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Adoração Bíblica – Introdução

por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

O conflito entre culto tradicional e culto contemporâneo, nos Estados


Unidos, tem sido chamado de “guerra da adoração” (worship wars). Paul
Basden expõe uma síntese deste conflito em seu livro “Adoração ou
Show?” críticas e defesas de seis estilos de culto (2006): adoração
litúrgica formal, adoração tradicional com hinos, adoração
contemporânea, adoração carismática, adoração combinada e adoração
emergente.

No Brasil, a situação não é muito diferente, principalmente nas igrejas


históricas. A secularização da Igreja, o mercado da música gospel, a
pressão dos modelos neo-pentecostais e a implantação de novos
modelos eclesiológicos de cultuar.

Creio que mudanças são sempre bem-vindas, principalmente se elas


estão baseadas na Bíblia e nos aproximam mais de Deus. Precisamos,
entretanto, de muito discernimento espiritual. Paulo nos ordena: julgai
todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de
mal. (I Tessalonicenses 5:21-22). O eixo do conflito é teológico e não
apenas musical ou de estilo litúrgico.

Antes de começar este estudo sobre o culto, preciso estabelecer alguns


parâmetros que o nortearão.

1. Cremos que a Bíblia estabelece a maneira como Deus quer ser


cultuado. A Bíblia regulamenta o culto, na sua forma e no seu
conteúdo. Qualquer culto elaborado por conta própria e que não
esteja de acordo com as normas de Deus é falso e inaceitável a
Deus. (Êxodo 20:1-6; Deuteronômio 6:13-15). Quando Israel resolveu
por conta própria cultuar a Deus, o profeta Jeremias protesta:
“Edificaram os altos de Tofete, que está no vale do filho de Hinom,
para queimarem a seus filhos e a suas filhas; o que nunca ordenei,
nem me passou pela mente.” (Jeremias 7:31). Deus rejeita a Israel,
pois a sua adoração nunca foi ordenada por Deus ou jamais passou
pela mente do Senhor.

2. Cremos que o culto a Deus é uma antítese da vida e do culto


pagão. Deus recomenda a Israel: “Quando o SENHOR, teu Deus,
eliminar de diante de ti as nações, para as quais vais para possuí-las,
e as desapossares e habitares na sua terra, guarda-te, não te enlaces
com imitá-las, após terem sido destruídas diante de ti; e que não
indagues acerca dos seus deuses, dizendo: Assim como serviram
estas nações aos seus deuses, do mesmo modo também farei eu.
Não farás assim ao SENHOR, teu Deus, porque tudo o que é
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abominável ao SENHOR e que ele odeia fizeram eles a seus deuses,
pois até seus filhos e suas filhas queimaram aos seus deuses. Tudo o
que eu te ordeno observarás; nada lhe acrescentarás, nem
diminuirás.” (Deuteronômio 12:29-32). O culto a Deus é único,
inédito, inigualável e exclusivo. Ele não é uma imitação do culto
pagão.

3. Entendemos que o conceito de adoração na Bíblia envolve a vida


do adorador e não apenas o momento do culto. A vida é o culto e o
culto é a vida. Deus diz ao seu povo: “Agora, pois, ó Israel, que é que
o SENHOR requer de ti? Não é que temas o SENHOR, teu Deus, e
andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao SENHOR,
teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para
guardares os mandamentos do SENHOR e os seus estatutos que
hoje te ordeno, para o teu bem?” (Deuteronômio 10:12-13).

4. Cremos que o ensino do culto na Bíblia revela uma


simultaneidade com a revelação progressiva de Deus, culminando
com Jesus Cristo. “Mas vem a hora e já chegou, em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade;
porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é
espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e
em verdade.” (João 4:23-24). Logo, ao estudarmos acerca do culto,
precisamos considerar as diferenças entre o culto no Antigo
Testamento e no Novo Testamento, isto é, o culto antes de Cristo e
depois de Cristo.

5. A nossa motivação para este estudo não é a defesa de um estilo


de culto: “culto tradicional” ou “culto contemporâneo”, mas a
exposição do ensino bíblico acerca dos princípios do culto a Deus.
Entendemos que a Bíblia não apresenta estilos de cultos e também
não estabelece nenhuma liturgia fixa para o culto cristão. Esta é a
posição da fé reformada e da Igreja Presbiteriana do Brasil, que
normatiza o culto por intermédio dos “Princípios de Liturgia”. [*]

6. Entendo que o crescimento espiritual da igreja e a sua influência


espiritual fundamenta-se na sua prática de adoração. Antes de
pensarmos em fazer qualquer coisa na igreja, precisamos restaurar
o altar da adoração em nossas vidas pessoais, no nosso lar e na
nossa igreja. Warren W. Wiersbe diz: “Adoração não é uma opção, é
uma obrigação; não é luxo, é uma necessidade. Adorar a Deus e
glorificá-lo é a única coisa que a igreja pode fazer e que nenhuma
outra assembléia pode fazer. Não estou certo de que estejamos
fazendo isto. William Temple disse: ‘A única coisa que pode salvar
este mundo do caos político e do colapso é a adoração. A única
esperança do mundo é a igreja e a única esperança da igreja é o
retorno à adoração’. Deus precisa transformar o Seu povo e a Sua
Igreja antes que Ele possa operar por meio de nós a fim de saciar as
necessidades cruciais de um mundo perdido no pecado. Cada
ministério da igreja deveria ser um subproduto da adoração.
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Ministério divorciado de adoração não tem raízes, portanto não
pode produzir frutos que permaneçam.”

Finalmente, este trabalho tem dois objetivos: primeiro, motivar a


reflexão sobre os princípios bíblicos da adoração, principalmente por
parte dos presbíteros [pastores] da igreja e das pessoas envolvidas no
ministério da música. Também, a incentivar a todos que persigamos a
verdadeira adoração. O meu desejo é que a igreja e cada um dos seus
membros desenvolvam uma fome e uma sede por Deus e pela Sua
presença. “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti,
ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus
vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Salmos 42:1-2).

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Capítulo Um
por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

O Que Significa Adorar?

Nada é mais importante do que a adoração. Lutero disse: "Ter um Deus é


adorar a Deus". Adorar a Deus é atribuir-lhe o valor de que é digno,
conforme a palavra inglesa "worship" = "valor reconhecido". Frederick W.
Robertsosn afirma: "Repito, o homem não tem opção para ser ou não ser
um adorador. Um adorador ele não pode deixar de ser – a única questão
é decidir o que ele vai adorar. Todo homem adora – pois é um adorador
nato". Adorar a Deus. Esta é a nossa razão de ser como cristão e igreja.
Pedro declara: "Também vós mesmos, como pedras que vivem, sois
edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de
oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de
Jesus Cristo." (I Pedro 2:5).

Por definição, a Igreja é uma comunidade de adoradores. Ela existe para


adorar. Ela é uma casa espiritual, um sacerdócio santo e real. João
afirma: "Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos
pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a
glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!" (Apocalipse 1:5-6).
"Adoração não é uma opção, é uma obrigação; não é luxo, é uma
necessidade. Adorar a Deus e glorificá-lo é a única coisa que a igreja
pode fazer e que nenhuma outra assembléia pode fazer. Não estou certo
de que estejamos fazendo isto" diz Warren W. Wiersbe.

Quando adoramos ou cultuamos prestamos um serviço espiritual a


Deus. Adorar é servir e trabalhar para Deus, em reconhecimento por
tudo que Ele é e faz por nós. Adorar é obedecer a "convocação santa" de
Deus.

Vejamos o vocabulário bíblico:

O vocabulário bíblico

Para alcançarmos uma visão correta sobre o culto a Deus precisamos


examinar alguns termos usados pelos escritores bíblicos:

1 – "Latreia" – seu significado principal é "serviço" ou "culto". Denota


o serviço prestado a Deus, pelo povo inteiro e pelo indivíduo, tanto
externamente no ritual, como internamente no coração. Em outras
palavras; é o serviço que se oferece à divindade através do Culto
formal, ritualístico e por meio do oferecimento integral da vida
(Êxodo 3:12; 10:3 e 7-8; Deuteronômio 6:13; Mateus 4:10; Lucas 1:74;
2:37; Romanos 12:1).

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2 – "Leitourgia" – composto de duas palavras gregas, "povo" (laos) e
"trabalho" (ergon), significa "serviço do povo’. No Antigo
Testamento, aplicava-se ao serviço oferecido a Deus pelo Sacerdote,
quando apresentava o holocausto sobre o altar de sacrifícios (Êxodo
36:1; Josué 22:27; I Crônicas 23:24,28). No Novo Testamento, aplica-se
essencialmente ao serviço que Cristo oferece a Deus, pois ele é o
nosso "Liturgos" (Hebreus 8:2,6): Em suma, "Liturgia" é o serviço que
o pastor e toda a Igreja oferecem a Deus à semelhança do serviço
realizado por Jesus (Romanos 15:16; Filipenses 2:17; Atos 13:2).

3 – "Proskunein’’ – originalmente, significava beijar’. No Antigo


Testamento significa ‘curvar se", tanto para homenagear homens
importantes e autoridades (Gênesis 27:29; I Samuel 25:23), como
para "adorar" a Deus (Gênesis 24:52; II Crônicas 7:3; II Crônicas 29:29;
Salmos 95:6). No Novo Testamento, denota exclusivamente a
adoração que se dirige a Deus (Atos 10:25-26; Apocalipse 19:10; 22:8-
9). Em seu emprego absoluto, significa "participar do Culto Público",
"fazer orações", "entoar hinos" (João 12:20; Atos 8:27; 24:11; Apocalipse
4:8-11; 5:8-10; 19:1-7). Esta adoração compreende o ato externo e a
atitude interna correspondente.

4 – Outros termos – os vocábulos ‘Eusebia"(piedade) e "Threskeia"


(religião), aparecem no Novo Testamento para expressar a conduta
do adorador (II Timóteo 3:12; Atos 26:5; Tiago 1:26): Quem adora
mostra a sua devoção por meio de uma vida piedosa.

O elemento essencial da adoração

Concordamos plenamente com o Dr. Russel Shedd que aponta o amor


como a essência da adoração. Quem ama adora o que ama. Onde estiver
o seu tesouro ai estará o seu amor. A essência da adoração é o amor. É
totalmente impossível adorar a Deus sem amá-lo. E Deus nunca se
satisfez com menos que "tudo". Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. (Deuteronômio 6:5;
Mateus 22:37). "Sem o incentivo do amor por Deus, o culto não passa de
palha, pura casca, isento de qualquer valor. Pode até se tornar em culto
a satanás" (R. Shedd). Afirmamos, entretanto, que o culto verdadeiro
requer amor de todo o coração, amor integral da mente e todo o nosso
esforço.

Amor de Todo Coração

Para o Hebreu, o "Coração" é considerado a sede da mente e da vontade


bem como das emoções. O termo "Alma" refere-se à fonte da vida e
vitalidade (Gênesis 2:7,19), ou mesmo o próprio "ser". Estes dois termos
indicam que o homem deve amar e adorar a Deus sem qualquer reserva
em sua devoção. É no coração humano que Deus se revela (Atos 16:14; II
Coríntios 4:4, 6), portanto é com o coração que devemos expressar nosso
amor por Ele.

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Amor Integral da Mente

A adoração envolve também o exercício da mente. "Dianóia" em grego


significa a capacidade de pensar e refletir religiosamente (I João 5:20;
Efésios 4:18; Mateus 24:15). Este entendimento é dádiva divina (Lucas
24:25; Efésios 1:17-18). Portanto, a adoração deve ocupar a mente, de
maneira a envolver a meditação e consciência do homem. Em Romanos
12:2, Paulo estabelece que o culto cristão deve ser racional ("logiken
latreia"). Amar a Deus com entendimento é um desafio para o crente
(Marcos 12:30).

