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MINISTROS DE MÚSICA

1. Aclamação ao Evangelho
O Aleluia, canto de aclamação ao Evangelho, fazia parte do que se chamava “cantos entre
leituras”, junto com o salmo responsorial. Tem origem na palavra hebraica ‫( הַ ְללּויָּה‬halleluya), e
significa “louvai YHWH”, “louvai ao Senhor”. Aparece em vários salmos1, sendo, provavelmente,
declamada por quem dirigia a liturgia, repetida depois pelo coro2. A “aclamação constitui um rito ou
ação por si mesma, através da qual a assembleia dos fiéis acolhe o Senhor que lhe vai falar no
Evangelho, saúda-o e professa sua fé pelo canto” (IGMR 62). A profissão de fé se dá pelo
reconhecimento do Cristo que fala no Evangelho. A forma básica do rito, de acordo com o tempo
litúrgico, é composta pelo tríplice “aleluia” seguido de antífona do Evangelho do dia, tendo
a sequência de aleluias repetida ao final. Sendo um canto de júbilo, de louvor, o “aleluia” é
omitido no tempo da Quaresma, por seu tom penitencial, no qual prepara toda a Igreja para o
grande aleluia pascal com a ressurreição de Jesus. Durante este período, canta-se um louvor a
Cristo Palavra, seguido de antífona própria para a liturgia do dia. Quando não é cantado, o Aleluia
pode ser omitido (cf. IGMR 63).

2. Santo
A oração eucarística se inicia com o diálogo entre o presidente e a assembleia, e segue com
o louvor e ação de graças a Deus Pai pela história da salvação, momento constituído pelo prefácio,
pelo “Sanctus”, o hino seráfico, e o seu prolongamento de louvor, quando se pede que, sendo Deus
fonte de toda a santidade, derrame o seu Espírito Santo (epiclese), para que santifique as oferendas
apresentadas no altar. O prefácio é um texto lírico por natureza, e quem preside o proclama
solenemente, cantando as maravilhas de Deus na história da salvação ou por um aspecto particular
dessa mesma história, manifestada em uma solenidade, festa ou memória que se faça de acordo
com o tempo litúrgico. Com o prefácio tenta-se “criar, com palavras humanas, uma moldura digna
e, sobretudo, uma entrada adequada para o santo mistério que vai se realizar em nosso meio e
que vamos levar até Deus3”.
O “Sanctus” é uma continuação do prefácio, onde a Igreja une sua voz a voz dos anjos e
santos que entoa o hino seráfico de Is 6,2-3, na primeira parte, utilizada na liturgia sinagogal judaica
desde o século II. Na liturgia cristã oriental, aparece no século IV, enquanto no ocidente, apenas
no século V; e Mt 21,9, na segunda parte, presente na liturgia ocidental no século VII e na oriental,
somente no século seguinte.
Durante muito tempo o “Sanctus” foi considerado uma peça única de “aclamação”. Hoje já
se faz a divisão interna de seus componentes por gerarem, na assembleia, atitudes diferentes de
“adoração, admiração, exclamação, bênção e exclamação final4”. J. Gelineau assim classifica as
partes do “Sanctus”:
(A) Adoração: Santo! Santo! Santo!
(B) Aclamação: Senhor Deus do universo!
(C) Proclamação (cósmica): O céu e a terra proclamam a vossa glória!
(B’) Aclamação: Hosana nas alturas!
(C’) 2º Proclamação (cristológica): Bendito o que vem em nome do Senhor!
(B’’) Aclamação: Hosana nas alturas!5

