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Santíssima Trindade

DEUS TRINDADE: A VIDA NO CORAÇÃO DO MUNDO

Resumo: Toda a religião tem em seu centro a fé, a


crença em Deus. Com a nossa fé cristã não é diferente.
Somos cristãos, e no centro dessa identidade está a
nossa crença em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

Introdução

A AVENTURA DE PENSAR E FALAR SOBRE O DEUS DE NOSSA FÉ

A
teologia procura sentir e experimentar existencialmente – para depois refletir e
falar como o Cristianismo, a fé cristã e a linguagem cristã estão sempre permeados
e penetrados pela revelação trinitária de Deus. Uma vez sentindo experimentando,
ela então realiza sua reflexão e elabora seu discurso.

Mas, para isso, alguns requisitos serão necessários: 1) Um olho e um ouvido no


passado, na história, na tradição; 2) Um olho e um ouvido no presente e na revelação de Deus
hoje; 3) Um olho, um ouvido e um coração no futuro, de onde Deus vem ao nosso encontro.

No mundo plural em que vivemos, falar de Deus segundo a teologia, então, será
possível porque ele se revelou a si mesmo como Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. E
sabemos disso porque lemos a Bíblia, escutamos a Igreja e prestamos atenção na experiência
de Deus em nós e nas outras pessoas. O Deus da revelação, a Santíssima Trindade, portanto, é
o mistério de fé, de salvação, de comunhão e de amor, e não mistério lógico.

Durante estes mais de vinte séculos, o Cristianismo tentou falar sobre Deus,
caracterizando-o segundo alguns modelos: Mistério salvífico (Patristica); Ser Supremo ou
Substância Suprema (Teologia Clássica ou Escolástica); Sujeito Absoluto (Reforma e Contra-
Reforma). Hoje, na crise da modernidade e no advento da pós-modernidade, a teologia cristã
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toma a categoria da relação e da intersubjetividade para dizer o mistério de um Deus que é


amor e comunhão entre pessoas, ao mesmo tempo único.

Vislumbramos, assim, alguns passos de superação a serem dados, que se impõem


nesse momento da história da teologia trinitária, a fim de que o método que empregamos
ajude realmente o povo de Deus a realizar uma experiência profunda e verdadeira do Deus de
sua fé:

1) Voltar ao contexto da revelação bíblica; 2) Voltar a enfatizar a dimensão


soteriológica, salvífica, do Mistério de Deus; 3) Entrelaçar o discurso trinitário como discurso
cristológico; 4) Partir da Trindade em direção à unidade.

O DEUS DA BÍBLIA

N
osso Deus não é o Deus do teísmos nem o
Deus que se apresenta como um ser
transcendente sem rosto próprio. Mas é o Deus
que se revelou ao povo de Israel, á primeira comunidade
cristã e a nós hoje.
O texto bíblico é a mediação primeira em que podemos encontrar Deus, pois o Deus
cristão é o Deus da Bíblia é a terra natal do Deus da fé cristã, que a teologia deve pensar
sistematicamente, com a razão.

Sem racionalismo nem fundamentalismo, devemos, pois, procurar os traços da


revelação do Deus em primeiro lugar na Escritura, que é Palavra, Tradição e livro da
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Comunidade.
Pá gina

A Bíblia será, então, uma revelação progressiva do agir e do ser de Deus, que se
apresenta com os paradoxos radicais, ou seja, com atributos que parecem inconciliáveis, mas
que na verdade vão compondo progressivamente uma síntese única, que fará o povo de Deus
reconhecê-lo como único e não-manipulável. Ainda mais importante: reconhecê-lo como seu
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Deus, o Deus que escolhe e o converte de povo cativo e escravo em povo eleito, sendo que
também Deus foi escolhido pelo povo.
No Antigo Testamento, não há apenas uma teologia sobre Deus, mas muitas. O fio
condutor entre todas elas, no entanto, é que Deus é um Deus pessoal e único, que propõe uma
aliança de amor a seu povo. Embora no Antigo Testamento não se possa identificar uma
revelação trinitária de Deus, encontra-se, sim, uma pedagogia progressiva que faz o povo
perceber que cada vez mais elementos da identidade de seu Deus e prepara-se para receber
sua revelação definitiva.

Para identificar estas etapas, poderíamos, recorrendo à tipologia do teólogo Juan Luis
Segundo, chamá-las de 1) o Deus terrível; 2) o Deus da Aliança; 3) o Deus Transcendente e
Criador ; 4) o Deus justo para além dos limites da vida e da morte.

