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CAPÍTULO DOIS
Fé – o Sexto Sentido
Fé não é “crer em algo que você sabe que não é verdade”, nem “crer em
alguma coisa da qual não há evidência”; isso é tolice. Essas são algumas
ideias estranhas sobre fé, tão estranhas que entendemos ser necessário
esclarecer sobre o que estamos conversando.
A Bíblia é um grande livro sobre fé e, por isso, existem alguns fatos sobre ela
que precisamos de esclarecer.
Fé Comum
Um fato básico nessa questão é que “a fé não se constrói”; ou seja, já
nascemos com a capacidade de crer. E se você acha que não tem fé – pense
melhor! Tente não crer em nada nem em ninguém – sua esposa, marido,
médico, banco, chefe, padeiro ou cozinheiro. Sem qualquer garantia
colocamos nossa vida nas mãos de cirurgiões e confiamos em condutores de
trem, carros, e aviões e nem pensamos em fé. Ela é um tipo de sistema imune
que filtra o nosso medo que, de outra maneira, paralisaria todas as atividades.
E quando isso não acontece, desenvolvemos todos os tipos de fobias e
compulsões, e acabamos por sofrer um esgotamento nervoso. Jesus disse para
não termos medo, mas fé (Lucas 8.50).
Se pararmos de viver a nossa vida sob a perspectiva da fé, nunca mais nos
levantaremos da cama pela manhã, ou sairemos de casa; podemos até vir a
acreditar que o céu irá cair sobre nós. Neste mundo, milhares de problemas
estão como que enrodilhados como serpentes prontas a dar o bote; entretanto,
seguimos em frente, confiantes, não obstante essa ameaça. A Bíblia diz: “...
segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Romanos 12.3). Se
Jesus disse: “crê somente” (Marcos 5.36), então é porque podemos crer.
O melhor exemplo de fé que conheço é o casamento. Será que alguma noiva
ou noivo algum dia imaginou que o outro fosse perfeito? Creio que não;
entretanto, ainda assim eles se comprometem um com o outro para toda a
vida, para dias melhores ou piores. Certa vez uma noiva se recusou a repetir
as palavras, “Eu o aceito para viver contigo em dias melhores e em dias
piores”. Ela justificou-se dizendo o seguinte: “Eu somente o aceito para os
dias piores, pois sei que ele nunca vai melhorar”. E mesmo sabendo dessa
realidade, ela continuou; determinada, mas nada otimista!
Não existe nenhuma atmosfera de mistério com relação à fé. Talvez as
próprias criancinhas sejam os melhores crentes. Já levantei muitas crianças
em meus braços, e nenhuma gritou por medo de cair; o próprio Jesus colocou
uma criança no colo para ilustrar um de seus sermões. Ele disse que as
crianças têm entrada garantida no Reino de Deus. A fé, entretanto, não vem
com a extinção do bom senso; ela não é absolutamente uma psicologia
estranha, desenvolvida como resultado de grandes esforços dos santos que
habitavam em cavernas, vivendo a pão e água. Ela não é algo excêntrico; é
natural. A dúvida, por outro lado, é estranha – na realidade, é mesmo
irracional, e é a única coisa que sempre surpreendeu a Jesus.
Pecadores Podem Crer
Vamos agora falar sobre os santos. As pessoas confundem fé com virtude. Fé
é simplesmente fé; ela existe. A virtude, por outro lado, é desenvolvida. A fé
não nos vem como no aprendizado de piano; ou seja, de nível em nível. Às
vezes, as pessoas falam sobre “grandes crentes” como se a fé fosse
encontrada em tamanhos diferentes, como casacos, por exemplo. Podemos ter
fé mesmo que não sejamos muito bons; pois mesmo os pecadores podem ter
fé. Afinal, de outra forma, nunca poderiam ser salvos. Sabemos que nenhum
ser humano é bom em si mesmo; contudo, Cristo nos ensinou que todos
podemos crer. Ele elogiou algumas pessoas por causa da fé que
demonstravam, apesar de serem estrangeiras, e de não terem conhecimento
com relação à doutrina.
A Bíblia faz o mesmo. Ela tem um registro de honra em Hebreus 11, onde
estão listados heróis e heroínas, lembrados não pelo seu valor ou bondade,
mas pela sua completa confiança em Deus. A fé é algo perfeitamente comum,
mas que nos coloca em destaque diante de Deus. A Bíblia declara que “sem
fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6). Através da fé podemos
agradar a Deus, e qualquer pessoa pode ter fé.
Crer? Em Quê?
Nós somos aquilo que cremos; por isso, deveríamos ser mais cuidadosos com
aquilo em que cremos. Escolhemos aquilo em que vamos crer, e em que
cremos faz de nós o que somos. Alguns creem em OVNIs, ou que a terra está
viva, ou em vozes vindas do além; pode ser que estejam apenas querendo ser
diferentes. Há inúmeras coisas nas quais podemos crer, mas Deus é Supremo.
Este livro, do começo ao fim, é sobre crer em Deus; ou melhor, sobre o que
eu creio que seja crer.
As pesquisas mostram que praticamente todo mundo crê em Deus – bom,
pelo menos algum tipo de Deus, em algum lugar. A pergunta a fazer, então,
é: que tipo de Deus? Creio que teremos momentos agradáveis aqui, lendo este
livro para saber mais sobre tudo isso.
Fé: um Teste de Caráter
Estamos constantemente sendo testados na nossa fé. O tipo de Deus em que
cremos é a janela da nossa alma – por exemplo, crer em Cristo ou em Karl
Marx; somos aquilo em que cremos. O que seguir a um tipo de fé que requer
apenas algumas poucas orações diz sobre nós? Religiões que pedem um
esforço mínimo são bastante populares: pequenas exigências – grandes
seguidores; fé barata para pessoas que não têm valor. Jesus Cristo, entretanto,
pede tudo: “Filho, dá-me o teu coração”. Uma religião liberal é um caminho
fácil, mas vai se tornando cada vez mais estreito, e leva a lugar nenhum. Mas
a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais
até ser dia perfeito (Provérbios 4.18).
A Fé Traz Esperança
A próxima coisa a considerar é que crer não é apenas uma questão de células
em movimento; precisa haver uma resposta. Será que transformamos a nossa
fé em ação? Se acreditarmos que uma certa semente poderá germinar, nós a
plantamos. Um homem que possui um avião, mas que não tem coragem de
viajar nele, está se contradizendo e não vai a lugar algum. Podemos até crer
que Mickey Mouse é o todo-poderoso, se realmente não estamos esperando
que ele faça alguma coisa.
Tiago, o meio-irmão de Jesus, de caráter honroso e franco, fez algumas duras
observações em seu pequeno livro. Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem.
Até os demônios creem e tremem (Tiago 2.19). A teologia daqueles para
quem ele falava parecia boa, mas era totalmente inútil; eles eram falsos
crentes. Tiago referiu-se a eles como amantes do dinheiro, impacientes com
Deus, e completou dizendo que a fé sem obras não é fé.
Todos sabem que o homem pisou na lua pela primeira vez no dia 20 de julho
de 1969. Aquele foi um grande acontecimento, mas muito distante do planeta
Terra. Creio, entretanto, que a maioria das esposas considera muito mais útil
saber mais sobre o próprio marido do que sobre algo tão distante delas; essa é
uma fé apropriada e também o tipo de fé que Deus espera de nós. Ele não é
uma figura histórica, do passado; é o nosso socorro bem presente nas
tribulações (Salmos 46:1).
Fé – Não Opinião Científica
Geralmente as pessoas dizem: “Eu só acredito vendo”. Contudo, digo o
seguinte: eles não vão crer, pois não podem; afinal de contas, somente
cremos ou temos fé naquilo que não vemos. O que se vê é um fato e,
portanto, não há em que acreditar; se é algo que se pode provar, não tem nada
a ver com fé. Ninguém precisa acreditar que dois mais dois são quatro; afinal,
todos sabem disso.
Mas o que o Senhor quer é fé e sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus
11:6). Bem-aventurados os que não viram e creram (João 20.29). Crer é a
maneira correta para se obter as bênçãos de Deus; não é sendo tão esperto a
ponto de não crer em nada que não possa ser palpável.
Este era o ponto principal de Paulo em 1 Coríntios. Ele estava acostumado
com os pensadores gregos que haviam descoberto a exatidão dos cálculos
matemáticos. Para eles, a razão trabalhava com figuras e, por isso,
imaginavam que isso funcionaria com qualquer coisa – o significado da vida,
Deus, e tudo o mais que se referia à vida. E isso os fez entrar numa falsa linha
de raciocínio que permanece até hoje. Paulo sabia o que havia acontecido, e
falou aos versados pensadores de Corinto que o mundo não O conheceu [a
Deus] valendo-se de sua própria sabedoria (1 Coríntios 1.21).
A fé é um relacionamento pessoal e não um relacionamento entre números.
Sabemos o que Deus fez ontem, mas temos de confiar n’Ele com relação ao
amanhã; não pode haver garantias visíveis.
A fé é semelhante ao amor; é uma questão de coração. Não decidimos nos
apaixonar depois de ponderar sobre os prós e os contras. Os casais casam-se
em confiança, e não por causa de evidências científicas ou conclusões
lógicas.
Fé e Vista
Também podemos definir a fé como sendo o olho que nos faz ver o que não
pode ser visto pelos olhos da carne. A ótica física não é o instrumento para se
perceber Deus, pois Ele é Espírito. Os olhos mortais são incapazes de
discernir o Deus invisível, o Rei eterno, imortal (Colossenses 1.15; 1 Timóteo
1.17).Temos de tratar com Ele como Ele é. Portanto, é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador dos
que o buscam (Hebreus 11.6).
Mas há uma maneira melhor de se ver, pois os olhos podem nos enganar.
Platão, o maior dos filósofos gregos, disse que as coisas nunca são aquilo que
parecem. Moisés, entretanto, permaneceu firme como quem vê aquele que é
invisível (Hebreus 11.27). Se pudéssemos crer apenas naquilo que vemos, em
o que o cego acreditaria? As ondas do rádio enchem a sua sala; contudo, será
que você saberia disso se não fosse pela ajuda de um receptor? Um dos
grandes nomes de Deus, registrado em Sua
Palavra é, o Senhor está presente.
Deus é Espírito invisível, e pronto. É tão inútil ficar discutindo e esperando
que Ele seja o que não é, como o é esperar que a lua seja um grande queijo.
Jesus disse: “Bem-aventurados os que não viram e creram” (João 20.29).
Esses estão no caminho da verdade; Deus é assim – espírito e invisível – e se
vamos conhecê-Lo, será assim. Esperar por um Deus que pode ser visto tem
feito com que mui- tos cometam grandes erros. As pessoas fizeram Deus à
sua própria imagem, e isso, certamente o Deus da Bíblia não é; além do mais,
isso contradiz o segundo mandamento (Êxodo 20:4). Essa forma de pensar
tem levado muitos à idolatria, construindo imagens e estátuas.
Hoje, algumas pessoas chegam ao absurdo de considerarem a “terra viva”
como se fosse Deus; afinal, é apenas isso o que podem ver! Devemos admitir
que eles têm um deus bastante grande; todavia, o Deus de toda a terra é muito
maior.
Entretanto, é aí que o evangelho entra em cena: esse Deus tornou-se visível.
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e
vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (João 1.14). Encontramos
esse versículo no Evangelho de João, cuja mensagem é toda sobre o ato de
ver; somente no primeiro capítulo deparamo-nos com 18 referências sobre
vista. João também escreveu uma carta que começa assim: O que era desde o
princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios
olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao
Verbo da vida (1 João 1.1). João viu em Cristo a Palavra da vida; outros,
entretanto, não, e por isso, O crucificaram.
O fato de não vermos alguma coisa não é razão para não crermos que ela
exista; ninguém vê a radiação, mas acredita nos seus efeitos. Ninguém vê
Deus, mas milhões podem sentir o efeito de Sua obra; muitas coisas que nos
acontecem só podem vir d‘Ele. Até mesmo uma oração, uma cura, um
milagre, uma libertação das drogas são evidências d‘Ele em nosso dia-a-dia.
E não é somente uma dessas coisas: milhões são curados, milhões são
libertos, milhões de orações são respondidas, milhões passam por
experiências que só podem ser atribuídas a Jesus Cristo, o qual ressuscitou da
morte.
Quando subo a um palco na África, na Índia ou em qualquer outro lugar,
frequentemente, sem nenhum toque meu, o cego passa a ver, o surdo a ouvir,
o mudo a falar, e os aleijados a andarem; e os que perambulam pelas ruas
como loucos, debaixo da possessão de espíritos malignos, também recebem
libertação. E isso não é psicologia, pois até mesmo bebês são curados ainda
no ventre. Contudo, o maior efeito é a libertação do pecado e da culpa, e a
transformação das atitudes e da personalidade das pessoas – Jesus salva!
Fé ou Caos?
O próximo fato é: não há substituto para a fé em Deus. Como o toque de um
sino, a História faz soar sua advertência: sem o conhecimento de Deus, nada
jamais fez sentido. Os antigos, mesmo os mais brilhantes pensadores, criaram
as mais incoerentes ideias, superstições e especulações. A natureza foi
envolvida de mistério, e eles não tinham certeza de nada; nem mesmo do
tempo ou das estações. Criam que para que o sol nascesse, eles deveriam
adorá-lo; para que chovesse, teriam de oferecer uma sublime adoração.
Acreditavam ainda que para que os rios não secassem e continuassem a fluir,
deveriam ser persuadidos. Todos tinham o seu próprio deus. Portanto, os
profetas eram pelo Senhor levantados e inspirados por uma abrasadora
percepção da realidade de Deus e de Sua vontade.
O conceito de Deus como Pai de todos era desconhecido. Aquela era uma
época de conflitos e de disputas entre famílias por causa de terras, e onde a
guerra era a glória do homem. Contudo, os profetas de Israel ensinaram ao
povo a não temer os sinais dos céus, e a trabalhar e não guerrear, pois Deus
fielmente cuidaria de todas as Suas criaturas. Eles não deveriam se preocupar
com a colheita, como os pagãos ao redor deles.
É fácil ficar sentado, só assistindo televisão e, de vez em quando, dizer que
não acredita em Deus. No entanto, as consequências dessa postura são
eternas; ela prepara o terreno para a corrupção, o suborno, a violência e o
crime. Os ateístas afirmam que podem viver uma vida decente sem crer em
Deus; porém, eles se esquecem de que a ideia de decência vem do
cristianismo. Antes de Cristo a história era bem diferente e o mundo muito
mais cruel. Ninguém jamais concordou nesse assunto; todavia, na realidade
não sabemos o que é bom ou ruim sem termos fé em Deus. Um mundo
totalmente incrédulo seria como um manicômio dirigido pelos seus pacientes.
Se não confiamos em Deus, logo não confiamos em ninguém.
Fé é uma Decisão
Dr. Emil Brunner, um grande teólogo suíço, resumiu o seu pensamento em
quatro palavras: “Fé é uma decisão”. Foi de Jesus, que sempre falou dessa
maneira, que ele aprendeu isso. Ele exaltava os crentes e culpava os
incrédulos. Da mesma forma que podemos ver, ouvir, sentir, provar, cheirar –
também podemos crer. Esse é nosso sexto sentido ou faculdade, visão
espiritual, um ouvido para ouvir ou uma mão para segurar as bênçãos de
Deus.
O ato de crer não está além da capacidade de ninguém. “Eu não fui feito
assim”, dizem alguns; mas todos fomos. Alguns pensam em fé somente com
relação a dinheiro, ou a algo de valor que têm. Mas fé não é o que você tem, e
sim o que você é. Todos podemos alcançar as alturas – se quisermos.
Quem quer a incredulidade? Ela é um beco sem saída, um tipo de “sem terra,
sem água e sem amor”. Para sair disso, dê meia volta; ou melhor, usando uma
linguagem bíblica: “arrependa-se”, decida-se a crer em vez de permanecer
incrédulo. A dúvida é morte; escolha a vida. Arrependei e crede no evangelho
(Marcos 1.15).
Fé é força espiritual
Há um fato final que deve ser esclarecido, especialmente para os cristãos:
infelizmente existem pessoas que, embora muito espirituais e santas, são
céticas. A fé e a religiosidade nem sempre caminham de mãos dadas. Alguns
acreditam que para se ter uma grande fé, a pessoa tem de ser um gigante
espiritual; entretanto, os gigantes espirituais são, na verdade, homens e
mulheres que têm uma grande fé. A fé é uma força espiritual.
Precisamos deixar claro que as boas obras são um produto da fé, mas esta não
é um produto daquelas – da mesma forma que do leite se obtém a manteiga,
mas a manteiga não produz leite. Contudo, há ainda muito mais para falarmos
sobre esse assunto nos próximos mais de vinte capítulos.
Fé, poderosa fé que vê as promessas
E busca somente isso,
Ri diante das impossibilidades
E grita: “Vai acontecer”
CAPÍTULO TRÊS
O Fusível Chamado Fé
Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta-nos a fé” (Lucas 17.5). E, desde
então, essa tem sido a vontade dos cristãos – fé em grande quantidade! O que
Jesus lhes respondeu? “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a
esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá”
(Lucas 17.6).
Isso deve ter confundido os apóstolos; afinal, eles queriam possuir uma fé
grande, e o Mestre lhes falou sobre a menor semente que conheciam. A
propósito, Ele não se referiu à semente de mostarda pelo fato de ser ela tão
pequena; a questão foi o contraste entre uma fé sólida e uma pequena (mas
viva) semente. Ele quis deixar bem claro que fé não é uma questão de
tamanho. Aliás, a palavra tamanho não se aplica ao conceito de fé.
A fé não tem nem peso e tem tamanho. E qual será a forma de um
pensamento? “Crer” tem a ver com o que fazemos; não é uma substância,
algo tangível. Provavelmente os apóstolos queriam adquirir mais fé para lidar
com tarefas maiores. Contudo, ela não vem de forma antecipada. As Sagradas
Escrituras falam sobre proporção da fé (Romanos 12.6) – ela é proporcional
ao trabalho a ser realizado, diretamente ligada à necessidade do momento. É
como quando corremos e sentimos a necessidade de mais oxigênio – a
quantidade de ar que inspiramos vai aumentando automaticamente.
A dimensão da tarefa perde o significado quando se trata de uma tarefa ou
um trabalho de fé. Para um pássaro que voa nas alturas, a grandeza de uma
colina, de uma casa, ou de um montinho de terra feito pelas toupeiras é tudo
uma coisa só. Pela fé devemos subir com asas como águias (Isaias 40.31);
nada é insuperável.
A fé ativa precisa das impossibilidades, e a fé meramente religiosa, (isto é, fé
somente na igreja), não tem impossibilidade suficiente para se desenvolver.
Uma fé robusta é como uma planta que encontra fora da estufa um ambiente
adequado para crescer; caso contrário, tornar-se-á uma plantinha fraca.
Condutividade, Não Tamanho
Alguma vez o leitor já viu uma semente de mostarda? Provavelmente você,
irá precisar de uma boa lente de aumento para poder vê-la bem. Entretanto, as
pessoas para quem Jesus falou isso conheciam de sementes; afinal, aquele era
um mundo agrícola. Jesus falou com elas usando a linguagem da agricultura.
Hoje, somos uma sociedade high-tech, e nossas expressões são científicas.
Jesus falou usando a linguagem do povo, e hoje nossas expressões são tiradas
da tecnologia. Não há dúvida de que, se fosse hoje, Jesus usaria a nossa
maneira cotidiana de falar.
Há dois mil anos Jesus falou sobre a semente da mostarda – algo muito
pequeno, mas com uma grande potência. Se fosse hoje, talvez ele escolhesse
falar sobre um microchip ou um fusível para ilustrar o Seu ensino. “Se você
tiver fé, mesmo que seja tão pequena como um fusível, poderá transplantar
árvores da terra para o mar.” Como no caso da semente de mostarda, o valor
de um fusível não está na sua espessura ou no seu comprimento, está na sua
“condutividade”. A fé transfere o poder de Deus para onde quer que seja
necessário.
Um fusível é feito de um metal, como arame de prata, que oferece baixa
resistência à corrente. E baixa resistência significa alta condutividade.
Traduzindo isso para termos espirituais:
Quanto mais baixa a nossa resistência à Palavra;
Maior o poder operacional de Deus.
Quanto mais alta a nossa resistência à Palavra;
Menor o poder operacional de Deus.
Baixa Resistência à Palavra
Um fusível de alta resistividade deixa passar apenas pouca energia elétrica,
por outro lado, se a corrente passante for maior que a capacidade dele, ele
logo se queima. Quando resistimos à Palavra por causa de nossa falta de fé, o
poder de Deus não pode ser manifesto. Se dissermos que acreditamos na
Palavra, mas não lhe obedecermos, estamos negando a nossa fé; isso faz o
“fusível” queimar. O poder de Deus é pequeno quando Sua Palavra tem
pouca importância para nós.
Independentemente, do que mais pode ser verdadeiro, uma coisa está
absolutamente além de qualquer contradição – ou o cristianismo é uma
religião de poder; ou não é nada. Os liberais, aqueles professores da doutrina
racionalista, confiam na lógica. Os apóstolos, entretanto, confiaram no poder
de Deus. Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu [ainda]
por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura
da pregação (1 Coríntios 1.21).
A nossa mente pode ser uma caixa de dúvidas, pois o raciocínio é um
instrumento demasiado incerto para medir relacionamentos pessoais vitais,
especialmente com Deus. É como usar uma pá para estudar o céu, durante a
noite, em vez de um telescópio. Quando as pessoas se voltam para a ciência,
com suas equações de álgebra, geologia, ou deduções filosóficas para aprovar
a fé religiosa, isso é simplesmente ridículo. Afinal, o que essas coisas têm a
ver com experiência espiritual? A ciência não tem nenhuma ferramenta para
lidar com as relações entre o homem e Deus. Se isso fosse possível, também
seria possível usar um saca-rolhas para estudar música.
Como é que acreditamos ou não em alguém? Por cálculos de matemática?
Alguma vez você já sentiu que não deveria confiar em uma pessoa, mas não
conseguia explicar por quê? Isso é, simplesmente, uma questão de
sentimento. É algo maior do que nós mesmos, uma intuição que começa a
trabalhar em nossa mente, e dispara um alarme.
Não gosto de você, Doutor Fell
E não sei bem por quê.
Mas uma coisa sei, e com toda certeza:
Não gosto de você, Doutor Fell.
Contudo, também podemos confiar em alguém baseados exatamente na
mesma razão; mas também não sabemos o porquê de tal comportamento de
nossa parte.
O instinto do homem nunca o deixará de sobreaviso contra Jesus. Pelo
contrário, quando passamos a “conhecê-Lo melhor”, queremos nos achegar
mais perto d’Ele. E quando isso acontece, o nosso coração se aquece por
causa do nosso Senhor. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1
João 4.19). O que o barômetro mostra tem muito mais importância do que o
que os incrédulos dizem. O caminho correto, o único caminho possível, é
confiar n’Ele. O centro da verdadeira vida é o coração, não o cérebro. “…
com o coração se crê” (Romanos 10.10).
Embasado em Autoridade
A Bíblia não se faz de rogada e insiste centenas de vezes na sua própria
autoridade divina. Os profetas, por exemplo, quando falavam, não estavam
emitindo suas opiniões políticas pessoais, “mas homens santos de Deus [que]
falaram movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1.21). Eles usavam a frase:
“Assim diz o Senhor.” O conceito judaico era de um Deus de santidade
terrível, e eles tremiam ante a Sua impressionante grandeza.
A menos que eles tivessem absoluta convicção de que Deus os estava
enviando, nenhum profeta em Israel se atreveria a proclamar ser a voz deste
Ser todo-poderoso. Somente com absoluta certeza eles abririam a boca.
Jeremias declarou:“não me lembrarei d’Ele e já não falarei no seu nome,
então, isso me foi no coração como fogo ardente, encerrado nos meus
ossos; já desfaleço de sofrer e não posso mais” (Jeremias 20.9).
A Autoridade de Cristo
Deus falou, e céus e terra vieram a existir. “Pois ele falou, e tudo se fez; ele
ordenou, e tudo passou a existir” (Salmo 33.9). Então, encontramos no
Evangelho de João uma tremenda afirmação de que “o Verbo se fez carne”
(João 1.14).A mesma voz que criou todas as coisas agora fala conosco. O que
Ele diz é com absoluta autoridade; é a Palavra do Senhor.
Cristo disse que passariam o céu e a terra, mas as suas palavras não iriam
passar (Mateus 24.35). Ele não era como os profetas, que falaram pelo
Senhor; Ele falou como Senhor. Os profetas diziam: “Assim diz o Senhor”,
entretanto, Cristo disse: “Verdadeiramente, vos digo...” (Lucas 21.3). Os
Judeus valorizavam o que Moisés havia dito; todavia, Jesus ultrapassou
Moisés: “... Moisés vos permitiu … Eu, porém, vos digo” (Mateus 19.8,9).
E havia ainda uma outra diferença: Os profetas foram enviados com uma
mensagem, enquanto Jesus era a própria mensagem; os profetas falaram a
respeito do Senhor, mas Jesus falou a respeito d’Ele próprio. Ele não
simplesmente trouxe a Palavra de Deus – Ele mesmo era a Palavra de Deus.
Ele não apenas indicou o caminho, Ele é o caminho. Jesus não é um dos
caminhos que levam a Deus, Ele é Deus.
É por isso que não temos nenhum direito de duvidar da Palavra de Deus, ou
de transformar o ponto de exclamação a respeito d’Ele em um ofensivo sinal
de interrogação. Se o fizermos, para quem iremos? Afinal, só Ele tem as
palavras da vida eterna” (João 6.68), como o apóstolo Pedro reconheceu. Ou
obedecemos ou morremos. Usando a nossa linguagem tecnológica,
queimamos o fusível e amargamos uma perda total de força por toda a vida.
O aquecedor falha, as luzes se apagam, a comunicação cessa, os sistemas
pifam, e instala-se uma interminável noite fria.
Os professores liberais desprezam as pessoas como nós. Eles dizem que
temos “uma religião autoritária”. Entretanto, será que eles ensinam sem fazer
uso de alguma autoridade? Toda a aprendizagem é baseada em autoridade,
quer seja divina, quer seja humana. Alguns confiam na autoridade que o
conhecimento proporciona, todavia, nada é tão indigno de confiança. Afinal,
seus argumentos são como pegadas na areia. Os eruditos nunca estão de
acordo uns com os outros. A Palavra de Deus tem servido de luz para
centenas de gerações, e essa luz nunca oscilou.
A própria sabedoria perde o seu caminho se não tiver revelação. Por
exemplo, Philip Larkin, um poeta moderno, experimentou isso. Ele era um
ateísta. O jornalista Martyn Harris escreveu sobre Larkin pouco antes de sua
morte, em 1996, dizendo que seu ateísmo o deixara “bêbado, suicida,
obcecado, e paralisado pela miséria.” O próprio Larkin, em seu poema
“Aubade” (Aurora), descreveu sua desesperança ao enfrentar uma eternidade
desoladora. Afinal, ele esperava pelo “total e eterno vazio. A extinção certa
para a qual nos dirigimos, e na qual devemos permanecer perdidos para
sempre”.
Fé em Deus, às vezes, pode parecer um sentimento vago, todavia, ela se
solidifica em realidade. Podemos nos “lançar dentro do oceano do
desconhecido” com o coração cheio de certeza, pois Jesus disse: “Se alguém
me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e
faremos nele morada” (João 14.23).
Aprendendo a lição e Alcançando o Objetivo
A lição mais importante que tive de aprender quando cheguei à África, vindo
da Alemanha, foi “desaprender” de questionar a Deus. Questionamos
políticos, mas acreditamos em Deus.
Por exemplo, Cristo disse o seguinte, em Marcos 16.17,18: “Estes sinais hão
de acompanhar aqueles que creem… se impuserem as mãos sobre
enfermos, eles ficarão curados.” Não preciso consultar os intelectuais em
busca da aprovação deles a respeito dessa declaração, mas obedecer à Palavra
de Deus. Primeiro eu faço o que Deus diz e, em seguida, Ele faz o que Ele
disse que faria. Deus tirou a oposição do meu coração e do meu espírito e,
depois, começou a me usar para sacudir nações inteiras. Deus usou a vara de
Moisés (Êxodo 4.2), portanto, Ele também nos usa quando seguimos as Suas
ordens. Vejo o Seu poder operando vez após vez. O fusível da minha fé está
sob controle, e as correntes de bênçãos têm fluído da minha vida para
milhões de pessoas preciosas para remir a sua alma pelo sangue do Cordeiro.
“Por que Olham Para Nós?”
Não podemos gerar poder por intermédio de qualquer coisa que façamos,
quer seja por meio da música, adoração, ou do “clima” do ambiente. Por
outro lado, tão logo duas ou três pessoas se reúnam no nome do Senhor, ali
Ele está, e imediatamente esse lugar torna-se em um trono de adoração. Não
precisamos de uma hora de culto para receber poder, ou para fazê-lo descer
do céu sobre nós. É impossível para os cristãos até mesmo se reunirem em
Seu nome sem que o poder de Cristo se faça presente.
Se produzir o poder de Deus fosse nossa responsabilidade, então seríamos os
geradores desse poder, todavia, Cristo já nos concedeu poder. Não somos
chamados a ir por todo o mundo com nossa pequena unidade geradora de
poder, de maneira que as pessoas venham a pensar quão maravilhosos nós
somos. Podemos até ostentar o nosso próprio carisma, e fazer com que as
faíscas voem por uma hora, entretanto, logo nossa “fábrica de poder” ficará
sem combustível e começará a tossir e morrerá. Não somos geradores, mas
condutores de energia. “Porque todos nós temos recebido da sua plenitude”
(João 1.16); Ele é “a plenitude d’Aquele que a tudo enche em todas as
coisas” (Efésios 1.23). Somos apenas canais, não a fonte. “Como não pode o
ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim,
nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” (João 15.4).
Estações Geradoras de Força
Deus não precisa de nenhuma de nossas fontes de energia; Ele tem Suas
próprias. Aliás, duas delas estão bem aqui, na terra: a Cruz, e o Túmulo
Vazio. O poder flui para sempre dessas fontes, dia e noite, sem que haja corte
de energia ou qualquer outra avaria. A voltagem nunca falha e, por isso, é
absolutamente confiável. Não existe nenhum fluxo oscilante vindo do Pai das
luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (Tiago
1.17).
E aqui está todo o nosso equipamento:
• A energia espiritual da Cruz e da Ressurreição;
• O fio de poder da Palavra de Deus;
• O fusível da nossa fé, que é a conexão vital.
Esse equipamento nos fornece:
• Poder necessário para cada necessidade;
• Poder para transformar vidas;
• Poder para vencer os vícios;
• Poder para curar os doentes;
• Poder para iluminar a escura e tempestuosa estrada da vida.
Nenhum poder terreno, quer criado em tubos de ensaio, ou na indústria, pode
fazer qualquer uma dessas coisas. O poder de Deus é a única força na terra
capaz de lidar com os problemas insolúveis da vida.
Certa ocasião, eu estava em um congresso e ouvi alguns jovens dizerem:
– Precisamos estar “sintonizados” em Jesus. Para isso, basta “mudar a
estação” e “sintonizar” n’Ele.
Então me virei para eles, e disse:
– É; é mesmo muito bom ficar sintonizado em Jesus. Porém, mais
importante ainda é estar conectado. Se não estivermos ligados na tomada, não
adiantará nada trocar a estação para sintonizar n’Ele. Primeiro temos de estar
conectados.
E a verdade é que sintonizar somente em nós mesmos, não traz até nós a
corrente elétrica.
A Conexão Viva
O poder de Deus, que nos chega por meio da Palavra, alcança primeiramente
o fusível da fé – o que pode ser o pregador. E essa minúscula ligação de
poder pode tornar-se muito quente. Um pregador da Palavra é o primeiro a
sentir aquele calor. Ele se queima com a descarga de poder. Provavelmente, a
sua vida vai mostrar isso; pelo menos deveria! Ele é um comunicador, não de
seus próprios pensamentos, mas do poder de Deus. Ele deve ser um fio
condutor vivo! Um pregador é uma pessoa que vive uma experiência com
Deus em público; se ele maquia a sua experiência, colocando sobre ela
verniz, elegância e tornando-a primeiramente “adequada” ao seu público,
precisa lembrar-se de que a alegria é fruto do Espírito Santo, e não essas
qualidades. “A alegria do Senhor é a [nossa] força”, não a nossa fraqueza
(Neemias 8.10).
Se um eletricista experiente tocar em um fio descascado e levar um choque,
talvez diga simplesmente um “ai!”. Entretanto, qualquer um que leva um
choque elétrico pela primeira vez, provavelmente reagirá de maneira um
pouco mais dramática. O poder de Deus não é uma ficção, mas um fato. Ele é
a coisa mais real que podemos conhecer.
E se Deus realmente se manifesta entre nós, o que devemos esperar? Um
túmulo, ou a ressurreição? A princípio a ideia de uma vida dinâmica pode
parecer pouco provável. Entretanto, quando alguém recebe o vigoroso fluir
da bênção divina, entende perfeitamente por que Deus se manifesta em ação.
Nenhuma pessoa faz ideia do que é ter um encontro com Jesus Cristo, até que
ela própria passa por essa experiência. Certo dia, disseram a um pregador que
era muito expansivo em seu modo de pregar: “Por favor, contenha-se!” Ao
ouvir isso, ele respondeu: “Mas eu já estou me contendo!”
Completando o Circuito
As grandes linhas de energia estendem-se através de todo um país
transportando, talvez, mais de 110.000 volts em um único fio. Dia e noite,
gigantescas e poderosas turbinas, instaladas em enormes construções,
alimentam o vasto sistema, direcionando a energia gerada pelo carvão, pela
água, pelo petróleo ou pela fissão nuclear. Tudo isso! E de repente, acontece
uma falha em um minúsculo fio de prata, e tudo o mais dentro da casa para,
simplesmente, porque não há energia.
Toda a grandeza de Deus, toda a grandeza da obra expiatória de Cristo, e toda
a grandeza da Palavra de Deus estão aqui, à nossa disposição. Contudo, sem
fé, ainda que tão pequena como um fusível, nada dessa grandeza terá
proveito. A conexão foi interrompida; a “ponte” de poder está destruída.
Se o fusível da fé se “desarmar”, o poder de Deus também se “desarmará”. E
aqueles a quem pregamos irão rejeitá-lo. Aliás, eles poderão até ficar
confusos! Agora, pegue a Palavra, coloque-a no fusível-fé, e o poder de Deus
passará – aí haverá luz, calor, energia, salvação, cura, força, e bênçãos.
Poder em Qualquer Lugar
Certa ocasião, entrei em um salão de cabeleireiro onde havia duas
funcionárias, e uma delas começou a cortar o meu cabelo. Típico de
cabeleireiros, ela começou a conversar comigo enquanto trabalhava, e
perguntou-me se eu era um homem de negócios. Ao que lhe respondi: “Sou
um homem de Deus”. Provavelmente isso tenha sido uma resposta diferente
para ela, mas serviu para quebrar o gelo, e começarmos um bate-papo. E em
um curto espaço de tempo, conduzi aquelas duas senhoras a Cristo. Elas se
ajoelharam ali mesmo, em cima dos cabelos que estavam espalhados no chão,
e fizeram uma oração de entrega, pedindo a salvação. Quando saí daquele
salão, ouvi uma delas dizer, com lágrimas nos olhos, à sua colega de
trabalho:“E aquele homem de Deus entrou aqui simplesmente para um corte
de cabelo – que dia glorioso!”
Saí daquele lugar muito feliz e comovido. Já na rua, encontrei meu colega
Peter Van den Berg, e lhe disse: “Peter, vejo que você está precisando de um
corte de cabelo.Vai ali naquele salão e faça o seu corte lá. Acabei de conduzir
duas mulheres a Cristo ali dentro. Vai lá e faça um discipulado com elas!”
Jesus disse: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda” (Mateus 17.20).
Parece tão pouco, não é verdade? Nossa fé não precisa manifestar-se por
intermédio de reações tão extraordinárias que fará com que todo mundo
deseje ardentemente essa experiência. Pode ser um fusível oculto. Contudo,
por meio dela a energia do céu vem sobre o mundo. Deus usa fusíveis
principais e fusíveis mais simples, mas nunca usa de subterfúgios. Onde quer
que estejamos, nossa atitude de fé, no oculto do nosso coração, é a conexão
que falta para o agir de Deus – “Não te disse eu que, se creres, verás a glória
de Deus?” (João 11.40)
CAPÍTULO QUATR O
De Fé em Fé
CAPÍTULO SEIS
Fé no Deus do Passado
O Deus de Ontem
Existe um capítulo de Apocalipse onde, por duas vezes, Deus chama a si
mesmo de Aquele que era (1.4,8). Metade do mundo pensa no Senhor como
“O Deus que era”, Aquele que criou o céu e a terra e que, desde então, fez
muito pouco. Limitados a esse tipo de ideia, essas pessoas também podem,
igualmente, ter fé no Faraó Tutankamon.
Esse tipo de pensamento é uma grande tolice. Será que um Deus com uma
imaginação tão criativa se limitaria a ser um Deus de tempos longínquos,
contentando-se a ficar sentado no céu, com os braços cruzados? Será que Ele
encheu os céus com inigualável beleza e depois foi dormir? É a isso que
chamam de teoria racional? Se não conseguimos ver nada além disso, então
nossa percepção não é muito boa. Em sã consciência, será que algum de nós
seria capaz de construir uma bela casa e depois abandoná-la? Poderia Deus
abandonar o Seu próprio universo? Se queremos ter fé, vamos olhar essa
questão mais de perto.
