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LIÇÃO 09- O BATISMO A PRIMEIRA ORDENANÇA DA

IGREJA- 1º TRIMESTRE DE 2014 (Rm 6.1-11


Professor: Pr.Wesllen SIlva
2

Objetivos específicos
1) Pontuar os pressupostos bíblicos-doutrinários do batismo;
2) Explicar o símbolo e propósito do Batismo;
3) Esclarecer a fórmula e o método do Batismo

Introdução

Nesta lição, vamos estudar uma importante prática cristã, o


Batismo em águas. Veremos que o rito do Batismo foi praticado por
João Batista, Jesus Cristo e seus apóstolos e, posteriormente, pelos
cristãos da Igreja Primitiva. É uma prática, portanto, de grande
importância para a Igreja de Cristo. Contudo, como toda doutrina
cristã, a prática do Batismo também tem sofrido desvios ao longo da
história, tanto no seu propósito quanto na sua forma. Assim, é
necessário deixarmos a Bíblia falar a fim de que o propósito correto
para o qual foi instituída essa importante prática seja observado.

Definições de palavras:
Palavra “batismo” simplesmente é um a transliteração da palavra grega
baptisma, cuja forma verbal é baptizo. O significado primário da palavra é
“imersão” ou “submersão”.1

Segundo Houaiss ordenança quer dizer “ato ou efeito de ordenar, de


organizar-se, de dar arrumação; ordenação; ordem, lei ou decisão que provém
de autoridade”2

I PRESSUPOSTOS BÍBLICOS-DOUTRINARIOS DO BATISMO.


1. O Batismo visto como sacramento: a origem de um erro.

1
Thayer registra: “imersão, submersão”; “mergulhar, imergir, lavar (na literatura não cristã,
também submergir, afundar, encharcar, subjugar)” (βαπτιζω, BAGD). Na LXX (AT), baptizo é
encontrado em 2Reis 5.14, que declara que Naamà “desceu ao Jordão, mergulhou [ebaptizato]
sete vezes”
2
Houaiss, 20021, p. 2077
3

A tradição católica e alguns segmentos do protestantismo histórico veem


a prática do batismo como um sacramento.

Bergstén diz:

A palavra “sacramento” é definida como sendo algo que transmita a


graça de Deus àqueles a quem for ministrado. Convém observar que
essa palavra não é encontrada em nenhum ponto da Bíblia, mas é
uma expressão criada pelos próprios teólogos. Nem o batismo nem a
Santa Ceia são sacramentos, mas sim ordenanças de Deus. O ensino
da Bíblia é bem claro no sentido de que nenhum destes dois atos a
transmite a graça de Deus a alguém, pois são ministrados
exclusivamente aos que já foram salvos pela graça de Deus, em
Jesus Cristo.3

O avanço da teologia do sacramento. Mecgrath diz assim:

Talvez os maiores avanços da teologia dos sacramentos tenham


ocorrido na colônia romana do norte da África, nos séculos III e IV,
sendo possível notá-los nas obras de Tertuliano, Cipriano de Cartago
e Agostinho de Hipona. E curioso notar o motivo pelo qual esses
avanços estão ligados a essa região específica. Uma possível razão
para isso é que a igreja nessa região estava sujeita a circunstâncias
particularmente difíceis, inclusive à perseguição. (Devemos nos
lembrar de que Cipriano morreu como mártir nas mãos das
autoridades romanas.) Assim, a igreja do norte da África
caracterizava-se por um forte senso de solidariedade em face das
difíceis condições que enfrentava. Como fruto disto, a igreja africana
depositava uma grande importância na solidariedade dos fiéis e nas
formas pelas quais esta poderia ser mantida e aperfeiçoada. Aqui
entra o papel dos sacramentos, como um aspecto vital desta
estratégia4.

Como se verifica, a prática sacramentista defendia que qualquer ser


humano alcançaria o favor de Cristo através do rito sacramental. O Teólogo e
filósofo “Agostinho acreditava que o batismo concedia graça a quem era
conferido independentemente de quem realizasse o rito” 5.

