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Há Algo Mais Importante do que a Verdadeira Adoração?

Por Terry Johnson

Qual a importância de respondermos esta questão? Vamos colocar desta


maneira: Que importância tem a adoração? Você precisa parar para pensar
nisso por um instante, comparando a adoração com outras várias atividades da
vida. E mesmo se fizermos uma consideração superficial, iremos chegar,
indubitavelmente à conclusão de que, nada do que fazemos é tão importante
quanto a adoração. Não, nada de natureza secular, como trabalho, diversão,
ou mesmo a vida familiar, nem mesmo as atividades de cunho religioso, como
evangelismo, comunhão, caridade ou qualquer disciplina espiritual particular é
tão importante. Não há, portanto, pergunta mais importante a ser respondida
que essa!

No texto básico que iremos examinar, Jesus diz que o Pai “procura”
verdadeiros adoradores (Jo 4:23). É dessa forma que Jesus resume a atividade
salvífica do Pai. Qual o interesse do Pai na pregação do evangelho? O que Ele
intenta fazer por meio do seu Filho? Qual é o fim último da encarnação, da
expiação e de toda a redenção? É o Pai buscando adoradores! Que forma
inusitada e não habitual de Deus se dirigir a pecadores! No entanto, é assim.
Robert G. Rayburn ressalta que “Em nenhum lugar nas Escrituras lemos que
Deus tenha buscado qualquer coisa dos pecadores”. A Bíblia não nos diz que
Deus busca testemunhas, servos ou contribuintes. Ele busca adoradores.
Rayburn continua, “não é sem motivo que a única vez na Escritura onde a
palavra buscar é usada como atividade de Deus, é em conexão com a busca
de verdadeiros adoradores”.1

Há, então, um sentido verdadeiro em que o Evangelho Cristão trata da


adoração. O “evangelho eterno” que pregamos é resumido pelo anjo em
Apocalipse 14:7, como: “Temei a Deus e dai-lhe glória (…) e adorai aquele que
fez o céu (…)” Como já vimos, a vida cristã é apresentada pelo apóstolo Paulo
como um ato de adoração quando “apresentamos” a Deus o nosso corpo como
um “sacrifício vivo e santo”. Esse é um “culto racional” (Rm 12:1). A finalidade
do evangelho é tornar pecadores santos, a fim de serem adoradores. Note
como o Senhor Jesus passa do tópico adoração para o de salvação no verso
22, “Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a
salvação vem dos judeus” (Jo 4:22). Ser salvo é ser liberto da ignorância e da
opressão da idolatria. Para os judeus, “saber” como adorar, é possuir a
“salvação”, nada menos. Talvez não estejamos acostumados a ver a coisa
dessa forma, como estou apresentando agora, mas esse é o ensino do Novo
Testamento. A finalidade ou o propósito do evangelismo e de missões é criar
um povo para adorar a Deus. Os discípulos de Cristo são “pedras vivas”,
“edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes
sacrifícios espirituais agradáveis a Deus” (1Pd 2:5; Ef 2:18-22). Deus criou “um
povo para si mesmo” para que “proclamassem as virtudes dAquele que os
chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pd 2:9). Nisso se constitui a
obra missionária da igreja, a vida cristã e a vida de adoração. John Piper
resume bem nosso ponto,

Missões não é o objetivo principal da igreja, mas sim a adoração. Missões


existem porque Deus é o alvo e não o homem. Quando esta era passar e os
incontáveis milhões de redimidos caírem com o rosto em terra diante do trono
de Deus, não haverá mais missões. Trata-se de uma necessidade temporária,
mas a adoração existirá para sempre.2

A adoração é a nossa “prioridade máxima”, como o título de um recente livro


declara. Cada Filho de Deus deveria saber disso.

Não é apenas a Bíblia que enfatiza a importância da adoração; a herança


Presbiteriana e Reformada faz o mesmo. Muitos historiadores modernos do
período da Reforma, têm feito com que a personalidade marcante de Lutero, na
sua luta pela fé, acabe obscurecendo o coração da Reforma Suíça e Calvinista.
Para Lutero e os luteranos, o foco principal era a Justificação pela Fé. “Como
pode um homem ser justo diante de Deus?” era a questão fundamental. Mas
para Zuínglio, Calvino e a “nata dos Reformadores”, o tema principal não era a
justificação, conquanto reconhecessem sua importância. O foco deles era a
adoração. “Como Deus deveria ser adorado?” constituía a pergunta crucial.
Para os luteranos, o inimigo da fé eram as “obras”. Para os Reformados, a
“idolatria”.

