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CETAP – CENTRO DE ESTUDOS TEOLÓGICOS ADVENTISTA DA PROMESSA

CURSO LIVRE DE TEOLOGIA

CRISTOLOGIA
O estudo da pessoa e obra de Cristo

São Paulo, 2009


2

I. CRISTOLOGIA1

INTRODUÇÃO

E não há salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não há


outro nome entre os homens pelo qual devamos ser salvos.
Pedro, apóstolo de Cristo (At 4:12).

Deus criou o ser humano perfeito para se relacionar e ter comunhão com Ele.
Infelizmente, este, falhou nesta missão, e caiu em pecado. O que estava destinado agora para o
ser humano era morte (Rm 6:23). Mas, por Deus nos amar tanto, escolheu agir por meio de
Cristo, para nos resgatar e restaurar a nossa condição. A Bíblia diz que Deus prova seu amor
para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (Rm 5:8). Sobre esse
texto, Champlin comenta:

Somos pecadores isto é, ‘temos errado o alvo’ estabelecido por Deus para as
nossas vidas, e por isso vivemos egoisticamente, imersos nas obras da carne,
buscando o orgulho da vida (...). Foi nesta condição que Cristo nos amou, não por
causa do que éramos, porque nada somos, mas por causa daquilo em que poderia
transformar-nos.2

Como entender tão grande amor? Vale a pena estudar sobre o que Cristo é, e fez por
nós. É justamente isso que iremos focar neste texto. A Cristologia é a área da Teologia
Sistemática que estuda sobre a pessoa e a obra de Jesus. E, diga-se de passagem, quando
passamos a estudar sobre esse assunto, estamos bem no centro da teologia cristã. 3 A
compreensão de Cristo é o centro determinante da fé cristã; por pelo menos três razões:4
Primeiro: Jesus é o centro da história! A grande maioria da humanidade continua
dividindo a história em a.C. e d.C., numa referência ao seu nascimento, em Belém da Judéia. No
ano 2000, a população do mundo chegou a 6 bilhões, e, desse número, 1,7 bilhões ou 28%
declararam-se cristãos. Desta forma, quase um terço da humanidade confessa seguir a Jesus.
Segundo: Jesus é o eixo das Escrituras Sagradas! A Bíblia Sagrada não é o livro da
história religiosa da civilização humana, mas a revelação escrita, cujo tema central é o Filho de
Deus. Apesar de todas as diferenças culturais e intelectuais e a extensão de tempo que separam
os autores bíblicos, a Bíblia Sagrada apresenta uma unidade de tema. Há uma mente diretriz por
trás de toda a revelação bíblica! O Antigo Testamento é uma história redentora que lança o
fundamento sobre o qual o Novo Testamento se edifica. O Antigo olha para frente e o Novo olha
para trás, para o evento central de toda a história: A morte do Messias.5 Jesus é o tema central
de toda a Bíblia!
É importante salientar, que ele mesmo tinha consciência disso (cf. Mt 5:17; Lc 24:27, 44;
Jo 5:39; Hb 10:7). Segundo o próprio Jesus, são elas mesmas [as Escrituras] que dão
testemunho a meu favor (Jo 5:39 – NTLH). Ele repreendeu dois de seus discípulos, dizendo-

1
Grande parte deste material foi fundamentado, adaptado e extraído da série de lições bíblicas: “Jesus,
vida e obra” (Departamento de Educação Cristã, São Paulo: GEVC, 2007).
2
Champlin (2002:652).
3
Erickson (1997:275).
4
Stott (2006:11-12).
5 Wilkinson (2000:1).

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lhes: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não
convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? Em seguida, começando por Moisés,
e discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as
Escrituras (Lc 24:25-25). Então, concluiu: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito
na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos (Lc 24:44).
Terceiro: Jesus é o coração da missão! O que move cristãos a cruzarem terras e
mares como missionários? “O que os impele? Não saem para propagar uma civilização,
instituição ou ideologia, mas uma pessoa, Jesus Cristo, que crêem ser sem igual”.6 Homens e
mulheres pregam a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios;
homens e mulheres pregam a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus (I Co 1:23-24). Por ser
Jesus o coração da missão cristã, eles declaram: não nos pregamos a nós mesmos, mas a
Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos (II Co 4:5).
Não há tema mais central, mais crucial, mais importante, mais relevante, mais
imprescindível e mais necessário do que estudar sobre a pessoa e obra de Jesus. A Bíblia
Sagrada está repleta de ensinamentos divinos, de alimento espiritual indispensável para o
fortalecimento e o amadurecimento da fé dos salvos, de forma que nada desse conteúdo se
pode tirar nem acrescentar (Ap 22:18-19). Tudo se deve obedecer, praticar, cumprir (Mt 5:17-20).
Contudo, o ensino sobre a pessoa e a obra de Cristo, a tudo excede. De todas as preciosidades
que almejamos encontrar nas Escrituras Sagradas, Jesus é a mais especial, a mais preciosa, a
mais desejável; ele é comparado a um tesouro oculto, que, sendo achado, torna-se a coisa mais
importante da vida; ele é, também, semelhante àquela pessoa que procura boas pérolas, e tendo
achado uma de grande valor, vende tudo o que possui e a compra (Mt 13:44-46).
Assim é a vida espiritual: nela há muitas pérolas, mas é preciso encontrar a de maior
valor. O apóstolo Paulo, por exemplo, sempre foi um fiel cumpridor de todos os mandamentos de
Deus, ou seja, tinha muitas pérolas de valor (Fl 3:4-6). Mas, um dia, ao meio dia, ele encontrou A
Pérola (At 9); tomou-a para si e priorizou-a, valorizou-a mais do que tudo o que já possuía. Não
deixou de obedecer aos demais ensinos de Deus, isto é, não abandonou as demais
preciosidades (Rm 3:31, 7:12, 15:18; I Co 11:2; II Co 2:9, 10:5), contudo, de tal forma Jesus se
tornou importante em sua vida que declarou: o que, para mim, era lucro, isto considerei perda
por causa de Cristo (Fl 3:7).
Sim, o apóstolo considerava tudo como perda, por causa da sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus, seu Senhor, por amor de quem ele perdeu todas as coisas e as
considerou como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que
procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada
na fé (cf. Fp 3:8-10). Para que tudo isso? Para o conhecer [a Cristo], e o poder da sua
ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para,
de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos (Fl 3:10-11).
Enfim, é fundamental estudarmos sobre Cristo! Precisamos nos dedicar para fazermos
uma Cristologia séria e baseada nas Escrituras. Os estudos históricos sobre Jesus de Nazaré
podem até ter alguma utilidade em algumas ocasiões, mas, o que de fato deve orientar o nosso
conhecimento a respeito de Jesus é a Bíblia Sagrada. Vejamos, a partir de agora, o que a ela diz
sobre a pessoa e obra de Cristo e, por último, analisemos, ainda que de forma bem sucinta, seus
ofícios.

6
Stott (2006:12).

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1. A PESSOA DE CRISTO

Jesus não foi somente um carpinteiro de Nazaré. Apesar de ser o homem mais
extraordinário que já existiu na face da terra, ele não era apenas um humano. Quem ele era
então? É isso que iremos estudar neste tópico sobre a pessoa de Cristo. Vamos conferir o
testemunho da Escritura sobre a divindade de Jesus; sobre sua eternidade e enfim, sobre sua
vida aqui na terra como ser humano (humanidade, impecabilidade e ministério).

1.1 A divindade de Cristo

A Bíblia Sagrada ensina que Jesus é Deus. Desde o princípio, a igreja primitiva
considerava e adorava a Cristo como divino.7 Começaremos o nosso estudo sobre a pessoa de
Cristo enfatizando essa verdade. É muito importante estudarmos a doutrina da plena divindade
de Cristo. E, diga-se de passagem, estamos diante de um dos tópicos mais controversos da
Cristologia. Todavia, apesar de controverso, é, também, um dos mais cruciais. “Localiza-se bem
no âmago da nossa fé, pois nossa fé repousa no fato de Jesus ser realmente Deus em carne
humana, e não simplesmente um homem extraordinário, apesar de ser a pessoa mais incomum
que já existiu”.8 Só alguém que fosse plenamente Deus, poderia arcar com a pena dos pecados
de todos os cressem nele. Qualquer criatura finita seria incapaz de realizar tal ato. Só alguém
que fosse plenamente Deus poderia ser mediador entre Deus e os homens (I Tm 2:5).

Vamos, então, analisar alguns textos bíblicos que comprovam e confirmam a divindade
de Cristo.

1.1.1 O que Jesus pensava sobre si?

O que Cristo pensava sobre si mesmo. Na Bíblia ele não faz nenhuma declaração direta,
do tipo, “Eu sou Deus”. Todavia, como bem pontua Erickson, Jesus usou algumas expressões
impróprias para alguém que fosse algo menos do que o próprio Deus.9 Antes de examiná-las,
vejamos, em primeiro lugar, a afirmação mais clara de Jesus sobre sua divindade, que podemos
encontrar nos evangelhos.10
Ela se encontra no evangelho de Mateus. Quando o sumo sacerdote lhe disse, por
ocasião do seu julgamento: Ordeno que jures pelo Deus vivo e diga-nos se tu és o Cristo, o Filho
de Deus (Mt 26:63). Jesus respondeu: É como dissestes. Contudo, digo-vos que de agora em
diante vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso (Mt 26:64 – grifo nosso). A
expressão “é como dissestes”, no original é enfática (tu – enfático – o disseste) e a frase é
afirmativa no seu conteúdo.11 Essa afirmação de Jesus foi tão contundente que o sumo
sacerdote rasgou as suas vestes, e disse que ele blasfemava (Mt 26:65).
William Hendriksen diz que o sumo sacerdote imprime ao termo “blasfemou” o seu
sentido mais grave, ou seja, na visão do sumo sacerdote, Jesus, injustamente, reivindicava para
si prerrogativas que são exclusivas de Deus.12 Não que dizer que ele era o Messias, por si só,
constituísse blasfêmia. Mas quando ele diz que vereis o Filho do Homem assentado à direita do

7
Pealman (2006:150).
8
Erickson (1997:276).
9
Ibidem.
10
Idem, p. 277.
11
Rienecker; Rogers (1995:60).
12
Hendriksen (2001:609).

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todo poderoso, vindo sobre as nuvens do céu, ele apresenta-se como sendo ele mesmo o
cumprimento da profecia de Daniel. Isto é, “como aquele que, vindo com as nuvens do céu, deve
receber a) autoridade para julgar as nações; e b) domínio eterno (cf. Dn 7:13-14); tal
reivindicação – e era justamente esta reivindicação que Jesus fazia – só poderia ser feita por
Deus!”.13 Não é a toa que lemos no versículo 67: Então, alguns cuspiam-lhe no rosto e deram-lhe
socos.
Muito bem, esse episódio citado acima é o texto mais claro que encontramos o próprio
Jesus colocando-se a si mesmo como tendo algumas prerrogativas divinas. Agora vejamos as
expressões que Jesus usou que indicam que ele não era nada menos do que 100% Deus.
1) Por exemplo, quando disse que enviaria seus anjos (Mt 13:41 – grifo nosso), que em
outros textos chamados de anjos de Deus (Lc 12:8-9; 15:10); evidencia uma prova da divindade
de Jesus.
2) Noutra passagem das Escrituras Jesus aparece perdoando pecados (Mc 2:5).
Imediatamente os escribas dizem: Mas, quem perdoar pecados senão um só, que é Deus? (Mc
2:7). Robert Stein observa que essa reação dos escribas mostra que eles interpretaram a ação
de Jesus “como o exercício de uma prerrogativa divina”.14
3) Além destas, Jesus também colocou suas palavras no mesmo nível das Escrituras do
Antigo Testamento (Mt 5:21-22; 27:28).
4) Por fim, igualmente indicou ter poder sobre a vida e a morte (Jo 5:21; 11:25),
prerrogativas exclusivamente divinas.

1.1.2 O que os outros pensavam de Jesus?

Os autores do Novo Testamento aplicaram explicitamente a Jesus os termos “Deus” e


“Senhor”, confirmando que também acreditavam que ele era Deus. No evangelho de João temos
uma declaração direta e enfática: ...e o verbo era Deus (Jo 1:1 cf. 1:18). Mais adiante, João narra
a declaração de Tomé a Jesus: Senhor meu e Deus meu (Jo 20:28). O apóstolo Paulo também
declara que Jesus é o grande Deus: ...aguardando a bendita esperança e manifestação da glória
do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo (Tt 2:13 cf. Rm 9:5). Pedro, de igual forma,
reconheceu a divindade de Cristo: ...nosso Deus e Salvador Jesus Cristo (II Pd 1:1). O autor de
Hebreus também é bem contundente ao declarar a divindade de Cristo. Logo na abertura do livro
ele fala de Cristo como a expressão exata da natureza de Deus (Hb.1:3). Diz também: A respeito
do Filho ele disse: O teu reino, ó Deus, vai durar para todo o sempre (Hb 1:8).
A palavra grega Kyrios (Senhor) é usada como um termo de tratamento respeitoso
dispensado a um superior. Na Septuaginta esta palavra foi empregada 6.814 vezes para
substituir a palavra hebraica YHWH (Javé). Deste modo todo leitor do Antigo Testamento Grego
sabia que esta palavra era usada para falar a respeito de Deus.15 Pois bem, a freqüência com
que Jesus é chamado de Senhor (kyrios) no Novo Testamento, é a mesma com que Deus é
chamado de Senhor no Antigo Testamento. Jesus era Senhor para os cristãos da mesma
maneira que “Javé” era Senhor para os hebreus. Veja alguns, dos vários casos do Novo
Testamento em que esta palavra é empregada com referência a Cristo: Lc 2:11; 2:18; Mt 22:44; I
Co 8:6; Hb 1:10-12; Ap.19:16.

