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Lição 7

A VOCAÇÃO MISSIONÁRIA
DA IGREJA
(At 13–17)

A terceira e maior etapa do desenvolvimento do Evangelho e da


Igreja é-nos apresentada a partir do capítulo 13, e estende-se até o último
capítulo do Livro de Atos. No início da Igreja, o Evangelho era algo
exclusivo dos judeus. Na segunda fase, os judeus gregos (ou helenistas)
proclamaram o Evangelho aos samaritanos e aos gregos tementes a Deus.
Na última fase, o Evangelho foi levado aos pagãos diretamente pelo
apóstolo Paulo, já respaldado pelas resoluções do primeiro concílio de
Jerusalém (At 15).
No estágio primevo, o movimento cristão centralizou-se em
Jerusalém e assumiu caráter judaico. Os discípulos, então, sentiam-se
em casa, tanto no templo quanto na sinagoga; continuavam a viver como
judeus e eram vistos como aqueles que estavam formando uma nova seita
no seio do Judaísmo.
A segunda fase do movimento foi inaugurada pelos helenistas,
liderados de início por Estêvão e Filipe. Seguiram-lhes as pegadas alguns
varões de Chipre e de Cirene, cujos nomes não conhecemos, bem como
Saulo e outros, que foram fincando estacas e abrindo novos rumos. Os
judeus e os doze discípulos, nesse tempo, permaneciam como expecta-
dores, observando os acontecimentos. O Cristianismo começou a firmar
seu caráter espiritual e a alcançar os primeiros frutos do seu trabalho,
tornando o Evangelho conhecido universalmente. Com isto, começaram
a cair as barreiras que separavam os povos.

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A fase decisiva da expansão do Evangelho teve início em Antioquia,
onde havia alguns profetas e doutores. Estes, orando e jejuando, foram
instruídos pelo Espírito Santo a separar de entre si a Paulo e Barnabé, e
enviá-los como missionários (13.1). Os acontecimentos, antes, tinham
como ponto de partida a cidade de Jerusalém; agora, tudo centralizava-se
em Antioquia.
Conquanto muitos judeus tivessem sido alcançados pelo
movimento, os avanços mais significativos aconteceram entre os gentios
e os pagãos. Cumpria-se, enfim, a Grande Comissão (Mt 28.19-20). O
Evangelho deixava de ser um dom judaico e tornava-se um patrimônio
outorgado por Deus a todos os povos. A Igreja adquirira uma visão
global da vontade de Jesus, que era de tornar a vontade salvadora de Deus
conhecida em todas as nações, tribos, povos e línguas.

Esboço da Lição

1. A Primeira Viagem Missionária de Paulo


2. O Concílio de Jerusalém
3. A Segunda Viagem Missionária de Paulo
4. Paulo Chega a Atenas
5. Paulo em Corinto

Objetivos da Lição

Ao concluir o estudo desta Lição, você deverá ser capaz de:


1. Mencionar o nome dos dois primeiros missionários da Igreja,
enviados pela comunidade cristã estabelecida em Antioquia;
2. Descrever a que se deveu a realização do concílio (assem-
bleia) de Jerusalém;
3. Apresentar a razão pela qual Paulo e Barnabé se desenten-
deram no início da sua segunda viagem missionária;
4. Discorrer sobre o tema da mensagem pregada por Paulo
diante dos membros do Areópago;
5. Destacar um ponto relevante do ministério de Paulo em
Corinto.

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TEXTO 1 | A PRIMEIRA VIAGEM MISSIO-
A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA
NÁRIA DE PAULO (AT 13,14)
(AT 13 E 14)
Estamos agora diante do missionário PAULO,
O Comissionamento de
homem que, diríamos, viveu intensamente o antes
Barnabé e Paulo (13.1-3)
e o depois. Isto é, antes, sem Cristo; depois, com
Dos cinco líderes da igreja de Antioquia Cristo. Dois períodos, dois nomes. No tempo
citados em Atos 13.1-3, apenas dois têm re- sem Cristo, ia de Tarso a Damasco. Era o valente
levância na Bíblia. Dos outros três não temos
SAULO. No tempo com Cristo, foi de Damasco a
informações suficientes, nem mesmo extra-
bíblicas, que nos forneçam um perfil deta-
Óstia (porto em Roma). Era o intrépido PAULO.
lhado. Os cinco são mencionados como se Lucas faz um registro de maneira sutil no Livro de
fossem os líderes da igreja, e nenhum outro Atos a respeito dos dois nomes do maior apóstolo
oficial é apresentado. Nesta passagem, Bar- de todos os tempos “Todavia, Saulo, também
nabé e Paulo estão sendo separados formal- chamado Paulo...” (At 13.9).
mente, pela imposição de mãos, para serem
os representantes da igreja. Voltando Barnabé e Saulo de Jerusalém
para Antioquia, levaram consigo João Marcos, o
A Missão a Chipre (13.4-12) sobrinho de Barnabé e, por algum tempo, conti-
Estamos no ano 45 da era cristã, inician- nuaram ministrando a Palavra de Deus à igreja
do a primeira viagem missionária de Paulo, naquela cidade. Além de Barnabé e Paulo, a Igreja
acompanhado de Barnabé. Começamos de Antioquia tinha mestres ilustres, como Lúcio de
indo a Chipre, e de lá até Perge, onde João
Cirene, Simeão por sobrenome Níger (Negro), que
Marcos abandona a equipe. Nesse ponto,
começa o que geralmente é chamado de
alguns comentadores cogitam ser Simão Cirineu,
“primeira viagem missionária” de Paulo. que na subida para o Calvário ajudou Jesus a levar
Dois fatos devem ser observados: Primeiro, a cruz (Lc 23.26), e Manaém, colaço (alguém que,
o percurso não era uma iniciativa pessoal de não sendo irmão consanguíneo, é amamentado
Barnabé e Paulo. A igreja dava suporte ao pela mesma mãe, ou seja, “irmão de leite”) de
seu trabalho, pois comissionara-os solene- Herodes Antipas.
mente e os enviara como seus representan-
tes. Segundo, Barnabé ainda era o líder da
empreitada. No início, seu nome permanece
Os primeiros missionários da Igreja
em primeiro lugar, embora Lucas logo mos-
Todavia, o Espírito Santo tinha outra obra a
tre uma tendência a dar destaque a Paulo.
Em Listra, Barnabé é tomado por Zeus (14.12)
realizar, pelo que orientou à igreja em Antioquia
e Paulo por Hermes – “porque ele era o prin- (possivelmente, através de um daqueles profetas) a
cipal orador”. Sem dúvida, foi em grande que separasse Barnabé e Saulo para executarem o
parte por esse motivo que Paulo tornou-se trabalho para o qual os chamara.
o principal alvo da oposição (At 14.19).
É bom lembrar aqui que Saulo já havia sido
Não está claro que Lucas pretendesse
organizar formalmente as viagens de Pau-
escolhido como apóstolo aos gentios, desde a sua
lo em três, como é habitualmente feito em conversão. É certo que ele se ocupou da tarefa de
nossos estudos. Contudo, esse é um bom doutrinar os gentios convertidos em Antioquia,
arranjo didático. Além disso, consideremos mas, nos planos de Deus, deveria seguir para além
das fronteiras da Síria.

