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IGREJA MISSIONAL: O QUE É ISSO?

Rodomar Ricardo Ramlow

1. Introdução

Atualmente vem se tornando cada vez mais comum a


utilização do termo “missional” na igreja evangélica brasileira. Muito
se deve à atuação do movimento de Plantação de Igrejas orientado
pelo Centro de Treinamento Para Plantadores de Igrejas (CTPI) 1
sediado na cidade de Campinas/SP. Além dos cursos e eventos
também muitas são as publicações recentes que advogam a
importância de que as igrejas sejam “missionais”. Timothy Keller,
pastor e teólogo americano, revela que nos Estados Unidos a
2
popularização do termo já teria ocorrido a partir de 1998 com a
publicação de um livro intitulado Missional Church 2 . O missiólogo
australiano Alan Hirsch também aponta os trabalhos de um grupo de
estudos nos Estados Unidos como responsável pela utilização e
popularização do termo "missional". O The Gospel and Our Culture
Network (GOCN) se encontrava para estudar algumas das
implicações da obra de Lesslie Newbigin, responsável por articular
uma visão missionária que também se ocupa com a cultura. A partir
da obra de Newbigin o GOCN desenvolvia estudos “com base no
conceito de diálogo, em que há duas partes em uma conversa”.


Rodomar Ricardo Ramlow, doutor em teologia, professor e diretor na Faculdade
de Teologia Evangélica em Curitiba (FATEV).
1 Em sua página virtual a CTPI se identifica como “uma rede de pastores e igrejas,

comprometidos com uma teologia cristã reformada e engajados no cumprimento


da grande comissão de Cristo através da plantação de novas igrejas em cidades
brasileiras”. Maiores informações em <https://www.ctpi.org.br>. Acesso em: 15
set. 2016.
2 Keller está se referindo ao livro Missional Church: a vision for the sending of the

church in North America de 1998, organizado por Darrell L. Guder.


Assim, entendiam que a missão “envolvia fundamentalmente uma
conversa ativa e progressiva entre três elementos, ou seja, entre o
Evangelho, a cultura ao redor e a igreja”. Como geralmente a igreja
acabava de fora dessa conversa, o desafio consistia em trazê-la de
volta ao debate. Logo, a igreja missional seria aquela que leva a sério
essa “tripardida” envolvendo igreja, evangelho e cultura3. A partir de
então muitos cristãos passaram a buscar aquilo que chamam de uma
“igreja missional”. O termo, no entanto, não se restringe ao contexto
norte americano e nem parece ter surgido por lá. Johannes Reimer
lembra que o termo já constava no dicionário inglês de Oxford em
1907, aparecendo simplesmente como sinônimo de “missionário(a)”4.
Com a multiplicação de livros e publicações a respeito, constata-se
que “missional” pode ter diversos significados. Keller lembra, então,
que o termo passou a ser utilizado pelo protestantismo histórico e
ecumênico "de maneira intimamente associada à expressão latina
missio Dei" (missão de Deus)5. Buscamos, a seguir, em algumas das
3
publicações recentes, por definições que nos auxiliem a compreender
o que, afinal, se quer dizer com o termo “missional”. Logo constatamos
que não se trata apenas de um adjetivo para a igreja. Encontraremos
também referências a um “povo missional”, fala-se de uma “identidade
missional”, de um “chamado missional”, de uma “teologia missional” e
de uma “comunidade missional”6.

3 HIRSH, Alan. Caminhos Esquecidos: reativando a igreja missional. Curitiba:


Esperança, 2015, p. 88. Importante destacar que, entre os objetivos de Hirsch
nesta sua obra, uma delas consiste em eliminar frequentes usos incorretos a
respeito do conceito “missional”. Assim, sua obra é importante para nos alertar
mediante os riscos de tomarmos a ideia de uma igreja missional apenas como
mais um modismo ou mais uma estratégia para crescimento de igreja.
4 REIMER, Johannes. Abraçando o Mundo: teologia de implantação de igrejas

relevantes para a sociedade. Curitiba: Esperança, 2011, p. 247.


