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INTRODUÇÃO

N este país, onde a maioria das pessoas se dizem cristãs, parece até certo ponto desnecessário
apresentar Jesus Cristo às pessoas, dizer quem foi Ele, Sua importância e a relevância de Sua obra
neste mundo quando esteve aqui há mais de dois mil anos atrás. A história do Seu nascimento da
virgem Maria é celebrada por todos, anualmente, no mês de dezembro; a história de Sua paixão e morte é
lembrada em todas as igrejas durante a chamada Semana Santa, que coincide com a Páscoa judaica.

As pessoas têm quadros retratando Maria, a mãe de Jesus, ou o próprio Cristo nas paredes de suas casas,
camisetas e até em seus corpos; usam crucifixos, fazem o sinal da cruz como forma de proteção, etc. Há
também aqueles que frequentam igrejas, fazem leituras dos Evangelhos, ouvem músicas e sermões sobre
os Seus milagres e trajetória ministerial. Será que todas essas coisas identificam tais pessoas como cristãos
genuínos? Serão esses elementos suficientes para nossa salvação? São todas essas pessoas, verdadeiros
discípulos de Cristo que O conhecem pessoalmente?

As perguntas que realmente precisamos fazer diante de tudo isso são:

• Quem é de fato Jesus Cristo?


• O que Jesus Cristo fez e ainda continua a fazer por nós?
• Quais são os exemplos em Sua vida e ministério que devemos seguir?
• Qual a real necessidade que temos de Jesus Cristo como Salvador e Senhor de nossas vidas?
• Que tipo de relacionamento e compromisso devemos ter com Cristo?
• Quais as promessas deixadas por Ele que devemos nos apegar?

Essas questões e tantas outras são muito importantes. Vamos buscar respostas na Bíblia, que é a Palavra de
Deus, especificamente no Evangelho segundo o relato do apóstolo João, o discípulo amado de Jesus. Nosso
propósito central não é discutir religião, mas, sim, examinar o que a Bíblia diz sobre a pessoa, vida e obra
de Jesus Cristo (Jo 5.39 – Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês
têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito.).

Convidamos você para juntos imergirmos neste maravilhoso Evangelho e não apenas absorvermos
conteúdo teórico informativo, mas principalmente, sermos conduzidos à uma experiência relacional,
sobrenatural e transformadora com Jesus Cristo. O propósito é que sejamos verdadeiros discípulos de
Cristo, os quais O conhecem como uma ovelha conhece o Seu pastor (Jo 10.14 – “Eu sou o bom pastor;
conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem”.).

Depois, à luz desse ensino, cada um examinará a própria consciência (mente) e o próprio coração (fé, amor,
afeição) e, com a iluminação do Espírito Santo, decidirá a respeito de quem é Jesus Cristo pra si pessoal e
individualmente. Que essa experiência seja abençoadora em sua vida!

PASTOR ANDRÉ

1
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

SUMÁRIO

ESTUDO 1 – O VERBO ETERNO..........................................................................................................03

ESTUDO 2 – O SENHOR DA QUALIDADE..........................................................................................11

ESTUDO 3 – DEUS ZELOSO..................................................................................................................18

ESTUDO 4 – NASCER DE NOVO...........................................................................................................24

ESTUDO 5 – AMOR E JUSTIÇA............................................................................................................32

ESTUDO 6 – FONTE DA VIDA PARA UMA ALMA SEDENTA.......................................................40

ESTUDO 7 – O SENHOR DO ESPAÇO.................................................................................................49

ESTUDO 8 – O SENHOR DO TEMPO....................................................................................................57

ESTUDO 9 – TAL PAI, TAL FILHO........................................................................................................66

ESTUDO 10 – O SENHOR DA QUANTIDADE......................................................................................76

ESTUDO 11 – PÃO QUE PERECE OU PÃO QUE PERMANECE?....................................................85

ESTUDO 12 – DE QUE LADO ESTOU? – TOMANDO UMA DECISÃO!..........................................93

ESTUDO 13 – TRATANDO COM PECADORES................................................................................104

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 1 – O VERBO ETERNO

Texto Base: Jo 1.1-14

1 No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus.
2 Ele estava com Deus no princípio.
3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito.
4 Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens.
5 A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.
6 Surgiu um homem enviado por Deus, chamado João.
7 Ele veio como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens
cressem.
8 Ele próprio não era a luz, mas veio como testemunha da luz.
9 Estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina todos os homens.
10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o
reconheceu.
11 Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.
12 Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos
de Deus,
13 os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de
algum homem, mas nasceram de Deus.
14 Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito
vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.

INTRODUÇÃO

O
Evangelho de João começa apresentando Jesus Cristo como a Palavra (o Verbo), cuja existência
antecede a criação do mundo e que desde sempre estava com Deus e que É Deus. O nascimento de
Jesus, a encarnação da Palavra, dá cumprimento ao anúncio dos profetas.

João Batista atualizou para os seus dias o anúncio de Isaías: “Preparai o caminho”. Ele preparou o
caminho para Aquele que veio, Aquele que É a luz que vence a escuridão espiritual humana. O anúncio da
encarnação da Palavra não encontrou acolhida em toda a parte; também houve resistência e indiferença a
Ele. Somente a fé percebe que algo decisivo é apresentado através desse anúncio: a encarnação da
Palavra resulta da misericórdia e do amor de Deus.

Esse amor divino nos envolve e nos introduz no ambiente em que “fomos lavados por Sua misericórdia”,
fazendo-nos nascer de novo para sermos filhos e filhas de Deus. Somos “herdeiros e herdeiras da
esperança e da vida eterna por graça”.

Esses primeiros versículos são os mais lindos e profundos descritos em toda a Palavra de Deus. Eles nos
transportam para antes do início da criação e nos fazem viajar no tempo e no espaço da história humana.
Eles revelam, como em nenhuma outra parte das Escrituras, que o Jesus que fez parte da história da
humanidade (Jo 1.14) é o Deus Criador, descrito em Gênesis 1.1. Nosso texto base revela a relação eterna
entre Pai e Filho e mostra que podemos andar na luz e ter a vida eterna quando aceitamos aquele que é a
maior revelação do Pai: Jesus Cristo!

I – DEUS ENCARNADO

Se o conteúdo do evangelho se perdesse e sobrasse apenas sua introdução, por certo, o leitor seria capaz
de identificar o propósito para o qual o evangelho todo foi escrito. É muito claro o fato de que a intenção
era demonstrar a graça de Deus revelada por meio da encarnação do Verbo. Se por um lado o deísmo
(doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, base do
ateísmo moderno) ensina que Deus criou a humanidade e depois foi embora, deixando-a só, por outro, o
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

cristianismo ensina que Deus é o Criador da humanidade e que a ama tão profundamente que Se infiltrou
na história em semelhança humana para resgatá-la (Fp 2.5-12).

Para refletir e debater: Como este texto de Filipenses se torna importante em nossa conduta cristã? Como
que o fato da encarnação de Cristo contribuiu e contribui para que sejamos quem somos hoje pela fé no
Salvador?

Nessa linha de raciocínio, nos versos 1-3, apóstolo João ensina que o Verbo é o próprio Autor de toda
Criação. Não há conclusão mais plausível e óbvia senão a de que Jesus é o próprio Deus encarnado, pois
João mesmo testificou: “Ele estava com Deus, e era Deus”. Portanto, é importante que todo o evangelho
seja lido sob essa perspectiva.

II – O QUE PENSAM ALGUMAS SEITAS SOBRE JESUS

ROSACRUZ/AMORC – Jesus foi apenas um receptáculo do espírito do Messias (cósmico). Ele não
morreu na cruz, não concedeu perdão, nem salvou ninguém, porque não é Deus. Jesus foi,
inquestionavelmente, a culminação da evolução de centenas dos grandes místicos e seres inspirados dos
séculos anteriores.

TESTEMUNHAS DE JEOVÁ – Fundamentada no arianismo, creem que Jesus é um tipo de deus inferior,
mas não o próprio Deus. As Testemunhas de Jeová acreditam que Jesus é o Arcanjo Miguel, o mais alto
ser criado. Isto contradiz diversas Escrituras que claramente dizem que Jesus é Deus (Jo 1.1,14; 8.58;
10.30). Eles rejeitam a doutrina da Trindade, acreditando que Jesus é meramente um ser criado e que o
Espírito Santo é essencialmente o poder de Deus.

ESPIRITISMO KARDECISTA – Negam a divindade de Jesus. Para Allan Kardec, fundador do


espiritismo, Jesus era um simples ser humano que não afirmou ser Deus. Há por parte deles apenas um
reconhecimento de Jesus como o espírito mais puro e evoluído que veio a terra, com isso, se torna o nosso
maior guia e modelo a ser seguido, não adorado.

MORMONISMO – Como muitos cristãos, os Mórmons acreditam que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o
Criador do Mundo. No entanto, os Mórmons possuem a crença única de que Deus o Pai e Jesus Cristo são
dois seres distintos. Os Mórmons acreditam que Deus e Jesus Cristo são unos no amor perfeito que têm
por nós, mas que cada um é um ser distinto com o Seu próprio corpo perfeito e glorificado.

MOVIMENTO NOVA ERA – Acreditam que Jesus foi apenas um mestre iluminado que inaugurou a
“Era de Peixes”, que dura de 4 d.C. até 2146 d.C., quando virá a “Era de Aquárius”.

Para refletir e debater: Em sua opinião, quais são os perigos de uma compreensão equivocada acerca da
identidade e obra de Jesus Cristo? Você acha que se Jesus fosse exatamente como as seitas O apresentam,
será que a salvação do pecador estaria comprometida?

III – JOÃO E A DEFESA DA FÉ

Nos dias do apóstolo João, existia um tipo de protognosticismo – primeiros ensaios do gnosticismo que
se desenvolveria do século seguinte. Eles ensinavam que a matéria humana é essencialmente má. Se a
matéria (corpo) é má, Deus não poderia Se tornar matéria, ou seja, humano, pois nesse caso Deus Se
tornaria ou seria mau. Nesse sentido, o protognosticismo propõe que a encarnação do Verbo não existiu.
Então o apóstolo João, no verso 14, se dedica a confrontar integralmente qualquer tipo de ideia que
desconsidere a encarnação de Cristo.

IV – OS TERMOS USADOS POR JOÃO

1 No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus.
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O primeiro versículo apresenta-nos três termos importantes usados por João para uma melhor compreensão
de todo texto base devido seu conteúdo teológico.

Princípio

A narrativa em Gênesis 1.1 começa com a criação do universo e prossegue até a criação do homem (Gn
1.27; 2.22,23). O relato em João 1.1 relembra criação e revela a eternidade, enfatizando que, antes da
criação deste universo material, o Verbo (gr. Logos) já existia. A Palavra já existia antes de tudo (compare
com o versículo 14, em que o Verbo eterno se fez carne).

Palavra

O substantivo “palavra” significa aquilo que é “falado”, “discurso”, “pregação”. Na tradução do Antigo
Testamento do hebraico para o aramaico, esse vocábulo é traduzido por Deus. Já o termo grego “Logos”
que consta na Septuaginta – tradução do hebraico para o grego, era usado nos círculos intelectuais gregos
para expressar a “força imaterial que rege todo o universo”, a “mente soberana que governa e dá sentido
a todas as coisas”.

Contudo, apesar de o Novo Testamento ser escrito em grego, o conceito que havia na mente de João era o
do Antigo Testamento. O Verbo aqui é a expressão ou a manifestação de Deus (Jo 1.14,18). Sem dúvida
alguma, João se referia a Jesus (Jo 1.14; Ap 19.13). É por isso que esse evangelho começa com a ideia de
que Jesus, o Verbo, a maior manifestação de Deus ao homem, já existia quando o universo material foi
criado.

João situou a existência de Jesus na eternidade passada com Deus. “A Palavra” comunica a noção da auto
expressão divina, ou seja, Seu discurso (Sl 19.1-4). A palavra de Deus é efetiva. Ele fala, e as coisas passam
a existir (Is 55.11-12).

O Antigo Testamento também conhece a Sabedoria de Deus, que estava com Deus na criação (Pv 8.22-
31). “Jesus é chamado ‘a Palavra’, isto é, a força criadora que a tudo dá vida. De fato, de acordo com Gn
1, à medida que Deus fala, as coisas vão acontecendo. Por exemplo: Deus diz: ‘Que exista a luz’ (Gn 1.3),
e a luz começou a existir. A Palavra de Deus é, portanto, comunicadora de vida. Jesus é essa Palavra
capaz de comunicar vida, pois Ele próprio possui a vida em plenitude e a transmite à humanidade”.

Na cultura grega essa palavra (logos) era relativamente comum, indicando uma mente racional que regia o
universo; um princípio racional e importante que se expressava criando e sustentando o universo, dando
sentido à vida. Para os gregos, qualquer coisa que viesse a existir, antes de existir, compreendia o resultado
de um pensamento elaborado. Esse vocábulo nos leva a entender que uma mente pensou alguma coisa
antes que essa coisa viesse a existir.

A esse respeito, os judeus iam um pouco além do pensamento grego. Para eles, por trás daquela mente
pensante existia uma pessoa, um Ser que pensava e criava as coisas! (Pv 8.22,24,30,33). Nesses versículos
a palavra-chave é Sabedoria (Hokma), o correspondente judaico da palavra Verbo (Logos). Alguém
imaginava o que iria existir e punha em prática essa existência!

Ser/Estar

O terceiro termo corresponde ao verbo ser/estar. No texto grego faz-se distinção clara entre einai, ‘ser’,
que compete só a Deus, e genesthai, ‘tornar-se’, que é a categoria das criaturas (vs.3). Nesse versículo,
“era” é empregado por três vezes, mas com matizes diversos: de existência (era o Verbo), de relação
(estava junto de Deus) e de predicação (era Deus).

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O Verbo “era” evoca a fórmula ‘Eu sou’, presente especialmente nas seções 5.1-10,21 e 13.19, que
contêm a grande revelação de Jesus. O verbo “estava” traz a ideia do atributo divino da pré-existência, ou
seja, Ele já existia (não criado) com o Pai e o Espírito Santo na eternidade.

O fato de que o Verbo estava com Deus expressa um relacionamento íntimo, uma ideia de comunhão face
a face. No mundo antigo, as pessoas de mesma classe social deviam sentar-se no mesmo nível, uma de
frente para a outra; e isso era algo muito importante. Portanto, a preposição “com” indica relação pessoal
e também situação de mesmo status.

O Verbo, o próprio Jesus Cristo, é alguém que tem íntima comunhão com o Pai (1 Jo 1.2). Além disso, o
Verbo estava com Deus. A construção grega dessa frase enfatiza que o Verbo tem as mesmas características
de Deus. Desse modo, o evangelho de João começa com uma frase simples, singela, confirmando a
preexistência (a eternidade), a personalidade e a divindade do Logos, Jesus Cristo. Ele é diferente do Pai,
mas ainda assim, é Deus.

O texto apresenta, portanto, Cristo como uma pessoa distinta de Deus Pai, porém participante da mesma
natureza ou essência de Deus, o mesmo “status”, o mesmo poder, a mesma sabedoria. Jesus antes de Se
tornar homem, já existia na eternidade com Deus e era o próprio Deus encarnado. Cristo não veio a tornar-
se uma Pessoa ou Filho de Deus em algum momento da história. Ao contrário, o Pai e o Filho sempre
existiram e tinham um relacionamento amoroso um com o outro.

V – CRISTO, CRIADOR

Vs.3; Cl 1.15-17 – 3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria
sido feito. 15 Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, 16 pois nele foram criadas
todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou
autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele. 17 Ele é antes de todas as coisas, e nele
tudo subsiste.

O universo não é fruto de uma geração espontânea nem de uma explosão cósmica. O universo não é
resultado de uma evolução de milhões e milhões de anos. Foi criado e criado sem matéria preexistente. O
universo com suas leis precisas, com seus movimentos harmônicos e com sua complexidade colossal não
é fruto do acaso.

Deus Pai criou o mundo (Gn 1.1) por meio do Filho (Cl 1.16; Hb 1.2). Jesus não foi parte da criação.
Todas as coisas foram criadas por Jesus; Ele é o Deus Criador. O ensinamento bíblico sobre a criação,
confirmado por esse versículo, esclarece que ela foi completa. Aqueles que creem na teoria da evolução e
em reencarnação afirmam que a criação é uma obra contínua. No entanto, a criação foi realizada de forma
plena, completa, por Deus, como vemos em Gênesis 1; Ele agora está apenas cuidando de tudo que criou
(Jo 5.17).

Que o universo foi criado, a ciência prova; mas que foi criado por Deus, aceitamos pela fé (Hb 11.6).
Lemos, logo no portal das Escrituras: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Ele criou o
mundo físico e o espiritual. Criou homens e anjos. Na linguagem do profeta Isaías, Ele mediu as águas dos
mares na concha da Sua mão e pesou o pó da terra em balança de precisão. Ele mediu os céus a palmos e
espalhou as estrelas no firmamento. Jesus não apenas criou o universo, mas também o sustenta com a
palavra do Seu poder.

VI – A MISSÃO DE JESUS

4 Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens.


5 A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

João diz que Ele concedeu vida. Foi o intermediador, que não somente deu vida, como também luz a todos
os homens; luz essa que nos diferencia dos demais elementos da criação. Jesus nos criou com capacidade
racional de convivermos com Ele, compreendermos, digerirmos e obedecermos a Sua mensagem e de
decidirmos ou não andar com Deus.

Os termos vida, luz e escuridão fundamentam a reflexão sobre a missão da Palavra encarnada: derrotar a
escuridão que afasta os seres humanos da fonte da vida. Como podemos ver noutras passagens, João
acentua que a encarnação da Palavra tem como objetivo promover a vida (Jo 1.4; 6.35; 10.10,11; 14.6;
20.31).

Essa figura de linguagem nos traz o conceito da revelação. Por ser a luz, Jesus Cristo releva ao homem
tanto Deus como o pecado (Sl 36.9). Ainda nesse evangelho, pouco mais à frente, Jesus declara que é a
vida (Jo 11.25) e a luz (Jo 8.12). A morte cessa, e as trevas se dissipam quando a vida chega e a luz começa
a brilhar. Os mortos se levantam, e os cegos passam a ver, tanto física como espiritualmente.

Jesus veio a este mundo de trevas para trazer a luz espiritual (Is 9.2). Sendo Ele a própria vida, é justamente
ela que torna possível a luz brilhar no homem para que ele seja capaz de enxergar seu estado deplorável de
condenação (vs.4,5) e entender o que é a salvação e a necessidade dela em Cristo (Ef 2.8).

O verbo “compreender” pode ser traduzido por “tomar posse”, “dominar”, “entender”. Sendo assim, as
trevas não sobrepujaram a luz; embora não a entendessem, não conseguiram vencê-la. Apesar de o homem
[em trevas espirituais] não entender a luz nem a receber; apesar de Satanás e seus aliados resistirem à luz,
eles não podem superar o poder da luz.

Em suma, Jesus é a Vida e a Luz, e aqueles que O aceitam tornam-se filhos da luz (Jo 12.35-36). Quando
os cristãos recebem a luz, Cristo, eles passam a fazer parte de uma nova criação (2 Co 4.3-6).

Pergunta – Mas que tipo de escuridão estamos tratando e quais os seus reais efeitos na vida do
homem sem Deus?

Quando as Escrituras falam de trevas, elas falam sobre um obscurecimento mental, uma razão
comprometida, distância de Deus e de qualquer comprometimento moral e ético. Quando João declara que
“as trevas não a derrotaram” quer dizer que não captaram a mente de Deus, não entenderam a luz de
Deus, além de não poder resistir à luz de Deus (Rm 1.19,21). A mensagem de João ensina que a Luz veio
ao mundo, estava no mundo, mas as trevas “o homem pecador”, não captou a mensagem de Deus.

Viver na escuridão é permanecer sob a esfera de influência do pecado, que ofusca nossa visão de Deus e
afasta-nos dEle e de Seu plano de vida. Justamente a realidade do pecado na vida humana impede que seja
acolhido o anúncio de que Deus se fez ser humano para estar próximo de nós. Jesus Cristo liberta o ser
humano do pecado e dá luz/proximidade de Deus, que vence a escuridão/afastamento de Deus. A diferença
entre a luz e a escuridão é de tal ordem, que somente aquela pode suplantar essa e jamais o inverso.

VII – O PRECURSOR DA VIDA E DA LUZ

6 Surgiu um homem enviado por Deus, chamado João.


7 Ele veio como testemunha, para testificar acerca da luz, a fim de que por meio dele todos os homens
cressem.
8 Ele próprio não era a luz, mas veio como testemunha da luz.
9 Estava chegando ao mundo a verdadeira luz, que ilumina todos os homens.

Esse versículo mostra a diferença entre João e Jesus Cristo. Jesus é Deus (Jo 1.1), João Batista foi um
homem enviado por Deus. Jesus é a luz dos homens (vs.4), João veio para testificar da luz (vs.7,8). Nossa
função, assim como a de João, não é atrair as pessoas para nós mesmos, mas para Jesus. A escuridão era

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

tão intensa que Deus teve de enviar Seu Filho para nos mostrar a luz. E a decadência moral não estava
apenas no mundo, mas também em Israel e nos seus líderes religiosos.

O evangelista João realiza aqui uma interessante construção literária. Enquanto os sinóticos (Mateus,
Marcos e Lucas) oferecem uma retrospectiva cronológica e apresentam o ministério do Batista antes de
Jesus, o Evangelho de João inicia pela encarnação/nascimento humano da Palavra eterna e faz referência
ao Batista e Seu ministério, apontando para aquilo que é central na fé cristã: Deus está próximo dos seres
humanos.

A locução para que testificasse significa dar testemunho ou declarar. João usou o verbo testemunhar cerca
de 39 vezes e o substantivo testemunho aproximadamente 14 vezes em seu Evangelho. Isso era muito
importante para ele alcançar o seu propósito, ou seja, dar testemunho correto de Jesus como o Messias
àqueles que creriam nEle (Jo 20.30-31).

Crer implica confiar. João usa o verbo “crer” quase 100 vezes para enfatizar o que uma pessoa precisa
fazer para receber o dom da vida eterna. Não encontramos nesse Evangelho, porém, a palavra “fé” ou o
verbo “arrepender-se”.

Ali (em Jesus) estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo. Para trazer maior
compreensão à encarnação do Verbo, esse versículo poderia ser assim traduzido: “Essa é a verdadeira luz
[Jesus] que veio ao mundo para iluminar todos os homens”. Jesus se tornou homem para revelar a verdade
a todas as pessoas. Ele revela a todo homem que vem ao mundo quem é o Criador, e a criação revela a
todos na terra que há um Criador no céu (Rm 1.20).

VIII – AS REAÇÕES À MANIFESTAÇÃO DE CRISTO AOS HOMENS

10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o
reconheceu.
11 Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam.
12 Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos
de Deus,
13 os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de
algum homem, mas nasceram de Deus.

O verbo “conhecer” ou “reconhecer” no versículo 10 significa não apenas ter o conhecimento, mas
também receber esse conhecimento, essa pessoa de bom grado. Mas, em vez de receber a Jesus de braços
abertos, o mundo virou as costas para Ele. A aceitação e a rejeição do Messias (vs.12) são os temas que
começam nesse prólogo (Jo 1.1-18) e aparecem em todo o Evangelho de João.

Assim como no vs.1, a relação entre Deus e Sua Palavra é retratada de forma harmoniosa (não há
contradição entre Deus e Sua Palavra), nestes versículos a presença da Palavra no mundo produz distintas
reações (fé e incredulidade, aceitação ou rejeição). Primeiro, diz-se que o mundo não conheceu Aquele que
É a Palavra, nem mesmo os Seus O receberam. Depois se diz que alguns creram nEle e O receberam. Há
em João uma dualidade, não entre os fiéis e o mundo como realidade cósmica, mas (1) entre ‘este mundo’
(precário) e o mundo vindouro (o âmbito de Deus no mundo); (2) entre ‘o mundo’ como parcela incrédula
e os que pertencem a Jesus. O ‘mundo’ em João não é um poder cósmico, mas criatura de Deus, embora
ingrata.

A frase “aos que creem no seu nome” aparece três vezes no Evangelho de João (Jo 1.12; 2.23; 3.18). O
termo “nome” nesse versículo não se refere à maneira como Jesus é chamado, mas ao que representa o
Seu nome: o Senhor é a salvação (Jo 3.14,15). Nesse contexto, significa crer que Jesus é o Verbo, a vida
e a luz, ou seja, que Ele é o Cristo, o Filho de Deus (Jo 20.31).

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

A expressão “deu-lhes o poder” refere-se ao direito legal de assumir a posição de filhos de Deus. Nenhum
de nós era filho de Deus, na verdade. Por natureza, éramos filhos da ira e estávamos condenados à morte e
ao inferno. Imagine um miserável ser adotado como filho por um rei e receber o direito às suas riquezas e
o status de realeza. Por meio da fé, crendo em Jesus, os pecadores, destituídos de todo e qualquer direito,
tornam-se membros da família de Deus.

A filiação divina, concedida aos que recebem a Palavra encarnada, não é conquista humana, mas dádiva
imerecida (graça), um presente de Deus, que resulta de um nascimento espiritual (veja também Jo 3.3,5;
Tg 1.18; 1 Pe 1.23; 1 Jo 3.1-2). Nascer de novo é ingressar na esfera de senhorio do Espírito de Deus. E
o Espírito Santo é livre para agir a seu modo. Seu agir, contudo, é sempre expressão da graça divina.

O novo nascimento está baseado no relacionamento individual com Cristo, e não em nossa condição
pessoal. Cristo é o único Mediador entre Deus e o homem. Cristo é a vida (Jo 1.4; 14.6). Aqueles que
creem nEle nasceram de Deus, pois receberam vida espiritual.

IX – ENCARNAÇÃO E HABITAÇÃO

14 Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito
vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.

O versículo 1 fala da natureza divina e eterna de Cristo e de Suas obras, que transcendem o tempo e o
espaço. Aqui, no versículo 14, o Verbo entra na dimensão do tempo e do espaço, materializa-se, faz-se
carne, e muda a história da humanidade. O Filho de Deus que existia desde a eternidade (Fp 2.5-9), por
um tempo, abriu mão de Seu estado eterno e imortal e de Sua condição divina, e fez-se homem mortal. Ele
se tornou um ser humano, limitado pelo tempo e espaço, sujeito à dor e à morte.

Jesus Cristo se identificou completamente conosco como homem. Mas Ele não tinha pecado, pois o pecado
não fazia parte da natureza humana antes da queda (veja também Rm 1.3; Gl 4.4; Fp 2.7; 1Tm 3.16; Hb
2.14; 1 Jo 4.2). Sendo assim, João usou a palavra “carne” neste versículo para aludir à natureza humana,
e não sua propensão para o pecado (diferente do apóstolo Paulo, em Rm 8.1-11). Deus habitou entre nós.
O evangelista acentuou inicialmente a natureza divina da Palavra (Jesus), agora ele acentua a Sua perfeita
natureza humana.

A palavra traduzida pela NVI como “viveu entre nós”, tem o mesmo significado de “habitou entre nós”,
a tradução é a mesma para “tenda ou tabernáculo”. O versículo levou os leitores de João a lembrar-se da
Tenda do Encontro, que ficou repleta da glória de Deus (Êx 40.34,35). O sentido é que Jesus é a
manifestação (ou Tabernáculo) da glória de Deus entre os homens. A palavra “tabernacular” significa
habitar, morar.

Deus “armou sua tenda” entre nós. Assim, no Antigo Testamento, se fala de Deus e da Sabedoria que
estabeleceu morada permanente entre os homens. O tema da presença de Deus em meio ao povo é típico
do Êxodo; nesse livro se conta que os israelitas armaram uma “tenda” para que Javé pudesse habitar em
meio ao Seu povo (Êx 25.8-9). Mas também os profetas anunciam um tempo no qual Javé armará Sua
tenda em Sião. As palavras de João proclamam que esse tempo chegou e que por isso, o Verbo Encarnado
toma o lugar da antiga tenda como local da presença de Deus entre os homens.

Para refletir e debater: Quais as implicações práticas do conceito apresentado acerca da “habitação de
Deus entre nós e em nós”? Como que o fato de Deus estar em nosso meio nos conduz à fé salvadora e uma
vida de completa devoção?

No Antigo Testamento, a palavra “glória” estava ligada à presença divina (Êx 33.18). Assim como Deus
manifestou a Sua glória no tabernáculo edificado por Moisés, em Cristo Ele revelou a Sua presença divina
e o Seu caráter (Jo 18.6; 20.26,27). A glória segundo o mundo é ter muito dinheiro, muitos diplomas, etc.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Com Sua vida, Jesus nos ensinou um novo conceito de glória. A glória de Cristo consiste em realizar a
obra do Pai. No evangelho de João, glória está relacionada a fazer a vontade de Deus – obediência.

Quando Deus se revelou a Moisés, Ele revelou a Si mesmo como grande em beneficência e verdade (Êx
34.6). Quando aplicado a Jesus Cristo, esse atributo divino o identifica como o Autor da revelação e
redenção perfeitas. Portanto, a encarnação de Jesus não anulou ou diminuiu Sua divindade. Mas revelou o
amor de Deus pelo homem caído a partir da perfeita demonstração de humanidade (Hb 4.15).

CONCLUSÃO

Pergunta – Como podemos recebê-lo?

Podemos nos certificar que, independentemente de onde moramos, de quão perto ou longe estamos da
civilização, se pedirmos ao Senhor, através de um coração puro, genuíno, para que se manifeste a nós, Ele,
de alguma maneira, manifestar-se-á, tenha ou não um evangelista ou um pregador perto de onde estejamos.

O vers.13 mostra que não depende do sangue da família, a qual você pertence, ou da sua linhagem, para
ser filho de Deus. Nem a vontade da carne ajuda, ou seja, o Reino de Deus não será alcançado por
intermédio de uma relação sexual ou muito menos pela vontade humana (força, domínio, autoridade).

Ilustração – Conta-se que, em certa ocasião, uma pessoa andava por uma praia num país comunista,
quando achou um pedaço de uma página da Bíblia, no qual leu: “e disse Deus...” Essa pessoa perguntou:
Deus fala? A partir daí começou a orar pedindo para o Senhor falar com ela. Essa pessoa foi salva.

João, neste livro, fala dAquele que nos criou antes dos tempos eternos, que criou todas as coisas, pensou
em todas as coisas e deu existência a elas. João fala do Deus que, ao longo da história, tem nos buscado e
nos dado elementos para chegarmos mais perto dEle. Apesar da indiferença do homem em relação a Deus
e Seu filho Jesus Cristo, aqueles que O recebem têm autoridade de se tornarem filhos de Deus e desfrutarem
dos benefícios desta adoção.

Concluindo, fazemos a pergunta: Qual a escolha que existe em nosso coração? São trevas? Ou
respondemos positivamente? Se assim o for, podemos garantir que a promessa de Deus para quem invocar
o Seu nome é a salvação. Não é pelo invocar, mas Ele vai dar a revelação necessária para a salvação, porque
esse Deus, lá na eternidade, já nos planejou, já nos criou, já nos tem chamado para uma viva e rica relação
de intimidade com Ele.

10
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 2 – O SENHOR DA QUALIDADE

Texto Base: Jo 2.1-11

1 No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali;
2 Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento.
3 Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”.
4 Respondeu Jesus: “Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou”.
5 Sua mãe disse aos serviçais: “Façam tudo o que ele lhes mandar”.
6 Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em
cada pote cabiam entre oitenta e cento e vinte litros.
7 Disse Jesus aos serviçais: “Encham os potes com água”. E os encheram até a borda.
8 Então lhes disse: “Agora, levem um pouco ao encarregado da festa”. Eles assim fizeram,
9 e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera,
embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo
10 e disse: “Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o
vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora”.
11 Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua
glória, e os seus discípulos creram nele.

INTRODUÇÃO

O
casamento é o palco onde se desenrola os grandes dramas da vida. O casamento é o sonho de uns
e o pesadelo de outros. É lugar de vida para uns e também a antessala da morte para outros. É na
família que celebramos as nossas vitórias e é também nela que curtimos a nossa dor mais amarga.
O nosso texto base, nos fala que Jesus foi a uma festa de casamento e é dentro deste ambiente que Ele
realizará Seu primeiro milagre, dando início ao Seu ministério terreno marcado por sinais e prodígios.

Um famoso líder religioso de uma igreja neopentecostal, chegou ao ponto de afirmar em uma de suas
pregações que esta narrativa de João, onde o milagre da transformação da água em vinho em um casamento,
poderia muito bem não ter sido relatada no Evangelho. Segundo ele, este milagre foi totalmente
desnecessário e sem um forte impacto social, pois beneficiou apenas as pessoas que estavam ali presentes
e não ao Reino de Deus. Esta não é apenas uma grande mentira e ignorância intelectual, mas também uma
falta de compreensão espiritual sobre os propósitos eternos de Deus para com a instituição sagrada do
casamento e com a célula mater da humanidade – a família!

O objetivo de registro de João é justamente compartilhar com seus leitores um milagre que aconteceu em
“particular”, porém com efeitos didáticos que alcançam outras pessoas. Não é em vão que o primeiro
milagre de Jesus tenha acontecido justamente num casamento! As Escrituras dão testemunho através disto,
mostrando-nos que antes dEle realizar qualquer outro milagre de cura, libertação, etc., está interessado em
agir nos casamentos e famílias. Isso demonstra que a família sempre terá prioridade no plano de Deus, pois
Ele não a criou para o fracasso, e sim para ser bem sucedida e plena em alegria e felicidade.

A despeito das lutas e dos vales áridos pelos quais transitam todos os casais, a alegria derramada por Cristo
na vida à dois, levando-os também a caminhar por pastos verdejantes, se torna um dos principais agentes
motivacionais para continuarem a trilhar juntos a jornada da vida matrimonial, sempre em total
dependência de Deus até que a morte os separe.

CONTEXTO

Como vimos no capítulo 1, João procurou inicialmente em sua palavra introdutória, apresentar Jesus como
a Palavra ou Verbo que se fez carne (humano) e habitou entre nós. O Deus encarnado, Criador de todas as
coisas, a Vida e a Luz, teve como uma marca registrada em Seu ministério público terreno, rejeição
(incredulidade) e aceitação (fé). A obra de Cristo quanto a trazer a iluminação ao entendimento obscurecido
11
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

pelas trevas da alma humana, não pôde ser impedida, desta forma, Ele inicia o projeto divino de resgate
dos filhos de Deus.

João Batista é precursor desta obra redentora, conclamando a todos que se arrependam de seus pecados,
pois o Reino de Deus já estava entre eles. Este é o pré-requisito básico para que Ele Se estabeleça em
nossas vidas. Seu objetivo foi apontar para Cristo como Aquele que deveria ser seguido e adorado, desta
forma, os primeiros discípulos são convocados por Jesus para se tornarem Seus seguidores, promotores
deste Reino espiritual nos corações dos homens.

Para refletir e debater – Você acha que as prerrogativas de Jesus, apresentadas no capítulo 1, são
suficientes para contribuir efetivamente no contexto matrimonial para que este seja consolidado? Como
podemos relacionar o capítulo 1 ao nosso texto base para que creiamos que Cristo de fato se importa com
nossos casamentos e tem poder para transformar tristeza em alegria?

O relato do capítulo 2 nos coloca no início do ministério público de Jesus, embora, poderíamos considerá-
lo semi-público, pois só os que serviram durante a festa, e os discípulos que já acompanhavam o Senhor,
tiveram conhecimento da origem do vinho novo que foi servido.

Ao mesmo tempo em que este milagre, que João transforma em sinal, mostra o início das manifestações
de Jesus, ele inicia também uma divisão importante no evangelho, que alguns estudiosos, denominam
“livro dos sinais antes da hora”. Estes sinais estão relatados no trecho de 2.1 a 11.57, e mostram os sete
milagres que João escolheu para transformá-los em sinais, com o objetivo de apontarem claramente para
Jesus como o Cristo (20.30,31).

Milagres/Sinais Texto Área na qual Aplicação


demonstra poder
1. Transformação 2.1-11 Qualidade Alegria para a vida
água em vinho conjugal/familiar
2. Cura do filho de um 4.46-54 Distância/Espaço Condição para a vida
oficial
3. Cura de um 5.1-17 Tempo Poder para a vida
paralítico
4. Multiplicação dos 6.1-14 Matéria/Alimento Alimento para a vida
pães
5. Jesus anda sobre as 6.16-21 Leis da natureza Orientação para a vida
águas
6. Cura de um cego de 9.1-41 “Destino” Luz para a vida
nascença
7. Ressurreição de 11.1-46 Morte Vitória da vida
Lázaro

I – CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O MILAGRE DA TRANSFORMAÇÃO DA ÁGUA EM


VINHO...

1. Em relação à ocasião (vs.1-3).

Era uma festa de casamento em Caná da Galiléia. Provavelmente este milagre foi realizado na casa de
amigos ou de parentes. Pode ser até que fosse algum parente de Maria que morasse nas redondezas. Jesus
foi convidado, e também Seus discípulos.

