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JONAIR PONTES

A DIVINDADE DE JESUS: UMA ABORDAGEM


APOLOGÉTICA PRESSUPOSICIONAL
.

“A DIVINDADE DE JESUS: UMA ABORDAGEM


APOLOGÉTICA PRESSUPOSICIONAL Para atender
as exigências da disciplina Apologética – Profº
Reverendo Ronaldo Bandeira Henriques.

SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO


REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
São Paulo - 2022
A DIVINDADE DE JESUS: UMA ABORDAGEM
APOLOGÉTICA PRESSUPOSICIONAL

Jonair Pontes1

RESUMO

O assunto que propomos é um dos mais relevantes dentro do Conjunto da


Doutrina Cristã. Se esta doutrina for mal compreendida, consequentemente toda
teologia se esvaziará e as consequências serão inevitáveis. Se esta doutrina não for
verdadeira, então Deus cometeu um grande equívoco da história e falhou por eleger
o seu filho para morrer em nosso lugar. Se ela for esvaziada de seu conteúdo,
certamente a cruz de Cristo não passaria de um evento irrelevante como outros
repetidos na história.

Mas como Deus não falha, e considerando que tudo que Ele faz é perfeito e
completo, logo todos aqueles que se levantam em contrário, vivem decretando guerra
contra o Rei dos Reis, e lançando-se diante daquele que é Deus Soberano, e tem
poder para absolver ou condenar.

1
Estudante de Teologia do Seminário Teológico Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição.
3

Portanto rejeitar a Divindade de Jesus é rejeitar a Deus, e ainda mais, é lutar


contra Deus; querer ser mais sábio que Deus; querer questionar a Deus. Todavia,
conhecer esta doutrina e aceitá-la, é receber o próprio Deus.

No transcorrer deste trabalho daremos uma visão geral desta doutrina que se
faz presente deste o início da Igreja Cristã e sem a qual, a Igreja não teria razão de
ser, pois tornaria um mero aglomerado de pessoas tentando buscar a Deus, mais sem
sucesso.

Todavia se reconhecermos o nosso estado decaído e adorarmos aquele que


viveu entre nós, o único Divino, receberemos o poder de serem feitos filhos de Deus,
o que nos transportará da morte para a vida; da perdição para a salvação; da
condenação do inferno para o céu.

Não tenho o mínimo desejo de apresentar quaisquer novidades acerca do Filho


de Deus. Uma vez que ele estava em existência com Deus e como Deus, antes que
a terra fosse criada. Nem tampouco obscureceremos, apresentando teorias humanas
e conceitos feitos pelo homem a respeito do Salvador.

PALAVRAS-CHAVE: Divindade; Doutrina, Ofício.


ABSTRACT

The subject we propose is one of the most relevant within the Body of Christian
Doctrines. If this doctrine is misunderstood, consequently all theology will become
empty and the consequences will be inevitable. If this doctrine is not true, then God
has made a great misunderstanding of history and failed by electing his son to die in
our place. If it is emptied of its content, surely the cross of Christ would be nothing
more than an irrelevant event like others repeated in history.

But since God does not fail, and considering that everything He does is perfect
and complete, then all those who stand up to the contrary live decreeing war against
the King of Kings, and casting themselves before the One who is Sovereign God, and
has the power to absolve or condemn.

Therefore, to reject the Divinity of Jesus is to reject God, and even more, it is to
fight against God; to want to be wiser than God; to want to question God. However, to
know this doctrine and accept it, is to receive God Himself.

Throughout this work we will give an overview of this doctrine that has been
present since the beginning of the Christian Church and without which, the Church
would have no reason to exist, because it would become a mere agglomeration of
people trying to seek God, but without success.

However, if we recognize our fallen state and worship the One who lived among
us, the only Divine One, we will receive the power to be made children of God, which
will transport us from death to life; from damnation to salvation; from hell's
condemnation to heaven.

I have not the slightest desire to present any news about the Son of God. Since
he was in existence with God and as God, before the earth was created. Neither will
5

we obscure by presenting human theories and man-made concepts concerning the


Savior.

KEY WORDS: Divinity; Doctrine, Office.