5 KELLER, Timothy. Igreja Centrada: desenvolvendo em sua cidade um ministério

equilibrado e centrado no evangelho. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 297. Esta
utilização mais atual em consonância com a ideia de missio Dei também é
destacada por Johannes Reimer (REIMER, 2011, p. 247).
6 A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) inclusive adotou

este último como tema de seu XXX Concílio Geral realizado na cidade de
Brusque-SC entre os dias 19 a 23 de outubro de 2016. Incluindo uma alusão aos
500 anos da Reforma protestante a ser comemorada em 2017 o tema do concílio
dizia: “Por Uma Comunidade Missional: agora são outros 500”.
2. Igreja Missional

Originalmente, o termo “missional” aparece no contexto das


discussões em torno da missão. Implica uma mudança de paradigma
que compreende a missão não como uma tarefa da igreja, mas, de
Deus. Neste sentido, nenhuma novidade que já não venha da tradição
que refletiu essas questões e cunhou a terminologia missio Dei. O
missiólogo David Bosh define a missio Dei como

a auto-revelação de Deus como Aquele que ama o


mundo, o envolvimento de Deus no e com o mundo, a
natureza e atividade de Deus, que compreende tanto a
igreja quanto o mundo, e das quais a igreja tem o privilégio
de participar. Missio Dei enuncia a boa nova de que Deus
é um Deus-para as/pelas-pessoas7.

A partir da missio Dei, Keller resume assim a sua


compreensão do que seria uma igreja missional: 4

O Pai envia o Filho para salvar o mundo; o Pai e o Filho


enviam o Espírito ao Mundo. [...] O Espírito envia a igreja.
Em suma, Deus não está simplesmente enviando a igreja
em uma missão. Deus já está realizando a missão, e a
igreja precisa se juntar a ele. Isso, portanto, também
significa que não basta a igreja apenas criar um
departamento de missões; ela deve existir para ser
totalmente uma missão8.

7 BOSCH, David J. Missão Transformadora: mudanças de paradigma na teologia


da missão. 3ª ed. São Leopoldo: EST, Sinodal, 2009, p. 28. O missiólogo
Johannes Reimer desenvolve o conceito de missio Dei na perspectiva da
plantação de igrejas (que ele prefere chamar de implantação de igrejas)
abordando a base, a forma e a ação missiológica a partir da trindade (missio Dei,
missio Christi e missio Spiritu). O autor fala de um ciclo trinitário que formaria
“fundamento teológico geral que dá boa sustentação à reflexão bíblica sobre a
implantação de igrejas” (REIMER, 2011, p. 156). Para Reimer, implantar igrejas
é negócio de Deus (missio Dei), segue o modelo de Cristo (missio Christi) e se
deixa construir pelo Espírito (missio Spiritu). A ideia de implantação de igrejas
como sendo uma tarefa de Deus é desenvolvida no quarto capítulo de seu livro
(Ibid. p. 145-188).
8 KELLER, 2014, p. 297.
Ser missional, portanto, implicaria numa compreensão da
igreja que não se resume a fazer missões ou sustentar missões. Uma
igreja missional seria aquela que se compreende a serviço da missio
Dei. Significa compreender toda a sua existência, com tudo o que a
comunidade local faz - adoração, pregação, vida comunitária e
discipulado - como uma forma de missão. Keller exemplifica isso com
a experiência dos cristãos na Índia que não podiam contar com a
cultura cristã do Ocidente e precisavam estar abertos e serem
compreensíveis aos amigos e familiares que não eram cristãos 9 .
Naquele contexto, afirma Keller, as igrejas não tinham só um
departamento de missões; os cristãos estavam 'em missão' em cada
área da vida pública e privada". No entanto, com as rápidas
transformações ocorridas no Ocidente, logo a igreja deste lado do
globo se viu obrigada a também fazer ajustes, afinal, numa sociedade
não mais cristã, restavam ainda uns poucos tradicionais e
conservadores que se sentiam à vontade na igreja. Mais do que um
5
treinamento para uma vida cristã privada, a igreja se via diante do
desafio de discipular as pessoas "para viver de forma
caracteristicamente cristã em um mundo secular - nas arenas públicas
da política, das artes e dos negócios" 10 . Uma igreja, portanto, em
diálogo com a cultura à sua volta. Nas palavras de Lesslie Newbigin,
a "antecipação do reino no dom do Espírito à comunidade que crê e
está comprometida", que se revela numa "verdadeira medida da
justiça e da paz do reino" gera um testemunho do evangelho, a
presença de uma nova realidade diante da qual o mundo não