126 Atos dos Apóstolos


Sensível à liderança do Espírito Santo, a igreja
que a sua viagem como prisioneiro a Roma
de Antioquia enviou com alegria aqueles dois servos,
é tomada por alguns intérpretes como
manifestando-lhes companheirismo e fraternidade uma quarta viagem de missões. Outra for-
com a imposição das mãos. João Marcos partiu com ma interessante de se pensar no trabalho
eles como cooperador e serviu-os bem, pelo fato de missionário de Paulo é distribuindo-o em
possuir melhor conhecimento do Evangelho. dois períodos principais. O primeiro é antes
do concílio em Jerusalém (At 15), enquan-
O começo da viagem to sua sede ainda era Tarso e Antioquia, e
seu colega era geralmente Barnabé. Isso
Navegando de Selêucia, porto de Antioquia, incluiria o trabalho já realizado na “Síria e
Barnabé, Paulo e João Marcos desembarcaram Cilícia” (Gl 1.21) e a atual “primeira viagem
missionária”. O segundo período principal
em Salamina, na ilha de Chipre, terra natal de
é após o concílio em Jerusalém, quando
Barnabé, e ali começaram a pregar nas sinagogas
Paulo separou-se de Antioquia como sede
dos judeus. Chegando a Pafos, a capital ocidental e fez uso de várias bases na Ásia Menor e na
da ilha, encontraram um indivíduo chamado Europa, a partir das quais cobriu a própria
BarJesus (Elimas), falso profeta pertencente à roda Ásia Menor, a Macedônia e a Acaia. Seus
íntima de Sérgio Paulo, procônsul da província. principais colaboradores, então, eram Silas
Como guia espiritual de Sérgio Paulo, e temendo e Timóteo, em vez de Barnabé.
perder a sua posição junto ao procônsul, BarJesus O primeiro objetivo dos missionários era
procurou levá-lo a desacreditar da mensagem Chipre, possivelmente por ser a terra na-
pregada por Paulo. Em razão disso, disse o apóstolo tal de Barnabé. Alguns argumentam que a
Paulo àquele falso profeta: evangelização em Chipre não incluía gen-
tios; era direcionada apenas a judeus hele-
“Ó filho do Diabo, cheio de todo o engano nistas. A favor dessa visão, ressalta-se que
e de toda a malícia, inimigo de toda a nada é dito sobre convertidos sendo bati-
zados ou sobre a fundação de uma igreja,
justiça, não cessarás de perverter os retos
o que faz parecer que o objetivo da missão
caminhos do Senhor? Pois, agora, eis aí fosse proclamar o Messias aos judeus, em
está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás vez de formar uma igreja cristã. É verdade
cego, não vendo o sol por algum tempo. que no v. 5 lemos que eles proclamavam a
No mesmo instante, caiu sobre ele névoa palavra de Deus nas sinagogas dos judeus,
e escuridade, e, andando à roda, procu- mas a sinagoga era o ponto de partida regu-
rava quem o guiasse pela mão. Então, o lar, mesmo em locais onde a principal obra
era entre os gentios. E é difícil acreditar que
procônsul, vendo o que sucedera, creu,
em Chipre os apóstolos se abstivessem de
maravilhado com a doutrina do Senhor.” pregar aos gentios, especialmente porque
(At 13.10-12) Atos 11.20 prova que certos convertidos ci-
priotas já tinham se mostrado tão ansiosos
De Chipre à Ásia Menor por evangelizar pagãos, que foram a Antio-
quia exatamente com esta finalidade.
De Chipre, a comitiva missionária atravessou
No encontro com Barjesus, temos uma
de navio para a Ásia Menor, local que marcaria o história que lembra o confronto de Pedro
início da nova fase da expansão da Igreja primitiva. com Simão. A ofensa de Barjesus, porém,
Tendo chegado a Perge da Panfília, João Marcos

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 127


decidiu abandonar Barnabé e Saulo, voltando
é bem diferente da de Simon. Ele aparece
para Jerusalém. Assim, sem a companhia de
como um rival judeu, tentando impedir que
Sérgio Paulo seja influenciado pelo evange-
João Marcos, ambos dirigiram-se ao interior,
lho. Não há nada de extraordinário no fato chegando à A ntioquia da Pisídia (que não
de um funcionário romano ter em sua casa devemos confundir com Antioquia da Síria),
um funcionário judeu. Historiadores esti- colônia romana da província da Galácia, onde
mam que o procônsul tivesse contratado f icaram por a lgum tempo. Nessa colônia,
Barjesus como uma espécie de assessor, in- Paulo e Barnabé pregaram por vários sábados
clusive para conhecimentos espiritualistas e
seguidos, tendo como resultado a decisão por
religiosos. Elimas (ou Barjesus) era como Jo-
sefo, que foi cativo de Vespasiano. De fato, a Cristo de grande número de gentios. Dali
liberdade que Barjesus tinha em seu traba- saíram somente após sofrer a oposição dos
lho prestado a Sérgio Paulo é a prova de que judeus incrédulos.
os romanos eram muito supersticiosos. É in-
teressante ver Paulo derrubando toda essa Deixando a Antioquia da Pisídia, Barnabé e
superstição tola, ao chamar Barjesus (filho Saulo foram a Icônio, onde tiveram uma tempo-
da salvação) pelo nome que realmente ele rada abençoada com a salvação de muitos judeus
deveria ter, filho do Diabo. e gentios; foram, entretanto, obrigados a deixar a
Alguns, esquecendo-se de que a Palavra cidade, sob intensa perseguição.
de Deus é a verdade (Jo 17.17), autodeno-
minam-se demitologizadores da Bíblia, Chegaram a Listra e Derbe, cidades da
e dizem que Lucas exagerou nas cores ao Licaônia, também região da província da
dizer que Paulo impetrou cegueira sobre Galácia. Depois de realizarem ali a obra do
Barjesus. Segundo eles, o mais provável é Senhor e fundarem outras igrejas, voltaram por
que Paulo houvesse dito que Barjesus vivia
Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia, encora-
em trevas espirituais, e Lucas aproveitou-se
disso para narrar uma história mais interes-
jando os discípulos, dizendo-lhes: “... através de
sante. Saiba, porém, querido aluno, quem muitas tribulações, nos importa entrar no reino
são os cegos espirituais: são todos aqueles de Deus” (14.22), e consolidando as igrejas novas
que torcem a Bíblia, dizem-na passível de com a eleição de presbíteros (pastores) em cada
erros, e não têm fé nem intimidade com uma delas. Seguindo depois pelo litoral, Barnabé
Deus para crerem na totalidade das Escri- e Saulo foram pregando o Evangelho por onde
turas e na literalidade da Palavra.
passavam, até alcançarem a cidade portuária de
Quanto a Sérgio Paulo, pouco se sabe Atália, onde embarcaram com destino à Antio-
sobre ele, mas o personagem foi historica-
quia da Síria “... onde tinham sido encomen-
mente confirmado. Uma inscrição encon-
dados à graça de Deus para a obra que haviam
trada na antiga cidade de Soli, em Chipre,
fala sobre ele. Caio Plínio Segundo (ou Plí- já cumprido” (14.26).
nio, o Velho), historiador e gramático roma-
Admite-se que, entre a partida e a volta,
no do primeiro século, também cita Sérgio
Paulo, descrevendo-o como interessado esta primeira viagem missionária de Paulo tenha
em história natural, o que justifica o seu durado de dois a três anos, mais ou menos entre
interesse no judaísmo e no cristianismo. 46 e 48 d.C.
Ao final do encontro dos missionários com

