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DE FÁTIMA
SÍNTESE:
TEOLOGIA ESPIRITUAL - ESPIRITUALIDADE
BRASÍLIA / DF
2023
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3
2. DEFINIÇÃO E NATUREZA DO TRATADO ........................................................................ 3
3. OBJETO E FINALIDADE DO TRATADO ............................................................................ 4
3.1. Fins da Vida Cristã ....................................................................................................... 4
3.1.1. A glória de Deus, fim último e absoluto da vida cristã ............................................. 5
3.1.2. A santificação da alma, fim próximo e relativo da vida cristã ................................. 6
4. A VIDA ESPIRITUAL ................................................................................................................ 7
4.1. Graça Habitual ou Santificante .................................................................................... 8
4.2. A Graça atual ................................................................................................................. 9
4.3. As virtudes infusas ......................................................................................................... 9
4.4. Os dons do Espírito Santo ........................................................................................... 10
4.5. Os frutos e as Bem aventuranças................................................................................ 11
5. ESPIRITUALIDADE E ESPIRITUALIDADES ................................................................... 12
5.1. Espiritualidade no singular e espiritualidades no plural ......................................... 13
6. OS FUNDAMENTOS DA ESPIRITUALIDADE CRISTÃ ................................................ 14
6.1. Fundamento Trinitário ................................................................................................ 14
6.1.1. Fundamento Pneumatológico ................................................................................. 15
6.2. Fundamento Cristológico ............................................................................................ 15
6.3. Fundamento Eclesiológico ........................................................................................... 16
6.4. Fundamento Mariológico ............................................................................................ 16
7. AS FONTES DA TEOLOGIA ESPIRITUAL ....................................................................... 17
7.1. Sagrada Escritura ........................................................................................................ 17
7.2. A Tradição e o Magistério da Igreja .......................................................................... 17
7.3. A razão iluminada pela Fé .......................................................................................... 18
8. A DIREÇÃO ESPIRITUAL ..................................................................................................... 18
9. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 19
1. INTRODUÇÃO
Todo homem é chamado à perfeição a semelhança do Pai que é perfeito (Cf. Mt. 5,48),
pois a vontade de Deus é a sua santificação (Cf. Its. 4,3), por isso “uma das maiores obrigações
de um cristão, para sê-lo verdadeiramente, é a de aspirar com seriedade ao pleno
desenvolvimento de sua vida sobrenatural iniciada no Batismo” (MARÍN, 2018, p. 21),
buscando a perfeição da vida cristã, pois, “a vida interior [...] é, em nós, algo mais profundo e
de mais necessário que a vida intelectual e cultural das ciências, que a vida artística e literária,
que a vida social ou política” (LAGRANGE, 2018, p.2), já que voltando ao seu interior, em
busca da Verdade e do Bem, o homem encontra a Deus, vencendo o egoísmo próprio por amor
à Ele.
No decorrer da história, vários nomes foram dados a esta ciência. Segundo Royo Marín:
Não há uniformidade de critério entre os autores para designar a ciência da perfeição
cristã com um nome comum. Alguns falam de vida interior; outros de vida espiritual
ou vida sobrenatural; outros de teologia espiritual ou teologia espiritual ascética e
mística; outros de ascética e mística ou teologia ascética e mística; e finalmente, outros
de perfeição e contemplação. (MARÍN, 2020, p.37)
Hoje em dia contudo, entre os nomes adotados o que mais se utiliza atualmente é o de
Teologia espiritual, por ter se tornado a denominação mais comum por conter expressamente
que se trata de uma disciplina teológica e que o seu objeto direto é a espiritualidade cristã.
Dada a importância que tem a Teologia Espiritual por tratar da intima relação do homem
com Deus, dois elementos básicos são necessários serem considerados: Deus e o homem,
mesmo que de modo indireto, para dar uma definição mais adequada do que vem a ser esse
tratado. Diante disso, alguns autores propuseram algumas definições da Teologia da Perfeição
ou Teologia Espiritual.
O pe. Garrigou-Lagrange (2018, p. 9) diz a Teologia Espiritual “é sobretudo um
desenvolvimento do tratado sobre o amor de Deus e do tratado sobre os dons do Espírito Santo,
[...] para conduzir às almas à união divina”.
Para Adolphe Tanquerey que a chama de “ciência dos santos” ou “ciência espiritual”
vai dizer que é a “arte da perfeição, por ter como fim conduzir as almas à perfeição cristã”
(2017, p. 38).