Carlos M. N. Eire, em seu aclamado War Against the Idols (Guerra contra os
ídolos), relembra à nossa geração aquilo que os antigos historiadores já
haviam percebido. “O foco central do Protestantismo Reformado foi a
interpretação da adoração (…)”. Distinguindo os luteranos dos zuinglianos, ele
diz:

A diferença principal é que, para os zuinglianos, a proposta Reformada não era


encontrar um Deus justo, mas em voltar-se da idolatria para o Deus
verdadeiro.3

O mesmo pode ser dito das obras de Heinrich Bullinger (sucessor de Zuínglio
em Zurique), Martin Bucer em Estrasburgo, William Farel em Neuchatel, e mais
tarde João Calvino em Genebra. A Reforma se espalhou com esses homens
pregando contra a adoração medieval idólatra, e o povo respondeu com sua
fúria iconoclasta. Vitrais eram quebrados, relíquias eram profanadas, estátuas
despedaçadas, altares danificados e igrejas lavadas e caiadas novamente.
Farel, diz Eire, “usava as imagens e a missa como tema dos seus sermões
para dar curso à Reforma”.4 Em Genebra durante os primeiros anos da
Reforma, “o foco da atenção não era o assunto da justificação, mas as missas
e as imagens e tudo que dizia respeito aos seus abusos”.5 Ambos, Farel e
Calvino descreveram suas conversões, não como sendo salvos das obras de
injustiça prioritariamente, mas da idolatria. Como os tessalonissences, eles
tinham “deixado os ídolos para servirem ao Deus vivo” (1Ts 1:9).

Em 1543, um folheto intitulado On the Necessity of Reforming the Church


(Sobre a necessidade de Reformar a Igreja), Calvino lista os dois elementos
que definem o Cristianismo, os quais, em suas palavras, constituem “o todo da
substância do Cristianismo”. Esses dois elementos são primeiro “um
conhecimento de qual é a maneira certa de se adorar a Deus; e o segundo é a
fonte de onde emana a salvação”.6 W. Robert Godfrey comenta, “De forma
enfática Calvino coloca a adoração à frente da salvação em sua lista dos dois
elementos mais importantes do Cristianismo bíblico”.7 Eire comenta mais
adiante,

Calvino define o lugar da adoração como nenhum dos seus predecessores


tinha feito antes (…) Adoração, ele diz, deve ser o interesse central dos
cristãos. Não é uma questão periférica, mas a “substância última” da Fé Cristã
(…) alguém já disse que esta se tornou a definição fundamental que
caracteriza o Calvinismo.8

Qual é o ponto central do estudo bíblico e teológico do evangelismo e de


missões, do conhecimento de Deus e de toda a religião cristã? A resposta é: a
adoração. O verdadeiro conhecimento de Deus leva à adoração correta, que
por sua vez, leva ao viver correto. Os teólogos da Reforma pregaram Soli Deo
Gloria em todas as áreas da vida, porque eles tinham em vista a adoração.

Fazendo da adoração o componente existencial necessário do conhecimento,


Calvino a torna o elo entre pensamento e ação, entre a teologia e a sua
aplicação prática. Foi uma teologia eminentemente prática que Calvino
desenvolveu como resultado disso. Religião não é meramente um conjunto de
doutrinas, mas antes, uma forma de adorar, um estilo de vida.9

Não somente no continente Europeu, mas também na Grã-Bretanha, o coração


da batalha entre os seguidores de Calvino e os da Igreja Anglicana oficial era a
questão da adoração. Por cem anos os Puritanos lutaram para reformar o Livro
Comum de Orações de acordo com os padrões de Genebra, culminando com a
Guerra Civil, a convocação da Assembléia de Westminster e a aprovação por
parte do Parlamento do Diretory for the Public Worship of God (Diretório do
Culto Público de Deus)10 para os reinos da Inglaterra, Escócia, Gales e
Irlanda.

Não, de fato não estamos acostumados a pensar na adoração dessa forma


hoje. A situação presente não poderia ser mais irônica, mesmo onde
encontramos igrejas que se identificam como herdeiras da Reforma, como a
PCA, a qual, em nome da liberdade, falha em prover diretórios para a
adoração. Poucos têm disposição para pensar com cuidado a respeito da
adoração. Um número menor ainda vê a necessidade disso. Não somente
muitos não vêem nenhuma conexão entre doutrina e vida prática, como
também não vêem conexão entre adoração e vida prática. Assim, para que
regularmos a adoração, quando geralmente se presume que isso só serviria
para dividir e é algo que não tem valor prioritário? Nós tendemos a ser como os
detratores de Calvino, que o acusaram de fraturar a unidade da igreja com
futilidades. Como esses detratores, no entanto, estamos errados acerca disso.
Questões acerca de como devemos adorar a Deus são as mais importantes de
todas, por direito próprio e por suas aplicações abrangentes.

__________________________
1 O Come Let Us Worship, pp. 15, 16.
2 Let The Nations Be Glad, the Supremacy of God in Missions, Grand Rapids:
Baker Books, 1993.
3 Carlos M. N. Eire, War Against the Idols (Cambridge: Cambridge University
Press, 1986), pp. 2, 85.
4 Ibid., p.119.
5 Ibid., p.143.
6 Ibid., p.126; (também encontrado na Selected Works of John Calvin, vol. 1,
p.126)
7 Robert W. Godfrey, “Calvin and the Worship of God” (manuscrito não
publicado, s.d.).
8 Carlos M. N. Eire, War Agaisnt the Idols, pp. 232, 233.
9 Ibid., p. 232.
10 Publicado pela Editora Os Puritanos – Diretório de Culto de Westminster

Fonte:
http://2timoteo316.blogspot.com.br/2012/08/ha-algo-mais-importante-do-
que.html

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