Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula 1
Introdução
A Cristologia é uma parte da teologia que trata sobre Cristo. Estuda Jesus Cristo como
o Verbo encarnado e Filho de Deus, e Jesus como nosso salvador e redentor, tal
como no-lo propõe a fé da Igreja.
O mistério de Cristo, que se refere à sua pessoa e à sua obra de salvação, junta
e resume todos os artigos da fé: os que se referem à Trindade, pois Ele é Deus,
o Filho do Pai, e revela-nos a Trindade; e os que se referem aos desígnios e
obras de Deus, pois Ele levou a cabo o plano da sua vontade salvífica.
Aula 2
Natal
O fim da Encarnação é a salvação dos homens: o Filho de Deus veio “para que o
mundo se salve por Ele” (Jo 3, 17), “para ser salvador do mundo”(1 Jo 4, 14).
Credo: “por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus. E encarnou
pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem”.
CIC 457: “O Verbo encarnou para nos salvar, reconciliando-nos com Deus”.
CIC 460: “Encarnou para nos fazer ‘participantes da natureza divina’ (2 Ped
1, 4)”.
O homem, só com as suas forças, não pode alcançar a salvação. Depois do pecado
original, todos os homens tinham ficado privados da glória de Deus, da amizade com
Deus, e escravos do pecado. Ninguém pode ser justificado a não ser pela graça de Jesus
Cristo.
2) promessa a Abraão (Gn 12) de lhe dar uma terra e de o tornar pai de um grande
povo e de que, pela sua descendência, seriam abençoadas todas as nações da terra;
1) será filho de David e o seu reino não terá fim (Natan: 2 Sam 7, 12-16);
Dt 18, 15-19: Deus enviará “outro profeta” como Moisés que ensinará e guiará o
seu povo.
Is 61, 1-2: o Messias será ungido por Deus com o espírito dos profetas para
anunciar a salvação aos homens.
Profecias sobre o Messias rei e sacerdote: Salmo 109 (110): o Salvador será,
ao mesmo tempo, rei e sacerdote. Mas o seu sacerdócio não é o levítico.
Figura de Cristo: Melquisedec, rei-sacerdote (cfr. Heb 7, 3).
Profecias sobre o sacrifício de Cristo: Is 42, 49, 50, 52: cantos sobre o “Servo
de Yahvéh”; Salmo 21 (22). “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
O Messias, “que Deus enviaria para instaurar definitivamente o seu Reino (...),
devia ser ungido pelo Espírito do Senhor, simultaneamente, como rei e
sacerdote (cfr. Za 4, 14; 6, 13), mas também como profeta (cfr. Is 61, 1; Lc 4,
16-21). Jesus cumpriu a esperança messiânica de Israel na sua tríplice função de
sacerdote, profeta e rei” (CCE 436).
Gaudium et spes 10: “A Igreja crê que a chave, o centro e o fim de toda a
história humana se encontram no seu Senhor e Mestre”.
Aula 3
Encarnação
Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. “Com efeito, aquele que ela concebeu
como homem, por obra do Espírito Santo, e que se fez verdadeiramente seu
Filho segundo a carne, não é senão o Filho eterno do Pai, a segunda pessoa da
Santíssima Trindade” (CIC 495).
NT: testemunha que Cristo foi homem verdadeiro, com um corpo real:
descende de David, foi concebido de Maria, nasceu, cansou-se, teve fome e
sede, dormiu, sofreu, derramou o seu sangue, morreu, foi sepultado. Corpo de
carne e osso, real e tangível.
Santos Padres: sem alma (sem inteligência, nem vontade humanas), Cristo não
teria redimido a linhagem humana, pois não foi sanado o que não foi
assumido.
Adopcionismo: Cristo não era uma pessoa divina, mas um homem que, no Baptismo,
recebeu uma “dynamis” ou força divina, que o faz um homem superior. Não é Filho de
Deus por natureza, mas só por adopção (Heresia de Paulo de Samosata, bispo de
Antioquia, condenado e deposto do seu cargo no ano 268).
Pede fé (Jo 14, 1) e amor acima de tudo (Mt 10, 37), que só Deus pode exigir, e
a sua aceitação é requisito para a salvação (Mt 10, 32). Pede até que se entregue
a vida por Ele (Lc 17, 33).
