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Org. Ângela Rocha

CONCÍLIO VATICANO II - IMPLICAÇÕES PARA A CATEQUESE

INTRODUÇÃO

Há quase 50 anos era encerrado o Concílio Vaticano II, considerado a


maior conferência da Igreja Católica do século 20. Convocado pelo papa
João XXIII, o Concílio queria promover o “aggiornamento”, ou seja, a
atualização da Igreja e comprometê-la na busca da unidade entre os
cristãos por meio do seu engajamento no movimento ecumênico. O
Concílio Vaticano II foi anunciado pelo Papa João XXIII, na festa da
conversão do apóstolo Paulo, a 25 de janeiro de 1959. A partir daí toda
a Igreja, bispos, faculdades de teologia, universidades católicas e
organismos da Cúria Romana foram consultados acerca das
necessidades da Igreja e qual deveria ser a agenda do Concílio.

A solene abertura do Vaticano II, na presença de mais de 2.500 padres conciliares vindos
de todo o mundo, de teólogos e observadores das antigas Igrejas orientais, ortodoxos,
anglicanos, protestantes e pentecostais de diferentes Igrejas aconteceu no dia 11 de
outubro de 1962, durando quatro anos, formalmente, até o encerramento solene no dia 8
de dezembro de 1965, com a aprovação de 16 documentos conciliares: quatro
constituições, nove decretos e três declarações.

As orientações e propostas que foram consignadas pelo Concílio em documentos de


distinto peso e valor pastoral ou doutrinal trouxeram à Igreja Católica um novo rumo, uma
nova direção. Foram quatro os documentos de maior visibilidade e de densidade pastoral
e doutrinal. Trata-se das quatro constituições, que são:

01) A constituição dogmática Lumen Gentium, sobre Igreja;


02) A Gaudium Et Spes, uma constituição pastoral, que era uma coisa nova, pois as
constituições eram sempre dogmáticas;
03) A constituição dogmática Dei Verbum, sobre a Palavra de Deus;
04) A constituição sobre a liturgia, a Sacrosanctum Concilium.

Depois houve uma série de decretos e no final três declarações:

01) Dignitatis Humanae (DH) sobre a dignidade humana, tendo como foco a inviolável
consciência de cada pessoa, inclusive na esfera da liberdade religiosa;
02) Gravissum Educationis (GE), sobre a Educação;
03) Nostra Aetate (NA), que trata do diálogo com as outras religiões, de modo especial o
judaísmo, o islamismo, o hinduísmo e o budismo.
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Os nove decretos:

01) Do ecumenismo, Unitatis Redintegratio (UR);


02) Das Igrejas Orientais, Orientalium Ecclesiarum (OE);
03) Da vida religiosa, Perfectae Caritatis (PC);
04) Do governo das dioceses, Christus Dominus (CD);
05) O Apostolicam Actuositatem (AA), que teve um impacto grande, pois toca a maioria
das pessoas na Igreja que é o que fala do apostolado dos leigos e leigas, ancorando sua
responsabilidade na Igreja e no mundo na própria vocação batismal de cada um deles;
06) Inter Mirifica (IM), um decreto que talvez seja o de menor valor, embora trate de um
assunto muito importante que é o documento sobre os meios de comunicação social;
07) Presbyterorum Ordinis (PO), para os presbíteros;
08) Optatam Totius (OT), voltado para a formação dos presbíteros;
09) Ad Gentes (AD), sobre a atividade missionária na Igreja.

Outra questão é a pratica eclesial que resultou do Concílio. Duas delas podem ser
consideradas muito visíveis:

 A reforma litúrgica, porque mexeu com a vida de cada pessoa com a entrada das
línguas locais na liturgia e não apenas a manutenção do latim;
 A descentralização da Igreja, o exercício da colegialidade episcopal, com as
conferências episcopais, os sínodos, chegando até aos conselhos de presbíteros, os
conselhos pastorais paroquiais e os conselhos diocesanos de pastoral.
 E no caso do Brasil e da América Latina, esse espírito de participação e
corresponsabilidade se reforçou com o surgimento das Comunidades Eclesiais de
Base, apoiadas num maior protagonismo, bem na base, dos cristãos e cristãs
batizados.

O Papa João XXIII inaugurou o Concílio Vaticano II com esta frase: “Gaudet Mater
Ecclesia”, ou seja "Alegra-se a Santa Mãe Igreja” e previa uma Igreja que "quer se mostrar
como mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e de bondade".