1.1.3 Os atributos divinos aplicados a Cristo

13
Hendriksen (2001:609),
14
Apud Erickson (1997:276).
15
Grudem (1999:448).

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A divindade de Cristo é comprovada pelos atributos utilizados ou manifestados por ele. O


seu atributo de onipotência ficou explicitamente revelado, quando operava milagres pelo uso de
seu próprio poder inerente. Quando repreendeu aquela tempestade que assolava o barquinho
dos discípulos, ele utilizou a sua onipotência. Os que o seguiam ficaram tão espantados que
perguntaram: Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem? (Mt 8:27). Jesus provou
possuir o atributo da eternidade, da imutabilidade, quando afirmou: ... antes que Abraão
existisse, EU SOU. O seu atributo da veracidade ou fidelidade ficou evidente, quando declarou:
Eu sou a verdade (Jo 14:6).
Jesus manifestou o atributo da onisciência, quando se mostrou conhecedor dos
pensamentos, dos sentimentos e do comportamento das pessoas (Mc 2:8; Jo 1:49, 2:25, 4:29,
21:17). Em João 6:64, lemos que Jesus disse isso porque já sabia desde o começo quem eram
os que não iam crer nele e sabia também quem ia traí-lo. Quando disse que ninguém podia
acusá-lo de pecado, Jesus estava afirmando possuir um outro atributo divino, o da santidade. O
seu modo de lidar e tratar com os pecadores, sofredores e angustiados, os esquecidos, os
desprezados também evidencia que ele possuía o atributo da misericórdia (Mt 9:27). Quanto ao
atributo do amor, não há dúvidas de que Jesus o possuía.
A divindade de Cristo é comprovada pela adoração que lhe é prestada e por ele
recebida. Quando o diabo pediu-lhe que o adorasse, Jesus declarou: Retira-te, Satanás, porque
está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto (Mt 4:10). A Bíblia mostra
seres humanos e seres angelicais recusando a adoração que lhes era oferecida. Pedro não
aceitou ser adorado por Cornélio: ... aconteceu que, indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao
encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou. Agora, note a reação de Pedro: Ergue-te, que
eu também sou homem. Quando o povo de listra quis prestar culto a Paulo e Barnabé, estes
gritaram: Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos
mesmos sentimentos (At 14:15).
Os anjos são seres celestes superiores aos seres humanos, mas nem mesmo eles
aceitam ser adorados. Quando João ajoelhou-se diante do anjo para adorá-lo, este disse: Não
faça isso! Pois eu sou servo de Deus, assim como são você e os seus irmãos (...) Adore a Deus!
(Ap 19:10, 22:8-9). Por outro lado, a mesma Bíblia mostra Jesus aceitando adoração, tanto
humana quanto angelical. Quando Jesus acalmou a tempestade, os que estavam no barco o
adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus! (Mt 14:33). O cego que Jesus curou o
adorou (Jo 9:38); a mulher siro-fenícia também o adorou (Mt 15:25); a mãe de Tiago e João o
adorou. O livro do Apocalipse descreve milhares e milhares de seres angelicais prestando honra,
glória, culto, louvor a Jesus (Ap 5:9-14). Se Cristo não fosse Deus, teria advertido as pessoas
que lhe prestaram adoração. Se não o fez, é porque era (e é) Deus.
A divindade de Jesus é também comprovada, quando o ouvimos declarar que a sua
palavra tem a mesma autoridade da palavra de Deus. Referindo-se à palavra de Deus, Jesus
afirma: Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais
passará da Lei, até que tudo se cumpra (Mt 5:18). Depois, disse o mesmo sobre as suas
próprias palavras: Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão (Mt 24:35).
Ao tratar dos que o rejeitam, Jesus disse: Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem
quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia (Jo 12:48).
Observa-se, portanto, que Jesus esperava que suas declarações tivessem a mesma autoridade
que as declarações de Deus, no Antigo Testamento. 16
A divindade Cristo é, ainda, comprovada, quando o vimos fazendo coisas que somente
Deus é capaz de fazer. De todas as coisas feitas por Jesus, a mais surpreendente é o perdão de
16
Bruce (1987:120).

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pecados. Todas as vezes que Jesus declarava aos pecadores: perdoados estão os teus pecados
(Mc 9:2), as pessoa reagiam com espanto e o acusavam de blasfêmia (Mt 9:3; Lc 7:47). A
blasfêmia acontecia quando alguém reivindicava para si uma prerrogativa exclusiva de Deus (Is
43:25, 44:22; Mc 2.7; I Jo 1:9). Num sentido absoluto, somente Deus pode perdoar pecados.
Jesus perdoou pecados; logo, Jesus é Deus. Nenhum dos discípulos, nem mesmo Pedro, a
quem Jesus disse que daria as chaves do reino dos céus (Mt 16:19), tinha poder para perdoar
pecados cometidos contra Deus (At 8:22).
Outra prerrogativa divina que Jesus assumiu foi o poder de ressuscitar os mortos: Pois
assim como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que
quer (Jo 5:21). Aqui, Jesus não está dizendo que é somente um instrumento nas mãos do Pai
para trazer o morto à vida de novo, como o foram outros servos de Deus, na antiga aliança.
Jesus afirma ter, em si mesmo, poder para “erguer os mortos não somente para voltarem a esta
vida mortal, mas para receberem a vida da era vindoura”.1 Ele não está apenas prometendo a
vida eterna aos que crêem nele (Jo 3:5,16,36). Ele exerce a prerrogativa divina de conceder esta
vida.
Os judeus criam que apenas Deus podia trazer os mortos à vida, pois o próprio Deus
deixou isto registrado em Deuteronômio: ... saibam todos que eu, somente eu, sou Deus; não há
outro deus além de mim. Eu mato e eu faço viver; eu firo e eu curo. Ninguém pode me impedir
de fazer o que quero (Dt 32:39). O próprio Deus proclama a sua exclusiva divindade. Sendo
assim, nenhum poder, no céu ou na terra, pode livrar alguém de suas mãos: ... o Senhor é o que
tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz subir (I Sm 2:6). Está chegando a hora em que
todos os mortos ouvirão a voz do Filho do Homem! Ele é Deus!

Textos para estudo: Atributos divinos atribuídos a Jesus: onipotência (Mt 8:26-27,
14:19; Jo 2:1-11); eternidade (Jo 8:58; Ap 22:13); onisciência (Mc 2:8; Jo 1:48; Jo 6:64; 2:25).
Onipresença não é afirmado diretamente, mas, olhando para o futuro da igreja, Jesus poderia
dizer (Mt 18:20; Mt 28:20). Soberania (Mc 2:5-7; 5:22, 28, 32, 34, 39, 44); Imortalidade (Jo 2:19,
21-22; Hb 7:16); Digno de culto (Fp 2:9-11; Hb 1:6; Ap 5:12-13).

1.2 A eternidade de Cristo

A Bíblia mostra claramente que Jesus é eterno. E aqui não podemos confundir
“eternidade” com “preexistência”. Preexistência traz a idéia de que Jesus já existia antes do seu
nascimento (Mt 1:25), o que para alguns autores, não indica que ele é eterno. Por exemplo, Ário,
apesar de ter ensinado a preexistência de Cristo, não ensinou sobre sua eternidade. Embora os
conceitos sejam bem parecidos, e até usados muitas vezes como sinônimos, a definição de
eternidade vai um pouco mais além. Ela traz consigo não somente a idéia de que Cristo já existia
antes do seu nascimento, ou mesmo antes da criação, mas que ele sempre existiu.17 Dizer que
Jesus é eterno, então, significa dizer que ele não tem começo, nem término, nem sucessão de
momentos em seu próprio ser. O tempo jamais teve ou terá efeito sobre sua natureza, as suas
perfeições, os seus propósitos.

São vários os textos que comprovam esta verdade. Antes, porém, de falarmos sobre
estes textos que comprovam a eternidade de Jesus, vejamos brevemente os textos que,
“aparentemente”, negam essa realidade.

17
Ryrie (2004:274).

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1.2.1 Textos que “aparentemente” negam a eternidade de Jesus.

São três: O primeiro deles está no livro de Provérbios: o SENHOR Deus me criou antes
de tudo, antes das suas obras mais antigas (Pv 8:22 – NTLH). Muitos acreditam e ensinam que
este versículo refere-se ao próprio Jesus, que afirma ter sido criado por Deus. Todavia, uma
análise bíblica séria mostrará que não há, neste texto, nenhuma referência explícita ou implícita
a Jesus. O assunto central deste capítulo é a sabedoria, que, de maneira poética, é tratada como
se fosse uma pessoa que clama, que instrui, que chama, que adverte, que orienta.18
O segundo texto que parece negar a eterna existência de Jesus está na epístola de
Paulo aos Colossenses, em que lemos: Este [Jesus] é a imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda a criação (Cl 1:15). Com base na expressão o primogênito de toda a
criação, alguns afirmam que Jesus foi o primeiro a ser criado por Deus, em toda criação. Seria
este o ensino deste texto? Não! O ensino é outro. De acordo com a Chave Lingüística do Novo
Testamento Grego19, a palavra prototokos (primogênito) enfatiza a pré-existência e singularidade
de Cristo, bem como a sua superioridade sobre a criação. O termo não indica que Cristo foi
criado; pelo contrário, indica que ele é o soberano da criação.
Sobre isso Champlin comenta:

... a palavra “primogênito” fala da sua relação para com a criação, para com os
homens e para com todos os seres inteligentes. (...) não há aqui qualquer indício
que Cristo foi o primeiro ser que Deus que criou, o qual se tornou uma espécie de
divindade secundária, que também tinha o poder de criar, conforme muitos têm
pensando mui erroneamente. Os antigos pais da igreja acertaram quando insistiram
sobre a diferença entre os termos gregos “prototokos” (pimogênito) e “protoktistos
(primeiro criado).20

O terceiro texto que parece negar a eterna existência de Jesus está no livro de
Apocalipse: Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel
e verdadeira, o princípio da criação de Deus (Ap 3:14). Muitos se apegam à expressão princípio
da criação de Deus para, também, defender que Jesus teve um começo ou um princípio. Este,
porém, não é um ensino do texto em questão. Segundo os autores do livro Resposta às Seitas –
um manual popular sobre interpretações equivocadas das seitas, o termo grego, arché, traduzido
como “princípio”, neste versículo, traz o sentido de “aquele que começa”, “origem”, “fonte”, ou
“causa fundamental”. Este versículo, então, enfatiza apenas que Jesus é o arquiteto da criação
(Hb 1:2).

1.2.2 Textos que acertadamente confirmam a eternidade de Jesus.

Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento confirmam a eternidade de Jesus. Em Isaías,


numa profecia que dizia respeito a Cristo, o profeta atribui-lhe o título de Pai da Eternidade, com
o sentido de alguém que possui eternidade. De forma semelhante, o profeta Miquéias, também
falando de Jesus, diz que as suas origens são desde os dias da eternidade (Mq 5:2b cf. Mt 2:1-
6). No Novo Testamento também são fartas as evidências onde encontramos alusões a

18
Geisler; Rhodes (2001:187-188).
19
Rienecker; Rogers (1985:420).
20
Champlin (2002:95).

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eternidade de Jesus (cf. Jo 1:1; 8:58; 17:5; Fp 2:5-6; Cl 1:17; Hb 13:8; I Jo 1:1). Dentre esses,
um dos mais claros, pode ser localizado no evangelho de João: Antes de existir qualquer coisa,
Cristo já existia (...). Ele sempre esteve vivo (Jo 1:1 – BV). Neste versículo João aponta a
eternidade de Jesus. Ele não “se fez” Verbo no princípio, Ele “era” o Verbo no princípio.21
Ele não começou a existir a partir da encarnação (falaremos dela mais a frente) e nem
foi criado, como alguns sugerem. Ele sempre existiu! Há, porém, quem diga que a expressão no
princípio não está ensinando a “eternidade” do Verbo (no grego, logos), mas, simplesmente, a
sua “preexistência”. Todavia, o Verbo não era (e não é) somente um ser existente, mas era (e é)
também um ser pessoal e divino: era (e é) Deus! Se o Verbo era (e é) Deus, logo o Verbo era (e
é) eterno, pois, como se sabe, um dos muitos atributos de Deus é a eternidade.
Em outro texto do evangelho de João, o próprio Jesus aparece afirmando a sua eterna
preexistência: antes que Abraão existisse, EU SOU (Jo 8:58). Temos, aí, uma das mais notáveis
e explícitas afirmações das Escrituras Sagradas acerca da eterna pré-existência de Jesus. Aqui,
Jesus usa a mesma linguagem do Deus de Israel, que foi revelado a Moisés, por ocasião de sua
chamada para libertar o povo de Israel do Egito (Êx 3:14). A prova de que os judeus entenderam
claramente o que Jesus quis dizer com “EU SOU” é que eles quiseram apedrejá-lo por
blasfêmia. Eles entenderam que Jesus estava reivindicando para si mesmo a pré-existência
divina e, assim, fazendo-se igual a Deus. Jesus, de fato, é o eterno EU SOU, isto é, aquele que
existe eternamente.
Em João 17:5, vemos Jesus, pouco antes da sua morte na cruz, orando para ser
reintegrado na glória que teve com o Pai, antes de todo o mundo existir: ... e, agora, glorifica-me,
ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo. Essa
frase da oração de Jesus contém uma grande revelação da sua eterna preexistência. Aqui, está
“em foco particularmente a grande glória na presença de Deus, aquela glória da qual o ‘Logos’
eterno havia participado na eternidade”.22 Bruce explica que “a gloria que ele [Jesus] receberá do
Pai é a mesma que gozou na presença dele antes da criação, naquele ‘princípio’ em que a
Palavra era eterna como o Pai (1:1)”.23
Em sua primeira epístola, o mesmo apóstolo João também retrata a eterna preexistência
de Jesus, com igual clareza. Logo no primeiro capítulo, ele declara o seguinte: O que era desde
o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que
contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (I Jo 1:1). Antes de
Jesus se fazer carne e, assim, se apresentar aos três sentidos humanos mais elevados (audição,
visão e tato), já preexistia eternamente, no princípio de todas as coisas, juntamente com o Pai.
Quem se fez carne não foi o Jesus criado, mas o Jesus eterno. Com efeito, “não poderíamos ter
visto Aquele que estava eternamente com o Pai se Ele não tivesse tomado deliberadamente a
iniciativa de manifestar-se”.24
O apóstolo Paulo também assevera a eterna preexistência de Jesus. Em sua carta à
igreja filipense, ele afirma que, antes de assumir a forma de servo, Jesus era (e é) Deus em sua
natureza: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele,
subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus (Fl 2:5-6 – grifo
nosso). O verbo grego traduzido por “subsistir” é hyparcho, que significa existir e declara que
Cristo existia desde a eternidade.25

21
Pfeiffer & Harrison (1980:177).
22
Champlin (1979:574).
23
Bruce (1987:281).
24
Stott (1982:53).
25
Arrington. Stronstad (2003:1292).

Teologia Sistemática III - Cristologia


10

Em sua carta aos Colossenses, após enfatizar a supremacia e a suficiência de Cristo,


Agente e Senhor de todas as coisas, quer de natureza espiritual, quer de natureza material
(1:16), o apóstolo declara a preexistência do Senhor, dizendo: Ele é antes de todas as coisas.
Nele, tudo subsiste. A base desta afirmação de Paulo é a declaração de Jesus no evangelho de
João, capítulo 8, versículo 58: Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que,
antes que Abraão existisse, Eu Sou. De acordo com Shedd e Mulholland, quando Cristo faz esta
afirmação, usando o termo “Eu Sou” (no grego, ego eimi) referindo-se a si mesmo e dizendo que
existia antes de Abraão, ele coloca-se a si mesmo acima do tempo, no sentido em que os
homens vivem; ele era sem início e sem fim.26 Jesus é eterno: é o mesmo ontem, hoje e
eternamente (Hb 13:8).

1.3 A vida de Cristo

No tópico sobre a vida de Cristo consideraremos sua humanidade, sua impecabilidade e


seu ministério.