NT: a sua preexistência ao mundo:
Como o Pai actua sempre, assim Jesus dá a vida e a saúde, inclusive ao sábado
(Jo 5, 17).
Rom 9, 5 (“o qual está sobre todas as coisas, Deus bendito por todos os
séculos”);
Flp 2, 5-8 (“sendo de condição divina, não reivindicou o direito de ser igual a
Deus...”);
Tit 2, 13-14 (“esperamos a vinda gloriosa do nosso grande Deus (...), Jesus
Cristo”).
• AT: título dado aos anjos (Dt 32, 8), ao povo eleito (Ex 4, 22), e aos seus reis (2
Sam 7, 14). Significava então uma relação particular entre Deus e a sua
criatura. Também quando chama “filho de Deus” ao Messias (Salmo 2, 7) os
judeus entendiam que era um homem singularmente abençoado por Deus, e não
Filho único de Deus por natureza.
NT: O que vimos já mostra que Jesus se declarava Filho de Deus enquanto
verdadeiro Deus nascido do Pai. Os judeus entendiam-no assim e queriam matá-
lo por isso. Jesus distingue: “meu Pai...Vosso Pai”(Jo 20, 17). Ele é “filho
próprio” (Rom 8, 3) e Unigénito (Jo 3, 16. 18) do Pai. Mt 11, 27: “Ninguém
conhece o Filho senão o Pai, nem ninguém conhece o Pai a não ser o Filho…”.
Aula 4
Unidade pessoal de Jesus Cristo
Nestório (patriarca de Constantinopla, 428): Maria não seria Mãe de Deus, porque em
Jesus haveria duas pessoas: uma divina e outra humana, e Maria seria mãe da pessoa
humana de Cristo. A união entre a natureza divina e a humana seria só uma união
moral entre dois sujeitos. Identidade de vontade, mas não se poderia dizer que o Filho
de Deus nasceu de Maria, morreu, etc…
Refutado por S. Cirilo de Alexandria e condenado por Éfeso (431). União das
duas naturezas de Cristo na Pessoa (hipóstase) divina do Verbo, única em
Cristo. Por isso Maria é verdadeiramente Mãe de Deus: d’Ela nasceu o Verbo
segundo a carne.
Condenado por São Leão Magno (440-461) e Calcedónia (451): “Há que
confessar um só e mesmo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo: perfeito na
divindade, e perfeito na humanidade; verdadeiramente Deus e verdadeira-
mente homem (...). É preciso reconhecer um só e mesmo Cristo Senhor, Filho
único do Pai, em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão,
sem separação. (...) Ficam a salvo as propriedades de cada uma das naturezas”.
A distinção entre uma natureza e a pessoa que a possui é uma distinção entre
uma parte e o todo. Ex.: Pedro é a pessoa, o todo, e a natureza é uma parte
dele que o especifica.
A união das duas naturezas em Cristo é uma união hipostática (na pessoa).
Não tem semelhança com nenhuma outra união. Conhecemo-la pela fé.
A Pessoa de Cristo não é causada pela união das duas naturezas, porque é eterna.
Cristo não “é” ou existe pela sua natureza humana, senão que por ela “é homem”.
Cristo, enquanto homem, não é filho adoptivo pela graça que tem, pois a sua
humanidade não constitui nenhum sujeito pessoal que pudesse ser filho.
Tais teorias reduzem a realidade de um ser a um dos seus actos: a pessoa seria a
simples consciência de si mesma. Isto é um erro, pois toda a operação vital -
como é a consciência - requer um sujeito operante, que é a pessoa. A pessoa
não se identifica com a sua consciência, nem se constitui por ela: a pessoa é
que tem essa consciência de si mesma.
Aula 5
Cheio de graça e de verdade
A humanidade de Cristo é o instrumento adequado, indissoluvelmente unido ao
Verbo, para a obra salvífica. É um instrumento vivo e racional, não inerte ou passivo.
Quanto mais unido se está a Deus, mais se participa da sua bondade e mais
abundantes bens se recebem. Não há união mais íntima com Deus que a união
numa pessoa divina. Daí que Cristo, na sua humanidade, esteja cheio dos dons
divinos: a sua natureza humana pertence propriamente à pessoa divina do Filho
de Deus, que a assumiu (cfr. CCE 470).