Nas suas quatro sessões (1962-1965) e com os seus 16 documentos, o concílio fez uma
reviravolta doutrinal e pastoral, de uma Igreja que se auto definia em termos jurídico-sociais
de sociedade hierarquicamente estruturada a uma Igreja que, mais biblicamente, se
autocompreende como povo de Deus e como comunhão. Para a eclesiologia de comunhão,
cada membro é discípulo de Cristo, sujeito diante de Deus, testemunha do Evangelho.

O documento do concílio sobre a Igreja colocou a Igreja mais intimamente em relação com
a sua origem, que é a palavra de Deus, Dei Verbum; também a trouxe mais perto de sua
missão de evangelização e de solidariedade com "as alegrias e as esperanças, as tristezas
e as angústias" da humanidade, a Gaudium et Spes. Surgiu daí uma Igreja mais
evangélica, mais dialógica e solidária. Mas, hoje podemos observar que ainda passará
muito tempo até que a Igreja, que recebeu de Deus a graça do Concílio Vaticano II, seja
a Igreja do Concílio Vaticano II.

Uma das categorias centrais dos textos do concílio é a "Evangelização", retomada e


reproposta pelos papas que vieram após o Concílio. Paulo VI, na exortação
apostólica Evangelii Nuntiandi (1975), afirma: "Evangelizar constitui, de fato, a graça e a
vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar" (n.
14). E João Paulo II, em seus discursos no CELAM, indicava como principal tarefa do novo
milênio: "Uma nova evangelização: nova no seu ardor, nos seus métodos, na sua
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expressão". Na mesma linha Bento XVI continua a obra de uma nova evangelização,
indicando o seu conteúdo, ou seja, o querigma cristológico “[...] a nova evangelização
consiste em dar testemunho de Jesus Cristo diante do mundo e em ser fermento do amor
de Deus entre os seres humanos", convocando o Sínodo romano do 50º aniversário do
concílio (2012), com o tema "A nova evangelização para a transmissão da fé cristã". O Papa
Francisco lança em 2013 a Evangelli Gaudium, fazendo pensar também na transmissão
do Evangelho com alegria: “O cristão anuncia com alegria o Evangelho de Cristo porque é
sinal de vida nova / Páscoa! Existem ainda cristãos que vivem uma perene quaresma e
infelizmente não conseguem fazer a experiência de ressurreição!”. (EG 6).

I - DOCUMENTOS DO CONCÍLIO PARA REFLEXÃO:


LUMEN GENTIUM e GAUDIUM ET SPES:

01) CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LUMEM GENTIUM (LG)- "Luz dos Povos"

Constituição Dogmática sobre a Igreja, aprovada solenemente pelo Papa Paulo VI em 21


de novembro de 1964. Uma coisa importante: a luz dos povos não é "a Igreja", mas Cristo.
“Sendo Cristo a luz dos povos, este Sagrado Concílio, congregado no Espírito Santo, deseja
ardentemente que a luz de Cristo, refletida na face da Igreja ilumine todos os homens,
anunciando o Evangelho a toda criatura” (LG 1).

A Constituição está dividida em oito capítulos:


I - O Mistério da Igreja (1-8)
II - O Povo de Deus (9-17)
III - A constituição hierárquica da Igreja e em especial o episcopado (18-29)
IV - Os Leigos (30-38)
V - A vocação de todos à santidade na Igreja (39-42)
VI - Os Religiosos (43-47)
VII - A índole escatológica da Igreja peregrina e a sua união com a Igreja celeste (48-51)
VIII - A bem-aventurada virgem Maria Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja (52-
69)

A constituição, refletindo basicamente sobre a constituição e a natureza da Igreja, reafirmou


várias verdades eclesiológicas. Como por exemplo, salientou que "a única Igreja de Cristo,
como sociedade constituída e organizada no mundo, subsiste (subsistit in) na Igreja
Católica". Também destacou que "a Igreja é sacramento de Cristo e instrumento de união
do homem com Deus, e da unidade de todo o gênero humano". Para atingir esta missão
fundamental da Igreja, o documento declara que é necessário dar aos católicos "uma
"consciência de Igreja" mais coerente, para que também se possam valorizar as relações
com as outras religiões" (cristãs ou não) e com o mundo moderno. Para isso, o documento
dirigiu a sua atenção para o primado do método bíblico; o sacerdócio comum de todo
o "Povo de Deus"; a função profética, sacerdotal e real de todo batizado; a colegialidade
episcopal; a missão de serviço da Igreja, que deve estar voltada para toda a humanidade.

