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TEOLOGIA 2020.2
TEOLOGIA FUNDAMENTAL
Docente: Pe. Ronny Santos de Abreu
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RAZÕES PARA CRER

A automanifestação de Deus é dirigida ao homem, e o mesmo é chamado


a responder a esse convite divino mediante a fé. A Revelação e a fé são livres.
A Revelação é livre porque é ação soberana de Deus, que se move
unicamente por amor a nós. A fé é livre porque não existe um motivo que
nos leve, necessariamente, a crer que seja verdade o que escutamos na
Revelação.
1. Sinais e milagres
Por que a Palavra de Deus é digna de crédito? Para poder crer de um modo
coerente é preciso que, uma vez escutada a Revelação, se conte com
suficientes razões para identificar esta mensagem como vinda de Deus. A fé
não se reduz à razão, mas não a destrói. Ambas se complementam
harmonicamente. A Revelação é digna de credibilidade, pois há razões ou
motivos que movem a aceitá-la: “Se não faço as obras de meu Pai, não me
credes; porém se as faço, credes pelas obras” (Jo 10, 37). Estas obras fazem
com que a fé não seja um puro “salto no vazio”, fruto de uma mera decisão
da vontade.
Sinais no Antigo Testamento – Há dois motivos principais para crer, no
itinerário do povo de Israel para a fé: grandes fatos salvíficos realizados por
Yahweh e a palavra dos profetas. Estes feitos e palavras não dão a fé, mas
são sinais de credibilidade. Fatos: sinais que manifestam que é Deus quem
age; levam a sua marca e movem o povo a confiar nele. Profetas: para ajudar
o seu povo, Deus se serve deles para confirmá-lo na verdade e na bondade
da fé revelada; falavam no lugar de Deus, anunciavam promessas divinas.
Sinais no Novo Testamento – Sinóticos: os “sinais” aparecem como algo
injustamente exigido por parte das autoridades judaicas ou por Herodes; os
“milagres”, ao contrário, são os atos de Jesus que mostram o poder de Deus.
Atos dos Apóstolos: ambos os termos são idênticos e designam as atuações
extraordinárias de Pedro, Felipe e outros. São João: Cristo é o único sinal
fundamental; Jesus realiza os milagres precisamente porque Deus age nele:
a multiplicação dos pães, a cura do cego de nascença, a ressurreição de
Lázaro, tudo isso se encontra unido ao que Ele diz sobre si mesmo: Jesus é
o alimento (cf. Jo 6, 35), a luz (cf. Jo 9, 5) e a vida (cf. Jo 11, 25).
A credibilidade segundo o Magistério – Vaticano I: “Mas para que a
reverência da nossa fé estivesse em conformidade com a razão, Deus quis
que a ajuda interior do Espírito Santo se unisse aos argumentos externos de
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sua Revelação, isto é, as intervenções divinas, como são principalmente os


milagres e as profecias que demonstram luminosamente a onipotência e a
ciência infinita de Deus, e são sinais certíssimos da Revelação Divina,
adaptados à inteligência de todos” (Dei Filius 3). Para crer, os auxílios
internos do Espírito Santo devem unir-se a estes sinais externos. Vaticano II:
o Concílio não usa a palavra “credibilidade”, mas trata com frequência o que
esse termo significa; um sinal de suma importância é o testemunhos dos
cristãos: todos são chamados a ser testemunhas do amor de Deus; para isso,
devemos estar unidos a Cristo, que é o sinal fundamental da Revelação; o
sinal não é algo, mas alguém, a pessoa de Jesus, em quem o homem descobre
o próprio Deus.
2. Jesus Cristo, sinal primordial de credibilidade
Durante algum tempo, os motivos de credibilidade eram buscados em
argumentos externos a Jesus Cristo (milagres, profecias). Porém, não é uma
argumentação suficiente. O milagre central afirmado pelo Cristianismo é o
evento Jesus Cristo. Quando uma pessoa considera a vida terrena do Filho
de Deus, pode chegar a crer em sua divindade (Cristo). Portanto, o
verdadeiro sinal de credibilidade é o próprio Jesus Cristo. Acima de tudo, o
Cristianismo é Jesus Cristo e a comunhão com ele.
Jesus não é um mito, nem uma ideia atemporal, ele é um personagem
histórico. A fonte mais importante para conhecer a vida e a obra de Jesus são
os escritos do Novo Testamento. Há também algumas notícias extrabíblicas:
Plínio, o Jovem (112 d.C.), Tácito (116 d.C.), Suetônio (120 d.C.); Flávio
Josefo, e o Talmud.
O século XVIII foi marcado por um grande debate sobre a credibilidade
das fontes cristãs. Tal debate é considerado superado por alguns. Os
evangelhos não são biografias, como hoje as entendemos, mas correspondem
exatamente ao que se concebia por uma biografia no mundo greco-romano.
Portanto, os evangelhos transmitem a mensagem e os fatos da vida de Jesus
com fidelidade.
Enquanto os profetas do Antigo Testamento se remetiam expressamente a
Yahweh, Jesus sempre fala em primeira pessoa (“Eu vos digo”). “Um estudo
atento dos textos evangélicos nos revela que nenhum outro motivo, a não ser
o amor pelo homem, o amor misericordioso, explica os ‘milagres e sinais’
do Filho do homem” (João Paulo II, Discurso, 09/12/1987). Jesus não rejeita
os pecadores, mas lhes mostra o amor sem limites de Deus, oferece-lhes o
perdão. O amor de Jesus é o motivo mais decisivo para que alguém se abra
à fé, constitui uma resposta divina ao desejo e à necessidade de amor que
cada homem experimenta.
O Filho foi obediente até a morte de cruz. O sofrimento que ele
experimentou, ao cumprir a vontade do Pai, concedeu à sua fidelidade um
valor singular. Porém, a cruz não é a última palavra, pois não pode ser
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compreendida sem a Ressurreição. Desde o começo, a Ressurreição é o


