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CRISTOLOGIA
2. EXEGESE E CRISTOLOGIA
Atualmente há questões na cabeça de muitos cristãos, algumas delas são: Quem é Jesu
s? Será que os Evangelhos foram realmente obras de Jesus ou transmitem literalmente com fi
delidade aquilo que Jesus disse? Será que todo esse conteúdo dos Evangelhos são históricos n
o verdadeiro sentido da palavra que se entende “história”? (COSTA, 2020).
Não há dúvidas de que uma das maiores críticas feitas às fontes do cristianismo e que
perdura até os dias atuais, é justamente uma análise feita de modo racionalista sobre a real his
toricidade dos Evangelhos, se são fatos históricos ou não (COSTA, 2020).
Uma das primeiras tentativas na busca pelo Jesus histórico, é chamada de “primeira b
usca”. Teve início no final do século XVIII e começo do século XIX. Esta busca por Jesus his
tórico, acabou fazendo sua opção na busca de “Jesus da história”, buscando o personagem qu
e havia existido no primeiro século e acabou rejeitando o “Cristo da fé”. Este personagem, De
us-Homem, foi criado pelos cristãos e acabou sendo difundido fortemente. Nesta busca por Je
sus histórico, “Afirma-se a historicidade de Jesus, mas se nega que o seu Ser é transcendente”
(COSTA, 2020, p. 156).
Não há nenhuma dúvida de que aqueles que optaram por essa preferência de um Jesus
histórico, negando sua transcendência, não seja um racionalista seguidor do pensamento de H
egel. Hermann Samuel Reimarus (1694-1768), foi um filósofo alemão e também um dos que
iniciaram essa crítica das Sagradas Escrituras. Ele firmava que uma coisa era o projeto de Jes
us que pretendia ser o Messias político e que veio anunciar um reino terreno e ao mesmo tem
po uma liberdade para o povo judeu; outra coisa foi o que os discípulos pensaram (COSTA, 2
020).
Após a crucifixão de Jesus, os discípulos perceberam que o seu projeto havia fracassa
do, então eles acabaram roubando o corpo de Jesus e, passaram a proclamar sua ressurreição,
afirmando que ele era o “Messias apocalíptico” - uma coisa seria Jesus que veio revolucionar
no sentido político e acabou fracassando - esse sim é o verdadeiro Jesus; outra coisa é o Crist
o que os discípulos acabaram idealizando, ou seja, este é o Jesus da fé (COSTA, 2020).
Bultmann, afirmou não ter quase nada sobre Jesus do século I, isso ele chama “o frac
asso da busca do Jesus histórico”. Não há dúvida de que Jesus de Nazaré existiu realmente, e
le veio, pregou e em seguida morreu na cruz, mas isso não tem muita importância, o que imp
orta realmente na história não são simplesmente os meros fatos, mas sim a história quando se
encontra cheia de sentido para o homem na atualidade, ou seja, o mito serviu para os primeiro
s cristãos, na era deles encontram-se na fé em Cristo, por tanto, é válida para o homem atual
(COSTA, 2020).
Diante de todo esse contexto na busca por Jesus histórico e Jesus da fé, o que o Sagrad
o Magistério tem dito a esse respeito?
A Santa Mãe Igreja com firmeza e máxima competência sustentou e sustenta que os
quatro Evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João, cuja historicidade afirma sem he
sitação, transmitem fielmente as coisas que Jesus, Filho de Deus, durante a sua vida
terrena, realmente operou e ensinou para salvação eterna dos homens, até o dia em q
ue subiu ao céu (DEI VERBUM, 19).
São Lucas escrevendo para Teófilo, afirma ter feito o seu primeiro relato sobre todas a
s coisa que Jesus havia feito, ensinando desde o início até o dia em que foi elevado ao céu, d
epois de Jesus ter dado todas as instruções aos seus apóstolos, cujo Ele escolheu por meio da
“ação do Espírito Santo” (cf. At 1, 1-2).
Visto que já tentaram compor uma narração dos fatos que se cumpriram entre nós -
conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio, foram testemunhas oculare
s e ministros da Palavra - a mim também pareceu conveniente, após acurada investi
gação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado, ilustre Teófilo, que
verifiques a solidez dos ensinamentos que recebeste (Lc 1, 2-4).
Mergulhando nas Sagradas Escrituras, percebe-se muitas vezes que Jesus interpreta o
Antigo Testamento diversas vezes (cf. Mt 5,21-48; Mc 2,23-28; Lc 24,25-28), isso acontece t
ambém com Seus discípulos que colocam muitos fatos da vida de Jesus Cristo, fazendo relaçã
o com o Antigo Testamento (cf. Jo 6; 7, 37-39;8,2-11;10) (COSTA, 2020).
Isso não significa de modo algum querer reduzir nem desvalorizar a exegese no “curso
da história da Igreja”, mas simplesmente dar um maior valor, principalmente do sentido litera
l dos homens enviados por Deus a falar de Jesus Cristo sob à luz do Antigo Testamento (COS
TA, 2020).
Ele, estando na forma de Deus não usou de seu direito de ser tratado como um deus,
mas se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens
e reconhecido em seu aspecto como um homem abaixou-se, obediente até a morte, à
morte sobre uma cruz. Por isso Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o nome
que está acima de todo nome, a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre n
os céus, sobre a terra e sob a terra, e que toda língua proclame que o Senhor é Jesus
Cristo para a glória de Deus Pai (Fl 2, 6-11).
