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CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES

“SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS”

FELIPE SERPA AGUILAR

AS VIRTUDES TEOLOGAIS APLICADAS À CONFIGURAÇÃO COM


CRISTO: Estudo sobre conceitos de Royo Marin

Prof. Dr. Pe. Ronaldo José Miguel


Introdução à Teologia

São José do Rio Preto


2023
Quando se pensa na configuração à pessoa de Jesus Cristo, pensa-se
em uma configuração total e imersiva da pessoa humana. Essa aproximação
ao estado de perfeição exige uma mudança radical de postura e de conduta,
mas também carece da alteração da forma de se interagir intelectualmente com
a realidade. É possível constatar que o correto pensar deve estar em
conformidade com o proceder humano, e é nisso que repousa toda expectativa
na vivência das virtudes. As virtudes podem ser entendidas como uma
adequação do pensar e do agir humano em conformidade com o que é correto
para a conduta moral. Segundo sua definição, ela é:

Disposição constante do espírito que nos induz a exercer o


bem e evitar o mal; conjunto de todas ou qualquer das boas
qualidades morais; ação virtuosa; austeridade no viver;
qualidade própria para produzir certos e determinados
resultados. (PRIBERAM, 2023).
A premissa máxima de “fazer o bem e evitar o mal” não pode ser
facilmente desassociada da experiência religiosa, que tanto divulga a
necessidade de se viver, até a última consequência, este mesmo princípio. Ela,
a virtude, não é particular. Suas categorias são universais e seguem princípios
lógicos que não permitem mudanças. O que era virtude desde os primórdios,
continua sendo virtude nos dias de hoje. Isso acontece pois, como visto em
aspectos filosóficos, as virtudes estão pautadas em princípios metafísicos
transcendentais, em especial ao que é “uno” e “verdadeiro”.

Embora as definições metafísicas sobre as virtudes sofram alterações


dependendo da tradição, temos algumas unanimidades quando a serem
qualidades morais ou éticas que são desejáveis para uma vida virtuosa. As
virtudes podem ser entendidas como parte inerente da natureza humana, que
integram o homem, e, desenvolvê-las e aprimorá-las seriam formas de se
alcançar a realização pessoal em profunda conexão com a realidade. Essa
visão geralmente é tratada como uma abordagem otimista dessa natureza
humana, pois seriam a sua realização um vislumbre de liberdade. Neste
sentido, o seu oposto são os chamados “vícios”, que aprisionam o ser humano.

As virtudes também podem ser ideias transcendentais. Algumas


filosofias, principalmente as ligadas a religião, apontam que as virtudes
possuem origens divinas ou espirituais. A fé católica se baseia nesta mesma
premissa, afinal, todo o agir moral procede de Deus.

As virtudes humanas radicam nas virtudes teologais, que


adaptam as faculdades do homem à participação na natureza
divina (65). De fato, as virtudes teologais referem-se
diretamente a Deus e dispõem os cristãos para viverem em
relação com a Santíssima Trindade. Têm Deus Uno e Trino por
origem, motivo e objeto. (CIC, Nº 1812)
O padre espanhol Antonio Royo Marín divide as virtudes em duas
categorias principais, sendo elas as “virtudes adquiridas” e as “virtudes
infusas”.

As virtudes adquiridas são intrínseca e entitativamente naturais


(quoad substantiam et quoad modum). As virtudes infusas são
intrínseca e entitati-vamente sobrenaturais (quoad
substantiam), mas independentes da influência dos dons do
Espírito Santo, ou seja, são geridas e executadas pelo homem
e, assim, produzem seus atos ao modo humano, conatural ao
homem. Os dons do espirito santo são sobrenaturais nos dois
sentidos (quoad substantiam e quoad modum). (ROYO MARÍN,
p. 36, 2020)
Tanto uma quanto a outra dependem da necessidade de
aperfeiçoamento da parte do homem, que a exerce livremente para que seus
dons sejam aflorados. É nesta perspectiva que as virtudes teologais começam
a se distinguir das demais virtudes humanas. Elas são consideradas virtudes
infusas, pois, segundo a doutrina católica, são virtudes que recebemos do
Espírito Santo no momento do batismo. Elas começam então a despontar
como caminhos seguros que levam o homem para um verdadeiro encontro
com Cristo ressuscitado e que vive plenamente, orientando-o para uma sincera
intimidade com Deus.

