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1. O termo "eschaton". Significa "último" em grego. "Escatologia" é o tratado teológico relativo às realidades
últimas, realidades que dizem respeito ao ser humano e ao cosmos em geral. São: a morte, o juízo partic ular,
o purgatório, o céu, o inferno, a ressurreição dos mortos, a segunda vinda de Cristo, o juízo universal e a vida
eterna. Na tradição clássica levam o nome de "Novíssimos", superlativo que em latim significa as coisas
"mais recentes" e por isso "últimas".
2. Escatologia: questão profundamente humana. Esse tratado responde às perguntas humanas mais
desafiadoras e decisivas: Qual é o nosso destino? Para onde vamos? Que podemos esperar em definitivo?
Qual é o termo derradeiro de nossos passos? Para que finalmente vivemos? Pois uma coisa só se entende
bem quando chegou ao termo. Aí está completa. Só o fim dá o sentido último a qualquer realidade, como
uma frase, um canto, uma novela e qualquer história.
3. Situação atual. Como a sociedade moderna sente a questão dos fins últimos? A tendência da modernidade
é privilegiar a história presente, o tempo atual (temporalismo). Nesse sentido, cai-se freqüentemente no mero
materialismo e mesmo no hedonismo: "Comamos e bebamos porque amanhã morreremos" (Is 22,13). A
maior preocupação das sociedades modernas não é com o futuro escatológico, mas ao máximo com o futuro
histórico, entendido pelas classes privilegiadas apenas como o prolongamento do presente, como na noção de
"desenvolvimento sustentável".
Na verdade, mesmo a idéia de futuro histórico alternativo ou de "utopia" entrou hoje em crise. Quem hoje
sonha ainda com o "socialismo" e mesmo com a new age - a "idade do Aquarius", forma da "terceira idade"
de Joaquim de Fiore (+1202)?
4. Escatologia em estatísticas. Mas se há hoje a tendência de fugir da questão do "fim" ou dos "fins", há por
outro lado certo interesse em responder a essa questão, especialmente quando diz respeito ao destino
individual.
6. O "já" e o "ainda não" do Juízo. Vimos acima o "ainda não". Mas "já" agora Deus nos julga, e isso no
tribunal da consciência individual. Esse juízo atual ocorre:
a partir do próprio Cristo e de sua Palavra. "Quem nele (em Jesus) crê não é julgado; quem não crê já está
julgado. Este é o julgamento: a luz veio ao mundo" (Jo 3,18-19; cf. Mt 10,32-33; 2Ts 1,5; 1Pd 4,17);
a partir da Igreja enquanto que proclama a Palavra de Cristo e chama todos à conversão;.
II. MORTE
1. Situação da morte no mundo moderno. Como é vista hoje a morte?
Enquanto assunto, temos a morte-tabu. É recalcada através de meras alusões e mesmo totalmente
silenciada. Ou então é reduzida ao trivial, ao anódino, como simples resultado de guerras, de calamidades e
de outros acidentes, como faz a mídia.
Enquanto realidade, é a morte-soft. É afastada do quotidiano e entregue a instituições especializadas:
hospital, funerária e religião, que a reduzem às formalidades de um ritual. Aí a morte é maquilada e
destituída de toda gravidade, como no caso da "morte alla americana" ou simplesmente nas modernas
propostas de eutanásia, feitas sob a invocação da "morte digna".
2. A morte confere seriedade à vida. Viver sem levar em conta a perspectiva da morte é viver uma "vida
inautêntica", uma existência falsa, como diz Heidegger. Pois, se somos "seres-para-a-morte", não há tempo a
perder.
De fato, a perspectiva da morte confere certo gosto e encanto à própria vida presente, o qual só tom a forma
do trivial carpe diem quando à morte nada segue. Da perspectiva do juízo - nem falar (cf. At 24,25: Félix
diante de Paulo; e Mc 6,16.20: Herodes diante de João Batista). Se tudo fosse indefinidamente repetível, a
vida se tornaria indiferente, insossa e, no fim, desesperadora (K. Rahner). Como diremos, não há nada de
mais horrível, como confessa, aliás, Agostinho, do que a visão do "eterno retorno" do mesmo, a despeito do
que afirma Nietzsche. Ora, "se não se conhece a morte, não se conhece bem a vida" (W. von Humboldt).
O outro extremo - esse também anormal - é viver numa perspectiva necrófila ("só pensando na morte") e por
isso deixando de viver plenamente o presente.
3. A morte não se opõe à vida, mas ao nascimento. Ela faz parte da vida: é o termo do curso vital. Do ponto
de vista biológico, a morte é uma "invenção" da própria vida, em sua evolução, a fim de poder se perpetuar.
Por isso mesmo, cada um é chamado a "viver" a própria morte. Essa se configura num ato profundamente
humano. Ora, pelo modo como se vivem os vários momentos da vida vive-se normalmente também o
momento decisivo da morte. Só a "morte eterna", entendida como aniquilação ou como condenação, opõe-se
realmente à vida.
Mais: a morte é coextensiva à vida, em todo o seu processo, pelo fato de que a vida é sempre e
intrinsecamente "vida mortal": vida toda penetrada pelas forças da morte. Só no Reino, teremos realmente
uma "vida vital" (Sto. Agostinho).
4. A compreensão da morte a partir da compreensão do ser humano. Só a partir da constituição ontológica do
ser humano, ou seja, apenas a partir da pergunta de como se compõe o ser humano é que se pode entender
corretamente a morte. Ora, o ser humano não é uma realidade simples, mas complexa. É uma realidade
propriamente dual, composta de corpo e alma. Não se trata aí de duas coisas ou substâncias à parte, mas de
dois princípios, constituindo uma realidade substancialmente unitária.
Sendo assim, sem alma, não há corpo, mas "cadáver". Igualmente, sem corporalidade, não há "alma
humana", mas espírito puro, como é o caso do anjo. O ser humano é um corpo "animado" ou uma alma
"corporificada". Nossa "alma" é nosso eu mais profundo, o eu consciente e subsistente, é nossa realidade
subjetiva e espiritual. Contudo, aqui deve-se distinguir o "eu pequeno" e mesmo "falso" (chamado também
de "ego"), feito de egoísmo e vaidade, e que não passa de um complexo cambiante de emoções e de ilusões,
de funções sociais e representações psicológicas; e o "eu grande" ou "verdadeiro", que constitui o nosso eu
nuclear profundo (chamado também de "si" ou "self"). Por isso, existe um "amor de si" natural e bom
(philautía), e um "amor de si" egoísta e mau (cf. Suma Teol., I-II, q. 25, a. 2; II-II, q. 25, a. 4, ad 3; q. 26, a. 4
todo).
Faço experiência dessa dualidade antropológica (sublinhe-se: não dualismo) e às vezes até mesmo
desarmonia entre eu e meu corpo, toda a vez em que sinto que meu corpo não é igual a mim mesmo; quando
ele não obedece ao comando da alma, por ex., numa doença, numa prisão, num acidente, num trabalho
difícil, no aprendizado de uma arte, na fala de sentimentos profundos, na velhice e inclusive na morte. É
especialmente no martírio que vemos quanto uma pessoa é mais que seu corpo: "Não temais os que matam o