Cristo, enquanto homem, está plenamente divinizado pela graça habitual: por
isso não podiam faltar-lhe as virtudes infusas em grau máximo e perfeito. Mas
não teve aquelas virtudes que supõem, em si mesmas, alguma carência ou
imperfeição (fé: já possuía a visão de Deus; esperança: já tinha a união com
Deus; penitência: não teve pecado).
Por causa da sua plenitude de graça, Cristo possuía os dons do Espírito Santo
em grau excelentíssimo e eminente, e todos os carismas que tiveram os
homens para qualquer missão de edificação dos outros (apóstolos, profetas,
pregadores, doutores, pastores, etc.).
Cristo não só não teve pecado de facto, sim que era impecável, porque as
acções são da pessoa. Se Cristo pudesse pecar, seria Deus quem pecaria. Além
disso, Cristo gozava da visão de Deus, que supõe a impossibilidade de rechaçar
o Bem infinito.
Como Cristo tem duas naturezas perfeitas, tem dois modos de conhecer, um infinito e
divino e outro humano.
Gaudium et spes 22: O Filho de Deus “trabalhou com mãos humanas, pensou
com inteligência humana, agiu com uma vontade de homem, amou com um
coração humano”.
Padres: Cristo não ignorava a data do fim do mundo, sim que não queria,
nem devia revelá-la.
=> CCE 474: “O que neste domínio Ele reconhece ignorar (cfr. Mc 13, 32),
declara, noutro ponto, não ter a missão de o revelar (cfr. Act 1, 7)”.
A partir do século XX, especial interesse pela consciência que Jesus tinha de si
mesmo: sim, sabia-se Filho de Deus e Messias. Alguns autores negam que
tivesse consciência da sua divindade. Outros sustentam que, desde uma inicial
ignorância, iria, pouco a pouco, tomando consciência de ser Filho de Deus e
Salvador do mundo.
Aula 6
Outras características
Monoenergetismo: para convencer os monofisitas, Sérgio de Constantinopla
(início s. VII) ensinou que Cristo tinha uma única operação.
Liberdade humana de Cristo: “Dou a minha vida para outra vez a assumir.
Ninguém ma tira, mas eu a dou por mim mesmo” (Jo 10, 17).
Que Cristo seja livre não significa que pudesse pecar. Elege sempre o bem
com domínio sobre os seus actos, porque a sua liberdade é perfeita. Querer o
mal, não é o próprio da liberdade, ainda que seja um sinal de liberdade, como o
erro não é conhecimento.
A vontade humana de Cristo sempre “segue a sua vontade divina sem lhe fazer
resistência, nem oposição; antes, pelo contrário, está sempre subordinada a esta
vontade omnipotente” (Constantinopla III, 681).
Em Getsemani, quando Jesus diz: “Não se faça como Eu quero, mas sim como
Tu queres” (Mt 26, 39), não há oposição de vontades, sim que a sua inclinação
sensível ou a sua sensibilidade podiam apetecer algum bem diferente do querer
divino, mas estavam inteiramente submetidas a ele pelo acto livre da sua
vontade racional humana.
Constantinopla III, 681 confessou “duas operações naturais sem divisão, sem
mudança, sem separação, sem confusão, no mesmo Senhor nosso Jesus Cristo, nosso
verdadeiro Deus, isto é, uma operação divina e outra operação humana”.
Como todo o homem, pode realizar todas as acções humanas naturais e, como
todo o homem em estado de graça, pode realizar obras sobrenaturais. Todas
estas acções são próprias da segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
.
Como as acções humanas de Cristo eram livres e nasciam do imenso amor ao
Pai, que o Espírito Santo tinha infundido na sua alma, todas elas eram
meritórias, quer dizer, eram dignas de alcançar o fim a que as tinha ordenado o
desígnio divino.