128 Atos dos Apóstolos


EXERCÍCIOS
este gestor romano, o resultado foi que ele
Assinale com “x” a alternativa correta.
creu, profundamente impressionado com
7.01 Barnabé e Saulo voltaram de Jerusalém para o que ouviu.

Antioquia, onde ficaram, por algum tempo, Nesta passagem surge uma questão in-
ministrando a Palavra de Deus, contando teressante: o nome do apóstolo dos gen-
tios é registrado como Saulo e como Paulo.
também com a cooperação do sobrinho de
Por que? Orígenes, apoiado mais tarde por
Barnabé, que era Jerônimo, disse que Saulo adotou o nome
___a) Pedro. de seu famoso convertido, Sérgio Paulo,
como um conquistador tomaria para si o
___b) João Marcos.
nome de uma nação vencida. Mas esse
___c) Cláudio. argumento não tem qualquer base, prin-
___d) Lúcio. cipalmente se observamos o gênio forte
e impositivo de Paulo. Outros estudiosos
apontam que a mudança é porque Lucas
7.02 Mestres ilustres, como Lúcio de Cirene e estaria usando outra fonte de pesquisa, na
Simeão Níger, foram cooperadores junta- qual Saulo é chamado de Paulo. Esta expli-
mente com Barnabé e Saulo no ministério cação também não se sustenta diante da
da igreja em elevada qualidade historiográfica de Lucas.

___a) Antioquia. O motivo para a mudança não é explí-


cito, mas há o que considerar. Saulo é um
___b) Cesareia. nome hebreu, cujo significado é “o de-
___c) Jerusalém. sejado” ou “o que foi obtido por oração”,
enquanto o nome romano Paulo significa
___d) Nenhuma das alternativas está correta.
“pequeno”. Não acreditamos que a mudan-
ça dos nomes tenha sido por uma questão
7.03 A Igreja em Antioquia separou Barnabé semântica, de desejado a pequeno. Pos-
e Saulo para sair a evangelizar além das sivelmente, ela tem a ver com estratégia
fronteiras da Síria, obedecendo assim a voz missionária entre os gentios. Saulo era
um nome hebreu, e essa condição não era
___a) de Pedro. missiologicamente pertinente. Ainda mais
___b) de Lúcio de Cirene. que aqueles gentios eram romanos, assim
___c) do Espírito Santo. como o apóstolo Paulo, e o seu nome ro-
mano, Paulo, identificava-o como tal.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.
Sobre a geografia e a política, Selêucia
era o porto de Antioquia; Salamina era o
7.04 Navegando de Selêucia, porto de Antioquia, porto oriental de Chipre e sua maior ci-
os apóstolos desembarcaram em Salamina, dade; Pafos, era a capital oficial, perto da
na ilha de Chipre, terra natal de qual havia um famoso templo de Afrodite.
Depois de ter sido uma província imperial,
___a) Saulo.
originalmente constituída com a Cilícia,
___b) João Marcos. Pafos tornara-se, em 22 a.C., uma província
___c) Barnabé. senatorial. Lucas, portanto, com a exatidão
habitual em tais assuntos, corretamente
___d) Simeão.

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 129


7.05 João Marcos abandonou Barnabé e Paulo e
chama seu governador não de “procura-
voltou para Jerusalém, ao chegarem a
dor”, mas de procônsul.
___a) Antioquia da Pisídia.
A Missão na Galácia (13.13-14.28) ___b) Selêucia.
Para melhor entendimento desta seção, ___c) Perge da Panfília.
tenhamos em mente que as igrejas funda-
___d) Antioquia da Síria.
das nesta viagem são as igrejas da Galácia,
às quais foi escrita a Epístola aos Gálatas
(Gl 1.2). Essa visão, geralmente conheci-
da como teoria da Galácia do sul, é cada
vez mais aceita pelos estudiosos. Como o TEXTO 2 | O CONCÍLIO DE
nome Galácia era usado de duas maneiras JERUSALÉM (AT 15.1-35)
no tempo do Novo Testamento, discute-
-se quem seria o destinatário da carta. São A primeira grande dificuldade surgida na igreja
duas possibilidades: a província romana da em Jerusalém foi causada pelo seu rápido cresci-
Galácia, ou a Galácia propriamente dita.
mento. Milhares de gentios foram trazidos para o
A Província Romana da Galácia
seio da Igreja através do ministério de Paulo e, uma
vez que a liderança da Igreja era formada predomi-
Esta grande província na Ásia Menor
nantemente por judeus, a questão do relacionamento
Central estendia-se do Ponto, no Mar Ne-
gro, em direção ao sul, para a Panfília, no entre os gentios e a lei judaica logo surgiria.
Mediterrâneo. Augusto César proclamou
esse território uma província romana em Problemas causados pelos judaizantes
25 a.C. A Galácia propriamente dita, perto
do mar Negro, era por vezes chamada Ga- As igrejas fundadas por Paulo e Barnabé
lácia étnica. Os habitantes descendiam dos durante sua primeira viagem missionária, estudada
gauleses, que migraram para esta região da no Texto anterior, foram as da Galácia, às quais
Europa Central no século III a.C. Segundo a Paulo dirigiu a carta que hoje conhecemos como
teoria da Galácia do Norte, Paulo evange-
Epístola aos Gálatas. Não muito depois de ele haver
lizou esta região durante a segunda ou a
terceira viagem, quando escreveu a Éfeso
deixado aquelas igrejas, surgiu no meio delas uma
ou à Macedônia. Os defensores dessa teo- crise de ordem doutrinária. Essa crise foi provocada
ria procuram mostrar que esses gálatas pelos judaizantes, que ensinavam aos gentios conver-
étnicos e os gálatas a quem Paulo escreve tidos: “Se não vos circuncidardes segundo o costume
têm as mesmas características. A maioria de Moisés, não podeis ser salvos.” (At 15.1). Nem
dos estudiosos acreditava na conjectura
todos os cristãos judeus concordavam com Paulo que
da Galácia do Norte até o século VXIII. En-
tretanto, ela apresenta um problema: em
o Novo Concerto se estabelecera pela fé. Ensinavam
sua epístola aos Gálatas, Paulo dirige-se às que, para serem salvos, os gentios precisavam ser
igrejas que ele fundou. O livro de Atos, por circuncidados, de acordo com os ensinos de Moisés.
outro lado, não oferece nenhum registro
de igrejas nesta região. Para aqueles que A reação de Paulo
insistem que as igrejas eram no Norte, este
silêncio é difícil de se explicar. No final do Tendo tomado conhecimento desse fato,
Paulo, que se achava em Antioquia, escreveu-lhes

