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Sumário

1. Creio

a. Fé
i. O que não é? Fideísmo, assentimento intelectual
ii. Convicção na Mensagem
iii. Caráter Existencial e Obediência

b. O Ser Humano é Essencialmente Religioso


i. Coração – o Centro da Existência Humana
ii. O Mito da Neutralidade Religiosa
iii. Pressuposição e Testemunho

2. Trindade
a. A Visão Bíblica da Trindade
b. O Significado da Trindade
c. Os Papéis Distintos da Trindade

3. Deus Pai
a. Paternidade
b. Todo Poderoso
c. Criador

4. Deus Filho
a. Identidade
b. Senhorio
c. Encarnação

5. Deus Filho
a. Historicidade
b. Morte e Ressurreição
c. Exaltação e Juízo

6. Espírito Santo de Deus


a. Iluminação
b. Dons
c. Fruto

7. Igreja
a. A Igreja é Uma
b. A Igreja é Santa
c. A Igreja é Católica
d. A Igreja é Apostólica

8. Verdades e Aspectos Práticos


a. Comunhão dos Santos
b. Perdão dos Pecados
c. Ressurreição e Vida Eterna
Introdução
O Credo Apostólico

Origem

O Credo Apostólico, o mais conhecido dos credos, é atribuído pela tradição aos doze
apóstolos. Mas os estudiosos acreditam que ele se desenvolveu a partir de pequenas
confissões batismais empregadas nas igrejas dos primeiros séculos. Embora os seus
artigos sejam de origem bem antiga, acredita-se atualmente que o credo apostólico só
alcançou sua forma definitiva por volta do sexto século, quando são encontrados
registros do seu emprego na liturgia oficial da igreja ocidental. De um modo ou de
outro, parece evidente sua conexão com outros credos antigos menores; como os
seguintes:

Creio em Deus Pai Todo-poderoso, e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso
Senhor. E no Espírito Santo, na santa Igreja, na ressurreição da carne.

Creio em Deus Pai Todo-poderoso. E em Jesus Cristo seu único Filho nosso
Senhor, que nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria; concebido sob o poder
de Pôncio Pilatos e sepultado; ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao céu e está
sentado à mão direita do Pai, de onde há de vir julgar os vivos e os mortos. E no
Espírito Santo; na santa Igreja; na remissão dos pecados; na ressurreição do
corpo.

O Credo Apostólico, assim como os Dez Mandamentos e a Oração Dominical, foi


anexado, pela Assembléia de Westminster, ao Catecismo. “Não como se houvesse sido
composto pelos apóstolos, ou porque deva ser considerado Escritura canônica, mas por
ser um breve resumo da fé cristã, por estar de acordo com a palavra de Deus, e por ser
aceito desde a antigüidade pelas igrejas de Cristo.”

Texto em Português

Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra.

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do
Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi
crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu;
está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos
e os mortos.

Creio no Espírito Santo; na Santa Igreja Universal; na comunhão dos santos; na


remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.1

1
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1. Creio

1.1- Fé

O Que Não é Fé

É muito comum, infelizmente, as pessoas confundirem a fé cristã com aquilo que é


denominado de “fideísmo”. Esse implica, de forma simples, na fé em si mesma, a fé na
fé. É como se o simples fato de possuir fé fosse o suficiente para se obter o favor divino.
O que não falta, hoje em dia, são pessoas que projetam as mais diversas expectativas em
Deus, aguardando que essas sejam supridas. No relato da tentação de Jesus no deserto,
vemos em Lucas 4.9-12 inclusive, que essa foi uma proposta diabólica.
Outro equívoco em relação a fé, diz respeito a um problema tratado pelo apóstolo Tiago
em sua carta (ver cap. 2.14-26). O de transformar a fé tão somente em assentimento
intelectual. A Fé cristã não é concordar com uma narrativa ou doutrina tão somente, é
muito mais profundo do que isso.
Certeza e Conviccção
Em Hebreus 11.1 temos a descrição do que é fé:
“Ora a fé é a certeza das coisas que esperamos e a convicção dos fatos que não
vemos”.
De modo preciso, a bíblia ensina que a fé é uma confiança no caráter de Deus, contudo
o embasamento para essa confiança ocorre através da revelação. Deus se comunicou
através de proposições aos homens, assim nossa fé não é projetada no escuro ou nas
expectativas humanas, mas sim, na Palavra de Deus. Ela se torna nosso fundamento,
possuímos certeza e convicção de sua solidez para construirmos nossas vidas (Mt 7.24-
29).
A fé cristã não anula a razão humana, por isso o apóstolo Paulo afirma que o nosso culto
é racional (Rm 12.1). Aliás, o primeiro mandamento implica em amar a Deus com o
entendimento (Marcos 12.30), e a preguiça intelectual, portanto, constitui-se em pecado,
neste sentido.
O que se pode afirmar é que a fé na Palavra transcende nossa razão. Em João 2, por
exemplo, Jesus manda encher as talhas de água e servir ao mestre sala. Do ponto de
vista da lógica, não faz sentido levar água ao sujeito que está aguardando o vinho. Mas
ao acatar a ordem de Jesus (possível de entender pela razão), a água se transformou em
vinho, (milagre que está além da razão). Assim, diferente do fideísmo, não se incorre no
irracionalismo ou vazio, mas numa fé, que embora transcenda a razão humana, não a
anula. Antes, leva o crente a acolher tal palavra, tendo confiança para obedecer ao seu
Senhor, fato que difere por sua vez, do mero assentimento intelectual.
Caráter Existencial e Obediência
A fé genuína leva o crente a tornar o evangelho concreto em sua existência.
Por um lado, esse despertamento é efetuado pelo próprio Deus no coração do homem. É
um aspecto subjetivo. O evangelista John Wesley chamou de experiência do “coração
aquecido”. Não se limita a relação objetiva do leitor ou ouvinte com as escrituras
sagradas, mas da certeza revelada pelo Espírito Santo no íntimo do cristão quanto ao
conteúdo da mensagem. Somos projetados numa relação com o Deus para o qual o livro
aponta. Não estudamos um personagem histórico, e sim, nos relacionamos com o Cristo
que ressurgiu dentre os mortos, com Aquele que vive!
Por outro lado, testificamos essa fé com obediência a Jesus Cristo, afinal a obediência é
proveniente da fé – Romanos 1.5. O verdadeiro cristão mostrará frutos em sua vida.

