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Aula 1
Introdução
A Cristologia é uma parte da teologia que trata sobre Cristo. Estuda Jesus Cristo como o
Verbo encarnado e Filho de Deus, e Jesus como nosso salvador e redentor, tal como
no-lo propõe a fé da Igreja.
▪ O mistério de Cristo, que se refere à sua pessoa e à sua obra de salvação, junta e
resume todos os artigos da fé: os que se referem à Trindade, pois Ele é Deus, o
Filho do Pai, e revela-nos a Trindade; e os que se referem aos desígnios e obras
de Deus, pois Ele levou a cabo o plano da sua vontade salvífica.
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fé. A atitude principal da primeira tradição cristã foi a de conservar fielmente a
recordação das palavras e obras de Jesus.
Aula 2
Natal
O fim da Encarnação é a salvação dos homens: o Filho de Deus veio “para que o
mundo se salve por Ele” (Jo 3, 17), “para ser salvador do mundo”(1Jo 4, 14).
▪ Credo: “por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus. E encarnou
pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem”.
▪ CIC 457: “O Verbo encarnou para nos salvar, reconciliando-nos com Deus”.
▪ CIC 460: “Encarnou para nos fazer ‘participantes da natureza divina’ (2Pd 1, 4)”.
O homem, só com as suas forças, não pode alcançar a salvação. Depois do pecado
original, todos os homens tinham ficado privados da glória de Deus, da amizade com
Deus, e escravos do pecado. Ninguém pode ser justificado a não ser pela graça de Jesus
Cristo.
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▪ Promessas do Redentor:
2) promessa a Abraão (Gn 12) de lhe dar uma terra e de o tornar pai de um grande
povo e de que, pela sua descendência, seriam abençoadas todas as nações da
terra;
1) será filho de David e o seu reino não terá fim (Natan: 2Sm 7, 12-16);
Dt 18, 15-19: Deus enviará “outro profeta” como Moisés que ensinará e guiará o
seu povo.
Is 61, 1-2: o Messias será ungido por Deus com o espírito dos profetas para anunciar
a salvação aos homens.
▪ Profecias sobre o Messias rei e sacerdote: Salmo 109 (110): o Salvador será, ao
mesmo tempo, rei e sacerdote. Mas o seu sacerdócio não é o levítico.
Figura de Cristo: Melquisedec, rei-sacerdote (cfr. Hb 7, 3).
▪ Profecias sobre o sacrifício de Cristo: Is 42, 49, 50, 52: cantos sobre o “Servo de
Yahvéh”; Salmo 21 (22). “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
▪ O Messias, “que Deus enviaria para instaurar definitivamente o seu Reino (...),
devia ser ungido pelo Espírito do Senhor, simultaneamente, como rei e sacerdote
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(cfr. Za 4, 14; 6, 13), mas também como profeta (cfr. Is 61, 1; Lc 4, 16-21). Jesus
cumpriu a esperança messiânica de Israel na sua tríplice função de sacerdote,
profeta e rei” (CIC 436).
Gaudium et Spes 10: “A Igreja crê que a chave, o centro e o fim de toda a
história humana se encontram no seu Senhor e Mestre”.
Aula 3
Encarnação
▪ Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. “Com efeito, aquele que ela concebeu
como homem, por obra do Espírito Santo, e que se fez verdadeiramente seu Filho
segundo a carne, não é senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da
Santíssima Trindade” (CIC 495).
▪ NT: testemunha que Cristo foi homem verdadeiro, com um corpo real: descende de
David, foi concebido de Maria, nasceu, cansou-se, teve fome e sede, dormiu,
sofreu, derramou o seu sangue, morreu, foi sepultado. Corpo de carne e osso, real
e tangível.
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Algumas heresias
▪ Santos Padres: sem alma (sem inteligência, nem vontade humanas), Cristo não
teria redimido a linhagem humana, pois não foi sanado o que não foi assumido.
Adopcionismo: Cristo não era uma pessoa divina, mas um homem que, no Baptismo,
recebeu uma “dynamis” ou força divina, que o faz um homem superior. Não é Filho de
Deus por natureza, mas só por adopção (Heresia de Paulo de Samosata, bispo de
Antioquia, condenado e deposto do seu cargo no ano 268).
