Você está na página 1de 23

SEMINÁRIO MAIOR ARQUIDIOCESANO DE BRASÍLIA NOSSA

SENHORA DE FÁTIMA

Welison Magalhães Barbosa

SÍNTESE DOGMÁTICA:
ESCATOLOGIA

BRASÍLIA / DF
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 3

2. DEFINIÇÃO E OBJETO DO TRATADO ............................................. 4

2.1 Definição ....................................................................................... 4

2.2 Objeto ............................................................................................ 4

3. Dados da Sagrada Escritura ............................................................. 4

3.1 Antigo Testamento ....................................................................... 4

3.2 Novo Testamento ......................................................................... 6

4. A morte ............................................................................................... 7

5. O JUÍZO PARTICULAR ...................................................................... 8

6. O INFERNO ......................................................................................... 9

7. O PURGATÓRIO: A PURIFICAÇÃO DOS ELEITOS ....................... 11

7.1. A purificação final ou Purgatório. ............................................ 12

8. O CÉU ............................................................................................... 13

9. A PAROUSIA: a vinda futura do Senhor na glória ........................ 15

10. A RESSURREIÇÃO ........................................................................ 16

10.1 Creio na Ressurreição da carne.............................................. 17

10.3 As causas da Ressurreição ..................................................... 18

10.4. As qualidades dos corpos ressuscitados ............................. 18

11. JUIZO UNIVERSAL......................................................................... 20

12. NOVOS CÉUS E NOVA TERRA. .................................................... 20

13. CONCLUSÃO .................................................................................. 22

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ............................................... 23


1. INTRODUÇÃO

A Escatologia é um tratado dentro da teologia católica que estuda os


eventos relacionados ao fim dos tempos e ao destino final da humanidade.
Conforme descrito nas Sagradas Escrituras e na tradição da Igreja Católica, esse
tratado aborda questões como a morte, o juízo final, o céu, o inferno e o
purgatório.
Nesse sentido, o pequeno trabalho de síntese procurou expor os temas
escatológicos de forma resumida e clara, fundamentados na doutrina católica,
nas fontes da Revelação e do Magistério. E ainda se recorreu de modo muito
fácil a pequenas noções de filosofia.
Essas pequenas páginas tentam servir aos estudiosos que desejarem,
uma reflexão séria, para que possam tomar uma posição mais conscientes
diante de muitas ideologias e teologias modernas, que tentam fanaticamente
deturpar e até mesmo destruir a fé Católica.

3
2. DEFINIÇÃO E OBJETO DO TRATADO

2.1 Definição

Escatologia (do grego εσχατα: coisas últimas e λόγος: estudo; do latim:


De novissmis)1 é o estudo ou tratado sobre as coisas últimas ou os novíssimos.
O presente tratado que se ocupa da vida após a morte recebeu também o nome
de novíssimos, e essa foi a nomenclatura preferida dos manuais depois que a
ciência teológica se estruturou em tratados teológicos e escritos normais em
latim.2

2.2 Objeto

É o estudo teológico das realidades últimas, isto é, posteriores a vida


terrena do homem e posteriores ao final da história mesma da humanidade3.
Assim, a escatologia “aborda os temas morte e juízo (do ser humano como
indivíduo após a sua morte), bem como céu e inferno (como as duas situações
escatológicas finais depois do fim do mundo e do juízo final da totalidade)”.4

3. DADOS DA SAGRADA ESCRITURA

3.1 Antigo Testamento

A concepção hebraica do Antigo Testamento não fala de uma escatologia


como uma realidade de pós vida ou uma salvação após a morte, mas
“inicialmente trata-se de conteúdos de esperança intramundanos, possibilitados
pela proximidade salvadora, protetora e vivificante de Deus”5 que se apresenta
nas experiências básicas e concretas da história do povo de Israel, uma vez que
“Israel conheceu seu Deus em suas experiências históricas, isso é, em eventos

1 POZO, Candido, S.I. Teología del más allá. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid,
1992. 3 ed., p. 3, tradução nossa
2 FERNÀNDEZ, Aurelio. Teología dogmática: curso fundamental de la fe católica. Biblioteca de

autores Cristianos, España, 2009, p. 980, tradução nossa


3 POZO, Candido, S.I. op. cit., p. 3. Tradução nossa
4 MULLER, Gerhard Ludwig. Dogmática Católica: Teoria e prática da teologia. [trad.Volney

Berkenbrok, Paulo Ferreira Valério, Vilmar Schneider]. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015, p. 365.
5 SCHNEIDER, Theodor. Manual de Dogmática. Vol II. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002, p. 343.