Logo, é necessário que o entendimento das três virtudes teologais seja


claro. O catecismo da Igreja nos aponta que “as virtudes teologais
fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão, Informam e
vivificam todas as virtudes morais” (CIC, Nº 1813), o que corrobora com a
percepção filosófica. Ainda segundo o catecismo, elas “são infundidas por
Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de proceder como filhos seus e
assim merecerem a vida eterna” (CIC, Nº 1813). Elas são verdadeira
expressão da presença do Espírito Santo, que nos ensina o bem viver, e,
portanto, são divididas em três: Fé, Esperança e Caridade.
Antes de aprofundar nas virtudes teologais propriamente ditas, é
fundamental considerar alguns aspectos quanto as diferentes formas de se
nomear as virtudes, ou seja, os diversos termos pelos quais elas são
conhecidas; e a realidade por detrás destes termos que as representam. No
que diz respeito a sua nomenclatura, é importante ter em mente que elas
costumam receber dois tipos de denominação: a chamada Lato Sensu (de
forma geral) e a Stricto Sensu (de forma específica). A denominação lato sensu
se baseia no sujeito, causa ou meio pelo qual são reconhecidas; a stricto sensu
vai de acordo com o objeto ou a natureza particular de cada uma delas.

A forma geral (lato sensu) de as denominar, dentro da perspectiva


católica, faz com que as virtudes possam serem referidas como: virtudes
católicas, devido ao fato de serem características intrínsecas da experiência do
fiel cristão; de virtudes infusas, que como visto anteriormente, entram na
perspectiva da razão própria de Deus, que por meio de Sua graça e por ser
causador delas, atribui tais virtudes aos seres humanos; e podem ser
chamadas também de virtudes teologais, em virtude do conhecimento divino
que foi revelado por Deus, que se tornam meios pelo quais possam serem
compreendidas.

Já no sentido específico (stricto sensu) as virtudes teologais são


geralmente denominas de acordo com sua forma ou objeto específico, e, por
este motivo, são distinguidas como: Fé, cujo objetivo é a Verdade primordial,
que havendo sido comunicada e revelada, sabemos se tratar da própria pessoa
de Cristo e a sua mensagem da Boa Nova;

A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o


que Ele nos disse e revelou e que a santa Igreja nos propõe
para acreditarmos, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, «o
homem entrega-se total e livremente a Deus» (67). E por isso,
o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus. «O justo
viverá pela fé» (Rm 1, 17). A fé viva «atua pela caridade» (Gl 5,
6). (CIC, Nº 1814)
A fé só pode acontecer de maneira plena através de Deus e de sua
revelação. Não se pode pensar na dimensão da fé cristã sem pensar na
unidade trina que Cristo traz como mensagem:

Paulo lembra aos Efésios que, antes do seu encontro com


Cristo, estavam « sem esperança e sem Deus no mundo » (Ef
2,12). Naturalmente, ele sabe que eles tinham seguido deuses,
que tiveram uma religião, mas os seus deuses revelaram-se
discutíveis e, dos seus mitos contraditórios, não emanava
qualquer esperança. Apesar de terem deuses, estavam « sem
Deus » e, consequentemente, achavam-se num mundo
tenebroso, perante um futuro obscuro. (BENTO XVIII, p. 4
2007)
A Esperança, cujo objetivo é a Suprema Bondade, que é considerada
um bem alcançável para nós, vem de encontro com os anseios da Vontade.
Essa vontade é a que implanta em nós o desejo e a aspiração a buscar as
coisas do alto, a Deus em si mesmo.

A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino


dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a
nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não
nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo.
«Conservemos firmemente a esperança que professamos, pois
Aquele que fez a promessa é fiel» (Heb 10, 23). «O Espírito
Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós, por meio
de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, justificados pela sua
graça, nos tornássemos, em esperança, herdeiros da vida
eterna» (Tt 3, 6-7). (CIC, Nº 1817)
Por último temos a Caridade, que tem como objetivo a Suprema
Bondade como um bem em si mesma, a saber, a experiência do próprio Amor
Encarnado. “A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre
todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor
de Deus” (CIC, Nº 1822)

Em grau de perfeição e de prioridade, a caridade possui a primazia.