▪ Pede fé (Jo 14, 1) e amor acima de tudo (Mt 10, 37), que só Deus pode exigir, e a
sua aceitação é requisito para a salvação (Mt 10, 32). Pede até que se entregue a
vida por Ele (Lc 17, 33).
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NT: a sua preexistência ao mundo:
▪ Col 1, 15-17: criador e conservador do mundo; muitos textos que afirmam que
veio enviado pelo Pai: vem “do céu” (Jo 3,13), “do alto” (Jo 8, 23); “saiu de Deus
Pai” (Jo 8, 42), etc..
▪ Como o Pai atua sempre, assim Jesus dá a vida e a saúde, inclusive ao sábado (Jo
5, 17).
▪ Rom 9, 5 (“o qual está sobre todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos”);
▪ Tt 2, 13-14 (“esperamos a vinda gloriosa do nosso grande Deus (...), Jesus Cristo”).
• AT: título dado aos anjos (Dt 32, 8), ao povo eleito (Ex 4, 22), e aos seus reis (2Sm
7, 14). Significava então uma relação particular entre Deus e a sua criatura.
Também quando chama “filho de Deus” ao Messias (Salmo 2, 7) os judeus
entendiam que era um homem singularmente abençoado por Deus, e não Filho
único de Deus por natureza.
▪ NT: O que vimos já mostra que Jesus se declarava Filho de Deus enquanto
verdadeiro Deus nascido do Pai. Os judeus entendiam-no assim e queriam matá-lo
por isso. Jesus distingue: “meu Pai...Vosso Pai”(Jo 20, 17). Ele é “filho próprio” (Rm
8, 3) e Unigénito (Jo 3, 16. 18) do Pai. Mt 11, 27: “Ninguém conhece o Filho senão
o Pai, nem ninguém conhece o Pai a não ser o Filho…”.
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Aula 4
Unidade pessoal de Jesus Cristo
Nestório (patriarca de Constantinopla, 428): Maria não seria Mãe de Deus, porque em
Jesus haveria duas pessoas: uma divina e outra humana, e Maria seria mãe da pessoa
humana de Cristo. A união entre a natureza divina e a humana seria só uma união moral
entre dois sujeitos. Identidade de vontade, mas não se poderia dizer que o Filho de Deus
nasceu de Maria, morreu, etc.
▪ Refutado por S. Cirilo de Alexandria e condenado por Éfeso (431). União das
duas naturezas de Cristo na Pessoa (hipóstase) divina do Verbo, única em Cristo.
Por isso Maria é verdadeiramente Mãe de Deus: d’Ela nasceu o Verbo segundo a
carne.
▪ Condenado por São Leão Magno (440-461) e Calcedónia (451): “Há que confessar
um só e mesmo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo: perfeito na divindade, e
perfeito na humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeira- mente homem (...).
É preciso reconhecer um só e mesmo Cristo Senhor, Filho único do Pai, em duas
naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. (...) Ficam a
salvo as propriedades de cada uma das naturezas”.
▪ A distinção entre uma natureza e a pessoa que a possui é uma distinção entre
uma parte e o todo. Ex.: Pedro é a pessoa, o todo, e a natureza é uma parte dele
que o especifica.
▪ A união das duas naturezas em Cristo é uma união hipostática (na pessoa). Não
tem semelhança com nenhuma outra união. Conhecemo-la pela fé.
A Pessoa de Cristo não é causada pela união das duas naturezas, porque é eterna.
Cristo não “é” ou existe pela sua natureza humana, senão que por ela “é homem”.
▪ Cristo, enquanto homem, não é filho adoptivo pela graça que tem, pois a sua
humanidade não constitui nenhum sujeito pessoal que pudesse ser filho.
▪ Tais teorias reduzem a realidade de um ser a um dos seus atos: a pessoa seria a
simples consciência de si mesma. Isto é um erro, pois toda a operação vital - como
é a consciência - requer um sujeito operante, que é a pessoa. A pessoa não se
identifica com a sua consciência, nem se constitui por ela: a pessoa é que tem
essa consciência de si mesma.