Aquele que Cria
No princípio, criou Deus os céus e a terra (Gênesis 1:1). E daí? Bem, acredito
que a pergunta a ser feita aqui seja: “por quê?”, não é verdade? Por que Deus
faria tal coisa? Ele não criou todas as coisas para agradar a alguém; afinal de
contas, não tinha ninguém por perto, somente Ele! Na criação Ele agradou a
Si mesmo, pois não tinha obrigação de fazer nada; não havia coação ou
pressão sobre Ele. Ele fez porque quis.
O que alguém faz, simplesmente porque quer fazer, mostra o que ele é. Se me
sento na minha sala, fecho a porta e toco órgão, estou fazendo para o meu
próprio prazer, e essa atitude deveria mostrar às pessoas quem eu sou, um
músico; por isso faço isso.
Deus trouxe à existência as estrelas resplandecentes e os planetas. Esse é
Deus! Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras
das suas mãos. Esse é o início do Salmo 19, e o autor continua em um tom
emocionado. Entretanto, sua emoção não é por causa do esplendor do
universo, e sim com a magnificência de Deus. Sua atenção vai da criação
para o Criador. Com frequência a ciência deixa de enxergar a floresta porque
presta mais atenção às árvores. A ciência moderna gosta de desmontar tudo;
por exemplo, desmonta um violino para ver como se produz o som. E com
isso deixa de ver o esplendor divino.
Fico imaginando Deus assistindo a tudo, meio de lado, pensativo, olhando-
nos agir como crianças abrindo seus presentes de Natal, enquanto espera para
nos demonstrar todo o Seu amor. No entanto, geralmente depois da entrega
dos presentes, os pais são esquecidos por causa da empolgação dos filhos
com os brinquedos de Natal.
Deus pegou uma folha de papel em branco, colocou sobre a Sua escrivaninha,
pensou, e então desenhou tudo isso que vemos ao nosso redor. A substância
de cada coisa foi formada inspirada em Sua própria grandeza; é por isso que
o Criador deve ser absolutamente tremendo.
E podemos perceber isso; afinal, tudo à nossa volta fala-nos que esse Deus
deleita-se em Sua obra, nas cores, na beleza, nas maravilhas, na vida, e muito
mais. Ele nos fez – mas por quê? Certamente não foi para se divertir. Será por
que desejamos tanto ter filhos? Porque eles são oportunidades para
manifestarmos o nosso instinto amoroso. Foi assim que Deus nos fez e Ele
mesmo é assim. Aquilo que Ele é estará sempre em evidência, para sempre.
Fé – essa é a primeira coisa sobre o Deus em quem cremos.
O Deus de Bondade
Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom (Gênesis 1.31). A Sua
ideia de bom era um mundo material e não simplesmente um abstrato
princípio espiritual de bondade. Deus não se relaciona com abstrações. O
Deus da terra e mar, dos animais, das árvores e dos pássaros, dos peixes e das
pessoas é um Deus pragmático. Somos o Seu povo. Ele fez todas as coisas.
Ele nos fez e se alegrou com a obra de Suas mãos. Aliás, Ele amou o que fez
– Deus amou o mundo de tal maneira.
Por várias vezes, no capítulo 1 de Gênesis o Senhor Deus disse a palavra:
“Bom!”, depois de haver moldado este maravilhoso globo. Ele bateu palmas
de contentamento, e as estrelas da manhã cantaram juntas, alegremente (Jó
38.7). Todo o processo visava o bem. Contudo, desde então o mal luta contra;
graças a Deus, porém, ele nunca vai prevalecer, pois Todas as coisas
cooperam para o bem (Romanos 8.28). Deus é bom; por isso, quando as
coisas não dão certo, é óbvio que perguntamos: “Por quê?” Quem colocou
esse “Por quê” em nós foi o próprio Deus. Odiamos o mal porque o nosso Pai
também odeia. Até mesmo Jesus perguntou “Por quê?” diante da extrema
agonia da cruz. Um Deus bom é o Deus da verdadeira fé, o Deus da Bíblia; e
é nela que encontramos os princípios de bondade. Os pagãos não têm nem a
mais remota ideia do que seja um Deus bom.
O Deus de Milagres
E disse Deus, haja... e houve. A criação foi o primeiro e o maior de todos os
milagres. Se o nosso Deus é Aquele que pode segurar as Montanhas do
Himalaia e as Rochosas na concha de Suas mãos, e com o Seu dedo escavar o
leito do Pacífico e do Atlântico, e ainda cobrir os polos com quilômetros de
uma grossa camada de gelo, qual o problema em crermos que Ele é o Deus
restaura a audição ao surdo, ou a visão ao cego? Será que diante de tudo isso
ainda vamos perguntar se milagres são possíveis? É óbvio que sim! Como
podemos ser tão estúpidos a ponto de pensarmos que não? É exatamente isso
que a dúvida faz: ela nos torna estúpidos em nossa maneira de pensar.
É, simplesmente, um absurdo que algumas pessoas tenham a coragem de
dizer que os milagres não são possíveis. Afinal de contas, para podermos
fazer tal afirmação teríamos de saber tudo sobre todas as coisas, bem como
tudo sobre Deus; e ninguém sabe o suficiente para afirmar que não pode
haver milagres. É o cúmulo da arrogância alguém pretender ter tal
onisciência.
Palavra de Ação
Vamos dar uma olhada no livro de Êxodo. Depois de Adão e Eva, a próxima
grande figura bíblica é Abraão; Deus falou com ele. Depois, cerca de oito
séculos mais tarde, Deus levantou Moisés e lhe disse que não havia se
esquecido da Sua aliança com Abraão, o pai de todos os que creem (Êxodo
6:1-8). Então o Senhor falou com Moisés, e contou-lhe o que estava fazendo.
Observe as palavras de ação contidas nesta passagem:
Veja o que eu fiz: apareci a Abraão, estabeleci a minha aliança, ouvi os
gemidos e me lembrei. Eu vos tirarei de debaixo das cargas, vos livrarei da
sua servidão e vos resgatarei com braço estendido. Eu vos tomarei por meu
povo e serei o vosso Deus. Eu vos levarei à terra e vo-la darei.
Este é um retrato em rápidas pinceladas do Deus do passado. Poderíamos
acrescentar detalhes a esse retrato usando textos das Escrituras, de quando
Deus tornou-se o Deus de Israel, o Deus de Samuel, de Davi, de Isaías, e,
mais tarde, o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (Efésios 1.3). É o Deus
do passado, o Deus que era.
Para algumas pessoas, entretanto, Deus continua como um Deus que “era”, e
milhões delas não vão além disso; agem como se Deus estivesse em “algum
lugar”, por perto, porém, já aposentado, inativo. Elas até reconhecem que
Jesus fez coisas maravilhosas, foi crucificado, ressuscitou e subiu ao céu...
mas esse é o final da história; o ponto final. Ao longe está Deus, firmemente
ancorado na história, e Cristo desapareceu, nunca mais se envolverá
novamente com este mundo.
Deus Nunca Desapareceu
Certo escritor escreveu um livro defendendo a ideia de que a figura de Deus
havia sido retirada das Escrituras. Entretanto, desde a vinda de Jesus, Deus
tornou-se mais e mais visível na Bíblia e mesmo no mundo, até o dia de hoje.
Esse escritor gastou 348 páginas para reunir toda a sua teoria; contudo,
apenas um simples milagre derruba suas ideias. Se alguém acha que Deus
desapareceu ou que tenha perdido os seus poderes, que venha até a África. Eu
O tenho visto lá, manifestando-se de maneira mais poderosa do que em
qualquer lugar do Antigo Testamento, expulsando demônios, restaurando o
enfermo, curando o cego, os aleijados e os surdos. Deus não fez isso nem
mesmo com Moisés. Ele tem sacudido cidades e nações. Talvez seja
exatamente aí que Deus tenha “desaparecido”; ou seja, entre os que creem
n’Ele!
Mas a ideia de que Deus desapareceu é um velho temor da incredulidade. A
nação de Israel estava presente no Êxodo, viu a Sua glória e sabia que tudo
fora verdade; entretanto, bastaram poucos meses para que o povo ficasse
desconfiado. Aquelas pessoas queriam alguma coisa que pudessem ver e,
então, fizeram um bezerro de ouro, para os levar de volta à escravidão
(Êxodo 32). A descrença sempre leva à escravidão; a fé, entretanto, leva à
liberdade.
Por isso, todos perderam os seus passaportes e os vistos de fé em Deus, e
jamais cruzaram as fronteiras para a Terra Prometida; com duas exceções –
Josué e Calebe, que seguraram bem os seus e assim puderam entrar. A
descrença é tão antiga assim; ela não é nem sábia e nem moderna. Eva
duvidou, e daquele dia em diante, para ela e para nós, aquele foi um momento
de incredulidade satânica que nunca fez nenhum bem a ninguém.
Como poderemos nos relacionar com Deus, se não confiarmos n’Ele? E
como Ele pode confiar naqueles que lhe dão as costas ou fingem que Ele não
existe? O Senhor não nos deve nada, e se queremos as coisas dessa forma, é
assim que Ele vai deixar que seja. E, por haverem desprezado o
conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental
reprovável, para praticarem coisas inconvenientes (Romanos 1.28).
Crentes que Não Veem Milagres
Depois da morte de Josué, com exceção dos de Elias e Eliseu, pouquíssimos
milagres foram realizados até a vinda de Jesus. Na verdade, dos que
aconteceram, muito poucos foram realmente sobrenaturais; ainda assim,
durante aquela época homens e mulheres demonstravam uma surpreendente
fé. Jesus falou sobre eles dizendo: “Bem-aventurados os que não viram e
creram” (João 20.29). Eles conheciam as Escrituras, e criam que o Deus do
Êxodo não os decepcionaria, mas que trabalharia em favor deles. E foi isso
mesmo que o Senhor fez. Davi, por exemplo, nunca viu um milagre, e teve
apenas uma rápida experiência com o sobrenatural; contudo, ainda assim
continuou esperando unicamente na ajuda Divina. Hoje, 3000 anos mais
tarde, sua fé continua servindo modelo para nós.
Gideão e Esdras
O livro de Juízes nos fala sobre Gideão. Ele havia ouvido dos grandes feitos
que Deus havia realizado quando tirara o Seu povo do cativeiro no Egito, e
queria ver o mesmo Deus agindo no meio do seu povo. Ele cria que os
poderosos braços de dois séculos antes não tinham perdido a sua força. E
Deus honrou a sua fé. A história de Gideão mostra-nos como um grande
triunfo pode se realizar sem proeza ou poder humanos. Novamente Deus
liberta a pequena Israel, como já havia feito com relação ao Egito. Gideão foi
muito sábio ao perguntar: “E que é feito de todas as suas maravilhas que
nossos pais nos contaram?” (Juízes 6.13). E Deus mostrou a ele! Afinal de
contas, com apenas trezentos homens sem portarem espadas, colocou para
correr o maior exército jamais reunido no deserto naqueles dias. Aquele
exército todo foi derrotado apenas pelo som de trombetas e pelo clarão de
tochas de fogo; e nunca mais voltou a invadir Israel. Até então Gideão
conhecia apenas o Deus do passado.
Esdras também é um exemplo bastante inspirador. Ele pertencia à linhagem
de sacerdotes judeus e fora criado na Babilônia; era um alto oficial do
palácio, nomeado pelo imperador Medo-Persa. O livro de Esdras refere-se
aos vários retornos dos judeus do exílio.
Depois de conquistar o império Babilônico, o império Medo-Persa resolveu
colocar em prática uma nova política e resolveu repovoar as áreas destruídas
70 anos antes, quando os exércitos babilônios tomaram a metade do Oriente
Médio. Isso significava fixar novamente cerca de 50.000 judeus na Judeia.
Assim, para lhes dar sentido de identidade nacional, os Medos-Persas
devolveram-lhes os inestimáveis tesouros do Templo.
Muitos anos mais tarde, Esdras foi indicado para liderar o segundo retorno do
exílio com cerca de 6.000 judeus. As terras pelas quais as famílias viajariam
estavam arruinadas e sem policiamento e, por isso, tribos sem lei haviam
invadido os caminhos dos camelos, saqueando, matando, e vitimando os
viajantes; aqueles marginais poderiam destruir toda a caravana. Por causa
disso, o imperador queria que eles viajassem sob proteção militar durante os
cinco meses de jornada, pois iriam precisar disso.
Entretanto, Esdras orgulhava-se de que aquele Deus, que havia cuidado de
Israel por 40 anos no deserto, trazendo-os do Egito, bem podia cuidar deles
durante mais aqueles cinco meses. Essa era uma posição bastante religiosa,
porém, a verdade é que nem Esdras e nem ninguém mais naquele tempo
jamais tinha tido uma visão, ouvido a voz de Deus, testemunhado um milagre
ou mesmo tivera qualquer sinal da parte de Deus. E Esdras não era profeta.
Ele não tinha nada em que se apoiar, somente as Escrituras. Contudo, Esdras
descansou nelas e creu em Deus; e começou a executar todo aquele projeto
sob as asas protetoras do Senhor.
E eles partiram; aquela era uma oportunidade bastante tentadora para os
saqueadores. Cinco meses depois de partirem, chegaram a Jerusalém, sem
que houvessem perdido uma vida ou uma moeda sequer. A invisível mão de
Deus os havia protegido. Este é um dos maiores exemplos de fé encontrados
na Bíblia; eles confiaram unicamente nos relatos do que Deus havia feito
muitos anos antes, e em nada mais.
Hoje, as evidências do poder de Deus ao nosso redor ultrapassariam a altura
do Monte Everest. Vemos todo tipo de maravilha, milagres de cura,
literalmente milhões; fantásticas revelações de Cristo através de visões,
sonhos e providência; milagres de oração respondida, de conversão, de
provisão, de direção e de proteção dos anjos. Também vemos a operação dos
dons do Espírito Santo e o poder do Senhor sobre as forças demoníacas.
E todos esses sinais vão continuar até que Jesus venha. Todavia, se tudo isso
parasse, em cem anos a partir de agora tudo seria lembrado com espanto e
incredulidade; alguns diriam tratar-se apenas de boatos. Hoje, estamos tão no
meio desses acontecimentos como Israel esteve no meio do Mar Vermelho. E
como sucedeu a muitos em Israel, é certo que hoje muitos chegam até mesmo
a ver a grandiosidade de Deus, mas continuam engatinhando pela vida sem se
impressionarem, desconfiados e temerosos.
O Maior Milagre de Cristo – Um Desafio à Fé
Creio que o maior milagre realizado por Jesus no Novo Testamento foi a
ressurreição de Lázaro, depois de estar morto há quatro dias. Por causa de
espaço, não vamos mencionar aqui toda a história. Entretanto, gostaria de
dizer que ela fornece algumas lições de fé. Quando Cristo estava chegando à
casa daqueles irmãos, Marta foi ao Seu encontro, e disse: “Se estiveras aqui,
não teria morrido meu irmão” (João 11.21).
Em outras palavras, Marta demonstrou uma maravilhosa fé para ontem: “Se
estivesses aqui há cinco dias, eu creio que teria acontecido um milagre”. A
palavra de Marta foi “se”, a qual é muito apreciada pelos crentes que creem
apenas nas realizações do passado. Qualquer coisa poderia ter acontecido
ontem, “se”.
Uma fé velha é como peixe velho, e como o velho maná de ontem descrito
nos livros de Êxodo e Números. Se os israelitas insistissem em utilizar o
maná do dia anterior, iriam ingerir um alimento malcheiroso e infestado de
vermes; da mesma forma, fé tem de ser de hoje.
Jesus falou para Marta: “Teu irmão há de ressurgir”, ao que ela replicou: “Eu
sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia” (João 11:23,24).
Agora vemos Marta tendo fé para o amanhã – para o último dia. Em geral é
exatamente assim: em algum momento vai haver um milagre, no bom tempo
de Deus, quando o reavivamento chegar, quando as coisas forem diferentes.
Segundo os doutores da lei dos tempos de Jesus, quando Ele fez milagres nas
ruas das aldeias e das cidades, aquele não era o tempo certo. Isso era para
acontecer somente quando o mundo apocalíptico chegasse e Deus se
aproximasse da terra, com anjos voando pelos céus, mortos tornando a viver;
seria um tempo onde o Messias reinaria em condições meio celestiais, e que
transformaria a terra em paraíso. Eles criam que chegaria um tempo em que o
manco conseguiria pular como um cabrito e que o cego veria novamente –
mas isso não seria agora, com os romanos ocupando a cidade santa. Os
milagres que presenciaram em Jerusalém e Galileia não poderiam ser
verdadeiros – deveria ser obra do demônio ou os velhos pensamentos dos
rabinos.
Hoje em dia os milagres são sempre suspeitos; até mesmo as línguas pode ser
que não sejam as mesmas do dia de Pentecoste. Lá, os anjos eram reais; hoje,
entretanto, são alucinações. Os milagres da Bíblia eram reais, mas os de hoje
são falsos; eles serão reais no milênio, não agora! Bem, como não vai haver
ninguém doente no milênio, então não vai haver nenhuma cura de qualquer
jeito!
Deus, realmente, respondeu orações nos tempos bíblicos, contudo, agora tudo
é coincidência e exagero. É verdade que houve um avivamento real há cerca
de 200 anos, mas a qualidade dos avivamentos hoje não é mais a mesma. Os
críticos chegam a dizer que hoje as pessoas nem mesmo oram como os
antigos costumavam orar, e que todos os grandes homens e mulheres viveram
no passado. Naquela época sim, havia gigantes na terra, mas os cristãos de
hoje são simplesmente pigmeus. Ó incrédulos, como vocês são antigos e
intransigentes! Como Jesus disse: “homens de pequena fé” (Mateus 6.30),
“Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrereis?” (Mateus 17.17).
Quando Jesus foi ao túmulo de Lázaro e pediu que removessem a pedra que
estava fechando a tumba, Marta chocou-se e disse: “Senhor, já cheira mal,
porque já é de quatro dias” (João 11.39). Sua resposta ainda está soando nos
nossos ouvidos, chocalhando contra nosso pessimismo como uma esperada
chuva no duro sertão. “Não te disse eu que, se creres, verás a glória de
Deus?” (João 11.40). Duvide e você não moverá nem um montinho de terra,
quanto mais uma montanha. Naquele dia, o Deus do passado realizou o maior
milagre jamais visto: Lázaro saiu da tumba, andando.
O Deus de Moisés e Elias não está atrás de nós, mas à nossa frente. Ele
trouxe o tempo do Reino, a dispensação do Espírito Santo. Todas as coisas
são possíveis ao que crê. Você sabe que podemos!
CAPÍTULO SETE
A Fé que Vence
Fé, o Dom de Deus a Todos
Nunca foi plano de Deus que as coisas fossem comuns. Jesus apontou para os
lírios, indicando serem eles exemplos de grande beleza – provavelmente,
eram jacintos, cada pétala e cada folha absolutamente perfeitas.
No Reino de Deus, o extraordinário é tão comum que acaba tornando-se
simples também. Cada pessoa é especial, é por isso que o Pastor que está
cuidando de cem ovelhas sai em busca de uma que se desvia. O jovem Davi,
um estranho na família de Jessé, composta por guerreiros, foi escolhido para
ser ungido o futuro rei. O cristianismo é a religião dos indesejados.
A fé é um solo fértil no qual Deus cultiva suas plantas e suas árvores. Ele
planta certas qualidades tanto no homem de fé quanto na mulher de fé, e eles,
não demora, ganham a admiração das pessoas onde quer que estejam. Por
meio da fé, pessoas pequenas alcançam grande estatura em Cristo. Eles têm
interesse, uma garra pela vida, e encaram as dificuldades com determinação e
confiança. É comum ver os crentes realizarem tarefas que vão além da sua
capacidade natural. Jesus disse aos pescadores iletrados da Galileia: “Eu vos
farei...!” (Marcos 1.17). Eles mudaram de direção e também de status.
Isso é muito bom, mas alguns podem dizer: “Mas eu não sou uma pessoa de
fé.” Bem, temos aqui boas e más notícias. A má notícia é que “sem fé é
impossível agradar a Deus” (Hebreus 11.6). E a boa é que todos podemos ser
“pessoas de fé”. A fé é absolutamente vital e, por isso, Deus planejou que
todos pudéssemos tê-la em nosso coração. O caminho da fé é um caminho
bastante largo.
Contudo, existe algo muito importante que precisamos dizer sobre isso – a fé
não é para aqueles que buscam riquezas. Deus, que criou todas as riquezas
que existem, não é contra a prosperidade, todavia, aqueles cujo deus é o ouro
não pode esperar nenhuma ajuda do céu. A parábola do Semeador, narrada
em Lucas 8, usa a palavra grega “hedone”, que passou para a língua inglesa
como hedonism (hedonismo), que é a busca pelo prazer. “A que caiu entre
espinhos são os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com os
cuidados, riquezas e deleites da vida; os seus frutos não chegam a
amadurecer” (v. 14). Tiago 4.3 diz-nos essas mesmas palavras: “Pedis e não
recebeis, porque pedis mal, para esbanjares em vossos prazeres.”
Uma pessoa cujo objetivo na vida seja a riqueza, é estúpida; afinal, para a
eternidade, que é para onde todos iremos, ninguém poderá levar
absolutamente nada consigo. Entretanto, seguir os mandamentos do Senhor
nos confere lucro eterno: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33).
Princípio Divino da Ação
O ABC da fé é simples: à medida que nós agimos, Deus age. Pela fé
correspondemos ao que ele quer e, por causa dessa fé, Ele age. “Estou
crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em
mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus,
que me amou e a si mesmo se entregou por mim.” Gálatas 2.19,20 Aqui estão
alguns exemplos das Sagradas Escrituras: “Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia
que falassem.” Atos 2.4
Eles abriram a boca e o Espírito Santo deu-lhes a linguagem.
“… desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem
efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.”
Filipenses 2.12,13
Podemos notar que existe um jogo de palavras aqui. “Porque Deus é quem
efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”
(Filipenses 2.13). Ele colocou em nosso coração o desejo de realizar os
desejos d’Ele. É isso o que significa ser “guiados pelo Espírito de Deus”
(Romanos 8.14).
“... homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.”
2 Pedro 1.21
Jesus disse, “... quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis
de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer, visto
que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em
vós.” Mateus 10.19,20
Encontramos o mesmo ensinamento no Salmo 37.23:
“O Senhor firma os passos do homem bom e no seu caminho se compraz.”
Salmo 37.23
Vemos que andamos sob a direção de Deus.
“Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao
que caminha o dirigir os seus passos.” Jeremias 10.23
Por três vezes lemos: “Ele deu a meus pés a ligeireza das corças” (2 Samuel
22.34; Salmo 18.33 e Habacuque 3.19), que é o mesmo que Isaias 40.31 quer
dizer:“... correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.”
Deus não quer que sejamos como um adereço sem vida – inutilmente
esperando para ser retirado do armário e, só então, ter utilidade. As pessoas
costumam orar: “Ó, Senhor, usa-me”, mas não fazem nada para ver esta
oração respondida. Existe uma ideia por aí que ser usado por Deus significa
ser outro Lutero, Wesley, ou Livingstone. Contudo, estamos vivos para
continuarmos com a obra que, agora, está em nossas mãos. E isso é
importantíssimo para nós.
Isso é um importante princípio da fé. Cristo Jesus está vivo em mim. Muitos
estão esperando que o Espírito se mova, mas querem que Ele se mova na
direção que eles desejam. O mover do Espírito não está ligado apenas às
nossas sensações. Existe um versículo interessante e bastante negligenciado
em Tiago 4.5: “... É com ciúme que por nós anseia o Espírito. O Espírito
Santo que habita em nós está sempre em conflito com o nosso desejo carnal,
impelindo-nos ao serviço do Senhor.
Vamos dar uma olhada em Efésios 2.8: “Porque pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. A fé é um ato mútuo
entre Deus e nós. Este capítulo fala sobre dois espíritos em oposição, o
espírito do diabo e o Espírito de Deus. Ambos nos pressionam. Primeiro,
lemos sobre o “espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Efésios
2.2). Depois, lemos que quando somos salvos, “somos feitura dele, criados
em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que
andássemos nelas” (Efésios 2.10). Quando fazemos a Sua vontade, e fazemos
as Suas boas obras, é pela Sua graça; não temos nada do que nos orgulhar – a
honra é toda do Senhor.
Acredito que o leitor já tenha notado que Jesus nunca prestou louvores a
pessoas, todavia, elogiou a fé de alguns. Se tivermos fé, mesmo que pequena,
não precisaremos nos preocupar; afinal, é assim que todos começam lá – ou,
pior, sem fé nenhuma! Até os próprios apóstolos foram repreendidos por
terem “pequena fé” (Mateus 14.31). Se estamos insatisfeitos com nós
mesmos, devemos nos lembrar de que foi Deus quem nos fez dessa maneira.
“... por nós anseia o Espírito” (Tiago 4.5). E Seus planos são de nos
fortalecer.
Pessoas que Romperam em Fé
Se temos dificuldade para crer, podemos encontrar a solução para isso. Toda
a Bíblia foi escrita para jogar por terra a descrença, e construir nossas bases
de confiança em Deus. Podemos estudá-la apenas intelectualmente, por
questões de doutrina ou por causa das profecias, entretanto, seu objetivo
central é nos trazer a paz que o perfeito descanso em Deus proporciona.
Vejamos alguns versículos da Bíblia que podem nos trazer o despertar de que
necessitamos. Tenhamos uma atitude de oração enquanto lemos estas
passagens.
CAPÍTULO OITO
Fé e Conhecimento
.
Fé em Quê?
e alguém estiver dentro de um avião que estiver caindo, inútil será gritarmos:
“Não desanime, simplesmente tenha fé!” Um paraquedas será bem mais útil!
É comum ouvirmos que devemos “ter fé no futuro”, e que o amanhã será
simplesmente perfeito e maravilhoso. Por quê? Não se sabe a razão. Isso é
apenas ser esperançoso. E isso é muito corajoso, pois ninguém sabe por que o
futuro deve ser um pouco melhor do que o presente. Na verdade, em certo
sentido, o presente não é tão bom quanto o passado. Fé é confiança, mas o
amanhã não é algo em que devemos confiar. Amanhã chamaremos a isso de
hoje, da mesma forma que hoje era amanhã ontem; e as coisas não se tornam
maravilhosas da noite para o dia.
Alguns dizem que devemos “ter fé na vida” pois, de modo geral, a criação é
tida como amistosa e a vida irá nos tratar de forma amável. Essa é,
provavelmente, “a religião” comum, sem credo e sem ninguém em particular
para agradecer. Isso não é fé, mas simplesmente uma atitude psicológica,
otimismo sem nenhum fundamento. Nem a Bíblia, nem a ciência, dão muito
encorajamento a isso. A realidade é que o universo vasto é hostil à vida das
pessoas. Vivemos nesta bolha de ar no espaço vácuo em um planeta cheio de
vida em um vazio inanimado. Viver é um milagre diário. A nossa
preservação é um ato da bondade de Deus, que deveria encorajar a fé n’Ele, e
não em um universo tido como amável.
A verdadeira fé consiste em colocarmos nossa confiança em alguma coisa.
Entretanto, isso não significa que qualquer coisa sirva: uma cama de pregos
daquelas usadas por um faquir, por exemplo! Aquilo em que depositamos
nossa confiança precisa ser digno dessa confiança. Fé cristã é fé em Cristo, e
essa fé não é contrária à razão.
A “fé cega” é descuidada e irresponsável. Podemos dizer que agir segundo
esse tipo de fé a mesma coisa que colocarmos o nosso dinheiro nas mãos de
alguém de quem não conhecemos nada a respeito. Um amigo me disse que
seu irmão em Cristo sentia muita compaixão pelas pessoas que já haviam
sido presas e, por isso, ele dava emprego para elas, para que tivessem a
chance de ter um novo começo. E ele demonstrou sua confiança em um
desses desafortunados tornando-o seu gerente geral. Entretanto, aquele ex-
prisioneiro passou a roubá-lo secretamente, e quase o levou à falência. Foi
então que ele descobriu que seu empregado “de confiança” havia estado
preso por ter cometido desfalque em seu antigo emprego! Isso, sim, é uma fé
cega!
Em todo o mundo, as pessoas estão colocando sua fé em uma variedade
infinita de religiões, sistemas, deuses, teorias, seitas, cultos, e em indivíduos
que dizem ser o “Messias”. Todavia, digo que somente um tolo confiaria em
uma divindade desconhecida. E o pior é que eles fazem isso, especialmente
quando são vítimas de certas técnicas e fortes pressões emocionais. Já até
houve suicídio em massa, praticado por causa de esperanças destruídas.
A grande maioria das crenças, sejam as antigas ou as mais recentes, não
apresentam nenhuma promessa para a vida presente; só oferecem a
“felicidade no paraíso”. O falecido Aiatolá Khomeini enviava jovens
adolescentes para os campos de batalha minados com a promessa de que, se
eles morressem matando infiéis, iriam diretamente para o paraíso. Agora eu
pergunto ao leitor: Como é que alguém pode ganhar o céu matando pessoas?
Isso é demasiado grotesco e perverso – quem seria capaz de acreditar nisso?
Entretanto, estou dando apenas um exemplo do engano da influência
satânica. O Imperador Espanhol, na época da Inquisição, se consumia pela
incerteza com relação à sua própria salvação, porque considerava que não
havia mandado para a fogueira bastante Judeus e outros que não eram
Católicos!
As pessoas estão seguindo crenças que não lhes proporcionam nada
semelhante à experiência normal de um cristão, aliás, elas não lhes trazem
nenhuma experiência real com Deus. Não há milagres, nem perdão, nem
vitória sobre o pecado, nem fortalecimento para as adversidades, nem paz
com Deus, nem qualquer tipo de gozo. Algumas ainda apresentam a atitude
da resignação diante do “destino” como sendo uma grande virtude.
Entretanto, não é isso o que se dá no cristianismo. O crente verdadeiramente
cristão supera as fatalidades do destino.
Temos visto que em troca de alguma esperança futura, a teologia da maioria
das religiões impõe regras, orações para serem repetidas, práticas para serem
observadas, e ofertas como recompensa. Por isso, lançar a nossa alma nesses
sistemas religiosos não aprovados, e seguir com isso por toda a eternidade, é
como subir em uma prancha com a intenção de cruzar o Atlântico.
Estamos vivendo dias de fanatismo religioso suicida, declarações violentas,
gritos de ameaças e assassinato. Abraão, o pai de três das religiões atuais, não
pactua com nenhuma dessas manifestações de loucura. Nos dias de Cristo
aqui na terra, havia aqueles que alegavam ser filhos de Abraão, os quais se
encheram de ódio e quiseram matar a Jesus. Ele lhes disse: “Se sois filhos de
Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me... assim
não procedeu Abraão. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis
satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio”
(João 8.39,40,44).
As pessoas que conhecem a verdade não são tomadas por esse tipo de fúria
insana. Quando os críticos levantam-se, eles fazem com que a verdade prove
a si mesma. O próprio método para espalhar a verdade do cristianismo mostra
que tipo de Evangelho é esse – nada de ameaças, nada de espadas, nada de
intimidação. “Aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação”
(1 Coríntios 1.21). Os primeiros cristãos disseram: “Conquistaremos o mundo
pelo amor”, e foi exatamente isso o que fizeram.
Mantendo Uma Mente Aberta
Geralmente, dizem-nos hoje em dia que devemos manter uma mente aberta
sobre religião, e que não devemos ser dogmáticos. Essa é uma visão liberal, e
significa que “você nunca pode ter certeza de nada”. Entretanto, se é assim,
então, para que serve? Supõe-se que a religião deve servir para nos assegurar
sobre o futuro e sobre Deus. Todavia, se mantivermos uma mente “muito
aberta” sobre isso, então poderemos colocar de lado todas as maravilhosas
promessas de Cristo, e não nos alegrarmos com nada do que Ele nos
prometeu. Os cristãos não podem ter essa “mente aberta”, pois eles já
abraçaram as bênçãos de Cristo. A mente deles está firme, definida, e não
“aberta”, como se não crer em nada fosse de fato uma virtude! Certamente,
ter essa mente “tão aberta” não seria virtude em um piloto de avião, por
exemplo. Quantas pessoas entrariam em um avião cujo piloto tivesse “mente
aberta” quanto a voar, para que destino e a maneira de chegar lá? Tenho
certeza de que os passageiros preferem um piloto bastante dogmático! Ele
precisa ter absoluta certeza de que os que estão naquela aeronave não vão
morrer. Manter uma “mente aberta” a respeito da nossa viagem através da
vida é igualmente perigoso. Qual é o nosso destino? É melhor sabermos – é
melhor sabermos!
A Bíblia não estimula ninguém a ser “dogmático”, mas a sua linguagem é
sempre aquela que traz esperança certa e segura. A palavra sabemos é típica
do Novo Testamento, contudo, saber alguma coisa não é o mesmo que estar
“absolutamente seguro”. Estar certo de que o sol irá nascer amanhã não nos
faz nem dogmáticos nem demasiadamente confiantes. Esta é a atitude simples
do cristão que está seguro a respeito de Deus e do amanhã: o que Ele fez, Ele
fará; o que Ele é, Ele será. O testemunho comum cristão é aquele do apóstolo
Paulo: “... sei em quem tenho crido e estou certo de que Ele é poderoso para
guardar o meu depósito até aquele Dia” (2 Timóteo 1.12); isto é, quando
Cristo voltar. Esse tipo de certeza é exatamente o que esperaríamos de
qualquer Deus digno de ser chamado “Deus”.
Quando a Falta de Fé Tem Perdão?
A incredulidade sobre Deus pode ser desculpada quando as pessoas são
ignorantes a respeito d’Ele. A própria Bíblia diz: “... como crerão naquele de
quem nada ouviram? (Romanos 10.14.) Mas a ignorância talvez também
precise de perdão. Com torres de igreja apontando para o céu em uma centena
de esquinas, não ter ouvido o Evangelho mostra uma ignorância imperdoável.
Como Deus pode perdoar pessoas que nem sequer se importam em ouvir,
depois que Seu Filho morreu na cruz para perdoar-lhes os pecados? “Por esta
razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas,
para que delas jamais nos desviemos… como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação?”(Hebreus 2.1,3.) Se a verdade que
temos não é a verdade de Cristo, iremos morrer sem a verdade do perdão.
Certo bispo foi cortar o cabelo no salão de um barbeiro que gostava muito de
conversar. Sabendo que teria o clérigo como seu “prisioneiro” em sua cadeira
durante uns quinze minutos, enxergou nisso a sua grande oportunidade e, de
modo agressivo, foi logo anunciando que era um incrédulo. Então o bispo
perguntou-lhe:
“ — Você lê a Bíblia?”
“ — Eu, ler a Bíblia? Óbvio que não! Eu sou incrédulo.”
“ — Você lê livros religiosos cristãos?”
“ — Você jamais me encontraria lendo esse lixo. Já lhe disse que sou
incrédulo.”
“ — Você alguma vez vai à igreja, escuta o rádio ou vê algum programa de
televisão sobre Deus?”
“ — É claro que não!”
“ — Tem algum amigo cristão que lhe fala sobre as experiências religiosas
dele?”
“ — Não, obrigado!”
“ — Porventura já teve alguém da igreja aqui, para falar com você sobre
Deus?”
“ — Esses vendedores de religião me conhecem! Eles não ousariam bater em
minha porta duas vezes!”
O bispo esperou, sorrindo.
“ — Entendeu agora?” perguntou o barbeiro.
“ — Perfeitamente! Entendo que você não tem nada de incrédulo.”
Respondeu o bispo.
“ — Já lhe disse que não creio em nada”, replicou o barbeiro. O bispo
respondeu-lhe:
“ — Você não pode ser um incrédulo. Aliás, você nem ao menos sabe em que
não acredita. Uma pessoa não pode não acreditar em algo sobre o qual nunca
ouviu falar. Eu vou lhe dizer o que você é: um tolo insensato e condenado.”
“ — Bispo, estou surpreso de ouvi-lo usar esse tipo de linguagem”, retrucou o
barbeiro.
“ — Não estou dizendo nenhuma blasfêmia”, disse o bispo. “Estou apenas
citando a própria Bíblia, que diz: ‘Diz o insensato no seu coração: não há
Deus’ (Salmo 14.1), e ‘Por essa razão Deus lhes envia um poder... a fim de
que... sejam condenados todos os que não creram na verdade...’ (2
Tessalonicenses 2.11,12).Você é um ignorante a respeito de Deus e um tolo
por não desejar conhecê-Lo. Por isso, você já está condenado ao inferno.”
Então, não podemos ser inocentados com base na ignorância ou na
incredulidade, ambas têm suas consequências. A fé em Deus traz claros
benefícios; ela “acende a luz”. A incredulidade, por outro lado, libera o ácido
do cinismo. Você não sabe em que você acredita. “... eles mudaram a verdade
de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador. E,
por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os
entregou a uma disposição mental reprovável...” (Romanos 1.25, 28). As
pessoas fariam melhor se ignorassem a criação, em vez de o Criador.
CAPÍTULO NOV E
A Fé e as Promessas
Fé – Uma Atitude
O que é esta fé? Não é uma coisa, ou um amontoado de algo, ou um lóbulo
extra do cérebro, ou um pedaço de um material qualquer que fique preso à
nossa alma. Escolhemos acreditar. Em outro capítulo falamos sobre a história
de uma notável mulher de Suném. Ela creu no profeta Eliseu e recusou
qualquer desânimo. Ela foi resoluta. O seu caráter inabalável e a sua
audaciosa confiança em Deus são as razões por que a Bíblia registra a sua
história.