1 INTRODUÇÃO

Sendo Ele o Filho de Deus enviado ao mundo na condição de Mediador, Jesus


é considerado o Messias do Antigo Testamento e como Cristo do Novo Testamento
em função dos ofícios pelos quais estava designado a cumprir. No Antigo Testamento
Deus escolheu alguns homens e os ungiu para exercerem ofícios santos para
comunicar ao povo, apresentá-lo diante do Deus com sacrifícios pelo pecado e
protegê-lo. A saber, os ofícios de profeta, sacerdote e rei. Assim sendo, o Senhor
Jesus fora designado para ser o Único Mediador entre Deus e os homens, apontado
no Novo Testamento. João Calvino disse:

[...] para que a fé encontre em Cristo a matéria sólida da salvação, e assim


n’Ele descanse, deve-se estabelecer o princípio de que conste de três partes
o ofício a ele imposto pelo Pai, pois dado como Profeta, Rei e Sacerdote2.

Dado a importância do assunto, o presente trabalho pretende apresentar as


práxis comuns dos ofícios no Antigo Testamento; A Obra do Senhor Jesus como o
cumprimento dos ofícios; E as implicações ministeriais que emanam dos ofícios de
Cristo sobre nós evidenciando sua Divindade. Consideramos importante apontar de
maneira introdutória, os Nomes e as Naturezas de Cristo com vistas ao
desenvolvimento de causa e propósito dos ofícios. Para isto, apresentaremos um
breve resumo da doutrina aceita pela Igreja.

2
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. São Paulo: Editora UNESP,
2008. p. 469.
2 DOS NOMES E DAS NATUREZAS DE CRISTO

2.1 NOMES

O Messias designado aos ofícios é chamado de diversas maneiras nas


Escrituras. Segundo Horton: É chamado pelo nome Jesus, que significa Salvador;
Pelo nome Cristo, que significa Ungido; Pelo nome Filho do Homem, que traz consigo
a ideia da sua divindade; Também pelo nome Filho de Deus, por Ele ser o filho
gerado3; Berkhof diz: E pelo nome Senhor, que às vezes é aplicado como um
tratamento de respeito ou então com a máxima conotação de sua autoridade 4. As
maneiras pelas quais o Messias é chamado possui implicações diretas aos ofícios
exercidos por Ele.

2.2 NATUREZA HUMANA E DIVINA

A natureza humana de Jesus Cristo é afirmada pelas Escrituras através de seu


nascimento e os aspectos físicos, sentidos e vividos durante sua vida. Seu nascimento
ocorreu de uma obra milagrosa do Espírito Santo (Mt. 1:24-25), pela qual Ele foi
gerado no ventre da virgem Maria (Lc. 1:35). Sendo Ele gerado, foi concebido sem
pecado e viveu até a morte sem que se achasse nele pecado algum (1 Pe. 2:22).
Homem, nascido de mulher, tinha um corpo humano como o nosso que se desenvolvia

3Cf. HORTON, Michael. Doutrinas da Fé Cristã. Traduzido por João Paulo Thomaz de Aquino. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010. p. 485.
4
Cf. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Traduzido por Odayr Olivetti. 4ª Ed. Revisada. São Paulo:
Cultura Cristã, 2012. p. 289.
8

de forma natural (Lc. 2:40), provando das fraquezas e limitações da natureza humana,
como por exemplo: cansaço (Jo. 4:6), sede (Jo.19:28), fome (Mt. 4:2), angústias (Jo.
12:27), entre outras coisas, tudo o que a ela é capaz de sentir, Ele sentiu.

O Novo Testamento também declara a divindade de Jesus Cristo com precisão.


O Evangelho segundo João (1:1,14) ensina-nos que Ele é aquele que era antes de
tudo e que assumiu a natureza humana (através da encarnação) de maneira
sobrenatural (pelo nascimento virginal). Segundo Wayne Gruden: Conseguinte, temos
inúmeras declarações do Novo Testamento, pelas quais Ele tem a sua deidade
afirmada: Ele é chamado theos, palavra grega usada para Deus (Jo. 1:1; Rm 9:5; Tito
2:13); Kyrios, que significa Senhor, usado 6.814 vezes no Antigo Testamento grego,
para traduzir YHWH (Javé) do hebraico.5

As Escrituras afirmam que Jesus Cristo era totalmente humano e totalmente


Deus. O Único, portanto, capaz de exercer perfeitamente os ofícios de profeta,
sacerdote e rei com a perfeita finalidade salvífica. Estas afirmações culminam num
grande mistério, incapaz de ser compreendido pela razão humana, mas aceito pela
fé. A Igreja, juntamente por meio de grandes estudiosos, compreende a unidade das
naturezas de Cristo em uma só pessoa, como sendo o maior de todos os milagres.
Berkhof diz: “[...] a Igreja aceitou a doutrina das duas naturezas numa pessoa, não
porque tivesse completa compreensão do mistério, mas porque viu claramente nela
um mistério revelado pela Palavra de Deus”6.

