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Dogmática Ortodoxa.
Protopresbítero Michael Pomazansky (1888—1988)
Conteúdo:
Introdução.
A. As Fontes da Doutrina Cristã.
A preocupação da Igreja com a pureza do ensinamento Cristão. Dogmas. As fontes dos
dogmas. Sagrada Escritura Tradição Sagrada. A Consciência Católica da Igreja. Dogmas
e Canons. Os Trabalhos dos Santos Padres. As verdades da fé nos Ofícios Divinos.
B. Exposições do Ensinamento Cristão.
Os livros simbólicos. Sistemas dogmáticos.
C. Teologia Dogmática.
Dogmáticas e fé. Teologia, Ciência e Filosofia.
O Mundo Angélico.
Anjos na Sagrada Escritura. A criação dos Anjos. A natureza dos Anjos. O grau de
perfeição angélica. O número e os graus dos Anjos. O ministério dos Anjos.
Homem — A Coroa da Criação.
A alma como uma substância independente. A origem das almas. A imortalidade da alma.
Alma e espírito. A imagem de Deus no homem. O propósito do homem.
Da criação à majestade do Criador.
3. A Providência de Deus.
A providência de Deus sobre o mundo. A Providência de Deus sobre o homem antes da
queda.
5. A Respeito da Malignidade e do Pecado. Malignidade e pecado no mundo. A queda
do mundo Angélico: os espíritos Malignos Queda do homem no pecado.
Porque a queda do homem no pecado foi possível? A história da queda no pecado. O que
foi o pecado ao comer o fruto. As conseqüências morais da queda. As conseqüências
físicas da queda. Infortúnios e morte como castigo pedagógico de Deus. A perda do
Reino de Deus. A misericórdia de Deus para com o homem decaído.
6. Deus e a Salvação do Homem.
A economia de nossa salvação.
A preparação para receber o Salvador. A encarnação do Filho de Deus.
O Senhor Jesus Cristo: Deus verdadeiro. A natureza humana do Senhor Jesus Cristo. Os
erros a respeito das duas naturezas de Jesus Cristo. As duas naturezas em Jesus Cristo. A
natureza humana sem pecado de Jesus Cristo. A adoração una de Cristo. Sobre o culto
latino do “Coração de Jesus.”
Dogmas à respeito da Santíssima Virgem Maria.
A. A Perene Virgindade da Theokotos. B. A Santíssima Virgem Maria é Theotokos. O
Dogma Católico Romano da Imaculada Conceição. O culto do “Imaculado Coração” da
Santíssima Virgem.
O dogma da Redenção.
O Cordeiro de Deus.
A economia geral da salvação.
A. A condição do mundo antes da vinda do Salvador. B. A salvação do mundo em Cristo.
O renascimento pessoal e a nova vida em Cristo. A palavra “redenção” no uso dos
Apóstolos. Uma nota sobre o ensinamento Católico Romano.
O triplo ministério do Senhor.
A. Cristo o Sumo Sacerdote. B. Cristo o Evangelizador (Seu ministério profético). C.
Cristo o Rei do mundo (Seu ministério real). A deificação da humanidade em Cristo.
A Ressurreição de Cristo. Os frutos salvíficos da Ressurreição de Cristo.
A. A vitória sobre o inferno e a morte. B. O Reino de Cristo e a Igreja triunfante. C. O
estabelecimento da Igreja.
7. A Igreja de Cristo.
O conceito da Igreja de Cristo na terra. O início e o propósito da Igreja. A Cabeça da
Igreja. A ligação íntima entre a Igreja na terra e a Igreja no céu.
Atributos da Igreja.
Sua unidade. Sua santidade. Sua catolicidade. A Igreja Apostólica.
A hierarquia da Igreja.
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Apêndices.
Novas correntes no pensamento filosófico-teológico Russo.
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Introdução.
As fontes da doutrina Cristã. A preocupação da Igreja com a pureza do ensinamento Cristão.
Dogmas. As fontes dos Dogmas. Sagrada Escritura. Tradição sagrada. A consciência católica da
Igreja. Dogmas e canons. Os trabalhos dos Santos Padres. As verdades da fé nos ofícios Divinos.
Exposições dos ensinamentos Cristãos. Os livros simbólicos. Sistemas dogmáticos. C. Teologia
dogmática. Dogmáticas e fé. Teologia, Ciência e Filosofia.
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orthotomounta; 2 Ti 2:15). Na literatura Cristã dos primeiros tempos há uma constante menção a
se manter a “regra da fé,” a “regra da verdade.” O próprio termo “ortodoxia” foi largamente usa-
do mesmo na época anterior aos Concílios Ecumênicos, a seguir na terminologia dos próprios
Concílios Ecumênicos, e nos Padres da Igreja tanto no Oriente quando do Ocidente.
Lado a lado com o caminho direto, ou reto da fé sempre existiram aqueles que pensaram
diferentemente (heterodoxountes, ou “heterodoxos” na expressão de Santo Inácio, o Teóforo),
uma palavra usada para maiores ou menores erros entre os Cristãos, é as vezes mesmo para sis-
temas completamente incorretos que tentaram explorar no meio dos Cristãos Ortodoxos. Como
resultado da procura pela verdade ocorreram divisões entre os Cristãos.
Tornando-nos familiarizados com a história da Igreja, e da mesma forma observando o
mundo contemporâneo,vemos que os erros que guerrearam contra a Verdade Ortodoxa aparece-
ram e aparecem a) sob a influência de outras religiões, b) sob a influência da filosofia, e
c)através das fraquezas e inclinações da natureza humana decaída, que procura os direitos e justi-
ficativas dessas fraquezas e inclinações.
Os erros criam raízes e se tornam obstinados mais freqüentemente por conta do orgulho
daqueles que os defendem, por causa do orgulho intelectual.
Dogmas.
Assim para guardar o reto caminho da fé, a Igreja teve que forjar formas restritas para a
expressão das verdades da fé: ela teve que construir as fortalezas da verdade para o repúdio de
influências estranhas à Igreja. As definições da verdade declaradas pela Igreja tem sido chama-
das, desde os dias dos Apóstolos, dogmas. Nos Atos dos Apóstolos nós lemos sobre os Apósto-
los Paulo e Timóteo que “quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem ob-
servados, os decretos (Dogmas) que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Je-
rusalém” (At. 16:4; aqui a referência é para os decretos do Concílio Apostólico que é descrito no
capítulo quinze dos Atos dos Apóstolos). Entre os antigos gregos e romanos a palavra dogmat
era usada para se referir a a) conceitos filosóficos, e b) diretivas que deveriam ser precisamente
atendidas. No entendimento Cristão, “Dogmas” são o oposto de “opiniões,” que são concepções
pessoais inconstantes.
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Ortodoxa, que mesmo até os dias de hoje pode ser e ainda é chamada de “católica” em muitos
lugares desse livro, Padre Michael estará contrastando os ensinamentos do Catolicismo Romano
com aqueles da verdadeira Igreja católica ou Ortodoxa). As verdades da Escritura e Tradição,
harmoniosamente fundidas em um único todo, definem a “consciência católica” da Igreja, uma
consciência que é guiada pelo Espírito Santo.
Sagrada Escritura
Por “Sagrada Escritura” entende-se os livros escritos pelos santos Profetas e Apóstolos
sob a ação do Espírito Santo; assim eles são chamados de “divinamente inspirados.” Eles são di-
vididos em livros do Velho Testamento e livros do Novo Testamento.
A Igreja reconhece 38 livros do Velho Testamento segundo o exemplo da Igreja do Velho
Testamento (Apesar da Igreja no estrito senso ter sido estabelecida somente com a vinda de Cris-
to (ver Mt. 16:18), existiu num certo sentido uma “Igreja” também no Velho Testamento, com-
posta por todos aqueles que olhavam com esperança para a vinda do Messias. Depois da mote de
Cristo na Cruz, quando ele desceu ao inferno e “. ..pregou as espíritos em prisão” (1 Pe 3:19),
Ele levou para cima os justos do Velho Testamento com Ele para o Paraíso, e nesse dia a Igreja
Ortodoxa celebra os dias de festa dos Santos Pais do Velho Testamento, dos Patriarcas e dos pro-
fetas igual celebra os dias de desta dos santos no Novo Testamento), muitos nesses livros são
reunidos para formar um só, fazendo o número cair para vinte e dois livros, de acordo com o
número de letras do alfabeto hebreu. (Os 22 livros “canônicos” do Velho Testamento são: 1. Gê-
nesis, 2. Êxodo, 3. Leviticos, 4. Números, 5. Deuteronômio, 6. Josué, 7. Juizes e Ruth, conside-
rado como um só, 8. Primeiro e Segundos Reis (chamados de primeiro e segundo Samuel na ver-
são de King James),9. Terceiro e Quarto Reis (Primeiro e Segundo Reis na versão de King Ja-
mes) 10. Primeiro e Segundo Paralipomena (Primeira e segunda Crônicas na versão de King Ja-
mes), 11. Primeiro Esdras e Neemias, 12. Éster, 13. Jô, 14. Salmos, 15.Provérbios, 16. Eclesias-
tes, 17. Cantares de Salomão, 18.Isaias, 19. Jeremias, 20. Ezequiel, 21. Daniel, 22. Os Doze Pro-
fetas (Oséias, Joel, Amos, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sefonias, Ageu, Zacari-
as, Malaquias). Esta é a lista dada por São João Damasceno na Exact Exposition of the Christian
faith, p 375). Esses livros, que entraram em algum tempo no cânon hebreu, são chamados de
“canônicos” (A palavra “canônico” aqui tem um significado específico com referencia aos livros
das Escrituras e assim deve ser distinguido do uso mais usual da palavra na Igreja Ortodoxa, on-
de ela não se refere ao “cânon” da Escritura, mas sim aos “canons” ou leis proclamadas nos Con-
cílios da Igreja. Nesse sentido, “canônico” significa somente “incluído no canon hebreu” e “não
canônico” significa somente “não incluído no cânon hebreu” (mas ainda aceito pela Igreja como
Escritura). No mundo Protestante os livros “não canônicos” do velho Testamento são normal-
mente chamados de “Apócrifos,” freqüentemente com uma conotação pejorativa, ainda que eles
tenham sido incluídos nas primeiras impressões da versão de King James, e uma lei de 1615 na
Inglaterra até mesmo proibiu que as Escrituras fossem impressas sem esses livros. Na Igreja Ca-
tólica Romana desde o século XVI os livros não-canônicos tem sido chamados de “Deuteroca-
nônico” — isto é — pertencendo a um “segundo” ou tardio cânon da Escritura. Na maioria das
traduções da Bíblia que incluem os livros “não-canônicos,” eles são colocados juntos dos livros
canônicos; mas em impressões antigas em países ortodoxos não há distinção entre livros canôni-
cos e não canônicos, veja-se por exemplo a Bíblia Eslavônica impressa em São Petesburgo em
1904, e aprovada pelo Santo Sínodo). A eles são juntados um grupo de livros “não-canônicos”
— isto é, aqueles que não foram incluídos no cânon hebreu porque eles foram escritos após o
fechamento do cânon dos Livros Sagrados do Velho Testamento. (Os livros “não-canônicos” do
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Velho Testamento aceitos pela Igreja Ortodoxa são aqueles do “septuaginto” — a tradução grega
do Velho Testamento feita pelos “setenta” eruditos que, de acordo com a tradição foram envia-
dos de Jerusalém para o Egito atendendo a pedido do rei egípcio Ptolomeu II no terceiro século
B.C. para traduzir o Velho Testamento grego. Os originais hebreus da maioria dos livros, e a
maioria dos livros foram compostos somente nos últimos séculos antes de Cristo. Os livros “não-
canônicos” do Velho Testamento: Tobias, Judith, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico ou a Sabe-
doria de Josué o filho de Sirach, Baruch, três livros dos Macabeus, a Epístola de Jeremias, Salmo
151, e as adições aos Livros de Éster, de duas Crônicas (a Oração de Manasses), e de Daniel (a
Canção dos Três Meninos, Suzana e Bel e o Dragão) A Igreja aceita esses livros mais tardios
como úteis e instrutivos e antigamente indicava-os para leitura instrutiva não só nos lares mas
também nas Igrejas, por isso é que eles foram chamados de “Eclesiásticos.” A Igreja inclui esses
livros num só volume junto com os livros canônicos. Como uma fonte de ensinamento na fé, a
Igreja os coloca em posição secundária e olha-os como um apêndice aos livros canônicos. Al-
guns deles estão tão perto em mérito dos livros devidamente inspirados que, por exemplo no 85º
cânon apostólico (os Canons Apostólicos, dos Santos Apóstolos são uma coleção de 85 canons
Eclesiásticos ou leis vindas dos Apóstolos e seus sucessores e aos quais foi dada a provação ofi-
cial pela Igreja no Concílio de Quinsexto, em Trullo em 692, e no primeiro cânon do Sétimo
Concílio (787). Alguns desses canons foram citados e aprovados em Concílios Ecumênicos a
começar pelo Primeiro Concílio em 325, mas a coleção completa de todos os canons juntos pro-
vavelmente não foi completada antes do 4º século. O nome apostólico não necessariamente sig-
nifica que todos os canons ou a coleção deles foram feitas pelos próprios Apóstolos, mas somen-
te que eles estão de acordo com a tradição legada pelos Apóstolos (assim como nem todos os
“Salmos de Davi” foram na verdade escrito pelo profeta Davi). Para o texto dos 85 cânon, ver
Eerdemans Seven Ecumenical Councils, p. 594-600. O cânon Apostólico nº 85 lista os livros ca-
nônicos do Velho e Novo Testamento). Os três livros de Macabeus e o livro de Josué o filho de
Sirach são listados juntos com os livros canônicos, e, a respeito de todos eles juntos, é dito que
são “veneráveis e santos.” No entanto, isso só significa que eles eram respeitados na Igreja anti-
ga; mas uma distinção entre os livros canônicos e os não-canônicos do Antigo Testamento foi
sempre mantida na Igreja.
A Igreja reconhece 27 livros canônicos do Novo Testamento. (Esses livros são: os 4 E-
vangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João; os Atos dos Apóstolos; as Sete Epístolas Católicas
(uma de Tiago, duas de Pedro, três de João e uma de Judas); catorze Epístolas do Apóstolo Paulo
(Romanos, Primeira e Segunda aos Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossensses, Primei-
ra e Segunda Tessalônica, Primeira e Segunda Timóteo, Tito, Filemon, Hebreus); e o Apocalipse
(Revelação) de São João Teólogo e Evangelista). Como os livros sagrados do Novo Testamento
foram escritos em vários anos da era apostólica e foram enviados pelos Apóstolos para vários
pontos da Europa e Ásia, e alguns deles não tiveram uma designação refinada para nenhum lugar
específico, o ajuntamento deles em uma única coleção ou código não poderia ser um assunto fá-
cil; foi necessário manter uma vigilância estrita entre os livros de origem apostólica pois poderi-
am haver entre eles alguns dos assim chamados livros “apócrifos,” que em sua maior parte foram
compostos em ciclos heréticos. Por isso, os padres e professores da Igreja, durante os primeiros
séculos do Cristianismo mantiveram uma precaução especial em distinguir esses livros ainda que
eles portassem o nome dos Apóstolos. Os padres da Igreja freqüentemente introduziram certos
livros em suas listas com reservas, com incertezas e dúvidas, ou ainda por essa razão deram uma
lista incompleta dos Livros Sagrados. Isso foi inevitável e serve como memorial para essa pre-
caução excepcional nesse assunto santo. Eles não confiaram em si próprios mas esperaram pela
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voz universal da Igreja. O Concílio de Cartago que foi local, em 318, em seu cânon 33, enumera
todos os livros do Novo Testamento sem exceção.
Santo Atanásio, o Grande nomeia todos os livros do Novo Testamento sem a mínima dú-
vida ou distinção, e em uma das suas obras ele concluiu sua lista com as seguintes palavras:”
Prestem atenção no número dos livros canônicos do Novo Testamento. Eles são, como foram, o
começo, as ancoras e pilares da nossa fé, porque eles foram escritos pelos próprios Apóstolos de
Cristo, o Salvador que estiveram com Ele e por Ele foram instruídos (da Synopsis de Santo Ata-
násio). Da mesma forma São Cirilo de Jerusalém também enumera os livros do Novo Testamen-
to sem o mais leve reparo ou qualquer tipo de distinção entre eles na Igreja. A mesma lista com-
pleta encontrada entre os escritores eclesiásticos ocidentais, por exemplo Santo Agostinho. As-
sim, o cânon completo dos livros do Novo Testamento da Sagrada Escritura foi confirmado pela
voz católica da Igreja toda. Essa Sagrada Escritura, na expressão de São João Damasceno, é o
“Paraíso Divino” (Exact Exposition of the Ortodox Faith, Livro 4, Cap 17, Eng. Tr. p. 374).
Tradição Sagrada.
No significado original preciso da palavra, Tradição Sagrada é a tradição que vem da an-
tiga Igreja dos tempos Apostólicos. Do segundo ao quarto século isso foi chamado de “A Tradi-
ção Apostólica.”
Deve-se ter em mente que a Igreja primitiva guardava cuidadosamente a vida interior da
Igreja daqueles que estavam fora delas; seus Santos Mistérios eram secretos, mantidos fora dos
conhecimentos dos não-cristãos. Quando esses Santos Mistérios eram realizados — Batismo ou a
Eucaristia — aqueles que não eram da Igreja não estavam presentes; a ordem dos ofícios não era
escrita mas só transmitida oralmente; e no que era preservada em segredo estava contido o lado
essencial da fé. São Cirilo de Jerusalém (4º século) nos apresenta isso de maneira especialmente
clara. A respeito de instruções Cristãs para aqueles que ainda não tinham expressado a decisão
final de se tornarem Cristãos, o hierarca precede ensinamentos com as seguintes palavras:
“Quando o ensinamento catequético é pronunciado, se um catecúmeno te perguntar, ‘O que o
instrutor disse?’ tu não deves repetir nada para aqueles que estão sem (Igreja). Pois nós estamos
te dando um mistério e esperança da era futura. Mantenha o Mistério Daquele que é o doador de
recompensa, que ninguém diga a ti ‘Qual é o mal se nós descobrimos também?’ Pessoas doentes
também pedem por vinho, mas se lhes for dado na hora errada ele produz desordem na mente, e
existem duas conseqüências malignas; o doente morre e o médico é difamado” (Prologue to the
Catechetical Lectures, cap. 12).
Em uma de suas homilias seguintes São Cirilo de novo observa: “Incluímos o ensinamen-
to completo da fé em poucas linhas, E eu desejaria que vocês lembrassem dele palavra por pala-
vra e deveriam repeti-lo entre vocês com todo fervor, sem escreve-lo em papel, mas anotando-o
por memória no coração. E vocês deveriam precaver-se pelo menos durante o tempo de vossa
ocupação com esses estudos para que nenhum dos catecúmenos venha a ouvir aquilo que foi pas-
sado para vocês” (Fifth Catechetical Lecture, ch. 12). Nas palavras introdutórias que ele escreveu
para aqueles que iriam ser “iluminados” — isto é, aqueles que já estavam para o batismo — e
também para aqueles prestes que eram batizados, ele dá o seguinte aviso: “Esta instrução para
aqueles que estão sendo iluminados é oferecida para ser lida por aqueles que estão vindo para o
Batismo, e também pelos fiéis que já receberam o batismo; mas de modo nenhum não a dêem
nem para catecúmenos nem para qualquer outro que ainda não se tornara Cristão, senão terão que
responder ao Senhor. E se vocês fizerem cópia dessa leitura catequética, então, como diante do
Senhor, copie isso também” (isso é, o aviso).(fim do Prologue para Catechetical Lectures). (Es-
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sas três citações são encontradas nas Catechetical Lectures, Eerdmans ed. pes. 4, 32, 5. Esse ri-
gor com respeito a revelação dos Mistérios Cristãos (Sacramentos) para estranhos a Igreja não é
mais preservada em tal nível na Igreja Ortodoxa. A exclamação “Retirai-vos catecúmenos!” an-
tes da Liturgia dos fiéis ainda é proclamada, é verdade, mas dificilmente em qualquer lugar do
mundo ortodoxo os catecúmenos ou não ortodoxos são instruídos a deixar a Igreja nesse instante.
