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Matéria:

Missiologia

Capacitação de Missionários
1

Nosso conteúdo
O conteúdo de nossos cursos foi pesquisado e adaptado à realidade de nossos
alunos. A nossa fonte bibliográfica tem como origem as melhores editoras
Evangélicas do Brasil.

Toda nossa grade Curricular é fruto dos árduos trabalhos de pesquisas, leituras,
digitalização, digitação, editoração e consulta teológica do irmão e evangelista Jair
Alves de Sousa.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser utilizada ou reproduzida - em qualquer


meio ou forma, seja mecânico, fotocópia, gravação etc. - nem apropriada ou
estocada em banco de dados sem a expressa autorização da Escola de
Capacitação Bíblica (ECB).

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Sumário 2
Introdução ............................................................................................................................................... 3
Lição 1 – Motivos para o nosso esforço Missionário .............................................................................. 6
Lição 2- O pai das missões modernas ................................................................................................... 10
Lição 3- Missões Urbanas ..................................................................................................................... 12
Lição 4 - Missões Transculturais ............................................................................................................ 15
Lição 5 - Compromissos indispensáveis ao missionário ........................................................................ 20
Lição 6 - Visualizando o campo Missionário ......................................................................................... 26
Lição 7 - O preparo para ser Missionário .............................................................................................. 28
Lição 8 - A liderança e a Igreja com visão missionária .......................................................................... 31
Lição 9 - Todos podem fazer missões.................................................................................................... 39
Lição 10 - Implantando igreja como parte da tarefa missionária ......................................................... 44
Lição 11 - Paulo, o maior missionário do Cristianismo. ........................................................................ 48
Lição 12 - Estatística da Perseguição aos Cristãos ........................................................................ 50
Lição 13 – Síntese da História de Missões............................................................................................. 53
Conclusão .............................................................................................................................................. 63
Fontes Bibliográficas ............................................................................................................................. 64
Introdução 3
O dicionário teológico da CPAD define o termo ―missiologia‖ como sendo ciência que
tem por objetivo o estudo do cumprimento da Grande Comissão que o Senhor Jesus
entregou à sua Igreja. A missiologia dedica-se, principalmente, ao caráter
transcultural da tarefa evangelizadora. Já a palavra ―missão‖ [Do lat. missio] significa
Transmissão consciente e planejada das Boas Novas de Cristo além das fronteiras
nacionais e culturais.

OBJETIVO DA MISSIOLOGIA: A missiologia prepara pessoas, ensinando-as para


obter ajuda através das escrituras sagradas, trabalhando assim junto com a teologia
para enviar pessoas para a missão de Deus. A razão de ser e existir da Igreja, além
de glorificar a Deus, é levar a Palavra do Senhor a todo o mundo.

Outras definições são:

1) Ciência das missões [do latim missione + logo + ia.];


2) É um ramo da Teologia que estuda as missões, que são ações de propagação de
uma religião.

O conceito de ―missão‖ no contexto bíblico teológico é ―enviar‖ e vem da palavra


grega ―apóstolos‖. Esse vocábulo é usado no Novo Testamento para designar os
doze apóstolos (Lc 6.13). É também usado para os enviados como embaixadores ou
missionários da Igreja (2Co 8.23; Fp 2.25).

Não encontramos o termo "missões" na Bíblia, deparamo-nos com um verbo


correspondente: "enviar" (Gn 12.1; 45.5; Êx 3.10-15; Jz 6.14; Is 6.8; Jr 26.12; Ml 3.1;
Mt 10.16,40; 28.18-20; Mc 3.14; 16.15; Lc 9.1,2; 10.1; 24.44-49; Jo 17.3-21; 20.21;
At 1.8; 13.4; Rm 10.15; 1Co 1.17; etc).

"Enviar" significa mandar alguém ou alguma coisa; fazer seguir por determinada via.
Isto é, Deus manda ou faz seguir sua mensagem de salvação a um destino - o
mundo perdido -através de uma determinada via - seus discípulos.

A tarefa de salvar o mundo não pode ser desassociada do enviar homens e


mulheres cheios do poder de Deus para alcançá-lo. Porque não há como salvar o
mundo sem que haja alguém enviado para pregar e apontar-lhe o Caminho.

No texto de Romanos 10.13-15, vemos que há um processo para a salvação do


homem. Este processo começa com enviar. Enviar pessoas capacitadas, por Deus e
pela Igreja, para que preguem o Evangelho; pregar para que homens, mulheres e
crianças de todas as tribos, línguas, povos e nações possam ouvir; ouvir para que
possam crer; crer para que possam invocar o nome de Jesus e, ao invocar o seu
nome, possam ser salvos.

Podemos, assim, ver que a missão do Pai foi enviar o seu Filho Jesus, o qual, por
sua vez, envia seus seguidores impelidos pelo Espírito Santo, o qual, por seu turno,
foi também por Ele enviado (Jo 16.7-11; 20.21). Missão é, a participação e
cooperação da Igreja no plano predeterminado por Deus para salvar (redimir) o
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mundo perdido.

O Comité de Lausanne para a Evangelização Mundial assim define a natureza de


missões: "É a comunicação das Boas Novas com o propósito de dar a indivíduos e
grupos uma oportunidade válida de aceitar a Jesus Cristo como Senhor e Salvador,
e seguí-lo na comunhão de sua Igreja".

Outra definição é que missões é a obra de Deus confiada à Igreja que, seguindo o
exemplo de Cristo, proclama por palavras e ações o Reino de Deus, convocando
todos ao arrependimento e à fé em Cristo, enviando-os como discípulos dEle.

No último século, na Europa Ocidental e na América do Norte, era ideia do


protestantismo que: "ir em missão era ir aos grandes países não-cristãos onde a
Igreja ainda não existia; era também ir junto de pessoas ainda não tocadas, nos
países nominalmente cristãos".

Hoje cada Igreja encontra-se a si mesma numa situação missionária peculiar.


"Todos sabem que missões fazem parte do plano de Deus para reconduzir o homem
caído ao lar Celestial". Realizar missões é conquistar vidas para o celeiro eterno de
Deus. Este é o único trabalho cujos resultados jamais perecerão! Fazer missões é o
meio de se construir para a eternidade.

Robert E. Coleman diz que a intenção de Deus era salvar um povo para si e com
este povo edificar sua Igreja eterna. Ninguém poderia ser excluído desse propósito,
tendo em vista a universalidade do seu amor (Jo 3.16; 4.42). Ele conclui que, "de
forma contrária a nossa superficial maneira de pensar, jamais houve, em sua mente,
qualquer distinção entre missões nacionais e missões estrangeiras. Para Jesus só
havia evangelismo de escopo mundial. A evangelização do mundo é o dever maior
da Igreja e o seu cumprimento é o dever de todos".

A missão da Igreja é a ação de sair dentre quatro paredes, de sua cultura, de seu
povo, de sua língua e de seus costumes para anunciar o Evangelho redentor de
Cristo. Pois Ele salva o pecador que, arrependido, se entrega aos seus cuidados. O
"ide" de Cristo é o grande desafio à Igreja e a razão da presença desta no mundo.
Ele a envia não somente aos que estão próximos, mas também àqueles que vivem
nos confins da terra, para serem transformados em suas testemunhas vivas e servas
do seu Reino. No momento em que recebe a Jesus como Salvador, o homem passa
a desfrutar da vida eterna (Jo 6.40,47). E, ao receber o revestimento de poder do
Espírito Santo, ele não descansará enquanto não partilhar sua alegria com todos os
seus semelhantes.

Para facilitar o nosso estudo, pode-se dizer que esta é a diferença básica entre
evangelização e missões: "A evangelização é a pregação do Evangelho dentro da
cultura ou região onde vive o obreiro, ao passo que missões, é a proclamação do
Evangelho numa cultura ou país (grupo étnico) estranho ao obreiro cristão". Todavia
queremos deixar claro que, para Cristo, a missão da Igreja é evangelizar tanto os
nacionais quanto os estrangeiros. O Senhor não faz diferenciação de povos.
Também podemos chamar a evangelização de missões nacionais e as missões de
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missões transculturais.

Com estes esclarecimentos, podemos então definir: "missões" significa enviar


pessoas capacitadas por Deus e pela Igreja a lugares que se acham fora do alcance
da Igreja local, com o objetivo de evangelizar e discipular, estabelecendo e formando
igrejas que possam testemunhar em suas comunidades, em outras culturas ou
nações e até os confins da terra (Mt 28.18-20; At 1.8), para a glória do seu Criador.
Lição 1 – Motivos para o nosso esforço 6

Missionário
Nesta lição veremos cinco motivos que devem estimular-nos a um maior esforço na
obra missionária.

l. O perigo iminente em que vivem os povos sem salvação


Pode-se bem dizer que a expressão bíblica "Livra os que estão destinados a morte"
(Pv 24.11), descreve de modo expressivo o significado da "obra missionária". Os
homens no mundo estão todos debaixo do juízo de Deus por causa dos seus
pecados (Rm 3. 19; Gl 3. 10). Eles estão a caminho da condenação eterna. Jesus,
porém, peia sua morte vicária na cruz, abriu a porta do perdão e da anistia para toda
a humanidade (Tt 2.11,12). Por isso, para os que aceitarem aquilo que Jesus fez por
eles, não há mais nenhuma condenação (Rm 8.1; Jo 5.24). É portanto indispensável
que todos os povos venham a conhecer a possibilidade que têm de alcançar por
meio de Jesus, a anistia geral de todos os seus pecados.

a) A mensagem de reconciliação

O livro de Ester registra a história do decreto elaborado pelo primeiro ministro Hamã,
o inimigo dos judeus, determinando que todos os judeus que viviam nas cento e
vinte e sete províncias do reino dos Medos e dos Persas, fossem mortos num
mesmo dia, isto é, no dia treze do duodécimo mês daquele ano. Pela intervenção
abnegada e corajosa da rainha Ester, o mau Hamã foi desmascarado e castigado
diante do imperador Assuero, que consentiu que se elaborasse um novo decreto
segundo o qual os judeus teriam o direito de se defenderem. O dia previsto no
primeiro decreto para a matança dos judeus estava se aproximando, e eles ainda
nada sabiam sobre o novo decreto. Por isto foram tomadas providências para que,
em tempo, uma cópia desta nova decisão fosse enviada para todos os judeus,
espalhados pelo reino. A história bíblica relata que "Os correios sobre ginetes das
cavalariças do rei apressuradamente saíram, impelidos pela palavra do rei" (Et 8.14).
Assim esta notícia alvissareira chegou a tempo, e "para os judeus houve luz, e
alegria, gozo e honra" (Et 8.16), em lugar de tristeza e mortandade.

Queridos leitores! Esta é a situação real da obra missionária. Os juízos de Deus


estão se aproximando, e multidões, em todo o mundo, não sabem como escapar
(Hb 2.2). Deus quer agora, pelo seu Espírito, despertar a sua igreja para que ela,
sem demora, "enquanto é dia" (Jo 9.4) envie-lhes a mensagem da paz e do perdão.
A cidade de Nínive estava condenada à destruição, mas o profeta Jonas chegou a
tempo com a Palavra do perdão de Deus, e a cidade foi salva (Jn 3). E nós! Qual
será a nossa atitude?

2. Deus nos considera como seus despenseiros

A Bíblia diz que somos "despenseiros da multiforme graça de Deus" (1Pe 4.10), e
"despenseiros dos mistérios de Deus" (1Co 4.1), Ele deu à sua Igreja a incumbência
de ministrar aquilo que Deus, pelo evangelho, oferece aos povos, Se alguém é
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nomeado tutor de bens de outro, não pode beneficiar-se a si mesmo, mas tem
obrigação moral de cuidar que os tutelados venham a receber a sua parte integral.
Deus espera que os seus despenseiros sejam fiéis (1Co 4,2), irrepreensíveis (Tt
1.7), e bons (1Pe 4.10).

Este segundo motivo apela seriamente para a nossa consciência, obrigando-nos a


avaliar como estamos cumprindo a nossa responsabilidade. Vez por outra Deus diz
aos seus despenseiros: "Dá contas da tua mordomia" (Lc 16.2).

Não somos donos da obra e muito menos do rebanho do Senhor, (1 Pe 5.2,3)

Nos dias em que vivemos podemos observar a atitude de muitos que se fazem
obreiros somente com o objetivo de tirar proveito próprio. Alguns não têm a
chamada divina, outros já perderam a direção da mesma e se enveredaram por um
caminho tortuoso, vivendo da exploração da boa vontade dos mais simples,
cobrando todo tipo de oração que fazem e inventam meios de ganhar dinheiro em
nome do evangelho, quando o ensino bíblico é claro a esse respeito (Mt 10.8).
Outros ainda querem tornar-se donos das consciências dos crentes e impõem jugos
tão pesados que acabam matando espiritualmente a igreja do Senhor Jesus, quando
o próprio Jesus, tão amorosamente nos fala: "Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. E conclui: "Porquê o meu
jugo é suave e o meu fardo é leve (Mt 11.29,30).

Os servos de Deus devem estar advertidos acerca de tais pessoas e procurar estar
a cada dia mais unidos às suas igrejas, ouvindo os ensinamentos dos seus pastores
a fim de que não sejam levados pelo engano.

Todos devem estar atentos para o fato de que o Justo Juiz pedirá contas a todos
nós da tarefa que Ele colocou sob nossa responsabilidade (2 Co 5.10.

Diante da nossa responsabilidade pelos povos, Deus nos pergunta hoje: Onde está
o teu irmão? (Gn 4.9). Ele faz esta pergunta porque tem posto sobre nós esta
responsabilidade. Caro leitor! Tens tu sentido a chamada e a responsabilidade de
cooperar nesta obra? Onde está o teu irmão? Já fizeste tudo por ele?

Que Deus nos abra as portas para que nada possa impedir-nos de, como bons
despenseiros, entregar aos "tutelados" a mensagem da multiforme graça de Deus,
que é o meio da salvação.

3. A grande responsabilidade dada aos crentes

A grande responsabilidade que pesa sobre os crentes conscientes da situação dos


perdidos é deveras real.

O Fato que está registrado em At 16.6 ocorreu por ocasião da segunda viagem
missionária de Paulo.
Depois de ter fundado várias igrejas e visitado outras, Paulo regressou à Jerusalém
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onde foi tratar de assuntos referentes à obra do Senhor.

Pretendendo partir para uma segunda viagem missionária, era seu propósito visitar
as igrejas já fundadas e levar palavras de estimulo e confiança aos crentes.

Mas o plano de Deus era bem outro, e por essa razão os planos de Paulo foram
modificados. Paulo, nessa viagem, foi despertado por uma visão na qual ele viu um
homem da Macedônia clamando: "Passa à Macedônia e ajuda-nos" (At 16,9), Este
homem representava as multidões que viviam na Europa, inteiramente dominadas
peio mais cruel paganismo. Quando Paulo o viu, concluiu que Deus o havia
chamado para anunciar àqueles povos a palavra (At 16.10). Por isto ele logo
providenciou transporte para lá. A atitude de Paulo é mais um belo exemplo para
todos nós. Ele viu o resultado da obediência ao plano divino.

Caro leitor! Nós também temos sido, como o foi Paulo, conscientizados sobre a
situação dos povos. Não podemos dizer: "Eis que o não sabemos" (Pv 24.12). Nós o
sabemos! Deus nos informou! A Bíblia nos instruiu! O Espírito Santo nos despertou!
Os meios de comunicação têm-nos colocado a par da situação mundial, e as
notícias chegam até nós dando-nos ciência dos males que assolam a humanidade,
É fome, desconforto, ansiedade, crueldade, medo, imoralidade, incompreensões e
tantos outros sofrimentos provenientes da carência espiritual em que vive a
humanidade.

Lemos nos Atos sobre o eunuco da Etiópia que esperava por alguém que lhe
pudesse ensinar (At 8,27-38). Lemos a respeito de Cornélio que aguardava alguém
que lhe falasse sobre o caminho da salvação (At 11.14), e igualmente a respeito de
muitos outros. Por isto diz a Bíblia: "Quão suaves são sobre os montes os pés do
que anuncia as boas novas... que faz ouvir a salvação" (Is 52.7).

4. O motivo que Paulo apresentou aos romanos

Paulo desejava ir a Roma porque, disse ele "Sou devedor". E acrescentou:. "Estou
pronto para também vos anunciar o evangelho" (Rm 1.14,15). Nós, que tivemos a
nossa dívida cancelada diante de Deus somos como Paulo, devedores. Devemos
aos outros o evangelho que de graça recebemos, isto é temos responsabilidade
pelos que não são salvos. Façamos, pois, tudo para saldar a nossa dívida diante da
humanidade, porque a Bíblia diz: A ninguém devais coisa nenhuma, à não ser o
amor (Rm 13.8). Com amor poderemos também dizer como Pauto: "Estou pronto" a
anunciar o evangelho.

5. O maravilhoso resultado do trabalho missionário

Nos Atos lemos como nos rastos da igreja missionária levantaram-se muitas igrejas.
Na Ásia Menor lemos a respeito das igrejas em Éfeso, Colossos, Filadélfia, Esmirna,
Sardes, etc. Na Europa lemos sobre Tessalônica, Filipos, Corinto etc. Mas temos
exemplos muito mais próximos de nós. No Brasil o trabalho foi iniciado pela obra
missionária. E o trabalho missionário, realizado pelas igrejas brasileiras, tem o
prazer de ver como várias igrejas poderosas foram levantadas em Colômbia,
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Madagáscar, Equador, Guiana Francesa, Moçambique, Argentina, Paraguai, Bolívia
etc.

Os motivos da obra missionária, acima apresentados, devem impulsionar-nos à ação


missionária e não somente fazer-nos parar em palavras e reuniões. Porque uma
ação missionária somente se torna vitoriosa se for feita na trilha dos métodos
apontados nas Escrituras.
Lição 2- O pai das missões modernas 10

William Carey e a Índia (1761-1834)

Carey é influenciado pelo avivamento na Inglaterra e EUA. Em 1743, formam-se


grupos de oração nas ilhas Britânicas, que em 1746 enviam um memorial para os
EUA para entrarem num concerto de oração missionária por sete anos. Jonathas
Edwards responde positivamente, prepara um panfleto sobre este assunto que, em
1783, volta a ser lido nas igrejas da Inglaterra.