Aula 5
Cheio de graça e de verdade
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▪ Quanto mais unido se está a Deus, mais se participa da sua bondade e mais
abundantes bens se recebem. Não há união mais íntima com Deus que a união
numa pessoa divina. Daí que Cristo, na sua humanidade, esteja cheio dos dons
divinos: a sua natureza humana pertence propriamente à pessoa divina do Filho
de Deus, que a assumiu (cfr. CIC 470).
▪ Cristo, enquanto homem, também é santo pela graça habitual, que é conveniente,
porque a sua humanidade não é santa por si mesma, nem se transformou em divina
(distinção das duas naturezas). Chega a ser divina e santa por participação.
Cristo tem plenitude de graça santificante, porque a união da sua humanidade a
Deus é a mais estreita que se possa imaginar. Jesus possuía a graça com toda a
perfeição possível: com todos os efeitos, virtudes, dons e operações que esta
possa ter e alcançar. Todas as graças que os homens têm provêm d’Ele. Essa
plenitude chama-se “graça capital”.
▪ Cristo, enquanto homem, está plenamente divinizado pela graça habitual: por isso
não podiam faltar-lhe as virtudes infusas em grau máximo e perfeito. Mas não
teve aquelas virtudes que supõem, em si mesmas, alguma carência ou
imperfeição (fé: já possuía a visão de Deus; esperança: já tinha a união com
Deus; penitência: não teve pecado).
▪ Por causa da sua plenitude de graça, Cristo possuía os dons do Espírito Santo em
grau excelentíssimo e eminente, e todos os carismas que tiveram os homens
para qualquer missão de edificação dos outros (apóstolos, profetas, pregadores,
doutores, pastores, etc.).
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▪ Jesus é santo também em sentido operativo e moral: completa identificação da
sua vontade humana com a sua vontade divina, no que é grande e no que é
pequeno.
▪ Cristo não só não teve pecado de fato, sim que era impecável, porque as ações
são da pessoa. Se Cristo pudesse pecar, seria Deus quem pecaria. Além disso,
Cristo gozava da visão de Deus, que supõe a impossibilidade de rechaçar o Bem
infinito.
Como Cristo tem duas naturezas perfeitas, tem dois modos de conhecer, um infinito e
divino e outro humano.
▪ Gaudium et Spes 22: O Filho de Deus “trabalhou com mãos humanas, pensou
com inteligência humana, agiu com uma vontade de homem, amou com um
coração humano”.
▪ Padres: Cristo não ignorava a data do fim do mundo, sim que não queria, nem
devia revelá-la.
=> CIC 474: “O que neste domínio Ele reconhece ignorar (cfr. Mc 13, 32),
declara, noutro ponto, não ter a missão de o revelar (cfr. At 1, 7)”.
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▪ A partir do século XX, especial interesse pela consciência que Jesus tinha de si
mesmo: sim, sabia-se Filho de Deus e Messias. Alguns autores negam que tivesse
consciência da sua divindade. Outros sustentam que, desde uma inicial
ignorância, iria, pouco a pouco, tomando consciência de ser Filho de Deus e
Salvador do mundo.
Aula 6
Outras características
▪ Monoenergetismo: para convencer os monofisitas, Sérgio de Constantinopla
(início s. VII) ensinou que Cristo tinha uma única operação.
▪ Liberdade humana de Cristo: “Dou a minha vida para outra vez a assumir.
Ninguém ma tira, mas eu a dou por mim mesmo” (Jo 10, 17).
▪ Que Cristo seja livre não significa que pudesse pecar. Elege sempre o bem com
domínio sobre os seus atos, porque a sua liberdade é perfeita. Querer o mal,
não é o próprio da liberdade, ainda que seja um sinal de liberdade, como o erro
não é conhecimento.
A vontade humana de Cristo sempre “segue a sua vontade divina sem lhe fazer
resistência, nem oposição; antes, pelo contrário, está sempre subordinada a esta
vontade omnipotente” (Constantinopla III, 681).
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▪ Em Getsêmani, quando Jesus diz: “Não se faça como Eu quero, mas sim como Tu
queres” (Mt 26, 39), não há oposição de vontades, sim que a sua inclinação
sensível ou a sua sensibilidade podiam apetecer algum bem diferente do querer
divino, mas estavam inteiramente submetidas a ele pelo ato livre da sua vontade
racional humana.