fundamento da fé e o conteúdo essencial da pregação cristã. Os que
testemunham terem visto o Cristo Ressuscitado são os mesmos apóstolos que
se ocultaram decepcionados depois da crucificação. Eles não esperavam a
Ressurreição, que é, ao mesmo tempo, um grande mistério e um fato
histórico.
3. A Igreja como razão para crer em Cristo
Somente na Igreja é possível encontrar o Cristo real, é através dela que ele
continua agindo nos séculos. A Igreja, a quem foi confiada a Revelação
Divina, que é Cristo mesmo, existe para continuar a missão de Jesus Cristo
até o fim dos tempos e para dar testemunho do amor de Deus aos homens.
Ela não se acrescenta à missão de Cristo e do Espírito Santo, mas é o seu
“sacramento”, lugar e instrumento da salvação divina. A graça que Cristo
nos alcançou na cruz é comunicada pela Igreja aos homens. Por meio dela,
Cristo continua salvando.
A Igreja é crível porque torna Cristo presente. Deste modo, ela reflete a
credibilidade do próprio Filho de Deus, que vive nela. Por isso, a mesma é
um grande e perpétuo motivo de credibilidade (cf. Dei Filius 3). Como Cristo
é santo, a Igreja também é santa; como Cristo nos diz a verdade, a Igreja
também nos fala a verdade.
Querida por Deus Pai, fundada pelo Filho, e vivificada pelo Espírito
Santo, a Igreja é santa. Esta santidade ontológica deveria ser refletida na
santidade moral dos seus membros. Os cristãos nem sempre refletem a
santidade da Igreja em suas vidas. A Igreja não mostra sempre a santidade
moral que deveria explicitar, porém é sempre dotada da santidade ontológica,
que não pode aumentar e nem diminuir. Apesar de ser santa, a Igreja
necessita constantemente de purificação, pois recebe nela os pecadores. Ela
existe para santificá-los.
Os cristãos não podem diminuir a santidade da Igreja com os seus defeitos
e pecados, mas podem obscurecer o seu rosto e frear a sua passagem na terra,
podem impedir que a mesma se mostre bela e esplêndida ao mundo, como
ela realmente o é. Cada cristão é chamado a ser santo, dando a conhecer o
verdadeiro rosto de Cristo.
“Como Sucessor de Pedro, pedi que neste ano de misericórdia a Igreja,
fortalecida pela santidade que recebe do seu Senhor, se ajoelhe diante de
Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus
filhos”1. Por outro lado, também se faz necessário recordar e refletir sobre os
sinais luminosos da história da Igreja: as grandes testemunhas da fé, os
mártires e confessores, as instituições sociais e educativas, o serviço aos

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JOÃO PAULO II, «Homilia da Santa Missa no Dia do Perdão do Ano Santo de 2000», 12
março 2000, in http://www.vatican.va/content/john-paul-
ii/pt/homilies/2000/documents/hf_jp-ii_hom_20000312_pardon.html, 3.
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pobres, a contribuição para o reconhecimento da dignidade humana e da


liberdade religiosa, a vida dos santos, o testemunho diário de fé e outros.

Referências bibliográficas
ARENAS, O. R., Jesus, epifania do amor do Pai, Loyola, São Paulo 1995.
BURGGRAF, J., Teologia Fundamental – Manual de iniciação, Diel, Lisboa 2005.
CONCILIO ECUMÊNICO VATICANO II, Constituição Dogmática Dei Verbum - Sobre
a Revelação Divina. (18.11.1965), AAS 58 (1966) 817-836.
LATOURELLE, R. – FISICHELLA, R., Dicionário de Teologia Fundamental, Vozes,
Petrópolis 1994.

Bibliografia complementar para leitura


JOÃO PAULO II, Carta Encíclica Fides et Ratio.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 26-184.

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