9 Keller utiliza o exemplo da Índia a partir das experiências de Lesslie Newbigin


(1909-1998), teólogo britânico que foi missionário naquele país por vários anos
(KELLER, 2014, p. 299ss.). Newbigin é ainda pouco conhecido no Brasil. Entre
as suas diversas publicações, The Gospel in a Pluralist Society (1989) foi
recentemente traduzido e publicado no Brasil. Vale a pena conhecer a obra de
Newbigin e sua abordagem a respeito do tema da missão. Para Newbigin a
igreja é a comunidade criada e chamada por Cristo para aquilo que recebeu
como missão do Pai, "encarnar e anunciar a presença do reino de Deus"
(NEWBIGIN, Lesslie. O Evangelho em Uma Sociedade Pluralista. Viçosa:
Ultimato, 2016, p. 176).
10 KELLER, 2014, p. 299.
permanece indiferente. "É a presença desta nova realidade que
(quando a igreja é fiel) inspira as perguntas para as quais a pregação
do evangelho é a resposta" 11 . Deste testemunho origina-se um
diálogo missionário entre a igreja e o mundo. Uma igreja
comprometida com a sua essência missional vive de tal modo a
suscitar perguntas daqueles que são atingidos pelo seu testemunho.
O conceito de igreja missional, assim, é desenvolvido sob a
influência da crítica de Leslie Newbigin (1909-1998) e David Bosch
(1929-1992) a uma igreja que se via cativa ao racionalismo iluminista
num ocidente não mais cristão. Como alcançar o mundo moderno se
a própria igreja é refém de sua cultura e parece não ter mais o que
oferecer? Este era o dilema. Nessa busca por uma maneira de se
engajar e ser igreja na perspectiva da missio Dei, se fazia necessário
uma "igreja como comunidade contrastante, contextualização da
mensagem, preocupação não apenas com o crescimento da igreja,
mas também com a justiça". Enfim, afirmar o compromisso teológico
6
que compreende a missão "como participação nos propósitos do Deus
trino e uno para redimir a criação"12. Uma igreja que se compreende
chamada para participar daquilo que Deus está fazendo no mundo.
Nas palavras de Hirsch, a “igreja missional é uma comunidade do
povo de Deus que define a si mesma e organiza sua vida em torno de
seu real propósito de ser um agente da missão do Senhor para o
mundo”13. Este propósito divino encontra-se resumido na vocação de
Abraão onde é revelado que Deus edifica um povo para por meio dele
abençoar as nações14. Este paradigma do Antigo Testamento, muitas
vezes ignorado pelas igrejas que tematizam a missão hoje, precisa
ser resgatado para a reflexão a respeito da igreja missional.
Uma igreja missional, portanto, seria aquela que compreende
que a missão cristã "é mais do que somente um departamento da

11 NEWBIGIN, 2016, p. 176.


12 KELLER, 2014, p. 303.
13 HIRSCH, 2015, 89.
14 Gênesis 12.1-4.
igreja, mais do que apenas o trabalho de profissionais treinados”. Nas
palavras de Keller, “o Deus bíblico é por natureza um Deus enviador,
um Deus missionário. O pai envia o Filho; o Filho envia o Espírito e
seus discípulos ao mundo. Dessa forma, a igreja inteira está em
missão. Deus nunca nos abençoa sem também nos enviar para
sermos uma benção"15. Fica evidente aqui a alusão ao chamado de
Abraão que, como enfatiza Wright, “ocorreu de forma explícita, para
abençoar todas as nações da terra” 16 . Assim como Deus chamou
Abraão para, a partir dele e seu povo que seria gerado, ser uma
benção, hoje a igreja é este povo chamado para abençoar as nações.
Mais do que atracional, a igreja precisa ser uma comunidade que
também prepara e envia as pessoas para ministrar ao mundo. Isso
implica, nas palavras de Keller, "que as igrejas missionais precisam
preparar os leigos tanto para o testemunho evangelístico quanto para
a vida pública e profissional"17. Entre outras coisas, isso significa a
superação de velhos paradigmas missionários que resumem a
7
'missão' à “ideia de expansão geográfica, uma atividade em um lugar
distante baseada na iniciativa humana, pela qual as boas-novas são
levadas aos que ainda não a ouviram” 18, afirma o teólogo Michael

15 KELLER, 2014, p. 307. A expressão e a ideia de que Deus é um “Deus


missionário” já é desenvolvida por John Stott que define a missão cristã como
algo que tem “suas raízes na natureza do próprio Deus. A Bíblia o revela como
um Deus missionário (Pai, Filho e Espírito Santo), que cria um povo missionário
e que está trabalhando para uma consumação missionária” (STOTT, John. Ouça
o Espírito, Ouça o Mundo: como ser um cristão contemporâneo. 2ª ed. São
Paulo: ABU, 1998, p. 363). Stott segue desenvolvendo seu texto apresentando
este Deus como ele se revela no Antigo Testamento (Deus Missionário), nos
Evangelhos (Cristo Missionário), em Atos (Espírito Missionário), nas Epístolas
(Igreja Missionária) e no Apocalipse (Clímax Missionário).
16 WRIGHT, Christopher J. H. A Missão do Povo de Deus: uma teologia bíblica da

missão da igreja. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 50. Com base em Gênesis 12.
1-3 o mesmo autor afirma que “o mandamento e a promessa de Deus dados a
Abraão podem ser chamados legitimamente de a primeira Grande Comissão”
(Ibid.). Mais do que um bom exemplo ou ilustração para a doutrina da
justificação, afirma Wright, Abraão era “a própria agenda de Deus para salvar o
mundo” (Ibid. p. 76).
17 KELLER, 2014, p. 307.
18 GOHEEN, Michael W. A Igreja Missional na Bíblia: luz para as nações. São