Constantinopla III, 681 confessou “duas operações naturais sem divisão, sem
mudança, sem separação, sem confusão, no mesmo Senhor nosso Jesus Cristo, nosso
verdadeiro Deus, isto é, uma operação divina e outra operação humana”.
▪ Como todo o homem, pode realizar todas as ações humanas naturais e, como
todo o homem em estado de graça, pode realizar obras sobrenaturais. Todas
estas ações são próprias da segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
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▪ Como as ações humanas de Cristo eram livres e nasciam do imenso amor ao Pai,
que o Espírito Santo tinha infundido na sua alma, todas elas eram meritórias, quer
dizer, eram dignas de alcançar o fim a que as tinha ordenado o desígnio divino.
▪ Antes da sua Ressurreição, Cristo mereceu para si mesmo aqueles bens que
ainda não possuía (glorificação e exaltação da sua humanidade). Também
mereceu para nós a salvação. Mereceu a graça para todos os homens, pois a
este fim estava ordenada a Encarnação do Verbo.
▪ alegria das obras de seu Pai (Lc 10, 21) e de se saber amado pelo Pai (Jo 15, 10);
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▪ desejos ardentes da nossa redenção (Lc 12, 50) e de ficar na Eucaristia (Lc 22,
15);
▪ tristeza ao contemplar os sofrimentos da sua Paixão e o pecado dos seus (Mt 26,
38);
▪ dor da alma até chorar pela morte de Lázaro (Jo 11, 33-35);
▪ ira ante a hipocrisia de alguns (Mc 3, 5) e dos mercadores no Templo (Mt 21, 12),
etc..
▪ Em Jesus não faltou a virtude natural, da qual derivam todas as outras, que é o
amor, e que é sobre naturalizado pela caridade. Este foi o motor da sua vida e a
chave da harmonia e unidade de todo o seu ser: seu amor e entrega ao Pai e a
nós.
▪ CIC 478: “Amou-nos a todos com um coração humano. Por esse motivo, o Sagrado
Coração de Jesus, trespassado pelos nossos pecados e para nossa salvação, ‘é
considerado sinal e símbolo por excelência (...) daquele amor com que o divino
Redentor ama sem cessar o eterno Pai e todos os homens’ (Pío XII,
Enc.Haurietis aquas, 1956)”.
▪ Deus talvez tenha permitido que não tivéssemos uma descrição de Jesus, para
que não fôssemos atraídos a Ele por motivos meramente humanos.
Aula 7
O Mistério da Redenção
A cristologia estuda mistério de Cristo: da sua pessoa e da sua obra redentora numa
unidade indissolúvel. Jesus é o Filho de Deus feito homem e, ao mesmo tempo, o
Salvador esperado.
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2) Unicamente o Filho de Deus pode realizar uma autêntica redenção do pecado do
mundo.
▪ CIC 843: “A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, ‘ainda nas sombras e
sob imagens’, do Deus desconhecido mas próximo, pois é Ele quem a todos dá
vida, respiração e todas as coisas e quer que todos os homens se salvem. Assim, a
Igreja considera tudo quanto nas outras religiões pode encontrar-se de bom e
verdadeiro ‘como uma preparação evangélica e um dom d’Aquele que ilumina todo
o homem, para que, finalmente, tenha a vida’”. CIC 844: “Mas, no seu
comportamento religioso, os homens revelam também limites e erros que
desfiguram neles a imagem de Deus”.
▪ Cristo revela que Deus nos ama e nos destinou antes da criação do mundo a una
aliança que nos faz participar da sua vida infinitamente feliz.
▪ O homem só com as suas forças não pode libertar-se do pecado e das suas
consequências. A verdadeira e completa libertação do homem procede
unicamente de Deus: “Mas Deus manifesta o seu amor para conosco, porque,
quando ainda éramos pecadores, então Cristo morreu por nós” (Rom 5, 8).