A inclusão do tema da Igreja como Povo de Deus como segundo capítulo, logo após o
capítulo sobre o mistério da Igreja e antes do capítulo sobre a hierarquia, é considerada
uma das principais evidências de que o Concílio Vaticano II desejava propor novos rumos
para a Igreja Católica, de acordo com o desejo expresso pelo Papa João XXIII ao convocar
o Concílio.
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A partir desta constituição, a Igreja passou a ser vista não apenas como uma instituição
hierarquizada, mas também como uma comunidade de cristãos espalhados por todo o
mundo e constituintes do Corpo Místico de Cristo. Por isso, a constituição e "as
estruturas da Igreja modificaram-se parcialmente e abriu-se espaço para maior participação
e apostolado dos leigos, incluindo as mulheres, na vida eclesial". O Concílio clarificou
também a igual dignidade de todos os católicos (clérigos ou leigos). Mas, mesmo assim, a
estrutura da Cúria Romana permaneceu a mesma, o que tem sido objeto de reflexão pelo
Papa Francisco que tem tentado trazer renovação a esta estrutura.

A essência da Lumem Gentium (LG)

A constituição sobre a Igreja, Lumen Gentium (LG) representa, no campo da eclesiologia


(Igreja), uma autêntica revolução. Surge um novo modo de ser e de compreender a Igreja.
De um modelo de Igreja como sociedade perfeita passa-se agora a uma pluralidade de
imagens, complementares entre si e orientadas pela perspectiva do mistério e da Trindade.

Somos introduzidos no mistério da Igreja: a Igreja é o reino já presente em mistério e cresce


pelo poder de Deus; “é o povo congregado na unidade do Pai e do Filho e do Espírito
Santo” (LG 4). Resgata-se uma série de imagens que desde as origens do cristianismo
representaram a Igreja: rebanho, lavoura de Deus, edifício, Jerusalém do alto, templo do
Espírito e corpo de Cristo com diferentes membros, guiados pela única cabeça:
Cristo, que é a Luz dos Povos.

O novo povo de Deus, uno e universal, é formado por todos os que creem. Na nova aliança,
todos são chamados a ir e batizar, segundo a ordem de Cristo em Mt 28,18-20,
constituindo assim uma Igreja missionária.

Todos os batizados, fiéis ou pastores, têm a mesma vocação fundamental e são


associados à mesma missão. Primeiramente fala-se da constituição hierárquica da Igreja,
especificando a função dos bispos (pregar o Evangelho, governar e santificar o rebanho),
presbíteros e diáconos, que estão ao serviço do povo de Deus. A seguir trata dos leigos,
aos quais “compete por vocação procurar o Reino de Deus tratando das realidades
temporais e ordenando-as segundo Deus” (LG 31). Os leigos, cada vez mais valorizados,
são chamados à santidade a partir da sua vida de inserção no mundo. Para tal é sempre
atual a necessidade de se investir na formação e na participação dos leigos na vida
eclesial.

O Concílio pede que entre pastores e fiéis haja uma “comunidade de relações” e um
mútuo apoio, pois todos são “chamados à santidade”.

A missão essencial da Igreja é a santificação: a Igreja é santa e todos na Igreja são


chamados à santidade. No coração desta vocação comum a todos situa-se a vida
consagrada. O Concílio assinala os conselhos evangélicos como dom divino, consagração
ao serviço de Deus.

A Lumen Gentium faz no final uma descrição do desenvolvimento escatológico da Igreja e


o papel de Maria nesta caminhada, no mistério de Cristo e da Igreja. A Igreja peregrina está
em união com a Igreja celeste e só será consumada na glória celeste (LG 48).

Este documento fez a Igreja refletir sobre a sua essência, sobre a sua origem e
constituição interna. A sua redescoberta como mistério marca este retorno às origens
ao mesmo tempo que se abre a todas as novidades trazidas pelos novos tempos. A
conscientização da Igreja como mistério ligado ao mistério de Cristo e não como
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sociedade, deu um novo rumo e apontou caminhos interessantes que infelizmente não
foram bem explorados ao longo destes 50 anos. Há muito ainda a ser feito.

