Você está na página 1de 36

Traduzido do Italiano para o Português - www.onlinedoctranslator.

com

Nº 0751

Sábado 28.10.2023

Sínodo23 – Relatório resumido da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos
Bispos (4 a 29 de outubro de 2023) e resultados da votação

Relatório resumido

Resultados da votação

Publicamos abaixo o texto do Relatório Síntese da primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos “Uma Igreja Sinodal em missão”:

Relatório resumido

XVI ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DO SÍNODO DOS BISPOS

Primeira sessão

(4 a 29 de outubro de 2023)

Relatório resumido

UMA IGREJA SINODAL EM MISSÃO

28 de outubro de 2023

(12h00)

RESUMO

UMA IGREJA SINODAL EM MISSÃO


2
INTRODUÇÃO

PARTE I – A FACE DA IGREJA SINODAL

1. Sinodalidade: experiência e compreensão

2. Reunidos e enviados pela Trindade

3. Entrar numa comunidade de fé: iniciação cristã

4. Os pobres, protagonistas do caminho da Igreja

5. Uma Igreja de “toda tribo, língua, povo e nação”

6. Tradições das Igrejas Orientais e da Igreja Latina

7. A caminho da unidade dos cristãos

PARTE II – TODOS OS DISCÍPULOS, TODOS OS MISSIONÁRIOS

8. A Igreja é missão

9. As mulheres na vida e na missão da Igreja

10. Vida consagrada e grupos laicais: um sinal carismático

11. Diáconos e sacerdotes numa Igreja sinodal

12. O Bispo em comunhão eclesial

13. O Bispo de Roma no Colégio dos Bispos

PARTE III – CRIANDO LAÇOS, CONSTRUINDO COMUNIDADES

14. Uma abordagem sinodal da formação

15. Discernimento eclesial e questões abertas

16. Por uma Igreja que escuta e acompanha

17. Missionários no ambiente digital

18. Órgãos participativos

19. Agrupamentos de Igrejas na comunhão de toda a Igreja

20. Sínodo dos Bispos e Assembleia Eclesial

PARA CONTINUAR O CAMINHO


3
INTRODUÇÃO

Queridas irmãs, queridos irmãos,

"todos fomos batizados em um Espírito em um corpo" (1Cor12,13). É a experiência cheia de alegria e gratidão
que tivemos nesta Primeira Sessão da Assembleia Sinodal, que se realizou de 4 a 28 de outubro de 2023, sobre
o tema “Por uma Igreja Sinodal. Comunhão, participação, missão”. Através da graça comum do Batismo,
pudemos viver juntos com um só coração e uma só alma, apesar da diversidade das nossas origens, línguas e
culturas. Como um coro procuramos cantar na variedade de vozes e na unidade das almas. O Espírito Santo
permitiu-nos experimentar a harmonia que só Ele pode gerar: é um dom e um testemunho num mundo
dilacerado e dividido.

A nossa Assembleia realizou-se enquanto velhas e novas guerras assolam o mundo, com o drama absurdo de inúmeras
vítimas. O grito dos pobres, daqueles que são forçados a migrar, daqueles que sofrem violência ou sofrem as
consequências devastadoras das alterações climáticas ressoou entre nós, não só através dos meios de comunicação social,
mas também das vozes de muitos, pessoalmente envolvidos com as suas famílias e seus povos nestes acontecimentos
trágicos. Carregamos todos, em todos os momentos, no coração e na oração, perguntando-nos como as nossas Igrejas
podem promover caminhos de reconciliação, esperança, justiça e paz.

O nosso encontro realizou-se em Roma, em torno do sucessor de Pedro, que nos confirmou na fé e nos impulsionou
à ousadia na missão. Foi uma graça iniciar o caminho destes dias com uma vigília ecumênica, na qual vimos os
líderes e representantes das outras confissões cristãs rezando junto com o Papa junto ao túmulo de Pedro: a
unidade fermenta silenciosamente dentro da Santa Igreja de Deus; vemos isso com os nossos olhos e cheios de
alegria testemunhamos isso. «Como é lindo e como é doce que irmãos vivam juntos!» (Sal133.1).

Por vontade do Santo Padre, a Assembleia viu reunir-se outros membros do Povo de Deus e em torno dos
Bispos.Os Bispos, unidos entre si e com o Bispo de Roma, manifestaram a Igreja como comunhão de Igrejas.
Leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos e sacerdotes foram, com os Bispos, testemunhas de um
processo que pretende envolver toda a Igreja e todos na Igreja. Recordaram que a Assembleia não é um evento
isolado, mas uma parte integrante e uma etapa necessária do processo sinodal. Na multiplicidade de intervenções
e na pluralidade de posições, ressoou a experiência de uma Igreja que aprende o estilo da sinodalidade e procura
as formas mais adequadas para alcançá-lo.

Já se passaram mais de dois anos desde que iniciamos a jornada que nos levou a esta Sessão. Após a abertura do
processo sinodal em 9 de outubro de 2021, todas as Igrejas, embora em ritmos diferentes, iniciaram um processo de
escuta que passou por fases diocesanas, nacionais e continentais, cujos resultados foram incorporados nos
respetivos documentos. Com esta Sessão iniciou-se a fase em que toda a Igreja recebe os frutos desta consulta para
discernir, na oração e no diálogo, os caminhos que o Espírito nos pede para seguir. Esta fase durará até outubro de
2024, quando a Segunda Sessão da Assembleia concluirá os seus trabalhos, oferecendo-os ao Santo Padre.

Todo o caminho, enraizado na Tradição da Igreja, realiza-se à luz do magistério conciliar. O Concílio Vaticano II foi,
de facto, como uma semente lançada no campo do mundo e da Igreja. A vida quotidiana dos crentes, a experiência
das Igrejas em todos os povos e culturas, os múltiplos testemunhos de santidade, a reflexão dos teólogos foram o
solo em que germinou e cresceu. O Sínodo 2021-2024 continua a aproveitar a energia dessa semente e a
desenvolver o seu potencial. O caminho sinodal é, de facto, concretizar o que o Concílio ensinou sobre a Igreja
como mistério e povo de Deus, chamado à santidade. Valoriza a contribuição de todos os baptizados, na variedade
das suas vocações, para uma melhor compreensão e prática do Evangelho. Neste sentido constitui um verdadeiro
acto de ulterior acolhimento do Concílio, que prolonga a sua inspiração e relança a sua força profética para o
mundo de hoje.

Depois de um mês de trabalho, o Senhor agora nos chama a retornar às nossas Igrejas para transmitir os frutos do
nosso trabalho a todos vocês e continuarmos juntos a caminhada. Aqui em Roma éramos poucos, mas o sentido do
caminho sinodal anunciado pelo Santo Padre é envolver todos os batizados. Ansiamos por isso
4
acontecer e queremos trabalhar duro para tornar isso possível. NissoRelatório resumidoreunimos os principais elementos
que surgiram no diálogo, na oração e na discussão que caracterizaram estes dias. Nossas histórias pessoais enriquecerão
esta síntese com o tom da experiência vivida, que nenhuma página consegue transmitir. Poderemos assim testemunhar-
vos quão ricos foram os momentos de silêncio e de escuta, de partilha e de oração. Partilharemos também que não é fácil
ouvir ideias diferentes, sem ceder imediatamente à tentação de responder; ofereça sua contribuição como um presente
para os outros e não como uma certeza absoluta. No entanto, a graça do Senhor levou-nos a fazê-lo, apesar das nossas
limitações, e esta foi para nós uma verdadeira experiência de sinodalidade. Ao praticá-lo, entendemos melhor e
compreendemos o seu valor.

Compreendemos, de facto, que caminhar juntos como baptizados, na diversidade de carismas, vocações e
ministérios, é importante não só para as nossas comunidades, mas também para o mundo. A fraternidade
evangélica é, de fato, como uma lâmpada, que não deve ser colocada debaixo do alqueire, mas no castiçal, para
iluminar toda a casa (cf.Monte5.15). O mundo precisa deste testemunho hoje mais do que nunca. Como discípulos
de Jesus não podemos evitar a tarefa de mostrar e transmitir o amor e a ternura de Deus a uma humanidade ferida.

Os trabalhos desta Sessão decorreram seguindo o caminho oferecido porInstrumentum laboris, que nos convidou a
refletir sobre os sinais característicos de uma Igreja sinodal e sobre as dinâmicas de comunhão, missão e participação
que a habitam. A comparação das questões propostas confirmou a qualidade do traçado geral da pista. Pudemos
aprofundar o mérito das questões, identificar os temas que necessitavam de análise aprofundada e apresentar um
primeiro núcleo de propostas. À luz dos progressos alcançados, oRelatório resumidonão resume ou reitera todo o
conteúdo doInstrumentum laboris, mas relança aquelas consideradas prioritárias. Não é de forma alguma um
documento final, mas uma ferramenta ao serviço do discernimento que ainda deverá continuar.

O texto está estruturado em três partes. Os primeiros esboços “O rosto da Igreja sinodal”, apresentando os princípios
teológicos que iluminam e fundamentam a sinodalidade. Aqui o estilo da sinodalidade aparece como modo de agir e
operar na fé que surge da contemplação da Trindade e valoriza a unidade e a variedade como riqueza eclesial. A segunda
parte, intitulada “Todos os discípulos, todos os missionários”, trata de todos os envolvidos na vida e missão da Igreja e nas
suas relações. Nesta parte, a sinodalidade apresenta-se principalmente como um caminho conjunto do Povo de Deus e
como um diálogo fecundo de carismas e ministérios ao serviço do advento do Reino. A terceira parte leva o título“Forjando
laços, construindo comunidades”.Aqui a sinodalidade aparece principalmente como um conjunto de processos e uma rede
de organismos que permitem o intercâmbio entre as Igrejas e o diálogo com o mundo.

Em cada uma das três partes, cada capítulo reúne osconvergências, oquestões a resolvere apropostas emergiu do diálogo.
Oconvergênciasidentificam os pontos fixos para onde a reflexão pode olhar: são como um mapa que nos permite orientar-
nos no caminho e não nos perder. Oquestões a resolverreúnem os pontos sobre os quais reconhecemos que é necessário
continuar o estudo teológico, pastoral e canônico: são como encruzilhadas nas quais é necessário fazer uma pausa, para
compreender melhor a direção a seguir. Opropostas em vez disso, indicam possíveis caminhos a seguir: alguns são
sugeridos, outros recomendados, outros ainda solicitados com mais força e determinação.

Nos próximos meses, as Conferências Episcopais e as Estruturas Hierárquicas das Igrejas Orientais Católicas,
atuando como elo entre as Igrejas locais e a Secretaria Geral do Sínodo, desempenharão um papel importante no
desenvolvimento da reflexão. A partir das convergências alcançadas, são chamados a centrar-se nas questões e
propostas mais relevantes e urgentes, incentivando o seu estudo teológico e pastoral e indicando as implicações
canónicas.

Trazemos no coração o desejo, apoiado na esperança, de que o clima de escuta mútua e de diálogo sincero que vivemos
durante os dias de trabalho comum em Roma irradie nas nossas comunidades e em todo o mundo, ao serviço do
crescimento da boa semente do Reino de Deus.

PARTE I – A FACE DA IGREJA SINODAL


5
1. Sinodalidade: experiência e compreensão

Convergências

a) Aceitámos o convite a reconhecer com nova consciência a dimensão sinodal da Igreja. As práticas sinodais são
atestadas no Novo Testamento e na Igreja primitiva. Posteriormente, assumiram formas históricas particulares nas
diversas Igrejas e tradições cristãs. O Concílio Vaticano II “atualizou-os” e o Papa Francisco encoraja a Igreja a
renová-los novamente. O Sínodo 2021-2024 também se enquadra neste processo. Através dela, o Povo Santo de
Deus descobriu que um modo sinodal de rezar, de ouvir e de falar, enraizado na Palavra de Deus e entrelaçado com
momentos de encontro de alegria, e por vezes também de cansaço, leva a uma consciência mais profunda de que
todos somos irmãos e irmãs em Cristo. Fruto inestimável é a consciência acrescida da nossa identidade de Povo fiel
de Deus, no seio do qual cada um é portador de uma dignidade que deriva do Baptismo e é chamado à
corresponsabilidade pela missão comum de evangelização.

b) Este processo renovou a nossa experiência e o nosso desejo de uma Igreja que seja casa e família de Deus. É
precisamente com esta experiência e este desejo de uma Igreja mais próxima das pessoas, menos burocrática
e mais relacional que surgem os termos “sinodalidade” e a “sinodalidade”, oferecendo uma primeira
compreensão que precisa de um melhor esclarecimento. É a Igreja que os jovens declararam desejar já em
2018, por ocasião do Sínodo que lhes foi dedicado.

c) A própria forma como decorreu a Assembleia, a partir da disposição das pessoas sentadas em pequenos grupos em
torno das mesas redondas da Sala Paulo VI, comparável à imagem bíblica do banquete de casamento (Ap19.9), é
emblemático de uma Igreja sinodal e imagem da Eucaristia, fonte e ápice da sinodalidade, com a Palavra de Deus no
centro. Nele diferentes culturas, línguas, ritos, modos de pensar e realidades podem empenhar-se conjuntamente e
fecundamente numa busca sincera sob a guia do Espírito.

d) Entre nós estavam presentes irmãs e irmãos de povos vítimas da guerra, do martírio, da perseguição e da fome. A
situação destes povos, para os quais muitas vezes foi impossível participar no processo sinodal, entrou nos nossos
intercâmbios e nas nossas orações, alimentando o nosso sentido de comunhão com eles e a nossa determinação de
sermos pacificadores.

e) A Assembleia falou frequentemente de esperança, cura, reconciliação e restauração da confiança entre os muitos
dons que o Espírito derramou sobre a Igreja durante este processo sinodal. A abertura à escuta e ao
acompanhamento de todos, incluindo aqueles que sofreram abusos e feridas na Igreja, tornou visíveis muitos que
há muito se sentiam invisíveis. Ainda temos um longo caminho pela frente rumo à reconciliação e à justiça, o que
exige abordar as condições estruturais que permitiram tais abusos e fazer gestos concretos de penitência.

f) Sabemos que “sinodalidade” é um termo desconhecido por muitos membros do Povo de Deus, o que suscita confusão e
preocupação em alguns. Entre os receios está a mudança do ensinamento da Igreja, distanciando-nos da fé apostólica dos
nossos pais e traindo as expectativas daqueles que ainda hoje têm fome e sede de Deus. No entanto, estamos convencidos
de que a sinodalidade é uma expressão do dinamismo da Tradição viva.

g) Sem subestimar o valor da democracia representativa, o Papa Francisco responde à preocupação de alguns
de que o Sínodo possa tornar-se um órgão de deliberação maioritária desprovido do seu carácter eclesial e
espiritual, colocando em risco a natureza hierárquica da Igreja. Alguns temem ser forçados a mudar; outros
temem que nada mude e que haja pouca coragem para seguir o ritmo da Tradição viva. Algumas
perplexidades e oposições escondem também o medo de perder o poder e os privilégios que dele derivam. Em
todo caso, em todos os contextos culturais, os termos “sinodal” e sinodalidade indicam um modo de ser Igreja
que articula comunhão, missão e participação. Exemplo disso é a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA),
fruto do processo sinodal missionário daquela região.

h) A sinodalidade pode ser entendida como o caminho dos cristãos com Cristo e rumo ao Reino, junto com todos
6
humanidade; orientada para a missão, envolve a reunião em assembleia nos diferentes níveis da vida
eclesial, a escuta mútua, o diálogo, o discernimento comunitário, a criação de consensos como expressão
da presença de Cristo vivo no Espírito e a tomada de decisão de forma corresponsabilidade diferenciada.

i) Através da experiência e do encontro, crescemos juntos nesta consciência. Em suma, desde os primeiros dias a
Assembleia viu-se moldada por duas crenças: a primeira é que a experiência que partilhamos nestes anos é
autenticamente cristã e deve ser acolhida em toda a sua riqueza e profundidade; a segunda é que os termos “sinodal” e
“sinodalidade” requerem uma clarificação mais cuidadosa dos seus níveis de significado nas diferentes culturas. Surgiu um
acordo substancial sobre o facto de que, com os esclarecimentos necessários, a perspectiva sinodal representa o futuro da
Igreja.