1.2- O Ser Humano é Essencialmente Religioso


Eclesiastes 3.11 afirma que “Deus colocou a eternidade no coração do homem”. O
apóstolo Paulo em Romanos 1.18-23 declara que os homens podem obter conhecimento
de Deus através das coisas criadas, no entanto, eles suprimem essa verdade pela
injustiça. É por esse motivo, que certo pensador declarou que o contrário do
cristianismo, não é o ateísmo, como se pensa, mas a idolatria.
Coração – O Centro da Existência Humana
A definição bíblica mais importante sobre o homem possui relação com o coração. Mas
não como órgão, nem como emoções (como muitas vezes se pensa), e sim como o
centro de nossas decisões. A ideia é de um ser deliberante, a expressão diz respeito a
centralidade dos pensamentos, sentimentos, vontade e decisões humanas. É ali que o
homem decide entre Deus ou um ídolo. E essa decisão afeta todo restante de nossa vida,
nossa visão do mundo é definida por isso. Veja o que declara o sábio em Provérbios
4.23: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem
as fontes da vida”.
O Mito da Neutralidade Religiosa
Para entender melhor, vamos exemplificar com o típico sujeito que se posiciona como
ateu. Ele declara que não possui fé em nenhuma divindade, antes afirma que tudo o que
existe é matéria, ou foi oriundo da relação entre matéria e energia. Contudo, tal
declaração não pode se sustentar sem fé, uma vez que a “auto existência” da matéria não
pode ser comprovada.
Para dificultar ainda mais a situação desse ateu, a ideia de religião ao longo da história
implica justamente nesta afirmação que ele faz. Religião não se reduz ao caráter
sociológico de rituais e dogmas como se pensa hoje em dia. Ela possui também um
sentido de interpretação do mundo a partir daquilo que se considera “auto existente”. O
que ocorre, é que no passado, isso era denominado de paganismo, enquanto hoje
querem chamar de ciência. Isso é desonestidade intelectual, não passa de “maquiagem”
teórica para que consigam obter poder na esfera pública, impondo sua religião
(secularista) à sociedade.
Pressuposição e Testemunho
Portanto, o Credo Apostólico inicia com essa declaração pressuposicional. Como
cristãos, tomamos por certo que Deus existe. E o fazemos sem constrangimento, visto
ser essa uma característica intrínseca ao ser humano. Não há pensamento que não seja
fundamentado em fé. Não há ser humano, que não projete fé em alguém ou algo. Ou
servimos a Deus ou aos ídolos.
2- Trindade
Às vezes, as pessoas usam três nomes diferentes quando se referem a Deus: Deus Pai,
Jesus Cristo e Espírito Santo. Mas esses são mais do que simplesmente nomes
diferentes para uma pessoa; eles são, de fato, os nomes de três pessoas muito distintas.
Entretanto, embora Deus Pai, Deus o Filho (Jesus) e Deus Espírito Santo coexistam
eternamente como três pessoas distintas, há apenas um Deus. Essa é chamada de
doutrina da Trindade. A ideia de três pessoas e apenas um Deus é difícil de entender
completamente. Mesmo assim, é um dos conceitos mais importantes da fé cristã.

2.1-A visão bíblica da Trindade

A palavra “trindade” nunca é encontrada na Bíblia, mas a ideia representada por ela é
afirmada em muitas partes. Por exemplo, em Gênesis 1:26 Deus disse: “Façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. O uso de “nós” e “nosso”
implica que mais de uma pessoa estava envolvida na criação. Os únicos seres a quem
Deus poderia possivelmente se referir seriam os anjos; contudo, não fomos feitos à
imagem dos anjos, mas “à imagem de Deus” (Gênesis 1:27); então, esse versículo deve
implicar que há mais de uma pessoa em Deus.

Quando Jesus foi batizado, “os céus se abriram, e ele viu o Espírito de Deus descendo
como pomba e pousando sobre ele. Então, uma voz dos céus disse: “Este é o meu Filho
amado, em quem me agrado” (Mateus 3:16-17). Naquele momento, os três membros da
Trindade estavam realizando três atividades distintas: Deus o Pai falava, Deus o Filho
estava sendo batizado e Deus, o Espírito Santo, repousava sobre o Filho.

De maneira semelhante, quando Jesus enviou seus discípulos a fazer sua obra, ele lhes
ordenou que fizessem “discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). Ao dizer isso, Jesus está afirmando aqui
que os três membros da Trindade são distintos em sua personalidade (o Pai não pode ser
o Filho, por exemplo). Judas 20-21 também afirma haver três pessoas distintas na
Trindade: “Edifiquem-se, porém, amados, na santíssima fé que vocês têm, orando no
Espírito Santo. Mantenham-se no amor de Deus, enquanto esperam que a misericórdia
de nosso Senhor Jesus Cristo” (Judas 20-21).

2.2- O significado da Trindade

Pelo fato de Deus consistir em três pessoas distintas, o Pai não é o Filho ou o Espírito
Santo, o Filho não é o Pai ou o Espírito Santo, e o Espírito Santo não é o Pai ou o Filho.
Isso foi demonstrado mediante numerosas passagens citadas. Cada uma das pessoas da
Trindade é plenamente equivalente a Deus. A divindade de Deus, o Pai, é mostrada a
partir do primeiro versículo da Bíblia: “No princípio criou Deus o céu e a terra”
(Gênesis 1:1), e assim ao longo de todas as páginas da Escritura.

Quando a Bíblia se refere simplesmente a Deus, mais frequentemente o faz a Deus, o


Pai. Mas Deus, o Filho, que veio à Terra como Jesus Cristo, também é totalmente Deus.
Como Paulo escreve sobre ele em Colossenses 2:9: “Porque nele habita corporalmente
toda a plenitude da divindade”. Assim, Tomé, o discípulo de Jesus, estava correto
quando disse a este: “Senhor meu e Deus meu” (João 20:28). Na verdade, João disse
que escreveu seu evangelho para que as pessoas “cressem que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus” (João 20:31).

Por fim, Deus, o Espírito Santo, também é plenamente Deus, porque tanto o Pai como o
Filho são Deus, de modo que faz sentido que todos os três sejam mencionados com
igual importância em passagens como Mateus 28:19 (“batizando-os em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo”) Isso mostra que a Escritura identifica os três totalmente
com Deus. Pedro atesta esse ponto de vista quando acusa alguém de mentir ao “Espírito
Santo” (Atos 5:3), e depois explica que esse homem “não mentiu aos homens, mas sim
a Deus” (Atos 5:4). Paulo diz que o Espírito é onisciente como Deus, o Pai, quando
escreve: “Ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus”
(1Coríntios 2:11).
Mas a Bíblia também é clara sobre existir apenas um Deus e não três. Ela diz que Deus
é apenas uma essência ou um ser. Deuteronômio 6:4 diz: “O nosso Deus é o único
Senhor”. Deus frequentemente faz ecoar essa afirmação, tornando claro que não há
outro Deus senão ele. Isaías 45:5 é um exemplo disso: “Eu sou o Senhor, e não há
nenhum outro; além de mim não há Deus”. Paulo confirma essa declaração em
Romanos 3:30, quando escreve: “Existe um só Deus”. E novamente em 1Timóteo 2:5:
“Pois há um só Deus”. Em Tiago 2:19 descobrimos que mesmo os demônios
reconhecem isso: “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o
creem, e estremecem”.

