Você está na página 1de 6

TREINAMENTO E CAPACITAÇÃO DOS OBREIROS – TCO

EMITES SERTÃO– 9ª EDIÇÃO


TEMA: Qual a tua Missão? (Jonas 1.8)
Então lhe disseram: Declara-nos tu agora, por causa de quem nos sobreveio este mal.
QUE OCUPAÇÃO É A TUA? Donde vens? Qual é a tua terra? E de que povo és tu?
(Jonas 1:8).
Introdução: A presente temática é de suma importância para a realização da missão, para
o fortalecimento da igreja. Cada discípulo precisa saber qual a missão que Deus lhe
confiou, e ao saber da mesma não pode fugir dela.
I – Acredito que na busca pelo entendimento, de qual é a nossa missão como igreja
enviada nesse mundo, observando o texto bíblico de forma integral e principalmente, as
últimas palavra de Jesus. Entre essas as que compõem a grande comissão. Algumas
ponderações antes de começarmos:
1- Hoje há na verdade, muita confusão sobre qual é a missão da igreja? Com o
que ela deve ser ocupar? Quais suas prioridades?
2- Há alguma teologia que possa nos orientar sobre essa temática?
3- Os estudiosos da missiologia apontam para um crescente interesse nessa área, mas
isso significa que a igreja está avançando?
4- Portanto, é relevante ponderamos sobre o que estamos fazendo e por que
estamos fazendo?
5- Qual a base de nossa missiologia? [Ver nossa declaração de fé].
a) Missional
b) Teologia da Missão Integral
c) Modelo Tradicional (o nosso assembleiano)
d) Outro modelo...
II – Entre tantas leituras que tenho praticado o livro “Qual a Missão da Igreja? – entendo
a Justiça Social e a Grande Comissão”. Que considero um ponto equilibrado na
discussão.
Algumas citações dessa obra que quero destacar:
“Missão (...) não é tudo que fazemos em nome de Jesus, nem tudo que fazemos em
obediência a Cristo. Missão é a tarefa que recebemos para cumprir. É o que Jesus nos
enviar a fazer no mundo. E, se queremos descobrir o que Jesus envia seus discípulos a
fazerem no mundo, acreditamos que o melhor texto a examinar é o Grande Comissão”.
Algumas perguntas que um dos autores apresenta em uma de suas exposições na
conferencia Fiel:
“A missão da igreja é fazer discípulos e propagar o Evangelho?”
“Ou fazer boas obras e realizar a justiça social? Ou será que são ambas as coisas?”
“Será que a missão da igreja é tão ampla quanto a missão de Deus?”.
III – Quais pontos são divergentes nas novas teologias missionárias que devemos
atentar com cuidado.
“Um dos maiores enganos em grande parte da recente literatura sobre missão é uma
suposição de que, o que quer Deus esteja fazendo no mundo, isso também é nossa tarefa”.
“Portanto, se a missio Dei (missão de Deus) é, em última análise, restaurar a shalon e
renovar todo o cosmos, nós, como cooperadores de Deus, devemos trabalhar visando os
mesmos propósitos”.
Portanto, essa compreensão que se considera missional, nos coloca como igreja na
posição de participar de tudo o que Deus está realizando nesse mundo, e nos sobrecarrega
em relação a nossa missão primordial, (o que abordarei no final desse artigo).
E se não somos chamados a cooperar com Deus em tudo o que ele está realizando nesse
mundo? E se a nossa missão não for idêntica à missão de Deus? E se realizamos a missão
de Jesus não da mesma maneira que ele a realiza?
No livro “Missão Integral – fundamentos teológicos e implicações práticas”, da
Ediomare Rodrigues Nóbrega, temos as seguintes citações:
“A salvação, na Teologia da Missão Integral, em vez de ser uma proposta individualista
e egoísta, passa a assumir um papel cósmico e mais abrangente. Deus salva os seres
humanos e toda a Sua criação. É a missão do povo de Deus amar e cuidar de todas as
pessoas e de tudo o mais que o Senhor criou e deseja salvar. Assim, somos desafiados
por Ediomare a ser cooperadores com Deus na restauração de todas as coisas – visíveis
e invisíveis”.
“Esta é a missão de Deus: recuperar a criação e a vida da humanidade da devastação
causada pelo pecado. A função da igreja nessa história é participar na missão de Deus;
devemos estar envolvidos na obra de Deus de restauração e cura. Isso define a identidade
e o papel da igreja”. (GOHEEN, p.38).
(Michael W. Goheen – A Igreja Missional na Bíblia – luz para as nações).
IV – Como definimos a missão da igreja hoje? Essa missão sempre foi a mesma?
Permita-me citar um postulado da nossa igreja (Assembleia de Deus), quero citar um
trecho de nossa “Declaração de Fé das Assembleias de Deus”, em seu Capítulo XI, e 6º
parágrafo, que trata especificamente sobre “A missão da Igreja”; publicado no ano de
2017.