Devemos nos lembrar que André, Filipe, e Natanael, que já eram seguidores de Jesus, eram todos da
Galiléia. Provavelmente, neste meio tempo, João e Tiago, sócios de Pedro na companhia de pesca, já
estivessem com o grupo. Ainda em relação à ocasião, pelo detalhe do texto, somos informados que esse
acontecimento se deu logo após, três dias do encontro entre Jesus e Natanael.
12
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Certamente a distância de Betânia, do outro lado do Jordão (1.28), até Caná, não era longa. Embora essa
distância não possa ser medida com precisão, por não se localizar mais aquele antigo povoado, o relato nos
faz pressupor que era uma distância que um grupo de homens jovens podia andar, sem grandes
dificuldades, em dois dias.

A preocupação de Maria...

Na cena da festa, diante do término do vinho, encontramos Maria preocupada em atender os recém casados,
os convidados, provavelmente vários de seus parentes que a conheciam e tinham ouvido falar da sua
gestação e do nascimento virginal de Jesus, há trinta anos. Talvez fosse uma das primeiras ocasiões em
que muitos da família estavam juntos, e a notícia sobre aquele filho gerado de modo “estranho” estivesse
ainda em muitas mentes. Creio que podemos dizer que Jesus era uma atração por onde andava.

O texto relata o acontecimento desta maneira: 3 Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles
não têm mais vinho”. Maria comunicou a Jesus o fato de o vinho ter terminado, crendo que aquela era a
hora exata dEle começar a Se mostrar publicamente como um ser divino, um ser especial. Esta festa nupcial
ofereceu a Jesus muitas oportunidades para demonstrar Sua divindade, porém, como Ele mesmo disse:
Ainda não é chegada a minha hora (vs.4).

2. Em relação ao tempo (vs.4).

O texto bíblico diz assim: Respondeu Jesus: “Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não
chegou”. É uma resposta estranha, não é mesmo? Mas temos que entender bem essa resposta. Alguns
sugerem que Jesus foi mal educado com sua mãe. Impossível. Jesus era respeitoso. A forma de tratamento
pode sugerir dureza quando consideramos as palavras dentro do nosso contexto, mas certamente não tinha
esse sentido naquela época.

Maria achava que era aquela uma oportunidade muito boa para Jesus provar que era divino. Diante do
mundo incrédulo, certamente havia alguma dúvida quanto ao nascimento virginal de Cristo, e isto devia
ofender muito Maria. Até em nossos dias ainda há incrédulos duvidando do fato, apesar das afirmações
bíblicas. Aquela descrença popular deve ter levado Maria a pensar que aquele seria o momento oportuno
para tudo ficar esclarecido a respeito daquele evento maravilhoso que há 30 anos tinha mudado sua vida.

Aquela festa de casamento, onde certamente estavam muitos de seus parentes, era uma excelente ocasião
para deixar tudo aquilo muito claro. Embora ela não tivesse qualquer dúvida disso, ela preocupou-se em
revelar a divindade de Jesus, e em certo sentido, desafiou-o a mostrar-se publicamente, porém obteve uma
resposta direta aos seus anseios.

Enquanto na perspectiva humana, Maria compreendia aquele momento como a “oportunidade perfeita”
para a revelação plena de Sua identidade e glória. A resposta de Jesus à sua mãe não foi “rude”, mas se
trata da compreensão do tempo divino para a glorificação de Cristo e a revelação plena de Sua identidade
divina.

Isso aconteceria depois, não somente através dos grandes milagres que ainda aconteceriam no Seu
ministério, mas principalmente diante de Sua ressurreição, quando ninguém mais poderia tirar outra
conclusão senão a de que Ele era o Filho de Deus, e de que Ele era divino.

3. Em relação à ordem de Maria (vs.5).

Pela própria reação de Maria, percebemos que ela não estranhou a resposta de Jesus. Ao invés disso, com
essas palavras de dirigidas aos serventes, Maria mostrou que ela confiou no senso de oportunidade de Jesus
(vs.5 – Sua mãe disse aos serviçais: “Façam tudo o que ele lhes mandar”). Maria estava convicta de que
Jesus poderia fazer algo naquela situação, pois ela nunca duvidara da Sua divindade. Por isso, certa de que
que Jesus era divino, fez aquele pedido a Ele, e depois deu a ordem para aqueles que serviam. Hoje em dia
13
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

há muita gente venerando Maria, porém, sem obedecê-la em sua única ordem nas Escrituras: “Façam tudo
o que ele lhes mandar”.

O texto em questão é também usado para defender a função mediatória de Maria entre o homem e Deus.
A Bíblia nos revela que somente existe um só mediador que é Jesus Cristo (1 Tm 2.5). O fato de Maria ter
intercedido no momento crítico da festividade, não significa que ela deva ser divinizada, pois do contrário,
Jesus nem seria o que dizia ser – Deus-homem.

A Bíblia não diz que se deve honrar a Maria ou prestar-lhe culto ou veneração. Ela era uma mulher temente
a Deus, tanto é que foi escolhida para ser a mãe do nosso Salvador, mas apenas isso. Quem era, e É divino,
e quem tinha e tem o poder para fazer milagres, era e É Jesus. A atitude de Maria revela dependência e
submissão à vontade de Jesus para que a necessidade daquela festa fosse suprida. Jesus tem o Seu tempo,
o melhor tempo para nos atender. Dependamos dEle!

Seu pedido foi simplesmente o de uma mãe, humana e interessada na solução do problema. Ela sabia que
Jesus iria fazer algo e, com a autoridade que tinha, deu orientações aos serventes: “Façam tudo o que ele
lhes mandar”. Podemos, à luz do exemplo de Maria, ir até Jesus e objetivamente lhe dizer: Senhor, acabou
o vinho, precisamos de Sua intervenção!

4. Em relação à ordem de Jesus (vs.6,7).

O texto nos relata que ali estavam essas talhas de pedra. Eram seis, e Jesus as viu, e mandou enchê-las de
água. Alguns estudiosos, com Barclay (1974, p. 111-112), veem um simbolismo no número de talhas:

...pois se o número sete para os judeus, era o número absoluto, completo e perfeito, o número seis
significava o incompleto, inacabado e imperfeito. As seis talhas representavam todas as
imperfeições da Lei judaica, das suas tradições. Jesus veio para eliminar essas imperfeições.
Jesus veio para substituí-la pelo vinho novo do evangelho da graça. Com Sua vinda, Jesus
converteu a imperfeição da lei judaica na perfeição da graça.

Os noivos compraram utensílios de pedra, comuns nas festividades judaicas. Cada jarro comportava entre
80 e 120 litros (vs.6). Essas talhas eram potes em que se colocavam as águas para as diversas lavagens que
deveriam ser feitas, conforme a Lei; eram lavagens rituais das mãos e utensílios. Em cada talha cabiam
duas ou três metretas, o que perfazia um total de 480 a 720 litros de água; pois a metreta era uma medida
de capacidade de cerca de 40 litros.

Como a festa de casamento naqueles tempos, na Palestina, demorava normalmente uma semana, todas
essas talhas seriam usadas. A falta de vinho deu oportunidade para Jesus revelar Seu poder e passar mais
tempo ali falando do Reino. Jesus ordenou que as enchessem de água. Muitas vezes as ordens de Jesus, no
momento, são incompreensíveis.

Para refletir e debater: No lugar dos servos, caso recebêssemos uma ordem sem qualquer sentido da parte
de Jesus, o que faríamos? A obediência seria uma reação automática ou o questionamento e a desconfiança
nos impediria de dar ouvidos ao que Jesus ordenou?

5. Em relação à obediência dos serventes (vs.8).

Como é fácil notar, os serventes foram obedientes ao conselho de Maria e a ordem de Jesus. Eles certamente
não estavam entendendo o que Jesus desejava fazer com toda aquela água. Não tinham a mínima noção do
que iria ocorrer. Mas sabiam que deveriam obedecer a Jesus em tudo o que Ele lhes dissesse seguindo a
orientação de Maria.

A obediência dos serventes nos ensina que para se ver os verdadeiros milagres que Cristo deseja realizar
em nossas vidas e relacionamentos é necessário obediência antes de qualquer coisa. Obediência sempre
14
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

vem antes dos milagres. O texto não diz que eles creram primeiramente em Jesus para depois obedecê-Lo,
mas antes obedeceram a Ele para depois confirmarem através do milagre a Sua divindade.

É sempre maravilhoso quando nós obedecemos a Jesus, mesmo quando não entendemos perfeitamente
todas as nuances ou facetas de Seus ensinos, ou de Seus mandamentos. As bençãos sempre vêm quando
somos obedientes e fiéis a Jesus.

6. A opinião dos convidados (vs.9,10).

De acordo com o texto, e com o mestre-sala, e ele parecia ser alguém experiente, o vinho que seria servido
era da melhor qualidade. Ele não sabia que era água transformada em vinho. Ele experimentou, testou e
disse que era vinho mesmo, e vinho do bom, de excelente qualidade. A alegria da festa estava garantida!
O milagre/sinal da divindade de Jesus acontecera.

Na Bíblia, o vinho é simbolismo de alegria. Mas apenas símbolo. Alegria verdadeira nós só encontramos
em Cristo e no Seu Espírito Santo, o qual tem como um dos frutos manifestos na vida do crente a alegria.
A verdadeira alegria e plenitude encontramos em Deus (Sl 16.11). Uma das facetas do fruto do Espírito
Santo é alegria (Gl 5.22), e esta é a alegria que deve ser contínua (Fp 4.4).

7. O resultado (vs.11,12).

As palavras do verso 11 são essas: Este sinal miraculoso, em Caná da Galiléia, foi o primeiro que Jesus
realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele. Sobre essas palavras devemos
perceber que elas não se referem apenas a um fato histórico e não são usadas apenas para concluir a
narrativa. Há muito significado nesse texto, como nos esclarece Bruce (2009, p. 1712):

Os milagres de Jesus em João são chamados assim (sinais) para desviar a atenção dos milagres
em si e apontar para o seu significado. “Sinais e maravilhas” por si só não fornecem a base para
a verdadeira vida (4.48). Toda a vida de Jesus é, na verdade, um sinal encenado (cf. 12.33; 18.32),
mas cada um dos seus sinais em particular mostra que eles são “as obras do meu Pai” (cf. 10.37;
14.10; 6.25-30) e a fé é a única habilidade que consegue captá-los (cf. 4.54; 6.14;12.18). A
importância geral do uso que João faz desse termo...e seu propósito é encorajar a fé; e nesse ponto
os discípulos de Jesus de fato criam (cf. 20.31).

O verso 12 conclui a narrativa e mostra que Jesus, Sua mãe e Seus discípulos foram para Cafarnaum e,
logo depois iniciaram suas jornadas de proclamação do Reino de Deus. Jesus realizou esse milagre que
para João foi primeiro sinal da Sua divindade e, diante da divindade de Jesus, só podemos ter uma reação:
Crer!

Mais que um milagre, aquele evento era um sinal que evidenciava a chegada do Messias. Era a primeira
grande manifestação da glória de Jesus. O verso descreve que, após Cristo ter revelado Sua glória, os
discípulos creram. Surgem as perguntas: creram porque viram a glória ou por que viram o milagre? Será
que entenderam o significado daquele sinal? Como disse o pastor Paulo H. Tavares: “se nossas
expectativas suplantarem o Salvador, veremos as Suas obras, mas não a Sua glória”.

Nessa circunstância Jesus fez Seu primeiro milagre e, com certeza, quer continuar a fazer milagres em
nossas vidas, para que a alegria devido à certeza de Sua constante presença possa nos acalmar e renovar a
esperança.

II – A APLICAÇÃO DO MILAGRE/SINAL NA VIDA MATRIMONIAL

1. Jesus é a pessoa mais importante a ser convidada para o nosso casamento/família.

15
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Jesus estava presente naquele casamento de Caná da Galiléia. Ele foi convidado e lá compareceu. A
presença e a intervenção de Jesus naquele casamento salvaram aquela família de um grande
constrangimento público. A maior necessidade das famílias hoje é da presença de Jesus. As pessoas não
estão precisando tanto de mais dinheiro ou mais conforto, mas da presença de Jesus na família. Seu lar
pode ter tudo: dinheiro, conforto, saúde, amigos e prosperidade, mas se Jesus ainda não é o centro da sua
vida e do seu lar, está faltando o principal. Só Jesus pode satisfazer a sua alma e dar sentido pleno à sua
vida e à sua família.

2. Em nossos casamentos/famílias mesmo quando Jesus está presente, os problemas


acontecem.

Jesus estava presente, mas o vinho acabou na hora da festa. O vinho é símbolo da alegria. Muitos
casamentos e famílias estão caminhando pela vida sem o vinho da alegria. Há aqueles que perdem a alegria
mesmo na festa nupcial. Há casamentos que estão vivendo o drama do desencanto, da decepção e da
amargura. Há muitos casais feridos, machucados e desiludidos. Há famílias que mesmo pertencendo ao
Senhor, curtem a dor da separação, vivem o estigma da desarmonia e não conseguem experimentar a
verdadeira alegria na vida familiar. Em algum momento da caminhada, a alegria foi perdida. Situações
adversas e inesperadas conspiraram contra a família e a alegria ameaça ir embora. Cristo é essencial para
auxiliar-nos em situações difíceis familiares ou matrimoniais.

3. Em nossos casamentos/famílias precisamos discernir com rapidez quando a alegria está


acabando.

Maria, usando sua acuidade espiritual e sua profunda percepção feminina, livrou aquela família de um
grande vexame. Ela percebeu que o vinho estava acabando e que alguma coisa deveria ser feita. Ela não
ficou parada. Ela não guardou o problema só para ela. Ela tomou uma iniciativa. Ela estava ligada.
Precisamos também estar com as antenas ligadas. Precisamos ter olhos abertos para ver o que acontece na
família. Muitos casamentos naufragam porque os cônjuges não discernem as crises no seu nascedouro. Não
agem preventivamente. Deixam o tempo passar e quando vão buscar ajuda já é tarde demais.

4. Em nossos casamentos/famílias precisamos recorrer à pessoa certa na hora da crise.

Maria buscou a Jesus. Ela levou o problema à pessoa certa. O segredo da felicidade conjugal não é a
ausência de problemas, mas ter sabedoria e pressa para levar os problemas a Jesus. Muitos casais ao
entrarem em crise, buscam solução onde não há solução. Cavam cisternas rotas onde não há água (Jr 2.13).
Buscam ajuda em caminhos que só os fazem desviar mais da vereda da felicidade. Jesus é a resposta para
a família. Ele é a solução de Deus para o lar. Precisamos levar os problemas da família e deixá-los aos pés
de Jesus. Dele vem o nosso socorro.

5. Em nossos casamentos/famílias precisamos obedecer e fazer exatamente o que Jesus


manda.

Jesus mandou os serventes encher de água as talhas. Aquela ordem parecia absurda. Eles poderiam ter
questionado, dizendo: “nós não estamos precisando de água. O que está faltando aqui é vinho”. Mas se
queremos ver as maravilhas de Deus acontecendo na família, precisamos exercer uma pronta obediência às
ordens de Jesus. Precisamos deixar de lado nossas racionalizações e fazer o que Ele nos manda. Sempre
que obedecemos a Jesus nossa vida é transformada. Sempre que o casal se dispõe a obedecer a Palavra de
Deus, o vinho da alegria começa a jorrar de novo dentro do lar.

6. Em nossos casamentos/famílias precisamos ser guiados pela fé e não pelos nossos


sentimentos.

Aqueles serventes não questionaram, não relutaram nem duvidaram da ordem de Jesus. Eles obedeceram
prontamente. Eles creram e agiram. Eles encheram de água as talhas. Eles levaram a água ao mestre sala.
16
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Mas quando este enfiou a cuia dentro da água, um milagre aconteceu: a água se transformou em vinho.
O milagre da transformação acontece quando nos dispomos a crer e a confiar. Quando fazemos o que Jesus
ordena, mesmo que a nossa razão não consiga explicar, experimentamos as maravilhas divinas. Feliz é a
família que vive pela fé. Bem-aventurada é a família que obedece a Palavra de Deus.

7. Em nossos casamentos/familias quando Jesus intervém, o melhor sempre vem depois.

O vinho que Jesus ofereceu era de melhor qualidade. O costume era sempre oferecer primeiro o melhor
vinho, depois servia-se o inferior. Mas com Jesus o melhor vem sempre depois. A vida com Jesus não tem
decepções. O casamento não precisa ser uma descida ladeira abaixo. Com Jesus, o casamento é uma
aventura cada vez melhor. Os melhores dias não foram os da lua de mel. Os melhores dias estão pela frente.

Quando Jesus reina na família a vida conjugal se torna mais consistente, mais profunda, balsamizada por
um amor mais maduro e sublime. Muitos casais, infelizmente, estão juntos por causa dos filhos; moram na
mesma casa, dormem na mesma cama, mas o coração já está vazio de amor. Os sonhos de uma vida feliz
já morreram. Mas, quando Jesus intervém, o amor é restaurado, a alegria volta a pulsar e a família
experimenta os milagres do céu.

8. Quando Jesus intervém em nossos casamentos/famílias, as pessoas glorificam a Deus e


passam a crer nEle.

Não há milagre maior do que uma família transformada. Não há nada que promova tanto a glória de Deus
do que ver um casamento sendo restaurado e uma família experimentando a alegria verdadeira, depois de
um tempo de tristeza e dor. Os discípulos de Jesus passaram a crer nele depois desse milagre e muitos
glorificaram a Deus. Jesus é o mesmo. Ele nunca mudou. Ele ainda continua fazendo maravilhas na vida
das famílias. Ele pode restaurar também a alegria lá na sua casa. Ele pode mudar a sua sorte. Ele pode curar
as suas feridas, restaurar a sua alma e refazer o seu casamento. Ele pode derramar amor em seu coração.
Ele pode lhe dar capacidade de perdoar. Ele pode transformar o seu deserto árido em manancial. Ele pode
fazer florescer no seu coração a esperança de uma nova vida, de um casamento restaurado, de uma família
cheia de verdor e felicidade!

CONCLUSÃO

Em todas as áreas de nossas vidas, se quisermos ver manifestos os sinais e maravilhas de Deus, precisamos
confiar todos os nossos recursos nas mãos de Cristo para que Ele transforme o natural em sobrenatural. A
tristeza em alegria. Lembremos que Deus não nos chamou devido aos nossos recursos e capacitações, mas
a despeito de nossas fraquezas, limitações e incapacidades, pois são por meio e devido a elas que o poder
de Deus se manifesta (2 Co 12.9).

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 3 – DEUS ZELOSO

Texto Base: Jo 2.12-22

12 Depois disso ele desceu a Cafarnaum com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. Ali ficaram durante
alguns dias.
13 Quando já estava chegando a Páscoa judaica, Jesus subiu a Jerusalém.
14 No pátio do templo viu alguns vendendo bois, ovelhas e pombas, e outros assentados diante de mesas,
trocando dinheiro.
15 Então ele fez um chicote de cordas e expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois; espalhou
as moedas dos cambistas e virou as suas mesas.
16 Aos que vendiam pombas disse: “Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer da casa de meu Pai um
mercado!”
17 Seus discípulos lembraram-se que está escrito: “O zelo pela tua casa me consumirá”.
18 Então os judeus lhe perguntaram: “Que sinal miraculoso o senhor pode mostrar-nos como prova da
sua autoridade para fazer tudo isso?”
19 Jesus lhes respondeu: “Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias”.
20 Os judeus responderam: “Este templo levou quarenta e seis anos para ser edificado, e o senhor vai
levantá-lo em três dias?”
21 Mas o templo do qual ele falava era o seu corpo.
22 Depois que ressuscitou dos mortos, os seus discípulos lembraram-se do que ele tinha dito. Então creram
na Escritura e na palavra que Jesus dissera.

INTRODUÇÃO

C
omo você sempre imaginou a figura ou a personalidade de Jesus Cristo? Talvez como a maioria das
pessoas – como um indivíduo calmo, sereno e tranquilo em Suas ações, trato com pessoas e
discursos, os quais sempre foram permeados de amor, graça e misericórdia. As figuras que
comumente são pintadas nos quadros são de um Jesus cujo semblante retrata um ser amoroso, piedoso,
pacífico, o qual transmite uma grande paz incomparável e contagiosa, visto que Ele mesmo é apresentado
pelo profeta Isaías em 9.6 como o “príncipe da paz”.

Restringir Jesus à um determinado perfil ou tentar defini-Lo apenas como alguém que em toda e qualquer
circunstância sempre agirá com amor, misericórdia, paciência, etc., é limitá-Lo em Seu caráter pleno e
perfeito, o qual também tem a justiça, retidão, verdade e santidade, bem como tantos outros atributos que
O identificam como sendo Deus zeloso no cumprimento dos propósitos divinos e na preservação da glória,
santidade e honra do Pai.

Construir, portanto, uma compreensão correta acerca da pessoa de Cristo não é apenas salutar, mas também
de suma importância, pois, somente assim, iremos conhece-Lo e adorá-Lo corretamente como Deus zeloso.

CONTEXTO

No dia seguinte, depois de terminada a festividade do casamento, Jesus e Seus discípulos saíram de Caná
da Galiléia e se dirigiram à Cafarnaum. A cidade de Jerusalém era o centro da vida nacional. Naqueles dias
mais ainda, pois eram dias de festa – a Páscoa judaica. Para isso, andaram aproximadamente 26 km, sendo
o caminho um razoável declive: Caná se achava a 300 metros acima do nível do mar, enquanto que
Cafarnaum a 160 metros abaixo. A falha existente no centro da Palestina se aprofunda ao nível do mar.

Após alguns dias em Cafarnaum, subiram a Jerusalém (760 m acima do nível do mar), conforme cita o
texto. Na verdade, o caminho que eles fizeram foi o seguinte: cruzaram o lado oriental do mar da Galiléia,
subiram as montanhas até a Filadélfia (500 m acima do nível do mar) e desceram até a altura de Jericó para
atravessar o rio Jordão (400 m abaixo do nível do mar). Depois, eles andaram mais 30 km para alcançar
Jerusalém – caminhada marcada por relevos contrastantes, curvas e muito cansaço.
18
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Era obrigatório para todo judeu subir até Jerusalém para celebrar esta festividade que iniciava no dia 14 do
mês de abibe (Êx 12) ou nisã (referente a março e abril do nosso calendário). Em dias normais possuía 150
mil habitantes, mas nestes dias chegava a ter até 500 mil. De toda a nação saíam caravanas para assistir a
páscoa judaica. Aqueles dias antecediam a páscoa judaica.

Os grupos que para lá iam, encontravam-se no caminho e durante a peregrinação cantavam sobre a viagem,
sobre a preciosa comunhão e sobre o que iriam encontrar em Jerusalém. Eram Salmos (84.2; 121.1; 122.1,3)
que falavam de Jerusalém como cidade compacta, da alegria por irem à casa do Senhor, do socorro que
recebiam do Senhor.

A cidade de Jerusalém era caracterizada por belíssimas construções. Foi edificada pelo rei Herodes, grande
construtor, acostumado a muitas obras. Quem vinha da Galiléia para Jerusalém sofria um grande impacto
com a diferença encontrada, pois via uma fortaleza, cujas paredes tinham altura de até 76 m de altura
(conforme Rops, um especialista da antiguidade); via torres de até 40 m de altura, correspondentes a um
prédio de 12 andares; via o palácio do rei. Olhando do vale que havia do lado de fora, via-se um muro,
chamado muro de arrimo, com uma plataforma de 135 mil m2, na qual se achava a área do templo. Hoje,
parte deste muro de arrimo é conhecido como o Muro das Lamentações.

O templo

O Templo começou a ser construído no ano 19 a.C., sob os protestos de fariseus e sacerdotes, pois Herodes
tinha uma perspectiva greco-romana que desagradava-lhes e foi concluído somente no ano 66 d.C. Sua
destruição se deu no ano 70 d.C. Para a construção da plataforma citada acima, Herodes se utilizou
inicialmente de 10.000 homens; posteriormente, de 18.000. O peso médio de cada pedra colocada naquele
muro era de 10 toneladas.

Ainda segundo Rops, foi encontrada uma pedra na base do muro, cujo peso foi calculado em 1800 toneladas.
No meio da plataforma, em ponto mais estratégico, encontrava-se o templo, o centro da vida nacional. Tinha
50 m de altura por igual largura. Destacava-se na cidade porque o patamar onde se encontrava era bem mais
alto que as ruas. Uma obra magnífica! O alto do templo era construído de espirais de ouro para que os
pássaros não pousassem sobre ele e o sujassem.

Os judeus estavam acostumados com o templo, que tinha suas áreas distintas. Havia uma área, o “naos”,
que era constituída do Santíssimo Lugar, do Santo Lugar e do Vestíbulo; no Santíssimo só o sumo sacerdote
tinha acesso e apenas uma única vez por ano; no Santo Lugar, os sacerdotes atuavam e, no Vestíbulo, só os
homens podiam entrar.

Havia o Pátio das Mulheres, onde se encontravam as provisões de óleo e de madeira para os sacrifícios e
onde os leprosos, que haviam se encontrado com o sacerdote, podiam permanecer. Outra área era o Pátio
dos Gentios. O conjunto todo das áreas era chamado de “hieron”, ou seja, templo.

O Pátio dos Gentios

Esta área era separada para os gentios. Eles não podiam passar dali, pois sua separação do Santíssimo Lugar
tinha uma altura de 15 metros, constituída de uma escada com 15 degraus. Havia placas, escritas em grego
e em latim avisando que, se algum gentio ultrapassasse o lugar, seria responsável pela própria morte. Os
gentios podiam chegar até ali, para que tivessem condições de ouvir a mensagem de Deus, conforme seu
plano.

Estrategicamente, os judeus montaram naquele lugar uma feira bastante conveniente para eles próprios.
Nesta feira se vendiam animais para o sacrifício (bois, ovelhas e pombas). Era conveniente haver animais
para vender, pois pessoas vindas de longe poderiam comprar ali os animais para os sacrifícios. Talvez em
outros tempos, esses animais fossem vendidos fora, nos arredores da cidade, e não dentro do templo.

19
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Havia também uma banca de cambista na porta do templo, para trocarem o dinheiro dos viajantes. Alguns
dizem que os judeus não aceitavam qualquer tipo de moeda, por critério puramente econômico e não
religioso, e que a única moeda aceita era a tetradracma de Tiro, devido sua pureza.

Foi nesse contexto que Jesus chegou a Jerusalém. Do Monte das Oliveiras desceu para o vale que ficava
em frente ao portão. Ao entrar, ouviu todo o barulho proveniente do comércio da feira e aqui, exatamente
nessa ocasião, podemos conhecer um pouco mais de Nosso Senhor.

João Batista, ao anunciar Jesus ao mundo, apresentou-o como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo (Jo 1.29), porém agora, em uma situação adversa, Ele mostra as suas garras de leão. Nosso Cordeiro
também é um Leão! Portanto, o quadro que nos é pintado de acordo com nosso texto base, foge
completamente da imagem de um Jesus frágil, inerte, aureolado, anêmico e muito calmo, contrapondo a
manifestação de Sua ira no templo.

Para justificar este paradigma suavizam o relato, tentando mostrar um Jesus mais manso do que parece ser.
Outros não acreditam no chicote, mas o texto diz claramente que Ele teceu um chicote e com ele virou
mesas, derramou dinheiro, deu ordens e espantou os animais do templo, embora naquele local fosse
proibido o uso de qualquer tipo de arma. Jesus foi duro com o pessoal que lá se encontrava! Assim como
vemos no Antigo Testamento, tantas vezes, as Escrituras descreverem: “o Deus irado”, Jesus, também
naquela hora, estava irado.

Conhecemos este Jesus? Não estamos estranhando sua maneira de agir? Um teólogo do início da era cristã
– Marcion – dizia preferir crer no Deus do Novo Testamento que no do Antigo Testamento: o Deus do
Novo Testamento é um Deus bonzinho! Mas o Deus bonzinho também manifestou a sua ira.

As Escrituras nos alertam que “... de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear ele também
ceifará” (Gl 6.7) e o escritor de Romanos nos avisa: “considerai a bondade e a severidade de nosso Deus”
(Rm 11.22). O autor de Hebreus nos afirma que “Deus é fogo consumidor” (Hb 12.29). Cantamos sempre
um cântico que diz ser Jesus o Leão de Judá. Eis aqui o Leão de Judá indignado com a atitude do povo no
templo. Nosso Deus é um Deus que, embora Cordeiro, se ira. Se pensamos num Jesus irado, devemos
pensar, também, que isso acontece por justa razão: Ele se indigna com o pecado!

Para refletir e debater: Você acha que a imagem equivocada de Jesus que muitas pessoas possuem de
certa forma pode prejudicar na maneira como vivemos ou construímos nosso relacionamento com Ele?
Pensar em um Jesus fragilizado e sempre passivo pode trazer implicações na forma como O servimos?

O Jesus apaixonado

Jesus não era temperamental para mostrar uma reação inconsistente, nem tampouco estava fora de seu
controle. O vs.16 menciona: “Aos que vendiam pombas disse: “Tirem estas coisas daqui! Parem de fazer
da casa de meu Pai um mercado!”. Fato interessante, porque os bois e as ovelhas Ele espantou; as mesas,
Ele derrubou; as moedas foram esparramadas, mas tudo isso poderia ser recuperado. Se Ele derrubasse as
caixas que continham os pombos, eles voariam e ninguém mais poderia recuperá-los. Jesus, na sua ira, tinha
tanto controle sobre si mesmo, que não violou a propriedade alheia. Não havia erro no ato de compra e
venda ou na troca de dinheiro, mas o templo não era o lugar adequado.

A feira havia sido montada no Pátio dos Gentios, o único lugar onde eles podiam ouvir a palavra de Deus.
O templo tinha uma intenção missionária e essa intenção ou propósito estava sendo negligenciado.

Mc 11.17 – E os ensinava, dizendo: Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para
todos os povos? Mas vocês fizeram dela um covil de ladrões.
Isaías 56.3,6-7 – 3 Que nenhum estrangeiro que se disponha a unir-se ao Senhor venha a dizer: “É certo
que o Senhor me excluirá do seu povo”. E que nenhum eunuco se queixe: “Não passo de uma árvore seca”.
6 E os estrangeiros que se unirem ao Senhor para servi-lo, para amarem o nome do Senhor e prestar-lhe
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

culto, todos os que guardarem o sábado deixando de profaná-lo, e que se apegarem à minha aliança, 7
esses eu trarei ao meu santo monte e lhes darei alegria em minha casa de oração. Seus holocaustos e
demais sacrifícios serão aceitos em meu altar; pois a minha casa será chamada casa de oração para todos
os povos”.

O propósito de Deus era alcançar os outros povos, para incluí-los no Seu plano. Por isso, Deus separou
uma área para eles no templo, e o povo de Israel, como o instrumento pelo qual Ele abençoaria as demais
nações. Mas a feira, com o seu barulho e ocupação, inviabilizava o culto dos gentios a Deus e corrompia os
seus propósitos. Isso mostra que nosso Deus é um Deus apaixonado!

Os judeus confusos

Eis que surgiram os líderes da comunidade judaica e indagaram “Que sinal miraculoso o senhor pode
mostrar-nos como prova da sua autoridade para fazer tudo isso?” (vs.18). Eles reivindicavam a
confirmação da autoridade de Jesus para aquele ato. Jesus respondeu de forma enigmática: “Jesus lhes
respondeu: “Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias”. (vs.19). Aquilo causou um grande
espanto nos judeus que interpretaram as palavras de Jesus “ao pé da letra” (vs.20). João explicou as
palavras de Jesus. Não se tratava do templo de Jerusalém, mas do próprio Senhor Jesus Cristo (vs.21,22).

É interessante perceber como que muitas vezes quando não estamos cumprindo o propósito de Deus para
nossas vidas e achamos que aquilo que estamos fazendo é certo, temos a tendência de questionar a Jesus
quando Ele “vira a nossa mesa”. A autoridade de Jesus sobre nossas vidas jamais pode ser questionada,
Ele nos conhece melhor do que nós mesmos e sabe o que é certo e melhor.

A expressão popular “virar a mesa”, tem diversos significados, como “virar o jogo”, “aproveitar a
oportunidade”, “mudança de atitude”, e até mesmo sair de um estado de humilhação e fracasso, assumindo
um posicionamento vitorioso. Foi exatamente esse o significado da atitude de Jesus; Ele aproveitou a
oportunidade para mostrar que a partir de Sua morte e Ressurreição, seria necessário uma mudança de
atitude no nosso relacionamento para com Deus, pois foi para isso, que Jesus Cristo Se ofereceu como
sacrifício vivo e sem pecados, para morrer em nosso lugar e assim nos abrir acesso direto a Deus, o Pai (Hb
9.28).

Ele falou de Sua morte e ressurreição como o “sinal” de Sua autoridade para pôr fim ao sacrifício de
animais (prefigurado quando Ele expulsou os animais) e para abrir o encontro com Deus a todas as nações
(restaurando o verdadeiro significado do Tribunal dos gentios). Ao contrário de um “zelote”, que desfere
violência contra os outros, o “zelo” de Jesus pela casa de Seu Pai O consumia, levando-O às últimas
consequências – à Sua própria morte na Cruz.

Com sua atitude, Jesus não só demonstrou que ali no pátio do Templo não era lugar para comércio, como
também já apontava que, a partir de um futuro próximo, com Sua morte na cruz e posterior ressurreição,
não haveria mais necessidade de se oferecer sacrifícios de animais, para perdão de pecados, pois Ele mesmo
estaria se oferecendo como sacrifício vivo e eterno (Hb 9.10-12).

LIÇÕES DE JESUS

1. O zelo a ser preservado pelo Seu povo

A cena que os discípulos presenciaram, levou-os a reconhecer o quanto o Mestre era zeloso (vs.17). A
primeira implicação, proveniente do caráter de Jesus, é que Ele é uma pessoa zelosa. A palavra zelo, em
seu aspecto moral, é absolutamente neutra; tão neutra, que é a mesma palavra que descreve “ciúmes”
(alguém que tem a propriedade de outra e não lhe dá liberdade). Assim, essa palavra podia significar tanto
o indesejado ciúme quanto à disposição dedicada ao serviço a Deus.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O que vimos em Jesus foi seu extremo cuidado, impressionando o povo a tal ponto que lhe perguntaram se
tinha autoridade para agir daquela forma. Os judeus conheciam a palavra de Deus e sabiam que o Messias
viria e purificaria a casa do Senhor. O acontecido deveria, então, ser um sinal ao povo, indicando que Jesus
era realmente o ungido de Deus, que eles tanto aguardavam. Jesus não tinha “meios termos” para com a
obra e os propósitos de Deus, sendo, pois, radical.

Zelo é um fator que Deus quer ver em todos nós como Seu povo particular (Tt 2.14; 2 Co 7.7). Até que
ponto devemos ser zelosos? O texto fala em consumir (comer). Temos um Deus zeloso, que leva a sério a
Sua obra e que diz: “Maldito aquele que faz a obra do Senhor relaxadamente” (Jr 48.10). Por isso é hora
de fazermos uma avaliação para verificar de que maneira estamos administrando nossa comunhão com
Deus.

2. Nossa obrigação para com a santificação do templo

Ao chegar ao templo, Jesus afirmou que aquele lugar havia se transformado em mercado e comércio.
Quando disse isso, referia-se somente à área externa, ou seja, o edifício, porque ao questionarem Sua
autoridade, Ele afirmou: “Destruí esse templo e eu, em três dias, o reconstruirei”. Em Português, “destruí”
é imperativo, mas no grego, não é uma ordenação, e sim um aoristo imperativo permissivo, que quer dizer:
“o que vocês têm em mente e que vão fazer, façam” (façam o que vocês querem fazer).

A palavra grega empregada, “naos”, se referia ao espaço santo de manifestação divina. Pela leitura do
texto, notamos que algumas pessoas perceberam que Jesus não se referia ao santíssimo, mas a Ele mesmo,
como habitação de Deus. Ele queria dizer, “vocês vão me matar, mas eu ressuscitarei em três dias”. 1 Reis
8.27 mostra: “Mas será possível que Deus habite na terra? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem
conter-te. Muito menos este templo que construí!”.

Houve incompreensão geral acerca do que Jesus estaria falando (vs.20-22), mas Ele se referia a Seu corpo.
Naquele momento, Ele introduzia a visão de que Deus não habitava no templo, ou seja, no edifício, mas
nas pessoas. Paulo, em 1 Coríntios 6.19, testifica isso muito bem: “Acaso não sabem que o corpo de vocês
é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de si
mesmos?”.