Às vezes, parece complexo entender como há três pessoas distintas da Trindade, cada
uma sendo plenamente Deus, embora haja somente um Deus indivisível. E é difícil
realmente. A Trindade é um daqueles mistérios que só podemos explicar em parte.
Embora diferentes analogias da criação possam nos ajudar um pouco na compreensão
da Trindade, em última análise todas elas falham em descrever esse mistério, pois
tentam explicar o ser divino em termos de criação.
São tentativas de elucidar como Deus existe por meio de sua criação, mas nada na
criação é exatamente como o ser divino. As tentativas de simplificar ou explicar
completamente esse mistério fracassam e muitas vezes conduzem a crenças contrárias
aos ensinamentos da Bíblia. Em resumo, a doutrina da Trindade é algo que nunca
compreenderemos plenamente, porque parte dela está além do nosso entendimento. Ela
é, em parte, uma dessas “coisas encobertas [que] pertencem ao Senhor nosso Deus”
(Deuteronômio 29:29).
No entanto, é extremamente importante que esse mistério seja verdadeiro. Por exemplo,
se Jesus não fosse plenamente Deus, e sim uma pessoa separada dele, então ele não
poderia suportar a ira completa de Deus, morrer e ressuscitar dos mortos. E se Jesus não
ressurgisse dos mortos, qualquer crença nele seria ingênua, e aqueles que afirmam ser
cristãos seriam, nas palavras de Paulo, “dentre todos homens […] os mais dignos de
compaixão” (1Coríntios 15:19).

2.3- Os papéis distintos da Trindade

Todos os membros da Trindade têm papéis diferentes. Por exemplo, sabemos que na
criação Deus falou e trouxe a Terra à existência (Gênesis 1:9- 10). Mas em João 1:3 nos
é dito que Deus o Filho executou estas palavras:
“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria
sido feito”. E, como está escrito em Gênesis 1:2, enquanto Deus estava criando, “o
Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, isto é, apoiando e manifestando a
presença de Deus na criação.
Os diferentes papéis da Trindade também podem ser vistos em nossa salvação. Deus o
Pai “tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito” e o enviou ao mundo “para
que este fosse salvo por meio dele” (João 3:16-17). Sobre seu papel, Jesus disse: “Pois
desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que
me enviou” (João 6:38). E essa vontade foi que Jesus morresse por nossos pecados para
que não precisássemos perecer (Hebreus 10:10). Quando Jesus ressuscitou dos mortos e
subiu ao céu, ele e o Pai enviaram o Espírito Santo para concluir a obra que o Pai e o
Filho começaram (João 14:26 e 16:7).
Tanto na criação como na redenção, o Pai, o Filho e o Espírito tiveram papéis distintos.
Foi o Pai que dirigiu e enviou tanto o Filho como o Espírito, e foi o Filho quem,
juntamente com o Pai, enviou o Espírito. O Filho era obediente ao Pai, e o Espírito era
obediente tanto ao Pai quanto ao Filho. E embora ambos, o Filho e o Espírito, tenham
seus papéis e continuem a desempenhá-los em igualdade com o Pai, eles fazem isso em
submissão ao Pai.
Essas diferentes funções são simplesmente decorrência da relação eterna entre o Pai, o
Filho e o Espírito. Elas não diminuem a deidade, os atributos ou a natureza essencial do
Pai, do Filho ou do Espírito. A distinção é simplesmente na maneira como eles se
relacionam uns com os outros e com a criação. Isso é muito diferente da nossa própria
experiência, na qual cada pessoa também é um ser diferente. Mas de alguma maneira o
ser divino é tão diferente do nosso que pode se dividir em relações interpessoais entre as
três diferentes pessoas. Isso não se compara a nada daquilo que jamais vivenciamos,
experimentaremos ou compreenderemos plenamente.
Todavia, a unidade e a diversidade dentro da Trindade fornecem um maravilhoso
fundamento para a unidade e diversidade que sentimos cada dia. No casamento, por
exemplo, duas pessoas distintas se juntam e, por meio do casamento, tornam-se “uma
só carne” (Efésios 5:31). Como marido e mulher têm igual posição, valor e
personalidade perante Deus, eles também têm papéis distintos. Assim como o Pai tem
autoridade sobre o Filho, no casamento o marido tem autoridade sobre a mulher. Como
Paulo diz em 1Coríntios 11:3: “O cabeça de todo homem é Cristo, e o cabeça da
mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus”. Apesar de, às vezes, ser difícil
descobrir como os papéis de marido e mulher devam ser especificamente definidos, a
Bíblia deixa claro que a relação dentro da Trindade fornece o modelo para o
relacionamento no matrimônio.
Outro exemplo de unidade e diversidade é visto na igreja, que tem “muitos membros” e
todos com diferentes capacidades, mas “um corpo” com um propósito (1Coríntios
12:12). Isso também é visto na composição étnica da igreja, que inclui membros “de
todas as nações, tribos, povos e línguas” (Apocalipse 7:9). Essa diversidade adiciona
uma complexidade que nos mostra a sabedoria de Deus ao permitir que tanto a unidade
como a diversidade existam dentro de seu mundo. A unidade e a diversidade que
existem no mundo é simplesmente um reflexo da unidade e diversidade existente no
seio da Trindade.
3- Deus Pai

3.1- Paternidade

Uma das palavras de Jesus, que provavelmente mais surpreenderam alguns de seus
contemporâneos, é a utilizada no ensino a seus discípulos sobre oração. Quando os
instrui a se dirigirem a Deus como “Pai”.
É curioso lembrar de como os judeus eram extremamente criteriosos ao se referirem a
Deus. Evitando ao máximo a infração do terceiro mandamento, quanto a não tomar o
nome de Deus em vão, criaram uma espécie de criptograma “YHWH”, para fazer tal
referência. Esse tetragrama na tradução do Antigo Testamento do hebraico para o grego
ficou conhecido pela expressão Kyrios - “o Senhor”.
Agora imagine o peso para aqueles ouvintes em escutar da boca de Cristo, que deveriam
chamar Deus de Pai, que assim como um pai humano, mesmo sendo mau, sabe dar boas
coisas aos seus filhos, mais ainda Deus que é bom, dará o Espirito Santo a quem pedir
(Mateus 6.9-13 / 7.7-11).
Cristo os encoraja a se projetarem numa relação de confiança e intimidade. Daí a
expressão de entrar no seu quarto em secreto: tameion (Mt 6.6). Essa era uma espécie
de sala-depósito, onde se guardavam objetos de valor, somente pessoas muito chegadas
ao anfitrião, poderiam entrar nesse ambiente. Os discípulos de Jesus devem se
aproximar de Deus crendo no seu caráter bondoso, eles têm acesso para desenvolver
essa relação de intimidade.
Alguns podem ter nessa analogia de pai uma resistência, por terem tido uma experiência
ruim, mas isso ocorre, justamente pelo ser humano divergir do modelo do próprio Deus,
o qual deveria imitar. Parábolas como a do Filho Pródigo em Lucas 15 revelam um
Deus cheio de amor e ternura.

Paternidade implica também na autoridade que Deus exerce sobre o que ou quem lhe
pertence. O próprio Jesus testificou sua submissão enquanto primogênito e modelo de
filho a ser seguido por nós: “Pois desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas
para fazer a vontade daquele que me enviou”. (João 6:38). E ainda: “A minha comida
é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra”. (João 4:34). Afinal,
Pai é o cabeça do lar.
Vale destacar que também é Aquele do qual recebemos nosso nome, nossa identidade
(Ef. 3.14-15), ou seja, é na relação com Ele que descobrimos quem somos. Como bem
pontuou Calvino no início das Institutas: Quase a totalidade de nosso conhecimento,
que se pode considerar realmente como sabedoria verdadeira e firme, resume-se em
duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos. Esses dois são
correlatos e se inter-relacionam.

