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LIÇÃO 11- O CULTO DA IGREJA CRISTÃ- 1º TRIMESTRE

DE 2014 (1 Co 14.26)
Profº. Pr. Wesllen Silva

Objetivos específicos
a) Identificar a natureza do culto a Deus, sua forma e conteúdo;
b) Compreender o genuíno propósito do culto cristocêntrico;
c) Enfatizar a primazia da Escritura e a importância da adoração entusiástica na
liturgia pentecostal.

Introdução

Na introdução observamos alguns princípios do culto cristão. (i) O culto é


santo; (ii) o propósito do culto é glorificar a Deus e edificar a Igreja; (iii) O culto tem
um rito; (iv) O papel da Bíblia e da adoração na dinâmica pentecostal.

1. A NATUREZA DO CULTO

O que seria a natureza do culto?

[...] por natureza o culto deve ser santo. Ele é prestado a um Deus que é
santo, que por sua vez é adorado por uma igreja que também é santa.
Esses fatos servem para fazer distinção entre o sagrado e o profano. Há,
portanto, uma essência no culto cristão — ele é um serviço que se presta a
um Deus totalmente distinto de sua criação. Deus nunca pode ser igualado
à sua criação; por sua vez a criação jamais pode tomar o lugar do Criador.1

Além disso,

Os hebreus estavam acostumados com a palavra qadosh (santo, separado)


para referirem-se ao relacionamento com Deus. Embora esse vocábulo seja
comum nas línguas semíticas, ele reveste-se de um sentido especial
quando aplicado à ideia de moralidade no contexto do judaísmo antigo.
Deus é santo; dessa forma, a santidade de Deus está intimamente ligada à
sua glória. Sem santidade, ninguém pode aproximar-se dEle, e isso valia
para todos os povos e em todas as épocas, sendo, portanto, princípios de
uma ética universal2

1.1 O culto como serviço a Deus

O termo "culto" é definido pelos léxicos como "adoração ou homenagem à


divindade em qualquer de suas formas" ou figuradamente "adoração, veneração e
reverência"3. O culto diz respeito as nossas atitudes diante de Deus. “No hebraico

1
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no mundo. Rio
de Janeiro. CPAD. 2024, p. 120.
2
Idem, JOSÉ, 2024, p. 120-121.
3
HOLANDA, Aurélio Buarque. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010.
bíblico, o culto é visto como um serviço a Deus (Dt 6.13)” 4. Isto é, uma vida entregue
e consagrada a Deus.
No Novo Testamento o culto também é visto como um serviço ao Senhor. O
termo grego leitourgeo é usado para expressar a adoração como um serviço que se
presta a Deus.5 John Frame diz que o “culto é o serviço de reconhecimento e honra
à grandeza de Nosso Senhor da Aliança.”6

Os principais termos sobre culto são:

01 - Douleo: Serviço escravo do "doulos", sem qualquer direito pessoal,


trabalhista, salarial; e mais, sem livre arbítrio. O escravo e sua produção pertenciam
ao seu senhor. Tudo que um escravo faz é para riqueza e glória de seu senhor. O
crente é "doulos" de Deus, um cultuador, portanto.
02 - Therapeuo: Serviço voluntário, sem remuneração; geralmente exercido na
área caritativa ou no serviço público, mas sempre de cunho social. O "therapeuta"
era livre para "doar" o seu trabalho como expressão de amor fraternal e comunitário.
03 - Hypereteo: Serviço de remador; remar como escravo sob comando
imperativo do administrador da embarcação. Era um trabalho de ação sincronizada,
conforme o grito de cadenciamento do dirigente. O "hyperetês" era um dentre vários,
mas seu trabalho sincrônico compunha a força conjunta de maneira indispensável. O
navegar do barco na velocidade ideal e na direção proposta dependia da união e do
esforço harmônico de todos.
04 - Diaconeo: Serviço fundamentado unicamente no amor, na consagração, na
abnegação. Diácono é aquele que serve sem esperar qualquer tipo de retorno como
recompensa, reconhecimento, gratidão. Serve-se, movido pelo amor ao próximo,
jamais por venalidade, publicidade ou ostentação.
05 - Leitourgeo: "Leitourgeo" vem de "laos", povo, e "ergon", trabalho; o que se
faz em benefício da comunidade. Significa, portanto, prestação de serviço público,
nobre ou não, tanto no palácio real como no templo. "Leitourgos", no âmbito
religioso, era quem se dedicava exclusivamente ao serviço do templo quer na ordem

