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ARQUIDIOCESE DE MANAUS

PAROQUIA SANTO ANTÔNIO


COMISSÃO PAROQUIAL DE IVC

SEGUNDA ETAPA
Itinerário de
formação
04Set2021

INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ


e
PEDAGOGIA CATECUMENAL
Tocar o mistério de Cristo é tocar o mistério da
vida. Tocar significa experimentar. Implica ter
percepção, isto é, ter uma compreensão que nasce dos
sentidos que foram impactados pela experiência
concreta.
O apóstolo Tomé nos representava quando disse:
“se eu não vir a marca dos pregos nas mãos dele, se
eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se
não colocar a minha mão no lado dele, eu não
acreditarei” (Jo 20,25). Ou tocamos o mistério ou não
cremos. Tomé manifesta uma falta de fé, mas
exprime também uma necessidade: a necessidade de
fazer a experiência do mistério do Senhor na própria
vida.
O testemunho da samaritana foi crucial para
mergulhar os samaritanos na água viva que é Jesus;
porém, cada um deles fez a sua experiência do
mistério de Cristo. Natanael, ouvindo o testemunho de
Felipe a respeito de Jesus, desconfiou e disse: “De
Nazaré pode vir algo de bom?” (Jo 1,46). Felipe
insistiu: “Venha, e então você verá” (Jo 1,46). E
depois de ter visto e ouvido o Senhor, exclamou:
“Rabi, tu és o Filho de Deus” (Jo 1,49). O processo de
IVC com inspiração catecumenal objetiva favorecer a
experiência do encontro com Jesus Cristo, o
acolhimento da Boa Notícia do Reino, a participação
afetiva e efetiva na comunidade de fé, o desejo de ser,
no mundo e na sociedade sinal do amor de Deus.
Todos os que são iniciados na vida de Cristo, no modo de
viver de Cristo, seguem seus passos e contemplam a
alegria de nascer de novo, nascer do alto (cf. Jo 3,1-8).
A iniciação envolve toda a comunidade e a torna capaz de
assumir um novo agir evangelizador em vista da vida e da
missão da Igreja, para realizar a vontade do Pai, anunciada
por Jesus Cristo.
Perguntamo-nos por que a Igreja quer recuperar a
experiência de iniciação à vida cristã de seus primeiros
séculos. O Concílio Vaticano II (1962-1965) foi o ponto
culminante, entre outros, do movimento catequético,
bíblico e litúrgico vivido pela Igreja no final do século
XIX e primeira metade do século XX. Além disso, os
documentos conciliares influenciaram a transformação da
catequese.
PRINCIPAL OBJETIVO DA CATEQUES
CIAR E TORNAR JESUS CRISTO CONH
INICIAÇÃO À VIDA
CRISTÃ
O que é??
No processo de iniciação à vida cristã, a catequese
encontra as condições ideais para realizar sua missão
mistagógica e pedagógica de introduzir a pessoa nos
mistérios de Jesus Cristo e conduzi-la ao crescimento
da fé e à plena participação na Igreja. No processo de
iniciação cristã de inspiração catecumenal, o
catecúmeno ou catequizando, pode fazer sua
experiência existencial do mistério salvífico de Cristo,
da tradição e da Igreja em sua comunidade.
Por que dizemos “processo de inspiração
catecumenal”? Assim chamamos por não ser uma
cópia exata do processo catecumenal primitivo, mas a
adesão a alguns elementos daquele tempo, levando-se
em consideração a realidade e as circunstâncias atuais.
Iniciação era, no início do cristianismo, o nome que
se dava ao processo pelo qual uma pessoa era
incorporada ao mistério de Jesus Cristo (paixão,
morte, ressurreição e glorificação). Os primeiros
cristãos se serviram dos costumes antigos de religiões
pagãs e de outras correntes religiosas para elaborar o
caminho de iniciação à vida
cristã (Iniciação à vida cristã: itinerário para formar
discípulos missionários. Documentos da CNBB
(107). Brasília: Edições CNBB, 2018, p. 29-39)
Esse processo de iniciação cristã era denominado
catecumenato. Somente a pessoa adulta participava.