130 Atos dos Apóstolos


uma carta urgente, na qual mostrou, logo no início,
século XIX, os argumentos deslocaram-se a
o seu desagrado diante do que estava ocorrendo:
favor da teoria da Galácia do Sul. A geografia
“Admira-me que estais passando tão depressa... histórica argumenta a favor deste ponto de
para outro evangelho.” (Gl 1.6). vista. Nenhuma das estradas principais na
Ásia Menor passava pela região do norte.
Nessa mesma ocasião, em Antioquia, era Acoplado a isso está o padrão do ministério
intenso e frutífero o trabalho da missão gentílica. de Paulo. Ele viajava pelas estradas princi-
Igrejas estavam se estabelecendo e, por conseguinte, pais e pregava nos maiores centros do Im-
o partido judaico, preocupado com a fidelidade aos pério Romano. A menção de Paulo a Barna-
ensinos mosaicos, organizou acirrada campanha nas bé (Gl 2.1, 13) favorece a teoria da Galácia do
Sul. Sabemos que eles trabalharam juntos
igrejas da província da Galácia, bem como na igreja de
implantando igrejas nas cidades da Galácia
Antioquia, principal força do Cristianismo gentílico. do Sul de Antioquia, Icônio, Listra e Derbe.
Além do mais, Barnabé não estava com
A transigência de Pedro Paulo durante suas segunda e terceira via-
gens. Também, em 1 Co 16, Paulo refere-se
De acordo com Gálatas 2.11, os judaizantes às províncias romanas da Macedônia (1 Co
faziam prevalecer seu ponto de vista com tanto 16.5), Acaia (1 Co 16.15) e Ásia (1 Co 16.19). A
vigor, que até Pedro, que estava em Antioquia nesse Galácia (1 Co 16.1), neste contexto, mui pos-
tempo, foi induzido a uma discussão com Paulo, sivelmente signifique a província da Galácia,
que se fez contrário a tudo aquilo. Embora Pedro o que sustenta a teoria da Galácia do Sul.

buscasse justificar tal atividade sob a alegação de ser A aceitação da teoria da Galácia do Sul
conveniente, o efeito foi lamentável. Até Barnabé simplifica muito a leitura de Atos. O livro
estava decidido a seguir-lhe o exemplo. Paulo obviamente foca um dos estágios princi-
pais do trabalho missionário de Paulo. Ele
encarou o problema com energia, acusando franca-
fala da fundação de igrejas na Macedônia,
mente a Pedro de dissimulação. Sua repreensão Acaia e Ásia. Das epístolas, aprendemos
produziu um efeito salutar. Na assembleia de que havia também uma importante comu-
Jerusalém, que se seguiu, Pedro apoiou intransi- nidade cristã na Galácia. Paulo a visitara
gentemente a argumentação de Paulo. pelo menos duas vezes, e sua carta reflete
um conhecimento íntimo, que só poderia
Mas o problema levantado pelos judaizantes advir de um estreito relacionamento.
continuava fervilhando e tinha de ser resolvido para
evitar o risco de a Igreja ser dividida, logo no início, A Missão na Panfília do Sul
e ao Sul da Galácia
em dois grupos: um judaico e outro gentílico.
Chipre não era um território intocado
Para ajudar na solução de tão delicado para esses missionários cristãos; há outras
problema, a igreja de Antioquia enviou represen- referências no livro de Atos sobre as ativi-
tantes aos apóstolos e anciãos em Jerusalém. O dades dos judeus cristãos na ilha. Entre-
assunto foi discutido amplamente e, apesar dos tanto, o lugar para onde Paulo e Barnabé
se dirigem agora é um território completa-
argumentos do partido judaizante da igreja, preva-
mente novo. Ao saírem de Chipre, vão para
leceu o peso da influência de Pedro, apoiado por a parte continental da Ásia Menor. Essa vas-
Barnabé e Paulo, que narraram as bênçãos de Deus ta porção de terra na Anatólia terá grande
sobre a missão gentílica.

