristia, retomando nosso batismo, o Espírito Santo


realiza também em nós esta esperança, participando da vitória pela
qual Cristo nos faz continuamente com Ele reviver.

Sugestões:

1. As flores e as cores (roxa, preta, lilás, amarela) dão ao conjun-


to da celebração um caráter de sobriedade e esperança. Lembram
que a liturgia dos finados é uma mistura de alegria e dor, de presen-
ça/ausência, de festa e saudade.
2. Prever um lugar adequado para que, no início da celebração,
as pessoas possam acender velas na lembrança de seus mortos. A luz
é um símbolo a ser valorizado nesta celebração.
3. Após a saudação inicial, quem preside lembra o sentido pas-
cal desta celebração. O rito de bênção e(aspersão) nos ritos iniciais,
nos ajuda a renovar o batismo pelo qual com Cristo morremos e
ressurgimos continuamente, até nossa páscoa definitiva.
4. No momento das preces da comunidade, cantar ou rezar a
ladainha de todos os santos. É este um dos momentos rituais in-
dicados para rezarmos pelos nossos falecidos, caso sejam feitas as
preces. .
5. O prefácio é próprio. O canto do Santo, seguido da motivação
no final do prefácio: “Por isso, com todos os Anjos e Santos procla-
mamos a vossa glória, cantando numa só voz,” é o momento ritu-
al privilegiado de comunhão com nossos irmãos e irmãs falecidas.
Entramos no louvor perene que eles, sem cessar, entoam a Deus. É
muito pouco, portanto, nos contentarmos com uma simples leitura
de seus nomes no início da celebração!
6. O Hinário Litúrgico 2 (p. 103) traz uma louvação em melodia
popular, inspirada no prefácio de hoje, que pode ser cantada nas
Celebrações da Palavra.
7. Na Oração Eucarística, durante a lembrança dos falecidos,
quem preside convida a comunidade a falar em voz alta os no-
mes de seus entes queridos. Este é outro momento ritual previsto
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

para isto. Seria bom evitar fazer leitura, às vezes friamente, no


início da celebração, quando há momentos tão adequados, pro-
postos pela liturgia!
8. Para os cantos, o Hinário Litúrgico 4 (p. 143-155) apresenta
sugestões para os vários momentos. Eles podem ser escolhidos con-
forme os textos litúrgicos da Missa.
9. A Bênção final, conforme o Missal Romano é também pró-
pria para esta celebração.
08 de novembro de 2009

ESTA VIÚVA POBRE DEU MAIS QUE TODOS OS OUTROS.

Leituras: 1Reis 17,10-16; Salmo 145(146),7.8.9.20 (R/.1);


Hebreus 9,24-28; Marcos 12,38-44 ou abrev.
Marcos 12,41-44 (o óbolo da viúva)

Situando-nos

Jesus continua o ensinamento aos discípulos, agora, já em Jeru-


salém, depois de sua entrada triunfal (cf. 11,1-11). Aclamado pelo
povo, Jesus é um rei diferente. Ele não se desvia do caminho. É o
messias-servo. Rumo à cruz, Jesus, aos poucos, vai rompendo com
as pessoas e as estruturas não condizentes com o seu ser Messias:
rompe com o Templo (11,12-26); rompe com os sumos sacerdotes,
escribas e anciãos (11,27-12,12); rompe com os fariseus e os hero-
dianos (12,13-17); rompe com os saduceus (12,18-27); rompe com os
escribas (12,28-40).
Y” O mestre nos chama hoje a atenção para o valor dos pequenos
gestos. A viúva que depositou, no cofre do Templo, tudo o que ti-
nha para viver, nos ensina que a esmola pode ser insignificante, mas
o dom é total.
Diante da corrupção, da exploração, das injustiças, o seguidor
de Jesus deve aprender com os (as) desprendidos (as), com os/as que
entregam a própria vida como culto verdadeiro e agradável a Deus.
Hoje, duas pobres viúvas (a de Sarepta e a de Jerusalém) nos
ensinam com o exemplo de despojamento e confiança total.
Jesus, o sacerdote verdadeiro, que entrou no santuário do céu,
como oferenda perfeita, dirige uma palavra de esperança para os
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51) 88

pequenos e pobres e uma palavra de denúncia para os que exploram


e se julgam os melhores.
a

Recordando a Palavra
O evangelho proclamado na liturgia de hoje faz parte de um con-
texto maior que abrange os capítulos 11,1 até 13,37 de Marcos.
Nestes episódios, o evangelista narra os envolvimentos de Jesus
em uma série de incidentes, na cidade de Jerusalém. “Quase todas
as cenas nos capítulos de 11 a 13 são dominadas por conflitos, mos-
trando Jesus em confronto com os chefes religiosos de Jerusalém
sobre as questões de oração e piedade (11,12-25 e 12,28-44); vida após
a morte (12,18-27); imposto devido a César (12,13-17) e autoridade
de Jesus em todos esses assuntos (11,27-33). Esta série de histórias de
conflito fará com que o leitor de Marcos se lembre de conflitos ante-
riores (2,1-3,6), que terminaram, quando os fariseus tramaram, com
os herodianos, os meios de destruir Jesus (3,6). Dessa vez, a trama
leva a sua prisão e morte (14,43-52 e 15,21-26)"."
O evangelista mostra a quem quer seguir Jesus que a base do
discipulado cristão é ter fé em Deus (11,22). Fé transformada em
ação, em amor ao próximo como a si mesmo (12,31). O discípulo
tem diante dos olhos dois modelos: “o escriba sincero de 12,28-34 e
a viúva pobre, cuja generosa fé em Deus a levou a “depositar tudo o
que tinha para viver (12,44).!º
Podemos dividir em duas partes o texto de hoje: um alerta à mul-
tidão diante da hipocrisia dos doutores da Lei, e o exemplo da viúva
que depositou, no cofre do Templo de Jerusalém, tudo o que tinha.
Embora contados em dois momentos pelo evangelista, os tex-
tos estão profundamente ligados, visto que as viúvas eram o grupo
social mais explorado pelos doutores da Lei.
Ed