5Cf.
GRUDEN, Wayne A. Teologia Sistemática. 2ª Ed. São Paulo: Vida Nova, 2010. p. 448.
6
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 290.
3 DOS OFÍCIOS DE CRISTO

3.1 QUAIS SÃO E POR QUE CONHECÊ-LOS?

Louis Berkhof afirma em sua Sistemática que desde os primeiros pais da igreja
fala-se dos ofícios profético, sacerdotal e real com relação à Obra de Jesus Cristo, no
entanto, que esta abordagem só foi vista com devida importância pela primeira vez
por João Calvino7 . Calvino foi quem apontou de forma distinta o ofício profético de
Cristo, “ao vê-Lo ungido pelo Espírito para ser pregador e testemunha da graça do
Pai”; O ofício real, “do qual Deus constitui Jesus o Rei Eterno, Protetor e Legislador
da Igreja”; E também o ofício sacerdotal, “por Cristo ter se entregado como um
sacrifício intermediário, concedendo-nos o favor da vida eterna.” 8

Hermann Bavinck afirma:

[...] Jesus em todos os momentos e em todos os lugares ocupou-se


simultaneamente do exercício desses três ofícios. Quando falava Ele
proclamava a Palavra de Deus como um profeta, mas ao falar Ele exercia
também Sua misericórdia sacerdotal e Seu poder real, pois através de Sua
palavra Ele curava os enfermos, perdoava e acalmava a tempestade. Ele era
o Rei da verdade. Seus milagres eram sinais de Sua missão divina e de Sua
palavra, mas eram ao mesmo tempo uma revelação de Sua compaixão sobre
todos os aflitos, de seu domínio sobre a doença e a morte e sobre o poder de
Satanás. Em resumo, toda a Sua manifestação, palavra e obra têm um
caráter simultaneamente profético, sacerdotal e real9.

7
Cf. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 327
8
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II p. 470-476.
9BAVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. Traduzido por Vagner Barbosa. São Paulo: SOCEP, 2001.

p.366.
10

Compreendemos que o conhecimento dos ofícios de Cristo se faz necessário


para o desenvolvimento da fé cristã e repetimos aquilo que foi dito por Calvino e citado
em nossa introdução, que os ofícios designados a Cristo pelo Pai devem ser
estabelecidos como princípios10. Ainda quanto à necessidade de conhecê-los,
Bavinck diz:

[...] precisamos de um Cristo que seja os três ao mesmo tempo. Nós


precisamos de um profeta que nos pregue a Palavra de Deus, de um
sacerdote que nos reconcilie com Deus e de um rei que, em nome de Deus,
nos governe e proteja. Toda a imagem de Deus deve ser restaurada no
homem – conhecimento, justiça e santidade. O homem por inteiro deve ser
salvo, alma, corpo e cabeça, mão e coração. Nós precisamos de um salvador
que nos redima perfeita e completamente e que realize plenamente em nós
Seu propósito original. Cristo faz isso. Sendo Ele mesmo profeta, sacerdote
e rei, Ele faz com que nós também sejamos profetas, sacerdotes e reis para
Seu Deus e Pai (Ap.1.6).11

Passemos, portanto, a analisar os ofícios profético, sacerdotal e real designado


ao Senhor Jesus, apresentado a Divindade de Cristo e conhecendo as práxis comuns
do Antigo Testamento e o propósito que se cumpre n’Ele, através do Novo
Testamento.