Tanto Jesus como Paulo, deixam bem claro que Deus não habita em prédios, mas em pessoas, sendo que o
templo espiritual, somos nós, independentemente do que estejamos fazendo e de onde estejamos. Desta
maneira, consideremos muito bem o que estamos fazendo com este templo/corpo que, conforme Paulo
afirma, tem o propósito de servir a Deus. Em Romanos 6.12-13 Paulo também nos exorta a oferecermos
nossos membros a serviço de Deus, sendo esse o destino de nosso corpo; embora, em muitas ocasiões, o
enviemos à destino errado.

Jesus está introduzindo, portanto, a visão que o Seu corpo é o templo onde verdadeiramente Deus habita e,
portanto, a todo tempo temos de adorá-Lo, servindo e obedecendo. A vida de Jesus naquela ocasião
demonstra que Ele é zeloso, por isso nós também devemos ser, pois vamos nos encontrar com um Deus
zeloso! Encontramos um Deus que nos fortalece a ideia de que Ele habita em nós e que isso tem implicações
no nosso dia a dia.

3. O cumprimento da nossa missão como povo escolhido

Jesus estava irado, mas não podemos perder a perspectiva de que basicamente Ele se irou porque o povo
judaico corrompeu o propósito missionário de alcançar outros povos para Deus, com o alvo de conseguir
vantagens econômicas pessoais. Se aquele local do templo tinha o propósito de alcançar outras pessoas, e
nós somos o templo dEle agora, devemos entender que este é o desejo que Deus tem para cada um de nós,
atualmente, o desejo de que sejamos missionários.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Nós estamos apenas de passagem nesse mundo e não sabemos quanto tempo ficaremos aqui (Ef 2.19).
Nosso alvo é alcançar outras pessoas para que fiquem libertas de condenação, libertas da separação de Deus,
para encontrar a verdadeira vida no Senhor (Ef 2.12,13). É, pois, através de nossa vida, de nosso corpo, que
Deus quer Se manifestar.

Não é errado levarmos pessoas para ouvir a palavra de Deus, mas antes nossa vida tem que ser a expressão
da graça, da bondade, da sabedoria, do poder, do zelo de Deus. De qualquer maneira, nosso compromisso
com o Senhor tem de estar solidificado a ponto de, se alguém nos perguntar qual é o nosso Deus, não
tenhamos de dar explicações, porque nossa vida deve ser uma amostra transparente de quem Ele é.

As pessoas devem ver que somos a habitação divina. Contudo, principalmente quando as condições
econômicas são mais favoráveis, facilmente desvirtuamos o propósito missionário que Deus tem para cada
um de nós, num propósito econômico. Devemos tomar cuidado para não desviarmos o alvo que Deus tem
para nossa vida, de ganharmos outras pessoas para Ele e servi-Lo, para melhorar nossa condição financeira.
Senão, estaríamos fazendo a mesma coisa que aquele povo fez naquela feira. Devemos ter cuidado com a
maneira de administrarmos nosso dinheiro.

Podemos aprender com Jesus porque era zeloso, tinha a visão de que Ele era o templo e que vantagens
econômicas não podiam suplantar os interesses do reino de Deus. João Batista apresentou Jesus aos
discípulos como o Cordeiro de Deus, mas devemos entender que Ele é, também, o Leão de Judá. E diante
desse Deus, resta-nos ter uma atitude de total honra, respeito, consideração, obediência e seriedade. Com
esse Deus não se brinca!

CONCLUSÃO

Da mesma forma que Jesus purificou o templo, assim pode também purificar nosso coração. Quando vem
habitar dentro de nós, encontra nosso ser profanado pelas coisas pecaminosas, que prontamente expulsa.
Então Se sente como o refinador da prata; sua pá Ele a tem na mão e limpa a eira.

A referência do Senhor à destruição de Seu corpo, pela ação dos líderes judeus, e à Sua ressurreição, prova
que, desde o princípio, Ele estava com Seu sacrifício em mente, a fim de restaurar aqueles que haviam sido
profanados pelo pecado. O Seu zelo pelo templo de Deus expressa Sua responsabilidade e dedicação em
cuidar de nós para que Deus seja conhecido e glorificado por meio de nossas vidas santificadas.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 4 – NASCER DE NOVO

Texto Base: Jo 3.1-15

1 Havia um fariseu chamado Nicodemos, uma autoridade entre os judeus.


2 Ele veio a Jesus, à noite, e disse: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode
realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele”.
3 Em resposta, Jesus declarou: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer
de novo”.
4 Perguntou Nicodemos: “Como alguém pode nascer, sendo velho? É claro que não pode entrar pela
segunda vez no ventre de sua mãe e renascer!”.
5 Respondeu Jesus: “Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água
e do Espírito.
6 O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito.
7 Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo.
8 O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim
acontece com todos os nascidos do Espírito”.
9 Perguntou Nicodemos: “Como pode ser isso?”.
10 Disse Jesus: “Você é mestre em Israel e não entende essas coisas?
11 Asseguro-lhe que nós falamos do que conhecemos e testemunhamos do que vimos, mas mesmo assim
vocês não aceitam o nosso testemunho.
12 Eu lhes falei de coisas terrenas e vocês não creram; como crerão se lhes falar de coisas celestiais?
13 Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que veio do céu: o Filho do homem.
14 Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho
do homem seja levantado,
15 para que todo o que nele crer tenha a vida eterna.

INTRODUÇÃO

O
ministério público e particular de Jesus, será basicamente marcado por encontros com pessoas das
mais diversas matizes sociais, políticas, culturais, econômicas e religiosas. A diversidade nesses
encontros, demonstra que a mensagem do Reino de Deus anunciada por Jesus, não está restrita à
um determinado grupo, mas visa alcançar a todos, sem distinção ou preconceito.

É à partir desta compreensão que, o tema – Novo Nascimento, assume uma grande importância dentro da
doutrina da salvação, como sendo o fundamento, a base inicial ou primeiro passo para que o indivíduo se
torne um cidadão do Reino de Deus. Nas próprias palavras de Jesus: “...Ninguém pode ver o Reino de Deus,
se não nascer de novo” (vs.3). Nascer de novo, portanto, é um pré-requisito essencial para o desfrute das
bênçãos espirituais preparadas por Deus para aqueles que creem em Cristo como único Salvador e Senhor.

CONTEXTO

As festividades da Páscoa em Jerusalém são marcadas basicamente por dois eventos, os quais foram
aproveitados por Jesus para revelar Sua identidade messiânica: A purificação do Templo, quando Jesus
expulsa os vendedores do pátio (2.13-21) e sinais miraculosos (vs.23). Haviam mais de 500.000 pessoas
naquela festa, entre moradores e visitantes que ouviram Seu discurso e testemunharam muitos sinais e o
resultado foi que muitos creram nEle.

Observações importantes:

• Ao passo que tais realizações tenham causado ânimo e expectativas nos discípulos, os quais começam
a visualizar o progresso rápido do reino de Deus, o próprio Jesus não Se deixou enganar pelas “reações
externas” porque conhecia o coração da multidão. Ele não estava levando em consideração a
qualidade da fé daquelas pessoas que apenas viram seus milagres e ficaram entusiasmadas;
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

• As Escrituras nos mostram em diversas passagens onde Jesus conversava com outras pessoas e deixava
bem claro que sabia o que elas estavam pensando, pois era conhecedor do coração e da mente dos que
diziam crer nEle (vs.24,25).

Fato: A fé salvadora não está vinculada apenas ao impacto visual e emocional dos milagres, mas
principalmente nos efeitos espirituais que eles produzem!

O texto nos deixa claro que muitas pessoas se impressionaram sobremaneira com os milagres realizados
por Jesus. O que precisamos compreender é que, muitas vezes a fé produzida exclusivamente em razão de
milagres, não é uma fé que salva, pois não se fundamenta na convicção da identidade de Cristo, mas apenas
nos favores gerais que Ele providencia. Jesus não Se deixou enganar por essas pessoas, porque sabia que a
fé fundamentada apenas em benefícios que Ele concedia, logo se dissiparia à primeira adversidade.

Para refletir e debater: Em sua opinião, quais seriam os reais motivos que leva uma pessoa a “seguir” a
Cristo e a “professar” uma fé nEle, sem que haja de fato uma compreensão clara sobre quem é Jesus e as
implicações de se tornar um seguir fiel?

Quem foi Nicodemos?

1 Havia um fariseu chamado Nicodemos, uma autoridade entre os judeus.

O verso 1 inicia apresentando Nicodemus, um fariseu e como a Bíblia diz - um dos principais dos judeus,
que fazia parte do Sinédrio, o Senado de Israel.

Os fariseus eram um grupo religioso fanático, a elite religiosa nos dias de Jesus, compondo cerca de 6.000
pessoas. O nome fariseu queria dizer ‘separados’, porque, de fato, eles se consideravam pessoas dedicadas
de modo especial a crer e a seguir a Deus. Nos padrões da sociedade da época, ninguém tinha moral mais
elevada que eles.

Os dez mandamentos foram por eles explanados e ampliados, além de transformados em dois livros: a
Mishnáh e o Talmudh. Sobre a guarda do sábado, a Mishnáh continha dezesseis capítulos e o Talmudh 156
páginas. Eram extremamente zelosos. No sábado, o dia que deveria ser guardado, não se poderia fazer
qualquer tipo de trabalho, como por exemplo, dar um nó. Contudo, se alguém fosse um velejador, cuja
vida num sábado dependesse do nó, ele poderia ser dado com uma só mão.

Da mesma forma a mulher, devido à sua indumentária, podia dar o nó no cinto ou envolver o pescoço com
um lenço, desde que o fizesse com apenas uma das mãos. Não se podia tirar água de um poço profundo
com o uso do nó da corda na vasilha, porque era considerado trabalho, mas tal trabalho poderia ser feito se
a corda fosse amarrada ao cinto da mulher.

Eram, portanto, especialistas em construir uma porção de leis e, ao mesmo tempo, driblá-las. Mas de uma
forma geral, eram vistos como um povo de alta moral naqueles dias. Jesus mesmo disse que, se a justiça do
povo não excedesse a dos escribas e fariseus, não entrariam no Reino dos Céus, reconhecendo que eles
tinham alguma justiça.

Lembremos que Nicodemos, além de fariseu, era um dos principais dos judeus, um erudito, com uma boa
condição social e um religioso. Além disso, tinha uma boa percepção acerca de Jesus, pois o chamou de
Rabi (Rab e Rabon) – um título de reconhecimento – e, devido aos sinais apresentados por Ele, reconheceu
ser Jesus um Mestre vindo da parte de Deus. Falava por mais alguém, pois usou “sabemos” (alguns fariseus
acolheram inicialmente as palavras de Jesus).

Nicodemos tinha conceitos de fé corretos, exceto quando ouviu de Jesus que, para participar do reino de
Deus, seria necessário nascer de novo. Portanto, a fé como consequência de milagres, a religiosidade, o
conhecimento, as perspectivas corretas a respeito de Deus, todos esses elementos que Nicodemos possuía
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

eram insuficientes para lhe fazer chegar até Deus e por Ele ser aceito. Não há recursos humanos suficientes
para isso!

Alertamos sobre o maior engano que o povo de dentro e fora de igreja sofre: o pensamento de que pode
alcançar, através de boas ações, por si só, um estágio de aprovação, que o torne aceitável a Deus e com
destino garantido. Jesus estava, naquele momento, afirmando justamente que nada vindo do homem iria
qualificá-lo. O homem é afastado de Deus por sua natureza pecaminosa, com a culpa do pecado.

I – O IMPERATIVO DE NASCER DE NOVO

Primeiramente, o novo nascimento é a introdução de uma pessoa na sociedade Divina, na família de Deus,
como integrante do povo de Deus. O verso 3 relaciona o “nascer de novo” com “ver o reino”, o verso 5
com “entrar” e o verso 7 com “importar”. O nascimento já indica a ideia de um começo e por isso devemos
iniciar a vida com Deus nos beneficiando de todas as implicações e bênçãos.

Em segundo lugar, o nascer de novo envolve a purificação gerada pela obra de Deus, pois o verso 5 se
refere a água e Espírito. Há muita discussão sobre esse assunto, mas minha opinião particular é que se refere
ao batismo; não ao batismo físico, mas àquilo que o batismo ilustra: para alguém chegar diante de Deus
terá que ser purificado de seus pecados.

Ezequiel 36.25-27 já falava em ser purificado e receber o Espírito. As comunidades israelitas dos dias de
Jesus falavam na purificação pela água e todos os que eram introduzidos na comunidade de Israel passavam
por um batismo. Se não formos limpos e recebermos o perdão dos pecados não poderemos participar do
reino.

Em terceiro lugar, podemos dizer que a apropriação dessa purificação e do perdão dos pecados é algo que
podemos participar ainda nesta vida. Nicodemos nada entendia a esse respeito; podemos ver isto nos versos
9 e 10.

O novo nascimento é uma decisão e um passo que temos de tomar nesta vida; não pode ser deixada para
depois, quando não haverá mais alternativa. Essa afirmação está implícita no vs.12, onde Jesus ainda
adiciona não poder introduzi-lo em assuntos mais nobres, enquanto não entendesse o óbvio. O novo
nascimento estabelece o nosso destino para hoje e para a eternidade, porque garante nossa entrada e
permanência no reino de Deus.

A palavra grega para esta expressão “nascer de novo” é “ANOTHEN”, que significa “absolutamente
novo”, “inédito”, trazendo a ideia de algo que nunca existiu. Ou seja, é uma espécie de ressurreição do que
estava morto. É quando ocorre uma transformação de dentro para fora, que implica ter um novo coração,
uma nova mente, um novo nome, uma nova pátria, novos desejos, novos gostos, novas preferências.

Jesus deixa claro em seu encontro com Nicodemos que uma pessoa só pode ver o Reino de Deus, ter vida
eterna, se o Espírito Santo implantar em seu coração a vida que tem sua origem não na terra, mas no céu.
Em suma: O novo nascimento implica em uma mudança radical.

Para refletir e debater: O que você entende por esta frase: “Sem uma mudança radical, o céu não apenas
seria impossível para você, mas também não seria um lugar agradável para sua alma.”

Concluindo e definindo o novo nascimento...

Um novo nascimento não é um verniz religioso, novo nascimento não é ser batizado, novo nascimento não
é pertencer a uma igreja cristã, novo nascimento não é nascer em um lar cristão, novo nascimento não é
frequentar a igreja, novo nascimento não é ter uma Bíblia, fazer oração, praticar boas obras, essas coisas
todas o homem pode fazer.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Novo nascimento é uma obra sobrenatural do Espírito Santo no seu coração, é obra soberana de Deus na
sua vida, tirando seu coração de pedra, insensível às coisas de Deus, e dando a você um coração de carne,
um coração receptivo à palavra de Deus, novo nascimento é uma operação de transformação de dentro para
fora, de tal maneira que Deus dá para você um novo coração, uma nova mente, uma nova vida, novos
desejos, novos sonhos, novos propósitos, nova vida, mas mais do que isso, o vento sopra onde quer, em
outras palavras, também o Espírito Santo é livre e é soberano, Ele não segue os ditames da nossa vontade,
Ele não pode ser domesticado, Ele não pode ser controlado pela vontade humana, o Espírito Santo é
soberano e age poderosamente, irresistivelmente, eficazmente no seu coração, é por isso que aquelas
pessoas que jamais poderíamos imaginar que pudessem ser convertidas e salvas, são transformadas pelo
poder do Espírito Santo.

II – AS DUAS NATUREZAS

A. A velha natureza:

a. É carnal e vendida ao pecado (Rm 7.14);


b. É corrompida e enganosa, ao ponto que engana a si mesma (Ef 4.22);
c. Nos domina não nos deixando fazer o que queremos (Rm 7.17,18).

B. A nova natureza:

a. Faz-nos novas pessoas em Cristo (2 Co 5.17);


b. Nos leva a nos despojar do velho homem e nos revestir-nos do novo homem (Ef 4.22-24);
c. Não permanece na prática do pecado (1 Jo 3.9);
d. Não pode ser tocada pelo maligno (1 Jo 5.18);
e. Como uma árvore dá seu fruto segundo sua espécie (Mt 7.18);
f. Assemelha-se a uma criança que se encontra em processo de aprendizado/maturidade (Hb
5.13).

III – AS BASES DO NOVO NASCIMENTO

1. Credibilidade em Jesus

O novo nascimento inclui a ideia da purificação de nossos pecados. Nicodemos não entendia muito dessas
coisas porque tinhas alguns recursos nos quais confiava, tais como sua mente judaico-farisaica, sua
maturidade e experiência – fatores que apontavam para seu desenvolvimento.

Como foi dito por Jesus, somos miseráveis pecadores e, por mais que tentemos fazer a vontade de Deus,
não conseguimos. Às vezes nos iludimos pensando que não somos tão ruins; outras vezes colocamos
confiança em coisas tais como louvar, orar, pertencer à comunidade da igreja, dar o dízimo e ter tradição
religiosa. Mas, se confiamos que iremos para o céu somente por isso, estamos enganados; precisamos
entender que para chegar a Cristo devemos ser como uma criança em sua simplicidade. Isso é nascer de
novo! Aquele que desceu dos céus disse isso e ninguém conhece esta matéria melhor que Ele, porque é um
especialista. Ele sabe integralmente quais são as ligações entre céus e terra (vs.11 e 13).

2. Obra de Cristo

No começo de Seu ministério, Jesus estava desenvolvendo Sua popularidade, Sua fama, mas já nesse ponto
afirmou que o Filho do homem seria levantado (vs.14). Ele fez referência a um fato histórico, ocorrido nos
dias de Moisés (Nm 21.8). Deus os castigou com serpentes venenosas; em Sua misericórdia, porém,
ordenou que se fizesse uma serpente de bronze e quem olhasse para ela seria curado das picadas mortais.

Já no começo, introduzia o assunto da Sua morte, que era o alvo de Sua vida. Naquela morte estava nossa
salvação. Portanto, o novo nascimento é o achegar-se até Jesus sabendo que não temos nada a acrescentar
27
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

a Ele. O novo nascimento é chegarmos até Deus, pecadores como somos, sem disfarces, sem maquiagem,
confessando que pecamos; mas também sabendo que seu Filho foi julgado e condenado por causa de nossos
pecados.

Naquela cruz estava o Nosso Senhor sendo julgado e condenado como assassino, como ladrão, adúltero,
homossexual, corrupto, por tudo que fizemos de errado ontem e hoje, sem nenhuma exceção, mesmo sem
ter cometido isso. E o que Ele disse no vs.16: “para que todo o que nele crê tenha a vida eterna”. Portanto,
não basta crer que Jesus tem poder para fazer milagres, não basta crer que Jesus fez milagres. O crer que
introduz alguém como participante do plano de Deus é o crer na obra do Senhor Jesus Cristo. Se não nos
apropriamos da morte naquela cruz e no porque dela, não somos nascidos de novo.

O próprio Filho de Deus, integrante da comunidade divina, veio e sofreu toda condenação para que
fôssemos condenados devidamente e, no nosso livramento, Deus ainda se mantivesse justo. É por isso que
naquela cruz Ele disse: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. Sentia o peso dos pecados da
humanidade caindo sobre Ele, fato que o separava de Deus. Não existem mais pecados para serem julgados,
não existem mais pecados para serem condenados, porque Jesus já sofreu toda a condenação.

A cruz de Cristo não foi o fracasso final de Deus; antes, foi o propósito de Deus realizado perfeitamente. O
crer nisso é a única base para alguém ver, entrar e participar da vida com Deus. Vida que inicia agora, mas
com valor e duração eterna.

3. Obra do Espírito

O verso 8 diz: O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde
vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”.

A palavra que traduz Espírito, tanto na língua grega como na hebraica, é a mesma: vento. O significado
desta frase é: não conseguimos identificar de onde está vindo e para onde vai o Espírito de Deus. Esse
Espírito sopra no coração de cada um de nós. É por obra do Espírito de Deus que podemos chegar até Ele,
sermos autênticos neste reconhecimento e crer que Jesus já pagou nossos pecados. Isso não é obra nossa. É
de Deus, que pode estar nos convencendo neste momento.

IV – PORQUE O NOVO NASCIMENTO É NECESSÁRIO?

1. Sem o novo nascimento, nós continuamos mortos em delitos e pecados (Ef 2.1,2).

1 Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, 2 nos quais costumavam viver, quando seguiam
a presente ordem deste mundo e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está atuando nos que vivem
na desobediência.

A morte implica em estar sem vida. Não é sem vida física ou moral. Nós estamos “caminhando” e
“seguindo” o mundo. Nós temos “paixões” da carne, e nós carregamos “desejos do corpo e da mente”.
Então não estamos mortos no sentido em que não podemos pecar. Estamos mortos no sentido em que não
podemos ver ou sentir a glória de Cristo. Nós estamos espiritualmente mortos. Nós estamos indiferentes a
Deus, Cristo e Sua palavra.

2. Sem o novo nascimento, nós somos, por natureza, filhos da ira (Ef 2.3).

Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles, satisfazendo as vontades da nossa carne, seguindo
os seus desejos e pensamentos. Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.

O ponto disto é deixar claro que o nosso problema não está somente no que fazemos, mas no que nós somos.
À parte do novo nascimento, eu sou o meu problema. Você não é o meu maior problema. Meus pais não
são meus maiores problemas. Meus inimigos não são meus maiores problemas. Eu sou o meu maior
28
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

problema. Não são minhas ações, nem minhas circunstâncias, nem as pessoas da minha vida, mas minha
natureza é o meu mais profundo problema pessoal.

Eu não tive primeiro uma boa natureza e, em seguida, fiz coisas ruins e passei a ter uma natureza má. “Eu
nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Este é quem eu sou. Minha natureza
é egoísta, egocêntrica, exigente e muito hábil em fazer você se sentir como se fosse o problema. E se a sua
primeira resposta a essa afirmação é conheço pessoas assim, você pode estar totalmente cego para o engano
do seu próprio coração.

Paulo descreve a nossa natureza antes do novo nascimento como “filhos da ira”. Em outras palavras, a ira
de Deus é para nós como um pai em relação a seu filho. Nossa natureza é tão rebelde, tão egoísta e tão
insensível à majestade de Deus, que Sua ira santa é uma resposta natural, correta e justa para nós.

3. Sem o novo nascimento, nós amamos as trevas e odiamos a luz (Jo 3.19-20).

19 Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas
obras eram más. 20 Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras
sejam manifestas.

Esta palavra de Jesus enuncia algumas das coisas que a nossa natureza é sem o novo nascimento. Nós não
somos neutros quando nos aproximamos da luz espiritual. Nós a resistimos. E nós não somos neutros
quando as trevas espirituais nos envolvem. Nós a abraçamos. Amor e ódio estão ativos no coração não
regenerado. E eles se movem em direções exatamente opostas — odiando o que deveria ser amado e amando
o que deveria ser odiado.

4. Sem o novo nascimento, nossos corações são duros como pedra (Ez 36.26, Ef 4.18).

26 Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra
e lhes darei um coração de carne. 18 Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de
Deus por causa da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração.

O ponto crucial do nosso problema não é a ignorância. Há algo mais profundo: “por causa da ignorância
em que vivem, pela dureza do seu coração.” Nossa ignorância é a ignorância culpada, não a ignorância
inocente. Ela está enraizada nos corações duros e resistentes. Paulo diz em Romanos 1.18 que nós detemos a
verdade pela injustiça. A ignorância não é nosso maior problema. Antes, são a dureza e a resistência.

5. Sem o novo nascimento, nós somos incapazes de nos submeter a Deus ou de agradá-Lo (Rm
8.7,8).

7 a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à Lei de Deus, nem pode fazê-lo. 8
Quem é dominado pela carne não pode agradar a Deus.

Em outras palavras, ele está contrastando aqueles que são nascidos de novo e tem o Espírito, com aqueles
que não são nascidos de novo e, portanto, não tem o Espírito, mas tem somente a carne. “O que é nascido
da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.” (Jo 3.6).

Seu ponto é que sem o Espírito Santo, nossas mentes são tão resistentes à autoridade de Deus, que nós não
iremos, e, portanto, não poderemos nos submeter a ele. E se não podemos nos submeter a ele, não podemos
agradá-lo. Isso é o quão mortos, e em trevas, e o quão duros nós somos para com Deus, até que Deus nos
faça nascer de novo.

6. Sem o novo nascimento, nós somos incapazes de aceitar o evangelho (Ef 4.18; 1 Co 2.14).

29
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

18 Eles estão obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa da ignorância em que
estão, devido ao endurecimento do seu coração. 14 Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm
do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque elas são discernidas
espiritualmente.

Paulo inicialmente trabalha no texto de Efésios, o conceito dos efeitos do pecado na vida humana quando
nosso arbítrio foi totalmente corrompido e se tornou incapaz de recorrer a Deus e entender a oferta da
salvação e a necessidade de um novo nascimento. Em 1 Coríntios 2.14, Paulo nos dá outro vislumbre das
implicações que esta indiferença e dureza trazem sobre aquilo que somos incapazes de fazer. Ele diz que:
“O homem natural [ou seja, o não regenerado por natureza] não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” O problema
não é que as coisas de Deus estejam além das suas capacidades intelectuais. O problema é que ele as enxerga
como tolice.

Lembre-se de que este é um “não pode” moral, e não um “não pode” físico. Quando Paulo diz “O homem
natural... não pode entendê-las”, ele quer dizer que o coração é tão resistente a recebê-las que a mente
justifica a rebelião do coração, vendo-as, então, como uma loucura inaceitável. Esta rebeldia é tão
abrangente que o coração realmente não pode receber as coisas do Espírito. Isto é uma verdadeira
incapacidade. Mas não é uma incapacidade coagida. A pessoa não regenerada não pode porque ela não
quer. Suas preferências pelo pecado são tão fortes que ela não consegue escolher o bem. É uma verdadeira
e terrível escravidão. Mas não é uma escravidão inocente.

7. Sem o novo nascimento, nós somos incapazes de vir a Cristo ou recebê-lo como Senhor (Jo 6.44,
65; 1 Co 12.3).

44 Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia. 65 E
prosseguiu: “É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado
pelo Pai”. 3 Por isso, eu lhes afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: “Jesus seja
amaldiçoado”; e ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, a não ser pelo Espírito Santo.

No Evangelho de João vemos uma afirmação categórica da incapacidade humana de ir até Deus pela única
via (Cristo), a não ser que este seja conduzido ao Salvador e capacitado a crer nEle para a salvação. Em 1
Coríntios 12.3, Paulo declara: “ninguém pode dizer que Jesus é o SENHOR, senão pelo Espírito Santo.”
Ele não quer dizer que um ator num palco ou um hipócrita em uma igreja não possam dizer as palavras
“Jesus é o Senhor” sem o Espírito Santo. Ele quer dizer que ninguém pode dizê-lo verdadeiramente sem
nascer do Espírito, ou seja, uma declaração verdadeira como fruto da fé salvadora.

É moralmente impossível para o coração morto, em trevas, duro e resistente celebrar o senhorio de Jesus
sobre a sua vida sem ser nascido de novo. Ou, como Jesus diz três vezes em João 6, “ninguém pode vir a
ele, a menos que o Pai o traga”. E quando essa proximidade produz numa pessoa uma ligação viva com
Jesus, nós a chamamos de novo nascimento. Versículo 37: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim.”
Versículo 44: “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”. Versículo 65: “Ninguém
poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido.” Todas essas maravilhosas obras
de trazer, conceder e dar são as obras de Deus na regeneração. Sem elas nós não vamos a Cristo, porque
nós não queremos ir. Isso é o que tem que ser mudado no novo nascimento.

CONCLUSÃO

• Para conhecer o amor de Deus por nós é necessário NASCER DE NOVO. Esta obra do Espírito
Santo em nós é o que torna possível reconhecer que é Jesus Cristo e aceitar Sua obra sacrificial em
nosso favor;
• Não se iluda com a ideia de que temos em nós mesmos as condições necessárias para compreender
as verdades de Deus e colocá-las em prática como um meio para nossa salvação (Gl 2.16 – sabemos
que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós
30
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da
Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado);
• A ideia de um novo nascimento compreende, portanto, uma anulação dos nossos esforços e
conceitos humanos para chegarmos até Deus e recebermos dEle Seu favor (falsa religião), por isso,
Cristo assumiu nosso lugar simplesmente por amor (1 Pe 3.18a – Pois também Cristo sofreu pelos
pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus.).

31
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 5 – AMOR E JUSTIÇA

Texto Base: Jo 3.16-21

16 “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por
meio dele.
18 Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho
Unigênito de Deus.
19 Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas
obras eram más.
20 Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se veja claramente que as suas obras são
realizadas por intermédio de Deus”.

INTRODUÇÃO

A
humanidade foi criada de forma perfeita, sem pecado e sem maldade. Deus criou o mundo e todo
o universo conhecido e viu que tudo era muito bom (Gn 1.31). Tudo o que conhecemos hoje foi
criado para viver em total e completa harmonia. No entanto, em algum momento na história, a
criatura, homem, corrompeu seu coração e desejou além daquilo que o Pai lhe tinha planejado (Gn 3).

O mal passou a habitar em meio a humanidade e foi se espalhando cada vez mais. A mentira, a avareza, a
soberba, a prostituição dentre outros pecados, foram dominando o coração do homem. Hoje, ainda vivemos
em meio ao pecado, porém temos a certeza de que por conta do amor do Pai, através do sacrifício de Seu
único e amado filho, Jesus Cristo, podemos desfrutar do melhor dos planos de Deus, a oportunidade de ter
uma relação não mais de Criador e criatura, mas sim de Pai e filho.

O amor de Deus, não se compara ao amor dos homens. Pois, mesmo com toda a Sua soberania, foi capaz
de entregar Seu único filho como Cordeiro para Se sacrificar em nosso lugar, nos lavar e remir de todos os
pecados. O amor de Deus é a causa da nossa salvação e a justiça/juízo de Deus o justo pagamento pela
rejeição desse amor.

Algumas pessoas pensam que há uma tensão entre o amor e a justiça de Deus. Elas dizem que o atributo da
justiça revela um Deus severo e irado que não combina com o atributo do amor que revela um Deus
misericordioso e longânimo. Inclusive, muitas dessas pessoas acabam criando para si a imagem de um
“deus” cuja justiça é negligenciada em detrimento do amor. Mas definitivamente esse não é o Deus da
Bíblia.

As pessoas frequentemente olham para Cristo e enxergam apenas o amor de Deus, quando também
deveriam enxergar a Sua justiça. Em Cristo, vemos que Deus é tão amoroso a ponto de entregar Seu próprio
Filho para morrer por pecadores; ao mesmo tempo em que vemos que Ele é tão justo a ponto de não poupar
nem mesmo o Seu próprio Filho que assumiu o lugar dos pecadores. Se Deus não poupou nem mesmo Seu
Filho amado, que dirá daqueles que rejeitarem Seu sacrifício e salvação?

CONTEXTO

Jesus continua Seu encontro e diálogo com Nicodemos sobre a necessidade de nascer de novo para se entrar
no Reino de Deus, onde Ele reafirma uma regeneração não física ou meramente simbólica (batismo/nascer
da água), mas antes espiritual pela obra regeneradora e purificadora do Espírito Santo como um fator
essencial e indispensável para tal ingresso (1 Co 6.11).

32
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Nosso texto base, tem por propósito reforçar a mensagem sobre a salvação por meio exclusivamente pela
fé em Cristo, ao passo que a negação/rejeição desta verdade implica na permanência debaixo da ira de Deus
e consequentemente condenação eterna (Jo 3.36 – Quem crê no Filho tem a vida eterna; já quem rejeita o
Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele.).

A mensagem central que permeia todo o texto que meditaremos a partir de agora, pode ser resumida da
seguinte forma: A vinda de Cristo ao mundo, tornou possível aos homens o conhecimento tanto do
amor redentor como da justiça condenatória de Deus.

I – A INTRODUÇÃO DO ASSUNTO

Para entendermos melhor o assunto que será abordado a partir dos versos 16-21, precisamos recorrer
inicialmente aos versos anteriores, mais especificamente os versos 14 e 15 (14 Da mesma forma como
Moisés levantou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do homem seja levantado,
15 para que todo o que nele crer tenha a vida eterna.).

É interessante notarmos que esse diálogo estava ocorrendo entre dois Mestres de Israel. Nicodemos, ainda
com seu pensamento dominado pela lógica humana, pelo racional, e Jesus falando-lhe em termos
espirituais, pela lógica divina. Assim é que Jesus lança mão de mais um texto do Antigo Testamento que
certamente Nicodemos conhecia. Jesus reportou-se à época da peregrinação no deserto.

Para ilustrar melhor o objetivo de Sua vinda, ou seja, Sua ascensão, Jesus em Sua conversa com Nicodemos
cita Números 21.4-9, no episódio onde as “serpentes venenosas” mordiam e matavam os israelitas. Quando
o povo pediu para ser liberto daquele castigo, Deus orientou que Moisés construísse uma serpente de bronze
e a colocasse numa alta haste. Todo israelita, mesmo sendo mordido, estando sentenciado à morte, ao olhar
para a serpente de bronze, seria salvo. Em outras palavras, esse israelita estaria nascendo de novo (tema
central do capítulo 3).

Jesus, mostrou então, que um dia seria necessário que isso acontecesse com Ele, o Filho do Homem, o
Messias de Israel. Quando Jesus fosse levantado no madeiro, conforme 8.28 e 12.34, Ele atrairia a atenção
dos que estavam condenados à morte. A expressão “assim importa”, deve ser destacada, pois em associação
com a expressão “é necessário”, são termos importantes dentro deste Evangelho de João, e aparecem em
outras passagens, como por exemplo (3.7; 4.4,24; 9.4; 12.34 e 20.9).

Isso significa que Jesus sabia que estava cumprindo o plano predeterminado desde a eternidade, plano esse
certamente elaborado pelo Pai, por Ele o Filho, e pelo Espírito Santo, demonstrando que a nossa salvação,
a vida que Jesus nos trouxe, o novo nascimento que só Ele pode nos dar, não foi algo que surgiu no percurso
de Sua caminhada nas estradas poeirentas da Palestina. Nossa salvação foi planejada antes da fundação do
mundo, desde a eternidade (Ef 1.4,5).

Portanto, o verso 15 (“para que todo o que nele crer tenha a vida eterna”.) é apresentado por Jesus como
o critério básico e único/suficiente para que haja salvação da condenação eterna. Jesus relacionou o
“levantamento da serpente na haste” com a Sua “ascensão na cruz” e o “olhar para a serpente”
(contemplação no sentido de “aceitação”) com o “crer nEle” para ser salvo, ou seja, não condenado à morte
eterna.

Lembremos, portanto, que o tema central que Nicodemos viera debater com Jesus era o Reino de Deus, o
que o mesmo significa e como alguém pode se tornar participante dele. Jesus, por Sua vez, apontou para
um reino celestial, mostrando como Nicodemos e todos os outros homens podem ser admitidos nesse reino,
tornando-se participantes dele. Jesus esclareceu que, o novo nascimento é essencial; e aqui dá começo à
explicação sobre como o novo nascimento ocorre, bem como sobre quais princípios espirituais tem ele o
seu alicerce.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Uma das grandes pedras fundamentais do novo nascimento é justamente a cruz de Cristo. A fé em Cristo
e no que Ele fez na cruz avança para o primeiro plano. É necessária a cura da alma, tão certamente como
os israelitas precisavam da cura do corpo, por causa das mordidas das serpentes venenosas. Usualmente, a
serpente serve de símbolo do mal, representando o próprio Satanás; e essa circunstância se torna bom
símbolo da condição de perdição dos homens, cujas almas, por estarem alienas de Deus, estão enfermas até
a morte. As mordidas das serpentes permeiam, como seu veneno, o arcabouço inteiro de suas vítimas, e
outro tanto sucede no caso do pecado, que entremeia a personalidade humana.

No tempo de Moisés, a serpente de bronze foi dependurada em um poste a fim de demonstrar aos israelitas
que, embora o pecado houvesse atraído o julgamento, todavia lhes era oferecida a cura, cura essa
verdadeiramente eficaz. Na cruz, embora não houvesse iniquidade alguma em Cristo, Jesus se fez pecado
por nós, e no madeiro foi que Ele derrotou o inimigo, e fez dele um espetáculo público (Cl 2.14,15).

A cruz era o sinal do eterno, presente em poder e amor para salvar-nos; e o homem que percebesse essa
presença passaria a viver com uma nova vida. Nos conselhos divinos foi querido, e assim deve ser, que o
Filho do homem fosse a testemunha, ante o mundo, do poder e do amor eternos que salvam a todo o homem
que se apega aos mesmos.

Jesus estava ensinando para Nicodemos que, Ele deveria Se tornar o alvo das atenções. Com que objetivo?
Porque Ele deveria atrair a atenção de todos? Ora, para que ao olharmos para Ele, reconhecendo-O,
aceitando-O como Messias, mediante Seu sacrifício voluntário em nosso lugar, crendo nEle, tenhamos vida
eterna. Portanto, Jesus usou de um evento histórico muito familiar a Nicodemos para ensiná-lo que a história
sempre apontou para a vinda do Messias, e o Próprio, o amor de Deus encarnado, estava ali presente bem
diante de seus olhos.