Durante esse tempo, o candidato à vida cristã era
chamado de catecúmeno.
Seu objetivo principal era mergulhar a pessoa
no mistério de Cristo e da Igreja, preparando-a
para receber os sacramentos da iniciação. A
iniciação era feita em etapas, com ritos, gestos e
símbolos. Dessa maneira, a pessoa aprendia e
celebrava os mistérios da fé.
A palavra iniciação, de origem pagã, tornou-se
cristã. Significa “ir bem para dentro”, “mergulhar”,
“entregar-se inteiramente”.
Indica uma profunda mudança de vida, de
comportamento e atitudes. Significa inserir-se,
fazer parte de um novo grupo, agregar-se.
Por iniciação cristã entende-se o processo pelo
qual alguém é incorporado ao mistério de Cristo
Jesus: não se reduz à catequese, mas inclui,
sobretudo, a ação celebrativo-litúrgica.
A catequese é um elemento, o mais longo e
importante, do complexo processo pelo qual alguém
é iniciado à fé cristã.
Teologicamente falando, a verdadeira iniciação
se dá na celebração dos sacramentos do batismo,
Eucaristia e crisma, chamados justamente, a partir
do século XIX, de sacramentos de iniciação. Trata-
se de uma iniciação que poderíamos chamar de
sacramental.
PARA REFLETIR
O que é iniciação à vida Cristã?
Em que a pessoa é inserida?
O que é a vida cristã?
• A IVC renova a vida comunitária e desperta seu
caráter missionário. Isso requer novas atitudes
evangelizadoras e pastorais. É a Igreja sempre
em movimento, em construção e em renovação.
• É necessário pensar e construir um novo
paradigma pastoral. É exigência do nosso tempo.
Não podemos dar respostas antes de ter escutado
as perguntas.
• Neste processo, a Palavra de Deus é essencial.
• Recuperação do RICA (Ritual de Iniciação a
Vida Cristã dos Adultos) - A importância de uma
catequese com inspiração catecumenal
• Buscar novos caminhos pastorais;
• Formar discípulos conscientes, atuantes e
missionários;
• A opção religiosa é uma escolha pessoal. Hoje,
se evangeliza “por atração”.
• Novas disposições pastorais: perseverança,
docilidade à voz do espírito, sensibilidade aos
sinais dos tempos, escolhas corajosas e
paciência.
PARA REFLETIR: POR QUE A IVC É UMA
URGÊNCIA NO CONTEXTO ATUAL DE
EVANGELIZAÇÃO? QUAIS AS EXIGÊNCIAS DO
PROCESSO DE IVC? QUAL A DIFERENÇA ENTRE
CATEQUESE TRADICIONAL E CATEQUESE COM
I.

ELEMENTOS HISTÓRICOS:
ORIGEM,
DESENVOLVIMENTO E
DECADÊNCIA DO
CATECUMENATO
Origem do Catecumenato
Introdução
O catecumenato, nascido nos primeiros séculos do
cristianismo, foi uma das mais bem sucedidas instituições de
iniciação à vida cristã na história da Igreja, e hoje, resgatada
pelo Concílio Vaticano II, é a grande aposta para responder,
com as devidas adaptações, aos atuais desafios da iniciação à
vida cristã.
O catecumenato nasce, portanto, como preparação à vida
cristã aos convertidos adultos, no intuito de que sua fé inicial se
transformasse em profissão de fé explícita e sacramentalmente
celebrada na comunidade cristã (cf. FLORISTÁN, C.
Catecumenato: história e pastoral da iniciação, op. cit., p. 29).
Segundo ele, o caminho da vida consiste na
vivência da honestidade, da humildade, da caridade
fraterna e da castidade ao passo que o caminho da
morte se refere a tudo que afasta de Deus. Os dois
textos abordam questões importantes sobre a fé cristã.
Pastor de Hermas, em 140 (Roma), escreveu o texto
mais completo a respeito da preparação dos candidatos
ao batismo, levando em consideração a Palavra de
Deus e a necessidade de profunda conversão.