4
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no mundo. Rio
de Janeiro. CPAD. 2024, p. 119.
5
GONÇALVEZ, 2024, p. 119.
6
FRAME, 2016, p. 21.
cerimonial e ritual quer na manutenção e administração do imóvel, dos móveis e dos
objetos consagrados a Deus e destinados ao culto.
06 - Latreuo - Latreia: Serviço sacerdotal, o que oferece sacrifício a Deus, o que
promove intermediação religiosa, o que se oferta em adoração.

1.2 O culto deve ser solene

Segundo Houaiss o termo solene significa: “de aparência nobre, majestosa;


imponente, que denota importância, seriedade, gravidade; sério, circunspecto, grave7
Solene nos referimos ao que traz respeito e é majestoso. Isso significa que tanto
o conteúdo como a maneira de se cultuar são importantes (Ec 5.1; 1 Co 11.27). O
culto não deve ser de qualquer jeito.
John Frame diz que culto não é “um programa para proporcionar entretenimento
ou para fortalecer a autoestima ou encorajar o farisaísmo e a hipocrisia.”8

Tudo o que fazemos no culto, portanto, agora nos fala do pecado e do


perdão, da expiação e da ressurreição de Jesus por nós. O culto, após a
Queda de Adão, deveria ser centralizado não apenas em Deus pai, mas
também em Cristo e no evangelho. Sempre, em nossos cultos, as boas
novas de que Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou
gloriosamente da morte deveriam ser centrais.9

Na exposição de Frame, percebe-se que o culto após a queda de Adão e


Erva, está centralizado no que Cristo fez pelos indivíduos.

1.3 O culto é santo

“A santidade de Deus é afirmada por toda a Bíblia (Lv 11.44; Is 43.3; 1 Pe


1.15,16). Visto que Deus é santo (Lv 20.26), o culto também deve ser santo” 10.

2. O PROPÓSITO DO CULTO
2.1 Glorificar a Deus.

7
HOUAISS, 2021.
8
FRAME, John. Em Espírito e Em Verdade. São Paulo: Cultura Cristã, 2016. p. 30
9
FRAME, 2016, p. 27.
10
GONÇALVES, José. O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. CPAD,
2024, p. 79.
O culto é uma celebração pelo que Deus é e pelo que Ele faz (SI 103.1-5).

O propósito do culto deve ser sempre glorificar a Deus. Isso acontece


quando o culto promove a verdadeira adoração. Se Deus não é adorado e
glorificado no culto ou na nossa forma e modo de cultuar, então, não existe
culto de verdade. O culto, portanto, pode se desvirtuar, perder o seu
propósito e deixar de ser um culto. Pode ser chamado de qualquer outra
coisa, menos de culto. Quando isso acontece, nem Deus é glorificado, nem
a igreja é edificada.11

O culto deve ser sempre cristocêntrico, nunca antropocêntrico. Cristo é a


esfera ou lugar onde deve acontecer o verdadeiro culto (Jo 2.18-22; Mc 14.58).
“Porque Deus é digno de adoração e busca ser adorado, todas as coisas em nossos
cultos devem ser projetados e feitas para não chamar a atenção para nós mesmos
ou para nos dar glória, mas para chamar a atenção para Deus e fazer as pessoas
pensarem sobre lá”12.
“O culto não é visto apenas como um ato litúrgico realizado, por exemplo, em
um templo ou em qualquer espaço físico, mas como a expressão de um modo de
vida que reflete o caráter de Cristo em todos os aspectos”13

2.2 Quando não se cultua a Deus.

“Há cultos que Deus não é cultuado. Sobre isso, Paulo chamou atenção da
Igreja de Corinto, eles usavam os dons incorretamente e não promoviam a
edificação do corpo de Cristo. (1 Co 14).” 14
“Infelizmente há muitas reuniões envernizadas para se parecerem com um
culto, mas, de fato, não são. Parecem reuniões profanas tanto na sua forma quanto
na sua essência. Não buscam glorificar a Deus”.15
Champlin destaca que o culto “envolve a reação religiosa, a oração, o rogo, a
adoração, a homenagem prestada a Deus”16.

