Você está na página 1de 17

1

Tema: Palavra do Diretor

Antes de começar nossos estudos, quero agradecer por ter se


matriculado no nosso Seminário Maior de Estudos Teológicos, quero dar-te as
boas vindas e te desejar bons estudos. Quero que saiba que estarei aqui pra te
auxiliar no que for necessário, contudo, quero que se esforce com toda
dedicação pra obter um bom estudo.

Fazer um estudo teológico não é algo difícil, mas também não é tão
fácil, contudo, quando buscamos a direção do Espírito Santo, com toda
dedicação e devoção, somos levados a ter toda revelação que necessitamos.

Tenho total confiança em você, querido aluno, confiança essa que me


leva a saber que no futuro próximo, será um grande defensor da fé, e quem sabe
um grande obreiro capaz de pregar o evangelho com toda excelência e amor.

Quero aqui fazer uma aliança com você, uma aliança a qual
primeiramente será feita com o Senhor JESUS CRISTO, filho de Deus. A aliança é
que irá estudar com desejo de aprender mais de Deus, com intenção de ser
edificado, com amor e alegria, e quando possível, poder falar e compartilhar tudo
quanto tem aprendido a outros para a glória de Deus.

Busquem estudar a Bíblia todos os dias com a intenção de conhecer


intimamente seu autor, o Espírito Santo, que a Palavra de Deus seja seu alimento
constante, isso fará que venhas a ter um conhecimento e crescimento espiritual.

Não estude e não leia a Bíblia somente com um objeto de estudo, mas
estude com os olhos espirituais pedindo sempre a revelação de Deus e aplicando
tudo que aprender e ler em sua vida, tudo que ler, veja como um espelho pra
você e não como algo que somente serve pra outras pessoas, e o mais
importante, leia crendo sem duvidar. (Hebreus 11.1)

Diretor: Pr.Clesilvio de Castro Sousa


3

SUMÁRIO

A MISSIOLOGIA, MISSÃO E MISSÕES .......................................................................................................1


A MISSIOLOGIA URBANA .....................................................................................................................4
ELEMENTOS MISSIOLÓGICOS ................................................................................................................6
TEOLOGIA DA MISSÃO ...................................................................................................................... 10
O QUE É MISSÃO? ............................................................................................................................ 11
HISTORICIDADE DA MISSÃO ............................................................................................................... 13
4

CAPÍTULO 1
A MISSIOLOGIA, MISSÃO E MISSÕES

O termo missiologia éa junção de dois vocábulos,um latino, “missione” e outro grego


“logia”. Literalmente significa “estudo ou tratado sobre missões”. A palavra “missão” procede do
verbo latino “mittere”, isto é,“ação, tarefa, ordem, mandato” e pode significar desde uma função
ou poder que se confere a alguém para a realização de alguma atividade, até uma função especial
da qual um governo encarrega um diplomata junto a outro país.
O vocábulo missiologia também pode agrupar os significados de sua própria raiz,
significando desde uma autorização ou poder concedido por alguém,atéo enviado ser incumbido de
uma missão especial. Estas considerações se conformam aos principais textos missiológicos dos
evangelhos de Mateus (28.18-20) e de Marcos (16.15-18).
Desta forma, podemos afirmar que Missiologia é a ciência que estuda a missão
evangelizadora da Igreja, seja nacional ou estrangeira. Uma acepção técnica conduz ao conceito de
ser a disciplina da Teologia Prática que se ocupa do estudo da missão integral da igreja, segundo a
ordem imperativa de Jesus registrada no evangelho de Mateus (28.18-20) e de Marcos (16.15-18)
e confirmada pelo restante das Escrituras; e ainda, a ciência que estuda, analisa e estabelece
estratégia se formas de incentivo do trabalho missionário .
São três as tarefas da Missiologia, a saber, restrita: analisar, objetiva e criticamente os
projetos, motivos, estruturas, métodos, pautas de trabalho e lideranças que a igreja tem
desenvolvido em cumprimento ao mandamento de Deus; ampla: examina todos os tipos de
atividades humanas, quer sejam sociais, filosóficas, éticas,políticas ou de outro tipo qualquer, que
combatem os diversos males que há no mundo, para ver se as atividades são adequadas com os
critério se metas do reino de Deus; e, dogmática:a Missiologia ao investigar a Missão da Igreja tem
como fundamento a própria “missão de Deus” ao planejar a salvação dos povos. Inicialmente
chamando o povo de Israel para ser luz à todas as nações (Is 49.6), logo a seguir, por meio da morte
e ressurreição de Jesus, a comissão de Jesus à todos os seus discípulos para serem suas testemunhas,
geograficamente, até os confins da terra e, cronologicamente, até o fim dos tempos (Mt 28.18-20;
Hb 1.8).
5