Por volta do ano 180, em Alexandria, no Egito, há
uma escola para a formação dos catecúmenos. Sabe-se
que essa escola formava os catecúmenos durante três
anos. Em Cartago, na África, nesse período havia uma
longa preparação para o batismo.
Santo Hipólito, em 215, comenta sobre o
catecumenato. Ele afirma que a catequese nesse
período durava três anos. Sabe-se também que na
Palestina e na Síria existia um sério e
comprometido caminho de preparação para os
sacramentos de iniciação à vida cristã.
Na Igreja primitiva, as catequeses mistagógicas
eram dadas a partir das celebrações. Não havia a
preocupação de dar explicações de forma
sistemática ou conteudista.
O catequista não se colocava no centro da cena,
mas ao lado: no centro estava sempre o altar,
quando a catequese era dada na igreja.
O mistagogo, isto é, aquele que conduz ao mistério
– o catequista –, tinha os olhos voltados para o Cristo e
para os catequizandos; por sua vez, os catequizandos
tinham os olhos fixos para o altar e para o catequista.
Ambos não perdem de vista o Cristo, Mestre e Senhor,
pois o altar representa verdadeiramente o próprio
Cristo (GIRAUDO, C. Num só corpo: tratado sobre a Eucaristia. São Paulo: Loyola,
2003, p. 8-9).
Com o passar do tempo, o cristianismo vai se
expandindo, deixa a realidade judaica e entra no
mundo greco-latino. A expansão missionária faz o
cristianismo adaptar-se às novas culturas e às novas
linguagens, até mesmo incorporando costumes e
tradições de outros povos.
Outro aspecto importante a ser considerado no
início do cristianismo é o martírio. Muitos cristãos dos
anos de 64 a 313 foram martirizados.
A Igreja, nesse período, tem consciência de que é
necessário extremo cuidado com os novos adeptos à fé.
Ela sabe que estes passariam por grandes tribulações e
sofrimentos. É um tempo de muita provação para os
cristãos.
Dentro de todo esse contexto, insere-se o processo
de iniciação à vida cristã, da qual o catecumenato é
parte integrante. No ano de 215, Hipólito de Roma
escreve um tratado denominado A tradição apostólica,
que organiza metodologicamente o catecumenato.
É a partir desse texto que o catecumenato passa
a ser desenvolvido por etapas.
De acordo com Hipólito de Roma, o
catecumenato consiste numa preparação remota
para o batismo, dentro do período de três anos, e
em uma preparação próxima, a partir da aceitação
do batismo, que geralmente acontece na Quaresma.
Nessas duas etapas, os candidatos são ouvintes
e, na missa, participam somente da liturgia da
Palavra, sendo despedidos antes da Eucaristia.
Somente após o batismo podem participar
plenamente da comunidade e da Eucaristia.
Outros textos da Igreja primitiva mencionam o
catecumenato como o processo de iniciação à vida
cristã.
De acordo com tais textos, o catecumenato é
realizado sob a orientação dos catequistas,
denominados “doutores” na fé, sejam eles padres,
bispos ou leigos. Os candidatos são acompanhados por
padrinhos.
Os textos revelam também que na Síria, por
exemplo, toda a comunidade assume o candidato como
afilhado. A comunidade participa ativamente do
processo de iniciação. Dessa forma, o catecumenato
vai se tornando um processo regular e sistemático nas
comunidades cristãs primitivas.
Os tempos são assim caracterizados: pré-
catecumenato é o anúncio para despertar no
iniciante o processo de conversão, aceitação e
adesão a Jesus; catecumenato é o
aprofundamento da fé, catequese
propriamente dita; iluminação ou purificação
é o grande retiro de preparação para a
recepção dos sacramentos, tempo de intensas
orações; mistagogia é o tempo de revelar as
chaves e os códigos para a compreensão
ritual.
Elementos históricos do Catecumenato
O catecumenato é um conjunto de elementos que
conduzem à iniciação cristã, de tal forma que sem ele a
iniciação não chega à sua plenitude. Portanto, trata-se de
um elemento constitutivo da iniciação.