Antes da sua Ressurreição, Cristo mereceu para si mesmo aqueles bens que
ainda não possuía (glorificação e exaltação da sua humanidade). Também
mereceu para nós a salvação. Mereceu a graça para todos os homens, pois a
este fim estava ordenada a Encarnação do Verbo.
alegria das obras de seu Pai (Lc 10, 21) e de se saber amado pelo Pai (Jo 15,
10);
desejos ardentes da nossa redenção (Lc 12, 50) e de ficar na Eucaristia (Lc 22,
15);
dor da alma até chorar pela morte de Lázaro (Jo 11, 33-35);
ira ante a hipocrisia de alguns (Mc 3, 5) e dos mercadores no Templo (Mt 21,
12), etc..
Em Jesus não faltou a virtude natural, da qual derivam todas as outras, que é o
amor, e que é sobre naturalizado pela caridade. Este foi o motor da sua vida e
a chave da harmonia e unidade de todo o seu ser: seu amor e entrega ao Pai e a
nós.
CCE 478: “Amou-nos a todos com um coração humano. Por esse motivo, o
Sagrado Coração de Jesus, trespassado pelos nossos pecados e para nossa
salvação, ‘é considerado sinal e símbolo por excelência (...) daquele amor com
que o divino Redentor ama sem cessar o eterno Pai e todos os homens’ (Pío
XII, Enc.Haurietis aquas, 1956)”.
Deus talvez tenha permitido que não tivéssemos uma descrição de Jesus, para
que não fôssemos atraídos a Ele por motivos meramente humanos.
Aula 7
O Mistério da Redenção
A cristologia estuda mistério de Cristo: da sua pessoa e da sua obra redentora numa
unidade indissolúvel. Jesus é o Filho de Deus feito homem e, ao mesmo tempo, o
Salvador esperado.
CCE 843: “A Igreja reconhece nas outras religiões a busca, ‘ainda nas sombras
e sob imagens’, do Deus desconhecido mas próximo, pois é Ele quem a todos
dá vida, respiração e todas as coisas e quer que todos os homens se salvem.
Assim, a Igreja considera tudo quanto nas outras religiões pode encontrar-se de
bom e verdadeiro ‘como uma preparação evangélica e um dom d’Aquele que
ilumina todo o homem, para que, finalmente, tenha a vida’”. CCE 844: “Mas,
no seu comportamento religioso, os homens revelam também limites e erros
que desfiguram neles a imagem de Deus”.
Cristo revela que Deus nos ama e nos destinou antes da criação do mundo a una
aliança que nos faz participar da sua vida infinitamente feliz.
O homem só com as suas forças não pode libertar-se do pecado e das suas
consequências. A verdadeira e completa libertação do homem procede
unicamente de Deus: “Mas Deus manifesta o seu amor para connosco, porque,
quando ainda éramos pecadores, então Cristo morreu por nós” (Rom 5, 8).
Deus transcende qualquer criatura. É preciso, pois, purificar sem cessar a nossa
linguagem de tudo o que tem de limitado, de imperfeito. As nossas palavras
humanas ficam sempre muito aquém do Mistério de Deus. Ao falar assim de
Deus, a nossa linguagem exprime-se certamente de modo humano, mas capta
realmente o próprio Deus, sem poder, contudo, expressá-lo na sua infinita
simplicidade. (cfr. CCE 42-43)
“Entregando o seu Filho pelos nossos pecados, Deus manifesta que o seu desígnio
sobre nós é um desígnio de amor benevolente, independente de qualquer mérito da
nossa parte: ‘Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, foi Deus que
nos amou a nós e enviou o seu Filho como vítima de propiciação pelos nossos pecados’
(1 Jo 4, 10). ‘Deus prova, assim, o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós,
quando ainda éramos pecadores (Rom 5, 8)” (CCE 604).
Padres orientais: sublinham que Cristo veio para nos comunicar a semelhança
com Deus perdida com o pecado. “Admirável intercâmbio”: o Verbo tornou-se
participante da humanidade para nos fazer participantes da divindade. Fixam-se
no aspecto descendente e gratuito da salvação.
Santo Anselmo (+ 1109) via Deus como Senhor soberano, cuja honra é ofendida pelo
pecado. Perante esta ofensa, a ordem da justiça divina exige com todo o rigor uma
reparação voluntária adequada ou um castigo. Mas a dívida é infinita por ser Deus o
ofendido: não devendo pagá-la senão o homem, e não podendo pagá-la senão Deus,
tinha que ser homem e Deus quem satisfizesse a honra divina ferida.
