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3 fevereiro 2004
Jean-Luc Moens
Foi a primeira vez que, por iniciativa da Santa Sé, tamanho encontro de responsáveis
leigos foi organizado. Estes três dias, sob a presidência do Cardeal Francis Stafford,
presidente do Conselho Pontifical para os leigos, foram tempo de reflexão, de troca e de
comunhão que marcou profundamente o conjunto de 350 participantes vindos de 56
movimentos leigos.
O Congresso começou pela leitura de uma palavra do Santo Padre que dava
imediatamente o tom: confiança, esperança e ação de graças pela obra do Espírito na
Igreja, missão e comunhão. “Eu desejo, de todo coração, que vosso Congresso e o
encontro de 30 de maio próximo na Praça de São Pedro possam revelar a fecundidade
profunda de vossos movimentos no meio do povo de Deus que está a ponto de passar a
soleira do terceiro milênio da era cristã”, nos assegurou João Paulo II. Depois de ter
afirmado que “os movimentos representam um dos frutos mais significativos desta
primavera da Igreja anunciada pelo Vaticano II”, o Papa continua: “A presença destes
movimentos é encorajadora: ela nos demonstra que esta primavera avança e manifesta
seu frescor de experiência cristã baseada em um encontro pessoal com o Cristo.”
Cada um dos três dias do Congresso foi organizado em torno de uma problemática
particular. O primeiro dia foi consagrado à reflexão teológica sobre o lugar dos movimentos
na Igreja e os frutos que produziram. No segundo dia, diferentes representantes leigos
delinearam as linhas mestras da contribuição dos movimentos à comunidade eclesial:
evangelização, educação, cultura e trabalho, engajamento social, justiça e caridade,
serviço à unidade e ao ecumenismo. O terceiro dia permitiu aos participantes que
quisessem, dar seu testemunho.
A primavera da Igreja
Os novos movimentos que apareceram na paisagem eclesial não eram sem defeito. O
Cardeal lembra que todos eles eram atingidos por uma “doença de nascença”: propensão
ao exclusivismo, visão unilateral, convicção de que a Igreja local deveria elevar-se até o
nível em que estavam… Isto explica porque houve atritos. Mostra também a necessidade
de uma compreensão teológica do papel dos movimentos. Para chegar a isso, o Cardeal
Ratzinger lembrou a história da Igreja e a evolução da compreensão da sucessão
apostólica.
Nos dois primeiros séculos, os sucessores dos apóstolos não estavam propriamente
ligados a um determinado lugar. Eles traziam o cuidado com a missão no mundo inteiro,
como se vê, por exemplo, com São Paulo, que nunca aceitou a responsabilidade de uma
Igreja local, mas que nomeava responsáveis por essas comunidades. A partir do Século II,
sentiu-se a necessidade de dar, às comunidades locais e a seus responsáveis (bispos,
presbíteros, diáconos) a tarefa de propagar a fé na área de suas respectivas Igrejas
particulares. Por outro lado, o ministério de Pedro aparecia, mais e mais, como um
ministério universal, encarregado de preservar o dinamismo da missão.
No dia seguinte, houve uma mesa redonda sobre os movimentos e a missão da Igreja no
alvorecer do terceiro milênio. Brian Smith, membro do ICCRS (Renovação Carismática) e
presidente da Fraternidade das Comunidades, partilhou sua experiência de evangelização.
Giancarlo Cesana, do Comunhão e Libertação, falou sobre o dever de educar, Andrea
Riccardi, da Comunidade de Santo Egídio, testemunhou acerca da necessidade de
engajamento dos movimentos nos campos da justiça e da caridade. Pe. Luís Fernando
Figari, do movimento de Vida Cristã, aplicou-se a desenvolver a necessidade de um
engajamento concreto pela construção de um mundo mais humano. Para terminar,
Gabriella Fallacara abriu as perspectivas ecumênicas de diálogo e de encontro segundo o
carisma próprio dos Focolares. Estes diferentes enfoques foram objeto de partilha entre
todos os participantes durante a tarde.
Em sua conclusão, Dom Rylko, vice presidente do Conselho Pontifical para os Leigos,
afirmava: “Este Congresso não foi a celebração dos movimentos. Ele foi a celebração de
Jesus Cristo que renova a vida da Igreja e do mundo.” Esta foi a impressão de todos os
participantes: “Apreciei muito o fato de perceber a presença de Jesus Cristo, o Corpo
Místico de Cristo nesta assembléia tão diversificada e de fé tão profunda, explica Pe.
Ravanel, dos Foyers da Caridade. É uma experiência de Igreja que raramente se faz: esta
comunhão vivida em profundidade.”
Em sua conclusão, o Cardeal Francis Stafford sublinhou o fato de que este evento
aconteceu durante o ano de preparação ao Grande Jubileu consagrado em particular ao
Espírito Santo. Ele revelou que “nós estamos conscientes do que significa movimento: o
próprio dinamismo da vida do cristão no seguimento a Jesus e em sua relação com a
realidade.” Ele também insistiu sobre a ligação que une comunhão e missão: “Nós vivemos
uma verdadeira comunhão, conscientes de nossa diversidade mas sobretudo do imenso
horizonte missionário que se abre diante de nós.”
O Cardeal Stafford agradeceu, em seguida, ao Papa João Paulo II que não deixa de
encorajar os movimentos leigos. “Em relação ao Santo Padre, explicou-nos ele, nós
aprendemos o que significa o amor apaixonado pela glória de Cristo e pelos homens com
quem nós vivemos. Manifestou-se nele uma síntese entre tarefa institucional e expressão
carismática que nos permitiu melhor compreendermos nossa vocação.”
Depois de ter resumido as grandes linhas do encontro, o Cardeal Stafford insistiu acerca da
abertura aos pobres: “nossa vida é definida pela primeira bem aventurança: ‘Felizes os que
têm alma de pobre’ e que não resistem à obra de Deus em sua vida… O Espírito de
Caridade possa abrir nosso coração a cada homem e nos fazer percorrer juntos o caminho
para a unidade e a caridade.” A importância da abertura dos movimentos e comunidades
aos pobres teve grande significação nestes três dias pela presença de Pascal, um jovem
portador de mongolismo, membro da delegação das Comunidades da Arca.
Segundo Jean Vanier, seu fundador, seria preciso acolher mais os pobres. “Os pobres
resumem todo o mistério da Igreja, confiou-nos ele. É o que diz São Paulo: as partes mais
fracas, as menos apresentáveis são necessárias ao corpo e devem ser honradas. A Igreja
e os movimentos têm sempre que velar para não se deixar levar pela cultura do mundo que
é rapidez, rentabilidade, eficiência, eficácia… É preciso dar sempre a primazia à pessoa.”
Em evento histórico
O Congresso terminou com uma Missa. No Evangelho do dia, Jesus perguntava: “Pedro, tu
me amas?” Questão fundamental que resume o essencial do Congresso. Responder “Sim,
Senhor, Tu saber que eu Te amo” é aceitar engajar-se totalmente, dar a própria vida, dizer
com o próprio Jesus: “Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim!”