Eis a razão primordial porque o termo pedagogia, ao ser
associado ao catecumenato e à iniciação recebe um
alcance mais profundo do que o costumeiro. Pedagogia
catecumenal se aproxima do sentido de mistagogia.
Assim, pedagogogia catecumenal, ou metodologia
catecumenal diz respeito a uma proposta mistagógica,
um caminho que conduz ao mistério (Mistagogia
-Mystes, mistério, e agein, conduzir ao mistério).
Origem e desenvolvimento do Catecumenato
Os elementos sobre a iniciação cristã são escassos no
Novo testamento. Não encontramos nos escritos
sagrados um ritual elaborado de preparação para os
novos membros que desejassem abraçar a fé cristã. Nem
mesmo encontramos lá os termos iniciação ou
catecumenato, o que não significa a ausência de uma
preparação e critérios de discernimento para quem
deseja ser batizado na fé cristã.
Várias passagens neotestamentárias apontam para
determinadas exigências antes da celebração do
batismo, sobretudo em Atos dos Apóstolos, onde melhor
se pode perceber os passos necessários para que alguém
se tornasse cristão.
Origem e desenvolvimento do Catecumenato
É clássico o exemplo em At 8,26-39, na qual
Felipe anuncia a Boa Nova ao ministro da Rainha da
Etiópia e o instrui na fé antes deste ser batizado, que
por sua vez pede o batismo e professa sua fé no
Cristo.
Apesar de não constituir um programa detalhado é
constante no Novo Testamento a alusão a alguma
preparação imediata aos novos cristãos. Dentre os
diversos textos que narram os passos necessários no
processo de iniciação, pode-se perceber que o
itinerário é composto basicamente pelo anúncio,
instrução, profissão de fé, preparação imediata e
batismo.
Origem e desenvolvimento do
Catecumenato
Ouve-se a Boa Nova, adere-se a ela, abrindo-se à fé-
conversão, cujo sinal sacramental dessa atitude
fundamental de vida e adesão a Cristo é o batismo, que
por sua vez é indissociável à inserção na comunidade
(cf. Rm 6,1-11; Ef 1, 13).
Outros textos fazem alusão a outros elementos
fundamentais do ‘processo de iniciação’: decisão
irreversível (Hb 5,12-6,3); renúncia aos ídolos e servir
ao Deus vivo (1Ts 1,9-10).
Nesta perspectiva, a origem do catecumenato remete
à própria atividade apostólica e à missão mesma de
Jesus (Cf. LOPES, J. Catecumenato. In: FIORES, S. G. T. (org).
Dicionário de Espiritualidade. São Paulo: Paulus, 1998, p. 100).
Origem e desenvolvimento do
O catecumenato bebeu das fontes judaicas, sobretudo
Catecumenato
no tocante à insistência à conversão para o seguimento,
que apresenta certas condições para fazer parte da
comunidade, e exigia, na dinâmica da iniciação
progressiva, um tempo de formação e purificação, de
provas, e por fim o discernimento.
Na mesma perspectiva, para a admissão dos
prosélitos, conforme aparece na literatura rabínica do
final do século I, exigia-se a pregação missionária em
vista da conversão, da purificação dos motivos da
conversão, o exame de admissão, realizada por três
rabinos, a instrução sobre os mandamentos e a lei de
Deus, e por fim a circuncisão e o batismo.
Do século II ao IV
No século II o catecumenato ainda não existe como
uma instituição estruturada e oficializada, o que irá
acontecer a partir do século seguinte, contudo já é uma
prática pastoral bastante difundida. Trata-se muito mais
de um ‘processo catecumenal como verdade vivida’ do
que uma instituição.
Até alcançar sua estruturação no século III, o
catecumenato passa por várias experiências em seu
desenvolvimento, amadurecendo-se paulatinamente.
Cresce a preocupação com o discernimento e
autenticidade dos candidatos ao batismo, num contexto
marcado por perseguições (cf. FLORISTÁN, C. Catecumenato: história e
pastoral da iniciação, op. cit., p. 83).