“Os direitos do demónio” (alguns escritos cristãos dos primeiros séculos): ao cometer
o pecado original, o homem ter-se-ia a feito, voluntariamente, escravo do demónio. O
sangue de Jesus seria o resgate, o preço pago ao demónio para livrar o homem da sua
escravidão.
Esta teoria foi combatida por São Gregório de Nazianzo: é errónea, pois
interpreta a redenção segundo os usos humanos (alguém que paga e alguém a
quem se paga) e é alheia à unidade de toda a Escritura, por exemplo quanto ao
poder do demónio, que parece ter direitos absolutos sobre nós.
Calvino acrescenta que Jesus não só morreu como pecador, mas também que
baixou ao inferno e sofreu as penas dos condenados.
Estas teorias apresentam Deus não como Pai que nos ama, mas como um
soberano vingativo e, além disso, injusto (condena o inocente em lugar do
culpado).
Em teorias do séc. XX, Cristo é o mestre, o guia ético e o exemplo de vida. O seu
influxo no homem é só moral: a salvação não nos vem d’Ele, mas é o homem que se
redime a si mesmo autonomamente, seguindo a Cristo. A Sua morte é simplesmente o
símbolo supremo do esforço da humanidade em se livrar do mal.
Nessa corrente há quem pensasse que Cristo seria o modelo de luta contra as
estruturas sociais injustas (teologias da libertação, algumas inspiradas no
marxismo).
Aspecto descendente da obra de Cristo: enviado pelo Pai, comunica aos homens
os dons divinos da salvação: revela-nos Deus e comunica-nos a vida
sobrenatural. Veio ao mundo para comunicar aos homens a graça que tira o
pecado e fá-los participantes da vida divina.
Estes dois aspectos estão estreitamente unidos no desígnio divino: o dom da graça é
fruto do sacrifício de Cristo.
O plano de Deus Pai é que os homens entrem em comunhão Com Ele por meio do
Verbo encarnado. A obra de Cristo deve alcançar cada um dos homens.
É o Espírito Santo, Senhor e dador de vida, quem, com o seu poder infinito,
alcança todos os homens de todos os tempos, e faz com que as acções e méritos
de Cristo se possam aplicar e ter eficácia salvífica em cada um. Torna possível
que cada um possa entrar em comunhão com o Filho de Deus, se incorpore a Ele
e participe da redenção.
Aula 8
Mediador e cabeça
Mediador é nome de ofício. Aplica-se a quem faz de intermediário entre os que estão
separados para os reconciliar, ou para os unir de alguma forma.
1 Tim 2, 5-6: “Há um só Mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo
homem, que se entregou a si mesmo para a redenção de todos”.
Cristo, enquanto Deus, não tem condição de meio (não difere do Pai nem do
Espírito Santo). Tão-pouco a tem simplesmente pelo facto de ser homem. Tem-
na enquanto o homem cheio de graça e, com a sua entrega (vivificada por tal
plenitude de graça), reconcilia os homens com Deus.
Cristo é o único e sumo Sacerdote que, com o seu sacrifício, nos reconcilia
com Deus. Qualquer outro sacerdócio (ministerial ou comum) é participação do
seu sacerdócio e subordinado a ele.
Cristo é muito mais profeta que os profetas do AT e distingue-se de todos eles: “Deus,
tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas,
nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho” (Heb 1, 1-2).
Deus quis que a humanidade tivesse o seu princípio em Adão. Este pecou não
só como pessoa individual, mas também como cabeça do género humano, e a
sua acção implicava toda a sua descendência (cfr. Rom 5, 12-19). Cristo é o
“novo” ou “segundo” Adão.
Deus quis que Jesus Cristo fosse o princípio e a causa da vida sobrenatural de
todos, o início de uma humanidade redimida.
Cristo, enquanto homem, é Cabeça do género humano. Tem a mesma natureza dos
homens e é solidário com todos eles.
É Cabeça dos homens, porque tem uma preeminência sobre eles pela sua
plenitude de graça, em virtude da qual é o mais perfeito e o exemplar de cada
um dos homens.
moral e intencional pelo amor (nasce da livre vontade de Jesus, do seu amor,
virtude que une e identifica o amante com o amado e que faz com que
as coisas do amado sejam sentidas como próprias; “amou–me e entregou-se a
si mesmo por mim” (Gal 2, 20).