A fé é a única base possível para qualquer relacionamento com o Deus todo-
poderoso. Parece-me que ter fé em Deus não é apenas bom, mas é também a
única atitude decente que podemos tomar. É ridículo desejar lidar com Deus
sob quaisquer outros termos – de que outra maneira pode um Deus invisível
se relacionar conosco? E o que dizer do futuro? Se não podemos deixar o
porvir nas mãos do Todo Poderoso, quem somos nós para pensar que
podemos fazer melhor que Ele?
Isso o mínimo que Deus pode esperar, pois “... sem fé é impossível agradar a
Deus (Hebreus 11.6). Se alguém diz: É uma pena alguém justificar a sua falta
de fé dizendo não ser um crente exemplar, pois Deus não se agrada de crentes
assim. Afinal, será que ele, ou qualquer outro, ficaria feliz se uma outra
pessoa não o considerasse digno de confiança?
A fé não é a certeza; é uma questão pessoal. É possível que, até o momento
presente, uma determinada pessoa tenha demonstrado ser digna de nossa
confiança. Todavia, será que vamos confiar nela para o futuro, baseados
apenas nessas provas pessoais? Confiamos nela porque a conhecemos. Se
achássemos que ela poderia alterar seu comportamento, deixaríamos de
acreditar. Com Deus se dá o mesmo. A Bíblia revela quem ele é. Até o
momento Ele tem provado para nós que podemos confiar n’Ele, porém, com
relação ao futuro, só podemos crer.
Não precisamos ter fé para saber que dois mais dois são quatro. Todavia, a
vida é um pouco mais complicada que isso. As circunstâncias modificam-se
como o oceano. É grande o número das circunstâncias que afetam o futuro, e
obviamente, elas também afetam o que Deus talvez fosse fazer; entretanto,
Deus não ignora eventos como se não tivessem acontecido. Ele tem toda a
sabedoria e todo o poder, e por isso precisamos deixar que Ele coloque tudo
nos seus devidos lugares. Podemos não entender o que Ele está fazendo tanto
quanto não entenderíamos o caos em um estaleiro que estivesse construindo
um luxuoso navio de cinquenta mil toneladas. Olhamos para Ele, e é isso o
que Deus leva em conta. Nosso Senhor fez o mundo desse jeito. A oração e a
fé lhe permitirão fazer o que Ele não poderia realizar de outra maneira. Não
há a menor dúvida de que Deus pode fazer qualquer coisa, mas Ele não faz
independente daqueles que creem. Essa é a providência divina planejada.
As Promessas de Deus
É da nossa natureza confiar nas promessas das pessoas até sermos
decepcionados – e os malandros e os vigaristas aproveitam-se disso. Se
confiamos nas pessoas quando elas nos dão a sua palavra, deveríamos ser
capazes de confiar na palavra do Deus todo-pode- roso. Uma centena de
gerações já comprovou que o Senhor Deus é digno de toda a nossa confiança
e Ele tem nos dado a mesma razão para confiarmos n’Ele – declarações claras
do que Ele se compromete a fazer por nós. Alguém fez uma pesquisa em toda
a Bíblia e encontrou 7.874 (sete mil, oitocentos e setenta e quatro) promessas
que Deus nos fez.
E é esse maravilhoso conjunto de promessas que nos dá o conhecimento de
Deus e daquilo que podemos esperar d’Ele. O que estiver “fora” dessas
promessas, provavelmente, estará fora da sua Palavra. Entretanto, não há
nenhuma barreira difícil à bondade de Deus. Ele é gracioso. A experiência
tem demonstrado que, por vezes, ele pode permitir algo que não esteja
perfeitamente dentro dos limites de sua Palavra. Quando isso acontece, não
deve ser entendido como se estabelecendo um precedente para que outros
exijam o mesmo d’Ele. Porém, esse total de 7.874 promessas deve ser
abrangente o suficiente para todas as circunstâncias que precisam da ajuda de
Deus.
Muitas dessas promessas estão em forma de aliança. Todavia, um tema tão
sensacional e fascinante como “Fé e Aliança” precisa de um ou dois capítulos
para se falar a respeito. No momento, nossa preocupação é ter fé em Deus por
meio de Suas promessas.
Deus Sempre Age – Sendo ou Não Requisitado
Deus faz muito por nós, mesmo sem que peçamos nada a ele. “... vosso Pai
celeste... faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e
injustos” (Mateus 5.45). Deus é bom, e o é para todos. Milhões não lhe dão
nenhum crédito, embora estejam prontos para culpá-Lo quando alguma coisa
dá errado. Os processos da natureza parecem ser regulares e imutáveis. E até
hoje ninguém ainda conseguiu demonstrar que não há um “toque” de Deus
neles. Ele mantém a sua promessa “com todos os seres viventes... as aves, os
animais domésticos e os animais selváticos...” (Gênesis 9.10). “Enquanto
durar a terra, não deixará de haver sementeira e ceifa, frio e calor, verão e
inverno, dia e noite” (Gênesis 8.22). E Jesus foi mais além e incluiu as flores,
dizendo: “Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham,
nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória,
se vestiu como qualquer deles” (Mateus 6.28,29).
Contudo, Deus tem outras coisas boas. A promessa é: “Pedi, e dar-se-vos-á”
(Mateus 7.7), pois somente as obtemos quando pedimos diretamente. Na
verdade, elas são promessas, e a maioria delas está enumerada nas Sagradas
Escrituras – “... nenhum bem sonega aos que andam retamente” (Salmo
84.11). Quando ficarmos sem alguma provisão natural, Jesus disse: “Pedi e
recebereis” (João 16.24), “Pois todo o que pede recebe... Ora, se vós, que sois
maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que
está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” (Mateus 7.8, 11). Se
pedirmos coisas boas, Ele não nos enviará o mal – nunca! “Toda boa dádiva e
todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes” diz Tiago 1.17.
O exercício da fé por intermédio da oração é uma atividade bastante
saudável. Os passarinhos que estão no ninho precisam aprender a voar para
conseguirem o alimento que estiver disponível. A necessidade de pedir
funciona como um excelente lembrete da nossa dependência de Deus, e é
providencial para levar-nos a buscá-Lo. Ela faz nascer em nós um espírito
infantil, o qual nos leva a buscar o nosso Pai celeste em todo o tempo. Isso é
comunhão – comunhão familiar com nosso Pai.
Uma Oração de Ordem Mundial
Deus poderia ter preferido fazer tudo por nós, entretanto, a simples
compreensão da natureza humana iria rir dessa ideia. Nenhum pai seria tão
estúpido de tratar seus filhos assim. O alvo é levar a criança a firmar-se
sozinha e a andar com os próprios pés.
E o que Deus deseja para nós é algo muito parecido com isso. O seu grande
objetivo é que não sejamos apenas eternos e incapazes dependentes, como
bebês de colo, mas Seus colaboradores.
A oração é, no momento, o nosso único acesso se desejamos ser úteis ao
Senhor. Muitas vezes nos esquecemos de que Ele, de fato, criou um tipo de
mundo no qual a oração seria necessária. A oração não foi uma ideia tardia
quando o diabo arruinou a Criação. Até Jesus orou. A oração é essencial para
ajudar no bom andamento dos assuntos concernentes ao Reino de Deus.
Muito do que acontece hoje em dia não é da vontade de Deus; sendo assim,
devemos orar sempre para que a Sua vontade seja feita. Nós pedimos e,
então, Ele realiza. Ele planejou que iríamos cooperar com Ele, exatamente
como eram os seus planos para Adão. “Tomou, pois, o Senhor Deus ao
homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar“ (Gênesis
2.15).
É assim que se lê a promessa de João 14.13: “E tudo quanto pedirdes em meu
nome, isso farei”. Pedimos o que for necessário para que a vontade de Deus
seja feita aqui na terra. “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei.”
Somos seus colaboradores. O mundo e as pessoas que vivem nele precisam
de cuidados, e a promessa de que Cristo fará o que pedirmos é para o
cumprimento desse propósito, e não para conseguirmos apanhar a lua ou
comprar meia dúzia de Rolls Royce.
Existem promessas incondicionais, como a continuação da natureza, porém,
há muito para o qual devemos pedir. Tiago 4.2 diz: “... Nada tendes, porque
não pedis.” É claro que Ele não vai ficar colocando alimento em nossa boca.
O Senhor alimenta os pardais, mas Ele não joga a comida dentro dos seus
ninhos. Se quisermos ver o Senhor realizando a Sua obra, devemos
“trabalhar” em oração.
Deus Sempre nos Guia
A oração é o ato de falarmos com Deus, e não de Deus falar conosco. Afinal,
Ele nos fala a qualquer momento que desejar, e não precisa esperar que
oremos. Na verdade, parece que ninguém na Bíblia estava orando quando
Deus falou com eles. O Senhor está perto de nós e pode nos falar sempre.
Pode ser que não consigamos ouvi-lo algumas vezes por estarmos desejando
que Ele nos fale algo diferente.
A oração é basicamente um tempo de esvaziarmos o nosso coração diante de
Deus. Ouvir é outra coisa que também é de suma importância. Devemos estar
constantemente prontos, uma vez que Ele pode falar a qualquer momento. É
inútil levantarmos dos nossos joelhos dizendo que Ele não falou; não
podemos exigir que Ele fale conosco naquele momento exato, como se
estivéssemos apenas ligando o rádio. Não devemos nos “desligar” nunca,
porque a qualquer hora Ele pode interromper a nossa programação para nos
passar algumas instruções pessoais específicas.
Perigos
Pode parecer estranho para os cristãos de hoje o fato de não haver
absolutamente nada nas Escrituras sobre orar com a intenção de buscar a
orientação de Deus ou alguma outra coisa. Existe muito sobre ouvir a Sua
voz, mas quase nada sobre esperar para ouvi-Lo (exceto em Habacuque 2.1,
quando este profeta se colocou em sua torre de vigia para ver o que Deus
tinha para lhe dizer). Se orarmos e esperarmos para ouvir Sua resposta,
provavelmente ouviremos, contudo, qualquer que seja a voz que falar,
precisamos saber de quem é ela. Os perigos são óbvios.
É fato comprovado da natureza psicológica humana que nossos desejos
podem falar tão alto que nos pareçam ordens divinas. Basta gritar o bastante
sobre aquilo que realmente desejamos fazer que, mais cedo ou mais tarde, o
eco será ouvido. Contudo, isso é apenas o eco de nossa própria voz – não é a
voz de Deus.
As pessoas costumam falar sobre como lutaram com Deus a respeito de
alguma decisão que tiveram de tomar. Agora, falando francamente, isso é um
procedimento odioso. Será que Deus é assim? Na realidade, eles estão
lutando com a sua própria vontade, e não com Deus, afinal, querem que o
Senhor concorde com eles. Será que realmente acreditamos que precisamos
lutar com Deus para conseguirmos “arrancar” de d’Ele a Sua vontade secreta
para a nossa vida? Certamente Ele nos dirá sem que tenhamos de travar uma
verdadeira luta romana com o Todo-poderoso. É ridículo nos achegarmos a
Deus dessa maneira, como se Ele não quisesse nos revelar a Sua vontade.
Esse negócio de ficar pedindo a direção de Deus sugere que Ele tenha
negligenciado a Sua promessa de guiar- nos, conforme Ele disse que faria.
Depois da queda de Jerusalém, muitos queriam que Jeremias perguntasse a
Deus se eles deveriam deixar a terra. Eles estavam querendo ir para o Egito e
era exatamente isso o que estavam planejando. O desejo deles era unicamente
que Jeremias persuadisse a Deus a aprovar os seus planos. Então o profeta
consultou ao Senhor e Ele não aprovou em absoluto. Todavia, eles foram
assim mesmo e ainda disseram que Jeremias tinha mentido sobre o que Deus
havia falado. E, em consequência dessa desobediência, eles enfrentaram
grandes problemas. Deus não tinha dito nada sobre eles deixarem Jerusalém
simplesmente porque Ele não tinha nenhum plano novo. Temos uma defesa
contra todas as “vozes” e impulsos – a Palavra de Deus. “... Se eles não
falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Isaías 8.20 –
Almeida, Corrigida e Revisada, Fiel). Isso reivindica para a Palavra o
privilégio incomparável de ser o meio pelo qual Deus fala. Ele não tem nada
a dizer exceto o que está de acordo com os seus preceitos. A Sua Palavra
pode nos vir por intermédio de uma ministração ou de profecia, que muitas
vezes precisamos, todavia, diretrizes pessoais nunca vêm através de uma
terceira pessoa. Ele não diz a mais ninguém o que é que você deve fazer.
Deve haver conforto, edificação e exortação da parte d’Ele, entretanto, se
somos filhos de Deus, cada um de nós será dirigido por Ele (Romanos 8.14).
Nenhum dos grandes homens e mulheres das Sagradas Escrituras que
ouviram a voz de Deus estava pedindo ou esperando por isso; Deus
simplesmente quis falar e falou. As pessoas costumam perguntar:“O que
Deus está falando à igreja?” E eu pergunto: Por que Deus deve estar sempre
dizendo alguma coisa para a igreja? Será que Ele deixou a todos nós na
escuridão sobre o que Ele quer que façamos? Existem pessoas que se
consideram espiritualmente superiores que dizem saber o que ninguém mais
sabe, como se fossem favoritos de Deus e que, realmente, estão diante d’Ele
como ninguém mais. O Espírito dos profetas é agora o Espírito dado a todos
os crentes. Deus revela Seus segredos aos Seus profetas e, em Cristo, hoje
todos pertencemos a essa categoria. Quando Deus fala, é uma mensagem de
ampla transmissão, e não uma chamada telefônica.
O que Deus Está Dizendo
Se o Senhor tem algo para dizer a toda a igreja, é o mesmo que Cristo disse
quando partiu deste mundo:“… Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a
toda criatura” (Marcos 16.15). Até que essa ordem seja cumprida cabalmente,
Deus não terá outras ideias ou preocupações maiores de nos ocupar com
questões secundárias, tais como estruturas e organização eclesiásticas.
A vontade de Deus não fica oculta; pelo contrário, Ele faz questão de a
revelar a nós. Deste modo, “esta é a confiança que temos para com ele: que,
se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 João
5.14). Foi por isso que Jesus nos ensinou a petição: “... faça-se a tua vontade,
assim na terra como no céu” (Mateus 6.10); e tornou a dizer: “Se
permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis
o que quiserdes, e vos será feito” (João 15.7). O objetivo principal da oração
não é para que a nossa vontade seja feita, mas fazer realizar a vontade
conhecida de Deus; não é persuadir Deus a concordar com nosso modo de
pensar, ou forçar Sua mão a agir. Sua vontade expressa é que todos os
homens se arrependam de seus pecados. Todo o Novo Testamento explica
isso de maneira absolutamente clara. Se Lhe pedirmos de acordo com a Sua
vontade, Ele se apressará em responder. Isso está expresso na oração: “faça-
se a tua vontade, assim na terra como no céu”. E é o Evangelho que tornará
isso possível.
Jejum e Fé
Temos ouvido daqueles que dizem que irão jejuar, se necessário, até a morte,
para que Deus responda às suas orações. Isso, certamente, é uma maneira
bastante impressionante de mostrar o quão sincero eles estão. Todavia, como
isto pode afetar a Deus? Será que isso é um sinal da sua própria paciência e fé
de que Deus irá responder? Ou eles estão tentando forçar a mão de Deus por
meio de uma sutil ameaça espiritual? Isso é um tipo de chantagem emocional
e religiosa? Será que Deus vai acabar por dizer: “Acho que é melhor eu fazer
o que eles querem, ou eles vão acabar morrendo”?
Deus não cede a pressões emocionais de nenhuma espécie. É um erro jejuar
com a intenção de torcer o braço de Deus. O jejum é apenas uma maneira de
expressar a nossa urgência, como clamar a Deus em voz alta ou
insistentemente. Os pagãos acreditavam que podiam exercer algum tipo de
força sobre os seus deuses, caso se empenhassem bastante, principalmente
por meio de derramamento de sangue e outros esforços. Contudo, nosso Deus
não é como Zeus, Apolo, ou Baal; Ele tem prazer em ouvir os Seus filhos e
eles não precisam fazer barulho ou qualquer outra manifestação. Conseguir
que todo mundo ore, apenas para dar maior peso à nossa própria oração é
como colher assinaturas para mandar ao Governo uma petição – uma
demonstração de que não compreendemos a natureza da oração. As nossas
petições são eficazes quando estamos participando na obra de Deus,
especialmente em um trabalho especial.
Para acreditarmos em Deus quando pedimos, precisamos saber que Ele nos
ouve, e que estamos pedindo segundo a Sua Palavra – a saber, segundo a Sua
vontade revelada. A Palavra de Deus enumera muitas dessas coisas. Fomos
incentivados a orar assim: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mateus
6.11). Jesus disse: “Quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles
que lho pedirem?” (Lucas 11.13). E Ele também disse: “... permanecei… até
que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 24.49). Devemos pedir por
cura, pelos dons espirituais, uns pelos outros, por aqueles que estão na igreja
e que permanecem em pecado, e pelas autoridades constituídas. Todos esses
são pedidos secundários que nos direcionam ao objetivo maior de Deus, que é
a redenção do mundo.
A Fé e os Seus Objetivos
Tiago era meio-irmão de Jesus, e a sua epístola nos leva de volta ao típico
ensino do Mestre, como nenhum outro livro da Bíblia. Aqui está uma de suas
valiosas passagens:
“... Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal,
para esbanjardes em vossos prazeres… não compreendeis que a amizade do
mundo é inimiga de Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-
se inimigo de Deus.”
Tiago 4.2-4
O assunto aqui é a respeito de orar por bens materiais. Entretanto, se orarmos
como mundanos materialistas, e o nosso coração estiver com a motivação
errada, não obteremos nenhuma resposta. Colocarmos nosso interesse em
posses, riquezas e prestígio é materialismo e mundanismo, e isso afasta Deus
da nossa vida e coloca de lado os objetivos que Ele tem para nós.
A oração número um de muitas pessoas é para aquilo que tem mais valor para
eles; ou seja, eles mesmos. Porém, quando o Reino de Deus é número um,
não há nada de errado em pedir a Deus por Suas boas coisas. Tiago 1.17:
“Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das
luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” Os bens
materiais que estão ao nosso redor são da parte de Deus, como presentes para
a Sua criação. “Pois dessedentou a alma sequiosa e fartou de bens a alma
faminta” (Salmo 107.9). E isso tudo de acordo com seus anseios ou gostos.
A riqueza criada por Deus nos dá condições de adquirir mais riquezas;
todavia, nada do que ele fez foi feito apenas para os materialistas. A riqueza
não é o principal alvo da fé. A fé foi concedida para encorajar-nos a tomar
posse. Deus não colocou Sua vasta riqueza em nosso maravilhoso mundo
simplesmente como uma tentação para colocar os cristãos à prova. Os crentes
têm tanto direito de buscar as boas coisas desta vida como qualquer outra
pessoa. Contudo, concentrar os nossos desejos e orações em bens materiais já
é outra coisa muito diferente. O motivo de possuir as coisas deve ser repartir,
aliviar o faminto e o aflito, e fazer conhecido o nome do Senhor.
A fé e a oração são um mesmo tema, e dependem um do outro. Neste capítulo
demos uma pincelada rápida nos textos bíblicos sobre o assunto. Mais adiante
veremos exemplos bíblicos de fé e oração de maneira minuciosa.
CAPÍTULO DEZ
Fé – no Antigo e no Novo
A Fé no Antigo Testamento
Em geral conseguimos aquilo pelo que lutamos em nossa vida, entretanto,
será que vivemos por meio daquilo que conseguimos? As condições de hoje
são fantásticas se comparadas com as do passado. Todavia, será que somos
fantasticamente mais felizes e realizados?
Houve pessoas fantásticas, que apreciavam a existência humana como se
aprecia o vinho mais fino, mesmo quando a ignorância era profunda; gigantes
espirituais, como Enoque, Abraão e Samuel. Eles não tinham uma internet
para navegar, para recolher apenas a “nata” superficial do conhecimento
mundial. Entretanto, foram bem fundo na realidade da vida. Seus olhos
estavam cheios de uma profunda compreensão das coisas. Se encontrássemos
um desses tremendos personagens iríamos nos sentir inferiores diante de tão
grandiosa presença.
Esses foram alguns dos antigos que conheciam a Deus. Eles não
consideravam a palavra “fé” como um estado da mente; apenas pensavam em
termos práticos, como andar com Deus servindo, temendo, obedecendo e
achegando-se a Ele. É isso o que é fé, e é por isso que a Bíblia deve ser o
nosso guia em cada passo da nossa jornada. Hoje as pessoas costumam
pensar na fé como sendo uma possessão, mantida empilhada em segurança
em algum lugar no nosso armário psicológico de onde, de vez em quando, a
tiramos, limpamos a poeira, e mostramos para as pessoas, conforme exigir a
ocasião. É como um credo – eu creio. E só.
Os santos do passado reconheciam que precisavam tanto da fé para viver o
seu dia-a-dia, quanto precisam de suas roupas. Isso era como o ar que eles
respiravam, e não algo apenas para os momentos convenientes. O mundo de
hoje, entretanto, pensa na religião apenas como mais um assunto para se
discutir ou como uma prática ocasional. O domingo é separado para a prática
da religião. Todavia, para esses grandes homens, o seu relacionamento com
Deus era a qualidade essencial de todas as horas que passam acordados,
inimagináveis sem Ele.
O mundo de então era um lugar bastante perigoso, afinal, as nações não
tinham a mínima ideia de como tratar as doenças e as pragas, a seca e a fome.
Viviam cercados de inimigos. Todavia, a nação de Israel aprendeu que Deus
era o seu “El Shaddai”, o seu todo suficiente, protetor, libertador, quem os
curava; Ele era a sua fortaleza e o seu “escudo e broquel”.
As outras nações procuravam os seus deuses; quando precisavam de chuva,
buscavam o deus da chuva, para terem abundância na colheita, voltavam-se
para o deus da fertilidade. Quando precisavam de ajuda, ofereciam sacrifícios
nos seus altares como uma barganha. Era isso o que os deuses exigiam das
pessoas pois, do contrário, elas se esqueceriam deles. Os gentios não
possuíam uma duradoura consciência do constante interesse de Deus por eles.
Somente Israel podia desfrutar disso.
Deus enviava profetas ao povo de Israel para assegurá-lo de Sua fidelidade.
Ele era o seu Pastor, e eles eram ovelhas do Seu pasto. E isso estava muito
além da compreensão daqueles pagãos.
Nem mesmo os mais famosos gentios de todos os tempos, como Sócrates e
Aristóteles, tiveram tal consciência do divino. Israel era o povo de Deus. Por
outro lado, por exemplo, mesmo que os efésios se gloriassem de Diana
(Artemis), eles não eram “o povo de Diana”; simplesmente a escolheram
como uma deusa.
Um Novo Tipo de Fé
E, quando chegamos no Novo Testamento, vemos que a fé apregoada pelos
profetas continua. Entretanto, aí ela assume uma dimensão mais ampla, indo
além da aliança física; ela abrange mais território, algo que os próprios
profetas que falaram dela não entendiam (1 Pedro 1.10-12). O que Cristo veio
trazer ao Seu povo compreendeu a vida presente e futura, toda a nossa
existência moral, espiritual, e psicológica.
Jesus nos mostrou que os nossos perigos físicos não são a questão mais
importante, e nem mesmo a nossa prosperidade material. O estado do nosso
verdadeiro eu, a nossa personalidade ou a nossa alma, isso sim, é o que
verdadeiramente importa. O corpo morre, porém, pior será se a alma
perecer.“... a alma que pecar, essa morrerá” (Ezequiel 18.4); todavia, Jesus
disse que a alma que peca já está morta. Graças a Deus, entretanto, que Ele
vem como a Ressurreição e a Vida.
A primeira preocupação dos antigos era com segurança física e com a
prosperidade, porque viviam debaixo de constante ameaça com relação a
ambas. Contudo, eles eram crentes maravilhosos. A sua fé não era uma
crença sem compromisso, em algum credo; ela tinha de ser exercitada
vigilantemente como se fosse um escudo diário contra os constantes perigos.
Eles foram os pioneiros da verdadeira fé, e isso em um mundo inteiramente
idólatra. Independente de sobre o que confiamos em Deus, incluindo a
salvação eterna, esses antigos personagens, debaixo das condições de maior
prova, mostraram-nos como confiar. O exemplo deles está registrado nas
Escrituras Sagradas, porque eles forneceram orientação vital para toda a vida.
Existem vários níveis de fé. Podemos começar com uma visão limitada a
respeito do que podemos deixar aos cuidados de Deus, ou apenas com uma só
oração, do tipo: “Ó Deus, socorre-me!” Gostaria de ajudar o leitor a subir
uma espécie de escada, passo a passo, a buscar de Deus bênçãos que se
aplicam de maneira cada vez mais ampla às nossas circunstâncias. O processo
na aquisição da fé pode ser mais ou menos parecido com o seguinte:
1. Acreditar que algo seja verdadeiro. O livro de Tiago lembra àqueles
que acreditam em um Deus que o diabo também acredita (Tiago 2.19), o que
não é muito encorajador, não é verdade? No capítulo onze do Evangelho de
João lemos que Marta acreditava na ressurreição do último dia, contudo,
Cristo desejava ver nela uma fé na ressurreição futura, mas também no
presente. Tudo bem; aquilo foi só o começo. Da mesma forma, os judeus
criam que a religião deles era a verdadeira, embora ela tivesse pouco proveito
para eles no seu dia-a-dia, pois eles nunca a colocavam em prática. O mesmo
acontece hoje. A fé talvez não passe de uma aceitação mental ou um
assentimento intelectual de certa declaração da verdade. Ela nem chega a ser,
digamos, os “troquinhos” da moeda da vida. Simplesmente, crer que Deus
existe não pode ser considerado fé, da mesma forma que acreditar que existe
um planeta chamado Plutão, mas já é um começo essencial.
2. Acreditar que uma pessoa seja verdadeira. Por exemplo, Nicodemos
disse: “... sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus” (João 3.2). Jesus
desejava um tipo de fé um pouco mais elevado do que ser considerado apenas
como Mestre. Jesus falou com Nicodemos sobre “crer” de uma maneira
diferente, de um modo que aquele mestre em Israel (3.10) jamais havia
imaginado. Muitos acreditavam que Jesus era um homem verdadeiro, como
Nicodemos também acreditava. E admiração pode tornar-se compromisso,
como existe motivo para crermos que foi o que aconteceu no caso desse
visitante noturno (3.2). Contudo, apenas acreditar que Jesus seja um homem
bom é um grande erro. Afinal, se Ele era bom, então não poderia ser um
mentiroso, nem um enganador, ou um maluco. Jesus Cristo reivindicou ser o
Filho de Deus e Ele não poderia ser o que reivindicou e, sim, um blasfemo
revoltante, se tal afirmação não fosse verdade. E se Ele era mesmo uma
pessoa boa, Ele certamente era quem disse ser – muito mais que um bom
homem, mas Cristo, o Salvador do mundo. E Ele é!
3. Acreditar em Jesus como sendo uma Pessoa inspirada, como um
profeta. Os discípulos disseram a Cristo o que é que as pessoas pensavam
d’Ele: “... uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum
dos profetas” (Mateus 16.14). Quando Ele entrou em Jerusalém, “... as
multidões clamavam: Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia” (Mateus
21.11). Eles o aplaudiram, mas Jesus, como Jeremias, chorou. Aquelas
pessoas já haviam andado muito com Jesus; todavia não deixaram que Ele os
tomasse debaixo das Suas asas e os salvasse. Assim, não podemos falar que
Cristo seja um profeta, do mesmo modo que não diríamos que o Sr.
Christopher Wren tenha sido um simples arquiteto. Um profeta precisa ser
ouvido, e ouvir a Cristo leva tempo; um longo tempo.
4. Acreditar no poder de Deus. Na cidade de Jerusalém todos acreditavam
no poder do Todo-poderoso, e muitos também acreditavam nos poderes de
Cristo (João 2.23-25). Eles não tinham dúvida do que haviam visto, que Ele
tinha poder de curar e que era um operador de milagres. Eles chegaram
mesmo a querer fazê-lo Rei. Entretanto, Cristo queria uma fé mais
abrangente. Eles acreditaram nos Seus poderes físicos, mas não o colocaram
no lugar que Lhe era de direito – como Senhor e Salvador. Eles pediram que
Jesus operasse milagres, mas Ele tinha outra ideia além de satisfazer o amor
deles pelo sensacionalismo (João 6.36). A fé que eles tinham n’Ele era
exatamente como a fé que se tem em um curandeiro, o que é pouco mais que
ter fé em um homem qualquer, como em um doutor, um motorista, ou até
mesmo um encanador. Confiamos em um médico apenas como médico, não
como uma ajuda diária. Devemos confiar em Cristo para todas as coisas, não
somente para um ou dois milagres.
5. Acreditar em confiança. Isso transforma a fé em um relacionamento
pessoal. Confiamos nas pessoas, como nossos pais; afinal, eles nos
conhecem, e podemos confiar absolutamente neles. Sentimos que eles não
irão falhar conosco. Essa é a “fé” pessoal que Deus deseja que tenhamos
n’Ele. Não temos segredos para Ele. Também podemos confessar-Lhe os
nossos pecados, pois Ele já os conhece de qualquer maneira. Essa é a fé que
salva. Se estivéssemos presos na encosta de uma montanha, e um bombeiro
experiente viesse em nosso socorro, a única atitude que teríamos de tomar
seria colocar nossa vida nas mãos dele, não importando quão brilhante, rico,
forte, ou estúpido que fôssemos. Isto é fé salvadora, e Cristo é o nosso
Resgatador.
6. Acreditar em Cristo. Esta é a verdadeira fé. Confiamos em Cristo de
uma forma que nunca confiamos nem em um amigo íntimo. Sabemos que os
amigos podem nos decepcionar, como diz no Salmo 41.9:“Até o meu amigo
íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o
calcanhar”. Mesmo o nosso próprio pai pode falhar conosco, mas “se meu pai
e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá” (Salmo 27.10). Isso
significa rendição; deixar que Ele tome conta, não somente de uma área de
nossa vida, mas de toda ela. Se quisermos que ele mantenha nossa cabeça
fora da água, temos de permitir que ele segure firmemente todo o nosso ser.
Era isso o que Paulo desejava para os seus convertidos: “O mesmo Deus da
paz vos santifique em tudo; e pode o vosso espírito, alma e corpo sejam
conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo” (1 Tessalonicenses 5.23). E Cristo só pode salvar aquilo que
dermos a Ele. Temos de entregar-lhe tudo, tudo mesmo: corpo, alma e
espírito. Precisamos deixar tudo aos cuidados dele, para sempre. Aí ele
poderá fazer algo por nós. Ele não quer nos salvar “às prestações”. Satanás,
sim; ele é o único que deseja tomar posse de nós dessa maneira. Aliás, ele
tem “fome” disso; ele quer nos devorar.
Efeitos de Uma Fé Verdadeira
Eu estava procurando por uma palavra que indicasse um certo efeito, e creio
que seja “interação” ou, talvez, “catalisador”. É esse o papel da fé – ela
produz uma interação entre Cristo e o Seu povo. Ela também é um
catalisador, um elemento que produz mudança. Acreditar em alguma coisa é
estabelecer uma relação; não uma relação do tipo que se tem com uma tia-avó
que a gente nunca viu. É algo vivo, vibrante, que afeta tanto a Cristo quanto a
nós; entregamos-nos a Ele, e Ele se entrega a nós. Tornamo-nos participantes
da natureza divina (2 Pedro 1.4).
O apóstolo Paulo também procurou uma palavra para a mesma situação. E ele
usou uma maravilhosa expressão, que é “em Cristo”. Por exemplo: “... se
alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Coríntios 5.17); e “Agora, pois, já
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1).
Mesmo a mais simples fé em Cristo tem esse efeito tremendo, aliás, toda fé
verdadeira é simples de qualquer maneira. Não é nada parecido com uma
equação de álgebra para se encontrar o valor de X. A pessoa mais simples
pode crer e desfrutar do mesmo efeito que o mais sábio.
As Expressões de “Fé” de Cristo
Jesus também procurou palavras. Ele ouviu todos os jargões religiosos dos
escribas, que não eram muito apreciados pelas pessoas comuns. Entretanto,
essas mesmas pessoas simples ouviam Jesus alegremente. Ele falou sobre a
fé, mas colou isso de outra maneira: Vinde a mim – Amem a mim –
Permaneçam em Mim – Sigam-me.
A fé não é um determinado ato religioso. Crer é passar totalmente a Deus a
responsabilidade por nossa vida, quando nossos recursos são insuficientes.
Isso é uma fusão espiritual que nos faz um com Cristo; parece uma atitude
muito simples, e é, entretanto, não há outra maneira pela qual podemos
adquirir tudo o que Cristo conquistou para nós na cruz. Somos salvos
unicamente pela fé; o que pode ser mais importante no mundo do que isso?
“Fé, poderosa fé…” como bem expressa o hino de Charles Wesley; poderosa
porque é uma dádiva de Deus.
CAPÍTULO ONZE
A Fé de Abraão - Primeira Parte
A Luta da Fé
Os historiadores listaram as dez maiores batalhas que mudaram o mundo, e
chegaram à conclusão, muito acertadamente, de que a maior delas foi travada
no coração de Abraão. Se as pessoas pensam em Abraão simplesmente como
um personagem bíblico, elas nem mesmo começaram a entender o mundo no
qual vivem.
A Bíblia o nomeia 309 vezes e, por causa de sua fé, o seu nome está gravado
sobre todo o Oriente Médio e a história mundial até os dias de hoje.
Ele foi o primeiro homem mencionado por ter uma “fé obediente”, e viveu
sua vida em concordância com a sua fé. Abraão creu em Deus, e isso lhe foi
imputado por justiça (Hebreus 11). O que provém da fé, permanece.
A fé transforma o homem, que, por sua vez, transforma o mundo. Abraão foi
quem começou o processo de civilização 1.500 anos antes dos gregos e dos
romanos. Os Faraós estavam no Egito 1.000 anos antes dele, e continuaram
por mais 2.000 anos depois dele; entretanto, influenciaram o mundo menos
do que o patriarca.
Os Faraós não deixaram nenhuma marca moral; apenas encheram o deserto
de monumentos colossais, erigidos para seu próprio ego. Abraão não deixou
nem um único traço físico para que pudéssemos ver; contudo toda a nossa
vida hoje, sendo nós religiosos ou não, é diferente por causa do que ele foi.
Fé – Não Religião
Abraão não era uma pessoa profundamente religiosa; para ser mais exato,
nem mesmo segundo a nossa maneira moderna de pensar sobre religião. Ele
não tinha credo, não possuía hinários, Bíblia, imagens ou qualquer teologia. É
bem provável que ele não sabia realmente muita coisa sobre Deus; porém, ele
conhecia o Senhor, e muito bem. Ele andou com Deus.
Para esse patriarca, servir a Deus não significava uma obrigação de “ir à
igreja uma vez por semana” e, depois, colocar essa obrigação em um
cantinho da sua vida. Afinal de contas, não havia nem igrejas para ir naquela
época. Ele não cria em Deus apenas para ser fiel à tradição, pois também nem
havia tradição; Deus era o seu meio de vida. Vamos ver como é isso
atualmente.
Por que Crer?
A fé de Abraão também não tinha como único alvo salvar a sua própria alma,
nem era um ingresso para uma alegre viagem ao céu, ou uma apólice de
seguro para escapar do inferno. Não sabemos o que ele pensava sobre a “vida
após a morte”. Abraão veio de Ur dos Caldeus, e conhecia muito bem os
mitos pagãos; entretanto, ele estava começando um novo aprendizado onde o
Seu tutor era o Senhor. As nações haviam desenvolvido superstições cruéis e
imperfeitas para si mesmas, mas Abraão preferiu lançar-se totalmente sobre
Deus. Continuar a sua jornada sem o Senhor não fazia parte dos seus planos.
Abraão cria em Deus por duas razões. Primeiro, porque ele descobriu que
havia um Deus vivo. Segundo, porque a única coisa sensata a fazer era
obedecer ao que esse Deus dissesse. Sua fé mudou o futuro, mas não foi essa
a razão pela qual ele creu. Ele nunca sonhou executar tal missão; na verdade,
ao tomar conhecimento disso, ele abandonou o mundo em que vivia e foi o
mais longe que pôde. A mudança aconteceu porque ele creu nela. Ele
acreditou em Deus simplesmente porque Ele estava lá. E essa é a coisa mais
racional que alguém pode fazer.
Em Direção à Civilização
O Astronauta Neil Armstrong pisou na lua no dia 20 de julho de 1969; ele
disse que o seu pequeno passo era um salto gigante para toda a humanidade.
Contudo, bem maior fora o passo que Abraão deu quando deixou Ur dos
Caldeus; ele foi o pioneiro no caminhar pela fé em Deus.
Abraão começou a sua vida na bem-sucedida Ur dos Caldeus, e depois se
mudou para Harã, ainda nas férteis terras da região do Crescente Fértil*.
Depois, ele sacrificou sua confortável morada por uma tenda feita por pele de
cabras, na selvagem e pantanosa região do Negev. Ele se mudou apenas com
sua família, composta de pastores e pecuaristas, como um xeique beduíno.