3.2- Todo-Poderoso

A segunda declaração do Credo se refere ao poder de Deus. Todos os reinos e


autoridades derivam de sua soberania. Ele possui todo poder e autoridade. Não há rei ou
presidente, por mais poderoso que seja na terra, que não possa ser destituído por Deus
(Dn 2.21).

Outro fator que implica a declaração é aquele também visto na afirmação do anjo
Gabriel para Maria por conta de sua gravidez milagrosa: “Pois nada é impossível para
Deus” (Lucas 1.37). Deus pode fazer muito mais do que imaginamos, devemos crer
sempre nesta verdade.

3.3- Criador dos Céus e da Terra

Conforme dito na primeira parte, a paternidade revela autoridade sobre o que lhe
pertence. Por ser a Origem, Deus determina todas as coisas posteriores. Neste trecho
isso é ainda mais explícito. Ele é quem concede os significados de cada aspecto de sua
Criação.
Embora a natureza não nos mostre quem é esse Deus, ela nos comunica sobre um
Criador e sobre algumas verdades de cada aspecto, possíveis de serem captadas de
modo intuitivo, em função da relação objetiva presente no mundo. Tanto em Gênesis 1 e
2, como em João 1 vemos que foi estabelecido um ordenamento no universo, onde os
próprios contornos da razão humana também formada por Deus, possibilitam essa
correspondência.

É importante enfatizar que Deus como Criador não fez o mundo e o abandonou, como
alguns creem (deísmoi). Tampouco que Ele é a Criação, que essa seja divina ou que tudo
esteja em Deus (panteísmo ou panenteísmo)ii. O que aprendemos nas Escrituras é sobre
um Deus infinito e pessoal, que existe além do universo. Ele criou todas as coisas e
sustenta tudo de modo sobrenatural.
“Ele mantém todo o universo pela autoridade da sua palavra” (Hebreus 1:3).
O salmista ainda declara que tudo e todos pertencem a Ele (Sl 24.1) e que ele entregou
aos homens (Sl 115.16), para que esses cuidem dela.

i
Deísmo: Deus está além do universo, mas não nele. Defende uma visão naturalista de mundo, assim
Deus não age sobrenaturalmente naquilo que criou. Pensadores: Thomas Jefferson, Voltaire.

ii
Panteísmo: Pan: tudo / theos: Deus. “Tudo é Deus”. Deus é o todo/universo. Não há um criador
distinto, criador e criação são a mesma realidade. O universo é Deus, a matéria é Deus, as pessoas o são.
Tudo é Deus. Pensadores: Formas de hinduismo, zen-budismo.