Do século II ao IV
A grande expansão do cristianismo e o grande
número de candidatos exigem que se pense numa
formação mais profunda e mais exigente daqueles que
professam a fé, num contexto em que as perseguições de
um lado, e as seitas de outra, já tinham conduzido
cristãos à apostasia. A partir do século II, a Igreja
começa a elaborar um itinerário mais exigentes aos que
desejam ser cristãos, o que significa que a instituição
catecumenal começa a ganhar corpo. A referência mais
antiga que se tem do processo de iniciação dos
primórdios da Igreja, além do NT, é a Didaqué, na qual
encontramos bases mais sólidas da iniciação à fé, sem
ainda consistir em uma maior sistematização.
Do século II ao IV
O eixo que norteia a obra é a doutrina dos ‘dois
caminhos’ (morte e vida, luz e sombra, Didaqué 1,1-6).
O nexo entre catequese e batismo: “em relação ao
batismo, se faça da seguinte forma: depois de haver
ensinado tudo que o precede, batize-se em nome do Pai,
do filho e do Espírito Santo” (Didaqué 7, 1).
Já nessa obra, relativamente recente, verifica-se o
envolvimento da comunidade no processo de
transmissão da fé (Didaqué, 9).
Todos os fiéis, com o jejum e a oração participavam
da iniciação do catecúmeno.
Do século II ao IV
Orígenes figura entre os grandes contribuintes pela
institucionalização do catecumenato. Contemporaneamente,
Tertuliano (Cartago, África), coopera igualmente com a
história do catecumenato. Ele enfatiza a necessidade do
conhecimento das verdades de fé concomitante à preparação
ascético-moral. Faz parte ainda uma prova adequada para
poder ser aceito. Na dúvida, preferia-se prorrogar o
catecumenato.
São nos séculos III e IV que o catecumenato ganhará
uma estruturação em todas as comunidades cristãs. “O
verdadeiro catecumenato é o da Igreja missionária do
século III, quando a iniciação sacramental exige ainda uma
séria formação prévia e na qual o acesso à catequese oficial
é privilégio exclusivo dos crentes”
Tradição apostólica de Hipólito de Roma
Trata-se de uma das principais referências sobre o
catecumenato primitivo, e que de certa forma dão a
base para a estruturação da instituição catecumenal.
Ela oferece uma visão completa do que foi a
pedagogia catecumenal da Igreja primitiva na
primeira metade do século III.
A obra de Hipólito de Roma apresenta o itinerário
catecumenal em três etapas: admissão-entrada ao
catecumenato (TA 15-16); tempo de catecumenato
(TA 17-19) e eleição para o batismo (TA 20).
Tradição apostólica de Hipólito de Roma
Após a evangelização prévia, isto é, o primeiro
anúncio, presumida a conversão primeira, o candidato é
apresentado pelo padrinho à comunidade para ser
admitido ao catecumenato, passando por um severo
exame de moralidade de vida: estado de vida, suas reais
motivações e sinceridade de conversão.
É verificado igualmente seu estado familiar, social e,
sobretudo profissional, pois certas profissões eram
contrárias à condição de discípulo de Cristo. Tanto
Hipólito como Tertuliano falam de um rito de admissão
perante os ‘doutores’. Significado fundamental nesse
processo tem o sinal da cruz na fronte do candidato,
como expressão de fé em Cristo.
Tradição apostólica de Hipólito de Roma
No oriente, recebiam o nome de iluminados –
photizómenoi. No Ocidente eram chamados
competentes; em Roma, electi, eleitos. Era um
momento intenso de oração e penitência não apenas
do eleito, mas de toda a comunidade dos crentes.
Prosseguia-se com a inscrição do nome.
Os eleitos são convocados para catequese própria
onde lhe são apresentados os artigos da fé, ou seja, o
credo (traditio symboli, o símbolo da fé), sinal de
adesão pessoal à fé transmitida pela Igreja.
Juntamente com o Credo recebia-se o símbolo do
Pai Nosso.
Tradição apostólica de Hipólito de Roma
Uma série de exorcismos, chamados escrutínios,
acompanhava esse processo, cujo significado aponta para a
força transformadora de Deus na luta contra o mal.