(Em algumas Igrejas eles são somente solicitados a ficar no fim da Igreja, no nartex, mais ainda
porém observar o ofício). O ponto fulcral dessa ação perdeu-se no nosso tempo, quando todos os
“segredos” dos Mistérios Cristão estão prontamente disponíveis para quem consegue ler, e o tex-
to de São Cirilo Catechetical Lectures foi publicado em muitas línguas e edições. No entanto, a
grande reverência que a Igreja antiga mostrava pelos Mistérios Cristãos, preservando-os cuida-
dosamente do olhar daqueles que eram meramente curiosos, ou daqueles que, sendo de fora da
Igreja e, descompromissados com o Cristianismo, poderiam interpretar mal ou desconfiar deles
— é ainda mantida pelos Cristãos Ortodoxos de hoje em dia, que ainda são sérios acerca de sua
fé, mesmo hoje em dia não devemos “dá pérolas aos porcos” — falar muito dos Mistérios da Fé
Ortodoxa para aqueles que só curiosos sobre eles mas que não procuram juntar-se a Igreja).
Nas palavras que se seguem São Basílio, o Grande dá-nos um claro entendimento da Sa-
grada Tradição Apostólica: “Dos dogmas e sermões preservados na Igreja, alguns nós temos por
instrução escrita, e alguns nós recebemos da Tradição Apostólica, passados em segredo. Tanto
um quanto outro tem a mesma autoridade para a piedade e ninguém ainda que seja o menos in-
formado nos decretos da Igreja contradirá isso. Pois se nós ousarmos subverter os costumes não
escritos como se eles não tivessem grande importância, nós estaremos assim fazendo impercepti-
velmente mal aos Evangelhos em seus pontos mais importantes. E ainda mais, nós seremos dei-
xados como o nome vazio na pregação Apostólica sem conteúdo. Por exemplo, prestemos aten-
ção especialmente na primeira e mais comum das coisas que aqueles que esperam no nome de
Nosso Senhor Jesus Cristo devem se assinalar com o Sinal da Cruz. Quem ensinou isso nas Es-
crituras? Que Escrituras instrui-nos a rezar voltados para o leste? Qual dos santos nos deixou em
forma escrita as palavras da invocação durante a transformação do pão da Eucaristia e a benção
do Cálice? Pois não estando satisfeitos com as palavras que são mencionadas nas Epístolas e E-
vangelhos, mas antes e depois delas nos pronunciamos que também tem uma grande autoridade
para o Mistério, tendo-as recebido por ensinamento não escrito. Por qual Escritura, da mesma
forma, abençoamos a água do Batismo e o óleo da unção? Não é isso a silenciosa e secreta tradi-
ção? E o que mais? Que palavra escrita nos ensinou essa unção com óleo? (Isso é, a unção da-
queles que estão sendo batizados; a unção do Sacramento da Unção, de outro lado, é claramente
indicado nas Escrituras (Tes 5:14) Aonde é encontrada a tripla imersão e todo o resto que tem a
ver com o Batismo, a renúncia a Satanás e seus anjos? De que Escrituras são tomadas? Não é
desse ensinamento não publicado e não falado que nossos padres preservaram em silêncio ina-
cessível a curiosidade e escrutínio, porque eles foram inteiramente instruídos a preservar em si-
lêncio a santidade dos Mistérios? Que propriedade teria proclamar por escrito um ensinamento
referente aquilo que não é permitido para os não batizados sequer contemplar? (On The Holy
Espirit, cap. 27).
Dessas palavras de São Basílio, o Grande devemos concluir: primeiro, que a sagrada tra-
dição do ensinamento da fé é aquela que pode ser rasteada até o período mais antigo da Igreja, e
segundo, que tenha sido cuidadosamente preservada e unanimente reconhecida entre os padres e
professores durante a época dos grandes padres e o início dos Concílios Ecumênicos.
Apesar de São Basílio ter dado uma série de exemplos da “tradição oral,” ele próprio nes-
se mesmo texto deu passos na direção de “gravar” essas palavras orais. Durante a era de liberda-
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de e no triunfo da Igreja no quarto século, quase toda tradição em geral recebeu uma forma escri-
ta e está agora preservada na literatura da Igreja, e que resulta num suplemento da Sagrada Escri-
tura.
Nós encontramos essa antiga sagrada Tradição
no mais antigo texto da Igreja, os canons dos Santos Apóstolos; (Ver páginas
anteriores nota sobre Canons dos Santos Apóstolos);
nos símbolos da fé (Credo) das antigas Igrejas locais;
nos antigos Atos dos mártires Cristãos. Os Atos dos mártires não entravam em uso pe-
los fiéis até que eles tivessem sido examinados e aprovados pelos bispos locais; e eram
lidos em reuniões públicas de Cristãos sob a supervisão dos líderes das Igrejas. Neles
nós vemos a confissão da Santíssima Trindade, a Divindade do Senhor Jesus Cristo,
exemplos de invocação de santos, a crença na vida consciente daqueles que haviam
repousado em Cristo, e muito mais;
nos registros antigos da história da Igreja especialmente no livro de Eusébio Pamphilo,
Bispo de Cesareia (Tradução inglesa: Eusebius: The History of Church from Christ to Constantine,
tradução por G. A. William, Peguin Books, Baltimore, 1965) onde estão reunidas muitas tradi-
ções antigas de rito e dogma — em particular, ali é dado o cânon dos livros sagrados
do Antigo e Novo Testamento;
nos trabalhos dos antigos padres e professores da Igreja;
e finalmente, no verdadeiro espírito da vida da Igreja, na preservação da fidelidade a
todas as suas fundações que vem dos Santos Apóstolos.
A Tradição Apostólica que tem sido preservada e guardada pela Igreja pelo simples fato que ela
tem sido mantida pela Igreja, torna-se a própria Tradição da Igreja, “pertence” a ela, e testifica
sobre ela, e, em paralelo à Sagrada Escritura é chamada pela Igreja, “Sagrada Tradição.”
O testemunho da Sagrada Tradição é indispensável para nossa certeza que todos os livros
da Sagrada Escritura nos foram entregues vindos dos tempos Apostólicos e são de origem apos-
tólica. A Sagrada Tradição é necessária para o correto entendimento de passagens separadas das
Sagradas Escrituras, e para refutar interpretações heréticas, e, em geral, para evitar interpretações
superficiais, unilaterais, e às vezes até mesmo prejudiciais e falsas.
Finalmente, a Sagrada Tradição é também necessária porque algumas verdades da fé são
expressas numa forma completa e definitiva nas Escrituras, enquanto outras não estão claras e
precisas e por isso precisam confirmação pela Tradição Apostólica Romana.
O Apóstolo comanda: “Então, irmãos, estais firmes e retende as tradições que vos foram
ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.”
Além de tudo isso, a Sagrada Escritura é valiosa porque dela nos vemos como a ordem
completa da organização da Igreja, os canons, os Ofícios Divinos e ritos são enraizados no modo
de vida da Igreja dos tempos antigos. Assim, a preservação da “Tradição” expressa a sucessão da
verdadeira essência da Igreja.
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Concílios Ecumênicos da Igreja. Desde uma profunda antigüidade Cristã, concílios locais de I-
grejas separadas reuniam-se duas vezes por ano, de acordo com o 37º cânon dos Santos Apósto-
los. A mesma forma, freqüentemente na história da Igreja existiram concílios de bispos regionais
representando uma área mais ampla do que a de Igrejas individuais e, finalmente concílios de
bispos de toda a Igreja Ortodoxa tento do Oriente quanto do Ocidente. Tais Concílios Ecumêni-
cos a Igreja reconhece em número de sete. Os Concílios Ecumênicos também formularam nume-
rosas leis e regras governando a vida pública e privada da Igreja Cristã, que são os chamados ca-
nons da Igreja, e que requeriam sua observância universal e uniforme. Finalmente, os Concílios
Ecumênicos confirmaram decretos dogmáticos de numerosos concílios locais e também regras
dogmáticas compostas por certos padres da Igreja — por exemplo a confissão de fé de São Gre-
gório, o Taumaturgo, Bispo de Neo-Cesareia (Para o texto das “Epístolas Canônicas” de São
Gregório, ver Seven Ecumenical Councils, p. 602, Eedermans), o cânon de São Basílio, o Grande
(O texto dos canons de São Basílio é encontrado no mesmo livro de Eedermans nas p. 604-611),
e assim por diante.
Quando na história da Igreja, aconteceu que concílios de bispos permitiram pontos de vis-
tas heréticos serem expressos em seus decretos, a consciência católica da Igreja foi perturbada e
não foi pacificada até que a autêntica verdade Cristã fosse restaurada e confirmada por meio de
outro concílio (concílios verdadeiros — aqueles que a verdade Ortodoxa — são aceitos pela
consciência católica da Igreja; concílios falsos — aqueles que ensina heresia ou rejeitam algum
aspecto da Tradição da Igreja — são rejeitados pela mesma consciência católica . A Igreja Orto-
doxa é a Igreja não de concílios como tais, mas dos verdadeiros concílios, inspirados no Espírito
Santo, e que se conformam coma consciência católica da Igreja). Deve-se lembrar que os concí-
lios da Igreja fizeram seus decretos dogmáticos: a) depois de um cuidadoso, perfeito e completo
exame de todas as passagens da Sagrada Escritura que tocassem em um determinado assunto, b)
então verificando que a Igreja Ecumênica tivesse entendido as citadas passagens da Sagrada Es-
critura de modo preciso. Desse modo os decretos dos concílios concernentes à fé expressam a
harmonia da Sagrada Escritura e a Tradição católica da Igreja. Por essa razão esses decretos tor-
naram-se, por sua vez em uma autentica, inviolável, autorizada, Ecumênica e Sagrada Tradição
da Igreja, baseada em fatos da Sagrada Escritura e na Tradição Apostólica.
Certamente, muitas verdades da fé são tão imediatamente claras na Sagrada Escritura que
não foram sujeitas a interpretações heréticas; por isso a respeito delas não há decretos específicos
dos concílios. Outras verdades no entanto foram confirmadas por concílios.
Entre todos os decretos dogmáticos dos concílios, os próprios Concílios Ecumênicos re-
conhecem como primário e fundamental o Símbolo da Fé de Nicéia-Constantinopla (O “Credo”
(“creio em um só Deus...) que é cantado em toda Divina Liturgia da Igreja Ortodoxa e lido em
diversos outros lugares nos Divinos Ofícios diários) e eles proibiram qualquer modificação que
fosse, nele, por adição ou subtração (decreto do Terceiro Concílio Ecumênico, repetido pelo
Quarto, Quinto, Sexto e Sétimo Concílios).
Os decretos relativos a fé que foram feitos por inúmeros concílios locais e também certas
exposições de Fé pelos Santos Padres da Igreja, são reconhecidos como guias para toda a Igreja e
são enumerados no segundo cânon do Sexto Concílio Ecumênico (em Trullo; O “Quinsext”
Concílio em Trullo (642) foi de fato reunido onze anos depois do Sexto Concílio Ecumênico,
mas seus decretos são aceitos na Igreja Ortodoxa como a continuação dos Canons do Sexto Con-
cílio Ecumênico. O texto desses canons pode ser lido no Seven Ecumenical Council, p. 361, e os
canons dos concílios locais e exposições dos Santos Padres que foram aprovados nesse “cânon”
estão impressos no mesmo volume p. 409-519, 584-645).
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Dogmas e Canons.
Na terminologia eclesiástica dogmas são as verdades do ensinamento Cristão, as verdades
da fé, e canons são as prescrições: relacionadas com a Igreja, governo da Igreja, obrigações da
hierarquia e do clero da Igreja e de todo o Cristão, que fluem do embasamento moral do ensina-
mento evangélico e Apostólico. Cânon é uma palavra grega que significa literalmente “uma vara
reta, uma medida de direção precisa.”
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Os livros simbólicos.
As interpretações do Símbolo da Fé, ou os “Guias Simbólicos” (do grego symballo, signi-
ficando “unir”; symbolom um sinal unitivo ou condicional) da Fé Ortodoxa, no significado co-
mum desse termo, são aquelas exposições de fé Cristã que são dadas no Livro de Canons dos
Santos Apóstolos, nos Santos Concílios Locais e Ecumênicos, e nos Santos Padres. A teologia da
Igreja Russa também faz uso, como livros simbólicos, daquelas duas exposições de fé que em
tempos mais recentes foram evocadas pela necessidade de apresentar o ensinamento Cristão Or-
todoxo contra ensinamentos de confissões não-ortodoxas no segundo milênio. Esses livros são:
A Confissão da Fé Ortodoxa compilada pelo Patriarca de Jerusalém, Dositeus, que foi lida e a-
provada no Concílio de Jerusalém em 1672 e, cinqüenta anos depois, em resposta a uma inquiri-
ção recebida da Igreja Anglicana, foi enviada para essa Igreja em nome do todos os Patriarcas
Orientais e por isso ficou mais conhecida pelo nome de “A Encíclica dos Patriarcas Orientais
Sobre a Fé Ortodoxa.” Também incluída nessa categoria está a Orthodox Confession de Peter
Mogica, metropolita de Kiev, que foi examinada e corrigida em dois concílios locais, o de Kiev
em 1640 e o de Jassy em 1643, e então aprovada por quatro Patriarcas Ecumênicos e pelos Patri-
arcas russos Joaquim e Adrian. O Catecismo Cristão Ortodoxo do Metropolitan Philaret de Mos-
cou goza de importância similar na Igreja Russa, particularmente a parte que contem a exposição
do símbolo da fé. Esse catecismo foi “examinado e aprovados pelo Santo Sínodo e publicado pa-
ra instrução nas escolas e para o uso de todos os Cristãos Ortodoxos.”
Sistemas dogmáticos.
À tentativa de se ter uma exposição compreensiva de todo ensinamento cristão nós cha-
mamos de “sistema de teologia dogmática.” Um sistema dogmático completo, muito valioso para
a teologia Ortodoxa, foi compilado no século oitavo por São João Damasceno sob o título de E-
xact Exposition of the Orthodox Faith. Nesse trabalho, pode-se dizer, São Damasceno reuniu to-
do o pensamento teológico dos Padres do Oriente e professores da Igreja até o século oitavo.
Entre os teólogos russos os trabalhos mais completos de teologia dogmática foram escri-
tos no século dezenove pelo Metropolita Macário de Moscou (Orthodox Dogmatic Theology,
dois volumes), por Philaret, Arcebispo de Chernigov (Orthodox Dogmatic Theology, em duas
partes), pelo Bispo Silvestre, reitor da Academia Teológica de Kiev (Essay in Orthodox Dogma-
tic Theology, with a Historical Exposition of the Dogmas, cinco volumes), pelo Arcipreste N.
Malinovsky (Orthodox Dogmatic Theology, quatro volumes e A Sketch of Orthodox Dogmatic
Theology, em duas partes), e pelo Arcipreste p. Svietlov (The Chistian Teaching of Faith, na
Apologetic Exposition). (Esses “sistemas” russos de teologia do século dezenove estiveram fora
de moda entre os teólogos acadêmicos Ortodoxos nos anos recentes, e alguns os criticaram por
supostas “influências orientais” que eles mostrariam. Essa crítica, enquanto de uma certa maneira
parte justificada, em sua maior parte é unilateral e injusta, e conduziu alguns a uma confiança
cega nos teólogos ortodoxos de hoje como não contaminados pela “influência ocidental.” A ver-
dade do assunto é que a divisão da teologia em “categorias,” sua “sistematização” (que o próprio
livro presente segue) é um dispositivo bem moderno emprestado do Ocidente, mas como somen-
te uma organização externa do sujeito-assunto da teologia. Padre Michael, ele próprio, defendeu
em outro texto esse sistema de teologia pela sua utilidade no ensino da teologia nas escolas con-
tra acusações de “escolaticismo” que são totalmente injustas. Em intenção, esses sistemas são só
uma tentativa no século dezenove de fazer o que São João Damasceno fez no século oitavo, e
ninguém pode negar que o conteúdo básico desses trabalhos é Ortodoxo).
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Holy Trinity Orthodox Mission
C. Teologia Dogmática.
O trabalho dogmático da Igreja sempre foi dirigido para a confirmação na consciência dos fiéis
das verdades da Fé, que foi confessada pela Igreja desde o começo. Esse trabalho consiste em
indicar que modo de pensamento tem aquele que segue a Tradição Ecumênica. O trabalho de ins-
trução da Igreja tem sido, batalhar contra as heresias: achar uma forma precisa de expressão das
verdades da fé como recebidas da antigüidade e confirmar a correção do ensinamento da Igreja,
fundamentando-o na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição. No ensinamento da fé, é o pensa-
mento dos Santos Apóstolos que foi e permanece sendo o padrão da totalidade e da completude
da visão Cristã do mundo. Um Cristão do século vinte não pode desenvolver mais completamen-
te ou ir mais fundo nas verdades da fé do que os Apóstolos. Por isso, qualquer tentativa que é
feita — seja por indivíduos ou em nome da própria teologia dogmática — em revelar novas ver-
dades Cristãs, ou novos aspectos dos dogmas que nos foram passados, ou um novo entendimento
sobre eles, é completamente fora de propósito. O objetivo da teologia dogmática como um ramo
do aprendizado é apresentar, com embasamento firme e provado, o ensinamento Cristão Ortodo-
xo que nos foi passado.
Certas obras completas de teologia dogmática apresentam o pensamento dos Padres da
Igreja em uma seqüência histórica. Assim, por exemplo, o acima mencionado Essay in the Or-
thodox Dogmatic Theology pelo Bispo Silvestre é arrumado desse modo. Deve-se compreender
que tal método de exposição em teologia Ortodoxa não tem o propósito de investigar o “desen-
volvimento gradual do ensinamento Cristão”; seu objetivo é inerente: é mostrar que a apresenta-
ção completa, em seqüência histórica das idéias dos Santos Padres da Igreja em todas as épocas
ensinaram o mesmo acerca das verdades da fé. Mas, porque alguns deles viram o assunto de um
lado, e outra do outro lado, e alguns deles trouxeram argumentos de um tipo, e outros de outro
tipo, por isso a seqüência histórica dos ensinamentos dos Padres dá uma vista completa dos
dogmas da fé e a completude das provas de suas verdades.
Isso não significa que a exposição teológica dos dogmas deva tomar uma forma inalterá-
vel. Cada época coloca seu modo de ver, modo de compreender, questões, heresias e protestos
contra a verdade Cristã, ou ainda repete coisas antigas que haviam sido esquecidas. A teologia
naturalmente leva em consideração as questões de cada época, e coloca as verdades dogmáticas
de acordo com isso. Nesse sentido, pode-se falar acerca do desenvolvimento da teologia dogmá-
tica como um ramo do aprendizado. Mas não há espaço suficiente para se falar sobre o desenvol-
vimento Cristão da própria fé.
Dogmáticas e fé.