4
históricos e sua interpretação em fé, e esse Deus, que se tornou historicamente
concreto, é a razão da esperança”.6
Os aspectos escatológicos na Antiga Aliança vão se desenvolvendo
gradativamente conforme cresce também a compreensão do Deus que se revela
nas experiências concretas do povo. “Assim, vai-se formando uma escatologia
individual com a esperança na ressurreição dos mortos, uma escatologia
comunitária [...], e finalmente uma escatologia universal com a esperança em
uma nova criação do céu e da terra”.7
Essa realidade escatológica embrionária “inicia com uma promessa”8 em
Abraão, chamando-o a sair de sua terra e a colocar-se a caminho, por meio da
Aliança, e perpassando por Moisés até a descendência de Davi, mostrando-se
“uma história de esperança sempre mais abrangentes”.9
Primeiramente na promessa feita a Abraão “estão presentes as
promessas clássicas: terra, descendência e a dispensação de Deus”10;
posteriormente, na promessa de libertação do povo do Egito, excede a feita à
Abraão, descrevendo a terra prometida como “sedutoramente bela: uma terra
bonita, ampla, terra em que mana leite e mel”11; depois, à promessa da terra,
descendência e aliança, é acrescentada a promessa também de um reino em
Israel ligado a “a esperança de um homem que conta com a especial assistência
de Deus”.12
Em Isaías esse homem se transforma em “um novo príncipe da paz”, que
trará o “direito e a justiça” e uma paz que não terá fim13; e em Ezequiel (Cf. Ez.
36, 24) “a promessa política se une à promessa da renovação”14, com a
instauração do Reino de Deus no fim dos tempos pelo descendente de Davi (Cf.
IISm. 7, 12-16).

6 SCHNEIDER, Theodor. op. cit. , p. 412.


7 MULLER, Gerhard Ludwig. Op. cit., p.377.
8 Ibidem, p. 341.
9 Ibidem, p. 343.
10Ibidem, p. 341.
11Ibidem.
12 Ibidem, p. 342.
13 Ibidem.
14 Ibidem.

5
3.2 Novo Testamento

No Novo Testamento, o anúncio da vinda próxima do Reino de Deus é o


centro da escatologia neotestamentária, onde o próprio Jesus “suscita os sinais
da presença escatológica do Reino de Deus”.15
Ainda segundo Müller esse Reino de Deus acontece “de forma definitiva
no mundo, quando Jesus se submete totalmente à vontade de seu divino Pai”16,
de modo que “o discurso do reino de Deus se transforma em discursos do reino
de Cristo nos escritos neotestamentários (p. ex., I cor. 15,24)”17, afinal, é em
Jesus que “se realiza o Reino de Deus no mundo, porque Ele foi enviado e se
revelou no fim dos tempos e na plenitude dos tempos como o filho de Deus.18
Ainda em Müller essa realidade escatológica do Reino nos sinóticos,
Jesus é identificado com o Filho do Homem do profeta Daniel (Cf. Dn. 7, 13), e
que toma sobre si o caminho do sofredor (Cf. Mc. 8, 38); Ele é, no evangelho de
Mateus, o cumprimento das promessas escatológicas do Reino de Deus, que
após a Sua morte e ressurreição inicia-se o tempo da Igreja, em Lucas.19
Nas cartas paulinas a cruz e a ressurreição de Jesus é o ponto central da
mudança na história, na qual “todas as questões em torno da morte, do juízo e
do fim do mundo são respondidas por Paulo à luz da cristologia”20. Para ele, a
presença de Cristo elevado e a sua Parousia é o consolo para toda a
comunidade diante da realidade da morte de seus membros.
Já João ressalta que “a decisão escatológica acontece aqui e agora
através da fé ou da incredulidade no coração do ser humano”21, mas que a
revelação e a realização definitiva se darão com a volta de Cristo, e com a visão
de Deus tal como Ele é, e da participação na comunhão trinitária, onde “o Pai e
o Filho tomaram morada nos que creem e amam, e neles age o Espírito de
Deus”.22

15 MULLER, Gerhard Ludwig, op. cit., p.380.


16 Ibidem, p. 381.
17 SCHNEIDER, Theodor. op. cit. , p. 347.
18 MULLER, Gerhard Ludwig, op. cit., p.381.
19 Ibidem, p.381-382.
20 Ibidem, p.382.
21 Ibidem, p.384.
22 Ibidem.

6
4. A MORTE

A morte é “a separação da alma do corpo”.23 Tal definição de morte se


encontra primeiramente na filosofia grega, dada por Platão na obra “Fedón”, nas
palavras de Sócrates ao Simmias.
Depois, o tema da morte que os filósofos e pagãos tanto discutiram é
iluminada pela Revelação Cristã, que propõe sobre o assunto uma visão muito
otimista, digna realmente de um Deus Bom e Sábio.24
A Igreja nos ensina que a morte é a consequência do pecado25. Ademais,
o Catecismo da Igreja Católica nos apresenta ainda mais três significados sobre
a morte:
A) A morte biológica: É o fim da vida terrestre e a morte do corpo.26 Em
complementação a essa noção, a constituição Benedictus Deus de Bento XII,
está implicitamente definido que a morte é o final do estado de peregrinação
terrena e depois dela não é possível decidir a favor ou contra Deus.27
B) A morte Espiritual: É a separação homem de Deus pelo pecado. A
morte espiritual é vista como uma perda da graça divina. O pecado mortal que
“tem como consequência a perda da caridade e a privação da graça santificante,
ou seja, do estado de graça. E se não for resgatado pelo arrependimento e pelo
perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no
Inferno”.28
Assim, a teologia católica enfatiza que a morte espiritual não é uma
condição permanente. Através do sacramento da reconciliação (a confissão), o
homem pode se arrepender dos seus pecados e restabelecer a sua relação com
Deus.
C) A morte para o mundo: O morrer para o mundo implica a penitência,
o renunciar a si mesmo e as próprias paixões29. Essa concepção de morte

23 Platão. Diálogos: Eutifron ou da religiosidade, Apologia de Sócrates, Críton ou o dever, Fédon


ou da alma. Editora Nova Cultural Ltda, São Paulo, 2004, p. 125.
24 BETTENCOURT, Dom Estevão. A vida que começa com a morte. Ed. Agir, Rio de Janeiro,

1995, p. 45.
25 Dz 1512 referido a Rm 5,12.
26 CIC 1007.
27 Ibidem, p. 477.
28 CIC 1861.
29 CIC 1009 -1011.