Desde Adão até Moisés, o povo estava mergulhado na ignorância, as pessoas não tinh
am conhecimento sobre a Lei, isto é, conhecimento de que o pecado é um mal. Desde Moisés
até pouco antes de Cristo, o povo de Israel vivia pelos tempos. Por meio de Jesus Cristo veio
o dom a todo povo, ou seja, veio o tempo da graça, tempo da justificação, da obediência, tem
po da justiça, como afirma São Paulo em Rm 5,21 (COSTA, 2020).
Do mesmo modo que a tipologia de Adão, é relacionada a Cristo numa relação com a
humanidade, Moisés é colocado numa relação com os israelitas. Isso significa que nesse segu
ndo momento do plano de Deus na história, Moisés prepararia um povo para acolher o Messi
as que deveria vir. O próprio Senhor Deus havia feito uma promessa afirmando que: suscitari
a dentre os teus irmãos um profeta como Moisés (Dt 18,15). Porém, não se levantou mais em
Israel um profeta comparável a Moisés, com quem o Senhor conversava face a face (Dt 34,1
0) (COSTA, 2020, p. 230).
Muitos têm afirmado que Moisés era uma prefiguração de Jesus, ou seja, uma imagem
daquele que deveria vir, não há dúvida de ele é realmente uma figura de Cristo. Moisés viu o
Senhor por trás (Dt 33,23); “Jesus está no seio do Pai” como diz o apóstolo João Jo 1,18 (CO
STA, 2020).
“As principais relações estabelecidas nesta tipologia são as seguintes: assim como os
israelitas entraram no mar vermelho, Jesus é batizado; assim como o povo foi conduzido pelo
deserto e foram tentados, Jesus também foi tentado, mas venceu; assim como o povo passou
quarenta anos no deserto e Moisés jejuou por quarenta dias, Jesus ficou durante quarenta dias
no deserto em jejum e oração; assim como Moisés subiu à montanha e lá recebeu o decálogo
e apresentou a Lei ao povo, atravessou o mar depois de dividi-lo em duas partes, de maneira s
emelhante, Jesus Cristo - o Novo Moisés - subiu à montanha, apresentou a nova Lei no Sermã
o da montanha, caminhou sobre as águas e escolheu setenta discípulos e doze apóstolos. No E
vangelho de João, Jesus é a nova shekinah, a nova habitação de Deus, o lugar onde Deus mor
a.
Nesse sentido, é bom lembrar que Israel foi constituído como povo na Páscoa e no con
texto do sacrifício do Cordeiro. Assim como Israel é o povo de Deus constituído na Páscoa, a
Igreja é o Novo Povo de Deus constituído na Nova Páscoa realizada com o nono Cordeiro, Je
sus Cristo” (COSTA, 2020, p. 231/232).
“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós e, nós vimos a sua glória, glória que ele te
m junto ao Pai como Filho único, cheio de graça e de verdade” (Jo 1, 14). Jesus Cristo, o Filh
o de Deus feito homem, se encarnou para a nossa salvação. “Esse mistério é essencial para a f
é cristã”. Tendo Deus feito-se homem, logo há em Cristo duas naturezas, natureza humana e
natureza divina. São duas naturezas em uma só pessoa, “como sua natureza humana é perfeita,
ele é perfeito Deus” (COSTA, 2020, p. 265).
Quando se fala de encarnação, logo se entende um mistério assumido por Jesus Cristo.
A encarnação significa o verdadeiro “ato de assumir uma natureza humana por parte do Verb
o, segunda Pessoa da Santíssima Trindade; e também a união permanente e indestrutível que
existe entre eles” (ANCILLI, 2012, p. 851).
“Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o h
omem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime” (GS nº 22). Na verdade, o verdadeir
o mistério do homem só é revelado e esclarecido realmente no mistério do Verbo encarnado.
São Paulo afirma: Jesus é a perfeita imagem de Deus. “Ele é a imagem do Deus invisível, o P
rimogênito de toda criatura” (Cl 1,15).
Santo Agostinho em suas confissões diz: o homem sendo somente um pequeno fragm
ento da criação do Senhor, tem um desejo de louvar o Senhor, mas esse desejo é o próprio Cri
sto que excita o nosso coração. “Porque nos fizeste para ti, nosso coração está inquieto enqua
nto não encontrar em ti descanso” (AGOSTINHO, 2020, p. 19).
“Deve, de fato, crer-se firmemente na doutrina de fé que proclama que Jesus de Nazar
é, Filho de Maria e só ele é o Verbo do Pai. O Verbo que “estava no princípio junto de Deus”
(Jo 1,2), é o mesmo “que se fez carne” (Jo 1,14). Em Jesus “o Cristo, o Filho do Deus vivo”
(Mt 16,16) “habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2,9). Ele é o Filho unig
ênito, que está no seio do Pai” (Jo 1,18), o seu Filho muito amado, no qual temos a redenção
[...]. Aprouve a Deus que nele residisse toda plenitude e por ele fosse reconciliada consigo to
das as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua Cruz, com todas as criaturas na terra e
nos céus” (Cl 1,13-14.19-20)” (DOMINUS IESUS, nº 10).
Ainda nesse mesmo sentido o Concílio de Calcedônia pegando gancho nos ensinamen
tos dos Padres afirmou: “que o único e idêntico Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, é ele mesm
o perfeito em divindade e perfeito em humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente
homem [...], consubstancial ao Pai segundo a divindade e consubstancial a nós segundo a hu
manidade [...]; gerado do Pai antes dos séculos segundo a divindade e, nos últimos dias, ele m
esmo por nós e pela nossa salvação, de Maria, a virgem Mãe de Deus, segundo a humanidad
e” (DOMINUS IESUS, nº 10).