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Mas é sobretudo Royo Marín que cunha, ao extrair os elementos substanciais dessas
diversas definições propostas por grandes autores, a definição mais completa do que vem a ser
a Teologia Espiritual, que ele chama de mística, propondo a seguinte definição:
É aquela parte da sagrada teologia que, baseando-se nos princípios da divina relação
e nas experiências dos santos, estuda o organismo da vida sobrenatural, explica as leis
do seu progresso e desenvolvimento, e descreve o processo que seguem as almas
desde o início da vida cristã até o ápice da perfeição.” (MARÍN, 2020, p. 21)
Tal definição deixa claro que também o tratado da perfeição cristã não é uma realidade
separa ou distinta da teologia, mas parte de um todo uno, que tem como fonte primordial a
revelação divina e a aplicação concreta desta realidade na experiência daqueles que trilharam
esse caminho de perfeição. Ressalta ainda o conhecimento e o aprofundamento dos dados
revelados como o fundamento da vida sobrenatural e o seu desenvolvimento e progresso nas
almas dos cristãos do início até a sua consumação.
Partindo da natureza própria do que vem a ser esse tratado, se deduz o seu objeto que
está intimamente ligado com a finalidade da Ascética e Mística. Segundo Tanquerey (2017, p.
37) “o objeto próprio da Teologia Ascética e Mística é a perfeição da vida cristã”; e nesse
sentido a sua finalidade própria “é expor a doutrina da perfeição cristã em toda a sua amplitude
e extensão” (MARÍN, 2020, p. 37), tendo em vista apresentar e fazer conhecer os meios para
alcançar tal perfeição, uma vez que eles são especificados pelo seu fim, para a maior glória de
Deus e apara a salvação das almas.
O pe. Adolphe Tanquerey nos lembra que toda a vida do homem está sempre em busca
de se aperfeiçoar, e tal realidade se dá na medida em que se aproxima do seu fim. É fundamental
então que o homem saiba onde quer chegar, qual o fim que pretende alcançar. Ora, uma vez
que o homem busca sempre a Verdade e o Bem, e nessa busca só a encontra em Deus, a
perfeição absoluta só se dará na íntima união com Deus, que só será plena na visão beatifica no
céu. Aqui na terra então, o homem só alcançará uma perfeição relativa, por meio da busca
incessante da união íntima com Deus, que dispõe e prepara o sujeito para a visão beatífica (Cf.
TANQUEREY, 2017, p. 37).
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Daí podemos então identificar qual é o fim da vida cristã, e, portanto, também o fim da
teologia espiritual, que se apresenta em duas modalidades diferentes: “um fim último ou
absoluto e outro próximo ou relativo. O primeiro é a glória de Deus; o segundo, nossa própria
santificação” (MARÍN, 2020, p. 52), deixando claro também o elemento da missão, ou seja,
qual é a missão do homem.
No que se refere a glória de Deus, se pode distinguir n’Ele uma dupla realidade, isto é,
uma glória intrínseca fruto de sua vida íntima que proporciona a si mesmo na relação que possui
no seio da Trindade, onde o Pai conhecendo a si mesmo gera o Filho, que é a expressão do
conhecimento de Deus sobre si, que ao contemplarem-se, amam-se infinitamente com um amor
divino, resultando deste modo o Dom Incriado, que é o resultado do amor de Deus por si mesmo
(Cf. TRESE, 1999, p. 28).
É exatamente “este conhecimento e amor de si mesmo, este louvor eterno e incessante
que Deus prodigaliza a si mesmo no mistério incompreensível de sua vida íntima, [que]
constitui a glória intrínseca de Deus, rigorosamente infinita e completa” (MARÍN, 2020, p. 52),
glória está que somente o próprio Deus pode dar a si mesmo e que nenhum ser existente possa
acrescentar n’Ele, afinal, “Deus é infinitamente bem-aventurado em si mesmo e em
absolutamente nada necessita das criaturas, pois estas não podem aumentar a sua felicidade
íntima.” (MARÍN, 2020, p. 53).