13 BERGANT, D.; KARRIS, R. J. Comentário Bíblico: Evangelhos e Atos, Cartas e Apocalipse.


São Paulo: Loyola, 1999. p. 64.
14 Ibidem, p. 64.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Num paralelo entre os doutores da Lei e a viúva, Jesus denuncia


a exploração deles e exalta a atitude da pobre mulher, como sinal de
abandono e fé verdadeira.
Jesus diz claramente à multidão para tomar cuidado com os
doutores da Lei, pois eles gostam de andar com roupas vistosas, de
ser cumprimentados nas praças públicas; gostam das primeiras ca-
deirasnassinagogase dos melhores lugares nos banquetes; devoram
as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações (cf. vv. 38b-40a).
Por tudo isso, eles receberão a pior condenação (cf. v. 40b).
São duras criticas à vaidade deles e à exploração de pessoas in-
defesas, especialmente das viúvas. Ao contrário do que ensinava a
Palavra de Deus (cf. Dt 24,17; Is 1,17; Jr 7,6; Zc 7,10), os doutores da
Lei as exploravam de tal forma que, às vezes, elas tinham que ce-
der a eles suas propriedades. Por isso, e por andarem por caminhos
contrários à Aliança, eles recebem uma das sentenças mais severas
do evangelho.
De um lado, os doutores da Lei e escribas cuja prática não deve
servir de modelo para ninguém; do outro, o exemplo da viúva que
deu tudo o que tinha, sem constrangimento. Provavelmente, o
valor depositado era falado em voz alta. A pobre mulher deposi-
tou duas pequenas moedas que não valiam quase nada, enquanto
os ricos, com toda ostentação, depositavam grandes quantias.
A viúva entrega todo seu sustento, numa atitude de total con-
fiança e esperança em Deus “que é fiel para sempre; faz justiça aos
oprimidos; dá alimento aos famintos” (cf. Sl 146,7). Os ricos, ao
contrário, ficam com uma parte de sua riqueza, que lhes dá uma
margem de segurança.
Ao discípulo de Jesus é oferecido critério para discernir e não
julgar segundo as aparências.
Dt Anúncio e denúncia são práticas de Jesus, o profeta do Pai. A
luta pela vida, a indignação diante das injustiças e a exploração,
como também a opção pelos pobres e excluídos, levaram Jesus à
morte e morte de cruz.
"Mestre. que eu veja!” (Mc 10,51)

A primeira leitura é tirada do 1º livro dos Reis. No capítulo


17, inicia-se o chamado “Ciclo de Elias”. Elias, cujo nome signif-
ca “Meu Deus é Javé”, aparece sem nenhuma apresentação prévia,
anunciando ao rei Acab a seca, no Reino do Norte (1 Rs 17,1).
Casando-se com Jesabel, o rei Acab permitiu que sua esposa
introduzisse, no Reino do Norte, o culto a Baal, deus cananeu.
Sendo Baal, o deus da chuva e da fertilidade da terra, consequen-
temente, seria ele o responsável pelo alimento. Mesmo com a permis-
são do culto a Baal, por parte de Acab, a fome assolou a região.
“O profeta Elias, escapando da perseguição e da fome, refugia-
se em Sarepta, pequeno povoado na Fenícia, região de Jesabel. É aí,
nesta região pagã, que Deus vem em socorro de Elias, por intermédio
de uma viúva pobre e pagã, contrastando com a rainha poderosa. A
viúva ia comer o que restava de comida para ela e o filho (17,12).
o A seca serve, então, para mostrar que o Deus de Israel é o ver-
dadeiro doador da chuva. Unico e supremo Senhor da natureza.
Embora Baal fosse o deus da fertilidade, a viúva e seu filho iam
morrer de fome. Deus, o Senhor da vida dá o trigo e o azeite, por
meio do profeta Elias: “A farinha da vasilha não acabou nem dimi-
nuiu o óleo da jarra...” (v. 16).
A viúva confiou no Deus do profeta. Repartiu o pouco que ti-
nha, e seu gesto não ficou sem resposta.
4. O Salmo responsorial é uma exortação ao louvor e à confiança
no Senhor que tudo governa. Ele é um Deus que age sempre: faz
justiça aos oprimidos, dá alimento aos famintos, liberta os cativos,
abre os olhos aos cegos, ergue os caídos, ama o que é justo, protege
o estrangeiro, ampara o órfão e a viúva, confunde os caminhos dos
maus e é rei para sempre.
Na segunda leitura, continuamos lendo a carta aos Hebreus. Os
versículos de hoje pertencem à segunda parte da carta (5,11-10,39)
e a uma seção, desta parte, que trata do sacerdócio novo de Cristo
(8,1-10,39).
Jesus Cristo não é somente o único sacerdote da nova-aliança,
mas também é a única vítima.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Com sua morte e ressurreição, Cristo entra no santuário dos


céus, diferentemente do sacerdote antigo que entrava, uma vez por
ano, no Santo dos santos, para oferecer o sacrifício de expiação pe-
los pecados do povo.
Por Cristo, o caminho para Deus está aberto para sempre.