1.3.1 Sua humanidade

Jesus era 100% humano. Ele não esteve na terra disfarçado de homem, nem foi
parcialmente humanizado, mas se fez humano de verdade, e, por essa razão, se condicionou a
todas as limitações que caracterizam a vida na terra. Como ele podia ser ao mesmo tempo Deus
e homem é um assunto que trataremos num tópico mais a frente: “A encarnação de Cristo”. Por
ora nosso desejo é mostrar apenas a realidade da humanidade de Jesus.
A sua vida aqui na terra começou com o seu nascimento sobrenatural (cf. Mt 1:18). Deus
entrou no mundo como um bebê. Veja que estamos usando o termo “nascimento sobrenatural” e
não “nascimento virginal”. Concordamos com John Stott quando ele diz que “nascimento virginal”
é um termo infeliz, por que coloca a ênfase no nascimento de Jesus e não em sua concepção.27
O nascimento de Jesus foi completamente natural e normal! O que foi sobrenatural foi a sua
concepção pelo Espírito Santo, afinal, sua mãe, Maria, ainda era virgem.
Pois bem, Jesus cresceu como uma criança judia normal, “se o líder da sinagoga em
Nazaré soubesse quem estava ouvindo seus sermões...”.28 Durante sua vida sentiu o que eu e
você sentimos. Derramou lágrimas (Jo 11:35). Sentiu medo (Lc 22:42). Teve sede (Jo 19:28).
Fome (Mt 4:2). Cansou-se (Jo 4:6). Não viveu numa “separação elevada”, mas “conosco”, como
um de nós, no meio das multidões, ocupado, assediado.
Seu nome humano, Jesus, por exemplo, foi unido ao nome da localidade onde nasceu,
Nazaré, de forma que as pessoas o chamavam de Jesus de Nazaré (Mt 21:11; Mc 1:9; Lc 2:4,39;
Jo 1:46; At 10:38). Ele tinha, também, outros nomes humanos: Filho de Abraão (Mt 1:1), Filho de
Davi (Mt 1:1, 9:27, 12:23, 15:22), e Filho do Homem (Mt 16:28; Lc 22:69,70). Contudo, por causa
de sua patente humanidade, embora as pessoas admirassem sua pregação, não o viam como
Filho de Deus, mas como filho de José (Lc 4:22); conheciam sua mãe, seus irmãos, a profissão
de seu pai, enfim, as pessoas sabiam muito sobre a humanidade de Jesus (Mt 13:53-58), e
diziam: Não é este Jesus, o filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o pai e a mãe? Como,
pois, agora diz: Desci do céu? (Jo 6:42)
Jesus, antes de desenvolver seu ministério, era carpinteiro por ocupação (Mc 6:1-3), e
não existe nenhuma indicação na Bíblia Sagrada de que ele tenha sido camponês ou fazendeiro,

26
Shedd; Mulholland (2005:236).
27
Stott (2004:105).
28
Lucado (1998:24).

Teologia Sistemática III - Cristologia


11

como alguns sugerem.29 E o fato de ele ter sido carpinteiro não significa que trabalhava apenas
com madeira, mas, pode ser que, talvez, trabalhasse com pedras e metais. “Na condição de
carpinteiros, Jesus e seu pai, José, faziam parte dos trabalhadores pobres”.30
Robert Stein comenta, falando sobre a vida humana de Jesus, que ele era um homem
instruído.31 No evangelho de João, encontramos um evidência desta verdade. Os judeus se
admiraram da sabedoria de Jesus e disseram: Como este homem tem tanta instrução sem ter
estudado32? (Jo 7:15). Jesus sabia ler (Lc 4:16-21) e escrever (Jo 8:6). Ele desenvolveu debates
com homens intelectuais (cf. Mc 2:23-28; 3:1-6; 7:1-23; 10:2-12; 12:13-34; Lc 11:14-23). Foi
chamado de “Rabi” ou “mestre” (cf. Mt 26:25; Mc 9:5; Mc 4:38; 9:17, 38). Ele ensinou na
sinagoga (cf. Mt 4:23; 9:35; Mc 1:21, 39; 6:2; Lc 4:15, 28, 33, 44; 6:6; 13:10; Jo 6:59; 18:20).
Enfim, embora não saibamos ao certo a forma que Jesus recebeu sua instrução e educação, é
evidente que ele era um homem instruído.
Quanto ao seu dia-a-dia, se tivéssemos de acompanhar Jesus, seria impossível não
comprovarmos sua plena humanidade: 1) antes de o dia raiar, ele já estava orando (Mt 26:40); 2)
após o raiar do sol, estava andando de cidade em cidade, pregando, ensinando e curando,
suado e queimado pelo sol da poeirenta Palestina (Mt 21:1,17,18; Lc 8:1); 3) ao meio dia, foi
visto exausto, cansado da viagem, sentado junto ao poço de Jacó, pedindo água a uma mulher
(Jo 4:6,7); 4) mal chegava a tarde, voltava ao trabalho: expelindo demônios e curando
enfermidades (Mt 8:16); 5) ao cair da tarde, deixava as multidões e subia ao monte para estar a
sós com Deus Pai, em oração (Mt 14:23), e ainda atendia e socorria pessoas à noite (Mc 6:48;
Jo 3:1-3). Na verdade, as atividades diárias de Jesus eram tão intensas que ele mal tinha tempo
para comer: E ele [Jesus] lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto;
porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham
(Mc 8:31). Não há como negar: Jesus era humano de verdade!

1.3.2 Sua impecabilidade

Além do Novo Testamento ainda que afirmar que Jesus era totalmente humano, ele
também testemunha da sua impecabilidade. O autor de Hebreus diz que Ele foi tentado em
todas as coisas em semelhança de nós, mas sem pecado. (Hb 4:15). Mesmo tendo passado por
todo tipo de tentação, como nós também enfrentamos, Jesus não cometeu pecado algum; nunca
praticou injustiça, nunca proferiu mentira, nunca cometeu engano, nunca empregou trapaça.
Nem uma vez sequer Jesus torceu a verdade, ocultou a verdade ou evitou a verdade. Ele
simplesmente falou e viveu a verdade. O mundo jamais conheceu uma pessoa de coração tão
santo e de caráter tão justo. Se andarmos com uma pessoa, por três anos, tendo grande
amizade e relacionamento com ela, é certo que vamos descobrir suas virtudes e seus defeitos.
Mas as pessoas que mais andaram com Jesus testemunharam, pessoalmente, sua perfeição e
sua inocência.
Graças a sua concepção, absolutamente extraordinária e sobrenatural, Jesus nasceu
isento dessa tendência ao pecado. Mateus e Lucas, os dois evangelhos que registram a
narrativa do nascimento de Jesus, fazem questão de frisar que Maria ficou grávida sem relação
sexual. O anjo deixou muito claro, primeiramente, para Maria e, posteriormente, para José, a
participação do Espírito Santo na concepção da natureza humana daquele menino, que deveria
ser chamado de Jesus. A gravidez de Maria, portanto, seria “um ato da graça divina, explicável

29
Stein (2006:88).
30
Ibidem.
31
Stein (2006:92).
32
Isto é, sem ter tido instrução religiosa formal.

Teologia Sistemática III - Cristologia


12

não em termos de inseminação humana, mas em termos do poder criador do Espírito Santo”.33
Sem esta atuação do Espírito Santo, Jesus teria nascido como todos nascem, com uma natureza
humana afetada pelo pecado.
Dos quatro evangelhos, o evangelho de João é o que mais enfatiza e destaca a
impecabilidade de Jesus. Em João 8:12, vemos Jesus fazendo à multidão uma impressionante
declaração acerca de si mesmo: Eu sou a luz do mundo. O teólogo e escritor Stott,34 em uma
nota adicional sobre o simbolismo da luz na Escritura, explica que as categorias de luz e trevas
são empregadas, metaforicamente, na Escritura, em vários sentidos. Intelectualmente, luz é
verdade, e trevas, ignorância ou erro. Moralmente, luz é pureza e trevas, mal. Estes dois
sentidos podem ser vistos tanto no evangelho quanto na epístola de João (Jo 1:4,5,9, 3:19-21,
12:35,36,46, 11:9-10), Na pessoa de Jesus e em sua palavra, não existem nem impureza nem
engano.
Todos os oponentes de Cristo não tinham nenhuma vírgula para depor contra Ele. Numa
ocasião, Jesus desafiou, categoricamente, seus oponentes, que o acusavam, abertamente, de
mentiroso e enganador, a convencê-lo de pecado: Quem dentre vós me convence de pecado?
(Jo 8:46). Esse é um forte apela à impecabilidade de sua vida. Por isso, exceto por blasfêmia,
não houve contra Jesus nenhuma acusação. Por exemplo, as acusações no seu julgamento
demonstraram-se completamente falsas (Mc 14:56,57,63), e o próprio Judas reconheceu que
traíra um inocente (Mt 27:4). Não bastasse isso, a inocência de Jesus também foi reconhecida
por Pilatos e sua esposa (Mt 27:18,24; Jo 19:4,6).
Ao explicar por que o Pai nunca o abandonava, Jesus novamente fornece uma
eloqüente evidência de sua impecabilidade. Ele diz: ... e aquele que me enviou está comigo, não
me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada (Jo 8:29). Na expressão “eu faço
sempre o que lhe agrada”, o verbo “fazer” está no tempo presente, que dá o sentido de atividade
contínua: estou sempre fazendo o que lhe agrada. O advérbio “sempre” foi traduzido do grego,
pantote, que expressa o sentido de “em todos os tempos”. Veja, então, o quanto é profunda e
espantosa a afirmação do Senhor: ... estou em todos os tempos fazendo o que agrada ao Pai.
Quem pode afirmar o que Jesus afirmou? Ninguém! Só Jesus, que tinha uma natureza humana
destituída de pecado.
Ao escrever aos Romanos, o apóstolo Paulo declara: Deus condenou o pecado na
natureza humana, enviando o seu próprio Filho, em semelhança de carne pecaminosa (Rm 8:3).
A palavra “semelhança” significa que Cristo veio em carne como a nossa, e foi um homem real,
mas não pecador.35 Esta expressão é única; ou seja, não ocorre em nenhuma outra parte do
Novo Testamento. John Murray, escritor do Comentário Bíblico Fiel de Romanos, diz que Paulo
usou a palavra “semelhança”, neste texto, não com o propósito de sugerir qualquer irrealidade a
respeito da natureza humana de nosso Senhor, mas, por causa da expressão “carne
pecaminosa”. Ele não poderia ter dito que Cristo foi enviado “em carne pecaminosa”. Isso seria
uma contradição à impecabilidade de Jesus, defendida em todo o Novo Testamento.36
Uma afirmação muito parecida é encontrada, também, em sua segunda epístola aos
coríntios aquele que não conheceu pecado, ele [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele,
fôssemos feitos justiça de Deus (II Co 5:21a). Note que Cristo não foi feito “pecador”, e, sim,
pecado. Sendo assim, o castigo que Jesus sofreu não foi por pecados seus, pois ele mesmo
estava livre do pecado, tanto em sua natureza quanto em sua conduta.

33
Macleod (2007:27).
34
Stott (1982:61-62).
35
Pfeiffer; Harrison (1983: 37).
36
Murray (2003:307).

Teologia Sistemática III - Cristologia


13

Pedro, em sua primeira epístola, afirma que Jesus não cometeu pecado, nem dolo
algum se achou em sua boca (I Pe 2:22). Jesus nunca tomou uma decisão errada e nunca disse
uma palavra errada. Com efeito, todas as palavras de Jesus foram verdade (Jo 8.40), pois só
falou aquilo que o Pai quis que falasse (Jo 7:16, 14:10), e a palavra do Pai é a verdade (Jo
17.17).37 Pedro ainda afirma que quem morreu na cruz do Calvário não foi um criminoso, nem foi
um salteador, mas foi o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus (I Pe 3:18).
Por sua vez, o apóstolo João, aquele a quem Jesus amava, em sua primeira epístola,
depois de dizer que Jesus se manifestou para tirar os pecados, enfatiza claramente: e nele não
existe pecado (I Jo 3:5). Aqui, a obra de remoção dos pecados do ser humano, realizada por
Cristo, e a impecabilidade da sua pessoa são maravilhosamente unidas. Em outros dois textos,
João escreve, ainda, que Jesus não somente é justo, mas, também, é puro (I Jo 2:29, 3:3,7).
Observa-se, portanto, que a sua impecabilidade, comumente mencionada no Novo Testamento,
era necessária para a nossa salvação. Porque Jesus era o Cordeiro perfeito, ou seja, sem
mácula e sem defeito, o seu sacrifício por nós foi eficaz para nos redimir do pecado.

1.3.3 Seu ministério

Quanto ao ministério de Jesus, ele foi caracterizado pela pregação, ensino e cura.38
Alguns até o chamam de tríplice ministério. Jesus ministrava as necessidades físicas e
espirituais do povo. Era preocupado com a vida integral de quem o seguia. Veja como ele
desenvolvia seu ministério: ...ensinando nas suas sinagogas, pregando o evangelho do reino e
curando todo o tipo de doenças e enfermidades (Mt 4:23). Os verbos “ensinando”, “pregando” e
“curando” resumem a obra de Cristo. E aqui não podemos confundir “ensinar” com “pregar”.
Embora uma boa pregação seja uma excelente fonte de ensino, ensinar é explicar com detalhes
aquilo que foi pregado. Jesus fazia isso. Ele foi mestre por excelência em tudo o que fez! Sua
vida é exemplo para a nossa vida.

1.3.3.1 Colaboradores no ministério de Cristo

Ainda falando sobre o ministério terreno de Jesus, não poderíamos deixar de mencionar
a presença dos anjos neste trabalho. É notável a participação deles durante toda a jornada
terrena de Jesus. Com base na concordância da Sociedade Bíblica do Brasil, quarenta e três,
das cinqüenta e duas vezes que a palavra anjo aparece nos evangelhos esta relacionada ao
serviço dos anjos a Jesus.39 Eles demonstraram e continuam a demonstrar um grande interesse
pela pessoa e ministério de Cristo, conforme veremos.
1. No seu nascimento foram seus arautos: Um anjo anunciou a Zacarias o
nascimento de João Batista, o precursor de Jesus: Mas o anjo lhe disse: Zacarias... tua mulher,
dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João (Lc 1:13). Com a diligência, cuidado e zelo que a
sua missão exigia, o mesmo anjo anuncia a Maria uma mensagem mais incrível ainda; ela seria
a mãe do Salvador a tanto tempo esperado: No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado por Deus a
uma cidade da Galiléia... (Lc 1:26); Disse-lhe então o anjo: Maria... Conceberás e darás a luz um
filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus (Lc 1:30-31).
Também foi um anjo, cujo nome não é mencionado, que garantiu a José num sonho, que
o que em Maria foi gerado é do Espírito Santo (Mt 1:20). Um anjo ainda anunciou o nascimento
de Jesus aos pastores nos campos de Belém: O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui
37
Muller (1988:166).
38
Cheung (2008:206).
39
Almeida (1975:53).