10
Cf. CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. p. 469.
11
BAVINCK, Hermann. IBIDEM. p. 368.
4 OFÍCIO PROFÉTICO

4.1 NO ANTIGO TESTAMENTO

Havendo Deus falado de muitas maneiras (Hb. 1:1) pelos profetas ou através
de anjos (teofanias), vemos que o exercício da proclamação e da predição é um tipo
de ofício caracteristicamente especial no Antigo Testamento. Segundo Gruden: Pois
se tratava de alguém que revelava a Palavra de Deus, alguém que transmitia a Sua
Mensagem.12 Lewis S. Chafer diz: “Sobre o profeta do Antigo Testamento, deve ser
observado uma ordem de desenvolvimento. Ele foi primeiro chamado o homem de
Deus, mais tarde, considerado o vidente, e finalmente foi identificado como profeta”13.

Moisés, Arão, Elias e Samuel, são nomes famigerados do ofício profético no


Antigo Testamento. Contudo, há algo importante apontado por Berkhof, que
precisamos destacar:

Para receber uma revelação não é preciso ser profeta. Pensamos em


Abimeleque, Faraó, Nabucodonosor, todos os quais receberam revelações.
O que faz de alguém um profeta é a vocação divina, a ordem para comunicar
a outros a revelação divina14.

Berkhof ainda diz: Os profetas eram aqueles que tinham o dever de


comunicar/transmitir a Mensagem de Deus, de conduzir o povo à lei, protestar contra

12
Cf. GRUDEN, Wayne A. Teologia Sistemática. p. 525.
13
CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. Tradução de Heber Carlos Campos. São Paulo:
Hagnos, 2003. p. 32.
14
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.329.
12

as injustiças e de anunciar a graça futura.15 Segundo Michael Horton, os profetas


eram mestres, advogados e embaixadores que aplicavam a política celestial. 16
Berkhof diz que se tratava de alguém que representava Deus junto ao povo.17 Eles
eram revestidos de autoridade, pois traziam consigo a Palavra de Deus (1Sm. 16:4).
Ainda ele diz: Traziam a “instrução, admoestação, exortação, promessas gloriosas ou
censuras severas.18” Os profetas do Antigo Testamento, portanto, tinham a finalidade
de tipificar/apontar um profeta superior, alguém que viria após eles, aquele anunciado
por Moisés e a quem o povo deveria ouvir (Dt. 18:15-18).

4.2 NO NOVO TESTAMENTO

Para a fé do povo judeu havia a esperança da chegada do profeta anunciado


por Moisés. João Calvino disse:

De fato, isso não foi uma presunção temerária da alma dos judeus, mas, dado
que foram instruídos com oráculos certos, assim, creram. [...] Por essa razão,
ao recomendar a perfeição da doutrina evangélica, quando disse que
antigamente Deus falou aos pais, de várias maneiras por intermédio dos
profetas, o apostolo acrescenta que hoje fala a nós através do Filho amado
[Hb 1:1].19

O Novo Testamento revela que Jesus é este grande profeta esperado e


reconhecido pelo povo (Lc. 7:16; Jo. 6:14), predito por Moisés (At. 3:22-24), apontado
e tipificado pelo ofício profético em todo Antigo Testamento (Lc. 24:27). Segundo
Wayne Gruden, o Novo Testamento evita chamar Jesus de profeta devido a sua
supremacia em relação aos profetas do Antigo Testamento.20 Ferreira afirma:
Sobretudo, Jesus Cristo é o maior de todos os profetas porque Ele é a Palavra de
Deus21. Por meio dEle, Deus falou (Hb. 1:2), revelou a Sua imagem (Cl. 1:15), a
expressão exata do seu Ser (Hb. 1:3). Já Bavinck diz: Jesus foi a proclamação de Sua
própria pessoa, pois ele fazia o que Pai fazia (Jo. 5:19). Seu ensino e a Sua obra
apontavam para Ele mesmo revelando o Senhor.22 Quanto a isso, Berkhof afirma:

Depois da sua encarnação ele prosseguiu em sua obra profética com os seus
ensinos e milagres, com a pregação dos apóstolos e dos ministros da

15
Cf. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.329.
16
Cf. HORTON, Michael. Doutrinas da Fé Cristã. p. 512.
17
Cf. BERKHOF, Louis. IBIDEM. p. 331
18
Cf. IBIDEM, p. 329.
19
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. p. 470.
20
Cf. GRUDEN, Wayne A. Teologia Sistemática. p. 524.
21
Cf. FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: uma análise histórica, bíblica, e
apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007. 563p.
22
Cf. BAVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. p.374 - 375.
13