Panenteísmo: “Tudo em Deus”. Deus está no universo, como a mente está no corpo. O universo é o
‘corpo’ de Deus, seu pólo real e tangível. O outro pólo está além deste plano. Pensadores: Alfred
Whitehead e Charles Hartshorne.
4- Deus Filho: Identidade, Senhorio e Encarnação
4.1- Identidade
Jesus Cristo é o cerne da fé cristã. A essência do cristianismo é uma Pessoa. Não
podemos incorrer no cristianismo como se fosse mais um “ismo”. Os fundadores de
religiões e ideologias estão mortos ao passo que Jesus Cristo vive. Não se trata de mera
abstração, pois neste caso, mensageiro e mensagem estão juntos. O cristianismo tem
importância porque reconhecemos quem Jesus Cristo é. Essa compreensão é vital, haja
visto que Cristo é o único mediador, o único caminho entre Deus e os homens – 1 Tm
2.5 / Jo 14.6.
Jesus, embora fosse um nome comum naquele contexto, foi especificamente nomeado
pelo anjo em Mateus 1.21, cujo significado é precisamente: “Deus salva”. Já o termo
“Cristo” não se trata de um sobrenome, mas de um título, que significa “o ungido. A
ideia é de ser ungido com óleo, separado por Deus. O sentido básico pode ser de “o rei
de Israel nomeado por Deus”. Ao se referirem a Jesus desta forma, estavam dizendo
que Jesus era o Messias aguardado.
O Credo declara que Jesus é o Filho de Deus. Essa foi a confissão de Pedro em Mateus
16.16, e com isso ele estava declarando que Jesus é Deus. O relato bíblico descreve uma
relação intima e incomparável do Filho com o Pai, não somos filhos da mesma forma.
Essa é a razão dos autores se reportarem a Cristo como Filho e aos cristãos como filhos.
Ele é o filho natural de Deus ao passo que nós somos os filhos adotivos – Rm 8.23; 9.4;
Ef. 1.5.
4.2- Senhorio
Essa primeira sentença abordada sobre o Deus Filho é concluída enfatizando seu
senhorio. Aliás essa foi uma das primeiras breves confissões de fé da Igreja: “Jesus
Cristo é o Senhor”! (Rm 10.9 / 1 Coríntios 12.3).
Conforme mencionado no estudo anterior, os judeus utilizaram uma espécie de
criptograma para se referirem a Deus (YHWH), expressão vista com frequência no
Antigo Testamento pela tradução: “o Senhor”. Ora, os cristãos aplicaram sua tradução
no grego (Kyrius) a Jesus Cristo a fim de destacar sua divindade e domínio. Tal
expressão era utilizada em Roma para fazer referência ao imperador, contudo os cristãos
se recusaram a chamar o imperador de Senhor, deixando-a exclusiva a Cristo Jesus.
O credo ensina que Jesus recebeu o mesmo status de Deus, que ele possui o mesmo
direito sobre nós.
4.3- Encarnação
A outra parte do credo destaca sua encarnação: “concebido por obra do Espírito Santo;
nasceu da virgem Maria”. Esse é um dos maiores mistérios das escrituras. Jesus é o
Deus que se fez carne, ele é tanto 100% divino, como 100% humano.
O apóstolo João é muito firme no relato do seu evangelho, como também em suas cartas
quanto a doutrina da encarnação, visto que alguns a estavam negando, já naqueles dias.
Segundo ele, quem assim procede é precisamente, o anticristo (2 João 1.7).
Isso levanta a questão de por que ser tão importante essa doutrina? Por qual razão Jesus
precisava ser completamente humano e completamente divino?
Primeiro, Jesus precisava ser totalmente humano, porque foi justamente o homem que
rompeu com Deus. A humanidade estava em débito com Deus, nosso pecado ofendeu a
santidade e provocou a ira divina. Portanto, era necessário um representante da
humanidade para quitar essa dívida.
Segundo, precisava ser totalmente divino porque essa dívida era eterna e nós somos
finitos. Portanto, era necessário um ser eterno para que o valor da dívida fosse suprido.
Além disso, só Deus pode ressuscitar dos mortos de modo vitorioso. Em Jesus duas
naturezas são unidas misteriosamente. Desta forma afirmamos: “Em nenhum outro há
salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual
devamos ser salvos” (Atos 4:12).
5- Deus Filho: Historicidade / Morte e Ressurreição / Exaltação e Juízo
5.1- Historicidade
Pode-se achar estranha a descrição seguinte sobre “Pôncio Pilatos, sobre ser morto e
sepultado”, contudo, esse é um dos fatores de credibilidade do cristianismo. Lucas, por
exemplo, relata ter feito um exame histórico minucioso dos fatos (Lc 1.1-4). Hoje em
dia, vez por outra, surgem pessoas que questionam a veracidade da vida de Jesus Cristo.
Todavia, os que assim o fazem, só revelam sua ignorância quanto ao conhecimento dos
elementos de fundamentação histórica. Podem se destacar dois aspectos:
O primeiro diz respeito ao fator bibliográfico. Esse argumento visa destacar o período
entre o texto originalmente escrito, da sua cópia mais próxima. Como bem sabemos o
material utilizado para escrita era perecível, sendo assim de tempos em tempos se
faziam cópias para a preservação do conteúdo. Quando comparamos as cópias do
conteúdo sobre a vida de Jesus com as de outros personagens históricos é
gritantemente superior a veracidade sobre a vida de Jesus.
Um exemplo é o de Platão, cuja a historicidade de sua existência ninguém duvida.
Entre sua vida e a cópia mais próxima encontrada, há um período de 1.200 anos. No
caso de Tucídides o período é de 1.300 anos, de Aristóteles é de 1.400 anos.
Já no caso do cristianismo as cópias mais antigas possuem uma diferença de tempo
para com os originais de apenas 25 a 50 anos. Sendo assim, do ponto de vista dessa
proximidade, a autenticidade histórica da vida de Jesus é amplamente superior à
desses e de outros personagens históricos conhecidos.
O outro aspecto se refere aos manuscritos. Neste a ênfase é quanto ao número de
cópias. Quanto mais cópias encontradas, maior a veracidade histórica, pois é possível
a reconstrução do documento e verificação de possível imprecisão.
Utilizando os mesmos personagens da literatura clássica a superioridade do
cristianismo mais uma vez é escancarada. Em relação a Platão existem sete cópias no
mundo. De Tucídides existem oito e de Aristóteles apenas cinco. Quando vamos as
cópias do Novo Testamento encontramos mais de 5.300 manuscritos gregos. E se
acrescentarmos a esse número as cópias em latim e porções antigas chegaremos a
cerca de 24 mil cópias. O documento mais próximo disso é a Ilíada de Homero que
conta com 634 manuscritos.
Portanto, os aspectos históricos sobre a vida de Jesus Cristo se mostram bem
fundamentados e tornam totalmente plausível a fé cristã. O registro já citado de Lucas
(1.1-4) assim como a citação do Credo Apostólico mostram esse cuidado em ressaltar
tal plausibilidade.
5.2- Morte e Ressurreição
5.2.1- Crucificação e Morte
Embora na cruz vemos a manifestação do amor sacrificial de Deus por nós e somos
constrangidos por esse grande amor, não podemos perder de vista que essa cena cruel
denúncia nossa depravação.
Alguns cristãos acreditam equivocadamente que estavam em dívida para com o diabo,
no entanto, nossa dívida era com o Deus Eterno. Nosso pecado é uma afronta a
santidade e majestade desse Deus. Portanto, sua ira acendida sobre nós precisava ser
apaziguada.
Na carta de Paulo aos Romanos é descrito nos três primeiros capítulos pelo apóstolo,
que a ira de Deus (sua ação resoluta de punição ao pecado) é manifesta contra a
impiedade dos homens (1.18) e que seu juízo se aproxima, o dia da ira (2.5). Toda a
humanidade está nessa situação, ninguém escapa: “Não há um justo sequer... Ninguém
que entenda, ninguém que busque a Deus... Todos se desviaram...” (Rm 3.10-12).
A única forma de escapar disso é declarada em 5.9: “Sendo justificados pelo seu
sangue, seremos por Ele salvos da ira”.
O sangue de Cristo Jesus nos justifica diante do Pai. Ao confiarmos totalmente na
justiça de Cristo, nos fundamentarmos nela, somos vistos como justificados por Deus a
quem tínhamos ofendido com nosso pecado. “Em Jesus Cristo”, diz Paulo em outro
trecho, “temos a redenção, a qual Deus propôs para propiciação pela fé no sangue do