Amor que exige todo nosso esforço

Na adoração cristã, Deus exige ser amado com toda a força do adorador
(Marcos 12:30; Lucas 10:27 e Deuteronômio 6:5). O termo "Força"(Ischuos)
se refere à força e poder de criaturas vivas (Hebreus 11:34); exige-se que o
cristão gaste todas as suas energias físicas em atos de amor por Deus
(Romanos 12:1; II Coríntios 2:15-16). O amor a Deus expressa-se no serviço
prestado por meio do coração (I Coríntios 13:3). Portanto, amar a Deus
com "Toda a força" representa gastar a vida e energia unicamente com
expressões de lealdade e afeição a Deus.

A necessidade de adorar

Deus não necessita da nossa adoração. Ele é auto-existente e auto-


suficiente. Quando O louvamos, não acrescentamos nada a Sua pessoa,
porque grande é o Senhor. Jamais poderemos impressioná-Lo com
pompa, pois "glória e majestade estão diante dEle, força e formosura, no
seu santuário" (Salmos 96:6).

Nós é que precisamos adorar a Deus. A adoração é necessária pelas


seguintes razões:

1 – Na adoração, o homem acha a razão da sua existência. Ele foi


criado para a adoração. "O fim supremo e principal do homem é
glorificar a Deus e gozá-lo para sempre" (Catecismo Maior da IPB).
Fora da posição de adorador de Deus, o homem não encontra o
sentido para vida (leiaI Coríntios 10:31; Romanos 11:36).

2 – A adoração foi instituída e ordenada por Jesus Cristo. Como diz


Karl Barth: "Na adoração, não somos chamados a expressar nossas
necessidades ou possibilidades, mas sim a obedecer". Quando a
Igreja se reúne para louvar, orar, pregar a palavra e celebrar os
sacramentos, ela simplesmente obedece (Marcos 16:15-16; Atos 1:8; I
Coríntios 11:24-25; Atos 20:7).

3 – A adoração é suscitada e expressa pelo Espírito Santo. A salvação


provoca adoração (Atos 10:46). O perdão restaura a capacidade de
adorar, anteriormente perdida por causa do pecado. Veja alguns

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exemplos: Lucas 5:25; 13:13; 17:15; 18:43; I Coríntios 12:3 e II Coríntios
1:22.

4 – A adoração é útil. Ela tem utilidade didática, sociológica e


psicológica. No ato do culto aprendemos a ser cristãos. Ele é a
escola por excelência do cristão. No culto há também coesão,
integração e comunhão pessoal (I Coríntios 10:17; Atos 2:42-47). Por
fim, o culto traz paz, descanso e cura para a alma dos fiéis.

A amplitude da adoração

A adoração segundo a Bíblia é ampla ou integral. Ela abrange não


somente o momento do culto, mas envolve toda a vida do adorador.
John Frame resume: "De certa forma, podemos dizer que toda a vida é
culto. Isso não nega a importância e até mesmo a necessidade de
comparecermos às reuniões da igreja (Hebreus 10:25). Mas o Senhor
deseja que vivamos de tal maneira que todos os nossos atos rendam
louvores a Deus".

No Antigo Testamento há várias exortações de Deus condenando o culto


formal que não era acompanhado de uma vida integra, com a prática da
justiça e o exercício da misericórdia. Vejamos alguns exemplos:

"Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à


lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra. De que me serve a mim a
multidão de vossos sacrifícios? diz o SENHOR. Estou farto dos
holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me
agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes.
Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só
pisardes os meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é
para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a
convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada
ao ajuntamento solene. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas
solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou
cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de
vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço,
porque as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos,
tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer
o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor;
defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas." (Isaías 1:10-17)

O profeta Isaías sempre condenou o culto hipócrita: Isaías 29:13-16; 58:1-


14. O ato restrito da adoração no templo deveria ser um reflexo ou a
continuidade de uma vida santa e ética. Este assunto é tema em
Malaquias 1 e 2, Oséias 2 e Amós 5. O profeta Miquéias resume bem:
"Com que me apresentarei ao SENHOR e me inclinarei ante o Deus
excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?
Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de
azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do
meu corpo, pelo pecado da minha alma? Ele te declarou, ó homem, o
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que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e
ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus." (Miquéias
6:6-8).

No Novo Testamento o culto ganha uma dimensão ampla. Tudo que um


cristão faz é culto. Ele não pode sair da presença de Deus, pois ele é
santuário do Espírito Santo. Paulo declara: "Acaso, não sabeis que o
vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual
tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo." (I
Coríntios 6:19-20). Num sentido amplo, tudo que o cristão faz é culto
(Romanos 12:1-2; Hebreus 13:15-16; Tiago 1:26-27). Paulo ensinando acerca
da liberdade cristã diz: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais
outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus." (I Coríntios 10:31).

Jesus recomenda-nos: "Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te


lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o
altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então,
voltando, faze a tua oferta." (Mateus 5:23-24).

Os resultados da adoração

O objetivo da adoração é agradar a Deus. Quando o adoramos da


maneira que Ele manda, somos também beneficiados espiritualmente.
Muitas vezes vamos à igreja, participamos de um culto, e saímos como
se nada tivesse acontecido. Mas será que a culpa está em Deus, ou no
dirigente do culto ou em mim? Esta é uma pergunta que gera muitas
discussões.

O certo e seguro, é que se o culto for agradável a Deus, Deus torna-se


agradável ao adorador: "Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os desejos
do teu coração" (Salmos 37:4). Olhando para os exemplos de culto na
Bíblia, podemos relacionar alguns resultados da adoração verdadeira:

1. Cresce o nosso conhecimento e a nossa admiração por Deus (I Reis 8:23;


Salmos 27:4; Lucas 5:9; 8:25; Apocalipse 1:9-20).
2. Percebemos e sentimos a presença real de Deus em nosso meio e na
nossa vida (Êxodo 40:34-38; II Crônicas 7:1-3).
3. Tomamos consciência da nossa pecaminosidade e da nossa
dependência da graça divina (Isaías 6:1-5; Lucas 18:9-14).
4. Somos instruídos e orientados por Deus, por meio da Palavra (Neemias
8:1-12; II Reis 23:1-3).
5. Recebemos salvação e libertação (II Crônicas 20:18-30; Mateus 15:21-28;
Atos 12:1-11).
6. Somos motivados à santificação e a consagração (Gênesis 28:18-22; Atos
13:1-3).
7. Sentimos a necessidade de testemunhar e falar de Jesus (Atos 4:23-31).

Conclusão do capítulo

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Concluímos este capítulo aprendendo cinco importantes lições:

1. Adorar é servir e não ser servido;


2. Adorar é um ato de amor que envolve a vida inteira do adorador;
3. Adorar é uma atitude interna que se expressa numa conduta externa.
4. Deus não precisa de adoração, mas nós precisamos adorá-Lo.
5. O principal resultado da adoração é a satisfação em agradar a Deus e
fazer a Sua vontade.

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Capítulo Dois
por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

A Adoração no Antigo Testamento

Os cultos oferecidos pelos crentes no Antigo Testamento podem ser


classificados em:
individual, familiar e congregacional ou coletivo.

Até a saída do Egito e a constituição da nação de Israel, predominou o


culto individual, marcado por encontro ou revelações especiais de Deus
a uma pessoa, culminando com a edificação de pequenos altares
(Gênesis 8:20; 12:7-8; 13:18; 26:25; 28:18-22; 33:20; 35:7,14-15; Êxodo 3:2-5).
Não era uma adoração formal ou ritualística. A adoração era espontânea,
resultado de uma manifestação divina. O encontro de Deus com o
adorador era, na sua maioria, por iniciativa de Deus e marcado por muita
reverência e temor.

John Frame declara: “Esses encontros foram muito diferentes uns dos
outros, mas há semelhanças importantes entre eles. Deus apresentava-
se em sua majestade como Senhor. O adorador era tomado por um
temor reverente. O controle, a autoridade e a presença do Senhor
impunham-se com absoluta evidência. Sua força e o seu poder eram
esmagadores; falava uma palavra de autoridade e revelava-se na
presença do adorador. Este não permanecia o mesmo. Saía da
experiência com uma nova missão: servir a Deus com renovada
dedicação”.

Até chegarmos ao Monte Sinai, examinaremos duas passagens bíblicas.


Nelas encontraremos princípios permanentes sobre cultuar a Deus.

O culto que agrada a Deus (Gênesis 4:1-7)

O primeiro culto oferecido a Deus registrado no A.T. foi realizado pelos


irmãos Caim e Abel. O texto registra: “Coabitou o homem com Eva, sua
mulher. Esta concebeu e deu à luz a Caim; então, disse: Adquiri um varão
com o auxílio do SENHOR. Depois, deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi
pastor de ovelhas, e Caim, lavrador. Aconteceu que no fim de uns
tempos trouxe Caim do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. Abel, por
sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste.
Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e
de sua oferta não se agradou. Irou-se, pois, sobremaneira, Caim, e
descaiu-lhe o semblante. Então, lhe disse o SENHOR: Por que andas
irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é
certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz

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à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo.” (Gênesis
4:1-7).

Quatro princípios aprendemos neste texto:

1. O objetivo do culto é agradar a Deus. E sem fé é impossível agradá-


Lo (Hebreus 11:6). O culto oferecido por Abel foi por meio da fé
(Hebreus 11:4).
2. O culto que agrada a Deus é uma expressão da vida de quem
oferece. Deus agradou-se de Abel e de sua oferta e desgradou-se
de Caim e de sua oferta (confiraI João 3:12; Hebreus 11:4).
3. Devemos oferecer o melhor a Deus. Abel ofertou das primícias do
seu rebanho (ConfiraDeuteronômio 26:1-11).
4. Deus recompensa os adoradores. Deus diz para Caim que ele seria
aceito caso procedesse bem. Ser aceito por Deus é a maior bênção
que uma pessoa pode receber (Levítico 22:29; Isaías 56:7).

O cântico de Moisés e dos filhos de Israel (Êxodo 15:1-21)

Moisés e todos os filhos de Israel celebraram coletivamente a saída do


Egito, efetivada pelo triunfo sobre Faraó e o seu exército. Aquela
celebração é considerada um ato espontâneo de adoração. Eles não
estavam cumprindo uma ordem de Deus ou seguindo um ritual. A
salvação ou a libertação concedida por Deus gerou adoração (Salmos
40:1-3).

A passagem pode ser dividida em duas partes: 15:1-18, o cântico de


Moisés e dos filhos de Israel; 15:19-21, o cântico entoado por Miriã e todas
as mulheres.

1 Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e


falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou;
lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.
2 O SENHOR é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação;
este é o meu Deus, portanto lhe farei uma habitação; ele é o Deus de
meu pai, por isso o exaltarei.
3 O SENHOR é homem de guerra; o SENHOR é o seu nome.
4 Lançou no mar os carros de Faraó e o seu exército; e os seus escolhidos
príncipes afogaram-se no Mar Vermelho.
5 Os abismos os cobriram; desceram às profundezas como pedra.
6 A tua destra, ó SENHOR, se tem glorificado em poder, a tua destra, ó
SENHOR, tem despedaçado o inimigo;
7 E com a grandeza da tua excelência derrubaste aos que se levantaram
contra ti; enviaste o teu furor, que os consumiu como o restolho.
8 E com o sopro de tuas narinas amontoaram-se as águas, as correntes
pararam como montão; os abismos coalharam-se no coração do mar.
9 O inimigo dizia: Perseguirei, alcançarei, repartirei os despojos; fartar-
se-á a minha alma deles, arrancarei a minha espada, a minha mão os
destruirá.
10 Sopraste com o teu vento, o mar os cobriu; afundaram-se como
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chumbo em veementes águas.
11 Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu
glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?
12 Estendeste a tua mão direita; a terra os tragou.
13 Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a
tua força o levaste à habitação da tua santidade.
14 Os povos o ouviram, eles estremeceram, uma dor apoderou-se dos
habitantes da Filistia.
15 Então os príncipes de Edom se pasmaram; dos poderosos dos
moabitas apoderou-se um tremor; derreteram-se todos os habitantes de
Canaã.
16 Espanto e pavor caiu sobre eles; pela grandeza do teu braço
emudeceram como pedra; até que o teu povo houvesse passado, ó
SENHOR, até que passasse este povo que adquiriste.
17 Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar
que tu, ó SENHOR, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó
Senhor, que as tuas mãos estabeleceram.
18 O SENHOR reinará eterna e perpetuamente;
19 Porque os cavalos de Faraó, com os seus carros e com os seus
cavaleiros, entraram no mar, e o SENHOR fez tornar as águas do mar
sobre eles; mas os filhos de Israel passaram em seco pelo meio do mar.
20 Então Miriã, a profetiza, a irmã de Arão, tomou o tamboril na sua mão,
e todas as mulheres saíram atrás dela com tamboris e com danças.
21 E Miriã lhes respondia: Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente
triunfou; e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro.