Por esse motivo, seguindo a mesma linha dos ensinamentos dos Concílios citados aci
ma, também o Concílio Vaticano II afirmou que Jesus Cristo é o “novo Adão” e “imagem de
Deus invisível” (Cl 1,15), “é o homem perfeito, que restituiu à descendência de Adão a semel
hança divina, deformada desde o primeiro pecado” (DOMINUS IESUS, Nº10). Cristo é realm
ente o verdadeiro Cordeiro que derramou o seu sangue pela salvação da humanidade.
Em Cristo, Deus Pai reconcilia a humanidade consigo, nos liberta do pecado, da escra
vidão do demônio. “Jesus é o Verbo Encarnado, pessoa una e indivisa [Cristo não é diferente
de Jesus de Nazaré; e este é o Verbo de Deus feito homem para a salvação de todos. O único
sujeito que opera nas duas naturezas - humana e divina - é a única pessoa do Verbo. O Magist
ério da Igreja afirma que Jesus Cristo é o mediador e o redentor universal: “O Verbo de Deus
por quem todas as coisa foram feitas, encarnou, a fim de, como homem perfeito, salvar todos
os homens e recapitular todas as coisas” (DOMINUS IESUS, nº 10/11).
Uma grande novidade da revelação que está nas Sagradas Escrituras é justamente o fa
to de ser o próprio Deus quem se dar a conhecer e não o homem que busca conhecê-lo. “A no
vidade da revelação bíblica consiste no fato de Deus se dar a conhecer no diálogo, que deseja
ter conosco” (Verbum Domini nº 6). “Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-s
e a Si mesmo e tornar conhecido o mistério de Sua vontade” (cf. Ef 1,9) (Dei Verbum nº2). E
ntende-se que não foi o homem que teve ou que tem esse desejo em si de encontrar Deus, ma
s coube a Deus em sua divina bondade e misericórdia para conosco, de revelar-se para nós.
São Paulo diz que não devemos nos envergonhar de modo algum do evangelho de Jes
us Cristo, pois “ele é força de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (cf. Rm 1,16). A
palavra de Deus se manifesta com maior vigor, de maneira eminentemente no Novo Testame
nto. “Com efeito, quando veio a plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4), o Verbo se fez carne e hab
itou entre nós, cheio de graça e de verdade” (cf. Jo 1,14) (Dei Verbum nº 17).
“Jesus Cristo é o verdadeiro centro da revelação de Deus. E o é igualmente da vida e d
a experiência cristã. Falamos de Cristo como mistério, por causa da complexidade do seu ser
divino e humano e de sua obra salvífica na história, da intensidade de graça e significado que
encerra cada um de seus gestos e cada uma de suas palavras e da presença íntima e permanent
e que ele conserva em cada momento da Igreja e da humanidade” (ANCILLI, 2012, p. 1336/1
337).
Na Carta aos Hebreus, o autor vai dizer que de muitas vezes e de vários modos, Deus f
alou aos pais por meio dos profetas, mas que ultimamente, falou por meio do seu próprio Filh
o, Jesus Cristo, cujo foi constituído o “herdeiro de todas as coisas”. Cristo é o verdadeiro res
plendor da glória de Deus, ele é a sublime expressão de sua substância. Cristo é quem manté
m o universo com a força do seu poder e por meio de sua palavra. Após cumprir sua missão n
a terra, realizando a “purificação dos pecados, sentou-se nas alturas à direita da Majestade, tã
o superior aos anjos quanto o nome que herdou excede o deles” (cf. Hb 1, 1-4).
“Cristo, o Filho de Deus feito homem, é a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai.
Nele o Pai disse tudo e, não há outra palavra senão esta” (CCE Nº 65). “Quando, porém, cheg
ou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho nascido de mulher, nascido sob a Lei, para
resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que recebêssemos a adoção filial” (Gl 4,4).
O termo Messias para o cristianismo é fundamental, pois esse nome ficou relacionado
ao próprio Jesus Cristo, Ele é o verdadeiro “ungido” de Deus, é o que significa a palavra “Me
ssias em hebraico e aramaico, o qual traduzido ao grego passou a ser “Christós”; os próprios s
eguidores de Jesus levam em seu nome, o “sobrenome” do seu Senhor, eles são “cristãos” (un
gidos)” (COSTA, 2020, p. 234).
B. Servo de Yahweh
A “teologia do Messias” entrou na “teologia do Servo de Javé”. Isso pode ser afirmad
o a partir de alguns textos como por exemplo Is 42,1-9 que fala sobre o “servo eleito”. A pala
vra “servo” pode ter vários significados, contudo não há dúvida que esse título “lembra todos
os que foram instrumentos dos atos salvíficos de Iahweh, seja Moisés, seja o rei ou o profeta”
(COSTA, 2020, p. 236).
O profeta Isaías nos fala desse servo que irá levantar-se, “ele se elevará, será exaltado,
será posto nas alturas” (Is 25,13). “Pelo seu conhecimento, o justo meu Servo, justificará a m
uitos e levará sobre si as suas transgressões” (Is 53,11). “O servo é aquele que carrega a iniqu
idade de todos, se oferece a si mesmo como expiação, leva o pecado de muitos, desempenha
o mistério de sumo sacerdote sendo também vítima”. (COSTA, 2020, p. 236).
Se pararmos para observar as narrativas dos evangelhos sobre a Paixão de Jesus Crist
o, vamos identificar o servo citado por Is 53. “O Messias deve sofrer muito da parte dos anciã
os, dos príncipes, dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e ressuscitaria ao terceiro dia”
(Mt 16,21). É fundamental relacionar esse texto do Evangelho com a “profecia de Isaías sobr
e a Paixão do Servo, a tal ponto que resulta muito fácil ver na descrição a Paixão de Jesus Cri
sto” (COSTA, 2020, p. 236).