Atualizando a Palavra
Ser discípulo significa seguir os passos do Mestre. Participar de
tudo o que Ele diz e faz. Em Jerusalém, no meio da tensão entre
Jesus e as autoridades, os discípulos vivem o conflito que a adesão a
Jesus traz. Agora, concretamente verão o que significa “seguir Jesus
e carregar sua cruz”.
Chamando a atenção para o gesto da viúva, Jesus ensina aos
discípulos onde eles devem procurar a manifestação da vontade de
Deus: nos pobres e na partilha.
V Os discípulos ontem, nós hoje, somos convidados a dar tudo
o que somos e temos. Onde há partilha, não existe concentração,
desigualdade e exploração.
NNJesus nos ensina a ser pobres com os pobres e a lutar contra a
miséria e contra tudo o que fere a dignidade humana.
/ Não podemos repetir a atitude de “doutores da Lei” e, muito
menos, cruzar os braços, sem agir.
My Lembrando as conclusões da Conferência de Puebla, temos que
enfrentar o “desafio de ajudar a pessoa humana a passar de situa-
ções menos humanas a situações mais humanas. As profundas dife-
renças sociais, a extrema pobreza e a violação dos direitos humanos
(..) são desafios lançados à evangelização. Nossa missão de levar
Deus até as pessoas e as pessoas até Deus implica também em cons-
truirmos, no meio delas, uma sociedade mais fraterna...” (nº 90).
Vale ainda lembrar as palavras de são Tiago: “Religião pura e
irrepreensível aos olhos de Deus Pai consiste em cuidar de órfãos
e viúvas em suas necessidades e em não deixar-se contaminar pelo
mundo” (1,27).
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Ligando a Palavra com a ação eucarística


A celebração eucarística é memorial da entrega, da oferta total de
Jesus ao Pai. “Ele, cumprindo o mandato de seu Pai, entregou-se
livremente à morte na cruz, meta do caminho de sua existência.
O portador da liberdade e do gozo do Reino de Deus quis ser a ví-
tima decisiva da injustiça e do mal deste mundo. A dor da criação
é assumida pelo Crucificado que oferece sua vida em sacrifício por
todos: Sumo Sacerdote que pode compartilhar as nossas fraquezas,
Vítima Pascal que nos redime de nossos pecados, Filho obediente
que encarna, perante a justiça salvadora de seu Pai, o clamor de
libertação e de redenção de todos os homens. Por isso, o Pai ressus-
cita a seu Filho de entre os mortos. Eleva-o gloriosamente à sua des-
tra. Cumula-o com a força vivificante do seu Espírito. Estabelece-o
como Cabeça de seu Corpo que é a Igreja. Constitui-o Senhor do
mundo e da história...” (Puebla, n. 194-195).
Ele se ofereceu uma vez por todas e está na presença de Deus e
intercede a nosso favor.
Reunidos em nome do Senhor, nós oferecemos em toda parte,
do nascer ao pôr-do-sol, um sacrifício perfeito (cf. Oração eucarísti-
ca III, com simplicidade e generosidade, a exemplo das duas viúvas:
a de Sarepta e a do Templo.
Que o Senhor faça de nós uma oferenda perfeita (cf. Oração
eucarística III) e afaste de nós todo obstáculo para que, disponíveis
inteiramente, nos dediquemos a seu serviço (oração do dia).
Transformados pelo Espírito, nos tornemos um só corpo para
juntos abraçarmos o bem e a justiça, sendo sinais eficazes do Senhor
na nossa história que precisa ser transformada.

Sugestoes:

1. Acolher bem as pessoas, que aos poucos vão formando a as-


sembleia, símbolo do Corpo de Cristo.
2. Narecordação da vida, que pode ser depois da saudação inicial,
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro / Novembro de 2009

lembrar pessoas, grupos ou entidades que partilham seus bens e


conhecimentos.
3. Proclamar bem as leituras, para que a assembleia ouça,
numa atitude de discípula atenta e desejosa de praticar a Palavra do
Senhor.
4. A homilia deve ajudar a comunidade a ligar a Palavra
de Deus com a realidade em que vivemos e com o mistério que
celebramos.
5. Após a homilia toda a comunidade renova seu compromisso
de fé.
6. Valorizar o rito da fração do pão, “gesto realizado por Cristo
na última ceia, que no tempo apostólico deu o nome a toda a ação
eucarística, significa que muitos fiéis pela Comunhão no único pão
da vida, que é o Cristo, morto e ressuscitado pela salvação do mun-
do, formam um só corpo (1Cor 10,17)” (IGMR, n. 83).
7. As palavras do rito de envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado: Que a vossa vida seja uma oferta agradável a
Deus! Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
8. Amanhã, dia 9, é festa da Dedicação da Basílica de Latrão,
primeira catedral de Roma. Lembramos também a queda do muro
de Berlim. Dia 10, fazemos memória de São Leão Magno, papa.
Dia 11, fazemos memória de Martinho de Tours, bispo e defensor
dos fracos. Dia 12, recordamos São Josafá e 14 e é Dia Nacional da
Alfabetização.
15 de novembro de 2009

ELE REUNIRÁ OS ELEITOS DE DEUS, DE UMA EXTREMIDADE À OUTRA DA TERRA.