Teologia Sistemática III - Cristologia


14

vos trago boa-nova de grande alegria, que será para todo o povo: é que vos nasceu, na cidade
de Davi, o Salvador que é Cristo, o Senhor (Lc 2:10-11); e acompanhado por uma multidão de
outros anjos, com hinos exultantes, louvou ao Senhor (Lc 2:13).
2. Nos seus primeiros dias foram seus orientadores: Primeiro os anjos orientaram
José para que se levantasse e fugisse imediatamente para o Egito (Mt 2:13). O perigo era real,
Herodes queria eliminar o menino Jesus. José ouviu a voz angelical, Levantando-se ele, tomou o
menino e sua mãe, e foi para o Egito (Mt 2:14); a idéia desse versículo é que eles fugiram na
mesma noite em que José teve o sonho, sem perda de tempo deram atenção a orientação do
anjo, e por lá permaneceram durante alguns meses.40
Diferente do Cristo menino, que tinha o poder de uma vida sem fim, o injusto e cruel
Herodes era mortal. É bem possível que sua morte tenha ocorrido logo após o seu doentio
propósito de acabar com a vida dos meninos inocentes de Belém (cf. Mt 2:16). Depois de sua
morte, conforme havia prometido, o anjo aparece novamente a José em sonhos e lhe dá novas
orientações: Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e vai para a terra de Israel, pois já morreram
os que procuravam tirar a vida do menino (Mt 2:20).
3. No seu ministério demonstraram prontidão: Primeiro: Os anjos demonstraram
prontidão para servi-lo. No início do ministério terreno de Jesus, logo após ser batizado, o
Espírito o impeliu para o deserto. Ele permaneceu quarenta dias ali e foi tentado duramente por
Satanás. A região onde ocorreu a tentação era perigosa. Um cenário de abandono e desolação.
Era habitação de hienas, chacais, panteras e mesmo leões.41 No entanto, nesse ambiente
assustador Jesus não estava só: ...os anjos o serviam (Mc 1:13 cf. Mt 4:11).
Segundo: Os anjos demonstraram prontidão para confortá-lo. Era meia-noite ou mais.
Jesus sofria intensamente. Orando no Getsêmani em extrema angustia, disse ao Pai: Pai, se
queres, passa de mim este cálice... (Lc 22:42). O Pai não o abandona, e envia um anjo do céu
para auxiliá-lo na terra: Então lhe apareceu um anjo do céu, que o confortava (Lc 22:43). Ele não
teve de passar por esse duro momento sozinho. Em sua agonia os anjos o socorreram. Jesus
contou com a ajuda fortalecedora do céu.
Terceiro: Os anjos demonstraram prontidão para defendê-lo. No momento da prisão de
Cristo, numa tentativa suicida de defendê-lo, Simão Pedro puxou a sua espada e decepou a
orelha do servo do sumo sacerdote (cf. Jo 18:10); porém, Jesus o advertiu e indagou-o
corretamente: Guarde a espada!... Você acha que eu não posso pedir ao meu Pai, e ele não
colocaria imediatamente à minha disposição doze legiões de anjos? (Mt 26:53). Sem dúvida
alguma vemos neste versículo a prontidão dos anjos para virem em Seu auxílio, caso isso fosse
necessário e desejável.
4. Na sua ressurreição proclamaram seu triunfo: Um anjo removeu a pesada pedra –
aproximadamente duas toneladas - do sepulcro e assentou-se sobre ela (Mt 28:2). Diz a Bíblia
que: Seu aspecto era como um relâmpago, e sua veste branca como a neve (Mt 28:3). Esse
mensageiro do céu não fez isso para que Jesus pudesse sair do túmulo (Jo 20:19 e 26); mas
para que as mulheres e os discípulos pudessem entrar nele (cf. Mc 16:5; Jo:6-8) e também, para
simbolizar o triunfo de Cristo sobre a morte.42
Quando os guardas que vigiavam o sepulcro os virão: ...tremeram de medo dele e
ficaram como mortos (Mt 28:4). A terra tremeu, e os guardas tremeram. O triunfo de Cristo sobre
a morte foi majestoso! Os anjos o proclamaram as mulheres: Não tenhais medo, pois eu sei que
buscais a Jesus, que foi crucificado. Ele não está aqui; já ressurgiu, como havia dito (Mt 28:6 cf.
Mc 16:3-6; Lc 24:1-8; Jo 20:10-13); e mais, eles orientaram as mulheres: Ide imediatamente, e

40
Champlin (1983: 282).
41
Hendriksen (2003:69).
42
Hendriksen (2001:685).

Teologia Sistemática III - Cristologia


15

dizei aos discípulos que ele ressurgiu dentre os mortos (Mt 28:7a). A maravilhosa mensagem do
triunfo de Cristo tinha de ser comunicada!
5. Na sua ascensão anunciaram seu retorno: Depois que Jesus afastou-se os
discípulos ficaram com seus olhos fixados no céu, procurando ter algum outro vislumbre dele. De
repente eles são interrompidos: ...junto deles apareceram dois homens vestidos de branco, os
quais lhes disseram: Varões Galileus por que estais olhando para o céu? Esse Jesus (...) há de
vir assim como para o céu o viste ir (At 1:10-11). Os anjos anunciaram aos apóstolos que Jesus
voltaria novamente aterra, de maneira visível e gloriosa.
6. No seu estado glorioso continuam servindo-o: Eles estão sujeitos a Cristo: E
agora Cristo está nos céus, sentado no lugar de honra junto a Deus o Pai, com todos os anjos e
poderes do céu curvando-se diante dele e obedecendo-lhe (I Pe 3:22 – BV). Jesus está à direita
de Deus, e todo universo está sob seus pés, inclusive os anjos. Eles o serviram durante todo seu
ministério terreno e continuam servindo-o no seu estado glorioso. Eles sempre estiveram e
sempre estarão a serviço de Cristo.
Em apocalipse 5:11-12 João tem uma visão de incontáveis anjos ao redor do trono no
céu, ele diz que o número deles era milhões de milhões e milhares de milhares (Ap 5:11b). Mais
importante que o número, João descreve a atitude deles. O que eles estavam fazendo? ...ouvi a
voz de muitos anjos... proclamando com grande voz: Digno é o Cordeiro, que foi morto, de
receber poder, riqueza, e sabedoria e força, e honra, e glória e louvor (Ap 5:11a-12). Na posição
glorificada de Cristo os anjos lhe rendem suprema homenagem.
7. Na sua segunda vinda formarão o seu exército: Os anjos acompanharão Jesus
quando Ele voltar: Pois o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos... (Mt
16:27 cf. 25:31; Mc 8:38). Eles irão separar o justo do ímpio colocando cada um no seu grupo:
...A ceifa é o fim do mundo, e os ceifeiros são os anjos... (Mt 13:39b cf. Mt 13:36-43). Eles
reunirão os escolhidos: Ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais
ajuntarão os seus escolhidos... (Mt 24:31 cf. Mc 13:27). A volta de Jesus será escoltada por um
vibrante brado do arcanjo (I Ts 4:16 – BV).
Enfim, não há como negar, assim como durante todo seu ministério, em que os anjos
“são apresentados como a rodear a Cristo e sempre prontos a realizar algum serviço para o qual
são designados”.43

Finalizamos esta primeira parte do nosso estudo, que tratou da pessoa de


Cristo, transcrevendo um texto de um autor desconhecido que, brilhantemente escreveu sobre a
influência de Jesus:

“Jesus foi o primeiro filho de uma camponesa e cresceu numa vila pouco
conhecida. Trabalhou como carpinteiro até os trinta anos de idade, e durante três
anos foi pregador itinerante do reino de Deus. Nunca possuiu um imóvel nem se
casou. Também não “cursou uma faculdade”. Nunca se afastou mais de trezentos
quilômetros do lugar onde nasceu e nunca realizou grandes obras que lhe
garantissem destaque na sociedade. Não tinha outras credenciais a não ser a
própria pessoa.
Quando ainda era jovem, viu a opinião pública se voltar contra ele. Seus súditos o
abandonaram, e foi entregue nas mãos de seus inimigos. Em seguida, foi
submetido a um julgamento muito falho, e afinal, cravado em uma cruz entre dois
ladrões. Enquanto agonizava, seus executores lançavam sortes, disputando o único

43
Hodge (2001:476).

Teologia Sistemática III - Cristologia


16

bem que possuía na Terra: uma túnica. Quando morreu, colocaram seu corpo em
um túmulo, que fora concedido por um amigo, condoído por seu sofrimento.
“Vinte séculos se passaram desde então. Se somarmos todos os exércitos que já
marcharam sobre a Terra, todo o poderio dos navios que já singraram os mares,
todas as decisões governamentais mais importantes e todos os mais famosos reis
da história, veremos que não conseguiram influenciar a humanidade como esse
homem fez”.44

Esse é Jesus! Passemos agora a considerar a obra de Cristo.

2. A OBRA DE CRISTO

A parte da Cristologia que estuda a obra de Cristo analisa tudo o que ele fez, faz e fará
em favor do ser humano. Ela abrange desde a encarnação de Cristo até o seu retorno glorioso.
Podemos dividir a obra de Cristo em dois períodos: o período da humilhação e o período da
exaltação. Vejamos cada um deles.

2.1 O PERÍODO DA HUMILHAÇÃO

O período da humilhação é característico pela descida. Nele estuda-se a encarnação, a


morte e o sepultamento de Cristo, como se segue:

2.1.1 A encarnação de Cristo

44
Apud Schwarz (2002:64).

Teologia Sistemática III - Cristologia


17

Mais de dois mil anos se passaram desde a primeira vinda de Cristo a terra e, ainda hoje
a quem duvide: Será mesmo que Deus se fez gente? Já houve alguns que negaram a
encarnação de Cristo dizendo que ele não passava de um fantasma, tinha aparência de homem,
mas que tudo não passava de uma mera simulação.45 Difícil para estes é explicar as palavras de
João, que cintilam verdade, exalam alegria: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de
graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (Jo 1:14). Em outro
texto ele diz: Eu mesmo o vi com meus próprios olhos e o ouvi falar. Eu toquei nele com as
minhas próprias mãos (I Jo 1:1 – BV).
Estas brilhantes declarações de João vão de encontro com o pensamento herético
conhecido como docetismo (do grego dokeo, “eu pareço”), que via o corpo como uma habitação
do mal, menosprezava a natureza física humana e entendia que o ser divino não pode
experimentar mudança ou sofrimento. Um dos expoentes dessa perigosa heresia chamou-se
Marcião. Ele considerava a humanização de Cristo como uma aparência, uma simulação, uma
imagem sem substância. Em sua confusão espiritual, Marcião cria que a carne de Cristo não
possuía realidade alguma. Para ele, Jesus não passava de um fantasma, sem corpo, sem carne.
Veja o absurdo a que esse herege chegou, ao afirmar sobre Cristo: ele não era o que parecia
ser, e ele aparentava ser o que não era – encarnado sem carne, humano sem ser homem.46
Uma outra heresia que não pode ser sustentada diante da afirmação bíblica de que o
Verbo se fez carne e habitou entre nós, chama-se apolinarismo, nome derivado de Apolinário,
teólogo do IV século d.C. Apolinário ensinou que Jesus Cristo, ao tornar-se homem, não possuía
uma mente humana, não tinha intelecto humano, nem vontade humana. Os pensamentos e as
vontades de Cristo, segundo Apolinário, vinham de Deus. Por crer que a matéria é
essencialmente má, este herege dizia que Jesus não poderia ter uma mente humana, porque, se
tivesse, seria “presa dos pensamentos sujos”.47
Na verdade, ambas as heresias tinham um único alvo: anular a maior e mais sublime
das providências divinas para salvar o homem pecador: a encarnação do Filho de Deus. Com
argumentos falsos mais bem elaborados, os hereges tentaram desqualificar, desvalorizar a
matéria, a carne humana. Contudo, a palavra de Deus mostra-nos a visão correta sobre a carne
humana: (1) ela é corrompida (Mc 7:21; I Co 15:53), mas é restaurada e valorizada (I Co 3:16,
6:19; I Co 15:54).
A maior prova de que a fé cristã valoriza o corpo humano, afirma o evangelista, é que o
Verbo, que era e é Deus, que sempre esteve com Deus, e por quem foram feitas todas as coisas
(Jo 1:1-3), teve um corpo físico, entrou no tempo e no espaço dos homens, entranhou-se na
história humana, limitou-se às circunstâncias temporais, ou seja, o Verbo começou a existir como
um ser humano, e o fez de uma forma tão concreta que habitou entre os homens, isto é, armou
tenta, tabernáculo entre eles, num ato prefigurado pela tenda divina no deserto (Êx 25:8, 40:34).
A encarnação do Verbo foi um acontecimento tão grandioso, uma manifestação tão incrível do
poder de Deus que João não resistiu em testemunhar: Nós vimos a sua glória, glória como do
unigênito do Pai. O Deus invisível (Cl 1:15; I Tm 1:17) tornou-se visível!
Era tão real que os homens olhavam, contemplavam e apalpavam aquele que era desde
o princípio (I Jo 1:1-3). O unigênito do Pai, Jesus, se fez homem. Aquele que criou o mundo, que
existia antes dele, veio participar de sua história. O Deus eterno tomou a forma de um ser
humano. Esta verdade também pode ser vista em Filipenses capítulo 2, versículo 7, de forma

45
Essa teoria é chamada de docetismo (Macleod, 2007:167).
46
Macleod (2007:167).
47
Idem, p. 168.

Teologia Sistemática III - Cristologia


18

bem vivida. Ali lemos que ele assumiu a forma de escravo... Este texto vai muito além da nossa
compreensão!
Como isso foi possível? De que maneira Jesus, sendo Deus, assumiu a forma de um
escravo? A palavra escravo neste texto é doulos na língua original grega. Ela é usada para se
referir a um tipo de escravos que não tinha nenhum direito. Cristo deixa de lado seu imenso
poder e glória para ser “doulos”. O maior esplendor da terra seria o mínimo perto do que Cristo
abandonou. Mas, como isso foi possível? Será que Jesus teve de deixar de ser Deus na
encarnação? Qual o objetivo da encarnação de Cristo? É isso que veremos.

