Assis Event “The Road to the Pentecost” Reinaldo Reis
1. O Culto católico às relíquias dos santos e beatos
a. Amados irmãos e irmãs, estamos aqui juntos a uma relíquia de parte
do corpo da Beata Elena Guerra. Que significado tem isso para nós, católicos? E, mais: que importância tem isso para nós, porção do povo de Deus afeito, identificado com essa espiritualidade que bebemos daquele evento chamado “Pentecostes”? Exatamente há um ano, na Audiência Geral de 06 de Maio de 2009, Bento XVI nos dizia – a partir dos ensinamentos de São João Damasceno –, que “os católicos veneram as relíquias dos santos sobre a base da convicção de que os santos cristãos, tendo participado da ressurreição de Cristo, não podem ser considerados simplesmente como “mortos”. Para os cristãos orientais, ter presente entre nós uma relíquia de parte do corpo de um santo (ou beato), é como se tivéssemos presente – pelo mistério da comunhão dos santos – a própria pessoa. Assim, pois, é que estamos tendo esta alegria de desfrutar, durante esse nosso Encontro, da presença, da companhia daquela que foi denominada por João XXIII como a Apóstola da devoção ao Espírito Santo. E, por causa disso, nós, nesses tempos, fomos constituídos apóstolos da efusão do Espírito Santo”.
2. O protagonismo profético de Elena Guerra
Sabemos todos que, por várias e diferentes motivações, o Espírito Santo
esteve – por muito séculos – um tanto quanto à margem da devida consideração dos cristãos – especialmente os do Ocidente – em relação à Sua pessoa e a Sua missão... O incidente com o Montanismo, no século II... a ênfase na – necessária! – Cristologia, sem uma correspondente atenção à Pneumatologia...a Teologia de Santo Agostinho, que desenvolveu belíssima reflexão sobre o Espírito, mas tão somente no que diz respeito à Sua natureza, no seio da Santíssima Trindade, mas não quanto à Sua Pessoa e sua missão, na economia de salvação... a separação da Igreja do Oriente – que era mais icônica, festiva em relação ao Espírito Santo – ruptura esta que favoreceu a nossa faceta mais organizacional...pragmática...institucionalizada...romanizada...mais confiante em nossas forças que no poder do Espírito...e dificuldades com outros tantos movimentos de perfil carismático, como os donatistas, os messalianistas, os priscilianistas, os seguidores de Joaquim de Fiore... Bem, Deus começou a intervir nessa situação, e começou a despertar no coração de muitos santos, de muitos místicos, uma inquietude, um desconforto em relação à esse “tratamento de 2ª classe” dado ao Espírito Santo, que figurava assim com mais um dado teológico, um conceito doutrinário, do que como uma Pessoa de cuja missão dependia o avanço da própria mensagem de salvação no mundo... O Espírito não ficou esperando que tivéssemos consciência a respeito da importância de sua missão, e seguiu agindo...mas é claro que quanto maior for a nossa consciência a respeito de sua Pessoa e missão, mas nos abrimos à Sua ação em nossas vidas... Deus falou de maneira mística, inspirada, a diversas pessoas nos séculos precedentes...a Conchita Cabrera, no México... a Francisca Javier, na Espanha... E a Elena Guerra: uma italiana de Lucca, nascida em 1835 e falecida em 1914, com 79 anos de idade...que escreveu mais de 60 obras sobre o Espírito Santo...E qual sua importância, para nós? Dela Deus se serviu para falar com o Magistério, com a Hierarquia da Igreja... Elena recebia as moções inspiradas sobre a necessidade de se trabalhar por devolver ao Espírito o lugar que lhe era de direito na vida da Igreja, mas ficava a se perguntar se aquilo vinha de uma inspiração divina, mesmo, ou se eram coisas de sua cabeça... “coisa de carismático...” Deus confirma aquelas moções por meio de uma outra mulher – Hermínia Georgetti –, e com a ajuda de seu diretor espiritual e de seu bispo, Elena inicia uma correspondência fecunda sobre o assunto com o próprio papa de então, Leão XIII, no fim do século XIX. Escreveu 14 cartas a Leão XIII; uma se perdeu, e temos hoje 13 delas, onde se denota o seu protagonismo profético em relação ao grande reavivamento espiritual que iria ter início no século XX.