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 131


Resultado da assembleia de Jerusalém
destaque na futura atividade missionária
de Paulo e tornar-se-á sua porta de entrada O fato de a notícia da conversão dos gentios
para a Europa. No momento, entretanto, ter produzido “grande alegria a todos os irmãos”
ele e Barnabé concentraram-se nas cidades favoreceu, de modo especial, a posição de Paulo e de
do centro sul, localizadas nos territórios da
Barnabé naquela assembleia. Por fim, Tiago assume a
Frígia, Panfília, Pisídia e Licaônia.
palavra, apresenta um resumo judicioso e propõe um
Paulo, Barnabé e João Marcos navegaram decreto que foi submetido à aprovação da assembleia.
até a província da Panfília, onde João Mar- Resolvido o problema satisfatoriamente, escreveram
cos deixou-os para retornar a Jerusalém.
às igrejas influenciadas pela doutrina judaizante uma
O primeiro destino foi Perge. Conquanto o
local ficasse a algumas milhas do litoral, a
carta explicando a decisão tomada naquela assembleia.
navegabilidade do Rio Cestrus pode ter-lhes A carta apresentava o seguinte teor:
permitido ir até o porto da cidade, em vez
de ancorar no porto costeiro. Perge era uma
“Aos irmãos, tanto os apóstolos como os
cidade de tamanho razoável, com um está- presbíteros, aos irmãos de entre os gentios
dio e um teatro capazes de receber umas 13 em Antioquia, Síria e Cilícia, saudações!
mil pessoas cada um. Visto sabermos que alguns (que saíram)
Os dois missionários não permaneceram
de entre nós, sem nenhuma autorização,
muito tempo em Perge. Em vez disso, pe- vos têm perturbado com palavras, trans-
garam a estrada para o norte, em direção tornando as vossas almas, pareceu-nos
ao interior, entrando na província romana bem, chegados a pleno acordo, eleger
da Galácia e, por fim, chegando a outra An- homens e enviá-los a vós outros com os
tioquia, a Antioquia da Pisídia. Havia muitas nossos amados Barnabé e Paulo, homens
cidades e povoados com este nome, dedi-
que têm exposto a vida pelo nome de
cados aos membros da família de Antíoco,
nosso Senhor Jesus Cristo. Enviamos,
um dos generais sucessores de Alexandre.
Essa Antioquia era uma colônia romana, portanto, Judas e Silas, os quais pessoal-
habitada por veteranos do exército, locali- mente vos dirão também estas coisas.
zada na parte alta da planície da Anatólia Pois, pareceu bem ao Espírito Santo e a
– mais precisamente na Frígia, próxima à nós não vos impor maior encargo além
fronteira com a Pisídia. Logo, sua denomi- destas coisas essenciais: que vos abste-
nação mais correta é a forma grega Antio- nhais das coisas sacrificadas a ídolos,
quia prós Pisídia (Antioquia perto da Pisí-
bem como do sangue, da carne de
dia). A cidade era um pedacinho de Roma
no meio de um território não romano. Uma
animais sufocados e das relações sexuais
inscrição encontrada lá faz referência a cer- ilícitas; destas coisas fareis bem se vos
to Lúcio Sérgio Paulo, o Jovem, e oferece guardardes. Saúde.” (At 15.23-29)
uma confirmação da atividade anterior de
Paulo em Chipre (At 13.7-12).
EXERCÍCIOS
Pregando em outra Antioquia Marque “C” para certo e “E” para errado.
Os dois visitantes judeus vão à sinagoga
de Antioquia da Pisídia no sábado. Ali, Pau- ___7.06 A primeira dificuldade que surgiu na
lo profere um sermão que dá início a uma Igreja de Cristo estava relacionada a seu
crescimento excessivamente lento.

132 Atos dos Apóstolos


___7.07 Uma vez que a liderança da Igreja
das reviravoltas da narrativa do livro dos
era predominantemente formada por
Atos. Ele repassa a história da salvação des-
judeus, os gentios viram-se em dificul- de o grande ato da saída do Egito, passan-
dade, pois lhes fora imposta a obrigato- do pelos juízes e até a instituição da mo-
riedade da circuncisão. narquia com Saul, e depois com Davi. Num
belo exemplo do querigma do evangelho,
___7.08 Paulo apoiou, decididamente, os cristãos ele concentra-se então no descendente
judeus no tocante à necessidade da de Davi, Jesus, destacando sua rejeição
circuncisão, o que é confirmado pela em Jerusalém, sua morte e ressurreição.
Há semelhanças impressionantes com o
carta que escreveu às igrejas da Galácia.
sermão de Pedro no Pentecostes e com a
___7.09 Os judaizantes faziam prevalecer o seu exegese do Salmo 16, bem como com o dis-
curso de Estêvão. Inicialmente, a resposta
ponto de vista com tanto vigor que
dos judeus é até favorável. Muitos deles,
Pedro e Barnabé chegaram a entrar em incluindo alguns convertidos ao judaísmo,
desentendimento com Paulo. ouvem com prazer a mensagem. Contudo,
as coisas seriam bem diferentes no sábado
___7.10 Reunidos em assembleia os apóstolos seguinte, quando outros judeus contradi-
e os anciãos, Pedro acabou por apoiar, riam veementemente a pregação de Paulo.
incondicionalmente, a argumentação
feita por Paulo. Problemas em Icônio

A primeira parada de Paulo e Barnabé


na próxima cidade visitada, Icônio, é a si-
nagoga judaica. Eles saem-se bem nessa
cidade grega, tanto entre os gregos quanto
TEXTO 3 | A SEGUNDA VIAGEM MISSIO- entre os judeus. Paulo continuaria a pregar
NÁRIA DE PAULO (AT 15.36-17.15) a mensagem cristã a todos os que estives-
sem dispostos a ouvi-la, incluindo os líde-
Dirimidas as dúvidas quanto à questão dos res da comunidade judaica.
judaizantes, Paulo e Barnabé concordaram em
Icônio, a atual Cônia, ficava aproximada-
fazer uma visita às igrejas estabelecidas durante mente 130 km a sudeste da Antioquia da
a primeira viagem missionária. Entretanto, João Pisídia. As duas cidades eram ligadas pela
Marcos foi ponto de discórdia entre ambos. Via Sebaste, uma estrada concluída no sex-
to ano antes de Cristo, ligando as colônias
João Marcos, a causa de uma dissensão romanas do sul da Anatólia

Nesse ponto, os apóstolos viraram ao


Barnabé decidira levar João Marcos com sudeste, em direção a Icônio. Para chegar
eles nessa segunda viagem. Paulo, por sua vez, a Icônio, teriam de atravessar uma passa-
rejeitou a ideia, alegando que o jovem os havia gem nas altas montanhas, conhecidas ago-
deixado em meio à viagem anterior, voltando para ra como Montanhas do Sultão, separando
Antioquia da estrada principal de Éfeso, da
Jerusalém. Essa contenda causou a divisão entre
qual uma estrada secundária os levaria ao
ambos. Barnabé, acompanhado de João Marcos, sul, para Icônio. Essa cidade, a moderna Cô-
foi novamente a Chipre, enquanto Paulo, levando nia, a quase 160 quilômetros de Antioquia,
Silas em sua companhia, saiu a percorrer a Ásia

