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O Julgamento Final e a Punição Eterna

Apocalipse 20.11-15

Por Pr. Paulo César Nascimento

Introdução
De acordo como Apocalipse 20.11-15, os eventos seguintes serão o
julgamento do “grande trono branco” e o castigo eterno dos ímpios. Nesta lição
trataremos da realidade do julgamento final e da punição eterna, da base do
julgamento e dos graus de punição.

1. A Realidade do Julgamento Final


Há um farto testemunho nas Escrituras de que haverá um julgamento final
de caráter definitivo. Sobre os ímpios será pronunciado um veredito, eles serão
destinados ao seu estado final, não havendo, depois disso, nenhuma
oportunidade para a fé e o arrependimento.
A principal passagem é Apocalipse 20.11-15. Diante do Deus entronizado
comparecerão todos, “pequenos e grandes”, e serão julgados “segundo as suas
obras”. Eles ficarão de pé diante do “grande trono branco” e ouvirão a sentença
final, a proclamação do seu destino eterno: “Apartai-vos de mim, malditos, para
o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41).
Outra passagem importante que trata desse grande julgamento é Mateus
25.31-46. Esse texto vem sendo usado de maneira equivocada pelos
dispensacionalistas, os quais entendem que essa passagem não descreve o
julgamento final, mas o julgamento das nações que acontecerá antes do milênio,
para decidir quais delas poderão permanecer na terra durante o reinado milenar
de Cristo. Ensinam que a base desse julgamento será a maneira como elas
trataram a nação de Israel.
Olhando, no entanto, para esse texto o que encontramos é o julgamento
de justos e injustos, crentes e incrédulos onde a sentença final define, não a sua
participação no milênio, mas o seu estado eterno: os bodes (ímpios) irão “para o
castigo eterno”, e as ovelhas (justos), “para a vida eterna” (Mt 25.31-34; 46).
Mas, além dessas duas passagens principais (Ap 20.11-15 e Mt 25.31-46),
muitos outros textos das Escrituras ensinam acerca desse julgamento final. No
seu discurso em Atenas, Paulo anunciou que Deus “estabeleceu um dia em que
há de julgar o mundo com justiça” (At 17.30-31); escrevendo aos romanos ele
falou do “dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus” (Rm 2.5). Judas,
tratando do julgamento de anjos caídos que se encontram “em algemas eternas”,
fez menção ao “juízo do grande dia” (Jd 6). Várias vezes, em ocasiões e
contextos diferentes, o amoroso e gracioso Jesus, falou do “Dia do juízo” (Mt
10.15; 11.22, 24).
Naquele grande dia, serão julgados incrédulos (Ap 20.12; Rm 2.5-8),
anjos caídos (2Pe 2.4 e Jd 6) e crentes (Rm 14.10,12; 2Co 5.10). O quadro do
julgamento final, descrito em Mateus 25.31-46, mostra “o Filho do Homem” em
seu trono glorioso separando as ovelhas dos cabritos e recompensando aqueles
que foram postos à sua direita. Vale salientar aqui que o julgamento dos crentes
será para avaliar e conceder vários níveis de recompensa (1Co 3.12-15; 2Co
5.10; Lc 19.17,19). De maneira que, a consciência do dia do julgamento jamais
deve levar os cristãos a temer a condenação eterna (Jo 5.24). O veredito já foi
dado na presente era: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que
estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).
O Senhor Deus e Pai é o “reto juiz” (2Tm 4.8), “o juiz de toda a terra” (Gn
18.25), no entanto, Ele deu a Jesus Cristo, o Filho, o direito de agir como juiz
sobre todo o universo (Jo 5.22, 26-27; At 10.42; 2Tm 4.1).
Por fim, as Escrituras revelam que nós, os crentes em Cristo, ajudaremos
no trabalho de julgamento. Em 1Coríntios 6.2-3, Paulo diz que tomaremos parte
no processo de julgamento. O texto de Apocalipse 20.4 corrobora esse ensino
apostólico.