▪ Deus transcende qualquer criatura. É preciso, pois, purificar sem cessar a nossa
linguagem de tudo o que tem de limitado, de imperfeito. As nossas palavras
humanas ficam sempre muito aquém do Mistério de Deus. Ao falar assim de Deus,
a nossa linguagem exprime-se certamente de modo humano, mas capta
realmente o próprio Deus, sem poder, contudo, expressá-lo na sua infinita
simplicidade. (cfr. CIC 42-43)
“Entregando o seu Filho pelos nossos pecados, Deus manifesta que o seu desígnio sobre
nós é um desígnio de amor benevolente, independentemente de qualquer mérito da
nossa parte: ‘Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, foi Deus que
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nos amou a nós e enviou o seu Filho como vítima de propiciação pelos nossos pecados’
(1Jo 4, 10). ‘Deus prova, assim, o seu amor para conosco: Cristo morreu por nós, quando
ainda éramos pecadores (Rm 5, 8)” (CIC 604).
▪ Padres orientais: sublinham que Cristo veio para nos comunicar a semelhança
com Deus perdida com o pecado. “Admirável intercâmbio”: o Verbo tornou-se
participante da humanidade para nos fazer participantes da divindade. Fixam-se no
aspecto descendente e gratuito da salvação.
Santo Anselmo (+ 1109) via Deus como Senhor soberano, cuja honra é ofendida pelo
pecado. Perante esta ofensa, a ordem da justiça divina exige com todo o rigor uma
reparação voluntária adequada ou um castigo. Mas a dívida é infinita por ser Deus o
ofendido: não devendo pagá-la senão o homem, e não podendo pagá-la senão Deus,
tinha que ser homem e Deus quem satisfizesse a honra divina ferida.
“Os direitos do demónio” (alguns escritos cristãos dos primeiros séculos): ao cometer o
pecado original, o homem ter-se-ia a feito, voluntariamente, escravo do demónio. O
sangue de Jesus seria o resgate, o preço pago ao demónio para livrar o homem da sua
escravidão.
▪ Esta teoria foi combatida por São Gregório de Nazianzo: é errónea, pois interpreta
a redenção segundo os usos humanos (alguém que paga e alguém a quem se
paga) e é alheia à unidade de toda a Escritura, por exemplo quanto ao poder do
demónio, que parece ter direitos absolutos sobre nós.
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Algumas interpretações históricas erróneas sobre a redenção, 2
▪ Para Lutero, a satisfação (cfr. Santo Anselmo) tem lugar mediante um castigo.
Cristo cai sob a ira de Deus, porque tomou sobre si não só as consequências do
pecado, mas o próprio pecado. Cristo redime-nos por meio de uma “substituição
penal”: toma o nosso lugar e é castigado por Deus em nosso lugar.
▪ Calvino acrescenta que Jesus não só morreu como pecador, mas também que
baixou ao inferno e sofreu as penas dos condenados.
▪ Estas teorias apresentam Deus não como Pai que nos ama, mas como um
soberano vingativo e, além disso, injusto (condena o inocente em lugar do
culpado).
Em teorias do séc. XX, Cristo é o mestre, o guia ético e o exemplo de vida. O seu
influxo no homem é só moral: a salvação não nos vem d’Ele, mas é o homem que se
redime a si mesmo autonomamente, seguindo a Cristo. A Sua morte é simplesmente o
símbolo supremo do esforço da humanidade em se livrar do mal.
▪ Nessa corrente há quem pensasse que Cristo seria o modelo de luta contra as
estruturas sociais injustas (teologias da libertação, algumas inspiradas no
marxismo).
▪ Aspecto descendente da obra de Cristo: enviado pelo Pai, comunica aos homens
os dons divinos da salvação: revela-nos Deus e comunica-nos a vida
sobrenatural. Veio ao mundo para comunicar aos homens a graça que tira o
pecado e fá-los participantes da vida divina.
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▪ Uma vez exaltado como Senhor sobre todas as coisas à direita do Pai, dispensa-
nos os bens que nos tinha ganho com o seu sangue e concede-nos o dom do
Espírito Santo (aspecto descendente).
Estes dois aspectos estão estreitamente unidos no desígnio divino: o dom da graça é
fruto do sacrifício de Cristo.
O plano de Deus Pai é que os homens entrem em comunhão Com Ele por meio do
Verbo encarnado. A obra de Cristo deve alcançar cada um dos homens.
▪ É o Espírito Santo, Senhor e dador de vida, quem, com o seu poder infinito,
alcança todos os homens de todos os tempos, e faz com que as ações e méritos
de Cristo se possam aplicar e ter eficácia salvífica em cada um. Torna possível
que cada um possa entrar em comunhão com o Filho de Deus, se incorpore a Ele e
participe da redenção.