O Novo Testamento não será uma etapa a mais, mas uma síntese de tudo isso, pois
trará no seu centro a pessoa de Jesus de Nazaré. Embora se inserindo na tradição do Antigo
Testamento, Jesus revelará uma novidade radical a respeito de Deus.

O DEUS DE JESUS CRISTO

P
ara o Novo Testamento e para a fé cristã,
Jesus de Nazaré – em quem as primeiras
comunidades reconheceram e proclamaram
o Cristo de Deus – não é só alguém que revela Deus,
mas é o próprio Deus revelado.
No entanto, o caminho e o itinerário pelos quais passa essa revelação e também essa confissão
de fé não são simples nem diretos.
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O Cristo da fé, de acordo com os teólogos contemporâneos, não é um conceito


cristológico oposto ao do Jesus histórico, mas o integra e o assume em sua totalidade. Trata-se
de uma unidade dinâmica entre o Jesus históricoe o Senhor ressuscitado e exaltado à direita
do Pai. O Cristo da fé, aquele é confessado pela boca das testemunhas, “que viram e dão
testemunho”, é Jesus de Nazaré, afigura central dos Evangelhos e de todo o Novo Testamento.
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Ainda assim, como é possível afirmar “Jesus Cristo é Deus?” Deus no Novo
Testamento é o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Filho de Deus que nos
salva. Somente por meio da proposta de Jesus e de seu projeto é que o ser humano tem acesso
ao Deus de Jesus, que ele chama e ensina a chamar de Abbá-Pai. E as pessoas que convivem
com Jesus de Nazaré tiveram uma experiência feita de luzes e sombras cada vez que
defrontavam com aquele homem diferente de todos e com o Deus que ele chamava de Pai.

As primeiras comunidades cristãs e os evangelistas encontraram algumas vias indiretas


para que por meio delas pudéssemos vislumbrar a identidade de Jesus Cristo que será
confessado como Filho de Deus e Deus mesmo. Mas o selo dessa revelação e dessa percepção
só se dará com o Mistério Pascal – a morte e ressurreição de Jesus Cristo - , quando o Pai
pronunciará sua palavra interpretativa definitiva sobre a vida e a morte de Jesus de Nazaré,
ressuscitando-o e manifestando-o como Filho de Deus.

DEUS QUE É ESPIRITO SANTO

A
o lado da revelação do Filho, há outra revelação no
Novo Testamento: a do Espírito Santo. Uma é
inseparável da outra. São as duas mãos do Pai que nos
tocam e pelas quais podemos percebê-lo, a ele e a sua paternidade
que nos cria e nos ama infinitamente. Essas duas mãos são o Filho
e o Espírito Santo.
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No Antigo Testamento, o Espírito Santo é a ação de Deus, aquilo/aquele pelo qual


Pá gina

Deus se manifesta ativo para dar animação e vida à natureza, aquilo/aquele pelo qual Deus
conduz o seu povo, suscitando para ele heróis, reis, guerreiros, guias, profetas e sábios. Há no
Antigo Testamento uma revelação progressiva que aponta para uma interioridade sempre mais
profunda do Espírito Santo: do campo da natureza para o da história do povo; do ambiente
histórico-social para o íntimo de consciência humana até chegar a revelação plena que se dará
em um ser humano que é Jesus Cristo.
Santíssima Trindade

No Novo Testamento, Paulo, Lucas e João são os autores que mais falam sobre a
presença do Espírito Santo. Paulo insiste na dimensão experiencial ecomunitária da ação do
Espírito Santo. A experiência que Paulo se refere e à qual chama experiência do Espírito
Santo não se identifica com fenômenos extraordinário, mas com o agir histórico, o mergulho
na realidade para servir os irmãos.

Lucas apresenta a dimensão social e missionária da atuação do Espírito Santo. A obra


de Lucas é uma síntese entre os primórdios da missão dos apóstolos e da Igreja. E Lucas
entende o Espírito Santo como principio dinâmico da expansão dessa Igreja.

Os livros joaninos dão testemunho de uma comunidade que vive essencialmente uma
experiência espiritual, liberta do Judaísmo e da lei. Escrevendo para uma comunidade mais
tardia e mais madura, João entende a experiência do Espírito Santo como a prática do amor,
da ágape, inseparável da fé na encarnação de Jesus.