Questões a serem abordadas

j) A partir do trabalho de reflexão já realizado, é necessário esclarecer o significado da sinodalidade nos diferentes níveis, desde o
uso pastoral até ao uso teológico e canónico, evitando o risco de que soe demasiado vago ou genérico, ou pareça uma passagem
mania. Da mesma forma, considera-se necessário esclarecer a relação entre sinodalidade e comunhão, bem como entre
sinodalidade e colegialidade.

k) Surgiu o desejo de realçar as diferenças na prática e na compreensão da sinodalidade entre as tradições do


Oriente cristão e a tradição latina, também no processo sinodal em curso, incentivando o encontro entre elas.

l) Em particular, devem ser destacadas as muitas expressões da vida sinodal em contextos culturais em que as
pessoas estão habituadas a caminhar juntas como comunidade. Nesta linha, pode-se afirmar que a prática sinodal
faz parte da resposta profética da Igreja a um individualismo que se volta sobre si mesmo, a um populismo que
divide e a uma globalização que homogeneiza e achata. Não resolve estes problemas, mas proporciona uma forma
alternativa esperançosa de ser e agir, que integra uma pluralidade de perspectivas e que precisa de ser mais
explorada e iluminada.

Propostas

m) A riqueza e profundidade da experiência vivida levam a indicar como prioridade a ampliação do número de pessoas
envolvidas nos caminhos sinodais, superando os obstáculos à participação que até agora surgiram, bem como o
sentimento de desconfiança e medos que alguns tem.

n) Precisamos de desenvolver formas para um envolvimento mais activo dos diáconos, sacerdotes e bispos no processo
sinodal durante o próximo ano. Uma Igreja sinodal não pode prescindir das suas vozes, das suas experiências e da sua
contribuição. Precisamos de compreender as razões da resistência à sinodalidade por parte de alguns deles.

o) Por último, emergiu fortemente a necessidade de a cultura sinodal se tornar mais intergeracional, com espaços que
permitam aos jovens falar livremente com as suas famílias, com os seus pares e com os seus pastores, também através
de canais digitais.

p) Propõe-se promover, num fórum apropriado, o trabalho teológico de estudo terminológico e conceptual
aprofundado da noção e prática da sinodalidade antes da Segunda Sessão da Assembleia, aproveitando o
rico património de estudos posteriores à Concílio Vaticano II e, em particular, dos documentos da Comissão
Teológica Internacional sobreSinodalidade na vida e missão da Igreja(2018) eO sensus fidei na vida da
Igreja(2014).

q) As implicações canônicas da perspectiva da sinodalidade requerem um esclarecimento semelhante. Neste sentido,


propõe-se a criação de uma comissão intercontinental especial de teólogos e canonistas, em vista da Segunda
7
Sessão de Assembleia.

r) Parece ter chegado o momento de uma revisão doCódigo de Direito Canônicoele nasceu emCódigo dos Cânones das Igrejas
Orientais. Assim, é iniciado um estudo preliminar.

2. Reunidos e enviados pela Trindade

Convergências

a) Como recorda o Concílio Vaticano II, a Igreja é “um povo reunido em virtude da unidade do Pai, do Filho e do
Espírito Santo” (LG 4). O Pai, através do envio do Filho e do dom do Espírito, envolve-nos num dinamismo de
comunhão e de missão que nos faz passar do “eu” ao “nós” e nos coloca ao serviço do mundo. A sinodalidade traduz
a dinâmica trinitária com a qual Deus vem ao encontro da humanidade em atitudes espirituais e processos eclesiais.
Para que isto aconteça, todos os batizados devem comprometer-se a exercer reciprocamente a sua vocação, o seu
carisma, o seu ministério. Só assim a Igreja poderá verdadeiramente ter uma “conversa” consigo mesma e com o
mundo (verEcclesiam suam67), caminhando lado a lado com cada ser humano no estilo de Jesus.

b) Desde as suas origens, o caminho sinodal da Igreja está orientado para o Reino, que se realizará plenamente
quando Deus for tudo em todos. O testemunho da fraternidade eclesial e a dedicação missionária ao serviço dos
últimos nunca serão iguais ao Mistério do qual são sinal e instrumento. A Igreja não reflecte sobre a sua própria
configuração sinodal para se colocar no centro do anúncio, mas para melhor desempenhar, apesar da sua
incompletude constitutiva, o serviço do advento do Reino.

c) A renovação da comunidade cristã só é possível reconhecendo o primado da graça. Se falta profundidade espiritual, a
sinodalidade permanece uma renovação superficial. O que somos chamados a fazer, porém, não é apenas traduzir em
processos comunitários uma experiência espiritual adquirida noutros lugares, mas também experimentar mais
profundamente como as relações fraternas são o lugar e a forma de um encontro autêntico com Deus. Neste sentido, a
perspectiva sinodal, ao mesmo tempo que recorre ao rico património espiritual da Tradição, contribui para renovar as suas
formas: uma oração aberta à participação, um discernimento vivido em conjunto, uma energia missionária que surge da
partilha e irradia como serviço.

d) A conversação no Espírito é uma ferramenta que, apesar das suas limitações, é fecunda para permitir uma escuta
autêntica e para discernir o que o Espírito diz às Igrejas. A sua prática despertou alegria, espanto e gratidão e foi
vivida como um caminho de renovação que transforma indivíduos, grupos e a Igreja. A palavra “conversa” exprime
algo mais do que um simples diálogo: ela entrelaça harmoniosamente pensamento e sentimento e gera um mundo
vivo partilhado. Por isso podemos dizer que a conversão está em jogo na conversação. Este é um facto antropológico
que se encontra em diferentes povos e culturas, unidos pela prática de se reunirem solidariamente para discutir e
decidir questões vitais para a comunidade. A graça completa esta experiência humana: conversar «no Espírito»
significa viver a experiência da partilha à luz da fé e na busca da vontade de Deus, num ambiente autenticamente
evangélico, no qual o Espírito Santo pode fazer ouvir a sua voz inconfundível.

e) Sendo a sinodalidade orientada para a missão, é necessário que as comunidades cristãs partilhem a fraternidade
com homens e mulheres de outras religiões, crenças e culturas, evitando, por um lado, o risco da
autorreferencialidade e da autopreservação e, por outro, que de perda de identidade. A lógica do diálogo, da
aprendizagem mútua e do caminhar juntos deve caracterizar o anúncio evangélico e o serviço aos pobres, o cuidado
da casa comum e a investigação teológica, tornando-se o estilo pastoral da Igreja.

Questões a serem abordadas

f) Para escutar verdadeiramente a vontade do Pai, parece necessário aprofundar os critérios de discernimento
eclesial numa perspectiva teológica, para que a referência à liberdade e à novidade do Espírito seja
8
apropriadamente coordenado com o evento de Jesus Cristo que aconteceu "de uma vez por todas" (Hebraico10,10). Isto
exige, antes de tudo, especificar a relação entre a escuta da Palavra de Deus atestada nas Escrituras, a aceitação da
Tradição e do ensinamento da Igreja e a leitura profética dos sinais dos tempos.

g) Para tal, é essencial promover visões antropológicas e espirituais capazes de integrar e não justapor as
dimensões intelectuais e emocionais da experiência de fé, superando qualquer reducionismo e qualquer
dualismo entre razão e sentimento.

h) É importante esclarecer como a conversação no Espírito pode integrar as contribuições do pensamento


teológico e das ciências humanas e sociais, também à luz de outros modelos de discernimento eclesial que se
realizam seguindo a sequência de “ver, julgar, agir " ou articulando as etapas de “reconhecer, interpretar,
escolher”.

i) A contribuição que olectio divinae as diferentes tradições espirituais, antigas e recentes, podem oferecer a
prática do discernimento. Com efeito, é oportuno valorizar a pluralidade de formas e estilos, métodos e critérios
que o Espírito Santo sugeriu ao longo dos séculos e que fazem parte da herança espiritual da Igreja.

Propostas

j) Visa experimentar e adaptar o diálogo no Espírito e outras formas de discernimento na vida das Igrejas,
valorizando a riqueza das diferentes tradições espirituais dependendo das culturas e contextos. Formas
adequadas de acompanhamento podem facilitar esta prática, ajudando a compreender a sua lógica e a superar
qualquer resistência.

k) Cada Igreja local dota-se de pessoas idóneas e preparadas para facilitar e acompanhar os processos de
discernimento eclesial.

l) É importante que a prática do discernimento seja implementada também no âmbito pastoral, de forma
adequada aos contextos, para iluminar a concretude da vida eclesial. Permitir-nos-á reconhecer melhor os
carismas presentes na comunidade, confiar sabiamente tarefas e ministérios, planear caminhos pastorais à luz
do Espírito, indo além do simples planeamento de atividades.

3. Entrar numa comunidade de fé: iniciação cristã

Convergências

a) A iniciação cristã é o itinerário através do qual o Senhor, através do ministério da Igreja, nos introduz na fé
pascal e nos insere na comunhão trinitária e eclesial. Este itinerário apresenta uma variedade significativa de
formas dependendo da idade em que é realizado e das diferentes ênfases das tradições orientais e ocidentais.
Contudo, a escuta da Palavra e a conversão da vida, a celebração litúrgica e a inserção na comunidade e na sua
missão estão sempre interligadas. Precisamente por isso o caminho catecumenal, com a gradualidade das suas
etapas e passagens, é o paradigma de todo o caminhar eclesial conjunto.

b) A iniciação coloca você em contato com uma grande variedade de vocações e ministérios eclesiais. Neles se expressa o
rosto materno de uma Igreja que ensina seus filhos a caminhar caminhando com eles. Ele os escuta e, ao responder às
suas dúvidas e perguntas, enriquece-se com a novidade que cada pessoa traz dentro de si, com a sua história, a sua
língua e a sua cultura. Na prática desta ação pastoral, a comunidade cristã experimenta, muitas vezes sem ter plena
consciência disso, a primeira forma de sinodalidade.

c) Antes de qualquer distinção de carismas e ministérios, “todos fomos batizados num só Espírito em um só corpo” (
1Cor12,13). Por isso, entre todos os baptizados existe uma autêntica igualdade de dignidade e uma responsabilidade
comum pela missão, segundo a vocação de cada um. Pela unção do Espírito, que “ensina cada
9
O que" (1Jn2.27), todos os crentes possuem um instinto para a verdade do Evangelho, chamadosenso fidei. Consiste numa
certa conaturalidade com as realidades divinas e na capacidade de captar intuitivamente o que está em conformidade com
a verdade da fé. Os processos sinodais valorizam este dom e permitem verificar a existência desse consenso dos fiéis (
consenso fidelium) que constitui um critério seguro para determinar se uma determinada doutrina ou prática pertence à fé
apostólica.

d) A Confirmação de alguma forma torna perene a graça do Pentecostes na Igreja. Enriquece os fiéis com a
abundância dos dons do Espírito e chama-os a desenvolver a sua vocação específica, enraizada na comum
dignidade baptismal, ao serviço da missão. A sua importância deve ser mais destacada e colocada em relação à
variedade de carismas e ministérios que moldam o rosto sinodal da Igreja.

e) A celebração da Eucaristia, especialmente aos domingos, é o primeiro e fundamental modo de reunião e encontro
do Povo Santo de Deus. Onde não é possível, a comunidade, embora deseje, reúne-se em torno da celebração da
Palavra. Na Eucaristia celebramos um mistério de graça do qual não somos os criadores. Chamando-nos a participar
do seu Corpo e do seu Sangue, o Senhor nos torna um só corpo entre nós e com Ele. A partir do uso que Paulo faz do
termokoinônia(ver1Cor10,16-17), a tradição cristã conservou a palavra “comunhão” para indicar ao mesmo tempo a
plena participação na Eucaristia e a natureza das relações entre os fiéis e entre as Igrejas. Ao mesmo tempo que nos
abre à contemplação da vida divina, às profundezas insondáveis do mistério trinitário, este termo remete-nos para a
vida quotidiana das nossas relações: nos gestos mais simples com que nos abrimos uns aos outros o sopro do
Espírito verdadeiramente circula. Por isso, a comunhão celebrada na Eucaristia e que dela brota configura e orienta
os caminhos da sinodalidade.

f) Da Eucaristia aprendemos a articular unidade e diversidade: unidade da Igreja e multiplicidade de comunidades cristãs;
unidade do mistério sacramental e variedade das tradições litúrgicas; unidade de celebração e diversidade de vocações,
carismas e ministérios. Nada mostra mais do que a Eucaristia que a harmonia criada pelo Espírito não é uniformidade e
que todo dom eclesial se destina à edificação comum.

Questões a serem abordadas

g) O sacramento do Batismo não pode ser entendido de forma isolada, fora da lógica da iniciação cristã, nem
de forma individualista. É, portanto, necessário aprofundar ainda mais a contribuição para a compreensão da
sinodalidade que pode advir de uma visão mais unitária da iniciação cristã.

h) A maturação desenso fideiexige não só ter recebido o Batismo, mas também desenvolver a graça do sacramento
numa vida de discipulado autêntico, que permite discernir a ação do Espírito daquilo que é expressão do
pensamento dominante, resultado de condicionamento cultural ou, em qualquer caso, não é consistente com o
Evangelho. Este é um tema a ser explorado com adequada reflexão teológica.

i) A reflexão sobre a sinodalidade pode oferecer ideias de renovação para a compreensão da Confirmação, com a
qual a graça do Espírito articula a variedade de dons e carismas na harmonia de Pentecostes. À luz das diversas
experiências eclesiais, deve-se estudar o modo de tornar mais fecunda a preparação e a celebração deste
sacramento, de modo a despertar em todos os fiéis o apelo à construção da comunidade, à missão no mundo e ao
testemunho de a fé.

j) Do ponto de vista teológico pastoral, é importante continuar a investigação sobre o modo como a lógica catecumenal pode
iluminar outros caminhos pastorais, como o da preparação para o matrimónio, ou do acompanhamento nas escolhas de
compromisso profissional e social, ou da formação para o próprio ministério ordenado, no qual toda a comunidade eclesial
deve estar envolvida.

Propostas

k) Se a Eucaristia dá forma à sinodalidade, o primeiro passo a dar é honrar a sua graça com um estilo celebrativo
digno do dom e com fraternidade autêntica. A liturgia celebrada com autenticidade é a primeira e
10
escola fundamental de discipulado e fraternidade. Antes de qualquer uma das nossas iniciativas formativas, devemos
deixar-nos formar pela sua poderosa beleza e pela nobre simplicidade dos seus gestos.

l) Um segundo passo refere-se à necessidade, relatada por muitos, de tornar a linguagem litúrgica mais acessível aos
fiéis e mais incorporada na diversidade das culturas. Sem pôr em causa a continuidade com a tradição e a
necessidade de formação litúrgica, solicitamos uma reflexão sobre este tema e a atribuição de maior
responsabilidade às Conferências Episcopais, nos moldes do motu proprioMagnum Principio.

m) Um terceiro passo consiste no compromisso pastoral de valorizar todas as formas de oração comunitária, sem se
limitar apenas à celebração da Missa. Outras expressões da oração litúrgica, bem como as práticas de piedade popular,
que reflectem a genialidade das culturas locais, são elementos de grande importância para favorecer o envolvimento de
todos os fiéis, para os introduzir gradualmente no mistério cristão e para os aproximar. encontrar com o Senhor aqueles
que estão menos familiarizados com a Igreja. Entre as formas de piedade popular, destaca-se em particular a devoção
mariana, pela sua capacidade de sustentar e nutrir a fé de muitos.