John Sutcliff faz um apelo aos batistas, para interceder em favor da conversão dos
pagãos, todas as primeiras segundas-feiras do mês, em todas as igrejas.

Carey converte-se aos 18 anos na Igreja da Inglaterra, ingressando posteriormente


na Igreja Batista. Sapateiro e professor aos 26 anos foi ordenado ao ministério
pastoral. Autodidata e leitor fluente, aprende latim, grego, hebraico, italiano, francês
e holandês.

Ao ler o livro "A última Viagem do Capitão Cook", sente-se chamado para a obra
missionária com a seguinte pergunta: "Alguém já foi conquistaras ilhas do Capitão
Cook para Jesus?". Tem como influência o diário de David Brainerd, da missão de
Halle, pelo movimento morávio e por John Eliot.

Aos 31 anos, não se conforma com o marasmo1 da Igreja e com o calvinismo


("Deus é soberano em tudo e faz tudo sem a participação do homem"). Em 1792,
escreve um opúsculo (folheto) com o título: "Um Inquérito sobre a Obrigação dos
Cristãos em Usarem Meios para a Conversão dos Pagãos", estopim2 para a
formação da missão de Carey.

Em uma reunião ministerial batista, em Northamptonshire, faz uma proposta para


formação de uma missão objetivando o envio de missionários, sendo advertido pelo
presidente da reunião (Dr. John Ryland), que diz: "Jovem, sente-se. Quando Deus
quiser converter os pagãos, Ele o fará sem a sua ajuda ou a minha".

Em 30 de maio de 1792, eles reuniram-se novamente em Nottinghan, onde Carey


tem a oportunidade de pregar sobre Isaías 54.2,3 num contexto missionário, fazendo
um famoso desafio: "Espere grandes coisas de Deus, intente grandes coisas para
Deus". Este sermão impressiona os ouvintes, contribuindo para que na pauta da
próxima reunião seja criada uma sociedade missionária.

No dia 2 de outubro de 1792, acontece outra reunião com 12 ministros e um leigo,


onde não assumem a criação proposta. Carey, então, toma um folheto moraviano
intitulado "Relato Periódico das Missões Morávias" e diz: "Irmãos, se tão somente
tivessem lido este folheto e soubessem como estes homens sobrepujaram todos os
obstáculos pela causa de Cristo iriam avante, em fé". Mediante isto, criaram: a
Sociedade Batista Privada para a Propagação do Evangelho entre os Pagãos. Como
não aparece quem vá ao campo, Carey oferece-se mesmo contra a vontade de seu
pai e sua esposa, que se recusa a ir. Assim, Carey parte com William Word e Joshua
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Marshman (professor e tipógrafo), mas voltam, devido a uma avaria no navio. Oito
meses depois (13 de junho de 1793), parte com os dois colegas, esposa e filhos
para a índia. Lá estuda e é contratado na Universidade de Sirampole. Como
professor de bengali, traduz a Bíblia ou parte dela em 35 idiomas e dialetos e
algumas literaturas cristãs em 42 idiomas.

A prática do Sutbee (sepultamento da viúva viva, junto ao falecido marido) o


escandaliza. Faz então uma revisão no livro dos hindus, mas não encontra indícios
desta prática, que fica proibida por sua influência. Sete anos após sua chegada,
batiza o primeiro convertido.

Contudo, seus ideais missionários são:


• Vasta pregação do Evangelho por todos os meios possíveis;
• Reforço da pregação por meio de publicação de literatura na língua nativa;
• Estudo profundo do pensamento, religiões e tradições dos povos não-cristãos;
• Criação de igrejas o quanto antes;
• Preparação, o quanto antes, de obreiros nacionais. Esta missão se tornou a
primeira de outras agências missionárias. Carey morreu em 9 de junho de 1834.
Lição 3- Missões Urbanas 12
Fazer missões urbanas torna-se um desafio cada vez maior. Há poucas décadas os
crentes iam às ruas, distribuíam folhetos, faziam cultos ao ar livre, sem grandes
dificuldades. Contudo, com o aumento dos centros urbanos e da violência, as
pessoas mudaram os seus hábitos, trancando-se em seus apartamentos e casas
muradas. Assim, entre grades e desconfiança, inúmeros se fazem inacessíveis,
requerendo da Igreja mudanças de estratégias de evangelismo e de meios para
alcançar as almas que perecem.

I. Paulo e a evangelização nos grandes centros


O apóstolo Paulo foi um dos maiores ícones da história do Cristianismo. Embora não
tenha estado entre os doze apóstolos de Jesus, ao se converter, dedicou-se à
evangelização em especial dos gentios.
1. A estratégia de Paulo
Uma importante estratégia usada pelo apóstolo Paulo na evangelização foi ir aonde
o povo estava, ou seja, nas grandes cidades do seu tempo. As maiores ficavam
junto às principais vias comerciais, marítimas ou terrestres. Boa parte eram cidades
portuárias, localizadas no mar Mediterrâneo, Egeu e Adriático, por exemplo, Éfeso e
Corinto. Outras cidades eram próximas de importantes vias terrestres, como é o
caso de Filipos, colónia romana, que ficava junto à via Egnatia.
2. Paulo venceu as diferenças
Paulo soube se desvencilhar do preconceito judaico com os gentios e povos
distintos. Ele não era mais apenas um religioso, seguidor de regras e ritos, como
muitos crentes nominais hoje.
Antes do encontro com Cristo, Saulo era fariseu, membro da mais legalista de todas
as seitas judaicas que havia em Jerusalém. Ele mesmo afirmou que se excedia aos
demais, por tamanho rigor (Gl 1.13,14; Fp 3.6). Porém, ao encontrar-se com Jesus,
no caminho de Damasco, tudo mudou na sua história. Paulo abandonou a sua
concepção meramente religiosa e distante sobre Deus e a salvação por obras da lei,
passando a dedicar-se à pregação da salvação pela graça de Cristo.
3. Exemplo para nós, comissionados
Assim como nós, Paulo foi chamado para pregar aos gentios (At 1347; 22.19-21; Rm
15.16) e ele agarrou esta missão com muito zelo e dedicação. Ele é um exemplo,
tanto por seu esmero, como por suas estratégias inteligentes para alcançar pessoas
de diferentes tradições, costumes e crenças (1Co 9.19-23).
Paulo sabia respeitar e usar a cultura alheia a favor da anunciação do Evangelho.
Certa vez, ao pregar aos gregos, sobre o "Deus desconhecido", usou a citação de
um filósofo chamado Cleantes, que vivera entre os anos de 301-232 a.C e era
conterrâneo de seus ouvintes (At 17.28). Esta é uma estratégia poderosa, usar o
que os ouvintes entendem, para lhes apresentar o que ainda desconhecem - o plano
da salvação em Cristo. O apóstolo sabia utilizar o contexto para se aproximar e
ganhar as pessoas para Jesus (1Co 9.20-23).

II. Evangelização nas grandes cidades hoje


Segundo a Organização das Nações Unidas, 90% da população mundial irá viver
13
nos grandes centros até 2050', o que obrigará a Igreja a dar cada vez iras atenção
às metrópoles.
1. O desafio na pós-modernidade
A nossa missão se torna mais desafiadora por vivermos em uma sociedade pós-
moderna, caracterizada por seu antropocentrismo, relativismo, materialismo,
secularismo e permissividade. Como alcançar os grandes centros urbanos com seus
diferentes grupos e particularidades?
Reflitamos sobre o exemplo de Jesus. Ao convocar seus discípulos para obedecer à
"Grande Comissão", Jesus explicitava que a mensagem deveria alcançar todos (At
1.8; Mc 16.15). Jesus veio buscar e salvar o que havia se perdido (Lc 19.10). Assim
sendo, traçou estratégias de alcance das pessoas começando pelas cidades e
aldeias (Mt 4.23; 9.35). A partir dai, deveriam alcançar os grandes centros e até
mesmo os confins da terra (At 18; Ap 14.6). Devemos seguir o exemplo de Cristo
buscando os pecadores em toda parte, quer nas cidades ou no interior, campos e
lugares mais remotos.
2. Métodos e práticas
Evidentemente que com as mudanças de gerações e cultura, também precisamos
mudar nossas estratégias, Num cenário altamente complexo e dominado por
características nocivas da pós-modernidade, quais os métodos e práticas que
podem contribuir para a pregação do Evangelho de forma eficaz?
3. Aproximação: Igreja e comunidade
A maioria das igrejas fica aberta ao público apenas três dias na semana, durante
seus cultos. Isto significa que das cento e sessenta e oito horas semanais, apenas
seis, em média, são usadas para receber uma sociedade carente e sedenta de
salvação. É necessário e urgente que assumamos o nosso papel como sal e Luz (Mt
5.13-16).
A Igreja pode e deve atrair sua vizinhança, realizando projetos sociais nas suas
dependências. Taís como: Atendimento gratuito à comunidade por especialistas
(dentistas, psicólogos, advogados, etc); oferecer cursos profissionalizantes e de
idiomas; alfabetização de adultos; reforço escolar; ajuda humanitária em tragédias;
promover reuniões sociais com palestras de conscientização nas áreas de interesse
comunitário; feiras ou exposições na área da saúde, saneamento básico;
homenagem aos profissionais em suas respectivas datas comemorativas (dia do
gari, dia do professor, etc.); promoção de corridas e caminhadas em favor de uma
causa específica e assim sucessivamente.
Não podemos esquecer-nos daquelas pessoas que moram no campo, interior ou
local de difícil acesso, A igreja pode ir até elas com essas ações aqui citadas ou
mesmo disponibilizar meios de transportes para buscá-las, por exemplo.
A verdade é que inúmeras outras coisas podem ser feitas para atrair pessoas a
Cristo, mas sempre lembrando que o Evangelho genuíno não chega só em palavras,
mas também em ações. Jesus pregou o Reino dos Céus sem ignorar os problemas
das pessoas aqui na Terra; Ele as curou, alimentou, cuidou e nos ensinou a assim
também proceder, como se a Ele mesmo o fizéssemos (Mt 25.34-40).
III. Estratégias atuais 14
Você, pode fazer muito pela evangelização usando recursos como as redes sociais,
por exemplo. Usar a internet não é mais um luxo como foi nos anos 1990. Hoje é
uma necessidade até mesmo académica e profissional. E porque não usá-la para a
edificação espiritual?
Quando se fala em redes sociais um dos aspectos mais importantes é a quantidade
de pessoas que faz parte dela. A possibilidade e número de pessoas conectadas
umas às outras que podem conversar entre si são infinitos. Imagine isto como um
instrumento de evangelização, quantas pessoas não podem ser alcançadas?
Para uma lista abrangente de estratégias para a evangelização urbana, leia a
matéria Evangelismo, Semeando Boas Novas. Nesta matéria você conhecerá
estratégias para o evangelismo urbano e conhecerá ferramentas para o evangelismo
através da internet.
Lição 4 - Missões Transculturais 15
Missão transcultural é um movimento missionário que visa alcançar os povos além
de sua fronteira linguística, geográfica e cultural. Na palavra, o prefixo "trans"
significa "movimento para além de" e ―cultura‖ é o conjunto dos hábitos sociais e
religiosos que caracteriza uma sociedade. Por isso, este termo passou a ser
utilizado pelos missiólogos para definir apenas os trabalhos evangelísticos que
acontecem além das fronteiras da cultura e tradição do evangelizador.

I. Definições
1. O que é Cultura?
Para muitos, a palavra ―cultura‖ significa o grau de estudos de uma pessoa. Por isso,
é comum ouvirmos alguém falar: ―Fulano de Tal tem muita cultura‖. Quase todas as
pessoas fazem esta associação da cultura com o nível intelectual ou de instrução de
alguém. Mas cultura não é isto.
Cultura é, segundo a definição do dicionário Aurélio, ―o complexo de
comportamento, das crenças, das instituições e doutros valores espirituais e
materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade‖.
Na Antropologia, o termo cultura é visto sempre em associação com outro termo, a
saber: sociedade.
Para um antropólogo, cultura ―é o conjunto de comportamentos e ideias
característicos de um povo, que se transmite de uma geração a outra e que resulta
da socialização e aculturação verificadas no decorrer de sua história‖. Assim sendo,
cultura ―é o modo de agir‖, e o termo sociedade designa o ―grupo de indivíduos que
compartilham de um mesmo modo de agir‖.
Precisamos entender bem claramente que cada povo tem o seu próprio ―Padrão de
Cultura‖, que é a amalgama de todos os valores passados de geração a geração em
cada sociedade desde os seus primórdios.
É o padrão cultural de cada povo que determina qual a ―orientação cultural‖ que
cada povo segue. Ou seja, a orientação cultural é que norteia o modo de viver de
cada indivíduo dentro de sua etnia.
2. Transculturação:
Transculturação ―é o processo de transformação cultural caracterizado pela
influência de elementos de outra cultura, com a perda ou alteração dos já existentes‖
(Dicionário Aurélio).
Note, na definição do termo, o seguinte ―... é a influência de elementos de outra
cultura, com a perda ou alteração dos já existentes‖.
O missionário transcultural deve tomar muito cuidado para não exercer este papel. O
papel do missionário não é alterar ou mudar os valores de uma cultura. O seu
compromisso é com os Princípios Bíblicos. Estes, sim, podem exercer influência e
até mesmo alterar situações contrárias à fé cristã, que deverão ser resolvidas no
próprio contexto cultural, sem que seja necessário ―importar‖ ou ―adaptar‖ modelos
de outros padrões de culturas.
3. Etnocentrismo
16
Etnocentrismo é ―uma tendência a ver a nossa própria cultura como maneira
universal de comportamento‖.
O missionário não pode se deixar levar por esta atitude. Entretanto, isso às vezes
acontece; acontece, porque somos tão inconscientes de como nossas vidas são
guiadas pela nossa cultura e idioma, que de repente, descobrimos que é mais difícil
do que pensávamos aceitar uma outra cultura. Embora, reconhecendo o que possa
ser considerado comportamento apropriado em outra cultura, apegamo – nos ao que
consideramos ―normal‖ e ―natural‖. Achamos que a nossa maneira de fazer as coisas
é ―superior‖ e ―correta‖. Quando isto acontece com um missionário no seu campo de
trabalho, é reflexo de que ele não teve uma boa aculturação.
4. Aculturação
Já vimos que cada povo tem o seu próprio padrão de cultura, e também que as
culturas diferem na língua, na forma de ver o mundo, na valorização da conduta e
em muitos outros aspectos. Quando alguém tenta comunicar uma mensagem a uma
pessoa de outra cultura, um emaranhado de coisas impede que esta mensagem
seja bem compreendida. É como se houvesse um bloqueio entre a fonte e o
receptor. Este bloqueio realmente existe e é chamado de barreira, ou rede cultural.

II. Enviados às nações


Jesus determinou que o Evangelho fosse pregado na Judéia, Samaria e até os
confins da Terra, (At 1.8), Após os discípulos serem revestidos de poder e
capacitados pelo Espírito Santo, veio uma grande perseguição que os obrigou a se
espalharem, pregando a Palavra de Deus aonde quer que fossem (At 8.1-4).
Contudo, no início, ninguém tinha tido a visão de levar as Boas Novas às nações,
além mar.
A Igreja Primitiva despertou para isto somente após a conversão de Cornélio, um
homem de Cesaréia, centurião da corte chamada italiana, que mesmo sendo gentio,
recebeu o batismo com o Espirito Santo ao ouvir Pedro falar sobre Jesus. Os que
estavam com Pedro se maravilharam pelo fato de o dom do Espírito Santo também
ser derramado sobre os gentios (At 10.45-48).
Certa vez, o apóstolo Pedro teve que se explicar à Igreja, pois alguns irmãos o
haviam acusado de entrar na casa de incircuncisos e comer com eles. Pedro, no
entanto contou a visão que teve em que o Senhor lhe falara para não considerar
imundo aquilo que o próprio Cristo havia santificado. Em seguida, o apóstolo Pedro
testemunhou sobre como o Espírito Santo descera sobre Cornélio e sua família. (At
11.1-18). Ao ouvirem eles estas coisas, "apaziguaram-se e glorificaram a Deus,
dizendo: Na verdade, até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida" (v
18).
A igreja em Antioquia foi a primeira a realizar missões transculturais ao anunciar o
Evangelho aos gentios (At 11.20). A população cosmopolita da cidade se refletia até
mesmo na Liderança eclesiástica, que consistia em profetas e mestres que moravam
na cidade, mas possuíam naturalidades diferentes (At 13.1). Estes líderes
simbolizavam a diversidade étnica e cultural de Antioquia e da própria igreja.
Foi a igreja de Antioquia que enviou os primeiros missionários transculturais - Paulo
17
e Barnabé. Em um momento, quando a igreja orava e jejuava, o Espírito Santo se
manifestou dizendo: "Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho
chamado" (At 13.2).
Possivelmente antes mesmo deste episódio, Paulo e Barnabé já possuíam
convicção do chamado de Deus, sendo isto testificado pelo Espírito Santo para toda
a igreja. Em seguida, a igreja os enviou a missão, impondo as mãos sobre eles.

III. É a sua vocação?


Ser vocacionado para missões transculturais é um dos pré-requisitos básicos para o
êxito neste trabalho. Uma pessoa que não tem vocação está fadada ao fracasso.
Mas como sabermos se temos ou não vocação? Isto torna-se evidente na
manifestação de algumas competências necessárias para realização de tal obra.
Analisemos algumas.

• Preparo intelectual: A evangelização, particularmente entre culturas


diferentes, deve ser realizada por pessoas com preparo especial, que possuam
conhecimento teológico, comunicação transcultural, técnicas pastorais, etc,
Conhecer a cultura do povo o qual irá evangelizar é fundamental para o sucesso do
missionário. Paulo escreveu a Timóteo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado,
como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da
verdade" (2 Tm 2,15). Logo, podemos entender que existem aqueles que a manejam
erroneamente.