II – O CONCEITO DE VIDA ETERNA

O evangelista João transmite este tema como algo que é desfrutado em uma experiência no tempo presente
através da pessoa de Jesus Cristo. O termo grego “zoe aionios” (vida eterna) é utilizado pelo apóstolo João
para descrever o conceito de uma vida abundante. O adjetivo “aionios” não está ligado a uma qualidade de
vida, mas sim a uma designação de uma duração interminável: ou seja, uma vez participante deste
privilégio, é impossível perdê-lo.

A ideia judaica de vida era algo voltada para um completo bem estar terreno. “O sentido básico de “vida”
no Antigo Testamento não é imortalidade ou vida após a morte, mas um completo bem estar do ser na
existência terrena. Entretanto, esse bem estar completo do ser não é considerado como um fim em si mesmo,
mas como um dom de Deus.

O evangelista João traz um ensinamento que não encontramos nos evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos
e Lucas) de forma clara e evidente. O conceito de vida se dá em uma esfera futura. No entanto, esta vida
futura já foi outorgada ao crente neste tempo presente. A missão de Jesus foi trazer a experiência da vida
futura há um tempo de vida presente. O evangelista João entrelaça o presente e o futuro como algo
inseparável, algo que não há como deixar de ser desassociado.

A vida eterna sempre existiu porque Deus sempre viveu e viverá eternamente (Tt 1.2). Viver eternamente
é um sonho do ser humano destacado em muitas culturas, como os egípcios, que embalsamavam os corpos
e construíam pirâmides para servir de túmulos, cheios de riquezas, pensando que tudo isso serviria para
uma outra vida.

O apóstolo João é o autor que mais usou esta expressão “vida eterna” em toda a Bíblia. Das quarenta e
cinco vezes que “vida eterna” aparece na Bíblia, somente duas estão no Antigo Testamento (Dt 32.40 e Dn
12.2) e das quarenta e três vezes que é citada no Novo Testamento, vinte e três estão no evangelho de João.
A linguagem do evangelista João é considerada mais espiritualizada, mas por outro lado também filosófica,

34
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

visto que procura dar respostas ao gnosticismo, uma filosofia mística que negava a ressurreição corpórea
de Jesus.

Jesus ensinou sobre a vida eterna e João andou muito próximo do Mestre, dedicando seu Evangelho às
sábias palavras de Cristo. Por isso, o Evangelho de João é a principal referência para estudar este tema.
Baseado no texto de João podemos refletir sobre a origem, como acontece e como alcançar a vida eterna.

A Palavra de Deus nos ensina a vida eterna

Jo 5.39 – Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna.
E são as Escrituras que testemunham a meu respeito.
Jo 6.68 – Simão Pedro lhe respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna.
Jo 12.50 – Sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu digo é exatamente o que o Pai
me mandou dizer.

A vida eterna vem de Deus que sempre existiu, conforme está revelado em sua Palavra: Jesus é o verbo de
Deus encarnado, que vive desde a eternidade passada e para sempre (Jo 1.1). A Palavra de Deus é fonte de
vida eterna e abundante em Cristo (Jo 10.10).

O desejo de Deus para a humanidade é a vida eterna

Jo 6.40 – Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.

Deus criou o ser humano para viver eternamente (Gn 2.7 e 3.22), mas por causa do pecado veio a morte a
todos os homens (Rm 6.22,23). A morte é uma realidade humana, mas através de Jesus a vida de Deus Se
manifestou plenamente vencendo a morte (1 Jo 1.2).

Jesus nos garante a vida eterna pela fé

Jo 10.28 – Eu lhes dou a vida eterna, e elas jamais perecerão; ninguém as poderá arrancar da minha mão.
Jo 17.2 – Pois lhe deste autoridade sobre toda a humanidade, para que conceda a vida eterna a todos os
que lhe deste.

Quem tem autoridade sobre a vida e a morte é Jesus (Ap 1.18). Somente através de Jesus podemos nos
aproximar de Deus (Jo 14.6) e receber a vida eterna, em Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida
eterna (1 Jo 5.20).

A vida eterna começa nesta vida através da fé

Jo 4.14 – mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe
der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna.
Jo 4.36 – Aquele que colhe já recebe o seu salário e colhe fruto para a vida eterna, de forma que se alegram
juntos o que semeia e o que colhe.

A vida eterna começa a partir do momento em que passamos a viver para Cristo e morremos para o mundo
e os prazeres da carne (Gl 2.20). Por isso o apóstolo Paulo disse: “para mim o viver é Cristo, e o morrer é
lucro” (Fp 1.21). Então se já estamos em Deus, vivemos para a eternidade.

Após a morte entramos na eternidade

Jo 5.24 – Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e
não será condenado, mas já passou da morte para a vida.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Após a morte esperamos o Juízo Final (Hb 9.27), quando Deus determinará quem receberá a vida eterna
(Mt 25.47) e quem será condenado para a morte eterna (Ap 20.6,13,14). Então a morte é apenas uma
passagem para a eternidade (com Cristo pela fé ou inferno por incredulidade).

A fé na ressurreição dos mortos é uma prova da vida eterna

Jo 6.54 – Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei
no último dia.

Jesus ressuscitará Seus servos para a vida eterna (Dn 12.2). Ao ouvir a voz de Deus chamando, todos os
mortos ressuscitarão (Jo 5.28,29). Devido a esta fé, os primeiros cristãos não tinham medo da morte, sendo
muitos deles martirizados acreditando que ressuscitariam para a vida eterna como Jesus prometeu.

Vida eterna é conhecimento de Cristo

Jo 17.3 – Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

Não existe vida eterna sem Jesus. Enquanto vivemos neste mundo lutamos o tempo todo contra o mal, a
carne e o mundo (1 Tm 6.12), precisamos seguir os conselhos em Judas 1.21 (Mantenham-se no amor de
Deus, enquanto esperam que a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo os leve para a vida eterna).
Através da Palavra de Deus conhecemos sobre a eternidade preparada pelo Senhor para nós. Podemos viver
esta nova vida em Cristo e crer que viveremos para sempre com Deus na eternidade.

III – A MANIFESTAÇÃO DO AMOR DIVINO

16 “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por
meio dele.

- Após todas essas explicações importantes que obtivemos, vamos adentrar especificamente na exposição
daquele que é chamado na teologia de “resumo do Evangelho”. Este é sem dúvida alguma o texto mais
conhecido e mais repetidamente citado na Bíblia inteira. Lutero chamou-o de “Evangelho em miniatura”.
João introduziu em parte no verso 15, aquilo que procura detalhar no verso 16, a fim de que nós possamos
entender claramente, o que Nicodemos também precisou acerca da obra divina quanto à redenção da
humanidade caída.

É justamente neste verso 16 que temos a oportunidade de compreender (ou pelo menos tentar) as 13 maiores
verdades encontradas nas Escrituras Sagradas:

• O maior Ser: Porque Deus...


• A maior virtude: amou...
• A maior abrangência: o mundo...
• A maior medida: de tal maneira...
• A maior atitude: que deu...
• O maior presente: o seu filho unigênito...
• O maior alvo: para que todo...
• O maior Salvador: o que nele...
• A maior resposta: (crer) crê...
• A maior diferença: não pereça...
• O maior tesouro: mas tenha...
• A maior salvação: a vida eterna...
• A maior decisão: eu e você temos que dar esse passo e receber o que Deus já fez por nós!

36
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

João procura ensinar neste verso que, existe um Deus pessoal. Quando Ele diz que: “Deus amou”, ele
afirma que Deus é um ser pessoal. A força da gravidade, a luz, a energia, os átomos não amam, pois são
abstratos, impessoais. Amar é uma característica de quem é pessoa. Pessoas é que têm pensamentos,
vontades, decisões e sentimentos. Deus amou porque Ele é um Deus pessoal.

O ser humano é alvo do amor divino. Quando João destaca que Deus “amou o mundo de tal maneira”,
significa que Deus não apenas criou o ser humano como o ápice da criação, mas que, mesmo depois da
queda, de tal maneira Ele manteve o Seu interesse em nós que à compreensão humana é difícil de entender!

O filho que foi entregue ou oferecido ao mundo como prova de amor, é o próprio Deus. Sendo Jesus
unigênito, é o único gerado. Enquanto que os homens foram criados, Jesus foi gerado. Quando Deus cria,
cria outra substância, por exemplo, do pó da terra. Quando Deus gera, gera da mesma substância, e gerou
apenas uma vez. Jesus tem a plenitude da natureza divina. Jesus, portador da natureza divina, é Deus!

O acesso ao presente de Deus só é possível através da fé em Jesus. Quando João destaca: para todo o que
nele crê, isso significa que crer é diferente de ter fé. Crer é considerar verdadeiro; ter fé é sintonizar-se
interativamente. Por exemplo: cremos que existem ondas curtas e médias, VHF e UHF no ar, mas isso não
faz diferença enquanto não as sintonizamos interativamente, permitindo-nos ver e ouvir o conteúdo delas.
Crer em Jesus para receber a salvação, o presente divino, para receber vida com qualidade divina, é ter fé.
Sintonizar-se interativamente é relacionar-se com Jesus. Somente através da sintonia interativa com Jesus
podemos experimentar essa vida com qualidade divina!

De acordo com João, Deus enviou Seu filho com um objetivo inicial: livrar-nos de perecer eternamente.
Como já vimos anteriormente, vida eterna não se refere ao tempo, mas à qualidade de vida, nesse caso, vida
com qualidade divina. Esta vida se manifesta em termos práticos em nosso espírito vivificado pelo Espírito
Santo; se manifesta em nossa alma, transformando nossas mentes, nossas decisões e nossas emoções; e,
finalmente se manifesta em nosso corpo, através de um viver comportamental diferenciado, demonstrando
a transformação interior.

Sobre a descrição da missão de Jesus, é importante considerarmos a seguinte observação:

Deus não é um soberano cruel e severo, desejoso de despejar Sua ira sobre a humanidade. Seu
coração está cheio de amor e ternura para com os homens e ele pagou o preço máximo para poder
salvá-los. Ele poderia enviar ...Seu filho ao mundo para que julgasse o mundo, apenas, mas não
fez isso. Pelo contrário, Ele O enviou aqui inicialmente para sofrer e morrer para que o mundo
fosse salvo por ele. A obra do Senhor Jesus na cruz era de tamanho valor que todos os pecadores
em toda parte poderiam ser salvos se O aceitassem.

Para refletir e debater: Porque você acha que mesmo diante da expressão de um amor tão grandioso como
o de Deus ao enviar Jesus Cristo como único meio de ser salva, há tantas pessoas que O rejeitam, mesmo
sabendo que rejeitá-Lo é decretar a própria sentença de morte eterna?

IV – A MANIFESTAÇÃO DA JUSTIÇA DIVINA

18 Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do Filho
Unigênito de Deus.
19 Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram as trevas, e não a luz, porque as suas
obras eram más.

Os versos seguintes que vamos trabalhar a partir de agora, deixam claro que João não teve apenas a intenção
de nos apresentar o proposito central da vinda de Cristo e de Seu sacrifício vicário que é a salvação daqueles
que creem nEle. A ideia apresentada pelo evangelista ao relatar o encontro de Jesus com Nicodemos foi
também conscientizar todo aquele que não passou pelo processo de novo nascimento acerca das
consequências eternas que permanecem sobre a vida de cada um deles caso não creiam em Cristo.
37
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O conceito de justiça divina pode ser claramente entendido tanto na salvação pela fé em Cristo como pela
condenação devido à incredulidade. Neste caso, a justiça divina quanto à salvação tem como fundamento a
obra de Cristo, a qual é imputada ao pecador arrependido, justificando-o de sua culpa condenatória (Rm
3.24-28; 5.9-11). O mérito pela salvação é exclusivamente de Cristo. Quanto à justiça divina aplicada ao
pecador impenitente, responsabiliza-o direta e meritoriamente, ou seja, o homem se torna culpado por não
receber os méritos salvíficos de Cristo ao crer nEle, sendo então, condenado.

A razão do julgamento condenatório divino, contrasta com a manifestação do amor divino expresso no
verso 16, como já vimos anteriormente. Enquanto Deus manifesta Seu amor incondicional, enviando Seu
único filho ao mundo para salvá-los da condenação eterna mediante a fé em Cristo, o mundo que deveria
amar a Deus semelhantemente em uma atitude sacrificial e incondicional, decide deliberadamente amar as
trevas e não a luz do mundo – Cristo.

O julgamento divino se manifestou também na vinda de Cristo quando o novo nascimento não se tornou
uma opção e necessidade para aqueles que infelizmente não reconheceram Jesus como Salvador e Senhor
de suas vidas.

1 Jo 5.10-12 – 10 Quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho. Quem não crê em Deus
o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca de seu Filho. 11 E este é o testemunho:
Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. 12 Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem
o Filho de Deus, não tem a vida.

Então a justiça de Deus é expressa em Seu amor, bem como o amor de Deus é expresso em Sua justiça. Isso
fica claro quando olhamos para Cristo. O apóstolo Paulo explica que Deus enviou a Cristo “como sacrifício
para a propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça” (Rm 3.25).

A justiça de Deus jamais deve ser um motivo de descontentamento para os crentes, mas um motivo de
conforto e gratidão. Se Deus não fosse justo, não teríamos qualquer base para confiar n’Ele, e não haveria
qualquer esperança de que o bem triunfará por toda a eternidade. Mas a boa notícia é que Deus é
perfeitamente reto, e todos os Seus caminhos são justos (Dt 32.4). Então louvemos ao Senhor todos os dias
por Sua justiça perfeita; e que jamais esqueçamos que a vontade de Deus para nós é que também sejamos
justos (Mq 6.8).

V – FRUTOS DA INCREDULIDADE E DA FÉ

20 Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam manifestas.
21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se veja claramente que as suas obras são
realizadas por intermédio de Deus”.

João encerra, portanto, o assunto abordado por Jesus com Nicodemos sobre a necessidade de nascer de
novo através da fé em Cristo como o unigênito de Deus, o amor divino materializado em carne, revelando
Seu sacrifício vicário como único meio para herdar a vida eterna. De acordo com o evangelista, a
manifestação do amor redentor e da justiça divina condenatória, nada mais são do que “dois lados de uma
mesma moeda”. As boas novas do Evangelho só fazem sentido a partir da realidade de uma condenação.

Os versos 20 e 21 procuram fazer um contraste entre crentes e incrédulos, identificando-os através de uma
aproximação ou afastamento à pessoa de Cristo. Os frutos da incredulidade ou da fé se resumem justamente
nesta postura que pode ser retratada por uma busca por intimidade/relacionamento ou distanciamento de
Cristo.

Os frutos da incredulidade, portanto, se resumem em atos ou práticas reprováveis, as quais se forem


expostas pela verdade de Cristo nos trarão vergonha e humilhação pública. (Lc 12.2,3 – 2 Não há nada
escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. 3 O que vocês

38
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

disseram nas trevas será ouvido à luz do dia, e o que vocês sussurraram aos ouvidos dentro de casa, será
proclamado dos telhados.).

Os frutos da fé em Cristo por sua vez, são resumidos em obras de justiça, as quais são motivos de orgulho
e glória à Deus. Esses frutos identificam os verdadeiros seguidores de Cristo, os quais sempre procuram se
aproximar dEle em santidade e adoração. O amor de Deus compartilhado por Cristo a nós de forma
sacrificial e incondicional faz com que nossas ações, pensamentos, sentimentos, intenções, desejos, etc.,
sejam obras que glorificam a Deus (1 Co 10.31; Cl 3.17).

CONCLUSÃO

Amor e justiça fazem parte do caráter imutável de Deus e são inseparáveis. A manifestação do amor e da
justiça divina são perfeitamente revelados em Cristo. Na vida e morte de Jesus, encontramos a expressão
completa da justiça de Deus (o pecado é punido) e do amor fiel (Deus deu o Seu próprio Filho para levar o
castigo).

O amor e a justiça têm trabalhado juntos no tratamento que Deus dispensa à humanidade. A justiça de Deus
exige que a pena do pecado seja paga. O amor de Deus, porém, deseja que sejamos restaurados à comunhão
com Ele. A oferta de Jesus Cristo como expiação pelo pecado significa que tanto a justiça como o amor de
Deus são mantidos. O amor e a justiça não são dois atributos separados que competem entre si. Deus é justo
e amoroso, e Ele mesmo deu o que exige.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 6 – FONTE DA VIDA PARA UMA ALMA SEDENTA

Texto Base: Jo 4.1-26

1 Os fariseus ouviram falar que Jesus estava fazendo e batizando mais discípulos do que João,
2 embora não fosse Jesus quem batizasse, mas os seus discípulos.
3 Quando o Senhor ficou sabendo disso, saiu da Judéia e voltou uma vez mais à Galiléia.
4 Era-lhe necessário passar por Samaria.
5 Assim, chegou a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José.
6 Havia ali o poço de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se à beira do poço. Isto se deu por volta do
meio-dia.
7 Nisso veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: “Dê-me um pouco de água”.
8 (Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida.)
9 A mulher samaritana lhe perguntou: “Como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água
para beber?” (Pois os judeus não se dão bem com os samaritanos).
10 Jesus lhe respondeu: “Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria
pedido e ele lhe teria dado água viva”.
11 Disse a mulher: “O senhor não tem com que tirar água, e o poço é fundo. Onde pode conseguir essa
água viva?
12 Acaso o senhor é maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, bem
como seus filhos e seu gado?”
13 Jesus respondeu: “Quem beber desta água terá sede outra vez,
14 mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se
tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”.
15 A mulher lhe disse: “Senhor, dê-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise voltar
aqui para tirar água”.
16 Ele lhe disse: “Vá, chame o seu marido e volte”.
17 “Não tenho marido”, respondeu ela. Disse-lhe Jesus: “Você falou corretamente, dizendo que não tem
marido
18 O fato é que você já teve cinco; e o homem com quem agora vive não é seu marido. O que você acabou
de dizer é verdade”.
19 Disse a mulher: “Senhor, vejo que é profeta.
20 Nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se
deve adorar”.
21 Jesus declarou: “Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem
neste monte, nem em Jerusalém.
22 Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação
vem dos judeus.
23 No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o
Pai em espírito e em verdade. São estes os adoradores que o Pai procura.
24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.
25 Disse a mulher: “Eu sei que o Messias (chamado Cristo) está para vir. Quando ele vier, explicará tudo
para nós”.
26 Então Jesus declarou: “Eu sou o Messias! Eu, que estou falando com você”.

INTRODUÇÃO

P or quanto tempo você já conseguiu ficar sem comer ou beber água? Não vivemos sem oxigênio, água
ou alimentos. Quando um destes falta ou escasseia, a sobrevivência fica seriamente ameaçada.
O menor “estoque” é o de oxigênio: o corpo humano não consegue ficar mais de 4 minutos sem
oxigênio; mais de 3 dias sem água ou mais de 50 dias sem alimentos. Estes 3 “nutrientes” são absolutamente
essenciais. O corpo humano adulto tem em sua composição 50-60% de água, que é vital para a circulação
e funcionamento de todos os órgãos. Em crianças, a porcentagem de água corpórea é maior – em torno de

40
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

86% – e nos adolescentes de 14 anos esta porcentagem é de 75%, aproximadamente. Por isso não
conseguimos ficar mais de 3 a 5 dias sem água. Água é essencial à vida humana como podemos ver.

Nosso estudo de hoje, nos mostrará também a importância da água para a manutenção vida. Não
necessariamente a água enquanto uma substância que é composta quimicamente por dois átomos de
hidrogênio e um átomo de oxigênio ou a vida no sentido biológico. Nosso objetivo neste estudo é
considerarmos a água como elemento essencial a vida apenas como uma metáfora usada por Jesus, o Mestre
por excelência, para apontar para a Sua obra promotora de vida abundante na alma daqueles que embora
vivam biologicamente, por outro lado, se encontram mortos espiritualmente.

Cristo será apresentado neste encontro com a mulher samaritana como a única e suficiente fonte da água
viva para almas que se encontram sedentas.

A saída de Jesus da Judéia...

• Os fariseus souberam de uma possível cisão dentro do grupo de João, devido à diminuição dos seus
seguidores, o que não procedia. A preocupação deles é que pudessem surgir novos grupos políticos,
com o propósito de estabelecer um falso “messias”.

• Desta forma eles policiavam os grupos, que existiam em Israel, e não somente isso, mas tinham a visão
de tirar proveito da “rivalidade” entre eles, usando-a como oportunidade para jogar um grupo contra
o outro. Assim, os próprios grupos se autodestruiriam.

• É interessante notar que a notícia de que os discípulos de João estavam deixando-o para seguir Jesus,
chegou aos ouvidos dos fariseus, e quando Ele tomou ciência disso, deixou imediatamente a Judéia,
não dando espaço para se fazer uma divisão no ministério do Reino de Deus.

Para refletir e debater: Será que temos a mesma percepção e atitude de Jesus quando há qualquer indício
de situações que venham a possibilitar uma divisão entre o povo de Deus? Há de nossa parte iniciativa para
buscar a unidade entre os irmãos ou um espírito de discórdia, buscando atrair seguidores pessoais?

A necessidade do trajeto por Samaria...

O verso 4 diz: “Era-lhe necessário passar pela Samaria”. Porque Ele tinha que passar pela Samaria?
Geograficamente o caminho mais curto, era o que passava pela Samaria. Mas para o judeu, naquela época,
o caminho natural era se desviar dessa rota, por causa da rixa que havia entre judeus e samaritanos. Por que
os judeus não passavam pela Samaria?

A Palestina, nos tempos do Senhor Jesus, estava dividida em três províncias: Galiléia, ao norte, Judéia, ao
sul, e Samaria, entre as duas. Uma viagem, da Judéia à Galiléia, poderia durar três dias (se o viajante
passasse pela Samaria) ou seis dias se, evitando a passagem pela Samaria, cruzasse o rio Jordão, seguindo
pela margem oriental, cruzando novamente o rio ao norte da Samaria, chegando, assim à Galiléia. Devido
à inimizade entre os judeus e os samaritanos, muitos judeus usavam a rota mais longa para evitar a passagem
pela Samaria.

Essa inimizade tem suas raízes nos anos 720 a.C., quando o rei da Assíria derrotou Samaria, deportou os
israelitas para a Assíria (2 Rs 17.6) e trouxe pessoas da Babilônia e de outros países pagãos, estabelecendo-
os nas cidades da Samaria, para desalojar os israelitas, de acordo com 2 Reis 17.24. O casamento entre
esses estrangeiros e os israelitas que haviam escapado do exílio, contribuiu para as tensões entre samaritanos
e israelitas.

Mais tarde, sob a liderança de Esdras e Neemias, quando os israelitas regressaram do exílio, os samaritanos
quiseram participar da reedificação do templo de Jerusalém; porém, como eram odiados, sua oferta foi
veementemente rechaçada. Essa inimizade aumentou quando, em 450 a.C, o filho de Eliasibe, o sumo
41
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

sacerdote, se casou com a filha de Sambalate, o heronita (Ne 13.28) e, ao negar divorciar-se de sua esposa
estrangeira, foi proibido aproximar-se do templo do Senhor em Jerusalém. Além disso, foi induzido por
Sambalate a construir um templo especial para os samaritanos sobre o Monte Gerizim. Desde então,
adoraram em seu próprio monte, e isso levou a mais desprezo da parte dos judeus.

A religião samaritana se assemelhava ao judaísmo, mas nos pontos chaves haviam tomado seu próprio
caminho. Aceitavam somente os primeiros cinco livros da Torá, e insistiam que o Monte Gerizim, não
Jerusalém, era o lugar apropriado para adorar a Deus. Afirmavam, também, que Deus havia pedido a Abraão
que sacrificasse seu filho Isaque no Monte Gerizim e não no monte na terra de Moriá, como está escrito em
Gn 22.2.

Os samaritanos insistiram que poderiam adorar ao Deus único em Samaria; os judeus mantiveram que isso
somente poderia realizar-se no templo de Jerusalém. Por tanto, Jesus, como judeu, está em uma região em
conflito com judeus e isolada deles. Por causa das leis acerca da pureza ritual e da comida kosher (limpa)
os samaritanos e os judeus não estavam comendo juntos. Tudo isso desempenhou um papel no diálogo entre
Jesus e a mulher samaritana.

Mesmo assim, o texto nos diz que Jesus tinha que passar por Samaria. Não por motivos geográficos ou
por hábito de fazer aquele caminho, mas porque tinha algo importante a fazer ali de acordo com Seu plano
eterno quanto a salvação e redenção da humanidade.

O cenário

Para essa viajem, seguiram até a região de Sicar, que se situa entre os montes Ebal e Gerizim. Para Jesus e
Seus discípulos chegarem até ali, saíram por volta das 6 horas da manhã, e chegaram provavelmente ao
meio dia. Andaram uns 40 km, num lugar extremamente seco, por cerca de 6 horas. Devemos considerar
que Israel é muitas vezes mais seco que nosso país, e assim sendo, é muito fácil perder água do organismo,
numa caminhada de 40 km, debaixo do calor da Palestina, um lugar árido e seco. Cerca de 800 m antes de
Sicar, Jesus chega a um poço.

Confira os versos de 5 a 8:

5 Assim, chegou a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José.
6 Havia ali o poço de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se à beira do poço. Isto se deu por volta do
meio-dia. 7 Nisso veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: “Dê-me um pouco de água”. 8
(Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida).

Havia um poço ali, cavado há aproximadamente 1000 anos antes da vinda do Senhor Jesus, que até aqueles
dias ainda estava dando água para os descendentes de Jacó, e para o seu gado. A história desse encontro de
Jesus com aquela mulher, à beira desse poço, traz alguns elementos bastante comuns à vida daquela época,
mas, por outro lado, traz alguns detalhes totalmente fora do padrão comum. Vamos observar 3 questões que
foram abordadas por Jesus:

I – AS 3 QUESTÕES ABORDADAS POR JESUS

1. A QUESTÃO DAS ÁGUAS...

Jesus havia andado 6 horas, por 40 km, e o apóstolo João (destacando a humanidade de Jesus) diz que Ele
estava cansado, com fome, e certamente com muita sede. Não fica escondido o aspecto do limite da
humanidade do Senhor. Não é negada a existência corpórea de Jesus, nem as necessidades do Seu corpo.
Os aspectos do corpo de Jesus não eram menos santos por ser do corpo. Assim como é conosco. O que
provém do corpo não é menos santo ou espiritual. Esse Deus que se transforma em homem tem sede, fome,
está cansado, precisa se sentar, e se encontra com uma mulher na beira daquele poço.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Naqueles dias, era próprio das mulheres tirar água do poço. E havia alguns detalhes, primeiro, elas preferiam
as horas mais amenas e frescas do dia. Segundo, elas sempre iam em grupo. Terceiro, havia um outro poço
dentro da cidade de Sicar. Porém, essa samaritana foi tirar água ao meio dia, sozinha, e andou 800 m para
ir aquele poço. Isso tudo indica que ela desejava evitar o contato com as outras mulheres. Certamente, era
uma pessoa colocada à parte na sociedade.

Quando vemos Jesus dizer que: “era-lhe necessário passar por Samaria”, com certeza Se refere a ter
necessidade de um encontro com aquela mulher desprezada por todos, marginalizada a ponto de evitar a
hora e o lugar onde todas as outras iam em busca da água. Nesse momento, na beira daquele poço, Jesus se
volta àquela mulher, e diz: “Dá-me de beber!”

Diálogo Estranho

Primeiro, devemos compreender que havia alguns princípios judaicos de tratamento, de um homem para
com uma mulher, mas não existia qualquer princípio de tratamento em público, (para qualquer mulher que
fosse). Isso porque os rabinos diziam que as mulheres eram totalmente inábeis para compreender assuntos
teológicos e religiosos.

Estava escrito na lei rabínica: “É melhor você queimar a lei do que tentar ensiná-la para uma mulher”.
Além disso, era totalmente inadequado conversar com uma mulher em público, ainda que fosse sua mãe,
ou irmã. E, por se tratar de uma mulher samaritana, isso ganhava proporções ainda maiores. Cinquenta anos
após os tempos de Jesus, foi estabelecido uma nova lei sobre o contato com mulheres samaritanas (que
refletia o pensamento já existente nos dias de Jesus). Eles classificavam uma mulher samaritana como
“perpetuamente impura”. De modo que se você se encontrasse com uma delas, seria considerado impuro
e contaminado.

Embora tenha mandado Seus discípulos para a cidade, permaneceu ali no poço. E ao dirigir-se àquela
mulher diz: “Dá-me de beber”. A resposta dela vemos no verso 9: Como sendo tu judeu, pedes de beber a
mim, que sou mulher samaritana? Pois os judeus não se dão com os samaritanos.

Parece que a ideia que ela quer dar é a seguinte: “Os judeus não tem nada em comum com os samaritanos,
portanto, se eu pegar água para você com a minha vasilha, a única que possuo, e dela você tomar, será
classificado como imundo. Como poderia você, um senhor judeu, pedir água para beber da vasilha de uma
mulher e samaritana?”. Ela não se referia tanto ao fato de que eles não se davam, porque não tivessem
relacionamento, ou houvesse antipatia e adversidade. Realmente isso tudo havia, mas o que ela quer dizer
é: “Se eu der água para você na mesma vasilha que eu bebo, você vai se tornar imundo”. Jesus, de fato
estava sedento, mas certamente não falou com aquela mulher por causa disso, pois poderia dessedentar-se
dentro da cidade.

O ponto chave no encontro...

Creio que a questão principal que envolve o início deste diálogo é que de fato, o “impuro” representado na
samaritana, não tem nada que possa oferecer de si próprio para Deus para receber algo em troca. Como o
próprio profeta Isaías diz em 64.6: Somos como o impuro todos nós! Todos os nossos atos de justiça são
como trapo imundo. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniquidades nos levam para longe.
A proposta central da ida de Jesus à Samaria é que Ele (santo e puro) pode oferecer a todos os impuros para
torná-los santos e purificados do pecado.

A Oferta de Água Viva

Por ela se admirar, Jesus lhe diz, no verso 10: “Se conheceras o dom de Deus, e quem é o que te pede, dá-
me de beber, tu lhe pedirias e Ele te daria água viva”. Ele está dizendo: “se você pedir a mim, eu posso
lhe dar uma água fresca, abundante, que não se finda. Essa água do poço você vai beber e vai voltar a ter
sede”.
43
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Na verdade, Ele está usando uma linguagem paralela à água fresca, que alimenta, refresca, alivia, e dá vida,
significando que essa vida que ela levava, não a satisfazia. E então lhe oferece uma outra água, que, se ela
aceitasse, nunca mais voltaria a ter sede. Porém, ela não conseguiu entender, e replicou: Senhor, tu não tens
como tirá-la, e o poço é fundo (aproximadamente 20 m). És tu maior do que o nosso pai Jacó?

Isso significava: “Esse poço há mais de 1000 anos dessedenta o nosso povo e o nosso gado. Como o senhor
tem outra água, se não pode nem tirar água deste? Se tem uma água superior, como haverá de tirá-la?”.
Provavelmente ela olhou para Jesus cansado, sedento e sentado, com seus pés marcados pela caminhada
que fez, empoeirado, e pensou: “O que esse homem poderia oferecer a mim? Será que ele é maior que
quem fez esse poço (Jacó)?”.

Jesus volta novamente para a água, nos versos 13,14: 13 Jesus respondeu: “Quem beber desta água terá
sede outra vez, 14 mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que
eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna”.

Ele tinha uma água abundante para lhe dar. Para nós, talvez essas expressões não façam sentido, mas para
um samaritano isso fazia muito sentido. Porque um samaritano, diferentemente dos judeus, só aceitava a
revelação contida nos primeiros cinco livros da Bíblia, o Pentateuco. Eles não aceitavam nenhum outro
profeta, exceto um que viria, no futuro, que seria o seu “Taheb” (o Messias que esperavam).

Eles conheciam muito bem um versículo de Números 24.7, que dizia que quando o Messias (Taheb) viesse,
o seu balde iria estar pingando água. Ele estaria trazendo água em abundância. Na verdade, Jesus está dando
uma indicação de que ela estava falando com o Messias: Eu tenho uma fonte de água viva. Não é essa água
física. É uma água que vai dar satisfação para a sua alma, para o seu coração. Vai dar sentido à sua vida.
Se você beber da água que eu estou para te dar, você vai provar da presença do Espírito de Deus na sua
vida. E isso vai fazer de você uma pessoa marcada de satisfação, de alegria, e gozo pela vida eterna.

No verso 15, percebemos que novamente ela não estava compreendendo bem, pois pede que Ele lhe dê
dessa água, para que não mais tenha sede, e não tenha que voltar ao poço para buscar. Parece achar muito
bom não ter mais que andar 800 m até o poço, para poder beber água. Ainda não compreendia o que o
Senhor queria fazer.

2. A QUESTÃO DE SEU CASAMENTO...

Por que este Pedido?

Nesse ponto, então, Jesus entra no segundo ato dessa conversa: uma discussão sobre o seu casamento. Pode
parecer até deselegante da parte de Jesus, quando Ele pede a ela que vá chamar o seu marido. Mas para a
sociedade judaica, onde uma mulher deveria perguntar ao marido todas as dúvidas que tivesse sobre um
assunto (como pode ser visto em vários trechos do Novo Testamento), era encarada como normal essa
sugestão de Jesus.

Porém, creio que a verdadeira intenção do Mestre é aprofundar o assunto, já que não estava sendo bem
compreendido com a figura da água. Arguida a respeito do seu marido, ela responde que não tem marido.
E Ele replica: “Não tenho marido”, respondeu ela. Disse-lhe Jesus: “Você falou corretamente, dizendo
que não tem marido. O fato é que você já teve cinco; e o homem com quem agora vive não é seu marido.
O que você acabou de dizer é verdade”. (Jo 4.17,18). (É possível que fosse até marido de outra mulher,
ou que de fato não estivessem casados).

Deus sabe tudo

O que Jesus disse a ela demonstrou que Ele realmente a conhecia dentro do seu coração, do seu íntimo, sem
disfarces exteriores. Jesus desejava aprofundar a conversa e levá-la para uma realidade que Ele queria ver
acontecendo na vida daquela mulher.
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Para Ele era necessário passar por Samaria, porque o Deus Eterno, feito carne, abundante em graça e
misericórdia desejava Se revelar a uma samaritana. Mesmo que ela tivesse uma moral bastante duvidosa.
A própria sociedade de Samaria a marginalizava. Ela tinha que buscar água sozinha, na hora mais quente
do dia, no poço distante. Ainda assim Ele precisava conversar com ela. Da mesma maneira que Ele sabia o
que se passava na vida e no coração daquela mulher, Ele sabe o que se passa no coração de cada um de nós
hoje (Sl 139.2,4,7-10).

Essa mulher está diante de um homem perante quem nada está encoberto, pois é um homem-Deus que
enxerga todas as coisas que se passam no coração de cada um de nós. Ele conhece a conduta de cada um,
como a daquela mulher. Como vimos anteriormente estudando João capitulo 3, os homens odeiam a luz. E
quando Jesus derramou a luz sobre ela, dizendo: “Eu sei quem você é, e o que vive e faz”, sua reação foi
reconhecer que Ele realmente era profeta, e então mudou de assunto. Ela não quis aprofundar esse assunto
com Jesus, que a colocava exposta. Da mesma forma, nós, ao sermos confrontados com a luz reveladora do
Espírito Santo, somos incomodados ao localizar nossos erros.

Para refletir e debater: Porque será que tendemos a “mudar o rumo” das conversas que de alguma forma
nos pressionam para uma avaliação de nossa conduta reprovável por Deus? Geralmente, o desconforto
interno gerado por conversas espirituais, tendem a conduzir-nos ao abandono de uma vida de pecado (sede
espiritual) para vivermos uma vida espiritual transbordante!

3. A QUESTÃO DO LUGAR DE ADORAÇÃO

Gerizim X Jerusalém

Ela começou então a sair pela tangente: “Nossos pais adoravam neste monte...”. Entra o terceiro ato da
conversa: uma discussão sobre o lugar de adoração, que abordaremos mais tarde. Porém agora, vejamos o
que se passa no coração dela. Reconhecer que Jesus era profeta, tinha um grande significado, pois os
samaritanos não aceitavam nenhum dos profetas que vieram após Moisés.

Eles esperavam um profeta que “viria”. E ao receber as revelações sobre a sua vida, de alguém que não
convivia com ela, começa a questionar-se: “Não será este homem o profeta esperado?” Por isso, fez a
seguinte pergunta: “Qual o lugar de adoração? Nossos pais dizem que temos que adorar em Gerizim” (cf.
4.20) (nesse monte, Abraão construiu um altar e adorou a Deus, assim como Jacó e depois Josué, após
cruzar o rio Jordão, no passado).

No monte Gerizim foram lidas as bênçãos para o povo, e em Ebal as maldições. Em Deuteronômio 12.5
descobrimos que havia um lugar específico para a adoração, e no Pentateuco samaritano, foi colocado junto
a esse trecho que esse lugar era Gerizim (“onde os nossos pais adoraram” – Jo 4.20).