Já desde o início da Igreja, os primeiros cristãos enxergam o “servo de Javé” como u
ma verdadeira imagem figurativa de Jesus Cristo. “Ele, Jesus de Nazaré, portanto, realiza em
toda a sua vida essa realidade anunciada na pessoa do servo” (COSTA, 2020, p. 238).
C. Filho do Homem
A expressão conhecida como Filho do Homem, no hebraico (“Bem Adam”) significa
exatamente ser humano. Porém, em Daniel (7,1-28) é apresentado um personagem de figura
misteriosa que tem aparência humana, mas que ao mesmo tempo tem sua origem transcenden
te, ou seja, ele recebe de Deus todo seu poder e, que também é capaz de representar todo o po
vo (TERRA, 2021).
"Jesus emprega o título ao reivindicar poderes divinos: Perdoar (Mc 2,10); ser Senhor
do sábado (Mc 2,27s); Salvar o perdido (Lc 19,10); Dar alimento (Jo 6,28). Ele o emprega ta
mbém para acentuar a humilhação. Não ter onde reclinar a cabeça (Mt 8,20); Comer e beber c
om os publicanos (Mt 11,19) para apresentar sua morte e ressurreição (Mc 8,31;9,31;10,33) e
enfim, o título vale para a sua futura vinda gloriosa (Mt 13,41). Portanto, Jesus como o Filho
do Homem é objeto de fé (Jo 9,35)” (TERRA, 2021 p. 63).
D. Filho de Deus
Observando o título Filho de Deus, pode-se perceber que ele aparece primeiramente n
o Antigo Testamento aos anjos, como mostra Deuteronômio 32,8. Depois aparece no Livro d
o Êxodo, Iahweh dizendo para Moisés. Dirás ao Faraó: “Assim falou Iahweh: o meu filho pri
mogênito é Israel” (Ex 4,22). “Quando o Messias prometido é qualificado como Filho de Deu
s, pode ser que não ultrapasse o nível humano de pensar. Porém com a profissão de fé de Ped
ro: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,16), alcança um teor maior” (TERRA, 202
1 p. 63).
O Próprio Deus Pai, tanto no batismo como na transfiguração, chama Jesus de Filho a
mado, ou seja, Jesus Cristo tem um caráter transcendente. O caráter da transcendência de Jesu
s Cristo como Filho de Deus, não há outro meio de se compreender senão por meio de uma re
velação propriamente divina (Terra, 2021).
“Crer em Jesus como Filho de Deus, além da necessidade da revelação dele próprio, e
xige a fé do homem”. Os apóstolos foram aqueles homens que creram e professaram sua fé e
m Jesus Cristo. “Nós vimos a sua glória, glória que Ele tem junto do Pai como Filho único, c
heio de graça e de verdade” (Jo 1,14b) (TERRA, 2021 p. 63).
E. Senhor
A expressão Senhor, que encontramos principalmente no Evangelho de Mateus, ela es
tá dirigida a Jesus no sentido aramaico por ele ter curado o leproso com poder aparentement
e taumatúrgico (Mt 8,2). Em Jo 20,28 Tomé proclama: “meu Senhor e meu Deus”, Tomé per
cebe a grandeza de Jesus e por isso clama o nome do Senhor. O Apóstolo diz em Fl 2,10s: “a
o nome de Jesus se dobre todo joelho... toda língua confesse: Jesus é Senhor”. Além do mais
é o modo do discípulo se dirigir ao mestre (Mt 8,25). E o nome de Jesus quando colocado ao l
ado de Deus Pai” (TERRA, 2021, p. 63).
Nos Atos dos Apóstolos, encontra-se Estêvão, clamando ao Senhor o perdão de seus a
lgozes. E apedrejaram Estêvão, enquanto ele dizia esta invocação: “Senhor Jesus, recebe meu
espírito”. Depois, caindo de joelhos, gritou em alta voz: “Senhor, não lhes leves em conta est
e pecado.” E dizendo isto, adormeceu” (At 7,59-60).
F. Mestre
Em geral, a palavra mestre é direcionada para aquele que transmite os ensinamentos e
interpreta a Palavra de Deus. O título de Mestre, é atribuído a Jesus, principalmente no Evang
elho de Mateus quando Ele chama seus seguidores de “discípulos” (cf. Mt 22,16) e também p
or Jesus usar muitos termos comuns utilizados nas escolas rabínicas, como por exemplo os ter
mos: sentenças, parábola, enigmas, debates sobre a legislação, modo de citar as Escrituras; ap
roveitar o momento das refeições para transmitir um devido ensinamento ao povo presente (c
f. Lc 14,1-24). Todos esses termos usados pelo evangelista, são ensinamentos próprios do me
stre (TERRA, 2021).
7. OS DOGMAS CRISTOLÓGICOS
No decorrer da história da Igreja, particularmente no tocante as heresias, nota-se justa
posições heresias-dogmas (este dogma refutou esta heresia). Entretanto, vale observar que os
dogmas não foram desenvolvidos de modo simples e instantâneo. Mas houve grande empenh
o da parte do Magistério da Igreja que através de seus Ministros (teólogos de grande monta) f
oram formulando os “antídotos” contra os males que assolavam a reta doutrina da Igreja. Obs
erve-se por exemplo, que as controvérsias em relação à união hipostática (união das duas natu
rezas, Divina e humana, na pessoa do Logos no momento da Encarnação de Cristo) durou tre
zentos anos. São três séculos de empenho que teve início em 362 no sínodo de Antioquia, Co
nstantinopla I, até o ano 680 quando se formulou o dogma no III Concílio de Constantinopla
(Müller, 2015, p. 245).