• Consciência da responsabilidade: É importante que o missionário tenha


consciência daquilo que o Senhor requer para tal obra; tenha conhecimento da
realidade do trabalho que irá desenvolver e confirmação do Espírito Santo para
seguir rumo a experiência prática. Isto significa ter sensibilidade à sua voz,
intimidade com Ele para conhecer o propósito de Deus para sua vida; deixando de
Lado os seus preconceitos e tradicionalismos, que podem prejudicar o
desenvolvimento da obra.

• Preparo espiritual: Cuidar da vida espiritual é outro pré-requisito indispensável


para o missionário. No exercício da obra missionária um servo do Senhor precisa ter
uma vida dedicada à oração e leitura da Palavra. As próprias circunstâncias difíceis
a serem enfrentadas irão requerer dele uma fé e procedimento exemplar. Precisa
haver compromisso e dedicação suficientes para ganhar o respeito de cristãos e
não-cristãos. Deus não exige que seus trabalhadores tenham grandes talentos, mas
uma vida consagrada sim, esta é uma exigência (1Tm 4.12).

• Outras competências: O missionário também precisa possuir dons para


comunicar sua fé. A comunicação da mensagem do Evangelho não pode ser apenas
em palavras e ideias, mas com atitudes e experiências. Ele deve possuir aptidão
para pregar a Palavra, não somente nas atividades da Igreja, mas também no dia a
dia, no trabalho, lar, casamento, entre amigos, etc.
Dentre as diversas tarefas a serem realizadas no Reino de Deus, talvez não haja
uma que exija maior paciência e persistência do que o trabalho missionário em
campo pioneiro. Algumas sementes levam anos e anos para frutificar.
E por fim, ele deve ter amor pela obra e paixão pelas almas, sem isto é impossível
18
tornar-se um missionário transcultural de verdade.

IV. Desafios deste chamado


Realizar missões transculturais é um grande desafio para a Igreja na atualidade.
Basta analisarmos que temos cerca de 7,2 bilhões de pessoas no mundo e quase
12.000 grupos étnicos. Além dos milhares de dialetos existentes ainda sem uma
tradução da Bíblia, o que tem impedido a ação missionária em locais não-
evangelizados e barreiras políticas e ideológicas.
A região menos evangelizada do mundo, por exemplo, a chamada 'Janela 10/40"
(localização dos 62 países que formam no mapa um retângulo aos graus 10 e 40
acima da Linha do Equador) é onde as religiões muçulmana, hindu e budista fazem
parte da constituição desses países e os cristãos, tidos como foras da Lei, são
presos ou exterminados.
O choque cultural, falta de conhecimento e cosmovisão dos missionários também
têm sido obstáculos a serem superados.
1. O que é Cosmovisão?
Cosmovisão é uma visão de mundo; a forma como enxergamos intelectualmente as
coisas e os acontecimentos à nossa volta. Sendo assim, cosmovisão cristã é a
compreensão de todas as coisas a partir da perspectiva bíblica; a Leitura da
realidade através das lentes das Escrituras Sagradas e da vontade de Deus. A visão
de mundo cristã se direciona por três pressupostos bíblicos básicos, que respondem
às grandes questões da humanidade, conforme sintetizados no quadro a seguir.
COMO TUDO O QUE DEU ERRADO? O QUE FAZER A
COMEÇOU? DE ONDE QUAL É A FONTE DO MAL RESPEITO? COMO
VIEMOS? E DO SOFRIMENTO? CONSERTAR O
MUNDO?
Deus criou todas as Em virtude da Quando Deus nos
coisas em perfeição, desobediência, do pecado redime, Ele nos
inclusive o ser humano original, o homem afastou- liberta da culpa e do
(Gn 1.26). Ele se de Deus. O ser humano poder do pecado, e
é a fonte exclusiva de e a natureza foram afetados restaura nossa plena
toda a ordem criada, pela Queda, provocando o humanidade.
tanto das leis da mal e a desordem. Além do aspecto
natureza quanto da salvífico, a redenção
natureza humana. atinge a vida humana
como um todo.

Culturalmente, cada povo, ou mesmo cada pessoa tem uma maneira diferente de
enxergar o mundo e se relacionar com ele. De acordo com nossa formação familiar,
passamos a conhecer o mundo e atribuir valores a determinados gestos, hábitos,
cheiros, sabores, comportamentos, expressões, etc. Assim, aprendemos a ver o
mundo com as lentes que nos deram no contexto social em que estamos inseridos,
Nosso comportamento e ações serão de acordo com as normas dele, Isto se
classifica como "cosmovisão". O conhecimento da cosmovisão do povo que se
procura alcançar é essencial por isso; para que não aconteça o choque cultural ou a
falta de entendimento da mensagem apresentada.
Vejamos alguns exemplos práticos de choque cultural: 19
• Pontualidade: Se um brasileiro agenda um encontro de negócios às 9h e a
pessoa chega às 10h, ele entenderia como atraso e descaso. Já para o árabe, no
entanto, quem chega no horário é servo. Por isso, se ele for a uma reunião de
negócios, só chegará entre 45 minutos à 1h15 depois do combinado,
propositalmente.

• Cumprimento: Diferentes povos possuem maneiras diversas para se


cumprimentar. Alguns com aperto de mãos, outros com abraços, outros com beijo
(ósculo), alguns curvando-se, como é o caso do "ojigi" - cumprimento cultural no
Japão, considerado uma demonstração de respeito tão importante que eles o fazem
mesmo quando falam ao telefone.
A simples falta de conhecimento da forma de saudar alguém, em determinada
cultura, pode causar constrangimentos ou até problemas sérios, caso considerem
um desrespeito ou, dependendo do povo, até mesmo uma infração.
Lição 5 - Compromissos indispensáveis ao 20

missionário
―Como ouvirão se não há quem pregue?‖ (Rm 10.14-17) Eis aí a razão de enviarmos
mais missionários para anunciarem as Boas Novas de salvação (Rm 10.15). Que
Deus nos dê a sua graça, para que possamos ter a visão missionária e nos
apresentarmos diante dEle, naquele dia, dizendo: Eis-me aqui com os filhos que tu
me deste (Hb 2.13).

I. Compromissos indispensáveis ao missionário


1. O missionário e sua chamada para essa obra
E necessário convicção profunda da chamada de Deus (At 26.15-18; Gl 1.15,16)
para não ser ―desobediente‖ à visão celestial (At 26.19), mas fazer ―a obra dum
evangelista‖ (2Tm 4.5), cumprindo seu ministério. Com essa convicção inabalável, o
missionário tem condições de enfrentar não somente os sofrimentos que virão (1Co
4.9-13), mas até a morrer ―pelo nome do Senhor Jesus‖ (At 21.13).
São os homens com esta certeza que fazem o trabalho de Deus na terra (At
5.28,29), pois eles não têm suas vidas por preciosas, contanto que cumpram com
alegria sua carreira e o ministério que receberam do Senhor Jesus (At 20.23,24).
2. O missionário e a certeza de sua salvação
Somente com profunda certeza de salvação é que haverá sucesso no trabalho (2Tm
1.11.12). O seu testemunho será de grande convicção (Jo 9.25; 1 Jo 3.2,3), e isso
resultará na salvação daqueles que o ouvem (Jo 4.29,39-42), pois também
receberão o testemunho do Espírito Santo testificando com o espírito deles que
agora são filhos de Deus (Rm 8.17).―Cri; por isso, falei. Nós cremos também; por
isso, também falamos‖ (2Co 4.13).
3. O missionário e a palavra de Deus
O obreiro deve manejar bem a palavra da verdade (2Tm 2.15) para poder cumprir o
ide, ensinai...‖ (Mt 28.19) de Jesus. As almas são ganhas pelo ensino da Palavra, e
o ensinador deve ―anunciar todo o conselho de Deus‖ (At 20.27), pois a fé vem ―pelo
ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus‖ (Rm 10.17). Pregando a Palavra ―divinamente
inspirada‖, o ensinador terá êxito no seu trabalho (2Tm 3.16). O apóstolo Paulo
conhecia bem a Palavra (1Co 11.23; 2Pe 3.15,16), e foi ensinando-a que levou
muitas almas a Jesus (At 11.25,26; 15.35; 18.11; 19.8-10; 28.31).
4. O missionário e a oração
A chamada e a separação para o campo começa com oração (At 13.1-3). A vida do
missionário deve ser caracterizada pela oração constante ao Senhor (At 6.4; 10.9).
Orando, as maravilhas ocorrerão (At 2.42,43). Orando, Deus fará milagres (At 3.1-6).
Orando, o Espírito Santo será derramado (At 4.24-31). Orando, haverá bastante
graça na pregação (At 4.33). O ensino da Bíblia é vigiar e orar em todo o tempo (Lc
21.36; Ef 6.18), perseverar em oração (Rm 12.12; Cl 4.2), e orar sem cessar (1Ts
5.17).
É através da oração que o pregador recebe a mensagem que convence (Jo 16.8-10;
21
2Co 1.11; Ef 6.18,19; Cl 4.3), e assim pode vencer a batalha contra o mal (Dn
10.12,13,20,21). Ver Êxodo 17.8-14.
5. O missionário e o poder do espírito santo
O crescimento da obra de Deus não depende da capacidade humana — ainda que
isso possa ajudar nalguma coisa —, mas sim do poder do Espírito Santo (Zc 4.6).
Quando o missionário estiver cheio do Espírito Santo, a pregação será com ―grande
poder‖ (At 4.33), seus ouvintes não poderão resistir ao espírito com que ele falar (At
2.37; 6.8,10). Assim, muita gente se unirá ao Senhor, aumentando o número de
discípulos de Jesus (At 11.24-26). O mundo está cansado de ouvir falar de religião,
e quer ouvir uma mensagem nova (At 17.19); essa mensagem é o evangelho
pregado por alguém cheio do Espírito Santo. É isso que traz resultados concretos. O
pregador cheio do Espírito Santo não teme falar toda a verdade (At 7.51-55); nada o
deterá, pois falará a mensagem de Deus (At 4.20; 5.27-29, 41,42; 14.19-27); haverá
a confirmação de que ele precisa (Mc 16.20; At 4.29-33; At 14.3). Dessa maneira, a
Igreja se torna respeitada e conceituada aos olhos dos que estão de fora, pois até os
inimigos reconhecerão que Deus está no meio do seu povo (At 5.11-13; 8.24; 9.5,6;
13.12; 19.17). Para ser testemunha eficaz é necessário primeiro ser cheio do
Espírito (At 1.8), o que, aliás, é um mandamento divino (Ef 5.8). Bem-aventurados
são os pregadores que estão cheios do Espírito Santo (Cl 1.9,10), pois suas armas
são ―poderosas em Deus, para destruição das fortalezas‖ (2Co 10.4).
6. O missionário e a direção de deus para o campo
―Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor; o homem, pois, como entenderá
seu caminho?‖ (Pv 20.24; Jr 10.23)
Deus tem um plano preparado para cada um (Ef 2.10), e é nesse plano que
devemos estar.
Precisamos, portanto, que o Senhor nos dirija, pois essa é uma promessa para os
que temem (SI 25.12). A direção de Deus envolve todos os aspectos da vida do
obreiro (SI 143.8), não só na vida material (Gn 24.10-27; Mt 21.1-4; 26.17-19), mas
também na vida espiritual, especialmente no trabalho do Senhor. Filipe é um
exemplo notável de como Deus dirige o obreiro para o lugar onde deve trabalhar. Ele
foi dirigido para pregar em Samaria (At 8.5-13), na estrada (At 8.26-38), em Azoto e
Cesaréia (At 8.40). O mesmo aconteceu com Pedro, quando Cornélio o recebeu (At
10.19,20,25-45).
Deus nos dirige pela oração (Jr 31.9), pela Palavra (SI 119.105), pelo Espírito Santo
(Rm 8.14), pelo ministério por ele constituído na igreja (Ef 4.11-14), por visão (At
18.9), por sonhos (Mt 1.20; 2.12,13,19,22). O missionário só deve sair quando Deus
der o sinal (Êx 33.15; 1 Cr 14.15).
7. O missionário e a sua renúncia
O êxito no trabalho missionário depende da renúncia total: renúncia de si mesmo (Mt
16.24); renúncia do conforto do lar (2Co 11.23-28); renunciar ―a tudo quanto tem‖ (Lc
14.33).
Na renúncia do obreiro estará a bênção de Deus sobre sua vida (Mc 10.29,30).
22
Algumas vezes é necessário renunciar até a convivência com familiares para poder
atender à ordem de Jesus para pregar o evangelho (Lc 9.59-62).
O obreiro deve estar desprendido de tudo ―a fim de agradar àquele que o alistou
para a guerra‖ (2Tm 2.4).

II. O missionário e o conhecimento do campo missionário


O missionário precisa de alguns conhecimentos a respeito do país para o qual sente
a chamada de Deus.
1. A língua
Não conhecendo a língua, não entenderá ninguém e também não será entendido.
Paulo conhecia a língua do povo a quem ele dirigia a mensagem de Deus (At 21.37;
22.2).
2. Os costumes
O conhecimento dos costumes do povo permitirá ao obreiro levar a mensagem de
Deus de uma maneira que o objetivo principal seja atingido (2Co 11.6). A mensagem
de Paulo aos atenienses é um exemplo claro (At 17.22-31).
3. As tradições
Embora existam tradições familiares e nacionais que nada têm a ver com a nossa fé,
existem algumas que se constituem em regras espirituais que impedem os homens
de obedecer a Deus, pois são perigosas e podem causar até mesmo a perdição
eterna (Am 2.4; Mc 7.9; Cl 2.8). Quando o pecador aceita a Jesus, é libertado das
vãs tradições (1Pe 1.18).
4. As leis do país
Cada país tem leis específicas que precisam ser observadas, e o missionário deve
ter em mente esse fato. A Bíblia ensina a obediência às leis constituídas: ―... Dai,
pois, a César o que é de César‖ (Mt 22.21); Pedro pagou o tributo (Mt 17.24-27);
Paulo orientou os cristãos sobre as relações do crente com o governo, enfatizando
que os governantes são ministros de Deus (Rm 13.1-7), em favor dos quais
devemos orar (1 Tm 2.1-3); ―Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana...‖ (1Pe
2.13.18).
5. As religiões existentes no país
O conhecimento das religiões existentes fará com que o missionário saiba como
aproximar-se dos que estão presos por elas. Esse é o método de Paulo registrado
em 1 Coríntios 9.20-23. Ele fez-se ―como judeu para os judeus, para ganhar os
judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para
ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera
sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para
ganhar os que estão sem lei... como fraco para os fracos, para ganhar os fracos... de
tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns‖. Veja outros
exemplos nesse sentido em Atos 17.19-23; 23.1-9; 26.27. Nunca se deixe vencer
pela tentação de acreditar que a religião praticada pelo povo é boa.
6. O missionário e o tempo de permanência no país para onde foi enviado
Como já foi dito em capítulos anteriores, o obreiro que tem convicção da chamada
23
divina anda na direção de Deus; está disposto a ir aonde Deus quiser, na hora que
Ele quiser, do jeito que Ele quiser, fazer o que Ele quiser e permanecer no local
indicado o tempo que Ele quiser. Ao sair de sua pátria, o missionário não sabe se
um dia voltará a ela. Sua vida está agora à disposição do Mestre, e nEle está toda a
sua dependência. Atrás de si ficou sua família, sua pátria, seus amigos e sua igreja,
que o sustenta moral, financeira e espiritualmente.
O tempo de sua permanência está nas mãos de Deus. Alguns ficam pouco tempo,
outros passam toda a vida no país ao qual foram enviados. Infelizmente, alguns
voltam logo por não terem chamada divina. Quando indagados sobre o porquê de
sua volta, alegam os mais diversos problemas como a não-adaptação da família no
lugar, o clima, os costumes, o regime, etc. Quem é o culpado nesse caso? Deus?
De modo algum.
Porventura Deus não é o Senhor que conhece todas as coisas em todos os lugares?
Claro que sim. Ele conhece todos os detalhes do clima, do regime, dos costumes,
etc. Quando Deus manda, Ele supre tudo (Lc 12.25-29), pois tem o homem certo
para o lugar certo. Deus não comete equívocos. A razão desse fracasso é que
alguns sentem apenas uma emoção, e não a chamada divina, o que é muito
diferente (Hb 5.4). Alguns há que acham até bonito ser chamado de missionário e
querem ir; porém, só os chamados devem ir, pois a obra missionária não é fazer
turismo, e sim levar a mensagem de Deus ―a tempo e fora de tempo‖ (2Tm 4.2),
―quer ouçam quer deixem de ouvir‖ (Ez 2.7). Esse é o ministério daquele que se
propõe evangelizar (2Tm 4.5).