É esse mesmo Espírito que habita em nós, conformando-nos ao Filho e conduzindo-


nos de volta ao Pai. É ele, igualmente, que conduz a Igreja para que ela seja a comunidade
segundo o paradigma da Santíssima Trindade. É ele, enfim, que vai plasmando a história e a
linguagem humanas a fim de que estas sejam universais e construtoras da mesma comunhão
que emana da comunhão trinitária.

DEUS-PAI, MISTÉRIO FONTAL E SEM ORIGEM

S
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ó pelo Filho e no Espírito Santo podemos


Pá gina

conhecer a este que é o mistério maior do mundo


e da vida, e que nos faz ser e viver, e entender-
nos como filhos nascidos do seu desejo de amor: o Pai,
que é o nome próprio de Deus.
Santíssima Trindade

Em toda Sagrada Escritura e, sobretudo, na boca de Jesus, o termo Deus designa o Pai.
Desse modo, ele revelou que é essa a palavra com a qual ele mesmo – o Filho – fala com o
Pai na vida eterna.

Hoje vivemos uma época de crise do pai e das imagens paternas. Se, por um lado, a
crítica moderna à paternidade como autoridade opressiva pode ter sua pertinência, por outro,
certamente a desaparição do pai deixa um vazio impreenchível na mente e no coração de
nossos contemporâneos. É preciso, pois, resgatar a imagem do pai humano e a fé em Deus
Pai.

No centro de nossa fé esta a convicção profunda que o Pai criou tudo em Cristo, por
meio de Cristo e para Cristo(Cl 1, 12-20). O Pai tudo criou na força e no poder do Espírito
Santo. Como sintetizou Moltmamann, “na criação, toda atividade parte do Pai. Dado, porém,
que o Filho, como o Logos, e o Espírito, como a Força, participam dela a seu modo, mas em
igual medida, a criação deve ser atribuída à unidade do Deus uno e trino”.

Deus-Pai não que o mal em sua criação, mas quer a vida e vida em plenitude. É uma
grande ofensa a seu amor paterno culpá-lo por tantos males, dizendo: “É assim mesmo. Foi
Deus que quis!”. Em Jesus de Nazaré, inocente e justo, Deus suportou as conseqüências do
pecado e da injustiça, para vencer o mal e mostrar que é possível viver de modo mais humano,
sem pecado, isto é, sem agravar ainda mais a situação do mal no mundo. E, sendo assim Pai
de Nosso Senhor Jesus Cristo, é também Pai Nosso, que nos acompanha em tudo, sobretudo
nas angústias e aflições, com seu amor infinito.

A SANTÍSSIMA TRINDADE NA HISTÓRIA DA IGREJA

Os
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primeiros cristãos foram logo desafiados a


Pá gina

explicar sua fé, diante do judaísmo e do


mundo grego. Para responder a essas
perguntas não bastava a fé. Foi preciso também usar uso da
inteligência.
Santíssima Trindade

A reflexão cristã é sempre feita no veio de duas preocupações: uma mais positiva, que
busca a explicação da fé; outra, mais crítica, que defende a fé diante de ataques ou
deturpações.

A teologia cristã elaborou, nos 2000 anos de sua história, três caminhos de acesso
racional ao mistério divino.

O primeiro caminho foi elaborado pelo Padre gregos. Apoiados na Bíblia, que nos
mostra o Pai como o primeiro a ser revelado, ensinaram que Deus mesmo é o Pai.

O segundo caminho foi elaborado pelo Padres latinos e pelos teólogos da Idade Média.
Apoiados na Bíblia, que nos revela um só Deus em três sujeitos distintos, insistem na unidade
de Deus.

O terceiro caminho está ainda em fase de elaboração. Os teólogos modernos, muitos


deles inspirados em Joaquim de Fiore (1202), entendem que é preciso falar de Deus de tal
modo que o discurso teológico, devidamente fundamentado na Bíblia e nas outras fontes de
fé, possa servir para colaborar com a criação de sociedades mais democráticas e pluralistas,
em que as pessoas e também culturas, religiões e igrejas sejam respeitadas, cada uma em sua
diversidade e valor, e todas em vista do bem comum. Apoiados na Bíblia, em que cada uma
das três pessoas tem um jeito próprio de ser e agir, entendem a Trindade exatamente a parir da
distinção das três pessoas.