Tanto a fé quanto a esperança, possuem caráter temporal que as limitam na
eternidade. Pensa-se que diante da face de Deus, não se precisará mais viver
a dimensão da fé e da esperança, pois o seu fim último já terá sido alcançado
de maneira plena. Já se tratando da Caridade, por ser ela o Bem Supremo,
nunca estaremos na completude do amor de Deus, mas sim seremos
adoradores em espírito e verdade deste mesmo amor. Isso está de acordo com
as palavras de São Paulo na primeira carta aos Coríntios 13:13, onde ele
afirma que, entre as três virtudes teologais, a maior delas é a caridade, pois ela
não só é especificada por um objeto formal de excepcional excelência, como
também aprimora os atos das outras duas virtudes, tornando-os meritórios para
a vida eterna.
Quando se trata sobre a configuração inicial da vida cristã à pessoa de
Jesus Cristo, o padre e teólogo espanhol Antonio Royo Marin diz que:

A configuração com Cristo é a própria finalidade da nossa vida


cristã ordenada para a nossa santificação, inclusive com vistas
à glorificação de Deus, finalidade última e absoluta da criação.
No plano atual da divina Providência, não nos podemos
santificar, nem glorificar a Deus, senão por Jesus Cristo e
n'Ele. (ROYO MARÍN, p. 74, 2020)
Logo, tendo a pessoa do próprio Cristo como fonte central da
observância da vida, ele divide a nossa configuração à pessoa Dele em duas
partes: a primeira trata sobre os mistérios de Cristo e a segunda de como
podemos viver estes mistérios.

Nesta primeira parte, que trata sobre os mistérios de Cristo, o autor


apresenta que é possível compreender a Sua pessoa através do tríplice múnus
que Ele próprio se intitulou: Ele que é Caminho, Verdade e Vida. Jesus possui
centralidade na vida dos crentes, conforme emprega a visão de São Paulo. O
"mistério de Cristo" é enfatizado, sendo descrito como o segredo escondido no
qual "toda a plenitude da divindade" (Cl 2,10) reside corporalmente. Faz parte
do ponto central desta discussão que os cristãos encontram nele a plenitude de
tudo, preenchendo-se com a divindade de Deus.

Ele próprio se intitula como o único caminho para o Pai conforme visto
no evangelho de São João quando Ele diz que “ninguém pode ir ao Pai se não
por mim” (Jo 14,6). Não há outra maneira de salvação, e a santidade é
alcançada por meio da participação na vida divina que Jesus trouxe. A
predestinação divina à santidade é ressaltada como um ato de Deus, que nos
elegeu antes da fundação do mundo e deliberadamente decidiu por se revelar
à humanidade.

A redenção realizada por Jesus é vista como a restauração do plano


divino de salvação, que foi comprometido pelo pecado de Adão. A partir desse
ponto, Jesus se torna o único caminho para o Pai, e sem Ele, nada pode ser
alcançado. A ênfase está na incorporação do crente em Cristo e a necessidade
de que a vida de Cristo flua por eles:

São Paulo não encontrava, na linguagem humana, palavras


exatas para expressar esta realidade inefável da incorporação
do cristão à sua divina Videira. A vida, a morte, a ressurreição
do cristão: tudo deve estar intimamente unido a Cristo. Diante
dessa impossibilidade, criou expressões inteiramente novas,
desconhecidas até então, que tampouco traziam a completude
do significado, tais como: morremos com Cristo (2Tm 2,11),
com Ele fomos sepultados (Rm 6,4), com Ele ressuscitamos (Ef
2,6); fomos vivificados (Ef 2,5) e unidos a Ele (Rm 6,5), para
que vivamos com Ele (27m 2,11), para que nos assentemos
com Ele no céu (Ef 2,6). (ROYO MARÍN, p. 76, 2020)
Royo Marín busca destacar as expressões criadas por São Paulo para
expressar essa realidade de união com Cristo, enfatizando que a vida, morte e
ressurreição daquele que crê devem estar intimamente ligadas a pessoa divina.
Cristo é o único caminho para a santidade de acordo com este plano salvífico,
e os crentes devem viver suas vidas em conformidade com Ele. Pontos de
convergência entre esta mesma perspectiva e as virtudes que o catecismo
aponta como caminhos para essa mesma santificação começam a se tornarem
mais claros.