Aula 8
Mediador e cabeça
Mediador é nome de ofício. Aplica-se a quem faz de intermediário entre os que estão
separados para os reconciliar, ou para os unir de alguma forma.
▪ Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens: só Ele une os homens a Deus
(Jo 14, 6: “Ninguém vai ao Pai senão por mim”).
▪ 1Tm 2, 5-6: “Há um só Mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo
homem, que se entregou a si mesmo para a redenção de todos”.
▪ Cristo, enquanto Deus, não tem condição de meio (não difere do Pai nem do
Espírito Santo). Tampouco a tem simplesmente pelo fato de ser homem. Tem-na
enquanto o homem cheio de graça e, com a sua entrega (vivificada por tal
plenitude de graça), reconcilia os homens com Deus.
▪ Cristo é o único e sumo Sacerdote que, com o seu sacrifício, nos reconcilia com
Deus. Qualquer outro sacerdócio (ministerial ou comum) é participação do seu
sacerdócio e subordinado a ele.
Cristo é muito mais profeta que os profetas do AT e distingue-se de todos eles: “Deus,
tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas,
nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho” (Hb 1, 1-2).
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Jesus Cristo, Rei
▪ Cristo apresenta-se como Bom Pastor e Rei: “o povo de Deus participa (...) na
função real de Cristo. Cristo exerce a sua realeza atraindo a si a todos os homens
pela sua morte e ressurreição. Cristo, Rei e Senhor do universo, fez-se o servo de
todos, pois “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida como resgate
pela multidão’ (Mt 20, 28). Para o cristão, ‘reinar é servi-Lo’ (Lumen gentium 36)”
(CIC 786).
▪ A Igreja também apresentou Cristo como Legislador (dá-nos a nova Lei da graça e
da caridade), ou como Juiz (dispensa a graça e o perdão dos pecados, e premeia
com a glória).
▪ Deus quis que a humanidade tivesse o seu princípio em Adão. Este pecou não só
como pessoa individual, mas também como cabeça do género humano, e a sua
ação implicava toda a sua descendência (cfr. Rm 5, 12-19). Cristo é o “novo” ou
“segundo” Adão.
▪ Deus quis que Jesus Cristo fosse o princípio e a causa da vida sobrenatural de
todos, o início de uma humanidade redimida.
Cristo, enquanto homem, é Cabeça do género humano. Tem a mesma natureza dos
homens e é solidário com todos eles.
▪ É Cabeça dos homens, porque tem uma preeminência sobre eles pela sua
plenitude de graça, em virtude da qual é o mais perfeito e o exemplar de cada
um dos homens.
▪ moral e intencional pelo amor (nasce da livre vontade de Jesus, do seu amor,
virtude que une e identifica o amante com o amado e que faz com que
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as coisas do amado sejam sentidas como próprias; “amou–me e entregou-se a
si mesmo por mim” (Gl 2, 20).
▪ Cristo representa os homens diante de Deus e oferece-se por todos, mas não nos
substitui, propriamente: não decide por nós, dado que devemos arrepender-nos dos
pecados e incorporar-nos voluntariamente a Ele como seus membros; e tão- pouco
nos poupa nesta vida as penas do pecado, morte incluída.
Aula 9
Mistérios da vida terrena de Cristo
“Toda a vida de Cristo é mistério de redenção. A redenção vem-nos, antes de mais, pelo
sangue da cruz. Mas este mistério está atuante em toda a vida de Cristo” (CIC 517).
▪ CIC 517 acrescenta “Já na sua Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos
enriquece com a sua pobreza; na vida oculta que, pela sua obediência, repara a
nossa insubmissão; na palavra que purifica os seus ouvintes; nas curas e
expulsões de demónios, pelas quais «toma sobre Si as nossas enfermidades e
carrega com as nossas doenças» (Mt 8,17); na ressurreição, pela qual nos
justifica”.
▪ Fuga para o Egipto e matança dos inocentes: toda a vida de Cristo estará sob o
sinal da perseguição.
▪ Vida de família: Jesus santifica-a; vida de trabalho: Jesus dedicou a maior parte da
sua vida ao seu trabalho, com perfeição e espírito de serviço.