Mas, mesmo que as criaturas não acrescentem nada à Deus, por causa de seu Amor, e
sendo Ele, o sumo Bem, realidades estas que tendem sempre a expandir, Ele cria todas as coisas,
comunicando “suas infinitas perfeições às criaturas, intentando, com isso, sua própria glória
extrínseca” (MARÍN, 2020, p. 53), pois, “o mundo foi criado para glória de Deus [...] não para
aumentar a sua glória, mas para a manifestar e para a comunicar” (CEC. 293). Nota-se que
Deus, ao realizar a obra admirável da criação, não buscou a sua própria utilidade, mas quis, por
seu amor imenso, unicamente comunicar-lhes e a sua bondade infinita, já que “a glória de Deus
está em que se realize esta manifestação e esta comunicação da sua bondade, em ordem às quais
o mundo foi criado” (CEC. 294).
É, portanto, a glória da Santíssima Trindade, o fim último e absoluto de tudo o que existe
e de toda a vida cristã, onde, “absolutamente nada deve prevalecer diante dela, nem sequer o
desejo da própria salvação e santificação, que deve vir em segundo lugar, como o meio mais
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certo para lograr plenamente aquela” (MARÍN, 2020, p. 55), “pois a glória de Deus é o homem
vivo, e a vida do homem é a visão de Deus [...]. O fim último da criação é que Deus Pai, criador
de tudo, tornar-se-á 'tudo em todos' (1 Cor 15, 28), procurando, ao mesmo tempo, a sua glória
e a nossa felicidade” (CEC. 294).
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d) Na perfeita identificação e conformidade de nossa vontade humana à vontade de
Deus.
Sintetiza muito bem o pe. Tanquerey (2017, p. 91) ao concluir que “a vida cristã
consiste, antes de tudo, numa união íntima, afetuosa e santificante com as três divinas
Pessoas”, fonte e origem, meta e fim de nossas vidas.
4. A VIDA ESPIRITUAL
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4.1. Graça Habitual ou Santificante
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (nª. 2000) a graça santificante é “um dom
habitual, uma disposição estável e sobrenatural para aperfeiçoar a própria alma e torna-la capaz
de viver com Deus, agir por seu amor, [isto é], disposição permanente para viver e agir
conforme o chamado divino”. Deus, para elevar o homem à participação na sua condição divina,
infunde na alma de cada pessoa humana, está graça, para fazê-lo participar de sua vida intima
e de sua natureza divina, elevando a vida cristã natural à uma vida essencialmente sobrenatural.
Ela é chamada de santificante “porque santifica realmente a todo aquele que tenha a
felicidade de possuí-la” (MARÍN, 2018, p. 70); é chamada de habitual porque é “a graça que
permanece em nossa alma [ou seja], é um dom que fica: é qualidade inerente à alma”
(BOULENGER, 2021, P.25). A graça santificante “é como um enxerto divino recebido na
própria essência de nossa alma para sobrelevar sua vitalidade e leva-la a produzir, não mais
apenas frutos naturais, mas frutos sobrenaturais, atos meritórios que merecem para nós a vida
eterna” (LAGRANGE, 2018, p.59).
É importante ressaltar que, fazendo-nos participantes da natureza divina, não significa
que faz de nós iguais a Deus, “mas unicamente seres deiformes, semelhantes a Deus; dá-nos,
não a vida divina em si mesma, que é essencialmente incomunicável, senão uma vida
semelhante à de Deus” (TANQUEREY, 2017, p. 93).
Uma vez recebido tal graça no Batismo, e devolvida a nós no Sacramento da Penitência,
quando temos a infeliz sorte de perdê-la por causa do pecado mortal, dela deriva e se desenvolve
na alma de cada cristão as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo, “que constituem, com
a raiz da qual procedem, o nosso organismo espiritual ou sobrenatural” (LAGRANGE, 2018,
p.60).
Conclui-se então, que existem três condições referentes a graça santificante, na qual
somo s chamados a cumpri-los em vista da perfeição da vida cristã: “primeiro, que a
conservemos permanentemente até o fim; segundo, que a recuperemos imediatamente se a
perdemos pelo pecado mortal; terceiro, que procuremos crescer em graça, com a ânsia de quem
vê o céu como meta” (TRESE, 2014, p. 95). Não são condições fáceis de realizar, mas que deve
ter de nossa parte um comprometimento sincero, nos afastando da sedução do mundo e do
pecado. E se por desventura, perdemos tão preciosíssimo dom, o próprio Deus concede ao
homem auxílios especiais, para mover a alma em busca da recuperação da graça santificante,
que são as graças atuais.