III. O amor, a fé e a convicção do missionário


1. O missionário e o amor pelas almas
O amor pelas almas é a força que impulsiona o missionário na sua tarefa. Chega a
ser a sua ―comida‖ (Jo 4.32). A Bíblia fala sobre o amor pelas almas através: do
amor de Deus (SI 86.15; Is 63.9; Jo 3.16); do amor de Jesus (Mt 9.36; 14.14; 15.32;
20.34; 23.37; Mc 1.41; Lc 7.13); do amor dos apóstolos (At 6.1-4; Rm 9.1-3; 10.1;
1Co 9.16); do amor da Igreja (At 8.4; 11.19,20).
O amor pelas almas é o resultado de uma comunhão íntima com Deus (1 Jo
4.19,20), bem como do conhecimento da perdição do pecador (Rm 6.23), tudo aliado
à profunda convicção que os obreiros têm de sua própria salvação. O amor natural
está limitado apenas àqueles que estão próximos de nós (Mt 5.46,47). Mas o amor
de Deus que está derramado em nós (Rm 5.5) nos leva a amar a Deus acima de
tudo (Mt 22.37,38), aos nossos irmãos (1 Jo 5.1,2) e a todos, inclusive aos nossos
inimigos (Mt 5.44; Rm 12.20). O amor vence tudo (1Co 13.1-8).
2. O missionário e sua fé
O missionário deve ter uma fé inabalável para obter êxito no seu trabalho — o
combate contra as trevas, a fim de levar a luz do evangelho aos perdidos; deve ter
―o mesmo ânimo pela fé do evangelho‖ (Fp 1.27). Somente os pregadores cheios de
fé podem encorajar os seus ouvintes (At 14.20-22), exortando-os nesse sentido (Fp
2.1,2).
O obreiro que confia em Deus não desanima diante dos obstáculos que tiver de
transpor (2Co 4.8,9), pois considera isso um ―bom combate‖ (2Tm 4.7). Sua
confiança é tão grande que os ―gigantes‖ que surgirem a sua frente serão lançados
24
por terra pelo Senhor (Nun 14.8,9; 1Sm 17.45,46). Embora as ―ondas‖ do mundo
queiram provocar o naufrágio do nosso ―barco‖, o Senhor haverá de repreender ―os
ventos e o mar‖ (Mt 8.26,27), e logo haverá bonança. Sua confiança é tão grande no
Senhor, que ele sabe que nada nos poderá separar do amor de Cristo, nem a
tribulação, nem a angústia, nem perseguições, nem fome, nem a nudez, nem o
perigo, e nem a espada (Rm 8.35). Felizes são tais obreiros, pois o Senhor
cooperará com eles no seu trabalho (Mc 16.20), não os deixando nem os
desamparando (Hb 13.5).
3. O missionário e a convicção de que, sem Jesus, o homem está perdido
Esse é um fator indispensável àquele que se propõe realizar um trabalho para Deus.
A convicção de que do pecador está perdido sem Jesus deve estar sempre viva no
seu coração. Realmente a Bíblia nos ensina que o homem: já nasce no pecado (SI
51.5); é um perdido (Pv 24.11,12; Lc 19.10); está debaixo da ira de Deus (Jo 3.36);
já está condenado (Jo 3.18); é um servo do pecado (Jo 8.34); e, se não crer em
Jesus, morrerá no pecado (Jo 8.24), ficando perdido para todo o sempre, sem
possibilidade de alterar este estado após a morte (Hb 9.27), pois sua alma e espírito,
logo após a morte, entrarão em sofrimento no Hades (Lc 16.19-31). Finalmente,
ressuscitará um dia, no corpo em que estava aqui na terra, isto é, com os mesmos
defeitos que eventualmente possuía, e comparecerá perante o juízo do grande trono
branco, onde receberá a sentença de sua condenação (Ap 20.11-15), ficando em
sofrimento e separação eterna de Deus.
Uma reflexão profunda nesse assunto tão sério, aliado à meditação na certeza de
salvação oferecida gratuitamente por Deus (Ez 33.11; Rm 6.23; 1Tm 2.5), trará ao
obreiro uma força que o impulsionará ao trabalho evangelístico.

IV. Formando obreiros no campo missionário para evangelização


local
1. O missionário e a formação de obreiros locais
Uma das preocupações do missionário deve ser a formação de obreiros locais.
Muitas vezes, o obreiro começa o trabalho sozinho ou acompanhado de sua família.
E claro que Deus confirmará o trabalho do obreiro que é chamado para esta tarefa
dando crescimento à sua obra. Porém, se o missionário não formar novos obreiros,
o trabalho não terá crescimento conforme o padrão bíblico. Além de o obreiro se
desgastar demasiadamente sem necessidade, o crescimento do trabalho será lento.
O apóstolo Paulo sempre tinha em mente a formação de obreiros para dar
continuidade ao trabalho por ele iniciado (At 14.23; 20.17), além de orientar outros a
fazerem o mesmo (2Tm 2.2; Tt 1.5).
O trabalho de Deus é feito em equipe (Mt 10.1). Veja Provérbios 11.14; 24.6;
Eclesiastes 4.9-12.Deus cooperará quando isso ocorrer, dando à igreja homens
chamados, que comporão o ministério de cooperadores (1Co 12.20-28; Ef 4.11-13).
2. O missionário e os meios de evangelizar
Diversos são os meios de que o missionário dispõe para a propagação das Boas
Novas. Vejamos alguns:
1) Transporte
25
Aviões, navios, trens, ônibus, carros, barcos, bicicletas, motocicletas, helicópteros,
animais, etc.
2) Literatura
Bíblia, livros, folhetos, panfletos, etc.
3) Meios de comunicação
Rádio, televisão, internet, alto-falantes, etc.
Lição 6 - Visualizando o campo Missionário 26

I. O mundo é o campo missionário (Mt 13.38)


1. O campo não é o templo
Ainda que obtenhamos algumas conversões em nossas igrejas, devemos sempre ter
em mente que ela é Casa de oração (Mt 21.12,13) e de ensino (At 5.21). O exemplo
de Jesus é bem claro neste aspecto em Mateus 9.35, que registra que Ele percorria
todas as cidades e aldeias. A Igreja Primitiva anunciava as Boas Novas também
pelas casas (At 5.42).
Portanto, ainda que o templo seja o local onde o povo de Deus se reúne para cultuá-
lo, não é o campo missionário.
2. O campo não é outra igreja (2 Co 10.16)
O verdadeiro crescimento da igreja é decorrente das al¬mas que, arrependidas,
aceitam a graça de Deus (At 9.31). Não é o resultado de pessoas salvas que vêm de
outras igrejas trazendo sua carta de mudança. O missionário não deve pescar no
―aquário‖ alheio, mas sim no alto mar.
2. O campo é o mundo (Mt 13 38)
A visão da Igreja deve ser missionária. Vejamos algumas referências bíblicas:
Todas as sinagogas (Mt 4.23; 9.35); todas as aldeias (Mt 9.35); todas as nações (Mt
28.19; Lc 24.47); todo o mundo (Mt 24.14; Mc 16.15); os confins da terra (At 1.8); os
limites da terra (SI 22.27); as extremidades da terra (Is 49.6); todos os homens em
todo lugar (At 17.30).

II. Visão missionária — a salvação de todos os homens


O convite da salvação destina-se a todos os tipos de pessoas, de qualquer credo,
cor, raça, religião, cultura e posição social, em todos os lugares.
A visão espiritual é o supremo segredo para quem deseja ganhar almas para Cristo.
Jesus ordenou aos seus discípulos que levantassem seus olhos (Jo 4.35). Ele
mesmo viu que a multidão era ―como ovelhas que não têm pastor‖ (Mt 9.36).
1. Visão ampliada
―... e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria‖ (At 1.8) é o trabalho realizado em casa, na escola, no trabalho, na rua, nas
praças, com os vizinhos, etc. Essa é a nossa Jerusalém.
O missionário deve começar por Jerusalém. Uma vez realizado seu trabalho ali, ele
pode partir para a Judéia e Samaria, isto é, sua visão começa a ampliar-se para
evangelizar pessoas e cidades distantes.
Finalmente sua visão atinge a plenitude e ele começa a ter desejo de evangelizar ―...
até aos confins da terra‖ (At 1.8).
2. Na visão missionária, todos os homens estão incluídos
Vejamos algumas referências bíblicas nesse sentido:
27
―...pregai o evangelho a toda criatura‖ (Mc 16.15).
―Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna‖ (Jo 3.16).
―[Deus] quer que todos se salvem‖ (1 Tm 2.4).
―Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens‖
(Tt 2.11).
―não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se‖
(2Pe 3.9).
―...porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda
tribo, e língua, e povo, e nação‖ (Ap 5.9).
O número daqueles que ainda não ouviram falar nada sobre o evangelho é muito
grande. Que Deus nos desperte para esta grande tarefa.
Lição 7 - O preparo para ser Missionário 28
A chamada divina para a missão, seja ela nacional ou transcultural, deve ser
caracterizada pelos preparos espiritual, secular e ministerial na vida da pessoa que
está sendo vocacionada para tal tarefa: seja homem ou mulher, não importa o sexo
a que pertence:

1. Preparo espiritual
O preparo espiritual deve vir em primeiro lugar na vida da pessoa que se sente
vocacionada por Deus para realizar uma missão na Seara do Mestre. Esse preparo,
deve ser realizado pôr três vias importantes, a saber:

a) Leitura com meditação das Escrituras Sagradas

Ler a Bíblia no sentido mais simples e ordinário possível. Procurando descobrir


pacientemente o pensamento geral das Escrituras sobre a grande missão na qual
ele estará entrando. Durante sua leitura, deve, portanto, evitar a procura de apoio
para suas ideias preconcebidas. Com o passar do tempo, essa leitura da Bíblia trará
para o leitor conhecimento geral e linhas de pensamentos embasados nos eternos
propósitos de Deus, que já mais o deixarão se desviar para outra direção.

Paulo foi um homem instruído no saber e na erudição ordinária de Seus dias. Seus
treinamentos quanto à sabedoria humana mui provavelmente incluiu a educação
filosófica ordinária, a retórica e a matemática, sem falar em seus estudos sobre a
religião e as tradições judaicas.

Contudo, após sua conversão no caminho de Damasco, foi orientado por Cristo a
buscar novas revelações de conhecimentos espirituais. Ele passou algum tempo em
Damasco, ocasião em que conheceu e fez amizade com aqueles a quem veio
procurar poucos dias antes, a fim de detê-los e levá-los agrilhoados para Jerusalém,
para serem julgados perante o tribunal superior dos judeus: o Sinédrio.

A permanência de Paulo em Damasco provavelmente foi de pouca duração,


porquanto, na passagem de Gálatas 1.17, somos informados que pouco depois de
sua conversão ele se dirigiu para o ―deserto da Arábia". Ali, só com Deus.
reconstruiu a estrutura interior do homem espiritual. Ali, no ―deserto da Arábia‖,
durante três anos de meditação, ele recebeu as visões e revelações iniciais que
posteriormente passaram a fazer parte de seus escritos (At 9.19-23; G1 1.17).

Em seu retorno, foi novamente para Damasco, onde se demorou por pouco tempo,
ocasião em que fez, pelo que parece, sua primeira visita a Jerusalém após sua
conversão. Paulo fez quatro visitas à Cidade Santa depois de aceitar a Jesus. De
acordo com Atos, suas visitas foram estas:
Primeira: Atos 9.23-30;
Segunda: Atos 11.30; 12.25;
Terceira: Atos 15.1-4;
Quarta: Atos 21.17-28.
29
Mas a primeira delas parece ter sido somente depois de seu retomo do deserto da
Arábia (At 9.23-30).

b) Jejuar com sabedoria divina

O cristão em geral deve jejuar, pois tal prática faz parte de seu sucesso espiritual.
No tocante ao obreiro, o jejum toma-se indispensável. Este, porém, deve ser feito
com sabedoria e dentro dos métodos racionais. Não devemos submeter nossos
corpos a um processo de exaustão até o último limite de nossa capacidade.
Devemos jejuar, portanto, de acordo com nossas forças, e não além disso (Ec 9.10).

c) Uma vida de oração

O obreiro jamais terá sucesso em seu ministério, se não tiver uma vida dedicada à
oração, que tem sido comparada por alguns como sendo o ―oxigênio da alma‖, sem
o qual ela morre.

2. Preparo secular
Aqui, neste ponto, não queremos dizer que Deus se prenda simplesmente ao fato de
somente ―enviar‖ para sua obra obreiros intelectuais. Não! Nós não estamos falando
assim. Porque, com efeito, não são muitos os intelectuais que são chamados. Paulo
falou disso em seus elementos doutrinários. Ele disse: ―Porque vede, irmãos, a
vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os
poderosos, nem muitos os nobres que são chamados‖ (1Co 1.26). Mas
aconselhasse que os candidatos à missão tenham, pelo menos, concluído o
segundo grau.

O motivo disto é porque na maioria dos países para onde o missionário vai exige-se
para efeito de documentação legal, por parte das autoridades, esse grau de
instrução.

3. Preparo ministerial
Constitui sua experiência adquirida ao longo dos anos de sua cooperação com
respeito à Igreja e ao ministério; sua ordenação e sua instrução teológica.

a) Sua experiência: esta será adquirida no dia a dia, com exemplos próprios e
outras experiências que o trabalho do Senhor e alguns homens de Deus nos
ensinam.

b) Sua ordenação: o candidato deve ser devidamente ordenado pelo ministério ou


convenção a que pertence, e precisa ser emitido um certificado de ordenação, pois é
esse o primeiro documento que o departamento de imigração, em quase todos os
países do mundo, exige daqueles que desejam desempenhar funções religiosas.
c) Sua instrução teológica. Qualquer obreiro que deseja realizar uma obra para
30
Deus, seja ela em sua própria nação ou fora dela, deve ser possuidor de notável
saber, tanto bíblico como teológico.

Estas qualidades lhe possibilitará segurança naquilo que ele prega, ensina e edifica.
Paulo diz que os fundamentos devem ser postos por homens sábios e não tolos (1
Co 3.10).

Reconhecemos que nem todo o mestre é um pastor; mas o missionário, a exemplo


do pastor, deve ser um mestre, pois boa parte do seu ministério, no início da obra
missionária, é o ensino, visto que ele ainda não dispõe de pessoas qualificadas para
tal tarefa. Assim, tora-se necessário que ele seja um bom evangelista, para ganhar
as almas; um dedicado mestre, para edificar as almas e um bom pastor, para cuidar
das ovelhas que estão sob seus cuidados.

Além de todas estas qualidades e preparos que falamos acima, necessários para o
obreiro, ele deve primeiramente está convicto de sua chamada e vocação para o
ministério e para a missão. Sem esta certeza, ele se sentirá um obreiro inseguro,
vacilante; e não vencerá na vida, nem dentro e nem fora do ministério.
Lição 8 - A liderança e a Igreja com visão 31

missionária
Igreja com visão missionária é igreja envolvida e comprometida com missões;
acompanha o avanço da obra missionária no contexto urbano, dentro e fora do seu
estado, também em todo o território nacional e no mundo, promovendo, entre seus
membros, o despertar para a vocação missionária. É uma igreja sempre operosa,
frutífera e útil no projeto de Deus de alcançar os perdidos, congregar e edificar os
salvos.

Igreja com visão missionária se apresenta sempre harmônica, coesa e agradável.


Nessa igreja todos compartilham da mesma visão (Fp 2.1-4). Cada um, movido pelo
Espírito Santo, desempenha espontaneamente e com fidelidade a sua função.

I. Pastor, o principal agente missionário na igreja local


Faz parte do método de Deus usar pessoas que Ele mesmo capacita por meio do
Espírito Santo para impulsionar outros ao cumprimento de determinada tarefa (At
20.28; 1Pe 5.2). Numa igreja local, o pastor é esse instrumento de Deus.

Depois de comunicar a visão a presbíteros, diáconos, líderes de ministérios e


professores da escola bíblica, o pastor vai à frente. Seu exemplo contundente, bem
como a expressão de fé e fidelidade àquele projeto, demonstrados em ações
práticas e producentes, com certeza motivarão toda a igreja.

Neemias aplicou essa metodologia divina por ocasião dos informes que recebeu
sobre a destruição de Jerusalém.

Vejamos algumas dessas ações práticas.


1. Tomou conhecimento da situação (Ne 1.1-3)

―Os restantes... estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão


derribados, e as suas portas, queimadas‖ (v.3).

2. Dispôs-se a realizar a obra (Ne 1 A; 2.5)

―...peço-te que me envies a Judá...para que eu a reedifique‖ (2.5).

3. Falou com Deus a respeito da missão (Ne 1.5-11)

―Ah, Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo e à dos
teus servos... concede que seja bem sucedido hoje o teu servo‖ (1.11).

4. Trabalhou a visão no seu coração (Ne 2.11-15)

―Deus me pusera no coração para eu fazer‖ (2.12).

5. Comunicou a visão aos seus colaboradores (Ne 2.17)


―Estais vendo a miséria em que estamos... reedifiquemos os muros de Jerusalém e
32
deixemos de ser opróbrio‖.

6. Agiu em parceria com o povo

"Disponhamo-nos e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra" (Ne 2.18-


20).

Um grande desafio do ministério pastoral é vencer barreiras para que toda a igreja
aprenda a amar missões. Infelizmente, nem todos os crentes, nem todas as igrejas
evangélicas e nem todos os pastores têm uma visão missionária definida pela Bíblia.
Nem todos estão envolvidos e comprometidos com a Grande Comissão. Por isso,
antes de vencer barreiras externas, o pastor precisa vencer suas próprias limitações
no que concerne ao seu envolvimento e compromisso com missões.

II. Envolvimento e influência dos líderes


Um programa de educação missionária será eficaz se houver uma forte participação
da liderança local nesse processo. Líderes que aprenderam a priorizar e amar
missões vão influenciar outros pelas suas atitudes.

É de fundamental importância a presença física dos líderes nos eventos


missionários da igreja local, regional e denominacional. Quando uma igreja enxerga
sua liderança valorizando missões e tendo especial consideração com os
missionários, aprende a priorizar e amar a obra missionária.

1. Modelo deixado por Jesus

Uma liderança motivada funciona como canal de transferência da visão missionária


a cada membro e congregado da igreja. A partir desse ponto, será mais fácil delegar
responsabilidades, tal como fez o Senhor Jesus (Mt 9.35-38).

a) Teve a visão

―Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas‖.

b) Comunicou a visão

―E, então, se dirigiu a seus discípulos... Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande
trabalhadores‖.

c) Envolveu líderes na Sua visão

―Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio‖ (Jo 20.21). Aqueles homens,
apesar da simplicidade e inexperiência, formaram a base sobre a qual se estruturou
o cristianismo conforme Jesus planejou. E deu certo!

2. Aspectos práticos

Igreja com visão missionária é aquela na qual o envolvimento e a influência dos


líderes vão além da mera comunicação verbal.
a) A visão é compartilhada
33
O pastor e a liderança local alcançarão êxito na tarefa quando toda a igreja estiver
envolvida e comprometida com missões. Visão não compartilhada é mera ilusão.

b) A visão é seguida de exemplo pessoal

Cabe à liderança local ser modelo de Cristo para o rebanho. Era esta a ideia do
apóstolo Paulo: ―Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo‖ (1Co 1
1.1); ―Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores‖ (1 Co 4.16).