4. Os pobres, protagonistas do caminho da Igreja

Convergências

a) Os pobres pedem amor à Igreja. Por amor entendemos respeito, aceitação e reconhecimento, sem os quais fornecer
alimentos, dinheiro ou serviços sociais representa uma forma de assistência certamente importante, mas que não
assume plenamente a dignidade da pessoa. O respeito e o reconhecimento são ferramentas poderosas para ativar as
capacidades pessoais, para que cada um seja sujeito do seu próprio caminho de crescimento e não objeto da ação de
cuidado dos outros.

b) A opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica: Jesus, pobre e humilde, fez amizade com os pobres,
caminhou com os pobres, partilhou a mesa com os pobres e denunciou as causas da pobreza. Para a Igreja, a opção pelos
pobres e pelos rejeitados é uma categoria teológica antes de uma categoria cultural, sociológica, política ou filosófica.
Para São João Paulo II, Deus concede-lhes primeiro a sua misericórdia. Esta preferência divina tem consequências na vida
de todos os cristãos, chamados a nutrir “os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fil2.5).

c) Não existe apenas um tipo de pobreza. Entre os muitos rostos dos pobres estão aqueles de todos aqueles que não têm o
necessário para levar uma vida digna. Depois, há os dos migrantes e refugiados; povos indígenas, originários e
afrodescendentes; aqueles que sofrem violência e abuso, especialmente mulheres; pessoas com vícios; minorias a quem é
sistematicamente negada voz; idosos abandonados; vítimas de racismo, exploração e tráfico, especialmente menores;
trabalhadores explorados; economicamente excluídos e outros que vivem nos subúrbios. Os mais vulneráveis dos
vulneráveis, para os quais é necessária uma defesa constante, são os bebés no útero e as suas mães. A Assembleia está
consciente do grito dos “novos pobres”, produzido pelas guerras e pelo terrorismo que atormentam muitos países em
diferentes continentes e condena os sistemas políticos e económicos corruptos que são a causa.

d) Ao lado das muitas formas de pobreza material, o nosso mundo conhece também as da pobreza espiritual, entendida
como a falta de sentido da vida. A preocupação excessiva consigo mesmo pode levar a pessoa a ver os outros como uma
ameaça e a recuar para o individualismo. Como foi observado, a pobreza material e a pobreza espiritual, quando se unem,
podem encontrar respostas para as necessidades uma da outra. Este é um modo de caminhar juntos que concretiza a
perspectiva da Igreja Sinodal que nos revelará o sentido mais pleno da bem-aventurança evangélica “Bem-aventurados os
pobres de espírito” (Monte5,3).

e) Estar ao lado dos pobres significa comprometer-se com eles também no cuidado da nossa casa comum: o grito da
terra e o grito dos pobres são o mesmo grito. A falta de reações faz da crise ecológica e, em particular, das alterações
climáticas, uma ameaça à sobrevivência da humanidade, como sublinha a exortação apostólicaLaudate Deum,
publicado pelo Papa Francisco para coincidir com a abertura dos trabalhos da Assembleia Sinodal. As Igrejas dos
países mais expostos às consequências das alterações climáticas sobreviveram
11
consciência da urgência de uma mudança de rumo e isto representa a sua contribuição para o caminho das
outras Igrejas do planeta.

f) O compromisso da Igreja deve chegar às causas da pobreza e da exclusão. Isto inclui ações para proteger os
direitos dos pobres e excluídos, e pode exigir a denúncia pública de injustiças, sejam elas perpetradas por
indivíduos, governos, empresas ou estruturas sociais. Por isso, é fundamental ouvir os seus pedidos e o seu
ponto de vista, para lhes dar voz, através das suas palavras.

g) Os cristãos têm o dever de se comprometerem a participar activamente na construção do bem comum e na


defesa da dignidade da vida, inspirando-se na doutrina social da Igreja e actuando sob diversas formas
(envolvimento em organizações da sociedade civil, comércio sindicatos, movimentos populares, em associações de
base, no campo da política, etc.). A Igreja expressa profunda gratidão pela sua ação. As comunidades apoiam
aqueles que trabalham nestas áreas num autêntico espírito de caridade e serviço. A sua acção insere-se na missão
da Igreja de anunciar o Evangelho e de colaborar no advento do Reino de Deus.

h) Nos pobres, a comunidade cristã encontra o rosto e a carne de Cristo, que, embora fosse rico, tornou-se pobre por
nós, para que nos tornássemos ricos através da sua pobreza (cf.2Cor8,9). Ela é chamada não só a estar perto deles,
mas a aprender com eles. Se realizar um sínodo significa caminhar junto com Aquele que é o caminho, uma Igreja
sinodal precisa colocar os pobres no centro de todos os aspectos da sua vida: através do seu sofrimento eles têm
conhecimento direto de Cristo sofredor (cf.Evangelii gaudium, n. 198). A semelhança da sua vida com a do Senhor faz
dos pobres arautos de uma salvação recebida como dom e testemunhas da alegria do Evangelho.

Questões a serem abordadas

i) Em algumas partes do mundo a Igreja é pobre, com os pobres e para os pobres. Existe um risco constante, que deve ser
cuidadosamente evitado, de considerar os pobres em termos de "eles" e de "nós", como "objetos" da caridade da Igreja.
Colocar os pobres no centro e aprender com eles é algo que a Igreja deve fazer cada vez mais.

j) A denúncia profética de situações de injustiça e a ação de pressão sobre os decisores políticos, que exige o uso de
formas de diplomacia, devem ser mantidas em tensão dinâmica para não perder a clareza e a fecundidade. Em
particular, é necessário garantir que a utilização de fundos públicos ou privados pelas estruturas da Igreja não
afecte a liberdade de falar em nome das necessidades do Evangelho.

k) A acção nos domínios da educação, da saúde e da assistência social, sem qualquer discriminação ou exclusão de
ninguém, é um sinal claro de uma Igreja que promove a integração e a participação dos últimos dentro de si e na
sociedade. As organizações activas neste campo são convidadas a considerar-se uma expressão da comunidade
cristã e a evitar um estilo impessoal de vida de caridade. Eles também são incentivados a trabalhar em rede e
coordenar.

l) A Igreja deve ser honesta ao examinar como respeita as exigências da justiça para com aqueles que
trabalham nas instituições a ela ligadas, para testemunhar a sua coerência com integridade.

m) Numa Igreja sinodal, o sentido de solidariedade também se manifesta ao nível da troca de dons e da partilha de
recursos entre Igrejas locais de diferentes regiões. São relações que promovem a unidade da Igreja, criando laços entre
as comunidades cristãs envolvidas. É necessário concentrar-se nas condições a garantir para que os sacerdotes que vêm
em socorro das Igrejas pobres em clero não sejam apenas um remédio funcional, mas um recurso para o crescimento
da Igreja que os envia e daquela que os recebe . Da mesma forma, precisamos de trabalhar para garantir que a ajuda
económica não degenere em bem-estar, mas promova a autêntica solidariedade evangélica e seja gerida de forma
transparente e fiável.

Propostas
12
n) A doutrina social da Igreja é um recurso muito pouco conhecido para investir novamente. As Igrejas locais devem
empenhar-se não só em tornar mais conhecidos os seus conteúdos, mas em incentivar a sua apropriação através de práticas
que ponham em prática a sua inspiração.

o) A experiência de encontro, partilha de vida e serviço aos pobres e marginalizados torna-se parte integrante de
todos os cursos de formação oferecidos pelas comunidades cristãs: é uma exigência de fé, não um extra opcional.
Isto aplica-se em particular aos candidatos ao ministério ordenado e à vida consagrada.

p) Como parte do repensar do ministério diaconal, deveria ser promovida uma orientação mais decisiva para o serviço aos
pobres.

q) Os fundamentos bíblicos e teológicos da ecologia integral devem ser integrados de forma mais explícita e cuidadosa
no ensino, na liturgia e nas práticas da Igreja.

5. Uma Igreja de “toda tribo, língua, povo e nação”

Convergências

a) Os cristãos vivem em culturas específicas, trazendo Cristo para elas na Palavra e no Sacramento. Empenhando-se no
serviço da caridade, acolhem com humildade e alegria o mistério de Cristo que já os espera em todos os lugares e em todos
os momentos. Desta forma, eles se tornam uma Igreja de “toda tribo, língua, povo e nação” (Ap5,9).

b) Os contextos culturais, históricos e regionais em que a Igreja está presente revelam diferentes necessidades espirituais
e materiais. Isto molda a cultura das Igrejas locais, as suas prioridades missionárias, as preocupações e os dons que cada
uma delas traz para o diálogo sinodal, e as línguas com as quais se expressam. Durante os dias da Assembleia pudemos
fazer uma experiência direta e sobretudo alegre da pluralidade de expressões do ser Igreja.

c) As Igrejas vivem em contextos cada vez mais multiculturais e multirreligiosos, nos quais é essencial o compromisso de
diálogo entre religião e cultura juntamente com os outros grupos que compõem a sociedade. Viver a missão da Igreja
nestes contextos exige um estilo de presença, serviço e anúncio que procure construir pontes, cultivar a compreensão
mútua e empenhar-se numa evangelização que acompanha, escuta e aprende. A imagem de “tirar os sapatos” para
encontrar os outros de igual para igual ressoou diversas vezes na Assembleia, como sinal de humildade e respeito por um
espaço sagrado.

d) Os movimentos migratórios são uma realidade que reconfigura as Igrejas locais como comunidades interculturais. Muitas vezes,
os migrantes e os refugiados, muitos dos quais carregam as feridas do desenraizamento, da guerra e da violência, tornam-se uma
fonte de renovação e de enriquecimento para as comunidades que os acolhem e uma oportunidade para estabelecer um vínculo
directo com Igrejas geograficamente distantes. Perante atitudes cada vez mais hostis para com os migrantes, somos chamados a
praticar um acolhimento aberto, a acompanhá-los na construção de um novo projecto de vida e a construir uma verdadeira
comunhão intercultural entre os povos. O respeito pelas tradições litúrgicas e práticas religiosas dos migrantes é parte integrante
do acolhimento autêntico.

e) Os missionários deram a vida para levar a Boa Nova ao mundo. O seu compromisso dá um testemunho eloquente
do poder do Evangelho. Contudo, são necessárias especial atenção e sensibilidade nos contextos em que “missão” é
uma palavra carregada de uma dolorosa herança histórica, que hoje dificulta a comunhão. Em alguns lugares, o
anúncio do Evangelho foi associado à colonização e até ao genocídio. Evangelizar nestes contextos exige reconhecer
os erros cometidos, aprender uma nova sensibilidade para estas questões e acompanhar uma geração que procura
forjar identidades cristãs para além do colonialismo. O respeito e a humildade são atitudes fundamentais para
reconhecer que nos completamos e que o encontro com as diferentes culturas pode enriquecer a vivência e o
pensamento da fé das comunidades cristãs.

f) A Igreja ensina a necessidade e incentiva a prática do diálogo inter-religioso como parte da construção da
comunhão entre todos os povos. Num mundo de violência e fragmentação, parece cada vez mais urgente
13
testemunho da unidade da humanidade, da sua origem comum e do seu destino comum, numa solidariedade coordenada
e fraterna pela justiça social, pela paz, pela reconciliação e pelo cuidado da casa comum. A Igreja está consciente de que o
Espírito pode falar através das vozes de homens e mulheres de todas as religiões, crenças e culturas.

Questões a serem abordadas

g) É necessário cultivar a sensibilidade à riqueza da variedade de expressões do ser Igreja. Isto exige a procura de
um equilíbrio dinâmico entre a dimensão da Igreja como um todo e as suas raízes locais, entre o respeito pelo
vínculo da unidade da Igreja e o risco de homogeneização que sufoca a variedade. Os significados e as prioridades
variam entre os diferentes contextos e isso requer identificar e promover formas de descentralização e instâncias
intermediárias.

h) A Igreja também é afetada pela polarização e pela desconfiança em áreas cruciais, como a vida litúrgica e a
reflexão moral, social e teológica. Devemos reconhecer as causas através do diálogo e empreender processos
corajosos de revitalização da comunhão e reconciliação para superá-las.

i) Nas nossas Igrejas locais, às vezes vivemos tensões entre diferentes formas de compreender a evangelização, que
se centram no testemunho de vida, no compromisso com a promoção humana, no diálogo com as fés e as culturas
e no anúncio explícito do Evangelho. Da mesma forma, surge uma tensão entre o anúncio explícito de Jesus Cristo e
a valorização das características de cada cultura em busca de traços evangélicos (semear verbos) que já contém.

j) Entre as questões a serem exploradas com maior profundidade, foi indicada a possível confusão entre a mensagem do Evangelho
e a cultura do evangelizador.

k) A propagação dos conflitos, com o comércio e utilização de armas cada vez mais poderosas, levanta a questão, levantada em
vários grupos, de uma reflexão e formação mais cuidadosa na gestão de conflitos de forma não violenta. Esta é uma contribuição
qualificada que os cristãos podem oferecer ao mundo de hoje, também no diálogo e na colaboração com outras religiões.

Propostas

l) É necessária uma atenção renovada à questão das línguas que usamos para falar às mentes e aos corações das
pessoas numa grande diversidade de contextos, de uma forma que seja acessível e bonita.

m) Tendo em vista a experimentação de formas de descentralização, é necessário definir um quadro de referência partilhado para
a sua gestão e avaliação, identificando todos os actores envolvidos e os seus papéis. Por razões de coerência, os processos de
discernimento sobre a descentralização devem ocorrer em estilo sinodal, envolvendo a participação e a contribuição de todos os
atores envolvidos nos diferentes níveis.

n) São necessários novos paradigmas de compromisso pastoral com as populações indígenas, na linha de um caminho conjunto e
não de uma ação feita a eles ou para eles. A sua participação nos processos de tomada de decisão a todos os níveis pode
contribuir para uma Igreja mais vibrante e missional.

o) Do trabalho da Assembleia emerge o pedido de um melhor conhecimento dos ensinamentos do Vaticano II, do
magistério pós-conciliar e da doutrina social da Igreja. Precisamos de saber mais sobre as nossas diferentes
tradições para sermos mais claramente uma Igreja de Igrejas em comunhão, eficaz no serviço e no diálogo.

p) Num mundo em que o número de migrantes e refugiados aumenta, enquanto a disponibilidade para os acolher diminui,
e em que o estrangeiro é visto com crescente suspeita, é oportuno que a Igreja se empenhe decisivamente na educação no
cultura do diálogo e do encontro, combatendo o racismo e a xenofobia, especialmente em
14
programas de formação pastoral. É igualmente necessário envolver-se em projectos de integração de migrantes.

q) Recomendamos um compromisso renovado com o diálogo e o discernimento em relação à justiça racial. Devemos
identificar os sistemas que criam ou mantêm a injustiça racial dentro da Igreja e combatê-los. Que se iniciem
processos de cura e reconciliação para erradicar o pecado do racismo, com a ajuda de quantos sofrem as suas
consequências.

6. Tradições das Igrejas Orientais e da Igreja Latina

Convergências

a) Entre as Igrejas Orientais, as que estão em plena comunhão com o sucessor de Pedro gozam de uma peculiaridade
litúrgica, teológica, eclesiológica e canónica que enriquece enormemente toda a Igreja. Em particular, a sua experiência de
unidade na diversidade pode oferecer uma valiosa contribuição para a compreensão e prática da sinodalidade.

b) Ao longo da história, o nível de autonomia garantido a estas Igrejas conheceu diferentes fases e também conheceu
comportamentos hoje considerados ultrapassados, como a latinização. Nas últimas décadas, o processo de reconhecimento
da especificidade, distinção e autonomia destas Igrejas conheceu um desenvolvimento notável.

c) A migração substancial de fiéis do Oriente católico para territórios de maioria latina coloca importantes questões
pastorais. Se o fluxo actual continuar ou aumentar, poderá haver mais membros das Igrejas Orientais Católicas na
diáspora do que nos territórios canónicos. Por diversas razões, o estabelecimento de hierarquias orientais nos países de
imigração não é suficiente para resolver o problema, mas é necessário que as Igrejas locais de Rito Latino, em nome da
sinodalidade, ajudem os fiéis orientais que emigraram a preservar a sua identidade. e cultivar o seu património
específico, sem passar por processos de assimilação.