Em seu coração, ele nutria um ideal secreto de uma nova vida. Porque
aguardava a cidade que tem fundamentos. Hebreus 11.10
* Região do Oriente Médio, também chamada “meia-lua fértil”, compreende
os atuais Israel, Cisjordânia e Líbano, bem como partes da Jordânia, da Síria,
do Iraque, do Egito e do sudeste da Turquia. É uma faixa não muito grande
de terra fértil, onde se encontra ainda a Palestina. Sua forma geográfica faz
lembrar uma lua crescente. (Nota da Revisora. Fonte:Wikipédia.)
Intelectualismo
Abraão não era um homem intelectual, mas era temente a Deus e o temor do
Senhor é o princípio da sabedoria (Salmos 111:10). Somente em um futuro
distante é que os gênios da humanidade iriam estourar no cenário mundial,
estendendo sua rede de pensamentos por toda a parte, em busca de
conhecimento e entendimento. Eles inventariam novas formas de se viver, e
novos meios de se governar; entretanto, estavam destinados a nunca saberem
o que Abraão sabia. E na sua busca desenfreada por essas coisas, deixaram de
procurar a maior de todas as descobertas: conhecer a Deus. Paulo disse: “o
mundo não O conheceu por sua própria sabedoria” (1 Coríntios 1.21). Sua
confissão de fracasso foi esculpida em um altar de pedras, na cidade de
Atenas – ao deus desconhecido (Atos 17.23).
Deus nunca desejou ser “o deus desconhecido”. Por isso, Abraão encontrou a
chave de ouro, na qual estava inscrito a palavra “fé”, e com ela ele abriu o
céu. Os gênios são tão raros quanto aqueles filetes de gelo no verão; contudo,
Abraão não era um deles, e nem Deus é presidente de um clube exclusivo
para intelectuais. O Senhor mantém o caminho livre para qualquer pessoa que
deseja conhecê-Lo, e nunca se privaria do amor de um milhão de pessoas,
para dar preferência a um prodígio dentre um milhão.
O pensamento de que não devemos crer em algo ou em alguém, a menos que
os intelectuais também creiam, não é uma ideia muito inteligente. Afinal de
contas, se o caminho para se encontrar a Deus fosse por intermédio de um
aprendizado muito complicado, Ele teria muito pouca gente ao Seu redor.
Para se ter o amor de uma vasta multidão, os meios têm de ser diferentes. O
Senhor se faz conhecido àqueles que O procuram como uma criança
esperançosa.
O Caminho
Abraão aprendeu a confiar em Deus, o qual lhe mostrou os caminhos de paz.
Naqueles tempos, as cidades eram fundadas debaixo do poderio militar e de
muito derramamento de sangue. Deus, entretanto, deu a ele uma nova visão; a
visão de uma cidade de paz, da qual Deus é o arquiteto e edificador (Hebreus
11.10). Os olhos de Abraão esquadrinharam os horizontes mais distantes. Ele
foi o primeiro a discernir o caminho da retidão, caminhos no mar e caminhos
no deserto.
Os caminhos da retidão e da paz haviam sido encontrados, marcados e
conhecidos; e, usados ou não, jamais poderiam ser esquecidos. Eles
continuam abertos, como passagem livre para todos. Muitas nações dizem
que o estão seguindo. Contudo, se o estão, é de uma maneira muito fraca. Se
os seguíssemos de volta, iríamos nos dar novamente à porta da tenda de
Abraão, onde Deus lhe disse: “anda na minha presença e sê perfeito”
(Gênesis 17.1).
Terreno Sólido
O livro de Hebreus resume a razão pela qual Abraão viveu. Hebreus 11.10
diz: “porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o
arquiteto e fundador”. Nos tempos de Abraão ninguém conhecia nada sobre
fundamento espiritual. Era uma época em que os governantes governavam
apenas para o seu próprio benefício. Antes de Abraão, a mente das pessoas
era desprovida de qualquer propósito ou plano, e ninguém sabia o porquê de
sua razão de existir na Terra.
Paulo enfrentou os agnósticos e estoicos de Atenas, e disse-lhes o seguinte:
“Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém,
notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam” (Atos 17.30).
Por esse motivo, ele escreveu a Timóteo: “nosso Salvador Jesus Cristo...
destruiu a morte... trouxe a vida e imortalidade, mediante o evangelho (2
Timóteo 1.10).
Em Romanos 1.22, Paulo também fala sobre os que inculcando-se por sábios,
tornaram-se loucos. Podemos muito bem viver sem saber qual é a distância
da estrela mais próxima, ou sobre os segredos do átomo; porém, não há
absolutamente vida verdadeira sem o segredo de Deus. Estaríamos perdidos
antes mesmo de começarmos. O agnosticismo é um desastre total, pois ou
nós vivemos pela fé, ou não vivemos de jeito nenhum. Jesus disse: “Quem
crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o
Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.36).
Vida sem fé é uma vida morta. Abraão sabia muito pouco sobre o mundo ao
seu redor, mas sabia tudo sobre a vida. Deus fez o primeiro homem, Adão, e
o primeiro homem civilizado, Abraão.
Por que Deus Falou
Primeiro encontramos Abrão (mais tarde chamado de Abraão pelo Deus
Todo-poderoso – ver Gênesis 17:5) em Ur dos Caldeus, com seu pai Terá.
Ur, como toda cidade, tinha um deus oficial; contudo, cada família ainda
tinha seu próprio deus familiar, para o qual construíam em casa um santuário,
como vemos na Índia, nos dias de hoje. Entretanto, o Deus “maior” foi
reconhecido e Abrão ouviu a Sua voz. Um grande passo havia sido dado.
Entretanto, esse avanço veio da parte de Deus, não de Abraão. Deus abriu
caminho por intermédio de Abraão. O Senhor mostrou preocupação pelo
mundo, e mesmo quando ninguém O estava buscando, Ele veio ao nosso
encontro. Abraão não estava buscando a Deus e, provavelmente, ninguém o
estava. Todavia, Deus fez com que Abraão soubesse quem Ele era, e lhe deu
instruções para ir embora de Ur. O Todo-Poderoso não havia lhe dito para
onde deveria ir mas, mesmo assim, ele foi. E foi assim que teve início uma
vida inesquecível. Esse relato encontra-se no livro de Hebreus 11:8-10.
Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que
devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na
terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e
Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que
tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador.
Esse texto enfatiza que Abraão viveu em tendas, longe de casas e ruas; mas
por que será que ele vivia assim? Para manter-se afastado do paganismo, dos
costumes da cidade e dos hábitos imorais dos outros povos. Abraão nascera e
fora criado em uma civilização idólatra, e Deus desejava purificá-lo de tudo
aquilo; somente o que Ele havia lhe mostrado ficaria. O Senhor Deus lhe
havia mostrado que o seu destino e o futuro das nações estavam além dos
seus próprios interesses. Ele foi o primeiro homem de uma nova ordem
mundial. Deus disse:
“De ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê
tu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Gênesis 12.2,3
Nos tempos de Abraão, as pessoas, em toda parte, viviam para si mesmas,
geralmente lutando contra todos ao seu redor. A Bíblia diz que, um dia, todas
as nações serão julgadas. Em Mateus 25, Cristo retrata um drama em todo o
palco do universo: a Parábola do Julgamento Final das Nações; elas terão que
prestar contas, pois os olhos do Senhor passam por toda a terra. Por que
temos fé? Será que é para sermos abençoados, ou para termos riquezas e
sermos prósperos? Se temos fé para isso, é porque foi Deus quem nos deu.
Contudo, Ele nos enriquece para que possamos enriquecer a outros, para
“passar adiante” as bênçãos. Tudo o que os políticos fazem é visando o seu
próprio lugar no mundo; porém, qual é o propósito de uma nação? Seria
simplesmente existir, sem nenhum objetivo moral? As pessoas têm seus
próprios compromissos, mas e quanto ao seu propósito de vida? O patriarca
Abraão viveu para Deus.
Fé: o Passaporte Divino
Dissemos que Deus estabelecera Abraão em uma terra hostil. Ele também
plantou a Sua igreja em um mundo igualmente hostil, com o mesmo
propósito que o fizera a Abraão. Quando Jesus mandou Seus discípulos para
irem ao mundo, enviou-os a cada nação da terra com um passaporte divino:
Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura (Marcos 16.15).
Cristo estava obedecendo à vontade do Pai expressa com relação a Abraão:
“Te abençoarei... sê tu uma bênção... em ti serão benditas todas as famílias da
terra”. Eles poderiam esquecer de salvarem a si mesmos – mas Ele cuidaria
disso. A preocupação deles deveria ser a salvação da humanidade.
A Grande Comissão nos confia uma missão, que é continuar a missão de
Cristo. Essa é a razão de uma igreja e é o que lhe dá direito de existir. Se a
igreja preocupa-se somente com ela mesma, então, aos olhos de Deus, ela não
tem objetivo e não oferece perigo ao inferno. A fé só é operante quando está
ligada aos propósitos do Senhor, e o primeiro deles é abençoar todas as
famílias da terra.
Prova Final da Fé
O episódio mais inusitado na vida de Abraão foi a ordem que Deus lhe deu
para sacrificar Isaque.
Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para
sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, a
quem se tinha dito: Em Isaque será chamada a tua descendência; porque
considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos, de
onde também, figuradamente, o recobrou. Hebreus 11.17-19
Podemos até ficar chocados com a simples ideia de Abraão considerar a
questão do sacrifício humano. É impossível, com um espaço de 4.000 anos de
distância entre nós, compreendermos um homem no seu tempo. Naquela
época o sacrifício era comum, e foi praticado por mais de 3.000 anos depois
de Abraão, na América Central. As lições espirituais tomam forma muito
devagar no entendimento humano e Abraão ainda era um aprendiz e um
principiante na fé cristã.
Deus realmente nunca quis que Isaque fosse sacrificado; sua intenção foi
testar Abraão utilizando-se de elementos de sua própria cultura. A prática de
sacrifícios naquela época era uma expressão de extrema devoção religiosa.
Na realidade, aquela experiência serviu para ensiná-lo que Deus não quer
sacrifício de sangue humano. O propósito desse episódio era o mesmo de
tudo o mais que Deus estava fazendo com Abraão – criar uma nova cultura,
onde o derramamento de sangue não tinha lugar.
A partir de Abraão, esse novo entendimento se incorporou à tradição
hebraica, enquanto as nações à volta continuavam oferecendo sacrifícios
humanos. Entretanto, quando Israel abandonou a fé no Senhor, voltou à
prática do barbarismo. Jeremias 32.35 diz: Edificaram os altos de Baal, que
estão no vale do filho de Hinom, para queimarem a seus filhos e a suas
filhas a Maloque, o que nunca lhes ordenei, nem me passou pela mente
fizessem tal abominação, para fazerem pecar a Judá.
Então, no momento mais dramático daquela prova, a voz de Deus parou a
mão de Abraão, pois ele havia demonstrado uma fé incrível. Todas as suas
expectativas eram de que Isaque seria pai de nações e gerações. Por isso, sua
disposição (certa ou errada) de sacrificá-lo, demonstrou uma tremenda
confiança no Senhor. Como lemos em Hebreus, ele creu que Deus poderia, se
fosse necessário, até mesmo levantar da morte o seu único filho Isaque.
Nomes compostos
Era comum naquela época que os homens usassem o nome do seu deus como
parte do seu próprio nome. Portanto, seguindo o costume, o Senhor também
mudou o nome de Abrão:
Quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o Senhor
e disse-lhe: ... Abrão já não será o teu nome e sim Abraão; porque por pai de
numerosas nações te constituí.
Gênesis 17.1,5
Aconteceu, porém, algo bem mais significante: Deus incorporou o nome de
Abraão ao Seu! Exatamente isso; Ele chamou a Si mesmo de o Deus de
Abraão. O Todo Poderoso identificou-se com um homem.
Isso queria dizer que a reputação de Deus estava sobre Abraão. Deus arriscou
o Seu nome ao juntá-lo ao de Abraão. Como Deus era – um novo Deus para o
mundo em geral – seria, supostamente, como Abraão era. O patriarca confiou
no Senhor e o Senhor, por sua vez, confiou em Abraão. Podemos verificar
algo semelhante no que Jesus disse em Mateus 10.32: “todo aquele que me
confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de meu Pai,
que está nos céus.”
Essa é a essência do que é fé. Ela não é simplesmente para se conseguir
coisas, fazer coisas, ou ser alguma coisa; ela nos relaciona a Deus. Fé é
comunhão, e é sempre a condição para termos relacionamento com o Senhor.
Ele coloca fé em nosso coração e, então, coloca a Sua fé em nós, para
fazermos a Sua vontade. Essa é a fé de Deus.
E se não tivermos essa fé, Deus não vai confiar em nós. É como vemos em
João 2.23,24: muitos creram no Seu nome... mas o próprio Jesus não se
confiava a eles, porque os conhecia a todos. As palavras “crer” e “confiar”
têm o mesmo significado. Eles não tinham uma fé verdadeira e Jesus sabia
disso. Contudo, quando temos uma fé verdadeira, Jesus “confia a Si mesmo”
a nós. Imagine que coisa maravilhosa! Jesus aproximando-se de nós em
confiança! Tudo o que Deus tem para nós, suas promessas, sua conduta, sua
aliança, e sua relação conosco, torna-se possível uma vez que há essa
confiança mútua.
Precisamos nos lembrar de que, se Jesus identifica-se conosco e diz: “Eu sou
o Jesus do Reinhard Bonnke”, ou “Eu sou o Jesus de Anni Bonnke”, é melhor
agirmos como Ele!
Abraão foi o que Deus fez dele, um mérito até os dias de hoje, e Deus era o
que Abraão o fez parecer que fosse. Apesar das imperfeições de Abraão –
uma criança no seu tempo em muitas maneiras, Deus mostrou-se como um
Deus que valia a pena conhecer. Abraão era o que era em virtude do que o
seu Deus era: suas qualidades, valores, grandeza, virtudes. Deus não escolheu
Abraão por sua perfeição, mas por causa de Si mesmo. E o Senhor só
conseguiu transmitir ao patriarca o que Ele era, por causa da fé que ele
demonstrou. O processo que havia sido iniciado no Éden foi recomeçado com
Abraão; era Deus fazendo o homem à Sua própria semelhança. E o propósito
da fé é que o processo continue. Sabemos que, quando Ele se manifestar,
seremos semelhantes a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é (1 João
3.2).
Os Despojos
Quando Abraão iniciou a sua vida como morador de tendas, um rei
insignificante flagelava a campina. Ele era um chefe aventureiro, chamado
Quedorlaomer, um tipo de pessoa que estava mais para chefe da Máfia. Por
doze anos, ele exigia que lhe pagassem tributo – um rei que oferecia uma
falsa proteção a pequenas comunidades da região. Então, cinco cidades-
estado rebelaram-se contra o domínio de Quedorlaomer e os chefes que o
apoiavam; entretanto, essa atitude provocou neles atos ainda piores. E esse
bando, que mais se parecia com bandidos, desencadeou uma indiscriminada
série de saques. Na sua agressividade, ele oprimiu as cidades de Sodoma,
Gomorra, Zeboim e Belá, que eram importantes cidades da planície.
Acontece que Ló, o sobrinho de Abraão, vivia em Sodoma.
Ele, sua esposa e as filhas casadas, foram todos feitos cativos, e os invasores
roubaram tudo o que eles possuíam. Quando Abraão ficou sabendo do
ocorrido, decidiu fazer alguma coisa a respeito. Ele tinha feito amizade com
fortes líderes na região, os quais se juntaram a ele naquela investida. E isso
representava uma força particular substancial e bem treinada. Então, sob a
liderança de Abraão, seus companheiros perseguiram os chefes saqueadores
em uma operação de resgate muito bem organizada. Eles derrotaram
Quedorlaomer com toda a sua gangue, e trouxeram de volta os cativos ilesos,
como também todas as coisas que haviam saqueado e um pouco mais como
despojo.
O próprio rei de Sodoma foi resgatado. E ele ainda teve a audácia de dizer a
Abraão como distribuir os despojos da batalha! Ele queria as pessoas que
haviam sido cativas, e queria manter os despojos para ele mesmo, como
prêmio da guerra.
Aquele rei estava para ouvir algo de novo. E o que ele ouviu a seguir era
realmente uma novidade naquela época. Abraão, o conquistador, disse: “nada
tomarei de tudo o que te pertence” (Gênesis 14.23). Ele não queria que
ninguém dissesse mais tarde que os sodomitas o haviam enriquecido. Deus
lhe havia mostrado que a cidade que ele havia procurado, e que Deus
construiria, não iria enriquecer-se às custas de outras. Abraão havia
encontrado uma maneira melhor.
Naquele tempo, as cidades viviam por destruírem outras cidades, saqueando
suas colheitas e riquezas, e usando os cativos como escravos. A ideia que
girava em torno da força militar era saquear. Por exemplo, Juízes 5 traz um
relato sobre os cananeus levantando-se contra Israel, que foram derrotados
por Débora. Essa narrativa conta de uma mãe cananéia, debruçada em uma
janela, ouvindo a seguinte notícia: “Porventura, não achariam e repartiriam
despojos? Uma ou duas moças, a cada homem? Para Sísera, estofos de
várias cores, estofos de várias cores de bordados; um ou dois estofos
bordados, para o pescoço da esposa?” Por isso, quando Abraão rejeitou essa
prática, frustrou a avareza do rei de Sodoma.
Abraão sabia que havia agido conforme um servo de Deus, e sentiu que não
tinha necessidade de tirar a sua paga dos resultados da batalha; e Deus
confirmou Sua aprovação pela atitude do Seu servo. Depois destes
acontecimentos, veio a palavra do Senhor a Abrão, numa visão, e disse: “Não
temas,Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande”
(Gênesis 15:1). Abraão creu em Deus. Ele sabia que com um Deus como esse
ele não precisava matar, abater-se, e despojar outras pessoas das suas posses
para enriquecer-se. Deus cuidaria dele. E, realmente, Deus cuidou, e muito
bem!
A fé de Abraão o levou a aprender dois novos princípios:
Primeiro, o forte deve ajudar ao fraco, e não tentar levar vantagem sobre ele.
Segundo, fé em Deus não significa que tenhamos de criar desordem.
Deus pode nos fazer ricos sem fazer a outros pobres; e esse era um ideal
novo. Contudo, durante muitos séculos, essa nova atitude tinha sido ignorada,
sendo considerada, infelizmente, até mesmo impraticável. O mundo é muito
lento para aprender esse tipo de lição, pois prefere reger suas leis no princípio
da sobrevivência a qualquer preço, colocando o fraco contra a parede e
fazendo o melhor para si mesmo, sem se importar com quem esteja sendo
pisado. Com certeza, essa não é a maneira da Bíblia.
Os princípios civilizados de Abraão são princípios que até a nossa civilização
ainda não conseguir assimilar. Sob o comando de Josué, um guerreiro
chamado Acã decidiu ficar com alguns despojos de guerra; sua atitude trouxe
eterna desgraça para toda a sua tribo, e um desentendimento na unidade da
nação, 300 anos mais tarde. As principais tribos romperam com Judá;
entretanto, a tribo de Acã ficou sob o comando do rei Reoboão.
A ganância tem muitas formas, e aparece hoje no mundo comercial. Jesus
falou de tais atitudes como sendo “gentias”. Mateus 6.32,33 declara que os
gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que
necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
Abraão e Ló
Ló, sobrinho de Abraão, era um homem típico dessa época e só pensava em
como se dar bem e tirar proveito sobre todo mundo. Certo dia uma situação
de impasse surgiu entre Ló e tio, pois ambos eram homens possuidores de
numerosos rebanhos – riqueza daqueles dias. Por isso, eles precisavam de
bons pastos, o que levou os pastores de Ló e de Abraão a discutirem e até
mesmo a lutarem entre si. A questão ficou tão séria que até poderia ter levado
a derramamento de sangue e desentendimento entre tio e sobrinho.
Abraão era uma pessoa que sempre valorizava o bom relacionamento acima
de qualquer ganho material, e isso o levou a ter um gesto surpreendente e
generoso para com Ló; um gesto de extrema boa vontade. Como não estava
mais sendo possível os dois permanecerem nas mesmas terras, disse a Ló que
ele poderia escolher o que quisesse, e Abraão ficaria com o que restasse. É
óbvio que o patriarca conhecia Ló e, por isso, sabia que ele escolheria a
melhor parte. Sabia também que não poderia envergonhar o seu avarento
sobrinho.
A atitude de Ló, certamente, foi de acordo com o seu caráter. Ele tomou o
melhor, escolhendo a área mais fértil, que era toda bem regada... como o
jardim do Senhor (Gênesis 13.10). Ló estava satisfeito, pois não somente
tinha conseguido as melhores pastagens, como também estava bem perto das
cidades, com o comércio fácil para os seus negócios.
E uma dessas cidades era Sodoma, já notória por sua maldade. Contudo, para
o bem dos seus negócios, Ló tornou-se um dos principais cidadãos do lugar.
O Novo Testamento diz:
[Deus] livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles
insubordinados (porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre
eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas
daqueles).
2 Pedro 2.7,8
E mesmo sabendo da fama da cidade, Ló escolheu permanecer exatamente no
mesmo local, porque era bom para os seus negócios. A Bíblia descreve essa
atitude como “amar ao mundo”.
A Fé Não Tem Cotovelos
Em todos os grupos de pessoas existem aquelas que gostam de sempre levar
vantagem em tudo, roubam a cena, e ainda passam por cima dos outros para
ficarem com as melhores oportunidades. Contrariamente a elas, no primeiro
capítulo de Atos encontramos o relato surpreendente de um homem
admirável, José, chamado Barsabás, e também de Justo. Ele, certamente,
possuía uma humildade e uma santidade notáveis. Justos foi um dos dois
homens escolhidos para preencher a vaga dos doze apóstolos, depois que
Judas Escariotes suicidou-se. Creio que os discípulos dispensaram muitos até
decidirem a quem escolher. Diríamos até que tiraram “cara e coroa” e a sorte
caiu sobre Matias, que foi então o escolhido. Interessante notar que as
Escrituras nunca mais mencionaram esse servo do Senhor.
Podemos até pensar: “Que inveja ele deve ter amargado pelo resto de sua
vida!” Parece que ele havia sido discípulo de João Batista, mas que decidiu
seguir a Cristo desde o início. Agora, entretanto, ele tinha sido colocado de
lado e não era mais um dos membros do grupo composto pelos homens mais
ilustres que já andaram sobre a face da terra!
Contudo, não há nenhum vestígio de que ele tenha se ofendido por isso ou
que tenha perturbado a igreja por causa de algum ressentimento. Existem,
inclusive, inscrições a respeito de sua carreira posterior que só mencionam
coisas boas a seu respeito. Acredita-se que esse José, ou Justo, tenha sido um
dos 70 discípulos a quem Jesus enviou, e que ele mesmo foi quem levou o
evangelho até a Etiópia. Como? Ele era um homem de fé, e sabia que o
Senhor estava com ele. Quando um homem ou uma mulher tem fé em Deus,
as honras advindas das pessoas não têm a menor importância, pois eles
deixam essas questões nas mãos do Senhor. O historiador Papius registra que
os pagãos tentaram envenenar a esse humilde homem mas que,
milagrosamente, ele sobreviveu. Era, realmente, muito improvável que um
homem que tinha tamanha confiança em Deus e que não tinha veneno em seu
espírito, viesse a morrer vítima de um cálice envenenado.
Ló nunca compreendeu por que Abraão jamais permitiu que o seu senso de
negócios sobrepusesse a sua fé em Deus, e nem por que ele preferiu perder
suas oportunidades sociais a ficar perto das cidades. É bem provável que Ló
tenha pensado que seu tio era um tolo. É lógico que compreendemos que
alguém deve tomar a frente; entretanto, isso é uma questão de se o que
desejamos é honra ou fé. Jesus disse: “Como podeis crer, vós os que aceitais
glórias uns dos outros” (João 5.44).
Abraão escolheu a fé, e a honra veio junto. Ló nunca fez nada pelas cidades;
entretanto, Abraão, o homem de fé, fez. Ele lutou por elas, salvou os cidadãos
capturados, e implorou para que Deus não as destruísse; mais tarde Sodoma
acabou por ser destruída, mas Ló foi salvo por causa da intercessão de
Abraão! Lemos esse comentário notável em Gênesis 19.29: lembrou-se Deus
de Abraão e tirou a Ló do meio das ruínas.
Vemos que por duas vezes Abraão resgatou o seu sobrinho; contudo, Ló
terminou indo morar em uma caverna com suas filhas incestuosas, que
tiveram filhos com ele, por causa da moral corrompida pelos males de
Sodoma. Antes disso ele já as havia oferecido para a satisfação dos desejos
sexuais de uma turba enlouquecida, no lugar de dois visitantes que os
sodomitas queriam. E com relação à atitude errada de sua esposa, Jesus disse
o seguinte: “Lembrai-vos da mulher de Ló” (Lucas 17.32). Como os maridos
de suas filhas, ela também não conseguiu deixar a vida urbana, ao contrário
de Abraão, que abandonou as cidades porque contemplava, pela fé, a cidade
de Deus. Todos eles, de modo totalmente irresponsável, ignoraram as
advertências, até mesmo as dos anjos, e pereceram. Toda a terra de Sodoma
foi destruída, e sentiu-se nos ares o cheiro do ácido sulfúrico. A esposa de Ló
foi pega em meio a uma fumaça sufocante, transformada em estátua, coberta
de sal. Esse é um exemplo bíblico de fé e de falta de fé.”
Ordenado em Todas as Coisas
Quando Abraão escolheu ficar para trás, estava demonstrando crer que Deus
estava fazendo todas as coisas para o seu bem. Ele creu na palavra de Deus
para ele: “Eu sou... e o teu galardão será sobremodo grande” (Gênesis 15:1).
Ele não precisava ficar ansioso ou estressado a respeito de suas perdas ou
ganhos, pois tinha Deus – El Shaddai, “o Deus todo-poderoso”. Ele não
queria ter o que Deus não queria que ele tivesse.
Deus cumpriu a promessa que fez a Abraão, de fazer dele uma grande nação;
ele podia perfeitamente deixar Ló escolher as melhores pastagens. Afinal de
contas, se perguntássemos a Abraão o que Deus lhe havia dado como
presente de aniversário, ele certamente iria dizer, “Canaã!”.
Disse o Senhor a Abraão, depois que Ló se separou dele: “Ergue os olhos e
olha desde onde estás para o norte, para o sul, para o oriente e para o
ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência,
para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se
alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua
descendência.” Gênesis 13.14-16
Ló possuía uma pequena área de terra – mas não tinha uma aliança Divina.
Certo dia, sob os efeitos de uma bebedeira, ele gerou filhos com suas duas
filhas, que vieram a ser inimigos de Israel. Tudo que ele havia conseguido
vendendo a sua alma para acumular riquezas, desapareceu no meio da fumaça
de Sodoma e Gomorra. Os arqueólogos acreditam que as possíveis ruínas
dessas cidades estão em algum lugar debaixo do Mar Vermelho.
Fé e Prosperidade
Jesus usou o princípio de Abraão na Sua famosa promessa no Sermão do
Monte, em Mateus 6.33: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”; e completou que não
deveríamos nos preocupar com a vida: “não vos inquieteis com o dia de
amanhã” (Mateus 6.34).
Jesus estava pensando na mesma bênção que Deus havia dado a Abraão,
quando lhe Deus disse que abençoaria todas as famílias:“... pois vosso Pai
celeste sabe” (Mateus 6.32); não precisamos lembrar lhe ou tornar a pedir.
Sabemos que a honestidade é algo muito valoroso, mas não tanto quanto a fé.
As famílias cristãs tendem a subir socialmente e em prosperidade. As
organizações cristãs geralmente começam com homens e mulheres da classe
trabalhadora, mas logo crescem e expandem-se.
Os cristãos, de modo geral, costumam crer em Deus, serem prósperos, e
dirigir seus negócios não simplesmente pelo lucro, mas como um serviço em
benefício de seus trabalhadores. Entretanto, quando as pessoas estão lidando
com grandes negócios tendem a colocar o amor ao dinheiro acima do amor às
pessoas. Hoje em dia, o princípio administrativo da redução de custos via
redução de pessoal deixa a maioria dos empregados deprimida e insegura
quanto ao emprego e ao futuro; é um grande mal social, e que cria uma
incerteza geral. E isso é ruim para os negócios. Colocar o lucro antes das
pessoas provoca uma queda em espiral. Abraão foi grandemente abençoado
porque não era motivado pelo dinheiro. Jesus disse que a sabedoria é
justificada por suas obras (Mateus 11.19).
Fé Não é um Meio Fácil de se Obter Mais do que o Bastante
Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que
querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências
insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. 1
Timóteo 6.8,9
Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes;
porque ele tem dito: “De maneira alguma, te deixarei, nunca jamais te
abandonarei”. Assim, afirmemos confiantemente: “O Senhor é o meu auxílio,
não temerei; que me poderá fazer o homem?” Hebreus 13.5,6
O propósito da fé bíblica não é possuir mais do que o necessário; não
obstante, como Deus conhece o nosso coração, a fé nos dá condições de
prosperar, conforme os propósitos do Senhor. Se Deus quer um bilionário,
Ele providencia um e, sem dúvida, Ele o faz por causa do Reino dos Céus. A
recompensa que Deus promete nunca é dinheiro, pois o dinheiro é uma
recompensa muito pobre e não contenta a ninguém. Deus disse a Abraão: “Eu
sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande” (Gênesis 15:1). Os
filipenses tinham fé e obras; a fé deles foi demonstrada em forma de
presentes e ajuda para Paulo na prisão. Em Mateus 10.40, 42 Jesus deixou
bem claro esse princípio:
Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe aquele que me
enviou... E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um
destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de
modo algum perderá o seu galardão.
Já de começo, recebem a Cristo, o dom inefável. Deus recompensa tanto a
um quanto ao outro – Ele dá ao que sustenta o missionário o mesmo que dá
ao missionário; tanto ao que ora como àquele por quem se ora. Por essa razão
Paulo pôde dizer aos que o sustentaram na prisão: “E o meu Deus, segundo a
Sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas
necessidades” (Filipenses 4.19).
Na Bíblia, as pessoas de fé como Abraão, tinham como a sua primeira,
segunda e terceira prioridades fazer a vontade de Deus; o que significava
buscar a retidão, buscar a ovelha perdida, dar a vida e servir a Deus
unicamente visando à glória do Senhor.
Ter fé em Deus e, ao mesmo tempo, visar lucros, é incompatível. Na segunda
parte do penúltimo capítulo de Malaquias, no Antigo Testamento, Malaquias
está preocupado com a questão da fé e da riqueza, e confronta o povo de Judá
por causa das queixas: Vós dizeis: inútil é servir a Deus; que nos aproveitou
termos cuidado em guardar os Seus preceitos? (Malaquias 3.14). Deus disse
que essas palavras foram duras (Malaquias 3.13). Entretanto, o Senhor
também ouviu aqueles que viviam em um nível diferente e temiam ao Senhor
conversarem uns com os outros; por isso Ele disse: “Eles serão para Mim
particular tesouro, naquele dia que preparei, diz o Senhor dos Exércitos.” Isso
ficou gravado em um memorial (Malaquias 3.16).
Temos esse princípio bíblico resumido em treze palavras: no zelo, não sejais
remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor (Romanos 12.11).
Essa expressão fervorosos de espírito (grego “zeontes” – fervente) não se
refere somente às vibrantes reuniões de avivamento; mas também aos
negócios, ganhando a vida, mas sempre a serviço de Deus. Nos dias do rei
Henry VIII, um famoso sacerdote inglês, chamado Cardeal Wolsey, morreu,
acusado de alta traição. Suas famosas palavras ao morrer foram: “Tivesse eu
servido a Deus com a mesma diligência com que servi ao Rei, não me teria
Ele abandonado na minha velhice.” A verdade é que ele serviu ao rei somente
para servir a si mesmo; ele tornou-se extremamente, rico e poderoso. Se ele
tivesse dedicado a sua vida a servir ao Senhor, não teria ficado tão rico –
porém, teria sido, com toda a certeza, infinitamente mais feliz.
As pessoas em quem Deus pode confiar com relação à prosperidade são
aquelas que não colocam o seu coração nas riquezas, mas no Senhor. Jesus
sentou-se às margens do Mar da Galiléia com os Seus discípulos e 153 peixes
que eles haviam pescado. Fora o próprio Jesus quem havia dito aos discípulos
para lançarem as suas redes para aquela grande pesca; por isso, eles voltaram
à pesca e amaram fazer isso. Alguns minutos depois o Senhor Jesus apontou
para os barcos, a rede e os peixes, e então colocou Pedro à prova: “amas-me
mais do que estes outros?” (João 21.15). Esse foi o mesmo teste que Deus
colocou diante de Abraão; será que ele amava a Deus mais do que a Isaque, o
filho da promessa?
A Bíblia fala muito sobre riqueza, prosperidade e pobreza. Deus não quer que
ninguém seja pobre, e a santidade tende a nos conduzir à riqueza. O pecado
não apenas traz a pobreza como também proporciona o acúmulo de riqueza
impura para a maldição de todos os que a possuem. Tiago adverte àqueles
que exploram e pagam mal a seus trabalhadores: “Atendei, agora, ricos,
chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos
sobrevirão”(Tiago 5.1).
A história de Abraão e Ló ilustra muito bem um complexo assunto, mais do
que qualquer definição ou declaração. O que escrevi aqui também são
princípios bíblicos de fé, segundo a maneira pela qual eu os conheço por toda
a Bíblia. Cada um de nós que procuramos viver pela fé em Cristo, devemos
aplicá-los à nossa própria situação, seja como criadores de riqueza, ou como
dependentes e necessitados.
CAPÍTULO TREZE
A Fé e o Caráter de Deus
Acima de qualquer coisa que possamos pensar, é muito importante perguntar:
qual é o caráter de Deus? Em que tipo de Deus nós cremos? Qual a Sua
natureza ou atitude? Ele é bom, fácil de se lidar, feliz, ou vingativo, difícil e
infeliz? Ou será que Ele é o Grande Crítico, o Juiz de cara feia? Ele se
importa conosco? Ele é aquele impassível, indiferente ao que acontece? O
que Ele sente sem relação aos nossos pecados, nossas lutas? Como é
realmente a Sua constituição física e mental? Existem mil possibilidades e
elas mudam a vida a nosso redor.
A nossa atitude com relação a todas as coisas se baseia no que pensamos
sobre Deus. Se não pensamos sobre Deus, somos uns tolos e sem a menor
vergonha. Infelizmente, em geral há muito para fazer com os acontecimentos
que nos rodeiam.
Grandes nações, tais como o Budismo, o Hinduísmo, e o Islamismo são o que
são por causa das suas ideias religiosas. Na Europa e no Oeste, a cultura
cristã e a tradição trabalham a nossa mente diferentemente dos povos não-
cristãos. O escritor britânico Rudyard Kipling disse: “Oh, o Leste é Leste e o
Oeste é Oeste, e os dois nunca se encontrarão, até que a terra e o céu estejam
diante do Grande Trono de Deus”. Existe uma imensa área de opressão ou de
liberdade, de restrição ou de permissão, de avanço ou de estagnação, vinda
diretamente da ideia de que as divindades são comuns.
Esses são efeitos temporários; entretanto, nossa alma está presa àquilo em
que cremos. A Bíblia vai diretamente à questão quando diz: Por isso, quem
crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o
Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus (João 3.36).
Que Deus?
Podemos achar que a palavra Deus seja ambígua; afinal de contas, a que ou a
quem ela se refere? Contudo, creio que é tudo uma questão de caráter. Será
que Ele é simplesmente “um tipo de alguma coisa, em algum lugar”,
disforme e com disposição particular? Milhões de pessoas fazem deuses
utilizando-se de todo tipo de bugigangas, opiniões e superstições. Outros
falam sobre “O Ausente Criador”, ou Gaia, o deus da Nova Era.
Existem ainda os vários deuses dos filósofos, ou o deus dos deístas. Com
muita frequência, pessoas que nunca abriram a Bíblia e pouco sabem sobre o
assunto, falam de maneira dogmática, como se fosse o Papa. Noventa por
cento dos argumentos sobre Deus vêm da falta de conhecimento.
Mesmo os maiores pensadores nada podem fazer, além de especular. Não
podemos tirar Deus para fora da nossa cabeça; racionalmente falando, não
temos condições de conhecer nem sequer uma pessoa. Isso é absolutamente
impossível, a menos que ela se abra para nós. Entretanto é o desejo natural de
Deus que O conheçamos. Ele nos fez, e não gostaria que suas criaturas
continuassem na ignorância. Quando nos voltamos para a Bíblia, temos uma
impressão tão poderosa de Deus que a nossa imaginação nunca conseguiu
captar. Certamente nenhuma imagem, nem qualquer outro deus religioso
pode se comparar ao nosso Deus.
O Deus da Sarça
Na Bíblia, em várias situações, Deus é identificado pelo que Ele é. Isso é
mostrado com muita clareza quando Moisés, o maior de todos os profetas,
profetizou sobre as doze tribos de Israel, declarando o que eles eram, e o que
se tornariam. Ele abençoou a José, e disse: Bendita do Senhor seja a sua
terra... e da benevolência daquele que apareceu na sarça (Deuteronômio
33.13,16).