O Espirito Santo e a Igreja Corpo Místico de Cristo na constituição Lumen Gentium:

LG 4 - Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para Ele cumprir na, foi enviado o
Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse continuamente a Igreja e deste
modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito. Ele é o Espírito de vida,
ou a fonte de água que jorra para a vida eterna(...). O Espírito habita na Igreja e nos
corações dos fiéis, como num templo e dentro deles ora e dá testemunho da adoção de
filhos. A Igreja, que Ele conduz à verdade total e unifica na comunhão e no ministério,
enriquece-a, e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os
seus frutos. Pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-
a a união perfeita com o seu Esposo. (...) Assim a Igreja toda aparece como “um povo unido
pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

LG 7 - “A Igreja, Corpo místico de Cristo”. (...) É nesse corpo que a vida de Cristo se difunde
nos que creem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos sacramentos (...).
(...) A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas
todas as coisas. Ele existe antes de todas as coisas e todas n'Ele subsistem. Ele é a cabeça
do corpo que a Igreja é (...).

*Resumo de vários textos.

02) CONSTITUIÇÃO PASTORAL GAUDIUM ET SPES (GS) - "Alegrias e esperanças".

Um dos documentos mais importantes da Igreja, fruto do Concílio Vaticano II, é a


Constituição Pastoral Gaudium et Spes, que fala sobre a Igreja no mundo de hoje. É
chamada "pastoral" porque, apoiando-se em princípios doutrinais, pretende expor as
relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje. Na primeira parte, a Igreja expõe
a sua própria doutrina acerca do homem, do mundo no qual o homem está integrado e da
sua relação para com essas realidades. Na segunda, considera mais expressamente vários
aspectos da vida e da sociedade contemporâneas, e sobretudo as questões e problemas
que, nesses domínios, parecem hoje de maior urgência. E observem que este "hoje", era
o hoje da década de 60, no século XX...

"... o sagrado Concílio, proclamando a sublime vocação do homem, e afirmando existir nele
uma semente divina, oferece ao gênero humano a sincera cooperação da Igreja, a fim de
instaurar a fraternidade universal que corresponda a esta vocação. Nenhuma ambição
terrena move a Igreja, mas unicamente este objetivo: continuar, sob a direção do Espírito
Paráclito,a obra de Cristo..." (GS 3).

Nossa tarefa de catequistas deve ser sempre a de continuar a obra do próprio Cristo que
veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para
servir e não para ser servido, para renovar e fazer nascer um novo homem. Sejamos fiéis
a esta nobre missão.

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje,


sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e
esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade
alguma verdadeiramente humana que não encontre eco em seu coração”.
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II - IMPLICAÇÕES DO CONCÍLIO NA CATEQUESE

A partir do Concílio Vaticano II, a Igreja redescobriu a necessidade de formação do povo


de Deus. Até então a formação teológica, quase que exclusivamente, era reservada ao
clero e religiosos. A teologia do Vaticano II deslocou esse eixo também para a formação
do laicato e dos agentes de pastoral.

O Concílio Vaticano II não tratou especificamente da catequese, mas ele está na base de
toda a renovação catequética por causa da ampla e profunda renovação da própria Igreja
e da especial valorização e novo conceito de Palavra de Deus: ela é constituída não
somente de palavras, mas também de acontecimentos. Assim, a Palavra de Deus não se
situa só no plano intelectual (conceitos, ideias), mas principalmente no plano existencial
(fatos, gestos), ela tem um caráter histórico, pois é revelada bem por dentro da experiência
histórica do homem: DV 2, 7-8, 24; AG 3, 13, 16, 24; LG 8; PO 22; CD 12.

A proclamação da Palavra de Deus se realiza dentro da tradição apostólica, sob a guia do


magistério em todos os graus de ministério da Palavra (PO 4, DV 24, AG 39).

O Concílio Vaticano II aponta três formas de proclamação da Palavra de Deus:

a) Evangelização: é o primeiro anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo a quem o ignora,


levando a pessoa à conversão, ao Evangelho (SC 9; LG 17, AG 13).
b) Catequese: está em função de um aprofundamento da mensagem cristã; é uma
instrução, um segundo momento que supõe o primeiro: “A instrução catequética tem por
fim tornar viva, explícita e operosa a fé, ilustrada pela doutrina; seja ministrada às crianças,
adolescentes, jovens e mesmo adultos... Baseia-se na Bíblia, Tradição, Liturgia e vida da
Igreja” (CD 14; cf. GE 4).
c) Homilia: é um reiterado anúncio que sempre atualiza a Palavra de Deus proclamada e
celebrada na Liturgia (SC 24, 33, 52, 35, 9, 10, 6).