Esse entendimento teológico definia o sacramento como um sinal visível


de uma graça invisível. “Deus jamais entregou aos homens meios visíveis que
pudessem ser utilizados por alguém para transmitir a graça divina a outro

3
BERGSTÉN, Eurico. Introdução à Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das
Assembléia de Deus, 1999, p. 241
4
Mecgrath, Alister E. Teologia sistemática, história e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações,
2010, p. 576.
5
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no
mundo. Rio de Janeiro. CPAD. 2024, p. 98.
4

homem. A graça de Deus vem somente por Cristo, pela fé no seu sangue (cf.
Rm 3.24; 5.15; 2 Tm 1.9).”6

Ninguém era batizado para ser salvo. Bergstén diz:

Observemos que nos dias apostólicos o batismo era sempre


ministrado após a experiência da salvação; nunca antes. Ninguém era
batizado para ser salvo, mas porque já era salvo. O batismo é um ato
sagrado que simboliza o sepultamento da nossa velha natureza (cf.
Rm 6.3-5). Subentende-se, assim, que somente pode ser sepultado
aquele que tenha morrido (cf. Rm 7.9,10)7.

2. O Batismo não é sacramento, mas ordenança de Cristo.


No Novo Testamento, o batismo aparece como uma ordenança de
Cristo, e não como um sacramento. (Mt 28.19).

Entende-se por "ordenanças de Cristo" as ordens dadas por Ele à sua


Igreja referentes à ministração dos dois ritos sagrados instituídos e
ordenados por Cristo, que são o batismo nas águas e a Santa Ceia.
Ambos expressam, simbolicamente e de modo visível, o
sepultamento e a ressurreição em Cristo com relação ao batismo, e a
memória de Cristo na sua morte com relação à Santa Ceia.8

Na declaração de fé das Assembleia de Deus, sobre o batismo em


águas encontramos:

“Cremos, professamos e ensinamos que o batismo em águas é uma


ordenança de Cristo para sua igreja, dada por ordem especifica do
Senhor Jesus (Mt 28.19). reconhecemos esse ato como testemunho
publico da experiencia anterior, o novo nascimento, mediante a qual o
crente participa espiritualmente da morte e da ressureição de Cristo
(Cl 2.12).9

Não há, portanto, no Batismo, um poder mágico capaz de transmitir


graça para a salvação. O ensino bíblico é que o Batismo é uma ordenança
dada por Cristo a quem já foi alcançado pela graça, e não a quem quer obter
alguma graça através dele.

3. O Batismo deve ser administrado aos adultos.


Devemos praticar o batismo infantil ou o batismo de adultos? O teólogo
Santo Agostinho defendia o batismo de crianças.

Gonçalvez diz:
6
BERGSTÉN, Eurico. Introdução à Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das
Assembléia de Deus, 1999, p. 241
7
Idem, BERGSTÉN, p. 244
8
Idem, p. 241.
9
SILVA, Esequias Soares (Org.) Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
5

[...] No início da Idade Média que Agostinho, bispo de Hipona, vai


defender com fervor o batismo de crianças. Isso aconteceu por conta
do seu conflito com os pelagianos. Celésio, discípulo de Pelágio,
acreditava que o pecado de Adão só prejudicou o próprio Adão e a
mais ninguém. Da mesma forma, defendia que as crianças recém-
nascidas eram iguais a Adão antes da Queda, isto é, não tinham
pecados. Dessa forma, Celésio entendia que as crianças poderiam,
sim, ser batizadas, mas não por conta do pecado original que elas não
haviam herdado10

Celésio entendia que as crianças poderiam, sim, ser batizadas, mas não
por conta do pecado original que elas não haviam herdado. Santo Agostinho
entendia que as crianças deveriam ser batizadas para livra-se do pecado
original.

Tertuliano argumentou contra o batismo de crianças: "Deixe, portanto,


que venham depois de mais crescidos, e então poderão aprender e ser
ensinados quando devem vir; deixe-os tornar-se cristãos quando tiverem a
capacidade de conhecer a Cristo".11. O batismo deve ser administrado aos
adultos.

