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Observando o que até aqui foi proposto, percebemos que não chegamos a uma definição
pronta sobre qual é a missão da igreja? Se há vários “entendimentos” sobre o que é a
missão da igreja e se eles de certa forma diferem em seus princípios e postulados, será
que não estamos comprometendo nossa práxis missionária por causa dessa “indefinição”
do que somos e do que devemos fazer? Porque a base teológica de toda missiologia é sua
cristologia e sua continuidade fundamenta-se na eclesiologia que a igreja crer e abraça
como sua. Segundo David Bosh, em seu livro Missão Transformadora: “Desde os anos
1950, tem havido entre os cristãos um aumento notável do uso da palavra ‘missão’. Isso
tem sido acompanhado de uma ampliação significativa de seu conceito, pelo menos em
certos círculos”. Então essa fala do David Bosh está evidenciada nos vários conceitos
acima dispostos como tentativa de significar a palavra ‘missão’. Porém, o próprio David
Bosh, chega a uma conclusão (ele considerado um excelente missiólogo): “Não é
surpreendente que Bosh conclua, algumas páginas depois: “Em última análise, missão
permanece indefinível”. Todavia, é necessário entendermos em que contexto ele afirma
isso, pois ficaria complicado, concluir um livro assim. Sua assertiva tem lugar no
momento em que ele fala de uma crise paradigmática pela qual passa a igreja, justamente
entre outros aspectos considerados relevantes que estão “sofrendo” mudanças de
significados e de atuação, está a questão missiólogica. É preciso dizer que todo o processo
de crise implica em mudanças e em adaptações, em mudanças de compreensão e em
mudanças na práxis, e estas são necessárias, sem contudo, dissolver todo um legado
teológico e histórico que a igreja tem construído ao longo de sua existência.
Quero também citar um livro que eu considero relevante para essa discussão, pelo
equilíbrio que os autores denotam ao tratar sobre “Qual a Missão da Igreja?”, escrito
por Kevin DeYoung & Greg Gilbert, publicado pela Editora Fiel, em 2016.
A partir dessa compreensão “desmitificamos” a ideia de que a igreja tem que, que a igreja
tem que ter uma alternativa a fome no mundo, que a igreja tem que ter uma saída para a
violência no bairro, que a igreja tem que cuidar da precariedade da saúde das pessoas na
cidade, quando dizemos que a igreja tem que resolver ou ter uma resposta para tudo,
colocamos a missão como algo não especifico, mas casual, como algo que pode ser
qualquer coisa, ou coisa nenhuma, ou todas as coisas novamente. Podemos tratar da
questão sobre outro prisma, como igreja podemos nos envolver com isso e com aquilo,
não devemos ser insensíveis as necessidades daqueles que nos cercam, mas sobretudo,
que não percamos de vista qual é realmente o propósito que nos faz sermos enviados ao
mundo e no mundo. Se há algo específico para o qual Deus nos chamou e nos
comissionou, precisamos de toda a clareza possível sobre o que é, como acontece e
quando deve acontecer. Ainda citando o livro “Qual a Missão da Igreja?”:
É claro que parece uma explicação muito “simplista” para alguns que querem algo mais
contemporâneo, algo mais “contextual”. Isto é, o que a narrativa bíblica nos apresenta e
devemos nos ater ao texto bíblico e procurar transmitir a sua mensagem para essa geração
atual, sem contudo, mudar seus princípios e sem mudar sua comunicação. Penso que essa
“teologização” da missão a partir das ciências sociais, e a partir de uma hermenêutica
crítica, e de uma abordagem econômica-política-social, da busca de novas teologias, que
recusam os postulados teológicos da Reforma e a historicidade da igreja e da teologia
cristã, causa a abertura para todo o tipo de interpretação do texto bíblico, bem como do
Cristo apresentando na Palavra e do que é a igreja e a sua missão nesse mundo.
Os discípulos e a igreja primitiva, compreenderam qual era a missão deles, quem era o
Cristo que eles haviam crido e o que significava ser igreja naquele contexto, em uma
palavra simples como as que Jesus usou para chamar os pescadores à beira da praia
“Então, disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e Eu vos farei pescadores de homens”.
Mateus, 4.19.Acredito que as vezes teorizamos demais a missão quando deveríamos
sermos obediente ao que a Palavra de Deus nos manda fazer, e com os recursos que
ela diz que nós temos ao nosso dispor.
TENTANDO CHEGAR A UMA CONCLUSÃO...
Partindo do pressuposto bíblico que Jesus ordenou nas passagens da Grande Comissão
(Mt 28.16-20; Mc 13.10; 14,9; Lc 24.44-49; At 1.8). A igreja deve ser a agência
proclamadora das boas novas de salvação, deve ser um lugar onde pecadores são
transformados pela graça de Deus em discípulos que aprendem de seu Senhor e Mestre,
Jesus Cristo. A igreja também deve viver o evangelho que apregoa, sendo sal e luz do
mundo, resplandecendo com astros no meio de uma geração corrompida e perversa.
Sendo a coluna e firmeza da verdade, vivendo em integridade e labor missionário sempre.
Esta não deve jamais desviar de seu foco, de ir e fazer discípulos, ainda que algum
momentos tenha que “alimentar as multidões famintas” como Jesus fez, mas em um
momento, não tomar para si a responsabilidade de alimentá-los por todo o tempo. Deve
praticar a justiça do reino e sinalizá-lo sem que para isso precise pregar outras ideologias
partidárias ou filosóficas como se essas substituíssem o ensino bíblico. O evangelho é o
poder de Deus que a igreja precisa crer e vivenciar. Vivenciar e pregar, por obras e em
palavras, para que os gentios possam ver as nossas boas obras e glorificarem o nosso Pai
que está nos céus, mas está agindo na terra entre e por meio de nós, igreja comprometida
com a sua missão. Por fim, não tenho como esgotar e fechar uma temática tão ampla em
apenas um artigo, mas a proposta é que possamos voltar a Palavra e redescobrir (se for o
caso) qual a nossa missão nesse mundo como igreja enviada pelo Pai, pelo Filho e pelo
Espírito Santo (e com o Espírito Santo).
BIBLIOGRAFIA
DEYOUNG, Kevin & GILBERT, Greg. Qual a Missão da Igreja? – entendo a Justiça
Social e a Grande Comissão. Editora Fiel. Reimpressão. 2016. São J. dos Campos-SP.