Questões a serem abordadas

d) A contribuição que a experiência das Igrejas Orientais Católicas pode oferecer para a compreensão e prática
da sinodalidade deve ser mais estudada.

e) Subsistem algumas dificuldades relativamente ao parecer favorável do Papa aos Bispos eleitos pelos Sínodos das
Igrejassui iurispara o seu território e da nomeação papal de Bispos fora do território canônico. O pedido de
alargamento da jurisdição dos Patriarcas para fora do território patriarcal é também objecto de discernimento no
diálogo com a Santa Sé.

f) Nas regiões onde há fiéis de diferentes Igrejas Católicas, é necessário encontrar caminhos que tornem
visível e vivenciável a unidade efectiva na diversidade.

g) É necessário reflectir sobre o contributo que as Igrejas Orientais Católicas podem dar no caminho para a unidade entre todos os
cristãos e o papel que podem desempenhar no diálogo inter-religioso e intercultural.

Propostas

h) Em primeiro lugar, surge o pedido de criação de um Conselho de Patriarcas e Arcebispos Maiores das Igrejas
Orientais Católicas com o Santo Padre.

i)Alguns pedem a convocação de um Sínodo Especial dedicado às Igrejas Orientais Católicas, à sua identidade e missão,
bem como aos desafios pastorais e canónicos no contexto da guerra e das migrações massivas.

j) Propõe-se formar uma comissão mista de teólogos, historiadores e canonistas orientais e latinos para estudar o
15
questões que exigem análise aprofundada e apresentação de propostas para continuar o caminho.

k) Nos dicastérios da Cúria Romana existe uma representação adequada dos membros das Igrejas Orientais Católicas para
enriquecer toda a Igreja com o contributo da sua perspectiva, encorajar a solução dos problemas identificados e participar
no diálogo a diferentes níveis.

l) Para encorajar formas de hospitalidade que respeitem a herança dos fiéis das Igrejas Orientais, é conveniente
intensificar as relações entre o clero oriental na diáspora e o clero latino e promover o conhecimento mútuo e o
reconhecimento das suas respectivas tradições.

7. A caminho da unidade dos cristãos

Convergências

a) Esta sessão da Assembleia Sinodal foi aberta sob o signo do ecumenismo. A vigília de oração”Junto”viu a
presença ao lado do Papa Francisco de numerosos outros líderes e representantes de diversas Comunhões
Cristãs: um sinal claro e credível do desejo de caminhar juntos no espírito da unidade da fé e da troca de dons.
Este acontecimento altamente significativo permitiu-nos também reconhecer que nos encontramos numa
Kairósecumênico e reafirmar que o que nos une é maior do que o que nos divide. Em comum, de fato, temos
“um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, entre todos e
em todos” (Ef4.5-6).

b) O próprio Batismo, que está no início da sinodalidade, constitui também o fundamento do ecumenismo.
Através dela todos os cristãos participam nasenso fideie por isso devem ser ouvidos com atenção,
independentemente da sua tradição, como fez a Assembleia Sinodal no seu processo de discernimento. Não
pode haver sinodalidade sem a dimensão ecuménica.

c) O ecumenismo é antes de tudo uma questão de renovação espiritual e requer também processos de arrependimento e
cura da memória. A Assembleia ressoou com testemunhos esclarecedores de cristãos de diferentes tradições eclesiais
que partilham a amizade, a oração e sobretudo o compromisso ao serviço dos pobres. A dedicação pelos menos cimenta
os laços e ajuda a focar naquilo que já une todos os crentes em Cristo. É portanto importante que o ecumenismo se
desenvolva antes de mais nada na vida quotidiana. No diálogo teológico e institucional, a paciente tecelagem de
compreensão mútua prossegue num clima de crescente confiança e abertura.

d) Em muitas regiões do mundo existe sobretudo o ecumenismo de sangue: cristãos de diversas filiações que
juntos dão a vida pela fé em Jesus Cristo. O testemunho do seu martírio é mais eloquente do que qualquer
palavra: a unidade vem da Cruz do Senhor.

e) A colaboração entre todos os cristãos é também um elemento fundamental para enfrentar os desafios pastorais do
nosso tempo: nas sociedades secularizadas permite-nos dar maior força à voz do Evangelho, nos contextos de
pobreza reúne forças ao serviço da justiça , a paz e a dignidade dos últimos. É sempre e em todo o lado um recurso
fundamental para curar a cultura do ódio, da divisão e da guerra que opõe grupos, povos e nações uns contra os
outros.

f) Os casamentos entre cristãos que pertencem a diferentes Igrejas ou comunidades eclesiais (casamentos mistos)
constituem realidades nas quais a sabedoria da comunhão pode amadurecer e se pode evangelizar mutuamente.

Questões a serem abordadas

g) A nossa Assembleia pôde perceber a diversidade entre as confissões cristãs na forma de compreender a configuração
sinodal da Igreja. Nas Igrejas Ortodoxas, a sinodalidade é entendida em sentido estrito como expressão do exercício
colegial da autoridade própria apenas dos Bispos (o Santo Sínodo). Em um sentido amplo, sim
16
refere-se à participação ativa de todos os fiéis na vida e na missão da Igreja. Não faltaram referências a
práticas em uso em outras comunidades eclesiais, o que enriqueceu o nosso debate. Tudo isso requer uma
investigação mais aprofundada.

h) Outro tema a ser explorado em profundidade diz respeito à ligação entre sinodalidade e primado nos vários níveis
(local, regional, universal), na sua interdependência mútua. Requer uma releitura compartilhada da história, para superar
clichês e preconceitos. Os diálogos ecuménicos em curso permitiram compreender melhor, à luz das práticas do primeiro
milénio, que a sinodalidade e o primado são realidades relacionadas, complementares e inseparáveis. O esclarecimento
deste delicado ponto reflecte-se na forma de compreender o ministério petrino ao serviço da unidade, como desejava São
João Paulo II na EncíclicaUt unum sint.

i) A questão da hospitalidade eucarística deve ser examinada mais aprofundadamente numa perspectiva teológica,
canónica e pastoral (comunicação in sacris), à luz da ligação entre comunhão sacramental e eclesial. Esta questão é
particularmente sentida pelos casais inter-religiosos. Refere-se também a uma reflexão mais ampla sobre os casamentos
mistos.

j) Foi também solicitada uma reflexão sobre o fenómeno das comunidades “não-confessionais” e dos movimentos de “despertar”
de inspiração cristã, aos quais também se juntam em grande número fiéis originariamente católicos.

Propostas

k) 2025 marca o aniversário do Concílio de Nicéia (325), no qual foi desenvolvido o símbolo da fé que une todos os cristãos.
Uma comemoração conjunta deste evento também nos ajudará a compreender melhor como, no passado, questões
controversas foram discutidas e resolvidas em conjunto no Conselho.

l) No mesmo ano de 2025, providencialmente, a data da solenidade da Páscoa coincidirá para todas as
denominações cristãs. A Assembleia manifestou o forte desejo de encontrar uma data comum para a festa da
Páscoa, para podermos celebrar no mesmo dia a ressurreição do Senhor, a nossa vida e a nossa salvação.

m) Desejamos também continuar a envolver cristãos de outras denominações nos processos sinodais católicos a
todos os níveis e convidar mais delegados fraternos para a próxima sessão da Assembleia em 2024.

n) A proposta de convocar um Sínodo ecuménico sobre a missão comum no mundo contemporâneo também foi
apresentada por alguns.

o) É relançada a proposta de compilação de um martirológio ecuménico.

PARTE II – TODOS OS DISCÍPULOS, TODOS OS MISSIONÁRIOS

8. A Igreja é missão

Convergências

a) Em vez de dizer que a Igreja tem uma missão, afirmamos que a Igreja é missão. “Assim como o Pai me
enviou, eu também vos envio” (John20.21): a Igreja recebe a sua missão de Cristo, o Mensageiro do Pai.
Apoiada e guiada pelo Espírito Santo, anuncia e dá testemunho do Evangelho a quem o não conhece ou não
o acolhe, com aquela opção preferencial pelos pobres que está enraizada na missão de Jesus. ao advento do
Reino de Deus, do qual “constitui a semente e o começo” (cf. LG 5).

b) Os sacramentos da iniciação cristã atribuem a todos os discípulos de Jesus a responsabilidade pela missão da Igreja. Homens
e mulheres leigos, homens e mulheres consagrados e ministros ordenados têm igual dignidade. Eles receberam
17
diferentes carismas e vocações e exercem diferentes papéis e funções, todos chamados e nutridos pelo Espírito Santo para
formar um só corpo em Cristo. Todos os discípulos, todos os missionários, na vitalidade fraterna das comunidades locais que
experimentam a doce e reconfortante alegria de evangelizar. O exercício da corresponsabilidade é essencial para a sinodalidade
e é necessário em todos os níveis da Igreja. Cada cristão é uma missão neste mundo.

c) A família é a espinha dorsal de toda comunidade cristã. Os pais, os avós e todos aqueles que vivem e
partilham a sua fé na família são os primeiros missionários. A família, como comunidade de vida e de amor, é
um lugar privilegiado de educação na fé e na prática cristã, que exige um acompanhamento particular nas
comunidades. O apoio é necessário sobretudo para os pais que devem conciliar o trabalho, mesmo no seio
da comunidade eclesial e ao serviço da sua missão, com as exigências da vida familiar.

d) Se a missão é uma graça que envolve toda a Igreja, os fiéis leigos contribuem de forma vital para a sua realização em
todos os ambientes e nas situações mais corriqueiras de cada dia. São eles sobretudo que tornam a Igreja presente e
anunciam o Evangelho na cultura do ambiente digital, que tem um impacto tão forte em todo o mundo, nas culturas
juvenis, no mundo do trabalho, da economia e da política, das artes e da na cultura, na investigação científica, na educação
e na formação, no cuidado da casa comum e, em particular, na participação na vida pública. Onde quer que estejam
presentes, são chamados a dar testemunho de Jesus Cristo na vida quotidiana e a partilhar explicitamente a fé com os
outros. Em particular, os jovens, com os seus dons e as suas fragilidades, à medida que crescem na amizade com Jesus,
tornam-se apóstolos do Evangelho entre os seus pares.

e) Os fiéis leigos estão cada vez mais presentes e activos também no serviço nas comunidades cristãs. Muitos deles
organizam e animam comunidades pastorais, atuam como educadores da fé, teólogos e formadores, animadores
espirituais e catequistas, e participam em vários organismos paroquiais e diocesanos. Em muitas regiões, a vida
das comunidades cristãs e a missão da Igreja centram-se na figura dos catequistas. Além disso, os leigos servem
dentro dosalvaguardandoe a administração. A sua contribuição é indispensável para a missão da Igreja; por esta
razão, deve-se ter cuidado para adquirir as habilidades necessárias

f) Os carismas dos leigos, na sua variedade, são dons do Espírito Santo à Igreja que devem ser divulgados, reconhecidos
e plenamente valorizados. Em algumas situações pode acontecer que os leigos sejam chamados a compensar a falta de
sacerdotes, com o risco de diminuir o carácter estritamente laical do seu apostolado. Noutros contextos, pode
acontecer que os sacerdotes façam tudo e os carismas e ministérios dos leigos sejam ignorados ou subutilizados. Há
também o perigo, expresso por muitos na Assembleia, de "clericalizar" os leigos, criando uma espécie deeliteleigo que
perpetua desigualdades e divisões entre o Povo de Deus.

g) A prática da missãoad gentesconsegue um enriquecimento mútuo das Igrejas, porque envolve não só os missionários,
mas toda a comunidade, que é estimulada a rezar, a partilhar bens e a dar testemunho. Mesmo as Igrejas com um número
reduzido de clérigos não devem renunciar a este compromisso, enquanto aquelas onde há maior florescimento de
vocações para o ministério ordenado podem abrir-se à cooperação pastoral, numa lógica genuinamente evangélica. Todos
os missionários - leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos e sacerdotes, em particular membros dos institutos
missionários e missionáriosfidei dono– pela sua vocação específica, são um importante recurso para criar laços de
conhecimento e troca de dons.

h) A missão da Igreja é continuamente renovada e alimentada pela celebração da Eucaristia,


especialmente quando põe em primeiro plano o seu carácter comunitário e missionário.

Questões a serem abordadas

i) É necessário continuar a aprofundar a compreensão teológica das relações entre carismas e ministérios numa
perspectiva missionária.

j) O Vaticano II e o magistério subsequente apresentam a missão distintiva dos leigos em termos da santificação das
realidades temporais ou seculares. Contudo, na concretude da prática pastoral, a nível paroquial, diocesano e,
recentemente, também universal, as tarefas e os ministérios são cada vez mais confiados aos leigos.
18
dentro da igreja. A reflexão teológica e as disposições canónicas devem ser conciliadas com estes importantes
desenvolvimentos e esforçar-se por evitar dualismos que possam comprometer a percepção da unidade da missão
da Igreja.

k) Ao promover a corresponsabilidade pela missão de todos os batizados, reconhecemos as capacidades apostólicas


das pessoas com deficiência. Queremos valorizar a contribuição para a evangelização que provém da imensa riqueza
de humanidade que eles trazem consigo. Reconhecemos as suas experiências de sofrimento, marginalização,
discriminação, por vezes sofridas até dentro da própria comunidade cristã.

l) As estruturas pastorais devem ser reorganizadas para ajudar as comunidades a realçar, reconhecer e animar os
carismas e ministérios leigos, inserindo-os no dinamismo missionário da Igreja sinodal. Sob a orientação dos seus
pastores, as comunidades poderão enviar e apoiar aqueles que enviaram. Serão, portanto, concebidos
principalmente ao serviço da missão que os fiéis desempenham na sociedade, na vida familiar e profissional, sem se
concentrarem exclusivamente nas atividades que se realizam no seu seio e nas suas necessidades organizativas.

m) A expressão “uma Igreja inteiramente ministerial”, usada noInstrumentum laboris, pode levar a mal-entendidos.
Vamos nos aprofundar em seu significado para esclarecer quaisquer ambigüidades.

Propostas

n) Existe uma necessidade percebida de maior criatividade no estabelecimento de ministérios baseados nas necessidades
das Igrejas locais, com envolvimento particular dos jovens. Podemos pensar em ampliar ainda mais as tarefas do ministério
instituído do leitor, que já não se limitam ao papel desempenhado durante as liturgias. Desta forma poderia configurar-se
um verdadeiro ministério da Palavra de Deus, que nos contextos apropriados poderia incluir também a pregação. Deveria
também ser explorada a possibilidade de estabelecer um ministério destinado aos casais empenhados em apoiar a vida
familiar e acompanhar as pessoas que se preparam para o sacramento do matrimónio.

o) As Igrejas locais são convidadas a identificar formas e ocasiões para dar visibilidade e reconhecimento comunitário aos
carismas e ministérios que enriquecem a comunidade. Isto poderia acontecer por ocasião de uma celebração litúrgica na
qual seja confiado o mandato pastoral.