Bergstén diz assim:


Batizavam-se pessoas que se haviam arrependido (cf. At 2.38),
pessoas que de bom grado recebiam a Palavra (cf. At 2.41; 8.12), os
que criam em Jesus (cf. Me 16.16; At 8.12,37; 18.8; 16.33,34),
pessoas que já eram discípulos (cf. At 19.1-6) e até mesmo crentes já
batizados no Espírito Santo (cf. At 9.17,18; 10.47). Observamos,
assim, que não existe na Bíblia nenhum exemplo de batismo de
crianças recém-nascidas. Quando se fala de “batismo de famílias”
não se altera o que acima foi mencionado, pois as famílias sobre cujo
batismo a Bíblia fala eram compostas de pessoas já conscientizadas
sobre o que faziam.12

Uma criança, que ainda não chegou à idade da razão não tem
maturidade para crer e fazer escolhas. "somente quem é capaz de entender o
evangelho de modo consciente, arrepender-se de seus pecados e crer em
Jesus Cristo para a salvação deve ser batizado”.13

II O SÍMBOLO E O PROPÓSITO DO BATISMO.

10
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no
mundo. Rio de Janeiro. CPAD. 2024, p. 100.
11
Citado em W. F. Flemington, The New Testament Doctrine of Baptism (Londres: S.P.C.K,
1964), 132-33. Joachim Jeremias, The Origins of Infant Baptism (Londres: SCM Press, 1963),
49.
12
Idem, p. 242-243.
13
ALISSON, Gregg. Eclesiologia. São Paulo: Vida Nova.
6

1. Símbolo do Batismo: Identificação com Cristo


O batismo é um símbolo visível de uma realidade invisível. Augustus
Hopkins Strong diz assim:

Quero estabelecer bem uma distinção entre cada uma das três
palavras símbolo, rito e ordenança. 1. Símbolo é o sinal, ou
representação visível, de uma verdade ou ideia invisível; por exemplo,
o leão é símbolo da força e da coragem; o cordeiro, da mansidão; o
ramo de oliveira, da paz; o cetro, do domínio; a aliança, do
casamento; e a bandeira, do país. Os símbolos podem ensinar
grandes lições [...] a lavagem dos pés dos discípulos de Jesus
ensinava a sua descida do céu para purificar e salvar, e o serviço
humilde requerido dos seus seguidores. 2. Rito é o símbolo que se
emprega com regularidade e intenção sagrada. Os símbolos tornam-
se ritos quando empregados desta forma. A imposição de mãos na
ordenação, e o cumprimento apertando a mão direita em sinal de
companheirismo são exemplos de ritos autorizados na igreja cristã. 3.
Ordenança é um rito simbólico que destaca as verdades centrais da
fé cristã, e é de obrigação universal e perpétua. O batismo e a ceia do
Senhor são ritos que se tornaram ordenanças através da
determinação específica de Cristo e através do relacionamento delas
com as verdades essenciais do reino de Cristo14

O Batismo por imersão simboliza a união do crente com Cristo, por meio
de sua morte, sepultamento e ressureição. Stanley diz:

Um propósito importante do batismo nas águas, para os crentes, é


que ele simboliza a identificação com Cristo. Os crentes
neotestamentários eram batizados "para dentro" (gr. eis) do nome do
Senhor Jesus (At 8.16), o que indica que estavam sob o senhorio e
autoridade soberanos de Cristo. No batismo, o recém-convertido
"testifica que estava em Cristo quando Cristo foi condenado pelo
pecado, que foi sepultado com Ele e que ressuscitou para a nova vida
nEle". O batismo indica que o crente morreu para o velho modo de
viver e entrou na "novidade da vida" mediante a redenção em Cristo.
O ato do batismo nas águas não leva a efeito essa identificação com
Cristo, "mas a pressupõe e a simboliza"15

A exposição teológica de Strong e Stanley coadunam entre si. Eles


revelam que o batismo simbolicamente mostra nossa identificação com Cristo.
Na verdade, o batismo é um público testemunho de fé de nossa nova vida em
Cristo

2. O propósito do Batismo: Testemunho público da fé cristã.

14
STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática. Vol 2. São Paulo: Hagnos, 2003.
15
HORTON, Stanley M. (Ed.) Teologia Sistemática:uma perspectiva pentecostal. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996, p. 278.
7

O batismo é uma confissão pública de fé. Isso significa que o crente,


quando desce as águas batismais, está testemunhando de forma pública
perante o mundo da sua nova vida em Cristo (At 2.41).