Leituras: Daniel 12,1-3; Salmo 15(16),5.8.9-10.11 (R/. la);


Hebreus 10,11-14.18;
Marcos 13,24-32 (profecia escatológica)

Situando-nos
Estamos chegando ao final do ano litúrgico, é o penúltimo domin-
golDurante este ano fomos guiados pelo evangelista Marcos. Passo
a passo, ele foi nos colocando frente a frente com Jesus Cristo. Um
Messias-servo sofredor que foi perseguido e morto na cruz.
à Descobrir quem é Jesus não é tarefa fácil. É um caminho exi-
gente, sobretudo, quando se trata de um Jesus que foge dos parâ-
metros de quem espera um rei poderoso, equipado de exército e
armas, dominador.
Muitas vezes, os discípulos não compreenderam o jeito de ser
de Jesus. Tiveram dificuldades, reagiram, resistiram à proposta de
um Messias sofredor, capaz de se abaixar, de se fazer um de nós,
menos no pecado. O caminho é desafiador, mas não é impossível.
Hoje, ouvindo as palavras de Jesus sobre o fim do mundo, so-
mos convidados a refletir sobre a transitoriedade da vida e o julga-
mento de Deus.
Enquanto aguardamos a vinda final, não podemos ficar para-
dos. Novos céus e nova terra são possíveis, começando aqui.

Recordando a Palavra
O evangelho de hoje está inserido no capitulo 13 de Marcos, chama-
do de “apocalipse de Marcos”.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Jesus está em Jerusalém. Ali sua atividade gira em torno do


templo e do culto. Ele termina com um amplo e enigmático ensina-
mento, tendo como ponto de partida o templo de Jerusalém.
—" O ensinamento é dirigido inicialmente a um grupo bem res-
trito de discípulos: Pedro, Tiago, João e André (13,3). Estes são os
primeiros que foram chamados por Jesus (Mc 1,16-20) e são eles os
representantes de todos os seguidores de Jesus.
O discurso é escatológico, com linguagem profético-apocalipti-
ca, que faz a comunidade olhar para o futuro, mas com os pés bem
plantados na difícil e desafiadora realidade de seguidores de Jesus.
A comunidade é levada a refletir sobre o rumo da história e a
vinda do Filho do Homem. Marcos, então, utilizando-se de uma
linguagem apocalíptica, auxilia a comunidade cristã a compreender
a destruição da cidade de Jerusalém e de seu Templo, no ano 70, e a
animar-se diante das sucessivas perseguições.
A missão recebida do Senhor não é fácil. Para seguir aquele que
será crucificado, aparentemente derrotado e humilhado, é preciso
fidelidade, coragem e vigilância, com olhar no futuro.
O discurso escatológico pode ser dividido em cinco seções: a
destruição do templo — vv. 1-2; a crise — vv. 3-13; a grande tribulação
— vv. 14-23; a parusia — vv. 24-27, 0 dia e a hora — vv. 28-37.
Os versículos lidos hoje falam da parusia e do dia e da hora. A vinda
do Filho do Homem ocupa o centro do discurso. Ela é precedida de si-
nais grandiosos: o sol vai escurecer e a lua não brilhará mais, as estrelas
começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas (cf. v. 25). É a
intervenção de Deus na história, provocando uma mudança decisiva.
“O Filho do Homem virá das nuvens com grande poder com
seus anjos e reunirá todos os eleitos de Deus, de uma extremidade
à outra da terra” (v. 26-27).
Não obstante tantos acontecimentos que ameaçam a comuni-
dade, ela sobreviverá. A missão continuará, apesar de tantos con-
flitos e catástrofes históricas. A vitória definitiva do Filho do Ho-
mem é vitória de todos os que permaneceram firmes na grande
tribulação.
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

O Filho do Homem, substituindo o antigo Templo, reunirá a


nova comunidade, o novo povo.
Os versículos 28 a 32 respondem à pergunta sobre quando
acontecerá a vinda do Filho do Homem. Jesus responde, fazendo
um paralelismo com a figueira (vv. 28-29). Nos versículos 30, 31 e
32, encontra-se o núcleo da resposta. Primeiro, é necessário ver os
sinais do Reino já presentes na história; segundo, confiar na Palavra
de Deus, pois os sinais passam, mas a Palavra permanece para sem-
pre; por último, só o Pai sabe o dia e a hora, de forma que não cabe
à comunidade cristã especular sobre este assunto.
Há constante tensão entre o já e ainda não. É preciso vigiar e
agir, sem desanimar.
— A primeira leitura é do livro de Daniel. Esse livro foi escrito
com o objetivo de animar e confortar os judeus fiéis que estavam
sendo oprimidos pela dominação grega dos selêucidas. O rei Antí-
oco IV queria obrigar os judeus a abandonarem sua religião e seu
Deus e adotarem os costumes pagãos.
“q Em gênero apocalíptico, o autor utiliza imagens, símbolos e fi-
guras de difícil compreensão para nós hoje. Era uma espécie de có-
digo, compreendido na época por todos aqueles que sofriam na pele
as consequências da perseguição. Como vimos no texto do evange-
lho, estas palavras objetivavam animar o povo sofrido.
O versículo 1, que lemos hoje, fala do tempo final, tempo da
justiça divina. Em meio a tensões, sofrimentos e perseguições que
tendem a aumentar, virá a salvação. Todos os que estiverem “inscri-
tos no Livro” verão a salvação. Serão salvos os que permanecerem
fiéis à lei e à prática da justiça.
O versículo 2, que talvez seja o mais antigo anúncio da ressur-
reição, mostra que a salvação final será por meio da ressurreição.
Diante da concepção de que Deus retribuía a cada um, ainda
na terra, conforme suas obras, a promessa da ressurreição soa aos
ouvidos do povo sofrido como raio de esperança e ânimo.
Os sábios, os que ensinaram o caminho da justiça brilharão
como as estrelas, por toda a eternidade (v. 3), ou seja, terão parte na
vida de Deus.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Refugiado no Templo, o salmista (Sl 16[15]), expressa sua confian-


ça no Senhor que é sua herança e sua taça, Senhor de seu destino.
= Os versículos da carta aos Hebreus, lidos neste domingo, per-
tencem a uma seção maior (10,1-18) que conclui a parte dogmática
central da carta, iniciada no capítulo 7.
- No capítulo 10, o autor reafirma a superioridade do sacerdócio
de Cristo e acentua o contraste entre o sacerdócio/sacrifício de Je-
sus, único e eficaz, e o sacerdócio/sacrifício da antiga Lei. A oferen-
da de Cristo foi única e verdadeira.