Pedro admoestou os líderes locais: ―Rogo, pois, aos presbíteros... Pastoreai o


rebanho de Deus que há entre vós... tornando-vos modelos do rebanho‖ (1Pe .1-3).

c) A visão promove o "arregaçar as mangas"

Se a liderança local não ―arregaçar as mangas‖, dificilmente a igreja aprenderá a


amar missões. Visão compartilhada sem ação, logo se perde no tempo, fracassa.

Nesse caso, a visão missionária terá sido sufocada pela apatia e acomodação dos
líderes. Em 1 Crônicas 29.1 -9 temos em Davi um bom exemplo do envolvimento
pessoal e eficaz do líder.

d) A visão enxerga mais longe

Se a igreja investir na formação de uma liderança envolvida e comprometida com


missões, os resultados, com certeza, virão. Alguém só poderá comunicar uma visão
se, primeiramente, estiver convicto do alvo que quer alcançar. Uma liderança
responsável diante de Deus, segura de que está na direção certa, terá grande
impacto na igreja local.

III. A tríplice comissão de Jesus à igreja


A relevância da evangelização mundial como tarefa prioritária da igreja pode ser
percebida na ênfase que Jesus deu ao assunto nas páginas do Novo Testamento.
Repetidas vezes Ele ordena aos Seus discípulos que saiam pelo mundo para
anunciar as boas novas do evangelho.

1. Erguei os olhos e vede os campos (Jo 4.35)

Depois do encontro com Jesus à beira do poço de Jacó (Jo 4.5-26), a mulher
samaritana compartilhou com seu povo o que lhe havia sido anunciado. A notícia se
espalhou, e os samaritanos ficaram ávidos para saber mais sobre aquele Jesus.
Eram corações prontos para acolher as boas novas do evangelho. É a esse fato que
Jesus Se refere quando diz: ―Erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam
para a ceifa‖.

Uma igreja com visão missionária vê o mundo como Jesus viu aquelas pessoas em
Samaria: prontas para a colheita espiritual, sedentas da mensagem do evangelho.
Infelizmente, muitas igrejas só enxergam o que os discípulos viam naqueles dias:
um campo ainda verde, pois faltavam quatro meses até a ceifa. Jesus, porém, viu
34
pessoas exaustas, dispersas e desorientadas como ovelhas sem pastor, carentes da
graça. Erguer os olhos é parte da Grande Comissão, é a atitude que Jesus espera
da Sua igreja hoje!

2. Rogai ao Senhor da seara que mande trabalhadores (Mt 9.35-38)

O êxito de uma colheita leva em conta o labor e o número dos trabalhadores. Jesus
declarou aos Seus discípulos: ―A colheita é grande, mas os trabalhadores são
poucos. Peçam ao dono da plantação que mande mais trabalhadores para fazerem
a colheita‖ (NTLH).

Assim como em Samaria, o evangelho, hoje, está sendo semeado das mais diversas
maneiras em milhares de corações. Por essa razão, mais trabalhadores são
necessários. Uma igreja com visão missionária não cessa de orar para que o Senhor
levante trabalhadores, e Ele os dá enquanto a igreja ora. Essa oração é tremenda
exatamente por coincidir com a prioridade do plano de Deus.

3. Ide por todo o mundo (Mc 16.15)

Quando falamos em ir aos ainda não alcançados pela salvação, Jesus é o perfeito
exemplo de que dispomos. Ele procurava e ainda procura as pessoas onde elas
estão. Jesus não espera que elas venham a Ele; antes, vai onde estão. ―A chave
para as almas das pessoas está pendurada em sua casa. Por isso é necessário ir
até elas, procurá-las em sua vida cotidiana, em suas aflições, em suas doenças, em
sua solidão‖ - Samuel Keller (Evangelho de Mateus, Fritz Rienecker, Comentário
Esperança, p.166).

A igreja do primeiro século foi mais longe. Hoje temos perdido a visão missionária.
Investir em oração por um avivamento missionário é a direção certa. Orar para que
pastores, presbíteros, diáconos e demais líderes de uma igreja local sejam
despertados para missões, deve ser o alvo de cada cristão. Assim, toda igreja será
desafiada.

IV. O envio de missionários (At 13.1-4)


A igreja de Antioquia é apresentada aqui como importante base de envio de
missionários. Contudo devemos nos lembrar que naqueles dias a proclamação do
evangelho acontecia naturalmente. Não havia um plano elaborado pelas igrejas já
existentes: ―os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra‖ (At 8.4).
Assim o evangelho chegou à Antioquia, onde encontramos três marcas de uma
igreja que envia missionários.

1. Adoração por excelência (v.2)

O texto informa que eles prestavam culto a Deus, oravam e jejuavam. Visitavam a
intimidade do Senhor, buscando comunhão com Ele, a fim de conhecer a Sua
vontade. Esse serviço da alma é o que Deus espera da igreja em todos os tempos
(Jo 4.24). Aqui está o alicerce para qualquer outra realização da igreja. Nesse
contexto, o Espírito Santo falou mais especificamente àqueles cristãos sobre o
35
projeto missionário de Deus.

2. Sensibilidade espiritual (v.2)

Não por acaso Lucas informa que ―havia profetas e mestres‖ naquela igreja.
Podemos supor que o Espírito Santo falava por intermédio deles. Usar pessoas no
cumprimento da Sua vontade é parte do método de Deus. Os profetas estavam
convictos de que se tratava de uma ordem divina, portanto não hesitaram em
comunicá-la à igreja, mesmo que isso significasse a perda de colaboradores ilustres
como Barnabé e Saulo. Esse primeiro envio de missionários não foi fruto de
exaustivas reuniões deliberativas dos líderes da igreja de Antioquia, mas da
sensibilidade deles à voz do Espírito Santo (cf. o exemplo de Filipe em Atos 8.26).

3. Obediência incondicional (v.3)

Pela determinação do Espírito Santo, Barnabé e Saulo não estavam mais nos
planos de Deus para aquela igreja local. Foram chamados para uma missão
específica: ‘‘para a obra a que os tenho chamado‖ (v.2). A obediência antecede
qualquer ação que alguém possa desenvolver na igreja. Portanto, cabia à igreja
obedecer, ainda que nenhum detalhe maior fosse revelado naquele instante.

A visão missionária nasce na adoração e na oração de uma igreja atenta à voz do


Espírito e pronta para obedecer. É assim na sua igreja?

V. O sustento de missionários (Fp 4.10-19)


Líderes com visão missionária atuam na igreja como agentes motivadores, que vão
influenciar os membros a assumir compromissos de fé, por meio de contribuições
mensais para atender aos projetos e sustento de missionários.

A participação financeira é uma das formas de aproximação da igreja com o obreiro.


Igreja operosa em missões se sente presente no preparo da terra, no lançar das
sementes e na colheita. O sustento financeiro para missões resulta em bênçãos
também para a igreja local.

1. Privilégio

Igreja missionária é aquela que não perde a oportunidade de cuidar dos seus
missionários (cf.v.10).

2. Parceria

Paulo reconhecia que a associação entre igreja e missionário é algo bom (cf. v. 14-
15).

3. Responsabilidade

A igreja missionária é consciente e cumpre sua obrigação no envio do sustento


financeiro (cf.v.18).
VI. A intercessão pelos missionários (Ef 6.17-20) 36
A oração é sustentáculo e mola propulsora das atividades missionárias da igreja que
caminha na unção do Espírito Santo: ―com toda oração e súplica, orando em todo
tempo no Espírito‖ (v. 18). A oração destrói barreiras que Satanás levanta, tanto na
igreja como no campo, e coopera com Deus e com Seu Filho Jesus Cristo na
gloriosa tarefa de tirar as pessoas das trevas, transportando-as para Sua
maravilhosa luz (lPe 2.9; Cl 1.13). A oração é uma ferramenta indispensável, pois a
igreja missionária está numa grande batalha espiritual; vencê-la, depende de muito
jejum e oração (Mc 9.29). Vejamos como a oração da igreja deve ser.

1. Perseverante - "... em todo tempo... com toda perseverança..." (v.18)

Um missionário em pleno exercício da sua vocação se torna um grande inimigo de


Satanás. Os ataques são constantes. Satanás não dá trégua nas tentativas de
impedir o avanço do evangelho. Além de conferências missionárias e cultos
mensais, a igreja deve promover reuniões de oração periódicas, em dias da semana
e também estimular os irmãos à intercessão diária e perseverante pelos
missionários.

2. Pessoal - Orai "... também por mim..."(v.19)

A igreja deve orar nominalmente pelos missionários, intercedendo pela saúde física,
emocional, espiritual e familiar de cada um deles; pela adaptação deles ao campo de
trabalho, não poucas vezes em lugares distantes, isolados, perigosos e sem
recursos. Quando a igreja ora assim, está demonstrando interesse pelo dia a dia do
missionário.

3. Pelo sucesso da missão - "... para que me seja dada... a palavra, para com
intrepidez..." (v. 19)

Paulo queria cumprir seu ministério de forma poderosa, alcançando êxito. Para isso
a igreja deveria orar pelo sucesso da missão: ―para que Deus nos abra a porta à
palavra, afim de falarmos do mistério de Cristo‖ (Cl 4.3). A oração da igreja prepara o
ambiente, abre portas para o missionário e traz a unção do Espírito que o capacita
com a autoridade da Palavra que anuncia.

Pela oração, a igreja coloca os missionários nas mãos do Mantenedor, o que é


infinitamente maior do que simplesmente prover-lhes o mantimento. Não há outro
meio que promova maior interação entre igreja e missionário do que a oração
perseverante.

VII. O relatório dos missionários (At 14.25-28)


Relatórios fazem parte da vida do missionário. Ele sabe que as experiências vividas
no campo não podem ser guardadas; são tremendas, edificam, fortalecem a fé e,
por isso mesmo, devem ser compartilhadas com a igreja que o enviou: os momentos
difíceis, os milagres do agir de Deus, a certeza de que a oração da igreja o sustenta.
Ouvir o relatório missionário é benéfico sob vários aspectos.
1. É recompensador para a igreja
37
A igreja que cerrou fileiras na intercessão e no sustento do missionário pode, nesse
momento, provar das alegrias da colheita e do agir soberano de Deus. Não há nada
mais gratificante no serviço do reino do que ouvir testemunhos de quem
experimentou o cuidado de Deus. Que abençoada reunião missionária a igreja de
Antioquia celebrou naquele dia! (v. 27)

2. Demonstra o interesse da igreja pelo missionário e seu trabalho

Tentemos imaginar a alegria de Paulo e Barnabé ao retornarem à igreja de Antioquia


relatando ‘‘quantas coisas fizera Deus com eles‖ (v. 27). Como seria frustrante se
não houvesse interesse dos irmãos em ouvi-los! Também o relatório financeiro do
missionário deve estar inserido nesse contexto.

3. É motivador para a igreja e o missionário

Lucas registra que eles ―permaneceram não pouco tempo com os discípulos‖ (v.28).
Podemos supor que houve grande admiração e júbilo por parte da igreja. A vocação
de Barnabé e Paulo, associada ao entusiasmo da igreja com a primeira viagem,
motivaram novas empreitadas (At 15.36 – 2ª viagem; 18.23 – 3ª viagem).

VIII. Descanso e retorno dos missionários ao trabalho (Me 6.30-32; Hb 4.10)

Distante de casa, do conforto da cidade e da comunhão com a igreja que o enviou, o


missionário no campo está o tempo todo em serviço: ―porque eles não tinham tempo
nem para comer‖ (Mc 6.31). Depois de um determinado período, o descanso é
imperativo! Mais uma vez a igreja precisa fazer a sua parte.

1. Ser consciente da necessidade do descanso

O trabalho do missionário é quase ininterrupto; ele atua não só na evangelização,


mas, também, no social, na saúde e nas questões familiares que surgem no campo.
Num contexto assim, o descanso é fundamental para que as energias sejam
recobradas. Talvez seja a ocasião para algum tratamento médico ou outra
necessidade.

2. Promover esse descanso

A igreja deve promover esse descanso, oferecendo ao missionário e à sua família


um programa de férias e recuperação física, emocional e espiritual. O apoio aqui é
importante por se tratar da readaptação do missionário com a sua cultura de origem.

3. Cuidar do retorno do missionário ao campo

Depois de um período de descanso, de alguma formação complementar e visita às


igrejas locais, o missionário tem de retornar ao campo seguro de que a sua igreja
continua com ele. É bom que conheça o grau de comprometimento que os irmãos
que o enviam estão assumindo. A igreja deve cuidar para não colocar sobre os
ombros do missionário cargas maiores do que ele pode suportar.
Uma igreja missionária envia, sustenta, intercede e promove uma constante
38
interação com o missionário no campo. Está sempre atenta às necessidades que
surgem e as supre com responsabilidade e contentamento por poder cumprir sua
parte na missão.

IX. A Igreja e a obra missionária


Deve haver, por parte da igreja, uma preocupação quanto aos diversos aspectos
sobre o assunto. Vejamos alguns:
1. Deve ser um assunto mencionado constantemente nas reuniões da igreja (At
14.26,27; 17.1-3; 21.18,19)
O relato do que Deus está fazendo através dos missionários trará grande incentivo à
igreja quanto à obra missionária.
2. A igreja deve orar para que Deus levante missionários (Mt 9.37,38)
Quando a igreja está orando, Deus levanta homens e mulheres para este tão
importante trabalho (At 13.2-3).
3. A igreja deve enviar os chamados (At 13.1-3; 15.40,41; Rm 10.15)
4. A igreja deve sustentar o missionário financeiramente (Mt 10.10; 1Co 9.4-14; 1Tm
5.17,18)
5. A igreja deve orar pelo missionário (At 14.23-27; 15.40; Ef 6.18,19; Cl 4.3;2Ts 3.1)
6. O missionário deve mandar relatórios do trabalho que está sendo efetuado (At
14.27; 15.3-4)
A igreja deve investir parte de seus recursos financeiros na obra missionária
A promessa de Deus para os que fazem assim é infalível. ―Alguns há que espalham,
e ainda se lhes acrescenta mais; e outros, que retêm mais do que é justo, mas é
para a sua perda. A alma generosa engordará, e o que regar também será regado‖
(Pv 11.24,25).
Está provado que as igrejas missionárias são prósperas, pois ao darem, elas
recebem de volta abundantemente. O segredo para receber é dar (Lc 6.38).
A igreja não deve desanimar pelo fato de alguns países estarem com as portas
fechadas para o evangelho
Outros continuam ainda com as portas abertas, e a igreja deve transpô-las até que
Deus abra as outras. Ver o exemplo de Paulo em Atos 13.45-52; 14.3-7; 14.20,21.
Lição 9 - Todos podem fazer missões 39

Você já pensou em ser missionário? Se você não pensou, saiba que Deus tem
planos missionários em sua vida. Pode ser onde você está. Pode ser do outro lado
do mundo. O lugar é com Ele. A sua parte é ter o coração pronto para obedecer.
Vamos ouvir a voz de Deus?

I. Faça missões sem sair de casa


Quando entendemos nosso papel de testemunhas, começamos a perceber as
muitas oportunidades que temos para servir ao Senhor. ―Aproveitai as
oportunidades‖ (Cl 4.5).

1. Minha casa, meu campo

As pessoas em seu lar também precisam da salvação em Jesus. Mesmo que


tenham nascido em um lar cristão, precisam ser evangelizadas para caminhar com o
Senhor, e você tem o privilégio de aproximá-las cada vez mais do Pai.

a) Preparando

Você já pensou em preparar seus filhos para o campo missionário? Você pode
plantar no coração deles o amor por missões desde pequenos, contando histórias
missionárias, compartilhando a realidade dos povos sem Jesus e sem a palavra de
Deus, contribuindo com missões. Em nossos dias temos acesso a excelentes livros
com biografias e histórias missionárias contadas para o público infanto-juvenil. Você
pode montar um cantinho especial em sua casa, o ―cantinho da oração‖. Coloque um
mapa do mundo com os países e marque o nome dos missionários nos locais onde
atuam. Seus pés podem nunca pisar em outro país, mas você pode alcançar o
mundo com seus joelhos, em oração. Orem como família, juntos; escrevam cartas
aos missionários; estimule seus filhos a que escrevam para crianças da mesma
idade. Não se esqueça de orar pelos amiguinhos de seus filhos, que são o campo
missionário deles. Coloque países, autoridades, famílias aos pés do Senhor. Clame
a Deus por misericórdia. Alcance pessoas e nações do sofá da sua sala. Faça
missões!

b) Recebendo

Todo missionário tem um período de visita às igrejas. Ofereça hospedagem, chame


para uma refeição. Você pode abençoar muito a família missionária, e sua família
será grandemente abençoada também. É comum os missionários voltarem do
campo esgotados e cansados, precisando de amigos, refúgio, cuidados e férias de
verdade. Os que têm filhos precisam de tempo como casal. Enfim, os missionários
têm necessidades como todas as pessoas e, quando estão fora do campo, precisam
recarregar as forças emocionais e físicas, e renovar a visão. Aproxime-se, seja
sensível. Abra seu coração e sua casa para acolher os que têm dado a vida no
campo missionário.
c) Suprindo
40
Procure conhecer as reais necessidades. Temos a ideia de que missionários só
precisam de dinheiro. O sustento financeiro é importante, mas não é tudo. Muitos
precisam de palavras de encorajamento, cartas, bons livros, bons louvores e, com
certeza, de oração. Você e sua família podem fazer muita diferença na vida de
missionários e respectivas famílias.

2. Minha casa, casa de Deus

Na igreja primitiva, os cristãos entendiam que tudo o que tinham, inclusive as casas,
era para serviço ao Senhor. Os lares estavam sempre abertos para oração,
comunhão e refeições (At 2.42-47). A sua casa pode ser um local de refugio para os
vizinhos angustiados e corações abatidos. Você pode abençoar muitos com estudos
bíblicos, em pequenos grupos. Gastamos muito tempo cuidando de coisas, mas o
Senhor nos chama para cuidar de pessoas. Por isso é preciso planejar, separar
tempo, convidar pessoas e investir em relacionamentos. Não precisa ser nada muito
elaborado e nem caro. O objetivo é desenvolver relacionamentos e estar aberto ao
que Deus quer fazer. Faça um bolo e chame algumas vizinhas para um chá à tarde,
leia um texto bíblico, compartilhe sua fé; ouça os outros. Busque as pessoas.
Quando a igreja primitiva tinha a casa aberta, ―acrescentava-lhes o Senhor; dia a
dia, os que indo sendo salvos‖ (At 2.47).