A questão da definição e do conceito de missão tem sido amplamente discutida ao longo


dos anos, e a falta de um vocabulário comum no meio cristão tem causado embaraço na definição
das atividades da igreja, ou seja, naquilo que a igreja deve ou não fazer, o que é missão e o que
não é,até que ponto a igreja pode ir ou deve realizar obras tendo a convicção de que está
cumprindo fielmente o propósito Divino.
Em termos bem simplórios, pode-se dizer que missão “é o trabalho amoroso de Deus para
trazer a espécie humana, como igreja, para perto de Si”. Como conseqüência secundária,missão “é o
ministério global da igreja para evangelização mundial”. E ainda, que a qualquer atividade nas quais os
cristãos estejam envolvidos para cumprir esta tarefa, chamamos “missões”.
Essa definição ou delimitação da missão parte do conceito, o qual, como já dito, no
decorrer dos anos, tem vestido várias roupagens, dentre elas pode-se citar que Missão é:o envio de
missionários para um designado território; tem a ver com as atividades realizadas por tais
missionários; a área geográfica aonde os missionários realizam seus ministérios; a agência
missionária responsável pela logística e pelo envio de missionários aos seus respectivos campos; a
propagação do evangelho aos povos não alcançados; o centro do qual os misionário siradiam o
evangelho; uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar vocações missionárias; a
propagação da fé cristã; a expensão do reino de Deus; a conversão dos povos pagãos; a plantação
de novas igrejas[1].
Percebe-se, portanto, que o conceito de missão flutuou do genérico ao específico, da
serviço à geografia, da ação ao preparo, sendo, desse modo, definidor da ação a ser desenvolvida
pelo corpo de Cristo.
Contudo, convém destacar, para melhor elucidação do tema, dois termos que devem ser
considerados para a definição do conceito, a saber, a missio Dei e a missio ecclesia e, expressões,
não cunhadas, mas utilizadas pelo missiólogo David Jacobus Bosch[2] para distinguir a missão de
Deus e a missão da igreja.
Segundo Bosch, o primeiro conceito alude a missio Dei (missão de Deus), isto é,a auto-
revelação de Deus como aquele que ama este mundo, o envolvimento de Deus no e com o mundo,
a natureza e atividade divinas, as quais abarcam a igreja e ao mundo, e das quais a igreja tem o
privilégio de participar.
Outrossim, não é demais dizer que a missão se origina em Deus, ou seja, na Trindade.
Timóteo Carriker nos ajuda a compreender melhor tal afirmação ao declarar que:
6

“Portanto, ‘missão’ é uma categoria que pertence a Deus. A missão, antes de ter uma
conotação humana que fala da tarefa da igreja, antes de ser da igreja, é de Deus. Esta perspectiva
nos guarda contra toda atitude de auto-suficiênciae independência na tarefa missionária.Se a missão
é de Deus, então é dEle que a igreja deve depender na sua participação na tarefa. Isto
implica numa profunda atitude de humildade e de oração para a capacitação missionária,uma
dependência confiante em Deus, em vez da independência característica da queda, do dilúvio, da
torre de Babel e do próprio cativeiro.”[3]
Noutra quadra, as missiones ecclesiae (missões da igreja) referem-se aos
empreendimentos missionários da igreja, designando formas particulares, relacionadas com os
tempos, os lugares ou necessidades específicos, de participaçao na missio Dei.
Desse modo, a missão não é,pois, primeiramente uma atividade que a igreja realizada por
si só, mas um atributo divino. A missão é primária; as missões são secundárias,derivadas da
primeira. Nesse toar, sua vocação é tornar-se co-participante da própria ação de Deus no mundo.
A tarefa da igreja deste Deus missionário– como enviada – é ver, ouvir, chamar, orientar, apontar,
ajudar e tornar-se solidária como parte do testemunho daquela ação de Deus.
7