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 133


Menor, visitada durante a primeira viagem missio-
também ficava na Galácia romana. Era a
nária, ocasião em que entregou às igrejas as cópias
cidade principal de um grupo de outras
cidades menores da região conhecida ofi-
da decisão apostólica tomada na assembleia de
cialmente como Licaônia da Galácia. Aqui, Jerusalém (capítulo 15).
seguiram o mesmo plano e, mais uma vez,
entraram na sinagoga judaica. Evidente- Paulo encontra Timóteo e Lucas
mente, os judeus mostraram a mesma hos-
tilidade que em Antioquia, mas a referência Partindo de A ntioquia, Paulo e Sila s
a sinais e maravilhas prova que se encon- chegaram a Listra, onde encontraram Timóteo.
trou fé naquele lugar.
Paulo agradou-se tanto dele, que o levou consigo.
Em Listra (At 14.8-18)
Timóteo veio a tornar-se amigo e fiel companheiro
de Paulo nos anos seguintes. Saindo de Listra,
A localização de Listra, a moderna Zolde-
ra, foi descoberta apenas em 1885, quando
Paulo, Silas e, agora, Timóteo, ao que parece,
também foi encontrada uma inscrição que planejaram ir a Éfeso, porém Deus os impediu.
prova que Augusto havia feito dela uma Cogitaram depois ir à Bitínia, mas outra vez Deus
colônia romana. Ela situa-se a quase trinta os impediu. Dirigiram-se, então, a Trôade. Essa
quilômetros de Icônio. Derbe ainda não foi cidade ficava perto da antiga Troia. Em Trôade,
identificada satisfatoriamente, mas parece
Paulo teve a visão com o varão que lhe rogava:
estar a apenas alguns quilômetros de Listra.
“Passa à Macedônia e ajuda-nos” (16.9). No versí-
O discurso de Paulo em Listra (vv. 15-17), di-
culo 10 do capítulo 16, o escritor (Lucas) deixa
rigido aos pagãos, não é diferente do discur-
so de Atenas, onde as mesmas linhas de pen-
de usar o pronome “ele” e passa a usar o “nós”,
samento desenvolvem-se de maneira mais sugerindo, aparentemente, que, em Trôade, Lucas
completa. Até então, os discursos de Paulo juntou-se a Paulo e aos seus companheiros.
foram dirigidos a judeus ou, pelo menos, a
simpatizantes da sinagoga. Ele agora é con-
Paulo chega a Filipos
frontado por ouvintes puramente pagãos.
De Trôade, o grupo missionário seguiu para
A CONTROVÉRSIA RELATIVA À
Filipos (16.11-40). A primeira pessoa convertida
LIBERDADE GENTIL (AT 15.1-35) nessa cidade foi Lídia, negociante de púrpura,
proveniente de Tiatira.
O grande influxo de gentios na igreja
que ia se formando criava grandes pro- Filipos foi a primeira igreja fundada por
blemas entre os elementos judaicos, es-
Paulo na Europa, uma das igrejas mais fiéis ao seu
pecialmente no tocante às experiências
da lei mosaica, e particularmente no que ministério, talvez a única, da qual recebeu auxílio
dizia respeito à lei cerimonial e à questão pelos seus trabalhos. Ali ficou Lucas que, seis anos
da circuncisão. A fim de dar solução a esses depois, voltou a juntar-se a Paulo. Cinco anos
problemas e fornecer uma resposta univer- mais tarde, Paulo escreveu sua carta aos filipenses.
sal e de autoridade final, Paulo e Barnabé
Convém lembrarmos que foi ainda na cidade
subiram a Jerusalém para conferenciarem
com os apóstolos (At 15). Corria o ano 49. de Filipos que se deu a dramática conversão do
O concílio determinou que os gentios não carcereiro, quando Paulo e Silas estiveram presos e
foram milagrosamente libertos (16.27-40).

134 Atos dos Apóstolos


Paulo vai além
eram obrigados a cumprir as exigências da
Da cidade de Filipos, Paulo e seus compa- lei mosaica, mas tão somente se absterem
nheiros seguira m para a maior cidade da dos alimentos oferecidos aos ídolos, do
sangue, da carne de animais sufocados, e
Macedônia, que era Tessalônica (17.1-9), locali-
de todas as formas de pecados sexuais.
zada a cerca de 160 quilômetros a oeste de Filipos.
Nessa região, muitas pessoas se converteram, e
os inimigos do evangelho acusaram o grupo de A SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA
“transtornar o mundo” (At 17.6), “elogio” nada (AT 15.40 – 18.22)
pequeno face à magnitude de sua obra. Paulo, dono então de maior experiência,
ansiava por tornar a partir. Mas, devido às
Partindo de Tessalônica, os missionários foram divergências com Barnabé por causa de
à Bereia (17.10-14), que ficava a aproximadamente 80 João Marcos, preferiu levar Silas dessa vez.
quilômetros a oeste daquela cidade. Ali, Paulo teve Partindo de Antioquia, seguiram por terra
um ministério bem aceito, pois os bereanos mostra- para as igrejas do sul da Galácia, e em Lis-
tra o grupo foi engrossado com a adesão
ram-se receptivos às verdades das Escrituras.
do jovem Timóteo. Ali chegando, o Espírito
Santo desviou-os da direção ocidental, e
De Bereia, Paulo alcançou a grande cidade
passaram a viajar na direção norte, atraves-
de Atenas (17.15-34), na Grécia, onde teve a mais sando o norte da Galácia. Em Trôade, uma
fria recepção dessa viagem. Nessa cidade, Paulo visão indicou que a Macedônia (no con-
pregou o famoso sermão sobre O DEUS DESCO- tinente europeu) era um dos alvos dessa
NHECIDO. Partindo dali, o apóstolo seguiu para viagem. Começaram, assim, a evangeliza-
Corinto (18.1-18), uma das principais cidades do ção da Grécia. Foram visitadas as cidades
de Filipos, Tessalônica e Beréia. Na Acaia
Império Romano, onde permaneceu por quase dois
(sul da Grécia), foram visitadas as cidades
anos, durante os quais estabeleceu uma igreja forte. de Atenas e Corinto. Paulo demorou-se em
Corinto por quase dois anos. Em Trôade,
Paulo volta a Jerusalém Lucas reunira-se ao grupo missionário, e é
possível que nesse tempo tenha começado
Saindo de Corinto, Paulo voltou a Jerusalém a escrever a sua importantíssima narrativa,
e, posteriormente, a Antioquia. No caminho de o inspirado Atos dos Apóstolos, do qual
volta visitou, rapidamente, a cidade de Éfeso (At nos advém quase todo o conhecimento de
18.19), na época com uma população de cerca de que dispomos acerca de Paulo e suas via-
gens, bem como do nascimento e desen-
225.000 habitantes. Era uma importante metró-
volvimento da igreja.
pole da Ásia Menor e ficava à margem da estrada
Durante as viagens, Paulo mantinha-se
imperial, que se estendia de Roma ao Oriente.
em contato, por meio de epístolas, com
Éfeso era a sede do culto à deusa Diana. as congregações cristãs anteriormente
organizadas. Certo número dessas epísto-
Seguindo de Éfeso, Paulo foi à Cesareia, daí a
las chegaram até nós e são parte do Novo
Jerusalém e à Antioquia. E, “havendo passado ali Testamento. As epístolas 1ª e 2ª aos Tessa-
algum tempo, saiu, atravessando sucessivamente a lonicenses devem ter sido escritas nessa
região da Galácia e Frígia, confirmando todos os época. De Corinto, Paulo partiu para Éfeso,
discípulos.” (18.23).