3. Minha casa, minha vida, meu tudo

Para abordar as necessidades do campo missionário, oferece-se ao cristão uma


escolha entre três opções: orar, ir ou contribuir. Mas a Bíblia não coloca essa
divisão; somos chamados a fazer as três coisas, e uma não exclui as outras! Se o
nosso coração estiver em missões, nossos joelhos estarão dobrados, nosso
testemunho alcançará pessoas e nosso bolso estará investindo no que é eterno! (Mt
6.19-21)

a) Sobras para o Senhor?

Nossa cultura tem o costume de dar para missões aquilo que não serve mais. Com
muita tristeza, missionários recebem roupas rasgadas e completamente fora de
moda, medicamentos vencidos, brinquedos quebrados, livros rasgados e por aí
afora. A obra missionária não deve ser feita com nossos restos, mas com aquilo que
revela o amor do Pai. Em 1 Crônicas 21.23-34, Davi se recusa a dar ao Senhor algo
que não lhe custasse nada. Ele queria pagar o preço, investir! Davi era generoso
com as coisas de Deus, e o povo seguiu seu exemplo, dando voluntariamente e
liberalmente ao Senhor (2Cr 29.9).

b) Dará melhor que receber (At 20.35)

Esse não é o estilo de vida do mundo, mas é o ensino do Senhor. É uma questão de
mordomia: tudo o que temos vem de Deus e deve ser usado para Sua glória! Só
aprendemos que dar é melhor quando começamos a dar, a dividir, a ofertar.
Experimente e veja o resultado!
II. Expedições missionárias 41
O modelo de missões hoje é o de Missão Integral, que vê a pessoa em todas as
suas necessidades e abre portas para muitas opções de ministério. Cuidado: ação
social não é um pretexto para se pregar o evangelho! Em muitos casos, a própria
pregação do evangelho é a maneira de dizer ―Deus te ama tanto que quer te ajudar
a viver melhor, diminuir teu sofrimento‖. Jesus nunca disse ‗Deus te abençoe‘ e foi
embora. Ele curou os enfermos, libertou os possessos, curou os aflitos, tratou suas
dores (Lc 6.17-19). Ele nos deixou o exemplo a seguir (IPe 2.2l). Entre ser
missionário de tempo integral ou ficar na igreja, existe um leque de opções na obra
missionária.

1. Missões de curto prazo

São expedições missionárias que contam com voluntários cristãos disponíveis em


períodos de uma semana a um mês, como férias, por exemplo. Os voluntários se
inscrevem e são orientados quanto às tarefas que poderão executar. Esse modelo
de missões geralmente é um trabalho de impacto, em que se concentra muita
atividade em pouco tempo, e deve ter a retaguarda de uma igreja para o
acompanhamento dos convertidos e discipulado.

a) Os pré-requisitos

Além do compromisso com o Senhor, alguns requisitos são necessários. O


voluntário ou missionário estará em culturas diferentes (mesmo dentro do seu país).
É preciso ter disposição para se adaptar ao clima, à alimentação, às condições de
hospedagem, ao ritmo de trabalho, às estratégias de evangelismo. É importante
verificar os cuidados de saúde para a região aonde vai, como vacinas, por exemplo.
É necessário respeitar a realidade que encontramos; não diminuir as pessoas; não
fazer piadas com as diferenças entre seu contexto e o do outro; estar disposto a
demonstrar amor, apesar das diferenças!

b) As expectativas

O perfil dos voluntários em missões de curto prazo é bem variável. Apesar de todas
as orientações, não é raro encontrar aqueles que chegam mais interessados em
conhecer novos lugares do que pregar o evangelho. Outros acham que é algo como
retiro da igreja, acampamento. Outros ainda acham que são algum tipo de super-
herói cristão, um Indiana Jones missionário. As motivações podem ser diferentes,
mas é certo que Deus trabalha em todos os lados: nas pessoas que recebem a
atenção e nas que se dispõem a servir. Em cada vida Deus tem algo pessoal a
fazer, e Ele faz!

c) As limitações

É muito comum ser invadido por um sentimento de frustração frente às limitações.


Temos a impressão de que podemos fazer tão pouco ou quase nada, diante de
tantos problemas sociais, econômicos, familiares, espirituais. Nesses momentos,
levante os olhos, olhe para o Senhor e creia que Deus pode e usa o seu pouco para
42
alcançar e abençoar o outro. O pouco aos seus olhos, colocado nas mãos do Pai, se
transforma em muito.

d) As diferenças

Pode ser um grande desafio conviver e trabalhar ao lado de irmãos de outras


igrejas, denominações, estados ou países. No início, as diferenças podem parecer
uma barreira, mas se dermos liberdade à ação do Senhor, Ele pode nos dar o senso
de unidade necessário e usar nossas diferenças a favor de Sua obra.

e) O retorno

Voltar à rotina nem sempre é fácil. Você ganha nova visão dos objetivos de vida, das
bênçãos infinitas do Pai, da sua responsabilidade como cidadão e cristão.

Não guarde tudo num álbum de fotos. Compartilhe o que viu, ouviu, viveu. Conte na
sua casa, na igreja, conte no trabalho, na escola. Sua tarefa não terminou!

f) Os frutos

Gostamos de números, queremos ver mãos levantadas. Mas os frutos competem ao


Senhor; a nossa parte é lançar a semente. Muitas vezes Ele nos deixa ver alguns
frutos para não desanimarmos. Um planta, um rega, outro colhe, mas o crescimento
vem de Deus! (1Co 3.6-7)

2. Profissionais e missões

Existe uma grande carência de profissionais que possam, por meio da profissão,
demonstrar o grande amor do Senhor, cuidando do corpo, da mente e da qualidade
de vida das pessoas. Em muitos países fechados à entrada de missionários, os
profissionais cristãos são instrumentos preciosos.

a) Assistência direta

Acontece quando a ação do profissional cristão atende a uma necessidade


específica e pessoal, por exemplo: assistência médica, dentária, emissão de
documentos, advocacia de pequenas causas, construção de casas, alfabetização,
reforço escolar e tantas outras.

b) Assistência indireta/capacitação

Quando o profissional participa na capacitação da pessoa, viabilizando a


oportunidade de renda ou melhor qualidade de vida, por exemplo: curso de corte e
costura, manicure, cabeleireiro (a), manejos agrícolas, criação de abelhas, hortas,
culinária, artesanato, inclusão digital (informática) e outras.

c) A diferença

Assistência social por si só não é evangelismo. Muitas ONGs e entidades


humanitárias fazem uma boa assistência social. A diferença na ação cristã é que
além da ação tem a evangelização. O cristão não apenas atende as pessoas com
43
amor (chama as pessoas pelo nome, olha nos olhos, senta-se junto, interessa-se,
relaciona-se, etc.), mas também anuncia que Cristo morreu pelos nossos pecados
(1Co 15.3-4).
Lição 10 - Implantando igreja como parte da 44

tarefa missionária
Implantar igrejas é parte da tarefa missionária. Os novos convertidos precisam de
igreja - um lugar para se reunir e pessoas para manter a comunhão cristã. A Grande
Comissão de Mateus 28.19-20 não pode ser obedecida sem implantação de igrejas,
porque a vida cristã completa tem igreja.

A proposta de plantar uma igreja deve estar associada ao compromisso de gerar


uma igreja saudável. Esta lição estudará as qualificações do plantador de igrejas,
bem como os passos e os perigos no processo de plantação de uma igreja.

I. Qualificações do plantador de igreja


Destacamos três qualificações: a identidade, as prioridades e uma especial
capacidade de persistência.

1. Identidade

Para uma igreja nascer e crescer saudável, quem a planta precisa possuir certas
qualidades e habilidades, e muita disposição para trabalhar e servir.

a) Quem é o plantador de igreja

Podemos entender que o plantador de igreja saudável há de ser servo de Jesus


Cristo, experimentado, altruísta, corajoso, disciplinado, emocionalmente saudável,
trabalhador incansável, um verdadeiro ―carregador de piano‖ (veja o exemplo de
Paulo na plantação da igreja em Corinto: Atos 18.1-11). Deve ser comprometido com
o projeto a ele confiado; alguém que não está em busca de aventuras ou tentativas
de fazer alguma coisa boa para a satisfação pessoal ou para tentar provar algo a
outros. Alguém com as qualificações que o apóstolo Paulo listou a Timóteo, a Tito
(lTm 3.1-7; Tt 1.5-9) e a todos quantos aspiram à honrosa missão de servir a Cristo,
sobretudo como um plantador de igreja saudável.

b) O que faz o plantador de igreja

O plantador de igreja deve assumir e desenvolver uma identidade própria para essa
finalidade. Ele não é necessariamente um pastor, mas faz bem o trabalho pastoral,
pois terá que pregar, evangelizar, discipular, ensinar e visitar. Ele geralmente não é
um construtor, mas, às vezes, precisa pôr a mão na massa literalmente. Pode
ocorrer que ele mesmo tenha que carpir, levantar paredes, pintar ou fazer pequenos
reparos num prédio adquirido ou alugado, caso não tenha recursos financeiros para
contratar pessoas para tanto. Em outras palavras, ele é um plantador de igreja
dedicado, um verdadeiro trabalhador.

2. Prioridades

O plantador de igrejas deve procurar manter as seguintes prioridades:


a) Deus
45
Quem O busca em primeiro lugar, as demais coisas lhe são acrescentadas (Lc
12.22-34). Jamais se esqueça de que é possível se envolver com a obra de Deus e
não com o Deus da obra. Esta comunhão diária com Deus por meio da meditação
na Palavra e da oração é a sua sobrevivência no ministério que Deus lhe confiou.

b) Família

E o primeiro lugar em que evidenciamos nosso relacionamento com Deus (Ef 5.25-
6.3). A família exerce um papel importantíssimo no ministério do plantador de igreja,
porque sem esse apoio ele não terá sustentação emocional e social.

c) Trabalho e estudos

São duas tarefas inseparáveis para o plantador de igreja (1Tm 4.16). Além do
trabalho já mencionado, o plantador de igreja precisa estudar e continuar estudando,
a fim de estar sempre inteirado com os saberes e as informações do mundo atual,
além de ter que gastar tempo preparando alimento bíblico para as suas ovelhas.

3. Persistência

O plantador de igreja há de ser um líder visionário e um trabalhador incansável. Não


lhe é dado o direito de fazer experiências especulativas, uma vez que ele recebeu
do Senhor uma visão e um chamado para a tarefa específica de plantar uma igreja
em um novo campo. O seu lema de vida deve ser ―desistir nunca, retroceder jamais‖.

Plantar alguma coisa exige persistência, mas plantar igreja exige um raro tipo de
persistência. Por ser uma luta espiritual, a oposição certeira e cruel vem de todos os
lados possíveis, sobretudo de Satanás (Ef 6.12). Entretanto, a vitória do Senhor é
certa. E o poeta hebraico nos ensinou que ―Os que com lágrimas semeiam com
júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo,
trazendo os seus feixes‘‘ (SI 126.5-6).

II. Tesos elementares na plantação de uma igreja


1. Visão e chamado

O obreiro precisará ter visão e chamado específico de Deus para essa tarefa. Há
muitos pastores e missionários que não são plantadores de igreja. Foram chamados
para outro tipo de ministério. Isso quer dizer que nem todas as pessoas são
chamadas para plantar igrejas.

2. Pesquisa e divulgação

Uma vez selecionada a cidade, por meio de critérios legítimos, devem ser feitas
pesquisas exaustivas com os seus habitantes, identificando o perfil religioso,
sociocultural, político, histórico, etc. Isso é o que se pode chamar de pré-
evangelismo.
3. Local adequado
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O local próprio ou alugado deve ter as seguintes características: funcional, amplo,
bem arejado, com boa iluminação, etc. O ambiente deve ser o mais agradável
possível, para transmitir uma boa imagem para a comunidade. O templo não
evangeliza, mas pode ―desevangelizar‖, no sentido de não causar boa impressão
aos visitantes.

4. Igreja mãe

A igreja a ser plantada precisa ter, desde seu início, um referencial, um modelo, que
é a igreja mãe, que precisa ser forte e saudável. O que se propõe é uma relação de
amor em que a mãe deseja e faz todo o possível para ver a filha bem, crescendo
com saúde, força, interdependência, maturidade e responsabilidade.

Uma igreja que nasce é como uma criança que precisa de amor, cuidado, atenção,
carinho, motivação, o melhor que a mãe possa dar, e não o resto. Do contrário,
melhor será não gerar filhos. Fazer a obra com o que sobra e de maneira
impensada, irresponsável e mendicante é, no mínimo, deselegante e reprovável (Jr
48.10).

5. Evangelismo e discipulado

A prática destas duas ordens do Mestre: ―ide... e pregai o evangelho‖ (Mc 16.15) e
―ide... fazei discípulos‖ (Mt 28.19) é o coração da plantação de igreja. Na verdade,
não haverá igreja se essas ordens não forem obedecidas. Métodos criativos e
contextualizados podem ajudar muito, mas o método, por si só, não cumpre a
missão. Têm que sair do papel e ir para a prática.

6. Missões

Se queremos uma igreja saudável, é preciso, desde cedo, educá-la a contribuir com
liberalidade para missões. Aqui precisamos lembrar do que o apóstolo Paulo disse à
igreja em Éfeso: ―Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister
socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-
aventurado é dar que receber‖ (At 20.35). Uma medida incentivadora é que a nova
igreja adote um missionário ou mais, para que ore em seu favor e mande, fielmente,
ofertas mensais.

IV. Frutos da plantação


Descrever os imensuráveis frutos da plantação de uma igreja saudável é quase
impossível, uma vez que são frutos eternos (Jo 15.16). Há, pelo menos, dois que
são imediatamente visíveis.

1. Transformação espiritual

―Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do
seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados‖ (Cl 1.13-14). Há três
palavras-chave nesse versículo: libertação, redenção e remissão (perdão). Todas
47
descrevem algo que somente o evangelho de Jesus Cristo é capaz de fazer. Davi
escreveu sobre a ―alegria da salvação‖ (SI 51.12).

2. Transformação social

Leia Efésios 5.25-32 e procure relacionar alguns sinais da vida que foi transformada
por Cristo e como essa transformação traz benefícios para a comunidade. Além
desses, pense em quantas pessoas e famílias são restauradas, amparadas e
educadas. Sem dúvida alguma a igreja é um instrumento de Deus para a
transformação social.
Lição 11 - Paulo, o maior missionário do 48

Cristianismo.
O Apóstolo Paulo é, indiscutivelmente, o maior missionário que o cristianismo já
teve. Quando ele se converteu no caminho de Damasco, Deus disse para Ananias:
"Este é para mim um vaso escolhido, para levar meu nome perante os gentios e os
reis, bem como, perante os filhos de Israel" (Atos 9.15). O chamado de Paulo foi
completo. Ele seria missionário perante autoridades religiosas, civis e militares,
perante ricos e pobres, perante ignorantes e intelectuais, gentios e israelitas. No livro
de Atos dos Apóstolos, encontramos Paulo evangelizando todos esses tipos de
pessoas; desde o ignorante Demétrio até os sábios e filósofos epicureus e estóicos;
de pessoas pobres da Judéia até as de alta posição em Beréia, desde o falso
profeta Elimas até o proconsul Sérgio Paulo; da plebe do Império até o comandante
de tropas Cláudio Lísia, desde o fariseu até o presidente do Sinédrio.

Deus percebeu que os doze apóstolos não estavam cumprindo corretamente a


grande comissão, pois só queriam ficar em Jerusalém. Foi neste momento que
Jesus apareceu a Paulo, no caminho de Damasco, e o chamou para ser o grande
apóstolo missionário entre os judeus dispersos e gentios do vasto Império Romano,
naquela época.

O apóstolo Paulo foi o grande trunfo do cristianismo na sua expansão mundial.


Segundo o que ele mesmo afirma, em sua carta escrita aos Gálatas (Gálatas 1. 15-
18), após sua conversão partiu para Arábia, provavelmente para um preparo com
Deus, depois de 3 anos, subiu para Jerusalém, onde esteve com os apóstolos. Essa
visita de Paulo à Jerusalém, parece ter sido suficiente para se perceber a falta de
interesse daquela Igreja por missões e, pela conversa que teve com o pastor
daquela Igreja que era Tiago, Paulo observou o desinteresse em cumprir a ordem de
Jesus, quando disse aos seus discípulos: "Ficai em Jerusalém até que do alto sejais
revestidos de poder" (Lc. 24. 49).

Ouve uma interpretação errônea por parte dos discípulos, por que Jesus disse:
"...até que..." , isto é, até o derramamento do Espírito Santo, e depois deveriam partir
para os confins da terra. Porém os apóstolos queriam permanecer somente em
Jerusalém. Em Marcos 16.15, o Imperativo dado por Jesus Cristo: "Ide...", é
traduzido para palavra grega "Poreuthentes", que quer dizer: partir, deixar,
atravessar fronteiras. Paulo, sabendo disso, foi congregar na Igreja de Antioquia.

1. A Primeira Viagem Missionária de Paulo

A Igreja de Antioquia se tornou a primeira a fazer missões transculturais. Durante


uma consagração de jejum e oração, disse o Espírito Santo: "Separai-me agora, a
Barnabé e a Paulo para a obra que eu os tenho chamado" (Atos 13. 2). Em sua
primeira viagem, Paulo passou por várias províncias da Ásia Menor, tais como:
Salamina e Pafos, na ilha de Chipre, Antioquia e Icônio, em Listra e Derbe, na
Licônia. Sendo essa a primeira viagem missionária, feita antes do Concílio de
49
Jerusalém, no ano 50 d.C..