9. As mulheres na vida e na missão da Igreja

Convergências

a) Fomos criados homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus. Desde o início, a criação articula unidade e diferença,
dando às mulheres e aos homens uma natureza, vocação e destino partilhados e duas experiências distintas do humano. A
Sagrada Escritura testemunha a complementaridade e a reciprocidade entre mulheres e homens. Nas múltiplas formas em
que ocorre, a aliança entre o homem e a mulher está no centro do plano de Deus para a criação. Jesus considerava as
mulheres como suas interlocutoras: falava-lhes do Reino de Deus e acolheva-as entre os discípulos, como Maria de Betânia.
Estas mulheres experimentaram o seu poder de cura, de libertação e de reconhecimento e caminharam com Ele no
caminho da Galileia para Jerusalém (cf.Lucas8,1-3). Ele confiou a uma mulher, Maria Madalena, a tarefa de anunciar a
ressurreição na manhã de Páscoa.

b) Em Cristo, mulheres e homens são revestidos da mesma dignidade batismal e recebem em igual medida a variedade
dos dons do Espírito (cf.Garota3.28). Homens e mulheres são chamados a uma comunhão caracterizada pela
corresponsabilidade não competitiva, a ser encarnada em todos os níveis da vida da Igreja. Como nos disse o Papa
Francisco, juntos somos “Pessoas convocadas e chamadas pela força das Bem-aventuranças”.

c) Durante a Assembleia experimentámos a beleza da reciprocidade entre mulheres e homens. Juntos


relançamos o apelo das fases anteriores do processo sinodal e pedimos à Igreja que cresça
19
no compromisso de compreender e acompanhar as mulheres, do ponto de vista pastoral e sacramental. As mulheres
desejam partilhar a experiência espiritual de caminhar rumo à santidade nas diversas etapas da vida: como jovens, como
mães, nas relações de amizade, na vida familiar em todas as idades, no mundo do trabalho e na vida consagrada. Exigem
justiça em sociedades ainda profundamente marcadas pela violência sexual e pelas desigualdades económicas, e pela
tendência a tratá-las como objectos. Eles carregam as cicatrizes do tráfico de seres humanos, da migração forçada e da
guerra. O acompanhamento e a promoção decisiva das mulheres andam de mãos dadas.

d) As mulheres constituem a maioria dos que frequentam as igrejas e são muitas vezes as primeiras missionárias da
fé na família. As mulheres consagradas, na vida contemplativa e apostólica, constituem um dom, um sinal e um
testemunho de fundamental importância entre nós. A longa história de mulheres missionárias, santas, teólogas e
místicas é uma poderosa fonte de inspiração e alimento para as mulheres e os homens do nosso tempo.

e) Maria de Nazaré, mulher de fé e mãe de Deus, permanece para todos uma extraordinária fonte de
significado do ponto de vista teológico, eclesial e espiritual. Maria recorda-nos o apelo universal à escuta
atenta de Deus e à abertura ao Espírito Santo. Ela conheceu a alegria de dar à luz e crescer e suportou a dor e
o sofrimento. Ela deu à luz em condições precárias, viveu a experiência de ser refugiada e viveu o tormento do
assassinato brutal de seu filho. Mas ele também conheceu o esplendor da ressurreição e a glória do
Pentecostes.

f) Muitas mulheres expressaram profunda gratidão pelo trabalho dos sacerdotes e bispos, mas também falaram de
uma Igreja que dói. O clericalismo, o chauvinismo e o uso inadequado da autoridade continuam a desfigurar o rosto
da Igreja e a prejudicar a comunhão. Uma profunda conversão espiritual é necessária como base para qualquer
mudança estrutural. O abuso sexual, de poder e económico continua a clamar por justiça, cura e reconciliação.
Perguntamos como a Igreja pode tornar-se um espaço capaz de proteger a todos.

g) Quando a dignidade e a justiça nas relações entre homens e mulheres são prejudicadas na Igreja, a credibilidade do
anúncio que dirigimos ao mundo fica enfraquecida. O processo sinodal mostra que há necessidade de uma renovação das
relações e de mudanças estruturais. Desta forma poderemos acolher melhor a participação e a contribuição de todos –
leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos, sacerdotes e bispos – como discípulos corresponsáveis pela missão.

h) A Assembleia pede-nos que evitemos repetir o erro de falar das mulheres como uma questão ou um problema. Em vez
disso, queremos promover uma Igreja na qual homens e mulheres dialogem com o objetivo de compreender melhor a
profundidade do plano de Deus, na qual apareçam juntos como protagonistas, sem subordinação, exclusão ou competição.

Questões a serem abordadas

i) As Igrejas de todo o mundo formularam claramente o pedido de um maior reconhecimento e valorização da contribuição das
mulheres e de um aumento das responsabilidades pastorais que lhes são confiadas em todas as áreas da vida e da missão da
Igreja. Para dar melhor expressão aos carismas de todos e responder melhor às necessidades pastorais, como pode a Igreja incluir
mais mulheres nas funções e ministérios existentes? Se forem necessários novos ministérios, quem é responsável pelo
discernimento, a que nível e de que forma?

j) Diferentes posições foram expressas em relação ao acesso das mulheres ao ministério diaconal. Alguns
consideram que este passo seria inaceitável, pois está em descontinuidade com a Tradição. Para outros, porém,
conceder às mulheres acesso ao diaconado restauraria uma prática da Igreja primitiva. Outros ainda discernem
nesta passagem uma resposta adequada e necessária aos sinais dos tempos, fiel à Tradição e capaz de encontrar
eco no coração de muitos que procuram renovada vitalidade e energia na Igreja. Alguns expressam o temor de que
este pedido seja a expressão de uma perigosa confusão antropológica, ao aceitar que a Igreja se alinharia com o
espírito da época.
20
k) O debate a este respeito também está ligado à reflexão mais ampla sobre a teologia do diaconado (verabaixoCódigo postal.
11, h-i).

Propostas

l) As Igrejas locais são encorajadas, em particular, a alargar o seu serviço de escuta, acompanhamento e cuidado às
mulheres mais marginalizadas em diferentes contextos sociais.

m) É urgente garantir que as mulheres possam participar nos processos de tomada de decisão e assumir papéis de
responsabilidade no cuidado pastoral e no ministério. O Santo Padre aumentou significativamente o número de
mulheres em cargos de responsabilidade na Cúria Romana. O mesmo deveria acontecer nos outros níveis da vida da
Igreja. O direito canônico deve ser adaptado em conformidade.

n) A investigação teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconado deve continuar, beneficiando-se dos
resultados das comissões especificamente estabelecidas pelo Santo Padre e da investigação teológica, histórica e exegética
já realizada. Se possível, os resultados deverão ser apresentados na próxima Sessão da Assembleia.

o) Os casos de discriminação no emprego e de remuneração injusta dentro da Igreja sejam abordados e resolvidos, em
particular no que diz respeito às mulheres consagradas que são muitas vezes consideradas mão-de-obra barata.

p) Há necessidade de expandir o acesso das mulheres a programas de formação e estudos teológicos. As mulheres são
incluídas nos programas de ensino e formação dos seminários para promover uma melhor formação para o ministério
ordenado.

q) Os textos e documentos litúrgicos da Igreja estão mais atentos não só ao uso de uma linguagem que considere
igualmente homens e mulheres, mas também à inclusão de uma gama de palavras, imagens e histórias que se inspiram
com maior vitalidade experiência feminina.

r) Propomos que mulheres com formação adequada possam ser juízas em todos os julgamentos canónicos.

10. Vida consagrada e grupos laicais: um sinal carismático

Convergências

a) Ao longo dos séculos, a Igreja sempre experimentou o dom dos carismas graças aos quais o Espírito Santo a
rejuvenesce e renova, desde os mais extraordinários até aos mais simples e difundidos. Com alegria e gratidão, o
Povo Santo de Deus reconhece neles a ajuda providencial com a qual o próprio Deus sustenta, dirige e ilumina a
sua missão.

b) A dimensão carismática da Igreja tem uma manifestação particular na vida consagrada, com a riqueza e variedade
das suas formas. O seu testemunho contribuiu em todos os momentos para renovar a vida da comunidade eclesial,
revelando-se um antídoto à tentação recorrente da mundanidade. As diferentes famílias religiosas mostram a beleza
do seguimento do Senhor, na montanha da oração e nas ruas do mundo, nas formas de vida comunitária, na solidão
do deserto e na fronteira dos desafios culturais. Mais de uma vez, a vida consagrada foi a primeira a perceber as
mudanças da história e a captar os apelos do Espírito: ainda hoje a Igreja precisa da sua profecia. A comunidade
cristã também olha com atenção e gratidão para as práticas comprovadas de vida sinodal e de discernimento
comum que as comunidades de vida consagrada desenvolveram ao longo dos séculos. Também sabemos deles que
podemos aprender a sabedoria de caminhar juntos. Muitas Congregações e Institutos praticam o diálogo no Espírito
ou formas semelhantes de discernimento na realização de Capítulos provinciais e gerais, para renovar estruturas,
repensar estilos de vida, ativar novas formas de serviço e proximidade com os mais pobres. Em outros casos, porém,
encontramos a persistência de um estilo autoritário, que não abre espaço para o diálogo fraterno.
21
c) Com igual gratidão, o Povo de Deus reconhece os fermentos de renovação presentes nas comunidades que têm uma
longa história e no florescimento de novas experiências de agregação eclesial. As associações de leigos, os movimentos
eclesiais e as novas comunidades são um sinal precioso do amadurecimento da corresponsabilidade de todos os batizados.
O seu valor reside na promoção da comunhão entre as diferentes vocações, no entusiasmo com que anunciam o
Evangelho, na proximidade com aqueles que vivem a marginalização económica ou social e no empenho na promoção do
bem comum. Muitas vezes são modelos de comunhão e participação sinodal em vista da missão.

d) Casos de abusos de vários tipos em detrimento de pessoas consagradas e membros de grupos leigos, em particular mulheres,
sinalizam um problema no exercício da autoridade e exigem intervenções decisivas e adequadas.

Questões a serem abordadas

e) O magistério da Igreja desenvolveu um amplo ensinamento sobre a importância dos dons hierárquicos e dos
dons carismáticos na vida e na missão da Igreja, o que requer uma melhor compreensão da consciência eclesial e
da própria reflexão teológica. É portanto necessário questionar o significado eclesiológico e as implicações
pastorais concretas desta aquisição.

f) A variedade de expressões carismáticas dentro da Igreja sublinha o compromisso do povo fiel de Deus em viver a profecia
da proximidade aos últimos e em iluminar a cultura com uma experiência mais profunda das realidades espirituais. É
necessário aprofundar como a vida consagrada, as associações laicais, os movimentos eclesiais e as novas comunidades
podem colocar os seus carismas ao serviço da comunhão e da missão nas Igrejas locais, contribuindo para o progresso
rumo à santidade graças a uma presença profética.

Propostas

g) Acreditamos que é chegado o momento de uma revisão dos “critérios diretivos sobre as relações entre Bispos e
Religiosos na Igreja” propostos no documentoRelações mútuasde 1978. Propomos que esta revisão seja conduzida
em estilo sinodal, incluindo todos os envolvidos.

h) Para o mesmo fim, as Conferências Episcopais e as Conferências dos Superiores e Superiores Maiores dos Institutos de Vida
Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica ativam locais e instrumentos adequados para promover encontros e formas
de colaboração em espírito sinodal.

i) Tanto a nível de Igrejas locais individuais como de agrupamentos de Igrejas, a promoção da sinodalidade missionária
requer a instituição e uma configuração mais precisa de Consultas e Conselhos nos quais convirjam representantes de
associações leigas, movimentos eclesiais e novas comunidades para promover relações orgânicas entre estas realidades e
a vida das Igrejas locais.

j) Nos cursos de formação teológica a todos os níveis, especialmente na formação de ministros ordenados, a atenção
dada à dimensão carismática da Igreja deve ser verificada e, quando necessário, deve ser reforçada.

11. Diáconos e sacerdotes numa Igreja sinodal

Convergências

a) Os sacerdotes são os principais cooperadores do Bispo e formam com ele um único presbitério (cf. LG 28); os diáconos,
ordenados para o ministério, servem o Povo de Deus na diaconia da Palavra, da liturgia, mas sobretudo da caridade (cf. LG
29). A Assembleia Sinodal exprime-lhes, em primeiro lugar, uma profunda gratidão. Consciente de que podem
experimentar a solidão e o isolamento, recomenda às comunidades cristãs que os apoiem com a oração, a amizade e a
colaboração.
22
b) Os diáconos e os sacerdotes estão empenhados nas mais diversas formas de ministério pastoral: serviço nas paróquias,
evangelização, proximidade com os pobres e marginalizados, compromisso com o mundo da cultura e da educação, missão
ad gentes, a investigação teológica, a animação de centros de espiritualidade e muitos outros. Numa Igreja sinodal, os
ministros ordenados são chamados a viver o seu serviço ao Povo de Deus numa atitude de proximidade às pessoas, de
acolhimento e de escuta de todos e a cultivar uma profunda espiritualidade pessoal e uma vida de oração. Acima de tudo,
são chamados a repensar o exercício da autoridade segundo o modelo de Jesus que, “apesar de estar na condição de Deus,
[...] esvaziou-se, assumindo a condição de servo” (Fil2, 6-7). A Assembleia reconhece que muitos sacerdotes e diáconos
tornam visível com a sua dedicação o rosto de Cristo Bom Pastor e Servo.

c) Um obstáculo ao ministério e à missão é o clericalismo. Surge da incompreensão da vocação divina, que leva a
concebê-la mais como um privilégio do que como um serviço, e manifesta-se num estilo mundano de poder que se
recusa a prestar contas. Esta deformação do sacerdócio deve ser combatida desde as primeiras fases da formação,
graças ao contacto vivo com a vida quotidiana do Povo de Deus e a uma experiência concreta de serviço aos mais
necessitados. O ministério do presbítero não pode ser imaginado hoje senão em relação ao Bispo, no presbitério,
em profunda comunhão com outros ministérios e carismas. Infelizmente, o clericalismo é uma atitude que pode
manifestar-se não só nos ministros, mas também nos leigos.

d) A consciência das próprias capacidades e limites é uma exigência para se engajar no ministério ordenado com estilo
de corresponsabilidade. Por isso, a formação humana deve garantir um caminho de autoconhecimento realista,
integrado com o crescimento cultural, espiritual e apostólico. Neste caminho não deve ser subestimada a contribuição da
família de origem e da comunidade cristã, no seio da qual o jovem desenvolveu a sua vocação, e de outras famílias que
acompanham o seu crescimento.

Questões a serem abordadas

e) Na perspectiva da formação de todos os baptizados para uma Igreja sinodal, a dos diáconos e dos presbíteros
requer uma atenção particular. O pedido de que seminários ou outros cursos de formação para candidatos ao
ministério estejam ligados à vida quotidiana das comunidades tem sido amplamente expresso. É necessário evitar
os riscos do formalismo e da ideologia que levam a atitudes autoritárias e impedem o verdadeiro crescimento
vocacional. Repensar estilos e percursos de formação requer extensa revisão e comparação.

f) Diferentes avaliações foram expressas sobre o celibato dos sacerdotes. Todos apreciam o seu valor cheio de profecia e
de testemunho de conformidade com Cristo; alguns perguntam se a sua conveniência teológica com o ministério
presbiteral deve necessariamente traduzir-se numa obrigação disciplinar na Igreja latina, especialmente onde os contextos
eclesiais e culturais o tornam mais difícil. Este não é um tema novo, que requer uma reflexão mais aprofundada.

Propostas

g) Nas Igrejas Latinas o diaconado permanente foi implementado de diferentes maneiras em vários contextos eclesiais. Algumas
Igrejas locais nem sequer a introduziram; noutros, existe o receio de que os diáconos sejam vistos como uma espécie de
remédio para a escassez de sacerdotes. Às vezes, a sua ministerialidade é expressa na liturgia e não no serviço aos pobres e
necessitados da comunidade. Recomenda-se, portanto, realizar uma avaliação da implementação do ministério diaconal após o
Concílio Vaticano II.

h) Do ponto de vista teológico, surge a necessidade de compreender o diaconado antes de tudo em si mesmo, e não apenas
como etapa de acesso ao sacerdócio. O próprio uso linguístico de qualificar a forma primária do diaconado como “permanente”,
para distingui-la da forma “transitória”, é o indicador de uma mudança de perspectiva ainda não alcançada de forma adequada.

i) As incertezas que cercam a teologia do ministério diaconal também se devem ao fato de que na Igreja
latina ele só foi reinstaurado como nível próprio e permanente da hierarquia a partir do Concílio
23
Vaticano II. Uma reflexão mais aprofundada sobre isto também lançará luz sobre a questão do acesso das
mulheres ao diaconado.

j) É necessária uma verificação aprofundada da formação para o ministério ordenado à luz da perspectiva da
Igreja sinodal missionária. Isto envolve rever oRazão fundamentalque determina seu perfil. Ao mesmo tempo,
recomendamos cuidar da formação permanente dos sacerdotes e dos diáconos em sentido sinodal.

k) A dimensão da transparência e a cultura da informação representam um elemento de importância crucial para


prosseguir na construção de uma Igreja sinodal. Pedimos às Igrejas locais que identifiquem processos e estruturas que
permitam a verificação regular das formas como os sacerdotes e diáconos que desempenham funções de responsabilidade
exercem o ministério. As instituições já existentes, como organismos participativos ou visitas pastorais, podem constituir o
ponto de partida para este trabalho, garantindo o envolvimento comunitário. Em qualquer caso, estes formulários deverão
ser adaptados aos contextos locais e às diferentes culturas, para não constituirem um obstáculo ou um fardo burocrático.
Por esta razão, o contexto regional ou continental poderia ser o mais adequado para o seu discernimento.

l) Considerar, avaliando caso a caso e dependendo dos contextos, a oportunidade de incluir sacerdotes que
deixaram o ministério num serviço pastoral que valorize a sua formação e experiência.