Paulo: Vida Nova, 2014, p. 21. O autor pondera dizendo que embora este
modelo já não sirva à realidade do século 21, não se deve abandonar a ideia de
levar o evangelho para outras culturas, mas, que o conceito missional implicaria
Goheen. Trata-se de superar o paradigma influenciado pelo ideal de
progresso da cultura moderna e que se refletiu fortemente nas
missões transculturais no século 19 e início do século 20. Neste
movimento de um sentido só, como coloca Goheen, “do Ocidente para
outras partes do mundo”, o missionário é visto como “um agente de
expansão evangelística, e um campo missionário é qualquer área fora
do ocidente na qual essa atividade é realizada". E, ao descrever o que
seria uma igreja ‘missional’, Goheen define se tratar de uma
“comunidade cristã inteira como um corpo enviado ao mundo e que
existe não para si mesmo, mas para levar as boas-novas ao mundo"19.
Esta seria uma nova compreensão, uma perspectiva missional em
que a ação de Deus na história é compreendida como algo
“muitíssimo maior do que nosso tempo na história, do que nossa
localização geográfica, do que nosso pequeno pedaço de mundo, do
que nossos débeis esforços”, afirmam Goheen e Bartholomew. “Deus
está trabalhando e seus propósitos serão alcançados” 20, a igreja é
8
chamada a participar com alegria e esperança.
O termo “missional", portanto, não se limita às atividades da
igreja, "mas a própria essência e identidade desta igreja à medida que
ela assume o seu papel na história de Deus no contexto de sua cultura
e participa na missão de Deus para o mundo"21. Numa definição ainda
mais curta e direta, Christopher Wright define "missional" como aquilo
que é caracterizado por missões. Nas palavras deste teólogo
anglicano "a missão não é nossa, a missão é de Deus. A realidade
não é que Deus tem uma missão para sua igreja no mundo; em vez
disso, Deus tem uma igreja para sua missão no mundo" 22 . Ao

em mais do que isso. Falar de uma igreja missional significaria ir além da


atividade da igreja para referir-se à sua natureza (Ibid. p. 20).
19 GOHEEN, 2014, p. 21.
20 GOHEEN, Michael W.; BARTHOLOMEW, Craig G. Introdução à Cosmovisão

Cristã: vivendo na intersecção entre a visão bíblica e a contemporânea. São


Paulo: Vida Nova, 2016, p. 256.
21 GOHEEN, 2014, p. 20.
22 WRIGHT, Christopher J. W. Prefácio: O que quero dizer com “missional”?. In:

LOGAN JR., Samuel T. (Org.). Reformado Quer Dizer Missional: uma visão atual
trabalhar algumas definições em seu livro A Missão de Deus, Wright
defende a prioridade teológica da missão de Deus. Em suas palavras

"nossa missão (se esta for biblicamente definida e


validada) designa nossa participação ativa como povo de
Deus, a convite de Deus, segundo o mandamento de
Deus, na missão do próprio Deus, realizada na história do
mundo de Deus, para a redenção da criação de Deus.
Nossa missão flui da missão de Deus e dela participa" 23.

O autor desenvolve dizendo que em vez de missionário seria


preferível a palavra missional que "denota, simplesmente, alguma
coisa relacionada à missão ou caracterizada por ela, ou que tem as
qualidades, atributos ou dinâmica da missão"24. O desafio consistiria
em compreender a missão muito mais naquilo que a igreja é em vez
de algo que a igreja faz.

3. Considerações Finais

9
Muitos desdobramentos e implicações a partir do conceito
poderiam ainda ser abordados. Acreditamos que muitos estudos e
reflexões ainda se seguirão em busca de uma igreja missional para o
contexto brasileiro. Este breve texto limita-se tão somente a resgatar
contribuições de autores que auxiliam na definição do conceito. A
variedade de representantes, a partir de diferentes países e tradições
cristãs, mostra que estamos diante de um tema globalmente debatido.
Apresentamos, assim, este breve apanhado no intuito não de esgotar
o tema, mas, de provocar aqueles interessados em um maior
aprofundamento a trilharem seu próprio caminho a partir das pistas
aqui indicadas.

da missão de encher a terra com a glória do conhecimento de Cristo. São Paulo:


Cultura Cristã, 2015, p. 11-14, p. 11.
23 WRIGHT, Christopher J. W. A Missão de Deus: desvendando a grande narrativa

da bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 20.