Atualizando a Palavra
Cantava o poeta: “Peregrinos nas estradas de um mundo desigual,
espoliado pelo lucro e ambição do capital, do poder do latifúndio,
enxotado e sem lugar, já não sei por onde andar, na esperança, eu
me apego ao mutirão. Quero entoar um canto novo de alegria, ao
raiar daquele dia, de chegada ao nosso chão, com meu povo cele-
brar a alvorada, minha gente libertada, lutar não foi em vão”. »
Como já dito, a tensão entre o já e o ainda não é constante em
nossas experiências pessoais, comunitárias e sociais.
Nossa morada aqui não é permanente. Nós todos peregrina-
mos em busca de uma morada definitiva e estável. Buscamos novos
céus e nova terra que já começam aqui e agora.
A Constituição Pastoral Gaudium et Spes oferece algumas refle-
xões que podem nos ajudar a atualizar a Palavra de Deus dirigida a
nós hoje. Começa indicando a tensão presente no mundo e a neces-
sidade da solidariedade e da atuação dos seguidores de Cristo: “As
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de
hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também
as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias dos discípulos
de Cristo... (nº 1).
Os padres conciliares, inspirados pelo Espírito, continuam a in-
terpelar: “Para continuar a obra de Cristo que (...) veio para salvar
(...) e para desempenhar tal missão, a Igreja, a todo momento, tem
o dever de perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

Evangelho, de tal modo que possa responder, de maneira adaptada


a cada geração, às interrogações eternas sobre o significado da vida
presente e futura e de suas relações mútuas. É necessário, por con-
seguinte, conhecer e entender o mundo no qual vivemos, suas es-
peranças, suas aspirações e sua índole frequentemente dramática...”
(Gaudium et Spes, n. 3.4).
Temos que caminhar com os pés na realidade, conscientes e
ativos, sem perder a esperança da vida definitiva, que jamais aca-
bará: “... Passa certamente a figura deste mundo deformada pelo
ec

pecado, mas aprendemos que Deus prepara morada nova e nova


terra. Nela habita a justiça e sua felicidade irá satisfazer e superar
todos os desejos da paz que sobem aos corações dos homens. Então,
vencida a morte, os filhos de Deus ressuscitarão em Cristo, e o que
foi semeado na fraqueza e na corrupção revestir-se-á de incorrup-
ção. Permanecerão o amor e sua obra e será libertada da servidão
da vaidade toda aquela criação que Deus fez para o homem. (...)
Contudo, a esperança de uma nova terra, longe de atenuar, antes
deve impulsionar a solicitude pelo aperfeiçoamento desta terra”
(Gaudium et Spes, n. 39).
Temos a certeza de que o Reino já está presente no meio de
nós. Porém, temos que trabalhar a cada dia. Sempre vigilantes e
perseverantes.
Concluímos com as palavras de Antonio Bonanomi: “Em seu
manifesto sobre a Missão, Jesus nos disse que ela é a libertação di-
rigida aos pobres, aos tristes de coração, aos cativos, aos cegos e
oprimidos, para que nasça um “novo céu” e uma “nova terra”. Nós
estamos sendo chamados a continuar a Missão de Jesus com um
coração católico, ou seja, aberto às dimensões do mundo. Diante
da globalização neoliberal que cria relações injustas e opressivas, e
que contamina e destrói a Criação, transformada em mercadoria, a
Missão deve ser um compromisso para construir a globalização da
justiça, da solidariedade e do cuidado pela Criação”.

15 Conferência de Aparecida: esperanças de um missionário. www.adital.com.br. Artigo publicado


na edição n. 04 - Maio 2007 - Revista Missões. wwww.revistamissoes.org.br
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Participamos ativamente da liturgia que Cristo celebrou com sua
morte e ressurreição. Liturgia única e definitiva da qual fazemos
memória e atualizamos em nossa vida e em nossa história.
É a experiência da salvação hoje que nos abre caminho para
a eternidade. Todos juntos, em comunhão profunda e verdadeira,
anunciamos a morte do Senhor, proclamamos sua ressurreição.
Como comunidade que espera ativamente, nós suplicamos confian-
tes: Maranatá! Venha Senhor Jesus!
Como peregrinos, lidamos com aquilo que queremos ser e com
o que somos, não somente como experiência pessoal, mas também
comunitária /eclesial e social, por isso suplicamos: “Senhor nosso
Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o co-
ração, pois só teremos felicidade completa, servindo a vós, o criador
de todas as coisas” (Oração do dia).
Deus é nossa herança. Nele estamos seguros. Ele conduz nosso
destino. Não há o que temer. Agradecer é a palavra e a atitude de
quem tem a certeza de que Deus não o deixará entregue à morte (cf.
Sl 16 [15]). “... Anunciar a morte do Senhor “até que Ele venha” (1 Cor
11,26) inclui, para os que participam da Eucaristia, o compromisso
de transformarem a vida, de tal forma que esta se torne, de certo
modo, toda 'eucarística”. Este fruto de transfiguração da existência
e o empenho de transformar o mundo segundo o Evangelho fazem
brilhar a tensão escatológica da celebração eucarística e de toda a
vida cristã: Vinde, Senhor Jesus! (cf. Ap 22,20)” (João Paulo II. Ec-
clesia de Eucharistia, n. 20).
Que o Senhor nos ajude a caminhar em sua estrada a cada dia,
permanecendo fiéis até o fim.