Este trecho narra o primeiro ato de culto a Deus, prestado pelo Seu povo
após a saída do Egito. Ele contém alguns princípios importantes acerca
da adoração.

1. Quem são os participantes deste culto? Moisés e os filhos de Israel,


isto é, participam do culto todos aqueles que saíram do Egito, e
passaram a pé enxuto pelo mar vermelho. São os resgatados ou
redimidos do Senhor. “Então cantou Moisés e os filhos de Israel
este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo.” (Êxodo 15:1). Adorar a
Deus é um privilégio exclusivo dos seus filhos.
2. Quem é o objeto do culto? Deus, o SENHOR é o receptor e o
assunto deste ato de adoração. “Cantarei ao SENHOR …” (v. 2) Os
vinte e um versos que compõem esta canção são todos sobre o
que Deus é e fez. Eles cantam a Deus e sobre Deus. Esta é a
principal característica do culto verdadeiro. Deus é o tema e o
objeto do nosso culto.
3. Qual é a razão ou intenção deste culto? Naquela ocasião de
conquista, quando Faraó foi derrotado com todo o seu exército, a
pessoa de Deus estava sendo exaltada. Deus é a razão de qualquer
ato de adoração. A intenção do adorador deve ser a exaltação do
nome do SENHOR!

 Deus é superior a Faraó e ao poderoso exército do Egito – 15:2-10

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 Deus é incomparável em Glória, Santidade e Poder – 15:11-12
 Deus conduzirá o seu povo para um lugar especial – 15:13-17
 Deus é o Rei Eterno – 15:18-19

Destaque: A dança das mulheres

Os dois últimos versículos narram o cântico de Miriam: “A profetisa Miriã,


irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás
dela com tamborins e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantai ao
SENHOR, porque gloriosamente triunfou e precipitou no mar o cavalo e
o seu cavaleiro.” (Êxodo 15:20-21)

Primeiro, Miriã é identificada com uma profetisa (Juízes 4:4). Na época


de Davi, os músicos profetizavam por meio da música: “Quanto à família
de Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias e Matitias, seis,
sob a direção de Jedutum, seu pai, que profetizava com harpas, em
ações de graças e louvores ao SENHOR.” (I Crônicas 25:3).

Segundo, o cântico de Miriã reproduz uma prática da época. As


mulheres normalmente cantavam e dançavam por ocasião de vitórias
militares (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34). No período da restauração
de Israel, época de Esdras e Neemias, as mulheres foram incluídas como
cantoras do templo (Esdras 2:65; Neemias 7:67).

O cântico de Miriã nada acrescenta ao cântico litúrgico de Moisés e dos


filhos de Israel: “Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou e
precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” (15:21). A dança praticada
por Miriã e pelas mulheres não foi um ato de culto e nem foi incorporada
no culto do Antigo Testamento.

A adoração nos Dez Mandamentos

Três meses após a saída do Egito, Deus faz uma aliança com Israel:
“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a
minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos
os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes
e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. Veio
Moisés, chamou os anciãos do povo e expôs diante deles todas estas
palavras que o SENHOR lhe havia ordenado. Então, o povo respondeu a
uma: Tudo o que o SENHOR falou faremos. E Moisés relatou ao SENHOR
as palavras do povo.” (Êxodo 19:5-8).

Israel torna-se um reino de sacerdotes e uma nação santa (I Pedro 2:9-10;


Apocalipse 1:6; 5:10; 20:6). E uma das ocupações principais do povo de
Deus é a adoração. Os primeiros princípios para a adoração a Deus
aparecem na lei moral. Em Êxodo 20:1-17 temos os “Dez Mandamentos”.
Os quatro primeiros mandamentos referem-se ao relacionamento do
homem com Deus. Destacaremos os dois primeiros mandamentos:

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“Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que
te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses
diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança
alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas
águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque
eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos
pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me
aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam
e guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20:1-6).

Dois princípios para o culto são estabelecidos:

1 – Não terás outros deuses diante de mim. A Quem devemos adorar?


Adoremos a Deus! O Deus da Bíblia é o único Deus e Ele abomina o culto
a outro deus (Isaías 48:11). A expressão “diante de mim” significa
literalmente “perante a minha face” ou “na minha presença”. Deus é
zeloso e reivindica adoração exclusiva.

2 – Não farás para ti imagem de escultura. Como devemos adorar? Não


devemos adorar a Deus pela nossa imaginação, mas de acordo com a
Sua revelação escrita – a Bíblia. Qualquer imagem é uma projeção da
mente humana e uma deturpação da verdadeira identidade de Deus.

As Escrituras delineiam, conforme J.MacArthur Jr., pelo menos quatro


categorias inaceitáveis de culto:

 Cultuar falsos deuses: a humanidade pecadora rejeita o Deus


verdadeiro e se volta de forma irresistível ao culto falso. (Romanos
1:21,23).
 Cultuar de forma errada o Deus verdadeiro: Os teólogos de
Westminster declaram que “o modo aceitável de adorar o
verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e é tão limitado pela
Sua própria vontade revelada, que Ele não pode ser adorado
segundo as imaginações e invenções dos homens, de qualquer
outro modo não prescrito nas Santas Escrituras” (veja
Deuteronômio 12:32; Mateus 15:9; Atos 17:24-25; Êxodo 20:4-5;
Colossenses 2:20-23).
 Cultuar à nossa própria maneira o Deus Verdadeiro: Cultuar a Deus
à nossa maneira constitui-se uma abominação. Em se tratando de
culto, tudo o que as Escrituras não ordenam expressamente é
proibido (Deuteronômio 4:2; 12:32). Há muita coisa sendo
introduzida ao culto hoje, que Deus não estabelece em Sua
Palavra. É tradição humana (Mateus 15:3). A base do culto é a Bíblia.
 Cultuar com atitude errada: O culto verdadeiro requer o
envolvimento total do adorador Devemos oferecer o melhor para
Deus. Não podemos tratar o culto com irreverência, desrespeito e
desprezo. Deus odeia e abomina o culto que é prestado com
atitudes erradas. Leia com atenção: Amós 5:21-24; Oséias 6:4-6;
Isaías 1:11-15.

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A adoração na lei cerimonial

Israel era o povo da Aliança. Deus revelou a Israel três leis que
regulamentariam a aliança. Estas leis são classificadas em Lei Moral, Lei
Civil e Lei Cerimonial.

O “modus operandi” do culto está na Lei Cerimonial, resumida no


Código Sacerdotal (livro de Levítico). Deus regulamentou cada detalhe
do culto e o livro de Levítico começa assim: “Chamou o SENHOR a
Moisés e, da tenda da congregação lhe disse: Fala aos filhos de Israel e
dize-lhes.” (Levítico 1:1). Observe que o livro é o registro de instruções
dadas diretamente por Deus a Moisés (Êxodo 25:9), de dentro do
Tabernáculo (Êxodo 40:34-38; Hebreus 8:5). Nada no culto a Deus foi
copiado das nações pagãs e a marca fundamental do culto a Deus é a
santidade. Seis características do culto santo:

Era oferecido ao Deus Santo

O atributo da santidade de Deus é o princípio determinante da


adoração. “Disse o SENHOR a Moisés: Fala a toda a congregação dos
filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso
Deus, sou santo.” (Levítico 19:1-2). Veja também Josué 24:19; I Samuel
6:20; Isaías 6:1-3; Salmos 99. A santidade de Deus é o atributo que
delineia a adoração na Velha Aliança.

A santidade de Deus pode ser definida como “aquela perfeição de Deus


em virtude da qual Ele eternamente determina e mantém a Sua própria
excelência moral, aborrece o pecado, e exige pureza de suas criaturas
morais” (L. Berkhof).

Era oferecido por intermédio de oferta santa

A oferta por meio dos holocaustos ou sacrifícios foram estabelecidos


pelo Senhor. Os sacrifícios eram a base da santificação. Por meio deles
realizavam-se a propiciação dos pecados, e três lições eram ensinadas:
primeira, o pecado ofendia a Deus e desencadeava a sua ira e punição –
o salário do pecado é a morte; segunda, a ira de Deus era suspensa ou a
sua justiça propiciada, somente através do sacrifício cruento – sem o
derramamento de sangue não há remissão de pecado; terceira, todos os
sacrifícios e ofertas eram tipos do único sacrifício que tira o pecado e
estabelece a nossa comunhão com Deus – o sacrifício de Jesus (Levítico
17:11; João 1:29; Hebreus 9:25-26; 10:5-7,14).

A exigência fundamental da oferta de holocausto era que fosse “sem


defeito”: “Se a sua oferta for holocausto de gado, trará macho sem
defeito” (Levítico 1:3). Somente animais domésticos sem nenhum defeito
deveriam ser oferecidos. Deus rejeitou o culto com ofertas defeituosas
(Malaquias 1:12-14).

Era oferecido num lugar/espaço santo


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Ao regulamentar o culto no Antigo Testamento, Deus estabeleceu um
lugar central para a adoração. “Guarda-te, não ofereças os teus
holocaustos em todo lugar que vires; mas, no lugar que o SENHOR
escolher numa das tuas tribos, ali oferecerás os teus holocaustos e ali
farás tudo o que te ordeno.” (Deuteronômio 12:13-14) O lugar onde Deus
se revelava foi chamado de “terra santa” (Êxodo 3:5; Atos 7:33).

O tabernáculo (Êxodo 25:8; 29:31) e o templo (Salmos 79:1; Isaías 64:11)


foram os lugares separados para o culto.

Era oferecido por pessoas santas

O povo de Israel foi identificado como “povo santo”: “Porque sois povo
santo ao SENHOR, vosso Deus, e o SENHOR vos escolheu de todos os
povos que há sobre a face da terra, para lhe serdes seu povo próprio.”
(Deuteronômio 14:2).

Dentre o povo escolhido, Deus escolheu aqueles que iriam trabalhar no


serviço do culto: os levitas (Números 1:47-54; 3:1-39), e família de Arão,
para o sacerdócio (Êxodo 28:1-2; Levítico 8:1-36).

Quando Davi organizou o ministério da música no Templo, as famílias de


Asafe, Hemã e Jedutum foram escolhidas para dirigir os cantores e
músicos (I Crônicas 25).

Era oferecido em tempo santo

O tempo santo já foi estabelecido por Deus no quarto mandamento por


meio da guarda do sábado (Êxodo 20:8-11). Ele também estabeleceu as
“festas santas”: “Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-
lhes: As festas fixas do SENHOR, que proclamareis, serão santas
convocações; são estas as minhas festas.” (Levítico 23:1-2). As festas eram
em número de sete: festa da páscoa, festa dos pães asmos, festa das
primícias, festa do pentecostes ou festa das semanas, festa das
trombetas, o “dia da expiação” e a festa dos tabernáculos (Levítico 23:3-
44). Além destas festas, os judeus guardavam “O ano sabático” e o “ano
do Jubileu” (Levítico 25).

Era oferecido em objetos santos

O culto era oferecido usando objetos denominados de “coisas santas”:


“Havendo, pois, Arão e seus filhos, ao partir o arraial, acabado de cobrir o
santuário e todos os móveis dele, então, os filhos de Coate virão para
levá-lo; mas, nas coisas santas, não tocarão, para que não morram; são
estas as coisas da tenda da congregação que os filhos de Coate devem
levar.” (Números 4:15).