3. As conseqüências de seu protagonismo
Por seu protagonismo, em rápidas palavras, podemos fazer notar:
a. Leão XIII escreve 3 documentos relativos a esse assunto, sendo um
deles a 1ª Encíclica sobre o Espírito Santo, a Divinum Illud Munus, de 9 de maio de 1897, em que ele convoca os católicos a retomarem a devoção ao Espírito Santo, e decreta a realização de uma novena – de caráter perene – em preparação à festa de Pentecostes (a única novena litúrgico-oficial da Igreja!). Ele também escreve a Ladainha do Espírito Santo, que todos conhecemos, e na virada do século (do XIX para o XX), na noite de 31 de dezembro para 1° de janeiro de 1900, consagra ele o século XX ao Divino Espírito Santo... O século começou com muitas transformações no seio da Igreja... O sopro do Espírito Santo começa a se fazer sentir (o tempo não nos permite tratar de todos esses pontos...). Pio XII, em 1943, escreve a Encíclica Misticy Corporis, onde acena com a não necessária incompatibidade entre carisma e instituição. Vem João XXIII, em 1958. 6 meses depois de sagrado papa, realiza sua primeira beatificação: Elena Guerra. No dia de sua beatificação (26 de abril de 1959), diz ele: “Se hoje, pois, se celebra com maior solenidade a Novena de Pentecostes, se a tantas almas dóceis ao apelo do Pontífice e abriram novos horizontes de santidade e de apostolado, se deve pensar com gratidão àquela, da qual se serviu a Providência para influir no gesto do nosso Predecessor”.(...) “Diletos filhos e filhas! Depois de tantos anos da partida da Madre Elena Guerra, sua mensagem permanece sempre atual. Todos percebemos, de fato, a necessidade de uma contínua efusão do Espírito Santo, como de um novo Pentecostes que renove a face da terra”. (Notem que estamos em 1959...). 3 semanas depois, na Festa de Pentecostes, João XXIII revela ao mundo o seu desejo de convocar um Concílio Ecumênico, e termina sua fala dizendo: “ Espírito Santo, vossa presença dirige a Igreja no caminho certo. Nós vos pedimos, derramai a plenitude de vossos dons sobre esse Concílio Ecumênico. Renovai vossos milagres em nossos dias, em vista de um novo Pentecostes” (cf. Ata Apostolical Sedis 5I, p. 832). Vem o Concílio, e faz 258 menções ao Espírito Santo: coisa inédita na história dos Concílios... Morre João XXIII na Vigília de Pentecostes de 1963; assume Paulo VI que, entre outras pérolas, vai nos dizer que a “maior necessidade da Igreja é o Espírito Santo, é o seu perene Pentecostes! E profetiza: “À cristologia, e especialmente à eclesiologia do Concílio, deve seguir-se um estudo renovado e um culto renovado do Espírito Santo, precisamente como complemento indispensável do ensino conciliar”. O Concílio termina a 8 de dezembro de 1965; em agosto de 1966, um grupo de dirigentes de Cursilhos se reúne nos Estados Unidos e alguns deles se interessam pela novidade do “batismo no Espírito Santo”; em janeiro de 1967, 4 católicos são batizados no Espírito, e, em fevereiro desse ano... vocês já sabem a história. Vem João Paulo II e diz que “a cultura de Pentecostes é a única capaz de favorecer o estabelecimento da civilização do amor entre os povos”... E que “o caminho de crescimento proposto pela RCC aos membros de seus grupos e comunidades, chamado de “efusão do Espírito”, é o segredo para se chegar à santidade... E no seu último Pentecostes (29/05/2004), nos dá uma mandato, fazendo eco a todo o profetismo de Elena Guerra: Saúdo de modo especial os membros da Renovação no Espírito, uma das várias expressões da grande família do Movimento Carismático Católico. Graças ao movimento carismático tantos cristãos, homens e mulheres, jovens e adultos, têm redescoberto Pentecostes como realidade viva e presente na sua existência cotidiana. Desejo que a espiritualidade de Pentecostes se difunda na Igreja, como um renovado salto de oração, de santidade, de comunhão e de anúncio.” A 5ª Conferência Episcopal Latino-americana e do Caribe – sempre de perfil “teológico-libertador”, pela 1ª vez (nos 4 documentos), falou de Pentecostes. E admitiu: “Esperamos um novo Pentecostes (362)”; e, mais que isso, disse: “Necessitamos de um novo Pentecostes! (548)...” Termino contando um rápido fato: Em abril de 2006, o Pentecostalismo protestante se reuniu, em Los Angeles, para celebrar o seu centenário – aí considerado por causa dos trabalhos do pastor William J. Seymour, a partir de Azusa Street, em 1906. Representando o Vaticano, estavam lá Allan Pannozza e esposa, Oreste Pesare, e eu...Um pastor famosíssimo comandava as manhãs do evento, que eram comum a todos os participantes. Esse pastor famoso, Jack Hayford, lançou, aí, um livro, em co-autoria com o Dr. S. David Moore: “The Charismatic Century, The Enduring Impacto of the Azusa Street Revival”. Surpreendentemente – por vir de quem vem –, o livro começa seu primeiro capítulo (The New Shape of Christianty) relatando a invocação do Veni Creator Spiritus e a Consagração do século XX ao Espírito Santo pelo papa Leão XIII. No corpo do livro (que tem 313 páginas), Hayford e o Dr. S. David Moore (co-autor) discorrem sobre o papel de Elena Guerra, a Encíclica de Leão XIII, explicam o que é uma “novena”, falam da oração de João XXIII pelo Vaticano II, e, à página 224, declaram, corajosa e admiravelmente: “Numa cultura dada ao cinismo, muitos podem menosprezar o poder daquela oração, de 1º de janeiro, de dedicação do século vinte ao Espírito Santo, considerando-a como um mero exercício religioso. Mas olhando para trás a partir de nossa presente perspectiva, os eventos dos últimos 100 anos revelam que Deus estava se movendo em e entre Seu povo, moldando Seu projeto (desing) para o século carsimático”. “O século carismático começou com o hino de invocação ao Espírito Santo do Papa Leão XIII, a 1º de janeiro de 1901, quando nascia o século XX”, afirmam os autores à página 223 de seu livro. Irmãos e irmãs, amados do Senhor Jesus...Não somente os pentecostais católicos, mas também agora os protestantes, os evangélicos, começam a reconhecer que, esse reavivamento espiritual de proporções nunca vistos na história...essa redescoberta da pessoa e de ação do espírito Santo... essa renovação do uso dos carismas a serviço do anúncio da Boa Nova...esse momento privilegiado do Espírito Santo que nossa amada Igreja experimenta, devemos ao protagonismo e à intercessão dessa mulher que, colocando-se à escuta do Espírito, por Ele se deixou possuir... por Ele se deixou conduzir... Os tempos são difíceis? Os desafios são assustadores? Os obstáculos são desanimadores? Clamemos pelo Espírito Santo... pois tudo, tudo... o que o Espírito Santo toca, o Espírito Santo transforma...including you!!! Amém!