Em 325, o Conc. de Nicéia rechaça o arianismo afirmando a divindade de Cristo “Deu
s de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstanc
ial ao Pai”. Constantinopla I em 381, afirma a completa humanidade de Cristo refutando Apol
inário, dizendo: “O que não foi assumido, não foi redimido”. Em 431 no Conc. de Éfeso, a Ig
reja afirma a plena unidade de Cristo em resposta ao nestorianismo. Em 451, no Conc. de Cal
cedônia, a Igreja condena o monofisismo proclamando o mistério das duas naturezas de Crist
o: “consubstancial ao Pai quanto à divindade, conosco quanto à humanidade” (apud Bettenco
urt 2009, p. 82). E no Conc. de Constantinopla III a Igreja condena a concepção de que em Cr
isto havia uma só vontade, o monotelismo.
8. AS HERESIAS CRISTOLÓGICAS
Em nossos dias, há um termo que tem se tornado comum, seja por conhecimento de c
ausa ou não. Entretanto, o vocábulo grego heresia, não é novo. O termo era usado já entre os
cristãos dos primeiros séculos e traduz-se por partido, seita (Isidro p. 18). Usava-se em relaçã
o às várias seitas que foram surgindo dentro da Igreja. Homens como Ário, Nestório ou Apoli
nário, não mal-intencionados, na busca por respostas relacionadas a aspectos da Fé acerca da
Pessoa de Cristo e de Sua natureza, formulam pensamentos que mais se contrapunham a Sã D
outrina, que a esclarecem. Assim, aqueles a quem o próprio Cristo confiara o depósito da Fé
não podiam se eximir de combater pensamentos tão danosos. A postura firme de gigantes teó
logos de fé como, Santo Atanásio, São Leão Magno e outros, foi de suma importância em seu
s respectivos tempos.
A. Arianismo
O arianismo ou subordinacionismo ariano foi uma das primeiras grandes heresias crist
ológicas do século IV. Seu grande expoente foi Ário, presbítero nascido por volta do ano 256
a.C, em Alexandria, onde se desenvolveu uma grande escola catequética da época e que estav
a voltada à filosofia platônica e neoplatônica. Embora seu mentor, Luciano de Antioquia, seja
da escola catequética antioquena, mais versada pelo pensamento aristotélico, Ário foi muito
mais influenciado pelo platonismo.
O presbítero Alexandrino, em 318, passa a ensinar que o Verbo (Jesus) era subordin
ado ao Pai. No pensamento de Ário, Cristo seria a primeira e mais perfeita criatura de Deus
(COSTA p. 89). Ou seja, em seu dizer, houve um tempo em que Deus estava só, Cristo não es
tava em Deus como afirma o prólogo do Evangelho de São João “No princípio era o Verbo, e
o Verbo estava junto a Deus, e Deus era o Verbo (Jo 1, 2). Nisto, o alexandrino afirma claram
ente que o Verbo não é Deus, mas uma criação a partir do nada e isto é uma segunda categori
a de Deus que não possui a mesma natureza (homoousios) Divina. Além disso, Jesus não pos
suía natureza humana. Era como um ser intermediário entre os homens e Deus. O arianismo,
portanto, é contrário ao dogma trinitário: Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas e uma só na
tureza, a Divina. Como também o dogma cristológico da humanidade e divindade de Cristo e
m uma pessoa.
B. Apolinarismo
Esta heresia apresenta outra grave questão acerca da pessoa de Cristo. Se no arianism
o houve uma negação da divindade de Jesus, colocando-O abaixo do Pai, o apolinarismo nega
a natureza humana completa em Cristo. Seu expoente foi Apolinário de Laodicéia, nascido po
r volta de 310 e 315, na Síria e foi eleito Bispo da mesma cidade onde nasceu em 361, era am
igo de Santo Atanásio e tanto assentiu quanto defendeu o Concílio de Nicéia, opondo-se assi
m a Ário. Todavia, questiona o Bispo: “Se Jesus é Verbo de Deus feito homem, que tipo de h
omem Ele é?” Conforme cria, não seria possível uma unidade entre duas perfeições, mas uma
justaposição. Para ele, ao considerar a unidade entre o Pai e o Filho era preciso admitir que a
natureza humana em Jesus estaria incompleta ou precisaria de uma alma racional (nous). Para
aceitar a humanidade completa de Jesus, não seria possível aceitar que esta fosse imaculada.
Deste modo, a humanidade de Cristo sofre uma subtração. Em 381, portanto, no Concílio de
Constantinopla I a Igreja encerra a questão ao afirmar e condenar Apolinário: “O que não foi
assumido, não foi redimido” (Gracioso, 2019 p.37). Seria impossível crer que Jesus salvaria o
homem sem assumir sua humanidade por inteiro. Não havendo n’Ele natureza humana compl
eta, não há Redenção completa.
C. Nestorianismo
Esta controvérsia herética surge no séc. V com Nestório, nascido na Síria em 381, Bis
po de Constantinopla. Posiciona-se contra a difundida devoção à Mãe de Deus (Theotókos).
Questionava: “Teria Deus uma mãe?” Para ele não é Deus quem nasce de Maria, mas o Hom
em Jesus instrumento da Divindade. A doutrina de Nestório, que fragmenta a Pessoa Divina d
e Cristo dando a entender que n’Ele houvesse duas pessoas (uma humana e uma Divina), foi
condenada em Éfeso em 431 sob o Patriarca São Cirilo de Alexandria e o Papa Celestino I e r
eafirma a maternidade Divina da Virgem Maria, endossa: “Ele é consubstancial com o Pai po
r sua divindade e consubstancial conosco por sua humanidade” (Bettencourt 2009, p. 79).