2.3 Edificar a igreja

11
GONÇALVEZ, 2024, p. 121.
12
GRUDEM, Wayne A. Teologia sistemática. São Paulo: Vida, 1999, p. 1563.
13
JOSÉ, 2024, p. 122.
14
GONÇALVES, 2024, p. 80.
15
GONÇALVES, 2024, p. 80.
16
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Vol. 1. São Paulo:
Hagnos, 2013, p. 48.
“Na esfera do culto, tudo deve buscar a edificação (1 Co 14.26). o verbo
grego oikodoméo, traduzido como “edificar”, ocorre 40 vezes no Novo Testamento
enquanto o substantivo oikodomé, traduzido como “edificação”, ocorre 18 vezes. o
sentido é de algo que está sendo construído, como na parábola da casa edificada
sobre a rocha (Mt 7.24,26; Lc 6.48)”17.

3. A LITURGIA DO CULTO

O vocábulo "Liturgia", em grego, formado pelas raízes leit- (de laós, povo) e -
urgía (trabalho, ofício) significa serviço ou trabalho público.

Infelizmente, muitas pessoas associaram a palavra "liturgia" a mornidão,


frieza espiritual ou coisa do gênero. Para essas pessoas, o culto não deve
ter liturgia nenhuma. Ele deve acontecer de forma livre e improvisada. O
resultado disso é vermos "cultos" que não são cultos, mas um ajuntamento
humano qualquer.18

O culto deve ter ordem e decência

Uma orientação sobre esse assunto é dada por Paulo, ao instruir que “tudo
deve ser feito com decência e ordem” (IC o 14.40) e também que o Espírito
não deve ser extinguido. Podem ser utilizados elementos antigos da prática
de culto, bem como da cultura contemporânea, desde que eles não estejam
diretamente relacionados a crenças e práticas que conflitam com aquelas
biblicamente reveladas. Em tudo isso, o foco deveria ser glorificar a Deus e
levar o adorador a um relacionamento com ele. O alvo não deve ser a
preservação de uma prática porque ela foi realizada daquela forma por
muito tempo nem a introdução de uma prática simplesmente por causa da
inovação. 19