2. A Base do Julgamento
Como missionário entre indígenas no Brasil, por doze anos, e agora, como
pastor de igreja local, uma das perguntas que mais ouço é: “Como fica o caso
das pessoas que nunca ouviram falar de Jesus? Elas serão salvas ou
condenadas? Como poderão ser julgadas e condenadas se nunca tiveram a
oportunidade de ouvir o evangelho?”
Antes qualquer coisa, é preciso deixar claro que não há inocentes perante
Deus. O fato de uma pessoa não ter a oportunidade de ouvir acerca da salvação
em Cristo não a transforma em alguém inocente, merecedor da justificação. Em
Romanos 1.19-21, Paulo deixa claro que todos os seres humanos são
“indesculpáveis” perante o seu Criador. Pois, tendo acesso ao “conhecimento de
Deus” através das coisas que foram criadas, deliberadamente rejeitaram esse
conhecimento e viveram muito aquém do Deus que se revelou a eles (Rm 1.21,
23, 25, 28).
Por mais isolado que tenha vivido ou viva ainda hoje um povo na terra,
privado de todo e qualquer acesso à revelação de Deus nas Escrituras e em
Jesus Cristo, jamais poderão alegar que nunca ouviram falar do Deus
verdadeiro. Ao longo dos séculos, Deus tem revelado a sua glória através do
universo criado (Sl 19.1-4) e tem testemunhado de si mesmo aos homens
através do seu cuidado e provisão (At 14.15-17).
No entanto, no dia do juízo final, qual será a base do julgamento das
pessoas? Todos serão julgados com base em um mesmo padrão ou haverá
critérios diferentes? Segundo o apóstolo Paulo, os seres humanos serão
julgados de acordo com a luz que receberam, ou seja, com base no
conhecimento ou na revelação que tiveram de Deus e de sua vontade (Rm 2.12-
16). Os que receberam a revelação completa da vontade de Deus (AT e NT),
serão julgados com base na reação que tiveram diante dessa revelação total. Os
que receberam apenas a revelação do Antigo Testamento, serão julgados com
base nessa revelação parcial. E, por fim, os que tiveram acesso apenas à
revelação de Deus por meio do mundo criado (revelação geral) serão julgados
segundo essa verdade revelada de Deus.

3. A Realidade da Punição Eterna (Inferno)


Nas Escrituras encontramos abundantes referências que descrevem o
destino final dos ímpios, a sua punição eterna. Essa doutrina tem sido alvo de
discussão, distorção e até mesmo de rejeição por parte de muitos. Uma das
razões principais é a ideia que alguns têm de que esse ensino não combina com
o Deus cristão, o Pai amoroso e misericordioso revelado por Jesus Cristo. Para
essas pessoas, existe uma tensão entre o amor de Deus e o seu juízo. Outros
têm uma certa aversão ao conceito de inferno por entender que o mesmo fere e
choca a consciência sensível e evoluída do homem pós-moderno.
No entanto, independentemente de como os homens consideram a
doutrina do castigo eterno, ela é claramente ensinada nas Escrituras. A Bíblia
emprega diversas imagens para retratar o estado futuro dos ímpios:
* Lugar de fogo inextinguível onde o verme não morre (Mt 3.12; Mc 9.43,48).
* Lugar de choro, ranger de dentes e trevas (Mt 25.30).
* Lugar do castigo eterno (Mt 25.41,46).
* Lugar de ira, indignação, tribulação e angústia (Rm 2.8-9).
* Lugar de penalidade, destruição e banimento da face do Senhor (2Ts 1.9).
* Lugar de tormento eterno (Ap 14.10-11).
* Lugar da segunda morte, a morte eterna (Ap 20.11-15; 21.8; Mt 25.46).
* Lago que arde com fogo e enxofre (Ap 20.15; 21.8).
Anthony Hoekman comenta o seguinte acerca dessas imagens: “Não
devemos tomar literalmente as figuras pelas quais a punição do inferno é
retratada. Pois, quando tomadas literalmente, estas figuras tendem a se
contradizer reciprocamente: como pode o inferno ser trevas e fogo ao mesmo
tempo? As imagens devem ser entendidas simbolicamente, porém a realidade
será pior do que os símbolos.”1
Ferreira e Myat dão a seguinte definição de inferno: “O inferno será uma
interminável perturbação de vida, os condenados ‘serão atormentados de dia e
de noite pelos séculos dos séculos’, com dores e sofrimentos no corpo e na alma,
e castigos como agonias da consciência, angústia, desespero, choro e ranger de
dentes.”2
O inferno será o ápice da manifestação da ira de Deus sobre o Diabo, os
anjos caídos e os ímpios.