Palavra, e também com a iluminação e instrução dos crentes como o espírito


que neles habita. Ele continua a sua atividade desde os céus, mediante a
operação do Espírito Santo. [...] ele não só ensina por meio de comunicações
verbais, mas também pelos fatos da revelação, como encarnação, a sua
morte expiatória, a ressurreição e a ascensão. 23

4.3 APLICAÇÕES

Jesus, não apenas ensinou em seu tempo de ministério físico (encarnado) aqui
na terra, mas ensina-nos até os dias de hoje por meio do Seu Santo Espírito que
habita em nós. A maneira pela qual Jesus revela a si mesmo (Deus) é extremamente
impactante, o que nos aproxima de Deus e nos torna também mensageiros de Seu
Reino. Pelo ato Redentor do Senhor Jesus, podemos hoje proclamar/profetizar as
virtudes do Senhor Jesus. Não só podemos, mas devemos ensinar a guardar os seus
Mandamentos e vivendo como seus imitadores, cheios da Palavra Viva em nós.

23
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.329.
5 OFÍCIO SACERDOTAL

5.1 NO ANTIGO TESTAMENTO

Uma vez que o profeta era o representante de Deus junto ao povo, o sacerdote
no Antigo Testamento era o representante do povo junto a Deus, um mediador
designado por Ele para prática de rituais (Lv. 9: 1-24), apresentando sacrifícios,
ofertas e as orações do povo diante d’Ele. Isto é, Berkhof afirma que o ofício sacerdotal
era ocupado por um homem constituído por Deus para representar o povo nas coisas
religiosas, oferecendo sacrifícios pelos pecados do povo, intercedendo por ele e
abençoando-o em nome de Deus.24

A prática de sacrifícios apresentadas diante de Deus é comum no Antigo


testamento, era feita com a finalidade de que o homem fosse aceito diante Deus, tendo
seus pecados expiados (Lv. 3:3-4). Quanto a isso Calvino afirma:

[...] uma vez que uma justa maldição impedisse nossa entrada e Deus, em
virtude de seu ofício de juiz, estivesse irritado conosco, foi necessário um
sacrifício [...] não era lícito ao sacerdote ingressar no santuário sem sangue,
para que os fiéis soubessem que, por mais que fosse interposto como um
protetor, o sacerdote só poderia tornar Deus propício se os pecados fossem
perdoados.25

24
Cf. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 331.
25
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. p. 476.
15

Em Gênesis 4:3-4 temos Caim e Abel trazendo ofertas diante do Senhor, Noé
(8:20), Abraão (12:7), entre outros. Ainda em Gênesis, temos Melquisedeque, rei de
Salém e sacerdote do Deus Altíssimo exercendo o ofício sacerdotal abençoando a
Abraão, que lhe deu o dízimo (14:18-20). Para o povo de Israel, reconhecia-se o ofício
sacerdotal apenas naqueles que fossem da linhagem de Levi (Nm. 8:5-26) ou Arão
(Lv. 8:1-13).

5.2 NO NOVO TESTAMENTO

Vimos no Antigo Testamento que o sacerdócio está ligado a Aliança entre Deus
e o homem. O. Palmer Robertson afirma em Cristo dos Pactos que:

Aliança é um pacto de sangue. Envolve compromissos com consequências


de vida e morte. No ato de estabelecimento da aliança, as partes se
comprometem mutuamente, por meio de um processo formal de
derramamento de sangue. Este derramamento de sangue representa a
intensidade do comprometimento da aliança.26