▪ As tentações de Cristo fazem parte da sua vitória sobre o Maligno. Cristo dá-nos
exemplo de como lutar contra o Maligno e vencê-lo. “Foi provado em tudo à nossa
semelhança, exceto no pecado” (Hb 4, 15).
▪ Jesus acompanha a sua doutrina com milagres. São sinais do Messias anunciado,
sinais da sua missão e da sua divindade.
Aula 10
Paixão e morte
▪ No plano divino, a dor purifica a alma, tira o obstáculo da própria vontade que nos
afastou de Deus, serve, com a ajuda da graça, para reparar a desordem do pecado
no homem. Com a obra salvadora de Cristo, o sofrimento, sequela do pecado
original, passa a ter um sentido novo.
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▪ A reparação plena dos pecados dos homens dá-se pela Paixão e Morte de Cristo.
▪ Deus Pai não é causa direta da Morte de seu Filho. Permitiu-a, porque daí viria um
bem maior. Entregou Cristo à Paixão e Morte, porque as dispôs, segundo a sua
eterna vontade, para reparar os pecados do género humano. Valor imenso da
salvação das almas para Deus.
▪ Nostra aetate 4: “Ainda que as autoridades dos judeus com os seus seguidores
reclamassem a morte de Cristo, o que se perpetrou na sua paixão não pode ser
imputado indistintamente a todos os judeus que viviam então nem aos judeus de
hoje (...). Não se podem apontar os judeus como reprovados por Deus e malditos,
como se tal coisa se deduzisse da Sagrada Escritura”.
▪ Cristo aceitou livremente a sua Paixão e a sua Morte, por amor a seu Pai e aos
homens, que o Pai quer salvar. Entregou-se, livre e voluntariamente, à Paixão, por
nosso amor. Mas essa entrega não significa, de modo algum, que se matou a si
mesmo, mas apenas que não impediu, podendo fazê-lo, a ação dos que O
condenaram à morte.
▪ Trata-se de uma obediência vivida por amor. O verdadeiro amor a Deus mostra-se,
cumprindo livremente a sua vontade.
▪ Jesus padeceu por parte dos judeus, dos gentios e dos que o seguiam (Judas,
Pedro, abandono...).
▪ Padeceu na sua alma: todos os pecados dos homens, tristeza e temor perante a
morte certa, queda de Judas, escândalo dos seus discípulos, humilhações,
injustiças, burlas e insultos.
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▪ Todas as ações de Cristo são meritórias (nascem do seu amor e liberdade) e obtêm
do Padre a nossa salvação. Mas, na sua Paixão, mereceu de modo particular.
▪ Cristo mereceu a vida sobrenatural para todos os homens e, para todos também,
a graça que tira o pecado: ofereceu-se por nós como nossa Cabeça.
▪ CIC 615: “Pela sua obediência até à morte, Jesus realizou a ação substitutiva do
Servo sofredor, que oferece a sua vida como sacrifício de expiação, ao carregar
com o pecado das multidões, que justifica carregando Ele próprio com as suas
faltas (cfr. Is 53, 10-12). Jesus reparou as nossas faltas e satisfez ao Pai pelos
nossos pecados”.
A Paixão de Cristo satisfaz pelos pecados do mundo. É uma satisfação vigária: “Ele
justo, pelos injustos” (1 P 3, 18).
▪ O Filho de Deus, Santo e Justo, mas feito solidário por amor conosco, pecadores,
representando-nos a todos e levando as penalidades do nosso pecado, como
vítima do pecado, intercede por todos para cancelar a nossa falta. Assim se devem
interpretar alguns textos da Escritura como 2 Cor 5, 21 (“Àquele que não tinha
conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós”) ou Gl 3, 13 (“nos resgatou da
maldição da Lei, feito maldição por nós”).
▪ Cristo não só mereceu que Deus Pai nos outorgue a graça, sim também que o
próprio Cristo é quem no-la comunica. Como a vida das varas procede da vide, a
salvação de cada um procede da nossa Cabeça.
▪ A causa eficiente principal da graça da salvação só pode ser Deus; mas Deus
produz esta graça em nós, mediante a humanidade de Jesus Cristo, que é o
instrumento da divindade para comunicar – e não só para merecer – todas as
graças aos homens.