7
encontrada na concepção Paulina se apresenta em sentido positivo e não tem
nada a haver com a visão platônica (onde o corpo é mal, um cárcere da alma).
É um morrer no sentido de estar com Cristo, que carrega a noção de fazer
penitencia, de fazer morrer no homem as suas paixões.

5. O JUÍZO PARTICULAR

Logo após a separação de alma e corpo, é pronunciada sobre o indivíduo


uma sentença que lhe assinala a respectiva sorte. É o que se dá o nome de juízo
particular.30 E esse juízo particular acontece imediatamente ao momento da
morte.
Há várias interpretações sobre o que e como acontece o juízo particular.
Sobre essas questões o catecismo indica que: “cada homem recebe, na sua
alma imortal, a retribuição eterna, num juízo particular que coloca a sua vida em
relação à vida de Cristo”.31
Desse modo, no juízo particular a vida do indivíduo será confrontada com
a vida do próprio Cristo. Por isso se fala que o juízo particular é um auto
julgamento, o manual de dogmática nos esclarece esse autojulgamento:
Em princípio, o ser humano já se julgou a si mesmo por sua prática de
vida, no encontro com aquele que é a verdade, a verdade de sua vida
apenas vem à luz. Isso não significa que o ser humano seria o critério
último para si mesmo. Somente na confrontação com Cristo, o ser
humano percebe o que há dentro dele.32

A alma no juízo particular se encontrará em um estado Intermediário, isto


é, numa fase sem o corpo entre a morte e a ressurreição. Esse estado
intermediário é concebido também como transitório.33 Ele é transitório pois, a
Igreja ensina que cada alma espiritual é criada por Deus e que é imortal, isto é,
não morre quando, na morte, se separa do corpo; e que se unirá de novo ao
corpo na ressurreição final.34

30 BETTENCOURT, op. cit., p. 45.


31 CIC 1022
32 SCHNEIDER, Theodor, op. cit., p. 412.
33 Comissão Internacional de Teologia. A Esperança cristã na ressurreição: algumas questões

atuais de escatologia. Petrópoli, Rj: Vozes, 1994, p. 28.


34 CIC 366.

8
Essa noção de estado intermediário vai contra algumas concepções que
afirmam que alma depois da morte se encontrará em um estado profundo de
sono.35
Ademias, o documento do Concílio Vaticano II, Lumen Gentium reflete a
ênfase da Igreja Católica na importância da vigilância e preparação para a vida
eterna:
Mas, como não sabemos o dia nem a hora, é preciso que, segundo a
recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que no
termo da nossa vida sobre a terra, que é só uma (cfr. Hebr. 9,27),
mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados
entre os eleitos (cfr. Mt. 25, 51-46), e não sejamos lançados, como
servos maus e preguiçosos (cfr. M t. 25,26), no fogo eterno (cfr. Mt.
25,41), nas trevas exteriores, onde ‘haverá choro e ranger de dentes’
(Mt. 22,13; 25,30).36

Os fiéis devem viver de acordo com os ensinamentos de Jesus Cristo,


conscientes de que a vida terrena é transitória e que a eternidade está em jogo.
Assim, a Igreja enfatizada a necessidade de vigilância constante, ou seja, estar
sempre atentos, buscando a conversão e a fidelidade aos mandamentos de
Deus, para que, ao final da vida, sejam encontrados dignos de participar do
banquete das bodas celestiais, ou seja, do Reino de Deus.

6. O INFERNO

A Igreja Católica afirma que o inferno é um estado de separação eterna


de Deus, onde aqueles que morrem em pecado mortal e rejeitam a graça de
Deus enfrentam as consequências de suas escolhas.37
Para essa reflexão, consideremos essa passagem bíblica: “o que adianta
ao homem ganhar o Mundo inteiro e perder a sua vida?” (Mc. 8, 35-36). Esta
passagem pode ser interpretada como uma representação simbólica do Reino
de Deus e da salvação. Aqueles que rejeitam a graça de Deus e se afastam da
sua vontade estão caminhando em direção a um destino distante de Deus.
Assim, haverá uma perda de dano, isto é, um não estar na presença de Deus,
uma rejeição a Deus.

35 COMISSÃO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA, op. cit., p. 29.


36 Lumen Gentium n.48.
37 CIC 1035.

9
O inferno é a rejeição de Deus. O que a Teologia chama de perda de
dano, é estar privado da essência de Deus, e isso é um grande sofrimento, é
uma grande frustração. Não é só uma frustração psicológica, mas uma
desarmonia interior, no ser das pessoas. Todo o ser da pessoa vai estar
sofrendo, geralmente esse estado de sofrimento descrito como o fogo: “Quanto
ao servo inútil, lançai-o fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes”.
(Mt. 25,30).
O Concílio de Latrão diz que Cada um será julgado pelas suas próprias
38
obras, boas ou más. A união com Deus requer uma escolha livre de amá-Lo,
e o homem não pode verdadeiramente amar a Deus se pecar gravemente contra
Ele, contra os outros ou contra ele mesmo.39
Muitas vezes as pessoas veem o inferno como uma ação de Deus. No
entanto, a realidade é exatamente o oposto: trata-se de uma escolha
autodeterminada e exclusiva, uma decisão pessoal. O não arrepender-se implica
em escolher permanecer distante de Deus.