Cristo representa os homens diante de Deus e oferece-se por todos, mas não nos
substitui, propriamente: não decide por nós, dado que devemos arrepender-nos
dos pecados e incorporar-nos voluntariamente a Ele como seus membros; e tão-
pouco nos poupa nesta vida as penas do pecado, morte incluída.
Aula 9
Mistérios da vida terrena de Cristo
CCE 517 acrescenta “Já na sua Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos
enriquece com a sua pobreza; na vida oculta que, pela sua obediência, repara a
nossa insubmissão; na palavra que purifica os seus ouvintes; nas curas e
expulsões de demónios, pelas quais «toma sobre Si as nossas enfermidades e
carrega com as nossas doenças» (Mt 8,17); na ressurreição, pela qual nos
justifica”.
Fuga para o Egipto e matança dos inocentes: toda a vida de Cristo estará sob
o sinal da perseguição.
Vida de família: Jesus santifica-a; vida de trabalho: Jesus dedicou a maior parte
da sua vida ao seu trabalho, com perfeição e espírito de serviço.
O seu trabalho converte-se em tarefa divina, em “realidade redimida e
redentora: é não só âmbito em que o homem vive, mas também meio e caminho
de santidade, realidade santificável e santificadora” (São Josemaría, Cristo
que Passa 47).
As tentações de Cristo fazem parte da sua vitória sobre o Maligno. Cristo dá-
nos exemplo de como lutar contra o Maligno e vencê-lo. “Foi provado em tudo
à nossa semelhança, excepto no pecado” (Heb 4, 15).
Aula 10
Paixão e morte
No plano divino, a dor purifica a alma, tira o obstáculo da própria vontade que
nos afastou de Deus, serve, com a ajuda da graça, para reparar a desordem do
pecado no homem. Com a obra salvadora de Cristo, o sofrimento, sequela do
pecado original, passa a ter um sentido novo.
A reparação plena dos pecados dos homens dá-se pela Paixão e Morte de
Cristo.
Deus Pai não é causa directa da Morte de seu Filho. Permitiu-a, porque daí viria
um bem maior. Entregou Cristo à Paixão e Morte, porque as dispôs, segundo a
sua eterna vontade, para reparar os pecados do género humano. Valor imenso
da salvação das almas para Deus.
Nostra aetate 4: “Ainda que as autoridades dos judeus com os seus seguidores
reclamassem a morte de Cristo, o que se perpetrou na sua paixão não pode ser
imputado indistintamente a todos os judeus que viviam então nem aos judeus de
hoje (...). Não se podem apontar os judeus como reprovados por Deus e
malditos, como se tal coisa se deduzisse da Sagrada Escritura”.
Cristo aceitou livremente a sua Paixão e a sua Morte, por amor a seu Pai e aos
homens, que o Pai quer salvar. Entregou-se, livre e voluntariamente, à Paixão,
por nosso amor. Mas essa entrega não significa, de modo algum, que se matou
a si mesmo, mas apenas que não impediu, podendo fazê-lo, a acção dos que O
condenaram à morte.
Trata-se de uma obediência vivida por amor. O verdadeiro amor a Deus mostra-
se, cumprindo livremente a sua vontade.
Jesus padeceu por parte dos judeus, dos gentios e dos que o seguiam (Judas,
Pedro, abandono...).
Padeceu na sua alma: todos os pecados dos homens, tristeza e temor perante a
morte certa, queda de Judas, escândalo dos seus discípulos, humilhações,
injustiças, burlas e insultos.
CCE 615: “Pela sua obediência até à morte, Jesus realizou a acção substitutiva
do Servo sofredor, que oferece a sua vida como sacrifício de expiação, ao
carregar com o pecado das multidões, que justifica carregando Ele próprio com
as suas faltas (cfr. Is 53, 10-12). Jesus reparou as nossas faltas e satisfez ao Pai
pelos nossos pecados”.
A Paixão de Cristo satisfaz pelos pecados do mundo. É uma satisfação vigária: “Ele
justo, pelos injustos” (1 P 3, 18).
O Filho de Deus, Santo e Justo, mas feito solidário por amor connosco,
pecadores, representando-nos a todos e levando as penalidades do nosso
pecado, como vítima do pecado, intercede por todos para cancelar a nossa falta.