Deste modo, o Novo o Testamento dá luz sobre todos os atos sacrificais


exercidos pelos sacerdotes no Antigo Testamento que eram, na verdade como
sombra do que viria acontecer. Pois nele vemos Jesus Cristo sendo levado (Jo. 3:16)
às últimas consequências da Aliança da Lei, entregando-se a si mesmo e tendo
derramado o seu sangue em favor da redenção dos pecadores (Jo. 3:17; Ef. 5:2; Hb.
9:14; 10:4,10), testemunhando o compromisso de Deus consigo mesmo. Ele satisfez,
e só Ele, a vontade do Deus Pai. A Obra dEle não precisa ser repetida, pois é definitiva
(Hb. 10:19-22) e se estende por toda eternidade (Hb.7:25). Lewis S. Chafer afirma que
“Jesus é visto em vários tipos do Antigo Testamento, e é a verdade essencial na
epístola aos Hebreus”.27. À vista de todos os feitos de Jesus no Novo Testamento, por
exemplo, as curas (Lc. 5:17-26), expulsões de demônios (Lc. 4:31-35), domínio sobre
a natureza (Mc. 4:35-41) e da vida (Mc. 5:35-43), todo sacrifício do Antigo Testamento
era apenas sombra de Suas Obras. Pois, o Antigo Testamento prefigurava o advento
de um Sumo Sacerdote. Jesus é o Sumo Sacerdote constituído por Deus (Hb. 5:1)
para livrar o homem de suas misérias, curá-lo e purificá-lo através do ofício sacerdotal.
João Batista disse a seu respeito: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo!” (Jo. 1:29, 35-36). Segundo Berkhof:

26
ROBERTSON, O. Palmer. Cristo dos Pactos. Traduzido por Américo Ribeiro. Campinas: Luz para o
Caminho, 1997.p.17.
27
CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. p. 38.
16

A obra sacerdotal de Cristo é exposta com maior clareza na Carta aos


Hebreus, onde o Mediador é descrito como o nosso único verdadeiro, eterno
e perfeito sumo sacerdote, constituído por Deus, que assume vicariamente o
nosso lugar e, pelo sacrifício de si mesmo, obtém uma real e perfeita
redenção, Hb 5:1-10; 7:1-28; 9:11-15,24-28; 10:11-14,19-22; 12:24,
particularmente os seguinte versículos: 5:5; 7:26; 9:1428.

5.3 APLICAÇÕES

Sendo Jesus Cristo o nosso Sumo Sacerdote, somos encorajados por essa
Graça que nos fora dada a segui-Lo em cada área de nossas vidas. Tanto
espiritualmente quanto fisicamente, Ele é o que purifica, cura e liberta o homem. Ele
permanece eternamente como nosso intercessor, Ele está comprometido consigo
mesmo, em interceder junto ao Pai por todo aquele que lhe foi dado. Portanto, através
desta graciosa Obra de Redenção em nosso favor, temos novamente acesso a Deus
Pai, acesso a sua presença, podendo fazer as nossas orações, dando-Lhe sacrifícios
de louvor e vivendo humildemente com práticas que visam o bem do próximo.

28
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p.335.
6 OFÍCIO REAL

6.1 NO ANTIGO TESTAMENTO

Sem dúvidas o nome mais afamado no Antigo Testamento em relação ao ofício


real é nome do rei Davi. Ungido (1Sm. 16:13) para ser rei sobre Israel (2Sm. 5:2-3),
ele é conhecido por suas muitas conquistas militares (2Sm. 8:1-14) em favor de Israel.
O ofício de um rei no Antigo Testamento, portanto, está ligado a ideia de alguém
protegia o povo e administrava as demandas da nação (1Rs. 3:16-28). Davi também
é conhecido pela Promessa de que a sua posteridade reinaria eternamente.
Sobretudo, após a morte de Davi, um após outro, os seus herdeiros tornaram Israel
motivo de vergonha. Conquanto, a Promessa deve ser interpretada como o anúncio
de um Rei superior a todos. Calvino nos afirma:

Assim, quando Davi, rindo da audácia dos inimigos que procuravam separar
deles o jugo de Deus e de Cristo, diz que inutilmente se tumultuam os reis e
as nações, porque aquele que habita nos céus é suficientemente forte para
quebrar suas forças (Sl 2:3-4), deixando os devotos ainda mais certos de sua
redenção [...]29 .

29
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. p. 554.
18

6.2 NO NOVO TESTAMENTO

“Hosana ao Filho de Davi! Com esta aclamação Jesus Cristo foi recebido ao
entrar em Jerusalém (Mt. 21:9). Através da ideia do reinado de Davi, Lewis S. Chafer
afirma:

Um conjunto maior de textos da Escritura relaciona ao trono de Davi, e


assevera que Ele ainda reinará nesse trono para sempre. [...] uma citação de
duas passagens que registram o propósito divino em seu nascimento com
respeito ao trono de Davi, se segue: [...] (Is 9:6-7); [...] (Lc. 1:31-33). O alcance
do reinado de Cristo é visto em seu nascimento: “nascido rei dos judeus” (Mt
2:2), como justo herdeiro do trono de Davi, e assim reconhecido pelo povo
(Jo 12:13); Ele reivindicou ser um rei (Mt. 27:11); morreu sob essa acusação
e vem novamente como “Rei dos reis, e Senhor dos senhores (Ap.19.16).30”