4. Graus de Punição
Alguns textos nas Escrituras, indicam que haverá graus de punição ou
níveis de castigo no inferno.

1
HOEKEMAN, Anthony. A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p.321
2
FERREIRA, Franklin; MYAT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p.1079.
Mateus 11.20-24 - Jesus deixou claro que no “Dia do juízo” haverá um rigor
maior no julgamento das cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum do que para
as antigas cidades Tiro, Sidom e Sodoma (Mt 11.22, 24). Por qual motivo? As
cidades da época de Jesus tiveram a oportunidade de ver os milagres, ouvir a
mensagem do evangelho e conhecer pessoalmente o Messias, privilégios que
as cidades do Antigo Testamento não tiveram. Mesmo tendo tais privilégios,
recusaram-se a arrepender-se dos seus pecados. O princípio aqui ensinado é:
Quanto maiores forem os privilégios, maior será o rigor no dia julgamento final.
Quanto menores forem os privilégios, menos rigoroso será o julgamento. O que
essa passagem sugere não é que os habitantes de Tiro, Sidom e Sodoma serão
absolvidos, mas que o grau de punição para eles será menor que os habitantes
das cidades da Galileia do tempo de Jesus.

Lucas 12.45-48 – Na parábola dos servos fiel e infiel também sugere que haverá
níveis de castigo no julgamento do último dia. O princípio ensinado nessa
parábola é: quanto maior o conhecimento da vontade de Deus, maior será a
responsabilidade, e maior também a punição se houver falha no cumprimento da
responsabilidade. Aqueles que tiverem mais revelação de Deus, e a rejeitarem
e desobedecerem, receberão mais severo juízo.

Apocalipse 20.12-13 – Esse texto que fala do julgamento dos ímpios deixa claro
que eles serão julgados “segundo as suas obras”. Antes da punição ser aplicada,
haverá uma avaliação das obras que as pessoas tiverem praticado, o que indica
que haverá graus de punição.
Acerca desse tema, o teólogo Batista, Millard Erickson, escreveu: “Em
alguma medida, os diferentes graus de castigo refletem o fato de que o inferno
é Deus deixando o ser humano pecador por conta do próprio caráter que forjou
nesta vida.”3

3
ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, p.1181.
Universalismo, Aniquilacionismo e Punição Eterna
Marcos 9.42-48

Por Paulo César Nascimento

Introdução
Ao longo da história da igreja a doutrina do julgamento final e da punição
eterna têm enfrentado oposição por parte de muitos. Católicos, seitas pseudo-
cristãs e até mesmo alguns evangélicos têm oferecido forte resistência ao ensino
de que Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, punirá eternamente os seres
humanos por causa de sua desobediência temporária aqui na terra.
Na presente lição, estudaremos as linhas de pensamentos que surgiram,
chamadas “Universalismo” e “Aniquilacionismo”. Em seguida faremos uma
análise das mesmas à luz de algumas passagens bíblicas. Haverá uma
condenação eterna? A ideia de uma punição eterna é incompatível com o fato
de que “Deus é amor”?

1. Universalismo
Vejamos a seguir o que ensina o “Universalismo” e quais as supostas
bases bíblicas usadas pelos seus defensores.

(a) Universalismo: a doutrina e sua sustentação


O “Universalismo” é o ensino de que, no final, todas as pessoas serão
salvas. Os principais defensores dessa doutrina no século 20 foram J. A. T.
Robinson e John Hick. Na concepção deles, ainda que o julgamento seja
necessário, este não tem a última Palavra. No final, o Deus que nunca desiste
de mostrar misericórdia e graça, salvará todas as suas criaturas. Com isso, os
universalistas, também chamados de restauracionistas, negam e omitem
totalmente a mensagem acerca do julgamento final e do castigo eterno.
Os universalistas entendem que algumas passagens bíblicas parecem
indicar que todos serão salvos. Os dois textos prediletos deles são Efésios 1.9-
10 e Filipenses 2.10-11. Millard Erickson faz o seguinte comentário: “Com base
em tais referências, argumenta-se que aqueles que nesta vida rejeitaram a oferta
de salvação serão, depois de sua morte e da segunda vinda de Cristo,
despertados pela situação e, portanto, se reconciliarão com Cristo.”4

(b) Resposta ao Universalismo


O Universalismo é uma perspectiva impossível de ser sustentada nas
Escrituras. Os textos bíblicos usados pelos universalistas não ensinam o que
eles alegam.
Em Efésios 1.9-10, Paulo não está ensinando a restauração da
humanidade caída à comunhão com Deus. Mas, sim, a restauração da harmonia
na criação, a sujeição de tudo, de todos e de todas as coisas a Cristo como o
Cabeça.
Em Filipenses 2.10-11, Paulo não retrata os ímpios submetendo-se
voluntária e alegremente ao Senhor. Pelo contrário, retrata-os se submetendo
como a um general com o seu exército vencedor. De maneira que, essa
passagem não ensina que haverá por parte dos ímpios uma sujeição jubilosa ao
Cristo exaltado, mas uma subordinação na derrota.
Além do mais, as Escrituras não dão nenhuma indicação que haverá uma
segunda oportunidade. Tanto Jesus como os apóstolos ensinaram
consistentemente a doutrina da condenação eterna. O ensino claro é que os que
recusam a salvação oferecida em Cristo irão para um lugar de tormento eterno.