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4.2. A Graça atual
Quando falamos dos dons do Espírito Santo, podemos falar em sentido amplo e em
sentido próprio e restrito. Quando se fala em sentido amplo, “tudo quanto recebemos de Deus
são dons do Espírito Santo” (MARÍN, 2017, p. 119 e quando falamos em sentido próprio e
restrito, falamos de “certos hábitos sobrenaturais infundidos por Deus nas almas juntamente
com a graça santificante e as virtudes infusas.” (Ibdem.).
Tratando especificamente em sentido restrito, podemos definir os dons do Espírito Santo
como “hábitos sobrenaturais infundidos por Deus nas potências da alma para receber e auxiliar
com facilidade as moções do próprio Espírito Santo ao modo divino e sobre-humano” (MARÍN,
2017, p. 122). Nota-se, que nesse sentido, os dons, assim como as virtudes infusas, são
“qualidades ou disposições infusas permanentes” (LAGRANGE, 2018, p. 86), e, portanto,
“coincidem genericamente com as virtudes infusas que sempre acompanham, mas seu
mecanismo e funcionamento são completamente diferentes” (MARÍN, 2020, p.574).
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A diferença se encontra no fato de que as virtudes aperfeiçoam o homem na medida em
que elas são guiadas pela razão iluminada pela fé, enquanto que nos dons, é “o próprio Espírito
Santo, usando-os como seus instrumentos diretos e imediatos” (MARÍN, 2020, p.574), que os
regulam e governam, tornando “o homem prontamente dócil às inspirações divinas”
(LAGRANGE, 2018, p. 86).
Além de fazer com que o homem se torne “capaz de receber prontamente a inspiração
divina” (LAGRANGE, 2018, p. 85), os dons do Espírito Santo tem a finalidade de “ajudar as
virtudes infusas em casos imprevistos e graves, nos quais a alma não poderia lançar mão do
discurso lento e pesado da razão” (MARÍN, 2020, p. 576), e acima de tudo “sem serem mais
perfeitos que as virtudes teologais e sobretudo que a caridade, aperfeiçoam o exercício de todas
elas” (TANQUEREY, 2017, p. 101), “dando-lhes a modalidade divina própria dos dons, muito
superior à atmosfera ou modo humano a que têm que se submeter quando os controla e regula
a simples razão natural iluminada pela fé” (MARÍN, 2020, p. 576).
Tendo em vista a dupla finalidade dos dons, é que se nota a necessidade dessas
perfeições infusas, tanto para a salvação, quanto para a própria perfeição cristã. Diante da
realidade das tentações violentas e súbitas, “os dons são necessários para a salvação da alma e
agem sem falta em todos os cristãos em graça se a alma não se tornar indigna deles” (Ibdem.);
no segundo aspecto, isto é, em relação à perfeição das virtudes, os dons “são absolutamente
indispensáveis para alcançar a perfeição cristã” (Ibdem.)
Baseando-se na versão grega dos Setenta, como na Vulgata Latina do texto de Isaías
11,1-3, se enumera os dons do Espírito em Santo em sete, onde “cada um deles tem como
missão direta e imediata a perfeição de uma das setes virtudes fundamentais (teologias e
cardeais)” (MARÍN, 2020, p. 577). A saber: o dom de Sabedoria, de Entendimento, de Ciência,
de Conselho, de Piedade, de Fortaleza, e de Temor de Deus, que aperfeiçoam, respectivamente:
a virtude da Caridade, da Fé (tanto o Entendimento quanto a Ciência), da Prudência, da Justiça,
da Fortaleza, e por fim da Esperança e da Temperança (ambas pelo dom de Temor).
Quando a alma do cristão deixa-se mover pela ação divina dos dons, e corresponde a
esta moção fielmente, “Aquele que nos enxertou na verdadeira vida nos fará produzir os frutos
do Espírito” (CEC. 736), isto é, “atos excelentes de virtude que podem ser comparados aos
frutos sazonados de uma árvore” (MARÍN, 2017, p. 132). Segundo o Catecismo da Igreja
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Católica (nª. 1832) “os frutos do Espírito são perfeições que o Espírito Santo forma em nós
como primícias da glória eterna”.
Os frutos do Espírito podem ser muitos, mas baseado em São Paulo (Cf. Gl. 5, 22-23)
“a Tradição da Igreja enumera doze: caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade, bondade,
benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência, castidade” (CEC. 1832).