Teologia dogmática é para o Cristão que crê. Nem mesmo ela não inspira fé. Mas pressu-
pões que a fé já exista no coração. “Cri, por isso falei” diz um homem justo no Velho Testamen-
to (Sl 116:10). E o Senhor Jesus revelou os mistérios do Reino de Deus a Seus discípulos depois
que eles acreditaram Nele: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna, E
nós temos crido e conhecido que Tu és o Cristo, o Filho de Deus (Jô 6: 68-69). Fé, e mais preci-
samente fé no Filho de Deus que veio ao mundo, é a pedra fundamenta da teologia.” “Estes po-
rém foram escritos para que creais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, te-
nhais vida em Seus Nome” (Jo. 20:31), escreve o Apóstolo João no fim do seu Evangelho e ele
repete o mesmo pensamento muitas vezes em suas Epístolas: e essas palavras dele expressa a
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Holy Trinity Orthodox Mission
idéia principal de todo os escritos dos Santos Apóstolos: Eu creio. Todo Cristão teologicamente
deve começar com essa confissão. Sob essa condição teologizar não é um exercício intelectual
abstrato, nem uma dialética intelectual, mas uma morda dos pensamentos nas verdades divinas,
um direcionamento da mente e coração para Deus, e um reconhecimento do amor de Deus. Para
um descrente teologizar é algo sem efeito, pois Cristo, para descrentes é “uma pedra de tropeço e
rocha de escândalo” (1 Pe 28; ver Mt 21:44).
Parte I.
Deus em Si Próprio.
O dogma da fé. Crença ou fé como atributo da alma. O poder da fé. A fonte da fé. A natureza de
nosso conhecimento de Deus. A essência de Deus. Os atributos de Deus. Sagrada Escritura con-
cernente aos atributos de Deus. Deus é Espírito. Eterno. Todo Bondade. Onisciente. Todo Justo.
Poderoso (Onipotente). Onipresente. Imutável. Auto- Suficiente e Todo Bendito. A unidade de
Deus
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O dogma da fé.
A primeira palavra do Símbolo da Fé Cristã é “creio.” Toda a nossa confissão Cristã é
baseada na fé. Deus é o primeiro objeto da crença Cristã. Assim, nosso reconhecimento Cristão
da existência de Deus é fundada não em bases racionais, nem em provas tomadas na razão ou
recebido de experiências de nossos sentidos exteriores, mas em uma interna e alta convicção que
tem uma fundação moral.
No entendimento Cristão, acreditar em Deus significa não só aceitar Deus com a mente,
mas também empenhar-se na direção Dele como coração.
Nós cremos naquilo que é inacessível à experiência exterior, à investigação cientifica,e
não pode ser recebido pelos órgãos de sentido. São Gregório, o Teólogo distingue entre crença
religiosa — “eu creio em alguém, em alguma coisa” — e uma simples crença pessoal — “Eu a-
credito em alguém, em alguma coisa.” Ele escreve: “Não é a mesma coisa crer e acreditar.” Nós
cremos na Divindade, mas simplesmente acreditamos em qualquer coisa ordinária (“On the Holy
Spirit,” parte III, pg 88 na edição russa de suas Complete Works; p. 319 no texto inglês do E-
erdmans).
O poder da fé.
A Igreja de Cristo é fundada sobre a fé como sobre uma rocha que não treme sob ela. Por
fé os santos conquistaram reinos, realizaram obras justas, fecharam as bocas de leões, extingui-
ram o poder do fogo, escaparam do fio da espada, foram reforçados na enfermidade (Hb 11:38).
Sendo inspirados pela fé, Cristãos foram torturados e morreram em júbilo. A fé é uma rocha, mas
uma rocha que impalpável, livre de peso, que nos dirige para cima e não para baixo .
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios d’água viva correrão do seu ventre,” disse
o Senhor (Jô. 7:38); e a pregação dos Apóstolos, uma pregação no poder da palavra, no poder do
Espírito, no poder dos sinais e milagres, foi um testemunho da verdade nas palavras do Senhor.
Esse é o mistério da fé Cristã viva.
A fonte da fé.
“... Se tiverdes fé e não duvidardes... se a este monte disserdes: Ergue-te e precipita-o no
mar, assim será feito” (Mt. 21:21). A história da Igreja de Cristo é cheia de milagres dos santos
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em todas as épocas. No entanto, milagres não são realizados por fé em geral, mas pela fé Cristã.
Fé é uma realidade não pelo poder da imaginação e não por auto-hipnose, mas pelo fato que ela
nos liga com a fonte de toda vida e poder — com Deus. Na expressão do hieromartir Irineu, Bis-
po de Lion, a fé é um vaso que pode ser preenchido com água; mas é necessário que se esteja
perto a água e que se ponha o vaso nela : esta água é a graça de Deus. “Fé é a chave para a casa
de tesouros de Deus,” escreve São João de Kronstadt (My Life in Christ, Vol. I, p. 242, edição
russa).
A fé é reforçada e sua verdade é confirmada pelos benefícios de seus frutos espirituais
que são conhecidos pela experiência. Por isso o Apóstolo nos instrui, dizendo: “Examinai-vos a
vós mesmos, se permaneceis na fé, provai-vos a vós mesmo. Ou não sabeis quanto a vós mes-
mos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2 Co 13:5).
Ainda assim é difícil dar uma definição que é a de fé. Quando o Apóstolo diz “Ora, a fé é
o firme fundamento das coisas que se esperam, é a prova das coisas que se não vêem “ (Hb
11:1), sem tocar aqui na natureza da fé, ele indica somente no que o olhar da fé está dirigido para
o que é esperado, para o invisível; e assim ele indica precisamente que é a fé é a penetração da
alma no futuro (“a substância das coisas esperadas”) ou no invisível (“a evidencia das coisas não
vistas). Isso testemunha o caráter místico da fé Cristã.
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terra que vem à superfície sob certa pressão e torna-se água, ou são canais indo através de longos
lugares desérticos e que descarregam água assim que ela acha uma abertura para si? O viajante
ao invés não dirá adeus a todas deliberações racionais, inclinará sua cabeça para o jato e pressio-
nará seus lábios contra ele, aplacará sua sede, refrescará sua língua, satisfará seu desejo, e dará
agradecimentos Aquele que deu esta água? Assim, imitai vós também esse sedento” (São Gregó-
rio de Nissa, “Homily ih His Ordination,” de suas obras em russo, vol IV).
No entanto, até certo ponto nós temos conhecimento de Deus, conhecimento até o ponto
que ele mesmo revelou, para os homens. Deve-se distinguir entre a compreensão de Deus, o que
em essência é impossível, e o conhecimento Dele, ainda que incompleto, como diz o Apóstolo
Paulo, “Porque agora vemos por espelho em enigma ...e agora conheço em parte” (I Co 13:12).
O grau desse conhecimento depende da habilidade do próprio comem em conhecer (Essa distin-
ção entre aquilo que se pode chamar de “absoluta” incognoscibilidade de Deus e a “relativa”
cognoscibilidade Dele é apresentada por São João Damasceno no Livro I, capítulo I da Exatc
Exposition oh the Orthodox Faith).
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A essência de Deus.
“Se tu desejas falar ou ouvir a respeito de Deus,” teologiza São Basílio, o Grande, “re-
nuncia a teu próprio corpo, renuncia a teus sentidos corporais, abandona a terra, faz com que o ar
esteja abaixo de ti; passa sobre as estações do ano, seu arranho ordenado, os adornos da terra,
coloca-te acima do éter, atravessa as estrelas, seu esplendor, grandeza, e os benefícios que elas
provem para o mundo todo, sua boa ordem, brilho, arranjo, movimento e o vínculo ou distância
entre elas. Tendo passado através de tudo isso em tua mente, vá para o céu e postando-se acima
dele, só com teu pensamento, observa as belezas que lá estão, os chefes arcanjos, a glória dos
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Holy Trinity Orthodox Mission
Domínios, a presidência dos Tronos, os Poderes, Principados, Autoridades. Tendo passado por
tudo isso e deixado para trás toda criação em teus pensamentos, elevando tua mente acima dos
limites dela, apresenta tua mente a essência de Deus, imóvel, imutável, inalterável, desapaixona-
da, simples, complexa, indivisível, luz inaproximável, poder inexplicável, magnitude infinita,
glória resplandecente, infindável bondade, beleza incomensurável que golpeia poderosamente a
alma ferida, mas que não pode ser validamente descrita em palavras.”
Tal exaltação de espírito é demandada de alguém que quer falar com Deus! No entanto,
ainda que nessa condição os pensamentos humanos são capazes somente de permanecer nos atri-
butos da divindade e não na verdadeira essência da divindade.
Há na Sagrada Escritura palavras concernentes a Deus que “tocam” ou “chegam perto”
da idéia de Deus em Sua verdadeira essência. São expressões que são compostas de tal modo
que, na sua forma, elas respondem não só a questão “que tipo” — isto é, quais são os atributos de
Deus mas elas parecem também responder a questão “quem” — isto é, “quem é Deus?”
Tais expressões são:
“Eu sou Aquele que é” (em hebreu, Jeová; Ex 3:14)
“Eu sou o Alfa e o Omega, o principio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de
vir, o Todo-Poderoso” (Ap 1:8)
“Mas o Senhor Deus é a Verdade” (Jer 10:10)
“Deus é espírito” — As palavras do Senhor para a mulher samaritana (Jo 4:23)
“Ora o Senhor é Espírito” (2 Co 3:17)
“Deus é luz, e não há Nele trevas nenhuma” (1 Jo 1:5)
“Deus é amor” (1 Jo 4:8,16)
“Nosso Deus é um fogo consumidor” (Hb 12:29)
No entanto, tais expressões também não podem ser entendidas como indicações da verdadeira
essência do Deus único e com relação ao nome “aquele que é” os Padres da Igreja disseram que
ele “de alguma forma” (a expressão é de São Gregório, o Teólogo) ou, “como parece” (São João
Damasceno) é um nome da essência. Apesar de mais raramente, esse mesmo significado foi dado
aos nomes “bem” e “Deus,” na língua grega — Theos, significando “ele que vê.” Distinto que
todas as coisas “existentes” e criadas, os Padres da Igreja aplicaram para a existência de Deus o
termo “Ele que é acima de todos os seres,” como no kontakion, “a virgem agora dá a luz a Ele
que é acima de todos os seres.” A expressão do Velho Testamento “Jeová,” “aquele que é,” que
foi revelada por Deus ao Profeta Moisés, tem justo tal significado profundo. (Isso quer dizer:
quando dizemos que Deus é “aquele que é,” nós dizemos que Ele “é” num sentido superlativo e
não da maneira que toda sua criação” é “; isto é o mesmo que afirmar que Ele é o único” que está
acima de todos os seres” (Kondakion da Natividade de Cristo)).
Assim, pode-se falar somente nos atributos de Deus, mas não da verdadeira essência de
Deus. Os Padres se expressam só indiretamente a respeito da natureza da divindade, dizendo que
a essência de Deus é “uma, simples, não complexa.” No entanto, essa simplicidade na é algo sem
distinguir características ou contendo; ela contem em si própria a totalidade das qualidades da
existência; “Deus é um mar de ser, incomensurável e ilimitado” (São Gregório, o Teólogo);
“Deus é a completude de todas as qualidades e perfeições em sua mais alta e infinita forma” (São
Basílio, o Grande); “Deus é simples e não complexo; Ele é inteiramente sentimento, inteiramente
espírito, inteiramente pensamento, inteiramente mente, inteiramente fonte de todas as coisas bo-
as” (Santo Irineu de Lyon).
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Holy Trinity Orthodox Mission
Os atributos de Deus.
Falando dos atributos de Deus, os Santos Padres indicam que sua multiplicidade conside-
rando a simplicidade da essência, é o resultado de nossa própria inabilidade de encontrar um mís-
tico e único modo de ver a divindade. Em Deus, um atributo é um aspecto de outro. Deus é justo;
isso implica que Ele é também bendito e bom e Espírito. A múltipla simplicidade em Deus é co-
mo a luz do sol, que se revela em várias cores que são recebidas pelos corpos na terra, por exem-
plo as plantas.
Na enumeração dos atributos de Deus nos Santos Padres e nos textos dos Divinos Ofí-
cios, há uma preponderância de expressões que estão gramaticalmente na forma negativa. No
entanto deve-se observar que, esta forma negativa indica uma “negação de limites.” Assim, a
forma negativa é na verdade uma afirmação de atributos que são sem limite. Por exemplo, não
criado indica a inexistência do limite na criação. Encontramos um modelo de tais expressões na
Exact Exposition of the Ortodox Faith por São João Damasceno: “Deus é não originado, inter-
minável, eterno, constante, não criado, imutável, inalterável, simples, não complicado, incorpó-
reo, invisível, intangível, indescritível, ilimitado, inacessível a mente, incontestável, incompreen-
sível, bom, justo, o Criador de todas as criaturas, o Poderoso Pantocrator, o que olha todos de
cima, cuja Providência está sobre todas as coisas, que tem domínio sobre tudo, o juiz.”
Nossos pensamentos acerca de Deus em geral falam: 1) acerca de Sua distinção do mun-
do criado (por exemplo, Deus é não originado, enquanto que o mundo tem uma origem; Ele é
sem fim, enquanto o mundo tem um fim; Ele é eterno, enquanto o mudo existe no tempo; ou 2)
acerca das atividades de Deus no mundo e a relação do Criador para suas criações (Criador, Pro-
vidência, Misericordioso, Juiz Justo).
Indicando os atributos de Deus, nem por isso damos uma “definição do conceito de
Deus,” tal definição é essencialmente impossível, porque toda definição é uma indicação de “fi-
nitude” (Em russo Padre Michael está indicando aqui a derivação da palavra opredeleniye (“de-
finição”) de predel (“limite”)). No entanto, em Deus não há limites, e portanto não pode haver
uma definição do conceito da divindade: “Pois um conceito é em si uma forma de limitação”
(São Gregório, o Teólogo, homilia 28, de sua Segunda Oração Teológica).
Nossa razão demanda o reconhecimento em Deus de uma serie completa de atributos es-
senciais. A razão nos diz que Deus tem uma existência racional, livre e pessoal. Se no mundo
imperfeito nós vemos seres racionais, livres e pessoais, não podemos deixar de reconhecer uma
existência livre, racional e pessoal no próprio Deus, que é a Fonte, Causa e Criador de toda a vi-
da.
A razão nos diz que Deus é o Ser mais perfeito. Toda falta e imperfeição são incompatí-
veis com o conceito de “Deus.”
A razão nos diz que Deus é um Ser auto-suficiente, porque nada pode ser a causa ou con-
dição da existência de Deus.
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Holy Trinity Orthodox Mission
Deus é Espírito.
“Deus é Espírito” (Jo 4:24; as palavras do Salvador na conversa com a mulher Samarita-
na). “O Senhor é Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, ai há liberdade” (2 Co 3:17). Deus é
alheio a todo tipo de natureza corpórea ou materialidade. Ao mesmo tempo que a espiritualidade
que pertence ao seres espirituais criados e a alma do homem, que manifesta em si somente uma
“imagem” da natureza espiritual de Deus. Deus é um Espírito que é o mais elevado, mais puro,
mais perfeito. É verdade que na Sagrada Escritura nós encontramos muito, muitos lugares onde
alguma coisa corpórea é simbolicamente atribuída a Deus, no entanto, concernente à natureza
espiritual de Deus, a Escritura começa falando com as primeiras palavras do livro da Gênesis, e
ao Profeta Moisés, Deus se revela como Aquele que é, como a pura, espiritual e mais elevada
existência. Assim, por símbolos corpóreos a Escritura nos ensina a compreender os atributos es-
pirituais e as ações de Deus.
Tememos aqui as palavras de São Gregório, o Teólogo. Ele diz: “De acordo com as Es-
crituras Deus dorme, Ele desperta, torna-se irritado, Ele ativa, Ele tem os Querubins como seu
trono mas quando Ele teve uma enfermidade? Além disso, alguma vez ouviste que Deus é um
corpo? Alguma coisa é apresentada aqui, que não existe na realidade de acordo com o nosso pró-
prio entendimento, nós demos nomes para as características de Deus, que são derivadas de nós
próprios. Quando Deus, por razões que só Ele conhece, abandona seus cuidados, como estava
tendo, e não se preocupa mais conosco, isso significa que Ele está “dormindo” — porque nosso
dormir é uma falta similar de atividade e cuidado. Quando, ao contrário, Ele subitamente começa
a fazer o bem, isso significa que Ele “acordou.” Ele castiga e por isso, nós imaginamos que Ele
está “raivoso” pois castigo entre nós é com raiva. Ele age às vezes aqui, ás vezes Ele repousa e
como se Ele morasse em santos poderes nós chamamos isso de “sentar-se” e Ele “senta-se em
um trono,” que é uma coisa característica nossa. Também, pois a divindade não repousa em lugar
algum, nem entre os santos. Um movimento veloz nós chamamos “Vôo.” Se há uma contempla-
ção, nós falamos uma “face”; se há um dar e receber, nós falamos de uma “mão.” De outra for-
ma, e uma maneira tomada das coisas corpóreas “ (homilia 31, Fifht Teological Oration “On the
Holy Spirit,” ch 22; Eerdmann’s Nicene Fathers, Series Two, vol VII, pg 324-325).
Ligado com os relatos das ações de Deus, no segundo e terceiro capítulos do Livro da
Gênesis, São João Chrisóstomo nos instrui: “Não passemos sem atenção, amados, pelo que é sito
pela Divina Escritura, e não olhemos só para as palavras, mas pensemos que simples palavras
são usadas por conta de nossa enfermidade, e que tudo é feito do jeito mais adequado para a nos-
sa salvação. Depois de tudo, diga-me, se quisermos aceitar as palavras num sentido literal e não
entendermos o que é comunicado de modo adequado a Deus, tudo isso então não se tornaria mui-
to estranho? Olhemos no começo da leitura presente. Ela diz: “E ouviram a voz do Senhor Deus,
que passeava no jardim pela viração do ai... e estavam com medo” (Gn 3:8). O que tu dizes:
Deus anda? Tu atribuis pés a Ele? Não deveríamos entender isso num sentido mais elevado?
Não, Deus não anda — nem pense nisso! Como, de fato, poderia Ele que está em tudo e enche
tudo, cujo trono é o céu e a terra o escabelo de seus pés — como poderia Ele andar no Paraíso?
Que pessoa racional diria isso! No entanto o que significa: “Eles ouviram a voz de deus andando
no Paraíso na viração do dia?” “Ele quis criar neles um tal sentimento (de proximidade de deus)
que deveria fazer com que eles ficassem preocupados com o que de fato havia acontecido. Eles
sentiram isso e tentaram se esconder de Deus que estava se aproximando deles. O pecado havia
ocorrido, e transgressão e vergonha caíram sobre eles. O juiz não hipócrita que é a consciência,
tendo sido acordada, clamou com alta voz, recriminando-os, e exibindo diante de seus olhos o
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peso da transgressão. O Mestre criou o homem no começo e nele colocou um acusador que nun-
ca se cala e que não pode ser seduzido ou enganado.”
A respeito da imagem da criação da mulher, São João Crisóstomo ensina, “É dito,: ‘e to-
mou uma de suas costela’ (Gn 2:21). Não entendam essas palavras de maneira humana, mas en-
tenda que a crua expressão usada é adaptada à fraqueza humana. Pois, se a Escritura não tivesse
usado essas palavras, como poderíamos entender tais mistérios inexprimíveis? Não olhemos só
para as palavras mas recebamos tudo de maneira ajustada, ao que se refira a Deus. Essa expres-
são “tomou” e todas as expressões similares são usadas em função de nossa fraqueza.” De ma-
neira similar São João Crisostomo se expressa com respeito as palavras: “E formou o Senhor
Deus o homem do pós da terra, e soprou em seus narizes” (Gn 2:7; Works of St. John Chrisos-
tom, Vol IV, parte um). (Não se deve pensar que o Padre Michael está afirmando aqui que São
João Crisostomo era em geral opositor a “interpretações literais” da Escritura; quando o sentido
literal era necessário, São João Crisostomo era bastante literal na sua interpretação. Seu ponto e o
do Padre Michael era que toda interpretação da Escritura deve ser “ajustada a Deus” e isto as ve-
zes requer uma interpretação literal, às vezes uma interpretação metafórica. No mesmo Comentá-
rio do livro da Gênesis, por exemplo, São João Crisostomo escreve: “Quando vos ouvis que
“Deus colocou o Paraíso no Éden no leste, acrediteis precisamente que o próprio Paraíso foi cri-
ado no exato lugar que a Escritura assegurou que foi” (Homilies on Gênesis, XIII, 3). Ele tam-
bém, proibiu uma interpretação alegórica de “rios” e “águas” do Paraíso, insistindo que “os rios
são rios na realidade e as águas são precisamente águas” (XIII, 4). Assim, quando São João Cri-
sostomo afirma que a palavra “tomou” na Gênesis deve ser entendida numa maneira ajustada a
Deus (isto é, não deve ser entendida literalmente, porque Deus não tem “mãos”). Ele não nega
que Eva foi realmente criada de uma das costelas de Adão, ainda que precisamente como isso foi
jeito, permaneça um mistério para nós (Homilies on Gênesis, XV, 2-3).)