Ao longo da história da Igreja houve muitas heresias, ou seja, modos errados de


compreender a fé trinitária: subordinacionismo, modalismo, monarquismo etc. A todas a
Igreja procurou responder, corrigindo e demonstrando a verdade da fé trinitária: um só Deus
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em três pessoas divinas. Mas para isso foi preciso muita discussão e debate, convocar
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Concílios, proclamar dogmas.

A síntese de todo esse processo foi reunida no que chamamos de CREDO, ou


profissão de fé, que é como o resumo da nossa fé e que rezamos e confessamos na missa todos
os domingos. Ali está o fruto de toda a caminhada da Igreja, que, passando por todos os
conflitos e obscuridades, procurou sempre o caminho correto para expressar sua fé no Pai, no
Filho e no Espírito Santo.
Santíssima Trindade

A AVENTURA DE PENSAR E FALAR SOBRE O DEUS DE NOSSA FÉ

Nos revela o Pai Nos revela o


(quem me vê vê Espírito Santo
o Pai) (advogado)

Para uma boa reflexão sobre a Santíssima Trindade temos que ter: 1) um olho e um ouvido no passado

O Deus da revelação, a Santíssima Trindade, portanto, é o mistério da comunidade das


pessoas divinas, mistério de fé, de salvação, de comunhão e de amor. Não e não pode ser
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mistério lógico-racional, porque justamente funda uma lógica nova: a lógica da


gratuidade, do amor, do dom. uma lógica que está além da razão e que precisamente por
Pá gina

isso, dá o fundamento para toda a razão humana.


Santíssima Trindade

O DEUS DA BÍBLIA

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Pá gina
Santíssima Trindade

Deus se revela a n

A revelação do Deus A revelação do Deus


cristão é inseparável A Bíblia é ocristão emerge
lugar onde na
o povo registrou o se
da experiência e práxis história e mostra um
do ser humano. Deus que nunca é o
mesmo, mas é sempre
outro, encontrado na
mediação do pobre, do
carente, do diferente

A Bíblia é palavra. É A Bíblia é tradição: o teólogo queA se


Bíba
comunicação de Deus
sobre si próprio, que
tem seu auge em Jesus
Cristo.

A Bíblia será, então, uma reve

No Antigo Testamento O Novo Te


há varias teologias
64Pá gina

No decorres da história Deus foi se revelando em favor de seu povo. A Bíblia é o livro no qual o povo r

O DEUS DE JESUS CRISTO


Santíssima Trindade

Não é só alguém que


revela Deus, mas é o
próprio Deus revelado.

A ressurreição de Jesus é evento da história trinitária de Deus. Na Trindade está a unidade do ressusci
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DEUS QUE É ESPIRITO SANTO


Santíssima Trindade

ESPÍRITO SANTO

Se revela ao lado do Filho


Habita em nós

São as duas mãos do Pai.


É o laço de amor entre o Pai

Paulo: dimensão João: dimensão


Lucas: prática dosocial e miss
experiencial e amor ágape
comunitária inseparável da fé
na encarnação de
Jesus

O Espírito Santo é o dedo com o qual Deus escreve sua lei e com a qual Jesus expulsa demônios. É o am
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DEUS-PAI, MISTÉRIO FONTAL E SEM ORIGEM


Santíssima Trindade

Só pelo Filho e no Espíritoé que podemos con


No centro de nossa fé está a convicção profunda de que o Pai criou tudo

Vivemos uma época de crise do pai e das imagen

É preciso resgatar a imagem do pai humano e a fé

Desde toda a eternidade, Deus é Pai, porque tem diante de si e consigo, num eterno relacionamento d
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Pá gina

A SANTÍSSIMA TRINDADE NA
HISTÓRIA DA IGREJA
Santíssima Trindade

A IGREJA

Nasce no momento em que os discípulose discípulas de Jesus recebem o Espírito Santo - Pentecostes
A teologia cristã elaborou, nos 2000 anos de história, três caminho

Elaborado pelos Padres gregos: oPadres


Pai como
latinos Teólogos
primeiro
e teólogos modernos:
a ser revelado.
da Idade Média: Um só De
cada uma das três
pessoas tem um jeito
próprio de ser e de
agir.

Todos apoiados na Bíblia

A síntese de todo esse processo foi reunida no que


chamamos de CREDO.

A Igreja procurou sempre o caminho correto para expressar sua fé no P


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