Você está na página 1de 6

O movimento dos Irmãos

Vimos na semana passada que existem igrejas verdadeiras e


igrejas falsas, assim como igrejas mais puras e menos puras. Com a
rápida expansão do evangelho por todos os cantos do planeta,
surgiram as denominações que é simplesmente um grupo de pessoas
que se reúnem e se organizam por pensar de uma forma mais similar.
Isto é a organização do organismo, ou a igreja local. Ouvimos um
ditado estranho porém verdadeiro: “a Bíblia é a mãe de todas as
heresias”. Não que a Bíblia em sí contém heresias, mas que as
pessoas a interpretam de uma forma diferente, surgindo assim as
denominações, e alguns de uma forma bem distorcida, surgindo as
seitas. Os Testemunhas de Jeová até alteraram a Bíblia para adaptá-
la a sua interpretação! O nosso objetivo é de estudar e absorver o
máximo dela, para que nos aproximemos cada vez mais da verdade
absoluta.

Vimos também quando surgiu a igreja, sua origem no


Pentecostes, e o que a distingui e a faz ser igreja: batismo e habitação
permanente do ES. Lemos em Rm 8 que:

Romans 8:9-11 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito
de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. 10
Se, porém, Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas
o espírito é vida, por causa da justiça. 11 Se habita em vós o Espírito daquele que
ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os
mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio do seu Espírito, que em vós
habita.

Mas o que será que nos distingui enquanto denominação? O que é


diferente em nós que nos faz sermos chamados de Irmãos? Será que
somos uma igreja mais pura ou menos pura?

Grandes homens participaram e surgiram deste movimento,


como John Nelson Darby, George Muller e tantos outros, e sua
característica principal sempre foi o estudo da Palavra de Deus, e a
busca pela profunda e sincera verdade da Bíblia que é inerrante e
totalmente inspirada por Deus. Darby, por exemplo, foi um homem
que estudou muito a Bíblia, e foi quem sistematizou a escatologia da
forma que a conhecemos hoje. O dispensacionalismo e todos os
eventos no detalhe e na ordem cronológica que acreditamos, foi ele
quem de primeira mão explanou de uma forma mais sistemática.
George Muller foi um herói da fé, e através do poder da oração,
conseguiu alcançar grandes coisas para o reino de Deus. O nosso
movimento foi sempre um berço missionário, promovendo e
sustentando irmãos para todos os cantos do planeta levando o
evangelho de Cristo para todas as nações. Vamos estudar quais são
as nossas características, e o que nos faz sermos uma denominação,
mesmo não querendo.

Algumas das principais características são:

 Independência e sem denominação


 A festa semanal de recordação
 Missões no estrangeiro
 Finanças – sem solicitação de fundos
 Finanças – obreiros não assalariados
 Ausência de clero

Existem outras características mas por uma falta de tempo, vamos


nos ater apenas a estas. No livro “Os Distintivos das Assembléias”
de H. G. Mackay podemos ter mais informações.

Antes de mais nada, vamos analisar um pouco do contexto


histórico quando o movimento surgiu. Lemos em

Acts 1:8 mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins
da terra.

A igreja surgiu em Jerusalém naquele dia, e depois disto se


espalhou por todos os cantos da terra, como foi ordem do próprio
Senhor Jesus. Quando Paulo escreveu sua última carta, ele já
estava em Roma aprisionado, levando o evangelho aos Romanos.
Hoje, muitos séculos depois, estamos aqui no Brasil aprendendo e
divulgando este mesmo evangelho. E conforme a igreja foi
crescendo, ela foi se estruturando, muitas vezes por necessidade e
outras vezes por mundanismo. Na época do imperador Romano
Constantino, quando ele achou mais sensato unificar a igreja com o
estado ao invés de continuar perseguindo os Cristãos, muitas coisas
pagãs começaram a fazer parte da igreja. Liturgias e rituais
majestosos, organização, cadastro dos fiéis, líderes reconhecidos e
capacitados, imagens, adoração de santos, idolatria, símbolos,
velas, confissão de pecados, eucaristia, penitência, indulgências,
propinas, templos e igrejas magestosas, burocracia, falsidade,
inquisição...quanta coisa já não foi feita em nome da religião. A
igreja que antes era pura e verdadeira se corrompeu com o tempo
até virar a conhecida igreja Católica Romana.
Era necessário um reavivamento e um retorno a verdade,
pregando a salvação pela graça sem a necessidade de penitências,
indulgências e todo aquele sistema que financiava o estado e a
igreja. Surgiu então Lutero e seus amigos, que conseguiram
através do estudo da Palavra de Deus lembrar que “a salvação é
pela fé, não de obras para que ninguém se glorie”. Sempre é o
estudo da Palavra de Deus que vai nos aproximar da pureza e da
verdadeira vontade de Deus. Todos aqueles que apoiaram o
movimento de Lutero foram chamados de protestantes, por
protestarem ao sistema previamente estabelecido.