24 WRIGHT, 2014, p. 22.
Concluímos, assim, que uma igreja missional seria aquela
que se compreende como instrumento da missão que Deus está
realizando no mundo. Uma igreja missionária por natureza25. É nisso
que a igreja encontra a sua identidade e propósito. Mais do que uma
tarefa a ser realizada em alguns momentos e em alguma região
específica, ser missional implica compreender toda a existência como
sendo para a missão de Deus, todos os dias, ali onde a igreja estiver.
Uma igreja que compreende pessoas vivendo uma vida missional.
Vivendo de tal modo a suscitar perguntas àqueles à sua volta,
perguntas para as quais a resposta é o evangelho de Jesus Cristo.
Refletir na perspectiva de buscar por uma igreja missional
implica manter-se atento à cultura e ao mundo ao redor. Significa
superar os velhos paradigmas pautados pelo pragmatismo e pela
tentação do mero crescimento numérico da igreja. É a busca por uma
igreja relevante a partir de homens e mulheres que compreenderam
que vivem em missão ali onde Deus os colocou, aqui, agora. Não se
10
trata de uma igreja que faz missão, mas, de uma comunidade de
crentes fiéis que se compreende a serviço da missão que Deus está
realizando no mundo. Isso depende de uma conscientização a
respeito do próprio conceito de igreja, uma concepção mais orgânica
e menos institucional. A igreja vai além da pessoa jurídica e que se
organiza em programas semanais num local específico. O Corpo de
Cristo é composto por pessoas que, além da participação e filiação a
denominações cristãs específicas, vivem inseridos numa cultura,
movem-se por uma sociedade onde convivem com todo tipo de
pessoas, em contextos de lazer, entretenimento, trabalho, política,
etc. Assim, igreja missional é aquela que aprendeu a assumir-se como

25REIMER, 2011, p. 248. Esta igreja missionária por natureza, acrescenta Reimer,
apresenta sob o termo “missional” três características: 1) “É enviada de Deus ao
mundo com a incumbência de concretizar sua missão”; 2) “É a oferta de Deus
para um determinado contexto”; 3) “Possui uma incumbência integral”. Para
maiores detalhes a respeito de como Reimer desenvolve estas três
características confira REIMER, 2011, p. 248-255.
igreja, em todos os momentos e lugares, vivendo como o povo de
Deus para servir e abençoar sua casa, seu bairro, sua cidade...

Referências

BOSCH, David J. Missão Transformadora: mudanças de paradigma


na teologia da missão. 3ª ed. São Leopoldo: EST, Sinodal, 2009.

GOHEEN, Michael W. A Igreja Missional na Bíblia: luz para as nações.


São Paulo: Vida Nova, 2014.

GOHEEN, Michael W.; BARTHOLOMEW, Craig G. Introdução à


Cosmovisão Cristã: vivendo na intersecção entre a visão bíblica e a
contemporânea. São Paulo: Vida Nova, 2016.

HIRSH, Alan. Caminhos Esquecidos: reativando a igreja missional.


Curitiba: Esperança, 2015.

KELLER, Timothy. Igreja Centrada: desenvolvendo em sua cidade um


ministério equilibrado e centrado no evangelho. São Paulo: Vida 11
Nova, 2014.

NEWBIGIN, Lesslie. O Evangelho em Uma Sociedade Pluralista.


Viçosa: Ultimato, 2016.

REIMER, Johannes. Abraçando o Mundo: teologia de implantação de


igrejas relevantes para a sociedade. Curitiba: Esperança, 2011.

STOTT, John. Ouça o Espírito, Ouça o Mundo: como ser um cristão


contemporâneo. 2ª ed. São Paulo: ABU, 1998.

WRIGHT, Christopher J. W. A Missão de Deus: desvendando a


grande narrativa da bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2014.

WRIGHT, Christopher J. H. A Missão do Povo de Deus: uma teologia


bíblica da missão da igreja. São Paulo: Vida Nova, 2012.

WRIGHT, Christopher J. W. Prefácio: O que quero dizer com


“missional”?. In: LOGAN JR., Samuel T. (Org.). Reformado Quer Dizer
Missional: uma visão atual da missão de encher a terra com a glória
do conhecimento de Cristo. São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 11-14.

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