Mas os judeus dizem que é em Jerusalém... (cf. 4.20) questionou a samaritana. Em termos lógicos, essa
mulher tinha toda a razão. Não havia nenhum respaldo bíblico para dizer que esse lugar era Jerusalém. Jesus
não estava interessado em discutir qual seria o lugar correto para adoração. Por isso respondeu: “Creia em
mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém.
(cf. 4.21). Isso não significava que ela conhecia muito bem os assuntos teológicos da sua época, mas era
um assunto que todo o povo discutia normalmente, como parte da sua vida.

Já Chegou a Hora

Jesus responde: 21 Jesus declarou: “Creia em mim, mulher: está próxima a hora em que vocês não
adorarão o Pai nem neste monte, nem em Jerusalém. 22 Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem;
nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. 23 No entanto, está chegando a hora, e
de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes
os adoradores que o Pai procura. (Jo 4.21-23).

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Em outras palavras, é secundária a discussão sobre qual igreja você frequenta. Essa parte dos rituais aos
quais você está acostumado, não é o importante. O que importa é uma adoração autêntica, genuína, de
coração. Era isso que Jesus estava revelando a ela. De novo ela dribla Jesus: “Eu sei que o Messias
(chamado Cristo) está para vir. Quando ele vier, explicará tudo para nós”. (Jo 4.25). Aquela mulher tinha
a característica de não se deixar ensinar. Ela não quis entrar numa discussão que não conhecia o assunto, e
preferiu soltar uma pequena frase de efeito, fazendo parecer que conhecia tudo.

Às vezes nós mesmos somos tentados a não demonstrar nossa ignorância sobre algo. Conseguimos disfarçar
bem, mas realmente desconhecemos o que tratamos. Não seria melhor sermos bem sinceros, pedindo
esclarecimentos sobre esse assunto? Assim fazendo, poderíamos deixar de ser ignorantes. Quando
disfarçamos, se torna mais difícil sararmos nossa ignorância, e foi o que a samaritana estava fazendo. Neste
momento, Jesus Se revelou a ela, afirmando ser o Messias, o “Taheb”, o Cristo. Naquele momento ela não
entendeu, provavelmente só o fez depois.

II – UMA NOVA VIDA DISPONÍVEL PARA UMA ALMA SEDENTA

Quem era esta mulher?

Aqui, começamos a conhecer essa mulher um pouco mais. Primeiro, creio que ela era bastante insegura
emocionalmente. Para os padrões judaicos da época, mais que 2 casamentos já era um absurdo, e ela já se
casara 5 vezes. Agora possuía um amante, e Jesus nem mencionou outros namorados ou amantes que ela
possa ter tido. Alguém que vem de 5 casamentos desfeitos, provavelmente é insegura, quebrada e
fragmentada sentimental/afetivamente.

Segundo, ela é totalmente sozinha. As mulheres da sua vila não andavam com ela. Evitavam o lugar e a
hora onde ela estava. Por isso ela andou 800 m para buscar água. Além disso, um terceiro ponto que
observamos: ela era extremamente superficial, por ter medo de revelar algo da sua fragilidade, da sua
fraqueza, dos seus pecados ou temores. Sem dúvida, essa era uma mulher sedenta. Sedenta por um
relacionamento conjugal que realmente a satisfizesse e por ser feliz consigo mesma, independentemente
das circunstâncias. Essa mulher, queiramos ou não, representa todos nós, num certo sentido.

Possuía a experiência e a conclusão prática de Eclesiastes: “Tudo isto é vaidade e correr atrás do vento”
(2.26). Ela estava frustrada, mesmo podendo ser considerada como uma mulher liberal, “pra frente”. Quem
sabe fosse até uma mulher bonita. Mas quando encostava sua cabeça no travesseiro, sentia um vazio, uma
falta de sentido, de realização e de satisfação.

Talvez fosse uma espécie de pessoa, que evitaríamos se pudéssemos. Pois, envolver-se com alguém assim
dá trabalho e compromete. Mas o Deus Eterno, que Se fez homem, lá na Judéia resolveu: Eu tenho que
passar lá, em Samaria para encontrar uma mulher que é considerada, por nós judeus, escória da
sociedade.

Quem é este Jesus?

Apesar de ser Jesus quem Ele é, Ele se relacionou com aquela mulher. Apesar de ser Deus, ao invés de
condenar e agredir, Se dirigiu a ela com uma motivação amorosa. Foi e apresentou como o Messias, que
poderia tirá-la da futilidade da vida que levava, sem conteúdo, essência ou sentido.

Assim, Ele lhe diz: Eu sou o Messias. Sou aquele que o Pentateuco anunciou de quem o balde estava
vasando água, para matar a sede de quem está sedento.

O que Ele oferece?

No verso 10 Ele diz que tem para oferecer a eles, (os samaritanos) um presente de Deus. No verso 14 diz
que a água que lhe oferece, quando chegar a ela se caracterizará em uma fonte, que jorrará pela vida eterna.
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Isso significa que ela poderia ter uma vida não só que dure eternamente, mas como uma fonte da qual pode-
se desfrutar o seu frescor, sua vida, e sua alegria. Jesus está dizendo que o que Ele oferece está acessível a
todos.

Ele desviou o Seu caminho para se encontrar com essa mulher, pois Ele tinha e tem os olhos voltados para
pessoas. Não para aquelas que normalmente valorizamos, mas para aquelas que são “problemas”, e
preferimos deixar de lado.

É possível que na condição de filhos de Deus, em vez de estarmos mantendo a comunhão com Ele a cada
dia, para que haja um fluxo das provisões de Deus para nós, estejamos deixando essa fonte e cavando
algumas fontes próprias, crendo que nós mesmos seremos nossos nutridores. De repente, percebemos que
nessa caminhada, mais uma semana, um mês, ou um ano se passa, sem desfrutar da vida que o Senhor tem
para nós. E chegamos à conclusão que nossa vida cristã é uma desgraça. Por que não desfrutamos daquilo
que no passado foi tão real?

Certamente, quando Jesus falou de uma fonte a jorrar para vida eterna, dizia do Espírito de Deus habitando
em nós, constantemente nos nutrindo de gozo e da Sua Vida. Como é possível estancar essa Fonte? É
possível estancarmos, ou liberarmos essa Fonte em nossas próprias vidas. Para liberarmos, é necessário que
confessemos nossos pecados nominalmente, cessando o costume de pedir perdão a Deus pela “multidão
dos pecados”. Devemos, ao contrário disso, reconhecer objetivamente qual foi o nosso erro, e confessar
isso ao Senhor.

Devemos tratar o pecado como pecado, não racionalizando desculpas para ele, pois na medida que o
deixamos permanecer ele vai interrompendo e criando obstáculos nessa “Fonte a jorrar para a Vida
Eterna”.

Não somente confesse pecados, mas trabalhe preventivamente contra eles. O salmista nos diz: Escondi a
Tua Palavra no meu coração, para não pecar contra Ti (Sl 119.11). Firme essa Palavra dentro do seu
coração. Memorize-a. Estude-a. Reflita e medite nessa Palavra, ao se levantar, ao se deitar, ao andar pelo
caminho, todo o tempo. Essa é a exortação das Escrituras, e por isso, o salmista diz que ela é melhor que
ouro e que o mel. Quer desfrutar dessa fonte, ou voltar a desfrutar dela? Então trate seriamente o pecado.

Se quisermos voltar a desfrutar dessa fonte, devemos aprender a ouvir o que Deus fala, sem protelar. As
Escrituras dizem que não apaguemos o Espírito. Deus deixou claras orientações para nós, portanto, não as
desprezemos, ou protelemos em obedecê-LO, deixando para depois e racionalizando.

Muitas vezes, por causa do descaso que não conseguimos mais discernir qual é a voz de Deus. Embora
esteja escrito, é como se tivesse sido apagado, tamanha a nossa insensibilidade às coisas de Deus. Para que
não seja assim, estejamos dispostos a obedecer o dono da fonte assim que Ele falar.

E, por fim, é possível deixar de desfrutar dessa fonte quando deixamos de depender dela. Creio que um dos
principais perigos da vida cristã é percebermos que não temos condições de executar o que Deus quer, e
então paramos por aí. Simplesmente desistimos. Porém, devemos nos aproximar do Senhor, que tem todas
as provisões, e sinceramente confessar-lhe a nossa incapacidade. Até o próprio desejo de “não obedecê-
Lo”.

Devemos pedir a Ele que nos transforme na pessoa que devemos ser, por uma obra, em que fique evidente
que não somos nós que fazemos, mas Ele mesmo. Peçamos a Ele que nos mude, e capacite a fazer a Sua
Vontade. O Deus Eterno Se fez homem e Se voltou para uma mulher classificada como a escória da escória,
porque queria abençoá-la. Da mesma forma, Ele deseja abençoar a cada um de nós, vizinhos, amigos e até
aquelas pessoas que nos querem o mal. Para isso você e eu somos um instrumento nas mãos do Senhor.

III – ALMA SACIADA, CORAÇÃO EVANGELÍSTICO

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O impacto na mulher samaritana...

a) Ela abandona o seu cântaro (4.28a). O que ela foi buscar não tinha mais importância, pois havia
encontrado a Água da Vida. Quem encontra Jesus tem pressa em compartilhar a boa nova com
todos;
b) Ela proclama publicamente o Messias (4.28b-30). No dia de sua conversão, ela se tornou uma
missionária. Até então, essa mulher, provavelmente, fazia de tudo para passar despercebida. Agora,
porém, anunciava altissonantemente o Messias, sem constrangimento ou temor;
c) Ela faz um convite veemente (4.29). Sabiamente, a mulher diz: “Vinde...”. Ela não perdeu tempo
com argumentos confusos; antes, conclamou à verificação. Desejava que todos bebessem da mesma
água viva. O resultado foi surpreendente: muitas pessoas a seguiram até o Messias anunciado.

O impacto nos discípulos...

Quando os discípulos retornaram com a comida que Jesus havia lhes ordenado comprar, ficaram
escandalizados por vê-Lo conversando com uma mulher samaritana, apegando-Se aos preconceitos da
época. Na agenda deles, não havia espaço para compartilhar as boas novas com uma mulher, muito menos
na hora do almoço.

Aproveitando o fato de a samaritana ter se ausentado, os discípulos rogam: “Rabi, come!” Jesus, no entanto,
fala como se já tivesse algo melhor para comer. Os discípulos, confusos, se perguntam: Mas ele lhes disse:
“Tenho algo para comer que vocês não conhecem”. Disse Jesus: “A minha comida é fazer a vontade
daquele que me enviou e concluir a sua obra. (4.32,34).

Uma cidade estava vindo ao encontro de Jesus, e os discípulos deveriam entender que aquele era um
momento de colheita para o Reino. Nenhuma necessidade era mais urgente. Então, Jesus os conclama a
exercitar sua visão espiritual e contemplar os campos já prontos para a colheita (4.35), mesmo que eles
achassem que o tempo ainda estava longe. É como se Jesus estivesse dizendo: “Vocês acham que deve
existir certo intervalo entre a semeadura e a colheita, mas eu lhes digo que acabei de semear a semente, e
a colheita já está acontecendo”.

Nós também não podemos nos acomodar. Precisamos ter a visão de que, sem Cristo, o ser humano está
perdido, e que a obra de Deus precisa ser realizada agora. Se perdermos a nossa geração, perderemos o
tempo da nossa oportunidade.

CONCLUSÃO

O impacto na região de Samaria...

Em resposta ao convite da mulher samaritana, muitos samaritanos foram encontrar-se com Cristo. Jesus,
por insistência daquelas pessoas, permaneceu entre eles apenas dois dias. Não operou ali nenhuma cura ou
sinal, mas o milagre da salvação raiou na cidade samaritana, e muitos foram salvos. Primeiramente, pelo
testemunho da mulher samaritana. Mas eles não se deram por satisfeitos, e foram conhecer o Messias
pessoalmente (4.41,42). E, ao ouvi-lo, muitos outros também abraçaram a fé, crendo agora não pelo relato
daquela mulher, mas por sua experiência pessoal com o Senhor, dando-lhes a plena convicção de que Jesus
verdadeiramente é o Salvador do mundo. Este pode ser considerado o primeiro evangelismo transcultural,
exemplo do padrão a ser seguido posteriormente pelos apóstolos e pela Igreja (At 1.8).

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 7 – O SENHOR DO ESPAÇO

Texto Base: Jo 4.43-54

43 Depois daqueles dois dias, ele partiu para a Galiléia.


44 (O próprio Jesus tinha afirmado que nenhum profeta tem honra em sua própria terra.)
45 Quando chegou à Galiléia, os galileus deram-lhe boas-vindas. Eles tinham visto tudo o que ele fizera
em Jerusalém, por ocasião da festa da Páscoa, pois também haviam estado lá.
46 Mais uma vez ele visitou Caná da Galiléia, onde tinha transformado água em vinho. E havia ali um
oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum.
47 Quando ele ouviu falar que Jesus tinha chegado à Galiléia, vindo da Judéia, procurou-o e suplicou-lhe
que fosse curar seu filho, que estava à beira da morte.
48 Disse-lhe Jesus: “Se vocês não virem sinais e maravilhas, nunca crerão”.
49 O oficial do rei disse: “Senhor, vem, antes que o meu filho morra!”
50 Jesus respondeu: “Pode ir. O seu filho continuará vivo”. O homem confiou na palavra de Jesus e partiu.
51 Estando ele ainda a caminho, seus servos vieram ao seu encontro com notícias de que o menino estava
vivo.
52 Quando perguntou a que horas o seu filho tinha melhorado, eles lhe disseram: “A febre o deixou ontem,
à uma hora da tarde”
53 Então o pai constatou que aquela fora exatamente a hora em que Jesus lhe dissera: “O seu filho
continuará vivo”. Assim, creram ele e todos os de sua casa.
54 Esse foi o segundo sinal miraculoso que Jesus realizou, depois que veio da Judéia para a Galiléia.

INTRODUÇÃO

E spera-se que os filhos tenham que lidar com a morte e o sepultamento de seus pais e não o contrário.
Não é verdade? O problema é que, na vida real, é tragicamente possível que pais tenham que,
abruptamente, enterrar seus filhos.

Imagine ter que lutar contra esse tipo de sentimento, se você não tivesse esperança; sem esperança de céu,
vida eterna, sentido, descanso, reencontro e regozijo crescente e eterno, todos juntos e na presença de Deus.
Como seria insuportável ter que continuar vivendo sem esperança nas promessas de Deus, quando a dor
vem com tudo e arromba o coração, aprisionando-nos.

A vida sem esperança (insuflada por dúvidas e desconfianças, aprisionada à masmorra do desespero) é, de
fato, desgraçadamente insuportável. Graças a Deus, porém, que há, sim, esperança para a dor; é possível,
sim, entristecer-se, mantendo-se a esperança (1 Ts 4.13-18); é possível, sim, entristecer-se, mantendo-se
sempre a alegria (2 Co 6.10). Mesmo que a dor arrombe o coração (Ah! E como ela arrombará! Mais cedo
ou mais tarde arrombará!), é possível, sim, em Cristo, obter esperança para a dor.

Em momentos de dor e sofrimento, quando o desespero arromba nossos corações e nos vemos
completamente impotentes e limitados, aprisionados pelo tempo e espaço, sem poder fazer qualquer coisa
que seja para mudar a situação que implacavelmente nos desestabilizou, precisamos confiar em um
Salvador e Consolador, o qual não está com Seus ouvidos tampados que não possa escutar, o Seus olhos
vendados que não possa ver e Se compadecer, ou mesmo com Suas mãos encolhidas que não possam ser
estendidas para nos auxiliar (Is 59.1-4).

Cristo nunca esteve ou mesmo estará limitado à situações adversas, preso ao tempo ou espaço para realizar
Sua obra e ministrar graça e compaixão àqueles que necessitam e recorrem a Ele com fé e esperança. O
poder de Sua palavra transcende todas as leis conhecidas. Ele não precisa estar fisicamente presente para
cumprir Sua vontade. Basta uma única palavra de Sua boca, um simples ato de Sua vontade para que tudo
seja transformado, pois tudo e todos estão sujeitos a Ele em obediência.

CONTEXTO
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Algum tempo já havia passado desde que Jesus transformara água em vinho. Ambos foram realizados em
particular, sem multidão vendo o acontecimento, num contexto familiar. O de Caná foi de alegria
(casamento) e o de Cafarnaum de tristeza (enfermidade).

Os samaritanos da cidade chamada Sicar, pediram que Jesus ficasse com eles por algum tempo. Depois que
ouviram a Palavra de Jesus, e testemunharam os Seus sinais, muitos creram nEle. Jesus atendeu ao pedido,
e ficou com eles dois dias. Passados os dois dias partiu para a Galiléia. Foi neste lugar que Ele começou a
dar indícios de que Sua missão incluiria também os gentios e não apenas os judeus no plano eterno de
salvação, mas todos aqueles que se encontravam perdidos (Lc 19.10 – Pois o Filho do homem veio buscar
e salvar o que estava perdido.).

Podemos afirmar que João 4 é o capítulo do encontro missionário. Logo no início do ministério público de
Jesus, Ele revela Seu objetivo quanto à extensão de Sua obra salvífica, ou seja, Sua mensagem diz que as
portas do Reino de Deus estão abertas até mesmo para aqueles que são desprezados e considerados indignos
da salvação do ponto de vista restrito judaico.

O profeta sem honra...

Para entendermos melhor a afirmação de Jesus no verso 44: “...nenhum profeta tem honra em sua própria
terra...”, vamos relacionar o texto ao Evangelho de Mateus no capítulo 13 verso 53 à 58. Mateus nos
apresenta especificamente o fato onde logo após o discurso de Jesus sobre as parábolas do Reino, Ele Se
dirige rumo à cidade de Nazaré. Esta situação registrada por Mateus, ilustra de maneira tocante o
desenvolvimento da oposição quanto à pessoa e discurso/mensagem de Jesus.

Jesus nasceu na pequenina Belém de Judá, mas passou Sua infância, adolescência e boa parte da juventude
na cidade de Nazaré, onde os fatos do texto acima se passaram. José, padrasto de Jesus e marido de Maria,
sua mãe, possuiu ali sua oficina de carpintaria de onde retirou o sustento para si e sua família durante bons
anos. O texto parece indicar que José foi o único carpinteiro da cidade por um longo período, pois os homens
questionam: “não é este o filho do carpinteiro?”, como se o ofício pudesse substituir o nome próprio de
José para identificá-lo ou diferenciá-lo de algum outro carpinteiro.

Naquela cidadezinha da região da Galileia, norte de Israel, não muito distante do mar da Galileia, Jesus
aprendeu a andar, a falar, a ler, brincou com Seus amigos, aprendeu o ofício de carpintaria. Foi amigo,
vizinho, colega de turma, membro da sinagoga local. Agora, algum tempo depois, Ele está ensinando a
Palavra de Deus com uma autoridade e destreza sem igual, fazendo milagres extraordinários, tendo após Si
Seus próprios discípulos e é chamado de Mestre e de Profeta.

Quase todos naquela cidade não conseguiram reconhecê-Lo como um Mestre, apesar das evidências que
lhes estavam diante dos olhos. Muitos, talvez sentados em cadeiras ou debruçados em mesas cuja madeira
fora trabalhada pelas mãos do próprio Jesus, questionavam a origem de Sua sabedoria e custavam crer que
fosse, de fato, um Profeta de Deus. Afinal de contas, Ele era apenas aquele menininho da carpintaria, sem
muita distinção das outras crianças, que cresceu e agora dispõe de alguma fama.

A incredulidade dos nazarenos foi plantada pelo preconceito que fincou os pés no coração e mente daquele
povo. A origem humilde e a juventude sem destaques, não poderiam tê-Lo tornado o Mestre Profeta do
calibre que agora testemunham publicamente. É bastante provável que alguns dos irmãos de Jesus ainda
morassem na cidade, e Suas irmãs moravam, pois é isso que eles dizem: “não vivem entre nós todas as suas
irmãs?” (vs.56). E o texto parece indicar que nem mesmo estes irmãos e irmãs de Jesus conseguiram ver
além da muralha do preconceito, mesmo tendo vivido por um tempo na mesma casa que o Criador de todas
as coisas!

Vamos entender esse conceito que João procurou passar para seus leitores. Na versão brasileira, esse texto
poderia ser: “Santo de casa não faz milagres”. Jesus enfrentou o mesmo problema quando foi tratado por

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Sua família e pelo povo com o qual Ele cresceu e viveu. Há um provérbio que diz: “familiaridade gera
desprezo”. Por melhor que seja a coisa, no momento que você se acostuma com ela, a despreza.

Por exemplo, vamos imaginar que seu prato predileto seja camarão. Se você passar a comer só camarão,
pode ser até que no primeiro, segundo, terceiro, quarto dia você coma satisfeito. Mas talvez não chegue o
trigésimo dia e você estará faminto por qualquer alternativa. Lembra o povo que estava no deserto? No
começo, o maná era muito bom. Com o passar do tempo, o filho perguntava para o pai: “O que temos hoje
para o café da manhã?”, e o pai retrucava, com aquela cara de quem comeu e não gostou: “Maná, meu
filho”.

Bem sabemos que isso não acontece só com o que comemos, temos a mesma reação com as pessoas que
nos ministram. Neste texto, Jesus se refere a Judéia, quando afirma não estar sendo ouvido em Sua própria
terra. Pois embora Ele tenha crescido na Galiléia, tinha nascido em Belém, na Judéia, onde Ele Se
encontrava ao fazer esta afirmação.

João nos explica a situação de Jesus no primeiro capítulo de seu Evangelho. Ali vemos que Jesus “veio
para os que eram seus, mas os seus não o receberam...” (cf. Jo 1.11). Aqui Ele acabou de vir de Jerusalém,
centro de Sua nação, e reconheceu que não recebia honra na Sua terra. A honra seria devida pelo fato de
reconhecê-Lo como Messias, pois não era um homem comum, mesmo passando por um processo de vida
normal (infância, adolescência, juventude e maturidade).

Há um verso nas Escrituras que revela: Aquele que recebe um profeta, porque ele é profeta, recebe
recompensa de profeta (Mt 10.41). Esse texto, pode ser visto da seguinte forma: você valoriza uma pessoa
que ensina ou prega as Escrituras, e de repente olha para si próprio se auto comiserando: “Ah, eu não sei
pregar...”, ou com uma atitude de desprezo. Mas se você quer receber galardão de profeta, então trate o
profeta na condição de profeta. Olhe para os que ministram a você como aqueles que lhe fazem da parte de
Deus, independentemente de quão familiarizado você esteja com ele. Pois do contrário você pode estar
desprezando as palavras do próprio Deus. Sua postura deve ser: “Senhor, quero ouvir a tua Palavra”.

Hb 13.7,17 – 7 Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a palavra de Deus. Observem bem o
resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé. 17 Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade
deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles
seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês.

Para refletir e debater: Geralmente as pessoas dão pouco valor ao que se tornou “comum”. Ver Jesus
fazer coisas simples, cotidianas, corriqueiras, fê-los duvidarem e cegou-os para o fato de que Jesus era
especial. Jesus não fez ali muitos milagres por causa da incredulidade deles, do seu preconceito. E nós?
Temos valorizado as pessoas especiais que convivem conosco? Conseguimos enxergar além da visão
simplória dos hábitos corriqueiros e perceber o potencial extraordinário daqueles que nos rodeiam? Temos
valorizado mais “os de fora” do que aqueles que vivem conosco? Temos vivido como se “a grama do
vizinho fosse sempre mais verde”?

I – O QUE JESUS ENCONTROU

a. Festa

Jesus, parte da Judéia para a Galiléia, região que também lhe era familiar, e o que encontra quando lá chega?
No verso 45 encontramos que: “Os galileus deram-lhes boas-vindas”. Porque por ocasião da Páscoa,
quando muita gente se dirigia para Jerusalém, o povo da Galiléia também foi para lá, e lá viram os muitos
milagres que Jesus fez (cf. Jo 4.45).

Aquele povo conheceu o ensino de Jesus, o viu confrontando a liderança religiosa, purificando o Templo e
quando ouviu falar que Ele chegou à Galiléia, ficou entusiasmado em recebê-Lo. Além disso voltou
justamente para a cidade na qual Ele transformou a água em vinho – Caná. Ali, muitas pessoas tomaram do
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

vinho que Ele fez. Na situação, Jesus não parece muito feliz, mas o povo sim, a presença dEle poderia
significar milagres como percebemos na reação de Jesus: “Se vocês não virem sinais e maravilhas, nunca
crerão” (Jo 4.48).

Essa não era uma palavra somente para aquele oficial, mas para todo o povo. O pronome usado na frase de
Jesus está na segunda pessoa plural masculina, ou seja, vocês, se referindo àquelas pessoas da Galiléia e
não só ao oficial. Estas pessoas, provavelmente são as mesmas que João menciona: “...mas Jesus não se
confiava a eles, porque conhecia a natureza humana” (Jo 2.24). O contexto da festa promoveu um certo
tom de confiança, valorização e interesse do povo em Jesus que também não O envolveu.

b. Sofrimento

É interessante notar os extremos que sempre existem num encontro com o Senhor: de um lado, pessoas
festejando ao ver Jesus agindo, de outro, pessoas, também no meio da festa, vendo seu mundo
desmoronando. No meio de uma festa podemos achar pessoas que não se encontram compartilhando da
mesma alegria e entusiasmo devido à problemas particulares. Não é necessariamente o ambiente que
transforma uma realidade particular, ou seja, nosso mundo interior pode se encontrar destruído mesmo num
local onde há festa.

Aquele pai sofria a dor de ter um filho em condições delicadas e preocupantes. E o evangelista João
descreve que seu filho estava gravemente enfermo, acometido por uma violenta febre maligna. Cafarnaum
está situada em uma região tropical e pantanosa, que no verão e ainda mais no outono, fica cheia de insetos
e mosquitos. Eram muitos os casos de vítimas fatais que essa febre, disseminada por esses vetores, fazia. E
a febre chegou a um ponto tal, que o pai do menino, o oficial do rei, temia que seu filho estivesse à beira
da morte. Seu sofrimento e preocupação com seu filho não poderia ser aplacado por um ambiente de
festividade. Ele precisava de uma intervenção sobrenatural para que a tristeza fosse transformada em
alegria.

II – QUEM ERA O OFICIAL DO REI

Vivia, naquela época em Cafarnaum, um alto funcionário, ligado à casa civil ou militar de Herodes Antipas,
cuja atividade não se pode determinar. Muitos especulam que se tratava de Cusa, intendente de Herodes,
que era marido de Joana, uma das piedosas mulheres galileias que passaram a acompanhar o Mestre em
suas viagens missionárias (Lc 8.3).

De acordo com o texto, simplesmente era um pai, que a despeito de sua posição social ou cargo que ocupava
perante as autoridades, provavelmente depois de haver esgotado os recursos da medicina, os recursos
humanos, procurou o auxílio de Jesus, pois seu filho estava à beira da morte.

Para refletir e debater: Não é assim que também acontece conosco? Quando todos os recursos humanos
se esgotam, quando já não há mais o que fazer dentro das possibilidades humanas e não podemos mais
contar com ninguém, Jesus se torna uma opção, geralmente, a última.

Aquele oficial, certamente tinha bons recursos devido ao seu cargo. Mas como vimos, a riqueza não lhe
favoreceu. O prestígio, a posição, a riqueza, nada disto serve quando a morte bate à nossa porta e nos
ameaça. Somente quem é pai ou mãe sabe o que representa a possibilidade de perder um filho. Como vemos,
é um pai que sofre as maiores agonias vendo seu filho se aproximando cada vez mais da morte. É nestas
condições de profundo sofrimento e inquietação que ele recorre à Jesus.

No verso 48 diz: “... Se vocês não virem sinais e maravilhas, nunca crerão”. No comentário de Hendricksen
(2004, p.244), esclarece:

Jesus lamenta que esse homem, que já tinha ouvido a respeito de tantas coisas que ele tinha feito
(e talvez até mesmo visto), ainda se encontra no degrau mais baixo da escala da fé. Sua confiança,
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

e a de outros com ele, precisava ser constantemente alimentada pelos sinais e prodígios. Ele não
cria na pessoa divina de Cristo, nem em sua palavra, se a mesma não fosse acompanhada por um
milagre.

Mesmo Jesus o desafiando a crer e não apenas procurar por sinais e prodígios, o pedido deste pai é objetivo:
“...Senhor, vem, antes que o meu filho morra!” (vs.49). De acordo com o comentário de McDonald (2009,
p.255):

O oficial com persistência da verdadeira fé acreditou no fato de que o Senhor Jesus faria o bem
para o seu filho, e assim queria uma visita do Senhor mais que qualquer outra coisa. De certo
modo, sua fé era imperfeita. Ele achou que Jesus teria de estar ao lado da cama do seu filho antes
que pudesse curá-lo. Entretanto, o Salvador não o repreendeu por isso, mas recompensou-o pela
proporção de fé realmente mostrada.

III – O QUE JESUS CONFRONTOU

a. Rejeição da fé

Jesus sempre confronta a nossa fé. Ele questiona o que nós tão naturalmente chamamos de fé. Se alguns de
nós estivéssemos no lugar de Jesus, estaríamos comemorando: “Graças a Deus! Que campanha abençoada,
todo mundo está crendo. Até aquele homem veio para seu filho ser curado”. O fato daquele homem
demonstrar uma certa confiança, leva ao comentário de Jesus, que até nos parece impróprio (vs.48). Neste
verso Jesus confronta uma fé calcada em coisas espetaculares, uma fé num Deus que existe em certos
momentos da vida humana apenas para realizar seus sonhos e desejos.

Antes, na Judéia, o comentário de João é que Jesus não se confiava àquelas pessoas que haviam “crido”
nEle (cf. Jo 2.24). Esse não era o tipo de fé que Jesus queria ver neles. Ele desejava mais que isso, queria
uma fé que se baseava no que Deus fala, não só no que Ele faz. Não numa fé que apenas procura obter
favores gerais de Deus, mas que busca satisfação plena na própria pessoa do Cristo.

b. Uma fé sem visão

Vamos ver essa fé nas Escrituras. Em Hb 11, denominado por alguns como a “galeria da fé”, no verso 1
temos a definição de fé: “A fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. É
uma fé que não se baseia no que se vê através dos olhos carnais, mas no que se vê pelos olhos espirituais,
ou seja, naquilo que Deus tem prometido.

Por exemplo: Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia
como herança, embora não soubesse para onde estava indo (Hb 11.8). Ele ainda não havia visto para onde
deveria ir, nem a terra que ele receberia, no entanto acreditou na promessa de Deus. Como lemos também:
Pois ele esperava a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus (Hb 11.10). Ele esperava
e não viu. Mas tinha a promessa e estava confiando nela, não no que viu. Ou, como vemos mais adiante:
Todos estes viviam pela fé quando morreram. Eles não receberam as promessas; viram-nas de longe e de
longe as saudaram, reconhecendo que eram estrangeiros e peregrinos na terra (Hb 11.13).

O que significa visto aqui? Eles olharam para o que Deus revelou, para as promessas dele e aquilo foi como
uma visão. Embora, não tenham alcançado parte destas promessas, ainda nessa vida, eles morreram na
certeza de que Deus ia cumprir a promessa feita. Outro caso foi o de Moisés: Ele considerou a desonra por
amor de Cristo como riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa.
Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei, e perseverou por que via aquele que é invisível (Hb
11.26,27).

Moisés não viu, mas diante da revelação, da promessa, e da Palavra de Deus, ele abriu mão de uma série
de coisas no Egito, preferindo sofrer com o povo no deserto, confiou no que Deus falou. Ainda olhando
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

para Hebreus 11: Todos estes alcançaram bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles
recebeu o que havia sido prometido (vs.39). Eles morreram crendo, mas não desfrutaram da promessa, pois
ela é para um tempo posterior, a suas vidas, mesmo assim viveram confiando nisso.

Quando Jesus confronta esse povo no texto que estamos estudando em João, Ele queria levá-los a assumir
uma fé desse tipo, que vemos em Hebreus 11. O povo queria ter experiências que lhes impressionassem,
marcassem, entusiasmasse, e Jesus sabia disso. A fé gerada por espetáculo não sustenta a ninguém. A que
Jesus busca é independente do que você e eu vemos. Mas confiamos no que Deus fala, e vamos até as
últimas consequências por isso.

Jesus com aquelas palavras, não falava somente ao pai suplicante, mas a todos os judeus que de uma forma
geral, no curso da história de Israel, estavam sempre a pedir sinais e prodígios, para que pudessem crer em
Deus ou em seus profetas. Até o apóstolo Paulo chegou a esta conclusão, quando fala que os judeus “pedem
um sinal” (1 Co 1.22).

Era assim, primeiro os judeus queriam ver, para depois crer. Mas não pela palavra ou pelo testemunho de
Jesus, e sim pelos milagres. Entretanto o Mestre sabia que este tipo de fé era vacilante, imperfeita e
superficial. A vontade de Jesus era que Seus discípulos acreditassem nas Suas palavras, como a samaritana
fez, não houve milagre em Samaria, mas eles creram na pregação e no testemunho de Jesus.

E o oficial do rei, em seu muito amor paterno, supera aquela prova inicial de fé, não se abate com a dura
resposta do Mestre e continua humildemente rogando por seu filho querido. Aquele pai demonstrou estar
em pleno crescimento quanto ao seu tipo de fé. A palavra dele para Jesus foi: “Senhor, vem, antes que meu
filho morra” (Jo 4.48). Ao que Jesus reagiu: “‘Pode ir o seu filho continuará vivo’. O homem confiou na
palavra de Jesus e partiu” (Jo 4.50). Aqui vemos a disposição do homem em crer no que Jesus disse e não
em vê-Lo fazer algo.

IV – O SENHOR DO TEMPO

A hora que Jesus conversou com o homem era a hora sétima. De acordo com a divisão de horas romanas,
era uma hora da tarde, e esse homem pede a Jesus: “Desce comigo”. Eles estavam em Caná e tinham que
descer para ir a Cafarnaum, que estava 160m abaixo do nível do mar. E Jesus responde: “Vai, o teu filho
vive”.

O que esse homem fez? Se fosse hoje em dia seria fácil, pegaria o telefone celular, ligaria e conferiria com
sua esposa: “Querida, como está o nosso filho?” Se não desse certo era só reclamar: “Senhor, o Senhor
falou mas não aconteceu”. Ele creu na palavra que Jesus lhe dissera e partiu. Não viu nada e mesmo assim
partiu. Só tinha duas opções: crer ou não. Ele creu e se foi da presença de Jesus.

No dia seguinte, ele começou a retornar, encontrou uns dos seus servos, e perguntou: “A que horas meu
filho começou a ficar bom?” (cf. 4.52). Os servos responderam: “À sétima hora”. A hora precisa que Jesus
falou com ele no dia anterior o menino ficou bom. Diferente dos exemplos de cura de hoje, quando se diz:
“Você está curado vá para casa e creia, lá você estará curado”. Aquele homem creu sem precisar ir para
casa.

Ele poderia pegar sua charrete e dentro de duas ou três horas estaria em casa, em Cafarnaum, ainda durante
o dia, mas ele não fez isso. Ainda ficou em Caná. Só no dia seguinte é que ele voltou para casa, achou seus
servos no caminho, e percebeu a ligação do momento da cura com o momento em que falava com Jesus:
Então o pai percebeu que aquela fora exatamente a hora em que Jesus lhe dissera: o seu filho continuará
vivo. Assim, creram ele e todos os de sua casa (cf. 4.53).

Ele creu quando foi a Jesus, e pediu um milagre, creu quando Jesus lhe disse vai, e ele foi. E depois que
percebeu como o milagre se deu, sem a necessidade da presença de Jesus em sua casa, creu outra vez. Jesus
não Se impressionou com a sua fé inicial, mas satisfez o desejo dele por causa do Seu próprio poder, não
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

pela fé do homem. Isso aponta para a fé como algo dinâmico. A fé que Deus espera ver em nós não é uma
fé que se baseia no espetacular, nem é uma fé que nos leva a ser consumidores cristãos, e nos divertirmos
com o que Ele faz. A fé que Ele quer reproduzir em nós é aquela que confia que Ele é o Senhor, o Salvador,
e a vontade dEle vale, não a minha.

No verso 54 temos: “Esse foi o segundo sinal miraculoso que Jesus realizou, depois de ter vindo da Judéia
para a Galiléia”. Jesus está Se apresentando ao povo como o Senhor do espaço. Mostrando que para Ele
não existe distância. Podemos dizer, como no caso da irmã de Lázaro: “Senhor, se estivesses aqui meu
irmão não teria morrido” (cf. Jo 11.21). Mas precisamos entender que Ele está em todo lugar, Ele é
Onipresente. Ele é o Senhor do espaço.