2. Aniquilacionismo
Vejamos a seguir o que ensina o “Aniquilacionismo” e quais os supostos
argumentos bíblicos usados pelos seus defensores.

(a) Aniquilacionismo: a doutrina e a sustentação


O aniquilacionismo é o ensino segundo o qual os ímpios não terão uma
existência consciente após a morte. Eles serão aniquilados! Em outras palavras,
para os aniquilacionistas, não haverá um castigo eterno e consciente dos
incrédulos. No máximo, na vida futura, os ímpios experimentarão algum tipo de
sofrimento consciente, mas com duração limitada. Depois de um tempo, eles
serão aniquilados no fogo do inferno e deixarão de existir para sempre.

4
ERICKSON, Millard. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, p.1177.
Vemos, então, que o aniquilacionismo é uma doutrina que nega e elimina
qualquer possibilidade de uma punição eterna. No entendimento de seus
defensores, o castigo para sempre no inferno seria algo cruel, injusto e
incompatível com o caráter amoroso de Deus.
Os aniquilacionistas costumam usar alguns textos bíblicos que empregam
o termo “destruição” para se referir ao destino final dos ímpios (2Ts 1.9; 2Pe 3.7).
Argumentam a partir daí que depois de serem destruídos, eles não existirão
mais. Além dessas passagens, costumam usar dois outros argumentos: (1) Há
uma incoerência entre o castigo eterno e consciente e o amor de Deus, e (2) a
execução de um castigo eterno para pecados cometidos temporariamente seria
algo injusto e desproporcional.

(b) Resposta ao aniquilacionismo


No próximo ponto desta lição veremos de maneira mais aprofundada que
o aniquilacionismo é insustentável. Aqui irei apenas pontuar algumas coisas:
O termo “destruição”, usado em textos como 2Tessalonicenses 1.9 e
2Pedro 3.7, nem sempre significa “o ato de deixar de existir ou alguma espécie
de aniquilação”. Mas, pode se referir apenas “aos efeitos nocivos e destrutivos”5
do juízo final sobre os ímpios.
Biblicamente falando, não há nenhuma contradição entre a infinita ira de
Deus e o seu amor infinito. Deus é pleno em todos os seus atributos. Ele não é
mais amor do que justiça, nem mais justiça do que amor. O Deus que é “tardio
em irar-se” é o mesmo que “jamais inocenta o culpado” (Naum 1.3).

3. Punição Eterna Consciente


De acordo com o farto testemunho das Escrituras nem o “Universalismo”
nem o “Aniquilacionismo” se sustentam. Biblicamente falando, o julgamento final
dos ímpios será irreversível, ou seja, a sentença de condenação não poderá
mais ser alterada. Além disso, a punição será eterna e consciente.
Wayne Grudem dá a seguinte definição de inferno: “O inferno é lugar de
castigo eterno e consciente para o ímpio.”6
Vejamos alguns textos bíblicos:

5
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.983-984.
6
Idem, p.982.
Daniel 12.2 – Assim como a vida será eterna, a vergonha e o horror também
serão eternos.
Mateus 25.41, 46 – O “fogo eterno” é uma referência clara à punição. O seu
oposto é a “vida eterna”. Ora, se nessa passagem a vida será de caráter eterno,
a punição não poderá ser de outra natureza, senão eterna. Ou seja, se um
destino (a vida) é de duração interminável, então o outro (o castigo) também
deve ser.
Mateus 3.12 e Lucas 3.17 – Falando da futura condenação dos ímpios, João
Batista usa a expressão “fogo inextinguível”. Esse termo pressupõe uma punição
que não cessará.
Mateus 18.8, 9 – Jesus fala do “inferno de fogo” como “fogo eterno”. Nessa
passagem, novamente, a ênfase recai sobre a duração eterna da punição.
Apocalipse 19.3 e 20.10 – Estes dois textos empregam a expressão “pelos
séculos dos séculos”. No grego, esta é a expressão mais forte usada para
eternidade ou duração eterna.
Apocalipse 20.10, 15 – O diabo, a besta, o falso profeta e os ímpios “serão
atormentados” no “lago de fogo e enxofre”. A condição aqui é claramente de
tormento consciente. Pois, somente uma pessoa consciente pode ser
atormentada.
À luz dessas passagens bíblicas, rejeitamos veementemente a ideia de
que todos serão salvos (Universalismo), bem como rejeitamos o ensino de que
ninguém será castigado eternamente (Aniquilacionismo).

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