O Vaticano II diz sobre a catequese:

“Cuidem os Bispos para que a instrução catequética, que tem por fim tornar viva, explícita
e operosa a fé ilustrada pela doutrina, seja administrada com diligente cuidado... e se baseie
na Sagrada Escritura, na Tradição, na Liturgia, no Magistério e na vida da Igreja”. E mais
na frente prescreve que “se restabeleça a instituição dos catecúmenos adultos, ou seja,
melhor adaptada”. (CD 14).

E sobre o catecumenato:

“Através de prática dos costumes evangélicos e pelos ritos sagrados que se celebram em
tempos sucessivos, os catecúmenos sejam introduzidos na vida da fé, da liturgia e da
caridade do Povo de Deus”. (AG 14)

O Diretório Catequético Geral (DGC), uma urgência pedida pelo concílio, publicado na
Páscoa de 1971, pela Sagrada Congregação do Clero, fala da catequese como:

 "Ação eclesial que leva as comunidades ou os fiéis individualmente considerados à


maturidade da fé. Mediante a catequese as comunidades cristãs alcançam um
conhecimento mais vivo e profundo de Deus e de seu plano salvífico que tem o
centro no Verbo de Deus encarnado" (nº 21 b);
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 "Constitui um meio particularmente apto para compreender na própria vida o plano


divino e a penetrar o supremo significado da existência e da História" (nº 21 c).
 "A catequese deve cuidar de despertar a atenção dos homens para suas
experiências mais importantes, tanto pessoais, como sociais. Da mesma forma,
compete-lhe, sob a luz do Evangelho, colocar as questões daí surgidas, de forma
que nos próprios homens se desperte o reto desejo de transformar a própria maneira
de viver... A experiência humana deve ser iluminada pela revelação. A catequese
tem de ajudar os homens a penetrarem, interpretarem e julgarem suas experiências,
e também a atribuírem um sentido cristão à própria existência, evocando a ação de
Deus que opera a nossa salvação" (nº 74).

Este documento pela primeira vez falou claramente da prioridade da catequese de adultos
na Igreja contemporânea:

“A catequese dos adultos, visando pessoas capazes de uma adesão plenamente


responsável, deve ser considerada como a principal forma de catequese, à qual todas as
outras, embora sempre necessárias, de certa maneira são ordenadas” (nº 20). E pede que
“a instituição dos catecúmenos adultos seja restabelecida” (idem).

A Bíblia depois do Concilio Vaticano II:

O que chamamos agora de “Pastoral Bíblica” renasceu depois do Concílio Vaticano II. A
Constituição Dogmática sobre a Palavra de Deus, a Dei Verbum pedia: “que todos os fiéis
tenham acesso às Sagradas Escrituras”, orientando:
- Uma nova estima pela "Palavra de Deus na Celebração Eucarística" com a equiparação
e valorização das duas mesas: A ‘Mesa da Palavra de Deus’ e a ‘Mesa do Corpo de Cristo
o Pão da Vida’ (DV 21).

- A preocupação com o uso de traduções adequadas e corretas inclusive as dos irmãos


separados (DV 22), recomendando os métodos modernos de estudo para uma correta
interpretação da Sagrada Escritura (DV 12) incentivando a pesquisa já iniciada (DV 23)

- O reconhecimento da importância da Sagrada Escritura para a Teologia, a Catequese e


as Homilias (DV, 24 e 25) que chegou até nosso povo mais simples.

- A tão valorizada Leitura Orante da Bíblia no Continente tem fundamento nas palavras da
Dei Verbum “a Ele falamos quando rezamos, a Ele ouvimos quando lemos os divinos
oráculos” retomando os escritos de S. Ambrósio (DV, 25).

Foi a Dei Verbum que deu vida, espírito e conteúdo à procura da Palavra de Deus. De fato,
como escreveram Frei Carlos Mesters e Francisco Orofino, a Bíblia, desde sempre, fez
parte da caminhada do povo. “É a fé do povo que faz acolher a Bíblia como aquilo que
realmente é: a Palavra de Deus”.

Reflexões sobre Catequese e Revelação:

Um dos pontos mais importantes tratados pela Dei Verbum (DV) é o conceito de Revelação.
Não é fruto só do Vaticano II (1962-1965), mas desde o século passado vem sendo
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elaborada esta doutrina, reconhecida e assumida pelo magistério oficialmente no Vaticano


II.