As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a


respeito do Inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade
com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino
eterno. Constituem, ao mesmo tempo, um apelo urgente à
conversão: ‘Entrai pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso
o caminho que levam à perdição e muitos são os que seguem por eles.
Que estreita é a porta e apertado o caminho que levam à vida e como
são poucos aqueles que os encontram!’ (Mt 7, 13-14).40

Deus não criou nenhum dos homens predestinados para o Inferno,41 no


entanto, Ele leva em conta a vontade do homem, aonde o inferno é uma livre
escolha. Bento XVI na Spes Salvi 45 faz uma reflexão se é possível uma pessoa
escolher o inferno.
Com a morte, a opção de vida feita pelo homem torna-se definitiva;
esta sua vida está diante do Juiz. A sua opção, que tomou forma ao
longo de toda a vida, pode ter caracteres diversos. Pode haver pessoas
que destruíram totalmente em si próprias o desejo da verdade e a
disponibilidade para o amor; pessoas nas quais tudo se tornou mentira;
pessoas que viveram para o ódio e espezinharam o amor em si
mesmas. Trata-se de uma perspectiva terrível, mas algumas figuras da
nossa mesma história deixam entrever, de forma assustadora, perfis

38 Dz 801
39 CIC 1033
40 CIC 1036
41 CIC 1037

10
deste género. Em tais indivíduos, não haveria nada de remediável e a
destruição do bem seria irrevogável: é já isto que se indica com a
palavra inferno.

7. O PURGATÓRIO: A PURIFICAÇÃO DOS ELEITOS

O purgatório é considerado um estágio de purificação dos justos que ainda


não estão totalmente libertos de seus pecados. “A palavra purgatório deriva do
latim purgativo, que significa “purgação”, do ato de expelir os atos humanos por
meio da medicina”.42
Em Sentido teológico é o momento pelo qual a alma do justo sofre, pelos
pecados graves já perdoados que exigem reparação ou pelos pecados leves
pelos quais a pessoa não se penitenciou antes. Não é um lugar de tormento
eterno, é antes um estado onde os espíritos aguardam a salvação comunicada
por Cristo.
Ademais, cada homem carrega consigo uma certa desordem interior que
precisa ser purificada. A confissão perdoa os pecados, mas ainda fica a
necessidade de se libertar de tal desordem que são as consequências do
pecado. Pois, todo pecado cometido deixa na alma um resquício de maldade
que reforça a má inclinação, dificultando a prática do bem.
Essa desordem precisa ser trabalhada e o homem pode purificar-se
através da prática da penitência, o oferecimento das dificuldades do dia a dia,
fazendo pequenas mortificações e atos de caridade. No entanto, se isso não for
suficiente nessa vida terrena o homem terá outra oportunidade: no Purgatório,43
onde essa desordem é totalmente destruída e a alma chega à santidade.
No purgatório, o meio de reparação é através do Fogo purificador, e não
um fogo de condenação. O fogo purificador é o sofrimento da alma que ainda
não pode ver Deus face a face.44 Outro meio de reparação na purificação é o
adiamento da visão beatífica com o aumento do desejo de vê-lo. Aqui existe a
pena de dano que é o adiamento da visão beatífica, ou seja, a pessoa ama a
Deus, mas ainda não pode contemplá-lo face a face e isso para ela é uma dor.45

42 FERNÀNDEZ, op. cit., p. 1061, tradução nossa.


43 Dz 1580
44 FERNÀNDEZ, op. cit., p. 1055, tradução nossa.
45 Ibidem.

11
Na Sagradas Escrituras, há evidências da existência do Purgatório, por
exemplo, são encontradas relatos no livro de Macabeus, onde os Macabeus
rezam e oferecem sacrifícios em busca do perdão dos pecados daqueles que já
faleceram (cf. 2 Mac. 12, 38-45).
No Evangelho de Mateus, há também elementos presentes do purgatório,
o fogo representa um processo de purificação e sofrimento com o objetivo de
expurgar os pecados e preparar a alma para a reconciliação com Deus. Nesse
caso a condenação não é eterna, e o fogo é um sofrimento de purificação (cf. Mt
5, 22. 25-26).

7.1. A purificação final ou Purgatório.

A purificação final refere-se à conclusão desse processo de purificação e


à entrada definitiva na vida eterna. Ela é vista como um ato de misericórdia e
justiça divina, no qual Deus concede às almas a oportunidade de serem
completamente purificadas e reconciliadas.
Deste modo, o catecismo da Igreja Católica apresenta como definição de
purgatório a “esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do
castigo dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé relativamente ao
Purgatório sobretudo nos concílios de Florença e de Trento”46.
Desde os primeiros tempos da Igreja, a memória dos defuntos tem sido
honrada e sufrágios têm sido oferecidos em seu favor. Esses sufrágios incluem
especialmente o Sacrifício Eucarístico, que é oferecido para que as almas dos
falecidos possam ser purificadas e alcançar a visão beatífica de Deus, ou seja,
a contemplação de Deus face a face no Céu. Através dessas ações, a Igreja
busca auxiliar as almas dos falecidos em seu processo de purificação e
encaminhá-las para a plenitude da vida eterna junto a Deus.

Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos,


oferecendo sufrágios em seu favor, particularmente o Sacrifício
eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de
Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as
obras de penitência a favor dos defuntos: Socorramo-los e façamos
comemoração deles. [...] Não hesitemos em socorrer os que partiram
e em oferecer por eles as nossas orações.47

46 CIC 1031.
47 CIC 1032.

12
Portanto, o purgatório está presente tanto nas Sagradas Escrituras quanto
na tradição da Igreja. A existência do Purgatório é fundamentada no
ensinamento de que as almas podem passar por um estado de purificação após
a morte, a fim de serem purgadas de seus pecados e alcançarem a santidade
necessária para a comunhão plena com Deus.

8. O CÉU

O céu é um estado de felicidade e união perfeita com Deus, reservado


para os justos após a morte. É uma dimensão espiritual onde os fiéis desfrutam
da visão beatífica, ou seja, contemplam a glória divina de forma plena e eterna.
Assim, descreve o catecismo: “Os que morrerem na graça e na amizade de Deus
e estiverem perfeitamente purificados, viverão para sempre com Cristo. Serão
para sempre semelhantes a Deus, porque O verão tal como Ele é (1 Jo 3, 2),
face a face (1 Cor 13, 12).”48
O céu é um estado de plenitude e perfeição, onde as almas alcançam a
sua verdadeira realização e felicidade em comunhão com o Criador. É uma
existência livre de sofrimento, pecado e limitações terrenas. O céu não é o
contrário do inferno. Nas Sagradas Escrituras tem vários nomes. A pessoa no
céu não vai perder a sua personalidade, pelo contrário, no céu a possa se
encontra com Deus e chega à plenitude da sua subjetividade e do seu ser.
Há algumas passagens do Novo Testamento que se referem ao conceito
do céu: “Alegrai-vos e regozijai-vos porque será grande a vossa recompensa no
céu” (Mt 5,12); na Primeira Carta aos Tessalonicenses (1Tess 4, 17-18)
encontramos uma passagem que fala sobre um encontro definitivo com o
Senhor. Esta passagem traz conforto e encorajamento aos crentes, lembrando-
os de que a vida presente não é o fim, mas sim uma preparação para a vida
eterna na presença do Senhor.
O céu ressalta a grandiosidade e a transcendência do mistério da
comunhão bem-aventurada com Deus e com todos os que estão em Cristo. É

48 CIC 1023.

13
mencionado que essa realidade vai além da compreensão e capacidade de
representação. Assim diz o Catecismo da Igreja:

Este mistério de comunhão bem-aventurada com Deus e com todos os


que estão em Cristo ultrapassa toda a compreensão e toda a
representação. A Sagrada Escritura fala-nos dele por imagens: vida,
luz, paz, banquete de núpcias, vinho do Reino, casa do Pai, Jerusalém
celeste, paraíso: aquilo que ‘nem os olhos viram, nem os ouvidos
escutaram, nem jamais passou pelo pensamento do homem, Deus o
preparou para aqueles que O amam’ (1 Cor 2, 9).49

Não se sabe mesmo como é essa realidade. São Tomás de Aquino diz
que o céu é um estado de plenitude, comunhão e bem-aventurança que
ultrapassa todas as nossas expectativas e supera qualquer descrição terrena.
Os fiéis são chamados a buscar a santidade durante sua vida terrena para
alcançar a bem-aventurança eterna no céu. “O céu é o fim último e a realização
das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e
definitiva”.50
Cada um vai receber no céu segundo a sua medida. Tem certa
desigualdade nos iluminados no grau de glória. Tal desigualdade é uma
afirmação da justiça divina, pois, o Filho retribuirá a cada um conforme o seu
comportamento.
Na passagem de 1 Cor 3,8, cada um receberá o seu próprio salário
segundo a medida do seu trabalho. Isto refere-se à recompensa que cada
pessoa receberá de acordo com a fidelidade e o zelo com que desempenharam
suas responsabilidades. Essa recompensa não deve ser entendida em termos
de um salário material, mas sim como uma recompensa espiritual e eterna.
Na vida eterna também haverá um aumento da glória e da graça.51 Isso é
justamente uma questão da dinamicidade, pois a santidade atrai mais o homem
a Deus. Assim, por exemplo no céu homens não terão o mesmo lugar do que o
de Nossa Senhora.