São João Damasceno decota um capítulo a esse tema em sua Exact Exposition of the Or-
thodox Faith. Esse capitulo é chamado “Sobre as coisas que se afirma de Deus como como se Ele
tivesse um corpo,” e ali ele escreve: “Como encontramos na Divina Escritura muitas coisas que
são ditas de Deus como se Ele tivesse um corpo, nós devemos saber que é impossível para nós
que somos homens que estamos vestidos com essa crua carne, pensar ou falar sobre as imponen-
tes e imateriais ações de divindade, a não ser que usemos similaridade, imagens e símbolos que
correspondam a nossa natureza.” Além disso, as expressões a respeito dos olhos, ouvidos, mãos e
similares de Deus, ele conclui: “Para dizer de modo simples, tudo que é afirmado de Deus como
se Ele tivesse um corpo contem um certo significado escondido” (Exact Exposition oh the Or-
thodox Faith, part one, Ch11; The Father of the Church Traslation, p 191-193).
Hoje em dia tornamo-nos bastante acostumados com a idéia de que Deus é puro Espírito.
No entanto, a filosófica do panteísmo (que significa “Deus é tudo”), que está bem espalhado no
nosso tempo, procura contradizer essa verdade. Por isso, ainda hoje no Rito da Ortodoxia canta-
do no Domingo da Ortodoxia o, primeiro domingo da Grande Quaresma, nós ouvimos “para a-
queles que dizem que Deus não é Espírito mas carne — Anathema! (o Rito da Ortodoxia é cele-
brado depois da Liturgia no primeiro Domingo da Grande Quaresma em Igrejas Catedrais aonde
um bispo presida. Nelas, anátemas são proclamados contra heréticos dos tempos antigos e mo-
dernos que tentaram destruir as bases dogmáticas da Ortodoxia. Em muitas jurisdições Ortodo-
xas nas missas hoje, no entanto, sob a influência de idéias “ecumênicas,” esse ofício tem sido
abolido e substituído por uma celebração “Pan-ortodoxa,” ou por uma celebração “ecumênica”).
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Eterno.
A existência de Deus é fora do tempo, pois tempo é somente uma forma de seres limita-
dos, seres mutáveis. Para Deus não há nem passado, nem futuro; só há o presente. “Desde a anti-
güidade fundaste a terra: e os céus são obra das Tuas mãos. Eles perecerão, mas Tu permanece-
rás: todos como um vestido envelhecerão: como roupa os mudaras e ficarão mudados. Mas Tu és
o mesmo, e os Teus anos nunca terão fim” (Sl 102:25-27).
Alguns Santos Padres indicam uma diferença entre o conceito de “eternidade” e “imorta-
lidade.” “Eternity é uma existência viva sempre e esse conceito de “eternidade” é aplicado usu-
almente para a uma natureza não originada, em que tudo é sempre uno e o mesmo. O conceito de
imortalidade de outro lado pode ser atribuído para alguém que foi trazido para ávida como ser e
não morre, como por exemplo um anjo ou uma alma. Eterno em seu significado preciso pertence
a Divina Essência por isso é que o termo é aplicado usualmente só para Adorável e Reinante
Trindade” (Santo Isidro de Pelusium). Sob esse aspecto ainda mais expressiva é a expressão “O
Deus pré-eterno” (como no Kontakion na Natividade de Cristo).
Boníssimo.
“Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânime e grande em benignidade” (Sl 103;8).
“Deus é amor” (1 Jo 4:16). Bondade de Deus estende-se não a uma região limitada do mundo, o
que é característico no amor entre seres limitados, mas ao mundo todo e a todos os seres que nele
existem. Ele é amoroso em relação a vida e as necessidades de cama criatura, não importa quão
pequena e, que possa parecer insignificante para nós, São Gregório, o Teólogo escreve: “se al-
guém nos perguntasse o que é que nós reverenciamos, e o que nós veneramos, nós temos uma
rápida resposta: “o amor” (homilia 23).
Deus dá a suas criaturas tantas coisas boas quanto cada uma pode receber de acordo com
sua natureza e condição e tanto quanto corresponda com a harmonia geral do universo, mas é
para o homem que Deus revela uma bondade particular.” Deus é como uma mãe-passáro que viu
o seu filhote cair do ninho, e voa para baixo para traze-lo de volta, e então vê o filhote em perigo
de ser devorado por uma serpente, então ela grita ansiosamente e voa ao redor desse e dos outros
filhotes, não sendo capaz de ficar indiferente a perder um só deles (Clemente de Alexandria “E-
xhortations to the Pagans,” cap 10). “Deus nos ama mais do que um pai ou uma mãe ou um ami-
go, ou que qualquer outro que possa amar, e ainda mais do que nós podemos amar a nós mesmo,
porque Ele está preocupado com a nossa salvação do que com Sua própria glória. Um testemu-
nho disso é que Ele enviou para o mundo para sofrer e morrer (na carne humana) Seu Filho Úni-
co Gerado, somente para nos revelar o caminho da salvação e da vida eterna” (São João Crisos-
tomo, comentário sobre o Salmo 114). Se o homem freqüentemente não entende o poder comple-
to da bondade de Deus, isso ocorre porque o homem concentra seus pensamentos e desejos de-
masiadamente no seu bem-estar terreno. No entanto, a Providência de Deus une dar-nos coisas
terrenas e temporais junto com o chamado para adquirir para si, para sua alma, coisas boas eter-
nas.
Onisciente.
“...Todas as coisas estão unas e patentes aos olhos de Deus” (Hb 4:13). “Os Teus olhos
viram o meu corpo ainda informe...” (Sl 139:16). O conhecimento de Deus é visão e imediato
entendimento de tudo, tanto no que existe e do que é possível, o presente, o passado e o futuro.
Pré conhecimento do futuro é, estrito senso, visão espiritual, porque para Deus o futuro é como o
presente. O pré conhecimento de Deus não viola o livre arbítrio das criaturas, como a liberdade
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de nosso vizinho não é violada pelo fato de vermos o que ele faz. O pré conhecimento de Deus
com respeito ao mal no mundo e os atos dos seres livres é como se ele fosse coroado pelos pré
conhecimento da salvação do mundo, quando “Deus será tudo em todos” (1 Co 15:28).
Outro aspecto da onisciência de Deus é manifestado na sabedoria de Deus: “Grande é o
Nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento é infinito” (Sl 147:5). Os Santos Padres e
professores da Igreja, seguindo a palavra de Deus, sempre indicaram com grande reverencia a
grandeza da sabedoria de Deus na ordenação do mundo visível, dedicando a esse assunto obras
completas, como por exemplo as Homilias sobre os seis dias (Hexaemeron), que é, a história da
criação do mundo escrita por padres, tais como São Basílio, o Grande, São João Crisostomo, São
Gregório de Nissa. “uma folha de grama ou um grão de poeira é suficiente para ocupar sua vossa
mente inteira, contemplando a arte com que foram feitos” (Basílio, o Grande). Ainda mais, refle-
tiram os padres sobre a sabedoria de Deus na economia de nossa salvação na encarnação do Fi-
lho de Deus. A Sagrada Escritura do Velho Testamento concentra sua atenção primariamente
sobre a sabedoria de Deus no arranho ordenado do mundo: “Todas as cousas Fizeste com sabe-
doria” (Sl 104:24). No Novo Testamento, de outro lado, a atenção está concentrada na economia
da salvação, em conexão com a qual o Apóstolo Paulo clama: “Ó profundidade das riquezas, tan-
to da sabedoria quanto da ciência de Deus” (Ro 11:33). Pois é pela sabedoria de Deus que toma
existência do mundo é dirigida para um único propósito — a perfeição e transfiguração para a
glória de Deus.
Justíssimo.
Justiça é entendida na palavra de Deus e no seu uso geral como tendo dois significados:
a) santidade e, b) justiça.
Santidade consiste não só na ausência da malignidade ou pecado: santidade é a presença
de valores espirituais mais elevados, juntos com a pureza em relação ao pecado. Santidade é co-
mo a luz, e santidade de Deus é como a mais pura das luzes. Deus é “um só santo” por natureza.
Ele é a fonte da santidade para anjos e homens. Os homens podem atingir a santidade somente
em Deus “ não por natureza, mas por participação, por luta e oração” (São Cirilo de Jerusalém).
A Escritura testifica que os anjos rodeiam o trono de Deus sem cessar declaram a santidade de
Deus clamando um para os outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos: toda a terra está
cheia de sua glória” (Is 6:3). Como mostrado na Escritura a luz da santidade enche tudo que vem
de deus ou serve a Deus: “Seu santo Nome” (Sl 33:21; 103:1; 105:3); “Sua santa palavra” (Sl.
104:42); “A lei é santa” (Ro 7:12); “...trono da sua santidade” (Sl 47:8); “escabelo de seus pés,
porque ele é santo” (Sl 99:5); “Justo é o Senhor em todos os Seus caminhos, e santo em todas as
Suas obras” (Sl 145:17); “...o Senhor nosso Deus é santo” (Sl 99:9).
A justiça de Deus é outro aspecto a ser considerado: “Ele julgará os povos com retidão”
(Sl 9:8); “...recompensará cada segundo suas obras; porque para com Deus, não acepção de pes-
soas” (Ro 2:6 e 11).
Como podemos harmonizar o amor divino com a justiça de Deus, que julga estritamente
por pecados e pune os culpados? Sobre esta questão muitos Padres falaram. Eles assemelha a
raiva de Deus à raiva de um pai que, com o objetivo de trazer um filho desobediente a seu senso,
recorre aos meios paternos de punição ao mesmo tempo se afligindo, simultaneamente ficando
triste com a atitude sem sentido de seu filho e simpatizando com ele pela dor que lhe está infli-
gindo. Eis ai porque a justiça de Deus é sempre misericordiosa, e sua misericórdia é justiça, de
acordo com as palavras: “A misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beija-
ram” (Sl 85:10).
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A santidade e a justiça de Deus estão intimamente ligadas uma a outra. Deus chama cada
um para a vida eterna Nele, no Seu reino e isso significa em Sua santidade. No entanto, no Reino
de Deus nada impuro pode entrar. O Senhor nos limpa por seus castigos, assim como por seus
atos providenciais, que previnem e corrigem pelo seu amor para com sua criação; pois nós de-
vemos passar pelo julgamento de justiça, um julgamento que para nós é terrível: como podere-
mos entrar no reino da santidade e luz, e como nos sentiremos lá, estando impuros, escuros e não
tendo em nós nenhuma semente de santidade, não tendo em nós nenhum tipo de valor espiritual
ou moral?
Onipresente.
“Para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei de Tua face? Se subir ao céu, Tu
ai estás, se fizer no sol a minha cama, eis que Tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se
habitar nas extremidades do mar. Até ali a Tua mão me guiará e a Tua destra me susterá” (Sl
139:7-10)
Deus não é sujeito a nenhuma limitação doe espaço, mas Ele preenche tudo. Preenchendo
tudo Deus, como um simples ser, está presente em todo lugar, não como se Ele estivesse com
alguma parte Sua, mas como todo o Seu ser; e Ele não é confundido com aquilo onde está pre-
sente. “A divindade penetra tudo sem se misturar com nada, mas nada pode penetra-lo” (São Jo-
ão Damasceno). “Esse Deus está presente em tudo que conhecemos, mas como nós não enten-
demos, porque nós só podemos compreender uma presença sensorial, e não é dado a nós com-
preender inteiramente a natureza de Deus” (São João Chrisostomo).
Imutável.
No “Pai das luzes, não há mudança. Nem sombra de variação” (Tg 1:17). Deus é perfei-
ção, e toda mudança é um sinal de imperfeição e portanto é impensável no mais perfeito ser, em
Deus concernente a Deus pode-se dizer que nenhum processo está acontecendo Nele que seja de
crescimento, mudança de aparência, evolução, processo ou qualquer coisa parecida.
No entanto, imutabilidade em Deus não é algum tipo de imobilidade; não é um ser fecha-
do dentro de Si mesmo, Mesmo enquanto sendo imutável, Seu ser é vida, preenchido com poder
e atividade. Deus em Si mesmo é vida, e vida é o Seu ser.
A imutabilidade de Deus, não é violada pela geração do Filho e pela processão do Espíri-
to, pois para o Deus o Pai, pertence a paternidade, e para seu Filho, a filiação, e para o Espírito
Santo, a processão que é “eterna, interminável e incessante” (São João Damasceno). As palavras,
cheias de mistério, “A geração do Filho” e a “processão do Espírito,” não expressam nenhum
tipo de mudança na vida divina ou nenhum tipo de processo; para nossas mentes limitadas, “ge-
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que rodeiam o Trono de Deus, flamejando-o com fragrante amor por Deus. Essas louvações são
oferecidas por todo mundo angélico e por todas as criaturas do mundo de Deus: “ O sol canta
Tuas louvações; a lua Te glorifica; as estrelas suplicam diante de Ti: a luz Te obedece; as pro-
fundezas estão temerosas na Tua presença; as fontes são Tuas servas” (Oração da Grande Benção
de Água, Jan.5, Festal Menaion, p. 356).
A unidade de Deus.
“Por conseguinte, nós acreditamos em um Deus: um princípio, sem começo, incriado, não
gerado, indestrutível e imortal, eterno, ilimitado, incircunscritível, irrestrito, infinito em poder,
simples não composto, incorporal, imutável, desapaixonado, constante, invisível, fonte de bon-
dade e justiça, luz intelectual e inacessível: poder que não está sujeito a qualquer medida, mas
que é medido somente por sua própria vontade, pois Ele pode fazer todas as coisas que O agra-
dem; uma essência, um domínio, um reino, conhecido em três hipóstases perfeitas, e conhecido e
adorado com uma adoração” (São João Damasceno. Exact Exposotion oh the Orthodox Faith,
1:8; tradução inglesa, p 177).
A verdade da unicidade de Deus é agora tão evidente para a consciência humana que ela
não necessita de provas da palavra de Deus ou simplesmente da razão. Foi um pouco diferente
no inicio da Igreja Cristã, quando essa idéia teve que ser colocada contra a idéia do dualismo —
o reconhecimento de dois deuses, o do bem e o do mal — e contra o politeísmo dos pagãos, que
era popular naquele tempo.
Creio em um só Deus. Essas são as primeiras palavras do símbolo da fé (o Credo). Deus
possui toda completude de ser prefeito, A idéia de completude, perfeição, infinito, onipotência de
Deus não nos permite pensar Nele como sendo outro que o Um, isto é, singular e tendo uma es-
sência em Si mesmo. Essa exigência da nossa consciência é expressada por um dos antigos escri-
tores nas palavras : “Se Deus não é um, então não existe Deus” (Tertuliano). Em outras palavras,
uma divindade limitada por outro ser perde sua divina dignidade.
A Sagrada Escritura do Novo Testamento toda, é cheia de ensinamentos sobre o Deus
único. “Pai nosso que está no céu,” oramos na palavra da Oração do Senhor (Mt 6:9). “Não há
outro Deus, senão um só” é como o Apóstolo Paulo expressa essa verdade fundamental da fé (1
Co 8:4).
A Sagrada Escritura do Velho Testamento é inteiramente penetrada com o monoteísmo.
A historia do Velho Testamento é a historia da batalha pela fé em um verdadeiro Deus contra o
politeísmo pagão. O desejo de alguns historiadores da religião de encontrar traços de um suposto
“politeísmo original” no povo hebreu em certas expressões, por exemplo, o numero plural de no
nome de Deus — “Elohim” — ou achar uma fé em um “Deus nacional” em frases como “O
Deus dos deuses,” “o Deus de Abrahão, Isaac e Jacó” — não corresponde ao significado autenti-
co dessas expressões.
1. Elohim. Para um judeu simples essa é uma forma de reverência e respeito (um exem-
plo disso pode ser visto na língua russa e outras línguas européias * onde a segunda pessoa no
plural, “vós” em oposição a “tu,” é usada para demonstrar respeito). Para o escritor divinamente
inspirado, o Profeta Moisés, o número plural da palavra contem sem dúvida, em acréscimo, o
profundo significado mínimo de uma antevisão das Três Pessoas de Deus. Ninguém pode duvi-
dar que Moisés fosse um puro monoteísta, conhecendo o espírito na linguagem hebréia. Ele não
usaria um nome que contradissesse sua fé no Deus único.
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2. O Deus dos Deuses é uma expressão que coloca fé no verdadeiro Deus contra adora-
ção de ídolos; aqueles que adoravam os ídolos os chamavam de “Deus” mas para os judeus, es-
ses eram falsos deuses. Essa expressão é usada livremente no Novo Testamento pelo Apóstolo
Paulo; depois de dizer “Não há outro Deus, senão um só,” ele acrescenta:” Porque ainda que haja
também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e mui-
tos senhores). Todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos;
e que há Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por Ele” (1 Co 8:4-6)
3. O Deus de Abrahão, Isaac e Jacó é uma expressão que se refere só ao povo judeu
escolhido como o “herdeiro das promessas” feitas a Abrahão, Isaac e Jacó.”
A verdade Cristã da unicidade de Deus é aprofundada pela verdade da unidade trihipósta-
tica.
Introdução.
Deus é uno em Essência e triplo em Pessoas. Uma série completa de grandes dogmas da
Igreja estão baseados imediatamente sobre ele, começando primeiro com o dogma de nossa Re-
denção. Por causa de sua especial importância, a doutrina da Santíssima Trindade constitui o
conteúdo de todo os Símbolos da Fé foram usados e que são usados agora na Igreja Ortodoxa,
assim como de todas as confissões privadas de fé escritas em várias ocasiões pelos Padres da I-
greja.
Porque o dogma da Santíssima Trindade é o mais importa dos dogmas Cristãos, ele é o
mais difícil de ser compreendido pela mente humana limitada. Por essa razão é que nenhuma ba-
talha na história da Igreja Antiga foi tão intensa quanto a que existiu sobre esse dogma e as ver-
dades que são imediatamente ligadas a ele.
O dogma da Santíssima Trindade inclui em si duas verdades fundamentais:
A. Deus é uno em Essência, mas triplo em pessoa. Em outras palavras, Deus é Tri-único, é Tri-
Hipostático, é Trindade Una em Essência.
B. As hipóstases tem atributos pessoais ou hipostático: Deus é não gerado, o Filho é gerado pelo
Pai; o Espírito Santo procede do Pai.
N[os adoramos a Santíssima Trindade com única e inseparável adoração. Na Igreja, San-
tos padres e Ofícios Divinos, a Trindade é freqüentemente chamada de Unidade na Trindade, U-
nidade Tri-Hipostática. Em sua maioria, as orações dirigidas a uma pessoa da Trindade termina
com a glorificação ou doxologia de toda as Três Pessoas (por exemplo em uma oração para o
Senhor Jesus Cristo: “Pois glorificado és Tu, junto com Teu Pai não originado, e o Espírito San-
to, agora e sempre .... Amém.”
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A Igreja, dirigindo uma oração à Santíssima Trindade, invoca-a no singular e não no plu-
ral. Por exemplo “por Ti” (e não Vós) louvam todos os poderes celestes, e para Ti (não Vós) nós
damos glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, agora e sempre e pelos séculos dos séculos.
Amém.”