O ponto culminante do processo da iniciação
catecumenal se realizava na noite da Vigília pascal, com a
celebração dos sacramentos do Batismo, Confirmação e
Eucaristia.
Os passos mais próximos à celebração sacramental, isto
é, durante a semana santa, eram marcados por vários
momentos (TA parte II): banho, na quinta-feira santa; na
sexta-feira santa início do jejum, no sábado santo o bispo
impõe as mãos sobre os eleitos, exorciza-os, sopra-lhes na
fronte, nos ouvidos e nas narinas (TA II).
Tradição apostólica de Hipólito de Roma
Durante a vigília que ocorria durante toda a noite do
sábado, realizava-se o rito sacramental, igualmente
marcado com os ritos correspondentes. Os batizandos se
despojam de suas vestes e o bispo consagra-os com os
óleos. Renunciam a satanás e em seguida são ungidos
com o óleo do exorcismo. Seguia-se então o batismo
com três imersões.
Logo após, o neófito era novamente ungido, agora
com o óleo de ação de graças. Vestiam-se com vestes
brancas e se apresentam à comunidade reunida, onde o
bispo faz-lhes o sinal da cruz na fronte e lhes dá o beijo
da paz. Eles, agora batizados, rezam com o povo e
participam da Eucaristia
Tradição apostólica de Hipólito de Roma
A última etapa do longo e completo processo de
iniciação correspondia à mistagogia,
aprofundamento da experiência dos mistérios
sacramentais recebidos. Durante a semana da páscoa
os neófitos iam diariamente à Igreja para, através
das catequeses mistagógicas, aprofundarem o
sentido dos sacramentos recebidos.
Importante ter presente a concepção dos santos
padres, para quem os mistérios não se explicam
antes de serem experimentados. Primeiro vem a
experiência e somente depois a explicação (cf. COSTA,
R. F. A mistagogia e a iniciação cristã de adultos, op. cit.) .
Tradição apostólica de Hipólito de Roma
Nos séculos III e IV está o apogeu do catecumenato.
Os santos padres testemunham a riqueza do
catecumenato nesta época, nas grandes obras da
catequese batismal e pós-batismal de São Cirilo de
Jerusalém (+ 386), Santo Ambrósio de Milão (+ 397),
Teodoro de Mopsuéstia (+ 428); São João Crisóstomo (+
407); Santo Agostinho (+ 430), entre outros.
De fundamental importância nesta dinâmica
catecumenal são as catequeses mistagógicas do século
IV e V, tanto pré-batismal, destinadas aos candidatos ao
batismo, como pósbatismal ou mistagógicas, dirigidas
aos neófitos, realizadas na semana após a celebração
sacramental.
A decadência do catecumenato
Se foram os séculos II e III, o período auge do
catecumenato, após a paz Constantina, ele entra num
processo de paulatina decadência. Nasce no segundo II,
desenvolve-se e se estrutura no III e meados do IV,
transforma-se na segunda metade do século IV, entra em
decadência, até desaparecer nos séculos VI e VII .
As motivações para abraçar a fé cristã já não eram as
mesmas. Depara-se com as ambiguidades das reais
motivações do catecúmeno, entre as quais estão os
interesses políticos e sociais, a extensão ao máximo a
permanência no catecumenato para gozar ao máximo da
vida mundana, retardando assim o batismo-conversão
para o fim da vida.
A decadência do catecumenato
A conversão já não é mais a grande exigência para
entrar nas fileiras do cristianismo. Desaparece
progressivamente o itinerário gradual, experiencial e
comunitário da iniciação à fé.
Motivados pelos interesses fornecidos pelo
casamento igreja-estado, uma multidão aspira ao
batismo.
“Uma ingente multidão de pessoas solicita sua
entrada na comunidade cristã. Mas os motivos dessa
decisão com frequência são interesseiros e alheios a um
desejo de conversão à fé cristã” (BASURKO, X. A vida
litírgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In:
BOROBIO, D. (org.) A celebração na Igreja – vol. 1, op. cit., p. 73. )
A decadência do catecumenato
Em pouco tempo a Igreja perdeu uma organização
vital de preparação de novos fiéis capazes de dar razões
da própria esperança. Ao adaptá-lo à nova realidade
cultural, a iniciação passa a ser preparação próxima aos
sacramentos, ou seja, quem pedia o batismo recebia uma
iniciação abreviada em vista do batizado, em detrimento
do processo catecumenal. A caminhada catecumenal de
três anos está agora reduzida ao tempo da quaresma.