Todos os objetos e utensílios usados no culto eram exclusivos, separados


do uso comum para uso especial. A profanação do culto deu-se
principalmente com a profanação das pessoas, do tempo e das coisas

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santas: “Os seus sacerdotes transgridem a minha lei e profanam as
minhas coisas santas; entre o santo e o profano, não fazem diferença,
nem discernem o imundo do limpo e dos meus sábados escondem os
olhos; e, assim, sou profanado no meio deles.” (Ezequiel 22:26).

Em síntese, o culto da velha aliança é prestado ao Deus Santo, por meio


de oferta santa, por pessoas santas, em tempos e lugares santos,
utilizando objetos santos. A profanação do culto e as suas trágicas
conseqüências fizeram parte da história de Israel, no período que vai de
Moisés até Malaquias.

Acidentes relacionados ao culto

O código sacerdotal exigia obediência irrestrita aos mandamentos


cerimoniais. Qualquer transgressão de um princípio cerimonial
desencadeava o julgamento punitivo de Deus. Vejamos alguns
exemplos:

Fogo estranho – Nadabe e Abiú eram dois filhos consagrados de Arão


(Êxodo 24:1). Eles foram reprovados por Deus quando ofereceram fogo
estranho ao Senhor. (Levítico 10:1-3).

A rejeição de Saul – Saul desobedeceu ao mandamento de Deus ao


assumir as funções sacerdotais de Samuel. O rei jamais poderia assumir
a função sacerdotal. (I Samuel 13:13-14) Saul repete o mesmo erro
desobedecendo ao mandamento de Deus, justificando que a sua
intenção era boa: sacrificar o melhor para Deus.Porém Samuel disse:
“Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios
quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor
do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros.
Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a
idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do SENHOR,
ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (I Samuel 15:22-24).

Davi e Uzá – Quando Davi resolveu trazer a Arca para Jerusalém, deveria
ter obedecido aos mandamentos de transporte da arca (Êxodo 25:14;
Números 4:1-6). Davi, porém, colocou a arca num “carro de bois”. Os
animais tropeçaram e Uzá foi segurar a arca, quando foi ferido pelo
Senhor (I Crônicas 13:9-14). Davi aprendeu a lição que somente os levitas
poderiam transportar a arca, segundo o mandamento cerimonial (I
Crônicas 15:1-3).

Os reis de Israel e Judá – O sucesso dos reis de Israel e Judá sempre


esteve relacionado ao culto a Deus. A profanação do sagrado sempre foi
duramente castigada pelo Senhor:

 Reino Norte:
o Jeroboão – I Reis 12:25-33; 13:1-10, 33-34; I Reis 16:2,19,2,30-33;
o Acabe – I Reis 21:25-26;
o Jeú – II Reis 10:16,28-31;

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o Oséias – II Reis 17:1-23, 29-41.

 Reino Sul:
o Roboão – I Reis 14:21-31;
o Asa – I Reis 15:12-14;
o Josafá – I Reis 22:43; II Crônicas 17:3-4; I Reis 22:46;
o Jeorão – II Crônicas 21:5-20; 22:11-12;
o Joás – II Crônicas 24:19-21;
o Acaz – II Crônicas 28:1-4; 22-25;
o Ezequias – II Crônicas 29-31.

A adoração nos Salmos

O livro dos Salmos é um livro de adoração. São cento e cinqüenta


composições musicais que formam o “Hinário de Israel”. Os judeus
chamam-no de “o livro de louvores”. A palavra “Salmos” (mizmer –
hebraico), significa “cânticos”.

O livro dos Salmos está estruturado em cinco livros:

 Livro I – do 1 a 41;
 Livro II – 42 a 72;
 Livro III – do 73 a 89;
 Livro IV – 90 a 106;
 Livro V – do 107 a 150.

Cada livro é encerrado com uma doxologia de adoração a Deus.

Os autores dos Salmos são diversos:

 Davi 75,
 Asafe 12;
 Moisés 1,
 Hemã 1;
 Etã 1; e
 60 são anônimos.

O livro dos Salmos começa apontando o segredo da felicidade: “Bem-


aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se
detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei
medita de dia e de noite.” (Salmos 1:1-2). E é encerrado com uma
exortação: “Todo ser que respira louve ao Senhor. Aleluia!” (Salmos 150:6).

É possível construirmos uma teologia da adoração a partir do livro dos


Salmos?

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Observamos nos Salmos uma teologia do culto que enfatiza mais o
aspecto da adoração espiritual, do que a sacrifical. A última sem a
primeira é totalmente vã. Apesar de os autores estarem ligados ao culto
cerimonial levítico (Salmos 20:3; 51:19; 66:13-15), eles afirmam que o
cerimonial não tem valor se não vier acompanhado de uma vida piedosa
(Salmos 40:6; 51:16). Deus se agrada de uma vida reta (Salmos 15), do
louvor e gratidão (Salmos 50:14, 23), do espírito quebrantado (Salmos
51:16-17), da obediência sincera (Salmos 40:6-8) de uma vida
comprometida com a Palavra de Deus (Salmos 1 e Salmos 119).

Examinaremos dois Salmos que falam da adoração no templo e fora


dele.

Salmo 100

1 Celebrai com júbilo ao SENHOR, todas as terras.


2 Servi ao SENHOR com alegria; e entrai diante dele com canto.
3 Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós
mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
4 Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor;
louvai-o, e bendizei o seu nome.
5 Porque o SENHOR é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade
dura de geração em geração.

Este salmo é chamado de “hino de ingresso ao templo”. É um convite


para adoração coletiva:

 Conceito de adoração: Adoração é celebração (fazer ou promover,


comemorar, festejar), serviço (exercer a função de servo) e
apresentação ( a + presentear = pôr diante, à vista ou na presença
de) (v. 1).
 O objeto da adoração: o objeto da adoração é o SENHOR (v. 1, 2, 3 e
5). Adoração somente a Deus.
 Os adoradores: “Todas as terras”. Profeticamente, o salmista fala da
igreja com pessoas de toda raça e nação. “E todos os reis se
prostrem perante ele; todas as nações o sirvam.” (Salmos 72:11).
 Como devemos adorar: com júbilo, com alegria, com cânticos, com
ações de graças e com hinos de louvor. São sacrifícios de louvor e
ações de graças (Salmos 107:22; 116:17; I Crônicas 16:31). A natureza
do culto cristão é a alegria, que se expressa por meio da música
que brota de um coração alegre e agradecido. Deus é feliz e deseja
adoradores felizes (Deuteronômio 30:9; Salmos 16:11; Sofonias 3:17;
Lucas 15:5-6,23,32).
 Por que devemos adorar: o fundamento do culto verdadeiro é o
conhecimento de quem é Deus: “Sabei que o SENHOR é Deus” (v.
3). Jesus disse que nós adoramos o que conhecemos (João 4:22).
Quem é Deus? O salmista responde: Ele é o Criador, Ele é o nosso
Pastor, Ele é bom, Ele é Misericordioso e Ele é Fiel. Observe que as
razões da adoração acham-se em Deus, naquilo que Ele é e faz.

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 Onde devemos adorar: O salmista convida-nos a adorar no templo.
As expressões “entrai por suas portas” e “nos seus átrios” indicam o
templo (Salmos 84).

SALMO 150

1 Aleluia! Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no firmamento do seu


poder.
2 Louvai-o pelos seus atos poderosos; louvai-o conforme a excelência da
sua grandeza.
3 Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o com o saltério e a harpa.
4 Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de
cordas e com órgãos.
5 Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos
altissonantes.
6 Tudo quanto tem fôlego louve ao SENHOR. Aleluia!

Se o salmo 100 fala do louvor da igreja, no templo, o Salmo 150 fala do


louvor cósmico, universal, extensivo a toda criação. Ele é a doxologia
universal que encerra o livro dos Salmos. É uma exortação para que todo
ser que respire louve ao Senhor.

 Onde louvar (v. 1): “Louvai a Deus no seu santuário; louvai-o no


firmamento, obra do seu poder.” A Bíblia fala dos “santuários de
Deus”: “Ó Deus, tu és tremendo nos teus santuários.” (Salmos
68:35). A ideia aqui é de que Deus deve ser louvado onde Ele se
fizer presente. “Santuário” e “firmamento” indicam que Deus deve
ser louvado até onde o seu poder se estende (I Reis 8:39,43). No
Salmo 148, o louvor a Deus brota “do alto dos céus” – anjos, legiões
celestes, sol, lua, estrelas luzentes, céus dos céus, e águas que
estão acima do firmamento (v. 1-6) “e da terra” – monstros
marinhos, todos os abismos, fogo e saraiva, neve e vapor, ventos
procelosos, montes, outeiros, árvores frutíferas, cedros, feras,
gados, répteis, voláteis, reis da terra, todos os povos, príncipes,
juízes, rapazes, donzelas, velhos, crianças e o povo de Deus . (v. 7-
14).
 Por que louvar (v.2): “Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o
consoante a sua muita grandeza.” Temos aqui duas razões
fundamentais para a adoração. O que Deus faz (seus feitos) e o que
Deus é (grandioso). Estas duas razões são a base da adoração na
Bíblia e aparecem muitas vezes nos Salmos. (Salmos 117; 95; 107;
146).
 Com que louvar (v. 3-5): “Louvai-o ao som da trombeta; louvai-o
com saltério e com harpa. Louvai-o com adufes e danças; louvai-o
com instrumentos de cordas e com flautas. Louvai-o com címbalos
sonoros; louvai-o com címbalos retumbantes.“

O texto fala de louvor com instrumentos musicais. Instrumentos de


sopro, instrumentos de corda e instrumentos de percussão. O louvor
com instrumentos é especificamente para o homem.
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Um ponto muito discutido aqui é o significado do termo “dança”
(machowal). “Louvai-o com adufes e danças“. Esta expressão aparece
também no Salmo 149:3.

Primeiro, alguns estudiosos questionam a tradução da palavra


“machowal” como “dança”. Defende-se que “machowl” deriva de
“chuwl” que significa “fazer uma abertura”, uma possível alusão a um
instrumento de “tubos”, uma espécie de “órgão”.

Na realidade esta é a versão de rodapé dada pela King James Version. O


Salmo 149:3 declara: “Louvem-lhe o nome com danças” [ou “com órgão“,
no rodapé da KJV]. Em Salmos 150:4 lemos: “Louvai-O com adufes e com
danças” [ou “órgão“, rodapé da KJV].

Segundo, é de fato estranho que no meio de uma relação de


instrumentos,apareça uma “expressão física”. Observe que em ambos os
textos, Salmos 149:3 e 150:4, o termo ocorre no contexto de uma lista de
instrumentos a serem usados no louvor ao Senhor. No Salmo 150 a lista
possui oito instrumentos: trompete, saltério, harpa, adufes, instrumentos
de corda, órgãos, címbalos sonoros, címbalos retumbantes (KJV). É mais
lógica a tradução de machowal como um instrumento musical, seja qual
for a sua natureza.

A palavra hebraica mechowlah é traduzida como dança sete vezes. Em


cinco das sete ocorrências a dança é feita por mulheres na celebração
de uma vitória militar (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34; Êxodo 15:20).
Miriam e as mulheres dançaram para celebrar a vitória sobre o exército
egípcio (Êxodo 15:20). A filha de Jefté dançou para celebrar a vitória de
seu pai sobre os amonitas (Juízes 11:34). Mulheres dançaram para
celebrar a matança dos Filisteus por Davi (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5).

Nas duas ocorrências restantes, mechowlah é usada para descrever a


dança dos Israelitas, nus, ao redor do bezerro de ouro (Êxodo 32:19) e a
dança das filhas de Siló nas vinhas (Juízes 21:21). Em nenhum destes
exemplos a dança é parte de um serviço de adoração.

 Quem deve louvar (v. 6): “Todo ser que respira louve ao SENHOR.
Aleluia!” A exortação é para todos: animais, aves, répteis ou todos
aqueles “em que há o fôlego da vida”, incluindo o homem. (Gênesis
1:30; 2:7). Sabemos que a fauna e a flora compõem-se de seres vivos
(ou que respiram). “Todo ser” = todo ser criado, criatura (Gênesis
7:22 e Apocalipse 5:13). A criação animada e inanimada louva ao
Senhor. (Salmos 96:11-13; 98:8; 103:22; 104:12; Isaías 44:23).