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 135


EXERCÍCIOS
onde ficou pouco tempo. Dali, em viagem
Marque “C” para certo e “E” para errado.
apressada, passou por Jerusalém e chegou
a Antioquia da Síria. Dessa maneira, encer- ___7.11 Dirimidas as dúvidas quanto à questão
rou-se a sua segunda viagem missionária,
levantada pelos judaizantes no tocante
que durou de um ano e meio a dois anos,
e provavelmente terminou em cerca de 51
à circuncisão dos gentios, Paulo e
d.C. Depois disso, Paulo passou mais algum Barnabé decidiram visitar as igrejas
tempo em Antioquia da Síria. estabelecidas durante sua primeira
viagem missionária.
___7.12 Paulo queria a companhia de João Marcos
na segunda viagem, mas Barnabé discor-
dava, o que provocou uma divisão entre
eles, cada um seguindo, a partir daí, para
diferentes trajetos.
___7.13 Paulo seguiu viagem levando Silas
consigo; chegando a Listra, como plane-
jado, encontrou Timóteo, que tornou-se
voraz inimigo de Paulo.
___7.14 Chegando em Trôade, Paulo, Silas e
Timóteo rumaram para Filipos, onde
a primeira pessoa a ser convertida foi
Dorcas, possivelmente a organizadora
da igreja naquela cidade.
___7.15 Depois de terem estado em Corinto,
Paulo e seus companheiros voltaram
para Macedônia e, posteriormente, a
Cesareia.

TEXTO 4 | PAULO CHEGA A ATENAS


PAULO EM ATENAS (AT 17.16-34)
(AT 17.16-34)
Atenas é o único local onde a pregação
de Paulo não provocou perseguição e, Em sua segunda viagem missioná ria,
talvez significativamente, o lugar onde a partindo da Bereia, Paulo chegou a Atenas (17.15-
mensagem teve menor aceitação. À épo- 34), cidade de Péricles, Sócrates, Demóstenes e
ca, a cidade não tinha importância política, Platão. Durante mil anos, de 500 a.C. a 500 d.C.,
nem era um centro comercial comparável a Atenas foi o centro da filosofia, da literatura, da
ciência e da arte. Foi sede da maior universidade

136 Atos dos Apóstolos


do mundo, e era regida por um conselho denomi-
Corinto. Mas ainda era a sede de uma uni-
nado “Areópago”, que tinha também autoridade
versidade famosa e o centro intelectual do
sobre tudo o que era ensinado. Atenas era o que mundo. Acima de tudo, era afamada por
poderíamos chamar de uma cidade religiosa; suas cultuar inúmeros deuses – uma piedade
ruas eram cheias de ídolos, altares e templos. que Paulo elogia de modo levemente irô-
nico em suas palavras iniciais: “Vejo que em
Vários séculos antes, essa cidade fora censu- todos os aspectos vocês são muito religio-
rada pelos seus estadistas, por se interessar mais sos” (v.22, NVI). Os cidadãos estavam sem-
em ouvir a respeito de novidades do que em dar pre prontos a ouvir o mais recente filósofo
atenção a assuntos de real importância. Para Paulo, e a engajar-se num debate dialético – mas
geralmente com um espírito puramente
sobretudo, era doloroso ver uma cidade tão culta
acadêmico, sem nenhum desejo real de
envolvida em extrema idolatria. Ali dissertou não descobrir a verdade pelo bem da verdade.
apenas entre os judeus na sinagoga, como também
entre os atenienses na praça, a Ágora1, centro da
vida pública ateniense.

O discurso de Paulo

Na Ágora, Paulo debateu com os adeptos das duas escolas mais


ilustres de Atenas, formadas pelos estóicos e pelos epicureus; aqueles
buscando a autossuficiência como o mais elevado bem; os últimos
buscando o prazer. Aos epicureus, Paulo parecia pregador de deuses
estranhos (v. 18), pelo que o levaram à corte do Areópago, para que
expusesse o seu ensino.
Quando Atenas tornou-se uma democracia, no século V antes de
Cristo, essa corte fundada, segundo a tradição, pela padroeira da cidade
– a deusa de Atenas – perdeu grande parte do seu poder. Conservou,
porém, grande prestígio, que tendia a crescer sob os romanos. Há
evidência de que, por essa época, uma das suas funções era a de examinar
e licenciar preletores públicos.

1 Ágora: praça principal na constituição da pólis, a cidade grega da Antiguidade clássica. Nor-
malmente, era um espaço livre de edificações, configurado pela presença de mercados e feiras
livres em seus limites, assim como por edifícios de caráter público. Enquanto elemento de cons-
tituição do espaço urbano, a Ágora manifestava-se como a expressão máxima da esfera pública
na urbanística grega, sendo o espaço público por excelência. É nela que o cidadão grego convivia
com o outro, onde ocorriam as discussões políticas e os tribunais populares: era, portanto, o
espaço da cidadania. Por este motivo, a Ágora (juntamente da pnyx, o espaço de realização das
assembleias) era considerada um símbolo da democracia direta e, em especial, da democracia
ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz e direito a voto. A Ágora de Atenas, por
este motivo, também é a mais conhecida de todas as Ágoras nas cidades da Antiguidade.

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 137


O discurso de Paulo perante aquele grupo de pessoas começou,
conforme a narrativa de Lucas, com uma referência ao altar dedicado
ao DEUS DESCONHECIDO: “... passando eu e vendo os vossos
santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS
DESCONHECIDO. Esse pois, que vós honrais não o conhecendo, é o
que eu vos anuncio” (At 17.23 – ARC). Paulo declarou, pois, que a sua
missão era tornar conhecido esse Deus a quem os atenienses adoravam
sem conhecer! Enfatizou que Deus não deveria ser adorado segundo o
sistema idolátrico de Atenas e do mundo pagão em geral, e prosseguiu
conclamando a todos ao arrependimento, porquanto Deus “tem deter-
minado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do
varão que destinou” (v. 31 – ARC).

Reação ao discurso de Paulo

Cristo, o Homem designado para executar esse juízo, havia


ressurgido dentre os mortos. Os ouvintes, que até então haviam se
mostrado interessados nas palavras de Paulo, passaram para uma
segunda posição: não concordaram com ele, ao ouvi-lo falar em
“ressurreição”. Passaram a escarnecer e a zombar do que Paulo dizia.
A imortalidade da alma era um ponto comum para as diversas escolas
filosóficas de Atenas, porém a ressurreição do corpo era-lhes tão
absurda quanto indesejável.
Ainda hoje, a ressurreição dos mortos é uma pedra de tropeço para
muitos, assim como o era para os atenienses. Para a genuína fé cristã,
no entanto, ela é essencial.
“Houve, porém, alguns homens que se agregaram
a ele e creram; entre eles estava Dionísio, o areopa-
gita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles,
outros mais” (v. 34)

EXERCÍCIOS
Associe a coluna “A” de acordo com a coluna “B”.