“Mais perfeita ainda que os frutos são as bem-aventuranças evangélicas” (MARÍN,
2017, p. 133) que, assim com os frutos, também são atos de perfeição que procedem tanto das
virtudes infusas como dos dons, “mas são tão perfeitos que deve-se atribuí-los aos dons, mais
do que às virtudes” (Ibdem.). Segundo o Catecismo, “as bem-aventuranças respondem ao
desejo natural de felicidade [...] e desvendam o objetivo da existência humana, o fim último dos
atos humanos” (CEC. 1718-1719).
É no Sermão do Senhor na Montanha (Cf. Mt. 5, 3-10) que são apresentadas as oito
Bem-Aventuranças evangélicas: “pobreza de espírito, mansidão, lágrimas, fome e sede de
justiça, misericórdia, pureza de coração, paz e perseguição por causa da justiça” (MARÍN,
2017, p. 133).
5. ESPIRITUALIDADE E ESPIRITUALIDADES
Todo cristão é chamado a viver segundo o espírito (Cf. Rm. 8, 9) que é “um viver
segundo Deus que informa toda a conduta do cristão: os seus pensamentos, desejos e obras
ajustam-se ao que o Senhor pede dele em cada instante e realizam-se sob o impulso das moções
do Espírito Santo” (NAVARRA, 1990, p. 576). A espiritualidade então, consiste exatamente
nesse modo de viver segundo o espírito, ou ainda, pode-se dizer que consiste na “vida de Deus
em nós ou a vida de Jesus em nós” (TANQUEREY, 2017, p. 81).
Chamada também de vida sobrenatural ou ainda vida interior, a espiritualidade consiste
em “uma participação da vida divina, conferida pelo Espírito Santo que habita em nós, em
virtude dos méritos de Jesus Cristo, a qual devemos cultivar contra as tendências opostas”
(Ibdem.). Ou ainda “é a vida do próprio Jesus Cristo em mim, pela fé, pela esperança e pela
caridade” (CHAUTARD, 2017, p. 22), o que envolve uma resposta fundamental e um processo
sincero e permanente de conversão e crescimento à pessoa de Jesus ao ponto de ter em si mesmo
os mesmos pensamentos e sentimentos de Cristo (Cf. Fl. 2, 5).
Uma vez que essa vida no espírito consiste exatamente na vida da própria Trindade que
habita cada alma, então a espiritualidade cristã “se baseia na Revelação cristã tal como é
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transmitida: na Sagrada Escritura e na Sagrada Tradição” (SANTOS, 2019, p. 42), isto é, “a
espiritualidade cristã se apoia de forma integral e essencial na doutrina de Jesus,
complementada com a de seus Apóstolos imediatos” (MARÍN, 2019, p. 15), o que nos permite
então afirmar que a espiritualidade cristã diz respeito a viver os valores do Evangelho, de Cristo,
do Espírito Santo.
É, enfim, “utilizar os dons divinos, para vivermos em Deus e para Deus, para vivermos
em união com Jesus, imitando-o” desenvolvendo a vida da graça que brota da ação permanente
do Espírito Santo, em cada circunstância concreta do dia a dia, pois “temos a obrigação de o
fazer crescer por meio dos atos meritórios e da fervorosa recepção dos sacramentos”, até que a
nossa alma e o nosso coração possa reclinar e descansar sob aquilo que é o essencial.
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pode optar por aquele ao qual se sinta chamado por Deus, que mais lhe convenha, segundo suas
necessidades e inclinações. E nesse sentido podemos distinguir as espiritualidades em:
Mas no fim, apesar dessa gama de realidades diferentes, os cristãos são impulsionados
pela única vida que é Jesus Cristo.
Sendo Cristo o único caminho que leva ao Pai (Cf. Jo. 14,6), todo cristão deve ter como
modelo da perfeição da vida cristã nesta única meta que é o próprio Cristo, de modo que “toda
a preocupação do cristão deve consistir em viver a vida de Cristo, em incorporar-se a Ele, em
deixar circular em suas veias, sem a menor resistência, a seiva vivificadora de Cristo” (MARÍN,
2020, p. 74).
Jesus realiza um papel profundamente essencial na vida espiritual de cada cristão, pois,
segundo Tanquerey, Ele é a causa meritória e exemplar da nossa vida espiritual, é a Cabeça de
um Corpo Místico e fonte de vida.