Chegamos ao final deste capítulo com alguns princípios sobre adoração:

 Primeiro, a adoração verdadeira é somente para Deus e deve ser


prestada com o objetivo de agradá-lo.

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 Segundo, a adoração que agrada a Deus é uma extensão da vida
do adorador. O cumprimento de um ritual só é aceito por Deus, se
vier acompanhado de uma conduta piedosa e justa.
 Terceiro, é Deus quem estabelece a maneira ou como Ele quer ser
adorado. E uma exigência fundamental de Deus é a excelência. Ele
quer o melhor.

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Capítulo Três
por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

A Adoração na Nova Aliança

Cremos que o ensino do culto na Bíblia acompanha uma simultaneidade


a revelação progressiva de Deus, culminando com Jesus Cristo. "Mas
vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para
seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o
adorem em espírito e em verdade." (João 4:23-24). Logo, ao estudarmos
acerca do culto, precisamos considerar as diferenças entre o culto no
Antigo Testamento e no Novo Testamento, isto é, o culto antes de Cristo
e depois de Cristo. O conceito de culto relaciona-se diretamente com a
doutrina da Aliança.

A nova aliança

A palavra "aliança", "diathéke", no grego, significa "pacto", "concerto", ou


"testamento". É por meio de uma aliança que Deus declara a sua
vontade soberana e estabelece a sua maneira graciosa de se relacionar
conosco. Sem as alianças, não haveria relacionamento do homem com
Deus.

A adoração no Antigo Testamento, na velha aliança, foi temporária,


imperfeita e apenas uma sombra da adoração que seria estabelecida por
Jesus, na Nova Aliança: "Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido
sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma
segunda." (Hebreus 8:7). O sistema sacrifical era "sombra" ou "parábola":
"É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se
oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à
consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto,
os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em
comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo
oportuno de reforma." (Hebreus 9:9-10).

A adoração cristã fundamenta-se na Nova Aliança: "Quando, porém, veio


Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e
mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta
criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu
próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo
obtido eterna redenção. Portanto, se o sangue de bodes e de touros e a
cinza de uma novilha, aspergidos sobre os contaminados, os santificam,
quanto à purificação da carne, muito mais o sangue de Cristo, que, pelo
Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a

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nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!"
(Hebreus 9:11-14).

Jesus Cristo veio. Ele é a base da Nova Aliança. Quais foram as mudanças
na adoração?

 Jesus Cristo é o único, perfeito e eterno sumo sacerdote de Deus


(Hebreus 5:1-7).
 Jesus Cristo realizou o único, definitivo, perfeito e eficaz sacrifício
para tirar os pecados do seu povo (Hebreus 9:11-28). Ele põe fim aos
sacrifícios da Antiga Aliança.
 Jesus Cristo é o cumprimento de toda a lei cerimonial. Ele é o
tabernáculo (João 1:14; 2:19-22), Ele é o Cordeiro de Deus (Hebreus
10:1-18) e Ele é o novo mediador entre Deus e os homens (I Timóteo
2:5).

Está franqueada ao crente a comunhão com Deus, pelo novo e vivo


caminho aberto por Jesus Cristo (Hebreus 10:19-22). "Portanto,
ofereçamos sempre por Ele (Jesus Cristo) a Deus sacrifício de louvor"
(Hebreus 13:15a). O culto cristão ou na Nova Aliança apresenta as
seguintes características:

 O culto cristão é oferecido a Deus, como expressão de fé (Hebreus


10:38; 11:6; 13:15).
 O culto cristão é mediado por Jesus Cristo, um sumo sacerdote que
se identifica com os adoradores (Hebreus 2:12-13; João 17:24; Mateus
18:20).
 O culto cristão é aceito por Deus, porque Cristo fez de seus
seguidores sacerdotes de Deus. (Apocalipse 1:5-6; 5:8-10; I Pedro
2:9).
 O culto cristão é o envolvimento total da vida do adorador.
(Romanos 12:1-2).
 O culto cristão não deve ser profanado, mas oferecido com
reverência e temor (Hebreus 10:28-31; 12:28-29).

A adoração que agrada a Deus

O culto precisa ser agradável a Deus. Os sacrifícios feitos no Antigo


Testamento subiam como "aroma agradável a Deus" (Levítico 1:9,13,17;
Números 15:3; 28:6). O adjetivo "agradável" também é aplicado no culto
do Novo Testamento. "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de
Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável
a Deus, que é o vosso culto racional." (Romanos 12:1). A ideia de Paulo é
que o culto cristão é a oferta da nossa vida como um sacrifício agradável
a Deus, semelhante aos sacrifícios do Antigo Testamento.

É a mesma ideia utilizada para descrever a oferta dos filipenses: "Recebi


tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me
passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como

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sacrifício aceitável e aprazível a Deus." (Filipenses 4:18). Veja outros
textos: Romanos 14:18; 15:16 e Hebreus 12:28.

A adoração que agrada a Deus possui algumas características:

1 – Fundamenta-se no conhecimento: Jesus esclarece: "Vós adorais o que


não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação
vem dos judeus." (João 4:22). A adoração verdadeira baseia-se no
conhecimento. Deus só pode ser adorado se for conhecido. O salmista
convoca o povo de Deus para adoração dizendo: "Sabei que o SENHOR é
Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do
seu pastoreio." (Salmos 100:3). Quando conhecemos quem Deus é e
aquilo que Ele faz, somos motivados a adorá-Lo. Confira: Salmos 106:1;
107:1; 118:1; 136:1.

O apóstolo Paulo ensinou este princípio aos Atenienses: "Porque,


passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um
altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que
adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio." (Atos
17:23). Paulo descreve, então, quem Deus é o que Ele fez e fará (Atos
17:24-31). Há uma frase em latim que sintetiza esta verdade: Lex
credendi, lex orandi (aquilo em que cremos, determina como oramos).

Este conhecimento é de natureza espiritual e possível somente por meio


de Jesus: "Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho,
senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o
Filho o quiser revelar." (Mateus 11:27).

2 – É em espírito e em verdade

O texto fundamental para compreendermos o conceito de culto no


Novo Testamento é o de João 4:20-24: "Nossos pais adoravam neste
monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve
adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando
nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que
não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação
vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes
que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que
os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade." (João 4:20-24).

A verdadeira adoração inaugurada por Jesus Cristo é "em espírito e em


verdade". O que significa isso?

"Em Espírito" significa:

 A adoração é interna e do coração. Não se prende mais a lugares


sagrados, pois o crente é santuário de Deus (I Coríntios 6:19-20; I
Pedro 2:5).

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 A adoração é simples. Não se prende mais aos rituais da lei
cerimonial (Hebreus 10:19-22).
 A adoração é reverente. A reverência e um santo temor e respeito à
pessoa de Deus (Hebreus 12:28).
 A adoração é no Espírito Santo (Filipenses 3:3). Ninguém pode
adorar sem a ajuda do Espírito Santo (I Coríntios 12:3).

"Em Verdade" significa:

 A adoração deve ser de acordo com a Bíblia. Ela está limitada a


aquilo que é autorizado pela Escritura.
 A adoração deve ser sincera, sem falsidade. Veracidade é contrário
ao formalismo exterior (Mateus 15:8-9).

Sacrifícios espirituais

Este texto apresenta um contraste entre o culto no Antigo Testamento e


o culto do Novo Testamento: "Chegando-vos para ele, a pedra que vive,
rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa,
também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo." (I Pedro
2:4-5).

 Primeiro, o culto é fruto da união do crente com Cristo. Ele é a


Pedra viva, eleita e preciosa, e os crentes são pedras vivas.
 Segundo, a igreja é uma "casa espiritual" em contraste com o
templo do Antigo Testamento.
 Terceiro, todo crente verdadeiro é um sacerdote de Deus, no
sentido de ter acesso a Deus.
 Quarto, os sacrifícios são espirituais em contraste com o sistema
sacrifical do Antigo Testamento.
 Quinto, os sacrifícios de adoração são agradáveis a Deus por meio
de Jesus Cristo. O sacrifício de Jesus e a sua intercessão torna cada
crente aceitável a Deus, juntamente com o seu culto.

A mesma ideia é repetida pelo o autor aos Hebreus : "Por meio de Jesus,
pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de
lábios que confessam o seu nome. Não negligencieis, igualmente, a
prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais sacrifícios, Deus se
compraz." (Hebreus 13:15-16 ).

O culto na Nova Aliança:

 É por natureza um oferecimento: "…ofereçamos…"


 É dirigido a Deus: "…ofereçamos a Deus…"
 É mediado por Jesus Cristo: "Por meio de Jesus…"
 É um sacrifício espiritual: "…sacrifício de louvor…"
 É expressão de um novo estado espiritual: "…é fruto de lábios que
confessam o seu nome."
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 É confessional: "…confessam o seu nome."
 É ininterrupto: "…sempre…"
 É acompanhado por atos de amor fraternal: "Não negligencieis,
igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação; pois, com tais
sacrifícios, Deus se compraz."

Adoração Racional

O Novo Testamento apresenta cinco tipos de culto:

1. vão ou inútil (Mateus 15:7-9);


2. ignorante (Atos 17:22-23);
3. "de si mesmo" (Colossenses 2:20-23);
4. o culto verdadeiro (João 4:20-24);
5. e o culto racional (Romanos 12:1).

Paulo declara: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que


apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus,
que é o vosso culto racional." (Romanos 12:1). A expressão "culto racional"
(grego = "logiken latreian") significa culto lógico e inteligível. O culto
cristão requer entendimento: "Porque, se eu orar em outra língua, o meu
espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera. Que farei, pois?
Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o
espírito, mas também cantarei com a mente." (I Coríntios 14:14-15).

O Salmo 150 diz: "todo ser que respira louve ao Senhor." Os animais, as
plantas e os homens respiram. Cada um, porém, é de uma espécie
diferente. O homem, ser racional, deve louvar a Deus utilizando-se da
sua mente.

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Capítulo Quatro
por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

Os Elementos do Culto Cristão

Os elementos do culto são os meios usados pelo adorador para


expressar o culto. São as "formas e funções por meio das quais a
recepção ea ação litúrgica se efetivam e, mediante sua cooperação
orgânica, suscitam e expressam o evento cultual" (O. Haendler).

No Antigo Testamento todos os elementos do culto são detalhadamente


apresentados por Deus, no Código Sacerdotal. O tabernáculo com todos
os seus móveis, os sacrifícios, os sacerdotes (roupas, funções etc.) e as
festas e cerimônias religiosas. Nada poderia ser alterado, mas obedecido
rigorosamente.

O Novo Testamento, porém, não apresenta de forma explícita os


elementos do culto. Em Atos 2:42: "E perseveravam na doutrinados
apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações." Este texto
esclarece que o ensino da Palavra, a oração, a comunhão e a celebração
da Santa Ceia eram os elementos do culto apostólico.

No culto carismático de Corinto, Paulo busca organizar oculto: "Que


fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro,doutrina,
este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro,interpretação.
Seja tudo feito para edificação." (I Coríntios 14:26).

O consenso bíblico e teológico é que os elementos de culto são: a Bíblia,


a oração, a música, os sacramentos e as ofertas.

O Catecismo de Heidelberg usado pelas Igrejas Reformadas, diz que o


cristão deve "freqüentar assiduamente à Igreja, para ouvire aprender a
Palavra de Deus, participar dos Sacramentos, invocar publicamente ao
Senhor e contribuir para as necessidades".

Reflitamos, portanto, sobre os elementos do culto e a sua utilização hoje.

A Bíblia Sagrada

A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela é o elemento mais importante do culto


cristão, pois "todo ato cristão de adoração é sustido pela Palavra de
Deus. Sem ela o culto esvaziar-se-ia de sua substância e perderia o traço
que o separa de um culto não cristão" (J.V. Allmen). As verdades bíblicas
devem modelar o ato de culto, bem como as ideias e o comportamento
do adorador(I Samuel 15:22-23; Mateus 15:9).