Além disso,

O apóstolo Paulo, quando regulamentou o uso dos dons espirituais, o fez a


partir de uma liturgia que deveria ser seguida. "Que fareis, pois, irmãos?
Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem
revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação" (1
Co 14.26). Vejamos nesse texto alguns aspectos ritualísticos mostrados por
Paulo. Em primeiro lugar, o culto precisa ter um planejamento. Isso está
implícito na pergunta: "O que fareis, pois?". Se, por um lado, o culto não
deve ser algo fossilizado, meramente formalístico, por outro lado, o culto
não deve ser desorganizado, que não tem planejamento algum. Em
segundo lugar, Paulo se refere aqui ao culto na esfera congregacional, isto
é, o culto na igreja local. Isso fica claro pelo uso da expressão: "quando vos
ajuntais". Havia, portanto, um local ou espaço onde a igreja se reunia. Em
terceiro lugar, a questão temporal também era levada em conta. Isso está
17
GONÇALVES, 2024, p. 80.
18
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no mundo. Rio
de Janeiro. CPAD. 2024, p. 125.
19
Erickson, Millard J. Teologia sistemática / Millard J. Erickson; tradução de Robinson Malkomes,
Valdemar Kroker, Tiago Abdalia Teixeira Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 1020.
implícito no tempo encontrado para se reunirem. Algumas versões em
português usam o advérbio "quando", que indica tempo, para expressar
isso. Em quarto lugar, o culto deve contar com a participação de cada um.
Isso fica claro pelo uso da partícula grega hekastos (cada um). Todos
devem participar do culto. Todos devem adorar. O problema nos cultos é
que poucos participam dele. Em quinto lugar, no culto devemos louvar. Isso
está demonstrado pelo uso do termo grego psalmoi (Salmos), que é uma
referência ao antigo hinário de Israel e da igreja. No culto deve, portanto,
haver música, cânticos que enaltecem ao Senhor. Em sexto lugar, Paulo
mostra que no culto deve haver a exposição da Palavra. Ele demonstra isso
quando usa a expressão "doutrina", do grego didaché, que tem o sentido de
instrução. O culto deve servir para instruir a igreja. É pela instrução que o
crente é discipulado. Em sétimo lugar, o apóstolo se refere às
manifestações carismáticas, isto é, o uso dos dons espirituais no culto. Isso
fica demonstrado pelo uso dos termos "revelação", "línguas" e
"interpretação". O culto não é apenas um ritual morto, mas uma celebração
dinâmica onde o Espírito Santo opera. Em oitavo lugar, Paulo mostra que o
culto tem um propósito — que é a edificação da igreja. "Seja tudo feito para
edificação."20

3.1 A exposição da Bíblia

A leitura e a exposição da Bíblia devem ocupar o lugar de primazia na


dinâmica da liturgia do culto.

Dessa forma, precisamos destacar que pelo menos três elementos


aparecem no contexto da liturgia do culto no Novo Testamento, quer no
judaísmo, quer no contexto da Igreja Primitiva: a leitura da Palavra de Deus
com sua respectiva exposição, os cânticos e a oração. Quando Jesus, por
exemplo, chegou a Nazaré, entrou na sinagoga e lhe foi dado o livro do
profeta Isaías. Tendo feito a leitura, Jesus fez uma explanação do texto lido
(Lc 4.16-20)21.
O pastor que está à frente de uma igreja, e responsável pela liturgia do culto,
deve ficar atento ao lugar que as Escrituras têm no culto.

3.2 A adoração entusiástica

Segundo Houaiss o termo entusiástico significa “em que se coloca ânimo,


energia, vigor; enérgico, forte, vigoroso”22.
Na passagem (1 Co 14.26) quando Paulo escreve aos irmãos de Corinto, ele
destaca em primeiro lugar Adoração ao Senhor. Ele cita a palavra “Salmo”.

20
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no mundo. Rio
de Janeiro. CPAD. 2024, p. 127-128.
21
JOSÉ, 2024, p. 126.
22
HOUAISS, 2021.
“Salmo no grego é psalmon e é uma referência ao hinário usado pelos
primeiros cristãos. É possível que o apóstolo esteja se referindo aos Salmos de
Davi”23.

3.3 O lugar da adoração no culto pentecostal

“Um grande teólogo pentecostal, William W. Menzies, destaca o lugar que a


adoração tem entre os pentecostais. De acordo com ele, desde o começo,
os pentecostais foram conhecidos no mundo todo pelas reuniões de cultos
alegres e ruidosas. Isso era visto nas reuniões de oração nas quais todos os
presentes, coletiva e eloquentemente, derramavam o coração perante Deus
em oração e louvor. Isso também acontece no levantar das mãos como
resposta a percepção de que Deus se faz presente. Faz parte também da
liturgia pentecostal louvar a Deus em alta voz e exercitar os dons espirituais
durante o culto.”24

CONCLUSÃO

Concluímos que o culto não pode ser de qualquer forma, pois ele tem
princípios e normas para seguir. Como Deus é um Deus de ordem, então, o culto
que se presta a Ele também tem de ser ordenado. Contudo, ordenado não significa
frio e sem vida. O culto deve ser um momento de celebração, alegria e dinamizado
pelo Espírito Santo.

DEUS ABENÇOE!!!!!

23
GONÇALVES, 2024, p. 81.
24
GONÇALVES, José. O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. CPAD, 2024, p. 31.

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