Passando mais alguns anos adiante, este movimento protestante


cresceu de tal forma que ele se fragmentou, surgindo os Batistas,
os Presbiterianos, os Luteranos, os Metodistas, os Irmãos, os
Pentecostais, etc... Muitos destes movimentos cresceram de tal
forma que também adotaram práticas necessários para sua
organização e controle de seus fiéis. O batismo se tornou a forma
de membresia na igreja, e não simplesmente a fé em Cristo e o
batismo do ES que nos torna um só corpo. O dízimo e outros
sistemas de coleta financeira se tornou necessário para a
manutenção da estrutura com suas catedrais magníficas de vidros
de cristal. Esqueceu-se que igreja é composta de pedras vivas, e
não pedras de construção. Muitas outras práticas e crenças
doutrinárias fizeram com que alguns irmãos se reunissem de uma
forma diferente, voltando para a simplicidade, e buscando a correta
interpretação para questões até doutrinárias. Estes irmãos que se
reuniam e cujo objetivo principal era o estudo da Palavra de Deus
se tornaram Os Irmãos. Havia uma grande concentração deles em
Plymouth, na Inglaterra, talvez o maior número deles se reunindo
num mesmo lugar. Por isso ficaram conhecidos como Os Irmãos de
Plymouth. O movimento cresceu de tal forma que haviam grupos
se reunindo em várias cidades, de vários países.

Assim como Lutero não queria uma revolução contra a Igreja


Católica Romana, mas no fim esta revolução aconteceu e surgiu
este novo movimento protestante. Da mesma forma estes irmãos
não queriam criar um novo movimento e uma nova denominação,
pois estavam “rebelando” justamente contra o denominacionalismo
e as estruturas burocráticas que surgiram. Mas no fim temos uma
identidade e somos uma nova denominação, não somos? Temos
distintivos que nos fazem ser exclusivos, e por mais que não era o
objetivo se tornar uma nova denominação, isto aconteceu.
Esqueceu-se que a igreja é de Cristo, e não do pastor Fulano.
Esqueceu-se que para fazer parte da igreja de Cristo, é necessário
o batismo do ES, e não o batismo das águas. Esqueceu-se que
somos um corpo, e mesmo que de diferentes denominações, somos
todos um em Cristo. Mas para muitos o denominacionalismo é
como uma parede que nos separa um dos outros, o que não deixa
de ser verdade. Mas não podemos fugir de ter uma identidade
exclusiva por pensar diferente.

Por que acreditamos na independência?

Porque os sistemas de regionalização com seus bispos e


reverendo nos fazem esquecer que a igreja é de Cristo, e não dos
homens. Cristo é o cabeça da igreja e devemos obedecer a ele
somente, e não a um bispo qualquer. Mas as igrejas de uma
convenção batista por exemplo, também não são independentes?
Sim, mas com uma centralização na sede que visa o bem e a busca
de benefícios para todas as igrejas daquela região. O problema não
está no sistema, mas nas pessoas. Paulo sendo apóstolo, não
exercia uma certa função de bispo? Isto fez algum mal para a
igreja? Pelo contrário, fez muito bem sendo exemplo para nós até
hoje na Palavra de Deus.

Porque não existe o clero?