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A Bíblia aparece no culto sob diversas formas. As principais são a leitura
(individual, conjunta e alternada), a pregação, o canto(congregacional,
coral, conjuntos e solos) e as saudações e bênçãos pastorais (I Timóteo
4:13; I Tessalonicenses 5:27; Apocalipse 1:3; I Coríntios 11:23-29; Lucas 4:16-
30; II Coríntios 13:13-14).

A oração

Orar é cumprir uma ordem do Senhor (Lucas 18:1 e I Tessalonicenses


5:17). Ela é indispensável ao cristão, que deve praticá-la individualmente
e coletivamente (Mateus 6:5-8 e Atos 12:12). A oração é "o privilégio
supremo dos cristãos, concedido por Deus ao elevá-los a categoria de
filhos. A oração só é possível dentro da família de Deus: é o exercer os
direitos de filhos no contexto dessa família (Romanos 8:15 e Gálatas 4:6).
Os filhos são herdeiros, participantes responsáveis, por conseguinte, de
toda a economia da família. Na família do Pai os filhos têm o direito de
tomar apalavra. A oração é, portanto, a autorização que Deus dá a que os
filhos digam o que têm a dizer com referência aos assuntos que a Ele
dizem respeito" (citado por V. Allmen).

A Bíblia nos ensina que a oração faz parte do culto particular e público.
As orações nas reuniões da Igreja devem ser uma constante hoje; como
foi no passado (Atos 1:14; Atos 4:24; Atos 12:12; Atos 21:5; Lucas 1:10; Mateus
18:19). As mesmas devem ser dirigidas a Deus (Mateus 4:10), por meio e
em nome de Jesus Cristo (Efésios 2:18; Hebreus 10:19), acompanhadas de
humildade e ação de graças (Gênesis 18:27; Filipenses 4:6; Colossenses
4:2). Podem ser feitas em silêncio e audivelmente, nas posturas diversas
(Marcos 11:25; Atos 20:36; Mateus 26:39; I Timóteo 3:8).

A música

A música também se destaca como um elemento indispensável ao


culto. A Igreja sempre usou hinos e cânticos na expressão do seu culto
(Romanos 15:9; I Crônicas 14:15; Efésios 5:19; Colossenses 3:16; Tiago 5:13;
Apocalipse 5:9; Apocalipse 14:13; Mateus 26:30).

O professor Bill Ichter, autoridade em música, descreve algumas


características da música que deve ser usada na Igreja:

a. Deve expressar uma verdade bíblica.


b. Deve expressar doutrinas corretas.
c. Deve ser caracteristicamente devocional.
d. Deve possuir boa forma literária.
e. Deve ter um bom estilo musical.
f. Deve ser apropriada à ocasião em que estiver sendo usada.
g. Deve ser adaptada ao uso da congregação.
h. Deve ser apropriada e ao alcance da capacidade dos cantores.

O apóstolo Paulo nos revela que música na Igreja deve ser composta dos
"salmos, hinos e cânticos espirituais", entoados para o louvor a Deus e a
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edificação mútua dos irmãos (Colossenses 3:16). Os três termos mostram
que a música deve ser de vários estilos musicais. Cuidado: não é
qualquer música que deve ser utilizada na Igreja, principalmente no ato
de culto.

Os sacramentos

"Os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da Graça,


imediatamente instituídos por Deus, para representar Cristo e os seus
benefícios e confirmar o nosso interesse nele, bem como para fazer uma
diferença visível entre os que pertencem à Igreja e o resto do mundo, e
solenemente obrigá-los ao serviço de Deus em Cristo, segundo a sua
palavra"(C. Fé, cap.XXVII, 1). Esta definição nos mostra que o sacramento
é "um sinal externo de uma graça interna".

Há somente dois sacramentos instituídos por Jesus: O Batismo e a Santa


Ceia (Mateus 28:19 e Mateus 26:26-30). Ambos devem ser celebrados
publicamente administrados somente pelos pastores ordenados
(Hebreus 5:4).

Ofertório

O ato de ofertar ou contribuir faz parte do culto. O ofertar sempre foi um


elemento integrante da adoração a Deus e uma expressão de fidelidade
(Deuteronômio 12:4-7; Malaquias 3:10; Marcos 12:41-44; II Crônicas 8:5;
Hebreus 13:16).

"Ninguém se iluda: o reino de Deus não se edifica com dinheiro, mas


com pessoas. Após o novo nascimento, contudo, não devemos deixar de
dar o dízimo. Não é a Igreja que precisa de dinheiro, como às vezes
dizemos. Nós é que precisamos trazer dinheiro à Igreja: nosso progresso
espiritual depende disso – II Coríntios 9:5,10" (B.Ribeiro).

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Capítulo Cinco
por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

A Música no Culto

"Deus reina! O seu trono é estabelecido em louvores. Logo, música de


adoração é eterna. Ela já existia antes da criação. Deus declara a Jó:
Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-me,
se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou
quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas
bases ou quem lhe assentou a pedra angular, quando as estrelas da alva,
juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus?"
(Jó 38:4-7).

A música nasceu na eternidade e continuará existindo após o fim da


História. Davi declara: "Nós, porém, bendiremos o SENHOR, desde agora
e para sempre. Aleluia!" (Salmos 115:18).

A música é um instrumento de louvor a Deus, um meio de expressão e


um poderoso meio de influência. Para Parcival Módulo, a música tem,
pelo menos, dois papéis importantes no culto:

 O Papel de Impressão – a música cria um ambiente próprio, uma


atmosfera que mexe com as pessoas envolvidas no culto.
 O Papel da Expressão – a música expressa aquilo que cremos, os
ensinos da Palavra de Deus. E isso acontece quando a música diz
alguma coisa junto com o texto, quando ela endossa e subsidia o
texto.

1 – A música no Antigo Testamento

A música é entoada pela criação em reconhecimento a pessoa de Deus


e a sua providência. A criação animada e inanimada canta ao Senhor.
(Salmos 96:11-13; 98:8; 103:22; 104:12; Isaías 44:23).

A música é entoada por pessoas, pelo povo de Deus (Salmos 30:4;


Salmos 95:1; Salmos 100).

A música foi instituída no culto por Deus, no reinado de Davi (II Crônicas
29:25). É consenso entre os estudiosos da música, que o ministério de
música foi instituído por Davi, logo após sua investidura como rei de
Israel, sendo, portanto, bíblico: "São estes os que Davi constituiu para
dirigir o canto na Casa do SENHOR, depois que a arca teve repouso.
Ministravam diante do tabernáculo da tenda da congregação com
cânticos, até que Salomão edificou a Casa do SENHOR em Jerusalém; e

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exercitavam o seu ministério segundo a ordem prescrita." (I Crônicas
6:31-32).

Vejamos algumas informações extraídas da Bíblia, acerca do Ministério


da Música.

Origem e organização

O rei Davi foi quem introduziu a música no culto do Antigo Testamento.


Sabemos que ele fez isso com a autorização de Deus: "Também
estabeleceu os levitas na Casa do SENHOR com címbalos, alaúdes e
harpas, segundo mandado de Davi e de Gade, o vidente do rei, e do
profeta Natã; porque este mandado veio do SENHOR, por intermédio de
seus profetas." (II Crônicas 29:25).

Podemos constatar na bíblia, que Davi organizou um ministério de


música, em três etapas:

1. Ele ordenou aos chefes das famílias levíticas que designassem uma
orquestra e um coro para acompanharem o transporte da arca até
a tenda em Jerusalém (I Crônicas 15:16-24).
2. Após a colocação da Arca na tenda, em seu palácio (I Crônicas 15:1-
3), Davi determinou o canto na hora do sacrifício (I Crônicas 16:4-6,
37-42). Um grupo cantava diante da Arca, sob a liderança de Asafe
(I Crônicas 16:37) e outro grupo cantava diante do altar em Gibeão,
sob a liderança de Hemã e Jedutum (I Crônicas 16:41-42).
3. A última etapa da organização do ministério de música por Davi,
aconteceu no final de seu reinado quando ele estruturou a música
que seria utilizada no templo de Salomão que seria realizado no
templo que Salomão construiria (I Crônicas 23:2-26:32).

Vejamos um esboço do ministério de música organizado por Davi:

 Ele criou um conjunto com 4.000 levitas (I Crônicas 23:5)


 Ele fabricou instrumentos para uso no culto (I Crônicas 23:5; II
Crônicas 7:6; 29:25-27)
 Ele selecionou 288 músicos mestres"instruídos no canto do
Senhor". Foram 24 líderes, que se responsabilizavam por 12
músicos = 288 (I Crônicas 25:1-7).
 Ele compunha os hinos que eram entoados pelos cantores (I
Crônicas 16:7-36)

Características do ministério

O Ministério de Música organizado por Davi estava fundamentado em


princípios espirituais, que devem ser aplicados pela igreja hoje. Utilizarei
como texto básico I Crônicas 25.

Era um ministério

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O texto inicia dizendo: "Davi, juntamente com os chefes do serviço,
separou para o ministério…" (25:1). O termo ministério (hebraico =
sharath) era usado para expressar a ideia de ministração profissional ou
sacerdotal. No Novo Testamento, o termo característico é diakonia ou
um serviço que deve ser prestado a Deus e aos irmãos (Mateus 20:28;
Marcos 10:45). Jesus é o referencial ou o exemplo de servo.

O músico é alguém vocacionado para um serviço especial: "São estes os


que Davi constituiu para dirigir o canto na Casa do SENHOR, depois que
a arca teve repouso. Ministravam diante do tabernáculo da tenda da
congregação com cânticos, até que Salomão edificou a Casa do SENHOR
em Jerusalém; e exercitavam o seu ministério segundo a ordem
prescrita." (I Crônicas 6:31-32).

É importante destacar que na teologia do Novo Testamento não existe


uma casta sacerdotal de levitas. Cada crente é um sacerdote e o serviço
sacerdotal é aplicado ao corpo de crentes como um todo (Filipenses 2:17;
I Pedro 2:9).

Era um ministério composto por pessoas separadas/

"Davi, juntamente com os chefes do serviço, separou para o ministério…"


(25:1). O integrante do ministério era alguém separado. Três eram os
critérios de separação:

 Ser levita

O levita era alguém escolhido por Deus para o ministério sacerdotal.


Davi reconhece: "Então, disse Davi: Ninguém pode levar a arca de
Deus, senão os levitas; porque o SENHOR os elegeu, para levarem a
arca de Deus e o servirem para sempre." (I Crônicas 15:2). Os levitas
serviam com dedicação exclusiva: "Quanto aos cantores, cabeças
das famílias entre os levitas, estavam alojados nas câmaras do
templo e eram isentos de outros serviços; porque, de dia e de noite,
estavam ocupados no seu mister." (I Crônicas 9:33). Para isso,
precisavam ser sustentados pelos dízimos do povo de Deus.
(Números 18:24-26; Neemias 12:44-47; 13:5,10-12).

 Ser competente

Os músicos levitas eram musicalmente competentes. Lemos: "O


número deles, juntamente com seus irmãos instruídos no canto do
SENHOR, todos eles mestres, era de duzentos e oitenta e oito." (I
Crônicas 25:7). Lemos em I Crônicas 15:22 que: "Quenanias, chefe dos
levitas músicos, tinha o encargo de dirigir o canto, porque era perito
nisso." Ele se tornou o líder da música porque era um músico hábil e
capaz de instruir a outros. O conceito de habilidade musical é
mencionado várias vezes na Bíblia (I Samuel 16:18; II Crônicas 34:12;
Salmos 137:5; I Coríntios 14:15).

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A produção musical no AT era tarefa para pessoas altamente
competentes: "Deu também Deus a Salomão sabedoria,
grandíssimo entendimento e larga inteligência como a areia que
está na praia do mar. Era a sabedoria de Salomão maior do que a de
todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. Era
mais sábio do que todos os homens, mais sábio do que Etã, ezraíta,
e do que Hemã, Calcol e Darda, filhos de Maol; e correu a sua fama
por todas as nações em redor. Compôs três mil provérbios, e foram
os seus cânticos mil e cinco." (I Reis 4:29-32). Hemã, Asafe e Etã
autores dos Salmos 73-83; 88-89.