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▪ As ações realizadas por Cristo no passado têm um poder divino e alcançam, com a
sua eficiência, toda a história.
▪ A contemplação da Paixão de Cristo move-nos a amá-lo, dado que Ele nos deu
provas da verdade e da grandeza do seu amor. Move-nos à contrição, à
conversão, a evitar o pecado (apreciamos mais claramente a sua malícia), a seguir
Cristo e a imitá-lo e à generosidade para abraçar a vontade de Deus (mesmo que,
por vezes, suponha carregar a cruz).
Aula 11
Glorificação
▪ Goza pelo menos da mesma historicidade que qualquer outro sucesso real
acontecido no passado.
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▪ Por isso não creram nas santas mulheres que regressavam do sepulcro e as suas
‘palavras pareciam-lhes como que um delírio’ (Lc 24, 11). Quando Jesus se
manifesta aos onze na tarde de Páscoa, ‘censurou-lhes a sua incredulidade e
dureza de coração, por não terem dado crédito aos que O tinham visto ressuscitado’
(Mc 16, 14)”.
CIC 644: “Pelo contrário, a sua fé na Ressurreição nasceu – sob a ação da graça
divina – da experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado”.
▪ Segundo as Escrituras, o Pai ressuscita Jesus (ex. At 2, 24), o Filho ressuscita por
própria virtude e poder (ex. Jo 10, 17-18), o Espírito Santo ressuscita Jesus (ex.
Rm 8, 11). É uma obra da omnipotência divina comum às três Pessoas divinas
da Santíssima Trindade (ex. 2Cor 13, 4).
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▪ A Ressurreição de Cristo confirma a veracidade da sua doutrina. É o “sinal de
Jonas” (Mt 12, 38), o Templo reconstruído em três dias [“falava do santuário do seu
corpo” (Jo 2, 20-21)].
A graça que nos liberta do pecado e nos faz justos provem do Ressuscitado: é
participação da vida divina, faz-nos filhos de Deus.
▪ Jesus Cristo, Sacerdote da nova e eterna Aliança, no céu intercede sem cessar
por nós. Constituído Senhor com poder à direita do Pai, comunica-nos os dons
divinos pela ação do Espírito Santo.
A versão grega do AT (LXX) traduziu o nome de Yahvé com que Deus se revelou a
Moisés (Ex 3, 14) por “Kyrios” (Senhor). Desde então, foi o nome mais habitual para
designar Deus.
O seu reino é sobrenatural, eterno e não terá fim. O seu reinado é universal.
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Aula 12
Frutos da Redenção
▪ A Igreja, cuja Cabeça é Cristo, tem uma relação indispensável com a salvação de
cada homem. É “sacramento universal de salvação” (Lumen gentium 48). Toda
e qualquer a graça provém de Cristo, é comunicada pelo Espírito Santo, e está
misteriosamente relacionada com a Igreja. “Esta Igreja, peregrina na terra, é
necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação: ora, Ele
torna-se-nos presente no Seu Corpo, que é a Igreja” (Idem 14).
Certamente Deus concede a todos os homens a graça que salva (dada por meio de
Cristo no Espírito, e que tem relação com a Igreja). Mas desconhecemos o modo como a
graça chega aos não cristãos. É claro que cada um deles terá que acolher livremente
esse dom divino para se salvar.
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▪ Efeitos da obra redentora de Cristo nos homens:
1) liberta-nos do pecado, quer quanto à culpa, quer quanto à pena, no que se refere
tanto à alma, como ao corpo: da ignorância e da tristeza, da desordem das
paixões, da dor e da morte (purificação e caminho para a glória);
▪ Maria não só recebeu a mais perfeita participação dos frutos da salvação (sem
pecado, cheia de graça, em corpo e alma no Céu), como também foi associada, de
modo singular e eminente, à pessoa de Cristo e à sua obra redentora. É nossa
Mãe na ordem da graça.
▪ É Mediadora na obra salvífica de Cristo, unida a seu Filho. E “a Igreja não hesita
em atribuir a Maria uma função assim subordinada; sente-a até continuamente, e
recomenda-a ao amor dos fiéis, para que, apoiados nesta proteção maternal, se
unam mais intimamente ao Mediador e Salvador” (Lumen gentium 62). Vai-se e
volta-se a Jesus por Maria.
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