49 CIC 1027.
50 CIC 1024.
51 Dz 1582.

14
9. A PAROUSIA: a vinda futura do Senhor na glória

O temo grego parousia deriva do verbo pareimi, que significa chegar, estar
presente. Essa nomenclatura era utilizada no mundo grego – romano e
assinalava a vinda solene e majestosa de grandes personagens, como por
exemplo, a chegada de imperadores a algumas províncias.52
Desse modo, os autores do Novo Testamento fizeram uso desse termo
grego para anunciar a vinda de Jesus, com grande poder e majestade, no final
dos tempos.53 Os sinóticos reconhecem o anuncio de Jesus acerca de sua vinda
no Final dos tempos (cf. Mt 24,30; Mc 13,26; Lc 21,27).
Assim, dá-se o nome de Parousia a segunda vinda de Cristo. Segundo
Bettencourt o próprio cristo virá pela segunda vez e remeterá a obra iniciada (cf.
Gal 4, 4; Ef 1, 10; Mc 1, 15) em Sua vinda anterior (Encarnação), pondo um fecho
definitivo a toda a História.54
Acerca da vinda gloriosa de Cristo no final dos tempos, a tradição da Igreja
a professou principalmente nos primeiros símbolos da fé. A centralidade de
cristo culmina com sua vinda glorioso no final dos tempos, como coroa e glória
da criação e da redenção. Os primeiros símbolos recorrem muito prontamente a
formula “virá para julgar os vivos e os mortos” que se repete em todos os
credos.55
Duas coisas precisam estar bem claras acerca da vinda de Cristo: 1) não
se pode marcar a data do Dia da vinda do Senhor, pois, o dia da sua vinda será
um dia fora dos dias, meses e anos; já não pertencerá ao tempo dos homens; 2)
Não se pode descrever o que ocorrerá neste Dia, pois, este dia já pertence a
eternidade, e não pode ser descrito nem comparado a nada neste mundo.56
Sobre esses dois pontos complementa Dom Henrique soares que “querer
descrever o final dos tempos é fundamentalismo tolo; é rebaixar o Dia eterno aos
nossos pobres dias!”.57 O Comentário de Dom Henrique é justo e pode evitar

52 FERNANDEZ, op. cit., p. 1001, tradução nossa


53 Ibidem.
54 BETTENCOURT, op. cit., p. 154-155
55 Dz 6, 10, 11, 12.
56 COSTA, Dom Henrique Soares da, op. cit., p. 21.
57 Ibidem.

15
muitos pensamentos errôneos, como alguns que surgiram ao longo do tempo,
tais como o milenarismo.58
Outro ponto importante a ressaltar é que a vinda de Cristo será também a
glorificação e a realização plena de sua Igreja. Pois, se a Igreja é o corpo místico
de Cristo, a Glória da cabeça, Cristo, glorificará plenamente todo o corpo.59
Embora o senhor não tenha revelado aos homens quando seria a sua
volta, a Sagrada Escritura indica alguns sinais que acompanharão e precederão
a sua segunda vinda. O primeiro sinal é a pregação do evangelho no mundo
inteiro (cf. Mt 24,14; Mc 13,10). O segundo são as perseguições, a grande
apostasia da fé, a considerável diminuição da caridade (cf. Mt 24,12; Lc 18,8) e
o anticristo.60

10. A RESSURREIÇÃO

A Definição do que é a ressurreição aparece bem aclarada no Catecismo


da Igreja Católica: A ressurreição é união da alma com o corpo61. E ainda o
catecismo diz que irão ressuscitar todos os que morreram.62
Ademais, pode-se falar da ressurreição em dois sentidos:
A) A ressurreição espiritual: É voltar a vida na graça, o voltar a comunhão
com Deus através sacramento da penitência e do batismo.
B) A ressurreição da Carne: Uma carne real e física, não aparente. É a
mesma carne com que o homem viveu. Não é um outro corpo, é o seu
próprio corpo. A identidade pessoal inclui o corpo, essa ênfase aparece
em Lc 24, 39. Será o mesmo corpo, no entanto um corpo glorioso.
São Tomás de Aquino na Suma Teológica diz que a ressurreição mesma
de Cristo, causada pelo poder divino inerente a Cristo é a quase causa
instrumental da ressurreição do homem.63 Desse modo, o fundamento da
ressureição do homem é o próprio Cristo. Ele é o modelo e causa exemplar de

58 O milenarismo é um termo que se origina do temo milenário que significa “mil anos”. Esse
pensamento cristão é a heresia que sustenta que, entre o final do mundo e a parusia, medirá
um período de mil anos, onde a humanidade viverá de novo uma espécie de existência
paradisíaca. (Fernàndez, Aurelio. Op. cit. p. 1061, tradução nossa).
59 COSTA, Dom Henrique Soares da, op. cit., p. 23.
60 BETTENCOURT, op. cit., p. 166 -170.
61 CIC 997.
62 CIC 998.
63 TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. sup. q. 76, a. 1

16
Ressurreição. Ademais, o Aquinate complementa dizendo que o próprio Cristo
efetuará a ressurreição dos corpos, uma vez que antes Ele mesmo morreu e
ressuscitou64.
Antes de mais nada, deve-se entender que a ressurreição de Jesus foi um
evento histórico, mas que ao mesmo tempo transcende a história.65 Sua
ressurreição é historicamente verificável por causa do túmulo vazio e das várias
aparições. Se o túmulo está vazio significa que o corpo faz parte da
ressurreição.66
A comunidade dos apóstolos ao viram o Cristo ressuscitado e perceberam
que se tratava de um acontecimento miraculoso e transcendente.67 A experiência
da cruz foi chocante e dolorosa para os apóstolos. E a ressureição foi tão forte
que acreditar na ressurreição também foi uma graça.68
O estado da humanidade ressuscitada de Cristo é de um corpo real e
autêntico, mas é um corpo glorioso, um corpo real que está com as marcas da
paixão. Jesus come com os apóstolos; eles tocam as suas chagas.69 Desse
modo percebe-se, que para entender a ressurreição do homem é preciso ter
como fundamento primeiro a ressurreição de Cristo.