Sugestões:

1. No início da celebração, antes da procissão de abertura, pode


ser entoado um refrão meditativo: Indo e vindo, trevas e luz: tudo é
graça, Deus nos conduz!
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51) 100

2. Hoje, Dia da Proclamação da República, se oportuno, levar a


bandeira do Brasil na procissão de entrada.
3. Cantar com entusiasmo e decisão a aclamação memorial:
Anunciamos Senhor a vossa morte...
4. Antes da oração eucarística, lembrar pessoas e grupos que
estão fazendo o Reino de Deus acontecer aqui e agora.
5. Cantar a oração eucarística.
6. As palavras do rito de envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado: Ele reunirá todos os eleitos, de uma extremi-
dade à outra da terra! Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
7. Dia 17, fazemos memória de Isabel da Hungria, servidora dos
pobres. No dia 19, lembramos Roque Gonzalez, Afonso Rodriguez
e João de Castillo, missionários mártires no Rio Grande do Sul e
Paraguai. Dia 20, recordamos Zumbi, líder do quilombo dos Pal-
mares, em Alagoas, e é Dia da Consciência Negra. Dia 21, fazemos
memória da Apresentação de Maria, mãe do Senhor.
34º DOMINGO TEMPO COMUM
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
REI DO UNIVERSO
22 de novembro de 2009

TU O DIZES: EU SOU REI,

Leituras: Daniel 7,13-14; Salmo 92(93),1ab.1c-2.5 (R/. la);


Apocalipse 1,5-8; João 18,33b-37 (“Eu sou Rei”)

Situando-nos
Com a solenidade de Cristo, Senhor e Rei do Universo, concluímos
o ano litúrgico. É uma festa recente, em honra do Senhor Jesus. Foi
instituída pelo papa Pio XI, com a Encíclica Quas primas, de 11 de no-
vembro de 1925. Primeiro era celebrada no último domingo de ou-
tubro. A reforma do Vaticano IH transferiu-a para o último domingo
do Tempo Comum, sintonizando-a com a perspectiva própria do
final do ano litúrgico e começo do Advento.
Ao longo do ano litúrgico, percorremos um caminho peda-
gógico.e espiritual, fomos nos inserindo, pouco a pouco, na expe-
riência profunda da pessoa de Jesus, em seu mistério de “descida
— Kénosis”. Ele, fazendo-se um de nós, mostrou-nos o caminho do
serviço e da extrema solidariedade para com a pessoa humana e
com toda a criação.
Ele, o rei-servo, a testemunha fiel, sentado à direita do Pai, pelo
seu sangue, nos libertou dos pecados e fez de nós um reino de sacer-
dotes para seu Deus e Pai. A Ele que veio para dar testemunho da
verdade, o louvor, a glória e o poder, por todo o sempre (cf. Ap 1,6).
Lembrando hoje as leigas e os leigos, rendemos graças a Deus
por tantas mulheres e homens, que vivem profundamente sua
)
"Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

vocação batismal, colocando-se inteiramente a serviço da Boa Noti-


cia — anunciada, vivida e celebrada.
Neste dia, vale lembrar a afirmação do Concílio Vaticano II: “...
o Evangelho não pode ser fixado na índole, na vida e no trabalho
dum povo, sem a ativa presença dos leigos...” (Ad Gentes, n. 21).

Recordando a Palavra
O evangelho proposto para hoje é do evangelista João que nos mos-
tra que tipo de rei é Jesus.
É interessante notar que o texto proclamado está inserido no
processo da narrativa da paixão do Senhor. Depois de ter passado
pela prisão (18,1-11), pelo processo religioso (18,12-27), Jesus é inter-
rogado por Pilatos e é condenado à morte (18,28-19,16). Aquele que
tem um tipo de reino diferente é crucificado, morre na cruz (19,16b-
37) e é sepultado (19,38-42).
Pilatos era governador romano da Judeia. Neste cargo, tinha
a obrigação de administrar as finanças e recolher impostos para o
tesouro imperial. Ele era um homem duro e, muitas vezes, tratava
os judeus com insensibilidade e crueldade.
Num duplo cenário, ora “fora” — Pilatos com a multidão e “ora”
dentro — Pilatos com Jesus, acontece o julgamento de Jesus diante
de Pilatos.
O texto de hoje concentra-se no interrogatório que Pilatos faz a
Jesus. Pilatos começa perguntando: “Tu és o rei dos judeus?” (v. 33b).
É uma pergunta com conotação política.
Jesus responde perguntando, apelando à consciência de Pilatos:
“Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isto de mim?”
(v. 34). Pilatos, nega a responsabilidade neste caso e joga a culpa para
os conterrâneos de Jesus, comprometendo-os: “Por acaso, sou judeu?
O teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?”
(v. 35). O “povo de Jesus”, como dizia Pilatos, não havia renunciado
ao ideal messiânico, mas também não admitia que Jesus pudesse ser
o messias esperado e o entrega ao poder romano.
* -PNE- BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Pilatos responde à pergunta de Jesus e termina fazendo outra