Era esse Deus, o Deus da sarça ardente, que Moisés queria que viesse e
abençoasse a José. Ele descreveu essa visitação como sendo um favor do
Altíssimo. O Senhor é o Deus de favor e de boa vontade para conosco. Em
Lucas 2.14 os anjos que anunciaram o nascimento de Cristo usaram a mesma
expressão: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os
homens” (Edição Revista e Corrigida). Essa é a atitude de Deus – boa
vontade para com os homens. Nós somos o povo com quem Deus tem boa
vontade.
Se pensarmos um pouco nos tempos primitivos quando essas palavras foram
proferidas pela primeira vez, não há como não ficarmos espantados. O mundo
inteiro era idólatra e os deuses não eram bons exemplos de coisa alguma e,
com certeza, não possuíam nenhuma boa vontade. Pelo contrário, eram
possuidores de temperamento incerto como qualquer mortal, tinham um
aspecto frequentemente sombrio, e tinham também de ser encorajados,
lisonjeados, e aplacados para que realizassem qualquer pequeno favor.
E Moisés, quando falou sobre Deus, não o fez de maneira vaga; afinal de
contas, ele O conhecia, e fez uma declaração memorável: da benevolência
d’Aquele que apareceu na sarça. Moisés não estava ali perto daquela sarça
orando, nem tampouco estava clamando para que algo sobrenatural
acontecesse. Foi Deus que, por si mesmo, decidiu aparecer, espontaneamente.
Tiago 1.18 diz: “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da
verdade”.
A benevolência divina nessa ocasião foi além de Israel. Não havia uma nação
livre na terra; entretanto, Deus veio aqui para trazer liberdade para o Seu
povo escolhido, Israel, a primeira nação livre na terra. No Sabbat dessa nação
está escrito: “Os homens não são para serem escravos, trabalhando todos os
dias”. O lazer foi ideia de Deus. Boa vontade! Esse é o Senhor no qual a
Bíblia nos encoraja a ter fé.
A Benevolência de Deus
A Bíblia tem ainda muito mais para dizer sobre a vontade de Deus; por isso
incluímos um capítulo inteiro sobre essa maravilha do caráter divino. Vamos
discorrer a respeito desta tremenda frase “Eu farei”. Essa palavra “farei”,
como é usada no mundo secular, significa simplesmente uma decisão, uma
escolha, feita sem nenhum sentimento. Contudo, aqueles que conheciam o
Senhor Deus pensavam sobre a “vontade d’Ele” como tendo um significado
mais amplo. Quando a vontade de Deus era mencionada, implicava
sentimentos de desejo, um anelo do coração. A vontade de Deus não é um
juízo clínico, frio, apenas uma questão de retidão moral; é algo que vem do
coração do Pai. O Senhor se alegra com a bondade.
Essas mesmas qualidades geniais sobressaem-se por toda a Bíblia e, por isso,
a vontade de Deus torna-se conhecida. Quando aqueles que se dizem ateus
argumentam, o fazem sobre esse tipo de Deus, e não sobre Krishna, Buda ou
Alá; afinal de contas, eles não são sinceros e de grande benevolência. A
Bíblia, contudo, descreve e distingue o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo.
Quando analisamos o Novo Testamento, também encontramos a expressão
“boa vontade” para descrever o nosso Deus. Por duas vezes, Hebreus 6.17
menciona palavras sinônimas a essas: Por isso, Deus, quando quis [desejo]
mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu
propósito [vontade], se interpôs com juramento. Romanos 12.2 refere-se à
vontade de Deus como sendo boa, agradável [bem aceita], e perfeita. E não
vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da
vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus.
A vontade de Deus é chamada de “Seu desejo”. Foi profetizado que Jesus
diria: “agrada-me fazer a Tua vontade, ó meu Deus” (Salmos 40.8). O prazer
ou o desejo de Deus era também o prazer e o desejo de Cristo. Jesus disse:
“Eu faço sempre o que Lhe agrada” (João 8.29) isto é, dar prazer a Deus. E a
Bíblia relata que o Altíssimo disse o seguinte que o Seu Filho lhe dera grande
prazer: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lucas 3.22).
Segundo lemos em Filipenses 2.13, o Espírito Santo trabalha em nós o que
Ele realizou em Cristo: Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade. E essa mesma boa vontade do
Senhor para conosco é mencionada em Efésios 1.5, usando palavras
semelhantes: Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de
Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade.
A vontade d’Aquele que apareceu na sarça era assustadora. Para libertar
Israel e trazer essa ideia de liberdade, Deus sacudiu o Egito e abalou até
mesmo a natureza. Nada poderia se colocar no Seu caminho: Faraó, exércitos,
deuses, rios e mares, ou mesmo a ingratidão e relutância de Israel. Embora a
impressão que se tinha era a de que os israelitas preferiam permanecer
abraçados às correntes que os prendiam, com toda a certeza não era isso o
que Deus queria para eles.
Este é o caráter do Todo-Poderoso – benevolência; Ele está pronto consertar
o mundo, mesmo tendo de rasgar o peito do próprio Filho, que veio à terra
cumprir os desejos do Pai de beneficiar e abençoar os indignos filhos dos
homens.
Com que Deus se Parece?
Creio que muitos devem ter uma grande curiosidade sobre qual é a aparência
de Deus; contudo podemos adiantar que Ele não se parece com nada ou com
ninguém que conhecemos. Simplesmente não temos como descrevê-Lo. “‘A
quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual?’ – diz o Santo... Não
se pode esquadrinhar o seu entendimento (Isaías 40.25,28). O que sabemos é
apenas isto: que Deus fez o homem à sua imagem. Contudo, não há como
esconder que, frequentemente, o homem tenta “fazer” Deus à sua própria
imagem humana.
Entretanto, Ele não é um Deus desconhecido, e podemos aprender sobre Ele.
Jesus disse: “aprendei de Mim” (Mateus 11.29), e o apóstolo Paulo fala sobre
crescer “no pleno conhecimento de Deus” (Colossenses 1.10).
O Santo
Israel, no entanto, tinha um nome para se referir a Deus, que era tão santo
que, sempre que possível, evitavam usá-lo. Em nossas bíblias esse nome
aparece como “o Senhor”; no original hebraico é Yahweh, chamado por
alguns de Jeová. As Escrituras que Jesus leu em seu tempo eram em grego,
que chamavam Deus de “Senhor” (do grego kurios), um nome usual e
popular. O grande e temível nome Yahweh, entretanto, nunca foi usado no
Novo Testamento; por isso, no Novo Testamento o nosso Deus é sempre
chamado de Senhor, até mesmo quando citam o Antigo Testamento.
Os estudiosos já tentaram descobrir a origem do nome Yahweh, e até
pensaram que outros povos orientais já o haviam usado; entretanto, esse
nome é único e fora usado somente em Israel. A revelação divina encheu-o
de um tremendo e profundo significado. Os nomes de divindades pagãs
nunca eram assim. De fato, Yahweh significava que Ele era separado, único;
isto é, “santo”. Em Isaías encontramos o Senhor fazendo a seguinte
declaração: “não há outro; além de mim não há Deus” (Isaías 45.5). Ele era o
Senhor, o Santo de Israel (45. 11).
O Nome Inexprimível
O nome do Senhor não é simplesmente uma etiqueta. Certa ocasião Moisés
perguntou a Deus qual era o Seu nome (Êxodo 3.13); ele já havia ouvido no
nome do altíssimo, mas qual o seu significado? Até mesmo Abraão conhecia
esse nome, mas a Moisés
Deus manifestou os seus caminhos (Salmos 103.7). O que Moisés queria
saber era qual o significado desse nome. Moisés percebeu que o Deus que o
havia enviado ao Egito era mais do que ele jamais havia pensado, quando
usou o Seu nome. Saber o nome de Yahweh ou saber o nome de um oceano
não diz nada sobre os profundos mistérios de ambos. Deus era mais tremendo
do que Moisés jamais havia sonhado; o Senhor lhe disse para que tirasse as
sandálias (Êxodo 3.5), pois a presença divina havia tornado o deserto em
terra santa. Ele é o Senhor. Há muitos deuses, mas somente um Yahweh, e
não há nenhuma categoria de deuses onde possamos incluí-Lo. Ele é
separado, único.
Isaías 43.10 diz que Israel é testemunha de Yahweh, Jesus disse que os
discípulos são Suas testemunhas (Atos 1.8), e o testemunho dos cristãos tem
sido sempre: “Jesus Cristo é o Senhor”. O nome de Jesus agora é o maior
título no céu e na terra, pois é o nome do Rei dos reis. Contudo, esse nome
contém muito mais do que a afirmação de que Deus é santo e tremendo. Ele
tornou-se carne, sofreu, morreu, e ressuscitou por causa de indignos mortais.
Seu título “Senhor”, significa mais do que Yahweh significa no Antigo
Testamento; também significa que Deus fez-se conhecido em Cristo, a
revelação final.
Conhecendo Aquele que Não se Pode Conhecer
O Novo Testamento diz que podemos conhecer Aquele que excede todo
entendimento (Efésios 3.19). Ele é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo
(Efésios 1.3). A grande marca que distingue o Deus da Bíblia é exatamente
aquilo que Ele faz; como o Salmista diz em Salmos 136.2,4: “Rendei graças
ao Deus dos deuses... ao único que opera grandes maravilhas”. Essa é a
vontade de Deus em ação. O profeta Elias disse:“... o deus que responder por
fogo esse é que é Deus” (1 Reis 18.24); assim, quando o Senhor respondeu
com fogo, o povo gritou:“O Senhor é Deus!” (1 Reis 18.39).
A maioria dos deuses não faz nada; contudo, Jesus de Nazaré... andou por
toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo (Atos
10.38). Cristo é o nosso exemplo, conforme nos disse Pedro: “... deixando-
vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1 Pedro 2.21). Jesus disse: “...
aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço” (João 14.12).
Buda, Krishna, Maomé ou Confúcio nunca fizeram nada; sendo assim, não
tem como alguém repetir os feitos deles, já que nada fizeram e chegaram
mesmo a dar a entender que nada poderia ser feito para mudar as coisas.
O caráter de Deus é de interesse, boa vontade e ação, por isso Jesus opera
milhares de maravilhas a cada hora, todos os dias. Ele disse: “Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também” (João 5.17). Não é segredo para
ninguém que Ele possui rivais; entretanto, eles não podem competir com o
nosso Deus. Seu caráter excede em brilho a tudo o que jamais foi retratado
em homens, mulheres ou mitos.
O Evangelho Incomparável
O caráter de Deus é revelado tanto por intermédio de Jesus Cristo como em
Seu evangelho, e em todas as nossas cruzadas, a glória desse evangelho prova
ser incomparável. Durante esses eventos grandes multidões vêm até nós em
busca de algo, pois sua religião oferece muito pouco; em contra partida, o
evangelho de Cristo oferece tudo: ele vem acompanhado de sinais e
prodígios, maravilhas de salvação e conversão, e de milagres de cura. Sua
Luz e verdade clareiam o futuro, iluminam a eternidade e expulsam os
espíritos maus. O Senhor Jesus nos dá imunidade contra feitiços, maldições e
toda e qualquer obra do diabo (1 João 3.8). Em nossas cruzadas estamos
lidando com Aquele que é o Supremo Deus acima de todos os deuses, e
milhões têm reconhecido isso. Estamos pregando aquilo que Paulo pregou:
Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras... foi sepultado e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu a Cefas e,
depois, aos doze. 1 Coríntios 15.3-5
Nossas mensagens não são teorias ou ideias para serem disputadas; o que
fazemos é pregar a Cristo, um fato que é tão parte da existência diária como o
sol que brilha no céu. Deveríamos ter fé em um Deus como esse; aliás, seria
um crime o contrário, pois Ele é mais do que digno. “O amor divino é tão
surpreendente e tão divino que exige toda a minha vida, minha alma, e todo o
meu ser”. Moralmente falando, não há alternativa.
Qual o Significado de Fidelidade?
Para que seja possível sermos pessoas cheias de fé, segue-se que Deus tem
que ser um Deus fiel. A fidelidade de Deus é a maior marca do Seu caráter. O
povo no Antigo Testamento exultava no Senhor por Sua “fidelidade”, e
cantava sobre ela nos seus salmos. Não ouvimos que os antigos de Israel
tenham tido “fé“, mas eles são descritos como sendo pessoas que confiavam
em Deus, chamavam por Ele, e obedeciam-lhe. A palavra “fé” aplicava-se ao
nosso Senhor, pois Ele foi fiel e leal ao Seu povo. A fidelidade de Deus
significa que Ele não muda o que Ele disse que era; Ele era fiel a Si mesmo.
O Senhor nunca se desvia daquilo que Ele tem sido: um Deus de integridade
e que permanece sempre o mesmo. Tudo o que ele fez sempre foi consistente
com o que Ele é; Ele nunca agiu de maneira contrária ao Seu caráter.
Qualquer coisa que Ele tenha feito foi absolutamente em concordância com a
Sua marca. Essa fidelidade significava que as pessoas podiam confiar Nele
em todas as etapas da vida.
Essas verdades têm uma tremenda implicação para os crentes. O que Jesus
era quando Ele foi ao Calvário, quando foi pregado na Cruz, quando seus
inimigos zombaram d’Ele, e quando ressuscitou, esse era Ele; esse foi, é e
sempre será Jesus. Ele é o Cordeiro que foi morto desde a fundação do
mundo (Apocalipse 13.8), e Ele é o mesmo Cordeiro que João viu sentado no
trono de glória.
Hoje Ele continua sendo exatamente o mesmo Jesus que foi pregado na cruz
por nós. Seu amor não acabou durante aquele grande esforço naquelas horas
amargas, nem tampouco a Sua boa vontade se exauriu. Pregamos o Cristo
crucificado (1Coríntios 1.23). O que Ele fez na cruz é o que Ele é agora; o
que Ele era, sangrando, dilacerado, e cravado com ferro à cruz de madeira,
Ele é agora, coroado em glória, e sentado no trono central de toda criação.
Ele é aquele que estava na sarça ardente, o Deus de boa vontade; o Seu
caráter é incomparável. O Deus de tremenda fidelidade é aquele em quem
podemos confiar; é Aquele que só nos faz o que é bom. É isso o que Ele é, e
não há ninguém como Ele!
CAPÍTULO QUATORZE
A Fé e os Nomes de Deus
Semeie Vida
Semeie a semente da Palavra e ela irá germinar; afinal, essa é a lei da
ressurreição. Nas Escrituras ,“semente” ou “centelha de vida” são nomes
usados para se referir ao Senhor. Seu nome é o fator de ressurreição da
Palavra de Deus, que faz com que a Bíblia seja viva e eficaz (Hebreus 4.12);
sendo assim, podemos ver a Bíblia como o livro da ressurreição. Certo
comentarista disse que as Escrituras estão sustentadas no nome do Senhor
Jesus.
É óbvio que existem muitos outros nomes para designarem o nosso Deus, os
quais são fortes, e não apenas etiquetas sem nenhuma vida. Cada um desses
nomes realça uma área do caráter divino, e conhecê-los nos traz entendimento
e fé. Eles são verdadeiras fontes de energia, nas quais nos “plugamos” ao que
Deus é. Geralmente falamos sobre pessoas que são promissoras por que
vemos potencial nelas. Assim também acontece com relação a Deus; Seus
nomes são promessas que nos mostram o que há n’Ele, e isso nos traz
esperança sobre o que podemos esperar d’Ele.
Deus Não é um Desconhecido
Certo dia, o evangelista George, meu colega, entrou em uma igreja sem ser
esperado, e sentou-se um pouco atrás. Assim que se acomodou, o dirigente
daquela reunião disse: “Vamos pedir ao George que ore”. Contudo, meu
amigo não orou, pensando que ali havia algum outro George que era
conhecido da igreja, uma vez que o seu primeiro nome havia sido usado de
maneira tão familiar; todavia, era a ele mesmo que estavam pedindo que
orasse. O meu colega “George” não se distinguiu de outros que tinham o
nome igual ao seu.
Há mais ou menos mil anos, na Europa, os indivíduos tinham apenas um
nome; assim, quando outras pessoas nasciam, elas tinham de receber uma
designação distinta. Então, usavam o seu negócio ou sua profissão como
sobrenome, tais como John Smith (ferreiro), John Backer (padeiro), John
Cook (cozinheiro), ou John Miller (moleiro). Algumas vezes usava-se o
nome do pai, como John-Filho, James- Filho. E é isso o que encontramos na
Bíblia – as pessoas fizeram o mesmo: Tiago, filho de Zebedeu; Barrabás,
filho de um certo pai, provavelmente ilegítimo. Havia muitos que se
chamavam Tiago e João e, por isso, Jesus apelidou aos seus discípulos de
Filhos do Trovão (Marcos 3.17). Quando Jesus encontrou Simão, irmão de
André, Ele disse: “Tu és Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas (cuja
tradução é pedra) (João 1.42). É como Pedro que conhecemos Simão, o
“chefe” entre os apóstolos.
Um dos nossos capítulos trata de Deus chamando a Si mesmo de “Eu” ou
“Eu, Eu mesmo”, o supremo Dono de tudo o que existe, o Criador, Aquele
que não precisa realmente dizer quem Ele é. Referir-se a Si mesmo como
“Eu” O coloca como cabeça, o mais importante de todas as coisas. Ele
declara: “Eu sou” – uma presença a qual ninguém pode ignorar e da qual
ninguém pode escapar, como Salmos 139.8 nos lembra: “... se faço a minha
cama no mais profundo abismo, lá estás também”.
Podemos até dizer que todo mundo sabe quem é Deus, e que Ele não precisa
de nenhum outro nome. Entretanto, a palavra “Deus” não é um nome pessoal;
é um designativo comum a toda a classe. Contudo, o nosso Senhor não
pertence a nenhuma classe. Muitas pessoas, porém, creem em diferentes
divindades, ou têm ideias confusas sobre o Altíssimo. Além do mais, os
nomes nos revelam que tipo de Deus Ele é, bem como o que as pessoas
acham que Ele é.
A esse respeito, 1 Coríntios 8.5,6 tem uma importante declaração: Porque,
ainda que há também alguns que se chamem deuses, quer no céu ou sobre a
terra, como há muitos deuses e muitos senhores, todavia, para nós há um só
Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só
Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por Ele.
Ele é Aquele que fez todas as coisas, o Deus trino da revelação cristã: Pai,
Filho, e Espírito Santo. De acordo com o nosso ponto de vista, quando
pensamos em Deus e em todos os Seus feitos, esses nomes se multiplicam.
Ele é muito mais do que qualquer deus ou deusa jamais foi, mesmo se
juntarmos todos eles. Na verdade, Ele deu a Si mesmo vários nomes. Como
já mencionamos neste livro, o grande nome de Deus é Yahweh, ou “Senhor”,
o qual encobriu o mistério de Deus, revelado no Novo Testamento: o mistério
da Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo.
Cada um desses títulos descreve algo sobre Ele. Duas pessoas, observando
um mesmo objeto ou tema, não terão exatamente a mesma impressão. Isso
também é verdade quando olhamos para Deus; todos temos uma visão única
d’Ele e cada indivíduo O aprecia de forma diferente. As pessoas têm seus
títulos favoritos para se referirem a Ele. Costumamos dizer: “O que gosto
sobre Ele é...”. Quando Natanael encontrou Jesus, gritou espontaneamente:
“Mestre, tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel! (João 1.49). Em João
20.16, Maria Madalena, quando viu Jesus ressurreto, sua verdadeira saudação
por Ele simplesmente explodiu: “Raboni!” (que quer dizer, Mestre). O
genuíno conhecimento do Senhor transforma-se em devoção e adoração.
George Herbert, o humilde, porém, aristocrata clérigo, e famoso poeta, um
dos favoritos do rei Tiago I, amava ao Senhor de maneira profunda e era
frequentemente citado por Charles Spurgeon, por sua famosa frase: “Quão
doce é o som ‘Meu Mestre’!” O nome de Jesus é um nome
sobremaneiramente amado no céu e na terra (Filipenses 2.9,10); vamos tratar
um pouco mais sobre isso adiante. O nome “Jesus” evoca em nossa mente o
maior e mais belo quadro do Deus de todas as religiões da terra.
E isso não é uma questão de sentimento ou de curiosidade. As formas pelas
quais Deus é chamado trazem luz a várias áreas da Divindade que sustentam
a fé. O nome favorito de Deus no livro de Apocalipse é “O Cordeiro”, usado
aproximadamente vinte e nove vezes; a fé em Cristo como o Cordeiro é a fé
que salva. Existem muitos outros nomes de caráter descritivo no livro de
Apocalipse; encontramos onze somente no primeiro capítulo.
Trabalhando Títulos e Expressões
No primeiro capítulo do Evangelho de João encontramos doze títulos
diferentes para o Senhor: Verbo; Luz dos homens; Unigênito; Jesus Cristo;
Cordeiro de Deus; Filho de Deus; Messias; Jesus de Nazaré; Filho de José;
Rabi; o Rei de Israel; o Filho do Homem.
Ele também é apresentado por intermédio de nome-frase – aquele de quem
Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas (João 1.45); Ele
vos batizará com o Espírito Santo e com fogo (Mt 3.11); o que vem depois de
mim (João 1.15); Aquele sobre quem vires descer e repousar o Espírito (João
1.33). Esta última frase: “Aquele sobre quem vires descer e repousar o
Espírito” foi um sinal apenas para João Batista; entretanto, havia mais esse
Cristo é Aquele que batizaria com o Espírito Santo. Esse é Ele, não somente
para um personagem bíblico, mas para o mundo todo. Se quisermos
estabelecer uma de suas características como sendo a maior, creio que é a de
que Ele batiza no Espírito. É isso o que devemos procurar e em quem
devemos procurar – como comprovação prática. E, se para alguém, nada
tenha sido prova absoluta, essa é!
Ele não adquiriu esse título por ser exageradamente agradável ou por usar
palavras imponentes, mas por causa do que Ele realmente faz; ou seja, Ele
batiza com o Espírito Santo. Muitos hoje, por não acreditarem nessa
experiência, jogam fora uma das mais grandiosas evidências bíblicas da
divindade de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. E precisamos crer nisso
não simplesmente como acreditamos em uma teologia, mas como uma
experiência pessoal.
O batismo no Espírito Santo não é algo habitual, comum ou acidental,
tampouco um mero gesto religioso, como uma mão estendida para nos
abençoar; é algo incomparável. Trata-se de uma promessa exclusiva de Jesus
Cristo, e somente Ele a outorga. É uma evidência maravilhosa e consistente.
Esta experiência aponta inconfundível e diretamente para Aquele com quem
estamos lidando; ela responde questões. Um tipo realista como o incrédulo
Tomé, depois de ser batizado no Espírito, não precisava mais ser convencido.
Jesus é “Aquele que batiza no Espírito!”; esse é um dos Seus mais
maravilhosos títulos. Isso O mostra como o verdadeiro Eu Sou, o Único
Deus, o mesmo que inspirou os profetas e falou pelos lábios de Joel, dizendo:
“... derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Joel 2.28). Ele disse que
faria, e fez. É assim que Ele é.
Amém
Entre os muitos títulos do Senhor está “O Amém”, visto primeiramente em
Isaías 65.16,“o Deus da verdade” [hebraico Amém] e, por último, em
Apocalipse 3.14:“Estas coisas diz o Amém”. Essa palavra não é
simplesmente o final de uma oração, um tipo de “câmbio e desligo”. Na
verdade, ela não finaliza nenhuma oração no Novo Testamento, nem é usada
para chamar a atenção de alguém; entretanto, declara um propósito por trás
do que está sendo falado como, por exemplo, em uma oração. De sorte que
aquele que se abençoar na terra, pelo Deus da verdade é que se abençoará; e
aquele que jurar na terra, pelo Deus da verdade é que jurará (Isaías 65.16).
Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira (Apocalipse 3.14).
Deus é o “Amém”. O Senhor é Fiel e Verdadeiro ao que Ele disse sobre Si
mesmo, e tem um nome ou uma reputação de bondade imutável. Em 2
Samuel 7.23 Davi orou dizendo que Deus saiu para redimir a Israel para que
fosse Seu povo “E para fazer a ti mesmo um nome e fazer a teu povo estas
grandes e tremendas coisas”. Depois ele invocou a fidelidade pessoal do
Senhor: Agora, pois, ó SENHOR Deus... faze como falaste. Seja para sempre
engrandecido o teu nome (2 Samuel 7.25,26). Deus não fracassaria, nem
colocaria em risco o Seu nome e a Sua reputação.
Isso aparece novamente muitos anos mais tarde. Fizeste sinais e milagres
contra Faraó e seus servos e contra todo o povo da sua terra, porque soubeste
que os trataram com soberba; e, assim, adquiriste renome, como hoje se
vê. (Neemias 9.10). O nosso Deus será fiel ao que Ele nos ensinou sobre Si
mesmo. Neemias conhecia o Deus a quem Moisés conhecia; sabia do Seu
caráter imutável. Hoje também conhecemos o Deus que o povo da Bíblia
conheceu – o Deus que se mantém fiel à aliança. Ezequiel 20.9 diz: O que fiz,
porém, foi por amor do meu nome, para que não fosse profanado diante das
nações no meio das quais eles estavam, diante das quais eu me dei a conhecer
a eles, para os tirar da terra do Egito. O que Deus fez foi criar a Sua fama, e
Ele nunca desaponta a Si mesmo.
Geralmente oramos: “Senhor, glorifica o teu nome”; queremos que todos O
honrem e o louvem. Entretanto, na verdade isso quer dizer: “confirma o Teu
nome; prove quem o Senhor é”. Na Sua oração registrada em João 17, Jesus
disse: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para
fazer” (17.4). Jesus Cristo fez o que disse que faria; e Deus, de igual modo,
tem sido fiel aos Seus propósitos e promessas. O próprio nome de Deus torna
a Sua reputação cristalina, e quando lemos sobre o Seu nome no Antigo
Testamento é sempre Yahweh (Jeová), e Yahweh sempre foi fiel ao que Ele
disse e é.“... de maneira nenhuma pode negar-se a Si mesmo” (2 Timóteo
2.13).
E por Deus ser o Deus do Amém, Ele sempre tem uma atitude de sustentação
e nunca é indiferente. Quando vamos a Ele, Ele sorri para nós, responde-nos
em amor, e diz “Amém”, cujo significado também é “fiel”, “seguro”,
“confiável”. Sendo o Deus do “Amém”, Ele procura nos dar segurança e
acalmar o nosso nervosismo ou apreensões. Podemos depender totalmente
d’Ele; afinal, Ele não é inconstante e nem muda.
Se o Senhor tivesse mudado do que as Escrituras O descrevem, então a Bíblia
seria inútil. Não saberíamos quem Ele é de fato; apenas que é o ex-Deus dos
judeus, mas para nós ele permaneceria uma incógnita. Entretanto, os cristãos
sabem que Ele é o Deus fiel e verdadeiro, o Deus da Bíblia.
Os Nomes “ Yahweh”
Há vários títulos “Yahweh”, e cada um é dado por revelação. Moisés
conhecia o nome Yahweh, mas não em toda a sua maravilhosa profundidade.
Abraão também conhecia Yahweh. Jacó era outro que sabia a respeito de
Jeová, e em Gênesis 27.20, disse o seguinte: “Porque o SENHOR, teu Deus,
a mandou ao meu encontro. Certa ocasião ele perguntou qual era o nome do
Todo-poderoso (Gênesis 32.29), mas a única resposta que recebeu, foi: “Por
que perguntas pelo meu nome?” Jacó sabia muito bem que era Yahweh;
entretanto, o que ele queria era saber o seu significado.
Aconteceu o mesmo quando Moisés perguntou qual era o nome do Altíssimo;
“Eu Sou o que Sou” (Êxodo 3.14), foi a resposta que obteve. Isso significava
que, independentemente do que Ele fosse, isso era segredo; contudo, também
significava que, com o passar do tempo, esse segredo poderia ser desvendado
e compartilhado com os que cressem.
Então, com um acontecimento após outro, as pessoas foram vendo quem era
Deus. Seu grande nome Yahweh ia sendo revelado e, juntamente com um
novo nome, novas revelações iam surgindo. Cada novo nome qualificativo
acrescentado ao de Jeová nos dá uma base ainda mais ampla para a nossa fé,
uma fé sempre crescente.
Poder no Nome
Recebemos o privilégio de conhecer o nome do Senhor; não somente
“chamarmos pelo Seu nome”, mas sermos chamados pelo Seu nome (Isaías
43.7). O povo de Deus é conhecido pelo Seu nome: “povo do Senhor”, assim
como Israel era “povo de Yahweh”. Antes de Moisés conhecer Esse nome, o
Senhor disse a ele: “Não te chegues para cá” (Êxodo 3.5); porém, no nome de
Jesus nós nos chegamos a Deus (Hebreus 7.19).
O Senhor Jesus nos mostrou quão grande é esse privilégio. Trata-se de um
tipo de poder ou autoridade. Não é nenhuma fórmula mágica, porém, se
sabemos como uma pessoa é, se conhecemos suas forças ou suas fraquezas,
então saberemos como lidar com elas. Nos tempos bíblicos, quando as
pessoas renunciavam a seu nome, era como se houvessem renunciado a si
próprias, e isso dava aos outros uma grande vantagem sobre elas. Perguntar o
nome de alguém era perguntar sobre o seu caráter. Quando nos achegamos a
Deus, e já conhecemos o Seu nome, podemos nos aproximar em fé. Yahweh
era apenas um título que O distinguia no início, até que as pessoas tiveram a
chance de conhecê-Lo melhor por intermédio dos Seus atos.
Somente neste pequeno capítulo, não será possível explorar todos os títulos
Yahweh (Jeová); contudo, também não podemos deixar encobertas as
riquezas contidas nestes nomes.
A Fé e os Nomes de Deus
Esses títulos de Jeová bem poderiam ser multiplicados, pois o Senhor é tudo
para todos os homens. O princípio é: Faça-se-vos conforme a vossa fé
(Mateus 9.29). O que o Senhor realmente é, ninguém jamais poderá
descobrir; entretanto, a fé desvenda a Sua grande bondade. O Salmo 23 é um
excelente exemplo do que estamos falando. Por trás de cada uma de suas
declarações está o nome de Jeová. Para concluir esse capítulo sobre fé, vamos
mostrar essas afirmações, as quais nomeiam ao Senhor e nos ensinam o que
Deus é.
O Senhor é o meu pastor (Jeová-Raá – Meu Pastor); Nada me
faltará (Jeová-Jiré – Provedor). Ele me faz repousar em pastos
verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso (Jeová-
Shalom – Paz); Refrigera-me a alma (Jeová-Rafá – Cura). Guia-
me pelas veredas da justiça por amor do seu nome (Jeová-
Tsidkenu – Justiça). Ainda que eu ande pelo vale da sombra da
morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo (Jeová-
Sabaô – Exércitos); O teu bordão e o teu cajado me consolam
(Jeová-Mekadesham [ou Kadoshi] – Santo). Preparas-me uma
mesa na presença dos meus adversários (Jeová-Nissi – Bandeira)
unges-me a cabeça com óleo (Jeová-Rafá – Cura); o meu cálice
transborda (Jeová-Jiré – Provedor). Bondade e misericórdia
certamente me seguirão todos os dias da minha vida (Jeová-
Shalom – Paz); e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre
(Jeová-Shamá – Presente).
Deus disse: “Eu Sou o que Sou”. A qualquer hora, para qualquer pessoa, em
todas as dispensações, lugares, e circunstâncias, Ele não pode ser nada além
do que Ele é. Os nomes que mencionamos são somente para recordar
momentos e acontecimentos, quando homens e mulheres provaram o que Ele
realmente é. Será que Seus nomes um dia irão se esgotar?
CAPÍTULO QUINZE
A Fé e o “Eu Farei” de Deus
O Deus do “Eu Farei”
A frase “Eu farei” (ou suas equivalentes) ocorre aproximadamente 4 mil
vezes nas Sagradas Escrituras. Trata-se de uma expressão comum, usada
frequentemente por todas as pessoas. Acredito que todas as línguas devem ter
alguma palavra ou frase equivalente.
O curioso é que, na Bíblia, Deus diz isso muito mais vezes do que se
somarmos todas as vezes que as outras pessoas disseram. O Senhor
constantemente dizia: “Eu farei”, por intermédio da boca dos profetas do
Antigo Testamento, todavia, essa frase recebe uma característica especial
enfatizada em muitas passagens. No livro de Êxodo, Deus faz uso de verbos
no futuro 96 vezes, como por exemplo, “farei”, demonstrando com isso Sua
intenção de agir. Por outro lado, outros personagens bíblicos usam o futuro
apenas 22 vezes, e as referências ao que eles disseram que iriam fazer
ocorrem apenas 32 vezes. Deus usa esses termos para expressar Suas ações
futuras tão frequentemente que esse fato faz com que a Bíblia se estabeleça
como sendo “a Palavra e a vontade de Deus”.
Esses são alguns fatos muito importantes da Bíblia. No capítulo 9 de Gênesis
encontramos o primeiro exemplo bíblico do uso especial que Deus faz da
palavra “farei”. Entre os versos 9 e 17, Deus usa expressões parecidas com
“eu farei” (indicando ações no futuro) 8 vezes. Deus trata com cada um de
nós nesses termos; e a nossa parte é acreditar. A profecia de Isaías mostra
Deus falando e usando termos o representam em alguma forma de ação em
quase cada capítulo. Nos capítulos 41 e 46 Ele fala aproximadamente 46
vezes de coisas que Ele pretendia realizar. Pela boca do profeta Jeremias
Deus diz mais de cem vezes sobre o que tencionava fazer. Encontramos essas
situações em 49 dos 52 capítulos; e no capítulo 30 Deus diz mais de 25 vezes
que fará alguma coisa!
No Novo Testamento, acontece mais ou menos o mesmo. Quase tudo o que
lemos nos Evangelhos é falado por Jesus e Ele, constantemente, está dizendo
sobre o que intenta executar e Ele, realmente, faz as muitas coisas que diz.
Pouca ênfase se dá ao que os outros dizem, o que não é comum.
O “Eu Farei” do Homem
Os Evangelhos registram alguns casos especiais que mostram pessoas que
também disseram os seus “eu farei”. Às vezes era um “eu farei” da carne e,
por isso, fracassaram. O homem rico disse: “Farei isto” (Lucas 12.18),
todavia, ele não teve tempo de fazer, pois morreu. Um suposto discípulo
disse: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores” (Mateus 8.19), mas
também não o fez. Pedro disse: “de nenhum modo te negarei” (Mateus
26.35), e ele negou. O diabo disse a Jesus: “Dar-te-ei toda esta autoridade”
(Lucas 4.6), porém, ele nunca fez isso. Jesus falou ainda sobre um filho que
disse a seu pai: “sim, Senhor”, todavia não foi, e cujo irmão disse que não
faria, mas foi e fez o que o pai havia pedido (Mateus 21.28-30).
O livro de Tiago dá uma grande importância a essa questão de fazer planos.
“Atendei, agora, vós que dizeis: ‘Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e
lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros’. Vós não sabeis o
que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que
aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: “... Se o
Senhor quiser... faremos isto ou aquilo.” Tiago 4.13-15. Para Tiago, o que
conta é a vontade de Deus, e não a nossa. Não o nosso “eu farei”, mas o “Eu
farei” de Deus.
O Supremo “Eu Farei”
Cristo veio para cumprir a vontade do Pai; por isso, Sua vontade é suprema.
Ainda bem cedo no ministério de Jesus, um homem teve a mais
extraordinária compreensão da vontade de Cristo. Trata- se de um leproso
desconhecido, que veio a Jesus pouco depois de o Mestre ter pregado o
Sermão do Monte.
“... descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um
leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: ‘Senhor, se quiseres, podes
purificar-me’. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: ‘Quero, fica
limpo!’ E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra.” Mateus 8.1-3
Aquele leproso era apenas um entre a multidão que havia ouvido Jesus.
Lemos que as pessoas “maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava
como quem tem autoridade e não como os escribas” (Marcos 1.22).
O ensino dos escribas consistia no que outros escribas e eruditos tinham dito.
O ensino dos acadêmicos de hoje é muito semelhante; a maior parte desse
ensino é simplesmente uma citação de outros eruditos. E, a menos que os
teólogos citem outros teólogos, eles não são considerados suficientemente
confiáveis, pois a autoridade deles é construída em cima um do outro. Parece
que o trabalho deles deve considerar o que cada outro erudito já disse e,
depois, dar o seu próprio parecer sobre quem tem razão. Eles são
simplesmente cambaleantes torres de opinião, geralmente como aquelas casas
de cartas, prestes a cair. Os mestres dos tempos de Cristo fizeram o mesmo.
Jesus, entretanto, falava debaixo de Sua própria autoridade. E as suas
palavras transmitiam segurança e eram: “Amém! Amém! Eu, porém, vos
digo.”
O leproso aproximou-se e adorou a Cristo, dizendo: “Senhor, se quiseres,
podes purificar-me.” Jesus tocou-o, e disse: “Quero, fica limpo! E
imediatamente ele ficou limpo da sua lepra.” Isto é algo notável! O homem
percebeu que a autoridade de Cristo se efetua em duas direções. Primeiro, o
homem viu que não houve nenhum questionamento a respeito da autoridade
de Cristo. Isso significava poder ilimitado. Em segundo lugar, ele o adorou
porque viu que tudo o que importava era a vontade de Jesus. Provavelmente,
ninguém mais nos Evangelhos conseguiu alcançar essa profundidade de
discernimento. Pelo menos, ninguém exprimiu isso de maneira tão clara.
Aquele leproso não teve a menor dúvida sobre o poder do Mestre. Ele viu que
Jesus poderia fazer qualquer coisa, e que tudo dependia da vontade do
Senhor.