Reconhecendo a natureza mística desse dogma, a Igreja de Cristo nele vê uma grande re-
velação que exalta a fé Cristã incomparavelmente acima de qualquer confissão de simples mono-
teísmo, tais como podem ser encontradas em religiões não Cristãs.. O dogma das Três Pessoas
indica a completude da mística vida interior em Deus, pois Deus é amor e o amor de Deus não
pode ser meramente estendido para o mundo criado por Ele; na Santíssima Trindade esse amor é
dirigido também para o interior da vida divina. O dogma das Três Pessoas nos indica ainda mais
claramente a proximidade de Deus com o mundo: Deus acima de nós, Deus conosco, Deus em
nós e em toda criação.
Acima de nós está Deus o Pai, a eternamente e fluente Fonte, como é expressado na ora-
ção da Igreja, a Fundação de todos os seres, o Pai misericordioso que nos ama e cuida de nós,
Sua criação pois nós somos Seus filhos por graça.
Conosco está Deus o Filho, gerado pelo Pai, que pelo Seu divino amor se manifestou para
os homens como Homem para que pudéssemos saber e ver com nossos próprios olhos que Deus
está conosco muito intimamente, partilhando a carne e o sangue conosco (Hb 2:14) do modo
mais perfeito.
Em nós e em toda criação — por Seu poder e graça — está o Espírito Santo, que enche
tudo, é o Doador da vida, Confortador, tesouro e Fonte de coisas boas. Tendo uma existência e-
terna e pré-eterna, as Três Pessoas Divinas foram manifestadas ao mundo com a chegada e En-
carnação do Filho de Deus, “sendo um Poder, uma Essência, uma Divindade” (Estiqueria de
Pentencostes, Glória ao Pai dos salmos no Lucernário)
Porque Deus em sua verdadeira Essência é totalmente consciência e pensamento, cada
uma das três manifestações eternas de si mesmo pelo Deus uno tem auto consciência, e por isso
cada um é uma Pessoa. Além disso, essas Pessoas não são simplesmente estão contidas na pró-
pria unidade da Essência de deus. Assim, quando na Doutrina Cristã nós falamos da Tri-Unidade
de Deus, nós falamos da mística vinda interior escondida nas profundezas da Divindade, revelam
ao mundo em tempo, no Novo Testamento pela descida do Filho de Deus, do Pai, ao mundo e
pela atividade, do miraculoso, vivificante, e poder salvador do Confortador, o Espírito Santo.
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Gênesis 3:22: “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem (Adão) é como um de nós, sabendo
o bem e o mal” (essas são as palavras de deus antes do banimento de nossos ancestrais do Paraí-
so).
Gênesis 11:6-7: Antes da confusão de línguas no prédio da torre de Babilônia, o Senhor
disse: “Eis, desçamos e confundamos ali a sua língua.”
Gênesis 18: 1-3: A respeito de Abrahão: “Depois apareceu-lhe o Senhor nos carvalhos de
Manre ... e (Abrahão) levantou os olhos, e olhou e eis que três varões estavam em pé junto a ele
... e inclinou-se à terra e disse: Meu Senhor, se agora tenho achado graça nos teus olhos, rogo-te
que não passes de Teu servo.” O bendito Agostinho diz nessa passagem: “Vós vedes que Abra-
hão encontra Três mas prostrasse só para Um ... Tendo contemplado Três, ele compreendeu o
mistério da Trindade, e tendo se prostrado para Um, ele confessa Um Deus em Três Pessoas.
Além dessas passagens, os Padres da Igreja vêem uma referencia indireta à Trindade nas
seguintes:
Números 6:24-26: A benção sacerdotal indicada pôr Deus através de Moisés está em
forma tripla: “O Senhor te abençoe... o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti... o Senhor
sobre ti levante o Seu rosto....”
Iscais 6:13: A doxologia dos Serafins que estavam acima do Trono de Deus é em forma
tripla: “Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos”
Salmo 33:6: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exercito deles pelo
Espírito em Tua boca.”
Finalmente, pode-se indicar aquelas passagens no Velho Testamento onde o Filho de
Deus e o Espírito Santo são referidos separadamente. Pôr exemplo a respeito do Filho:
Salmo 2:7: “...Tu és meu Filho, eu hoje te gerei.”
Salmo 110: 1 e 3: “Disse o senhor ao meu Senhor... como vindo do seio da alva, será o
orvalho da Tua mocidade.”
A respeito do Espírito Santo:
Salmo 143:10: “...guie-me o Teu bom Espírito pôr terra plana.”
Isaias 48:16: “...e agora o Senhor Jeová me enviou o seu Espírito.”
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Mateus 28:19: “Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo”; desse trecho, Santo Ambrósio de Milão comenta: “O Senhor disse,
“em nome” e não “Nos nomes,” porque Deus é um. Não há muitos nomes; por isso não há dois
ou três deuses.”
2 Co 13:13: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espíri-
to Santo, seja com vos todos. Amém.”
Jo 15:26: “Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do pai vos hei de enviar, aque-
le Espírito de verdade que procede do Pai, ele testificará de mim.”
1 Jo 5:7: “Porque três são os que testificam no céu: o Pai, o Verbo, e o Espírito Santo; e
esses três são um” (Esse versículo não existe nos antigos manuscritos gregos que foram preser-
vados e está presente só nos manuscritos ocidentais latinos).
Além disso, Santo Atanásio, o Grande, interpreta como referencia À Trindade o seguinte
texto da Epístola aos Efésios (4:6): “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos (Deus Pai)
e em todos (Deus o Espírito Santo).” Na verdade, toda a Epístola do Apóstolo Paulo aos Efésios
— especialmente os três primeiro capítulos dogmáticos — é uma revelação da verdade da “eco-
nomia trinitária” da nossa salvação.
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Pai e do Filho e do Espírito Santo., como três Pessoas Divinas, e acusou os heréticos que tenta-
ram batizar ou em nome somente do Pai, considerando o Filho e o Espírito santo serem poderes
inferiores ou em nome do Pai e do Filho, e mesmo do Filho sozinho, minimizando assim o Espí-
rito Santo (ver os testemunhos de Justin, o Mártir, Tertuliano, Irineu, Cipriano, Atanásio, Hilário,
Basílio, o Grande e outros).
A Igreja, no entanto, experimentou grandes perturbações e passou por uma grande bata-
lha na defesa do dogma da Santíssima Trindade. A batalha foi travada principalmente me dois
pontos: primeiro na afirmação da verdade da unicidade de louvor do Espírito Santo com Deus
Pai e Deus Filho.
No período antigo, o objetivo dogmático da Igreja foi achar palavras precisas para esse
dogma que pudessem melhor proteger o dogma da Santíssima Trindade contra as reinterpreta-
ções dos heréticos. Desejando trazer o mistério da Santíssima Trindade um pouco mais perto dos
nossos conceitos terrenos, trazer o que está alem da compreensão um pouco mais perto daquilo
que é compreensível, os Padres na Igreja usaram comparações na natureza. Entre elas estão: a) o
sol, seus raios e a luz; b) a raiz, o tronco e a fruta de uma arvore; c) a nascente d’água, a fonte e o
rio que dela sai; d) três velas que queimam simultaneamente e que dão uma luz única e insepará-
vel; e) o fogo, e a luz e o calor que vem dele; f) mente, vontade, memória; g) consciência, conhe-
cimento e desejo; e assim por diante. Mas eis que diz São Gregório, o Teólogo a respeito dessas
tentativas de comparação: “Eu examinei cuidadosamente essa questão em mima mente, e a olhei
sobre todos os pontos de vista, de modo a encontrar alguma semelhança com o mistério, mas fui
incapaz de encontrar qualquer coisa na terra que pudesse ser comparada à natureza da divindade.
Pois mesmo que eu percebesse alguma pequena parecença, esta me escapava em sua maior parte,
e me derrubava junto com eu exemplo. Eu pintei para mim uma nascente, uma fonte e um rio,
como outros haviam feito antes, para ver se a primeira poderia ser análoga ao Pai, a segunda ao
Filho e o terceiro ao Espírito Santo. Pois para as Três Pessoas não há distinção no tempo, nem
Elas são tiradas de suas conexões com a cada uma das outras, apesar Delas parecerem estar par-
tidas em três personalidade, No entanto, eu estava em primeiro lugar temeroso de ter que apre-
sentar um fluxo da divindade, incapaz de permanecer imóvel; e segundo lugar, que por essa figu-
ra fosse introduzida uma unidade numérica. Pois a nascente, a fonte e o rio são numericamente
um, apesar de formas diferentes.”
“Novamente, eu penso no sol, no raio e na luz. No entanto, aqui também houve um temos
que no mínimo as pessoas viessem a ter idéia de composição na incomposta natureza, tal como
se existe no sol e as coisas que estão no sol. E alem disso nós estaríamos dando Essência ao Pai e
negando personalidade aos Outros fazendo-os somente poderes de Deus, existindo Nele e não
pessoalmente. Pois nem o raio nem a luz é outro sol, mas eles são só emanações do sol, e quali-
dades de sua essência. E assim, finalmente, seguindo com a ilustração nós estaríamos atribuindo
a Deus tanto ser quanto não ser, o que é ainda mais monstruoso... Em uma palavra, não há nada
que apresente um ponto firme nessas ilustrações do qual eu possa considerar o Objeto que eu es-
tou tentando representar para mim, a menos que se possa indulgentemente aceitar um ponto na
imagem enquanto rejeitando o resto. Finalmente, parece melhor para mim que eu deixe que se vá
a imagem e também a sombra, por serem enganosas e muito distantes da verdade, e inclinando-
me para a concepção mais reverente, e apoiando-me em algumas palavras, usando a orientação
do Espírito Santo, mantendo até o fim como minha genuína camarada e companheira iluminação
que eu recebi Dele, e passando por esse mundo a persuadir outros com o melhor do meu poder a
adorar o Pai, Filho e o Espírito Santo, a Divindade e Poder Uno” (São Gregório, o Teólogo, Ho-
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milia 31, “On the Holy Spirit” seções 31-33; tradução inglesa em Nicene and Post-Nicene Fa-
thers, second series, Vol. VII, p. 328; Eederman).
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tade de deus só pode ser divina e eterna; por isso a palavra de Deus diz do Filho que veio para a
terra: “O Filho unigênito, que está no seio do Pai” (Jo1:18); a respeito do Espírito Santo: “Que eu
vos hei de enviar ... que procede do Pai...” (Jo 15:26). (aqui o presente gramático significa eter-
nidade).
Aquele que é gerado é sempre da mesma essência que o que gera. Mas o que é criado e
feito é de outra e inferior essência, e é externo em relação ao Criador.
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palavras do mesmo Apóstolo: “Mas se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é Dele”
(Ro 8:9); e no Evangelho de João, “assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo”
(Jo 20:22)
Da mesma forma, os teólogos romanos acham nos trabalhos dos Santos Padres da Igreja
passagens onde freqüentemente é mencionado o envio do Espírito Santo “através do Filho” e às
vezes até um “processão através do Filho.”
No entanto nenhum arrazoado de qualquer tipo pode obscureceras perfeitamente precisas
palavras do Salvador: “O Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, ... e imediata-
mente depois, ...que procede do Pai” (Jo 15:26).. Os Santos Padres da Igreja não poderiam possi-
velmente colocar as palavras “através do Filho” se elas não estivessem contidas na Sagrada Es-
critura.
No caso presente, os teólogos católicos romanos estão ou confundindo dois dogmas —
isto é, o dogma da existência pessoal das hipóstases e o dogma da unicidade da essência que está
imediatamente ligado com ele, ainda que seja um dogma separado — ou então eles estão con-
fundindo as relações internas das hipóstases da Santíssima Trindade com as ações e manifesta-
ções providenciais do Pai, do Filho e do Espírito santo, que são dirigidas ao mundo e à raça hu-
mana. Que o Espírito Santo é Um em Essência com o Pai e o Filho, e que portanto Ele é o Espíri-
to do Pai e do Filho, é uma verdade inquestionável do Cristianismo, pois Deus é uma Trindade
Uma em Essência e Indivisível.
Essa idéia é claramente expressada pelo Bem Aventurado Teodoreto: “A respeito do Es-
pírito Santo, é dito não que Ele tenha existência do Filho ou através do Filho, mas sim que Ele
procede do Pai e tem a mesma natureza que o Filho, é de fato o Espírito do Filho sendo Um em
Essência com Ele” (B. A. Theodoret, “On the Third Ecumenical Council”).
Nos Divinos Ofícios também, com freqüência ouvimos essas palavras endereçadas ao
Senhor Jesus Cristo: “Pelo Teu Espírito Santo,iluminai-nos, instrui-nos e preserva-nos.” A ex-
pressão “o Espírito do Pai e do Filho,” é igualmente em si própria inteiramente Ortodoxa. Mas
essas expressões referem-se aos dogmas da Unicidade da Essência, e é absolutamente essencial
distinguir este de outro dogma, o dogma da geração e processão, no qual, como os Santos Padres
expressam, é mostrada a causa da existência do Filho e do Espírito Santo. Assim, quando certos
Padres da Igreja usam a expressão “através do Filho” eles estão, precisamente por meio dessa
expressão preservando o dogma da processão do Pai e a inviolabilidade da formula dogmática,
“procede do Pai.” Os padres falam em relação ao Filho “através” para defender a expressão “do
Pai,” onde só se refere só ao Pai.
A isso dever-se-ia juntar a expressão “através do Filho,” que é encontrada em certos Pa-
dres da Igreja, na maioria dos casos referem-se definitivamente às manifestações do Espírito
Santo no mundo, isto é, às ações providenciais da Santíssima Trindade, e não à vida de Deus em
Si próprio. Quando a Igreja Oriental notou uma distorção do dogma do Espírito Santo no Oci-
dente e começou a recriminar os teólogos ocidentais por suas inovações, São Máximo, o Confes-
sor (no século sete), desejando defender os ocidentais, justificou-os precisamente dizendo que
pelas palavras “do Filho” eles pretendiam indicar que o Espírito Santo é dado para as criaturas
através do Filho, que Ele é enviado — mas não que o Espírito Santo tem Sua existência do Filho.
São Máximo, o Confessor manteve estritamente o ensinamento da Igreja Oriental a respeito da
processão do Espírito Santo do Pai e escreveu um tratado especial sobre esse dogma.
O envio providencial do Espírito pelo Filho de Deus é referido nas palavras, “que Eu da
parte do pai vos hei de enviar.” Também nós rezamos: “Senhor, Tu que, à terceira hora, fizeste
nascer o Espírito Santo sobre teus Apóstolos, pela Tua misericórdia não O afastaste de nós, mas
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Esse ensinamento herético de Ario perturbou o mundo Cristão todo, porque ele puxou atrás de si
muita gente. Em 325 o Primeiro Concílio Ecumênico foi chamado contra esse ensinamento, e
nesse Concilio 318 dos hierarcas chefes da Igreja unanimemente expressaram o antigo ensina-
mento da Ortodoxia e condenaram o falso ensinamento de Ario. O Concílio triunfante pronun-
ciou Anátema contra aqueles que existiu um tempo em que o Filho de deus não existiu, contra
aqueles que afirmaram que Ele foi criado, ou que Ele era diferente essência que a do Deus Pai. O
Concílio compôs um Símbolo da Fé, que foi confirmado e completado mais tarde no Segundo
Concilio Ecumênico. A unidade e igualdade de honra do Filho de Deus com o Deus Pai foi ex-
pressa por esse Concílio no Símbolo da Fé com as palavras : “de Uma Essência com o Pai.”
Depois do Concilio, a heresia ariana dividiu-se em três ramos e continuou a existir por
algumas décadas. Ela foi sujeita a outras refutações em seus detalhes em vários concílios locais e
nas obras dos grandes Padres da Igreja do século 4º e parte do século 5º (Santos, Atanásio, o
Grande; Basílio, o Grande; Gregório, o Teólogo; João Crisostomo, Gregório de Nissa; Epifânio;
Ambrósio de Milão; Cirilo de Alexandria; e outros). No entanto, o espírito nessa heresia mesmo
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mais tarde encontrou lugar para si em vários ensinamentos falsos na idade média quanto nos
tempos modernos.
Ao responder às opiniões dos heréticos Arianos, os Padres da Igreja não encontraram
uma só passagem na Sagrada Escritura que tivesse sido citada pelos heréticos em justificativa de
sua Idea de desigualdade do Filho com o Pai. A respeito de expressões na Sagrada Escritura que
parecem falar da desigualdade do Filho com o Pai, deve-se ter em mente o seguinte: a) que o Se-
nhor Jesus Cristo não é só Deus, mas também tornou-se homem, e tais expressões podem se refe-
rir à Sua humanidade; b) que em adição, Ele, como nosso Redentor, durante os dias de Sua vida
terrena estava em voluntária diminuição “...humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até na
morte” (Fp 1:8). Mantendo essas palavras do Apóstolo, os Padres da Igreja expressam essa con-
dição pelas palavras ekkenosis, kenosis que significam esvaziamento, diminuição, rebaixamento
“antevendo teu divino auto-esvaziamento na cruz, Hababuque clamou maravilhando-se “ (Cânon
das Matinas do Grande Sábado). Mesmo quando o Senhor fala de Sua própria Divindade, Ele,
tendo sido enviado pelo Pai e tendo vindo para preencher na terra a vontade do Pai, colocando-se
em obediência ao pai, sendo Um em Essência e igual em honra com Ele como Filho, nos dá um
exemplo de obediência.
Esse é o significado preciso, por exemplo, das palavras do Salvador no Evangelho de Jo-
ão : “ Porque o Pai é maior que eu” (Jo 14:28). Deve-se notar que essas palavras são ditas a Seus
discípulos em sua conversa de despedida depois das palavras que expressem a completude de
Sua divindade e a Unidade do Filho com o Pai: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e
meu Pai o amará, e viremos para Ele, e faremos nele morada” (Jo 14:23). Nessas palavras o sal-
vador junta o Pai e Ele próprio na única palavra “nós,” e para igualmente em nome de Seu Pai e
em Seu próprio nome; mas, como Ele foi mandando pelo Pai para o mundo (Jo 14: 24), Ele se
coloca em uma relação de submissão ao Pai (Jo14:28).
Um exame detalhado de passagens similares na Sagrada Escritura (por exemplo, Marcos
13:32; Mat 26:39; Mt 27:43; João 20-17) é encontrado em Santo Atanásio, o Grande (em seus
sermões contra os Arianos), em São Basílio, o Grande (em seu quarto livro contra Eunomius),
em São Gregório, o Teólogo, e em outros que escreveram contra os Arianos.
No entanto, se existem tais expressões pouco claras na Sagrada Escritura sobre Jesus
Cristo, existem muitas, pode-se até dizer inumeráveis passagens que testemunham a Divindade
do Senhor Jesus Cristo. Primeiro, o Evangelho como um todo O testifica. Quanto as passagens
separadas, indicaremos só algumas das mais importantes. Algumas dessas passagens dizem que o
Filho de Deus é Deus verdadeiro; outras afirmam que Ele é igual ao Pai; outras ainda dizem que
Ele é Um em Essência com o Pai.
É essencial ter em mente que chamar o Senhor Jesus Cristo de Deus — theos — é em sim
falar da plenitude da Divindade Nele. Falando do Filho, o Apóstolo Paulo diz que “Nele habita
corporalmente toda a plenitude da divindade” (Col 2:9).
As passagens seguintes mostram que o Filho de Deus é Deus verdadeiro: a . Ele é direta-
mente chamado de Deus na Sagrada Escritura:
“No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o verbo era deus. Ele estava no
principio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez”
(Jo 1:13)
“Grande é o mistério da piedade; Deus se manifestou em carne” (Tim. 3:16)
“E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o
que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é em Seu Filho Jesus Cristo. Este é o ver-
dadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5:20)
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“...e dos quais é Cristo segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente.
Amem” (Ro 9:5).