1
Cf. Sl 104-106; 111-113; 115-117; 135; 146-150.
2
Cf. Aleluia. MACKENZIE, John. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulinas, 1983. p. 19.
3
JUNGMANN, Josef A. Missarum sollemnia. p. 584.
4
Cf. GELINEAU. Joseph. Os cantos da missa no seu enraizamento ritual. p. 77.
5
Ibid.
Precisamos entender a diferença básica entre proclamação e adoração. Na primeira, nós
afirmamos alguma coisa, como o é quando dizemos que “o Senhor é Santo!”. Na segunda, diante
da santidade de Deus, apenas o adoramos incessantemente: “santo, santo, santo”. Sabendo que
a primeira parte do santo constitui uma adoração e não uma proclamação, inviabilizamos muitas
composições das últimas décadas aqui no Brasil. Deve-se recordar, ainda, que por ser uma parte
do ordinário da missa, como constitutivo da oração eucarística, deve ser proferida por todo o povo
com o sacerdote (cf. IGMR 79).

3. Aclamação Memorial
Após o relato da instituição da Eucaristia, temos o “Mysterium fidei”, em nossa tradução
“Mistério da fé”.
Com esta exclamação pronunciada logo a seguir às palavras da consagração, o
sacerdote proclama o mistério celebrado e manifesta o seu enlevo diante da
conversão substancial do pão e do vinho no corpo e no sangue do Senhor Jesus,
realidade esta que ultrapassa toda a compreensão humana (Sacramentum Caritatis,
6).

Com a proclamação do mistério da fé, a “Igreja, ao mesmo tempo que apresenta Cristo no
mistério da sua Paixão, revela também o seu próprio mistério: Ecclesia de Eucharistia6” (EE 5). Em
resposta ao mistério proclamado, a assembleia canta a sua aclamação memorial, pela qual
“exprime seu claro sentido pascal e memorial em relação à eucaristia: interpreta as palavras de
Cristo referindo-as à sua morte, ao mesmo tempo que exprime a tensão escatológica inerente à
sua celebração sacramental7”. É, em verdade, uma profissão de fé da assembleia que já havia
reconhecido os sinais da presença real de Cristo na Palavra e no ministro, e agora o vê sinal
supremo, no pão e vinho eucaristizados. Denomina-se anamnese o conjunto composto pela
aclamação memorial, seguida da declaração anamnética e a oferta do memorial.
Há, na aclamação memorial um questionamento frequente: Porque é dirigida a Cristo,
enquanto toda a oração é feita ao Pai? Realmente, as três respostas da assembleia propostas pelo
Missal Romano são dirigidas ao Filho: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a
vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”; ou “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos
deste cálice, anunciamos, Senhor a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda”; ou “Salvador
do mundo, salvai-nos, vós que nos libertastes pela cruz e ressurreição8”. Quando no rito de
preparação das oferendas a assembleia responde “Receba o Senhor por tuas mãos este
sacrifício...”, confia ao celebrante o múnus de conduzir a oração em seu nome, portanto, toda a
oração eucarística é diálogo do presidente com o Pai, enquanto a assembleia, ao tomar parte na
oração na aclamação memorial, se dirige ao Cristo, aquele que a conduz ao Pai9.

4. Doxologia Final
A oração se encerra com a doxologia final, que consiste em um louvor trinitário dirigido ao
Pai, por intermédio do Filho, na unidade do Espírito Santo. Todas as anáforas (orações
eucarísticas) herdam do cânon romano a forma “Por Cristo, com Cristo e em Cristo...”, que pode
ser cantada pelo presidente da celebração e, se preferir, pelos demais concelebrantes, não, porém
pelos fiéis (cf. IGMR 236), que tem sua participação na aclamação do “Amém” que conclui toda a
ação de graças.

6
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia: sobre a Eucaristia na sua relação com a Igreja. São Paulo:
Edições Loyola, 2003. EE 5.
7
ALDAZÁBAL, José. A celebração da Eucaristia. In: BORÓBIO, Dionísio (org). A celebração na Igreja II. p.260.
8
Cf. MISSAL ROMANO. p. 473-474.
9
GELINEAU. Joseph. Os cantos da missa no seu enraizamento ritual. p. 81.

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