2.1.1.1 A maneira da encarnação

Como a encarnação foi possível? Tudo começou com o nascimento sobrenatural de


Jesus (cf. Mt 1:18). Ele entrou no mundo com um bebê. Agora é preciso entender muito bem as
implicações desta afirmação. Ele se tornou um homem, mas não deixou de ser Deus. Leia
novamente o texto de João, capítulo 1 versículo 14, com atenção: O Verbo se fez carne, e
habitou entre nós... (Jo 1:14a – grifo nosso). O verbo se fez aqui tem um sentido especial. O
texto afirma que Jesus tornou-se uma pessoa humana histórica e real, mas não sugere que Ele
deixou de ser o que era antes.48 Jesus abriu mão da sua posição e não da sua divindade (Fp
2:5-6). Ele era ao mesmo tempo Deus e homem.49
Um texto que muitas vezes é usado para dizer que Jesus abriu mão dos atributos da sua
divindade, por ocasião da encarnação, é o de Filipenses capítulo 2, versículos do 5 ao 7. Ali
Paulo escreve: Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual,
subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,
mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens
(grifo nosso). Com base neste texto, teólogos liberais, na Alemanha do século XIX, criaram a
chamada “teoria de Kenosis”, que é mais uma perigosa heresia que procura atacar o cristianismo
na sua base; chama-se “teoria de Kenosis” porque deriva do verbo grego kenoo, que significa
“esvaziar”.
Segundo esta teoria, Jesus Cristo abriu mão de alguns de seus atributos divinos,
enquanto assumiu a forma de servo ou esteve em carne. Interpretando erroneamente Fl 2:5-7,
os defensores da heresia kenótica afirmam que Jesus viveu na terra simplesmente como homem
e esvaziou-se de qualidades divinas como “onisciência, onipresença e onipotência (...). Isso era
visto como uma autolimitação voluntária da parte de Cristo, feita para cumprir sua obra de
redenção”.50 Os mestres kenóticos foram além: afirmaram que Cristo só teria preservado, em
carne, a santidade, o amor e a verdade. Tomásio e Delitzsch (Alemanha), David W. Forrest
(Escócia) e Crosby (EUA) pensavam assim.51 O escocês Forrest, por exemplo, ensinava que
Cristo tinha amplo e profundo conhecimento, mas não era onisciente; com o mesmo vigor,
afirmava que Jesus não era onipresente, nem onipotente, mas realizou seus milagres “por
virtudes do poder a Ele conferido pelo Pai, recebido em resposta à oração, e condicionado em
exercício à Vontade Suprema à qual Ele submetia a Sua própria vontade”.52
Mas, será que este texto está ensinando que Jesus abriu mão da sua divindade? Será
que o Espírito Santo inspirou Paulo aqui para ensinar que Cristo despojou de todo o seu poder?
A resposta é não. A palavra “esvaziou-se”, conforme já mencionamos, no original grego é kenoo

48
Hendriksen (2004:118).
49
Bruce (1987:45).
50
Grudem (2000:453).
51
Thiessen (2001:210).
52
Idem

Teologia Sistemática III - Cristologia


19

cujo significado é esvaziar, tornar vazio, anular, despojar. A pergunta agora então é: do que
Jesus se esvaziou? Em primeiro lugar, é preciso que fique bem claro que em nenhum momento
o texto diz que Jesus se esvaziou dos seus atributos divinos!
O texto claramente diz o que Jesus fez ao se “esvaziar”: tomou a forma de servo. Jesus
não fez esse esvaziamento deixando alguns de seus atributos divinos, mas tomando a forma de
servo. Este texto não ensina que Jesus deixou alguns dos seus atributos, mas, sim, que deixou a
condição e o privilégio que tinha no céu, isto é, não se apegou às “vantagens pessoais” como ser
divino, mas esvaziou-se dessa condição para poder viver como homem, e fez isso por nós.
Cristo assumiu a forma de servo, e, nessa condição humilde, passou a viver como homem, e
tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz (Fl 2:7-8). Novamente enfatizamos:
o “vazio” de Jesus corresponde a sua “humilhação”, no sentido de assumir posição e condição
inferior a Deus, enquanto cumpria a missão de resgatar os pecadores. O esvaziamento tornou-
se humilhante porque, ali, estava o Deus Filho, com todos os atributos divinos, mas totalmente
humanizado, na posição e na condição de Salvador do mundo.
Em nenhuma vez nas Escrituras é mencionado que Cristo se esvaziou dos seus
atributos. Thiessen53 rebate os mestres kenóticos afirmando que Cristo, repetidamente,
demonstrou seu conhecimento divino ou sua onisciência, pois o próprio Jesus (...) os conhecia a
todos (Jo 2:24, cf. v.25). E mais: Jesus sabia de todas as coisas que sobre ele haviam de vir (Jo
18:4). Quanto a sua onipotência, Jesus repreendeu tempestades, multiplicou pães e peixes,
curou doentes à beira da morte, expulsou demônios, ressuscitou mortos, e seus discípulos, por
sua vez, afirmaram que não faziam milagres em seus próprios nomes, mas no nome de Cristo.
Jesus instava as pessoas a crerem no seu poder: Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim;
crede ao menos por causa das mesmas obras (Jo 14:11, cf. 10:25,36-38, 15:24). Lucas garante
que todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos (Lc 6:19, cf.
8:46). E o próprio Cristo perguntou: Credes que eu posso fazer isso? (Mt 9:28 – grifo nosso).
Ademais, conforme afirmou Grudem,54 em 1800 anos de história do cristianismo,
ninguém creu ou escreveu que o “esvaziamento” de Jesus Cristo diz respeito a alguns de seus
atributos divinos. Os tradutores da Bíblia King James foram felizes em sua tradução: ...fez a si
mesmo de nenhuma reputação... É um erro muito grave afirmar que enquanto Cristo esteve aqui
na terra, ele, voluntariamente, despiu-se e ficou sem poderes. Isso implicaria em dizer que
Cristo, enquanto esteve aqui, ficou sendo algo menos que 100 % Deus. Mas nem por um
segundo Cristo foi, nem é, ou será, menos do que 100% Deus!

2.1.1.2 A pessoa da encarnação

Nós já afirmamos neste módulo que Jesus era 100% Deus, como também já afirmamos
que Jesus era 100% homem. Como pode ser isso? Estamos diante de um dos mais difíceis
problemas teológicos. Como estabelecer uma relação entre essas duas naturezas em uma só
pessoa?

“Se ele é Deus, deve conhecer todas as coisas. Se é Deus, pode fazer todas as
coisas que sejam objetos próprios do seu poder. Se é Deus, pode estar em todos os
lugares ao mesmo tempo. Mas, por outro lado, se era humano, era limitado em
conhecimento. Não podia fazer todas as coisas. E, decerto, limitava-se a estar em

53
Thiessen (2001:210-211).
54
Grudem (2000:454).

Teologia Sistemática III - Cristologia


20

um lugar de cada vez. Parece impossível uma pessoa ser infinita e finita
simultaneamente”.55

Visto ser um assunto muito polêmico, na história surgiram vários pensamentos sobre a
pessoa de Cristo e suas duas naturezas. Vejamos quais foram os principais deles; alguns até já
até foram citados neste trabalho, mas, vejamos novamente:

❖ O docetismo: Os mestres desta doutrina apareceram no ano 70 da era cristã, e


permaneceram até o ano 170 d.C. Eles ensinaram que a matéria é má em si,
por isso, como Jesus não tem pecado, logo Ele não veio em carne, mas teve,
apenas, a aparência de um homem. Ou seja, para os docetas, Jesus não era, de
fato, um homem.

❖ O ebionismo: É o nome de uma das ramificações do Cristianismo primitivo.


Surgiram em 170 d.C. e negavam a natureza divina de Jesus Cristo. Diziam que
“Jesus Cristo é o Messias, mas não é Deus, e que Jesus Cristo não nasceu de
uma virgem, mas sim foi gerado por José”.56

❖ O arianismo: Foi fundado por Ário de Alexandria em 325 d.C. Ele negava a
integridade e a perfeição da divindade Jesus. Dizia que Jesus não era Deus,
mas sim um dos seres mais perfeitos do criador.

❖ O apolinárismo: Apolinário que se tornou bispo em Laodicéia em cerca de 361


a.C., ensinava que a pessoa única de Cristo possuía um corpo humano, mas
não uma mente ou espírito humano, e que a mente e o Espírito de Cristo
provinham da natureza divina do Filho de Deus.57 O Apolinarismo, em suma,
negava a integridade da natureza humana de Jesus.

❖ O nestorianismo: Nestório era um pregador famoso em Antioquia e, desde 428


d.C., bispo de Constantinopla. Embora o próprio Nestório talvez nunca tivesse
ensinado a concepção herética que leva o seu nome, por uma combinação de
alguns conflitos pessoais e boa dose de política eclesiástica, foi afastado do seu
ofício.58 A doutrina herética que leva o seu nome surgiu em 451 d.C., e negava a
união perfeita entre as partes humanas e divinas de Jesus Cristo. Dizia que
quando Jesus dormia e sentia fome era homem, mas quando fazia milagre e
repreendia o mar era Deus, ou seja, o nestorianismo defendia a idéia de que
Cristo era duas pessoas em um corpo, e não uma pessoa.59

❖ O eutiquianismo: Ensinava que as duas naturezas de Cristo, a divino e a


humana, fundiram-se uma na outra e formaram uma terceira, que não era a
divina e nem a humana. O primeiro defensor dessa idéia, conhecida também por
monofisismo, foi Êutico (378-454 d.C.), líder de um mosteiro em Constantinopla.

55
Ercikson (1997:300).
56
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ebionismo > Acessado em 20/11/2009.
57
Grudem (1999:457).
58
Idem, p. 458.
59
Ibidem.

Teologia Sistemática III - Cristologia


21

❖ O adocionismo: Explicada de forma bem forma simples, o adocionismo é a


idéia de que Jesus de Nazaré foi um mero homem durante os primeiros anos de
sua vida. Em algum ponto, entretanto, provavelmente no batismo (ou talvez em
sua ressurreição), Deus o “adotou” como Filho. Trata-se mais de um homem
tornando-se Deus do que um Deus tornando-se homem.60

Como podemos observar esse assunto já causou muita controvérsia. Entretanto, para
tentar resolver estes problemas levantados em torno da pessoa de Cristo, foi convocado um
amplo concílio eclesiástico na cidade de Calcedônia. A definição de Calcedônia de 451 d.C.
parece ter resolvido o problema, ela previne-nos contra todos estes pontos de vistas errôneos,
citados anteriormente e, por isso, tem sido tomada, desde então como o padrão da definição
cristã sobre o assunto.
Charles C. Ryrie apresentou-a de forma mais resumida, em sua obra Teologia Básica, da
seguinte maneira: “podemos descrever a Pessoa de Cristo encarnado como alguém totalmente
divino e perfeitamente humano, sem mistura, sem mudança, divisão ou separação em uma só
Pessoa, eternamente”.61 Ryrie diz que os elementos chaves desta sua descrição incluem: 1)
“Totalmente divino”, não há diminuição de qualquer atributo da divindade. 2) “Perfeitamente
humano”. Note que ele usa “perfeitamente” e não “totalmente” para enfatizar a impecabilidade de
Cristo. 3) “Uma só pessoa” e não duas. 4) “Eternamente”, pois, mesmo ressurreto, continua
tendo um corpo (cf. At 1:11; Ap 5:6).62
De acordo com a declaração do concílio, também, uma natureza faz algumas coisas que
a outra não faz. A declaração do concílio de Calcedônia diz que: “é preservada a propriedade de
cada natureza”. Parece-nos que essa declaração esta de acordo com a narrativa bíblica. Desse
modo nós podemos compreender algumas coisas como: subir ao céu e deixar o mundo (Jo
16:28; 17:11; At 1:11), mas estar presente em toda a parte (Mt 18:20; Mt 28:20); Dizer que Ele
tinha 30 anos (Lc. 3:23), e, ao mesmo tempo dizer que Ele existiu eternamente (Jo 1:1-2; 8:58).
E assim por diante.
Jesus Cristo era plenamente homem e plenamente Deus em uma só pessoa.
Permaneceu o que era e tornou-se o que não era. Com certeza o mais maravilhoso milagre de
toda a história! Essa é a explicação mais lógica e, ao mesmo tempo, a que é mais aceita
teológica e biblicamente, para a pessoa do Cristo encarnado. Ele era 100% homem e 100 %
Deus, em uma só pessoa, e assim será para sempre.63 Afinal, “para que a redenção
concretizada na cruz valha para a humanidade, deve ser obra de um Jesus humano. Mas para
que tenha valor infinito necessário para expiar os pecados de todos os seres humanos em
relação a um Deus infinito e perfeitamente Santo, é preciso que também seja a obra de um
Cristo divino”.64
Concluímos está parte lembrando que dificilmente, por mais que tentemos, nunca será
possível compreendermos essa verdade de modo completo. Sempre nos faltará algumas
respostas, afinal, nesta busca, somos nós, seres finitos e limitados, tentando compreender ele
(Deus), um ser infinito e ilimitado. “A afirmação que Cristo era plenamente Deus e plenamente
homem em uma só pessoa, ainda que não seja uma contradição, é um paradoxo que não
podemos compreender por completo nesta era, e, talvez em toda eternidade”. 65 Como bem

60
Erickson (1997:303).
61
Ryrie (2004:283).
62
Ibidem.
63
Alguns teólogos discordam desta parte final (“e assim será para sempre”).
64
Erickson (1997:300).
65
Grudem (1999:456).

Teologia Sistemática III - Cristologia


22

pontuou Berkhof, “A doutrina das duas naturezas numa só pessoa transcende a razão
humana”.66

2.1.1.3 O objetivo da encarnação

Há diversas razões pelo qual Deus se fez homem. A intervenção de Jesus, o Verbo
encarnado, tem objetivos bem definidos. O primeiro deles está relacionado com a “salvação”:
Veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam, mas a todos os que o receberam,
àqueles que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus. Jesus se fez
gente para que a salvação se tornasse possível para o ser humano! Paulo concorda com essa
verdade quando afirma: ... Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores (I Tm 1:15). Se
por um homem entrou o pecado, a graça de Deus, por um só homem, Jesus Cristo, abundou
para muitos (Rm 5:15).
O segundo motivo pelo qual Deus se fez gente está relacionado com “identificação”. Se
traduzida literalmente do grego para o português, a expressão habitou entre nós (Jo 1:14),
significa “armou barraca entre nós”. Jesus veio morar conosco para que um dia nós possamos ir
morar com Ele!67 Se existe uma pessoa que pode ser tomada como exemplo de verdadeira
empatia esse alguém é Jesus. Deus se fez gente para identificar-se com o ser humano. O Verbo
encarnado enfrentou os mesmos dilemas que eu e você enfrentamos, tais como: amargura (Lc
22:4), compaixão (Mt 9:36), ira (Mc 3:5), angustia (Jo 12:27), rejeição (Mt 26:69-74).
Além destas razões já pontuadas, Thiessen também apresenta mais algumas outras.68
Em primeiro lugar, ele diz que a encarnação serviu para confirmar as promessas de Deus (Gn
3:15; Is 7:14; 9:6; Mq 5:2). Em segundo lugar, para revelar o Pai (Jo 1:18). Em terceiro lugar,
para se tornar um fiel sumo sacerdote (Hb 2:10, 17-18; 5:1-5). Em quarto lugar, para aniquilar o
pecado (Hb 9:26; Mc 10:45; I Jo 3:5). Em quinto lugar, para destruir as obras do diabo (I Jo 3:8;
Jo 12:31; 14:30). Em sexto lugar, para nos dar um exemplo de vida santa (Mt 11:29; I Pd 2:21).
Em sétimo e último lugar, para preparar para o segundo advento (Hb 9:28).

2.1.2 A morte de Cristo

Cristo não veio ao mundo apenas para nos dar exemplo de como é viver uma vida sem
pecado, muito menos apenas para nos ensinar um novo modelo de vida. O principal objetivo da
vinda de Jesus era morrer por nós.69 Ele veio para dar a sua vida em resgate de muitos (Mc
10:45). Ele veio para buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19:10). Jesus se fez gente para
que a salvação se tornasse possível para o ser humano! Veio ao mundo para salvar os
pecadores (I Tm 1:15), através de sua morte. Ele nos comprou através do seu precioso sangue (I
Pd 1:19). A morte de Jesus na cruz é o evento central do Novo Testamento.70
Apesar de não ter cometido pecado, ele sofreu a morte, que é o salário do pecado (Rm
6:23a). Por que Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Unigênito... (Jo 3:16). “Deus
impôs judicialmente a sentença de morte ao Mediador, desde que esse se incumbiu
voluntariamente de cumprir a pena do pecado da raça humana”.71 Os efeitos do pecado não
atingiram somente Adão e Eva. Jesus pagou o nosso pecado! Ele morreu para nos livrar da ira

66
Berkhof (2007:296).
67
Kepler (2008:3).
68
Thiessen (2001:206-210).
69
Thiessen (1987:224).
70
Pearlman (2006:174).
71
Berkhof (2007:311).