Jesus disse: “farei”. Ele também disse: “Passará o céu e a terra, porém as
minhas palavras não passarão” (Marcos 13.31). Por isso, o “farei” de Cristo
nunca passará. Isso nos diz como Ele fica quando vê lepra e maldade – em
todas as ocasiões. As palavras de Jesus são para todos. Ele revelou a esse
homem o que Ele era, e o que Ele havia sido ontem. Ele é “Jesus Cristo,
ontem e hoje... e o será para sempre (Hebreus 13.8). A Sua revelação não foi
destinada àquele homem especificamente, mas foi escrita como parte da
Palavra de Deus a todos nós. Curar esse leproso desconhecido demonstrou a
Sua disposição em curar a todos os anônimos que padecem das maldades
deste mundo.
De maneira semelhante, Deus falou desde o princípio; Ele disse: “Haja luz”
(Gênesis 1.2), e a luz passou a existir desde aquele dia. A sua ordem
permanece e faz o sol percorrer o seu caminho todos os dias. A sua palavra é
o que há de mais verdadeiro em todo este mundo. Quando Ele disse: “Quero”
ao leproso, isso mostrou que tipo de vontade era a Sua – boa, compassiva, e
positiva. Essa é a exata essência da Sua revelação sobre si mesmo. Jesus
disse: “Quero” a um sofredor e, assim, demonstrou Seu desejo de alcançar a
todos os demais sofredores.
Devemos pedir que a Sua vontade seja feita, entretanto, devemos saber qual é
essa vontade. Quando Ele nos mostrar qual é essa vontade, não precisaremos
mais orar: “Senhor, se quiseres...”, pois já saberemos qual é seu desejo para
nós.
Cristo faz a vontade do Pai e, como o Pai, Ele também é o grande Deus “Eu
Sou”, que tem toda a boa vontade para conosco. E isso nos mostra que o
nosso Deus está com a Sua face voltada em nossa direção e que Seu amor
brilha sobre nós. A Sua maravilhosa Luz vai iluminando o nosso árduo
caminho pela vida! Essa disposição de agir, esse “farei” de Deus, o
caracteriza por todo o caminho, durante todo o tempo, por toda a Bíblia. Ele
diz à humanidade: “Eu farei”.
Com algumas variações, essa é a frase usada nas cerimônias de casamento,
pelo noivo e pela noiva, no momento em que se comprometem um com o
outro. É como se o Todo-poderoso estivesse no altar de uma celebração de
matrimônio e se comprometesse conosco usando as mesmas palavras. “... o
teu Criador é o teu marido; o SENHOR dos Exércitos é o seu nome… com
misericórdia eterna me compadeço de ti” (Isaias 54.5,8). Isso tipifica a Sua
atitude para com todos nós. Diante disso podemos dizer que Sua resposta
jamais será: “Não farei”, pois Ele não é um Deus taciturno, de má vontade,
inflexível, ou relutante. Assim, quando nos achegamos a Ele, Sua face está
sempre receptiva; tudo o que precisamos é de nos apresentar
“voluntariamente [disposto]... no dia do teu poder” (Salmo 110.3).
Positivo e Negativo
O “Eu farei” de Deus é sempre positivo. Entretanto, das mais de 50
referências encontradas no livro de Êxodo que falam sobre os planos das
pessoas, sobre o que iriam fazer, a maioria refere-se a coisas negativas –
tratam daquilo que o homem não fará. Deus não fala daquilo que Ele não vai
fazer. Por exemplo, preste atenção a Êxodo 3.19, 20. Observe como essa
passagem estabelece a boa vontade de Deus e, logo em seguida, a tentativa do
homem de se opor e de se negar a essa boa vontade. Porém, Deus volta a ela
com persistência e sobrepõe-se à falta de vontade humana.
“Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por
mão forte. Portanto, estenderei a mão e ferirei o Egito com todos os meus
prodígios que farei no meio dele; depois, vos deixará ir.”
Sua Palavra é a Sua Vontade
A Bíblia é a Palavra de Deus para declarar a Sua vontade eterna. O que Ele
fez diz-nos o que Ele fará, e quem Ele é. Seria inútil Ele nos dizer qual a Sua
vontade, se ela não fosse mais a mesma para os dias de hoje. Se fosse assim,
só haveria nela interesse histórico, ou acadêmico. A Bíblia está aqui para nos
mostrar o que Deus é e foi em todas as gerações e para todas elas. “Lembrai-
vos das maravilhas que fez, dos seus prodígios e dos juízos dos seus lábios…
seus juízos permeiam toda a terra. Lembram-se perpetuamente da sua
aliança, da palavra que empenhou para mil gerações” (1 Crônicas
16.12,14,15). O tempo não O afeta, mas afeta todo o mundo e todo o resto.
Deus não é um personagem do passado; n’Ele, tudo é presente. Em glória,
Ele é Aquele que foi crucificado, o Cordeiro de Deus.
A absoluta essência da fé é aceitar que Deus seja hoje o mesmo que Ele era
ontem. Não temos qualquer fundamento para a nossa confiança em Deus a
não ser a convicção de que Ele sempre será fiel conosco; Ele não agirá hoje
de uma forma, e amanhã de outra. Ele não é temperamental. Ele fez uma
única revelação a respeito de Si mesmo e, se Ele não a cumprir, então a
revelação não terá nenhum valor. Todavia, o Seu nome é Fiel e Verdadeiro. O
próprio Jesus também disse: “Isto diz o Amém, a testemunha fiel e
verdadeira” (Apocalipse 3.14).
Não devemos “fazer cirurgia” na Palavra de Deus, cortando dispensações
onde achamos que convém. Há apenas uma única dispensação, a dispensação
da graça eterna de Deus. Até mesmo “Noé achou graça diante do Senhor
(Gênesis 6.8). Ele trata com todos nós conforme a Sua graça, da mesma
forma que tratou com Adão, e agirá da mesma forma com a última pessoa
que nascer neste mundo. A graça do nosso Senhor Jesus Cristo é a mesma
graça que Deus proclamou a Moisés, dizendo:“... Senhor, Senhor Deus
compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade”
(Êxodo 34.6).
Deus não é apenas “algo”; só podemos saber o que Ele é pelo que Ele faz. Ele
é o Deus da ação. Ele não fica sentado como Alá, ou os milhões de deuses da
Índia, ou como Buda, não fazendo absolutamente nada. Alá permite que as
coisas aconteçam e eles, os muçulmanos, simplesmente dizem: “Kismet” – é
a vontade de Alá, ou o destino. O cristão não acredita em destino; ele crê em
Deus e crer em Deus significa ter fé em um Deus que age, que responde a
oração, e que executa maravilhas.
Leia na bíblia o que Ele foi, e creia no que Ele é:“... aquele que é, que era e
que há de vir, o Todo-poderoso” (Apocalipse 1.8). Quando as pessoas se
voltam para a Bíblia e esperam que Deus as abençoe, responda às suas
orações, conceda-lhes prosperidade, cure-o, opere milagres, e salve-os, isso é
a fé como a Bíblia revela. Acertaram em cheio no que seja a ideia básica das
Escrituras.
A Bíblia é, muitas vezes, interpretada de maneira negativa. Muitos acreditam
que a Bíblia é a Palavra inspirada de Deus, mas que a maior parte dela não se
aplica mais aos dias de hoje. Creem que o que aconteceu em tempos passados
não é promessa para o presente, e que ela é apenas história passada. Isso
contradiz o exclusivo objetivo para o qual as Sagradas Escrituras foram
escritas. A Bíblia existe para criar fé no Deus que ela revela. Por meio de
Suas obras o Senhor mostrou quem e o que Ele foi e é.
E se Deus não estiver mais agindo como antes, então é porque não temos
mais o Deus da Bíblia, sobre quem podemos basear a nossa fé. Afinal, a
palavra de Deus não é apenas informação; é vida para ser vivida.
“Estes, porém, foram registrados para que creiais… e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome.” João 20.31
“Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e
alegria para o coração.” Jeremias 15.16
A Aliança “Eu Farei”
Quando Deus diz: “farei”, Ele estabelece uma aliança. E “... visto que não
tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo” (Hebreus
6.13) que executaria tremendos feitos. Geralmente as alianças são
incondicionais, mas algumas não se cumprirão a não ser que nos apropriemos
delas, e ajamos com base nelas. Podemos usar a palavra “unilateral” – uma
ação que parte de apenas um dos lados – para exemplificar tais alianças.
Vamos tomar Gênesis 9.8-10 como exemplo.
“Disse também Deus a Noé e a seus filhos: ‘Eis que estabeleço a minha
aliança convosco, e com a vossa descendência, e com todos os seres viventes
que estão convosco: assim as aves, os animais domésticos e os animais
selváticos que saíram da arca, como todos os animais da terra.”
Essa é uma resolução solitária, sem uma segunda parte; é unilateral. Todavia,
é destinada a uma segunda parte. Foi feita para Noé, seus filhos e
descendentes, e até mesmo para os pássaros e os animais selvagens que não
podiam fazer nenhuma aliança com Deus. Esse acordo não contém nenhuma
“prescrição”, e não estabelece nenhuma condição.
É importante ver que as alianças nas quais o Deus do “eu farei” se empenha
têm duas qualidades: elas são espontâneas e absolutas. Ninguém forçou Deus
a fazer essas alianças, e elas permanecem firmes mesmo sem estabelecer
qualquer condição. Elas são um ato absoluto de graça e do interesse da parte
do Senhor, do princípio ao fim. Jesus disse: “Tende fé em Deus” (Marcos
11.22); deixe as coisas com Ele, pois Ele faz tudo perfeito.
O “Eu Farei” de Cristo
O Evangelho de Mateus registra aproximadamente 13 ocasiões onde Cristo
fala sobre Sua intenção de realizar algo; Ele geralmente usa a palavra “farei”
ou alguma equivalente. Entretanto, essas ocorrências não tratam de tudo o
que Ele fará. Mesmo assim, Ele fala do mesmo modo que o Senhor Deus dos
profetas, e se coloca como o Filho ao lado do Seu Pai, como Aquele que
cumpre Sua palavra.
A maioria das declarações de Cristo está relacionada ao presente imediato, e
não a um futuro distante. Ele disse:
“Vinde a mim… e eu vos aliviarei”
Mateus 11.28
“... o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”
João 6.37
“... Eu vos farei pescadores de homens”
Mateus 4.19
Cada uma dessas declarações está apoiada unicamente pela autenticidade de
Cristo. Ele nunca tenta convencer as pessoas a respeito do que Ele disse; Ele
não discute. As Suas palavras são o suficiente, e se crermos nelas, elas
mesmas provarão a sua confiabilidade. Não existe nenhum outro tipo de
prova.
“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho… Não clamará, nem gritará, nem
fará ouvir a sua voz na praça… em verdade, promulgará o direito. Não
desanimará, nem se quebrantará até que ponha na terra o direito.” Isaias 42.1-
4
Cremos totalmente na Sua autoridade. Ele disse: “... se não crerdes que EU
SOU, morrereis nos vossos pecados” (João 8.24).
Ele Disse que Faria, e Fez
Existe uma tremenda promessa em João 14.16; trata-se de algo incondicional,
inevitável e não solicitado proveniente da vontade de Deus. “E eu rogarei ao
Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre
convosco.” Cristo não disse: “Se vocês orarem”. Ele disse: “Rogarei”; os
discípulos não tiveram de orar por isso. O Pentecoste não foi o resultado da
súplica de uma igreja que implorava diante de Deus, e permanecia em
perfeita unidade como muitas vezes é sugerido; foi um ato soberano de Cristo
e do Pai, independente de qualquer ação humana.
O Pentecoste também foi o cumprimento da vontade de Deus manifesta em
Joel 2.28: “Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne.” O derramamento
do Espírito de Deus não é uma questão da vontade dos homens e nem dos
seus desejos e orações. O Consolador chegou; não há nenhuma necessidade
de orar: “Senhor, rasgue os céus e desça à terra”. Ele está aqui! O único
requisito necessário para que haja a atuação de Deus é a fé. Podemos
descansar segura mente na certeza, no fato estabelecido de que o Espírito de
Deus está conosco.
No dia de Pentecoste, os discípulos estavam simplesmente reunidos. Eles não
estavam orando, mas esperando. Eles haviam se encontrado para ficarem
juntos durante um período crítico pelo qual estavam passando. Então Jesus
simplesmente fez o que Ele disse que faria. Não foram os discípulos que lhe
pediram pelo derramamento do Espírito. Não havia necessidade, porém, Ele
disse que faria, e fez.
O Senhor cumpriu a Sua promessa no século 20. A maior parte das igrejas,
até mesmo as evangélicas, tentou parar o que estava acontecendo. Elas até
haviam orado por avivamento, mas foram contra a forma pela qual ele veio.
Quando Deus realmente derramou o Seu Espírito, em Berlim um grande
número de igrejas protestantes declarou que tais manifestações vinham “de
baixo”. Entretanto, Deus disse que derramaria o Seu Espírito, e nada poderia
pará-Lo; Ele fez e continua fazendo. Graças a Deus que a maior parte da
Igreja mundial mergulhou nesse rio que flui do Trono.
Jesus Cristo disse: “... edificarei a minha igreja” (Mateus 16.18). Ele edificou
e ainda está edificando; e Ele vai concluir a Sua obra. O crente está do lado
do inevitável e caminha em vitória. Ele enxerga a alvorada, não a escuridão.
O Reino de Deus está próximo.
CAPÍTULO DEZESSEIS
A Fé e o “Eu” de Deus
Neste capítulo, examinaremos com mais cuidado as palavras das Sagradas
Escrituras. Começamos com uma pergunta simples e uma resposta
igualmente simples: Por que confiamos em alguém? E a resposta é simples:
Por causa de quem seja essa pessoa, de sua reputação, e de seu caráter. Pode
ser que alguém nos diga: “Confie em mim!”; mas nós não confiamos, a
menos que conheçamos muito bem essa pessoa. O ser humano,
simplesmente, não confia com muita facilidade.
Conhecer Significa Confiar
As Escrituras Sagradas deixam bem claro que podemos confiar em Deus por
Ele ser quem Ele é. Confiamos n’Ele por causa da identidade d’Ele, e essa
identidade está claramente revelada na Bíblia. Alguns podem dizer que as
experiências pelas quais passaram comprovaram a realidade de Deus,
todavia, as Escrituras devem confirmar essas experiências. Afinal de contas,
experiências podem vir de outras fontes também. Em 1 João 4.1, 2 lemos:
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito… todo espírito que confessa
que Jesus Cristo veio em carne é de Deus.” As pessoas que, simplesmente,
fazem barulho, ou entram em algum tipo de transe, não estão tendo esse
discernimento.
Em certas ocasiões acreditar em Deus é descrito como “crer no nome do
Senhor”. João 2.23 diz que: “muitos, vendo os sinais que ele fazia, creram no
seu nome”. Para eles, o nome do Senhor significava, simplesmente, sinais
milagrosos. Deus tem vários nomes que definem quem Ele é.
Às vezes, acreditamos no que as pessoas dizem, ou podemos acreditar nas
pessoas, se acharmos que elas sejam pessoas íntegras. Em quem nós
acreditamos é de vital importância. Podemos confiar em um médico, ou em
alguém pedindo donativos, ou em um ministro. Confiamos nessa pessoa pelo
que ele ou ela pode fazer por nós, como depositar nossa vida nas mãos de um
cirurgião. Entretanto, o que dizer sobre Deus? Não estamos tratando aqui
com alguém de habilidades limitadas. Ele é o Todo-Poderoso, Aquele em
quem podemos depositar toda a nossa confiança, com relação a qualquer
assunto; podemos entregar nossa vida totalmente nas mãos d’Ele. E Ele,
certamente, pode cuidar dela muito melhor do que nós mesmos. Jesus
disse:“... credes em Deus, crede também em mim” (João 14.1). “Quem crê
em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou” (João 12.44).
A Reivindicação de Deus
Leia novamente esses dois versos acima. Observe que a palavra “mim”
ocorre três vezes e “me”, uma vez. Nas Escrituras, quando é Deus quem está
falando, a repetição dos pronomes denota algo especial. Deus usa repetir os
pronomes, eu, me, mim, eu mesmo como uma forma de dar ênfase. E o Seu
objetivo é estimular-nos a ter confiança n’Ele por causa da Sua integridade
como Deus. O pronome “Eu”, por exemplo, é enfatizado de modo especial:
“Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador” (Isaias 43.11). “... Há
outro Deus além de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça” (Isaias
44.8). E depois de tudo isso, somos advertidos: “Ai daquele que contende
com o seu Criador” (Isaias 45.9). Se não pudermos confiar no Deus que nos
fez, então, estamos perdidos.
Na época em que a Bíblia foi escrita, todo mundo seguia seus próprios
deuses. Contudo, os israelitas não tinham nada a ver com os ídolos visíveis.
Eles invocavam ao Deus invisível, e já conheciam um pouco sobre Ele.
Foram deles os primeiros vestígios de uma liberdade civilizada, mil anos
antes da Grécia e de Roma existirem. Não podemos ser melhores do que o
que acreditamos. Em cada era a civilização firma-se na revelação de um Deus
de integridade a quem todos nós devemos prestar contas.
CAPÍTULO DEZESSETE
Fé Para a Noite
Considero o Evangelho de João o mais sutil dos evangelhos. Contém
inúmeros eventos e expressões literais, que assim foram descritos para serem
lidos e bem compreendidos. Aqui estão dois ou três exemplos cheios de valor
e significação. Como disse João, “estes, porém, estão escritos para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome” (João 20.31).
João 6.17 e 22 afirma que “escurecera e Jesus ainda não tinha vindo ter com
eles... [eles] tinham ido sós”. Essa é uma observação interessante, contudo,
temos outra um pouco mais tarde que torna esses dois versos ainda mais
impressionantes, como veremos. Contudo, que João queria que
entendêssemos, em primeiro lugar, é que até que Jesus se junte a nós, é
sempre escuridão. Foi e sempre será.
Os gregos vieram e disseram a Filipe: “Senhor, queremos ver Jesus” (João
12.21). Eles estavam na escuridão. Os gregos eram as pessoas mais instruídas
da época, todavia, espiritualmente encontravam-se em trevas. Vamos ver o
que um escritor disse sobre esse tempo e suas ideias religiosas: “Eles têm
consciência de uma realidade sobrenatural [mas não], acreditam ser essa
realidade benevolente para com a humanidade, [sendo] cegos e
frequentemente destrutivos no seu modo de agir.”
Escuridão. Os gregos não sabiam nada a respeito de um Pai no céu, que havia
entregado Seu Filho por amor à humanidade. Então Jesus chegou e falou com
eles sobre dar a Sua vida em favor deles. A ideia que eles mesmos tinham
dizia respeito a deuses maldosos, vingativos. Paulo, o apóstolo, estava
bastante familiarizado com tais histórias e chamou aqueles dias de “os
tempos da ignorância” (Atos 17.30).
Vamos olhar novamente para a verdadeira e bastante conhecida história
registrada no capítulo 6 de João. Os discípulos, no meio da escuridão,
remando com dificuldade contra o vento e a tempestade, repentinamente,
parece verem a figura de um fantasma deslizar por sobre a superfície do lago.
Creio que, diante de tal visão, seus temores multiplicaram. E mesmo sendo
homens corajosos como eram, gritaram de pavor. Então, acima do uivo dos
ventos, que sobrepujavam a espuma das águas, ouviram a voz do Senhor,
dizendo: “sou eu; não temais” (João 6.20). Jesus era um carpinteiro, um
construtor, não um marinheiro; entretanto, os discípulos sabiam que “com
Cristo no barco tudo vai muito bem”. Ele era e é Aquele que domina sobre o
mal e a escuridão.
Até então, eles estavam sozinhos ali naquele barco (João 6.22); e foi isso o
que a multidão percebeu. Jesus ocupava uma posição tão tremenda aos olhos
dos discípulos que quando partiram sem o Mestre, foi como se estivessem
“sós”. Uma dúzia de pescadores calejados pelo tempo e reunidos ali,
barqueiros, peritos em águas conhecidas; todavia, por que Jesus não estava
com eles, sentiram-se sozinhos! E eles estavam piores que sozinhos –
estavam solitários, e na escuridão.
Se os quase sete bilhões de pessoas deste planeta não tivessem Jesus,
seríamos todos um grande número de pessoas vivendo juntas, mas na
escuridão. Este mundo seria tão terrível e solitário como o inverno na
Antártica, totalmente coberta de gelo. Todavia, Ele está lá! Ou melhor – aqui!
Não estamos sozinhos em um universo inóspito; temos um Amigo: “... vou
preparar-vos lugar… voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que,
onde eu estou, estejais vós também” (João 14.2,3). E enquanto isso? “... eis
que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus
28.20). Por causa deste Homem, Jesus, nenhum de nós precisa sofrer com a
ansiedade.
Mesmo em um velho barco quase a naufragar, castigado por ondas uivantes,
os discípulos sentiram-se imediatamente aliviados quando ouviram Jesus
dizer: “Sou eu. Não temais” (Marcos 6.50). As palavras registradas no grego
(ego eimi) são, literalmente, “Sou eu”. E porque é Ele, podemos nos sentir
seguros. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal
algum, porque tu estás comigo” (Salmo 23.4). Isso é tudo o que precisamos
saber.
E João acrescenta esse toque final que mencionei (6.21): “Então, eles, de bom
grado, o receberam, e logo o barco chegou ao seu destino.” Não há dúvida de
que eles estavam mais que prontos a recebê-Lo no barco; todavia Marcos
6.48 diz que Ele “queria passar adiante deles” (Edição Almeida Revista e
Corrigida). Só dependia deles; porém, se quisessem, Ele iria ter com eles. E é
esta a forma que Jesus age sempre: Ele espera ser convidado.
Repare bem qual foi o importante desfecho do ocorrido:“... e logo o barco
chegou ao seu destino.” Quando Jesus chegou, eles também chegaram –
quando Jesus vem ao nosso encontro, conseguimos chegar ao destino. E esse
é o ponto mais importante da vida, o nosso alvo. Cristo é a costa de que
estamos nos aproximando. Ele é o objetivo de toda a nossa viagem.
A Bíblia registra um interessante encontro em Mateus 8.19,20. Ela traz que,
certo homem chegou até Jesus e disse a Ele: “Mestre, seguir-te-ei para onde
quer que fores.” Ele sabia que Jesus estava a caminho de algum lugar e, se
fosse com Ele, certamente, chegaria àquele lugar também. Ele queria
encontrar um lugar na vida, especialmente, com um homem que falava sobre
um Reino. Ele era o que podemos chamar de “alpinista social”. Quanta
cegueira! Jesus não está prestes a se tornar alguém especial ou a chegar a
algum lugar; Ele é esse Algum Lugar, esse Todo Lugar, o princípio e o fim.
Jesus é o próprio Reino.
Ele é a única luz do mundo. Se estivermos seguindo alguma luz, onde
deveremos ficar? Debaixo da luz, é óbvio! Se você seguir a luz de Cristo, irá
encontrar-se aos pés d’Ele. O Senhor ilumina o caminho na direção certa que
temos de seguir; ou seja, em direção a Ele. Jesus é o Caminho, tanto no início
como no final – Ele é o nosso destino.
Existem aqueles que nos convidam para nos unirmos a eles em sua busca pela
luz e pela verdade. Entretanto, se eles ainda não conseguiram achar nem
mesmo a luz, como poderão encontrar alguma coisa? Eles podem até mesmo
esbarrarem na verdade e nem se darão conta disso! Dizem: “Viajar com o
coração cheio de esperança é melhor que chegar ao destino”. Em outras
palavras, buscar sempre sem nunca encontrar. Contudo, Jesus disse: “Buscai
e achareis” (Mateus 7.7). Buscar é tudo o que alguns homens sabem fazer;
estão sempre procurando algo, mas não sabem o que é, ou com o que aquilo
que procuram se parece, ou mesmo se vão encontrar! Paulo advertiu a
Timóteo sobre tais guias cegos que estão “sempre aprendendo, mas nunca
podendo chegar ao pleno conhecimento da verdade” (2 Timóteo 3.7).
É por isso que eles não gostam de nós, os verdadeiros crentes em Cristo –
porque dizemos que O encontramos; o que é verdade! “... sei em quem tenho
crido” (2 Timóteo 1.12). Alguns de nós não queremos ser eternos viajantes,
como na lenda do navio chamado Holandês Voador, navegando com suas
velas içadas o qual, dizem, ser visto durante as tempestades do Cabo da Boa
Esperança, mas que nunca chega ao porto. Com Cristo, porém, sempre
conseguimos entrar no porto; afinal, Ele é o nosso porto – Ele é a “nossa
morada eterna”, localizada bem longe da escuridão.
Aqui temos o relato do que se passou em uma outra noite. Judas “saiu logo. E
era noite” (João 13.30). “Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos
principais sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com
lanternas, tochas e armas” (João18.3).
CAPÍTULO DEZOIT O
A Fé e a Visão Noturna
Vendo o Invisível
Será que podemos ver a Deus? Claro que não! Porém, é somente Deus que
não podemos ver? Também não! Existem inúmeras outras realidades que nos
são invisíveis; todos estamos imersos em um vasto mar de forças invisíveis.
Será que podemos ver as ondas do rádio ou, por exemplo, os campos
magnéticos onde as estrelas mantêm suas mais remotas posições? À nossa
volta, e até mesmo permeando nosso corpo, existem poderosas emissões de
energia que só podem ser detectadas mediante o uso de instrumentos
adequados. Alguns tipos de radiação podem nos destruir, a todos, antes
mesmo de podermos percebê-los. A percepção humana é muito limitada; até
mesmo o nosso gatinho consegue ouvir sons que não conseguimos. Uma
cobra é capaz de identificar a sua presa mesmo dentro de
um buraco imerso em profunda escuridão.
As primeiras palavras que Jesus disse aos seus discípulos foram: “Vinde, e
vede” (João 1.39). Ele veio para que pudéssemos ver, e ver na escuridão. Sua
preocupação estava ligada a coisas vitais para nós. O maior tema no
Evangelho de João é a visão interior, a capacidade de ver além do que os
olhos conseguem enxergar. A realidade espiritual faz parte de uma ordem
diferente, pois os olhos físicos não podem discernir o que é espiritual João
menciona algumas pessoas que testemunharam os milagres de Cristo, mas
não fizeram nada a respeito deles. As ovelhas, no dizer do poeta Tennyson,
em seu famoso poema: “A Morte de Artur”, “nutrem na cabeça uma vida de
cegueira”. Espiritualmente as pessoas não fazem mais que isso. O visível
demonstra o invisível
“Os céus proclamam a glória de Deus” (Salmo 19.1), mas somente àqueles
que têm fé. Além do mais, o mundo jaz em maldade e escuridão espiritual. O
que já é invisível torna-se duplamente, invisível.
O Infravermelho da Fé
No reino natural, temos meios de tornar o invisível visível. Uma câmera com
infravermelho pode tirar fotografias na mais negra das noites. A polícia
possui helicópteros equipados com radar que lhes permite encontrar um
ladrão em meio à escuridão até mesmo debaixo das árvores. E no reino
espiritual, ninguém precisa andar na escuridão. Existe uma maneira de ver
“Aquele que é invisível” (Hebreus 11.27). E o instrumento que torna isso
possível é a fé – ela é o nosso infravermelho. Temos olhos para ver, todavia,
podemos andar na ignorância e na escuridão do nosso mundo e, mesmo
assim, andarmos em confiança, como se andássemos à luz do dia. Os crentes
são todos “filhos da luz e filhos do dia (1 Tessalonicenses 5.5). “Visto que
andamos por fé e não pelo que vemos” (2 Coríntios 5.7).
A Lâmpada é Para a Escuridão
A fé é como uma lâmpada: não tem utilidade na luz do dia. A única chance
que a fé tem é agora, neste mundo dominado pelo pecado e pela preocupação.
A fé não terá como funcionar no céu, onde não há risco de nada. A fé deixa
de ser útil diante da plena visão.
A Fé e a Visão Noturna
“Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face
a face… Agora, pois, permanecem a fé…”
1 Coríntios 13.12,13
1. A fé é como um piloto automático, necessário durante o voo, e não para
quando aterrissamos e tocamos o cristalino piso da glória.
2. A fé é como o ouro; ela suporta o fogo.
3. A fé que não vem por intermédio do fogo é como o “ouro de tolo” –
piritas que apenas se parecem com o minério valoroso.
4. A fé em tempos prósperos não é fé em absoluto. Afinal, a fé não é
possível exceto em tempos de tempestade e densas nuvens.
A Luz Domina Sobre as Trevas
O nosso capítulo sobre a Fé e a Luz (capítulo 19) é totalmente baseado no
Evangelho de João. A luz e as trevas são o indicador em todo o livro. João
usa a palavra “trevas” aproximadamente 14 vezes. O seu foco é estabelecido
em João 1.5: “... a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a
compreenderam” (Edição Almeida Revista e Corrigida).
A palavra “compreender” é digna de uma segunda olhada, já que ela possui
uma grande variedade de significações; entre elas: agarrar, obter, colher,
apreender, surpreender, entender, ou vir, repentinamente sobre. Todavia, será
por que João usa tais expressões e alusões ambíguas? A razão é muito
importante. Ele quer testar os leitores, não os intimidar, ou cegá-los com a
ciência. Podem interpretar suas palavras como quiserem e assim se identificar
com o que ele está dizendo. Isso prova o que eles (os leitores) são.
Vamos examinar novamente essa palavra [compreender]. Ela tem vários
sinônimos, todos indicando algo que as trevas não podem fazer. Elas não
podem deter, superar, prender, etc. Seja qual for o termo que empregarmos,
temos a mesma ideia. João está dizendo que, por maior que seja a ameaça das
trevas – derrotar, deter, sobressaltar, ou qualquer outra ação contra a luz –
não há jeito de elas prevalecerem contra a luz. Então, nós, os crentes, estamos
no “time” vitorioso. E isso não quer dizer simplesmente, que temos uma boa
chance de sermos vitoriosos; isso quer dizer que já somos
incondicionalmente, vencedores. As trevas nunca sobrepujam a luz.
João determina-se a demonstrar isso de várias maneiras. Uma delas é que, às
vezes, ele menciona as trevas físicas, ou a noite aqui da terra, e confere-lhes
uma significação especial. Isso é uma dica para lermos nas entrelinhas. Quero
usar este capítulo unicamente para dar uma olhada nesses exemplos. Isso irá
nos ajudar ao longo do caminho, como João pretendia. “Lâmpada para os
meus pés é a tua palavra e luz, para os meus caminhos” (Salmo 119.105).
Um Visitante Noturno
Vamos dar uma olhada em João 3.1-7: “Havia, entre os fariseus, um homem
chamado Nicodemos… Este, de noite, foi ter com Jesus” (vv.1,2). Esse
homem era realmente um representante dos principais judeus. O que Jesus
lhe disse naquela noite é notável: “... importa-vos nascer de novo” (v.7). O
Senhor Jesus não estava pensando unicamente em Nicodemos quando lhe
disse essa frase, mas também nas pessoas que o haviam enviado. Disse ele:
“Se alguém”, com o sentido de “se qualquer um” e depois, no versículo 7,
Jesus usa o plural – “importa-vos”.
O Evangelho de João menciona Nicodemos três vezes, e em cada uma delas
ele chama a atenção para o fato de que esse doutor da lei, “de noite, foi ter
com Jesus” (João 3.2). Ele quer que nós entendamos o que ele está falando, e
não foi simplesmente que a visita se deu depois do pôr-do-sol mas, sim, que
Nicodemos representava as trevas daqueles tempos. A nação de Israel tinha
perdido a sua luz e, por isso, havia uma carência de poder religioso; e mesmo
com todos os seus brilhantes rabinos, nem um deles poderia reparar aquela
falta.
A Fé e a Visão Noturna
Jerusalém tinha todos os melhores equipamentos religiosos, complicados,
caros, e, basicamente, decorativos. Eles tinham milhares de sacerdotes
desempenhando as suas funções; um Templo que era uma maravilha mundial,
com um telhado dourado onde nenhum pássaro poderia empoleirar-se; uma
pompa diária impressionante e muitos sacrifícios; maravilhosos corais de
vozes masculinas; a mais perfeita coletânea de hinos que já havia sido escrita
(os Salmos); e, particularmente, “a Lei, os profetas e os escritos”, o Antigo
Testamento completo, as Escrituras judaicas.
Estava tudo lá. Isso me faz lembrar das instalações elétricas montadas para
iluminar uma cidade, com todas as suas lâmpadas e lampadários que se
balançam na escuridão, sem vida. O Templo de Jerusalém era mais ou menos
como essa ilustração: não possuía luz e nem janelas. Os sacerdotes moviam-
se de um lado para o outro ali dentro, usando lâmpadas a óleo; um verdadeiro
quadro de uma religião artificial, “tendo forma de piedade, negando-lhe,
entretanto, o poder” (2 Timóteo 3.5). Originalmente, o Santo dos Santos era
iluminado pela glória de Deus e, por isso, não havia a necessidade de
nenhuma janela. Todavia, no momento eles tinham uma palavra que
representava muito bem a sua atual situação: ichabod – “foi-se a glória de
Israel” (1 Samuel 4.21).
Apesar disso, esses mestres da Bíblia em Israel estavam absolutamente
convencidos de que tinham razão. Entretanto, Jesus tinha certeza de que eles
não estavam certos. Ele disse a Nicodemos: “Tu és mestre em Israel e não
compreendes estas coisas?” (João 3.10). A fé traz entendimento; é uma
experiência incomum, porém, verdadeira. Quando confiamos em Deus, de
repente o futuro se parece com o dia que vem surgindo no horizonte.
Simplesmente, sabemos que é assim que acontece.
Existe algo que costumamos chamar de visão falsa; são as miragens – as
coisas só parecem ser verdadeiras. Por exemplo, quando alguém está no
deserto, pode ter a impressão de ver um oásis à sua frente; todavia, ao
aproximar-se, percebe que não há nenhuma água lá. Na época que Jesus
estava aqui na terra, muitos líderes tinham uma religião apenas de miragem.
Eles tinham uma crença ardente, mas era algo tão árido como o deserto; não
havia água. Eles defendiam sua religião ferozmente e estavam preparados até
mesmo a morrer por ela; eles faziam muito por ela, mas ela não fazia nada
por eles. Essa crença era lei, mas não lhes trazia nenhuma luz.
Hoje também existem muitos deuses inúteis, os quais exigem tudo, mas não
fazem nada. Não existe a água da vida, apenas deveres e esperanças. Para
milhões de pessoas, e até nações inteiras, Deus é somente outro nome para
um destino silencioso. Ele não diz nada; estabeleceu todas as coisas de
antemão, e a sua vontade já está pré-determinada. Ele não faz nada, não
modifica nada, e não ouve nenhuma petição. Tal deus não sacia sede alguma.
A pior escuridão de todas é a religiosa. Jesus disse: “Se, porém, os teus olhos
forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti
há sejam trevas, que grandes trevas serão!” (Mateus 6.23).
Até mesmo entre aqueles que creem na Bíblia, existem pessoas que pensam
que Deus seja alguém “ultrapassado”, um ser que foi uma divindade; mas o
foi no passado. Para eles, o Deus operante da Bíblia não atua mais da mesma
maneira nos dias de hoje. E se Deus não faz mais o que Ele fazia, então,
como podemos dizer que Ele é o mesmo? Existem algumas pessoas que são
muito lógicas, muito fundamentadas e corretas; todavia, quanto ao
sobrenatural – não na sua vizinhança, e muito menos batendo na porta da sua
casa, falando sobre sinais e maravilhas.
Não podemos lutar pelo evangelho original e, ao mesmo tempo, negar o seu
poder original. As pessoas podem se converter a uma doutrina, em vez de a
uma experiência de vida, nascida do Espírito. A fé “liga” o poder para que os
crentes tornem-se uma “cidade edificada sobre um monte” (Mateus 5.14).
Um dos registros interessantes da Bíblia fala sobre os judeus que eram
escravos no Egito, e que foram libertos, mas quiseram voltar para lá.
Chegaram até mesmo a construir um bezerro de ouro para que os levassem de
volta (Êxodo 32). Eles murmuraram porque sentiam falta das saladas que
tinham nos seus dias de escravidão, e de bom grado teriam dado a sua
liberdade em troca de pepinos, alhos, e alface. Essa é uma psicologia humana
comum, que é, particularmente, encontrada na religião. As pessoas ficam
tanto tempo nas trevas que não podem suportar a luz do sol. Eles aqueceram
os seus grilhões, usando-os por tanto tempo que agora querem guardá-los. A
fé em Cristo significa liberdade, não escravidão; luz, não trevas. Todavia,
alguns, ferozmente, ressentem-se de tais benefícios. As portas da sua prisão
estão abertas, mas eles encolhem-se de volta dentro de sua cela. “Os homens
amaram mais as trevas do que a luz” (João 3.19). Contudo, existem outros
pontos sobre esse assunto, os quais abordaremos no próximo capítulo.
CAPÍTULO DEZENOVE
A Fé e a Luz
Existem três formas de ver:
• Com os olhos.
• Com a mente racional.
• Com a fé do coração.
A fé que vem do coração não fica só no projeto – ela passa para a etapa de
produção. É sobre isso que o capítulo nove de João trata, o qual eu disse que
iríamos analisar. Cada episódio neste Evangelho vai fazendo a chama da
lâmpada ficar mais alta. Ele vai aumentando o brilho até podermos dizer com
João: “e vimos a sua glória” (João 1.14). As palavras do próprio Jesus, no
final do capítulo, resumem a questão:
“... Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e
os que veem se tornem cegos... Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum;
mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado.”