pergunta: “Que fizeste?” (v. 35). Jesus, porém, responde a pergunta
anterior, sobre seu reinado. Ele diz o que ele é e também o que
ele não é.
O reinado de Jesus não é deste mundo. É um rei completa-
mente diferente do senso comum daquele povo. Sua realeza não
é de origem terrena. Não representa, portanto, nenhum perigo
para Roma.
O reinado de Jesus “não é daqui”. João mostra que o rei Jesus
não tira a vida das pessoas, mas entrega a própria vida para que to-
dos a vivam plenamente.
Dar testemunho da verdade é a função da realeza de Jesus. A
palavra hebraica para designar a verdade é emeth que significa fide-
lidade plena. A verdade é a revelação de Deus em Jesus Cristo. É a
realidade de Deus e a vida que Ele nos dá. Jesus é a manifestação da
fidelidade de Deus ao longo da história.
Para o evangelista João, o reinado de Cristo, a Verdade como
revelação e comunicação do Deus-Amor e a morte por amor até o
fim estão intimamente ligados.
A comunidade cristã é chamada a dar testemunho da verdade
e escutar a voz de Cristo. Dar testemunho da verdade é aderir a
Cristo, ao seu modo de ser rei-servo.
Aderir ao projeto do Pai é tarefa nossa, mas a iniciativa é sem-
pre de Deus.
A primeira leitura do livro de Daniel é tirada do capítulo 7 que,
num cenário cósmico, narra a visão das quatro feras. “São as for-
ças hostis, presentes na história, que lutam contra Deuse seu povo.
São personificações dos grandes impérios que oprimiram o povo
de Deus desde os babilônios até Antíoco Epifanes (175-164 a.C), a
quarta fera (a primeira: leão = babilônios; a segunda: urso = medos;
a terceira: = leopardo = persas). Antíoco é apresentado como a mais
insolente das quatro feras, pois, em seu tempo, impôs aos judeus a
cultura e a religião dos gregos, perseguindo e matando os que se
mantivessem fieis ao projeto de Javé. Em meio a essa história cheia
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51) 104

de conflitos, Daniel vê um ancião: é o próprio Deus presente e agin-


do na história a favor de seu povo”.!
Nos versículos propostos para a leitura hoje, Daniel descreve a
visão: vê alguém “um como um filho do homem” (v. 13), que vem
sobre as nuvens até o tribunal do ancião. A origem deste persona-
gem é transcendente. Ele vem do alto, entre as nuvens. Apresentado
ao ancião, receberá poder, glória e realeza e todos os povos, nações
e línguas o servirão (cf. v. 14).
Observemos que, em contraposição às feras que vêm do mar (v.
2), o “Filho do Homem” vem do céu (v. 13). Esse último simboliza
um novo reino que vencerá os representados pelos quatro animais,
imagem do poder destruidor. No contexto de Daniel, o Filho do
Homem é uma coletividade. Podemos dizer que é o povo de Deus,
a quem foi confiado o projeto de vida e liberdade.
O salmo responsorial 93(92) é um hino que celebra a realeza de
Deus, criador do universo.
A segunda leitura é tirada do início do livro do Apocalipse. É
um livro escrito para animar comunidades perseguidas. “No tempo
em que esse texto surgiu, a política imperialista e idolátrica do im-
perador Domiciano — que se fazia passar por deus — pesava sobre os
cristãos. Várias comunidades já haviam perdido, de forma violenta,
alguns de seus membros. (...) o livro do Apocalipse quer animar as
comunidades na resistência, mostrando-lhes a felicidade de perten-
cer a Cristo. Resistindo ao poder opressor, elas estão instaurando
na história o julgamento do Deus que salva seus eleitos e castiga os
adversários”.”
Nos versículos lidos hoje, por meio de diálogo litúrgico, o au-
tor do Apocalipse apresenta uma síntese da vida e da ação de Cris-
to. Três IO
títulos messiânicos revelam a pessoa e a missão de Jesus:

1l6 BORTOLINI, José. Roteiros Homiléticos: anos A., B, C, festas e solenidades. 2 ed. São Paulo: Paulus,
2006. pp. 487-486.
17 Ibidem, p. 490.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

testemunha fiel, primeiro a ressuscitar dos mortos e soberano dos


reis da Terra. Os três títulos são uma confissão
de fé e indicam o
mistério da vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor.
Após o leitor ter apresentado Jesus Cristo, a comunidade de fé
responde agradecida e certa de ser amada por Jesus. Um dos frutos
deste amor é o “perdão dos pecados”. Outro fruto“participação
éa
no sacerdócio de Cristo”, assim os cristãos oferecem a Deus o culto
de sua vida. A comunidade de fé é ainda “transformada em reino”,
para que combata em favor do Evangelho (cf. v. 6). Continuando o
diálogo litúrgico, a comunidade responde: “a ele a glória e o poder,
em eternidade. Amém” (v. 6).
O leitor continua o diálogo com a comunidade, professando a
soberania de Cristo que virá para julgar e trazer a salvação para
todos. Toda a comunidade diz: amém.
O diálogo encerra-se com uma afirmação sobre quem é Deus:
“Alfa e Ômega, Senhor que é, que era e que vem, o Todo-poderoso”
(cf. v. 8). ————— —