Teologia Sistemática III - Cristologia


23

de Deus, que sempre se revela para castigar aquele que se rebela contra sua palavra de
vontade. Ele suportou a ira de Deus contra o pecado dos seres humanos! Não sofreu uma
simples morte, mas uma morte terrível! Um tipo de “execução reservado pelo império Romano
aos criminosos mais execráveis”,72 uma sentença tão infame que não podia ser aplicada aos
cidadãos romanos. Era reservada somente a escoria da sociedade. Sofrendo esse tipo de morte,
Jesus se fez maldição por nós (Dt 21:23; Gl 3:13); fez isso por amor.

2.1.2.1 A expiação

Ainda sobre o tópico da morte de Cristo, precisamos pensar um pouco na doutrina da


expiação. A expiação, pode ser definida como sendo “a obra que Cristo realizou em sua vida e
morte para obter a nossa salvação”.73 Uma das causas da expiação foi o maravilhoso e
incondicional amor de Deus, que o levou a enviar ao mundo, habitado por pessoas indignas e
rebeldes como nós, o seu único Filho, para morrer a nossa morte e sofrer a nossa pena: Vejam
como é grande o amor do Pai por nós! (I Jo 3:1 – NTLH).
A Bíblia deixa claro que, após sua queda, do estado original para o pecado, a tentativa
do homem foi de esconder-se de Deus, entre as árvores do jardim. Consciência culpada sempre
produz medo e fuga. Deus, porém, o procurou, perguntando: Onde estás? (Gn 3:8-10). Nota-se
que o ser humano, ao pecar, teve como uma das primeiras conseqüências o distanciamento de
Deus, com as trágicas conseqüências espirituais, emocionais, conjugais, ecológicas, físicas e
materiais (Gn 3:1-24). Deus, então, anunciou a Adão a trágica e dolorosa sentença de morte:
Você foi feito de terra e vai virar terra outra vez (Gn 3:19b – NTLH). Isso significa que todos que
pecam devem receber a devida punição pelo pecado. E a Bíblia afirma que o salário do pecado é
a morte (Rm 6:23a).
Em vista da queda, o pecado tornou-se universal. Como resultado, a morte se espalhou
por toda a raça humana, porque todos pecaram: O pecado entrou no mundo por meio de um só
homem, e o seu pecado trouxe consigo a morte (Rm 5:12, NTLH). Diante disso, nenhuma
condição o ser humano possuía, para alterar a sentença de morte, proferida por Deus. Além
disso, ele não tinha como pagar a dívida perante o Senhor, contraída por causa do pecado. A
questão era: Como obter esse perdão da dívida? Se Deus perdoasse o pecado, sem nenhum
castigo, a sua justiça seria colocada em dúvida. Deus não podia libertar o pecador até que as
exigências da lei fossem cumpridas. Alguém teria de sofrer o castigo ou a sentença pelo pecado
cometido pela humanidade.
Deus, então, pouco a pouco, foi revelando que o perdão só seria possível pela morte de
um substituto. Por essa razão, ele estabeleceu, na Antiga Aliança, o sacrifício de animais para
expiar tanto os pecados pessoais (Lv 6:2-7) quanto os coletivos (Lv 4:13-20). Todas as vezes em
que um animal desses era sacrificado, Deus estava enfatizando e ensinando aos israelitas uma
verdade espiritual profunda: ... sem derramamento de sangue não há remissão (Hb 9:22.), isto é,
não há perdão de pecados. Os sacrifícios da Antiga Aliança eram, porém, incapazes de atender
plenamente à exigência divina de justiça e salvação para a humanidade, pois o sangue de touros
e de bodes não pode, de modo nenhum, tirar os pecados de ninguém (Hb 10:4).
Por essa razão, a importância e a aplicabilidade dessas cerimônias e desses sacrifícios
estavam limitadas ao tempo e ao espaço, pois haviam sido impostas até ao tempo oportuno de
reforma (Hb 9:10). Elas eram transitórias e preparatórias para a Nova Aliança, cujo mediador
seria o próprio Jesus, Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8; I Pe 1:20; Ef
1:3-4). Embora cercada de glória, a Antiga Aliança estava, portanto, destinada a desaparecer,
72
Erickson (1997:313).
73
Grudem (1999:471).

Teologia Sistemática III - Cristologia


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quando a Nova chegasse, através de Cristo. Muitos israelitas, porém, não entendiam essa
transitoriedade, porque, segundo o apóstolo Paulo, os seus sentidos foram embotados (II Co
3:14). Sobre isso, Champlin faz o seguinte comentário:

Se porventura tivessem entendido corretamente essas coisas, naturalmente ter-se-


iam voltado para Cristo. (...) Nessa ignorância, pois, perderam o grande benefício
da salvação que há em Cristo, não podendo perceber que a glória da antiga aliança
havia desaparecido de todo, e que existe uma glória nova, maior e eterna, no novo
pacto.74

Então, quando chegou o tempo certo, Deus enviou seu Filho (Gl 4:4a) para sofrer e
morrer em nosso lugar. A sua morte, portanto, foi vicária, isto é, a morte em lugar de outro:
“quando pois se diz que os sofrimentos de Cristo foram vicários, o significado é que ele sofreu no
lugar dos pecadores”.75 É óbvio que Cristo não morreu por seu próprio pecado, pois ele não
cometeu nenhum pecado, e nunca disse uma só mentira (I Pe 2:22 – NTLH). Vários e claros são
os textos da Bíblia que mostram que Cristo morreu por causa dos pecados de outros. Caso você
queira checar este ensino, leia, em sua Bíblia, todos os textos a seguir: Is 53:5-6; I Co 15:3; II Co
5:21; Rm 5:8; I Pe 2:24, 3:18; Jo 10:11; Mc 10:45.
A morte de Cristo era mesmo necessária?76 Sim, era, necessária! Por quatro razões:

❖ 1ª Razão: Era necessário que Cristo morresse para pagar a pena de morte que
merecemos por causa dos nossos pecados. Os efeitos do pecado não atingiram
somente Adão e Eva, pois a Bíblia diz o seguinte: ... é verdade que, por causa de um só
homem e por meio do seu pecado, a morte começou a dominar a raça humana (Rm
5:17a – NTLH). Por causa do pecado de Adão, viemos ao mundo com uma natureza
inteiramente depravada e sob a condenação de Deus. Então, Jesus se manifestou uma
vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado.

❖ 2ª Razão: Era necessário que Cristo morresse para nos livrar da ira de Deus, que
sempre se revela para castigar aquele que se rebela contra a sua palavra de vontade.
Em seu grande amor por nós, o próprio Deus ofereceu o substituto, Jesus, o seu único e
amado Filho. Assim, na cruz, Jesus sofreu para absorver e desviar a profunda e furiosa
ira de Deus, de nós para si mesmo: Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos
amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos
nossos pecados (I Jo 4:10). A palavra “propiciação”, no grego, é hilasmos, que tem o
sentido de sacrifício que afasta ou aplaca a ira de Deus – e, dessa forma, torna Deus
propício ou favorável a nós.

❖ 3ª Razão: Era necessário que Cristo morresse para nos reconciliar com Deus, de quem
estávamos separados e distanciados pelo pecado. Ao pecar, Adão voltou suas costas
para Deus. A comunhão e a amizade que havia entre ambos foi rompida e quebrada, por
causa do pecado. Mas, a despeito disso, Deus mesmo tomou a iniciativa de amar os
seres humanos, ao ponto extremo de enviar-lhes seu Filho, como a Bíblia declara: Mas
Deus nos mostrou o quanto nos ama: Cristo morreu por nós quando ainda vivíamos no
pecado (Rm 5:8, NTLH). A morte de Cristo satisfez as exigências de Deus,

74
Champlin (1979:317).
75
Hodge (2001:838).
76
Grudem (1999:482-483).

Teologia Sistemática III - Cristologia


25

reconciliando-nos com ele: ... nós éramos inimigos de Deus, mas ele nos tornou seus
amigos por meio da morte do seu Filho (Rm 5:10a).

❖ 4ª Razão: Era necessário que Cristo morresse para nos redimir ou para nos resgatar da
servidão e do cativeiro do pecado e de Satanás. Jesus afirmou que a razão da sua vinda
era dar a sua vida em resgate de muitos (Mt 20:28; Mc 10:45). “Resgate” é a tradução
da palavra grega lutron, que, quando usada, fazia a pessoa pensar no dinheiro de
compra usado para alforriar ou libertar um escravo. Nota-se que a morte de Cristo é
mostrada pagamento de um preço ou de um resgate, em vários textos da Bíblia (Lc
21:28; Rm 3:24, 8:23; I Co 1.30; Ef 1:7, 14, 4:30; Cl 1:14; Hb 9:15, 11:35). De fato, Deus
nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor,
no qual temos a redenção, a remissão dos pecados (Cl 1:13-14).

Agora, deve-se frisar que Deus resolveu salvar os pecadores, não por necessidade, mas por
misericórdia. Ele poderia, naturalmente, dispensar, aos seres humanos pecadores, o mesmo
tratamento dispensado as seres angelicais rebeldes: Pois Deus não deixou escapar os anjos que
pecaram, mas os jogou no inferno e os deixou presos com correntes na escuridão, esperando o
Dia do Julgamento (II Pe 2:4 – NTLH). Ele, sem dúvida, poderia ter escolhido não resgatar do
pecado um ser humano sequer. Contudo, a Bíblia Sagrada afirma que a misericórdia de Deus é
muito grande, e o seu amor por nós é tanto, que, quando estávamos espiritualmente mortos por
causa da nossa desobediência, ele nos trouxe para a vida que temos em união com Cristo. (Ef
2:4-5)
O amor, portanto, foi a razão de Deus ter enviado seu Filho, que, por sua vez, também nos
amou e deu a sua vida por nós, como uma oferta de perfume agradável e como um sacrifício que
agrada a Deus! (Ef 5:2b – NTLH). Como afirma Hodge:77

O Pai não estava obrigado a prover um substituto para os homens apostatados,


nem o Filho obrigado a assumir tal oficio. Foi um ato de pura graça que Deus
suspendesse a execução da pena da lei, e consentisse em a os sofrimentos e
morte vicários de seu Filho unigênito. E foi um ato de amor sem paralelo que o Filho
consentisse em assumir nossa natureza, levar nossos pecados e morrer, o justo
pelos injustos, para levar-nos a Deus. Portanto, todos os benefícios que se creditam
em favor dos pecadores como conseqüência da satisfação realizada por Cristo são
para eles simples dádivas; bênçãos às quais eles mesmos não têm direito algum.
Requerem nossa gratidão e excluem toda a jactância.

Deve-se frisar, ainda, que, ao morrer por amor, Cristo pagou a pena dos pecados de
todos e não apenas dos que seriam, por fim, salvos – ele sabia de antemão quais seriam. Os
benefícios da morte de Cristo se estendem a todos, homens e mulheres do mundo inteiro, como
nos mostram os textos de Jo 1:29; 3:16; 6:51; II Co 5:19; I Jo 2:2; I Tm 2:6; Hb 2:9. Para receber
esses benefícios espirituais, a pessoa precisa crer em Cristo. Nota-se, pelo ensino da Bíblia, que
“existe uma ordem necessária na salvação do homem. Ele precisa primeiro crer que Cristo
morreu por si, antes de poder se apropriar dos benefícios de Sua morte para si próprio”. 78 Assim,
todos os que vierem a Cristo para serem salvos, serão salvos, pois o mesmo Cristo afirma: ... o
que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora (Jo 6.37b).

77
Hodge (2001: 835-836).
78
Thiessen (1987:237).

Teologia Sistemática III - Cristologia


26

2.1.3 O sepultamento de Cristo

Quanta humilhação sofreu o Senhor Jesus! Mas, será que a sua morte foi o ponto final
em sua humilhação? Por incrível que pareça, não. Ainda tinha mais. Luis Berkhof diz que é
evidente que o sepultamento também faz parte da humilhação de Cristo.79 A sentença divina és
pó, e ao pó tornarás (Gn 3:19) também é uma punição por causa do pecado. No Salmo 16:10
nós lemos o seguinte: Pois não deixarás a minha vida no túmulo, nem permitirás que o teu santo
sofra deterioração.
O sepultamento está, também, relacionado com rebaixamento. Anos depois, em seu
sermão no dia de pentecostes, Pedro cita Davi ao dizer: Davi previu isso e falou da ressurreição
de Cristo, cuja vida não foi deixada no túmulo e cuja carne não sofreu deterioração (At 2:31).
“Ser sepultado é ir para baixo, e, portanto uma humilhação. O sepultamento dos cadáveres foi
ordenado por Deus para simbolizar a humilhação do pecador”.80
Como todo morto, Jesus também foi sepultado. A Bíblia diz que tomaram o corpo de
Jesus, e o envolveram em lençóis de linho com as especiarias (Jo 19:40). As especiarias
formavam uma substância pastosa que era aplicada ao pano. Cerca de cinqüenta quilos de
especiarias aromáticas foram usados no corpo de Jesus.81 Depois disso, depositaram o corpo de
Jesus em um sepulcro novo, que havia aberto na rocha (Mt 27:60). Se não bastasse isso uma
pedra de quase duas toneladas foi colocada na porta do sepulcro.
Josh Macdowell, em seu livro Mais que um carpinteiro, comenta que depois que Jesus
foi colocado no sepulcro...

“Um destacamento romano, composto de homens treinados numa rígida disciplina,


ficou de guarda à porta do sepulcro. O temor de uma possível punição ‘resultava
numa observação impecável das suas responsabilidades, principalmente em casos
de vigilância noturna.’ Esta guarda fixou no túmulo o sinete romano, um selo que
atestava o poder e a autoridade dos romanos. A finalidade daquele lacre era evitar
vandalismo. Qualquer pessoa que tentasse remover a pedra do túmulo teria que
quebrar o selo, e incorreria na ira da lei romana”.82

Agora pare um instante e pense no momento em que a pedra é colocada e todos se


vão... O corpo do Filho do homem fica ali; estendido sobre aquele sofá gélido, feito de alvenaria.
Quanta humilhação! Entretanto, tudo isso teria um fim. O sepultamento foi o último estágio do
período da humilhação. Deste evento em diante, Jesus iniciaria o seu processo de subida, ou
período de exaltação, como veremos na sequência.

2.2 O PERÍODO DA EXALTAÇÃO

Se a no período da humilhação a característica principal era a descida, no período da


exaltação de Cristo a marca principal é a subida. Nesta parte estuda-se a ressurreição, a
ascensão, a exaltação e o retorno glorioso de Cristo, como se segue.