CAPÍTULO 2
A MISSIOLOGIA URBANA

O século20 testemunhou várias mudanças no cenário da população mundial. Entre elas, a


rápida urbanização. A proporção global de população urbana cresceu de 13 % em 1900 para 29 %
em 1950 e, de acordo com o 2005 Revision of World Urbanization Prospects, alcançou 49 % em
2005 (sendo que na América Latina, 78 % das pessoas moram em cidades). E, a esta altura, a
população mundial, pela primeira vez na história, já tem mais habitantes urbanos do que rurais. A
população urbana mundial, estimada em 3 bilhões em 2003, deve atingir 5 bilhões até2030.
Esperava-se que a rápida urbanização significasse o triunfo do racionalismo, dos valores
seculares e da desmistificação do mundo, bem como o relegar a religião a um papel secundário,
mas de acordo com um relatório do Population Fund das Nações Unidas, em 2007, “tem havido
uma renovação do interesse religioso em muitos países” [1].
Perante tais transformações, o que a Bíblia tem a ensinar sobre o cumprimento da missão
no contexto urbano? Como Paulo se relaciona com as cidades no seu ministério?O que a Igreja pode
aprender com a experiência dos cristãos da Galácia?

Paulo e as cidades
O contexto urbano era familiar para Paulo. Ele havia nascido numa região metropolitana
e conhecia a situação daquelas comunidades ao ponto de mencionar que era “natural de Tarso,
cidade não insignificante da Cilícia” (At 21:39). De fato, esse era um importante centro de
comércio,cultura e educação.[2] Além disso, foi a bem-sucedida pregação cristã em Damasco que
despertou os ataques de Paulo e ali ocorreu sua conversão (Gl 1:13-17).
Mas Paulo também via as cidades favoravelmente na estratégia evangelística. Na verdade,
ele priorizava os contextos urbanos e se dedicava, nas viagens, a visitar e evangelizar cidades. “Elas
eram centros estratégicos,não corredores, de onde o evangelho seria espalhado. ‘Todas as cidades,
ou vilas, nas quais ele plantou igrejas eram centros de administração romana, de civilização grega,
de influência judia, ou de alguma importância comercial”. Paulo não pregou em todas as cidades
do caminho. Ele escolheu aquelas que, por uma razão ou outra, eram importantes para o seu plano
de rápida evangelização do império.Naqueles primeiros anos, há menos de uma
8

Década da crucifixão de Jesus, a cultura de vila da Palestina havia ficado para trás e a cidade greco-
romana havia se tornado o ambiente predominante no movimento cristão.[5] E foi de acordo com
essa estratégia que Paulo escolheu trabalhar na região da Galácia e fundar igrejas ali.
Se o mundo de Paulo consistiu basicamente de cidades do Império Romano, talvez fique
mais fácil entender sua conclusão quanto a seu ministério urbano, quando diz que “desde Jerusalém
e circunvizinhanças atéao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (Rm 15:19). Apesar de a
epístola aos Gálatas não ser tradicionalmente uma “cartilha” para missão urbana, se atentarmos para
o contexto em que viviam as pessoas mencionadas nessa carta, certamente poderemos extrair lições
importantes para os dias atuais.

Aos gálatas
A região da Galácia tinha várias igrejas aparentemente com organização distinta e
fundadas pelo apóstolo Paulo. Esse grupo de congregações é mencionado tanto em 1 Coríntios 16:1
como em Atos 18:23. O Novo Testamento não destaca nomes de lugares ou pessoas naquela região,
mas as igrejas estavam possivelmente localizadas em cidades como Icônio, Listra, Derbe e
Antioquia da Psídia. A igreja era primariamente formada por gentios, de origem celta, mas ao redor
de um núcleo de judeus conversos.[6] Essas cidades estavam situadas ao longo da Via Sebaste, a
principal rota de comércio entre Éfeso e a região oriental do império, um canal de comunicação
essencial para o governo. Por esse caminho Paulo e Barnabé viajaram, pregaram nas sinagogas e
mercados e plantaram igrejas.[7] Apesar de as igrejas gálatas estarem em erro, continuavam sendo
verdadeiras igrejas de Cristo. Como parte do seu trabalho naquela região, procurando combater os
problemas e alimentar a fé dos irmãos, Paulo escreveu a epístola aos Gálatas.
9