“Meu Senhor e meu Deus” — a exclamação do Apóstolo Tomé (Jo 20:28)
“Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constitui bispos,
para apascentar a Igreja de Deus, que ele resgatou com o seu próprio sangue” (At. 20:28)
“vivamos.. sóbria, e justa, e piamente. Aguardando a bem aventurada esperança e o apa-
recimento da glória do grande Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2: 12-13) — Que o título
de “grande Deus pertence aqui a Jesus Cristo é tornado claro para nós pela construção da senten-
ça em grego (um artigo comum para as palavras “Deus e Senhor.” Assim como pelo contexto
desse capitulo.
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Nos Símbolos da Fé que foram usados antes do Concilio de Nicéia em toda Igreja local.
Os Símbolos da Fé que foram compostos em Concílios ou em nome de concílios pelos Pastores
da Igreja antes do 4º século.
Os escritos dos Padres Apostólicos e professores da Igreja durante os primeiros séculos.
O testemunho de homens que não pertenciam ao Cristianismo e relataram que os Cristãos adora-
vam “Cristo como Deus” (por exemplo, a carta de Plínio, o Jovem ao Imperador Trajano; o tes-
temunho do escritor Celsius, que era um inimigo dos Cristãos; e outros)
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vina do Espírito Santo: “E. se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á
perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste século
nem no futuro” (Mt 12:32).
Parte II
Deus Manifestado no Mundo.
Deus e a Criação.
Introdução.
No princípio criou Deus os céus e a terra (Ge 1:1). O relato divinamente inspirado da cri-
ação do mundo por Moisés, mostrado na primeira pagina da Bíblia, mostra-se em exaltada gran-
deza, bem independente das antigas lendas mitológicas sobre a origem do mundo, bem como vá-
rias hipóteses, constantemente substituindo uma as outras, a respeito do começo e desenvolvi-
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mento da ordem do mundo. Ela é apresentada como o auxilio da mais elementar linguagem; com
um vocabulário consistente e somente algumas centenas de palavras e inteiramente destituído das
idéias abstratas tão necessárias para a expressão de verdades religiosas. Mas apesar de sua ele-
mentar natureza ela tem um significado eterno.
O propósito direto do visionário de Deus Moisés foi — por meio de um relato da criação — ins-
tilar em seu povo, e através dele em toda humanidade, as verdades fundamentais de Deus, do
mundo e do homem.
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C. Do homem. O homem é a mais alta criação de Deus na terra. Reconhecendo respeito no seu
Criador, O glorificando, dando graças a Ele, e lutando para ser merecedor de Sua misericórdia!
Mas essas coisas — glória, graças, oração p são possíveis somente sobre as bases que fo-
ram dadas no relato de Moisés sobre a criação do mundo. Sem o conhecimento de um Deus Pes-
soal, nós não poderíamos nos voltar para Ele: nós seriamos órfãos, não conhecendo nem pai nem
mãe.
Se fosse para nós reconhecermos que o mundo é co-eterno com Deus, de alguma forma
independente de Deus, de algum modo igual a Deus, ou ainda nascido de uma emanação de
Deus, então isso seria o mesmo que dizer que o mundo é igual a Deus em dignidade, e que o ho-
mem, como a mais desenvolvida manifestação da natureza do mundo, deveria ser capaz de se
considerar como uma divindade que não teria obrigação diante de um princípio mais elevado.
Tal conceito conduziria às mesmas conseqüências negativas e penosas, para a queda moral dos
homens, como o faz o simples ateísmo.
Mas o mundo tem um inicio. O mundo foi criado no tempo. Existe um mais Elevado, E-
terno, Sapientíssimo, Poderoso e Bom poder acima de nós, por Quem o espírito de um homem
crente alegremente luta e para quem ele se inclina, clamando com amor: “Ó Senhor, quão har-
moniosos são as tuas obras! Feitas todas com sabedoria, a terra está repleta das Tuas riquezas...
A glória do Senhor seja para sempre” (Sl 104:24 e 31).
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essa palavra criadora significa somente o comando ou a expressão da toda poderosa vontade de
Deus, que trouxer o universo para a existência do nada.
São Damasceno escreve: “Agora, o bom e transcendental bom Deus não estava satisfeito
em contemplar a Si mesmo, mas por uma superabundância de bondade viu ser bom que deveriam
existir algumas coisas para se beneficiarem e participarem em Sua bondade, então ele trouxe to-
das as coisas do nada para o ser e as criou, tanto visíveis quanto invisíveis, e também o homem
que é feito de ambas. Por pensar Ele criou, e com o Verbo preenchendo e o espírito aperfeiçoan-
do, o pensamento tornou-se ação” (Exact Exposition, Livro 2, cap.2, Fathers of The Church, tr.
Pág 205).
Assim, apesar do mundo ter sido criado no tempo, Deus tinha o pensamento de Sua cria-
ção por toda a eternidade (Agostinho, Against Heresies). No entanto, nós evitamos a expressão
“Ele criou o mundo de seu pensamento” para não dar ocasião a que se pense que ele criou o
mundo de Sua Essência. Se a palavra de Deus não nos dá o direito de falar do “ser pré-eterno” do
mundo inteiro, assim também, na mesma base deve-se reconhecer como inaceitável a idéia da
“existência pré-eterna da humanidade,” uma idéia que tem tentado penetrar na nossa teologia a-
través das correntes filosóficas-teológicas contemporâneas.
A Santa Igreja, sendo guiadas pelas indicações da Sagrada Escritura, confessa a partici-
pação de todas as pessoas da Santíssima Trindade na criação. No símbolo da fé nós lemos:
“Creio em um só Deus, Pai Todo Poderoso, Criador do céu e da terra,e de todas as coisas visíveis
e invisíveis; creio em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Único de Deus...por Quem todas as coi-
sas foram feitas ... creio no Espírito Santo, Senhor e Fonte de Vida.” Santo Irineu de Lyon escre-
ve: “O Filho e o Espírito Santo são, como se fossem as mãos do Pai” (Against Heresies, Livro 5,
cap. 6). A mesma idéia é encontrada em São João de Kronstadt (My Life in Christ).
A perfeição da criação.
A palavra de Deus e os Padres da Igreja ensinam que tudo que foi criado por Deus foi
bom, e eles indicam a boa ordem do mundo como criado pelo Bom. A criação irracional, não
tendo em sim nenhuma liberdade moral, é moralmente nem boa nem má. A criação racional e
livre torna-se maligna quando ela se inclina para longe de Deus; isso é seguindo sua atração pe-
caminosa e não porque ela foi criada assim. “E viu Deus que era bom” (Gen 1;4, 10, 12, 18, 21,
25). “E eis que era muito bom” (Ge 1:31).
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Deus criou o mundo perfeito. No entanto, o Apocalipse não diz que o mundo presente era
perfeito em tal extensão que não teria necessidade de, ou seria incapaz de, um aperfeiçoamento,
fosse nos dias de sua criação ou nas suas condições mais tardias e presentes. O mundo terreno
em seus mais altos representantes — o gênero humano — eram predestinados para uma forma de
vida nova e mais elevada. A Revelação Divina nos ensina que a presente condição do mundo se-
rá substituída em algum momento por uma melhor e mais perfeita, quando existirá “novos céus e
nova terra” (2 Pe 3:13), e a própria criação “será libertada da servidão da corrupção” (Ro 8:21).
A Questão: como a vida de Deus procedia antes da criação humana do mundo, o Bem
Aventurado Agostinho responde, “minha melhor resposta é: eu não sei.” São Gregório, o Teólo-
go reflete: “Ele contempla a amada radiancia de Sua própria bondade... visto que não se pode
atribuir a Deus inatividade ou imperfeição, então o que ocupava o pensamento divino antes que o
Todo Poderoso reinando na ausência do tempo, criasse o universo e o adornasse com formas?
Ele contemplava a amada radiosa divindade conhecida só pela divindade e para quem Deus A
revelasse. A Mente criadora do mundo igualmente contemplativa, em suas grandes concepções,
as formas do mundo divisadas por Ele, que, mesmo que fossem trazidas subseqüentemente, para
Deus já estavam presentes. Com Deus, tudo está diante de Seus olhos: o que será, o que foi, e o
que não é” (São Gregório, o Teólogo, Homilia 4, On the World).
Para a questão, como era expressa, a onipotência de Deus, antes que existissem o mundo,
São Metódio de Patara diz: “Deus Onipotente está fora de qualquer dependência das coisas cria-
das por Ele.”
O Mundo Angélico.
O primeiro e mais alto ligar na inteira escada dos seres criados é ocupado pelos espíritos puros
e imateriais. Eles são seres não só comparativamente mais elevados e mais perfeitos, mas eles
também tem uma influência muito importante na vida dos homens, apesar de serem invisíveis
para nós.
O que foi revelado para nós a respeito deles? Como e quando eles vieram para a condição
de ser? Que natureza lhes foi dada? São todos de igual estatura? Qual é o seu propósito e a forma
de sua existência?
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fins rodeando o trono de deus (cap 6). O Profeta Ezequiel viu Querubins na visão da Casa de
Deus (Cap. 10).
O Novo Testamento contem muita informação e muitas menções de anjos. Um anjo in-
formou Zacarias da concepção do Precursor. Um anjo informou a Santíssima Virgem Maria do
nascimento do Salvador e apareceu a José enquanto este dormia. Uma multidão numerosa de an-
jos cantou a glória da Natividade de Cristo. Um anjo anunciou a boa nova do nascimento do Sal-
vador aos pastores. Um anjo preveniu os Magos para não retornarem a Herodes. Anjos serviram
Jesus Cristo depois de Suas tentações no deserto. Um anjo apareceu para dar força a Ele no jar-
dim de Getsemani. Anjos informaram as mulheres Miróforas sobre a Sua Ressurreição. Os Após-
tolos foram informados por eles sobre a Sua segunda vinda, na hora de Sua Ascensão ao céu..
Anjos libertaram Pedro e outros Apóstolos (At 5:19), e Pedro sozinho (At 12:7-15). Um anjo a-
pareceu para Cornélio e deu instrução a ele para chamar o Apóstolo Pedro e instrui-lo na palavra
de Deus (At 10:3-7). Um anjo informou o Apóstolo Paulo que ele tinha que se apresentar diante
do César (At 27:23-24). Uma visão de anjo é a base das revelações dadas a São João Teólogo no
Apocalipse.
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prio: “Todos esses dias eu simplesmente apareci para vocês e não comi ou bebi, mas vocês esta-
vam vendo uma visão” (Tobias 12:19). Agora, como São João Damasceno expressa, “comparado
conosco, o anjo é dito ser incorpóreo e imaterial, apesar de em comparação com Deus, que só Ele
é incomparável, tudo prova ser grosseiro e material — pois só a divindade é verdadeiramente
imaterial e incorpórea “ (Ibid, pg 205).
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“milhares de milhares O serviam e milhões de milhões estavam diante Dele” (Daniel 7:10). “U-
ma multidão dos anjos celestiais, louvou a vinda para a terra do Filho de deus” (Lc 2:13).
“Calculem,” diz São Cirilo de Jerusalém, “quantas são as nações romanas; calculem
quantas tribos bárbaras vivem agora, e quantos morreram nos últimos cem anos; calculem quan-
tas nações foram enterradas durante os últimos mil anos; calculem todos de Adão até hoje. Na
verdade é uma grande multidão; mas ainda é pouco, porque os anjos são muito mais. Eles são as
noventa e nove ovelhas, mas o ser humano é a uma” (Mt 18:12). Pois de acordo com a extensão
do espaço universal, nós devemos calcular o número de seus habitantes. A terra inteira não é se-
não um ponto no meio do céu, e mesmo assim contem tão grande multidão; que multidão deve
conter o céu que envolve a terra? E o céu dos céus não devem conter números inimagináveis? E
está escrito, milhares e milhares O serviam e milhões de milhões estavam diante Dele; não que a
multidão fosse só desse tamanho, mas o Profeta não conseguiu expressar mais do que isso” (São
Cirilo de Jerusalém, Catechetica Lectures, 15:24, tradução Eerdmans, pg 111-112).
Com tal multidão de anjos é natural supor-se que no mundo dos anjos assim como no
mundo material, existam vários degraus de perfeição, e portanto vários estágios, ou graus hierár-
quicos, dos poderes celestes. Assim, a palavra de Deus chama alguns deles de “anjos” e outros
de “arcanjos” (1 Ts 4:16; Judas 1:9).
A Igreja Ortodoxa, guiada pela visão de antigos escritores da Igreja e dos Santos Padres,
e em particular pelo trabalho, A Hierarquia Celeste, que leva o nome de São Dinis, o Aeropagita,
divide o mundo angélico em novos coros ou categorias, e esses nove em três hierarquias, com
três categorias em cada. Na primeira hierarquia estão aqueles que estão mais perto de Deus: os
Tronos, os Querubins e os Serafins. Na segunda, hierarquia média, estão os Poder, Potestade e
Domínio. Na terceira, mais próximas de nós, estão os Anjos, Arcanjos e Principados. (The Or-
thodox Confession).
Nós encontramos essa enumeração dos noves coros de anjos nas Constituições Apostóli-
cas (As “Constituições Apostólicas” são uma coleção de textos do 4º e 5º séculos sobre a doutri-
na, louvação e disciplina Cristã que dão muita informação sobre a vida da Igreja nos primeiros
tempos — apesar de não necessariamente no tempo dos Apóstolos. Tendo algum respeito por ser
um texto Cristão antigo, mais devido a algumas adições feitas a ele em diferentes épocas, não
tem autoridade da Igreja que é gozada por outros textos dos primeiros tempos. Ele tem que ser
distinguido dos “Canons Apostólicos” que foram aceitos pelo Quinisext Concílio (692) como
autorizado para a Igreja, e ressalte-se que esse mesmo Concílio rejeitou as Constituições Apostó-
licas como um todo por conta de “material adúltero” que foi acrescentado a elas (Canon 2, E-
erdmansSeven Ecumenical Concils, p. 361), em Santo Inácio, o Teóforo, Gregório Teólogo e
Crisostomo; mais tarde em São Gregório Dialoguista, João Damasceno e outros. Aqui estão as
palavras de São Gregório Dialoguista sobre esse assunto: “Nós aceitamos nove categorias de an-
jos, porque por testemunho da palavra de Deus nós conhecemos sobre Anjos, Arcanjos, Potesta-
des, Autoridades, Principados, Dominações, Tronos, Querubins e serafins. Assim, a respeito da
existência de Anjos e Arcanjos, quase todas as páginas da Sagrada Escritura testemunham; dos
Querubins e Serafins como é bem conhecidos, os livros proféticos falam freqüentemente; o A-
póstolo Paulo enumera outras quatro categorias em sua Epístola aos Efésios, dizendo que Deus
(o Pai) colocou seu Filho “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio” (Ef
1:21). E em sua Epístola aos Colossenses ele escreve: “Nele foram criadas todas as coisas que há
no céu e na terra visíveis e invisíveis, sejam Tronos, Dominações, sejam Principados, sejam Po-
testades” (Cl 1:16). E assim, quando juntamos Tronos para esses quatro do qual fala aos Efésios,
isto é, Principado, Poder, Potestade e Domínio nós temos cinco categorias separadas, e quando
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juntamos a elas os Anjos, Arcanjos, Querubins e Serafins, está claro que existem nove categorias
de anjos.
Na verdade, voltando aos livros da Sagrada Escritura, nós encontramos os nomes das no-
ve categorias mencionadas acima; mais do que nove não são mencionadas. Assim, nós lemos o
nome “Querubim” no livro da Gênesis (3:24), nos Salmos 80 e 99 e em Ezequiel (cap 1 e 10).
“Serafim” nós encontramos em Isaias (cap. 6); “Poderes” nós encontramos na Epístola aos Efé-
sios (cap. 1) e em Romanos (cap. 8); “Trono,” “Principado,” Domínios,” Potestades” em Colos-
senses (cap. 1), e Efésios (cap 1 e 3)); “Arcanjos” em 1 Ts (cap 4) e Judas (vers. 9); e “anjos” em
1 Pe (cap 3), Romanos (cap 8) e outros livros. Sobre essa base o número de categorias dos anjos
é usualmente limitado no ensinamento da Igreja a nove.
Certos Padres da Igreja expressam sua pia opinião privada que a divisão dos anjos em
nove categorias inclui somente aqueles nomes e graus que não foram revelados na palavra de
Deus, mas não incluem muitos outros nomes e graus que não foram revelados a nós nesta vida
presente mas que serão conhecidos somente na vida futura. Essa idéia é desenvolvida por São
Crisostomo, Bem Aventurado Teodoreto e Bem Aventurado Teofilacto. “Existem,” diz Crisos-
tomo, “na verdade existem outros poderes cujos nomes nós não conhecemos ... Anjos, Arcanjos,
Tronos, Domínios, Principados, Potestades não são os únicos habitantes dos céus; existem tam-
bém inumeráveis outros tipos, e inimaginavelmente muitas classes que palavras não são capazes
de descrever. E como é evidente que existem poderes além daqueles mencionados acima e pode-
res cujos nomes nós não conhecemos? O Apóstolo Paulo tendo falado de uns, menciona os ou-
tros quando ele testemunha de Cristo “...pondo-o à Sua direita nos céus, acima de todo o Princi-
pado, e Poder e Potestade e Domínio, e de todo nome que se nomeia, não só nesse século mas
também no vindouro” (Ef 1:20-21). Vêem que existem certos nomes que só serão conhecidos
então, mas que são desconhecidos agora? Assim, ele também diz: “... de todo o nome que se no-
meia, não só nesse século mas também no vindouro” Essa opinião é tomada pela Igreja, como
opinião privada.
Em geral, os antigos pastores consideravam a doutrina da hierarquia celeste, mística.
“Quantas categorias de seres celestes existem” reflete São Dinis na Hierarquia Celeste, “de que
tipo elas são, e de que modo os mistérios de sua sacra ordem são executados só é conhecido pre-
cisamente por Deus, que é a Causa da hierarquia deles. Da mesma forma, eles mesmo conhecem
seus próprios poderes, luz e ordem além desse mundo. Mas nós podemos falar disso somente até
o grau que Deus revelou para nós através dos próprios poderes celestes, como os únicos que co-
nhecem a si próprios” (Hierarquia Celeste, cap. 6). Similarmente, o Bem Aventurado Agostinho
reflete, “que há Tronos, Domínios, Principados e Potestades nas mansões celestes, eu creio sem
hesitação e eles são distintos, uns dos outros, disso não tenho dúvidas; mas de que tipo são eles, e
em que precisamente eles são distinguidos entre si, eu não sei.”
Na Sagrada Escritura, para alguns dos anjos mais elevados são dados nomes próprios.
Existem dois de tais nomes nos livros canônicos: Michael (que significa “quem é igual a Deus”?
Daniel 10:13, 12:1; Judas 1:9; Apocalipse 12:7-8) e Gabriel (“Homem de Deus”; Daniel 8:16,
9:21; Lucas 1:19,26). Três anjos são mencionados por nome nos livros não canônicos: Rafael
(“Ajuda de Deus,” Tobias 3:17,12:12-15); Uriel (“Fogo de Deus”; III Esdras 4:1, 5-20) e Salatiel
(“Oração para Deus” III Esdras 5:16). A parte esses a pia tradição atribui nomes para dois outros
anjos: Jegudiel (“Louvação de Deus”) e Barachier (“Benção de Deus”); esses nomes não são en-
contrados nas Escrituras. Além disso, no segundo livro de Esdras há menção ainda a um outro:
Jeremiel (“a Altura de Deus” 2 Esdras 4:36); mas julgando o contexto dessa passagem, esse no-
me é o mesmo de Uriel.
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Assim, nomes foram dados para sete dos anjos maiores, correspondendo às palavras do
Apóstolo João, o Teólogo no Apocalipse: “Graça e paz seja convosco de parte Daquele que é, e
que era, e que há de vir, e da dos sete espíritos que estão diante do Seu trono” (Apocal. 1:4).