O Cristianismo se considera como religião revelada, como outras também se julgam (por
ex., islamismo). A Revelação cristã é histórica: Deus Se revela a Si mesmo (conteúdo), bem
dentro da caminhada histórica da humanidade (um povo). Histórico significa que pertence
à nossa realidade; não é mito. É o princípio da encarnação: “E o Verbo (Palavra) se fez
carne”.

Dimensão experiencial ou existencial da revelação: ela está intimamente ligada com a


experiência humana (vida concreta do dia a dia, pessoal, comunitária, social, econômica,
cultural, política) ou com a nossa existência humana. Há hoje um interesse muito grande
da filosofia moderna pela existência e não tanto essência (preocupação aristotélico-tomista
que orientou e orienta muito a pesquisa teológica; exemplo dos sacramentos, onde se
busca entender a sua essência, ao passo que hoje mais interessa a experiência: o que eles
dizem para nós, que experiências temos nós ao celebrar os sacramentos). Supera-se o
conceito de revelação meramente intelectualista, racional, noética.

Consequências para a catequese:


Binômio inseparável: Palavras e Acontecimentos:

É o modo como Deus se revela. Este também é o modo da catequese agir: pedagogia de
Deus, pedagogia da catequese.

Profeta: aquele que fala, que mostra a presença de Deus no meio dos acontecimentos e
leva os seus ouvintes a terem também uma experiência d’Ele na vida. É alguém do povo
que com antenas mais sensíveis, percebe, capta a presença divina.

A Bíblia é considerada um repertório de experiências de Deus de um povo; sua busca


constante do sentido da vida, da salvação, etc. E Deus aí se manifesta. O Êxodo,
acontecimento central no Velho Testamento, é um fato existencial, experiencial, político. A
própria encarnação do Verbo: Jesus não é uma ideia, uma filosofia, mas um acontecimento.
Viveu em tudo igual a nós, menos no pecado. Inspiração como assistência contínua do
Espírito Santo na experiência religiosa de Israel, particularmente os profetas, em Jesus,
apóstolos e discípulos. O Espírito Santo orienta sua busca de Deus e dá forças na luta
contra o do pecado. Jesus substancialmente nos transmitiu a experiência de um Deus que
é Pai misericordioso e Ele como a mediação para chegar até o Pai. A Igreja é a continuação
deste povo que busca a Deus e que sente sua presença na história.

Daí o conceito de Tradição: toda história é tradição; vivemos de tradição. A Bíblia só tem
sentido dentro da tradição. Ela mesma é fruto da tradição. Daí se dizer que o catolicismo
não é a religião do livro, mas da Palavra, da Revelação concebida como Palavra e
Acontecimento. Diferença com o protestantismo que cultua e se centra mais no livro escrito,
na palavra escrita: Sola Bíblia, sola fides (só a Bíblia e só a fé). Muito mais o islamismo: a
revelação foi ditada por um anjo a Maomé. Perigo do fundamentalismo (escravidão à letra)
e o fanatismo.

Daí também o papel do Magistério, com o carisma de “vigiar” sobre a reta interpretação,
sem ele mesmo ser “dono” da Bíblia. Pelo contrário: deve, mais do que os outros cristãos,
obedecer à Palavra de Deus, não só escrita, mas também da Tradição. Riqueza e peso da
Tradição: neste sentido os protestantes são mais livres: preocupam-se com a palavra pura
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da Escritura. Para eles a Tradição não tem muito peso, como também não possuem um
magistério como nós.

IV - FRUTOS DO CONCILIO VATICANO II PARA A CATEQUESE:

Diretório Catequético Geral (DCG) – 1971

O Concílio Vaticano II prescreveu a elaboração de um “Diretório para


a instrução catequética do povo”(CD 44). Em obediência a este
mandato conciliar, a Congregação para o Clero valeu-se de uma
especial Comissão de especialistas e consultou as Conferências
Episcopais do mundo, as quais enviaram numerosas sugestões e
observações a este propósito. No dia 18 de março de 1971 foi
definitivamente aprovado por Paulo VI e promulgado no dia 11 de abril
de 1971.

Ritual da iniciação cristã de Adultos (RICA) – 1971

O Rito da iniciação cristã de Adultos (RICA), publicado em 1971 é


um livro litúrgico, a pedido do Vaticano II, para restabelecer o
catecumenato batismal. Descreve justamente os ritos do
catecumenato, mas não os conteúdos catequéticos propriamente
ditos. A primeira edição em português pelas Paulinas é de 1973.
Em 2001 foi preparada pela CNBB e publicada pela Paulus uma
nova edição do mesmo texto com disposição e diagramação mais
lógica e clara, com o título Ritual da iniciação cristã de Adultos.

A Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi (EN) – 1975

Foi um dos maiores documentos da Igreja do século XX. Não fala da


catequese, mas apenas da Evangelização, cuja finalidade é a mudança
interior; ela deve transformar a humanidade a partir de dentro e construir
uma nova humanidade. A catequese, conforme a EN, faz parte da
Evangelização, mas não é toda a Evangelização.

A Catechesi Tradendae (CT) - 1979

Como fruto do Sínodo sobre a Catequese de 1977, o Papa João Paulo


II assinou em 16/10/1979 a exortação apostólica Catechesi Tradendae
(A catequese hoje). Nela o objetivo da catequese: "fazer amadurecer a
fé inicial e educar o verdadeiro discípulo de Cristo mediante um
conhecimento mais aprofundado e mais sistemático da pessoa e da
Mensagem de Cristo" (nº 19).
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 “Catequizar é levar alguém a perscrutar o Mistério de Cristo em todas as suas dimensões


[...] é procurar desvendar na Pessoa dEle todo o desígnio eterno de Deus que nela se
realiza [...]. A finalidade definitiva da catequese é a de fazer com que alguém se ponha, não
apenas em contato, mas em comunhão, em intimidade com Jesus Cristo; somente Ele pode
levar ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da Trindade” (CT 5).

O documento Catequese Renovada da CNBB (1983)

A Cnbb em 15/04/1983 na 21ª Assembléia Geral aprovou o


documento Catequese renovada: orientações e conteúdo
(CR). É o documento mais importante para a Igreja do Brasil em
termos de catequese, até a publicação do novo Diretório Nacional
de Catequese (DNC). Realmente, impulsionou a renovação da
catequese nestes últimos anos. Embora o DNC tenha sido
publicado, esse documento CR permanece como uma grande
referência de nossa catequese.

Catecismo da Igreja Católica (CIC) - 1992

“É uma exposição orgânica e sintética dos conteúdos essenciais e


fundamentais da doutrina católica, tanto sobre a fé como sobre a moral, à
luz do Concílio Vaticano II e do conjunto da Tradição da Igreja”.

Diretório Geral para a Catequese (DGC) - 1997

Depois da publicação do Catecismo da Igreja Católica, em 1992, a


Congregação para o Clero, consciente da necessidade de uma revisão
do Diretório Catequético Geral de 1971, iniciou um trabalho de revisão
do DCG de 1971, trabalho que tendo ficado pronto e coincidindo com
a edição típica, foi lançado juntamente com o Catecismo num
Congresso Internacional de Catequese, em Roma, de 17 a 21 de
outubro de 1997, organizado e coordenado para este objetivo,
conjuntamente pela Congregação da Doutrina da Fé e pela
Congregação para o Clero.

Diretório Nacional de Catequese – DNC - 2006

O objetivo geral do diretório: esclarecer a natureza e finalidade da


catequese, traçar os critérios de ação catequética, orientar, coordenar
e estimular a atividade catequética nas diversas regiões. Documento
norteador de toda ação catequética.
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Documento de Aparecida – 2007

O presente livro traz as conclusões do grande encontro dos bispos e


demais participantes da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
americano e do Caribe (CELAM) de (2007). Com abertura da carta do
Papa Bento XVI, o Documento de Aparecida, como é chamado, trata
de diversos temas de interesse de todos os católicos, como a família,
a evangelização no século XXI, a dignidade humana, as relações entre
a Igreja e a sociedade globalizada, entre outros. Como o próprio
documento afirma, "a V Conferência do Episcopado latino-americano
e Caribenho é novo passo no caminho da Igreja, especialmente a
partir do Concílio Ecumênico Vaticano II". Aparecida valorizou muito a
catequese na perspectiva da formação dos discípulos e missionários de Jesus Cristo.

Iniciação a Vida Cristã: Um Processo de Inspiração Catecumenal – 2009

O Documento 107 foi aprovado durante a 55ª Conferência Geral


da CNBB. Já no primeiro capítulo o texto apresenta o itinerário a
partir do ícone bíblico representado pelo encontro de Jesus com
a Samaritana retratado no capítulo quatro do Evangelho de São
João. Em seis passos o documento apresenta os processos de
iniciação ao discipulado de Jesus. Trata da implantação de um
modelo catecumenal de catequese, uma inspiração na Igreja dos
primeiros séculos. Tomou como ponto de partida o insistente
pedido de Aparecida: “Impõe-se a tarefa irrenunciável de oferecer
uma modalidade de iniciação cristã, que além de marcar o que,
dê também elementos para o quem, o como e o onde se realiza.
O documento oferece novas disposições pastorais para a
iniciação à vida cristã, presente nas Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora desde 2011.