 Ser santo

O levita é alguém eleito, competente e santo ou qualificado


espiritualmente. Davi declarou: "E lhes disse: Vós sois os cabeças das
famílias dos levitas; santificai-vos, vós e vossos irmãos, para que
façais subir a arca do SENHOR, Deus de Israel, ao lugar que lhe
preparei. Pois, visto que não a levastes na primeira vez, o SENHOR,
nosso Deus, irrompeu contra nós, porque, então, não o buscamos,
segundo nos fora ordenado. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e
levitas, para fazerem subir a arca do SENHOR, Deus de Israel." (I
Crônicas 15:12-14).

Era um ministério organizado

Davi organizou o ministério estabelecendo um "modus operandi". Os


seus integrantes tinham papéis definidos e deveres estabelecidos:

 O ministério tinha comando: "Davi, juntamente com os chefes do


serviço…" (25:1). Os músicos trabalhavam sob a direção de
encarregados e "debaixo das ordens do rei" (25:2). Os filhos
cantavam e tocavam debaixo da autoridade familiar: "Todos estes
estavam sob a direção respectivamente de seus pais, para o canto
da Casa do SENHOR, com címbalos, alaúdes e harpas, para o
ministério da Casa de Deus, estando Asafe, Jedutum e Hemã
debaixo das ordens do rei." (I Crônicas 25:6).
 Os músicos tinham funções e deveres: Eles trabalhavam em
lugares determinados e em turnos. "Deitaram sortes para designar
os deveres, tanto do pequeno como do grande, tanto do mestre
como do discípulo." (I Crônicas 25:8). Uns tocavam e cantavam
defronte da arca e outros diante do tabernáculo. (I Crônicas 6:31-
32).
 Os músicos não tocavam qualquer instrumento: Davi não instituiu
apenas o tempo, o lugar, e as músicas para a apresentação do coro
levítico, mas ele também "fez" os instrumentos musicais para
serem usados no seu ministério (I Crônicas 23:5; II Crônicas 7:6). É
por isso que eles são chamados "os instrumentos de Davi" (II
Crônicas 29:26-27). Além das trombetas que o Senhor tinha
ordenado por Moisés, Davi acrescentou címbalos, alaúdes, e harpas
(I Crônicas 15:16; 16:5-6). A importância desta combinação de
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instrumentos como sendo uma ordem divina é indicada pelo fato
de que esta combinação foi respeitada por muitos séculos, até a
destruição do Templo. (II Crônicas 29:25).
 O ministério tinha objetivos: A música era tocada e cantada com
três objetivos:
1. 1. Louvar e adorar: "Designou dentre os levitas os que haviam
de ministrar diante da arca do Senhor, e celebrar, e louvar, e
exaltar o Senhor, Deus de Israel". (I Crônicas 16:4) Os três
verbos usados neste texto – "celebrar", "louvar", e "exaltar"
indicam que o ministério da música visava à adoração a Deus.
2. 2. Profetizar: "Quanto à família de Jedutum, os filhos: Gedalias,
Zeri, Jesaías, Hasabias e Matitias, seis, sob a direção de
Jedutum, seu pai, que profetizava com harpas, em ações de
graças e louvores ao SENHOR." (I Crônicas 25:2). Os músicos
exerciam uma função profética por intermédio da música (I
Crônicas 25:3; II Crônicas 20:14-17; 24:19-22; 29:30; 35:15).
3. 3. Ensinar: Instruir era uma dos objetivos dos ministérios da
música: "Disse aos levitas que ensinavam a todo o Israel e
estavam consagrados ao SENHOR: Ponde a arca sagrada na
casa que edificou Salomão, filho de Davi, rei de Israel; já não
tereis esta carga aos ombros; servi, pois, ao SENHOR, vosso
Deus, e ao seu povo de Israel." (II Crônicas 35:3).

O apóstolo Paulo resume estes três objetivos do ministério levítico, no


ministério de cada cristão, no corpo de Cristo: "Habite, ricamente, em vós
a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a
sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais,
com gratidão, em vosso coração." (Colossenses 3:16).

Creio que estes princípios que encontramos no Ministério de Música


instituído por Davi aplicam-se a igreja hoje. Somos uma comunidade de
"sacerdotes santos" e "sacerdotes reais" (I Pedro 2:5, 9).

2 – A música no Novo Testamento

Com o advento do Messias, a maior manifestação da graça de Deus, a


música volta a fazer parte do culto e da vida cotidiana do povo de Deus.
Atenilde Cunha declara: "Depois de um silêncio de quatrocentos anos
entre os céus e a Palestina, a música volta a aparecer como serva fiel da
religião, fazendo-se cumprir as palavras cantadas pelo salmista: "E pôs
um novo Cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos verão
isso e temerão e confiarão no Senhor" (Salmos 40:3). Os novos cânticos
da graça e do amor, brotaram nos corações dos escolhidos como
prenunciadores das novas de Salvação: "Magnificat" (Lucas 1:46-55),
"Benedictus" (Lucas 1:68-79), "Glória in Excelsis Deo" (Lucas 2:14) e "Nunc
Dimits" (Lucas 2:29-32). E a partir de então, os corações dos crentes
romperam em cânticos, pela experiência da graça de Cristo, como
jamais cantaram e deixariam de cantar. Conforme o testemunho de
Plínio (109 AD.), cristianismo passou a ser chamado "a religião do canto".

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A música no culto cristão:

1. Era música vocal

A música entoada pelos primeiros cristãos era sem o acompanhamento


de instrumentos musicais. Jesus e os discípulos cantaram um hino: "E,
tendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras." (Mateus
26:30; Marcos 14:26). Paulo e Silas: "Por volta da meia-noite, Paulo e Silas
oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de
prisão escutavam." (Atos 16:25).

Outras referências:

Romanos 15:9 – "Cantarei louvores ao teu nome"


I Coríntios 14:15 – "Cantarei com o espírito, mas também cantarei com a
mente"
Efésios 5:19 – "Entoando e louvando de coração ao Senhor"
Colossenses 3:16 – "Com gratidão em vossos corações"
Hebreus 2:12 – "Cantar-te-ei louvores no meio da congregação"
Tiago 5:13 – "Está alguém alegre? Cante louvores".

Nestas passagens do Novo Testamento não aparecem o cântico com o


acompanhamento de instrumentos musicais. Isto tem levado a muitos a
interpretar que a música no culto cristão não deve ser acompanhada por
instrumentos. Eles entendem que tal prática fazia parte da lei cerimonial
que foi abolida por Cristo (Salmos 81:1-4).

Entendo, porém, que prevalece a orientação divina dada a Davi (II


Crônicas 29:25). Se a música continua sendo um elemento de adoração
no culto, sendo possível, que a mesma seja acompanha por
instrumentos musicais.

2. Era música variada

Paulo declara: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos


e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus,
com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso
coração." (Colossenses 3:16).

Este versículo apresenta uma variedade de formas: salmos, hinos e


cânticos espirituais. Alguns têm interpretado estes termos como
sinônimos, ou seja, trata de uma única forma. Concordo, porém, com o
John Macarthur Jr, que diz: "Paulo estava exigindo uma variedade de
formas musicais e uma amplitude de expressão espiritual que não podia
ser encaixada em um único estilo musical". Há visões desequilibradas na
igreja que desejam limitar a música no culto a uma única forma
(Somente hinos ou somente cânticos espirituais).

Os salmos seriam as músicas do livro dos Salmos do Antigo Testamento


(Lucas 24:44). Os hinos seriam composições recentes de cânticos de

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louvor dirigidos a Cristo, os quais aparecem no texto do Novo
Testamento (Efésios 5:14; I Timóteo 3:16; Filipenses 2:6-11; Colossenses 1:15-
20; Hebreus 1:3). Os cânticos espirituais seriam, provavelmente, os
cânticos produzidos pelo Espírito Santo nos adoradores (I Coríntios 14:15).

3. Era música espiritual

A expressão "cântico espiritual" aponta para cânticos sobre assuntos


espirituais e cânticos resultados da experiência espiritual do povo de
Deus. A música para Paulo está relacionada com a Palavra de Deus –
"Habite, ricamente, em vós a Palavra de Cristo" (Colossenses 3:16) – e
com a vida cheia do Espírito Santo – "Mas enchei-vos do Espírito, falando
entre vós com salmos, entoando e louvando de coração, ao Senhor com
hinos e cânticos espirituais" (Efésios 5:18-19).

Nove vezes aparece na Bíblia a expressão "novo cântico". Sete vezes no


Antigo Testamento (Salmos 33:3; 40:3; 96:1; 98:1; 144:9; 149:1; Isaías 42:10) e
duas vezes no Novo Testamento (Apocalipse 5:9 e 14:3). A expressão
"novo cântico" não indica uma nova composição, mas uma música que
surge de uma nova experiência com Deus.

A origem desta música é divina, vem de Deus: "E me pôs nos lábios um
novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus" (Salmos 40:3). Somente
as "novas criaturas" poderão entoá-la: "E ninguém pode aprender o
cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados
na terra" (Apocalipse 14:3).

4. Era música com funções espirituais

Observe o que diz Paulo: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo;


instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando
a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em
vosso coração." (Colossenses 3:16). O mandamento apostólico é de que a
música tem uma função didática, de instruir e aconselhar (exortar).

Outra função é a de louvar a Deus – "louvando a Deus". "Falando entre


vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos
e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai,
em nome de nosso Senhor Jesus Cristo." (Efésios 5:19-20)

Paulo ainda apresenta outro objetivo: edificação. "Que fazer, pois,


irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz
revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo
feito para edificação" (I Coríntios 14:26). Instruir, louvar e edificar devem
ser os objetivos da música no culto.

Concluindo, precisamos perguntar: Qual é a música apropriada para


adoração na Igreja?

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As respostas dadas a esta pergunta são controversas. Creio que
precisamos definir critérios bíblicos que ajudarão a selecionar a música a
ser utilizada no culto.

Sugiro os seguintes critérios:

 Quanto ao objetivo principal da música deve ser agradar a Deus.


Cantemos ao Senhor. Há também os objetivos secundários: instruir,
edificar, consolar, proclamar, aconselhar e promover a unidade da
igreja.
 Quanto à origem deve ser do coração e da mente regenerada pelo
Espírito Santo. Cantemos com a mente e com o espírito.
 Quanto ao estilo musical deve ser variado. Os extremos de só
cantar hino ou só entoar cânticos espirituais servem apenas para
referendar estilos de cultos (tradicional ou contemporâneo) e
divisões na igreja (velhos e jovens).
 Quanto ao conteúdo da música deve ser bíblico ou de acordo com
a sã doutrina. A poesia musical deve refletir aquilo que ensina a
Palavra de Deus.
 Quanto a sua execução deve ser com excelência. Deus merece o
melhor e exige o melhor. Excelência significa o "melhor que for
possível". Excelência é a união da simplicidade com a
profundidade, ou da humildade com a competência.
 Quanto aos resultados, a música deve promover: uma visão
elevada de Deus, a edificação espiritual e a santidade pessoal dos
que cantam.

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Capítulo Seis
por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

Dança no Culto

Muitas igrejas hoje introduziram a dança como meio de adoração.


Muitos irmãos sinceros e com motivações verdadeiras defendem a
"dança do elogio" ou a "dança do louvor". Há igrejas que usam grupos
coreográficos para expressar louvor e adoração.

Os principais argumentos são:

 Adorar a Deus por meio da dança é bíblico: Salmos 149:3 e 150:4.


Leia o que já escrevemos em "Adoração nos Salmos".
 A dança foi praticada por servos de Deus, no Antigo Testamento:
Miríã e Davi (Êxodo 15:19-21; I Crônicas 15:19).
 A dança pode ser praticada no culto, pois não existe nenhuma
proibição bíblica. E se não é proibido, é permitido.

Entendo que o melhor caminho é o da exegese bíblica para resolvermos


este assunto. Não podemos analisar textos somente com o pretexto de
defendermos uma posição pessoal.