12. O Bispo em comunhão eclesial

Convergências

a) Na perspectiva do Concílio Vaticano II, os Bispos, como sucessores dos Apóstolos, são colocados ao serviço da comunhão
que se realiza na Igreja local, entre as Igrejas e com a Igreja no seu conjunto. A figura do Bispo pode, portanto, ser
adequadamente compreendida no entrelaçamento de relações com a porção do Povo de Deus que lhe foi confiada, com o
presbitério e com os diáconos, com as pessoas consagradas, com os outros Bispos e com o Bispo de Roma, numa
perspectiva sempre orientada para a missão.

b) O Bispo é, na sua Igreja, o principal responsável pelo anúncio do Evangelho e pela liturgia. Ele orienta a comunidade
cristã e promove o cuidado dos pobres e a defesa dos últimos. Como princípio visível de unidade, tem em particular a
tarefa de discernir e coordenar os diferentes carismas e ministérios suscitados pelo Espírito para o anúncio do Evangelho
e o bem comum da comunidade. Este ministério realiza-se de forma sinodal quando o governo se exerce na
corresponsabilidade, na pregação pela escuta do povo fiel de Deus, na santificação e na celebração litúrgica pela
humildade e pela conversão.

c) O Bispo tem um papel insubstituível no início e na animação do processo sinodal na Igreja local, promovendo a
circularidade entre “todos, alguns e um”. O ministério episcopal (aquele) potencia a participação de “todos” os fiéis, graças
ao contributo de “alguns” mais directamente envolvidos nos processos de discernimento e de tomada de decisão (órgãos
de participação e de governação). A convicção com que o Bispo assume a perspectiva sinodal e o estilo com que exerce a
autoridade influenciam decisivamente a participação de sacerdotes e diáconos, leigos e leigas, consagrados e
consagradas. Para todos, o Bispo é chamado a ser exemplo de sinodalidade.

d) Nos contextos em que a Igreja é percebida como família de Deus, o Bispo é considerado o pai de todos; nas
sociedades secularizadas, porém, vive-se uma crise da sua autoridade. É importante não perder a referência à
natureza sacramental do episcopado, para não assimilar a figura do Bispo a uma autoridade civil.

e) As expectativas do Bispo são muitas vezes muito elevadas e muitos Bispos queixam-se de uma sobrecarga de
compromissos administrativos e jurídicos, o que dificulta o pleno desempenho da sua missão. Até o Bispo tem que lidar
com as suas próprias fragilidades e limites e nem sempre encontra apoio humano e espiritual. A dolorosa experiência de
uma certa solidão não é incomum. Por isso é importante, por um lado, voltar a colocar no centro das atenções os aspectos
essenciais da missão do Bispo e, por outro, cultivar a autêntica fraternidade entre
24
Bispos e com o presbitério.

Questões a serem abordadas

f) No plano teológico, o significado do vínculo de reciprocidade entre o Bispo e a Igreja local precisa ser mais
aprofundado. Ele é chamado a guiá-la e, ao mesmo tempo, a reconhecer e salvaguardar a riqueza da sua história,
da sua tradição e dos carismas nela presentes.

g) A questão da relação entre o sacramento da Ordem e a jurisdição deve ser explorada em profundidade, à luz do
magistério conciliar deLumen gentiume ensinamentos mais recentes, como a Constituição ApostólicaPraedicado
Evangelium, para especificar os critérios teológicos e canónicos que fundamentam o princípio da partilha das
responsabilidades do Bispo e determinar o alcance, as formas e as implicações da corresponsabilidade.

h) Alguns Bispos manifestam desconforto quando são convidados a intervir em questões de fé e de moral sobre as
quais não há pleno acordo no episcopado. É necessário refletir mais sobre a relação entre a colegialidade episcopal
e a diversidade de visões teológicas e pastorais.

i) Uma cultura de transparência e respeito pelos procedimentos estabelecidos para a protecção dos menores e das
pessoas vulneráveis são parte integrante de uma Igreja sinodal. é necessário desenvolver ainda mais estruturas
dedicadas à prevenção de abusos. A delicada questão da gestão dos abusos coloca muitos Bispos em dificuldade em
conciliar o papel de pai e o de juiz. Pedimos-lhe que avalie a oportunidade de confiar a tarefa judicial a outra
instância, a especificar canonicamente.

Propostas

j) São activadas estruturas e processos de verificação regular do trabalho do Bispo, nas formas legalmente
definidas, com referência ao estilo da sua autoridade, à administração económica dos bens da diocese, ao
funcionamento dos órgãos de participação e à protecção contra qualquer tipo de abuso. A cultura da denúncia é
parte integrante de uma Igreja sinodal que promove a corresponsabilidade, bem como uma possível salvaguarda
contra abusos.

k) Solicita-se que o Conselho Episcopal (cân. 473 §4) e o conselho pastoral diocesano ou eparquial (CIC cân. 511,
CCEU cân. 272) sejam obrigatórios e que os órgãos diocesanos sejam mais operacionais, também a nível de lei da
corresponsabilidade.

l) A Assembleia pede para iniciar uma verificação dos critérios de seleção dos candidatos ao episcopado, equilibrando a
autoridade do Núncio Apostólico com a participação da Conferência Episcopal. É também necessário alargar a consulta do
Povo de Deus, escutando um maior número de leigos e leigas, consagrados e consagradas e tendo o cuidado de evitar
pressões inapropriadas.

m) Muitos Bispos expressam a necessidade de repensar o funcionamento e fortalecer a estrutura das Metrópoles
(províncias eclesiásticas) e das Regiões, para que sejam uma expressão concreta da colegialidade num território e áreas
onde os Bispos possam experimentar a fraternidade, o apoio mútuo , transparência e consulta mais ampla.

13. O Bispo de Roma no Colégio dos Bispos

Convergências

a) A dinâmica sinodal também lança uma nova luz sobre o ministério do Bispo de Roma. A sinodalidade, de facto,
articula sinfonicamente as dimensões comunitária ("todas"), colegial ("algumas") e pessoal ("uma") da Igreja a nível
local, regional e universal. Nesta visão, o ministério petrino do Bispo de Roma é intrínseco à dinâmica
25
sinodal, assim como o aspecto comunitário que inclui todo o Povo de Deus e a dimensão colegial do ministério
episcopal. Por esta razão, sinodalidade, colegialidade e primado referem-se entre si: a primazia pressupõe o exercício
da sinodalidade e da colegialidade, assim como ambas implicam o exercício da primazia.

b) A promoção da unidade de todos os cristãos é um aspecto essencial do ministério do Bispo de Roma. O caminho
ecuménico permitiu-nos aprofundar a compreensão do ministério do Sucessor de Pedro e deve continuar a fazê-lo
no futuro. As respostas ao convite dirigido por São João Paulo II na encíclicaUt unum sint, bem como as conclusões
dos diálogos ecuménicos, podem ajudar a compreensão católica do primado, da colegialidade, da sinodalidade e das
suas relações mútuas.

c) A reforma da Cúria Romana é um aspecto importante do caminho sinodal da Igreja Católica. A Constituição Apostólica
Praedicar o Evangelhoinsiste no facto de que «a Cúria Romana não se coloca entre o Papa e os Bispos, mas coloca-se ao
serviço de ambos segundo as modalidades específicas da natureza de cada um» (PE I.8). Promove uma reforma baseada na
“vida de comunhão” (PE I.4) e na “descentralização saudável” (EG 16, citado em PE II.2). O facto de muitos membros dos
Dicastérios Romanos serem Bispos diocesanos exprime a catolicidade da Igreja e deve favorecer a relação entre a Cúria e as
Igrejas locais. A implementação real dePraedicar o Evangelhopoderá promover uma maior sinodalidade dentro da Cúria,
tanto entre os diferentes Dicastérios como dentro de cada um deles.

Questões a serem abordadas

d) Solicita-se uma análise aprofundada sobre a forma como uma compreensão renovada do episcopado dentro de
uma Igreja sinodal impacta o ministério do Bispo de Roma e o papel da Cúria Romana. Esta questão tem
repercussões significativas no modo de viver a corresponsabilidade no governo da Igreja. A nível universal, o
Código de Direito Canônicoe aCódigo dos Cânones das Igrejas Orientaisoferecem disposições para um exercício
mais colegial do ministério papal. Estas poderiam ser desenvolvidas na prática e reforçadas numa futura atualização
de ambos os textos.

e) A sinodalidade pode esclarecer os métodos de colaboração do colégio cardinalício no ministério petrino e as


formas de promover o seu discernimento colegial nos consistórios ordinários e extraordinários.

f) É importante para o bem da Igreja estudar as formas mais adequadas de promover o conhecimento mútuo e os laços de
comunhão entre os membros do Colégio Cardinalício, tendo também em conta a sua diversidade de origem e cultura.

Propostas

g) VisitasApostolorum ad liminaconstituem o momento mais elevado das relações dos Pastores das Igrejas locais com o Bispo de
Roma e com os seus colaboradores mais próximos na Cúria Romana. A forma como são realizadas deve ser revista para torná-las
cada vez mais oportunidades de um intercâmbio aberto e recíproco que favoreça a comunhão e um verdadeiro exercício de
colegialidade e sinodalidade.

h) À luz da configuração sinodal da Igreja, é necessário que os Dicastérios da Cúria Romana potenciem a
consulta dos Bispos, para uma maior atenção à diversidade das situações e uma escuta mais atenta à voz das
Igrejas locais.

i) Parece oportuno prever formas de avaliação do trabalho dos Representantes Pontifícios pelas Igrejas
locais dos países onde desempenham a sua missão, a fim de facilitar e aperfeiçoar o seu serviço.

j) Propõe-se valorizar e fortalecer a experiência do Conselho dos Cardeais (C-9) como conselho sinodal ao serviço
do ministério petrino.

k) À luz do ensinamento do Concílio Vaticano II, é necessário examinar cuidadosamente se é apropriado ordenar
26
os prelados dos Bispos da Cúria Romana.

PARTE III – CRIANDO LAÇOS, CONSTRUINDO COMUNIDADES

14. Uma abordagem sinodal da formação

Convergências

a) Cuidar da própria educação é a resposta que cada batizado é chamado a dar aos dons do Senhor, para fazer
frutificar os talentos recebidos e colocá-los ao serviço de todos. O tempo que o Senhor dedicou à formação dos
seus discípulos revela a importância desta ação eclesial, muitas vezes discreta, mas decisiva para a missão.
Gostaríamos de expressar uma palavra de agradecimento e de encorajamento a todos aqueles que estão
envolvidos neste âmbito e os convidamos a compreender os novos elementos que emergem do caminho sinodal
da Igreja.

b) A forma como Jesus formou os discípulos constitui o modelo a que nos referimos. Ele não se limitou a transmitir alguns
ensinamentos, mas compartilhou com eles sua vida. Com a sua oração levantou a questão: “Ensina-nos a rezar”;
alimentando as multidões, ele ensinou a não despedir os necessitados; caminhando em direção a Jerusalém, indicou o
caminho da Cruz. Do Evangelho aprendemos que a formação não é apenas ou principalmente uma valorização das
próprias capacidades: é uma conversão à lógica do Reino que pode tornar fecundas até as derrotas e os fracassos.

c) O Povo Santo de Deus não é apenas um objeto, mas é antes de tudo um sujeito corresponsável pela formação. A
primeira formação, de fato, acontece na família. É ali que muitas vezes recebemos o primeiro anúncio da fé, na
língua – ou melhor, no dialeto – dos nossos pais e avós. A contribuição de quem exerce um ministério na Igreja deve,
portanto, entrelaçar-se com a sabedoria dos simples, numa aliança educativa indispensável à comunidade. Este é o
primeiro sinal de uma formação entendida em sentido sinodal

d) Na iniciação cristã encontramos as principais diretrizes dos cursos de formação. No centro do treinamento está o
estudo aprofundado dequerigma, isto é, o encontro com Jesus Cristo que nos oferece o dom de uma vida nova. A lógica
catecumenal recorda-nos que todos somos pecadores chamados à santidade. Por isso empenhamo-nos nos caminhos
de conversão que o sacramento da Reconciliação leva a cabo e alimentamos o desejo de santidade, apoiados por um
grande número de testemunhas.

e) São muitos os âmbitos em que se realiza a formação do Povo de Deus. Além da formação teológica, foi
mencionada aquela relativa a uma série de competências específicas: exercício da corresponsabilidade, escuta,
discernimento, diálogo ecumênico e inter-religioso, serviço aos pobres e cuidado da casa comum, compromisso
como “missionários digitais”, facilitação de processos de discernimento e conversação no Espírito, construção de
consenso e resolução de conflitos. Deve ser dada especial atenção à formação catequética das crianças e dos jovens,
que deve envolver a participação activa da comunidade.

f) A formação para uma Igreja sinodal exige ser realizada de forma sinodal: todo o Povo de Deus se forma junto
enquanto caminha juntos. Precisamos superar a mentalidade de delegação que se encontra em muitas áreas
da pastoral. A formação sinodal tem por objetivo permitir ao Povo de Deus viver plenamente a sua vocação
batismal, na família, no trabalho, no âmbito eclesial, social e intelectual, e tornar cada um capaz de participar
ativamente na missão do Igreja segundo os próprios carismas e a própria vocação.

Questões a serem abordadas

g) Recomendamos aprofundar o tema da educação afetiva e sexual, para acompanhar os jovens no seu caminho de
crescimento e apoiar o amadurecimento emocional daqueles que são chamados ao celibato e à castidade
consagrada. A formação nestas áreas é uma ajuda necessária. em todas as estações da vida.
27
h) É importante aprofundar o diálogo entre as ciências humanas, especialmente a psicologia, e a teologia, para uma compreensão
da experiência humana que não se limite a justapor as suas contribuições, mas que as integre numa síntese mais madura.

i) O Povo de Deus deve estar amplamente representado na formação dos ministros ordenados, como já solicitado pelos
Sínodos anteriores. É necessária uma ampla revisão dos programas de formação, com especial atenção à forma de
aumentar a contribuição das mulheres e das famílias.

j) As Conferências Episcopais são encorajadas a trabalhar a nível regional para criar conjuntamente uma cultura de aprendizagem
contínua, utilizando todos os recursos disponíveis, incluindo o desenvolvimento de opções digitais.

Propostas

k) À luz da sinodalidade, propomos favorecer, na medida do possível, propostas de formação conjunta dirigidas a todo o Povo de
Deus (leigos, pessoas consagradas e ministros ordenados). Cabe às dioceses incentivar estes projetos a nível local. Encorajamos as
Conferências Episcopais a trabalharem em conjunto a nível regional para criarem conjuntamente uma cultura de aprendizagem
contínua, utilizando todos os recursos disponíveis, incluindo o desenvolvimento de opções digitais.

l) As diferentes componentes do Povo de Deus estão representadas nos cursos de formação para o ministério
ordenado, como já exigido pelos Sínodos anteriores. De particular importância é o envolvimento de figuras
femininas.

m) São necessários processos de seleção adequados para candidatos ao ministério ordenado e os requisitos relativos aos programas
preparatórios são respeitados.

n) A formação dos ministros ordenados deve ser pensada em coerência com uma Igreja sinodal, em diferentes contextos.
Isto exige que os candidatos ao ministério, antes de empreenderem viagens específicas, tenham adquirido uma
experiência real, ainda que inicial, de comunidade cristã. O processo formativo não deve criar um ambiente artificial,
separado da vida comum dos fiéis. Salvaguardando as necessidades da formação ministerial, promoverá um autêntico
espírito de serviço ao Povo de Deus na pregação, na celebração dos sacramentos e na promoção da caridade. Isto pode
exigir uma revisãoRazão Fundamentalispara sacerdotes e diáconos permanentes.

o) Tendo em vista a próxima Sessão da Assembleia, propõe-se realizar uma consulta aos responsáveis pela
formação inicial e permanente dos sacerdotes para avaliar a recepção do processo sinodal e propor as mudanças
necessárias para promover o exercício da autoridade num estilo apropriado a uma Igreja sinodal.