D. Monofisismo
Ao contrário do nestorianismo, o monofisismo afirmava que em Cristo havia uma (mo
no) só natureza (physis), a Divina. Segundo defendiam, Cristo teria duas naturezas, mas no m
omento mesmo da Encarnação do Verbo a natureza humana teria sido absorvida pela Divina.
Assim sendo, também o corpo de Cristo havia sido divinizado tornando-se diferente do nosso.
O que leva a uma fragmentação do que a Igreja ensina a respeito de Cristo, uma Pessoa (a Di
vina) e duas naturezas (Divina e humana). Esta questão foi sanada no Conc. de Calcedônia II
em 451 no papado de São Leão Magno (Gracioso, 2019 p. 47).
E. Monotelismo
Uma vez que no monofisismo se compreendia que Cristo possuía somente a natureza
Divina, na heresia monotelista se crê que Ele possui uma só vontade, a Divina. Usando o mes
mo raciocínio da heresia vista anteriormente, aqui se afirma que a vontade Divina absorve a h
umana. O expoente desse pensamento, Sérgio I Patriarca de Constantinopla, ensinava que a v
ontade Divina sobrepunha-se a humana, fazendo desta totalmente sujeita e inerte àquela. Esta
questão teve seu fim no III Concílio de Constantinopla sob o pontificado do Papa Agatão (TE
RRA, 2021, p. 68).
F. Adocionismo
Esta heresia, defendida por Teódoto de Bizâncio (190) e Fotino de Sírmino (379) prof
essava que Cristo havia recebido a “dýnamis” de Deus (a força Divina). Jesus seria um home
m ao nível dos profetas e que havia recebido o Espírito em efusão quando teve Seu batismo p
or João e assim, Deus se revelou através d’Ele. Então o que vincularia Deus e este humano es
pecial, seria uma adoção devida às Suas virtudes, daí decorre o adocionismo. Este pensament
o nega claramente a Divindade de Jesus (Müller, 2015, p.236).
G. Docetismo
9. A PESSOA DE CRISTO
A. As graças de Cristo
A vinda de Jesus Cristo ao mundo é uma graça e mostra como é grande a misericórdia
de Deus para com a humanidade. Seu amor por nós chega ao extremo, ao ponto de entregar s
eu Filho para morrer por nós (cf. Rm 8,32). Através da Pessoa de Jesus Cristo “vieram-nos a
graça e a verdade” (Jo 1,17), nós a vimos (1,14), e com isso, conhecemos a Deus no seu Filho
unigênito que nos deu a conhecer (cf. 1,18) (TERRA, 2021).
B. A graça de união
A humanidade de Jesus Cristo, pela graça da união hipostática, encontra-se de tal mod
o tão perfeitamente unida à pessoa do Verbo, que não há como imaginar uma perfeita união d
e outro modo. “Essa santidade é tão grande que os teólogos costumam chamá-la ‘santidade su
bstancial’. Assim como não pode existir união maior que a que existe entre o Verbo e sua nat
ureza humana, não pode existir santidade maior, já que a santidade nada mais é que união co
m Deus. Cristo é absolutamente impecável exatamente por causa dessa união” (COSTA, 202
0, p. 369).
C. A graça santificante
Entende-se o termo, graça santificante, como algo sobrenatural, ou seja, é um dom da
do por Deus ao homem. Não é algo adquirido pelos atos humanos, mas vem de Deus. “A graç
a santificante é uma qualidade sobrenatural inerente à nossa alma, que nos confere uma partic
ipação física e formal, mesmo análoga e acidental à natureza de Deus enquanto ela é própria
de Deus” (TERRA, 2021 p. 133).
A graça santificante pode ser considerada como “a transformação real, que não destrói
a natureza humana, mas a eleva internamente a um nível de vida superior, divina, é chamada
de divinização; pode ser considerada sob dois aspectos: como ação transformadora de Deus e
como transformação do homem. A graça santificante é o efeito criado pela influência divina”
(ANCILLI, 2012, p. 1107).
D. A graça capital
Em Jesus Cristo, podemos distinguir a graça que habita em sua pessoa, de três formas.
Primeiramente é necessário entender que quando falamos de “graça de união, estamos a falar
da mesma realidade da união hipostática considerada como dom; enquanto graça habitual, a a
lma de Jesus Cristo foi santificada pelo dom do Espírito, não porque ele necessitasse ser livre
do pecado ou tornar-se Filho de Deus, mas porque ele, como cabeça da Igreja, tinha de ter a g
raça que posteriormente derramaria sobre todos nós, a graça capital é a expressão de que Jesu
s de Nazaré tem, como cabeça de todo gênero humano, a graça que derramaria sobre o corpo
que ele fundou sua Igreja” COSTA, 2020 p. 368).
A graça que Jesus derrama sobre nós, chama-se graça santificante, essa graça é que no
s torna capazes de enxergar e praticar a justiça com maior clareza. Portanto, entende-se assim,
que a graça capital, é um dom que Deus dá para santificar “os membros do corpo de Cristo”
(COSTA, 2020).
Existe uma coisa importante no batismo de Jesus que vale a pena destacar, é que vinha
m muita gente tanto da Judeia como de Jerusalém para serem batizados por João Batista. No
entanto, algo novo acontece: “Naqueles dias Jesus veio de Nazaré na Galileia e foi batizado p
or João no rio Jordão” (Mc 1,9) (RATZINGER, 2016).
O batismo de Jesus é muito significativo, isso porque nunca se tinha ouvido falar de al
guém vindo da Galileia para ser batizado, a vinda de Jesus foi a maior novidade.
“Até então não tinha sido dito nenhuma palavra sobre peregrinos da Galileia; tudo p
arecia limitar-se à região da Judeia. O que é verdadeiramente novo é que Jesus queir
a ser batizado, que entre a multidão triste dos pecadores, que aguardam nas margens
do rio Jordão. O batismo implicava uma confissão dos pecados e a tentativa de se de
spojar de uma vida falhada e de receber uma nova vida” (RATZINGER, 2016 p. 32).