2.2.1 A ressurreição de Cristo

79
Berkhof (2007:312).
80
Berkhof (2007:312-313).
81
Mcdowell (1989:86).
82
Idem, p. 86-87.

Teologia Sistemática III - Cristologia


27

Até agora estudamos sobre a divindade, a eternidade, a encarnação, a vida, a morte e o


sepultamento de Cristo. A encarnação, a morte e o sepultamento são fatos relacionados ao
rebaixamento, ou humilhação, do eterno Jesus. Ele tornou-se homem, morreu, foi sepultado.
Abriu mão da sua posição, tomando a forma de servo (Fp 2:7), desceu as partes mais baixas da
terra (Ef 4:9). Muito bem, a partir de agora passaremos a estudar sobre a exaltação de Cristo.
Como começou esse processo de subida? Se por um lado a morte e o sepultamento de Jesus
foram os pontos mais baixos de sua humilhação, a vitória de Cristo sobre a morte (I Co 15:55-
57), por meio da ressurreição, foi o primeiro passo no processo da sua exaltação.
Perto do meio dia da quarta-feira, o dia em que Jesus foi crucificado, trevas horrendas
cobriam o sol e sufocavam a cidade de Jerusalém. A exceção de João: Todos os discípulos o
abandonaram e fugiram (Mt 26:56). Os poucos seguidores que viram Jesus sendo crucificado,
provavelmente chegavam à mesma conclusão: as trevas, a morte e o diabo venceram...
Entretanto, no primeiro dia da semana, bem cedo, estando ainda escuro, Maria Madalena
chegou ao sepulcro e viu que a pedra havia sido revolvida (Jo 20:1). Jesus não estava mais ali!
Não sabemos exatamente a que hora se deu a ressurreição de Jesus, entre o pôr-do-sol
do sábado e o iniciar do domingo, fato visto e registrado apenas pelo anjo, mas o esperado
aconteceu: Jesus ressuscitou nesse período. A ressurreição de Jesus Cristo foi obra milagrosa
do poder divinal que sobre ele repousava (At 2:23-24, 3:15, 4:10, 5:30; Rm 8:11) e não apenas
um simples reviver de corpo natural. Foi uma ressurreição literal de seu corpo físico
transformado. Sua ressurreição se constitui o centro da fé cristã e, por isto, merece ser
acreditada e lembrada sempre.
O texto de Lucas 24:3 diz que as mulheres ficaram perplexas e sem saber o que fazer.
Dois anjos se colocaram ao lado delas e disseram: Por que vocês estão procurando entre os
mortos aquele que vive? Maria foi correndo contar para Pedro e para os outros. Poucos
acreditaram. Todavia, no versículo 8 de João capítulo 20, o texto nos informa que João viu e
creu. A palavra crer é tradução da palavra grega eidon, que significa “perceber com
entendimento”. João e Pedro estavam certos que Cristo estava vivo.
Eles saíram dali e voltaram para junto dos outros discípulos e, de repente, quando todos
eles, atrás de portas bem fechadas, encolhem-se de medo dos líderes judeus, recebem um
visitante inesperado: chegou Jesus, pôs se no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco! (v.
19). Quando Jesus disse isso, vendo e reconhecendo-o, a esperança dos discípulos é devolvida.
Com a certeza da ressurreição de Jesus, renasce a confiança daqueles homens. Houve
comemoração naquela sala, Jesus estava vivo! Ele venceu. A morte não o deteve.
Hoje, muitos anos depois, ainda há os que tem tentado negar o fato da ressurreição de
Cristo, contrariando o registro bíblico que é claro em afirmar que Cristo ressurgiu! (Mc 16:6; Mt
28:2-6; Lc 24:5-6; Jo 20:1-18; I Co 15:3-8). O próprio Jesus havia dito, que depois de três dias e
três noites (Mt 12:40), ele ressuscitaria (cf. Lc 24:6-8)! E assim foi. Na manhã do primeiro dia
daquela semana, o túmulo estava vazio, e, “nenhum indício de prova foi ainda descoberto em
fontes literárias, arqueológicas ou de inscrições antigas que pudesse contestar essa
afirmação”.83 Lord Darling, antigo presidente da Suprema Corte da Inglaterra, concluiu que
existem evidências tão fortes, positivas e negativas, de fatos e de circunstâncias, que nenhum
tribunal inteligente, no mundo todo, poderia deixar de chegar ao veredito final de que a história
da ressurreição é verdadeira.84 Ele realmente ressurgiu. Nossa pregação não é vã (I Co 15:14),
por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor (I Co 6:14)!

83
Mcdowell (1994:91).
84
Macdowell (1989:95).

Teologia Sistemática III - Cristologia


28

2.2.2 A ascensão de Cristo

Depois de ressuscitado, Jesus permaneceu ainda por quarenta dias na terra (At 1:3). Por
fim, ele conduziu os discípulos para Betânia, fora de Jerusalém, e ali foi foi elevado ao céu (Lc
24:51 cf. At 1:9).

“A ascensão não aparece nas páginas das Escrituras de maneira tão patente como
se dá com a ressurreição. Deve isso ao fato de que a ressurreição foi o verdadeiro
ponto decisivo da vida de Jesus, e não a ascensão. Em certo sentido pode-se dizer
que a ascensão foi o complemento e a consumação da ressurreição. Não significa
que a ascensão seja destituída de significado independente”.85

A ascensão de Jesus foi o segundo passo no processo da sua exaltação. Por ascensão,
queremos dizer, a volta de Cristo ao céu em seu corpo da ressurreição.86 Sua partida foi uma
“subida”, assim como sua entrada ao mundo havia sido uma “descida”. E, como sua entrada no
mundo foi sobrenatural, assim também o foi sua partida.87
A ascensão de Jesus havia sido revelada antecipadamente pelos profetas e pelo próprio
Cristo. Observe essa referência feita por Davi, no Salmo 68:18: Tu subiste ao alto, levaste cativo
o cativeiro, recebeste dons para os homens e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus
habitasse entre eles. Estas palavras servem como indicativo e prefiguram a ascensão de Cristo
para o céu. Durante o seu ministério terreno, Jesus encorajou e orientou os seus discípulos,
fazendo referência a sua ascensão. Acompanhe as palavras de Jesus, narradas por João: Não
se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há
muitas moradas. Se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E se eu for e
vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estou
estejais vós também (Jo 14:1-3).
Atente para a expressão na casa de meu Pai. Onde é a casa do Pai? O mesmo Jesus
responde: Pai nosso que estás no céu... Atente ainda para outra expressão: ... e se eu for e vos
preparar lugar. Ele iria de onde e para onde? Naturalmente, daqui da terra, onde ele estava, para
o céu. Paulo reforça essa verdade, afirmando: Mas a nossa cidade está nos céus, donde
também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fl 3:20). Jesus, por sua vez, falando a
respeito de sua segunda vinda, de forma descritiva, deixou claro de onde ele partiria, para voltar
à terra: Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todos os povos da terra se
lamentarão e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande
glória (Mt 24:30 – grifo nosso).
Uma das mais importantes provas bíblicas da ascensão de Cristo é a que está registrada
em At 1:1-2,9-11, justamente porque foi testemunhada por várias pessoas, deixando-nos esse
valiosíssimo relato descritivo da ascensão visível e pessoal de nosso Senhor:

Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo o que Jesus começou, não só a
fazer, mas também a ensinar, até o dia que foi recebido em cima no céu, depois de
ter dado mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera. Depois
que lhes disse isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas e uma nuvem o recebeu,
ocultando-o a seus olhos. E estando eles com os olhos fitos no céu enquanto ele
subia, de repente junto deles se puseram dois homens vestidos de branco, os quais

85
Berkhof (2007:321-322).
86
Thiessen (1987:243).
87
Pearlman (2006:179).

Teologia Sistemática III - Cristologia


29

lhes disseram: Varões galileus, porque estais olhando para o céu? Esse Jesus, que
dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir, assim como para o céu o vistes
ir. (cf. Lc 24:51; At 1:1-2,9-11)

A elevação de Jesus às alturas reveste-se de uma importância extraordinária, no plano


da redenção; por essa razão, vamos considerar quatro aspectos que dela ressaltam:

❖ 1 - A comprovação da messianidade de Jesus: Desde o nascimento de Jesus,


líderes judeus não creram na filiação divina de Cristo (Jo 1:11). Segundo eles, a
modesta origem familiar e as circunstâncias do nascimento de Jesus eram
incompatíveis com a “idealização do Messias” que eles possuíam. Em suas
mentes, o Messias deveria nascer de uma família rica, influente e com poderes
políticos para libertá-los do jugo romano (At 1:6). Por essa e outras razões, a
mensagem e os milagres de Jesus foram desacreditados por muitos (Mt 9:3,
12:24; Lc 23:39; Jo 10:36). Contudo, apesar de todo o esforço de Satanás em
semear a dúvida na mente das pessoas, muitas delas foram convencidas a
respeito dessa verdade e se renderam ao Senhorio de Cristo. Tanto sua
ressurreição, quanto sua ascensão aos céus, são provas inescusáveis de sua
messianidade.

❖ 2 - O inicio da glorificação de Jesus: O ponto de partida para a exaltação ou


glorificação de Jesus no céu e para a sua coroação como Rei dos reis e Senhor
dos senhores. A ascensão de Jesus ao céu consolidou, definitivamente, sua
vitória como Filho do homem e como Filho de Deus. Paulo, assim se refere a
essa vitória: Pelo que Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é
sobre todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que
estão nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Cristo
Jesus é o Senhor, para glória de Deus Pai (Fl 2:9-11). E a esse respeito,
Champlin faz o seguinte comentário:

No original grego [exaltou] é <uperupsoo>, “elevar às mais elevadas


alturas”, “exaltar excelsamente”, “exaltar supremamente”, uma
expressão enfática que indica a natureza elevadíssima e grandiosa da
exaltação de Cristo. O trecho de Ef 1:19-23, nos fornece o melhor
comentário sobre essa idéia. Não existe nome e nem ser tão elevado
quanto Cristo. De fato, todos os seres têm nele a razão de sua
existência. Cristo é o restaurador de tudo, e tudo deverá estar em
união perfeita com ele, reconhecendo seu senhorio e sua posição de
Cabeça. Cristo entrou no estado de glória transcendente, e agora está
assentado à mão direita de Deus Pai, conforme se vê em Rm 8:34 e Cl
3:1. Ele é o Senhor de todos, de vivos e de mortos, tanto da terra,
como do hades, como dos lugares celestiais (ver Rm 14:9), e mostra-
se glorioso em seu reinado (ver I Co 15:25).88

❖ 3 - O fator determinante para a vinda do Consolador: Inicialmente, temos as


palavras do próprio Jesus que confirmam essa verdade: Todavia, digo-vos a

88
Champlin (1983:31).

Teologia Sistemática III - Cristologia


30

verdade: Convém que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para
vós; mas, se eu for, eu o enviarei (Jo 16:7). Estas expressões apontam para o
fato de que a vinda do Espírito Santo estava condicionada à glorificação de
Jesus, no céu. Outro texto sagrado que sustenta esse ensino é o de Jo 7:39:
Isto ele dizia do Espírito que haviam de receber os que nele cressem. O Espírito
Santo ainda não fora dado, porque Jesus ainda não havia sido glorificado.
Comentando esse versículo, Champlin apresenta o seguinte raciocínio:

“<...porque Jesus não havia sido ainda glorificado...> Trata-se de uma


das expressões favoritas do autor deste quarto evangelho; em
conexão com a pessoa de Cristo, está em vista a glorificação
resultante de sua morte e ressurreição. Por meio de sua exaltação e
glorificação, Jesus se tornou o <Senhor> universal; e é por meio dele
que flui o ministério do Espírito Santo. Foi somente depois dessas
ocorrências da vida de Cristo que puderam ser conferidas as plenas
manifestações do Espírito Santo aos homens, porquanto Jesus as
outorga na qualidade como <Senhor de tudo>” 89

❖ 4 - O fato de ilustrar o arrebatamento da Igreja: Assim como Cristo ressurgiu


dentre os mortos, tornando-se as primícias dos que dormem (I Co 15:20),
outorgando certeza de ressurreição a todos os que vivem, viveram e
descansaram nele, assim como Cristo foi elevado às alturas, após triunfar sobre
toda potestade maligna e sobre toda espécie de mal, os salvos e vitoriosos por
sua graça serão elevados às alturas ( cf. I Ts 4:16-17). A ascensão de Jesus
prefigura a nossa ascensão.

Enfim, concluímos esta parte reforçando que, por ocasião de sua ascensão, Jesus foi
recebido no céu em glória (I Tm 3:16). Paulo afirma em Filipenses, capítulo 2, que Deus o
exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome (v. 9). “E assim terminou a
história da vida terrena do Senhor Jesus, tendo Ele tido a mais profunda e extraordinária vida
jamais passada à face da terra; o mais puro, o mais poderoso, o mais nobre e justo de todos os
homens, de tal modo que quando pensarmos em grandeza logo nos lembraremos dele”.90

2.2.3 A exaltação de Jesus

Continuando, o terceiro passo no processo de exaltação, ou glorificação de Jesus,


refere-se ao estar assentado à destra de Deus. O próprio Jesus disse que estaria assentado à
direita do todo poderoso (Mt 26:64). Depois de sua ascensão, a Bíblia afirma que Deus o fez
sentar à sua direita nos céus (Ef 1:20 cf. At 2:33; Hb 10:12; I Pe 3:22; Ap 3:21), cumprindo assim
a profecia do Salmo 110:1. Mas o que significa isso? Pelos menos duas coisas:91
Em primeiro lugar, o sentar-se a direita de Deus, é uma indicação que a obra de Cristo
havia sido concluída. E em segundo, mostra a sua posição de domínio, de governo de
soberania, é uma indicação que ele recebeu autoridade sobre o universo. “O mediador recebeu
as rédeas do governo sobre a Igreja e sobre o universo”. 92 Por isso, não devemos tomar o fato

89
Idem, p. 390.
90
Champlin (2002:30).
91
Grudem (1999:518).
92
Berkhof (2007:323).

Teologia Sistemática III - Cristologia


31

de Jesus assentar-se à direita de Deus como indicação de acomodação ou inatividade. O Jesus


exaltado continua atuando e agindo em favor de todos que fazem parte da sua igreja, que é o
seu corpo aqui na terra.
Ele está assentado à destra de Deus (Hb 10:12), têm todas as coisas sujeitas debaixo
dos seus pés (Ef 1:22).

“...todo poder é dado a Cristo (Mt 28:180. E esse poder, conquanto tenha sido
usado no começo para a criação de todas as coisas no céu e na terra, visíveis e
invisíveis, inclusive tronos, soberanias, principados e potestades, ele é exercido
agora com o fim de que todas as coisas possam ser mantidas (Cl 1:16-17). O
próprio assentar-se de Cristo muito acima de todas as inteligências (Ef 1:20-21)
sugere que ele está sobre elas numa autoridade completa”.93

Além disso, em sua posição exaltada, os coros angelicais lhe cantam louvores no céu
dizendo: Digno é o cordeiro que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e
honra e glória, e louvor (Ap 5:12). Ainda hoje, mesmo que não nos demos conta disso; ele se
preocupa conosco: ...intercede por nós (Rm 8:34); está ao nosso lado (Mt 28:20); por isso,
tranquilamente entreguem-se aos cuidados de Cristo, seu Senhor (I Pe 2:15 –BV).

2.2.4 O retorno de Cristo

Essa última dimensão da exaltação de Cristo é a nossa grande esperança! As Escrituras


indicam que um dia, em algum momento no futuro, que nós não sabemos, Cristo voltará para
nos buscar (Lc 21:27; Mt 25:31; I Co 4:5; II Tm 4:1; Jd 14-15; Fp 4:5; Hb 10:37; Tg 5:8; Ap 3:11,
22:20; At 1:11). Como será este acontecimento e qual seu objetivo? Vejamos.