CAPÍTULO 3
ELEMENTOS MISSIOLÓGICOS

Ao se aproximar da epístola aos Gálatas,é importante atentar para a dimensão missionária,


nem sempre reconhecida, da teologia de Paulo. De fato, como David J. Bosch comenta, “a teologia
e missão de Paulo não simplesmente se relacionam como ‘teoria’ e ‘prática’ no sentido em que sua
missão ‘flui’ da sua teologia, mas no sentido em que sua teologia é uma teologia missionária”[8].
Neste caso, a introdução da carta oferece o pano de fundo para o seu desenvolvimento, originado na
dinâmica da comunicação do evangelho.
Reforçando as características já mencionadas, logo no início de Gálatas,Paulo menciona
sua tendência de pregar particularmente aos “de maior influência”com o objetivo claro de “não
correr ou ter corrido em vão” (Gl 2:2) e de delegação do trabalho, o que é detalhado no final do
capítulo 1 e no capítulo 2. Além disso, sendo sensível à cultura local, Paulo se apresenta como
“sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1:14). Tal zelo, no entanto, é ainda
maior quanto ao evangelho supracultural. Em relação ao conteúdo do evangelho, J. Herbert Kane,
destaca que Paulo era inflexível e dogmático .A mensagem jamais podia ser mudada, nem por um
anjo do Céu:“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do Céu vos pregue evangelho que vá
além do que vos temos pregado, seja anátema”(Gl 1:8) [9]. O resultado da missão de Paulo na
Galácia,seguindo esses princípios não poderia ter sido mais legítimo. Como George Knight enfatiza,
além de responderem ao evangelho com entusiasmo (Gl 4:13, 14; 1:9), as pessoas tinham recebido
o Espírito de Deus, que havia operado milagres (Gl 3:2, 3, 5). “Eles tinham tido uma experiência
cristã genuína.”
Autoridade na Palavra de Deus. Algumas atitudes infiltradas nas comunidades da Galácia,
motivo para o envio da carta, passaram a minar aquela experiência inicial. Paulo não começa sua
epístola da maneira habitual, louvando a Deus e orando pelos santos, porque “há alguns que vos
perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo” (Gl 1:7). Esses falsos mestres aparentemente
haviam tido bastante sucesso nas suas investidas e haviam desviado um grande número de membros
das igrejas da Galácia, em pouco tempo (Gl 1:6). Gálatas convertidos haviam se apostatado através
dessa influência e foram chamados por Paulo de “insensatos!” (3:1).
10

Nesse contexto, até a autoridade de Paulo estava sendo questionada. Apesar de esse
questionamento não aparecer explicitamente, o apóstolo inclui duas seções longas reafirmando sua
conversão e caminhada espiritual que certamente serviram a esse propósito (1:11-24 e 2:11-21). Ele
relembra sua vida anterior de perseguição à igreja de Deus (1:13), sua aprovação pelos demais
apóstolos Cefas e Tiago (1:18-19) e pelas igrejas da Judeia (1:22-24). A sua autoridade, no entanto,
não estava primariamente baseada nesses fatos: “Faço-vos, porém,saber; irmãos, que o evangelho
por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não recebi, nem o aprendi de homem algum,
mas mediante revelação de Jesus Cristo” (1:11-12).
Salvação em Cristo.
Esses falsos mestres eram judaizantes, talvez os mesmos que haviam causado problema
em Antioquia da Síria (At 15:1), enfatizavam um retorno às tradições judaicas em detrimento do
verdadeiro significado do ministério de Cristo e foram qualificados por Paulo de “falsos irmãos que
se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos
à escravidão” (Gl 2:4). Esses “missionários”, diferentemente da contextualização sábia típica das
missões de Paulo, queriam impor sua cultura aos gentios como parte do evangelho.
Tão logo o Evangelho passou a ser pregado àqueles que não eram judeus, as diferenças
culturais ficaram evidentes na vivênciado cristianismo e no convívio entre eles. Paulo se dedicou à
missão entre os gentios (2:7-8). Num primeiro momento de compreensão e adaptação, até mesmo
os líderes tiveram dificuldade em lidar com as diferenças. Paulo cita que até mesmo Pedro, ao visitar
Antioquia, agiu de modo incoerente com o evangelho da graça (2:12).
Apesar do acirrado debate missiológico nos dias de Paulo envolver a questão prática da
circuncisão (Gl 2:3-4, 7-9), a pergunta era: como ser salvo? Em resposta a essa pergunta, na parte
central da epístola, Paulo comenta sobre (1) a fé, (2) a lei, (3) os cristãos e (4) Cristo.
Primeiramente, ele declara que “o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé
em Cristo Jesus” (2:16). E então faz uma pergunta retórica conectada à própria experiência dos
gálatas:“Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação
da fé?” (3:2). Finalmente, um lembrete sobre o exemplo da fé de Abraão (3:6, Abraão é
mencionado novamente em Gl 4:21-31 para demonstrar a prática da justificação pela fé)e o resgate
do texto de Habacuque 2:4: “O justo viverá pela fé” (Gl 3:11). Em seguida, Paulo passa para a
razão de ser da lei (3:19) e conclui que “a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de
que fôssemos justificados por fé” (3:24).
11