Assim se devem interpretar alguns textos da Escritura como 2 Cor 5, 21
(“Àquele que não tinha conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós”) ou Gl
3, 13 (“nos resgatou da maldição da Lei, feito maldição por nós”).
Cristo não só mereceu que Deus Pai nos outorgue a graça, sim também que o
próprio Cristo é quem no-la comunica. Como a vida das varas procede da vide,
a salvação de cada um procede da nossa Cabeça.
A causa eficiente principal da graça da salvação só pode ser Deus; mas Deus
produz esta graça em nós, mediante a humanidade de Jesus Cristo, que é o
instrumento da divindade para comunicar – e não só para merecer – todas as
graças aos homens.
A contemplação da Paixão de Cristo move-nos a amá-lo, dado que Ele nos deu
provas da verdade e da grandeza do seu amor. Move-nos à contrição, à
conversão, a evitar o pecado (apreciamos mais claramente a sua malícia), a
seguir Cristo e a imitá-lo e à generosidade para abraçar a vontade de Deus
(mesmo que, por vezes, suponha carregar a cruz).
Aula 11
Glorificação
Goza pelo menos da mesma historicidade que qualquer outro sucesso real
acontecido no passado.
Por isso não creram nas santas mulheres que regressavam do sepulcro e as suas
‘palavras pareciam-lhes como que um delírio’ (Lc 24, 11). Quando Jesus se
manifesta aos onze na tarde de Páscoa, ‘censurou-lhes a sua incredulidade e
dureza de coração, por não terem dado crédito aos que O tinham visto
ressuscitado’ (Mc 16, 14)”.
CCE 644: “Pelo contrário, a sua fé na Ressurreição nasceu – sob a acção da graça
divina – da experiência directa da realidade de Jesus ressuscitado”.
Segundo as Escrituras, o Pai ressuscita Jesus (ex. Act 2, 24), o Filho ressuscita
por própria virtude e poder (ex. Jo 10, 17-18), o Espírito Santo ressuscita Jesus
(ex. Rom 8, 11). É uma obra da omnipotência divina comum às três Pessoas
divinas da Santíssima Trindade (ex. 2 Cor 13, 4).
A graça que nos liberta do pecado e nos faz justos provem do Ressuscitado: é
participação da vida divina, faz-nos filhos de Deus.
Jesus Cristo, Sacerdote da nova e eterna Aliança, no céu intercede sem cessar
por nós. Constituído Senhor com poder à direita do Pai, comunica-nos os dons
divinos pela acção do Espírito Santo.
A versão grega do AT (LXX) traduziu o nome de Yahvé com que Deus se revelou a
Moisés (Ex 3, 14) por “Kyrios” (Senhor). Desde então, foi o nome mais habitual para
designar Deus.
O seu reino é sobrenatural, eterno e não terá fim. O seu reinado é universal.
Aula 12
Frutos da Redenção
A Igreja, cuja Cabeça é Cristo, tem uma relação indispensável com a salvação
de cada homem. É “sacramento universal de salvação” (Lumen gentium 48).
Toda e qualquer a graça provém de Cristo, é comunicada pelo Espírito Santo, e
está misteriosamente relacionada com a Igreja. “Esta Igreja, peregrina na terra,
é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação: ora,
Ele torna-se-nos presente no Seu Corpo, que é a Igreja” (Idem 14).
Certamente Deus concede a todos os homens a graça que salva (dada por meio de
Cristo no Espírito, e que tem relação com a Igreja). Mas desconhecemos o modo como
a graça chega aos não cristãos. É claro que cada um deles terá que acolher livremente
esse dom divino para se salvar.
1) liberta-nos do pecado, quer quanto à culpa, quer quanto à pena, no que se refere
tanto à alma, como ao corpo: da ignorância e da tristeza, da desordem das
paixões, da dor e da morte (purificação e caminho para a glória);
Maria não só recebeu a mais perfeita participação dos frutos da salvação (sem
pecado, cheia de graça, em corpo e alma no Céu), como também foi associada,
de modo singular e eminente, à pessoa de Cristo e à sua obra redentora. É nossa
Mãe na ordem da graça.