A Palavra de Deus nos diz que somos todos sacerdotes e temos


livre acesso a Deus, concedido pelo seu filho Jesus Cristo, que é o
sumo-sacerdote. Não precisamos de líderes reconhecidos e
formados, sendo intermediadores por nós! De fato somos
sacerdotes, mas de fato existiam líderes na igreja primitiva cujo
objetivo não era tirar a liberdade dos crentes, mas auxiliá-los e
dirigí-los na sua caminhada cristã. Precisamos de pessoas
capacitadas para o governo da igreja e para o ensino da palavra, e
existe na Bíblia várias citações de presbíteros, bispos, anciãos,
diáconos...palavras algumas vezes sinônimas. O clero é muitas
vezes preparado numa universidade ou num seminário para ser
pastor ou bispo, mas será que tal estudante possui mesmo o dom
de Deus para isso? Será que tal pessoa não estará exercendo sua
função de líder por vontade humana e não divina? Mas será que
Deus não pode usar um seminário para preparar os seus obreiros
com mais capacitação na Palavra de Deus? Mais uma vez o
problema não está no sistema, mas nas pessoas.

Porque o obreiro não recebe um salário?


O obreiro não recebe um salário para que ele não fique preso a
uma igreja, ou a um salário. O obreiro é obreiro de Deus, e não
dos homens. O obreiro deve ser sustentado por Deus, e não pelos
homens. O obreiro deve viver plenamente pela fé! É de fato um
conceito bíblico e lindo de ser seguido. Mas Deus não pode
sustentá-los através da igreja, ou através de um salário? Se o
obreiro ficar ganancioso trabalhando pelo salário que ele recebe, e
não para Deus, lembrando que é Deus que o está sustentando,
independente do método, mais uma vez o problema está na pessoa
e não no sistema. Eu trabalho na Tetra Pak e recebo um salário
todo mês, mas preciso ter a consciência que é Deus que está no
controle de tudo. Amanhã posso perder meu emprego, e preciso
continuar dependendo de Deus com ou sem salário. Paulo não
recebia ofertas das igrejas, e não disse que

1 Timothy 5:17-18 Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os


presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no
ensino. 18 Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O
trabalhador é digno do seu salário.

Porque a ceia é uma festa sem igual?

Os Irmãos preservam de uma forma elogiada a simplicidade da


ceia como ela foi de primeira mão instituída pelo Senhor Jesus. Os
irmãos também preservam o hábito de celebrá-la todos os domingos,
com base na tradição da igreja primitiva (Atos 20) Porém será que é
errado aquelas igrejas que a celebram mensalmente? Além da
tradição inicial, não encontramos nenhuma ordem expressa na palavra
de Deus que nos obrigue a celebrá-la todos os domingos. Podemos
estar todos os domingos na ceia sem um espírito real de adoração.
Podemos estar uma vez por mês participando de uma festa
exuberante com uma liturgia predefinida, uma orquestra e um coral
cantando, e ainda assim não estar no verdadeiro espírito de oração e
adoração. Mais uma vez depende do nosso comportamento, e não do
número de vezes que a ceia é celebrada. Os irmãos em Corinto
estavam participando da ceia sem discernimento, e por isso Paulo teve
que exortá-los quanto a banalização do culto. O problema está na
atitude das pessoas.

O movimento dos irmãos e seus princípios o fazem uma


denominação pouco conhecida, o que era o desejo dos fundadores
próximo de 1860. Na verdade, possivelmente nos tornamos mais do
que eles esperavam. Mas por ser pouco conhecida e pouco
organizada, o movimento tende a ser um movimento sempre pequeno,
sem muita expressão. Muitos de nós nem sabíamos até hoje quais
eram algumas de nossas características. Acreditamos no credo dos
apóstolos e nas doutrinas fundamentais como a trindade, a salvação
pela graça, a segurança eterna, a humanidade de Jesus assim como a
sua divindade, mas algumas práticas e costumes são peculiares do
nosso movimento. Devemos aproveitar aquilo que é bom e sadio e
tentar melhorar as nossas deficiências, nos tornando um grupo cada
vez mais centrado na Palavra de Deus como foi desde o princípio.

Você também pode gostar