Pelos seus méritos, Jesus reconquistou os nossos direitos à graça e à glória; pelos seus
exemplos, mostra-nos como devemos viver, para nos santificarmos e merecermos o
céu; mas é, antes de tudo, a cabeça de um corpo místico de que nós somos os membros;
é, pois, a causa meritória, exemplar e vital da nossa santificação (TANQUEREY,
2017, p. 106).
É deste modo, e é por isso, que cada cristão levará a cabo o chamado de Deus à
santificação de cada homem, por meio de sua configuração intima e pessoal com Jesus Cristo.
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6.3. Fundamento Eclesiológico
Uma vez que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo (Cf. Cl. 1, 18; Icor. 12, 12-23), e
portanto, Sacramento Universal de Salvação (Cf. CEC. 849), “ela completa e encerra o ciclo da
obra salvífica de Deus com relação ao homem e estabelece o ponto de partida e de nosso retorno
a Deus” (MARÍN, 2020, p. 99).
É também, por conseguinte, fundamento necessário para aquela vida perfeita à qual
todos são chamados, pois “ninguém pode se salvar sem estar vinculado a ela de alguma
maneira” (MARÍN, 2018, p. 317). Uma vez que a vida no espírito requer a íntima união com o
Deus Uno e Trino, que age em nós nos santificando pelo Espírito, por meio da perfeita imitação
do Filho, inclui deste modo a participação nesta Sociedade Perfeita que é o Corpo Místico do
Senhor, na qual “a esta sociedade da Igreja estão incorporados plenamente aqueles que,
possuindo o Espírito de Cristo, aceitam a totalidade de sua organização e todos os meios de
salvação nela estabelecidos, e em seu corpo visível estão unidos com Cristo” (Ibdem.).
Estando unido a Cristo, está também unido a Igreja, onde inclusive, encontramos todos
os meios ordinários e necessários para uma autêntica vivência cristã da doutrina evangélica e
da vida espiritual.
Por fim, ainda no que se refere aos fundamentos da vida espiritual, “não se pode tratar
da ação de Cristo, mediador universal, sobre seu Corpo místico, sem falar também da influência
de Maria Medianeira” LAGRANGE, p. 143), que desempenha um papel tão importante em
nossa vida espiritual, já que foi “constituída Mãe dos homens” (TANQUEREY, 2017, p. 117),
e como “mãe espiritual de todos os homens deve dar-lhes a vida espiritual [...] moralmente,
pelo mérito de conveniência (LAGRANGE, 2018, p. 150).
Não há dúvidas de que “Maria é, simplesmente, o caminho mais curto e seguro para
chegar a Cristo, e por Ele ao Pai, e nisso está contido toda a nossa santidade” (MARÍN, 2020,
p. 89). A devoção a Ela, constitui assim, algo fundamental na vida de todo e qualquer cristão,
pois, Deus mesmo “quis associar de tal modo Maria na obra divina da redenção e santificação
do gênero humano que, na atual economia, sem ela, não seria possível conquista-las” (Ibdem.)
E ela cooperou nesta obra redentora de seu Filho, desde o seu “fiat” livre até a
consumação; “mas foi sobretudo ao pé da Cruz que Maria cooperou com o sacrifício de Cristo,
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unindo-se a ele pela satisfação ou reparação e pelo mérito, mais intimamente do que se poderia
exprimir” (LAGRANGE, 2018, p. 147)
Por fim, se a vida espiritual consiste também na imitação de Jesus Cristo, depois d’Ele,
“Maria é o maior belo modelo que é possível imitar [pois] o Espírito Santo que, em virtude dos
merecimentos de seu Filho, nela vivia, fez dela uma cópia viva das virtudes desse Filho”
(TANQUEREY, 2017, p. 118).
Visto que a Teologia Espiritual é um dos ramos da Sagrada Ciência, também ela possuiu
as mesmas fontes comuns a toda a teologia.
Segundo Royo Marín (2020, p. 47) “os livros inspirados proporcionam os princípios
fundamentais sobre os quais deve ser construída a teologia da perfeição”; mesmo que não
encontremos neles a síntese da teologia espiritual, encontramos, contudo, riquíssimos
conteúdos soba forma de “doutrinas especulativas sobre Deus; [...] uma doutrina moral
composta de preceitos e conselhos; [...] orações para nos alimentar a piedade e a vida interior;
[...] exemplos que nos arrastam à prática da virtude” (TANQUEREY, 2017, p. 43).