Filho” (Rm 3.24-25). O que é a propiciação senão o sacrifício que afasta a ira pela
expiação dos pecados, o cancelar da nossa culpa.
Essa afinal é a “Boa Notícia” (Evangelho) para a humanidade. Éramos por natureza
merecedores da ira, enfrentaríamos o juízo pelo nosso pecado, mas um sacrifício foi
realizado, não precisamos fazer algo para obter o favor de Deus, basta crermos
totalmente nos méritos de Jesus Cristo e não nos desgrudarmos de sua justiça. Como
isso poderia ocorrer? Quando passamos a confiar em nossa justiça própria. Quando isso
ocorre, afirma Paulo aos Gálatas 5.4: “nos desligamos de Cristo e caímos da graça”.
Embora isso evidenciaria que nunca ocorrera uma legitima fé em Cristo, já que essa
quando verdadeira, sempre crescerá e produzirá bons frutos (Lucas 8.15).
A crueldade da cruz de Cristo mostra nossa depravação que o levou a sofrer pelo nosso
pecado. Como também mostra que a ira divina foi afastada, somos justificados pelo
sangue do Cordeiro Jesus.
5.2.2- Ressurreição
É ponto pacifico que a cruz é o grande símbolo dos cristãos. Mas, com certeza o
sepulcro vazio poderia o ser também. Segundo Paulo, a ressurreição é a certeza da
libertação dos pecados (1 Co 15.17). A convicção de que o sacrifício de Cristo foi
aceito pelo Pai. Se Jesus não tivesse ressuscitado como saberíamos que havia sido
aprovado por Deus? Mas, agora podemos descansar, a ressurreição é o anúncio da
vitória certa. Não precisamos andar aflitos pelos nossos pecados, sermos arrasados
pela culpa, pois a ressurreição testifica que o sacrifício de Jesus verdadeiramente
afastou a ira e trouxe paz aos nossos corações para com Deus. Mas, não apenas temos
a certeza do perdão dos pecados, como também de que contamos com esse poder no
presente para vencermos as pressões do mundo, da carne e do Diabo.
Em Efésios 1.19-23, Paulo afirma que o mesmo poder que trouxe Jesus dentre os
mortos é o poder que atua em nós, sua igreja. Pare para refletir nisso! Nós temos
acesso a esse poder extraordinário que ressuscitou Jesus. Será que muito de nossa
mediocridade na vida cristã não se dá por que os cristãos não possuem consciência ou
não recorram a esse poder? Muitos não estariam como certa história de um sujeito que
viajou um mês de navio comendo apenas bolachas, por ter o dinheiro limitado a
passagem e que no último dia se surpreende ao saber que estavam inclusas todas as
maravilhosas refeições servidas no restaurante? Quantos hoje não estão desfrutando de
uma vida intensa com Deus por desconhecerem tal poder, vivendo apenas de
“bolachas”? Creio que muitos. Por essa razão que no texto citado Paulo inicia com
uma oração para que os cristãos tenham os olhos de seus corações iluminados para
que compreendam o que lhes está disponível.
Que essa oração se estenda a nós para que desfrutemos de tudo aquilo que nos foi
concedido na cruz e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo! O que nesse caso,
implica também na ressurreição de nossos próprios corpos – 1 Coríntios 15.
5.3- Exaltação e Juízo
5.3.1 - Exaltação
Na ressurreição Cristo foi liberto dos grilhões da morte; agora é restaurado à intimidade
da presença, ao poder e à majestade de seu Pai. Depois de descer do céu para a terra a
fim de nos resgatar, Jesus voltou ao céu para interceder por nós (Hb 4.14 / 9.11-12). Ele
desceu do céu à terra com muita humildade, voltou para o céu triunfante e vitorioso (Fp
2.6-11), depois de ter cumprido tudo quanto era necessário para nossa salvação.
A declaração da exaltação e de estar à direita de Deus significa que Jesus tem tanto uma
condição e estima especiais exclusivas, como que possui a atenção do Pai. Fato esse que
deve trazer consolo ao nosso coração, uma vez que as escrituras dizem que Cristo
intercede por nós. Sentado a direita de Deus, Ele pode apelar a nosso favor – Hb. 7.25.
É importante enfatizar que a ascensão de Jesus não significa que Ele está ausente do
mundo, que não tenha interesse na criação. A doutrina da ascensão garante que Cristo
foi exaltado e glorificado, e que seu poder e sua glória podem ser revelados e refletidos
em nossa vida. O Cristo levado para o céu, habita nos crentes por meio do Espírito (Gl
2.20).
5.3.2- Juízo
Após abordar sobre Jesus no passado e sua ação presente, o credo destaca a ação futura:
“Ele voltará para julgar os vivos e os mortos”. A declaração é de que toda a
humanidade será julgada por conta da Parousia (segunda vinda de Cristo), tanto os que
já estiverem mortos, como os que estiverem vivos na ocasião. O plano salvífico de
Deus, posto em vigor com a primeira vinda de Jesus Cristo, terá seu apogeu com a
segunda vinda dele. O cristianismo não ensina que teremos várias vidas (reencarnação)
e sim que “está ordenado aos homens morrerem uma só vez, vindo depois o juízo” –
Hebreus 9.27.
Vale ressaltar que seremos julgados por alguém que nos conhece plenamente, por
alguém comprometido conosco e por alguém que conhecemos e confiamos. Tais
verdades são consoladoras ao coração do cristão.
6- Espirito Santo de Deus
6.1- Iluminação
Embora já se tenha falado algo sobre o papel do Espírito na obra da salvação, vale
destacar que Ele é quem aplica o Evangelho aos corações humanos. Jesus disse que o
Espírito “convenceria o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8). O
apóstolo Paulo declara que só é possível reconhecer e confessar o senhorio de Cristo,
pela ação do Espírito Santo – 1 Coríntios 12.3. Esse é um fator, especialmente subjetivo,
onde a Terceira Pessoa da Trindade “testifica em nosso interior que somos filhos de
Deus (Rm 8.16). O Espirito habitando no cristão é uma garantia de que Deus
completará sua obra, é a certeza de nossa salvação: Efésios 1.13-14. Enfim, o Espírito é
quem nos desperta e imprime certezas em nosso coração, caminhando conosco (João
14.25-26). Assim como Aquele que nos estimula a fazer grandes coisas, impossíveis
sem sua presença.
6.2 – Dons
Uma dessas grandes coisas é nos habilitar para a obra do ministério. O Espírito Santo
distribui dons a Igreja de Cristo, conforme lhe apraz (1 Corintios 12.11). Não há cristãos
inúteis, pois todos recebem poder do alto para exercerem a missão. No Novo
Testamento encontramos a citação de alguns desses dons, em textos como: 1 Co 12 /
Rm 12.6-8. Por essa razão, podemos afirmar que a Igreja de Cristo é a Igreja do
Carisma.
Contudo, podemos entender que esses dons são apenas alguns que foram contemplados
na Igreja primitiva. Ainda outros são mencionados no Antigo Testamento (Êxodo 35.30-
35 / Isaías 28.23-29), como alguns podem se manifestar ao longo da História da Igreja.
Enriquecendo a ideia de “trabalho” em sua tradução da bíblia para o alemão, Lutero
optou por utilizar a expressão “vocação” ensinando a não vivermos uma vida de
dicotomia entre o sagrado e o secular, pois cada vocação seria uma espécie de máscara
de Deus, onde Ele estaria se manifestando através do trabalho do padeiro, sapateiro,
agricultor ou pastor.
Ensino e Serviço
Ao que parece o Novo Testamento separa os dons em duas classes: ensino e serviço. Em
Atos 6, por exemplo, os discípulos após a reclamação de parte dos cristãos, pelo fato
das viúvas dos judeus de fala grega, estarem sendo esquecidas na distribuição diária de
alimento, determinaram que a Igreja deveria escolher homens para exercerem tal
função, enquanto os mesmos se dedicavam ao ensino e a oração. O apóstolo Pedro faz
essa classificação categoricamente ao se referir aos dons:
Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros, administrando fielmente a
graça de Deus em suas múltiplas formas.
Se alguém fala, faça-o como quem transmite a palavra de Deus. Se alguém serve,
faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja
glorificado mediante Jesus Cristo, a quem sejam a glória e o poder para todo o
sempre. Amém. (1 Pedro 4:10,11)