O oficial do rei creu, no caso dele, seu filho foi curado, porque Deus assim o quis, mas você pode ter certeza
que muitas crianças naquele tempo não foram curadas, e esse não é motivo para crermos ou deixar de
crermos em Jesus. O que Deus quis ensinar àquele homem é que ele não precisava ver para crer. E o passo
de ouvir a palavra de Jesus: “o seu filho continuará vivo”, e deixando o Senhor em seguida, era parte da
lição. Deus queria deixar bem claro para ele: “confia no que eu falo”.

A fé é uma jornada. A fé que você teve ontem, ou antes de ontem, precisa ser vivida hoje. Você precisa
ouvir a voz do Senhor, desfrutar da consolação, da intervenção, da mudança do seu íntimo, que só Ele pode
dar.

Talvez você não esteja sofrendo tanto quanto este oficial do rei, ou tanto quanto a esposa dele, mãe daquele
menino, mas precisa lembrar que temos um Deus Soberano. Embora não possamos vê-lo, ou tocá-lo, Ele é
um Deus que não nos abandona, mas cuida de cada um de nós, e nas dificuldades quer ver a nossa fé em
ação.

Não despreze o momento em que você está vivendo. Se a dor aumenta, o sapato aperta, ou as lágrimas
rolam, é um campo fértil, criado por Deus para que a nossa fé prove quem é o nosso Deus. Ele é o Senhor
do espaço, e está pronto a intervir eficazmente em nossas vidas, nos ensinando a confiar em Sua Palavra e
Seu poder.

V – A DIDÁTICA DA DOR

1. A dor o ensinou que o ser humano não é independente o bastante para não ter que admitir sua
necessidade (vs.46-49). Por quanto tempo o oficial fingiu ter tudo sob controle, ser forte, poderoso,
invencível e autossuficiente. Até que foi vencido pela dor? O quanto pôde! Porém, nada como a dor
para quebrar a dureza de um coração altivo e independente!

2. A dor o ensinou que um pai nunca está ocupado o bastante para não poder se envolver com os
problemas de seus filhos (vs.46-49). O oficial não mandou a esposa! Ele mesmo foi até Jesus. Nada
como a dor para nos fazer enxergar as coisas mais importantes da vida para assumirmos
responsabilidades intransferíveis!

3. A dor o ensinou que uma pessoa não consegue ser incrédula o bastante para não ter que recorrer
a Deus em humildade e oração (vs.50,53). Talvez, neste exato momento, você esteja separado pela
distância de alguém que você ama e sabe que está precisando de intervenção divina. Você não pode
fazer nada por essa pessoa. Só lhe resta orar a Deus humildemente e confiar que Ele escuta e responde
misericordiosamente nossa oração. Nada como a dor para nos fazer confiar! Aquele pai confiou e foi
atendido.

4. A dor o ensinou que o ser humano não consegue ser lógico ou racional o bastante para nunca
ter que aprender a caminhar pela fé na palavra de Deus (vs.50). Há momentos na vida em que a
palavra de Deus é a única coisa que faz sentido ou que dá sentido para continuarmos caminhando sem

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

perder a esperança e cair preso na masmorra do desespero. Nada como a dor para nos ensinar a
caminhar pela fé na palavra de Deus!

5. A dor o ensinou que a vida não pode ser só alegria para descobrirmos o verdadeiro sentido de
felicidade. Felicidade não é ter tudo o que desejamos, mas temer o Senhor e andar em Seus caminhos
(caminhar com fé e em obediência à Sua Palavra – Salmo 128). Aquele oficial aprendeu o que é a
verdadeira felicidade: temer a Deus e andar em Seus caminhos.

CONCLUSÃO

a. Os frutos da dor na vida do oficial de Cafarnaum.

A dor o levou a Jesus, tornou-o num homem de fé na palavra de Deus, o fez rever suas prioridades na
vida, o fez presente aos seus e o ensinou a orar. Ele aprendeu que Jesus é soberano sobre tudo e sobre
todos; poderoso sobre o corpo e as doenças; poderoso sobre qualquer circunstância, mesmo à distância;
ele aprendeu que Jesus é o Salvador do mundo. Foi pela dor que Jesus Cristo salvou aquele homem, salvou
seu filho e salvou todos de sua casa.

A dor é um dom de Deus. Pela dor, Deus conquista nossa atenção e nos chama à salvação. Deus é soberano,
todo-poderoso e, ao mesmo tempo, bom, muito bom. Tão bom que Ele usa a dor para o nosso bem, na
esperança de nos salvar (Rm 8.19-25).

b. Cristo, esperança para a nossa dor.

Cristo é a esperança para a dor mais profunda da nossa alma. Olhe para Jesus, veja a glória de Jesus e seja
salvo, viva liberto do cativeiro do medo e da angústia. Olhe para Jesus e veja a Sua glória: um garoto
moribundo, curado de repente, curado por apenas uma palavra de Jesus à 30km de distância do leito. Esse
é o poder de Jesus. Graça e poder. Misericórdia e poder. Olhe para Jesus.

Em Cristo nós podemos ver a glória de Deus, e de Sua plenitude todos nós recebemos graça sobre graça.
Que o Senhor remova de nós todo orgulho, incredulidade, dor e desespero e nos revele a glória da graça
e do poder de Cristo, fazendo-nos crer para a salvação. Cristo é a esperança para a dor: para a sua dor,
para a dor daqueles que você ama e para a dor do mundo ao nosso redor. Receba Jesus pela fé. Reparta
Jesus com fé.

c. O evangelho nesta história.

O oficial do rei tentou de tudo para não ver seu filho morrer. Deus, o Pai, entregou o próprio Filho à morte
no lugar do pecador. Maior amor não há! Receba-o pela fé. Arrependa-se e creia. A primeira morte da
história foi a de um filho. Adão sepultou Abel. Deus, o Pai, para nos salvar, sepultou também o próprio
Filho. Mas Ele ressuscitou ao terceiro dia e todo o que nEle crê não morre eternamente; passa da morte
para a vida. Graça maior não há. Receba Jesus pela fé. Arrependa-se de seus pecados e creia.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 8 – O SENHOR DO TEMPO

Texto Base: Jo 5.1-18

1 Algum tempo depois, Jesus subiu a Jerusalém para uma festa dos judeus.
2 Há em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, um tanque que, em aramaico, é chamado Betesda, tendo
cinco entradas em volta.
3 Ali costumava ficar grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos. Eles
esperavam um movimento nas águas.
4 De vez em quando descia um anjo do Senhor e agitava as águas. O primeiro que entrasse no tanque,
depois de agitadas as águas, era curado de qualquer doença que tivesse.
5 Um dos que estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos.
6 Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou:
“Você quer ser curado?”
7 Disse o paralítico: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é
agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim”.
8 Então Jesus lhe disse: “Levante-se! Pegue a sua maca e ande”.
9 Imediatamente o homem ficou curado, pegou a maca e começou a andar. Isso aconteceu num sábado
10 e, por essa razão, os judeus disseram ao homem que havia sido curado: “Hoje é sábado, não lhe é
permitido carregar a maca”.
11 Mas ele respondeu: “O homem que me curou me disse: “Pegue a sua maca e ande”.
12 Então lhe perguntaram: “Quem é esse homem que lhe mandou pegar a maca e andar?”
13 O homem que fora curado não tinha ideia de quem era ele, pois Jesus havia desaparecido no meio da
multidão.
14 Mais tarde Jesus o encontrou no templo e lhe disse: “Olhe, você está curado. Não volte a pecar, para
que algo pior não lhe aconteça”.
15 O homem foi contar aos judeus que fora Jesus quem o tinha curado.

INTRODUÇÃO

U mas das verdades cruciais sobre o tempo é que ele pode ser entendido em três perspectivas:
passado, presente e futuro. A questão é que o passado já foi e não pode ser mudado, o presente é
minha realidade atual, a qual está ainda em construção e o futuro é o que não vejo, mas que Deus
já conhece e o tem já estabelecido. Devemos aprender que Deus é atemporal, ou seja, para Ele não existe
divisões temporais. Deus não se limita ao calendário humano, pois afinal Ele estava no início, está no
presente e estará no fim.

Infelizmente muitos de nós nos prendemos ao calendário, o qual muitas vezes dita como vivemos ou
deixamos de viver. Uma enfermidade, por exemplo, torna o tempo um inimigo implacável, pois quem sofre
tem urgência de alívio. É fato que, muitos acabam se tornando reféns ou escravos do tempo.

Bem, se acreditamos que Deus é atemporal, podemos afirmar que Ele é o mesmo Deus imutável. Ele é
Senhor do Tempo, ou seja, Aquele que controla todos os eventos da vida. Nada foge ao Seu controle e
propósito soberano. Se sabemos que Deus nos ama, essa realidade não muda à despeito dos eventos do
calendário humano e quando o sofrimento bate à nossa porta e ultrapassa os dias toleráveis como um
hóspede indesejável.

Afirmar que Jesus é Senhor do tempo é compreender que Ele está no controle absoluto de tudo quanto
acontece à vida humana. Não importa o quanto tempo estejamos em sofrimento, Ele conhece. Os propósitos
de Deus embora estejam além de nossa compreensão, todos eles foram, são e serão cumpridos na vida
daqueles que Ele separou pra Si.

A Grande Divisão...

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O capítulo cinco inicia assim: “Algum tempo depois”, esta expressão marca a principal divisão do
Evangelho de João. Os primeiros quatro capítulos dedicam-se a falar quem é Jesus. Neles, Jesus, o Verbo
Eterno, assume a forma humana, Se torna semelhante a cada um de nós, é o Filho de Deus, o Salvador do
Mundo, o Messias prometido do Antigo Testamento, cheio de Graça e de Verdade.

Quando, porém, começa o capítulo cinco, não só Jesus entra em cena, observamos também a reação da
comunidade à pessoa dEle naqueles dias. A partir dali, Jesus entra em uma série de controvérsias, e é
perseguido pelos judeus. Os milagres seguem como um instrumento de autenticação de Sua identidade
messiânica e as reações públicas, demonstram que mesmo os sinais extraordinários, não são garantias de
crença para a salvação.

Ocasião...

Quando vamos ao primeiro verso deste capítulo, vemos que o cenário desse texto é Jerusalém. Em estudos
anteriores, vimos que nas festas daquela cidade os judeus iam aos milhares para lá, praticamente
quadruplicando o número de pessoas. No caso desse texto específico é bem difícil precisar que festa era a
mencionada. Alguns estudiosos creem ser esta a festa de ano novo, mas o texto não deixa isso claro.

Jesus está em Jerusalém, mais especificamente num lugar chamado Betesda. A forma como esta palavra foi
escrita no Novo Testamento, significa: “casa de misericórdia” ou “casa da graça”. Contudo, alguns
documentos, datados de dois séculos antes de Jesus, nos revelam que este mesmo poço foi chamado de
Betesdaim. Esse é o plural da palavra e nos dá a ideia de que seriam os dois poços. De fato, vamos descobrir
que eram dois poços.

Olhando para a cidade de Jerusalém ao norte, podemos perceber a presença de dois poços chamados de
“tanque de Betesda”. Além de serem dois poços, eles estavam cercados por um conjunto de colunas. O
texto nos diz: “tendo cinco entradas”, João se referia a cinco ambientes que se formam pelas fileiras de
colunas. Eram, então, dois tanques, cercados de colunas e neste lugar, parava uma multidão de enfermos.
Como está descrito, eram centenas de enfermos.

Detalhes sobre o tanque...

Esses poços eram alimentados, principalmente por canais de água subterrâneos que vinham desde Belém.
Além disso, haviam algumas outras fontes naturais ao lado do tanque de Betesda. Uma dessas fontes
alimentava uma caverna. Quando essa caverna estava cheia, fazia pressão e empurrava mais água para
dentro do tanque, e por causa da coloração da caverna a água que ia para o tanque era avermelhada.

O povo acreditava que aquela água tinha propriedades medicinais. Ao entrar no tanque, ela provocava um
movimento nas águas, que deu origem a uma lenda no meio da comunidade. O fenômeno, para o povo, se
tratava de um anjo que tocava a água e agitava-a. O primeiro daqueles muitos enfermos, poderia entrar na
água e ser curado de qualquer tipo de doença.

Você percebe, no final do verso 4, que este texto sobre o anjo está entre colchetes, isso significa que nos
manuscritos mais antigos essa porção não estava ali. Possivelmente mais tarde algum escritor interpolou
essa pequena passagem com o propósito de esclarecer o que acontecia no tanque de Betesda.

Conforme Hendriksen (2004, p. 253-254), essa questão pode ser considerada desta maneira:

“Este texto não se encontra nos melhores manuscritos, apesar disso um dos pais da igreja,
Tertuliano, comenta sobre essa prática. É difícil afirmar a veracidade dessa história, mas jamais
podemos descartar a possibilidade de uma ação angelical em favor dos enfermos naquela época”.

Esse tanque, naqueles dias, era como temos hoje o santuário de Lourdes na França, que tem um Spa, onde
se acredita que as águas têm propriedades medicinais. Muitas pessoas vão para lá, (você pode observar isso
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

também no Brasil, em Minas Gerais, algumas salas nas igrejas católicas) com uma série de objetos que
indicam que Deus fez uma cura.

Por acreditarem nisso, a saída da água vermelha agitava aquele tanque. O povo afluía nas ocasiões esperadas
que isso acontecesse para esperar um milagre para si próprio. Por isso quando o texto diz: “Um dos que
estavam ali era paralítico fazia trinta e oito anos” (cf.5.5), não significa que durante trinta e oito anos ele
estava ali no tanque de Betesda. Ele estava doente havia trinta e oito anos. Nas ocasiões oportunas, outros
levavam ele para lá e largavam-no ali para esperar que acontecesse alguma coisa e ele fosse curado.

Agora, imaginemos, cinco terraços com algumas centenas de pessoas, algumas sofrendo dores, outras
aleijadas. O ambiente era de angústia, dor e desesperança.

O tanque como um símbolo da lei

Simbolicamente, alguns estudiosos entendem que o tanque de Betesda representava a lei mosaica, a qual
não trouxe solução para os problemas espirituais do homem, enquanto Jesus simbolizava e é de fato a
solução divina para as questões humanas. Só em Cristo temos a solução para os nossos problemas. Jesus,
portanto, é a resposta para todos os problemas do homem, sejam eles de ordem natural (físico, emocional,
psicológico) ou espiritual.

A PESSOA ALVO DE JESUS

a. Condição Física

Como era a condição desse homem que foi alvo de Jesus? Primeiro vamos examinar a sua condição física.
No estudo passado, vimos um homem que saiu de uma cidade, há trinta e cinco quilômetros de distância de
onde Jesus estava, a cidade de Caná, e quando chegou até Jesus clamou: “faz alguma coisa”. Aquele oficial
do rei pôde ir até Jesus, com a expectativa de que Ele faria alguma coisa. E, pelo menos em parte, sabia
quem era Jesus. Mas agora é diferente, Jesus chegou a um lugar, cheio de doentes, e Se voltou para um
deles em particular, e esse especificamente, não sabe quem Jesus é. Não conta com nenhuma esperança do
que Jesus poderia fazer por ele.

Conforme o verso 6, Jesus o viu deitado, e sabia que ele estava assim havia muito tempo. Ele não tinha
condições de se locomover. Ele expõe-se a Jesus: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no
tanque quando a água é agitada...”. (vs.7). Era um homem diferente do que o procurou no final do capítulo
quatro. Não tinha condições, por si mesmo, de fazer o que quer que fosse. Um homem limitado e dependente
dos outros por causa da sua enfermidade. Parentes ou amigos o punham numa cama leve e o levavam até a
beira do poço e o deixavam ali na expectativa de que ele também fizesse alguma coisa.

A realidade em que se encontrava este homem, aponta para a realidade do homem sem Deus (sentido
espiritual). Espiritualmente o homem é incapaz de fazer algo. O homem está morto em seus delitos e
pecados (Ef 2.1). Esperar a solução dos problemas, ou a felicidade, sem ser em Cristo, é tão inútil quanto
o foi para aquele paralitico, esperando já há 38 anos para curar-se de sua paralisia.

Estava com condições físicas tão difíceis que não tinha nenhum amigo que podia o ajudar. A história vai
nos dizer que havia alguns enfermos daquele tanque, com mais condições, que colocava servos de plantão,
para quando o anjo agitasse as águas fosse o primeiro a descer. Só que não é o caso de nosso personagem
bíblico. Mostra que ele não tinha condição nenhuma, financeiramente falando, e também, não tinha nenhum
amigo ou parente que se prontificou para ajudá-lo.

Pode estar acontecendo exatamente conosco, as vezes parece que ninguém está disposto a nos ajudar, sejam
amigos, irmãos em Cristo ou mesmo família. Mas, Deus que é riquíssimo em misericórdia (Ef 2.4), Ele
ainda olha para cada um de nós, e se ninguém pode nos ajudar no momento de necessidade, pode ter certeza
que Ele mesmo virá ao nosso encontro!
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

b. Condição Sócio-Emocional

Há trinta e oito anos os amigos e parentes faziam alguma coisa por aquele homem. Mas eles o deixavam na
beira do poço e iam embora. Imagino aquele homem se sentindo um fardo para a comunidade à sua volta.
Ele se constrangia em pedir aos que o levavam para aquele tanque: “fica aqui comigo. Espera o anjo
descer”. Eram trinta e oito anos enfermo, provavelmente durante esse tempo ele esperava uma oportunidade
de ser curado. Qual a esperança que esse homem tinha depois de todo esse tempo? Bem poucas. Além disso,
ele devia ouvir testemunhos de Deus curando e ter que enfrentar essa situação humilhante, comum em
nossos dias.

Talvez esse homem visse algumas pessoas ao seu lado no tanque e dissesse: “Esse camarada é até saudável,
o que é que ele está fazendo aqui?”. De repente a água se agitava e o vizinho, com toda sua mobilidade, se
atirava na água, e saía de fato curado. Por quê? Porque talvez a doença dele fosse mais psicológica,
emocional, e por sugestão ele saía da água curado. Provavelmente o paralítico, com sua doença tão grave,
que o colocava naquela condição já havia trinta e oito anos, via pessoas com muito mais liberdade, mais
condições e desembaraço, entrarem na água e saírem curados.

Talvez ele pensasse: “Será que eles não percebem? Eu preciso muito mais que eles. Será que ninguém tem
essa sensibilidade? Bom, já estou aqui há trinta e oito anos, vamos fazer o seguinte: colocar senha para
todos e distribuí-las por ordem de chegada”. Mas ninguém queria isso, todos estavam competindo pela
primeira “onda”. Percebemos, então, que além desse homem ser limitado fisicamente, ele vivia uma
situação de desesperança, e de mágoa por causa da falta de sensibilidade, compaixão, misericórdia e graça
do povo.

Relacionando essa realidade à nossa...

Apesar desse quadro tão distinto do que você vive hoje, acredito que muitos de nós podemos viver como
esse homem vivia em sua época: Escravos de um pecado, ou limitação. Talvez não por trinta e oito anos,
mas algumas pessoas tentam lhe ajudar e você ainda se encontra na mesma situação, há um bom tempo.
Talvez você seja escravo da pornografia, não resistem a ela. Você até gostaria de sair desse trilho, mas anos
a fio está vivendo nele. Ou pode ser que seja escravo de drogas, ou de ira contra as pessoas, ou de uma
condição financeira à qual tem se sujeitado.

Alguns creem que seu destino está selado, que não tem mais jeito. Muitos até não querem assumir a
responsabilidade pela vida. De tanta frustração, desistiram. Concorda com essa afirmação MacDonald
((2008, p. 256), quando afirma:

Jesus sabia muito bem que esse era o maior desejo do íntimo do coração do homem. Mas ele
também queria que o homem admitisse sua própria incapacidade assim como sua necessidade
desesperadora de cura. O Senhor age da mesma maneira com a salvação, pois sabe que
necessitamos muito de sermos salvos, mas espera ouvir a confissão dos nossos lábios, de que
estamos perdidos...

Observemos o tamanho da derrota generalizada que aquele paralitico vivenciava, não conseguia andar e
sempre havia outro que alcançava seu objetivo no tanque. Imagine o tanto de vezes que ele tentou rastejar
até a água, mas, sempre era derrotado. Só que isso nos traz um aprendizado importante, o de NÃO
DESISTIR. Não importa qual a situação que estejamos vivendo, não devemos desistir mesmo diante das
circunstâncias contrárias ou da insensibilidade de outros para com nossa condição ou limitações.

“Não é que ele tivesse perdido a vontade; ele ainda não tinha chegado à fonte correta, ou melhor,
a fonte correta de ajuda ainda não tinha chegado até ele. Aqui está retratada, na imagem do
tanque, a inadequação da lei (judaísmo) para satisfazer as verdadeiras necessidades do homem.
As lutas mais intensas do homem não podem salvá-lo da paralisia do pecado.” (Comentário
Bíblico BEACON)
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Acredito que Deus muitas das vezes, vai observar quanto estamos dispostos a lutar e não desistir de nossos
objetivos e virá em nosso auxílio. Tem uma frase que diz: “A persistência é o tamanho do seu sucesso”,
adaptando para nós: “A persistência é o tamanho do nosso milagre”. Não desistir de nossos sonhos é o
grande passo para alcançar o nosso milagre!

A AÇÃO DO SENHOR DO TEMPO

Quando o viu deitado e soube que ele vivia naquele estado durante tanto tempo, Jesus lhe perguntou: ‘Você
quer ser curado?’ (vs.6).

Acerca dessa pergunta o comentário bíblico BEACON diz:

“A compaixão de Jesus e o seu conhecimento das necessidades mais profundas do homem,


uniram-se para produzir esta pergunta. À primeira vista, isto parece um pouco tolo. Claro que o
homem queria ficar bem, caso contrário não estaria no tanque, uma fonte de cura. Mas Jesus
sabia que as pessoas acabavam se acostumando a uma vida de desgraça e infelicidade, perdendo
a vontade de responder a uma adequada fonte de ajuda. Assim, esta era sem dúvida uma boa
pergunta!”.

Jesus, com essa pergunta, despertou nesse paralitico certa expectação, certo interesse, pois certamente ele
já estava desanimado e sem esperanças. O seu estado de desânimo, de desespero, de desilusão, não lhe
permitiu responder objetivamente: “Sim, quero!”. A resposta dada a Jesus: “Senhor, não tenho ninguém
que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada...”. (vs.7), notamos que ele praticamente já
desistira. Não podia competir na vida, nem mesmo entre os demais enfermos e paralíticos. A sua invalidez
era maior do que a dos outros ali presentes.

Para refletir e debater: Não é assim que procedemos as vezes? Jesus vem ao nosso encontro. Ele olha
para nós, conhece nossos problemas e pergunta o que queremos. Às vezes dizemos como aquele pobre
paralitico que não tem mais esperança, porque já temos certa idade, o nosso problema já tem se prolongado
demais e que as chances são mínimas. Nossas respostas são evasivas e ausentes de esperança e fé.

Vamos destacar três verbos aqui os quais destacam a pessoa de Cristo como o Senhor do tempo: VIU,
SOUBE e PERGUNTOU.

1. Havia uma multidão ali, mas Jesus VIU o homem paralítico. No salmo 11 verso 1, Davi
diz: Como dizeis, pois, a minha alma: Foge, como pássaro, para o teu monte, se eu confio em
Deus?, ou, em outras palavras, “Vocês acham que a situação é caótica e estou correndo risco
de vida, mas eu não vou fugir, pois confio no Senhor”.

Davi, então, usa duas figuras, a primeira é que “os Seus olhos estão atentos (observam)” (vs.4), ou seja, os
olhos do Senhor estão me vendo. A segunda expressão é: “as suas pálpebras sondam” (vs.4). A ideia que
Davi quer nos dar aqui é que quando Deus nos olha, Ele não está simplesmente enxergando. Mas, Ele
confere uma atenção especial aqueles que são por Ele observados. Ou seja, Davi diz que Deus me vê como
um todo e com cuidado. As Suas pálpebras estão voltadas para mim. Eu me torno o foco de Deus.

As Escrituras chegam a tratar o povo de Deus como “as meninas dos olhos de Deus”, alvo de muito
cuidado. Mas não fica por aí, Jesus não só viu esse homem, o texto acrescenta: “... e soube que vivia naquele
estado durante tanto tempo” (vs.6). Jesus soube, ou seja, estava atento mesmo antes de chegar ao tanque
de Betesda. Assim como foi com a mulher samaritana, Cristo tinha um encontro pessoal com aquele
paralítico.

2. Havia uma multidão ali, mas Jesus SOUBE da sua longa jornada de sofrimento (“...soube
que ele vivia naquele estado durante tanto tempo”. Conforme este verso, Jesus sabia até a
duração do sofrimento daquele paralitico. Isso confirma que Ele é de fato o Senhor do tempo.
61
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Ele sabe por quanto tempo o sofrimento se encontra presente na vida humana, isso desde que
o pecado entrou na humanidade. O fato de Jesus saber acerca do sofrimento humano, não
envolve apenas a constatação de uma realidade, mas também compreende os propósitos
divinos no que diz respeito à manifestação da Sua graça e misericórdia para com aqueles que
sofrem.

O ministério messiânico na perspectiva profética envolve também a ministração de curas aos enfermos (Is
53.4,5 – 4 Certamente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças;
contudo nós o consideramos castigado por Deus, por Deus atingido e afligido. 5 Mas ele foi transpassado
por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades; o castigo que nos
trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos curados.). Conforme as palavras de Isaías, a obra
do Messias é curar tanto os doentes de corpo (fisicamente) como os de alma (espiritualmente).

Nenhum enfermo em qualquer aspecto deixa de ser contemplado por Deus em seu sofrimento, dor e
carecias, o que não quer dizer que todos serão necessariamente fisicamente curados. Porém, todos podem
sim, a partir da fé em Cristo, serem transformados espiritualmente, garantindo a plena cura na glória
celestial. O maior exemplo desta verdade é a parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31).

Lázaro, conforme a narrativa nos informa, sofreu provações e privações enquanto esteve nesta vida, não
obtendo a cura de sua enfermidade, mas desfrutou plenamente da bem-aventurança eterna quando estava
no seio de Abraão (“Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembre-se de que durante a sua vida você recebeu
coisas boas, enquanto que Lázaro recebeu coisas más. Agora, porém, ele está sendo consolado aqui e você
está em sofrimento”. cf.vs.25).

Particular e individualmente, Jesus conhecia a realidade daquele paralítico e o ajudou naquele exato
momento (depois de 38 anos). Deus tem o Seu tempo determinado de manifestar a Sua glória e satisfazer
as necessidades daqueles que identificam Cristo como fonte absoluta de providência.

3. Havia uma multidão, mas Jesus se importou com ele e PERGUNTOU se ele desejava ser
curado de sua enfermidade. À princípio, esta pode ter sido a pergunta mais tola que Jesus
fez durante o Seu ministério terreno. Nada daquilo que Jesus faz deixa de cumprir um propósito
didático, ou seja, Ele sempre deseja ensinar algo para aqueles que estão tendo a oportunidade
de conhecê-Lo.

A pergunta de Jesus se torna oportuna diante do fato de que precisa-se avaliar quais são as reais necessidades
da vida humana (físicas ou espirituais). Diante de pessoas que apenas buscam favores gerais de Deus,
poucas são aquelas que conseguem perceber que suas reais necessidades vão além de uma simples cura
física. Não que uma cura física não seja importante para quem sofre durante 38 anos ou mais, pois quem
sofre, sabe como o tempo de sofrimento se torna destruidor. O que Jesus sempre procurou obter através de
Seus milagres, foi levar tais pessoas à fé salvadora. Compreendendo que, a cura da alma prevalece sobre a
cura física.

Portanto, a pergunta de Jesus, nada mais foi do que um gatilho para que o paralítico abandonasse sua fé em
crendices populares e confiasse nEle não somente para a cura física, mas principalmente da alma. O Senhor
do tempo faz perguntas propositais para que compreendamos que nossa necessidade mais vital é a cura de
nossa alma.

A DIDÁTICA DO SENHOR DO TEMPO PRESENTE NA CURA DO PARALÍTICO

Nos versos 10-13, vemos o paralítico e as primeiras reações críticas dos judeus em face ao milagre realizado
por Jesus. Nesses versos, vemos que os fariseus, cegos também às bênçãos divinas, acusaram de
desobediência o ex-paralítico: “Hoje é sábado, não lhe é permitido carregar a maca”. (vs.10). O que fora
paralítico respondeu: “O homem que me curou me disse: “Pegue a sua maca e ande”. (vs.11). A resposta

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

do homem tinha mais peso do que a observância meticulosa da Lei mosaica. O problema é que os líderes
judeus esqueceram-se do espírito da Lei, e ficaram apenas com a letra da Lei, que mata (2 Co 3.6).

Os judeus tinham como parâmetro a Torah, ou os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, que era a
lei de Deus escrita, vigente para o povo. Em paralelo, eles tinham a Mishinah, que consideravam tão
importante quanto a Torah, pois afirmavam que Moisés também havia dado aquela lei. Na lei que
regulamentava a vida do povo, eles organizaram os mandamentos de uma determinada maneira. No que
envolvia o sábado, havia trinta e nove mandamentos, ou proibições. Dessas, a trigésima nona está baseada
em Jr 17.21,22, e determinava que era proibido carregar o leito.

Era sábado, e Jesus sabia disso, mesmo assim não teve dúvidas em ordenar: “Toma o teu leito e vai dar
uma volta por aí”. Jesus estava levantando um assunto a ser discutido. Ele quis discutir com aquele povo
o conceito do sábado. Quando aquele homem andou por ali, os judeus não resistiram e intervieram: E, por
isso, os judeus disseram ao homem que havia sido curado: ‘Hoje é sábado, não lhe é permitido carregar a
maca’ (vs.10).

Aquele homem, provavelmente, era conhecido dos judeus, mas ninguém o identificou como aquele que
havia sido curado. A única coisa que eles viram não foi o homem, nem o amor ou o poder de Deus, mas
foi: “hoje é sábado, ele está carregando o leito”.

Com a pergunta que os judeus fizeram ao homem que fora curado, conforme o verso 12, percebemos a
desinformação dos líderes judaicos. É muito interessante este verso, pois demonstra que os fariseus, os
grandes líderes religiosos daqueles dias, nem sabiam direito tudo o que estava acontecendo debaixo de suas
barbas. De tanto controle que queriam ter sobre o povo e sobre a religião, eles nem sabiam o que estava
acontecendo ao seu redor. É... muitos líderes déspotas, que querem controlar tudo, muitas vezes percebem
que não são unanimidades, como julgam ser!

Surpreendemo-nos com as palavras do verso 13, pois assim como os líderes judeus não sabiam o que estava
acontecendo, esse homem não sabia quem o havia curado: “O homem que fora curado não tinha ideia de
quem era ele, pois Jesus havia desaparecido no meio da multidão”. Aqui se constata o desconhecimento
do ex-paralítico. Este verso é importante porque desmistifica a ideia que se propaga de que Jesus só curava
mediante a fé que Ele via nas pessoas. O próprio paralítico não sabia quem era Jesus, pois estando o tempo
todo ali, junto daquele tanque, pouco sabia o que se passava ao seu redor. Esse paralítico, que desconhecia
Jesus, provou que Jesus estava acima de tudo. A ação de Jesus proporcionou àquele homem abandonar o
seu lugar de sofrimento, o seu longo e terrível cativeiro.

Para refletir e debater: Jesus veio para libertar os cativos e oprimidos pelo pecado e pela religião, os quais
se encontram aprisionados, vivendo uma vida legalista. São doentes espiritualmente. Por fora, parecem que
vivem, mas por dentro estão mortos como sepulcros (Mt 23.27). Cristo é a cura para todo tipo de
enfermidade!

A RESPONSABILIDADE HUMANA EM FACE À CURA DO SENHOR DO TEMPO

Os versos 14 e 15 demonstram o segundo encontro do agora ex-paralítico com Jesus. Em relação a este
encontro, consideremos alguns detalhes importantes.

Em primeiro lugar, consideremos que no verso 14 (“Olhe, você está curado. Não volte a pecar, para que
algo pior não lhe aconteça”.), Jesus não estava ameaçando aquele homem que Ele havia curado. Jesus não
o ameaçou. O Senhor do tempo apenas deixou bem claro que o milagre graciosamente concedido
transformando sua realidade de dor e sofrimento, exigia também uma mudança de postura. Graça divina
compartilhada responsabiliza-nos quanto à uma conduta condizente com um encontro pessoal com o
Salvador.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Em segundo lugar, temos um precioso ensinamento divino. Essas palavras do verso 14, mostram que as
consequências eternas do pecado são muito mais sérias do que qualquer enfermidade física. Essa frase: “...
para que algo pior não lhe aconteça”, certamente pode ser entendida como um ensinamento fundamental
de Jesus para a vida cristã daquele novo filho de Deus.

Em terceiro lugar, conforme o verso 15 (O homem foi contar aos judeus que fora Jesus quem o tinha
curado.), o ex-paralítico, depois de ter sido encontrado por Jesus, tomou uma atitude que tem dado margem
a pelo menos duas interpretações. Alguns entendem que houve um tipo de entrega, de traição, de ingratidão
do ex-paralítico para com Jesus. Outros entendem que esse ato foi o de honrar a Jesus, dando crédito a Ele
que fizera tão maravilhosa ação para com ele. Outros, entretanto como Barclay (1974, p. 192-193),
entendem que ao ter descoberto quem era Jesus, “...o homem se apressou a dizer às autoridades quem lhe
tinha dado a ordem para carregar o leito. Sua intenção não era comprometer Jesus, porém... o tratou de
explicar que não era sua culpa ter desobedecido a Lei”.

Embora não se perceba o desejo de João definir o significado dessa ação, ela serviu para demonstrar o
ciúme e a manifestação dos fariseus para com Jesus (vs.16-18).

Essa perseguição surgiu por causa de um pano de fundo mais elaborado do que uma simples antipatia.
Existia a seguinte briga entre os judeus: “Será que em todos os dias Deus trabalha?”. Os rabis, do tempo
de Jesus, chegaram à conclusão que Deus trabalhava igualmente todos os dias da semana porque tinha que
sustentar o universo. Mas como justificar que Ele mandou não trabalhar no sábado, se Ele próprio trabalhava
todos os dias? A solução apresentada foi a seguinte: o trabalho pecaminoso é todo aquele que envolve
levantar uma carga acima da cabeça. E então, começavam a levantar as mais mirabolantes conjecturas:
“Deus sustenta o universo, mas Ele é tão poderoso que esse trabalho se dá abaixo da cabeça dele. Por
isso, não há problema em Deus trabalhar”.

Além disso, a lei assegurava, e os profetas também, que a cada manhã Deus renovava a sua misericórdia,
sua bondade, seu amor fiel e constante. Quando esses judeus começaram a discutir com Jesus sobre o que
Ele estava fazendo, a resposta que encontraram foi a seguinte: Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu
também estou trabalhando (vs.17).

Jesus queria mostrar àqueles homens que não existe tempo em que Deus trabalha ou não trabalha. A cada
manhã Ele renova a Sua misericórdia, e seja sábado ou não, podemos provar da bondade de Deus. Várias
vezes os judeus confrontaram Jesus com essa questão, e em outra ocasião, Ele definiu as regras: “O sábado
foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2.27).

Jesus introduziu esse assunto para manifestar àquela comunidade quem Ele era – O Senhor do Tempo.
Além de ser misericordioso, Jesus, em sua afirmação do verso 17: “Meu Pai continua trabalhando até hoje,
e eu também estou trabalhando”, quis dizer: “Deus trabalha todo o tempo, e eu que sou filho dEle, também
trabalho”. Em outras palavras, a reação calorosa dos judeus revela a força do que Jesus lhes disse: “Tenho
autoridade para curar, como estou fazendo e tenho autoridade para agir no sábado, porque eu sou o
Senhor do tempo”.

Embora Gn 2.2-3 ensine que Deus descansou (Heb. shabbath) no sétimo dia da criação, os rabinos judeus
concordavam que o Eterno continuamente sustentava o universo, contudo sem violar o shabat. Se Deus está
acima das regras do shabat, Jesus também estava (Mt 12.1-14). E ainda mais, mesmo os judeus faziam
exceções à regra que proibia trabalho no sétimo dia da semana, principalmente em casos onde a circuncisão
ocorria em dia de shabat (Jo 7.23).

CONCLUSÃO

Nos dezoito versículos iniciais de João 5, há catorze expressões com a marca do tempo, por exemplo:
“trinta e oito anos”, “muito tempo”, “imediatamente”, etc. Podemos resumir a briga de Jesus pela

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

reformulação do conceito dos judeus assim, os judeus dizem: “no sábado não pode curar”. E Jesus diz:
“Pode. Deus é dono do tempo e eu sou Deus”.