João 9.39,41
Isso nos parece um duplo paradoxo, algo típico do modo de Jesus ensinar.
Logo veremos o seu significado.
Muita Conversa em Vez de Fé
Quando Steven Langton dividiu a Bíblia em capítulos, há 700 anos, ele
começou o capítulo 9 de João no lugar incorreto. Esse capítulo trata da
história de Cristo curando um homem cego, quando os homens do Templo
pegaram em pedras para matá-Lo (8.59). Esta deveria ser a ordem dos
acontecimentos:“... Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio
deles, e assim se retirou”; e (9.1) “... passando {Jesus,} viu um homem cego
de nascença”. (Almeida Revista e Corrigida.) Quando Ele escapou daqueles
fanáticos que estavam querendo matá-Lo, Jesus ainda foi capaz de importar-
se com um homem afligido pela calamidade de uma cegueira que vinha
atormentando-o por toda a sua vida. Essa é a maneira do Senhor agir.
Contudo, não foi assim que os discípulos o viram. Eles estavam acostumados
a ver mendigos cegos, mas notaram quando Jesus percebeu a presença
daquele infeliz. Por alguns momentos o Senhor não disse nada e, por isso, era
óbvio que os discípulos sentissem-se na obrigação de fazer algum
comentário; afinal, sempre achamos que devemos falar alguma coisa, nem
que sejam simples palavras ou apenas nossas impressões. Portanto, eles,
simplesmente, articularam os chavões comuns quanto ao motivo de o homem
ter nascido cego ideias mal consolidadas daquela época. Ou era uma questão
de pecado dele (antes de ter nascido) ou do pecado de seus pais. Será que isso
importava?!
É próprio do ser humano gostar de falar sobre as aflições, como os tagarelas
dos “consoladores” de Jó, Elifaz, Bildade, e Zofar. Para alguns, a vida é só
problemas. Existem, inclusive, alguns pregadores que não falam a respeito de
mais nada que não seja esse assunto. Até mesmo no culto de domingo de
Páscoa, onde comemoramos a ressurreição de Cristo, eles sobem no púlpito e
dizem:
“Irmãos, o nosso problema esta manhã é…” Algumas congregações são mais
afligidas pelo problema do sofrimento que lhes é imposto de domingo a
domingo do que por qualquer outro revés por que estejam passando. A
conversa é, muitas vezes, um substituto para a fé, e muitos sermões são uma
justificativa para a falta de confiança.
Como um cirurgião não tem interesse em filosofar sobre enfermidades
quando seu paciente está na mesa de operação, tampouco tinha Jesus esse
interesse. Ele não apresenta qualquer explicação. “Para isto se manifestou o
Filho de Deus: para destruir as obras do diabo.” (1 João 3.8). Sua resposta
não consiste em palavras, mas “pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaias
53.5). É óbvio que Deus fala, mas as Suas palavras têm poder criador. Ele diz
amém às Suas próprias palavras, e faz o que diz.
Os discípulos não tinham nada de valor para dizer. Eles, simplesmente,
repetiam ideias populares baratas. Não sei por que eles não tiraram Jesus do
sério; Ele mostrou-lhes uma paciência infinita. O único interesse deles
naquele homem foi o comentário que fizeram, e foi algo que não demonstrou
nem fé nem atitude. Jesus imediatamente respondeu à pergunta sobre quem
havia pecado, se o homem ou os seus pais. Ele disse: “Nem ele pecou, nem
seus pais...” (João 9.3). Essa resposta deixou os discípulos admirados; afinal,
ela jogava por terra dois mil anos de ideias religiosas. Todavia, naquela
época, curar um homem cego também era algo de que não se ouvia falar
muito frequentemente.
Visão – o Trabalho de Deus e o Nosso
Então Jesus reforçou essas Suas palavras ao completar: “... foi para que se
manifestem nele as obras de Deus” (João 9.3). E Ele queria dizer,
exatamente, isso – “as obras de Deus.” Não foi de barro que, no princípio,
Deus criou o homem? Será que as obras de Deus, feitas com o pó da terra,
poderiam ser repetidas? E se Jesus podia fazer qualquer coisa, como operar
aquele milagre, isso disse muito a respeito de quem Ele era. Mais tarde o
Mestre disse: “Credes em Deus, crede também em mim” (João 14.1). Jesus
nos deu todas as razões para crermos n’Ele; Ele fez o que Deus fez.
Gênesis 2.6 e 7 diz que “uma neblina subia da terra e regava toda a superfície
do solo. Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra” – água
e pó. As pesquisas dizem que o nosso corpo é 70 por cento água. João viu o
que Jesus fez e diz que Ele “cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva,
aplicou-o aos olhos do cego” (João 9.6). Adão foi criado em um lugar onde
havia rios e poços de água, portanto, Jesus enviou aquele homem para um
lugar semelhante, para lavar-se “no tanque de Siloé (que quer dizer Enviado)”
(João 9.7). O Espírito do Senhor estava ali, esperando, e as mãos do Criador
operaram novamente. Suas maravilhas eternas, e, como o primeiro homem
tinha sua vista perfeita, o cego também passou a ver. Aquele que concedeu
visão ao cego, já havia feito o mesmo no Éden.
Nunca foi a vontade de Deus que as pessoas fossem cegas, Adão não era
cego. O Senhor nunca quis que alguém nascesse cego ou que se tornasse
cego. A obra de Deus é voltada para a visão, e não para a cegueira. Ele não
quer que vivamos a nossa vida cegos, nem espiritualmente e nem fisicamente.
Deus não criou esse homem cego simplesmente para ter a oportunidade de
curá-lo; isso seria fatalismo. Não somos ratos de laboratório de Deus.
Naquela época já havia cegos suficientes; não precisava que Deus criasse
mais um. “Haja luz” (Gênesis 1.3); nosso Deus é assim! O que Jesus disse
realmente foi: “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou”
(João 9.4), e, não, “para que sejam feitas as obras daquele que me enviou”.
Jesus transformou esse maravilhoso milagre em uma parábola sobre o
trabalho na seara. “Enquanto é dia, precisamos (imperativo) realizar a obra
daquele que me enviou. A noite se aproxima, quando ninguém pode
trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (João 9.4,5 –
NVI).” Percebeu? Jesus trocou a ação que estava concentrada na primeira
pessoa do singular, para a primeira do plural, para mostrar que devemos
realizar as obras d’Aquele que enviou Jesus Cristo. É a mesma obra, é claro,
para a qual o Senhor foi enviado – trazer luz e visão. É esse o tipo de negócio
em que Deus está envolvido, e nós somos os Seus sócios ou, talvez, seus
assistentes, distribuindo o que Ele tem para todos os que se achegam a Ele.
Aquele que disse: “Haja luz”, também disse aos Seus discípulos, no Sermão
do Monte: “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5.14).
Vamos à igreja e lá encontramos conforto para a nossa alma. Concordo que
devemos fazer isso, todavia, esse não deve ser o maior objetivo de irmos à
casa do Senhor. Somos luz nas trevas em meio a uma tempestade. Moisés
entrou na presença de Deus, não simplesmente para desfrutar dela, mas para
trazer com ele um pouco da glória divina para que Israel pudesse ver; essa
glória estava estampada em seu rosto.
O Farol de Alexandria era uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo; era o
único farol de antão e o mais alto edifício do mundo. A sua luz era,
simplesmente, uma tocha de fogo. Aquele farol também era um símbolo
religioso. Luz na escuridão era algo muito raro naqueles tempos; era uma
coisa muito rara espiritualmente também. No início era somente Cristo, até
que Ele acendeu o fogo em seus discípulos e os enviou para “lançar fogo
sobre a terra” para que os homens, agitados pelas tempestades da vida,
pudessem achar o caminho do lar. Ainda hoje não existe outra luz.
De Uma Fé Insuficiente, Para Uma Fé Excedente
Agora, aqui está uma pergunta – a pergunta. Por que razão Jesus restaurou a
vista àquele homem? Jesus o fez sem ao menos dizer “com sua permissão”.
Ninguém lhe pediu, ninguém pressionou, e o próprio cego não Lhe implorou,
como o fez o cego Bartimeu. Sabemos que Cristo tinha o direito de curar, que
tinha o poder, mas por que se preocupar? Por que Deus incomodou-se?
Os teólogos chamam isso de “ato soberano de Deus”, mas isso não explica
nada. “Soberano” significa a mesma coisa que Deus agir como bem entender;
Ele sempre vai fazer, independentemente de qualquer coisa. É como sentir
dor nas costas e o médico dizer que você está com “Lumbago”, que significa
exatamente a mesma coisa, ou seja, dor intensa na região lombar. Nossas
indagações são da mesma forma. Por que Deus decidiu agir daquela maneira?
O que O motivou?
Simplesmente falar a respeito de soberania não é o bastante. Jesus não veio
ao mundo para nos dizer que Deus era Alguém misterioso e que estava além
de nossa compreensão. Quando Ele veio, assegurou-nos da Sua bondade
infalível. Isso era mais que apenas conhecê-Lo, era compreendê-Lo. Ele não
era um Deus de caráter instável, que poderia, a qualquer hora, manifestar
inexplicáveis surtos de bondade.
Jesus operou maravilhas para nos mostrar sobre Deus, que é imutável e, para
desenvolver confiança em nós.“... não afastarei dele o meu amor; jamais
desistirei da minha fidelidade” (Salmo 89.33 – NVI). Sem uma confiança
sólida em Deus, a fé é impossível. Deus não faz as coisas aos trancos e
barrancos, isso não seria soberania e não conferiria nenhum alicerce para a fé.
Às vezes, seus atos podem estar além da nossa compreensão, mas eles são
executados em perfeita honestidade, verdade, e sabedoria. As Escrituras
Sagradas dizem o seguinte a respeito de Deus: “... tu cumpriste as tuas
palavras, pois és justo” (Neemias 9.8 – Almeida Revisada Imprensa Bíblica).
Existe uma razão por que Deus curou esse homem e outros.
Está tão claro que a gente nem enxerga. É quase como olhar através da
vidraça de uma janela, querendo ver vidro – a vidraça já é o vidro! Deus
curou aquele homem porque Deus é assim. A razão de Ele curar está em Sua
própria natureza. Se vamos a um concerto com a intenção de ouvir música, é
porque a música já faz parte de nós. Diferentemente, se alguém tiver de nos
arrastar para lá, então é porque música não faz parte de nós. Aquilo que
fazemos, espontaneamente, revela nossa natureza, ou como nós somos. Deus
só age em harmonia com a natureza d’Ele. A cura daquele homem mostra
como é o caráter divino.
Deus é amor e age impulsionado pelo amor. Não podemos atribuir um
espontâneo fluxo de bondade a uma misteriosa soberania eterna. Temos de
creditá-lo a Deus, já que é algo típico de Seu caráter. Ele veio para trazer-nos
a luz, para nos guiar e dar vista aos cegos. O fato de Ele haver restaurado a
visão daquele homem revela tudo que queremos saber sobre Deus. Nós o
compreendemos perfeitamente.
De Fé em Fé
Esse homem cego de nascença não foi o único que Jesus curou. Tenho visto
curas assim acontecerem até mesmo em minhas reuniões. E sou muito grato
ao Senhor por isso e fico maravilhado em ver que tais demonstrações de
misericórdia atraem as pessoas a Deus. Como foi a história de fé daquele
cego, depois da sua cura? Aliás, como é a história de fé, após a cura, de
qualquer um a quem Deus toca? Neste caso, João acompanha o homem e fica
sabendo.
Logo que ele foi curado, as pessoas lhe perguntaram quem havia realizado o
milagre e ele respondeu: “O homem chamado Jesus” (João 9.11). Um homem
– essa foi a sua primeira ideia. Ele nem havia pensado nisso. Afinal, quem
mais estava ali em volta se não homens? Ele sabia que não havia sido uma
mulher. Contudo, os líderes do Templo começaram a questioná-lo. Foi então
que ele começou a pensar no ocorrido e viu que Aquele não era um homem
comum. Ele já havia ouvido falar dos profetas, embora fossem raros sobre a
terra; o último tinha vivido quatrocentos anos antes. Então, os líderes
religiosos fizeram-lhe outra pergunta: “Que dizes tu a respeito dele?... que é
profeta, respondeu ele” (João 9.17). A sua fé estava sondando esse milagre.
Aquela resposta, todavia, não era a que os líderes religiosos queriam; eles
esperavam que fosse algo negativo. Esse homem era um exemplo notável dos
feitos do Senhor, e poderia se tornar uma excelente propaganda negativa
contra Jesus, se eles conseguissem intimidá-lo o bastante. Se ele dissesse que
Jesus era um pecador, isso seria muito útil para eles.
Então, depois de conversarem com seu pai e sua mãe, os líderes do Templo
resolveram interrogá-lo uma segunda vez, e lhe perguntaram se Jesus era
pecador. Essa era uma pergunta teológica. Não sabemos qual era a formação
religiosa daquele homem, exceto que ele era judeu, e que os seus pais eram
membros da sinagoga. Todavia, uma coisa agora era parte da sua religião – a
sua experiência:“... uma coisa sei: eu era cego e agora vejo” (v. 25). Ele não
iria aceitar nenhuma ideia religiosa que não concordasse com uma
experiência positiva – aliás, ninguém deveria.
Tenho desfrutado da salvação, da cura divina, do batismo no Espírito Santo, e
de milhares de outras realidades; e minha prática religiosa deve estar em
harmonia com essas experiências que já tive. Vejo isso na mesma Bíblia que
Jesus, Paulo, Lutero, Wesley e muitos outros leram. Os racionalistas, os
teólogos liberais e seus colegas incrédulos estão, constantemente,
apresentando-me opiniões variadas. Não conseguem aceitar, nem suportar o
peso de minha experiência. Tacham-me de fundamentalista, mas ninguém
jamais poderá anular aquilo que Deus operou em mim. Tais homens nunca
poderão re-escrever a história. O fato é que estou transportando uma carga de
ouro – o ouro de minha fé, que já foi provada no fogo. Os “sábios e
instruídos” (Mateus 11.25), como Jesus os chama, sentam-se na praia
dizendo-me que isso não vale nada. Não dou importância ao que eles dizem;
não sou juiz dessa questão. Não vou lançar ao mar a minha fé, por mais
razoável que seja o conselho deles.
Aquele homem cego ficou irritado com a atitude dos críticos religiosos. Eles
queriam que ele lhes dissesse novamente o que havia acontecido, obviamente
para encontrar alguma falta. Todavia, um omem assim não está obrigado a
ninguém. Ele disse:“... Já vo-lo disse, e não atendestes...” (v.27).Típico!
Quando são fatos, verdades sobre Deus, de modo geral as pessoas não
querem saber. Afinal, trata-se de luz, e as pessoas preferem mais as trevas do
que a luz. Assim, quando os fatos não podem ser negados, os filhos das trevas
transformam os fatos em escárnio pessoal. Foi exatamente isso o que esses
líderes do Templo fizeram, zombando dele e chamando-o de discípulo de
Jesus:“... Discípulo dele és tu; mas nós somos discípulos de Moisés” (v.28).
Se ele tivesse respondido: “Não, não sou”, então ele não seria citado como
amigo de Cristo. Todavia, ele não negou. Então, aquele que antes era cego,
disse uma verdade que os assustou.
“Sabemos que Deus não atende a pecadores; mas, pelo contrário, se alguém
teme a Deus e pratica a sua vontade, a este atende. Desde que há mundo,
jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se
este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito.” João 9.31-33
Eles o interrogaram duas vezes e, isso só serviu para forçá-lo a pensar o que,
ou quem Jesus realmente era. Agora estava claro para ele que Jesus era de
Deus.
Diante disso, eles o expulsaram. Naturalmente, pois é assim mesmo que o
mundo age; sempre foi, e ainda é. Se nos dedicarmos a Jesus, independente
do que Ele tenha feito por nós (especialmente aberto os nossos olhos, pois
isso é o que Ele sempre faz), entraremos em conflito com o modo de agir do
mundo; pois isso aqui é um verdadeiro vale de cegos.
Contudo, “Ouvindo Jesus que o tinham expulsado…”, encontrou-o (v.35). E
isso fez com que tudo tivesse valido a pena. Afinal, Jesus era companhia bem
melhor que a daqueles religiosos teimosos e de velhos incrédulos lá do
templo. O Senhor Jesus já tinha concedido visão aos olhos daquele homem,
mas Ele agora tencionava dar o toque final à fé dele. E embora fosse um tanto
incomum, Jesus perguntou: “Crês tu no filho de Deus?” (João 9.35 – Edição
Revista e corrigida.) Essa pergunta vale um milhão de dólares, visto que: “...
quem crê no Filho tem a vida eterna” (João 3.36). A visão é, sem dúvida, algo
grandioso, mas a vida é infinitamente maior.
O homem disse que ele não sabia quem era o Filho de Deus, mas que
acreditaria n’Ele se soubesse quem era. Jesus então lhe disse: “... Já o tens
visto, e é o que fala contigo” (v. 37). Aquele homem já estava bem adiantado
em seu caminhar em fé, e viu não apenas com seus novos olhos físicos, mas
também com uma nova percepção física. Ele acreditou, embora ainda
precisasse de conhecimento, como João, que examinou as evidências no
túmulo de Cristo. Jesus testemunhou de Si mesmo. Aquele ex-cego já sabia
que Jesus era de Deus, e agora também fica sabendo qual era a relação
existente – Jesus era o Filho de Deus.
E agora? Que resposta ele daria? Será que Ele deveria dizer: “Eu o seguirei”
ou “Você pode confiar na minha ajuda” ou o quê? Em princípio Cristo lhe
forneceu a resposta para o que ele procurava; podemos perceber pela resposta
que ele deu a Jesus: “... creio, Senhor; e o adorou” (v.38). A fé tem um
objetivo primordial – vida; e uma reação suprema – adoração. “... são estes
que o Pai procura para seus adoradores” (João 4.23).
Ver ou Não Ver?
A grande indagação do apóstolo João era “Ver ou não ver?” Apesar da
existência de milhões de livros nas prateleiras das bibliotecas espalhadas pelo
mundo inteiro, o mistério da vida permanece. Durante milhares de anos, a
mente humana tem lutado com as grandes questões da vida, e ela continua tão
longe de uma resposta como sempre esteve. Deus, falando por intermédio de
Isaias, queixou-se dizendo: “... Israel não tem conhecimento, o meu povo não
entende” (Isaias 1.3). Deus não deseja que sejamos ignorantes a respeito do
significado da vida, e isso pertence às questões espirituais. E, quanto a essas
questões, somente Deus pode nos dar as respostas. Na verdade, Deus é a
própria resposta; Ele mesmo é o “porque” de todas as coisas. A resposta é
uma divina revelação que só pode ser compreendida por intermédio da fé,
que é o único meio possível de “conhecer”. Na primeira carta de João, ele usa
o verbo “conhecer” ou suas variações mais de vinte vezes. A fé é como uma
câmera fotográfica com infravermelho com uma lente de grande ângulo.
Como humanos finitos que somos, andamos nas trevas; todavia, a fé nos dá
olhos especiais para enxergarmos à noite.
A perspectiva moderna foi profundamente influenciada pelo escritor
dinamarquês Soren Kierkegaard. Porém, infelizmente ele descreve a fé como
sendo “um pulo no escuro”. Isso é de uma insensatez enorme! A fé é um pulo
sim, mas um pulo dentro da luz. Um escritor mais importante que Soren,
Paulo o apóstolo, disse: “Ele nos libertou do império das trevas e nos
transportou para o reino do Filho do Seu amor” (Colossenses 1.13).
João apresenta a Pessoa de Jesus – e tudo o mais ligado a Ele – como
estando vivo e ativo. A vida cristã consiste em crer continuadamente, dia
após dia. A verdadeira luz já brilha, mas muitos, cerrando as cortinas da
incredulidade, seguem tateando na escuridão da incerteza. Para que esforçar-
se para ver na obscuridade, que é iluminada apenas pela luz trêmula das velas
do pensamento humano - pelo poder da mente, em vez do poder de Deus?
Aqueles que mais falam sobre “buscar a verdade” não parecem estar
chegando a qualquer conclusão. É como se estivessem constantemente
viajando, sem esperar chegar a lugar nenhum. Jesus disse: “buscai e achareis”
(Mateus 7.7); isto é, se quiserem realmente encontrar. Alguns homens
intitulam-se agnósticos, o que significa que “não têm certeza com relação às
alegações do conhecimento”. Em suma, poderíamos chamá-los de “pessoas
que não têm certeza de nada”, que negam que se possa realmente saber algo.
Às vezes me pergunto: Como eles sabem que não podem saber? Acredito que
a última coisa que desejam seria descobrir que o Evangelho é a verdade. Tal
atitude talvez seja a mais ímpia e obstinada que alguém pode assumir. Paulo
conheceu alguns dos “colegas” deles, homens “que aprendem sempre e
jamais podem chegar ao conhecimento da verdade” (2 Timóteo 3.7). E João
explica a razão de ser dessa posição. Diz ele: “... os homens amaram mais as
trevas do que a luz; porque as suas obras eram más” (João 3.19). O fulgor da
glória e da luz que caem sobre os que creem pode ser mais forte do que os
impuros conseguem suportar.
Todavia, ninguém jamais veio a Cristo estando limpo, porém, depois do
encontro com o Mestre, todos seguiram o seu caminho purificado.
CAPÍTULO VINTE
Fé no Nome de Jesus
Os deuses dos pagãos eram sempre algo à parte na vida dos seus seguidores,
que tinham medo deles e não confiavam em suas ações. Para Israel, contudo,
confiar no Senhor era a sua opção de vida. Para os cristãos, entretanto, Jesus
Cristo representa muito mais do que isso. Para eles, confiar no Senhor é o
sangue espiritual da sua alma, que circula, constantemente em suas veias.
Os deuses foram sempre parasitas, exigindo muito, mas não dando nada. Em
contrapartida, o Senhor só nos pede amor e, em troca, concede-nos todas as
coisas.
Quando alguém acredita no nome de Jesus, ela não se torna apenas “crente”,
mas “nova criatura” em Cristo (2 Coríntios 5.17). Quando cremos n’Ele,
somos reposicionados – acontece mais ou menos uma troca, ou transferência,
de personalidade. Não somos apenas sócios de um clube que se levantam
para serem contados como seguidores de Jesus; fomos inseridos naquilo que
seu nome representa. Vivemos n’Ele, dentro de tudo o que Ele fez; aqueles
que creem são transformados em algo que procede do que Cristo é. Hoje
ainda não temos pleno conhecimento do que esse “algo” representa.
“Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que
haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como Ele é.”
1 João 3.2
Alguns efeitos da fé já são evidentes. A fé torna a vida racional, ela traz
sentido. A experiência é libertadora, exatamente como acontece com órfãos
quando encontram seus pais, ou como quando um condenado recebe perdão
de sua culpa, ou como a luz que dissipa as trevas. A eternidade vazia, escura
e sem fim é cheia da aquecedora luz do sol.
De Jeová a Jesus
O mundo pergunta-se: “O que pode existir de tão especial em um nome?
”Vários capítulos deste livro respondem a essa importantíssima indagação. E
aqui temos o nome que está acima de todo nome – Jesus. Então, o que existe
no nome de Jesus?
Vamos começar nossa pesquisa olhando novamente para o grande nome de
Deus, o Senhor (Yahweh – Jeová). O povo de Israel considerava esse nome
sagrado e tremendo. No começo, ele era apenas um título, como um livro
selado; eles não sabiam o que havia dentro dele. Ele guardava o mistério mais
precioso de todo o Ser divino, um segredo santo. O próprio Moisés teve de
perguntar quem Ele era; e a resposta de Deus foi: “EU SOU O QUE SOU”
(Êxodo 3.14). O que Ele era ainda precisava ser revelado.
Todavia, o Senhor “manifestou os seus caminhos a Moisés e os seus feitos
aos filhos de Israel” (Salmo 103.7). Então, com “preceito sobre preceito...
regra sobre regra” (Isaias 28.10), o Senhor foi mostrando a sua glória a Israel;
nomes foram acrescentados a nomes – sobre os quais falamos em outro
capítulo – mas o Seu nome mais sublime ainda não havia sido revelado. E
esse não seria um mero título, ou um mistério, mas uma importante
explicação. Ele não seria revelado até que fosse compreendido em toda a sua
maravilha, altura, e profundidade. E este nome é Jesus.
“Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está
acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos
céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2.9-11
Ele é a Própria Mensagem
O Evangelho não é uma doutrina teológica. Marcos 1.1 o denomina de
“Princípio do Evangelho [boas novas] de Jesus Cristo, Filho de Deus”. Não
se trata de algumas boas novas a respeito d’Ele. Afinal, é possível receber
boas notícias sobre pessoas – sobre o sucesso que gozam, sua boa sorte. Mas
eles mesmos não constituem a notícia. Jesus, por outro lado, é notícia e não
apenas história. Ele é a notícia mais viva que há neste mundo. E Ele gera
notícias a todo o instante. Ele não é apenas uma personagem histórica, mas a
Pessoa mais importante de nossos dias e de todos os tempos.
O Evangelho, as boas novas, são as boas novas de Jesus; Ele é as boas novas.
Temos fé n’Ele, não apenas no que Ele disse, ou nas doutrinas sobre Ele, mas
n’Ele mesmo. Cristo não é uma proposta teológica, mas nosso grande Amigo.
Muitos livros são escritos apresentando Deus como “o fundamento do nosso
ser”. Entretanto, Ele não é apenas isso. O Jesus que milhões conhecem é o
Salvador que transforma a nossa vida com Sua mão viva estendida para nos
consolar e estimular.
O livro de Hebreus, em suas primeiras palavras, diz assim: “... Deus… nos
falou pelo Filho” (Hebreus 1.1,2), que significa: falou conosco sobre Ele
próprio e, imediatamente continua falando a respeito de quem Ele é. A
mensagem de Deus para nós é sobre Ele mesmo, não apenas sobre moral, ou
sobre Seus objetivos finais. A Bíblia não é para interesses filosóficos e
intelectuais, mas para criar uma situação de amor. Tudo está n’Ele; Ele é o
Princípio e o Fim, a fonte da realidade. O Seu nome, Jesus, sintetiza milhões
de bênçãos. Jesus era um “Mestre vindo da parte de Deus” (João 3.2), como
Nicodemos percebeu; os Seus ensinamentos sempre centralizam-se n’Ele e
remetem a Ele. Ele disse: “Examinais as Escrituras… e são elas que dão
testemunho de mim” (João 5.39). A sua mensagem era: “Vinde a mim…
Aprendei de mim” – ou seja: “Conheçam a Mim”.
Jesus disse: “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14.9 – Edição Revista e
Corrigida). Se o Pai se parece com Jesus, então Deus é mais maravilhoso do
que qualquer pessoa jamais pensou ou leu a respeito. Israel tinha um
tremendo conhecimento de Deus, mas Jesus elevou isso ao sétimo céu.
Temos falado sobre os nomes do Senhor, como Jeová Jiré, mas o nome de
Jesus é mais sublime do que qualquer outro nome, porque nele estão
incluídos todos os demais. “... abaixo do céu não existe nenhum outro nome,
dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos
4.12).Tudo o que os nomes Jeová declaram a respeito de Deus, Jesus é.
Hebreus 1.3 afirma: “Ele [Jesus], que é... a expressão exata do seu [Deus]
Ser”.
E se Deus é como Jesus, então o Todo-Poderoso não é um monólito
insensível, que habita um céu distante. Ele não pode ficar descansando no
Seu trono, enquanto as coisas estiverem erradas aqui na terra; Ele precisa vir
até nós e fazer alguma coisa para resolver a situação. Jesus é Deus em ação,
exatamente como o é o Espírito Santo. Quando o primeiro mártir cristão
levantou os seus olhos ao céu, ele viu Jesus em pé, à destra de Deus. E o
Mestre não estava sentando (Atos 7.56)! O Senhor havia se levantado para
receber Seu amado servo.
Quando Jesus veio, Ele revelou a glória de Deus. Nesta terra a glória de um
homem consiste no que ele é ou faz. Por exemplo, a glória de um pintor seria
um maravilhoso quadro; a glória de um engenheiro seria uma grande ponte.
A glória de Deus são Suas obras, e não apenas a Shekiná (a chama Divina
que ilumina o Santo dos Santos), ou o assustador espetáculo do Monte Sinai
tremendo (Êxodo 19.18). A sua glória foi o Seu amor e a obra que ele
realizou, a Sua abnegação e o Seu sacrifício, a Sua humildade e obediência.
E, acima de tudo, para Ele a cruz foi a Sua glória, como Ele diz nos últimos
capítulos do Evangelho de João.
Deus Filho significa também Deus Pai. Ele não é um Ser inescrutável,
envolvido apenas em si mesmo, um Deus sozinho. Ele é uma maravilhosa
trindade, três vezes santa, triunidade, em eterna interação, eterna comunhão,
amor sem fim e comunhão que irradia amor por toda a Criação. Quando
acreditamos no nome de Jesus, acreditamos em tudo o que isso envolve. Até
mesmo uma criança pode usar Seu nome para dar início a grandes
acontecimentos.
Um fato é demasiado maravilhoso para não ser verdadeiro, isto é, o Filho de
Deus tornou-se Filho do Homem. Aos olhos dos homens, isso é,
simplesmente, impossível. E se é algo em que as pessoas nem acreditam,
certamente não poderiam inventar. A menos que isso realmente tivesse
acontecido, jamais poderia ter chegado à mente de alguém. Ninguém que não
tivesse ouvido sobre isso alguma vez, poderia pensar ou sonhar a respeito.
Assim, para que se pudesse falar, primeiro teria de ter acontecido. A verdade
está além do nosso entendimento, por isso, a única coisa que podemos fazer é
recuarmos maravilhados e em adoração. Foi uma experiência unicamente de
Deus; não temos como participar dela. Contudo, mais tremendo do que Ele se
transformar em Homem é o fato de Ele ter morrido como Homem. Deus teve
de passar pela experiência da morte para que, Aquele que “... foi coroado de
glória e de honra... provasse a morte por todo homem” (Hebreus 2.9. A que
esse acontecimento foi semelhante, os mortais nunca poderão saber.
Diante desse mistério todo, o Imortal morre, Quem pode explorar Seus
notáveis desígnios? Em vão o primogênito dos serafins tentam anunciar as
profundezas do amor divino. Diante desse mistério todo, deixe a terra adorar,
E a mente dos anjos não perscruta mais. O Jesus em Quem acreditamos.*
As pessoas não são capazes de apreciar o tremendo privilégio de acreditar e
orar no nome de Jesus, a menos que considerem o que está por trás desse
Nome e que transparece em ambos os Testamentos. O Antigo e o Novo
Testamento explicam um ao outro. Como duas testemunhas, eles confirmam
o que esse Nome é. A importância não está na palavra Jesus propriamente
dita, mas ela é a palavra-código da ação de Deus sobre a terra e, ainda existe
muito mais para ser feito e conhecido.
O nome Jesus foi escolhido antes mesmo que o Senhor viesse à terra (Mateus
1.21). Esse era, porém, um nome comum naquela época – outros também
tinham o nome Jesus (Atos 13.6) ou Josué. Para ser um de nós, e um conosco
(Emanuel), Jesus assumiu uma natureza humana e um nome também
humano. Isso o mostrava como um membro da nossa raça. Ele pertence a
nós, aqui, e voltará para nós, para o lugar onde Ele nasceu. Ele é Cristo Jesus,
homem… ontem e hoje... o mesmo e o será para sempre (1 Timóteo 2.5;
Hebreus 13.8).
Qual o Porquê Deste Nome?
A palavra “nome” aparece mais de mil vezes nas Escrituras Sagradas, o que
nos mostra que os nomes tinham grande importância espiritual. A Bíblia
apresenta uma lista de sete razões por que as pessoas recebiam seus nomes, e
várias delas estão por trás da nome ação de Jesus.
Ele recebeu o Seu nome:
• • para cumprir a profecia;
• • para conferir-lhe uma identidade humana;
• • para ligar o homem a Deus;
• • para representar a salvação como uma obra de Deus;
• • para significar uma nova compreensão espiritual;
• • e porque “Ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mateus 1.21).
Alguns nomes eram verdadeiras profecias. Por exemplo, o profeta Isaias usou
sentenças inteiras para dar nomes aos seus filhos. Um chamava-se Maher-
Shalal-Hash-Baz, que significa Rápido-Despojo- Presa-Segura (Isaias 8.1,3).
O nome de Jesus, todavia, não era uma profecia, mas o cumprimento de uma.
Nele, toda profecia alcançou o seu ponto crucial e foi consumada. Ele era
Aquele que havia de vir (Lucas 24.25-27). O primeiro nome no Novo
Testamento é Jesus, porque o Novo Testamento trata-se do cumprimento da
profecia.
* Hino de Charles Wesley.Tradução livre.
Quando uma pessoa sofria alguma mudança, o seu nome também poderia ser
mudado. Abrão se tornou Abraão, Jacó passou a ser Israel, e Noemi disse:
“Chamai-me Mara” (Rute 1.20), pois isso refletia melhor a sua nova
condição. Saulo de Tarso – o homem cujo herói era o orgulhoso rei Saul,
transformou-se no humilde Paulo, quando se encontrou com Jesus. Todavia,
o nome de Jesus nunca se modificou; nenhuma experiência trouxe-lhe
qualquer mudança. Ele veio para salvar as pessoas dos seus pecados, e Ele
continua fazendo exatamente isso. Porém, embora Seu nome nunca tenha
sido alterado, dois títulos lhe foram acrescentados. Depois do Seu triunfo na
cruz, Pedro anunciou em Jerusalém: “Este Jesus... Deus o fez Senhor e
Cristo” (Atos 2.36).
Jesus é o Seu nome pessoal.
Senhor é a Sua posição e o Seu ofício divino.
Cristo é a Sua missão como Aquele ungido para libertar os cativos (Isaias
61.1).
Jesus é um nome hebraico, Joshua (Yehosua abreviado para Yeshua), que
significa “o Senhor (é) salvação”. É isso o que está subentendido em Isaias
62.11:“Dizei à filha de Sião: Eis que vem o teu Salvador”, ou “o seu Yeshua
está chegando”. Jesus significa Salvador. Qualquer pessoa que falar sobre
Jesus ou sobre o cristianismo sem mencionar a salvação, estará dizendo
asneiras. Afinal, Jesus significa salvação. O coração vivo da fé cristã é “que
mediante Jesus lhes é proclamado o perdão dos pecados” (Atos 13.38 – NVI),
isto é, por intermédio do Seu nome. Não há salvação em nenhum outro nome
(Atos 4.12).
Acreditar no Seu nome é o mesmo que acreditar n’Ele, porque o Seu nome
sintetiza o que Ele é. Nos Salmos, o nome do Senhor é mencionado nos
mesmos termos que Ele próprio. Salmo 145.1 e 2 diz: “Exaltar-te-ei, ó Deus
meu e Rei; bendirei o teu nome para todo o sempre. Todos os dias te bendirei
e louvarei o teu nome para todo o sempre”. Veja também Salmos 20.1;
113.1-3; 115.1.
A fé no nome de Jesus ativa em nós a Sua paixão e morte; ela nos “conecta”
com a “obra consumada na cruz”. E o que Jesus fez em nosso favor é operado
em nós na prática. Tornamo-nos aquilo que Ele fez. Seu labor deu à luz filhos
espirituais – permitiu essa troca espiritual, ou transferência dinâmica dos
crentes para a posição que temos em Cristo.
“Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que
nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente
com Cristo, – pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e
nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” Efésios 2.4-6 Somos
revestidos com a Sua justiça. “O Senhor é a nossa justiça” (Jeová Tsidkenu).
(Jeremias 23.6 – NVI.)
Agora vamos ver a fé em nome de Jesus na oração; entretanto, precisamos
entender que ela tem outras implicações muito mais abrangentes. Somos
exortados nos seguintes termos: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja
em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus
Pai” (Colossenses 3.17). Cristianismo não se resume apenas em oração e
Bíblia; significa termos bondade, atitudes de amor, e também nos
preocuparmos em levar nosso próximo para perto de Deus. Será por essas
atitudes práticas de bondade que as nações serão julgadas, como disse Jesus
em Mateus 25. Aqueles que se vangloriam das suas obras e realização de
milagres serão banidos da Sua presença, ou não serão reconhecidos, como 1
Coríntios 13 nos adverte.
Todavia, no momento estamos em busca da fé, e nos voltamos para as
Sagradas Escrituras, pois “a fé vem pelo ouvir, e o ouvir vem pela palavra de
Cristo” (Romanos 10.17 – Sociedade Bíblica Britânica). A Bíblia não foi
escrita para as pessoas que possuem uma grande fé, mas para aquelas que não
têm nenhuma; ela está aqui para criar em nós confiança e edificar-nos neste
caminho de vital importância.
A Oração da Fé em Nome de Jesus
Jesus ensinou os Seus discípulos a orar (Mateus 6.6-15; Lucas 11.1-4); Ele
nos deu o que costumamos chamar de “a Oração do Pai Nosso”. Uma coisa,
entretanto, está notadamente faltando ali: Ele não começa e nem termina com
a frase: “em nome de Jesus”. Ele diz: Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome (Mateus
6.9 – Edição Revista e Corrigida). Todavia, em outros lugares Ele enfatiza a
oração feita em Seu nome (João 14.14, 16.23, 24, 26). Somos instruídos a
agir da seguinte maneira: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em
ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”
(Colossenses 3.17).