“Entendemos que a função primordial da igreja é glorificar a


Deus: “Quer comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa,
fazei tudo para a glória de Deus”. (I Co 10.31). Isso é feito por
meio da adoração, da evangelização, da edificação de seus
membros e do trabalho social. (grifo meu). A igreja foi eleita para
a adoração e o louvor de Deus, recebendo, também, a missão de
proclamar o evangelho da salvação ao mundo todo, anunciando
que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e que em breve
voltará. (...) O evangelho é proclamado, a homens e mulheres,
sem fazer distinção de raça, língua, cultura ou classe social, pois
“o campo é o mundo” (Mt 13.38). Jesus disse: “Portanto ide,
fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19-ARA), “e ser-me-
eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Portanto,
entendemos que é responsabilidade da Igreja a obra
missionária. A edificação é realizada por meio do ensino da
Palavra nas reuniões apropriadas da Igreja, como culto de ensino,
da escola bíblica dominical. A igreja também exerce o ministério
de socorro e misericórdia, que inclui o cuidado dos pobres e
necessitados, e não somente dos seus membros, mas também dos
não membros. (...) A igreja tem o papel de ser sal e luz do mundo,
e essa luz resplandece por meio de nossas boas obras. Ensinamos
que, para a consecução da sua missão, o Espírito Santo foi
derramado sobre a igreja no dia de Pentecostes, e Cristo concedeu
líderes para servir a Igreja: “Querendo o aperfeiçoamento dos
santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de
Cristo” (Ef 4.12).

PROCURANDO UMA DEFINIÇÃO PARA O TERMO MISSÃO

Observando o que até aqui foi proposto, percebemos que não chegamos a uma definição
pronta sobre qual é a missão da igreja? Se há vários “entendimentos” sobre o que é a
missão da igreja e se eles de certa forma diferem em seus princípios e postulados, será
que não estamos comprometendo nossa práxis missionária por causa dessa “indefinição”
do que somos e do que devemos fazer? Porque a base teológica de toda missiologia é sua
cristologia e sua continuidade fundamenta-se na eclesiologia que a igreja crer e abraça
como sua. Segundo David Bosh, em seu livro Missão Transformadora: “Desde os anos
1950, tem havido entre os cristãos um aumento notável do uso da palavra ‘missão’. Isso
tem sido acompanhado de uma ampliação significativa de seu conceito, pelo menos em
certos círculos”. Então essa fala do David Bosh está evidenciada nos vários conceitos
acima dispostos como tentativa de significar a palavra ‘missão’. Porém, o próprio David
Bosh, chega a uma conclusão (ele considerado um excelente missiólogo): “Não é
surpreendente que Bosh conclua, algumas páginas depois: “Em última análise, missão
permanece indefinível”. Todavia, é necessário entendermos em que contexto ele afirma
isso, pois ficaria complicado, concluir um livro assim. Sua assertiva tem lugar no
momento em que ele fala de uma crise paradigmática pela qual passa a igreja, justamente
entre outros aspectos considerados relevantes que estão “sofrendo” mudanças de
significados e de atuação, está a questão missiólogica. É preciso dizer que todo o processo
de crise implica em mudanças e em adaptações, em mudanças de compreensão e em
mudanças na práxis, e estas são necessárias, sem contudo, dissolver todo um legado
teológico e histórico que a igreja tem construído ao longo de sua existência.

Quero também citar um livro que eu considero relevante para essa discussão, pelo
equilíbrio que os autores denotam ao tratar sobre “Qual a Missão da Igreja?”, escrito
por Kevin DeYoung & Greg Gilbert, publicado pela Editora Fiel, em 2016.

“Em seu aspecto mais elementar, o termo missão implica dois


aspectos para muitas pessoas: (1) ser enviado e (2) receber uma
tarefa. A primeira ideia é coerente porque a palavra missão vem
de uma palavra latina (mittere) que significa “enviar”. A segunda
ideia está implícita na primeira. Quando somos enviamos em uma
missão, somos enviados para fazer alguma coisa – e não tudo;
recebemos uma tarefa específica”. (...)

De modo semelhante, John Stott argumentou que a missão não é


tudo que a igreja faz, mas, antes, missão descreve “tudo que a
igreja é enviada a fazer no mundo”.

A partir dessa compreensão “desmitificamos” a ideia de que a igreja tem que, que a igreja
tem que ter uma alternativa a fome no mundo, que a igreja tem que ter uma saída para a
violência no bairro, que a igreja tem que cuidar da precariedade da saúde das pessoas na
cidade, quando dizemos que a igreja tem que resolver ou ter uma resposta para tudo,
colocamos a missão como algo não especifico, mas casual, como algo que pode ser
qualquer coisa, ou coisa nenhuma, ou todas as coisas novamente. Podemos tratar da
questão sobre outro prisma, como igreja podemos nos envolver com isso e com aquilo,
não devemos ser insensíveis as necessidades daqueles que nos cercam, mas sobretudo,
que não percamos de vista qual é realmente o propósito que nos faz sermos enviados ao
mundo e no mundo. Se há algo específico para o qual Deus nos chamou e nos
comissionou, precisamos de toda a clareza possível sobre o que é, como acontece e
quando deve acontecer. Ainda citando o livro “Qual a Missão da Igreja?”:

“Jesus até nos diz na Grande Comissão (como Mateus a relata)


que devemos ensinar as pessoas a guardar “todas as coisas que
vos ordenado”. Todavia, não significa que tudo o que fazemos em
obediência a Cristo deve ser entendido como parte da missão da
igreja. A missão que Jesus deu à igreja é mais específica do que
isso. E isso, por sua vez, não significa que outros mandamentos
de Jesus não são importantes. Significa que a igreja recebeu uma
missão específica de seu Senhor, e ensinar as pessoas a
obedecerem aos mandamentos de Cristo é uma parte inegociável
dessa missão”. (...) Portanto, dizemos novamente: que a missão
da igreja conforme vista na Grande Comissão, na igreja primitiva
mostrada em Atos e na vida do apóstolo Paulo – é ganhar pessoas
para Cristo edificá-las em Cristo. Fazer discípulos – essa é a nossa
tarefa”.

É claro que parece uma explicação muito “simplista” para alguns que querem algo mais
contemporâneo, algo mais “contextual”. Isto é, o que a narrativa bíblica nos apresenta e
devemos nos ater ao texto bíblico e procurar transmitir a sua mensagem para essa geração
atual, sem contudo, mudar seus princípios e sem mudar sua comunicação. Penso que essa
“teologização” da missão a partir das ciências sociais, e a partir de uma hermenêutica
crítica, e de uma abordagem econômica-política-social, da busca de novas teologias, que
recusam os postulados teológicos da Reforma e a historicidade da igreja e da teologia
cristã, causa a abertura para todo o tipo de interpretação do texto bíblico, bem como do
Cristo apresentando na Palavra e do que é a igreja e a sua missão nesse mundo.

Os discípulos e a igreja primitiva, compreenderam qual era a missão deles, quem era o
Cristo que eles haviam crido e o que significava ser igreja naquele contexto, em uma
palavra simples como as que Jesus usou para chamar os pescadores à beira da praia
“Então, disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e Eu vos farei pescadores de homens”.
Mateus, 4.19.Acredito que as vezes teorizamos demais a missão quando deveríamos
sermos obediente ao que a Palavra de Deus nos manda fazer, e com os recursos que
ela diz que nós temos ao nosso dispor.
TENTANDO CHEGAR A UMA CONCLUSÃO...

Partindo do pressuposto bíblico que Jesus ordenou nas passagens da Grande Comissão
(Mt 28.16-20; Mc 13.10; 14,9; Lc 24.44-49; At 1.8). A igreja deve ser a agência
proclamadora das boas novas de salvação, deve ser um lugar onde pecadores são
transformados pela graça de Deus em discípulos que aprendem de seu Senhor e Mestre,
Jesus Cristo. A igreja também deve viver o evangelho que apregoa, sendo sal e luz do
mundo, resplandecendo com astros no meio de uma geração corrompida e perversa.
Sendo a coluna e firmeza da verdade, vivendo em integridade e labor missionário sempre.

Esta não deve jamais desviar de seu foco, de ir e fazer discípulos, ainda que algum
momentos tenha que “alimentar as multidões famintas” como Jesus fez, mas em um
momento, não tomar para si a responsabilidade de alimentá-los por todo o tempo. Deve
praticar a justiça do reino e sinalizá-lo sem que para isso precise pregar outras ideologias
partidárias ou filosóficas como se essas substituíssem o ensino bíblico. O evangelho é o
poder de Deus que a igreja precisa crer e vivenciar. Vivenciar e pregar, por obras e em
palavras, para que os gentios possam ver as nossas boas obras e glorificarem o nosso Pai
que está nos céus, mas está agindo na terra entre e por meio de nós, igreja comprometida
com a sua missão. Por fim, não tenho como esgotar e fechar uma temática tão ampla em
apenas um artigo, mas a proposta é que possamos voltar a Palavra e redescobrir (se for o
caso) qual a nossa missão nesse mundo como igreja enviada pelo Pai, pelo Filho e pelo
Espírito Santo (e com o Espírito Santo).

Ev. Luciano Costa. 4 de dezembro de 2020. TCO – EMITES – Santana do Matos –


RN.

BIBLIOGRAFIA

DEYOUNG, Kevin & GILBERT, Greg. Qual a Missão da Igreja? – entendo a Justiça
Social e a Grande Comissão. Editora Fiel. Reimpressão. 2016. São J. dos Campos-SP.

SILVA, Esequias Soares. (Organizador). Declaração de Fé das Assembleias de Deus.


3ª impressão. 2017. Rio de Janeiro-RJ.

NOBREGA, Ediomare Rodrigues. Missão Integral – fundamentos teológicos e


implicações práticas. Betel Brasileiro Publicações. 2011. João Pessoa –PB.

GOHEEN, Michael W. A Igreja Missional na Bíblia. Editora Vida Nova. Reimpressão,


2015. São Paulo-SP.

Você também pode gostar