No estudo anterior vimos que Deus é dono do espaço. Não existe distância para Ele, e agora vemos que
para Deus também não existe tempo. Mas o que isso tem a ver conosco? Do mesmo modo que Jesus fez a
pergunta para aquele homem: “Queres ficar são, ou inteiro?” (cf. vs.6), o escritor de Hebreus nos exorta a
identificarmos qual o pecado que tenazmente nos assedia, ou seja, qual pecado nos envolve. No caso de
cada um de nós é diferente. O pecado que assedia você é um, o que me assedia é outro, o do seu vizinho, já
é outro, e assim por diante. O que Deus quer é que o nosso pecado seja tratado diante dele.

Para que isso aconteça Ele faz a mesma pergunta a você, hoje: “Você quer ser curado ou liberto?

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 9 – TAL PAI, TAL FILHO

Texto Base: Jo 5.16-30

16 Então os judeus passaram a perseguir Jesus, porque ele estava fazendo essas coisas no sábado.
17 Disse-lhes Jesus: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”.
18 Por essa razão, os judeus mais ainda queriam matá-lo, pois não somente estava violando o sábado, mas
também estava dizendo que Deus era seu próprio Pai, igualando-se a Deus.
19 Jesus lhes deu esta resposta: “Eu lhes digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si
mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que o Pai faz o Filho também faz.
20 Pois o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz. Sim, para admiração de vocês, ele lhe mostrará
obras ainda maiores do que estas.
21 Pois, da mesma forma que o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, o Filho também dá vida a quem
ele quer.
22 Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao Filho,
23 para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, também não honra
o Pai que o enviou.
24 “Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não
será condenado, mas já passou da morte para a vida.
25 Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de
Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão.
26 Pois, da mesma forma como o Pai tem vida em si mesmo, ele concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.
27 E deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.
28 “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos
ouvirão a sua voz
29 e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para
serem condenados.
30 Por mim mesmo, nada posso fazer; eu julgo apenas conforme ouço, e o meu julgamento é justo, pois
não procuro agradar a mim mesmo, mas àquele que me enviou.

INTRODUÇÃO

Q uando uma criança é gerada ficamos na expectativa de vê-la para nos identificarmos fisicamente com
ela. Quando chegamos para ver um bebê procuramos nela uma semelhança com os pais, e dizemos:
“mas é a cara do pai, ou da mãe”. Ficamos impactados com semelhanças como uma mancha, o
formato da mão, da cabeça, do pé e outras semelhanças físicas.

Com o passar dos anos tais semelhanças vão se acentuando cada vez mais e outras características vão sendo
ressaltadas como nos maneirismos, no jeito de andar, falar e principalmente na personalidade. A expressão:
“Tal pai, tal filho”, tende a demonstrar que os filhos em geral reproduzem as qualidades e os defeitos
paternos. Quando esta expressão é aplicada a nós, cristãos, se referindo a Deus como nosso Pai celestial,
precisamos ser honestos e reconhecer que os atributos paternos divinos, não têm sido por nós reproduzidos
com tanta frequência em nossas vidas.

Vemos, no meio da cristandade, sérias divisões, decorrentes de divergências doutrinárias e da imposição de


dogmas, usos e costumes instituídos por simples mortais. Nossas ações muitas vezes não condizem com
nossa nova filiação. Infelizmente, por essas e outras faltas de semelhança com Deus, aqueles que estão de
fora, sentem-se muito pouco interessados em aceitar a tão pura e simples mensagem do Evangelho. E isso
não é por menos, pois até parece que “esses filhos” (que somos nós) são órfãos paternos.

Porém, quando a expressão: “Tal pai, tal filho”, é aplicada à Cristo, não temos maior e melhor exemplo de
perfeição e semelhança (não física), mas no que diz respeito à reprodução de caráter, a final de contas, Jesus
Cristo é a imagem do Deus vivo, a expressão exata do Seu ser (Hb 1.3). Através da vida do filho, o Pai é
conhecido. Quem deseja conhecer o Pai, deve necessariamente conhecer o Filho (Jo 14.8-10).
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

I – DESVENDANDO O MOTIVO DA PERSEGUIÇÃO AO FILHO DE DEUS (vs.16-18).

16 Então os judeus passaram a perseguir Jesus, porque ele estava fazendo essas coisas no sábado. 17
Disse-lhes Jesus: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”. 18 Por essa
razão, os judeus mais ainda queriam matá-lo, pois não somente estava violando o sábado, mas também
estava dizendo que Deus era seu próprio Pai, igualando-se a Deus.

A. A quebra da Lei

Tudo começou com a cura do paralítico no tanque de Betesda conforme estudamos na lição anterior.
Quando os judeus viram que o homem curado estava carregando sua maca no dia de sábado (ação proibida
de acordo com a lei judaica), questionaram-no: “Hoje é sábado, não lhe é permitido carregar a maca”.

Sábado significa “descanso” é uma ordenança divina para o bem estar do homem envolvendo sua saúde e
também para impedir a ganância. Todo feriado e festa judaica era chamado de sábado não importando o dia
em que caísse. Então havia semanas que tinham 2 ou até 3 sábados e em semanas como a da festa dos
tabernáculos e dos pães asmos, todos os dias da semana eram chamados de “sábado”. Além disso, existiam
meses e anos sabáticos estabelecidos pela lei judaica.

Qualquer dia de descanso pode ser chamado de sábado. Para Deus, mais importa que o homem O sirva, do
que o dia que vai descansar, porque “o sábado existe por causa do homem e não o homem por causa do
sábado” (Lc 2.27). Esta é a chave para compreendermos o objetivo de Jesus ao “quebrar a lei”. Deus já
havia avisado o fim do sábado há muito tempo dizendo: “Farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as
suas luas novas, os seus sábados e todas as suas solenidades” (Os 2.11). Esta profecia sobre o fim do
sábado foi cumprida em Jesus, “o Senhor do sábado” (Mc 2.28) que não guardou o sábado da forma que
os judeus queriam, ou seja, sem fazer qualquer tipo de atividade.

Aquela também era uma oportunidade de Jesus levantar junto à Sua comunidade uma questão teológica,
porque além dos 10 Mandamentos, o povo de Israel trazia uma lei oral. Essa lei não estava escrita ainda
naqueles dias, mas, era entendido pelo povo que havia sido dada também por Deus a Moisés. Eles a
consideravam mais importante que qualquer coisa. Ela estava formalizada em 613 mandamentos, e havia
39 deles sobre o que não se podia fazer no sábado. O último deles dizia que uma pessoa não podia carregar
a sua cama num sábado. Porém, Jesus quando curou aquele homem, num sábado, disse: “Levanta, e toma
(carrega) o teu leito. Dá umas voltas por aí”. Jesus queria mostrar que possuía mais autoridade que aquela
lei que eles tinham.

Portanto, quando paramos para avaliar o caráter do questionamento dos judeus acerca do paralítico
carregando sua maca, podemos perceber algumas questões que vão além de uma simples repreensão por
conta da quebra da lei. O Mestre procurou ensinar que toda regra precisa preservar pelo menos um princípio,
se isso não acontece, ela se torna inútil. A obediência à Lei jamais pode ir contra a realização do bem ao
próximo, ou seja, o bem alheio está acima da prática da Lei.

Jesus sempre fez uso de Seus milagres e sinais como instrumento para autenticação de Sua identidade
messiânica, ou seja, o objetivo das curas sempre foi revelar quem Ele era e que estava acima da Lei tão
venerada e muito mal interpretada por eles. A cegueira espiritual do povo judeu, os impediu de enxergar
através do milagre da cura do paralítico e se alegrar com ele e despertar para conhecer Aquele que o havia
curado.

Este texto nos revela o mal da religiosidade e suas consequências no que diz respeito ao afastamento de
Deus e ao impedimento no conhecimento da identidade e propósito central da vinda de Cristo. A autoridade
de Cristo demonstrada sobre as enfermidades, não anulou a Lei quando foi realizada no sábado (dia
sagrado), pelo contrário, apresentou Cristo como Senhor da Lei.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O objetivo no texto é diferenciar o “dia sagrado” observado pelos judeus e o próprio Filho de Deus (não
reconhecido como o Messias), desconstruindo desta forma, uma interpretação equivocada da Lei para
reconstruir não apenas uma opinião superficial sobre Cristo, mas uma convicção sobre Ele a qual nos
submete ao Seu senhorio nos tornando filhos de Deus.

Enfim, Jesus quebrou a Lei?

Jesus não quebrou a lei, pelo contrário, a cumpriu quando Se identificou como Senhor sobre a Lei,
promovendo vida àqueles que estavam mortos. O paralítico “carregar a maca” foi como uma forma de
“protesto” para chamar a atenção daqueles que estavam impossibilitados de ver e conhecer o verdadeiro
“espírito da Lei” – O amor de Deus. A “obediência” cega à Lei os impedia de praticar o amor ao próximo
– mandamento que eles na verdade estavam quebrando!

Os ensinamentos de Jesus de Nazaré são revolucionários, não porque Ele tenha anulado/quebrado as leis
que Deus nos revelou, mas porque Ele as amplificou, demonstrando a intenção espiritual delas (Mt 5.17 –
“Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir”.). A palavra traduzida
como “cumprir” nesta passagem significa “tornar completo, preencher completamente”. As ações de Jesus
em Seu ministério “cumprem a Lei” no sentido de torná-La completa, possibilitando assim, uma
interpretação a partir da ótica divina e não de uma compreensão humana limitada e deficiente.

Quando Jesus afirma que veio “cumprir a Lei”, Ele está afirmando o que também foi reafirmado pelos
apóstolos – Toda a lei mosaica: Os ofícios (Rei, Sacerdote e Profeta), as cerimonias religiosas e bem como
as normas judaicas tem pleno cumprimento na pessoa de Cristo. Para os escritores da carta aos Colossenses
(2.17) e aos Hebreus (10.1), todos estes elementos da Antiga Aliança eram apenas “sombras” daquilo que
seria vivido e realizado de forma perfeita através do Cristo de Deus.

Lembremos que o encontro de Jesus com o paralítico prefigurava a própria situação espiritual deficiente
em que se encontrava o povo de Israel, ou seja, impossibilitado de reconhecer a identidade do Messias e
buscar nEle a cura para suas almas (Jo 1.10-12 – 10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo
foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. 11 Veio para o que era seu, mas os seus
não o receberam. 12 Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de
se tornarem filhos de Deus.).

A única coisa que Cristo fez quando curou aquele paralítico, ordenando que ele tomasse sua maca e fosse
“dar um passeio na cidade”, foi desconstruir uma interpretação equivocada da Lei acerca do “descanso”,
o qual não pode ser efetivamente alcançado através de esforço humano. O tanque de Betesda não fazia jus
ao seu significado: Casa de Misericórdia. Cada indivíduo presente naquele tanque, buscava seus próprios
interesses por meio de esforços individuais. Totalmente privados de sensibilidade e empatia com o próximo.

Apenas em Cristo o homem tem condições de “descansar” de seu sofrimento e mazelas. Visto que Ele é o
nosso pleno descanso, certa feita Ele próprio declarou a Seu respeito: “Venham a mim, todos os que estão
cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim,
pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo
é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).

Quem são os “cansados e sobrecarregados”:

“Cansados e sobrecarregados” são os dois grupos de pessoas que receberam o gracioso convite de Jesus.
“Cansados” no grego é kopos, segundo Charles Swindoll, Jesus usou esse mesmo termo em Mateus 6.28
para descrever a aflição do ansioso. Dessa forma, Jesus Se apresenta como “sábado”, como descanso para
pessoas exaustas, cansadas e angustiadas de alma. Os “sobrecarregados” eram aqueles que carregavam
um peso maior do que podiam suportar, nesse caso, os pesados fardos da religião judaica com suas
intermináveis, inflexíveis e exageradas regras.

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Segundo Jesus, os fariseus: “atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens;
eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los” (Mt 23.4). Aos sobrecarregados, Jesus também Se
apresenta como “sábado”, Ele os convida a trocar o pesado fardo do legalismo religioso por um “jugo
suave e leve”. Diferente dos fariseus, a mensagem de Jesus (o Evangelho) é adequada e prazerosa já que
quem aceita Seu convite vive a mais intensa de todas as relações de amor.

Jesus é nosso sábado! Nosso descanso hoje, agora. Mas também O é numa perspectiva escatológica. O
escritor aos Hebreus 4.9,10 afirma: Assim, ainda resta um descanso sabático para o povo de Deus; pois
todo aquele que entra no descanso de Deus, também descansa das suas obras, como Deus descansou das
suas.

B. A equiparação com Deus

No verso 17 Ele diz: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando” onde Ele
Se faz semelhante ao Pai, que está nos céus. Os judeus acreditavam que Deus estava trabalhando ainda, que
Ele não descansava no sábado. E Jesus está dizendo que Ele é como o Pai. Desta forma, vemos no verso 18
que eles não só procuravam matá-Lo por trabalhar no sábado, mas também por dizer-Se igual a Deus.

A equiparação feita por Jesus com o Pai, se deu no aspecto de uma obra que tem a necessidade de
continuidade, ou seja, não cessou e nem deve cessar pelo fato de que, como Criador, Ele tem o compromisso
e responsabilidade de sustentar Sua criação. Deus criou o mundo em seis dias, no sétimo, Ele descansou,
ou seja, cessou o ato de “criar”. Mas, embora tenha descansado de criar, Ele nunca deixou de preservar e
governar aquilo que Ele havia formado.

À semelhança de Deus, Cristo enquanto participante direto na criação de todas as coisas (Jo 1.3 – Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito.), não pode deixar de
cuidar, preservar e governar aquilo que criou juntamente com o Pai. Ele não pode guardar “sábados”, pois
nada pode continuar a existir, ou responder ao fim proposto pela sabedoria e bondade divinas, sem a
“energia” divina (trabalho de Deus).

Portanto, Jesus quer dizer que: “Eu trabalho da mesma maneira que meu Pai, como criador, sustentador e
preservador de toda criação. Confortando os abatidos, excluídos e miseráveis da sociedade, curando os
enfermos de corpo e alma e salvando os perdidos; para mim, a esse respeito, não existe “sábado”.

Jesus igualou-Se a Deus enquanto Sua missão central é fazer a vontade do Pai concluindo-a (Jo 4.34 –
Disse Jesus: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e concluir a sua obra.). Este texto
se encontra dentro de um cumprimento missionário, ou seja, Cristo foi enviado ao mundo para compartilhar
uma mensagem de salvação e libertação dos cativos e oprimidos pelo pecado e pelo jugo da Lei colocado
pelos mestres da Lei e fariseus sobre os ombros do povo. Como já vimos, Cristo traz alívio aos cansados e
oprimidos.

II – UMA RESPOSTA ESCLARECEDORA DO FILHO ACERCA DO PAI (vs.19-23).

19 Jesus lhes deu esta resposta: “Eu lhes digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si
mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que o Pai faz o Filho também faz. 20 Pois o Pai ama
ao Filho e lhe mostra tudo o que faz. Sim, para admiração de vocês, ele lhe mostrará obras ainda maiores
do que estas. 21 Pois, da mesma forma que o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, o Filho também dá
vida a quem ele quer. 22 Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao Filho, 23
para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, também não honra o
Pai que o enviou.

a. O Filho nada faz por Si mesmo

69
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Nós vamos encontrar no Evangelho de João, cinco ocasiões onde Jesus diz que veio para fazer a vontade
de Deus. Quando Ele começou o Seu ministério é dito que “Ele não veio para fazer a Sua vontade”. Ele
não veio para estabelecer um novo reino, nem tampouco para um novo gênese, com a comunidade humana
da sua época. O que Jesus fez, foi relacionado com aquilo que Deus havia planejado desde a eternidade. O
verso 19 afirma, portanto, que: “o Filho não pode fazer nada de si mesmo”. E João 8.42, “Eu não vim por
mim mesmo”. O que significa que Ele veio de acordo com uma vontade e um propósito superior, não
estabelecido por Si mesmo, mas em cumprimento à vontade do Seu Pai.

b. O Filho faz o que vê o Pai fazer

O verso 19 diz que Ele faz tudo o que vê o Pai fazer. Embora as Escrituras não digam nestas palavras, há
uma concordância entre os estudiosos sobre o contexto da trindade, onde afirmam que o Pai planeja, o Filho
executa, e o Espírito capacita.

Este texto confirma claramente que, o Filho, vive em atenção permanente diante do Pai. Aquilo que vê o
Pai fazer, Ele reproduz. Jesus é o reflexo perfeito do Pai no que diz respeito as intenções. Esta atenção total
do Filho ao Pai, faz com que o amor do Pai possa transparecer completa e totalmente no Filho e, através do
Filho, Deus cumpre Sua obra no mundo. A grande obra do Pai, a qual o Filho veio cumprir na terra é
proclamar a vitória sobre a morte e fazer viver todo aquele que crê no nome de Cristo. A cura do paralítico
foi uma forma de tirar as pessoas da morte e fazê-las viver. É uma forma de dar continuidade à obra criadora
do Pai.

c. O Filho faz TUDO o que vê o Pai fazer

O que o Filho fez, foi exatamente o que Ele viu o Pai planejar. Ele não “tirou algumas ideias da cartola”,
ou alguns milagres da “manga”. Mas fez tudo aquilo em conformidade com a orientação de Deus, do Pai,
dAquele que estava planejando todo o projeto de abordagem do ser humano, para libertação e salvação do
homem. Jesus não estava sendo original (no sentido de ser diferente de Deus), pois Ele participou de todo
o processo da criação.

Ainda completando a ideia do verso 19, temos: “...porque o que o Pai faz o Filho também faz”, percebemos
aqui o seguinte: assim como Jesus faz o que o Pai faz, não existe nada que o Filho deixe de fazer que o Pai
faça. Ele tem as mesmas capacidades do Pai, embora seja uma pessoa distinta, e esteja cumprindo a vontade
do Pai. Ele está em consonância com a vontade do Pai, e faz o que vê o Pai fazer (sem tirar ou acrescentar).
Ele mesmo tem capacidade para fazer absolutamente todas as coisas que o Pai faz. Isso mostra que Ele não
é inferior. Ele simplesmente assumiu a forma humana e foi obediente até o fim (Fp 2.8).

III – O AMOR DO PAI PELO FILHO

No verso 20 lemos: “Pois o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz...”. Veremos no capítulo 13,
verso 31 que o Filho ama o Pai, e já no capítulo 3, verso 35, vimos que o Pai ama o Filho. A palavra
empregada para esse amor, nos dois versos é “ágape”, o que dá a ideia de que Eles Se amam
incondicionalmente, sem restrições. Porém, a palavra empregada no verso 20 é especial, é “philos”, e ela
tem o significado de um amor de “amigos”. Vemos então aqui, que existe entre o Pai e o Filho uma relação
de profunda amizade. O Pai e o Filho são amigos íntimos.

No capítulo 1 verso 18, diz: “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o
tornou conhecido”. Aqui Deus afirma que não há nada a ocultar ao Filho, porque Ele é extremamente
íntimo de Deus. Fazia as mesmas coisas que Deus. Via o que Deus fazia, e Deus não lhe ocultava nada
porque ali havia um relacionamento de amigos “do peito”.

Certa ocasião, Jesus falando com Seus discípulos disse que já não lhes chamava de servos, mas sim, de
amigos, porque tinha lhes mostrado o que Ele estava por fazer (Jo 15.15). A pessoa de Jesus, que viveu
naqueles dias não era um Deus menor, uma alternativa ao Deus do Antigo Testamento. Tal Pai, tal Filho.
70
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Ali estava uma expressão exata de Deus, como uma “comunidade”: Deus Pai, Deus Filho, e Deus
Espírito. Pessoas diferentes, mas com o mesmo caráter, as mesmas capacidades que resolveram abordar o
homem, e um deles é enviado a nós, assumindo a forma humana, por causa de um propósito para a raça
humana.

Após ter feito o milagre, no verso 20, vemos: “Sim, para admiração de vocês, ele lhe mostrará obras ainda
maiores do que esta”. É possível que Jesus esteja falando aqui de curas que Ele ainda iria fazer. Além de
curar um homem enfermo há 38 anos, Ele ressuscitou pessoas, curou cegos, etc. Creio que Ele se referia a
algo muito maior, que tinha a ver com a libertação do homem, com o resgate dele da sua condição
miserável. Esse ser, Jesus, era semelhante ao seu Pai, embora fosse uma outra pessoa, em toda a intimidade
com o Pai.

IV – AS OBRAS DO FILHO

21 Pois, da mesma forma que o Pai ressuscita os mortos e lhes dá vida, o Filho também dá vida a quem
ele quer. 22 Além disso, o Pai a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao Filho, 24 “Eu lhes
asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será
condenado, mas já passou da morte para a vida. 27 E deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do
homem.

a. Dar vida.

A característica que o Filho tem, igual ao Pai, é a de poder dar vida. Não sei o quanto somos conscientes
da fragilidade da vida, de quão facilmente podemos morrer. Talvez não consideremos essas coisas porque
gozamos de boa saúde, e nada desastroso nos aconteceu. Mas pessoas conhecidas, muitas vezes até jovens,
têm partido em acidentes, ou por doenças. Quem nos dá vida? Deus. Mas, quando Jesus diz que pode nos
dar vida, de que vida está falando?

Há palavras diferentes no grego, do Novo Testamento para descrever vida. São traduzidas sempre por vida,
mas neste exemplo, ela significa mais do que esta vida biológica. Ele não está falando de um
ressuscitamento, caso morramos, mas de uma nova natureza, uma vida de uma nova era que você pode
receber agora.

Quando traduzimos o termo “vida eterna”, talvez devêssemos traduzi-lo por “vida de um tempo por vir”,
ou “de um tempo futuro”. Tempo com características distintas, e também que não mais se findará. Porém,
nada tem a ver com o movimento de Nova Era. O apóstolo João está dizendo que Ele dá vida. No verso 25,
temos: “Eu lhes afirmo que está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho
de Deus, e aqueles que a ouvirem, viverão”.

Vocês já tentaram falar com algum morto, e obter dele resposta? Mas este texto insiste em que os mortos
ouvirão a Sua voz. Então, que mortos são esses? O que significa ser morto? Em Efésios 2.1 Paulo nos diz
que todos nós estávamos mortos, nos nossos delitos e pecados (Por causa do pecado que cometemos
estamos condenados à morte). Isso significa que não temos capacidade de nos relacionarmos com Deus.
Não buscamos a Deus ou temos interesse por Ele. Não fazemos o bem que Deus exige, e Ele chama alguém,
nessas condições, de uma pessoa morta.

Em Romanos 6.23 lemos: “O salário do pecado é a morte”. Sabendo que toda a comunidade humana está
debaixo do pecado, desde Adão, condenada à morte, Deus nos anuncia que o Filho fala com mortos, ou
seja, pessoas excluídas do relacionamento com Ele, e “quem ouvir a Sua voz viverá” (cf. Jo 5.25). Assim
como o Pai deu vida àquelas pessoas que não existiam ainda. Soprou-lhes e deu vida, o Filho agora, tem
poder de dar vida às pessoas que estão mortas no mundo.

Algumas parecem mais espertas, outras desfrutam de maiores glórias, mas qual é a glória humana, ou a
satisfação que o dinheiro pode dar a alguém? Alguém que está morto, está sem a perspectiva do que Deus
71
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

tem para si. Na verdade, estamos todos mortos. Jesus olhou para essa sociedade e disse que podia dar-nos
vida.

b. Julgar

Não somente dar vida, mas Cristo faz também algo que o Pai faz. Vemos no verso 22: “Além disso, o Pai
a ninguém julga, mas confiou todo julgamento ao Filho”. Em Gênesis 18.25 lemos as palavras do próprio
Deus: “Eu sou o juiz de toda a Terra”. Mas o texto de João, todo o julgamento foi entregue a Jesus, e no
capítulo 3 é explicado esse julgamento: na crucificação, todos os pecados que nos conferem e selam a nossa
morte espiritual, sejam eles poucos ou muitos, pequenos ou grandes, socialmente aceitáveis ou repudiáveis,
todos eles foram punidos, julgados, condenados e pagos pela morte de Jesus.

Quando é dito que a Jesus foi concedido julgamento, não significa simplesmente que lhe foi concedido o
direito de ser juiz das pessoas. Talvez você possa imaginá-Lo sentado num tribunal, com todas as honras e
glórias, condenando ou libertando pessoas. Mas não foi bem assim, pois esse tribunal começou numa cruz,
onde Ele mesmo recebeu a punição pela condenação justa de cada ser humano.

Mas não termina nisso. O verso 24 diz: “Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que
me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida”. É possível não
ser condenado. Mas, como? Quando eu confio no juízo e na condenação, que já aconteceram na cruz, posso
chegar até a Jesus, que julga todas as coisas. E, por causa dEle já ter sido julgado no meu lugar, e eu me
apropriar disso, pela fé, sou declarado por Deus, livre de condenação. A essa realidade chamamos
“JUSTIFICAÇÃO”.

Jesus foi julgado pelo pecado de toda a humanidade. Em João 3.18 há uma palavra clara de que a única
condenação que pode cair sobre um homem é ele não se apropriar da salvação, que há em Cristo. Essa
salvação é absolutamente suficiente. Ele já sofreu por todo o pecado. Não falta punição por qualquer que
seja o pecado.

Algumas pessoas questionam a respeito do “pecado contra o Espírito Santo”, porque há um texto nas
Escrituras que diz que a blasfêmia contra o Espírito Santo não pode ser perdoada (cf. Mc 3.29). O que isso
significa? O Pai dá ordens ao Filho e o Filho glorifica o Pai. O Espírito é aquele que é enviado pelo Filho,
e tem o propósito de glorificar o Pai. Portanto, fica bem claro que, em termos de hierarquia, o Pai tem maior
posição de autoridade. Então, porque a blasfêmia contra o Pai ou contra o Filho é perdoada, mas, não contra
o Espírito? Seria porque a ofensa é tão grande? Cremos que não.

Vendo o contexto daquela passagem notamos que aquelas pessoas que ali estavam, perceberam quem era
Jesus: o prometido das Escrituras. E ao invés de darem a glória e a honra devida a Ele, elas disseram que
Jesus expulsava demônios por Belzebu. O que significa: “o que você está fazendo é pelo poder do diabo”.

O “pecado contra o Espírito Santo” é o pecado de rejeitarmos conscientemente o que Deus já nos revelou
a respeito de quem é Jesus. O problema não é o tamanho do pecado, mas contra quem pecamos. Porque é
o Espírito de Deus que está atuando no coração de cada um de nós, fazendo-nos pensar acerca de qual é a
nossa situação com Deus. É esse Espírito que vai nos convencer do pecado, da justiça e do juízo que houve
naquela cruz, e que pode nos levar de fato a nos apropriarmos da salvação em Cristo. E na medida que
somos convencidos, e rejeitamos, vamos ficando cauterizados para a ação desse Espírito. Não é que o
pecado seja tão grande, pois não há pecado “tão grande”. Aquela cruz pagou todos eles. Ele julgou tudo.

O verso 27 diz: “E deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem”. Jesus produziu todo o
julgamento necessário para o pecado. Veja então: Jesus era igual a Deus, era um com Deus, embora uma
pessoa distinta. Foi enviado e estava cumprindo toda a vontade de Deus, sem exceção. Jesus tem o poder
de dar vida, e o poder de julgar. Portanto, o que espera de nós? Se de fato Ele fosse um grande homem, ou
grande mestre de moral, poderíamos aceitar ou não as suas palavras, porque não passaria de um homem,
que pode ser grande, mas é um homem.
72
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

A cura realizada naquele paralítico, não foi reconhecida como uma obra divina por aqueles judeus que
haviam questionado o fato de ele estar carregando a maca no dia de sábado. A rejeição do milagre é
automaticamente a rejeição do milagreiro, ou seja, quando não reconheceram o milagre na vida do
paralítico, rejeitaram a Cristo culpando-O pela quebra do mandamento e nutrindo em seus corações um
ódio mortal por Jesus.

V – ATITUDES REQUERIDAS DO POVO PARA COM O FILHO

23 para que todos honrem o Filho como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho, também não honra
o Pai que o enviou. 24 “Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem
a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida.

a. Honra

Porém, se entendemos que a pessoa de Jesus é o próprio Deus Se manifestando a nós, qual a resposta que
Deus espera de nós? Quem não honra o Filho, não honra o Pai que O enviou. Algumas pessoas dizem não
ter dificuldades em aceitar a existência de um Deus soberano, eterno e poderoso, mas não aceitam a pessoa
de Jesus como Deus. Essa atitude não honra a Deus, pois quem não honra o Filho não honra o Pai. Porque
o Pai prometeu que iria enviar o Seu Filho. Como poderíamos aceitar o Pai, sem acatar o que Ele falou,
quando o Seu Filho veio? Se aceitássemos o Pai, teríamos que aceitar o Filho, que é Sua promessa. Portanto,
é bobagem dizermos que honramos o Pai, mas não honramos o Filho. Assim como também dizer que
honramos o Filho, mas não honramos o Pai.

No início da era cristã, um teólogo, chamado Márcion dizia que enquanto o Deus do Velho Testamento era
um deus déspota, duro, guerreiro, e assassino, o Deus do Novo Testamento, Jesus, era Deus bondoso. Não
é possível acolhermos um, e rejeitarmos o outro, pois quem honra um, honra o outro. Mas o que significa
essa honra esperada? O Salmo 2 traz-nos uma exortação, depois do salmista descrever qual é a situação
internacional, o caos entre as nações e o povo voltado contra as posições de Deus. Diz-nos: “Reis da Terra,
deixai-vos advertir. Beijai o Filho para que não se irrite”.

Naqueles dias essa era uma prática comum. A postura diante de um rei era se curvar e lhe beijar os pés.
Assim estava sendo reconhecida a posição de superioridade e autoridade que aquela pessoa ocupava. Essa
é a maneira de honrar a Deus. Não simplesmente beijar, mas declará-Lo como Soberano, como Senhor.

b. Ouvidos prontos

E ainda, no verso 24 lemos: “Quem ouve a minha palavra...”, onde apreendemos que Deus espera que nós
ouçamos o que Jesus falou, pois, Suas palavras são vida. Mas o que significa “ouvir”? Às vezes ouvimos,
mas não estamos atentos, realmente escutando o que estamos ouvindo. Em Tiago 1.25, encontramos uma
forma de como devemos ouvir: “Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita, que traz a liberdade,
e persevera na prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu mas praticando-o, será feliz naquilo que
fizer”.

Notemos que esse ouvinte não se esquece, mas atenta bem e leva em conta, praticando o que ouviu. Já no
final do Seu tempo aqui na Terra, Jesus diz: “Foi-me dada toda a autoridade, nos céus e na Terra. Portanto,
vão e façam discípulos...” (Mt 28.18), e num dos detalhes de como fazer discípulos, Ele diz: “Ensinando-
os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt 28.20).

É assim que se ouve a Jesus. Jesus fala objetivamente que os nossos pecados foram pagos na cruz, e que é
simplesmente pela fé que podemos nos apropriar de tão grande salvação, de participar do plano de Deus.
Se nos apropriamos disso, estamos salvos. Não por conta de termos sido batizados, ou ido à igreja ou
memorizado versículos da Bíblia. Mas por ouvir o que Jesus fala, e acolher isso. Temos que honrar, e temos
que ouvir a Ele (que são duas coisas muito ligadas).

73
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

c. Fé

E ainda no verso 24 diz: “...e crê naquele que me enviou...”. Ao longo do Velho Testamento, Deus esteve
revelando, progressivamente, à comunidade de Israel, que viria alguém para libertar o povo do pecado.
Antes mesmo do povo de Israel existir, o Senhor disse que o libertador nasceria de uma mulher, um ser
humano. Mais adiante Ele diz que esse libertador seria um semita, e depois, que seria da família de Abraão.
Ainda fala da cidade em que Ele iria nascer, as funções que exerceria como profeta, sacerdote e, finalmente
rei. Mais à frente diz que Ele iria morrer, com detalhes sobre a Sua morte, Suas vestes, sepultura, e
ressurreição. Diz também que Ele vai voltar e reinar. A promessa é clara ao longo de todo o Velho
testamento, de que Deus vai enviar o seu Filho. E Jesus diz: “Quem crê naquele que me enviou (ou seja,
quem conhece as promessas dEle, e se apropriou delas), tem a vida eterna” (Jo 5.24). Tem uma vida que
se caracteriza não simplesmente por sobrevivência.

VI – DESTINO ETERNO

28 “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos
ouvirão a sua voz 29 e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal
ressuscitarão para serem condenados. 30 Por mim mesmo, nada posso fazer; eu julgo apenas conforme
ouço, e o meu julgamento é justo, pois não procuro agradar a mim mesmo, mas àquele que me enviou.

a. Ressurreição

Ao pensarmos sobre a morte física, não deveríamos nos impressionar tanto, pois estar com o Senhor, como
disse Paulo, é incomparavelmente melhor. Por vezes, mesmo cristãos lutam contra a morte, como se isso
fosse o pior mal das suas vidas, enquanto o apóstolo Paulo nos alivia: “se esse corpo vier a se corromper,
e se destruir, nós temos um corpo novo, espiritual, caracterizado pela glória de Deus, livre dos limites que
o pecado impõe” (cf. 2 Co 4.16 e 5.1).

E, embora essa vida seja para a eternidade, ele também diz que ela começa agora. Já podemos viver desde
agora segundo o que Deus tem feito, e o que Ele tem prometido. Desde agora podemos desfrutar de um
bom, vivo, e rico relacionamento com Deus. Podemos provar, na vida com o Senhor, dessa comunhão com
Ele, das Suas ações e intervenções, muitas vezes em nosso dia a dia, embora a sociedade em que vivemos
ou ainda as nossas preocupações digam que Ele não fará nada.

Talvez nossas culpas nos façam acreditar que Ele não tem interesse em Se voltar para nós, porque o nosso
pecado possa ser tal que pareça afastá-Lo de nós. Mas podemos provar que Deus é real. A vida que Ele tem
nos concedido através do Seu Filho, não só nos concede o direito de viver pela eternidade, mas também o
de viver nesta vida, nos padrões da eternidade.

O verso 24 diz que nós vamos estar livres de juízo. Vejamos, porém, nos versos 28 e 29, algo, que pode
parecer uma contradição ao que já foi dito: “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora
em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão
para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”. Esses não são mais aqueles
mortos, que ouvem a voz hoje, e se levantam. Aqui está falando de um tempo futuro, um tempo, onde Jesus
diz que Ele vai dizer algo, e todos os que já morreram vão ressuscitar.

b. Julgamento

De acordo com a afirmação do verso 29: “... os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que
fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados”, devemos entender que temos que fazer o bem? Em
primeiro lugar, as Escrituras dizem, objetivamente que ninguém faz bem algum. “Não há quem faça o bem”
(cf. Rm 3.12). Portanto, por conta de fazer o bem, estamos todos condenados.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

O inferno é o lugar que reúne a maior comunidade dos bem intencionados, que pensam em fazer o bem,
mas não conseguem. Não é suficiente querer fazer o bem, pois ainda que alguém houvesse pecado só uma
vez, já estaria condenado. Então qual é esse bem, a que as Escrituras se referem?

Vejamos João 6.28 e 29: 28 Então lhe perguntaram: “O que precisamos fazer para realizar as obras que
Deus requer?” 29 Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: crer naquele que ele enviou”. A única obra
que podemos fazer, que nos tira da condição de mortos e condenados, para participar da vida com Deus
agora e para sempre, é crer em Jesus. Só isso. Não é crer nEle, e mais alguma coisa. Isso significa crer nas
Suas promessas, em Sua obra redentora, e no que Ele diz. Essa é a obra maior do Senhor, maior que os
milagres que realizou. É o fato de que naquela cruz, por cada um dos nossos pecados, Ele morreu. Sem
exceção.

É impossível deixarmos de pecar, portanto, nesta vida trazemos em nossa semana, no mês, no ano, pecados
de imoralidade, vividos ou pensados. Trazemos nos nossos corações o pecado da ansiedade, que é como se
disséssemos para Deus: “Estou preocupado, porque eu não sei se o Senhor está cuidando de todas as
coisas”. Isso é incredulidade. Naquela cruz, Ele morreu por causa disso. Os roubos, as cobiças, não há
pecado que tenha ficado de fora. Ele pagou integralmente. E o que nos resta? Crer. Somente crer, pois se
dependesse de mais alguma coisa estaríamos condenados.

Algumas pessoas pensam que por frequentar uma igreja há muito tempo, ou por fazerem promessas de levar
uma vida reta diante dEle, podem agradar a Deus e obter a salvação. Porém, isso de nada serve. O que tem
valor diante de Deus é se um dia declaramos crer que Jesus pagou os nossos pecados naquela cruz, e
desistimos de tentar alcançar as Suas exigências de santidade por nós mesmos (o que nos é impossível),
aceitando o Seu perdão humildemente, e confiando que de graça e pela graça somos salvos (Ef 2.8,9).