10.1 Creio na Ressurreição da carne

Tal como a de Cristo, a ressurreição do homem também será obra da


Santíssima Trindade.70 O credo professa a ressurreição corporal e reunificação
entre a alma e o corpo. A Ressurreição da carne significa que depois da morte
não haverá somente a vida da alma imortal, mas também os corpos mortais dos
homens retomarão a vida.71
A fé na ressureição é consequência da fé no Deus Criador. Deus criou o
homem em corpo e alma e no final ele vai salvar o homem também por inteiro
corpo e alma.72

64 TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios. III part, cap. 19.


65 CIC 638 - 639.
66 CIC 640 - 641.
67 CIC 643.
68 CIC 644.
69 CIC 645.
70 CIC 988 – 989.
71 CIC 990.
72 CIC 992.

17
10.3 As causas da Ressurreição

As causas da ressurreição do homem são:


1) Argumento Cristológico: A primeira e principal causa é Cristo. O efeito
da morte de Cristo recebemos nos sacramentos. O efeito da ressurreição
de Cristo receberemos todos no último dia. O efeito da ressurreição é um
corpo imortal (que não morre) e incorruptível (e não perece).73
2) Argumento antropológico: A alma é a forma do corpo. Se a alma é a
forma do corpo74, ela vai voltar para o corpo, pois ela não foi criada para
ficar fora do corpo.
3) A busca pela felicidade: A busca pela felicidade exige que aquele (o
corpo) que busca a plenitude existencial esteja unida com a alma. A alma
não está na sua plenitude existencial, para alcançar a plenitude
existencial é a participação do corpo.
4) A questão de justiça: O corpo também tem que participar do prêmio ou
do castigo. Seria uma questão de injustiça. O corpo vai seguir a alma, ele
vai sofrer as consequências da alma.

10.4. As qualidades dos corpos ressuscitados

Sobre essa questão, São Tomás de Aquino responde que em cada um


ressurgirá tudo o que lhe fez parte da natureza humana75. Os Homens e
mulheres ressurgirão com o mesmo sexo que tinham na vida terrena 76. As
funções naturais do ser humano como a nutritiva e a genésica não serão mais
exercidas77.
O Doutor angélico ainda diz que os justos ressuscitarão com os mesmos
corpos que neste mundo tiveram, com a diferença de que então não terão
deformidades nem imperfeições, nem estarão sujeitos a debilidade alguma, mas
que, pelo contrário, possuirão qualidades que os converterão, de certo modo, em
espirituais.78

73 TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. sup. q. 76, a. 1


74 CIC 365
75 TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. sup. q. 80, a. 4.
76 Ibidem, sup. q. 81, a. 3.
77 Ibidem, sup. q. 81, a. 4.
78 TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. sup. q. 81.

18
Os corpos gloriosos serão dotados de impassibilidade, sutileza, agilidade
e claridade. A impassibilidade é que no domínio e senhorio absolutos da alma
sobre o corpo, em virtude dos quais o corpo, sob a tutela da alma, estará isento
e livre de toda debilidade e padecimento79.
A sutileza consiste da união e sujeição do corpo glorioso à alma
glorificada, onde o corpo sem perder a sua qualidade de verdadeiro corpo, sem
transformar-se em corpo aéreo ou fantástico, se tornará puros e etéreo, sem
coisa alguma das que agora o faz tosco e espesso80.
A agilidade é uma qualidade que consiste em sujeitar os corpos de modo
pleno e absoluto aos impulsos motores da alma, que os obedecerão com uma
prontidão e rapidez maravilhosa.81 A claridade se diz que o resplendor das almas
glorificadas comunicará e infiltrará nos corpos uma claridade que os tornará
luminosos e radiantes como o sol.82
Ainda sobre os corpos dos ressuscitados é preciso ter duas noções bem
claras:
Um corpo espiritualizado: Uma perfeita harmonia entre corpo e espirito.
Plenamente integrado na pessoa. Não haverá mais essa divisão entre
corpo e alma. O homem escatológico estará livre dessa oposição. A perfeição
aqui não é só no sentido moral, mas no sentido de integração. Não é uma pessoa
sem corpo. Tem muita gente que fala de uma ressureição apenas
fantasmagórica.
A divinização: participação na vida divina de modo pleno. Comunhão
plena. A divinização não vai destruir a subjetividade do homem, mas vai leva-la
a sua plenitude.
A diferença entre espiritualização e divinização: A espiritualização se
diz respeito ao ser do homem, na relação interna do ser. A divinização é a sua
relação na participação na vida divina.

79 TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. sup. q. 81, a. 1.


80 Ibidem, sup. q. 33, a. 1.
81 Ibidem, sup. q. 84, a. 1.
82 Ibidem, sup. q. 86, a. 1.

19
11. JUIZO UNIVERSAL

Com a volta do Senhor Jesus e a ressurreição dos mortos a Revelação


cristã associa outro acontecimento, que porá o remate à história do mundo: o
Juízo universal.
Bettencurt destaca dois pontos acerca desse acontecimento:
1) No fim dos tempos, após a ressureição da carne, todos os homens serão
publicamente julgados;
2) O autor do juízo será Jesus Cristo. Ele mesmo predisse repetidas vezes
que seria o Árbitro do Mundo por ocasião de sua segunda vinda. Pode-se
destacar a cena descrita na Mt 25, 31-46. Aqui nota-se que a autoridade
para julgar os homens Jesus a reivindica para Si, não precisamente por
ser Deus, mas primeiramente por Ser “Filho do homem”, ou verdadeiro
homem, o homem por excelência. 83
Desse modo Jesus por sua natureza julga, e deve julgar, para instaurar
entre as criaturas a ordem perfeita que a precária justiça humana é incapaz de
estabelecer. Por isso mesmo “só o Pai conhece a hora e o dia desse juízo, só
Ele decide seu advento”.84