O Senhor Jesus, no entanto, é Rei muito antes que Davi fosse ungido para
reinar sobre Israel. Ele é Rei, antes mesmo que Adão e Eva caíssem, Ele é Rei
eternamente porque estava com Deus desde o princípio (Jo. 1:1-2), criando todas as
coisas (Cl. 1:15-19). Jesus não reivindicou para si um governo político na terra, como
esperavam os judeus. Seu reinado é espiritual. Para Horton:

Na antiga aliança o reino estava tipologicamente concentrado na glória


externa das estruturas cúlticas e civis de Israel, mas durante “esta era
presente” sua glória está escondida na cruz. Ele reivindica corações, não
territórios políticos31.

Jesus veio salvar os perdidos e redimi-los do pecado. Como Rei saiu em defesa
dos eleitos em uma guerra espiritual, pisou a cabeça da serpente (Gn 3:15), obteve a
maior de todas as conquistas, venceu a morte, e a sua vitória leva-nos a vida eterna.
Ele é o Rei dos reis. Segundo Calvino: O Senhor Jesus nos deu por herança eterna a
salvação e as bênçãos no presente como espólios da sua Vitória, quando nos adotou
como filhos. Assim como no Antigo Testamento, Deus constituía o profeta, o rei e o
sacerdote, “Deus constitui seu Filho o Rei Eterno” 32,

6.3 APLICAÇÕES

A ideia de uma batalha marca profundamente a fé e até mesmo os sentidos


físicos do crente quando vemos a Cristo lutando em nosso favor, pois a Sua Vitória
possui efeitos eternos. Os efeitos da Vitória do Senhor Jesus são transmitidos ao Seu
povo, à Sua Igreja. Sendo ela fundada n’Ele, está segura eternamente, pois o maior

30
CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. p. 42.
31
HORTON, Michael. Doutrinas da Fé Cristã. p. 512.
32
Cf. CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã, Tomo I, Livros I e II. p. 472.
19

de todos inimigos já está derrotado. Portanto, através da redenção a Igreja participa


novamente da autoridade que foi perdida com a queda. Em Nome de Jesus Cristo, a
Igreja exerce de certa maneira, autoridade sobre todos os aspectos da terra.
7 CONCLUSÃO

Por meio da Obra de Jesus Cristo, o mundo pôde ver a plenitude de tudo o que
seria, se não fosse a existência do pecado em nós. Pois, sem o pecado a humanidade
teria perfeita condição de exercer o ofício profético e então falar das coisas de Deus
pelo relacionamento com Ele. Exerceria também o ofício sacerdotal, dando ao Senhor
sacrifícios de louvor, honrando-o e glorificando-o por toda sua formosura. E como a
um rei, teríamos domínio sobre a terra e os mares. Porém, por causa dos nossos
pecados, fomos afastados da presença do Senhor e sem que o próprio Deus tivesse
manifestado sua Misericórdia, primeiro anunciando e em seguida enviando seu Filho
para cumprir perfeitamente estes santos ofícios, a humanidade não tinha dado um
passo, sequer após a queda.

Jesus exerceu o ofício profético revelando a perfeita Palavra através de Si


mesmo para nós. Exerceu o ofício sacerdotal, pondo-se como Perfeito Mediador,
oferecendo a si mesmo para expiação dos nossos pecados e aplacando a ira divina
de Deus. Por fim, como Rei, Jesus enfrentou a morte para proteger-nos da morte
eterna. Ele é, pois, o Verdadeiro Profeta, Sacerdote e Rei que a humanidade precisa.
Portanto diante dos ofícios exercidos por Cristo, conseguimos compreender
que somente o Ser Divino poderia cumprir de forma perfeita a vontade do Pai, e por
meio Dele temos paz com Deus para viver, através deste novo e vivo caminho.
8 BIBLIOGRAFIA

BAVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. Traduzido por Vagner Barbosa. São


Paulo: SOCEP, 2001. 623p.

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