Atualizando a Palavra
É significativo encerrarmos o ano litúrgico, justamente na solenida-
de de Cristo Rei, com estes textos bíblicos.
Ao longo do ano litúrgico, fomos guiados pelo evangelista Mar-
cos que foi lentamente revelando quem é Jesus. O texto joanino co-
roa este caminho trilhado, revelando que o reinado de Jesus passa
pelo caminho da cruz e da morte.
Percebemos que o jeito de ser de Jesus é diferente. É sinal
de contradição. Servo de todos, deu a vida para os sofredores e
marginalizados.
Ele veio instaurar o reino do Pai. Um reino que não é deste
mundo. Neste mundo, o que vale é a glória, a competição, a rique-
za, O ter, o poder e o prazer.
O reinado de Jesus já está no meio de nós, começa aqui e ago-
ra, mas não se esgota na realidade em que vivemos. Caminhamos
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

passo a passo, trabalhando, dando a nossa contribuição, confiando


no Senhor que nos anima, até que Ele se torne tudo em todos.
No processo de construção do reino, paciência e perseveran-
ça são necessárias, pois o ele começa aqui e passa por mediações
históricas.
A vida, a partilha, a paz, a justiça e a solidariedade são exigên-
cias fundamentais do Reino. Tudo isto demanda esforço, empenho
e engajamento de todos.
Aos seguidores e seguidoras de Jesus cabe, a cada dia, uma ta-
refa: converter-se ao Reino. Este caminho é feito de denúncia e de
ruptura com o sistema que cria vítimas inocentes e de anúncio da
Boa-Nova de outro mundo, que está sendo gestado.
Os bispos do Brasil, nas Diretrizes Gerais da Ação Evangeliza-
dora da Igreja, afirmam: “Nosso olhar sobre a realidade brasileira,
como discípulos missionários de Jesus Cristo, se dá em meio a
luzes e sombras de nosso tempo. As grandes mudanças “nos afli-
gem, mas não nos confundem”. Antes, desafiam-nos 'a discernir
os 'sinais dos tempos” à luz do Espírito Santo, para nos colocar a
serviço do Reino, anunciado por Jesus, que veio para que todos
tenham vida e a tenham em abundância. A principal luz a nos
iluminar no discernimento dos sinais dos tempos é a do Espírito de
Deus... (n. 12).
Hoje, Dia do/a Leigo/a, agradecemos a Deus por mulhe-
res e homens que são verdadeiros (as) servidores e servidoras nas
comunidades.
O engajamento na missão é parte integrante da comunidade
cristã. Os leigos e leigas são chamados a acolher a pessoa de Jesus
Cristo e a assumir o compromisso com o Reino de Deus (cf. CNBB.
Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja, n. 7).

Ligando a Palavra com a ação eucarística


Como povo sacerdotal, nos reunimos para celebrar a memória sem-
pre viva e atual do Senhor.
PNE - BMC - Roteiros Homiléticos do Tempo Comum Il Ano B - Setembro/ Novembro de 2009

Jesus Cristo, a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os


mortos, o soberano dos reis da terra, está no meio de nós.
Num profundo diálogo amoroso com Ele, vamos estreitando
nossos laços de amor. Ele nos amou primeiro e enfrentou perse-
guição, fracasso aparente, sem jamais renunciar ao projeto traça-
do pelo Pai.
Exultemos de alegria, pois, com o óleo de exultação, Jesus foi
consagrado como sacerdote eterno e rei do universo. Oferecendo-se
na Cruz, como vítima pura e pacífica, realizou a redenção de toda
a humanidade. O seu reino é eterno e universal: reino da verdade
e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e
da paz (cf. Prefácio de Cristo Rei).
Participando de sua entrega e “alimentados pelo pão da imorta-
lidade (...), possamos viver com ele eternamente no reino dos céus”
(oração pós-comunhão). Enquanto aguardamos ativamente sua vin-
da final, nos engajamos no compromisso de trabalhar, com cora-
gem e esperança, por uma sociedade solidária e fraterna, vencendo
as forças contrárias ao Reino de Deus.

Sugestoes:

1. Na procissão de entrada, valorizar a cruz, colocando sobre


ela um pano branco, como sinal da vitória de Cristo sobre a morte.
Valorizar o círio pascal, sinal eloquente de Cristo resplandecente
que dissipa as trevas do nosso coração e da nossa mente.
2. Alguns leigos e algumas leigas participam da procissão de
entrada, levando a cruz, o círio e o livro da Palavra de Deus.
3. Fazer a bênção e a aspersão com água no lugar do rito peniten-
cial, renovando o batismo, que nos inseriu na vida de Jesus Cristo.
4. Na homilia, recotdar o itinerário do ano litúrgico percorrido.
Convidar a comunidade a partilhar momentos significativos.
5. Antes do prefácio, a comunidade, se oportuno, pode lembrar
pessoas ou grupos que se dedicam incansavelmente aos projetos a
serviço da vida.
“Mestre, que eu veja!” (Mc 10,51)

6. No memento dos defuntos, a comunidade, pode lembrar lei-


gos e leigos que foram fiéis servidores de Cristo.
7. As palavras do rito de envio podem estar em consonância
com o mistério celebrado: Todo aquele que é da verdade, escuta minha
voz. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.
8. Dia 24, fazemos memória de André Dung-Lac e companhei-
ros, mártires no Vietnã. Dia 25 é o Dia Internacional da Não-Violên-
cia contra a Mulher. Dia 26, recordamos Tiago Alberione, fundador
da Família Paulina. Dia 29, inicia-se o Tempo do Advento.
9. Hoje é o dia do lançamento da Campanha para a Evangeliza-
ção, cuja coleta se realizará no 3º domingo do Advento.

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