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e Deus disse, Façamos o homem à Nossa imagem, conforme nossa semelhança, e que ele tenha
domínio sobre os peixes do mar sobre as aves dos céus... e sobre toda a terra ... E criou Deus o
homem à Sua imagem; à imagem de Deus o criou” (Ge 1:26-27).
1. O conselho de Deus, que não é indicado na criação das outras criaturas da terra, fala
por si próprio claramente do fato que o homem era para ser uma criação especial, distinta das
outras, a mais alta, a mais perfeita na terra, tendo também um propósito mais elevado no mundo.
2. O conceito do alto propósito do homem e seu especial significado é enfatizado ainda
mais pelo fato que o conselho de Deus ordenou que o homem fosse criado “à imagem e seme-
lhança de Deus” e que de fato ele foi criado á imagem de Deus. Toda imagem necessariamente
pressupõe uma similaridade com seu arquétipo; consequentemente, a presença da imagem de
Deus no homem testemunha sobre a reflexão dos atributos de Deus na natureza espiritual do ho-
mem.
3. Finalmente, certos detalhes da criação do homem que são dados no segundo capítulo
da Gênesis enfatizam mais uma vez a proeminência especial da natureza humana. Para ser preci-
so é dito ali: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôle-
go da vida. E o homem foi feito alma vivente” (Ge 2:7). Duas ações, ou dois aspectos das ações,
são distinguidos aqui, e elas devem ser entendidas como simultâneas: a formação do corpo, e a
doação de vida para ele. São João Damasceno nota: “O corpo e a alma foram formados ao mes-
mo tempo, não um antes e o outro depois, como os delírios de Orígenes consideravam” (Exact
Exposition, livro 2, cap. 12 “On man”). De acordo com a descrição do livro da Gênesis, Deus
criou o corpo do homem de já existentes elementos terrestres, e Ele o criou de um modo muito
especial: não por seu comando ou palavra somente, como foi feito na criação de outras criaturas,
mas por sua ação direta. Isso mostra que o homem, mesmo em sua organização corporal, é um
ser que ultrapassa todas as outras criaturas desde o começo de sua existência. Além disso, é dito
que Deus soprou em sua face o sopro da vida e que o homem tornou-se alma vivente. Como al-
guém que recebeu o sopro da vida, nessa expressão figurativa, da boa do próprio Deus, o homem
é então uma união viva e orgânica do terreno com o celeste, do material com o espiritual.
4. Daí recorre a visão exaltada do corpo humano como é mostrada geralmente na Sagrada
Escritura a visão exaltada do corpo humano como é mostrada geralmente na Sagrada Escritura.
O corpo deve servir como companheiro, órgão e mesmo companheiro trabalhador da alma. De-
pende da alma rebaixar-se tanto que se transforme numa escrava do corpo, ou, sendo guiada por
um espírito iluminado, tornar o corpo seu obediente executor e companheiro trabalhador. Depen-
dendo da alma, o corpo pode ser um vaso de impureza pecaminosa e loucura ou transformar-se
num templo de Deus, participando com a alma na glorificação de Deus. Isso é ensinado na Sa-
grada Escritura (Rom 13:14; Gl 3:3; 1 Co 9:27; Gl 5:24; Jo 7-9; 1 Co 3:16-17; 1 Co 6:20). Mes-
mo com a morte do corpo, a ligação da alma com o corpo não é cortada para sempre. Virá o tem-
po quando os corpos dos homens se levantarão numa forma renovada e serão unidos de novo
com suas almas, agora para sempre, para tomar parte em eterna benção ou tormento, correspon-
dendo às boas ou más obras realizadas pelos homens com a participação do corpo no curso da
vida terrena (2 Co 5:10).
Uma visão ainda mais exaltada é instilada em nós pela palavra de Deus com respeito à
natureza da alma. Na criação da alma Deus não tomou nada da terra, mas concedeu-a ao homem
somente pelo Seu próprio sopro criativo. Isso mostra claramente que, na concepção da palavra de
Deus, a alma humana é uma essência completamente separada do corpo e de todo material e
compostos de elementos, tendo uma natureza não terrena, mas acima do mundo, celeste. A ele-
vada proeminência da alma do homem, comparada com tudo que é terreno foi expressa pelo Se-
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nhor Jesus Cristo nas palavras: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder
a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16:26). O Senhor instrui
seus discípulos : “E não temais o que matam o corpo, e não podem matar a alma” (Mt 10:28).
A respeito da exaltada dignidade da alma, São Gregório, o Teólogo se expressa assim: “A
alma é o sopro de Deus, e sendo celeste, ele suporta ser misturada com aquilo que é do pó. É
uma luz fechada numa caverna, mas ainda é divina e inextinguível... O Verbo falou, e tendo to-
mado uma parte da terra recém-criada, com Suas mãos imortais firmou minha imagem e conce-
deu a ela a Sua vida; porque Ele mandou para ela o espírito, que é um raio da invisível divinda-
de” (Homilia 7, “On the Soul”)
Apesar disso, não se pode tornar tais exaltadas expressões figurativas dos Santos Padres
em base para ensinar que a alma é “divina” no sentido completo da palavra, e que consequente-
mente, ela teve uma existência eterna própria antes de sua encarnação num homem terreno em
Adão! (essa visão é encontrada nas correntes teológicas-filosóficas contemporâneas que seguem
V. S. Socoviev). O posicionamento correto de que a alma é de origem celeste não significa que
ela é divina em essência. “Ele soprou o fôlego da vida” (Ge 2:7) é uma expressão antropomórfi-
ca, e não há base para se entende-la como significando que Ele deu alguma coisa de Sua substân-
cia divina. Lembremo-nos que o respirar do homem não é um “expirar” elementos da própria
natureza humana, nem mesmo de sua essência física. Da mesma forma da expressão Bíblica não
se pode tirar a conclusão de que a alma procede da Essência de Deus nem que é um elemento da
Divindade. Crisostomo escreve: “Certos insensatos, sendo levados por suas próprias concepções,
sem pensar em nada de um modo que se ajuste à maneira de Deus, e sem prestar qualquer aten-
ção à adaptação das expressões (das Escrituras), ousam dizer que a alma procedeu da Essência de
Deus. Ó frenesi! Ó loucura! Quantos caminhos de perdição o demônio abriu para aqueles que
querem servi-lo! Para se entender isso, contemplem os caminhos opostos pelos quais vão essas
pessoas: algumas, centram na frase, “Ele soprou,” dizem que as almas procedem da Essência de
Deus; outros, ao contrário, afirmam que as almas são convertidas na Essência das mais baixas
criaturas irracionais. O que pode ser pior do que tal loucura?” (comentário sobre o livro da Gêne-
sis).
Que São Gregório, o Teólogo falou da divindade da alma não no estrito senso da palavra
é evidente em outra Homilia sua: “A natureza de Deus e a natureza do homem não são idênticas;
ou para falar mais genericamente, a natureza do divino e a natureza do terreno não são idênticas.
Na natureza divina, tanto a existência em si quanto tudo nela que tem existência são imutáveis e
imortais; pois naquilo que é constante; tudo é constante. Mas o que é verdade na nossa natureza?
Ela flui, é corrupta, e sofre mudança após mudança” (Homilia 19 “On Julian).
Nós já falamos no capítulo sobre os Atributos de Deus (sobre Deus como espírito) das
questões sobre como se deve entender expressões antropomórficas acerca de Deus. Citemos aqui
só o argumento do Bem Aventurado Teodoreto: “Quando ouvimos no relato de Moisés que Deus
tomou pó da terra e formou o homem, e quando nós procuramos o significado dessa frase, nós
nela descobrimos uma especial boa disposição de Deus para com a raça humana. O grande Profe-
ta nota, em sua descrição da criação, que Deus criou todas as outras criaturas por Sua palavra,
enquanto o homem foi criado por suas próprias mãos. Mas assim como nós entendemos pela “pa-
lavra” não um comando, mas só a vontade, assim também na formação do corpo, (nós devería-
mos entender) não a ação das mãos, mas a grande atenção para com esse trabalho. Pois do mes-
mo modo que agora, por Sua vontade, o fruto é gerado num ventre materno, e a natureza segue
as leis que Ele lhe deu desde o início — assim também então, por Sua vontade foi formado o
corpo humano da terra e pó virou carne.” Em outra passagem o Bem Aventurado Teodoreto ex-
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pressa de modo geral: “Nós não dizemos que a divindade tem mãos ... mas nós afirmamos que
cada uma nessas expressões indica um muito maior cuidado da parte de Deus para com o ho-
mem, do que para as outras criaturas” (citado em Dogmatic Theology do Metropolitan Macarius,
vol I, p. 430-431).
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Certos Padres antigos (Stos. Ambrósio, Papa Gregório o Grande, João Damasceno), en-
quanto reconhecendo a espiritualidade da alma como distinta da do corpo, ao mesmo tempo atri-
buem uma certa materialidade ou corporalidade comparativa, à alma. Por esse suposto atributo
da alma eles tem em mente distinguir a espiritualidade da alma humana, assim como dos anjos,
da mais puríssima espiritualidade de Deus, em comparação com a qual tudo parece ser material e
cru.
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de Adão até agora está disseminado em toda raça humana. Por isso todos os homens são o mes-
mo como só um homem, ou uma árvore da humanidade. Disso decorre o mais natural manda-
mento baseado na unidade de nossa natureza: “Amarás o Senhor teu Deus (Teu protótipo, Teu
Pai)de todo coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento,
e ao teu próximo (pois quem é mais próximo a mim do que um homem que é como eu e do
mesmo sangue que eu?) como a ti mesmo” (Lc 10:27). Há uma necessidade natural de cumprir
esse mandamento (My Life in Christ).
A imortalidade da alma.
A fé na imortalidade da alma é inseparável da religião em geral, e ainda mais, compreen-
de um dos objetos fundamentais da Fé Cristã.
Essa idéia também não é estranha ao Velho Testamento. Ela é expressa nas palavras do
livro Eclesiastes: “E o pó volte à terra, como era e o espírito volte a Deus, que O deu” (Ec 12:7).
O relato completo nos segundos e terceiros capítulos da Gênesis — das palavras de alerta de
Deus: “Mas da árvore da ciência do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque
no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Ge 2:17) — e a resposta para a questão da
aparência de morte no mundo, e assim mesmo é em si uma expressão da idéia de imortalidade. A
idéia de que o homem foi pré ordenado à imortalidade, que imortalidade é possível, é contida nas
palavras de Eva: “Do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele,
nem nele tocareis, para que não morrais” (Ge 3:3). O mesmo pensamento é expresso pelo Sal-
mista nas palavras do Senhor: “Eu disse: Vós sois deuses, e vós outros sois todos filhos do Altís-
simo. Todavia, como homens morrereis e caireis como qualquer dos príncipes” (Sl 82:6-7).
Deve-se enfatizar o fato de que a idéia de imortalidade está presente sem nenhuma dúvida
no Velho Testamento, porque existe uma opinião de que os Judeus não tinham fé na imortalidade
da alma! Nos relatos de Moisés existem indicações de Fé na imortalidade da alma. A respeito de
Enoch, Moisés remarca que “não se viu mais; porquanto Deus para si o tomou” — isto é, ele foi
para Deus sem passar pela morte (Ge 5:24). Das expressões bíblicas referentes as mortes de A-
brahão (Ge 25:8), Aarão e Moisés (Dt 32:50), “e se recolheu a seus povos,” é ilógico entender-se
que isso significa que eles foram postos no mesmo túmulo ou lugar, ou ainda na mesma terra on-
de estava seu povo, porque cada um desses justos do Velho Testamento morreu não na terra dos
seus ancestrais mas em novos territórios de seus reassentamentos (Abrahão) ou de suas viagens
(Aarão e Moisés). O Patriarca Jacó, tendo recebido notícias que o seu filho tinha sido feito em
pedaços por bestas feras, diz: “... com choro hei de descer ao meu filho até a sepultura...” (Ge
37:35 Septuaginta). “Sepultura” aqui significa claramente não o túmulo mas o ligar onde as al-
mas moram. Essa condição da alma após a morte foi expressa no Velho Testamento como uma
descida ao mundo inferior; isto é, uma condição triste onde até a oração do senhor não é ouvida.
Isso é expresso em numerosas passagens no livro de Jó e nos Salmos.
Mas já no Velho Testamento, especialmente quando a chegada do Salvador se aproxima,
e ouvindo a esperança de que a alma dos homens justos venham a escapar dessa condição triste.
Por exemplo, na Sabedoria de Salomão nós encontramos: “As almas dos justos estão na mão de
Deus, e nenhum tormento neles tocará...Os justos vivem para sempre, e sua recompensa é com o
Senhor” (3:2 ; 5:15). A esperança da futura libertação do Hades, das almas dos justos é expressa
nas palavras do Salmista: “... a minha carne repousará segura. Pois não deixarás minha alma no
inferno, nem permitirás que Teu santo veja corrupção” (Sl 16:9 e 10; ver também Sl 49:15).
O Senhor Jesus Cristo com freqüência aponta para a imortalidade da alma como a base de
uma vida piedosa, e Ele acusa os Saduceus, que negavam a imortalidade. Em Sua conversa de
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despedida com Seus discípulos o Senhor conta a eles que Ele estava indo preparar um local para
eles para que eles pudessem estar onde Ele próprio estaria (Jo 14:2-3). E para o bom ladrão Ele
disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23:43).
No Novo Testamento, falando-se genericamente, a verdade da imortalidade da alma é o
objeto de uma completa revelação, constituindo-se numa das partes fundamentais da Fé Cristã.
Essa verdade inspira um Cristão, enchendo sua alma com a jubilosa esperança de vida eterna no
Reino do Filho de Deus. São Paulo escreve: “...para mim o morrer é ganho ... tendo o desejo de
partir, e estar com Cristo...” (Fp 1:21 e 23). Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste
tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos
céus. E por isso também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu” (2
Co 5:1-2).
Nem é necessário dizer que os Santos Padres e professores da igreja pregaram unânimes a
imortalidade da alma somente com a seguinte distinção: alguns reconheciam ser a alma imortal
por natureza, enquanto outros — a maioria — diziam ser a alma imortal por graça de Deus.
“Deus quer que a alma viva” (São Justino, o Mártir); “a alma é imortal pela graça de Deus que a
fez imortal” (São Cirilo de Jerusalém e outros). Os Santos Padres enfatizam assim a diferença
entre a imortalidade do homem e a imortalidade de Deus, que é imortal pela Essência de sua na-
tureza sendo por isso “Aquele que tem Ele só a imortalidade” de acordo com as Escrituras (1 Tm
6:16).
A observação mostra que a fé na imortalidade da alma sempre foi intrinsecamente ligada
na fé em Deus, em tal extensão que o grau da primeira é determinado pelo grau da última. Mais
viva, a fé em Deus, mais firme e sem dúvidas é a fé na imortalidade da alma. E, ao contrário
mais fraca sem em vida a fé em Deus, maiores são as ondas de dúvidas que se levantam contra a
verdade da imortalidade da alma. Alguém que perdeu ou abafou completamente a fé em Deus
usualmente cessa de acreditar na imortalidade da alma ou na vida futura. Isso é facilmente com-
preendido. Um homem recebe o poder da fé da própria fonte de vida, e se ele conta sua ligação
com essa fonte, ele perde esse fluxo de poder vivo, Ai nenhuma prova racional ou persuasão será
capaz de enfiar o poder da fé nele.
Pode-se também concluir o oposto. Nas confissões e visões do mundo — ainda que sejam
Cristãs — onde o poder da fé na existência ativa da alma além do túmulo ficou ofuscada, onde
não há orações em lembrança dos mortos, a própria fé Cristã está em condição de declínio. Al-
guém que acredita em deus e reconhece o amor de Deus não pode se permitir o pensamento que
o seu Pai celestial queria cortar completamente sua vida e priva-lo da ligação com Ele, como
uma criança que ama sua mãe e é amada por ela, por sua vez, não acredita que a mãe não queira
que ela, a criança, tenha vida.
Pode-se certamente dizer que na Igreja Ortodoxa Oriental a aceitação da imortalidade da
alma ocupa um lugar central no sistema de ensinamento e na vida da igreja. O espírito do Typi-
con da Igreja, o livro que contem os Ofícios Divinos e as orações separadas suporta inteiramente
e anima nos fiéis essa consciência, essa crença na vida além-túmulo para as almas de nossos pró-
ximos que morreram, assim como na nossa imortalidade pessoal. Essa crença espalha um raio de
luz no trabalho na vida inteira de um Cristão Ortodoxo.
Alma e espírito.
O princípio espiritual no homem que é oposto ao corpo é designado na Sagrada Escritura
por dois termos que são quase iguais em significados: “espírito” e “alma.” O uso da palavra “es-
pírito” em lugar de “alma,” ou ambos os termos usados com exatamente o mesmo significado é
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encontrado especialmente no Apóstolo Paulo. Isso é tornado evidente, por exemplo, colocando-
se lado a lado os dois textos seguintes: “glorificai pois a Deus no vosso corpo e no vosso espírito,
os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:20); e “...purifiquemo-nos de toda imundície da carne e do
espírito” (2 Co 7:1).
Além dessas, existem duas passagens nos escritos desse Apóstolo onde alma e espírito
são mencionados lado a lado, e isso cria a oportunidade de se perguntar: Não estaria o Apóstolo
indicando que, além da alma, existe também um “espírito” que é uma parte essencial da natureza
humana? Da mesma forma, nos escritos de certos Santos Padres particularmente nos escritos as-
céticos, é feita uma distinção entre alma e espírito. A primeira passagem no Apóstolo Paulo é na
Epístola aos Hebreus: “Porque a palavra de deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada
alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é
apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12). Outra passagem do mes-
mo Apóstolo está na Epístola aos Tessalonissensses: “e todo o vosso espírito, e alma e corpo,
sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts
5:23). Não é difícil, no entanto, ver que na primeira passagem o espírito é para ser entendido não
como uma substancia que é separada e independente da alma, mas só como um lado mais interno
e escondido da alma. Aqui a relação da alma e do espírito é feita paralela à relação entre os
membros do corpo e cérebro, e assim como o cérebro é a parte interna da natureza corporal, ou é
um conteúdo quando comparado com seu conteúdo, assim também o espírito é evidentemente
considerado pelo Apóstolo como a parte escondida da alma do homem.
Na segunda passagem por “espírito” é evidentemente significada aquela especial alta
harmonia da parte escondida da alma que é formada pela graça do Espírito Santo em um Cristão:
o “espírito” no qual o Apóstolo fala em outro lugar: “Não extingais o Espírito” (1 Ts 5:19); e
“...fervorosos no espírito” (Rom 12:11). Assim, o Apóstolo não está pensando aqui em todos os
homens em geral, mas só nos Cristãos. Nesse sentido o Apóstolo contrasta o homem “espiritual”
com o homem “natural” ou carnal (1 Co 2:14-15). O homem espiritual possui uma alma, mas
sendo renascido, ele cultiva em si as sementes da graça; ele cresce e gera frutos no espírito. No
entanto, por falta de cuidados com sua vida espiritual ele pode descer ao nível do homem natural
ou carnal: “Sois vos tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela car-
ne?” (Ga 3:3). Por isso, não há terreno para supor que o pensamento do Apóstolo Paulo não este-
ja de acordo com o ensinamento que a natureza do homem consiste em duas partes.
Essa mesma do espírito como a mais alta e dada por graça forma de vida da alma humana
é evidentemente o que é significado pelos Padres e professores da Igreja nos primeiros séculos
que distinguiram no homem um espírito assim como uma alma. Essa distinção é encontrada em
São Justino, o Mártir, Tatiano, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Gregório de Nissa,
Efrém o Sírio, e da mesma forma em escritores e ascetas posteriores. Porém, uma maioria signi-
ficativa dos Padres e professores da Igreja reconhecem diretamente que natureza do homem tem
duas partes: corpo e alma (Santos Cirilo de Jerusalém, Basílio o Grande, Gregório o Teólogo,
João Crisostomo, Bem Aventurado Agostinho, João Damasceno). Bem Aventurado Teodoreto
escreve: “De acordo com o ensinamento de Apolinário (o Herético) existem três partes no ho-
mem: o corpo, a alma animal, e a alma racional, que ele chama de mente. Mas a Escritura aceita
só uma alma, não duas, e isso é claramente indicado pela história da criação do primeiro homem.