A partir da cruz e da ressurreição, ficou muito claro para a cristandade o que acontece
u no momento do batismo de Jesus quando ele estava em oração.
“Jesus tomou sobre os seus ombros o peso da culpa de toda humanidade; levou-a pe
lo Jordão abaixo. Ele inaugura o seu ministério inserindo-se no lugar dos pecadores.
Ele inaugura-o com a antecipação da cruz. Ele é, por assim dizer, o verdadeiro Jona
s, que disse para os marinheiros”: “Pegai em mim e atirai-me ao mar” (Jon 1,12) (R
ATZINGER, 2016 p. 33).
B. Ensinamentos
Os ensinamentos de Jesus Cristo não vem dele próprio, mas vem do Pai como ele mes
mo diz. É importante perceber que Jesus está sempre ensinando sobre o Reino de Deus que es
tá próximo, o Reino de Deus se aproxima, mas se entende que Jesus é o próprio Reino que se
aproxima, que está próximo, está no meio de vós.
“O Reino de Deus está próximo” (Mc 1,15), se aproxima de vós (Mt 12,28), está “no
meio de vós" (Lc, 17,21). Aqui se expressa um processo da vinda, que já está em movimento
e que diz respeito a toda história” (RATZINGER, 2016, p. 66). Os ensinamentos de Jesus est
ão todos voltados para o Reino de Deus. Sua mensagem sobre o Reino, se apresenta, como po
r exemplo: “ele é como um grão de mostarda, a menor de todas as sementes. Ele é como o fer
mento, uma pequena quantidade em comparação com toda a massa, mas que determina o que
será feito dela” (RATZINGER, 2016 p. 66).
C. Milagres
Os milagres de Jesus Cristo têm por excelência manifestar a glória de Deus que se reb
aixa sobre a miséria humana. As iniciativas dos milagres são do próprio Jesus Cristo que se a
ntecipa mediante os clamores do homem. “É Cristo que responde a sua súplica” (TERRA, 20
21 p. 16).
Os milagres de Jesus, são sinais de que o Reino de Deus já chegou e combate contra o
reino do demônio. São verdadeiros sinais da graça divina realizada no meio de nós, não são s
omente para mostrar o seu poder, de Jesus, mas “os milagres são revelação do mistério trinitá
rio”. Para quem os recebeu, os milagres são sinais, mas do ponto de vista do Cristo, são mais
propriamente obras do Filho. São testemunho do Pai em favor daquele que é maior que Jonas
e Salomão (Mt 12, 41-42), maior que Moisés e Elias (Mc 9, 2-10), maior que Davi (Mc 12,3
5-37) e João Batista, (Lc 7 , 18-28), elevado acima dos profetas como o Filho acima dos serv
os (Mc 12, 1-12)” (TERRA, 2021 p. 17).
Os milagres realizados por Cristo, são sinais do mundo da graça e dos sacramentos. S
ão sinais prefigurativos do mundo escatológico, ou seja das transformações que se devem ope
rar no fim dos tempos, no “corpo humano e no universo físico” (TERRA, 2021 p. 17).
D. Tentação
Em todos os Evangelhos sinóticos, o Espírito Santo conduz Jesus até o deserto para se
r tentado pelo demônio (cf. Mt 4,1). “Jesus deve penetrar no drama da existência humana, atr
avessá-lo até seu último fundo, para encontrar a “ovelha perdida”, colocá-la nos ombros e lev
á-la para casa” (RATZINGER, 2016 p. 40). As tentações de Jesus estão relacionadas ao batis
mo, onde Cristo se “solidariza com os pecados”. Bem próximo das tentações, vem a grande a
gonia de Jesus no Monte Tabor, isto é, uma luta que faz parte da sua missão, mas que as “tent
ações” fazem parte de toda a caminhada de Jesus (RATZINGER, 2016).
Segundo Ratzinger, São Marcos colocou em clarividência os “paralelos com Adão”, d
o grande sofrimento da dramaticidade do homem. Jesus estava no meio das feras e os anjos lh
es serviam. “O deserto - o oposto do jardim - torna-se o lugar da reconciliação e da salvação”
(RATZINGER, 2016 p. 41). São Mateus diz que “Depois de ter jejuado quarenta dias e quare
nta noites, Jesus teve fome” (Mt 4,2).
É importante salientar que o número 40 no tempo de Jesus, é um símbolo muito impor
tante para Israel, primeiro por fazer recordar quarenta anos de Israel em sua caminhada no de
serto que foi um período de muitas tentações, mas também de aproximação de Deus. Esse nú
mero relembra também os quarenta dias de Moisés no monte Sinai, um pouco antes de recebe
r as tábuas da Lei, faz recordar ao mesmo tempo “uma explicação rabínica” que diz que Abra
ão teria ficado também “quarenta dias e quarenta noites” se alimentando somente da da “visã
o e com as palavras do anjo que o acompanhava” quando Abraão ia sacrificar seu filho (RAT
ZINGER, 2016 p. 42).
E. Transfiguração
O livro do Êxodo apresenta a subida de Moisés ao monte Sinai onde se afirma: “A gló
ria do Senhor desceu sobre o Sinai e a nuvem cobriu o monte durante seis dias. No sétimo dia
o Senhor chamou Moisés do meio da nuvem” (Ex 24,16). Segundo Ratzinger, essa passagem
é a chave fundamental para “ a história da transfiguração” (RATZINGER, 2016).