A segunda premissa é a de Cristo como Verdade. Ele é a Verdade


absoluta e integral. Ele, enquanto Verbo Encarnado, comunica a humanidade
todos os tesouros da sabedoria e da ciência de Deus. Ele é a plena realização
da Revelação do Pai que se comunica a toda a humanidade de maneira
pessoal e íntima. Isso, segundo Royo Marín, acontece de três formas: Na
pessoa do Cristo, nas suas obras e na sua doutrina.

Enquanto em sua pessoa Jesus Cristo é visto como o exemplo supremo


de filiação divina, pois Ele é Filho de Deus por natureza, enquanto os crentes o
são por adoção e graça. Portanto, a graça santificante que compartilham com
Cristo torna possível que se tornem verdadeiros filhos de Deus. A ênfase está
em contemplar Jesus e incorporar a atitude de filho diante do Pai celestial,
como também é ensinado por Jesus. Já com relação as suas obras, Jesus não
apenas ensinou virtudes, mas também as praticou Ele própria em sua vida. Ele
viveu o que ensinou, e sua vida e doutrina eram um todo harmonioso, refletindo
constantemente a glória de Deus. A encarnação de Cristo teve como um de
seus objetivos dar aos crentes um exemplo completo de todas as virtudes,
mostrando como elas podem ser vividas. Por último, quanto a sua doutrina,
temos que o saber de Jesus não se confunde com a razão puramente humana.
A ele fica reservado tipos distintos de conhecimento, a saber, em especial, a
ciência divina e a beatífica. No entanto, Ele escolheu compartilhar esses
tesouros com os filhos adotivos na medida necessária para suas vidas. A
doutrina de Cristo, especialmente em suas bem-aventuranças e no Sermão da
Montanha, é considerada como um código divino de perfeição e santidade.
Abrir o Evangelho de Jesus Cristo e absorver sua Verdade é visto como o
caminho para Deus, e os santos frequentemente preferem as palavras do
Evangelho aos livros escritos pelos homens.

Para completar esta etapa de configuração a Cristo em seu mistério,


temos que ele é a Vida. Isso representa o aspecto mais profundo e
emocionante do mistério de Cristo em relação a nós. O capítulo explora as três
principais maneiras pelas quais Cristo é nossa Vida.

Primeiramente, Jesus Cristo é a causa meritória da graça, e seu mérito


está intrinsecamente ligado ao seu sacrifício redentor, proporcionando uma
satisfação plena e exaustiva à justiça divina. Sua encarnação foi necessária
para a redenção do gênero humano. Por segundo ponto, Jesus Cristo é a
causa eficiente de nossa vida sobrenatural. Todas as graças que a
humanidade recebe vêm Dele como única fonte e manancial, tornando a graça
uma "graça de Deus cristificada. Isso pode ser visto também quando ele
confirma a vinda do Espírito Santo sobre a humanidade em Pentecostes e que
permanece viva na Igreja especialmente através dos sacramentos. Logo, o
terceiro ponto aponta Cristo como a fonte de vida sobrenatural. A sua
humanidade santíssima é o instrumento unido à sua divindade que produz
eficientemente a vida sobrenatural. Essa graça é comunicada de várias
maneiras, o instrumento unido à sua divindade que produz eficientemente a
vida sobrenatural. Essa graça nos é comunicada de várias maneiras.

Faz parte da evolução do amor para níveis mais altos, para as


suas íntimas purificações, que ele procure, agora, o caráter
definitivo, e isso num duplo sentido: no sentido da
exclusividade - "apenas esta única pessoa" - e no sentido de
ser "para sempre". O amor compreende a totalidade da
existência em toda a sua dimensão, inclusive a temporal. Nem
poderia ser de outro modo, porque a sua promessa visa ao
definitivo: o amor visa à eternidade. (BENTO XVI, p. 14, 2006)
De nada faria sentido se toda a vida de Cristo não nos servisse para
uma verdadeira aproximação amorosa que nos conduzisse à eternidade.
Dessa maneira, mesmo as nossas fraquezas e debilidades fazem parte da
nossa jornada. Já dizia Tomás de Kempis, em sua obra “Imitação de Cristo”
que “Toda a perfeição, nesta vida, é mesclada de alguma imperfeição, e todas
as nossas luzes são misturadas de sombras” (KEMPIS, p. 65. 2019). Ele
aponta ainda que