Na sequência,Paulo destaca de forma especial que se alguém aceita Jesus, torna-se filho de
Deus, portanto descendente de Abraão e herdeiro da promessa dada a Abraão. O conceito é
expandido alguns versos depois com a conclusão de que acima de tudo aquele que aceita Jesus é um
herdeiro de Deus (3:26). “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem
homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois
descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (3:28 e 29).
Paulo chega ao cerne da questão ao apresentar de forma compacta e concentrada quem é
Jesus: “Vindo, porém,a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob
a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (4:3).
Posteriormente, Paulo deixa claro o propósito da sua perseverança “até ser Cristo formado em vós”
(4:19), já que era importante que entendessem que Cristo era o libertador (5:1). Paulo ainda faz uma
advertência:“De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes”
(5:4).
Como foi mencionado anteriormente, nesta epístola Paulo não está tão preocupado com a
circuncisão, apesar de mencionar essa questão, ou outro aspecto da lei, em particular, como o falso
ensinamento de que o homem pode se salvar pelas obras, a conciliação do papel da lei e o sacrifício
de Cristo (4:8-10).[11] Seguindo a coerência da sua argumentação sobre o relacionamento entre
Cristo e a lei, sobre a circuncisão Paulo diz: “Se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos
aproveitará.De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar
toda a lei” (5:2-3). Mesmo que chocante para alguns, no seu fervor, Paulo define: “Porque, em Cristo
Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (5:6).
Autenticidade no Espírito.
Na última seção do livro, o apóstolo apresenta as credenciais de um cristão autêntico,que
pratica aquilo que prega. Paulo introduz essa parte relembrando a própria experiência(4:16-20) mais
uma vez. Em seguida, apela aos gálatas por uma vida liberta dos preconceitos tradicionais, mas
firme na fé em Jesus Cristo (5:13-15); uma vida de abundante graça, esperança da justiça e atos de
amor (5:4-6). Dessa forma, a Igreja na Galácia seria conhecida por andar no Espírito e jamais
satisfazer à concupiscência da carne (5:16), por frutificar no Espírito e crucificar na carne.
Essa mudança também serviria de antídoto para as dificuldades do dia-a-dia. “Irmãos, se
alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de
12

brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (6:1). Se alguém tiver uma carga muito
pesada, “levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo” (6:2). Finalmente,
cultivem o amor “e não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não
desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas
principalmente aos da família da fé” (6:9, 10).
Os conselhos práticos de Paulo se encontram após uma pequena introdução entre as duas
últimas vezes que Paulo usa a palavra “lei”, sem querer recomeçar a discussão. Ele apresenta que
essa seria uma vida de verdadeiro cumprimento da lei de Deus, “porque toda a lei se cumpre em
um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (5:14). “Pois nem mesmo aqueles
que se deixam circuncidar guardam a lei; antes, querem que vos circuncideis, para se gloriarem na
vossa carne” (6:13).
13

10

CAPÍTULO 4
TEOLOGIA DA MISSÃO

Até o século XVI , o conceito de missão aplicava-se somente às missões divinas, á missão
do Filho e à missão do Espírito Santo. No século XVI, os jesuítas usaram esse conceito para
expressar a atividade de expansão do cristianismo no mundo recém descoberto.