Assim, podemos ver claramente que a frase “pedimos em nome de Jesus”,
não é essencial. Usar essas palavras é uma afirmação sobre o nosso próprio
coração. Nós mesmos estamos em Cristo, e falamos dessa maravilhosa
posição. As meras expressões não transmitem nenhum poder, e nem eficácia
alguma às nossas orações, ou ao nosso ministério. A oração, inclusive, pode
ser silenciosa; ela pode vir em forma de uma lágrima, um suspiro. Deus ouviu
o gemido de Israel no Egito, embora o Seu povo tivesse esquecido o Seu
nome. Pedimos a Jesus porque, quando estamos n’Ele, acreditamos em Seu
nome.
Quando ministramos a Palavra ou impomos as mãos sobre o doente, o
fazemos por causa de Cristo, porque estamos fazendo o que Ele faria.
Entretanto, damos um passo mais dinâmico; fazemo-lo não apenas em Seu
nome, mas junto com Ele, revestidos d’Ele, sendo um com Ele. É isso o que
“no nome de Jesus” significa.
O Novo Privilégio
Estar em Deus era algo desconhecido até que Cristo veio. Os santos do
Antigo Testamento, homens como Abraão, José, ou Jó nunca, nem mesmo
remotamente, falaram como estando em Deus. Isso era um tipo de intimidade
que Israel jamais poderia se atrever a mencionar. O Senhor era o grandioso
Deus que habitava a eternidade, em cuja presença as pessoas tremiam.
Provérbios 18.10 diz que “Torre forte é o nome do Senhor, o qual o justo se
acolhe e está seguro”, todavia, isso é apenas uma figura de linguagem. Não
havia nenhuma doutrina por trás disso, ensinando que a vida do homem
estivesse oculta com Cristo em Deus.
E ninguém orava: “Pedimos em Teu nome”, ou “Que isso seja feito em Teu
nome!” Aqui está um famoso exemplo do modo como as pessoas oravam,
trata-se do final da grande oração de intercessão e súplica de Daniel, em favor
de Israel, registrada no livro de Daniel, no capítulo 9: “Ó Senhor, ouve; ó
Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age; não te retardes, por amor de ti
mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu
nome” (v.19).
Daniel não orou em nome do Senhor; orou apenas “pelo” nome. Sua posição
diante de Deus era a de um homem justo pelo que ele mesmo era, por sua fé,
mas não era a justiça do Redentor. Ele foi ouvido de modo misericordioso,
com a graça, como um “homem muito amado” (Daniel 10.11).
Em Atos 10.4, um mensageiro de Deus disse o seguinte a Cornélio, um
centurião romano: “As tuas orações e as tuas esmolas subiram para memória
diante de Deus”. Quando Cornélio ouviu o Evangelho, o Espírito Santo foi
derramado sobre ele e sobre todos os que estavam com ele, e imediatamente
eles foram elevados a uma relação com Deus totalmente diferente e, também
foram batizados no Espírito Santo. Agora Deus estava neles, e eles estavam
em Deus. Essa, sim, era uma posição dinâmica, e não simplesmente uma
figura de linguagem.
As pessoas do Antigo Testamento pleiteavam sua inocência ou bondade, isto
é, elas vinham a Deus em seu próprio nome, confiando em suas próprias
virtudes como base para serem ouvidas. Por exemplo, o Salmo 17.1-3 diz:
“Ouve, Senhor, a causa justa, atende ao meu clamor, dá ouvidos à minha
oração, que procede de lábios não fraudulentos. Baixe de tua presença o
julgamento a meu respeito; os teus olhos veem com equidade. Sondas-me o
coração, de noite me visitas, provas-me no fogo e iniquidade nenhuma
encontras em mim; a minha boca não transgride.”
E o Salmo 26.1, 6 declara:
* Tradução livre do original: Work and pray, live on hay, you’ll get pie in the
sky when you die. (Nota da tradutora.)
E se somos crentes, nada pode mudar esse fato, não importa o que possa nos
atingir e ferir. Jesus disse que os Seus seguidores deveriam dar a vida por
Ele, mas também disse que “não se perderá um só fio de cabelo da vossa
cabeça” (Lucas 21.18).Você – o seu eu verdadeiro, acredita em Deus. A
superfície do mar pode ficar agitada, mas as profundezas permanecem
calmas. A fé opera independentemente de reações emocionais; ela
secretamente concede força à nossa mente e nos proporciona paz de espírito.
Não precisamos andar por baixo; andamos por cima. A fé nos liberta das
garras do medo.
A fé não deve ser exercitada apenas aos domingos, mas durante a vida toda;
ela não serve somente para transportar montes (Mateus 21.21). A fé é para
toda a nossa vida. Se crermos em Deus, Ele nos dará graça para viver, pois “o
justo viverá pela fé” (Gálatas 3.11). A fé é o “algo a mais” da vida.
A Parousia
E por falar em Sua “vinda”, tanto a que se refere à sua presença atual,
permanente, quanto à sua segunda vinda, aqui está algo mais que me
emociona e que, espero, também emocionará o leitor: o Novo Testamento
confere um nome especial à sua vinda – é Parousia. Em 1 Coríntios 15.23 e
Mateus 24.3 encontramos essa palavra traduzida para as nossas Bíblias como
sendo a Vinda de Cristo. Entretanto,“parousia”, a palavra bíblica grega
significa “presença”. Ele se tornará presente; a “presença de Deus” encherá
toda a terra quando Ele chegar. E isso será um acontecimento notável – não
apenas o rebrilhar de um relâmpago, visto por toda parte mas logo apagado,
mas como se toda a terra se tornasse como o “cenáculo” no dia de Pentecoste.
Todavia, a palavra “presença” não é usada no Antigo Testamento hebreu. Em
vez disso, existem outras palavras, tais como “rosto”. “Senhor, levanta sobre
nós a luz do teu rosto” (Salmo 4.6). A transcendência de Deus, ou a grandeza
celeste, parecia ser o pensamento prevalente, em vez da iminência, da
proximidade. Ele brilhava sobre eles do céu. Eles não pensavam na Sua
presença como os cristãos fazem hoje, embora acreditassem que Ele estivesse
ao lado deles, possivelmente na pessoa de um anjo.
Entretanto, hoje temos apenas uma vaga ideia de “parousia”. A presença de
Deus está conosco quando Ele cumpre a promessa de estar presente onde dois
ou três se reunirem (Mateus 18.20). O senso de bênção e o gozo desses
momentos, que em certas ocasiões, parecem-nos mais fortes do que em
outras, ajudam-nos a crer na grande consumação da fé que ainda virá quando,
então, a Presença do Senhor encherá a terra e o céu.
Deus disse a Moisés que ele não poderia ver a Sua face, isto é, a glória da Sua
presença. Entretanto, Moisés falou com Deus, a Bíblia diz: “Falava o Senhor
a Moisés face a face, como qualquer fala a seu amigo” (Êxodo 33.11).
Independente de como tenha sido esse acontecimento, não era a plenitude da
glória de Deus. Na verdade, quando Moisés disse: “Rogo-te que me mostres a
tua glória” (Êxodo 33.18), o Senhor disse-lhe que era impossível para uma
pessoa permanecer viva diante da Sua presença. Contudo, [Deus]
“resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da
glória de Deus, na face de Cristo” (2 Coríntios 4.6), embora “agora, vemos
como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face” (1 Coríntios
13.12). Uma das últimas grandes promessas de Deus na Bíblia está registrada
em Apocalipse 22.4: “contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome
dele”. Esse é o cumprimento da promessa de Cristo: “Bem-aventurados os
limpos de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5.8).
E essa é a grande esperança. Não é simplesmente o fato de que viveremos
para sempre, ou que a terra será o nosso paraíso. Quem iria querer viver
mesmo nos Alpes Suíços por um período de um milhão de anos? A nossa
expectativa é ver a face gloriosa e radiante do nosso Senhor Jesus Cristo, a
qual nem o próprio Moisés pôde ver. Nós O veremos em toda a Sua glória.
Área de Radiação
Em nossos dias, a presença de Cristo é como uma área de radiação – não uma
radiação que contamina, nem radioativa – mas uma radiação plena de vida de
ressurreição, uma energia que edifica nossa vida ao passar em nós. Estamos
constantemente em Sua presença, não apenas quando estamos orando. E Ele
deixou isso bem claro quando prometeu: “De maneira alguma, te deixarei,
nunca jamais te abandonarei” (Hebreus 13.5). Isso não se refere a uma glória
ainda por vir, mas mesmo agora não é uma presença comum. Muitas vezes,
quando estou pregando em nossas grandes cruzadas de pregação do
Evangelho, estou consciente de Jesus Cristo bem perto de mim. É como se eu
O visse andar da plataforma em direção à multidão, em qualquer lugar que as
pessoas estendem a mão para tocar n’Ele. Ele operou e opera maravilhas de
salvação, restauração e cura.
Quando a nossa fé aumenta, temos uma sensação da Sua presença que
nenhum contato humano poderá jamais superar. Um amigo pode estar
conosco e até nos abraçar, entretanto, a presença de Cristo significa que Ele
se derrama em direção a nós, sobre nós, penetrando todo o nosso ser com um
efeito ativo e dinâmico, quer percebamos, ou não, isso.
Deus Não Faz Apenas Visitas
Jesus nunca usou uma linguagem como a de alguém que está apenas de
passagem. Ele disse: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu
nome, ali estou no meio deles” (Mateus 18.20). Ele não disse: “ali estarei”,
mas “ali estou”, indicando permanência, como no caso de quando Ele disse:
Eu Sou o que Sou” (Êxodo 3.14). Não precisamos esperar por Ele, afinal, Ele
já está aqui, ativo, esperando por nós. Deus nunca chega como um visitante, e
jamais diz: “Oh, estou vendo alguns crentes orando; acho que vou descer até
lá e ficar com eles.” Não é Ele que vem a nós, nós é que vamos até Ele.
Usamos a expressão “visitação de Deus” como se ele viesse à semelhança de
um furacão, ou como se ele estivesse por acaso passando por perto e
resolvesse marcar presença entre nós por um ou dois dias como um
redemoinho ou coisa parecida. Não sei de nenhuma passagem bíblica que
apoie essa ideia. Deus nunca fala dessa forma, e nem promete algo assim.
Jesus disse que quando o Espírito viesse, Ele estaria para sempre conosco,
como o sol que brilha constantemente, sempre no zênite. O Senhor está ali –
Ele é o nosso Jeová Shamá (Ezequiel 48.35).
Então, o que são essas experiências que temos quando parece que recebemos
uma visitação do Senhor? Talvez não tenha nada a ver com uma questão de
“parecer”. A verdade é que isolamos a nós mesmos e nos protegemos da Sua
vinda. Levantamos como que um para-brisas, apagamos o Espírito, e
bloqueamos o Seu acesso. Temos desejos, os quais não concordam com a Sua
vontade. Volta e meia ouvimos as pessoas falarem que estão lutando contra
Deus para saberem a vontade d’Ele, todavia, isso nunca é necessário. Na
verdade, o que elas estão fazendo é lutando contra si mesmas, tentando fazer
com que a vontade de Deus venha a ser a mesma que a sua. Lutamos contra
Deus por aquilo que queremos, na esperança de que Ele nos dê a Sua
aprovação.
Vamos dar mais uma olhada neste conhecido verso de Apocalipse 3.20, que
diz o seguinte: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e
abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”. As
palavras gregas aqui são: “Entrarei a ele”. Agora, deixe-me explicar que a
palavra “a” aqui é especial (do grego pros). Ela sugere a ideia de um
“movimento em direção a”, e pode ser traduzida por “com”. Quando ouvimos
Cristo batendo, e Lhe abrimos a porta do nosso coração, Ele vem ficar
conosco.
No conhecido primeiro versículo do Evangelho de João, ele diz: “o Verbo
estava com Deus”; vemos aqui a mesma preposição especial (pros) sendo
usada. A palavra (verbo) estava “com” Deus. Isto é, há sempre um constante
movimento de comunhão ativa em Deus, dirigido em direção a Ele e
movendo-se n’Ele infinitamente.
Essa é uma imagem de Deus como um glorioso Ser vivo, Pai, Filho, e
Espírito. Denominamo-Lo, mas nunca O entendemos, e não entenderemos até
que O vejamos. E, de fato, isso deve significar algo muito belo e
maravilhoso. Podemos pensar em duas gloriosas fontes de luz, eternamente
correndo em direção uma à outra; cada uma se perdendo dentro da outra.
Aliás, devemos dizer três cascatas, já que o Espírito Santo também está nessa
eterna e gloriosa tripla fonte de vida. Habitar nessa presença é a recompensa
final da fé. Acreditemos nisso e, finalmente, alcançaremos.
É isso o que estamos querendo dizer quando falamos que Deus está
“conosco”. A ideia bíblica é de “comunhão”. Jesus orou: “... que todos sejam
um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em
nós... para que sejam um, como nós o somos” (João 17.21,22). A Bíblia fala
de “comunhão”, um com Ele. Trata-se de uma reação mútua, uma unidade
em amor, como a que o Pai tem com o Filho, por intermédio do Espírito
Santo. O mesmo Espírito que é a ligação na Divindade vem para nos unir ao
Pai e ao Filho.
Em João 14.18 Jesus também diz: “voltarei para vós outros”. Essa afirmação
tem força de tempo presente: “estou vindo” – trata-se de algo que está
acontecendo todo o tempo. E Jesus está dizendo mais do que isso, já que Ele
incluiu o Pai e o Espírito Santo. Em João 14.23 ele também diz: “Se alguém
me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e
faremos nele morada”. Essa vinda presente está acontecendo em todo o
mundo – o Espírito Santo está caindo como a chuva temporã e a serôdia,
juntas, sem cessar. A verdadeira recompensa da fé não é adquirir riquezas ou
bênçãos materiais de Deus, mas ser um com Ele e ver a Sua glória.
Precedentes Divinos
O que Deus nos diz a respeito de Si mesmo é uma profecia do que Ele fará.
Todos os atos de Deus são amostras ou ensaios para as Suas realizações
normais. O que Ele nos tem mostrado, pela Sua própria e espontânea
iniciativa, é para estimular a nossa fé para perguntarmos e crermos.
Aqui está um exemplo bíblico. Os dois profetas operadores de milagre, Elias
e Eliseu, ambos ressuscitaram o filho de uma mulher (1 Reis 17 e 2 Reis 4).
Esses são os dois grandes milagres de cura do Antigo Testamento. E,
aproximadamente, setecentos anos depois, Jesus estava na mesma área e fez a
mesma coisa, levantando da morte o filho de uma viúva na entrada da cidade
de Naim (Lucas 7).
Agora observemos algo muito significativo com relação a esses milagres.
Além de os três – Jesus, Elias e Eliseu – ressuscitarem esses filhos, eles os
devolveram às respectivas mães. Isso foi uma espécie de “marca registrada”,
de “assinar em baixo”. Esse ato de ressuscitar um jovem e devolvê-lo à mãe –
e não ao pai – demonstrou que era o mesmo Senhor, operando da mesma
forma de antes. “Da mesma forma de sempre, o Senhor realiza sua obra; da
mesma forma de sempre.” O fato de haver se passado sete séculos não fez
diferença para Ele. Assim também, esses vinte séculos transcorridos não são
problema para o Senhor. Ele opera maravilhas na Terra porque se acha em
“Seu” território, fazendo o que já fazia.
Agora podemos considerar a questão da fé; ela não se sustém por si só e
permanece apenas ela para sempre. A fé dá início à ação, é como que um
pontapé inicial. Ela abre a porta, solta as velas, limpa o convés e prepara o
caminho para Deus. Não é como se um dia Deus acordasse e começasse a
agir. Ele só espera que ousemos fazer, pela fé, o que Ele já revelou de Sua
benignidade, e o que Ele já prometeu no passado. João 5.17 declara: “Meu
Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.”
O que Deus era e fazia revela a vontade d’Ele para o presente e o futuro.
Cabe à nossa fé apossar-se disso, agir com base nisso e levar esse poder
divino operador de maravilhas a atuar no mundo. Os atos de Deus no passado
predizem o presente, isto é, se crermos.
E de eternidade a eternidade existe uma harmonia e uma consistência perfeita
em Deus. E foi essa eternidade que veio sobre nós, seres terrenos, e agora vai
nos levando consigo, no gozo de Deus.
Sem Geradores
O nosso Deus, que habita o céu, é a fonte desse poder. Pois teu é o reino, o
poder e a glória para sempre. Amém (Mateus 6.13). Na primeira campanha
evangelística registrada no Novo Testamento, Felipe, o evangelista, levantou-
se contra Simão, o qual praticava a magia e iludia o povo de Samaria,
“insinuando ser ele grande vulto; ao qual todos davam ouvidos, do menor ao
maior, dizendo: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande Poder”
(Atos 8.9,10). Simão ficou surpreso ao ver os milagres que Filipe realizava
no nome de Jesus, professou a salvação, foi batizado, e passou a acompanhar
Felipe.
Depois disso Pedro e João vieram a Samaria, impuseram as mãos nos
convertidos, os quais receberam o Espírito Santo em uma demonstração tão
poderosa, que o próprio Simão pôde testemunhar a experiência deles.
Contudo, o ex-mágico ambiciou de tal maneira a habilidade que os discípulos
tinham de impor as mãos sobre as pessoas, pelo Espírito, que ofereceu
dinheiro aos apóstolos para obter deles essa mesma capacidade. Entretanto,
Pedro repreendeu a Simão por pensar que o dom de Deus poderia ser
comprado com dinheiro. Foi a partir daí que a palavra “simonia” passou a ser
sinônimo da ação de fazer negócio com as coisas sagradas, como comprar
posição na igreja.
A história, porém, não acaba aí. Simão deseja possuir poder, e tanto fazia se
adquirido por intermédio da magia ou do dinheiro. Seu desejo é bastante
universal, e as pessoas lançam mão de muitos recursos com o propósito de
alcançar poder. O grande objetivo dos grupos de Nova Era é encontrar fontes
de poder, poder da mente, poder cósmico, força da terra, poder oculto,
utilizando-se de mil teorias e práticas. Infelizmente, também existem cristãos
que buscam o poder de Deus por meio de processos duvidosos.
Alguns Exemplos
Alguns pensam que o poder é gerado por intermédio de exercícios religiosos,
tais como oração, jejum, ou clausura. A ideia é de que quanto mais eles oram
e jejuam, ou quanto mais evitam as “coisas do mundo”, maior o poder
alcançarão. Por exemplo, espera- se que o poder esteja em razão diretamente
proporcional ao tempo gasto em oração; ou seja, duas horas proporcionam
duas vezes mais poder do que uma hora. Trata-se de um processo que gera
poder pelo esforço; maior o esforço, maior a corrente – o poder é em
proporção às horas gastas. Quanto Deus paga por hora? O poder é, portanto,
uma espécie de crédito para os cristãos; o grau de manifestação demonstra o
esforço empenhado. Quanto mais poder, mais admirável a pessoa – uma base
de causa e efeito.
Entretanto, não há nada disso nos ensinamentos de Jesus. Ele não disse que
seríamos atendidos por causa de nossas muitas palavra, não podemos medir
nossa eficácia pelo quanto falamos com Deus ou pela quantidade de tempo
que passamos com Ele. É óbvio que somos criaturas do tempo e, como tais,
devemos gastar tempo em oração; às vezes, existirão momentos em que
precisaremos de horas diante do Senhor até que nos sintamos satisfeitos.
Contudo, a oração medida pelo relógio, simplesmente, para mostrar quanto
tempo dedicamos a isso, não é um trabalho de fé, mas da carne. Um mês de
oração, sem que haja fé em nós, não é tão eficaz quanto cinco minutos com
ela. Nenhuma quantidade de tempo pode suprir a falta de fé. Afinal, isso é
uma questão de fé, não de tempo.
Alguns buscam forças através da meditação silenciosa. “Não faça nada, nem
mesmo pensar! Simplesmente abra a sua mente para qualquer coisa que
venha”, dizem eles. Contudo, “esperar” por qual- quer impressão que surge
na mente – uma voz, uma revelação, uma visão, ou vibrações espirituais, não
é oração e, sim, misticismo. Não há nada aqui que garanta que o que resultar
dessa “meditação” seja da parte de Deus.
Esse não é o jeito da Bíblia; revelação independente das Escrituras é como
age o falso profeta. Algumas pessoas atestam que Deus tem falado em sua
mente e eu concordo que Ele pode e faz; contudo, isso não acontece
simplesmente à nossa ordem e exigência. Essa insistência por conhecimento e
por uma direção mística e subjetiva só tem cooperado para a destruição por
toda a história, e foi a preocupação dos apóstolos por todo o Novo
Testamento. Foi isso o que deu origem ao islamismo, ao mormonismo, ao
budismo e a outras religiões que surgiram. A reivindicação por poder
espiritual precisa ser testada à luz da Palavra de Deus.
As pessoas têm a tendência de pensar que poder tem a ver com lugares ou
objetos sagrados; elas visitam relicários, procuram relíquias de santos, ou
mesmo tentam um contato físico com algum homem de Deus. Todavia, esses
mortos de tantos anos nunca acreditaram que um dia seus ossos poderiam
curar as pessoas, ou mesmo tinham plano de que curariam. A santidade dos
santos não impregnou suas roupas, nem qualquer outro objeto para que as
pessoas se beneficias sem deles. Suas relíquias não despejam graça, e nem
dão aos homens “uma mãozinha” na subida para o céu. A prática de
“peregrinações a lugares santos” para buscar alguma graça especial não é
encontrada no Novo Testamento, e isso é digno de nota. Os cristãos do
passado nunca acreditaram que, depois de mortos, poderes especiais
pudessem emanar deles. Seria como se fosse poder de segunda mão, uma
espécie de sobra vinda dos mortos. Por que não buscar o poder em primeira
mão? Se agirmos como os apóstolos agiram, receberemos o que eles
receberam. Pedro disse que Deus havia dado a toda a casa de Cornélio o
mesmo dom que os apóstolos receberam no dia de Pentecostes.“... Deus lhes
concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor
Jesus” (Atos 11.17). “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e
para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso
Deus, chamar” (Atos 2.39).
Não recebemos bênçãos por intermédio de contato físico. Assim, não somos
“infectados” pelo Espírito Santo e também não o recebemos por causa de
algum contágio; é o próprio Espírito que vem ao nosso encontro e faz Sua
habitação em nós. Ele vem quando é buscado diretamente de Deus, pela fé no
Nome de Jesus.
Não é no misticismo que os discípulos do Senhor encontram poder; ele está
disponível na terra. Somos o templo do Espírito de Deus e Ele não precisa
ficar circulando em alguma área da nossa personalidade; Ele é real, e não a
nossa consciência, ou o subconsciente, nem tampouco o supraconsciente.
“Mas a justiça decorrente da fé assim diz: ‘Não perguntes em teu coração:
Quem subirá ao céu?’ Isto é, para trazer do alto a Cristo... Porém que se diz?
‘A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração’; isto é, a palavra da
fé que pregamos.” Romanos 10.6,8
A morte expiatória de Cristo e sua triunfante ressurreição nos legaram todo o
poder e ajuda divina que poderíamos precisar. Por 2.000 anos, Jesus provou
ser tudo o que Ele disse ser, e fez tudo o que disse que faria. Se formos a Ele
e pedirmos – e não ficarmos sentados dentro de alguma antiga construção de
pedra, esperando por ouvir alguma vibração, ou nos associarmos com uma
terceira parte, viva ou morta – Ele vai cumprir as Suas promessas e nos
revestir de poder.
Na verdade, a Bíblia não nos encoraja absolutamente a mantermos uma vida
religiosa inoperante. Pelo contrário, Ele nos manda ir e fazer o Seu trabalho;
então, e só então, o poder, a força, e tudo o mais de que necessitarmos nos
será dado.
O poder vem com a verdade; por isso, não há poder sem a Palavra. Se é para
o nosso cálice transbordar, então primeiro precisamos de um cálice, e a
Palavra de Deus é esse cálice. Ele não é uma energia dispersa ou perdida,
adquirida por intermédio de uma quietude e de uma meditação profunda.
Os místicos costumam falar sobre uma “nuvem do desconhecido” e uma
“escuridão da alma”; entretanto, Jesus disse que deveríamos ter
conhecimento, e não andarmos em trevas. Pessoas comuns dessa esfera
normal de vida conhecem a Jesus, e é a fé simples que eles têm que toca o
coração do Senhor, e não algum misterioso nível de espiritualidade
encontrado em algum lugar da atmosfera. Se buscarmos a Cristo, Ele descerá
até nós, em nosso nível humano, como criaturas de carne e sangue que
somos, e não como meros espíritos. E o Senhor jamais nos expulsa de sua
presença.
Vejamos o exemplo de Pedro. Ele teve uma revelação – que é uma forma de
poder. Como? O quê? Foi mais do que uma iluminação espiritual sobre algo
sem valor em particular; era sobre Jesus e Pedro, não ficou sentado como um
Buda, esperando para descobrir. Estava bem ali à sua frente, e Jesus lhe
revelou o sentido. Ele disse: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque
não foi carne e sangue que o revelaram, mas meu Pai que está nos céus.” O
Espírito Santo nos revela as coisas de Cristo, as quais são positivas, tais
como: a certeza da salvação, o senso da presença de Cristo, as palavras
suaves do Espírito Santo no mais profundo do nosso coração, os dons de
Palavra de Conhecimento, Sabedoria, e Profecia. Tudo isso são respostas de
Deus à nossa fé.
Deus não brinca de esconde-esconde conosco. Cristo disse: “Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”
(João 14.6). “... quem crê no Filho tem a vida eterna” (João 3.36). Ele não é o
Grande Desconhecido, mas o Deus que mandou Jesus para que O revelasse a
nós. Precisamos da Sua força, da Sua capacitação, do Seu estímulo; e para
isso, Ele revela a Si mesmo a nós. Ele não é uma voz desconhecida, ecoando
do além; quando O chamamos, Ele responde e age: Ele salva, guia e cura.
Podemos nos lançar nas Suas promessas, certos de que Seus braços sempre
estarão abertos para nos receber.
A soberba do homem é possuir poder independentemente de Cristo, e ser
como os deuses. Por exemplo, os que buscam poderes terrenos creem que são
parte do deus Gaia, que é o planeta Terra; eles dizem que absorvem as
energias da terra. Em sua forma mais básica o nosso pecado, o pecado da
humanidade, é nos colocarmos lado a lado com Deus, providos de luz e poder
próprios, de nossa própria glória, achando que somos auto-suficientes.
Deus é a própria fonte de poder, e somente pode ser encontrado pela fé em
Cristo. O Senhor Jesus é tanto o nosso Guia como o Caminho. “Porquanto há
um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus,
homem” (1 Timóteo 2.5). E Ele pagou um alto preço para isso. Ele conhece o
caminho porque Ele mesmo o trilhou, e explorou cada centímetro dele: do
céu até a terra, e da terra até ao inferno. Não podemos ignorá-Lo. Não é nem
necessário e nem prova de sucesso entender o nosso caminho até o poço de
água viva; Cristo, que é o Todo-Suficiente, abre-o para nós e diz: “Crê
somente”.
O livro de Hebreus nos traz uma maravilhosa ilustração sobre isso; ele fala do
corpo de Cristo, ou da Sua carne, que foi rasgado com chicote e pregos.
Depois, faz uma comparação com o véu que foi rasgado. Está escrito:
“Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue
de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é,
pela sua carne.” Hebreus 10.19,20
Aqui há uma alusão ao Templo judeu em Jerusalém. O Santo dos Santos
onde diziam que Deus habitava, ficava atrás de uma cortina bordada, de
aproximadamente 9 metros de comprimento e vários centímetros de
espessura. O Evangelho de Mateus conta-nos que no momento em que Jesus
foi crucificado e morto, o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a
baixo (Mateus 27.51); foi como se uma mão invisível tivesse rasgado aquela
cortina. Isso deixou o Santo dos Santos totalmente descoberto. Qualquer um
podia olhar lá dentro e ver onde a glória de Deus pairava.
E esta é a maravilhosa verdade cristã. “Não existe mais o véu; agora Deus
permite que entremos por um novo e vivo caminho”. A porta que dá acesso a
Deus não está mais fechada; não precisamos mais de lutar em busca da
entrada, procurando as dimensões do céu, esperando e desejando. Jesus disse:
“... batei, e abrir-se-vos-á” (Mateus 7.7).Tudo o que temos a fazer é bater nos
portões do céu, e as portas abrir-se-ão imediatamente; em seguida, Deus nos
diz:“Bem vindo!” Ele não é surdo, nem difícil de ser achado. Ele fez com que
o Seu Nome e o Seu endereço sejam bastante conhecidos.
Oh, as boas vindas que eu receberei lá, As quais no Seu amor Deus revelou!
Oh, toda a glória que existe lá, Recebida na Pessoa do Seu Filho!
O mundo tem lutado para criar a sua própria espiritualidade e para extrair
força de suas próprias fontes. Entretanto, qualquer qualidade de vida mais
elevada só pode ser encontrada na fonte, no Deus que nos criou, como Cristo
disse em João 10.10:“Eu vim para que tenham vida e a tenham em
abundância” , e o apóstolo João: “Nele estava a vida” (João 1.4).
Deus estabeleceu o Seu próprio caminho. O propósito de Cristo era guerrear
contra o diabo e destruir as obras malignas que nos bloqueiam o acesso ao
poder vivificador divino; e essa grande obra Ele realizou na Cruz. Seu último
brado foi: “Está consumado” (João. 19.30). A palavra grega usada aqui para
“consumado” é tetelestai, a qual não significa “terminado”, mas completado
ou concluído. O edifício estava pronto e a última pedra colocada.
Jesus passou pela morte para enfrentá-la e derrotá-la. Depois, vitorioso, Ele
saiu dessa experiência e subiu, por nossa causa. E para onde Ele foi? Para a
mão direita de poder. Ele foi visto vivo, como uma evidência da Sua vitoriosa
batalha na Cruz. E poucos dias depois da Sua ascensão, as bênçãos do céu
foram derramadas sobre homens e mulheres, e eles foram transformados. A
fé em um Cristo vitorioso mudou os discípulos de criaturas servis e caçadas
para ousados proclamadores do Evangelho, corajosos guerreiros da verdade.
Eles tinham fé na promessa de Cristo e, por isso, esperaram e esperaram
obedientemente pelo revestimento de poder. Eles não tinham a mínima ideia
do que isso seria, ou como aconteceria, mas abriram o coração, certos de que
Cristo não os desapontaria. Eles tiveram uma fé obediente, e essa fé
funcionou como as linhas de transmissão de uma central elétrica, levando a
corrente da glória divina às suas almas. O dia de Pentecoste foi o dia de
ativação das “centrais” da obra de Deus na terra.
Espiritualmente falando, podemos dizer que existem bons condutores e
também isoladores. Na eletricidade, o fio normal é de cobre. A
condutibilidade de chumbo praticamente não existe mais; seu fator de
resistência é 19, enquanto que o do cobre é de apenas 1.72. O ouro é um bom
condutor. A Bíblia compara a fé com o ouro: “... para que, uma vez
confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível”
(1 Pedro 1.7).Vejamos isso como uma parábola: uma fé de ouro é um
excelente condutor de vida espiritual, pois o contato é instantâneo. A
descrença, por sua vez, é como o chumbo: cinza, sem vida e pesado; não
consegue trazer nada do céu até nós. A descrença não traz bênção a ninguém,
não proporciona nenhuma vantagem ou benefício e nada faz de bom.
O livro de Atos, capítulo 10, exemplifica a condutividade da fé. Certo
centurião romano, chamado Cornélio, era um homem temente a Deus; ou
seja, um estrangeiro que se relacionava bem com a religião judaica – o mais
convertido que um gentio podia ser. Ele tinha muitas virtudes: ofertava com
generosidade, orava, era temente a Deus, reto, devotado, de boa influência e
respeitado por todos.
Entretanto, ainda faltava uma coisa na lista de seus atributos: fé. Como seus
mestres rabinos, ele poderia até pensar que a salvação fosse algo que
fizéssemos por merecer; por isso, uma vida de oração e caridade poderia, pelo
menos, ser adicionada ao favor divino. Religião era uma mera liturgia.
Então, um mensageiro enviado direto do céu entrou em sua casa. Aquele
corajoso soldado estava aterrorizado, mas o anjo lhe disse: “As tuas orações e
as tuas esmolas subiram para memória diante de Deus” (Atos 10.4). Deus
estava a par do que ele fazia, e tudo isso havia sido creditado a seu favor na
auditoria divina.
Entretanto, Cornélio ainda precisava de muito mais; e Deus tinha esse “muito
mais” para ele. O mensageiro simplesmente disse: “... envia mensageiro a
Jope e manda chamar Simão, que tem por sobrenome Pedro” (Atos 19.7).
Pedro tinha as chaves do Reino de Deus.
E Pedro foi e usou as chaves; isto é, ele pregou as boas novas de Cristo.
Cornélio havia reunido todos os moradores de sua casa para aquele momento.
Para o apóstolo esse episódio foi uma grande revelação; ele disse:
“Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo
contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é
aceitável” (Atos 10.34,35). Aceitável para quê? Somente para o deleite
divino? Essa é a verdadeira indagação.
Então Cornélio disse a Pedro: “... estamos todos aqui... prontos para ouvir
tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor” (v. 33). Assim Pedro lhes
disse exatamente as palavras que Deus queria que eles ouvissem. Ele deu a
Cornélio, e às pessoas que estavam ali com ele, um relato da obra, trabalho de
Cristo, ministério, morte e ressurreição, que continuam sendo a mensagem da
igreja para as nações hoje. Pedro colocou a chave na fechadura, e depois ele a
girou, dizendo: “Dele (Jesus) todos os profetas dão testemunho de que, por
meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” (v.
43).
A audiência de Pedro havia assimilado e crido em cada palavra sua; mas foi
quando ele mencionou a palavra “crê” que as portas do Reino foram
finalmente abertas. “... caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a
palavra. e (aqueles que vieram com Pedro) os ouvia falando em línguas e
engrandecendo a Deus (Vv. 44 e 46). Cornélio entendeu algo vital: não é o
que damos a Deus, mas o que Ele nos dá. O contato da fé foi estabelecido, o
circuito completado, e o poder do Espírito fluiu imediatamente.
Quando Jesus disse: “Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (João
5.40), Ele estava se referindo àqueles que tentaram outros caminhos. Naquela
ocasião específica Ele se referia a homens religiosos que pensaram que seus
estudos das Escrituras lhes concederia a recompensa de vida eterna. Eles
criam que poderiam preparar sua passagem para o Reino simplesmente por
causa do contato que tinham com os rolos das Escrituras, que ficavam na
sinagoga. Diariamente eles tinham nas mãos mais de 6.000 promessas de
Deus, e ainda assim não estavam em melhores condições do que os demais.
Essa é uma velha e muito conhecida história. Algumas pessoas criam os seus
próprios geradores e não se “ligam” à obra de Cristo. Enquanto isso, as
poderosas turbinas do céu poderiam suprir cada uma de suas necessidades de
poder. Podemos olhar algumas “boas obras” citadas nas Escrituras, e
aprender os segredos do crer e agir:
Orar. Tiago 1.6,7: “Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando;
pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada
pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor
alguma coisa.” Jesus disse: “Por isso, vos digo que tudo quanto em
oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco”
(Marcos 11.24).
Positivo e Negativo
Hebreus 6.1 e 9.14 nos fala sobre as obras mortas – isto é, boas obras que não
provêm da fé. As cerimônias mais importantes realizadas no Templo de
Jerusalém eram obras mortas, porque haviam se tornado apenas
comemorações rotineiras, que tinham muito pouco a ver com qualquer tipo
de crença, e eram negativas no que dizia respeito ao poder de Deus.
Certo pregador, quando pregava sobre “obras mortas”, contou a seguinte
história. Havia uma mulher que, toda vez que colocava um pernil para assar,
cortava-o na junta, pois sempre vira sua mãe fazendo isso. Um dia sua mãe
veio visitá-la e reparou no que a filha estava fazendo. Um tanto intrigada e
curiosa, perguntou-lhe por que fazia isso, e ouviu a seguinte resposta: “Mãe,
você sempre fez assim.” “É verdade...”, disse a mãe, “... mas somente porque
minha fôrma era muito pequena para caber todo o pernil”. “Obra morta” é
mais ou menos isso: seguir um ritual sem nem mesmo saber a razão dele.
Entretanto, Tiago 2.26 nos dá o outro lado da moeda – a fé sem obras é
morta. Não faz o menor sentido dizer: “Eu creio que o Senhor está comigo”,
se não vamos a lugar nenhum. Se nunca nos colocamos em uma posição em
que temos de depender unicamente de Deus, então a nossa fé não tem
significado. A nossa crença pode até ser muito positiva, mas será
absolutamente inútil se não agirmos de acordo com ela. É a fé que dá vida às
obras, assim como são as obras que manifestam a nossa fé.
Aquilo em que nós cremos pode permanecer imperceptível por muito tempo
em nossa mente e o coração, até que possamos demonstrar a nossa crença por
intermédio de algo que fazemos. O poder de Deus opera quando agimos
guiados pela fé. O famoso capítulo 11 de Hebreus foi escrito para mostrar
que pelo fato de os precursores da fé terem crido, eles ousaram. E há muito
mais exemplos disso na Bíblia. Certamente voltaremos a esse fato várias
vezes, à medida que prosseguimos.
Nossas palavras finais deste capítulo vêm de Hebreus 12.1,2:
“Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de
testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente
nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta,
olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em
troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da
ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.”