15. Discernimento eclesial e questões abertas

Convergências

a) A experiência do diálogo no Espírito foi enriquecedora para todos os que dele participaram. Em particular, foi
apreciado um estilo de comunicação que favorece a liberdade na expressão dos próprios pontos de vista e a escuta
mútua. Isto evita avançar demasiado rapidamente para um debate baseado na reiteração dos próprios argumentos,
que não deixa espaço e tempo para perceber as razões do outro.

b) Esta atitude básica cria um contexto favorável para examinar questões controversas mesmo dentro da
Igreja, como os efeitos antropológicos das tecnologias digitais e da inteligência artificial, a não violência e a
autodefesa, os problemas relativos ao ministério, os temas ligados à corporeidade e sexualidade e outros.
28
c) Para desenvolver um autêntico discernimento eclesial nestes e noutros âmbitos, é necessário integrar, à luz da Palavra
de Deus e do Magistério, uma base informativa mais ampla e uma componente reflexiva mais articulada. Para evitar
refugiar-se no conforto das fórmulas convencionais, é necessário fazer uma comparação com o ponto de vista das ciências
humanas e sociais, da reflexão filosófica e da elaboração teológica.

d) Entre os temas sobre os quais é importante continuar a reflexão, está o da relação entre o amor e a verdade e as
repercussões que tem em muitas questões controversas. Esta relação, antes de ser um desafio, é na verdade uma
graça que habita a revelação cristológica. Na verdade, Jesus cumpriu a promessa que lemos nos salmos: «O amor e
a verdade se encontrarão, a justiça e a paz se beijarão. A verdade brotará da terra e a justiça aparecerá do céu" (Sal
85,11-12).

e) As páginas do Evangelho mostram que Jesus encontra as pessoas na singularidade da sua história e situação. Ele nunca
parte de preconceitos ou rótulos, mas de uma relação autêntica na qual se envolve com tudo de si mesmo, mesmo ao
preço de se expor à incompreensão e à rejeição. Jesus escuta sempre o grito de ajuda dos necessitados, mesmo quando
este permanece inexpressivo; realiza gestos que transmitem amor e restauram a confiança; ele torna possível uma nova
vida com a sua presença: quem o conhece sai transformado. Isto acontece porque a verdade que Jesus traz não é uma
ideia, mas a própria presença de Deus entre nós; e o amor com que age não é apenas um sentimento, mas a justiça do
Reino que muda a história.

f) A dificuldade que encontramos em traduzir esta clara visão evangélica em escolhas pastorais é um sinal da nossa
incapacidade de viver à altura do Evangelho e recorda-nos que não podemos apoiar aqueles que precisam de
ajuda, exceto através da nossa conversão pessoal e comunitária. Se usarmos a doutrina de forma severa e com
atitude de julgamento, traímos o Evangelho; se praticamos a misericórdia barata, não transmitimos o amor de
Deus. A unidade da verdade e do amor implica assumir as dificuldades dos outros até torná-las nossas, como
acontece entre verdadeiros irmãos e irmãs. Por isso, esta unidade só pode ser alcançada seguindo pacientemente o
caminho do acompanhamento.

g) Algumas questões, como as relativas à identidade de género e orientação sexual, ao fim da vida, às situações
conjugais difíceis, aos problemas éticos ligados à inteligência artificial, são controversas não só na sociedade, mas
também na Igreja, porque colocam novas questões . Às vezes, as categorias antropológicas que desenvolvemos não
são suficientes para captar a complexidade dos elementos que emergem da experiência ou do conhecimento
científico e requerem refinamento e estudo mais aprofundado. É importante dedicar o tempo necessário a esta
reflexão e investir nela as melhores energias, sem ceder a julgamentos simplificadores que prejudicam as pessoas e
o Corpo da Igreja. Muitas indicações já são oferecidas pelo magistério e esperam ser traduzidas em iniciativas
pastorais adequadas. Mesmo onde são necessários esclarecimentos adicionais, o comportamento de Jesus,
assimilado na oração e na conversão do coração, indica-nos o caminho a seguir.

Questões a serem abordadas

h) Reconhecemos a necessidade de continuar a reflexão eclesial sobre o entrelaçamento original de amor e de verdade
testemunhado por Jesus, com vista a uma prática eclesial que honre a sua inspiração.

i) Encorajamos os especialistas nos vários campos do conhecimento a desenvolverem uma sabedoria espiritual que permita
que a sua experiência especializada se torne um verdadeiro serviço eclesial. A sinodalidade neste âmbito exprime-se como
vontade de pensar juntos ao serviço da missão, na diversidade de abordagens, mas na harmonia de intenções.

j) É necessário identificar as condições que tornam possível uma investigação teológica e cultural que possa partir da
experiência quotidiana do Povo Santo de Deus e colocar-se ao seu serviço.

Propostas

k) Propomos promover iniciativas que permitam o discernimento partilhado sobre questões doutrinárias,
29
práticas pastorais e éticas controversas, à luz da Palavra de Deus, do ensinamento da Igreja, da reflexão teológica e
da valorização da experiência sinodal. Isto pode ser conseguido através de análises aprofundadas entre especialistas
de diferentes competências e formações num contexto institucional que proteja a confidencialidade do debate e
promova a discussão franca, dando espaço, quando apropriado, também à voz das pessoas diretamente afetadas
pelas controvérsias. mencionado. Este processo deve ser iniciado tendo em vista a próxima Sessão Sinodal.

16. Por uma Igreja que escuta e acompanha

Convergências

a) Escuta é o termo que melhor expressa a experiência mais intensa que caracterizou os dois primeiros anos do
processo sinodal e também o trabalho da Assembleia. Fá-lo no duplo sentido da escuta dada e recebida, da
escuta e da escuta. A escuta é um valor profundamente humano, um dinamismo de reciprocidade, no qual se
oferece uma contribuição ao caminho dos outros e se recebe para si.

b) Ser convidado a falar e a ser ouvido na Igreja e pela Igreja foi uma experiência intensa e inesperada
para muitos dos que participaram no processo sinodal a nível local, especialmente entre aqueles que
sofrem formas de marginalização na sociedade e também na comunidade cristã. Ser ouvido é uma
experiência de afirmação e reconhecimento da própria dignidade: é uma ferramenta poderosa para ativar
os recursos da pessoa e da comunidade.

c) Colocar Jesus Cristo no centro da nossa vida exige um certo auto-sacrifício. Nessa perspectiva, ouvir exige
disposição para descentralizar para dar espaço ao outro. Experimentamos isso na dinâmica da conversa no
Espírito. É um exercício ascético exigente, que obriga cada um a reconhecer os próprios limites e a
parcialidade do seu ponto de vista. Por isso abre a possibilidade de escutar a voz do Espírito de Deus que fala
também para além dos limites da pertença eclesial e pode pôr em marcha um caminho de mudança e de
conversão.

d) A escuta tem um valor cristológico: significa assumir a atitude de Jesus para com as pessoas que encontrou
(verFil2, 6-11); tem também um valor eclesial, pois é a Igreja que escuta, através do trabalho de alguns
batizados que não agem em nome próprio, mas da comunidade.

e) Ao longo do processo sinodal, a Igreja encontrou muitas pessoas e muitos grupos que pedem para ser ouvidos e
acompanhados. Em primeiro lugar, mencionamos os jovens, cuja exigência de escuta e acompanhamento ressoou
fortemente no Sínodo que lhes foi dedicado (2018) e nesta Assembleia, o que confirma a necessidade de uma opção
preferencial pelos jovens.

f) A Igreja deve ouvir com particular atenção e sensibilidade as vozes das vítimas e sobreviventes de abusos
sexuais, espirituais, económicos, institucionais, de poder e de consciência por parte de membros do clero ou de
pessoas com cargos eclesiais. A escuta autêntica é um elemento fundamental do caminho para a cura, o
arrependimento, a justiça e a reconciliação.

g) A Assembleia manifesta a sua proximidade e apoio a todos aqueles que vivem uma condição de solidão como
opção de fidelidade à tradição e ao magistério da Igreja em matéria de matrimónio e de ética sexual, nos quais
reconhecem uma fonte de vida. As comunidades cristãs são convidadas a estar particularmente próximas deles,
ouvindo-os e acompanhando-os no seu compromisso.

h) De diferentes maneiras, as pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja, devido à sua situação conjugal,
identidade e sexualidade, também pedem para serem ouvidas e acompanhadas, e que a sua dignidade seja defendida. Na
Assembleia houve um profundo sentimento de amor, misericórdia e compaixão pelas pessoas que são ou se sentem
feridas ou negligenciadas pela Igreja, que querem um lugar para voltar a “casa” e onde se sintam seguros, para serem
ouvidos e respeitados, sem medo de se sentir julgado. Ouvir é um
30
pré-requisito para caminharmos juntos em busca da vontade de Deus. A Assembleia reafirma que os cristãos não
podem faltar ao respeito pela dignidade de qualquer pessoa.

i) As pessoas que sofrem diversas formas de pobreza, exclusão e marginalização em sociedades onde a desigualdade
cresce inexoravelmente também recorrem à Igreja em busca de escuta e acompanhamento. Escutá-los permite à
Igreja compreender o seu ponto de vista e colocar-se concretamente ao seu lado, mas sobretudo deixar-se
evangelizar por eles. Agradecemos e encorajamos aqueles que estão empenhados no serviço de escuta e
acompanhamento daqueles que estão presos e que particularmente precisam de experimentar o amor
misericordioso do Senhor e não se sentirem isolados da comunidade. Em nome da Igreja cumprem as palavras do
Senhor “Eu estava na prisão e você veio me visitar” (Monte25,36).

j) Muitas pessoas vivenciam uma condição de solidão que muitas vezes está próxima do abandono. Os idosos e os doentes
são muitas vezes invisíveis na sociedade. Encorajamos as paróquias e as comunidades cristãs a estarem próximas deles e a
ouvi-los. As obras de misericórdia inspiradas nas palavras evangélicas "Estava [...] doente e vocês me visitaram" (Monte
25.39), têm um significado profundo para as pessoas envolvidas e também para a promoção de vínculos comunitários.

k) A Igreja quer ouvir todos, não apenas aqueles que sabem fazer ouvir mais facilmente a sua voz. Em algumas regiões,
por razões culturais e sociais, membros de determinados grupos, como jovens, mulheres e minorias. eles podem achar
mais difícil se expressar livremente. A experiência de viver em regimes opressivos e ditatoriais também corrói a confiança
necessária para falar livremente. O mesmo pode acontecer quando o exercício da autoridade dentro da comunidade
cristã se torna opressivo em vez de libertador.

Questões a serem abordadas

l) Ouvir requer aceitação incondicional. Isto não significa abdicar da clareza na apresentação da mensagem
evangélica de salvação, nem endossar qualquer opinião ou posição. O Senhor Jesus abriu novos horizontes a
quem ouviu sem condições e somos chamados a fazer o mesmo para partilhar a Boa Nova com aqueles que
encontramos.

m) Difundidas em muitas partes do mundo, as comunidades de base ou pequenas comunidades cristãs incentivam práticas de
escuta entre e entre os batizados. Somos chamados a valorizar o seu potencial, explorando também como é possível adaptá-los
aos contextos urbanos.

Propostas

n) O que devemos mudar para que aqueles que se sentem excluídos possam experimentar uma Igreja mais
acolhedora? A escuta e o acompanhamento não são apenas iniciativas individuais, mas uma forma de ação
eclesial. Por isso devem encontrar lugar na programação pastoral ordinária e na estruturação operacional das
comunidades cristãs nos diversos níveis, valorizando também o acompanhamento espiritual. Uma Igreja sinodal
não pode renunciar a ser uma Igreja que escuta e este compromisso deve traduzir-se em ações concretas.

o) A Igreja não começa do zero, mas já conta com numerosas instituições e estruturas que realizam esta preciosa tarefa.
Pensemos, por exemplo, no amplo trabalho de escuta e acompanhamento dos pobres, marginalizados, migrantes e
refugiados realizado pela Caritas e por muitas outras entidades ligadas à vida consagrada ou associações de leigos.
Precisamos trabalhar para fortalecer a sua ligação com a vida comunitária, evitando que sejam percebidas como atividades
delegadas a alguns.

p) As pessoas que realizam o serviço de escuta e acompanhamento, nas suas diversas modalidades, necessitam de
uma formação adequada, também em função do tipo de pessoas com quem entram em contacto, e de se sentirem
apoiadas pela comunidade. Por sua vez, as comunidades precisam de ter plena consciência do valor de um serviço
prestado em seu nome e de poder colher os frutos desta escuta. Com o propósito de dar
31
Com maior ênfase neste serviço, propomos a criação de um ministério de escuta e acompanhamento
baseado no Batismo, adaptado aos diferentes contextos. Os métodos da sua prestação promoverão um
maior envolvimento da comunidade.

q) O SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar) é encorajado a promover o


discernimento teológico e pastoral sobre o tema da poligamia e sobre o acompanhamento de pessoas em uniões
poligâmicas que se aproximam da fé.

17. Missionários no ambiente digital

Convergências

a) A cultura digital representa uma mudança fundamental na forma como concebemos a realidade e nos relacionamos
connosco próprios, com os outros, com o ambiente que nos rodeia e até com Deus. O ambiente digital modifica os nossos
processos de aprendizagem, a percepção do tempo, do espaço, do corpo , relações interpessoais e toda a nossa forma de
pensar. O dualismo entre real e virtual não descreve adequadamente a realidade e a experiência de todos nós,
especialmente dos mais jovens, os chamados “nativos digitais”.

b) A cultura digital, portanto, não é tanto uma área distinta de missão, mas uma dimensão crucial do
testemunho da Igreja na cultura contemporânea. Por isso tem um significado particular numa Igreja
sinodal.

c) Os missionários sempre caminharam com Cristo rumo a novas fronteiras, precedidos e impulsionados pela ação do
Espírito. Hoje é a nossa vez de alcançar a cultura atual em todos os espaços onde as pessoas buscam sentido e amor,
incluindo seus celulares e tablets.

d) Não podemos evangelizar a cultura digital sem primeiro compreendê-la. Os jovens, e entre eles os seminaristas,
os jovens sacerdotes e os jovens consagrados e consagradas, que muitas vezes têm uma profunda experiência
direta, são os mais adequados para levar adiante a missão da Igreja no ambiente digital, bem como para
acompanhar os demais. da comunidade, incluindo os pastores, para uma maior familiaridade com a sua dinâmica.

e) No âmbito do processo sinodal, as iniciativas do Sínodo digital (Projeto “A Igreja te escuta”) mostram o potencial
do ambiente digital em chave missionária, a criatividade e a generosidade de quem está comprometido com ele e a
importância de oferecer-lhes formação, apoio, possibilidade de discussão entre pares e colaboração.

Questões a serem abordadas

f) A Internet está cada vez mais presente na vida das crianças e das famílias. Embora tenha um grande potencial para melhorar as
nossas vidas, também pode causar danos e mágoas, por exemplo através de intimidação, desinformação, exploração sexual e
dependência. Há uma necessidade urgente de refletir sobre como a comunidade cristã pode apoiar as famílias para garantir que
o espaço online não seja apenas seguro, mas também espiritualmente vivificante.

g) Existem muitas iniciativas online relacionadas com a Igreja de grande valor e utilidade, proporcionando uma excelente
catequese e formação na fé. Infelizmente também existem sites onde assuntos relacionados à fé são abordados de forma
superficial, polarizada e até odiosa. Como Igreja e como missionários digitais individuais, temos o dever de nos
perguntarmos como garantir que a nossa presença online seja uma experiência de crescimento para aqueles com quem
comunicamos.

h) As iniciativas apostólicas online têm um âmbito e alcance de acção que se estendem para além das fronteiras territoriais
tradicionalmente compreendidas. Isto levanta questões importantes sobre como podem ser regulamentadas e qual autoridade
eclesiástica é responsável pela supervisão.
32
i) Devemos também considerar as implicações da nova fronteira missionária digital para a renovação das
estruturas paroquiais e diocesanas existentes. Num mundo cada vez mais digital, como evitar ficar prisioneiros
da lógica da conservação e libertar energia para novas formas de exercício da missão?

j) A pandemia da COVID-19 estimulou a criatividade pastoral online, ajudando a reduzir os efeitos da experiência
de isolamento e solidão vivida em particular pelos idosos e membros vulneráveis das comunidades. As
instituições educativas católicas também utilizaram eficazmente as plataformas online para continuar a oferecer
formação e catequese durante os confinamentos. É bom avaliarmos o que esta experiência nos ensinou e quais
podem ser os benefícios duradouros para a missão da Igreja no ambiente digital.

k) Muitos jovens, que também procuram a beleza, abandonaram os espaços físicos da Igreja onde tentamos convidá-
los em favor de espaços online. Isto implica encontrar novas formas de envolvê-los e oferecer-lhes formação e
catequese. Este é um tema para refletir pastoralmente.