O humilde conhecimento de ti mesmo é caminho mais certo


para Deus que as profundas pesquisas da ciência. Não é
reprovável a ciência ou qualquer outro conhecimento das
coisas, pois é boa em si e ordenada por Deus; sempre, porém,
devemos preferir-lhe a boa consciência e a vida virtuosa.
Muitos, porém, estudam mais para saber, que para bem viver;
por isso erram a miúdo e pouco ou nenhum fruto colhem.
(KEMPIS, p. 66. 2019).
Ao se agrupar tais linhas de pensamento, temos que a vida conforme a
de Cristo é a fonte e chave de leitura para a eternidade, que vivendo
plenamente em seu amor estaremos cumprindo com nosso verdadeiro destino,
e, que até mesmo as nossas imperfeições fazem parte deste projeto. Afinal,
mesmo ciente de todo o pecado da humanidade, o projeto de salvação e
redenção sempre esteve igualmente presente.

CONCLUSÃO

A configuração com a pessoa de Jesus Cristo é a causa última das


nossas ações que nos levarão a estar na Sua presença na eternidade. Esta
configuração só pode acontecer quando estiver em total conformidade com as
virtudes teologais. Tanto a Esperança quando a Fé são critérios necessários
para se estabelecer a linha guia que nos oriente para a Santidade. A Caridade,
como a maior das virtudes, é a verdadeira expressão do amor que transcende
a nossa própria existência e vai de encontro ao nosso próximo, e, em última
instância, nos ensina a “amar a Deus sobre todas as coisas”. É através da
configuração de cada pessoa a viver o amor da forma como Deus nos amou
que realmente será possível alcançar a graça da santidade.

Ao evitar o mal e buscar praticar o bem, temos que a nossa disposição


interior é necessária para iniciar este caminho. Contudo, de nada adiantaria
fazer isso se não houvesse uma finalidade a ser alcançada. A confirmação
dessa finalidade se dá nas virtudes teologais que nos são infusas. Recebemos
como dom aquilo que nos é tão precioso que pode nos levar à eternidade em
Deus. A fé e a esperança só fazem sentido se cremos em Deus e esperamos
alcança-Lo na vida eterna. O próprio Cristo viveu plenamente estas virtudes e
nos ensinou como exercitá-las, afinal, como seria possível ser obediente até a
morte se não houvesse nele próprio a fé e a Esperança no Pai?

Contudo, a virtude só pode se tornar virtude se o seu exercício for


deliberado, do contrário seria apenas uma maquinação. Assim, a virtude da
Caridade se ratifica como a virtude por excelência. Mesmo que o homem nunca
possa alcançar a plenitude do Amor de Deus, a prática daquilo que Ele próprio
é, nos torna semelhantes a Ele. Ou seja, em outras palavras, a verdadeira
expressão da configuração à Cristo é amar. Amar de maneira profunda e
enraizada que nos leve ao máximo dessa expressão, da mesma forma como
Cristo nos amou, dando a vida por nós.

Compreender que Cristo é Caminho, Verdade e Vida, em suma, é


reconhecer que o seu amor pelo Pai e a sua participação na Santíssima
Trindade, no projeto salvífico, na redenção do mundo, no resgate da
humanidade perdida em Adão, são resultados de uma experiência de amor que
transcende de maneira infinita a nossa própria compreensão. Deus nos amou
de tal maneira, que mesmo que nunca consigamos compreender e retribuir
este amor, ainda possuímos o dever de passar toda a nossa vida nos
moldando a este amor. Acolhendo-o, abraçando-o, e amando-o de maneira
recíproca até estarmos tão embebidos nisso que possamos contemplá-lo face
a face na eternidade. Só faremos isso se seguirmos efetivamente o caminho
que ele nos aponta, sem duvidar da verdade que Ele nos comunicou, e
acreditar que a Vida por excelência, que se fez carne e habitou entre nós, nos
levará até o Pai.
REFERÊNCIA:

BENTO XVI. Spe Salvi. Carta Encíclica sobre a Esperança Cristã, nº192,
2007.

_________. Carta Encíclica Deus Caritas Est. São Paulo: Paulinas, 2006.

CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000. p. 230-231; CIC.


798.

KEMPIS, Tomás de. Imitação de Cristo. São Paulo: Paulus, 2019.

ROYO MARIN, Antonio. Teologia da Perfeição Cristã. Anápolis: Editora


Magnificat, 2020.

"VIRTUDE", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-


2023, https://dicionario.priberam.org/virtude.

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