Primeiro, não encontramos base bíblica no Novo Testamento para


introduzirmos dança na adoração coletiva. Creio que com a drástica
mudança que houve do culto cerimonial para o culto "em verdade e em
espírito", se a dança fosse algo fundamental seria destacada por Jesus,
pelos apóstolos ou pelos escritores bíblicos.

A palavra grega "orcheomai" = "dança" refere-se à dança praticada por


crianças e a dança sexual praticada pela filha de Herodias (Lucas 7:32;
Marcos 6:22; Mateus 11:17; e 14:6).

Outra palavra grega é "choros" = dança em círculos (choir) ou um grupo


de dança. No caso de Lucas 15:25, "choros" vem acompanhado de
"sinfonia", uma banda de músicos e cantores. O contexto não é de culto
ou adoração a Deus.

A palavra grega "aggaliao" = regozijar-se grandemente, exultar descreve


uma alegria demonstrativa (Lucas 1:14,44,47; Mateus 5:12; João 5:35; Atos
16:34; I Pedro 1:6,8).

O termo "hallomai" = saltar, pular, saltitar refere-se a uma postura física


sempre relacionada a uma cura (Atos 3:8; 14:10).

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O termo "skirtao" = estremecer, pular, saltar de alegria refere-se a atitude
de João Batista no ventre de Isabel, ao ouvir a saudação de Maria (Lucas
1:41,44; 6:23).

Todas as referências sobre dança no NT não estão relacionadas ao culto


ou adoração. A dança era essencialmente uma celebração social de
eventos especiais, como uma vitória militar, um festival religioso, ou uma
reunião familiar. Era praticada principalmente por mulheres e crianças
ou grupos específicos.

Segundo, no Antigo Testamento várias palavras são usadas para


descrever a dança. Nenhuma delas relaciona-se com o culto de adoração
a Deus, no tabernáculo ou no templo. Davi dançou "diante do Senhor" (II
Samuel 6:14,16), contudo, não foi autorizado por Deus a introduzir a
dança no culto. As mulheres dançavam celebrando vitórias militares (I
Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34).

É importante destacar os princípios da Hermenêutica Bíblica aplicados à


interpretação de narrativas:

 Você não deve estabelecer uma doutrina bíblia numa narrativa


histórica. As narrativas históricas são descritivas e não normativas.
Davi dançou, isto de fato aconteceu, mas não normatiza o que
deve acontecer ou um mandamento para a Igreja hoje. Lembre-se
sempre que a formulação de uma doutrina bíblica deve incluir
tudo o que a Bíblia diz sobre o assunto.
 Uma narrativa, geralmente, não ensina diretamente uma doutrina,
mas pode ilustrar uma doutrina que é ensinada de modo
proposicional em outro lugar da Bíblia. Davi dançou, registra a
narrativa bíblica, mas isso não ilustra uma doutrina que é ensinada
em outra parte da Bíblia.

Transcrevemos abaixo as palavras hebraicas e os seus significados,


apontando as referências bíblicas. Faça uma análise dos textos.

 A primeira é chuwl ou chiyl = torcer, girar, dançar, contorcer-se,


temer, tremer, trabalhar, estar em angústia, estar com dor;
suportar, dar à luz; esperar ansiosamente; ser levado a contorcer-
se, ser levado a suportar; ser trazido à luz; ser nascido; rodopiando
(particípio); contorcendo, sofrendo; tortura (particípio); esperar
ansiosamente; estar em sofrimento. (Deuteronômio 2:25; Juízes
21:21,23, Jó 15:20; Salmos 55:4, 77:16; Isaías 23:4-5, 26:17; Jeremias 4:19,
30:23; Ezequiel 30:16; Joel 2:6).
 Outro termo é machowl = dança uma dança (em círculos) ou
dançando. (Salmos 30:11, 149:3, 150:4, Jeremias 31:13, Lamentações
5:15). Machowlah é um termo derivado que significa uma dança ou
um grupo de danças. (Êxodo 15:20, Juízes 11:34, 21:21, I Samuel 18:16,
21:11, 29:5; Jeremias 31:4).
 Giyl ou guwl é outra palavra hebraica e significa girar (sob a
influência de qualquer emoção violenta; regozijar-se, estar
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contente, alegria, estar jubiloso, regozijar-se (Salmos 2:11, 9:14,
13:4,516:9, 21:1, 31:7, 32:11, 35:9, Zacarias 9:9).
 Karar significa dançar, girar (II Samuel 6:14).
 Raqad significa saltitar, dançar, pular, fazer saltar. (Salmo 29:6, 114:6,
I Crônicas 15:29, Isaías 13:21, Joel 2:5, Naum 3:2).
 Dalag significa saltar, pular sobre. (II Samuel 22:30, Salmo 18:29,
Isaías 35:6, Sofonias 1:9, Cantares 2:8).
 Pazaz significa saltitar; ser feito forte. (Gênesis 49:24; II Samuel 6:16).
 Chagag significa mover-se em um círculo; marchar em uma
procissão sagrada, observar um festival; estar tonto, cambaleante:
celebrar, dançar, (manter, observar) uma festa (feriado) (solene),
rodopiar. (Êxodo 5:1; Levítico 23:41; Êxodo 23:14; Deuteronômio 16:16;
Salmos 42:4; I Samuel 30:16).
 Cabab indica revolver-se, circundar ou rodear, usado em diversas
aplicações, literais e figurativas (como segue): virar, voltar, desviar,
retornar, rodear, percorrer ou circundar, cercar, mudar de direção;
virar, rodear, circundar, mudar; marchar ou andar ao redor, ir
parcialmente ao redor, ir aos arredores, dar uma volta, fazer um
circuito, percorrer, circundar, cercar; voltar-se, cercar, dar a volta;
ser mudado de direção para; rodear, mudar, transformar; cercar,
circundar; aproximar-se, rodear; marchar, vaguear; fechar, envolver;
virar, fazer virar, voltar, reverter, dar volta, mudar para, retornar;
fazer voltar, circundar, cercar; ser mudado; ser cercado.
 Haliykah significa uma caminhada; uma procissão ou marcha, uma
caravana: companhia, indo, andar, caminho. (Salmos 68:24-25).
 Shiyr da raiz shuwr (I Samuel 18:6), com a ideia de cantores
ambulantes; cantar: contemplar, cantar (cantor, homem que canta,
mulher que canta). (Êxodo 15:1; Salmos 33:3, 100:2, 137:3; Jeremias
20:13; Isaías 54:1; I Crônicas 15:27).
 Yadah significa, literalmente, usar (estender) a mão; físico, lançar
(uma pedra, uma flecha) a (alguma coisa/alguém) ou longe.
Reverenciar ou adorar (com mãos estendidas) gemer, estar aflito
(torcendo as mãos): lançar (fora), (fazer) confessar (confissão),
louvor, atirar, (dar) graças (ação de graças, ofertas). (Salmos 42:4;
Jeremias 33:11).

Terceiro, a adoração envolve a vida do adorador. O culto é a vida e a vida


envolve o homem na sua totalidade: corpo e alma.(Romanos 12:1; I
Coríntios 6:20). Quando alguém vai à adoração coletiva, ele não vai
"desencarnado". O culto é "de corpo presente". Logo, todo culto coletivo
envolve a expressão do coração, da mente e do corpo.

O grande problema ou o pomo de todas as discórdias é a utilização de


algumas "expressões corporais", no momento do culto coletivo. Devo
dançar, levantar as mãos e bater palmas para expressar a minha
adoração a Deus?

No culto do Antigo Testamento ou da Velha Aliança, a expressão


corporal estava limitada ao culto individual e provavelmente as festas

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religiosas. Nos cultos coletivos não havia o louvor congregacional, pois
somente os "cantores oficiais" tocavam e cantavam no templo. No culto
do Novo Testamento ou da Nova Aliança, a adoração congregacional é
estabelecida e praticada. E o único texto que refere-se a expressão
corporal no culto coletivo está em I Timóteo 2:8: "Quero, portanto, que os
varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem
animosidade." Trata-se do "levantar as mãos", exclusivamente para
pessoas do sexo masculino, no contexto da oração.

Diante do exposto, no meu entendimento pessoal, concluo:

 Esforcemo-nos para oferecer a Deus aquilo que Ele pede de nós.


Adore ao Pai em espírito e em verdade. Não tente oferecer a Deus
o que Ele não está pedindo em Sua Palavra, pois podemos cair no
mesmo erro dos fariseus: "Este povo honra-me com os lábios, mas
o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando
doutrinas que são preceitos de homens." (Mateus 15:8-9). Preceitos
humanos envolvem tudo aquilo que é inserido no culto, em
adendo ou substituição àquilo que Deus pede ao adorador. Tanto
tradicionais quanto contemporâneos podem cair neste erro.
 Utilizemos os princípios estabelecidos por Paulo, na orientação que
deu a igreja de Corinto, quanto ao culto coletivo: deve ser prestado
com equilíbrio: mente + espírito (I Coríntios 14:15); compreensível
para todos, principalmente para o visitante (14:19 e 23); tudo seja
feito para a edificação da igreja (14:26); tudo seja feito com
decência e ordem (14:40); tudo seja feito para a Glória de Deus
(10:31).
 Obedeçamos às orientações da Igreja ou denominação que você
faz parte, enquanto esta permanecer fiel a Palavra de Deus.

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Conclusão
por: Arival Dias Casimiro

Princípios Bíblicos Acerca da Adoração Agradável a Deus

Encerramos este texto na esperança de termos alcançados os dois


objetivos propostos na introdução. O primeiro, motivar a liderança da
Igreja e as pessoas envolvidas com o ministério de música à reflexão
bíblica sobre adoração. O segundo objetivo é incentivar a todos que
busquem a verdadeira adoração. Muitas vezes brigamos por assuntos
periféricos e nos esquecemos dos essenciais.

É fato que a adoração não vai muito bem. Observamos que as


preferências com relação à adoração refletem a nossa natureza egoísta e
pecadora: queremos cultuar à nossa maneira. Precisamos restaurar o
altar da adoração verdadeira. William Temple diz que "adoração é
estimular a consciência pela santidade de Deus; alimentar a mente com
a verdade de Deus; purificar a imaginação por meio da beleza de Deus;
abrir o coração ao amor de Deus; dedicar a vontade ao propósito de
Deus".

O que fazer para restaurar a adoração? Ou nas palavras de W. Wiersbe:


"O que será necessário para nos motivar a adorar a Deus? O que terá de
acontecer para que desmantelemos nosso esfarrapado showzinho
religioso e construamos de novo um altar para o Senhor?"

Primeiro, comece restaurando a sua vida devocional. Deus muda igrejas


mudando indivíduos. Leia a Bíblia e ore diariamente. Entenda que o
verdadeiro culto começa na vida do adorador e na sua maneira de viver.
Culto é vida! Abandone o pecado e busque a santificação pessoal.
"Devemos começar com as nossas próprias vidas, nossa adoração
pessoal a Deus. E à medida que crescemos, não devemos criticar os
outros e tentar mudar tudo dentro da igreja. A verdadeira transformação
espiritual deve vir de dentro para fora. Precisamos ter cuidado com as
mudanças cosméticas que não afetam o coração da igreja. O cântico de
hinos diferentes, alteração da ordem do culto, ou mesmo as mudanças
nos móveis da igreja, nunca transformarão uma igreja. É preciso que o
Espírito atue nos corações, e isto toma tempo." (W. Wiersbe).

Segundo, seja humilde e submeta a sua mente e a sua vontade ao


Senhor e a Sua Palavra. Não olhe para si mesmo como alguém que é
"um espiritual superior", cultuando com "ignorantes" e "inferiores". O
Senhor Jesus sendo quem era, quando na terra, freqüentava a sinagoga
e o templo, apesar de ambos estarem nas mãos de líderes religiosos que
resistiam à verdade. Ele cultuava a Deus coletivamente, convivendo com
adoradores falsos e defeituosos.

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Referências:
https://musicaeadoracao.com.br/29548/adoracao-biblica/

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