Nesse contexto, tem início o batismo de crianças, torna-
se uma prática generalizada a partir do século VI. A
iniciação cristã já não envolve toda a comunidade, nem
muito menos percorrida de acordo com o ano litúrgico.
A decadência do catecumenato
Diante da fragilidade dos recém-nascidos, da
mortalidade infantil, entra em voga a mentalidade
segundo a qual se deve batizar o quanto antes, quam
primum, em qualquer dia do ano. Portanto, com a
chegada da cristandade desaparece o complexo processo
catecumenal, agora reduzido à etapa de ensino-
instrução, via de regra dirigido a crianças.
Trata-se do assim chamado catecumenato social,
onde a comunidade cristã e a própria sociedade (ou
civilização cristã) exerciam o papel da transmissão da
fé, restando à Igreja tão somente a preocupação com a
instrução doutrinal, isto é, a catequese.
É esta a herança que recebemos da cristandade!
RECORDAÇÃO

Na introdução os  Bispos do  Brasil  afirmam:   “É necessário pensar e construir um 
novo   paradigma    pastoral. É exigência do nosso tempo” (3). “Vivemos à procura de
respostas sobre a vida, seu sentido e, no fundo, sobre nós mesmos” (4). Logo depois,
enfatizamos: “A vida cristã é um novo projeto de vida: ‘o projeto’. E, por isso, ela
requer um processo de passos de aproximação, mediante os quais a pessoa aprende e se
deixa envolver pelo mistério amoroso do Pai, pelo Filho, no Espírito  Santo. 
Seu agir será outro, passando a um novo modo de vida no campo pessoal,
comunitário e social. E isso é  realizado por meio de símbolos, ritos, celebrações,
tempos e etapas. O Ritual  de  Iniciação  Cristã     de Adultos   (RICA)   condensa 
todos  estes elementos” (5).
II - Elementos teológicos e pastorais da IVC
Antes de apresentar as etapas do processo
catecumenal e o específico de cada uma delas, veremos
algumas características centrais que perpassam todo o
processo da iniciação cristã catecumenal.

A PROGRESSIVIDADE DA INICIAÇÃO À VIDA


CRISTÃ
Se é verdade que não se nasce cristão, mas se torna,
também é certo que não se torna cristão de um dia para
o outro, sob pena da conversão não firmar raízes mais
profundas, colocando em xeque a própria dinâmica da
conversão. A graça, por não se sobrepor à natureza
humana, precisa de tempo para trabalhar.
Elementos fundamentais do
“catecumenato” batismal

• O caráter iniciático;
• A intensidade e integridade da formação;
• A gradualidade;
• O emprego de ritos;
• A referência constante à comunidade
Características da catequese de inspiração catecumenal

Um processo...
• ...de iniciação cristã integral;
• ... dinâmico, duradouro, progressivo, marcado por
etapas graduais;
• ...marcado por ritos, sinais e símbolos, que expresse
os passos dados e os compromissos assumidos;
• ... comunitário: parte da, leva à e implica toda a
comunidade;
• ...que comprometa as pessoas e conduza a uma
conversão profunda
Elementos teológicos e pastorais da IVC
Partindo do pressuposto de que o
catecumenato é “verdadeira escola preparatória à
vida cristã” (Ad Gentes 14), consideramos que a
progressividade da fé-conversão constitui não só
a principal característica do catecumenato mas
sua própria identidade.
Todos os elementos da pedagogia catecumenal
visam a aquisição da plena maturidade cristã, que
não pode ser conquistada a não ser através de um
gradual itinerário formativo.
Elementos teológicos e pastorais da
IVC
O Ritual de Iniciação de Adultos entende a
iniciação como um processo dinâmico e
progressivo que se é percorrido “gradualmente”
(RICA, 4), “se acomoda ao caminho espiritual
dos adultos, que é muito variado” (RICA, 5).