Já Paulo escrevendo a igreja de Éfeso, segue a mesma classificação: “E ele designou
alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para
pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para
que o corpo de Cristo seja edificado...” (Efésios 4:11,12). Ou seja, os primeiros para
equipar os santos, para que esses cumpram a obra do ministério (ensino e serviço).
Dons “manifestacionais”
Em relação ao trabalho dos apóstolos e profetas, que nos entregaram o fundamento
(Revelação) sobre onde a Igreja é construída (Ef. 2.20), encontra-se luz para pensar
ainda em alguns dons contemplados nas citações mencionadas (Rm 12 / 1 Co 12). Por
exemplo, a operação de milagres e curas, embora possam ocorrer ainda hoje, nunca se
manifestaram com a mesma intensidade e frequência como nos dias apostólicos. Isso
porque tal fenômeno visava autenticar a autoridade que esses homens possuíam como
porta-vozes divinos. Sendo assim, podemos pensar nesses dons como dons
manifestacionais: estão disponíveis a Igreja, contudo não utilizados regularmente como
o dom de ensino ou de misericórdia, para citar alguns. Por essa razão, como igreja,
devemos orar pelos enfermos com toda a certeza, mas não com aquele tipo de
mentalidade de “curandeiro portador do dom da cura”, que lamentavelmente ocorre
em parte da cristandade, pois Deus pode muito bem não intervir com um milagre. Até
porque após a ressurreição de Cristo, vale destacar, é possível verificar um progresso no
que diz respeito ao conhecimento medicinal e científico, especialmente no Ocidente de
base cristã. Isso não seria uma das múltiplas manifestações divinas? Muitos teólogos
acreditam piamente que sim.
Imagine ainda uma situação onde a igreja está tentando chegar a uma solução diante de
um impasse. De repente, um irmão é usado por Deus para trazer uma palavra de
sabedoria que traz paz ao coração de todos, quanto a decisão a ser tomada. Se aquele
irmão fosse visto como portador daquele dom, da mesma forma que alguém possui o
dom de ensino já citado, a igreja não precisaria mais se reunir para orar e pensar sob
situações complexas, bastaria pedir a direção para o tal irmão e segui-la. Contudo, a
experiência mostra que não é esse o caso. Similar ao milagre ou cura, essa habilitação
está disponível a Igreja, mas não de forma frequente como os dons exemplificados.
6.3- Fruto
Mais fundamental do que os dons para o cristão, é aquilo que ocorre em seu caráter.
Embora ambas as coisas devam estar presentes, é muito comum, infelizmente, as
pessoas focarem naquilo que é mais visível (carisma) e negligenciarem o menos
aparente (caráter). Alguém já disse que carisma sem caráter é catástrofe. E isso é uma
verdade. Não são raros os casos de cristãos virtuosos, cheios de carisma, com grandes
falhas, todavia, em seu caráter. O resultado é sempre de escândalo e grande frustração
entre os cristãos, porque projetaram expectativas por conhecerem o carisma de tais
homens e desconhecerem completamente o caráter dos mesmos. Isso porque caráter só
percebe progresso quem realmente está próximo e caminha conosco há muito tempo.
São vitórias mais lentas, afinal de contas, estamos em um processo de santificação
proporcionado pelo Espírito Santo (Rm 15.16), onde estamos desaprendendo de viver
como Adão e aprendendo a viver como Jesus, o ser humano por excelência. Uma coisa é
sair do inferno, outra diferente é o inferno ser arrancado de nós. Mas quem está em
Cristo manifestará o fruto do Espírito – Gálatas 5.22-23. Aliás, é justamente isso que
significa andar no Espírito, manifestar o caráter de Cristo Jesus.
7- Igreja
Crer em Jesus Cristo é crer numa comunidade dinâmica que atravessa os séculos e
pertencer a ela. A palavra grega “ekklesia”, usada no Novo Testamento para referir-se à
igreja, denota não uma construção, mas um grupo de pessoas. Significa literalmente
“aqueles que são chamados para fora”. A igreja é composta de pessoas que foram
chamadas do mundo para uma comunidade de fé (1 Pedro 2.9).
É tradicional falar sobre quatro marcas da igreja, portanto vamos abordar aqui essas
quatro características que a identificam:
7.1- A Igreja é Uma Só
Isso está implícito no Credo quanto a referencia ser a “igreja” e não “igrejas”. Todas as
igrejas cristãs são fundadas e baseadas sobre um único alicerce: Jesus Cristo. Podemos
dizer que a igreja cristã é o corpo de pessoas que reconhece Jesus Cristo como sua
cabeça (Colossenses 1.18). Mesmo com a variedade de igrejas na atualidade, todas elas,
se forem genuinamente cristãs, fazem parte de uma única igreja. A própria desunião,
muitas vezes, dos cristãos, não anula o fato de que a Igreja é una. Muito mais
importante do que sermos presbiterianos, batistas ou anglicanos, é sermos cristãos.
Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só
esperança da vossa vocação; Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; Um só
Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. (Efésios
4:4-6)
7.2- A Igreja é Santa
Essa é uma das características da igreja, que leva muitos a decepções, por conta de um
equívoco formulado em suas mentes. Esses idealizam uma igreja perfeita no presente,
onde estariam livres de males e problemas, contudo a realidade é diferente. Ao falar de
Igreja, é necessário termos em mente tanto aquilo que teólogos denominam de “igreja
triunfante”, como a “igreja militante”. A primeira reside em seu caráter glorioso, final,
enquanto a outra de seu presente processo. Jesus nos adverte que o trigo cresce junto
com o joio e a separação só será feita na eternidade. Do que se trata, portanto, a
santidade mencionada?
A palavra “santo” significa apenas “alguém que foi santificado”. Os cristãos são
santificados, não por nada que tenham em si mesmos, mas por causa daquele que os
chamou. O fato de sermos santificados não tem nada a ver com nossos méritos pessoais
ou santidade de vida, mas diz respeito ao fato de termos recebido o chamado de um
Deus santo. Somos santos por causa de nosso chamado, não por causa de nossa
natureza. Veja a lua, que brilha refletindo a luz do sol. A lua é um astro sem vida, não
possui luz própria, apenas reflete a luz do sol. Os cristãos são santos exatamente da
mesma forma que a lua brilha à noite: refletindo a luz de outro ser. A santidade de Deus
pode ser refletida em nossa vida, mesmo nós sendo pecadores. Martinho Lutero,
ressaltava essa verdade: "simul justus et peccator" (simultaneamente justo e pecador). O
mesmo, declarou certa vez: “Pensei que havia afogado o velho homem nas águas do
batismo, mas descobri que o miserável sabe nadar”. Se a justificação é imediata, a
santificação implica em um processo na vida do cristão.
7.3- A Igreja é Católica
Essa é uma caraterística que assusta alguns evangélicos que desconhecem o termo. A
expressão “católica” não se refere a ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) e sim a
Igreja toda, em todas as eras e lugares. O próprio título da ICAR, neste sentido é
contraditório, afinal como se é universal de Roma?
Essa característica nos priva de incorrermos na presunção de achar que somos
exclusivos, de incorrermos em inovações teológicas e eclesiásticas. A Igreja de Cristo
tem mais de dois milênios, nós fazemos parte de uma grande tradição. Os reformadores
mesmo, não romperam com a tradição da Igreja, (exceto aquilo que não encontrava
respaldo nas escrituras), antes recorreram a ela. Lutero e Calvino, por exemplo, foram
muito influenciados pelos textos e pensamento de Agostinho de Hipona. Nós como
cristãos, devemos aprender com toda a Igreja, ver as mais variadas cores da graça de
Deus a fim de sermos edificados.
7.4 – A Igreja é Apostólica
Isso significa que ela continua firme na fé e no ensino dos apóstolos (Atos 2.42), e
aceita de bom grado a Grande Comissão (Mateus 28.16-20). A fé e obrigação dos