Não existe nada fora do comum entre Êxodo 24,16 com a transfiguração de Jesus. O t
exto nos diz que “Jesus tomou à parte Pedro, Tiago e João e conduziu-os a um alto monte, so
mente os três” (Mc 9,2). Novamente os três estavam no monte das Oliveiras (Mc 14,33) na ag
onia de Jesus. Aqui aparece como se fosse uma “réplica” da transfiguração, isto é, estão unida
s uma com a outra. É importante perceber aqui a relação que existe entre estas passagens com
o texto de Êxodo 24, em que Moisés também leva consigo ao monte Sinai, Aarão, Nadab e A
bihu, mas Moisés leva outros setenta anciãos (RATZINGER, 2016).
F. Paixão
Na paixão de Jesus Cristo, tudo é perfeito. Desde o amor pelo qual é inspirado e sua li
berdade em realizar somente a vontade de Deus, Cristo é o perfeito Dom oferecido, Ele se ofe
rece por inteiro. “A sua alma e o seu corpo são dilacerados, esmagados pelos sofrimentos; nã
o há nenhum que Jesus não experimente” (COLUMBRA, 2017 p. 270).
Segundo Colombo, aconteceu com Jesus aquilo que afirma o Profeta Isaías: “pois ele
não tinha mais figura humana” (Is 52,14). O Profeta Isaías diz: “Não tinha beleza nem esplen
dor que pudesse atrair o nosso olhar, nem formosura capaz de nos deleitar. Era desprezado e a
bandonado pelos homens, homem sujeito à dor, familiarizado com o sofrimento, como pessoa
de quem todos escondem o rosto; não fazíamos caso nenhum dele” (Is 53, 2-3).
G. Morte
Olhando a narrativa da morte de Jesus nos evangelhos, percebe-se que Jesus morreu, e
m oração, ou seja, era hora nona como narra os evangelistas, em que Jesus em sua sua última
oração retirada do Salmo 31 ele diz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46; cf.
Sl 31,6). Segundo João, a última palavra de Jesus foi esta: “Está consumado” (Jo, 19,30) (R
ATZINGER, 2016, p. 202).
Pela morte de Jesus, neste fim tão doloroso e extremo, é alcançado o cumprimento do
amor no momento da morte. “Este “fim”, este extremo cumprimento do amor foi alcançado a
gora, no momento da morte. Jesus foi verdadeiramente até o fim, até o limite e para além do l
imite. Ele realizou a totalidade do amor, deu-Se a Si mesmo” (RATZINGER, 2016 p. 202).
H. Ressurreição
Encontra-se as narrativas da ressurreição de Jesus Cristo, em todos os Evangelhos. Ma
teus diz: “Após o sábado, ao raiar do primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Mari
a vieram ver o sepulcro. E eis que houve grande terremoto: pois o Anjo do Senhor, descendo
do céu e aproximando-se, removeu a pedra e sentou-se sobre ela” (cf. Mt 28,1-4). As mulhere
s procuravam Jesus, mas os anjos avisaram que ele não se encontrava ali, pois havia ressuscit
ado.
Marcos também relata dizendo: “Passado o sábado, Maria de Magdalena e Maria, mãe
de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungir o corpo. De madrugada, no primeiro dia
da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol” (Mc 16, 1-2). O evangelista diz que quand
o elas chegaram no local, avistaram um jovem que estava sentado onde Jesus tinha sido sepul
tado, logo elas ficaram assustadas, mas o jovem pediu para que elas não se assustassem porqu
e Jesus havia ressuscitado (cf. Mc 16, 1-4).
Lucas por sua vez, diz: “Mas, ao entrar, não encontram o corpo do Senhor Jesus” (Lc
24,3). “Maria Madalena corre então e vai a Simão Pedro e ao outro discípulo, que Jesus amav
a, e lhes diz: ‘Retiram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o colocaram’. Pedro saiu, en
tão com o outro discípulo e se dirigiram ao sepulcro. Os dois corriam juntos (Jo 20, 2-4).
Romano Guardini afirma que o relato da ressurreição é tão extraordinariamente grandi
oso, que isso é realmente inacreditável. “Jesus de Nazaré, Mestre de um pequeno grupo de dis
cípulos, a quem muitos haviam considerado o Messias, mas que tinha sido condenado à morte
e suplicado por seus inimigos, voltou à vida” (GUARDINI, 2021, p. 585). Uma coisa ainda m
ais importante de notar é que Jesus, não voltou simplesmente a viver, uma coisa extraordinári
a é que “a vida de Jesus ressuscitado é uma vida real, em corpo e alma, em carne e sangue. A
vida arrancada, destruída, aniquilada na cruz, voltou a despertar e pulsa de novo - embora, é v
erdade, numa forma totalmente nova e transformada” (GUARDINI, 2021, p. 585).
14. REFERÊNCIAS
COSTA, Françoá. Jesus Cristo: O único salvador. São Paulo, Cultor de livros, 2020. 2° Ed.
BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. Tradução Centro Bíblico Católico. 1ª ed. São Paulo
Paulus, 2002.
REDENTOR DO HOMEM: Carta encíclica de João Paulo II. São Paulo, Paulinas, 2010. 11
° Ed.
MARMION, Columbra. JESUS CRISTO: Nos seus mistérios. São Paulo, Cultor de livros, 2
017.
RATZINGER, Joseph. JESUS DE NAZARÉ: Do batismo no jordão à transfiguração. São P
aulo, Planeta, 2016. 2° Ed.
GRACIOSO, Joel. HERESIAS: Tão antigas e tão novas. São Paulo, Cultor de livros, 2019.
TERRA, Dom João E. M., SJ. OS MISTÉRIOS DA VIDA DE JESUS. São Paulo, Editora
Ave Maria, 2009. 1° Ed.