12. NOVOS CÉUS E NOVA TERRA

A expressão “novos céus e uma nova terra” (cf. 2 Pd 3, 13; Is 65,17;


66,22), alude a renovação e a transformação misteriosa da humanidade e do
mundo feita por Cristo no Juízo Final para realizar o plano de Deus e
reencabeçar tudo em Cristo (Ef 1,10). Nesse ‘universo novo’ (Ap 21, 5), Deus
fará a sua morada no meio dos homens e nem a morte não existirá mais” (Ap
21, 4).
Não é um aniquilamento do mundo material, da criação como pensavam
os dualistas gnósticos, os origenistas e alguns protestantes. Contra tais
concepções errôneas um sínodo regional Contantinopla (543) publicou:

Se alguém disse que o juízo futuro implicará na destruição total do


mundo corpóreo, sendo o fim de todas as criaturas separa-se da

83 BETTENCOURT, op. cit., p. 223.


84 CIC 1040.

20
matéria, de sorte que na vida futura nada fique de material, mas apenas
subsistam puros espíritos, seja anátema.85

Essa renovação do mundo material também faz parte de uma


solidariedade e de uma comunhão. Pois, criando o mundo irracional, Deus
também o associou ao homem em íntima comunhão de sorte, onde as criaturas
visíveis se tornam solidárias ao gênero humano na punição devida ao pecado. E
já que homem (“microcosmo”) foi remido em princípio e se encaminha para a
consecução da gloria, assim também o mundo material inteiro (“macrocosmos”)
é dito participar da restauração.86
A libertação da criação, lugar de encontro do homem com o seu Deus
criador pode ser atestada nas Sagradas Letras (cf. Rm 8, 19-23). Desse modo a
“Sagrada Escritura não anuncia a destruição do mundo, da criação, mas a sua
transformação, a sua glorificação. A história humana terminara; terminará o
tempo como nós conhecemos, toda a criação será glorificada”.87

85 BETTENCOURT, 1995, p. 247, apud. CONSTANTINOPLA (543), Cân. 11


86 BETTENCOURT, op. cit, p. 45.
87 COSTA, Dom Henrique Soares da, op. cit., p. 24-25.

21
13. CONCLUSÃO

Depois de percorrer de se debruçar sobre esse tratado, conclui-se que


para um católico sério, a escatologia é muito mais do que um estudo sobre o que
acontecerá após a morte com cada homem, com a humanidade ou com o
cosmos. Ela é uma mensagem de esperança e de sentido para sua a existência.
“Morte, Inferno e Glória, Cristão mantém na tua memória!” Eis as
realidades que o cristão deve preencher a sua lembrança, de modo que esse
refletir seja um baluarte para o progresso de sua santidade, pois assim adverte
as Sagradas Escrituras: "Lembra-te de teus novíssimos, e não pecarás jamais"
(cf. Ecl 7,40).
Por fim, seja como tratado ou como fonte de meditação espiritual, para
entender bem a escatologia cristã deve-se ter em mente uma coisa muito
importante: Cristo Ressuscitado é o centro da esperança cristã.88 Ele é o
horizonte e o farol pelo qual o mundo e o homem devem se guiar, para encontrar
Nele a plenitude do seu existir e do seu ser.

88 COSTA, Dom Henrique Soares da, op. cit., p. 9.

22
14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BETTENCOURT, Dom Estevão. A vida que começa com a morte. Ed.


Agir, Rio de Janeiro, 1995.
Catecismo da Igreja Católica. Ed. Loyola (4ª Edição). São Paulo, Brasil.
2000.
COSTA, Dom Henrique Soares da. Escatologia sobre o fim do mundo.
2º ed. – Lorena: Editora Cléofas, 2017.
COMISSÃO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA. A Esperança cristã na
ressureição: algumas sugestões atuais de escatologia (Coleção
documenta). Ed: Vozes. Petrópolis, Rio de Janeiro, 1944.
DENZINGER, Hunermann. Compêndio dos símbolos, definições e
declarações de fé e moral. 3d. São Paulo: Paulinas: Edições Loyola, 2015.
FERNÀNDEZ, Aurelio. Teología dogmática: curso fundamental de la
fe católica. Biblioteca de autores Cristianos, España, 2009.
MULLER, Gerhard Ludwig. Dogmática Católica: Teoria e prática da
teologia. [trad.Volney Berkenbrok, Paulo Ferreira Valério, Vilmar Schneider].
Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.
Concílio Ecumênico Vaticano II – Documento – Constituição Dogmática
do Concílio Vaticano II, Lumen Gentium – Sobre a Igreja.
Platão. Diálogos: Eutifron ou da religiosidade, Apologia de Sócrates,
Críton ou o dever, Fédon ou da alma. Editora Nova Cultural Ltda, São Paulo,
2004.
Pozo, Candido, S.I. Teología del más allá. Madrid: Biblioteca de Autores
Cristianos, Madrid, 3 ed., 1992.
SCHNEIDER, Theodor. Manual de Dogmática. Vol II. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2002.
Tomás de Aquino. Suma contra os Gentios, III. tradução Maurilio José
de Oliveira Camello. – São Paulo: Edições Loyola, 2015.
Tomás de Aquino. Suma Teológica: Vol. 5: suplemento. Trad: Editora
Permanência; Ecclesiae, 2016.

23

Você também pode gostar