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CURSO DE FORMAÇÃO BÁSICA - MÓDULO 01

Capítulo 06: Cristologia (Doutrina de Cristo)

Introdução

Terminamos a última aula falando sobre o impacto que a entrada do pecado teve sobre
a Criação e especialmente sobre o ser humano e seu relacionamento com Deus. Depois de ver
os efeitos devastadores da Queda, e a ira com a qual Deus se manifesta contra o pecado, é
natural que surja em nós o desejo de que alguém nos livre dessa situação. Isso abre a porta
para que falemos Daquele que veio para nos reconciliar com Deus. É sobre Ele que falaremos
hoje, Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.
O nome de Cristo é o que carregamos como cristãos, suas palavras moldam nossa fé e
sua obra inaugurou a chegada do Reino dos Céus. Portanto, é vital para nós compreendermos
quem é o nosso Salvador, para que possamos seguir os seus passos, principalmente em
tempos em que a mensagem do Evangelho tem sido distorcida por muitos dos que se dizem
seguidores de Jesus.

Considerações iniciais:

● O Autor da Bíblia é Deus. O Tema da Bíblia é Deus e sua obra. Isso deve servir como
base para orientar nossa leitura e interpretação de todos os temas apresentados pela
Palavra.

● Jesus é Deus, essa verdade fundamental deve arder em nossos corações e iluminar
toda nossa compreensão da Palavra.

● Toda a Palavra é sobre Jesus. Ele é o alvo para o qual aponta o Primeiro Testamento e
o fundamento a partir do qual o Novo Testamento se desenvolve.

● Jesus não é apenas uma doutrina teórica sobre a qual devemos aprender, mas uma
pessoa, com a qual devemos nos relacionar.

A expectativa do Messias e a Plenitude dos Tempos

A partir do capítulo 3 de Gênesis e ao longo de todo o Primeiro Testamento, vemos


uma expectativa do cumprimento da promessa de Deus sobre aquele que pisaria a cabeça da
serpente. Desde quando Deus forma seu povo pela descendência de Abraão, passando pela
servidão no Egito, pelo estabelecimento do reinado em Israel, até o período
intertestamentário, o cenário está sendo preparado para a chegada do Messias esperado.
A expectativa messiânica aparece em textos como o quase o “proto-evangelho” de
Gênesis 3, a promessa de Jacó para Judá em seu leito de morte, a promessa de Deus para
Davi de que sua descendência ocuparia eternamente o trono, na esperança do profeta Isaías
sobre o Renovo e na profecia de Malaquias sobre o caminho para o Salvador. Tal sentimento
moldou o imaginário do povo de Deus e preparou o cenário para a Revelação divina do
Messias. Tanto que o próprio Jesus lendo o texto que encontramos em Isaías 61, reclama para
si o cumprimento da profecia:

“Ele foi a Nazaré, onde havia sido criado, e no dia de sábado entrou na sinagoga, como era seu
costume. E levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías. Abriu-o e encontrou o lugar
onde está escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas
aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para
libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor". Então ele fechou o livro, devolveu-o ao
assistente e assentou-se. Na sinagoga todos tinham os olhos fitos nele; e ele começou a dizer-lhes:
"Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir"”. (Lucas 4:16-21)

A entrada de Jesus na história não foi um plano alternativo, ou um remendo na


história da Criação, mas algo planejado e executado pela soberania de Deus desde a
eternidade. Contudo, ainda que a expectativa messiânica perpasse todo o Primeiro
Testamento, o advento de Cristo ocorre no momento determinado por Deus, na Plenitude dos
Tempos, quando todo o cenário estava preparado para a chegada do Salvador e para o avanço
de sua obra.
No contexto em que Jesus nasceu, havia uma série de particularidades históricas que
favoreceram a difusão de sua mensagem. O domínio romano oferecia infraestrutura como
estradas para rotas comerciais, o idioma grego era uma língua comum e a cultura helênica
havia criado um tipo de globalização no mundo daquela época e todas estas coisas
contribuíram muito para o avanço da mensagem do Reino de Deus.