Propostas

l) Propomos que as Igrejas ofereçam reconhecimento, formação e acompanhamento aos missionários digitais já
atuantes, facilitando também os encontros entre eles.

m) É importante criar redes colaborativas de influenciadores que incluam pessoas de outras religiões ou que não
professem nenhuma fé, mas colaborem em causas comuns para a promoção da dignidade da pessoa humana, da justiça
e do cuidado da casa comum.

18. Órgãos participativos

Convergências

a) Como membros fiéis do Povo de Deus, todos os baptizados são corresponsáveis pela missão, cada um segundo a sua
vocação, com a sua experiência e competência; portanto, todos contribuem para imaginar e decidir passos para reformar
as comunidades cristãs e a Igreja como um todo, para que esta experimente “a doce e reconfortante alegria de
evangelizar”. A sinodalidade, na composição e no funcionamento dos organismos em que se concretiza, tem como
finalidade a missão. A co-responsabilidade é pela missão: isto certifica que estamos verdadeiramente reunidos em nome de
Jesus, isto liberta os organismos de participação das involuções burocráticas e das lógicas mundanas de poder, isto torna
fecunda a reunião.

b) À luz do ensino recente (em particularLumen gentiumEEvangelii gaudium), esta corresponsabilidade de todos na
missão deve ser o critério subjacente à estruturação das comunidades cristãs e de toda a Igreja local com todos os
seus serviços, em todas as suas instituições, em cada um dos seus corpos de comunhão (cf.1Cor
12,4-31). O justo reconhecimento da responsabilidade dos leigos pela missão no mundo não pode tornar-se pretexto para
atribuir o cuidado da comunidade cristã apenas aos Bispos e aos sacerdotes.

c) A autoridade por excelência é a da Palavra de Deus, que deve inspirar cada reunião de órgãos de participação,
cada consulta e cada processo de tomada de decisão. Para que isto aconteça é necessário que, a todos os níveis, o
encontro tire sentido e força da Eucaristia e se realize à luz da Palavra ouvida e partilhada na oração.

d) A composição dos vários Conselhos de discernimento e decisão sobre uma comunidade missionária sinodal deve prever
a presença de homens e mulheres que tenham perfil apostólico; que se distinguem antes de tudo não pela frequência
assídua aos espaços eclesiais, mas por um genuíno testemunho evangélico nas realidades mais ordinárias da vida. O Povo
de Deus é tanto mais missionário quanto mais capaz é de fazer ressoar dentro de si a voz daqueles que já vivem a missão
habitando o mundo e as suas periferias, mesmo em organismos participativos.

Questões a serem abordadas


33
e) À luz do que partilhámos, acreditamos que é importante refletir sobre como promover a participação nos vários
Conselhos, especialmente quando os profissionais acreditam que não estão à altura da tarefa. A sinodalidade cresce no
envolvimento de cada membro nos processos de discernimento e decisão para a missão da Igreja: neste sentido somos
edificados e encorajados por muitas pequenas comunidades cristãs nas Igrejas emergentes, que vivem diariamente um
“corpo a corpo” fraterno em torno de a Palavra e a 'Eucaristia,

f) Na composição dos órgãos de participação não podemos adiar ainda mais a tarefa confiada pelo Papa Francisco
emAmoris laetitia. A participação de homens e mulheres que vivem situações emocionais e conjugais complexas
“pode exprimir-se em vários serviços eclesiais: é portanto necessário discernir quais das diferentes formas de
exclusão praticadas atualmente nos âmbitos litúrgico, pastoral, educativo e institucional podem ser superadas” (nº
299) . O discernimento em questão diz respeito também à exclusão dos órgãos de participação da comunidade
paroquial e diocesana, praticada em algumas Igrejas locais.

g) Na perspectiva da originalidade evangélica da comunhão eclesial: como podemos entrelaçar os aspectos


consultivos e deliberativos da sinodalidade? A partir da configuração carismática e ministerial do Povo de
Deus: como integramos as tarefas de aconselhar, discernir e decidir nos vários órgãos de participação?

Propostas

h) Com base na compreensão do Povo de Deus como sujeito ativo da missão evangelizadora, deve ser codificada a
obrigatoriedade dos Conselhos Pastorais nas comunidades cristãs e nas Igrejas locais. Juntos, fortaleçam-se os organismos
de participação, com uma presença adequada de leigos e leigas, com a atribuição de funções de discernimento em vista de
decisões verdadeiramente apostólicas.

i) Os organismos participativos representam a primeira área onde se pode experimentar a dinâmica de responsabilização daqueles que
desempenham tarefas responsáveis. Ao mesmo tempo que os encorajamos no seu compromisso, convidamo-los a praticar a cultura de
responsabilização perante a comunidade da qual são expressão.

19. Agrupamentos de Igrejas na comunhão de toda a Igreja

Convergências

a) Estamos convencidos de que cada Igreja, dentro da comunhão das Igrejas, tem muito a oferecer, porque o Espírito Santo
distribui abundantemente os seus dons para o bem comum. Se olharmos para a Igreja como Corpo de Cristo,
compreendemos mais facilmente que os vários membros são interdependentes e partilham a mesma vida: «se um membro
sofre, todos os membros sofrem juntos; e se um membro for homenageado, todos os membros se alegrarão com ele" (
1Cor12.26). Queremos, portanto, desenvolver as atitudes espirituais que nascem deste olhar: humildade e generosidade,
respeito e partilha. Também são importantes a vontade de crescer no conhecimento mútuo e de preparar as estruturas
necessárias para que o intercâmbio de riquezas espirituais, de discípulos missionários e de bens materiais se torne uma
realidade concreta.

b) O tema dos agrupamentos de Igrejas locais revelou-se fundamental para o pleno exercício da sinodalidade na
Igreja. Ao responder à questão de como configurar as instâncias de sinodalidade e colegialidade envolvendo
agrupamentos de Igrejas locais, a Assembleia concordou com a importância do discernimento eclesial realizado
pelas Conferências Episcopais e pelas Assembleias continentais para a correta realização da primeira fase do
processo sinodal.

c) O processo sinodal mostrou como os órgãos previstos peloCódigo de Direito Canônicoe deCódigo de Cânones
para as Igrejas Orientaiscumprem melhor a sua função quando são compreendidos a partir das Igrejas locais. O
fato de a Igreja (Ecclesia total) é uma comunhão de Igrejas, exige que cada Bispo perceba e experimente a
preocupação por todas as Igrejas (sollicitudo omnium Ecclesiarum) como aspecto constitutivo do seu ministério de
pastor de uma Igreja.
34
d) A primeira fase do processo sinodal destacou o papel decisivo das Conferências Episcopais e destacou a
necessidade de uma instância de sinodalidade e colegialidade a nível continental. Os órgãos que operam nestes
níveis contribuem para o exercício da sinodalidade, respeitando as realidades locais e os processos de inculturação.
A Assembleia manifestou confiança na possibilidade de evitar desta forma o risco de uniformidade e centralismo no
governo da Igreja.

Questões a serem abordadas

e) Antes de criar novas estruturas, sentimos a necessidade de fortalecer e revitalizar as existentes. É necessário
também estudar, a nível eclesiológico e canónico, as implicações de uma reforma das estruturas relativas aos
agrupamentos de Igrejas, para que assumam um carácter mais plenamente sinodal.

f) Olhando para as práticas sinodais da Igreja do primeiro milénio, propõe-se estudar como podem ser
recuperadas instituições antigas na ordem canónica atual, harmonizando-as com outras recém-criadas,
como as Conferências Episcopais.

g) Consideramos necessário aprofundar o estudo da natureza doutrinal e jurídica das Conferências Episcopais,
reconhecendo a possibilidade de atuação colegial também no que diz respeito às questões doutrinais que emergem no
contexto local, reabrindo assim a reflexão sobre o motu proprioSeus Apóstolos.

h) Os cânones referentes aos conselhos particulares (plenários e provinciais) devem ser revistos, para conseguir através deles
uma maior participação do Povo de Deus, seguindo o exemplo da dispensa obtida no caso do recente conselho plenário da
Austrália.

Propostas

i) Entre as estruturas já previstas pelo Código, propomos fortalecer a província ou metrópole eclesiástica, como
lugar de comunhão das Igrejas locais de um território.

j) Com base na informação aprofundada solicitada sobre a configuração dos agrupamentos de Igrejas, o
exercício da sinodalidade é implementado a nível regional, nacional e continental.

k) Sempre que necessário, sugerimos a criação de províncias eclesiásticas internacionais, em benefício dos Bispos que
não pertencem a nenhuma conferência episcopal e para promover a comunhão entre as Igrejas para além das fronteiras
nacionais.

l) Nos países de rito latino em que existe também uma hierarquia das Igrejas Orientais Católicas, os Bispos Orientais estão
incluídos nas Conferências Episcopais nacionais, permanecendo intacta a sua autonomia governamental estabelecida pelo
seu próprio Código.

m) Deve-se desenvolver uma configuração canônica das Assembleias continentais que, respeitando as peculiaridades de
cada continente, leve em devida conta a participação das Conferências Episcopais e das Igrejas, com delegados próprios
que tornem presente a variedade dos fiéis Povo de Deus.

20. Sínodo dos Bispos e Assembleia Eclesial

Convergências

a) Mesmo quando experimentou a dificuldade de “caminhar juntos”, a Assembleia percebeu a alegria


evangélica de ser Povo de Deus.As inovações propostas para este momento do caminho sinodal foram
geralmente acolhidas. As mais óbvias são: a passagem da celebração do Sínodo de evento a processo (como
indica a constituição apostólicaEpiscopalis communio); a presença de outros membros, mulheres e homens,
35
ao lado dos Bispos; a presença ativa dos delegados fraternos; o retiro espiritual de preparação para a
Assembleia; as celebrações da Eucaristia em São Pedro; o clima de oração e o método de conversação no
Espírito; a própria disposição da Assembleia na Sala Paulo VI.

b) A Assembleia do Sínodo dos Bispos, mantendo o seu carácter eminentemente episcopal, demonstrou bem
nesta ocasião a ligação intrínseca entre a dimensão sinodal da vida da Igreja (a participação de todos), a
dimensão colegial (a preocupação dos Bispos para toda a Igreja), a dimensão primacial (o serviço do Bispo de
Roma, garante da comunhão).

c) O processo sinodal foi e é um tempo de graça que nos encorajou. Deus oferece-nos a oportunidade de
experimentar uma nova cultura de sinodalidade, capaz de orientar a vida e a missão da Igreja. Contudo, recordou-
se que não basta criar estruturas de corresponsabilidade se falta a conversão pessoal a uma sinodalidade
missionária. As instâncias sinodais, a todos os níveis, não reduzem a responsabilidade pessoal daqueles que são
chamados a participar, em virtude do seu ministério e dos seus carismas, mas encorajam-na ainda mais.

Questões a serem abordadas

d) Foi apreciada a presença de outros membros, além dos Bispos, como testemunhas do caminho sinodal. No entanto, a
questão permanece em aberto quanto ao impacto da sua presença como membros de pleno direito no carácter episcopal
da Assembleia. Alguns vêem o risco de que a tarefa específica dos Bispos não seja adequadamente compreendida.
Também serão esclarecidos com base em quais critérios os membros não-bispos podem ser chamados a fazer parte da
Assembleia.

e) Foram relatadas experiências como a da Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, das Organizações do Povo
de Deus no Brasil, do Conselho Plenário Australiano. Resta identificar e explorar com maior profundidade como articular
sinodalidade e colegialidade no futuro, distinguindo (sem separação indevida) a contribuição de todos os membros do Povo de
Deus para a tomada de decisões e a tarefa específica dos Bispos. A articulação da sinodalidade, da colegialidade e do primado não
deve ser interpretada de forma estática ou linear, mas segundo uma circularidade dinâmica, numa corresponsabilidade
diferenciada.

f) Se a nível regional for possível pensar em passos subsequentes (uma assembleia eclesial seguida de uma
assembleia episcopal), considera-se oportuno esclarecer como isto pode ser proposto em referência à Igreja
Católica como um todo. Alguns acreditam que a fórmula adoptada nesta Assembleia responde a esta
necessidade, outros propõem seguir uma assembleia eclesial com uma assembleia episcopal para concluir o
discernimento, outros ainda preferem reservar o papel de membros da assembleia sinodal aos Bispos.

g) A forma como especialistas de diferentes disciplinas, em particular teólogos e canonistas, podem dar a sua contribuição para o
trabalho da assembleia sinodal e para os processos de uma Igreja sinodal também necessitará de ser explorada e clarificada.

h) Será também necessário refletir sobre a forma como a Internet e a comunicação mediática afetam os processos
sinodais.

Propostas

i) Garantir uma avaliação dos processos sinodais em todos os níveis da Igreja.

j) São avaliados os frutos da Primeira Sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.

PARA CONTINUAR O CAMINHO

«Com o que podemos comparar o reino de Deus,


36
ou com que parábola podemos descrevê-lo?” (Mc 4.30)

A Palavra do Senhor vem antes de cada palavra da Igreja. As palavras dos discípulos, mesmo as de um
Sínodo, são apenas um eco daquilo que Ele mesmo diz.

Para anunciar o Reino, Jesus escolheu falar por parábolas. Encontrou nas experiências fundamentais da vida do homem -
nos sinais da natureza, nos gestos do trabalho, nos factos da vida quotidiana - as imagens para revelar o mistério de Deus.
Assim disse-nos que o Reino nos transcende, mas é não é estranho para nós. Ou vemos isso nas coisas do mundo ou
nunca o veremos.

Numa semente que cai na terra, Jesus viu representado o seu destino. Aparentemente um nada destinado a
apodrecer, mas habitado por um dinamismo de vida imparável, imprevisível e pascal. Um dinamismo destinado a
dar vida, a tornar-se pão para muitos. Destinado a tornar-se Eucaristia.

Hoje, numa cultura de luta pela supremacia e de obsessão pela visibilidade, a Igreja é chamada a repetir as palavras
de Jesus, a trazê-las de volta à vida com todas as suas forças.

«A que podemos comparar o reino de Deus, ou com que parábola podemos descrevê-lo?». Esta pergunta do Senhor
ilumina o trabalho que agora nos espera. Não se trata de nos dispersarmos em muitas frentes, seguindo uma lógica
eficiente e processual. Trata-se antes de apreender, entre as muitas palavras e propostas deste Relação, o que se
apresenta como uma pequena semente, mas cheia de futuro, e imaginar como entregá-la à terra que a fará amadurecer
para a vida de muitos.

«Como isso acontecerá?», perguntou-se Maria em Nazaré (Lucas1.34) depois de ouvir a Palavra. A resposta é uma
só: permanecer à sombra do Espírito e deixar-se envolver pelo seu poder.

Ao voltarmos o olhar para o tempo que nos separa da Segunda Sessão, agradecemos ao Senhor pelo caminho
percorrido até aqui e pelas graças com que nos abençoou. Confiamos a fase seguinte à intercessão da Bem-
Aventurada Virgem Maria, sinal de certa esperança e consolação no caminho do Povo fiel de Deus e dos Santos
Apóstolos Simão e Judas, cuja festa hoje se celebra.

Adsumus Sancte Spiritus!

Roma, 28 de outubro de 2023, Festa dos SS. Simão e Judas, Apóstolos

[01653-IT.01] [Texto original: italiano]

[B0751-XX.02]

Você também pode gostar