Outros documentos...

• Conclusões de Medellín - 1968


• RICA – 1970
• Diretório Catequético Geral - 1971
• Evangelii Nuntiandi 1975
• O Sínodo sobre a Catequese - 1977
• Catechesi Tradendae (1979)
• A Conferência de PUEBLA - 1979
• O Papa João Paulo II no Brasil – 1980
• Catequese Renovada da CNBB (1983)
• Primeira Semana Latino Americana de Catequese (Quito 1982)
• A Catequese na América Latina (Lineas Comunes) – 1986; 1999
• Primeira Semana Brasileira de Catequese - 1986
• Textos e Manuais de Catequese (TM) - 1987
12

• Formação de Catequistas: critérios pastorais (FC) - 1990


• Orientações para a catequese da crisma: 1991
• Documento de Santo Domingo (República Dominicana) - 1992
• Catequese para um mundo em mudança - 1994
• O Hoje de Deus em nosso Chão - 1997
• Diretório Geral para a Catequese - 1997
• Com Adultos, Catequese adulta - 2001 e 2002
• Crescer na Leitura da Bíblia – 2003
• Diretório Nacional de Catequese – DNC - (2002 – 2006)
• III Semana Latino-americana de Catequese (2006)
• Documento de Aparecida – 2007
• Ministério do catequista – (Estudo 95 – 2007)
• Catequese, caminho para o Discipulado – TB Ano Catequético Nacional – 2008
• Iniciação á Vida Cristã – Um Processo de Inspiração Catecumenal – 2009
• 3ª Semana Brasileira de Catequese – 2010
• Itinerário Catequético (2014)
• ...

CONCLUSÃO

Passados mais de meio século, o Concílio Vaticano II continua em discussão. Os Concílios


não são eventos que se esgotam na sua realização. São eventos que podemos chamar de
longa duração, é um repensar a Igreja, traçar rumos que continuam tendo sua importância
e influência mesmo séculos depois. Segundo Pe. Beozzo (2005), é preciso manter
permanentemente dentro da Igreja um processo “conciliar”, ou seja, uma Igreja que coloca
no coração de sua atuação e vivência a “comunhão e participação”.

Este então é um processo que convoca à participação, ao protagonismo dos leigos e leigas;
a um jeito de ser Igreja, comunitário e fraterno; chegando até a menor comunidade para
que as pessoas se sintam Igreja e para que elas saibam que podem e devem participar,
tomar decisões, se arriscar, assumir novos ministérios. Neste sentido, é preciso cuidar para
que não se volte a uma centralização, que não se tenha novamente uma clericalização,
afinal a definição central da Igreja está no batismo e não no sacramento da ordem, que
sempre é para poucos. O Concilio trouxe o reconhecimento de que todos os batizados e
batizadas carregam um sacerdócio real, profético, de serviço, de ministérios e é isso que
faz falta na Igreja.

“Com a passagem dos anos, os documentos conciliares não tem perdido sua atualidade:
ao contrário, os seus ensinamentos revelam-se particularmente pertinentes diante dos
novos apelos da Igreja e da sociedade atual globalizada”. Papa Bento XVI (20/04/05).

“Cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II, apesar de nos entristecerem as misérias
do nosso tempo e estarmos longe de otimismos ingênuos, um maior realismo não deve
significar menor confiança no Espírito nem menor generosidade”. Papa Francisco
(Exortação Apostólica Evangelii Gaudium).
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FONTES DE CONSULTA:

BEOZZO, José Oscar. A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965. Paulinas:
São Paulo, 2005.

CNBB. Diretório Nacional de Catequese. Brasília: CNBB, 2006.

Compendio do Vaticano II: Constituições, decretos , declarações. 29ª ed. Petrópolis:


Vozes, 2000.

Regional Sul II. Concílio vaticano II: Implicações para a catequese. Catequizar Sempre
20. Curitiba: 2015.

Textos de Pe Luiz Alves de Lima, sdb; com adaptações e complementações de Irmão Nery
fsc. (Material da pós-graduação em Catequética – FAVI – Curitiba –Pr).

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