A Natureza de Cristo

Após a ascensão de Cristo e com a organização e avanço da igreja primitiva,


começaram a surgir dúvidas sobre a natureza de Jesus e questionamentos sobre a sua pessoa.
Algumas dessas dúvidas eram sobre a sua constituição, ou seja, quanto de humano e quanto
de Deus havia nele? Nesse meio diversas heresias sobre quem é Jesus surgem e são
prontamente rebatidas pelas lideranças da época. Nas escrituras podemos perceber os
apóstolos lidando com algumas delas, o que levou ao desenvolvimento inicial do que
chamamos hoje de Cristologia.

O Filho de Deus

Afirmar que Jesus é o Filho de Deus é afirmar que ele é igual ao Pai, quem tem a
mesma substância e essência. Significa dizer que Jesus é Deus. Essa doutrina é um pilar
fundamental para a fé cristã e surgiu como uma resposta aos questionamentos que eram
levantados sobre a pessoa de Jesus. nos Evangelhos vemos Jesus se afirmando como Deus,
Deus o afirmando como seu filho, os discípulos o afirmando como Deus e Filho de Deus e até
os demônios declarando estas verdades. Aqui vale lembrar do conceito de Trindade que
vimos no primeiro capítulo. Jesus é Deus e é eternamente filho, assim como o Pai é Deus e é
eternamente Pai e o Espírito é Deus é eternamente o espírito de Deus.
União Hipostática (completamente divino, integralmente humano)

Apesar deste termo ser estranho, ele descreve uma realidade crucial para a fé cristã:
Jesus é 100% Deus e 100% Homem. Apesar de parecer algo contraditório e que desafia a
lógica, as duas afirmações não são opostas. Cremos que toda a plenitude da pessoa divina se
encarnou e habitou corporalmente entre nós, como um ser humano.
A adição da natureza humana à natureza divina não causa nenhum dano à primeira, ao
mesmo tempo que não altera a segunda. Como Deus-homem, Jesus comeu, dormiu, se cansou
e chorou, ao mesmo tempo que salvou pecadores, libertou os cativos e perdoou seus pecados.
Estas coisas não são contradições, mas revelam a plenitude da Natureza de Cristo. Para
terminar este tópico, vale lembrar que Jesus ainda é um ser humano, completamente divino,
assentado à direita do Pai, e que intercede por nós.

Kenosis (Cristo abre mão de sua Glória momentâneamente)

Depois de afirmar a completa divindade de Cristo nos pontos anteriores, pode estar
sendo difícil para você imaginar Deus agachado, lavando o pé dos seus discípulos e os
enxugando com uma toalha. Contudo, Jesus se limitou às condições de sua natureza humana,
não utilizando seus “poderes divinos”, para facilitar sua vida humana. Pelo contrário, além de
se colocar na condição de homem, ele se rebaixou à posição de servo, se fez pobre, nasceu e
viveu de forma simples e morreu como um criminoso, exposto à vergonha pública ao ponto
de ser considerado maldito pelo seus compatriotas. Tudo isso ocorre a partir do esvaziamento
de sua Glória, o que denominamos “kenosis”.
Essa doutrina mostra a nossa condição miserável, a ponto de o Filho de Deus ter que
morrer como um pecador para nos salvar daquilo para o qual estávamos destinados. Podemos
dizer que como Deus, Jesus esvaziou-se dos atributos incomunicáveis de Deus e operou
somente pelo poder do Espírito a partir dos atributos comunicáveis. Ou seja, Jesus não lançou
mão da onipresença, onipotência e onisciência e como homem, foi afetado pela passagem do
tempo ao se inserir na nossa história, abrindo mão da realidade eterna que tinha junto ao Pai.
Olhar para essa atitude de Cristo deve ser um golpe no nosso orgulho, nas nossas
“prioridades” e na forma como lidamos com as coisas de Deus. O convite de Jesus é para que
possamos nos esvaziar de nós mesmos e sermos cheios do Espírito Santo e a partir daí,
cumprir o chamado que Deus tem para nós.

Próxima aula:

A Obra da Salvação (Evangelho)


Encarnação
Ministério
Morte
Ressurreição
Ascensão
Segunda Vinda

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