apóstolos passaram a ser nossa fé e nossas obrigações. “A fé uma vez por todas entregue
aos santos” (Judas 3), nos foi agora confiada por um tempo, até que a repassemos aos
que virão depois de nós. Nós e todos os outros cristãos somos administradores do
mesmo evangelho entregue aos apóstolos no passado. Não somos autorizados a
acrescentar algo ou tirar desse fundamento que foi entregue a nós por eles. Tudo que
construímos como igreja é a partir desse fundamento inalterável recebido (Ef. 2.20).
Essas quatro características designam um corpo mundial de crentes cujo único
fundamento é Jesus Cristo. A esse corpo foram confiadas a fé dos apóstolos e sua
responsabilidade de proclamar o evangelho ao longo da história, conscientes da
importância vital e permanente desse evangelho para a raça humana.
8. Verdades e Aspectos Práticos
8.1- Comunhão dos Santos
Embora o conceito de comunhão (koinonia) inclua partilha de convicções, valores e
ideias comuns (boa parte abordadas), ele implica especialmente na ideia de
companheirismo, união ou coparticipação. Essas implicam em “compartilhar”. Como
discípulos compartilhamos alegrias e tristezas uns com os outros. Somos encorajados e
admoestados a fim de sermos aperfeiçoados na fé. O sábio descreve a amizade como
“ferro afiando ferro” (Pv 27.17), lembra que o verdadeiro amigo fere por lealdade (Pv
27.6) e na hora da angustia se faz um irmão (Pv 17.17). Na comunhão dos santos
podemos contar com esse companheirismo, onde olhando para o mesmo alvo somos
fortalecidos na caminhada.
A comunhão dos santos também serve para revelar Deus a nós. O objetivo é similar ao
que se vê no texto de Isaías 6.1-3, onde os serafins proclamavam “Santo, Santo, Santo é
o Senhor dos Exércitos”, não para Deus, mas uns aos outros. Sozinho meu
conhecimento de Deus é limitado, juntos podemos ver variadas cores de sua graça
(Efésios 3.10).
Outro fator do compartilhar, implica em bens materiais. Na igreja primitiva, o
companheirismo era tal, que ninguém se via mais como dono do que possuía, antes
colocava no socorro dos irmãos necessitados: Atos 2.44-45 / 4.32 / 2 Corintios 8.1-5.
Tal fator pode ser observado na vida de Jesus e está contido no ensino da oração do Pai
Nosso, quando declara que “o pão”, também “é nosso”.
Enfim, pode-se afirmar enfaticamente, que ninguém vive a fé de modo isolado, isso
seria uma negação do cristianismo, pois somos conclamados a vida comunitária. Fato
esse, possível de ser observado nos chamados mandamentos recíprocos, contidos nas
expressões neotestamentárias: “uns aos outros”. (Ex: Ef. 5.21 / Rm 12.10 / Tg 5.9, 16).
8.2- Perdão dos Pecados
8.2.1- Perdão de Deus
Com certeza esse seria um bom resumo do evangelho e da obra de Cristo: o perdão dos
pecados. Sua morte e ressurreição em favor dos crentes concede a esses (em um caráter
jurídico) a remissão de uma dívida ou a dispensa do cumprimento de uma pena.
Qualquer penalidade devido ao pecado humano foi totalmente quitada pela morte
obediente de Cristo na cruz.
Podemos ainda acrescentar a ideia de reconciliação. O perdão restaura um
relacionamento em discórdia ou mal-entendido. Em nosso caso, a relação com Deus foi
rompida, por conta de nosso pecado. Mas, graças a Deus por Cristo, recebemos o
perdão, somos reconciliados com o Pai.
Para enriquecer ainda mais, pensemos na expressão “salvação”. Essa palavra é usada
com frequência no Novo Testamento para expressar a ideia fundamental de libertação,
preservação ou resgate de uma situação de perigo (Atos 13.26 / Ef. 1.13 / Hb 1.14).
Jesus com o perdão, nos salvou do medo da morte e do poder do pecado.
Por fim, a expressão redenção, é usada para lembrar que o pagamento da dívida não
apenas nos liberta do cumprimento da pena, mas também que fomos comprados. Se por
um lado não somos mais escravos da carne e do medo, agora somos propriedade de
Cristo Jesus (1 Pedro 1.18-19). Pertencemos a Ele (Romanos 14.8 / 1 Co 3.23).
8.2.2- Perdão ao Próximo
Vale ressaltar a necessidade do perdão ao próximo em nossa caminhada de fé. Aliás,
essa é uma condicionante ensinada por Cristo: “Pois se perdoarem as ofensas uns dos
outros, o Pai celestial também lhes perdoará. Mas se não perdoarem uns aos outros, o
Pai celestial não lhes perdoará as ofensas". (Mateus 6:14,15).
Conforme dito anteriormente, a igreja aqui é composta não apenas de joio e trigo, como
também de crentes em processo (simultaneamente justos e pecadores). Isso significa
que iremos nos ferir, nos decepcionar, nos magoar, e, portanto, somente tendo a
disposição para o perdão, poderemos caminhar. “Nunca substitua a igreja real, pela
igreja ideal”, dizia Dietrich Bonhoeffer, pois se assim o fizermos, “nunca teremos a
segunda, e destruiremos a primeira”. Sendo assim, exercite o perdão. Seja um refluxo
da mesma graça recebida de Deus.
8.3- Ressurreição e Vida Eterna
8.3.1- Ressurreição
No capítulo cinco foi destacada a ressurreição de Cristo e feita breve menção sobre a
ressurreição de nossos corpos. Em 1 Corintios 15, Paulo trata de um dos capítulos mais
importantes das escrituras. Ele afirma: “se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa
pregação, como também é inútil a fé que vocês têm” (15.4). E ainda: “E, se Cristo não
ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados” (15.17). A
ressurreição é um fato relatado no início do capítulo, onde ele cita várias testemunhas
oculares. Ela concede a certeza que o sacrifício foi aceito por Deus. E além disso, que
é nosso destaque aqui: ela garante a nossa própria ressurreição (15.49-53).
O que proporciona a certeza que receberemos um corpo glorioso, pode ser
contemplado na ideia de adoção. Embora Jesus seja o Filho natural de Deus, através
de sua obra, nós fomos adotados e passamos assim a ter os mesmos direitos: “Se
somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo, se é
certo que sofremos com ele, para que também com ele sejamos glorificados (Rm
8.17). Em outras palavras, a ressurreição e a vida eterna são a herança dos cristãos (1
Pedro 1.3-4). Cristo ressuscitou e nós também seremos ressuscitados, como
participantes do que é dele.
8.3.2- Vida Eterna
Não pense vida eterna como se fosse uma extensão infinita de nossa vida atual. Para
pensar em vida eterna é importante ter em mente as duas palavras neotestamentárias
no grego: bios e zoé. Bios equivale a vida natural, de onde se deriva a expressão
“biologia”. Já zoé é a vida espiritual, a “vida em sua plenitude”. Não se trata de uma
oferta de extensão ilimitada da existência, mas de uma transformação dessa existência.
Eterno não significa por todo o tempo, mas sim, fora do tempo. “Vida eterna” quer
dizer vida com Deus, fora dos limites de espaço e tempo. Como é praticamente
impossível imaginarmos como seria viver fora do espaço e do tempo, compreende-se
por que é tão difícil pensar na vida eterna. O principal, porém, é que a vida eterna
significa que a relação que temos hoje com Deus, não será destruída nem prejudicada
pela morte, mas terá continuidade e será aprofundada por ela.
Além disso, não devemos pensar na vida eterna como um estado exclusivo no futuro.
É claro, que experimentaremos a plenitude no futuro, mas já podemos provar
antecipadamente dela agora. A relação com Deus pode ser desfrutada hoje e ampliada
e aprofundada cada dia mais, até experimentarmos a plenitude desse estado.

Amém!
Por fim, observe que o Credo termina com uma única palavra: Amém. Isso nos lembra
de que ele é uma oração e ao mesmo tempo uma declaração de fé. É uma oração
pedindo o aprofundamento de nossa fé e de nosso compromisso com Deus, cuja
majestade acabamos de estudar. Dizer “amém!” ao Credo é orar para que o poder e a
presença de Deus toquem nossa vida, aprofundem nosso amor por Ele e aumentem
nossa compreensão de seu evangelho

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