A Tradição “é outra fonte primária da teologia em todas as suas partes, que vem
completar o depósito da divina revelação contido nas Sagradas Escrituras” (MARÍN, 2020, p.
47), “transmitindo-nos verdades que não estão contidas nesta, e ademais interpreta-a de uma
maneira autêntica” (TANQUEREY, 2017, p. 44).
Para Marín (2020, p. 47) a Tradição “conserva-se e se manifesta autenticamente pelos
ensinamentos da Igreja, seja por seu Magistério solene (definições dogmáticas, símbolo e
profissão de fé), seja pelo seu Magistério ordinário, exercido sobretudo pelos ensinamentos e
pregações dos pastores da Igreja”.
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7.3. A razão iluminada pela Fé
O homem, que por natureza é um ser racional, pode chegar ao conhecimento da verdade,
tanto natural como sobrenatural, por meio deste dom dado por Deus, que é a razão natural.
Contudo, os princípios fundamentais para o estudo da espiritualidade são verdades reveladas, é
preciso que a razão natural seja “guiada e aperfeiçoada pelas luzes da fé” (TANQUEREY, 2017,
p. 45), “uma vez que é preciso deduzir as conclusões virtualmente contidas nos princípios”
(MARÍN. 2020, p. 47), e “aplicar os princípios e regras gerais a cada pessoa em particular”
(TANQUEREY, 2017, p. 46), tendo em vista a integralidade e a totalidade de cada indivíduo.
8. A DIREÇÃO ESPIRITUAL
Uma vez que o caminho da santidade está repleto de dificuldades, “a direção espiritual
é moralmente necessária para alcançar a perfeição cristã” (MARÍN, 2018, p. 43), pois ela é um
grande auxílio “para adquirir virtudes e extirpar defeitos, e, principalmente, de crescimento na
intimidade com Deus e cumprimento de sua vontade” (SANTOS, 2019, p. 23), certos de que
“todos são chamados à santidade, e a direção espiritual é um meio excelente de resposta a esse
chamado divino” (Ibdem. p. 34). Podemos dizer, como definição que:
A direção espiritual é a ajuda dada por um cristão (diretor) a outro (dirigido), ajuda
essa que capacita o dirigido a prestar atenção à comunicação pessoal de Deus com ele,
a responder a esse Deus pessoalmente comunicante, a aumentar a sua intimidade com
Ele e a viver as consequências desse relacionamento (SANTOS, 2019, p. 28).
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Nesse sentido, o diretor espiritual deve ser sábio, discreto, experimentado, discreto,
versado nas ciências dogmáticas e moral, ascética e mística, vida espiritual, intensa piedade,
zelo ardente pela santificação das almas, grande bondade e suavidade de caráter, profunda
humildade, profundo desinteresse e desprendimento (Cf. MARÍN, 2018, p. 47-54).
Por outro lado, o dirigido é “toda pessoa que, aspirando seriamente à perfeição cristã,
se colocou voluntariamente sob o regime e o governo de um diretor espiritual” (Ibdem. p. 55).
Para que a direção espiritual possa cumprir com maior êxito possível o seu objetivo, além das
qualidades do diretor, exige também algumas qualidades e deveres dos dirigidos, que podemos
dividir em duas categorias (Cf. Ibdem, p. 57 – 61):
a) Com relação à própria direção: o dirigido tenha plena sinceridade e abertura de
coração, plena docilidade e obediência, perseverança e discrição absoluta;
b) Com relação ao diretor: tenha o dirigido, respeito, confiança e amor sobrenatural.
9. CONCLUSÃO
Diante do apelo incessante de Deus à que sejamos santos, o tratado a Teologia Espiritual,
que tem por finalidade própria expor a doutrina da perfeição cristã em toda a sua extensão,
apresentando inclusive os meios para isso, mostra-nos também, que é um dever moral de cada
cristão responder com sinceridade e se esforçar ao máximo no caminho da configuração total à
Cristo, rumo a santidade de vida. Mas para que cada cristão possa atingir e realizar tais meios,
é preciso que conheçam, não meramente no âmbito intelectual ou ideal, mas que uma vez
conhecendo possam amar e fazer uma experiência profunda de mudança de vida, pois cabe a
cada cristão desenvolver a graça recebida no Batismo até chegar à idade adulta.
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BIBLIOGRAFIA
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