2. A Segunda Viagem Missionária de Paulo

Após o Concílio de Jerusalém, Paulo empreendeu sua segunda viagem missionária,


visitando as Igrejas dos Continentes, as quais foram estabelecidas na primeira
viagem. Foi até as costas do Mar Egeu, Trôade, antiga cidade de Tróia, viajou para
Europa, estabelecendo Igrejas em Felipos, Tessalônica e Beréia, na província da
Macedônia. Foi a Atenas, a cidade culta da Grécia, e estabeleceu uma viagem
bastante forte em Corinto. Por fim encerrou essa segunda viagem com uma breve
visita a Éfeso, na Ásia Menor.

3. Terceira Viagem Missionária de Paulo

Esta terceira viagem do apóstolo foi muito longa, partindo de Antioquia, Galácia e
Frígia, permaneceu dois anos em Éfeso, passando novamente pela Macedônia. Na
Grécia prega um sermão em Trôade, onde na unção de Deus, ressuscita um jovem
que havia caído do terceiro andar. Despede-se dos Anciãos em Éfeso, passa por
Tiro, Cesaréia e chega à Jerusalém. Após ser salvo de um complô armado pelos
judeus, é resgatado para Cesárea, onde apresenta sua defesa perante os
governadores Félix, Festo e o rei Agripa, quando então, apela para César, e é
enviado para Roma.

Na viagem para Roma, seguiu em um navio com 276 pessoas, e sofre um naufrágio,
porém todos chegam salvos, numa ilha chamada Malta, por ali permanece três
meses, evangelizando aquele povo e os ganhando para Cristo, inclusive o chefe da
ilha. Após sua partida, chega à Roma, onde dali escreve seis Epístolas, que são:
Efésios, Filipenses, Colossenses, Gálatas, Romanos e Filemom.

4. Quarta Viagem Missionária de Paulo

Em Roma, Paulo esteve preso por cerca de dois anos, e durante três ou quatro anos
em que esteve em liberdade, empreendeu sua quarta e última viagem missionária.
Esteve em Nicápoles, no mar Adriático, onde a tradição afirma que Paulo foi preso e
levado de volta para Roma, sendo ali martirizado no ano de 68 d.C.. Entretanto, o
apóstolo teve 33 anos de ministério. A obra missionária era tão forte na vida de
Paulo, que ele considerava como uma obrigação (ICo. 9. 16). Paulo apesar de
morto, deixou-nos sua teologia imortal, o maior legado que a Igreja pode ter. Foi o
autor de um dos maiores tratados de missões transculturais: "Como ouvirão, senão
há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?" (Romanos 10. 14-15).
"Pois sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a
ignorantes, por isto, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho
também a vós, em Roma" (Romanos 1. 14-15).
Lição 12 - Estatística da Perseguição aos 50

Cristãos
A Lista Mundial da Perseguição traz os 50 países com maior grau de perseguição
para com aqueles que seguem a Cristo. Ela é atualizada anualmente há 25 anos
com base em pesquisas da ―Portas Abertas‖, que consideram as leis no país, a
postura das autoridades, da sociedade e da família em relação a cristãos, novos
convertidos e igreja. Um questionário cobrindo esses aspectos determina a posição
do país na lista. Atualmente, cerca de 215 milhões de cristãos são perseguidos por
causa de sua fé em Jesus nos 50 países da lista. Isso faz que os cristãos sejam o
grupo religioso mais perseguido do mundo (2017, Fonte:
https://www.portasabertas.org.br)
51
52
Lição 13 – Síntese da História de Missões 53

1. Cristianismo e missões
Duas palavras e duas ideias interligadas. O Cristianismo é uma das três religiões
dominadas por uma ideia missionária e universal. O Cristianismo conseguiu tornar-
se universal, não que todas as pessoas da Terra se tenham tornado cristãs, mas sim
que o Cristianismo encontrou um lar em quase todos os países do mundo.
A geração pós-Pentecoste tumultuou o mundo — propagou o Cristianismo para além
das fronteiras da Palestina e o que "em 30 A.D. era como uma seita judaica, no ano
60 A.D. era considerado uma religião mundial". A liderança de cristãos como Pedro
e Paulo, os grandes vultos do Cristianismo no I século e as perseguições (At 8) e a
destruição do templo de Jerusalém em 70 A.D. impeliu para o exterior muitos
evangelistas leigos e treinados que se espalharam ampliando o "IDE" de Mc 16 e
levando, destarte, a mensagem de Cristo.
"Cada cristão era uma testemunha e nada é mais notável do que anonimato desses
primeiros missionários". Seus nomes não constam das crónicas missionárias,
contudo, fizeram parte do grupo de obreiros mais eficazes de todas as épocas da
Igreja.
A Igreja da primeira geração cristã era uma igreja missionária e a História da Igreja é
a história de sua missão. A Igreja começa não quando o Senhor chama a uns
pecadores, mas, quando os chama para serem pescadores de homens. A obra
missionária é parte fundamental do propósito da existência da Igreja.
O ponto de partida das missões cristãs — sabemos com certeza — é a igreja do
Novo Testamento, aqueles discípulos que, por ocasião da morte de Cristo na cruz,
fugiram, assustados e inseguros, medrosos até, no dia de Pentecoste foram cheios
do Espírito Santo e por Ele capacitados a dar início, naquela ocasião, à OBRA
MISSIONÁRIA.
O livro de Atos dos Apóstolos, também denominado de Atos do Espírito Santo, relata
de forma detalhada e precisa, o avanço missionário da Igreja do I século, onde
notamos o destaque dado ao apóstolo Paulo, acrescentando também o trabalho
importante de outros homens de Deus como Barnabé, Pedro, Silas, Filipe, João
Marcos, Apoio.
O livro de Atos pouco nos transmite do trabalho excelente que estes servos de Deus
fizeram, todavia, se levarmos em conta o relato feito pela tradição, poderemos
acrescentar que foram os próprios discípulos de Jesus que divulgaram o Evangelho
por toda a parte conhecida até então. Os continentes povoados e "descobertos"
naquele época foram alcançados através de alguns de seus países como a Etiópia,
a Arábia e a índia.
Se Lucas nunca houvesse escrito os Atos dos Apóstolos, ou se essa grande obra,
como muitas outras escritas na mesma época, se tivesse perdido, nada saberíamos
dos começos da Igreja. Mas, aprouve a Deus preservar esta obra maravilhosa que
nos revela que, realmente, o apóstolo Paulo mantém o lugar de maior missionário da
Igreja primitiva. Disse certo escritor: "Ele tem sido ao mesmo tempo o protótipo, o
modelo e a inspiração de milhares de sucessores que se dedicaram à Obra
54
Missionária".
Muitos ainda acrescentam que Paulo é o maior missionário de todos os tempos. É
alguém que conseguiu, através de um ministério espiritualmente extraordinário,
estabelecer o verdadeiro cristianismo desde a sua base até o seu crescimento e
estabilidade nos séculos seguintes em todas as partes da Terra.
Paulo usava como estratégia missionária, concentrar seus esforços em centros
populacionais estratégicos — centros de comércio e de influência política — dali
seus coirmãos levariam o Evangelho para outras regiões por onde passassem. Ele
também abordava pessoas de todos os níveis da sociedade, dando imensa base à
igreja. Ele estabeleceu igrejas independentes, não estações missionárias, método
que, segundo alguns estudiosos, ainda pode ser aplicado hoje.
Paulo enfrentou provações como prisões, açoites, perseguições, rejeições, conflitos
interpessoais como na disputa com Barnabé e, como muitos corajosos cristãos da
igreja dos primeiros séculos, teve um fim violento, sob a perseguição de Nero, dando
um exemplo às gerações posteriores de que não tinha sua vida como preciosa, pois
o importante era anunciar JESUS, e sua obra salvadora.
A Igreja Cristã não findou com a destruição de Jerusalém, ela encontrou em
Antioquia da Síria o seu segundo lar. E em seguida Roma assumiu o terceiro grande
centro do mundo cristão.

2. O avanço missionário
A igreja de Éfeso foi o lugar de onde provavelmente Paulo teria partido para a
Espanha — por algum tempo foi o principal centro missionário da Ásia Menor —
Roma foi a base para a evangelização do Império Romano Ocidental.
No Norte da África, as igrejas de Cartago e Alexandria tornaram-se, posteriormente,
centros intelectuais e agressivos na Obra Missionária e produziram mestres e
escritores como Tertuliano (pai da Igreja no Norte da África), Clemente, Orígenes
(um dos grandes mestres da Igreja em todos os tempos), Cipriano (um mártir
valente) e Agostinho. Em Alexandria havia um Instituto Bíblico Missionário que
defendia a fé cristã, preparava apologistas e preparava missionários, que saíram
para as regiões do Norte da África, Arábia, índia, Ceilão. Até o seu diretor foi à índia
como missionário por volta do ano 180. Em Cartago a igreja cresceu e de lá saiu a
primeira tradução do Novo Testamento em latim.
Ao anunciar a Palavra por toda parte, dando cumprimento a At l .8, os crentes
dispersos deram início à missão mundial da Igreja de Cristo.
Partindo de Jerusalém para Samaria e Cesaréia, logo levaram a mensagem do
Evangelho de Cristo por toda a extensão do Império Romano. Do lado leste foram a
Damasco e Edessa, chegando à Mesopotâmia; ao sul, por Bostra e Petra, entraram
na Arábia; a oeste foram a Alexandria e Cartago, chegando ao norte da África; e ao
norte, através de Antioquia, chegaram à Arménia, Ponto e Bitínia.
Alcançaram a Galácia (Sul da França), Espanha e a Bretanha (Inglaterra) e se
estenderam até a Irlanda, Etiópia e China.
A Capadócia foi evangelizada por Gregório (213), que se tornou o líder da igreja
55
local, onde havia apenas dezessete crentes. Trinta anos depois, por ocasião da sua
morte, havia apenas dezessete pagãos.
Policarpo, o bispo de Esmirna, foi uma das primeiras vítimas do martírio imposto
aos cristãos dos primeiros séculos, discípulo de João, com um ministério
evangelístico tão florescente e forte contra o paganismo que foi acusado de ser
"ateu", destruidor dos deuses pagãos. Sua igreja contava com escravos, aristocratas
locais e membros do quadro de assistência do Procônsul.
Policarpo teve um ministério influente por cerca de cinquenta anos, mas a
perseguição anticristã o levou à morte em uma fogueira em praça pública. Este fato
causou um impacto e sensibilizou a sociedade da Ásia Menor, o que levou a ser
encerrada a perseguição na Ásia, proporcionando aos menos corajosos a
oportunidade de declarar abertamente sua fé em Cristo.
Destacamos também o trabalho de um grande exército de discípulos e missionários,
cujos nomes desconhecemos, mencionado em At 8.4. Cada crente era um
missionário e alguns alcançaram a Fenícia, Chipre, Antioquia e Roma. Examine At
11.19-21.
Eusébio registrou o entusiasmo missionário dos primeiros crentes. Ele escreveu:
"Nessa época — idos do segundo século — muitos cristãos sentiram as almas
inspiradas pela Palavra divina, com um desejo de perfeição. A sua primeira ação,
obedecendo às instruções do Salvador, consistiu em vender os seus bens e
distribuí-los aos pobres. Deixando suas casas, dedicaram-se à missão de
evangelista, tendo por principal objetivo pregar a Palavra da fé àqueles que ainda
não tinham ouvido a seu respeito e confiando-lhes os livros do divino Evangelho.
Sentiam-se felizes ao construírem as fundações da fé entre os povos estrangeiros:
nomearam outros pastores e confiaram-lhes a responsabilidade de elevarem mais
aqueles que haviam trazido tão-somente a fé. Passaram a outros países e nações,
com o auxílio e a graça de Deus".
3. Os primeiros missionários adotam um programa de trabalho
Você pode descobrir, através do relato do livro de Atos, fatores que conduziram ao
início tão intenso da atividade missionária. Você observa que após a perseguição à
igreja em Jerusalém, os crentes seguiram o imperativo de Cristo, tiveram o incentivo
do Espírito Santo, contaram com a ação dinâmica dos apóstolos e as bênçãos de
Deus Pai.
O programa missionário dos primeiros crentes tinha um alvo, distinto, único: pregar a
Jesus Cristo, o Salvador do mundo (leia At 4.12 e 1Tm 2.5); tinha uma política,
seguiam o que Jesus ensinou: "o campo é o mundo", "ide fazei discípulos" e "ide por
todo o mundo"; e incluía um estilo de vida a ser imitado. A conduta cristã causou
impacto no paganismo dominante (leia 1Ts 1.6-10). Os defeitos, os lapsos e os
fracassos dos crentes primitivos ficaram registrados para mostrar aos crentes
vindouros o que acontece quando se fasta do alvo supremo (leia 1 Co 1.11-13).
Contudo, o padrão de conduta dos cristãos mostrou ser superior e mais excelente
aos demais padrões vividos até então.
Era de se esperar que o intenso trabalho evangelístico dos primeiros crentes
56
provocasse reações contrárias. O próprio Mestre os advertiu e o que aconteceu nos
primeiros dias da Igreja indicava para isto.
A Igreja sofreu pelo menos dez ondas de perseguições movidas por imperadores
romanos: Nero, Trajano, Adriano, António, Marco Aurélio, Sétimo Severo, Máximo,
Décio, Valeriano e Diocleciano . Foi num momento de terrível tormento que o Senhor
da Seara prometeu ao apóstolo João: "Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da
vida".

4. A igreja aceita o acordo de Constantino


No terceiro século poderoso Império Romano começava a declinar. A Igreja
internamente estava envolvida com discussões teológicas, disputas de poder e
vivendo sob um clima de perseguições.
O poderio do Império Romano era ameaçado em grande parte pelas constantes
invasões de "povos bárbaros" vindos principalmente do Norte da Europa. Os
imperadores já estavam cansados desses ataques.
Por sua vez, a Igreja também estava cansada de viver sob constante ameaça de
perseguição. Internamente, havia a disputa dos bispos de Roma com as igrejas de
outros países para comandar a Igreja em todas as partes.
Foi dentro desse contexto que em 313 d.C., o imperador Constantino disse ter visto
no céu uma cruz sobre a qual estava escrita a seguinte frase em latim: "in hoc signo
vinces", que quer dizer: "por este sinal vencerás". Imediatamente adotou a cruz
como o seu estandarte e publicou um decreto tornando o Cristianismo a religião de
todo o Império Romano.
Na verdade, a intenção de Constantino era utilizar o ímpeto cristão para ir até os
"povos bárbaros", convertê-los ao Cristianismo e sujeita-los ao domínio romano.
Espalhara-se a crença de que o Deus dos cristãos era um aliado melhor nas
batalhas do que deuses pagãos.
Além disso, o imperador submeteu a Igreja a sua autoridade, para consolidar ainda
mais o Império por meio de uma fé universal e manter todos os cidadãos
subservientes ao Estado. A fé cristã seria utilizada para "amansar" povos que aos
seus olhos eram indisciplinados, orgulhosos e incultos.
Consequentemente o Cristianismo começou a mudar. A Igreja "ganharia" muito com
a proteção do Eslado e sob o seu patrocínio ela "prosperaria" rapidamente. Que
acordo infeliz!
Os povos eram dominados pelas forças armadas e pela religião. E a Igreja
"abençoava" a tirania desses governantes. O resultado foram as conversões em
massa. Desta forma, ao longo dos séculos, ocorreram as conversões na Alemanha,
Dinamarca, Suécia, Rússia, Islândia, Groclândia, Tchecoslováquia, Polónia, Hungria,
Bulgária, lugoslávia, Pérsia (Ira), China, Turqueslüo, Mongólia, índia, Azerbaijão,
Geórgia, Finlândia, Lituânia, na África e na América Central e do Sul.
Logo a Igreja desviou-se do caminho que deveria seguir. Embora alguns dos
"missionários estrangeiros" não tivessem ligação direta com a Igreja ou com o
Estado Romano, os esforços de todos serviram ao domínio recíproco da igreja de
Roma e do Império Romano. Assim, a igreja de Roma consolidara-se como a Igreja
57
Católica, universal.
A Igreja Católica utilizou durante cinco séculos o mosteiro para objetivos
"missionários" e depois utilizou as ordens de frades (franciscanos, dominicanos,
beneditinos, jesuítas e outros). No século dezessete foi criada a Sagrada
Congregação para a Propagação da Fé, para centralizar suas "missões".
Principais missionários católicos; Úlfilas, Martinho de Tours, Patrício, Columba,
Niniano, Benedito de Núrsia, Agostinho, Columbano, Gali, Wilfrid, Teodoro de
Tarsus, Willibrord, Bonifácio, Anskar, Cirilo, Metódio, Francisco de Assis, Domingos,
Raimundo Lúcio, Lãs Casas, Inácio de Loiola, Francisco Xavier, Mateus R icei e
Roberto de Nobili.
Nem todos estavam de acordo com o ramo que a Igreja havia seguido. Aconteceram
movimentos de reforma na França em 1110, 1155 e 1170, na Inglaterra em 1324
com João Wyclif, na Tchecoslováquia com João Huss (1369-1445), na Itália com
Jerônimo Savonarola (1452), com os anabatistas por toda a Idade Média e com
Erasmo (1466-1536).
4.1 Reformadores não se interessam por missões
No século dezesseis aconteceu a Reforma Protestante liderada por Martinho Lutero.
Mas os seus resultados imediatos para a evangelização dos povos foram poucos.
Ele introduziu uma fé significativa para grandes segmentos da população, mas a
urgência de alcançar outros não foi vista como prioridade especial. O entusiasmo
gerado pelos reformadores Lutero, Calvino, Melanchton e Zwinglio em muitos casos
não avançou além do formalismo morto da tradição romana.