3. Não há espaço para indecisão

Somente cristãos indecisos rejeitam ser batizados. Às vezes isso


acontece por ignorância ao sentido do ato. Outras vezes é por falta de
convicção de fé. No primeiro caso, às vezes o crente entende que após ser
batizado não pode mais cometer qualquer tipo de falha. Embora a Bíblia mostre
que o crente deve evitar o pecado (1 Jo 2.1).

O batismo não pode ser visto como uma vacina que imuniza o cristão do
pecado. Este é vencido quando se anda no Espirito (Gl 5.16)

III A FÓRMULA E O MÉTODO DO BATISMO


1. Fórmula trinitária do Batismo.
A fórmula batismal mostrada no Novo Testamento é trinitariana, isto é,
em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo: "Portanto, ide, ensinai todas as
nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt
28.19). A formula é por imersão.

Há o batismo por aspersão, que significa derramar água na cabeça do


indivíduo. “A aspersão começou a ser usada já no século III, mormente nos
casos de batismos clínicos (para aqueles já próximos da morte e que
desejavam o batismo cristão)”16

O documento antigo chamado de Didaquê defendia o batismo por


aspersão. “O Didaquê aconselha que, não havendo água suficiente para a
imersão, deve-se "derramar água na cabeça três vezes, 'em nome do Pai, do
Filho, e do Espírito Santo'"17

Stanley Horton diz:

Um dos documentos cristãos mais antigos, fora do Novo Testamento,


o Didaquê, registra as primeiras instruções conhecidas que permitem
o batismo por outro método que não seja a imersão. Depois de
16
HORTON, Stanley M. (Ed.) Teologia Sistemática:uma perspectiva pentecostal. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1996, p.278
17
“The Teaching of the Twelve Apostles, Commonly Called the Didache", Early Christian-
Fathers, 174.
8

oferecer instruções pormenorizadas para o batismo - deveria ser


realizado em "água corrente" ou, caso não houvesse, deveria ser
utilizada água fria (e, como derradeira alternativa, água morna);
deveria empregar a fórmula trinitariana, etc18

Nessa exposição, observamos que o batismo por imersão é alterado.


Em outras palavras, o batismo por aspersão é admitido. Porém, essa pratica
não coaduna com os ensinos de Jesus. (Mt 3.26).

2. Fórmula herética do Batismo.


Nem todos concordam com a formula trinitária. Há um grupo chamado
de modalismo. Mecgrath diz:

O termo “modalismo” foi introduzido pelo historiador alemão, Adolf


von Harnack, para descrever o elemento comum a um grupo de
heresias relacionadas à Trindade, que eram associadas, ao final do
século II, a Noetus e Praxeas e, no século III, a Sabélio. Cada um
desses escritores estava interessado em resguardar a unidade da
Trindade, temendo um lapso que levasse a alguma forma de
triteísmo, como uma decorrência da doutrina da Trindade.19

Na exposição de Mecgrath, os autores tinham o interesse de resguardar


a unidade da trindade, em outras palavras, essas pessoas negavam a
existência das três pessoas da trindade.

3. Imersão: o método bíblico do Batismo.


Convém dizer que não há vestígios da prática do Batismo por aspersão
no Novo Testamento.
Erickson diz assim:
Martinho Lutero e João Calvino reconheceram a imersão como o
significado básico do termo e como a forma original praticada pela
igreja primitiva. Há diversas considerações que indicam que a
imersão era o procedimento bíblico. João batizava em Enom “porque
ali havia muita água” (Jo 3.23). Quando foi batizado por João, Jesus
“saiu da água” (Mc 1.10). Depois de ouvir as boas-novas, o eunuco
etíope disse a Filipe: “Aqui há água; que me impede de ser batizado?”
(At 8.36). Então “desceram ambos à água” (v. 38). Filipe o batizou, e
eles “saíram da água” (v. 39)20

18

19
Mecgrath, Alister E. Teologia sistemática, história e filosófica. São Paulo: Shedd Publicações,
2010, p. 382.
20
Erickson, Millard J. Teologia sistemática / Millard J. Erickson; tradução de Robinson Malkomes,
Valdemar Kroker, Tiago Abdalia Teixeira Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 1073-1074.
9

A palavra grega baptizo possui o sentido de “mergulhar” e “submergir”


tanto na Bíblia como fora dela.

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