A entrega da missão aos discípulos


A missão pela qual Jesus foi enviado pelo Pai, Jesus a transmite aos seus discípulos. “Como
o meu Pai me enviou, também eu vos envio”. O que se comunica não é somente o fato de ser
enviado, mas todo o conteúdo do envio, a obra do Pai que é preciso realizar. O conjunto do Novo
Testamento mostra que Jesus delega toda a sua missão aos discípulos. Essa missão não é algo além
das outras prescrições. Não é um novo mandamento ao lado de outros, não é outra obra como se
houvesse outra ao lado. A missão é tudo, toda a vida dos discípulos, já que Jesus exige deles a
totalidade da sua vida, no tempo, no espaço, na intensidade.
Os discípulos são aqueles que são enviados ao mundo como presença ativa de Jesus. Por
meio deles Jesus realiza a sua missão. Não quer dizer que Jesus abandona a sua missão e descansa,
mas que doravante a sua missão Ele a realiza usando as pessoas dos seus discípulos. Todas as
atividades dos cristãos são ou deveriam ser parte da missão de Jesus.
Esta delegação da missão dirige se ao povo inteiro, pois os discípulos são o núcleo inicial
do povo. A missão dirige-se ao povo como coletividade e a cada um dos membros desse povo. Não
há uma ação única do povo da qual todas as ações particulares seriam uma peça.
Cada ação individual tem a sua autonomia e o seu valor próprio. Mas, todas juntas estão
inseridas numa obra comum que é a missão entregue ao povo como totalidade. Não é uma totalidade
de tipo militar ou imperial em que todos copiam o mesmo esquema de ação e obedecem a um
mesmo plano, mas uma totalidade unida pelo sopro do mesmo Espírito com a maior diversidade de
aplicações particulares.
14

11

CAPÍTULO 5
O QUE É MISSÃO?

O envio aos pobres Jesus foi enviado aos pobres.


Os Sinóticos mostram-no vivendo no meio do povo pobre de Galiléia, em disputa
permanente com as autoridades. O evangelho de Lucas está centrado na oposição ricos - pobres e o
Magníficat representa de certo modo a sua síntese. Também as bem-aventuranças são muito claras.
Paulo é claríssimo na sua opção. Para ele, a missão dirige-se ao pobres a tal ponto que quis viver do
seu trabalho manual como um pobre. Em João, a vida de Jesus foi um imenso debate entre Jesus e
as autoridades.
Os discípulos são os pequenos e Jesus defende os pequenos contra a dominação dos
grandes. Esta doutrina tão evidente foi esquecida durante quase sete séculos,mas ela reapareceu nas
crises sociais do século XIX.
Há sobretudo uma geração de missionários que foram para os pobres entregar a boa notícia
que lhes era destinada. Desde então, a consciência de que os pobres são os destinatários da missão
permanece mais nos textos do que na realidade, mais nas palavras do que nas ações.
Por que a missão é envio aos pobres? Porque o objeto da missão é para eles uma mensagem
de alegria e que não o é para todos. O objeto da missão é o anúncio da chegada do reino de Deus.
O reino de Deus é a libertação dos pobres: a realização das bem-aventuranças, a realização das
promessas proclamadas por Maria. Um mundo novo está começando. Já começou com a chegada
de Jesus e continuará com a missão dos discípulos.
É o advento da vida. Como diz Jesus às autoridades de Israel: eles só querem a morte, mas
Jesus quer a vida de todos aqueles que as autoridades querem matar. O evangelho de João expressa
essa libertação com imagens muito fortes. O que está acontecendo, o que é a missão de Jesus éo
combate final entre Deus e Satanás .Satanás quer a morte e seduz por meio de mentiras. Ele atua
por meio das autoridades de Israel, os sacerdotes, os doutores, os poderosos, os fariseus, todos
aqueles que exigiram que Pilatos condenasse Jesus à morte. Todos eles querem a morte, mas Jesus
vem para dar vida a todas essas vítimas. Por um lado estão os poderosos e por outro lado estão as
vítimas dos poderosos.
15