Havia pouco tempo para pensar em missões. Isto aconteceu por


três razões:
1. Lutavam pela conservação das próprias vidas por causa da perseguição dos
governantes e da Igreja Católica até que em 1648 houve o Tratado de Westfália, que
assegurou a sobrevivência do protestantismo.
2. Em vez de permanecerem juntos e aguardarem tempos melhores, para dilucidar
as suas divergências teológicas, os protestantes, em toda parte, desgastaram as
suas forças, com um zelo honesto mas cego, em controvérsias sem fim.
3. Havia quem ensinasse que a ordem de pregar o Evangelho por todo o mundo
terminara com os apóstolos (John Gerhard, 1637). Quem tentasse agir contra o
pensamento geral deparava-se com a reprovação dos líderes da Igreja (caso de Von
Welz, na Áustria, em 1664, considerado "agitador missionário").
Os reformadores passaram quase 100 anos sem apresentar espírito e esforço
missionário. Dr. Arthur T. Pierson descreveu da seguinte maneira esse período:
"Aqui e acolá um homem se acordava, abrindo os seus olhos em direção aos
milhões perecendo sem o Evangelho, os seus ouvidos tocados pelo grito da miséria
e aflição que, como o soluçar das ondas do mar na praia, fala de tempestade e
calamidade. Vez por outra um servo isolado de Deus saía a semear a boa semente,
porém a Igreja ainda se via presa à indiferença e insensibilidade gélidas").
No entanto, mesmo em meio a essa situação de ausência de atividade missionária,
aconteceram algumas iniciativas missionárias por parte dos protestantes:
O Rei Gustavo Vasa, da Suécia, a partir de 1559, encorajou o trabalho entre os
58
povos lapões ainda pagãos, vivendo sob os seus domínios.
Igrejas holandesas e inglesas enviaram alguns missionários, mas incorrendo nos
mesmos erros da Igreja Católica, realizando missões por causa dos interesses de
domínio territorial dos seus reis, pois iam como funcionários capelães das
Companhias que tinham objetivos puramente comerciais.
Marinheiros holandeses, provavelmente a partir de 1627, evangelizaram no extremo
oriente da Ásia, utilizando um livreto cristão escrito por Hugo Grotius (1583-1645).
Um grupo liderado pelo alemão Hans Ungnad Sonneck tentou penetrar entre os
muçulmanos.
Venceslau Budowitz conseguiu converter um turco em Constantinopla.
Justiniano Von Welz foi ao Suriname, América do Sul, sem apoio de nenhuma igreja.
Calvino, aproveitando-se da tentativa de domínio francês sobre o Brasil, enviou, em
1555, dois missionários e quatorze seminaristas na expedição ao Rio de Janeiro
para evangelizar os nativos. A missão fracassou por causa da forte perseguição do
almirante católico Villegnon.

5. O segundo despertamento missionário


5.1. Movimentos espirituais impulsionam a atividade missionária
Na segunda metade do século 17 e início do século 18 surgiram dois movimentos
de cunho espiritual entre as principais denominações protestantes, anglicanas e
luteranas, fundadas na Europa como resultado da Reforma. Eram o puritanismo e o
pietismo.
Os puritanos apareceram a partir de 1657 entre os protestantes da Inglaterra. Eles
se opunham firmemente ao sistema anglicano vigente no reinado de Elisabete.
Insistiam para que os anglicanos se libertassem de muitas coisas que não
concordavam, como vestimentas, aparatos cerimoniais e estilo de governo
eclesiástico, coisas conservadas da Igreja Católica. Eram estudiosos da Bíblia,
buscavam viver uma vida dedicada a Deus, dando testemunho do Evangelho aos
homens.
Já os pietistas foram liderados por Filipe Spencer (1635-1705) e Augusto Erancke
(1663-1727) na Alemanha, entre os luteranos. Apesar de abraçarem a principal tese
dos reformadores, a justificação pela fé, os pietistas se revoltaram contra a ortodoxia
estéril e o conformismo ainda dominantes entre os reformadores, insistindo numa
santificação de vida e numa plena consagração. Eram unânimes numa coisa: a
pregação do Evangelho em todo mundo, livre de limitações confessionais. Para eles,
a pregação universal ajudaria a produzir um grande avivamento do Espírito Santo.
Estavam tomados pelo sentido da imperiosidade do regresso de Cristo e
despertados pelo espírito da renovação.
O movimento pietista surgiu com grande intensidade na Universidade de Halle, na
Alemanha, onde produziu uma influência missionária e se tornou o berço do primeiro
esforço missionário genuíno da Reforma.
Produzia maior entusiasmo ao pietismo as mensagens de pregadores tais como
59
Jonathan Edwards, John Wesley, Carlos Wesley, George Whitefield, Edwards, os
quais, através de seus ensinos, serviram como instrumentos poderosos para
aumentar o horizonte espiritual de muitos cristãos, conscientizando-os a fazer algo
em favor de outros povos por quem Cristo também morrera.
As mensagens desses pregadores e a visão missionária dos morávios produziram
ondas de intercessão diante de Deus, fazendo com que a verdade missionária que
"o campo é o mundo" fosse lembrada.
Para a evangelização mundial, os resultados desses movimentos foram
extraordinários. Amadureceu-se o conceito de que havia de acontecer a conversão
individual em contraposição à "conversão em massa" da Igreja Católica, que
provocou a sua expansão nos séculos anteriores.

Na prática, esses resultados deram-se:


1) com a formação de Sociedades Missionárias que levaram quase todas as igrejas
do mundo protestante a fazer missões;
2) com o espetacular trabalho missionário da Igreja da Morávia; e
3) com o trabalho dos evangelistas itinerantes.

5.2. As principais sociedades e seus missionários


A primeira foi a Sociedade para Propagação do Evangelho, fundada na Nova
Inglaterra (EUA) em 1649 por John Eliot, pastor congregacional da Inglaterra,
enviado para evangelizar os índios da América do Norte.
A Igreja Anglicana da Inglaterra fundou em 1698 a Sociedade para a Promoção do
Conhecimento Cristão (SPCK), liderada por Thomas Bray.
Esta sociedade estabeleceu trabalhos na índia (Madrasta Cuddalore) e em outros
centros, marcando o início do que viria a ser conhecido como a "missão inglesa". Um
dos seus principais missionários foi Christian Friedrich Schwartz (1724-98), enviado
para a índia onde serviu durante 48 anos.
Por volta de 1700, foi formada a Sociedade Escocesa para Propagação do
Conhecimento Cristão pela qual David Brainerd (1718-77) foi enviado a trabalhar
entre as tribos de índios nómades nos EUA. Outro missionário foi Alexander Duff,
enviado em 1830 para a índia. Levou 18 anos para ganhar 33 indianos. ""' Em 1701,
anglicanos e outras igrejas evangélicas da Inglaterra formaram a Sociedade para
Propagação do Evangelho em Terras Estrangeiras (SPG). O seu objetivo era dar
assistência às necessidades dos anglicanos da América do Norte e nas índias
Ocidentais. Em pouco tempo, enviaram mais de 350 missionários.
Aos 18 anos de idade, William (Guilherme) Carey se converteu na Igreja Batista, na
Inglaterra. Carey dizia em suas mensagens, e num livreto por ele publicado, que
Cristo possui um reino que precisa ser proclamado, no seu poder, a todos os cantos
da terra. Por isso, é dever de todos os cristãos proclamar a existência desse reino,
quer seja curto ou longo o tempo que ainda falte para o cumprimento da promessa
do Senhor. Em sua pequena oficina pendurou um "mapa mundi" e, enquanto
trabalhava, olhava para ele, orava, sonhava e agia. Por fim, conseguiu que um grupo
de doze pastores formassem em 1792 a Sociedade Batista Missionária.
O primeiro missionário nomeado pela sociedade foi John Thomas, batista leigo que
60
havia ido para a Índia como médico na esquadra real e permaneceu depois de seu
período de serviço a fim de trabalhar como médico e evangelista-missionário
independente. Willian Carey ofereceu-se para ser companheiro de Thomas na índia
e seguiu em 1793 para lá, juntamente com a sua família acompanhando Thomas
onde trabalhou 41 anos.
Entre os congregacionais ingleses foi fundada em 1795 a Sociedade Missionária de
Londres.
Principais missionários: Robert Moffat (África do Sul, 1816); David Livingstone,
amigo e genro de Moffat, foi enviado para África do Sul em 1871. Durante dez anos
fez o trabalho rotineiro dos missionários. Mas, tomado pelo impulso explorador,
começou a empreender viagens pela África, atravessando o continente da costa
ocidental até a costa oriental. Como consequência do seu trabalho e do de Moffat,
anglicanos, metodistas, presbiterianos, luteranos, os Irmãos Plymonth (EUA) e
outras missões se estabeleceram na África.
Livingstone abrira um caminho até o coração da África, revelara as atrocidades do
tráfico de escravos, chamara a atenção do mundo para a África; Robert Morrison:
Foi o primeiro missionário protestante enviado à China. Chegou em Cantão em 1807
e enfrentou severa oposição ao Cristianismo. O governo chegou até a proibir o
ensino de chinês a qualquer estrangeiro os quais só podiam viver na colónia
portuguesa de Macau e numa pequena faixa de terra em Cantão. Isso praticamente
isolava qualquer missionário e colocava-o sob constantes ameaças. Mas Morrison
conseguiu dominar o chinês e traduziu a Bíblia toda para esse idioma, e até
escreveu um grande dicionário de Chinês. Em mais de 25 anos de trabalho,
Morrison só conseguiu batizar 11 convertidos.
Em 1797 foi formada a Sociedade Missionária Holandesa. Iniciaram um trabalho na
Indonésia e conseguiram a conversão de tantos muçulmanos como em nenhuma
outra parte do mundo.
Entre os congregacionais e presbiterianos norte-americanos foi formada, em 1810, a
Junta Americana dos Comissários para as Missões Estrangeiras (American Board).
Os batislas norte-americanos formaram, em 1817, a Junta Americana dos
Missionários Batistas. Principais missionários: Adoniram Judson, enviado em 1813
para a Birmânia, onde anos antes Félix Carey havia tentado trabalhar. Levou cinco
anos para ganhar o primeiro Birmanês. Em 1843, vinte e um anos depois da sua
chegada, conseguiu completar a tradução da Bíblia toda para o Birmanês. Antes de
morrer, em 1850, deixou pronta uma parte para um futuro dicionário em Birmanês;
John Taylor Jones (Tailândia); George Dana Boardman (Birmânia); Issacher Roberts
(China, 1846); Lottie Moon (China, 1873); William Bagby e esposa (Brasil, 1881);
Zacarias e Kate Taylor (Brasil, 1882).
Na Suíça, foi fundada em 1815 a Sociedade Missionária de Basileia. Principais
lugares de atuação: índia - iniciou um trabalho em 1834, sendo Samuel Hebich um
dos primeiros missionários; Ghana - começou um trabalho em 1828 e, após doze
anos, a missão parecia nada ter a mostrar, a não ser os túmulos de oito
missionários; Ira (1813), Laos (1902), Vietnã (1911) e Camboja (1911).
Em 1821 formou-se a Missão da Dinamarca entre os luteranos que já desde 1722
haviam começado a enviar missionários. O primeiro foi Hans Egede e família para a
Groelândia. A Missão empreendeu esforços missionários no Japão (1859), na
61
América Central e do Sul.
Na França, foi fundada em 1822 a Sociedade Missionária de Paris.
Na Alemanha surgiu em 1824 a Sociedade Missionária de Berlim e em 1828 foi
formada a Sociedade Missionária Renana.
Em 1842 foi formada a Missão Norueguesa.
Os presbiterianos norte-americanos formaram a Junta Presbiteriana de Missões
Estrangeiras.
Entre os presbiterianos ingleses foi fundada a Sociedade de Evangelização Chinesa.
Principais Missionários: William Burns (China, 1877); James Hudson Taylor,-
enviado em 1853 para a China aos vinte e dois anos. Em sete anos Taylor aprendeu
chinês, realizou grandes viagens na companhia de Willian Burns, casou-se e
abandonou a Sociedade de Evangelização Chinesa, passando a depender apenas
de Deus, em todos os aspectos. Adotou o vestuário chinês, como melhor forma de
identificar-se com o povo da China. Na Inglaterra, onde estava desde 1860 por
questão de saúde, desconhecido e sem apoio de nenhuma confissão religiosa,
fundou a sua própria organização missionária, a Missão do Interior da China,
considerada posteriormente como a maior missão do mundo.
Apesar de vários fracassos, incompreensões, infidelidade de companheiros,
perseguição de autoridades chinesas, doença, morte da esposa, Taylor conseguiu
êxitos sensacionais. Em 1882, todas as províncias haviam sido visitadas e os
missionários viviam nelas, exceto três. Trinta anos após sua fundação, a Missão
possuía 641 missionários, oriundos de muitas nações, principalmente chineses.
5.3. Evangelistas itinerantes percorrem o mundo
Quando a Idade da Razão despontava no século 18 e o fervor cristão declinava,
Deus utilizou determinados homens que, através de suas poderosas mensagens,
conduziram os crentes a um novo movimento do Espírito Santo e os impulsionaram
a realizar a obra missionária. Tinham uma visão missionária e evangelizavam
pregando para as multidões.
John Wesley clamava: "Vejo o mundo todo como sendo a minha pátria, devo estar
em toda parte dele; penso nisto, pois é meu dever pregar para todos que estão
desejosos de ouvir as boas novas de salvação".
João Wesley, George Whitefield, Jonuthun Edwurds e muitos outros levaram a
mensagem da cruz a se multiplicar em milhões de vidas.
Os evangelistas começaram a realizar "evangelismo em massa" por todo o seu país
e no exterior. Deixaram "rastro de fogo" pela África e Europa, principalmente na
Alemanha, que foi acesa espiritualmente pela pregação dos evangelistas.
Era o início do trabalho dos que nos séculos seguintes seriam conhecidos como
―evangelistas itinerantes‖. O trabalho dos evangelistas atravessou o grande século
missionário, espalhando a Palavra na África, Ásia, América Latina, índia, Japão e
China.
Os mais conhecidos são: Charles Spurgeon, Charles Finney, Dwight L. Moddy, Billy
62
Sunday, e no século vinte, Billy Graham e Luís Palau.
Por volta de 1900 aconteceram em diferentes lugares dos Estados Unidos
movimentos de renovação espiritual entre as igrejas protestantes: presbiterianas,
congregacionais, batistas, metodistas e outras. Esse movimento ficou conhecido
como Movimento Pentecostal e dele surgiram novas denominações. A maioria delas
tinha um intenso trabalho missionário.
Dentro desse entusiasmo missionário do movimento pentecostal destacam-se a
vinda de Daniel Berg e Gunnar Vingren para o Brasil e a formação das Assembleias
de Deus norte-americanas.
Em 1910, Daniel Berg e Gunnar Vingren, suecos vindos dos Estados Unidos,
chegaram na cidade de Belém do Pará. Ali, em 1911, logo após a não aceitação do
batismo no Espírito Santo pela Igreja Batista, formaram, juntamente com um grupo
de irmãos, a Missão da Fé Apostólica, que, em 1918, veio a se chamar Assembleia
de Deus.
Nos Estados Unidos várias igrejas protestantes tradicionais que haviam aceitado o
batismo no Espírito Santo, não podendo mais permanecer no seio de suas
denominações e possuindo vários missionários no campo estrangeiro, razão pela
qual necessitavam de uma autoridade executiva e organização, formaram em 1914
as Assembleias de Deus norte-americanas.
Conclusão 63
Quando Jesus deu a ordem missionária, Ele terminou dizendo: Eis que estou
convosco todos os dias até á consumação dos séculos (Mt 28.20). Portanto a ordem
missionária continuaria até à consumação dos séculos. Por isso a ordem missionária
tem hoje a mesma atualidade e vigência como no dia em que Jesus subiu ao céu.

Jesus deu a ordem missionária para que todos os homens conheçam o seu convite
à salvação (1Tm 2.4). Fica, portanto, bem claro que enquanto existir pessoas ou
nações que ainda não ouviram o evangelho da graça, esta ordem continua a ter vital
importância. A Bíblia diz: "Uma geração vai, e outra geração vem" (Ec 1.4). Está
assim bem claro que ainda que a geração que foi tenha sido evangelizada, a outra
geração que vem também precisará do evangelho.

A ordem missionária de Jesus não foi dada aos homens dos poderes públicos, não
foi dada aos grandes e poderosos, mas sim, à Sua Igreja até que Ele volte para
arrebatá-la. Esta missão, portanto, é de caráter universal, não é uma tarefa especial
dada a esta ou aquela pessoa em particular, dentro do contexto da Igreja. Também
não se limita a determinado local, nem está restrita ao campo. Ela abrange a todos
nós, a todos os crentes em todos os recantos da terra, em todo o tempo em que a
Igreja aqui estiver. Ela é atual. Devemos cumpri-la.

Todo crente pode e deve cooperar na obra missionária, pois existem vários meios
pelos quais cada um pode contribuir para o pleno êxito da missão. O crente pode
trabalhar a favor da obra missionária: orando, contribuindo com os dízimos e ofertas
voluntárias, ou mesmo sustentando missionários no campo. E tudo isto é possível de
ser feito sem que seja necessário ao crente, que não tenha a chamada para ir ao
campo, deixar os seus afazeres seculares é sair sem rumo, mundo afora, ou sentir-
se um completo inútil na obra de Deus. Você pode ser um missionário autêntico,
seja qual for a sua condição social, tenha ou não cargo dentro da sua Igreja, Você é
um servo de Jesus e deve cumprir à Sua Ordem Missionária. Você é importante para
Deus.
Fontes Bibliográficas 64

* ANDRADE, Claudionor Corrêa de; Dicionário Teológico; Rio de Janeiro; CPAD, 6°


edição, 1998
* Bícego, Valdir; Manual de Evangelismo; Rio de Janeiro: CPAD, 11ª Edição, 2000
* Eclesiologia e Missiologia – IBADEP
* História de Missões, lição 5, 2ª edição - EMAD

* http://cursodeteologiagratisnaweb.blogspot.com.br/2009/11/missiologia.html, site
acessado em 24/10/2017

* https://www.portasabertas.org.br
* Lições Bíblica CPAD Maturidade Cristã, 2° trimestre de 1986

* Lições Bíblicas Jovens e Adultos CPAD, 3° trimestre de 2000


* Lições Bíblicas Juvenis CPAD, 4° trimestre de 2017
* Revista Ide Pregai: Missões e Evangelismo. Série Serviço Cristão 1. Editora Cristã
Evangélica
* SILVA, Severino Pedro da, E Samaria, o Compromisso da Igreja com a
Evangelização dos Povos. Ed. CPAD, 1° Edição/2000
65
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