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INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ

(IGREJA ANTIGA – SÉC. I-III)

Na Igreja do Novo Testamento, o Batismo era compreendido como participação


no Mistério Pascal de Cristo. A comunidade apostólica, embora não tendo ainda uma
regulamentação estável da liturgia, já dispunha de algumas formas litúrgicas próprias.
Destaca-se a importância das reuniões de oração, do Batismo e da Fração do Pão. Das
outras formas litúrgicas, pouco sabemos: a imposição das mãos, a penitência, a unção dos
enfermos, etc.

O Batismo é conferido com a água e o Espírito: ele acontece na água e no Espírito


(Mc 1,8 e par.; Jo 3,5; Tt 3,5; 1Cor 12,13); comporta, junto com a remissão dos pecados,
o dom do Espírito. O próprio vento de Pentecostes é qualificado como batismo, e não
como confirmação (At 1,5; 11,15). A iniciação cristã é fato unitário, que não conhece as
distinções a que estamos habituados: a teologia crismal se baseia na teologia batismal.1

Do século II ao V, a Igreja no Oriente e no Ocidente empregou um processo de


catecumenato de incorporação gradual na comunidade que oferecia um modelo de
conversão e desafiava os já iniciados. Nesse processo, os sacramentos do Batismo,
Confirmação e Eucaristia formavam uma experiência sacramental unificada que
frequentemente exigia um longo período de formação evangélica (Hipólito de Roma
testemunha, de modo mais explícito, que o processo catecumenal durava três anos).

Segundo Hipólito de Roma, o processo catecumenal ocorria da seguinte forma:

• Entrada no catecumenato – um primeiro exame que se estende aos motivos da


decisão do candidato, suas relações matrimoniais, profissão e condição social. Os
candidatos devem apresentar como fiador (padrinho) um cristão conhecido, que
possa dar uma garantia inicial da vontade de conversão do aspirante. Aquele que
mantiver uma casa de prostituição não poderá ser admitido. No século III: as
profissões que têm relação com o culto pagão, o serviço militar ou a administração
imperial são incompatíveis com a fé cristã.

1
Cf. NOCENT, A. Iniciação cristã. In: SARTORE, Domenico – TRIACCA, Achille M. Dicionário de
liturgia. São Paulo – Lisboa: Paulinas – Paulistas, 1992. p. 594.
• Formação doutrinal – período de catequese, garantida pelos “doutores”, que
podem ser tanto eclesiásticos como leigos. Esse período é aberto com o sinal da
cruz e dura 3 anos. O aspirante recebe uma instrução especial, cujo conteúdo tem
como base fundamental as Escrituras, com a qual o catecúmeno vai se
familiarizando por meio das leituras litúrgicas e da homilia. O encontro sempre é
encerrado com uma oração e com a imposição de mãos dos doutores sobre os
catecúmenos.
• Preparação precedente ao Batismo – a fase catecumenal anterior termina com um
novo exame dos aspirantes ao Batismo (presença do padrinho que responde pelo
candidato). Nesse exame procura-se saber se o catecúmeno, em sua vida diária,
deu provas de conversão a Cristo, praticando o mandamento fundamental do amor
ao próximo, em sua realização concreta de visitar os enfermos e ajudar as viúvas.
Passada essa prova, entra-se na preparação ao batismo: pela oração, o jejum e os
exorcismo rituais.
• Segundo Hipólito, são obrigados a assistir à liturgia da palavra na celebração
eucarística durante esse tempo. Na última semana, os candidatos recebem uma
preparação mais concentrada, acompanhada de ritos. A celebração do Batismo é
descrita da seguinte maneira: no momento em que o galo canta, serão feitas
orações, em primeiro lugar sobre a água, e serão batizadas as crianças, depois
serão batizados os homens e por fim, as mulheres. O rito também contém a
renúncia a Satanás e a todas suas obras. Em seguida, o candidato será batizado
enquanto confirma sua fé em Deus Pai, Filho e Espírito. Finaliza o Batismo com
unção de óleo pelo presbítero.

Hipólito de Roma menciona repetidas vezes uma série de ritos pós-batismais


realizados pelo bispo. Na Didaqué, fala-se apenas do batismo (por imersão ou por
infusão), sem nenhum rito pré-batismal ou pós-batismal, com um jejum prévio e uma
breve referência que indica o batismo como requisito para a admissão à eucaristia. Nas
Actas sírias de Tomé, o banho batismal vem precedido de uma unção com óleo que é o
sinal de Espírito. Por isso, podemos dizer que nos séculos I-III, existem as diferentes
tradições batismais.2

2
BOROBIO, Dionísio. A celebração na Igreja. São Paulo: Loyola, 1990. vol. 1. p. 58-60.
A antiga tradição da Igreja viveu a iniciação dos três sacramentos exatamente
como iniciação a todos os três juntos: eles eram conferidos em celebração única, mesmo
às crianças. A sucessão dos três ritos nos é descrita desde o século II em texto já clássico
de Tertuliano: “O Corpo é lavado, para que a alma seja purificada; o corpo é ungido para
que a alma seja consagrada; o corpo é assinalado (com o sinal-da-cruz) para que a alma
seja fortificada; o corpo é sombreado (pela imposição das mãos) para que a alma seja
iluminada pelo Espírito Santo; o corpo é alimentado com o corpo e o sangue de Cristo
para que a alma se nutra de Deus”.3

Alunos: Maria das Graças Rodrigues


Maria Jeane Bezerra
Valdemir Augusto dos Santos

3
Cf. NOCENT, A. Iniciação cristã. In: SARTORE, Domenico – TRIACCA, Achille M. Dicionário de
liturgia. São Paulo – Lisboa: Paulinas – Paulistas, 1992. p. 283.

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