2.2.4.1 A maneira da volta de Cristo

Um dos aspectos da vinda de Jesus que precisamos enfatizar mais é, sem dúvida
alguma, o que diz respeito à forma como ele virá. Muitos crentes acreditam que ele não somente
virá de surpresa, mas, também, virá invisível. Esses crentes dividem a futura vinda de Cristo em
dois momentos diferentes. O primeiro momento precederá a grande tribulação e terá como
propósito livrar dos seus horrores os fiéis. De acordo com essa maneira de crer, os fiéis, ou seja,
os que estiverem preparados para esse momento, serão retirados de maneira súbita e invisível
da terra, por meio de um arrebatamento.
De acordo com estes mesmos crentes, terá início a grande tribulação, que resultará em
muito sofrimento para aqueles que aqui ficarem, muitos dos quais se arrependerão e se
converterão. O destaque especial é para os judeus que, então, convencidos de que Jesus é o
verdadeiro Messias, se converterão em massa. Depois disto, Jesus virá outra vez, com os
santos que arrebatou, para buscar os que se converterem, como resultado da grande tribulação.
Esta maneira de crer, todavia, contraria expressamente tudo que está escrito a respeito deste
assunto, nas Escrituras do Novo Testamento, que nos mostram que Jesus virá pessoal, literal e
visivelmente. Vejamos.

❖ 1 - Será visível. Jesus deixou bem claro que a sua vinda será tão pública e
visível como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente (Mt 24:27).

93
Chafer (2003:257).

Teologia Sistemática III - Cristologia


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Ele ainda afirma que a sua chegada, será percebida universalmente: Todos os
povos da terra verão o Filho do Homem descendo nas nuvens (Mt 24:30, NTLH).
Após a ascensão de Jesus, dois anjos apareceram e anunciaram que o seu
retorno à terra seria de forma visível: Homens da Galiléia, por que vocês estão
aí olhando para o céu? Esse Jesus que estava com vocês e que foi levado para
o céu voltará do mesmo modo que vocês o viram subir (At 1:11, NTLH). Em
outras palavras dizem que o seu advento jamais seria um evento encoberto ou
misterioso. Ele partiu de forma visível, ele voltará de forma visível!

❖ 2 - Será pessoal. Na mesma linha, o apóstolo Paulo declara também que o


Senhor regressará de modo pessoal: Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua
palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus,
descerá dos céus (I Ts 4:16). O escritor de Hebreus destaca: assim também
Cristo, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a
salvação (Hb 9:28). O apostolo João explica: eis que vem com as nuvens, e
todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se
lamentarão sobre ele (Ap 1:7). O que esse textos têm em comum? Todos
reforçam e repetem a mesma questão: haverá um retorno pessoal do Senhor,
isso implica numa vinda literal e visível ao mundo todo, ao mesmo tempo. As
afirmações são muito explícitas, não dando margem à idéia de que a vinda do
Senhor acontecerá impessoalmente.

❖ 3 – Será gloriosa. E o seu segundo aparecimento, os evangelhos de Mateus,


Marcos e Lucas dizem a mesma coisa: o Filho do Homem há de vir na glória de
seu Pai, com os seus anjos (Mt 16:27, Mc 8:38 e Lc 9:26). Aparecerá sobre as
nuvens do céu, com poder e muita glória (Dn 7:13, Mt 24:30, Mc 13:26 e Lc
21:27, I Ts 4:17, II Ts 1:7-8, Ap 1:7). Através da sua crucificação e ressurreição,
Jesus alcançou uma vitória sobre o poder dos governos espirituais malignos,
derrotando-os e humilhando-os publicamente (Cl 2:15). Mas será em seu
glorioso retorno, nosso Senhor concretizará a sua vitória! Em sua gloriosa
segunda vinda, a sua grandeza e senhorio serão universalmente reconhecidos:
todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor, para
glória de Deus Pai (Fp 2:10-11). Vencendo vem Jesus! Aleluia!

2.2.4.2 O objetivo da volta de Cristo

A Bíblia apresenta alguns motivos para a volta de Cristo a terra.

❖ 1 – Acerto de contas. A parábola dos dez talentos, contada por Jesus em Mt


25:14-30, de modo mais amplo pode ser entendida como uma síntese da
história humana. Assim como os servos da história contada, cada ser humano
recebeu de Deus preciosas oportunidades. Sendo assim, o nosso tempo de
vida, quer seja pouco, que seja muito, deve ser utilizado ao máximo em função
das coisas que não perecem. Hebreus 9:27 afirma cada pessoa tem de morrer
uma vez só e depois ser julgada por Deus. Quando uma pessoa falece, o “livro
da sua vida” é encerrado, e sobre sua história Deus pronuncia seu julgamento.
Saberemos o resultado do julgamento na Vinda do Senhor, que diz: comigo está

Teologia Sistemática III - Cristologia


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o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras (Ap
22:12).

❖ 2 – Renovação da criação. O efeito da queda de Adão e Eva, recaiu sobre toda


a criação de Deus: A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos
filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas
por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus
(Rm 8:19-22). Na volta de Jesus, a velha terra que agora existe com toda a sua
violência, pobreza e injustiça passará (II Pd 3:7-10; Ap 21:1), pois Deus fará
novas todas as coisas (Ap 21:4): Na terra nova, Deus enxugará dos nossos
olhos todas as lágrimas: Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem
dor. As coisas velhas já passaram (Ap 21:4).

❖ 3 – O encontro com a noiva. Na sua primeira vinda, o Noivo amou a sua Noiva
e se entregou por ela. O Noivo fez isso para que na sua volta pudesse trazê-la
para perto de si em toda a sua perfeição, sem máculas e sem defeitos (Ef 5:25-
27). Mas, entre a partida do Noivo e o retorno do Noivo, a Noiva foi espancada,
foi perseguida, foi machucada, foi hostilizada, foi desprezada. Os que se diziam
amigos do Noivo tentaram seduzir a Noiva, para depois possuí-la e destruí-la (Jo
3:29). Mas a Noiva não largou o Noivo, até que ouviu o grito: Eis o noivo! Saí ao
seu encontro! Fiquemos alegres e felizes! Porque chegou a hora da festa de
casamento do Cordeiro, e a noiva já se preparou para recebê-lo (Mt 25:6, Ap
19:7). Felizes os que foram convidados para a festa de casamento do Cordeiro!

Teologia Sistemática III - Cristologia


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3. OS OFÍCIOS DE CRISTO

Nesta parte final do nosso estudo, vamos fazer, ainda que de forma bem resumida, uma
abordagem sobre os ofícios de Jesus. Às vezes a obra de Jesus é vista como uma divisão tripla:
os ofícios de Cristo como profeta, sacerdote e rei.94 Estes eram os três cargos mais importantes
no Antigo Testamento. O profeta revelava, o sacerdote oferecia sacrifícios, orações e louvores a
Deus em favor do povo, e o rei governava.95 Cristo preenche estas três funções, ou ofícios.
Segundo Grudem, como profeta Ele revela Deus a nós, como sacerdote Ele se oferece em
sacrifício e nos reconcilia com Deus, e como rei Ele governa a igreja e o universo. 96 Berkhof
ainda diz que como Profeta, Cristo represente Deus para com o homem; como Sacerdote, ele
representa o homem na presença de Deus; e como Rei, ele exerce domínio e restabelece o
domínio original do homem.97

3.1 Cristo como Profeta

O testemunho dos profetas dizia que o Messias seria um profeta (Dt 18:15-18; Is 42:1 cf.
Rm 15:8). Os evangelhos, em várias ocasiões apresentam Jesus como Profeta (Mc 6:15; Jo
4:19; 6:14; 9:17; Mc 6:4; 1:27).98 Ele mesmo disse que era um profeta, quando seu ministério
não foi recebido em Nazaré (Mt 13:57). Pedro indica Jesus como aquele que foi predito por
Moisés (At. 3:22). Em muitas outras passagens Ele é revelado como profeta (Mt 16:14; Lc 9:8,
7:16; Jo 7:40). Jesus é o Cristo-profeta, que ilumina as nações.99
No desempenho desse papel, Jesus Cristo passou a ser o representante de Deus entre
os homens, considerando-se que o profeta é aquele que comunica a vontade de Deus aos
homens, facilitando as relações entre ambos. É através do profeta que as mensagens de Deus
chegam ao conhecimento dos seres humanos. Assim foi ele conhecido quando de sua
passagem na terra. Quatro dias antes de sua morte, por exemplo, Jesus foi recebido com grande
honra pelos habitantes de Jerusalém: E, entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou,
dizendo: Quem é este? E a multidão dizia: Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galiléia (Mt
21:11). Lucas registra que, depois que Jesus ressuscitou o filho da viúva de Naim, as pessoas

94
Ryrie (2004:291).
95
Grudem (1999:523).
96
Grudem (1999:523).
97
Berkhof (2007:328).
98
Pearlman (2006:169).
99
Ibidem.

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que presenciaram este acontecimento ficaram maravilhadas: E de todos se apoderou o temor, e


glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu
povo (Lc 7:16).
Aos discípulos que iam para Emaús e que discutiam no caminho a respeito da morte de
Jesus, este lhes apareceu e lhes perguntou:

Que palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós, e por que estais
tristes? E respondendo um, cujo nome era Cleofas, disse-lhe: És tu só peregrino em
Jerusalém, e não sabes as coisas que nela tem sucedido nestes dias? E ele lhes
perguntou: Quais? E eles lhe disseram: As que dizem respeito a Jesus Nazareno,
que foi varão profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o
povo. (Lc 24:18-19)

Após a multiplicação dos pães, vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha
feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo (Jo 6:14). Foi assim que
ele foi reconhecido pela mulher samaritana, quando de seu diálogo com ela: Senhor, vejo que és
profeta (Jo 4:19). Esta também foi a conclusão a que chegaram todos que o ouviram pregar no
último dia da festa dos tabernáculos, em Jerusalém: Muitos da multidão ouvindo esta palavra,
diziam: Verdadeiramente este é o Profeta (Jo 7:40). Uma das coisas que mais o caracterizava
como profeta era a autoridade com que transmitia a palavra de Deus, porque os ensinava como
tendo autoridade; e não como os escribas (Mt 7:28-29).

3.2 Cristo como Sacerdote

Como já dissemos anteriormente os sacerdotes ofereciam sacrifícios em favor do povo,


orações e louvores. Ao agir assim ele santifica as pessoas para se tornarem aceitáveis a
presença de Deus. O sacerdote era, no ministério levítico, o representante do povo diante de
Deus, assim como o profeta era o representante de Deus diante do povo. Jesus tornou-se nosso
grande Sumo sacerdote. Ele é tanto o representante de Deus diante do povo como o
representante do povo diante de Deus. Era o sacerdote que levava a Deus as necessidades do
povo, cabendo-lhe, ainda, o dever de interceder por este. Atualmente, Cristo exerce a função de
sumo-sacerdote, em favor dos que são e dos que hão de ser salvos. Além disso, podemos dizer
que ele é o nosso sumo sacerdote por algumas razões:

❖ Ele ofereceu um sacrifício perfeito pelos nossos pecados (Hb 10:4; 9:26; 7:27;
9:12, 24-28; 10:1-2, 10, 12, 14; 13:12). Jesus não era apenas o sacrifício, mas
também o sacerdote que oferecia (Hb 4:14; 9:24). Jesus é o Cristo-sacerdote
que se ofereceu como sacrifício pelas nações.100
❖ A Escritura refere-se a Jesus como fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus,
para expiar os pecados do povo (Hb 2:17), e como Um grande sumo sacerdote
(Hb 4:14). Declara, também: Porque não temos um sumo sacerdote que não
possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós em tudo
foi tentado, mas sem pecado (Hb 4:15). Além disso, diz: Tu és sacerdote
eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5:6); e ainda: Porque
dele assim se testifica: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de
Melquisedeque (Hb 7:17). Em Hebreus 7:21, 7:26, diz-se:

100
Pearlman (2006:169).

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Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado,


separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus (...).
Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e
mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta
criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio
sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna
salvação. (cf. Hb 3:14; 4:15; 5:10; 6:20; 8:1; 9:11; He 10:21; Ap 1:6;
5:10; 20:6)

3.3 Cristo como Rei

No Antigo Testamento o Rei tinha autoridade para governar a nação. Isaías profetiza a
respeito de um governante (Is 9:7). Jesus nasceu para ser o Rei dos judeus. Quando os magos,
vindos do oriente, à procura do local do seu nascimento, chegaram a Jerusalém, a primeira
inquirição que fizeram foi esta: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos à
sua estrela no oriente, e viemos adorá-lo (Mt 2:2).
Pilatos, ao interrogá-lo, disse: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei.
Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo (Jo 18:37). Portanto, quando o crucificaram,
Pilatos mandou preparar uma placa, que foi colocada no alto da cruz, com a seguinte inscrição,
em três línguas: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus (Jo 19:19). Se isto foi feito como forma de
zombaria, não sabemos. O certo é que Jesus é, de acordo com o projeto de Deus, o Rei eterno,
não só dos judeus, mas de todos os povos.
Lembra-te de mim quando entrares no teu reino (Lc 23:42). Este foi o pedido de um dos
malfeitores que foi crucificado ao lado de Cristo. Este pedido, com certeza, foi inspirado, pois o
reino de Cristo ainda estava (e ainda está) no futuro, quando o pedido foi feito. É evidente que
Cristo já reina, espiritualmente, no coração dos verdadeiros crentes; um reinado diferente, é
claro, como ele mesmo disse: um reino que foge ao estilo dos reinados deste mundo (Jo 18:36).
Jesus disse que assentaria num trono glorioso (Mt 19:28). Após a ressurreição Deus Pai
deu a Jesus autoridade sobre a igreja e sobre o universo (I Co 15:25). Enfim, ele reinará de
maneira plena, a partir do resgate final da Igreja, como garante a Bíblia Sagrada: Bem-
aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a
segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos (Ap
20:6). Quando Cristo voltar Ele será conhecido como Rei (Ap 19:16).101 Jesus é o Cristo-Rei que
governa sobre as nações.102

101
Grudem (1999:527).
102
Pearlman (2006:169).

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CONCLUSÃO

Concluímos afirmando que, Jesus Cristo é 100% Deus e 100% homem, tudo isso em
uma só pessoa. Ele passou por um período de humilhação, caracterizado por sua encarnação,
morte e sepultamento, mas, hoje é exaltado! Ressuscitou e vive para todo o sempre. Está
assentado à destra de Deus Pai e um dia voltará para buscar a sua igreja. Ainda dizemos que
Cristo trabalhou como profeta, sacerdote e Rei. Como profeta Ele revela Deus a nós, como
sacerdote Ele se oferece em sacrifício e nos reconcilia com Deus, e como rei Ele governa a
igreja e o universo!
Jesus é o centro da história, soberano, absoluto, dominante sobre tudo e sobre todos,
em todos os tempos! Ele é o eixo da Escrituras! A Bíblia Sagrada não é o livro da história
religiosa da civilização humana, mas a revelação escrita, cujo tema central é o Filho de Deus. É
tempo de voltarmos à mensagem mais poderosa do cristianismo: A mensagem da Cruz (I Cor.
1:17-18). Cristologia nunca será uma matéria fora de moda, o dia em que isso acontecer a igreja
pode fechar as suas portas, porque ela deixará de ser igreja! Como brilhantemente escreveu
Paulo,

Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram
criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos
ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e
para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do
corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em
tudo tenha a supremacia. Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a
plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão
na terra quanto as que estão nos céus, estabelecendo a paz pelo seu sangue
derramado na cruz (Cl 1:15-20).

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