Consta de “graus ou etapas” (RICA, 6-7) a serem
percorridos.
Onde melhor se evidencia o caráter
progressivo da proposta do catecumenato é,
portanto, na sua própria estrutura, marcada por
tempos e etapas sucessivos.
Elementos teológicos e pastorais da
IVC
Cada período é tempo de busca, de escuta, de oração,
de empenho de conversão, é o momento no qual o
candidato é ajudado a descobrir e a responder ao
chamado de Deus e ao plano de salvação do Senhor.
O fato mesmo de denominá-lo em latim de Ordo
initiationis christianae adultorum (Oica) denota seu
caráter de ordenamento ou itinerário dinâmico,
vinculado mais do que a aspectos rituais, a verdadeiros
processos vitais que busquem introduzir gradualmente o
discípulo de Jesus na mais pura essência da vida cristã,
configurada pelos valores centrais do Evangelho (MERLOS,
F. O ritual de iniciação cristã de Adultos (RICA), op. cit.. In: Revista de Catequese. São
Paulo: Unisal, ano 25, n. 99, julho/setembro, 2002, op. cit., p. 34.).
Elementos teológicos e pastorais da
IVC
Cada momento do itinerário percorrido conduz a um
novo salto, ou se quisermos, a um maior
aprofundamento no crescimento da fé.
O tempo do catecumenato quer levar ao
amadurecimento aquelas disposições apresentadas no
pré-catecumenato, e assim sucessivamente, o que
significa já no início do processo encontrarmos a marca
da progressividade, a passagem de uma primeira adesão
a uma entrega mais consciente à proposta cristã,
celebrada liturgicamente. Assim, todas as celebrações
catecumenais são densas de significado no tocante à
progressividade da maturidade cristã.
Elementos teológicos e pastorais da
Elas expressam com propriedade não apenas
IVC os
aspectos litúrgicos e pastorais, mas teologicamente
revelam o crescimento na maturidade cristã, ao celebrar
o nível de maturidade cristã conseguido no período
anterior, ao mesmo tempo em que introduz o
catecúmeno na nova fase da aventura do crescimento
espiritual.
Outro aspecto significativo subjacente ao caráter da
progressividade da maturação da fé é o fator
antropológico-teológico, que leva em consideração a
individualidade de cada pessoa. A atenção ao ritmo de
cada pessoa atesta que o ser humano é a prioridade no
catecumenato.
Elementos teológicos e pastorais da
IVC
Dimensões como abertura, descoberta, resposta,
crescimento, consciência são eminentemente pessoais e
intransferíveis, que fogem, conseguintemente, a toda
predeterminação temporal.
O Ritual, atento a isso, não estipula tempo para a
concretização da iniciação cristã catecumenal,
respeitando a íntima relação entre ação de Deus e o
tempo-resposta do catecúmeno.
A pedagogia divina acha lugar na natureza humana,
que é chamada a responder ao apelo divino a partir de
seus ritmos intelectuais e afetivos, e condicionamentos
internos e externos.
Elementos teológicos e pastorais da
Por tratar-se de uma iniciação global à vida cristã, o
IVC
objetivo a que se propõe a gradualidade catecumenal
aponta para o desejo de atingir todas as dimensões da
vida cristã: a adesão pessoal ao Deus de Jesus Cristo, a
compreensão e acolhida do plano de salvação, a
descoberta do mistérios centrais da fé e das verdades
fundamentais do cristianismo, a aquisição de uma
verdadeira mentalidade cristã, o desenvolvimento da
capacidade orante, a iniciação a vida da comunidade
eclesial e em particular a sua experiência litúrgica, a
abertura à vida apostólica e missionária, e não menos
importante, a formação à vida caritativa e animação da
ordem social.
“Saiamos para oferecer a
todos a vida de Jesus
Cristo!”
(EG 49)
PARA RESPONDER
1. O que você compreende por
catecumenato?
2. Em que o catecumenato ajuda na
conversão catequética?
3. Em que consiste a diferença entre
iniciação cristã e catecumenato?

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