Deus, tendo formado o corpo do pó e soprado uma alma nele, mostrou que há duas naturezas no
homem, e não três.”
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Em resumo, pode-se dizer que todas as qualidades e capacidades boas e nobres da alma são uma
expressão da imagem de Deus no homem.
Existe uma distinção entre a “imagem” e a “semelhança” de Deus? A maioria dos Santos
Padres e professores da Igreja respondem que existe. Eles vêem a imagem de Deus na natureza
da alma, e a semelhança no aperfeiçoamento moral do homem em virtude e santidade, na aquisi-
ção dos dons do Espírito Santo. Consequentemente, os recebemos a imagem de Deus de Deus
junto com a existência, mas a semelhança nós devemos adquirir nós mesmos, tendo recebido a
possibilidade de fazer isso, de Deus.
Tornar-se “semelhante” depende de nossa vontade; e adquirida conforme nossa própria
atividade. Por isso, a respeito do “conselho de Deus” é dito: “Façamos o homem à Nossa ima-
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gem, conforme a Nossa semelhança” (Ge 1:26). Mas a respeito do ato da criação em si é dito:
“Por “conselho” de Deus, nos foi dado o potencial de ser “à sua semelhança.”“
O propósito do homem.
Tendo elevado o homem acima do mundo terreno, tendo dado a ele razão e liberdade,
tendo o adornado com sua própria imagem, o Criador assim indica ao homem o seu especialmen-
te alto propósito. Deus e o mundo espiritual estão diante do olhar espiritual do homem; diante do
seu olhar corporal está o mundo material.
a. O primeiro propósito do homem é a glória de Deus. O homem é chamado a permanecer
fiel a sua ligação com Deus, a esforçar-se para a direção dele, a reconhece-lo como seu Criador,
a glorifica-lo, a rejubilar-se em união com Ele, a viver Nele. “Ele os enchei de conhecimento e
compreensão,” diz o mais sábio filho de Sirac com respeito aos dons que Deus deu para o ho-
mem. “Ele pôs Seu olho em seus corações para mostrar a eles a majestade de Suas obras” (Sirach
17:6-10). Pois se a toda a criação é chamada, de acordo com suas habilidades, a glorificar o Cri-
ador (como é colocado por exemplo no Salmo 148), então logicamente o homem, como a coroa
da criação, é o mais capacitado a ser consciente, racional, constante e o mais perfeito instrumento
de Deus na terra.
b. Para esse propósito, o homem deveria ser digno de seu Protótipo. Em outras palavras,
ele é chamado a se aperfeiçoar, a aguardar sua semelhança com Deus, a restaura-la e reforça-la.
Ele é chamado a desenvolver e aperfeiçoar seus problemas morais por meio de boas obras. Isso
requer que o homem tome conta de sua própria bondade, e sua verdadeira bondade está na ben-
ção de Deus. Por essa razão deve-se dizer que a benção de Deus é o objetivo da existência de
Deus.
c. O Olhar físico imediato do homem é dirigido para o mundo. O homem foi colocado
como a coroa da criação terrena e o rei da natureza, como é mostrado no primeiro capítulo do
livro da Gênesis. De que maneira isso deveria ser manifestado? O Metropolita Macário fala isso
em sua Orthodox Dogmatic Theology: “Como a imagem de Deus, o filho e herdeiro na casa do
Pai Celestial, o homem foi colocado como uma espécie de intermediário entre o Criador e a cria-
ção terrena: em particular ele foi predeterminado a ser um profeta para essa criação proclamando
a vontade de Deus no mundo em palavras e obras; é para ser o sacerdote chefe, de maneira a ofe-
recer um sacrifício em louvor e agradecimento a Deus em nome de todos os nascidos na terra,
trazendo assim para a terra as bênçãos dos céus; ele é a cabeça e o rei de modo que concentrando
os objetivos de todas as criaturas visíveis existentes em si, ele possa através de si unir todas as
coisas com Deus, e assim manter a cadeia toda das criaturas terrenas em uma harmoniosa ligação
e ordem.”
Assim foi criado o primeiro homem, capaz de atingir seu propósito e fazer isso livremente,
voluntariamente, em júbilo, de acordo com a atração de sua alma, e não por compulsão. A idéia
da posição soberana do homem na terra faz o Salmista louvar o Criador, extasiado: “Ó, Senhor,
Senhor nosso, quão admirável é o Teu Nome em toda a terra, pois puseste a Tua glória sobre os
céus... Quando vejo os Teus céus, obras dos Teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste: Que é
o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que O visites? Contudo,
pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra O coroaste. Fazes com que ele te-
nha domínio sobre as obras das Tuas mãos... Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o Teu
nome sobre toda a terra!” (Sl 8:15).
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4. A Providência de Deus.
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dos (Sl 38:9). Ele provê o que “é necessário mesmo antes que lhe percam” (Mt 6:32) e inclina
seus ouvidos à súplica daqueles que pedem (Sl 86:1), atendendo o que é pedido somente se a re-
quisição vem de uma fé sincera e viva (Mt 6:33). Deus dirige os passos do homem que não sabe
seu próprio caminho (Prov 20:24). Ele torna pobre e enriquece, Ele derruba e levanta, Ele causa
feridas e Ele mesmo as cura (Jó 5:18). Amando os justos. Ele poupa os pecadores também: “Não
repreenderá perpetuamente, vem para sempre conservará a Sua ira” (Sl 103:9). Ele é tolerante, de
modo que por meio de Sua benignidade ele conduz os pecadores ao arrependimento (Ro 2:4).
Essa abarcadora e incessante atividade de Deus no mundo é expressa no Símbolo da Fé quando
nós chamamos Deus de “Todo-Poderoso.”
Como para as aparentes injustiças da vida, quando nós vemos homens virtuosos sofrerem
enquanto os ímpios são prósperos, Crisóstomo nos exorta com as seguintes palavras: “Se o Reino
dos Céus está aberto para nós e uma recompensa nos é mostrada na vida futura, então não vale a
pena investigar porque os justos sofrem mágoas aqui enquanto os malignos vivem em conforto.
Se uma recompensa está esperando lá por todos de acordo com seus justos méritos, porque deve-
ríamos sermos perturbados pelos eventos presentes, se eles são afortunados ou desafortunados?
Por esses infortúnios Deus exercita aqueles que são submissos a Ele como resolutos guerreiros; e
os mais fracos, negligentes, e aqueles incapazes de suportar qualquer dificuldade, Ele exorta
mais à frente no tempo a realizar boas obras” (“To Stagirius the Ascetic,” homilia I, 8, em sua
Collected Works em russo, vol. I, Pt 1, p. 194). De fato nós mesmos com freqüência vemos que
as melhores experiências instrutivas e elevadoras são os infortúnios a que o homem é submetido.
Essencialmente, a Providência de Deus sobre o mundo é uma atividade incessante e inse-
parável, ainda que decido a nossas mentes limitadas recebamos essa atividade de Deus no mundo
variável e mutável sob diferentes formas e aparências. A atividade da Providência de Deus não é,
pode-se dizer, uma interferência no curso da vida dada ao mundo em sua criação; não é uma sé-
rie de intrusões privadas da vontade de Deus na vida do mundo. A vida do mundo está constan-
temente na mão direita de Deus; “O mundo não se manteria por um instante se Deus removesse
Sua Providência dele” (Bem Aventurado Agostinho). “O Todo—Poderoso e Santíssimo Verbo
do Pai, estando no meio de todas as coisas e manifestando Seus poderes por toda a parte, ilumi-
nando todas as coisas visíveis e invisíveis, abarca e contem tudo em si, de modo que nada é sem
a participação em Seus poderes; mas tudo em tudo, toda criatura separadamente e toda criatura
junta, Ele dá vida e preserva” (Santo Atanásio, o Grande, “Against Pagans,” cap. 42).
A esse respeito deve-se notar ainda que faz o homem para reverentemente atônito. É o
fato que, enquanto o Criador contem tudo em Sua mão direita, desde o primeiro dia da criação,
Ele deu a todos os seres orgânicos, até mesmo para o reino vegetal, uma liberdade de crescimen-
to e desenvolvimento, o uso de seus próprios poderes e do ambiente circundante, a cada um em
sua própria medida e de acordo com sua natureza e organização. Uma liberdade ainda maior o
Criador deu ao homem sua criação racional e moralmente responsável — a criação mais elevada
na terra. Com essa variedade de esforços — natural, instintivo, e no mundo racional também mo-
ralmente livre — a Providência de Deus vem junto de maneira que todos eles são mantidos em si
e dirigidos de acordo com o plano providencial. Todas as imperfeições, sofrimentos e doenças
que procedem dessa colisão de esforços separados do mundo, são corrigidas e curadas pela be-
nignidade de Deus. Essa benignidade acalma as hostilidade e dirige a vida do mundo todo para o
objetivo bom que foi para ele estabelecido lá me cima. Além disso, para as criaturas racionais de
Deus, essa benignidade abre caminho para a incessante glorificação de Deus.
Não importa quanto a humanidade viole seu propósito no mundo, não importa quanto ela
caia, não importa quanto a humanidade viole seu propósito no mundo, não importa quanto ela
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caia, não importa quanto a massa humana, conduzida por seus lideres malignos, esteja inclinada
a renunciar aos comandos de Deus, como vemos no tempo presente, a história do mundo ainda
assim culminará no objetivo estabelecido para ela pela Providência de Deus: o triunfo da justiça
de Deus em seguida ao qual haverá o Reino de Glória, quando “Deus será tudo em todos” (1 Co
15:28).
Contemplando a majestade, sabedoria e benignidade de Deus no mundo, o Apóstolo Pau-
lo clama: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! ... Porque
quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro ou quem compreendeu o
intento do Senhor/ Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a Ele, para que lhe
seja recompensado? Porque Dele e por Ele e para Ele, para que lhe seja recompensado? Porque
Dele e por Ele e para Ele, são todas as coisas, glória pois a Ele eternamente. Amém” (Rom
11:33-36).
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recebido existência, tinha que crescer e amadurecer tornando-se então forte, e, atingindo a matu-
ridade, tinha que crescer e amadurecer, tornando-se então forte, e, atingindo a maturidade plena
seria glorificado e, sendo glorificado, ser-lhe-ia concedido ver Deus.”
O homem veio das mãos do Criador sem faltas também no corpo, Seu corpo, tão notável
em sua organização, sem duvida recebeu nenhum erro ou defeito interno ou externo do Criador.
Ele possuía faculdades que elas eram frescas e não corrompidas. Ele não tinha em si a menor de-
sordem e estava apto a estar livre de doenças e sofrimentos. Na verdade, doenças e sofrimentos
são apresentados no livro da Gênesis como conseqüências da queda de nossos primeiros ances-
trais e como castigo para o pecado. Adicionalmente, o livro da Gênesis dá uma indicação mística
da Árvore da Vida cujo fruto estava acessível aos primeiros ancestrais antes da queda no pecado,
fruto esse que os preservaria na morte física. A morte não era uma necessidade para o homem:
“Deus criou o homem nem completamente mortal nem completamente imortal, mas capaz de ser
ou um ou outro” (Teófilo de Antioquia; ver em Bispo Sylvester, Na Essay in Orthodox Dogmatic
Tehology, vol 3, p. 379).
Mas não importa quão perfeito eram os poderes do homem, pois sendo uma criatura limi-
tada ele requeria mesmo assim um constante reforço na fonte de toda vida, de Deus, assim como
fazem todos os seres criados. Meios apropriados para o reforço do homem no caminho do bem
eram necessários. Assim um meio elementar foi o comanda para não comer do fruto da arvore do
conhecimento do bem e do mal. Esse foi um comando de obediência. Obediência livre é o cami-
nho para o avanço moral. Onde existe obediência voluntária existe (a) o corte do caminho para a
auto-estima, (b) respeito e confiança para aqueles que estão acima de nós, e (c) continência. A
obediência age beneficamente sobre a mente, humilhando o orgulho; sobre os sentimentos limi-
tando o amor-próprio; e sobre a vontade, dirigindo a liberdade do homem para o bem. A graça de
Deus coopera e reforça alguém nesse caminho. Esse era o caminho que estava diante das primei-
ras pessoas, nossos primeiros ancestrais.
“Deus fez o homem sem pecado e dotou-o de livre arbítrio. Por sem pecado eu não quero
dizer incapaz de pecar, pois só a divindade é incapaz de pecar, mas tendo a tendência tendo o
poder de perseverar e progredir no bem com a jura da graça divina, assim como tendo o poder de
afastar-se na virtude e cair no vício” (São João Damasceno, Exact Exposition, II, 12, tradução
inglesa, p. 235).
Em geral, é difícil, se não impossível para o homem contemporâneo imaginar a verdadei-
ra condição do homem no Paraíso, uma condição que punha junto pureza moral, claridade da
mente, a perfeição da primeira natureza criada, proximidade de Deus, com uma infantilidade es-
piritual geral.. Mas de qualquer maneira deve ser notado que as tradições de todos os povos fa-
lam precisamente de tal condição, que os poetas chama de “idade de ouro” da humanidade (a
tradição dos chineses, índios, persas, gregos e outros). As grandes mentes da antigüidade pagã
expressaram a certeza que os antigos eram mais puros que os homens que vieram depois (Sócra-
tes); que as mais antigas tradições religiosas e suas concepções eram mais perfeitas que as con-
cepções posteriores, porque os primeiros homens estavam mais perto de Deus e o conheciam
como seu Criador e Pai (Platão e Cícero).
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morte como castigo de Deus. A perda do Reino de Deus. Misericórdia de Deus para com os ho-
mens caídos.
Malignidade e Infortúnio. “Mal,” em nosso uso ordinário de palavras, é o nome de dois tipos
de manifestação. Freqüentemente entendemos por essa palavra qualquer coisa em geral que evo-
ca infortúnio e causa sofrimento, Mas num sentido mais direto e preciso, o Mal é o nome para
manifestações negativas da ordem moral que procede da direção maligna da vontade e da viola-
ção das leis de Deus.
É claro que infortúnios no mundo físico — por exemplo, terremotos, tempestades, en-
chentes, avalanches e assim por diante — são em si nem bons nem maus. No sistema geral do
mundo eles são o que as sombras são para as cores brilhantes na arte dos pintores, o que sons
grosseiros são para sons suaves em musica, etc. Esse é o modo pelo qual Santos Padres como o
Bem Aventurado Agostinho e São Gregório tratam essas manifestações. Não se pode negar que
tais manifestações dos elementos são freqüentemente a causa de infortúnios e sofrimentos para
criaturas sensíveis e para o homem; mas só se pode inclinar em reverencia diante da sapiente or-
dem do mundo, onde o interminável, variado e mutuamente esforço de parte dos cegos poderes
elementares e as criaturas orgânicas, produzem colisões entre uns e as outras a todo momento,
mas estão em mutuo acordo e são postos em harmonia, tornando-se fonte de constante desenvol-
vimento e renovação do mundo.
Sofrimento e Pecado. Até um certo ponto, o lado desagradável, sombrio da vida humana paz
com que nós valorizamos e sintamos mais os lados jubilosos da vida. Mas a palavra de Deus nos
conta que sofrimentos físicos difíceis, angustias e aflições não podem ser reconhecidas como
manifestações que estão completamente de acordo com a lei e por isso, são normais; ao contrario
elas são um desvio normal. Os sofrimentos da raça humana começaram com o aparecimento da
moral maligno e são as conseqüências do pecado, que entraram na nossa vida naquele tempo.
Disto as primeiras paginas da Escritura testemunham “Multiplicarei grandemente a tua dor e a
tua conceição; com dor terá seus filhos” (palavras dirigidas a Eva depois da queda no pecado);
“Maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias de tua vida” (palavras ditas
a Adão; Ge 3:16-17). Sofrimentos são dados ao homem como meio de castigo, iluminação e cor-
rupção. De acordo com São Basílio, o Grande, sofrimentos e a própria morte “cortam o cresci-
mento do pecado.” Numerosos exemplos da consciência da ligação entre sofrimento e pecado
nos são dados pelas palavras de Deus: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus
estatutos” (Sl 149:71). A observação cuidadosa mostra que as causas de doenças e sofrimentos,
na grande maioria dos casos, são os próprios homens, que criaram condições artificiais e sub-
normais para sua existência, introduzindo uma cruel batalha mutua enquanto caçando seu próprio
e egoísta bem-estar físico; e as vezes essas coisas são o resultado de uma certa atitude demoníaca
— orgulho, vingança, malícia.
Como a palavra de Deus nos instrui, as conseqüências da moral malignas se espalham nas
pessoas para o mundo animal e para toda criação: “Pois sabemos que toda criação geme e está
juntamente com dores de parto até agora,” escreve o Apóstolo Paulo, e ainda explica: “Porque a
criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitar, na esperan-
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ça de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da
glória dos filhos de Deus” (Ro 8:22, 20-21).
A Essência da Moral Malígna. Os Santos Padres indicam que o mal não é algum tipo de essên-
cia que tem qualquer existência independente real, como os elementos e poderes do mundo que
foram criados por Deus. O mal é só um desvio dos seres vivos da condição original na qual Deus
os colocou, para uma condição que é oposta a ela. Por isso não é Deus que é a causa da moral
maligna; ao contrário, ela procede com a vontade de Deus. A essência do mal consiste na viola-
ção da vontade de Deus, dos comandos de Deus, e da lei moral que está escrita na consciência
humana. Essa violação é chamada pecado.
A Origem do Mal. Mas de onde então surgiu a moral maligna? Deus criou o mundo puro, per-
feito, livre do mal. O mal entrou no mundo como uma conseqüência da queda, que ocorreu, de
acordo com a palavra de deus, originalmente no mundo dos espíritos sem carne, e então na raça
humana, e que foi refletido em toda natureza viva.
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Uma incomparável e mais completa representação da atividade de satan e seus anjos está
contida na Revelação do Novo Testamento. Por ele sabemos que satan e os espíritos malignos
estão constantemente atraindo mais pessoas para o mal. Satã ousou tentar o próprio Senhor Jesus
Cristo no deserto. Os espíritos malignos investem contra a alma e mesmo contra o corpo dos
homens; disso há o testemunho de vários eventos nos Evangelhos e nos ensinamentos do Salva-
dor. A respeito da habitação dos espíritos malignos nos homens. Nós conhecemos os numerosos
casos de cura pelo Salvador de possuídos pelos demônios. Espíritos malignos olham para os des-
cuidos do homem para atrai-lo para o mal. “E, quando o espírito imundo tem saído do homem,
anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para a minha
casa de onde sai. E, voltando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e leva consigo
outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando habitam ali, e são os últimos atos desse ho-
mem piores do que os primeiros” (Mt 12:43-45). A respeito da cura da mulher curvada, o Salva-
dor disse para o príncipe da sinagoga, “E não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta
filha de Abrahão, a qual há dezoito anos Satanás tinha presa?” (Lc 13-16).
A Sagrada Escritura chama os espíritos malignos “espíritos imundos,” “espíritos do mal,
“diabos,” “demônios,” “anjos do diabo,” e “anjos de satã.” Seu chefe, o diabo, também é chama-
do de “tentador,” “satan,” “Belzebu,” “Belial,” “o príncipe dos demônios,” é outros nomes como
“Lúcifer” (a estrela da manhã).
Tomando a forma de serpente, do diabo foi o tentador e a causa da queda no pecado das
primeira pessoas, como é relatado no terceiro capitulo do livro da Gênesis. No Apocalipse ele é
chamado de “o grande dragão, a velha serpente” (Apoc 12:9).
O diabo e seus anjos são privados de permanecer nas celestes moradias de luz. “Eu via