Coluna “A”
___7.16 Como se chamava o conselho que regia Atenas.
___7.17 Cidade grega reconhecidamente idólatra.

138 Atos dos Apóstolos


___7.18 Lugar onde Paulo disputou a argumentação com filósofos
estoicos e epicureus.
___7.19 Em Atenas eram muitos os templos dedicados a deuses
diversos, inclusive um altar dedicado a
___7.20 Aceitavam a imortalidade da alma, porém, rejeitavam a
ressurreição do corpo.
Coluna “B”
A. Ágora.
B. Deus Desconhecido.
C. Areópago.
D. Escolas filosóficas de Atenas.
E. Atenas.

TEXTO 5 | PAULO EM CORINTO (AT 18.1-28)


Saindo de Atenas, Paulo seguiu para Corinto, grande cidade comer-
cial, a maior de todas que já visitara. Depois de sua destruição pelo
general romano Múmio, no ano 146 a.C., ficou em ruínas durante cem
anos, até que, em 46 a.C., Júlio César reedificou-a como colônia romana.
Por muito tempo ficou conhecida como uma cidade de extrema imorali-
dade. A imoralidade era até mesmo consagrada pela religião como forma
de culto. Em Corinto, fora edificado um templo dedicado à Afrodite,
chamada de “deusa do amor”. Nesse templo havia prostitutas “consa-
gradas” e dedicadas ao culto da orgia e da imoralidade.

Fundação de uma igreja em Corinto

Paulo conhecia a importância de se fundar uma igreja naquela


cidade, razão pela qual passou ali dezoito meses, onde encontrou o casal
Áquila e Priscila, que lhe prestou relevante auxílio em seus trabalhos
posteriores.
O ministério de Paulo na cidade de Corinto começou na própria
sinagoga da cidade, mas não tardou muito para que os judeus fechassem
as suas portas para ele. Então, Tício Justo, “que era temente a Deus”,

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 139


abriu as portas da sua casa e Paulo passou a pregar ali, ocasião em que
“... muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados” (v. 8b). Lucas
destaca a conversão de Crispo, principal da sinagoga, juntamente com
toda a sua família (v. 8).

Paulo sofre oposição dos judeus


Os opositores de Paulo permaneciam firmes no propósito de
impedir seus passos, pelo que o levaram à presença de Gálio, que era
irmão de Sêneca, o filósofo estóico e tutor de Nero, governador da Acaia
entre 51 e 52 d.C. Todo o esforço em oposição a Paulo, entretanto, foi
frustrado. Gálio nada podia fazer contra Paulo, uma vez que as acusa-
ções relacionavam-se a questões religiosas, e não à desobediência da lei
romana. Portanto, estava fora da sua competência julgar o apóstolo.
A atitude dos judeus para com Sóstenes (v. 17), o principal da sinagoga,
evidenciava todo o rancor que os gregos alimentavam contra os judeus. Se
este Sóstenes for o mesmo de 1 Coríntios 1.1, ele tornara-se cristão, tal como
Crispo, seu antecessor, e como Erasto, tesoureiro da cidade (Rm 16.23).

Paulo deixa Corinto


Na primavera do ano 52 d.C., Paulo deixou Corinto para uma
rápida visita a Jerusalém, onde pretendia passar a Páscoa. A caminho,
passou por Éfeso, sem contudo se demorar ali, a contragosto dos discí-
pulos daquela cidade. Contudo, ficara a promessa de um retorno, o que
se cumpriu, conforme veremos na próxima Lição.
Na mesma ocasião, um judeu alexandrino, de nome Apolo, versado
nas Escrituras do Antigo Testamento e na história de Jesus – o Messias,
estava despertando o interesse na sinagoga de Éfeso, com suas palavras
de grande poder.
Como Apolo conhecia apenas o batismo de João, Áquila e Priscila
apressaram-se por ensinar-lhe o caminho do Senhor, conforme haviam
aprendido com Paulo. Devidamente preparado, Apolo decidiu seguir
para a Grécia, mas os irmãos recomendaram-no à igreja de Corinto. Seu
trabalho foi de tão grande proveito para aquela igreja, que Paulo mais
tarde escreveu: “Eu plantei, Apolo regou” (1Co 3.6). Estas palavras do
apóstolo foram escritas em razão dos partidos que estavam se formando
no seio da igreja de Corinto, em torno das pessoas de Paulo e Apolo,
os quais, na verdade, nada mais foram naquela igreja que instrumentos
pelos quais Deus operou a sua edificação. Entre eles não havia rivalidade.

140 Atos dos Apóstolos


EXERCÍCIOS
Marque “C” para certo e “E” para errado.
___7.21 A cidade de Corinto foi por muito tempo conhecida por
sua imoralidade e nela fora edificado um templo dedicado a
Afrodite, chamada de “a deusa do amor”.
___7.22 No templo a Afrodite encontravam-se as prostitutas “consa-
gradas” e dedicadas ao culto da orgia e da imoralidade.
___7.23 O ministério de Paulo em Corinto, tornou-se impossível; logo
todas as portas se lhe fecharam.
___7.24 Apolo, um judeu alexandrino, estudioso do Antigo testa-
mento, foi ajudado por Áquila e Priscila antes de desenvolver
um excelente trabalho em Corinto.
___7.25 Uma vez que Apolo trabalhou muito bem em Éfeso, foi
dispensada qualquer colaboração de Paulo, ali.

Lição 7 – A Vocação Missionária da Igreja 141


REVISÃO DA LIÇÃO
Assinale com “x” a alternativa correta.

7.26 Os primeiros missionários da Igreja de Antioquia foram:


___a) Silas e Apolo.
___b) Barnabé e Paulo.
___c) Tiago e João.
___d) Nenhuma das alternativas está correta.

7.27 Os judaizantes provocaram crise de ordem doutrinária com os


gentios convertidos, porquanto exigiam que estes fossem
___a) batizados em água.
___b) circuncidados.
___c) batizados no Espírito Santo.
___d) Todas as alternativas estão corretas.

7.28 Paulo e Barnabé deveriam visitar juntos as igrejas estabelecidas


durante sua primeira viagem missionária, porém se separaram
por discordarem da companhia de
___a) João Marcos.
___b) Silas.
___c) Pedro.
___d) Tiago.

7.29 Em sua segunda viagem missionária, partindo de Bereia, Paulo


chegou à cidade que era o centro da filosofia, da literatura, da
ciência e da arte. Era a famosa
___a) Corinto.
___b) Antioquia.
___c) Atenas.
___d) Roma.

142 Atos dos Apóstolos

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