12

Esse reino de Deus é boa nova para todos aqueles que ainda esperavam nas promessas dos
profetas. Pois, a libertação anunciada por Jesus é obra de justiça, recuperação da dignidade e dos
direitos dos pobres, reconquista da auto-estima depois de tantas humilhações. A missão da Igreja é
anunciar, proclamar esse evangelho, mas também trabalhar para esse advento. Pois, Jesus não veio
anunciar um milagre, mas a chegada de uma era nova em que os próprios pobres, animados pelo
Espírito de Deus, poderiam recuperar a vida, recuperar a liberdade, a dignidade humana.
O reino de Deus não vem por milagre, mas pela ação do próprio povo pobre. A missão de
Jesus é essa ação do povo pobre que se liberta. A missão do povo de Deus é entrar na caminhada
de libertação conduzida pela força do Espírito Santo. Por todas essas razões a missão se dirige para
os pobres.
16

13

CAPÍTULO 6
HISTORICIDADE DA MISSÃO
As condições históricas
A missão começou na terra de Israel. Segundo Lucas ou João, ela teria começado em
Jerusalém. Segundo Mateus e Marcos, ela começou na Galiléia. Ela deve ter começado
simultaneamente em Jerusalém e na Galiléia.Então começou a dispersão, lenta primeiro e mais
acelerada depois. Os apóstolos não eram nem geógrafos, nem estratégias. Não elaboraram nenhum
plano. Seguiram os caminhos abertos. Viram onde estavam as portas abertas. Não puderam
evangelizar o mundo inteiro de uma vez.
Paulo teve um pouco a ilusão de percorrer o mundo inteiro com a sua viagem a Espanha.
Mas, os missionários tiveram que descobrir um Império imenso feito de 50 povos. Depois da
primeira geração, a missão não foi feita em primeiro lugar por missionários enviados oficialmente.
A mensagem de Jesus foi levada por comerciantes, viajantes, soldados itinerantes. Viajava-se muito
no Império Romano. Tudo foi feito pelas estradas existentes.
As condições políticas
A terra de Israel estava dentro do Império Romano. Por isso a missão estendeu-se ao
Império Romano e permaneceu dentro dos limites do Impériona sua quase totalidade até o século
VIII, quando Carlos Magno fez a conquista da Germânia. Uma vez que o cristianismo se tornou
religião oficial do Império,a entrada nos países inimigos foi mais difícil.
Milhares de mártires morreram no Império persa por causa da guerra entre Roma e a
Pérsia.Ainda hoje, a missão cristã é quase impossível em todo o mundo muçulmano por causa das
guerras incessantes entre a cristandade e o Islã. Foram 1400 anos de guerra. Isto torna o diálogo
muito difícil. Muitos países entraram na cristandade como consequência da conquista militar: os
povos germânicos e eslavos, os povos da América e grande parte da África. Os que resistiram à
conquista, resistiram também à religião dos conquistadores, como na China ou no Japão. De
qualquer maneira, a colonização deixou uma implantação forte do cristianismo na América,nas
Filipinas, na Sibéria.Houve tentativas de missão entre os mongóis na idade média.Mas era preciso
contornar todo o mundo muçulmano, e, finalmente, boa parte dos mongóis entrou no Islã. Condições
culturais Certas culturais mostraram-se mais abertas e outras mais fechadas, não
17

14

somente por razões políticas, mas por razões culturais. Alguns povos puderam achar que podiam combinar a
sua própria cultura com o cristianismo e outros não.
O cristianismo encontrou um terreno muito favorável na África, mas muito mais difícil na Ásia, por
causa da resistência de religiões mais antigas e amalgamadas com culturas milenares. A rigidez do sistema
católico tornou o diálogo mais difícil. Depois de Trento, o catolicismo se fechou num sistema rigoroso de
dogmas, ritos e leis que constitui um obstáculo maior para a missão. Pois, a missão da Igreja pede ao mesmo
tempo a conversão ao evangelho e a aceitação de todo o sistema religioso da cristandade ocidental. Em muitos
casos, o próprio cristianismo desaparece debaixo da abundância de formas culturais do sistema católico.
Ninguém consegue mais reconhecer a mensagem de Jesus debaixo de um revestimento tão sólido.

Você também pode gostar