CONCLUSÃO

O fato de Jesus Cristo ser semelhante a Deus Pai, garante para todos aqueles que creem em Seu nome e o
reconhecem como único caminho, verdade e vida – o perdão dos pecados e a salvação eterna. Enquanto
que muitos judeus presenciaram os milagres e estiveram face a face com o Filho de Deus, porém não O
reconhecendo como Salvador, hoje em dia somos convidados a viver um relacionamento com Ele pela fé.
Não precisamos ver um paralítico andar para que creiamos nEle, porque o maior milagre foi realizado em
nossas vidas, quando nos tirou do reino das trevas e nos transportou para o Seu Reino (Cl 1.13).

A continuidade do trabalho de Cristo significa para nós a confiança de que estamos sendo continuamente
aperfeiçoados para que quando findar esta vida presente, iniciemos uma vida na presença da glória celestial
de Cristo, habitando eternamente com Ele. Nossa esperança para este tempo futuro é sermos
definitivamente como Ele é (1 Jo 3.2 – Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o
que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos
como ele é.).

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 10 – O SENHOR DA QUANTIDADE

Texto Base: Jo 6.1-15

1 Algum tempo depois, Jesus partiu para a outra margem do mar da Galiléia (ou seja, do mar de
Tiberíades),
2 e grande multidão continuava a segui-lo, porque vira os sinais miraculosos que ele tinha realizado nos
doentes.
3 Então Jesus subiu ao monte e sentou-se com os seus discípulos.
4 Estava próxima a festa judaica da Páscoa.
5 Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que se aproximava, Jesus disse a Filipe: “Onde
compraremos pão para esse povo comer?”
6 Fez essa pergunta apenas para pô-lo à prova, pois já tinha em mente o que ia fazer.
7 Filipe lhe respondeu: “Duzentos denários não comprariam pão suficiente para que cada um recebesse
um pedaço!”
8 Outro discípulo, André, irmão de Simão Pedro, tomou a palavra:
9 “Aqui está um rapaz com cinco pães de cevada e dois peixinhos, mas o que é isto para tanta gente?”
10 Disse Jesus: “Mandem o povo assentar-se”. Havia muita grama naquele lugar, e todos se assentaram.
Eram cerca de cinco mil homens.
11 Então Jesus tomou os pães, deu graças e os repartiu entre os que estavam assentados, tanto quanto
queriam; e fez o mesmo com os peixes.
12 Depois que todos receberam o suficiente para comer, disse aos seus discípulos: “Ajuntem os pedaços
que sobraram. Que nada seja desperdiçado”.
13 Então eles os ajuntaram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada deixados por
aqueles que tinham comido.
14 Depois de ver o sinal miraculoso que Jesus tinha realizado, o povo começou a dizer: “Sem dúvida este
é o Profeta que devia vir ao mundo”.
15 Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força, retirou-se novamente sozinho para o monte.

INTRODUÇÃO

A
tingidos por problemas, que não podemos controlar, somos impelidos ao caminho longo e difícil
de um “deserto” existencial. E neste “deserto”, passamos por diversos tipos de dificuldades. Crises
emocionais, problemas de ordem sentimental, auto-estima em baixa, etc. Olhamos ao nosso redor
e tudo parece difícil. São verdadeiros “gigantes”, muralhas intransponíveis. E muito desses problemas
acabam por ter efeito negativo abalando nossa vida por completo. Isso porque o ser humano é um ser
biológico, psicossocial e espiritual.

Estando num “deserto”, onde os recursos são poucos ou quase inexistentes, como agir? Qual a decisão certa
a ser tomada? O que fazer ou a quem recorrer para buscar auxílio quando tudo parece conspirar contra nós?
Deserto é sinônimo de escassez, provações e privações. Abundância e quantidade de recursos que venham
a suprir nossas necessidades nos garantindo a preservação de nossas vidas é humanamente impossível
dentro deste ambiente escasso.

Escassez é uma daquelas palavras que vira e mexe está em alta. Atualmente, temos ouvido e falado de todo
tipo de escassez: escassez de dinheiro, escassez na economia, escassez de água, escassez de alimentos,
escassez de recursos naturais, escassez de segurança, escassez de gente honesta, de amor, de boa-vontade,
escassez de sonhos etc. A escassez surge quando as necessidades humanas se despontam e, por outro lado,
os recursos disponíveis — sejam eles humanos, éticos, ideológicos ou materiais — se acham limitados ou
escassos. Logo, a vontade de se ter ou de se resolver alguma coisa encontra-se sempre à frente, sempre além
das possibilidades de produção ou de realização. Viver na escassez é sempre desconfortável, quando não é
sofrido, muito sofrido.

76
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Vemos que Jesus foi seguido por uma grande multidão carente e necessitada em todos os sentidos até a
outra margem do mar. O mestre, naquele lugar inóspito, move-se de íntima compaixão pelo povo. Um povo
pobre, humilde, escasso em recursos materiais, emocionais, psicológicos e principalmente espirituais.
Muitos estavam enfermos. É justamente nesse ambiente de escassez, privações e carências diversas que o
Mestre inicia a Sua obra como o Senhor da quantidade.

Os recursos que consideramos escassos ganham uma outra dimensão quando colocamos a nossa fé em
Cristo, o qual é fonte inesgotável de recursos. A despeito do ambiente visivelmente desfavorável, somos
convidados a depositar integralmente nossas vidas nas mãos do Salvador para que Ele supra cada uma de
nossas necessidades abundantemente.

CONTEXTO

O capítulo 5 encerrou-se com os judeus que testemunharam a cura do paralítico carregando a sua maca em
pleno dia de sábado, começando a perseguir Jesus Cristo sob a acusação de violar a Lei (quebra do 4º
mandamento) e se igualar a Deus.

Como vimos anteriormente, o próprio Cristo afirmou que Seu objetivo na cura do paralítico, era
simplesmente cumprir a vontade do Pai realizando a Sua obra (vs.30). Ele não desejava quebrar o
mandamento, mas apenas, trazer uma confirmação acerca de Sua identidade e propósito na continuidade do
plano de redenção da humanidade caída, carente da graça, misericórdia e salvação, representada no ex-
paralítico do tanque de Betesda.

O fato da indignação e ódio mortal dos judeus devido as afirmações de Jesus, Seu discurso na defesa de
Sua divindade se fez absolutamente necessário (vs.31-47). Ele em nenhum momento Se descreve como
alguém menor do que Deus. Antes, Se apresenta como o próprio Deus. Além de ter dito que era como Deus,
fez as mesmas obras que Deus. Ele deu vida e julgou, inicialmente pela Sua morte na cruz, onde todos os
pecados foram julgados, mas futuramente também julgará, quando todos haverão de comparecer diante
dEle e responder a Ele individualmente de acordo com a sua fé.

O capítulo 5.31-47, pode ser entendido como um discurso de defesa ministerial, o qual confirma quem é
Jesus Cristo e o propósito central de Sua manifestação como Messias Prometido. Neste capítulo, Jesus
apresenta Suas credenciais, as quais visam qualificá-Lo como o Salvador esperado.

As credenciais apresentadas por Jesus:

• O testemunho de João Batista (5.32-35);


• O testemunho das Suas próprias obras (5.36);
• O testemunho do Pai por meio das Escrituras (5.37-39).

a. O testemunho de João (5.32-35).

32 Há outro que testemunha em meu favor, e sei que o seu testemunho a meu respeito é válido. 33 “Vocês
enviaram representantes a João, e ele testemunhou da verdade. 34 Não que eu busque testemunho humano,
mas menciono isso para que vocês sejam salvos. 35 João era uma candeia que queimava e irradiava luz, e
durante certo tempo vocês quiseram alegrar-se com a sua luz.

• A liderança judaica chegou a enviar uma comitiva a João Batista para perguntar o que ele estava
falando, quem era ele, e chegou até a querer saber: “Você é o Cristo, o Messias?” E ele respondeu
que não era o Messias.

• João se apresentou: “Eu sou a voz do que clama no deserto, e a essa voz foi dito: preparai o caminho
do Senhor” (cf. Jo 1.23). Com isso, João estava dando testemunho para toda aquela comunidade,
que depois dele viria, como de fato veio, o Messias.
77
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

• João chega a testemunhar: “quando Ele for batizado e descer do céu sobre Ele uma pomba,
caracterizando o Espírito de Deus, esse é o Messias, o Cristo”. Assim, quando João Batista viu
Jesus, ele disse algumas coisas como: “Eis o Cordeiro de Deus”, Ele será o batizador que
concederá às pessoas o Espírito Santo, ou “este é o Filho de Deus” (cf. 1.29,33,34).

• Por isso, Jesus confrontou aquele grupo de judeus: “vocês ainda querem ouvir o testemunho de
outras pessoas? Ele mesmo disse quando consultado: “Eu não sou o Messias” (cf. 5.33,34).
Notemos o verso 35: “João era uma candeia que queimava e irradiava luz”. Eles queriam saber se
João era a luz do mundo, mas Jesus disse que ele era a “lâmpada”. Jesus colocou João como um
instrumento que difundia a luz do Senhor, mas ele não era a própria luz.

• Jesus queria dizer àqueles judeus: “Vocês querem uma credencial? Olhem para o que João falou”.
Jesus chega a dizer que não precisava de testemunho humano, eles sim, precisavam. Então Jesus
advertiu-os: “não ignorem o que João falou” (cf. 5.33,34).

b. O testemunho das Suas próprias obras (5.36).

“Eu tenho um testemunho maior que o de João; a própria obra que o Pai me deu para concluir, e que estou
realizando, testemunha que o Pai me enviou”.

Jesus apresentou as Suas obras como ações que expressavam visivelmente e autenticavam as Suas
credenciais. Que obras são estas? Nós vimos aqui mesmo no Evangelho de João o milagre de Jesus ao
transformar água em vinho, vimos ainda em outra ocasião um homem enfermo a trinta e oito anos, que
Jesus o levantou daquela condição de doente. Vimos um homem que viajou de mais de trinta quilômetros
para pedir que Jesus curasse seu filho e Jesus curou o filho daquele homem à distância.

- Estes são os milagres registrados até aqui neste Evangelho, mas muitos outros aconteceram que não foram
registrados. Mesmo no livro de João está dito: “Ele fez muito outros milagres” (cf. Jo 20.30), ainda no
capítulo dois está escrito isso (cf. 2.23).

Importante:

• A verdade é que os milagres de Jesus não tinham como propósito central exaltar o milagre em si,
ou o espetáculo público, mas usá-los simplesmente como instrumentos de autenticação ministerial,
ou seja, dizer àqueles que estavam diante de Jesus que Ele era o Messias;

• O profeta Isaías já havia dito que quando Jesus, o Messias, o Servo de Deus viesse, Ele não faria
espetáculo na praça. O propósito de Jesus não era fazer show, mas sim, manifestar a Sua própria
pessoa como Filho de Deus, encarnado, que iria morrer no madeiro e levaria aquele povo até Deus;

• As pessoas estavam maravilhadas por causa do espetáculo, mas o que Ele queria mostrar, era mais
do que isso, era mostrar simplesmente quem Ele era e o objetivo central de Sua vinda. Que Ele É
Deus de graça, misericórdia, poder, justiça, que busca o homem em sua condição de morte, restaura-
o espiritualmente (novo nascimento), o santifica, o justifica e o glorificará no futuro.

c. O testemunho do Pai por meio das Escrituras (5.37-39).

37 E o Pai que me enviou, ele mesmo testemunhou a meu respeito. Vocês nunca ouviram a sua voz, nem
viram a sua forma, 38 nem a sua palavra habita em vocês, pois não crêem naquele que ele enviou. 39 Vocês
estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as
Escrituras que testemunham a meu respeito;

Dois aspectos sobre a sociedade judaica:

78
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

1. Existia um orgulho nacional pelo fato de Moisés, no passado, ter recebido uma visão de Deus e ter
ouvido a Sua voz. O que os levava a dizer: “ouvimos a voz de Deus, na presença de nosso ancestral”.
Eles eram soberbos quanto aos acontecimentos do passado;
2. Desde que o templo fora destruído em 586 a.C., e eles levados à Babilônia, longe da terra, sem templo
e sem poder fazer os cerimoniais rituais, se especializaram em se voltar única e simplesmente para o
texto das Escrituras. Eles, de fato, eram o povo de um livro, contudo, a visão deles era equivocada.

O caráter da exortação de Jesus:

Um rabino já quase dos tempos neo-testamentários, chamado Hilel, disse: “quanto mais estudo da lei, mais
vivo, quem acumulou palavras da lei no coração, acumulou vida na era vindoura”. Eles acreditavam então
no seguinte: “quanto mais eu estudo mais vida eu tenho”. Mas Jesus disse que eles não ouviram, como
diziam, a voz de Deus. Nem viram, como diziam ter visto, ao próprio Deus. O pior, é que eles julgavam ter
ouvido e visto através das Escrituras. No verso 39 temos: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras,
porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna”.

O que Jesus estava dizendo era o seguinte: “Essas Escrituras que vocês julgam conhecer, que vocês falam
conhecer bem, Elas mesmas falam de mim. Vocês querem uma credencial? Vocês já leram a minha
credencial! Além do Pentateuco falar da vinda do Messias, ou do Cristo, os profetas, ao longo da história
estiveram apresentando, abrindo a lei e explanando a minha vinda futura. Vocês lêem a Lei? Sabem do
que ela fala? Ela fala de mim”.

Rm 10.4 – Porque o fim da Lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê.
Hb 1.1,2 – 1 Há muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por
meio dos profetas, 2 mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de
todas as coisas e por meio de quem fez o universo.

A importância do capítulo 6...

De novo na Galileia, Jesus continuou Seu ministério, demonstrando as boas novas do reino de Deus.
Quando comparamos 5.1 com 6.4, percebemos que, provavelmente, um ano já se passara desde a última
Páscoa. Aqui, novamente, João aponta a festa da Páscoa como uma indicação de que este episódio ocorreu
durante o segundo ano do ministério de Jesus, aquele ano que chamamos de “Ano de Popularidade”, de
acordo com a divisão que vemos no Evangelho de Mateus.

Aquele foi um ano de intensa atividade, em que Jesus Se demonstrou sensibilizado com a dureza da
liderança religiosa judaica e, compassivo com a situação de abandono do povo. Nas palavras de Mateus:
“Ao ver as multidões, teve compaixão delas, porque estavam aflitas e desamparadas, como ovelhas sem
pastor” (Mt 9.36). Exatamente por sentir compaixão do povo que O seguia, o milagre da multiplicação dos
pães e peixes ocorreu.

O capítulo 6 do evangelho de João é marcante, pois aqui o evangelista nos mostra que Jesus foi também
rejeitado na Galileia. Conforme Jensen (1980, p. 58), Jesus foi rejeitado na Galileia, não apenas pelos
governantes judeus, mas até mesmo pelos seguidores que já começavam a se chamar de Seus discípulos.
Neste capítulo temos o relato da multiplicação dos pães e peixes, único milagre de Jesus narrado pelos
quatro evangelhos.

Esta narrativa, é, portanto, uma descrição clara e precisa da identidade e posição de Cristo em Sua relação
com os discípulos. Neste caso, é fundamental que compreendamos o que a Bíblia revela a respeito de Jesus,
pois nosso conjunto de crenças sobre Ele determinará nosso comportamento como servos de Deus. Se não
soubermos a respeito de quem servimos, não saberemos como servir.

Quando consideramos os dois milagres registrados neste capítulo (multiplicação dos pães e peixes e andar
sobre as águas) e as repercussões que eles causaram, notamos que o interesse do povo e das autoridades
79
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

religiosas, não era nas palavras de Jesus, mas nos Seus atos. Assim como dissera Paulo aos Coríntios: “Os
judeus pedem sinais miraculosos, e os gregos procuram sabedoria” (1 Co 1.22), João registrando esses
eventos, confirmou esta inclinação do povo judaico. O que constataremos neste capítulo é que as palavras
de Jesus causaram diferentes reações, e a partir dessas reações cada grupo foi se definindo em relação a
Jesus.

A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES E PEIXES

Em relação a esse quarto sinal, o milagre da multiplicação, o único mencionado nos quatro evangelhos,
podemos dividi-lo em 7 seções:

1. O local dos acontecimentos (vs.1-4).

No texto encontramos dois nomes. O mar da Galileia era conhecido popularmente, pois estava na região da
Galileia. Mas oficialmente, conforme os romanos, era chamado de Tiberíades, o mesmo nome da cidade
que fora construída entre 20-30 a.C. em homenagem ao imperador Tibério. No verso 2 é possível perceber
como os milagres impressionaram e atraem as pessoas! Era uma multidão numerosa que seguia a Jesus por
causa dos milagres ou sinais que fazia.

Para refletir e debater: Ainda hoje muita gente só segue a Jesus interessada apenas em milagres. Muitos
estão interessados em soluções grandiosas. Seguir a Cristo, ou ser cristão apenas para ter uma ajuda
material, um pouco de pão material, ou uma cura, é desconhecer a verdadeira razão do cristianismo. É
desconhecer o próprio Cristo.

Como salientou MacDonald (2008, p. 264):

...uma fé baseada em milagres nunca é tão agradável a Deus como a fé baseada somente
em Sua Palavra. A Palavra de Deus não deveria exigir milagres para comprová-la.
Qualquer coisa que Deus diz é verdade, jamais poderia ser mentira. Isso deveria ser o
suficiente para qualquer pessoa.

O cristianismo de muita gente é um cristianismo apenas de dádivas e benefícios temporais. Uma ajuda
material é tudo o que muitas pessoas estão esperando do seu cristianismo. A conversão da alma, a vida
eterna e comunhão com Deus, são assuntos a respeito dos quais muitos nem cogitam.

No verso 2 lemos que Jesus subiu a um monte e assentou-Se ali com Seus discípulos, provavelmente para
descansar. Eles trabalhavam muito, passavam quase todo o tempo servindo, ajudando, pregando, curando.
Porém, Jesus procurava sempre ter alguns momentos de repouso com Seus discípulos. Naturalmente nesses
momentos Jesus orava, meditava e ensinava aos Seus discípulos.

O verso 4 nos informa que a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima. Provavelmente esse acontecimento
se deu, então, um ano antes da crucificação, e, podemos afirmar isto com base nas festas que são
mencionadas pelo autor no evangelho (2.13; 5.1; 6.4; 11.55 e 12.1).

2. A constatação de uma necessidade a ser atendida (vs.5,6).

Essa necessidade foi percebida por Jesus que, erguendo os olhos, viu a grande multidão que vinha ter com
Ele. Nos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), foram os discípulos que perceberam a necessidade do povo
(cf. Mt 14.14; Mc 6.35; Lc 9.12), mas aqui, completando o relato, João mostra que Jesus percebeu a
necessidade e usou a situação para testar-lhes a fé. A multidão que procurou Jesus era faminta e pobre e
Jesus representava a grande esperança. Jesus, então, disse a Filipe: “Onde compraremos pão para esse
povo comer?” (vs.5). Filipe foi aquele amigo que, sendo chamado por Jesus, achou Natanael e disse-lhe
que tinha encontrado o Messias. No capítulo 14, como veremos, foi através do comentário de Filipe que

80
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Jesus teve a oportunidade de pronunciar uma das verdades mais objetivas do Evangelho: “Eu sou o
caminho, e a verdade e a vida” (Jo 14.6).

Aqui vemos Jesus testando a fé de Seu discípulo. Ora, ali era o deserto. Não havia meios de alimentar uma
multidão tão grande. Jesus Se interessou em alimentar o povo, demonstrando o cuidado divino em todas as
áreas da nossa vida. Isto nos faz lembrar que, como cristãos, devemos nos preocupar com os que passam
necessidade e procurar alimentá-los também. Quando Jesus fez a pergunta para Filipe, Ele não desconhecia
qual o caminho a tomar. Ele não tinha a necessidade de perguntar a um discípulo como resolveria o
problema. É que Jesus nos prova e nos testa em ocasiões como aquelas. Ele quer saber o que pensamos a
respeito de uma multidão faminta e como procuramos resolver tais necessidades.

Para refletir e debater: Como é que nós nos portamos diante de circunstâncias difíceis como aquela? E
como nos portamos diante das dificuldades menores no dia a dia em nossas casas ou no trabalho? Às vezes
pensamos que os problemas vêm por acaso, sem nenhuma finalidade espiritual. Mas Deus quer provar a
nossa fé; Deus quer amadurecer a nossa confiança nEle.

3. O pessimismo humano (vs.7-9).

Então Filipe respondeu: “Duzentos denários não comprariam pão suficiente para que cada um recebesse
um pedaço!”. Porque Filipe menciona aqui duzentos denários? Talvez fosse o único dinheiro que se achava
na bolsa dos apóstolos, e como sabemos, eles tinham um tesoureiro, Judas Iscariotes. Conforme Radmacher;
Allen House (2019, p. 242): “Um denário era o salário de um dia de trabalho de um trabalhador comum
ou no campo (Mt 20.2). Duzentos dinheiros, denários era quase um terço do salário de um ano. Mas aquela
quantidade de dinheiro não era suficiente para satisfazer a multidão.

Com essas palavras, vemos que Filipe era um homem muito prático. Ao invés de analisar a situação com
os olhos da fé, ele tentou solucionar a situação com as possibilidades humanas. Ele fez logo um
levantamento de tudo, do dinheiro, das pessoas e dos pães necessários para que cada um tivesse ao menos
um pouco de alimento. Filipe fez cálculos com a matemática humana. Ele já havia presenciado alguns
milagres de Jesus, porém, no momento ali, não pensou nessa possibilidade. E quando Jesus o experimentou
com aquela pergunta, Filipe reagiu como nós reagimos. Pensamos em soluções humanas sem nos lembrar
do poder de Jesus para quem não há impossíveis. Devemos sempre confiar no poder de Jesus para resolver
os nossos e quaisquer outros problemas.

Para refletir e debater: Você consegue se lembrar de alguma situação específica que aconteceu com você,
onde você agiu como Filipe? Em quais situações você procurou soluções humanas ao invés de buscar em
Cristo uma solução sobrenatural e eficaz para resolver problemas aparentemente insolucionáveis?

4. A solução divina (vs.8-10).

É interessante notarmos a ação de cada discípulo. Filipe tinha feito os seus cálculos e constatara a
impossibilidade de suprir aquela necessidade. Agora, André trazia uma informação a Jesus que
aparentemente não faria nenhuma diferença. Parece que nem ele acreditava que a sua informação não faria
nenhuma diferença ou tivesse algum valor: “Aqui está um rapaz com cinco pães de cevada e dois peixinhos,
mas o que é isto para tanta gente?” (vs.9). Ele certamente andou por toda multidão vendo quem tinha algo
para comer. Certamente ele também estava sendo testado e não pensou que Jesus tinha poder suficiente
para solucionar aquela situação; olhou para as circunstâncias com olhar humano.

O problema de André é registrado para mostrar como são escassos os recursos do homem em comparação
às suas necessidades. Normalmente achamos que não podemos fazer muita coisa com o pouco que temos.
No primeiro evangelho, Marcos relata que a multidão assentou-se em grupos de cem em cem e de cinquenta
em cinquenta. Era uma organização perfeita para o trabalho de Jesus. Quem avistasse de longe, podia
impressionar-se com a ordem que reinava ali. Cristo fazia tudo com ordem, demonstrando a ordem com
que foi feita a criação. Assim, se assentaram todos de forma organizada.
81
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Para refletir e debater: Quantos estavam presentes? Muitos têm chegado a calcular umas 15 mil pessoas,
adicionando uma mulher e uma criança para cada homem. Alimentar toda essa gente com cinco pães de
cevada e dois peixinhos? O que será que pensava Filipe e André e os outros dez discípulos enquanto pediam
para o povo se organizar? Será que eles vislumbravam o que poderia acontecer? O que você pensaria se
fosse um dos doze? Jesus, porém, sabia o que estava fazendo. E realizou um dos Seus maiores milagres;
um milagre que impactou a todos que o presenciaram e dele participaram.

5. A abundância em Jesus (vs.11-13).

Jesus dando graças a Deus por aqueles poucos pães e peixes, alimentou uma multidão de umas 15 mil
pessoas. Embora a expressão “dar graças”, no grego, possa sugerir a “Ceia Memorial”, não há evidências
de que Jesus ligar aquela alimentação para tantos com a refeição memorial que deveria ser feita pelos que
eram Seus verdadeiros discípulos. Jesus, aqui, ensinou, e continua ensinando, que com o pouco que temos,
quando o colocamos à Sua disposição Ele pode realizar coisas maravilhosas. Muitas vezes nós achamos
que não podemos fazer nada em Sua obra, no Seu serviço, porque os nossos conhecimentos são poucos, e
porque não temos nenhum talento especial. Mas Jesus nos ensina aqui que, quando colocamos em Suas
mãos o pouco que temos, Ele faz milagres.

Quando agradecemos sinceramente, mesmo que os recursos sejam limitados, Jesus pode multiplicar as
bênçãos. E nos versos 12 e 13 temos outra lição importante. Uma lição sobre economia: vemos que todos
se fartaram. Ninguém ficou com fome. Todos comeram abundantemente e ainda sobejaram pedaços de
pão e de peixe. O que sobrou deveria ser recolhido. Não deveria haver desperdício. Essa ordem para
recolher aquilo que sobrou (vs.12), é evidência clara do fato de que Jesus Se importava com o desperdício
e tinha a intenção de trazer os discípulos de volta a realidade da necessidade humana distante do mundo
dos milagres. Muito provavelmente, os doze cestos recolhidos foram entregues numa aldeia próxima para
a população mais carente.

Naquela cultura havia o pensamento de que o desperdício de alimento era uma afronta a quem o dava, ou
seja, a Deus. Também consideravam uma afronta ao pobre. Jesus, da mesma forma, manda que recolham
o que sobrou, ensinando com isso: “Eu tenho multiplicado, sou capaz de dar em abundância, mas não
tratem com pouco caso a bênção, a expressão de poder que eu tenho. Guardem o excedente”.

Para refletir e debater: Somos desafiados a colocar o que temos nas mãos de Jesus e deixar que Ele faça
o que quiser conforme o Seu querer. Que possamos usufruir, com economia, discernimento, o que Ele tem
colocado à nossa disposição! Será que somos bons administradores dos recursos que Deus coloca em
nossas mãos?

6. A euforia do povo (vs.14).

Diante desta manifestação maravilhosa, o povo identificou Jesus como o profeta que havia de vir, conforme
a profecia de Moisés (Dt 18.15-19). Eles esperavam esse profeta que seria semelhante a Moisés. Uma das
características do profeta Moisés, foi que quando o povo esteve debaixo do seu cuidado, no deserto, Deus
comunicou, e de fato mandou pão dos céus. O maná, que era recolhido diariamente, para suprir a
alimentação deles. Agora Jesus está multiplicando pão e dando a eles, numa época bem perto da Páscoa,
festa que se relacionava também com Moisés, e os homens lembram: “Como Moisés nos trouxe pão, Ele
também nos trouxe”, ou seja, “Ele é como Moisés”.

Como é interessante a reação das pessoas! Diante desse milagre que satisfez a sua necessidade física, todos
entenderam que Jesus era alguém divino! Como os nossos interesses são mesquinhos! Pensamos somente
em termos materiais, em bênçãos passageiras! Sem valorizarmos o alimento espiritual, corremos atrás do
que é físico e material.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Para refletir e debater: Será que não estamos priorizando só os bens materiais, como comida e
vestimenta, esquecidos de que temos um espírito, e que esse espírito é o elemento mais importante do
nosso ser? A euforia diante da graça suprida materialmente, geralmente apaga a consciência de que o
suprimento do espírito deve assumir prioridade em nossas vidas. Os milagres não podem ser maiores e
mais importantes do que Cristo em nossas vidas!

7. O caráter íntegro de Jesus (vs.15).

O verso 15 propõe apresentar o caráter de Jesus: “Sabendo Jesus que pretendiam proclamá-lo rei à força,
retirou-se novamente sozinho para o monte”. De acordo com o texto, Jesus fugiu deles, pois queriam
proclamá-Lo rei. Conforme Dodd (1977, p. 442):

O resultado direto da multiplicação dos pães foi o reconhecimento de Jesus pela multidão
(como pela samaritana em 4.19; por alguns peregrinos da Festa dos Tabernáculos em
7.40; e pelo cego em 9.17) como o profeta que devia vir. Como tal, procuraram fazê-Lo
rei, e, isso ofereceu motivo para a separação de Jesus e Sua retirada para a montanha...

Jesus viu que aqueles homens tinham percebido que Ele era o profeta, e que eles poderiam fazer dEle o
rei. Talvez eles estivessem imaginando que poderiam se libertar (a Galiléia) do domínio de Roma, embora
não sofressem tanto debaixo desse domínio quanto Jerusalém, mas também tinham seu nível de sujeição.
Vendo, portanto, que Jesus tinha poder, podia curar e dar comida, queriam fazer dEle algo que Ele mesmo
não desejava, naquele momento.

É muito fácil olharmos para um Deus que multiplica os pães, e abastece o povo com abundância desejando
que Ele faça coisas que, em nossa mente, imaginamos que Ele pode fazer. Ou seja, por causa do que eles
viram, quiseram de Jesus mais do que Jesus queria dar a eles, naquele momento. Eu não tenho dúvidas de
que Deus deseja dar-nos vida abundante, mas isso não quer dizer que Ele deva nos livrar de passarmos por
algumas necessidades. Paulo disse: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. A prendi o
segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito
ou passando necessidade” (Fp 4.12).

Esse texto não está falando que Deus quer agir para conosco, garantindo a cada um de nós o direito de
viver rico, e isento de problemas. Podemos ver o próprio apóstolo Paulo, sem ser curado de uma
enfermidade que possuía, e Timóteo também com problemas de saúde. Vemos as experiências dolorosas
que Paulo, um amado de Deus passa. O Senhor recusou, e fugiu dali quando o povo quis fazer dEle o que
não devia ser naquele momento.

Jesus demonstrou Sua humildade e Sua firmeza de propósito! Mas afinal, Jesus não queria ser rei? Ele não
veio para ser rei? Jesus veio para ser rei, porém, não com a finalidade de satisfazer as nossas necessidades
físicas. Jesus não veio para ser rei da nação israelita, levando-a a ser indispor contra Roma e seu império.
Jesus veio para reinar no seu e no meu coração. Jesus veio para ser rei e nos introduzir no reino de Deus
e, por isso mesmo Ele disse: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas
essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33). Busquemos, então, as coisas de Deus, porque elas são
as mais importantes para a nossa vida. Certamente Deus cuidará de tudo mais que se refere à nossa vida
material, como Jesus nos prometeu.

Para refletir e debater: Como o caráter íntegro de Jesus nos confronta quando somos tentados a buscar
a glória e os aplausos humanos? Como que as oportunidades são administradas em nossas vidas quando o
orgulho e a necessidade de auto afirmação nos tentam à não seguir o exemplo deixado por Jesus?

CONCLUSÃO

O que o milagre da multiplicação dos pães e peixes nos ensina?

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

1. Para Jesus, escassez e abundância são apenas circunstâncias que nos dão oportunidade de nos
preparar para aprender quem é Jesus;
2. Para Jesus, escassez e abundância são apenas circunstâncias que nos dão oportunidade de aprender
que os nossos limites não limitam a Deus;
3. Para Jesus, escassez e abundância são circunstâncias que podem nos conduzir a erros sobre o real
propósito da Sua vinda.

Precisamos atentar para o fato de que Jesus tem propósitos muito mais elevados para nossa vida que
apenas nos provar com bens ou a falta deles. Ele usa estas circunstâncias de forma a moldar em nós um
espírito rico. O verdadeiro alimento desta vida, o verdadeiro pão não é a comida que perece, mas o próprio
Jesus. O pão que alimenta para a vida eterna. Ele é a verdadeira comida que precisamos para viver neste
mundo e esta deve ser a maior esperança que nos faça viver: Ele está no controle.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 11 – PÃO QUE PERECE OU PÃO QUE PERMANECE?

Texto Base: Jo 6.22-40

22 No dia seguinte, a multidão que tinha ficado no outro lado do mar percebeu que apenas um barco
estivera ali, e que Jesus não havia entrado nele com os seus discípulos, mas que eles tinham partido
sozinhos.
23 Então alguns barcos de Tiberíades aproximaram-se do lugar onde o povo tinha comido o pão após o
Senhor ter dado graças.
24 Quando a multidão percebeu que nem Jesus nem os discípulos estavam ali, entrou nos barcos e foi para
Cafarnaum em busca de Jesus.
25 Quando o encontraram do outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Mestre, quando chegaste aqui?”
26 Jesus respondeu: “A verdade é que vocês estão me procurando, não porque viram os sinais miraculosos,
mas porque comeram os pães e ficaram satisfeitos.
27 Não trabalhem pela comida que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual
o Filho do homem lhes dará. Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação”.
28 Então lhe perguntaram: “O que precisamos fazer para realizar as obras que Deus requer?”
29 Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: crer naquele que ele enviou”.
30 Então lhe perguntaram: “Que sinal miraculoso mostrarás para que o vejamos e creiamos em ti? Que
farás?
31 Os nossos antepassados comeram o maná no deserto; como está escrito: Ele lhes deu a comer pão dos
céus”.
32 Declarou-lhes Jesus: “Digo-lhes a verdade: Não foi Moisés quem lhes deu pão do céu, mas é meu Pai
quem lhes dá o verdadeiro pão do céu.
33 Pois o pão de Deus é aquele que desceu do céu e dá vida ao mundo”.
34 Disseram eles: “Senhor, dá-nos sempre desse pão!”
35 Então Jesus declarou: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê
em mim nunca terá sede.
36 Mas, como eu lhes disse, vocês me viram, mas ainda não creem.
37 Todo aquele que o Pai me der virá a mim, e quem vier a mim eu jamais rejeitarei.
38 Pois desci dos céus, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.
39 E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu, mas os
ressuscite no último dia.
40 Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna,
e eu o ressuscitarei no último dia”.

INTRODUÇÃO

D esde a nossa infância temos o costume de fazer as coisas por esperarmos receber algo em troca. E,
quando crescemos, isso fica conhecido como “troca de favores”. Se formos observar, podemos
encontrar vários motivos para que isso aconteça, só não podemos negar que esse fato nos
acompanha. O problema é que nós levamos isso para todas as áreas da nossa vida, inclusive a espiritual.

Quem tem uma aproximação mínima com mundo cristão atualmente, já conhece o novo movimento que
tem surgido nesse meio, o chamado de “teologia da prosperidade” ou “evangelho da prosperidade”, que é
citado, em boa parte das vezes, como algo negativo e herético, pois toma como base a ideia de que Deus
quer que todos os crentes sejam fisicamente saudáveis, materialmente ricos e pessoalmente felizes. A fé de
que Deus pode fazer a nossa vida melhorar não é algo ruim, o problema está quando achamos que isso é o
que devemos buscar de Deus.

Nossa aproximação de Cristo não deve ser motivada pelos benefícios materiais/físicos que podemos receber
dEle, mas que Deus seja nosso “objeto” de desejo, nosso bem maior (Sl 16.2; 5 – 2 Ao Senhor declaro: “Tu
és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de ti”. 5 Senhor, tu és a minha porção e o meu cálice; és tu
que garantes o meu futuro.). Buscar pelo Senhor apenas visando questões materiais, nos torna de todos os
85
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

seres os mais dignos de compaixão (1 Co 15.19 – Se é somente para esta vida que temos esperança em
Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão.). Trabalhar por um pão que perece é
desperdiçar nossas vidas batalhando por um alimento insustentável que no final nos levará à morte.

CONTEXTO

A notícia do milagre da multiplicação dos pães e peixes correu pela região e outros barquinhos chegaram
ao lugar do acontecimento milagroso. Curiosidade? Talvez! Em 6.10, João menciona que foram
alimentados quase cinco mil homens e agora em 6.23 temos o relato da chegada de mais barquinhos, ou
seja, a multidão aumentou. Em 6.22, menciona que havia apenas um barquinho onde estava a multidão e
agora, com a chegada de mais barquinhos, as pessoas se uniram, tomaram os barcos e foram para Cafarnaum
à procura de Jesus. A multidão estava decidida. Por isso, não pouparam esforços e nem trabalho, para
conseguir seu objetivo.

Devido à repercussão dos milagres de Jesus, Seus seguidores desejavam proclamá-lo Rei de Israel.
Percebemos que não somente Jesus não tinha isso em mente, como também faz questão dispersar Seus
seguidores e discípulos, mandando-os embora para Cafarnaum. A frustração toma conta dos corações dos
discípulos e os faz questionar sobre quem é Jesus e o real propósito de Sua vinda, visto que Ele poderia ter
aproveitado a oportunidade favorável para ser coroado rei, mas não o fez.

O propósito central do envio dos discípulos para Cafarnaum é fazê-los refletir sobre quem é Jesus Cristo,
compreendendo que Ele tem um propósito soberano e definido a ser cumprido no tempo exato, que não
abandona Seus filhos e para isso Ele os enviou para o meio de uma tempestade e Se apresenta a eles como
o “Eu Sou”.

A partir do verso 22 até o 59, observamos o discurso de Jesus, onde Ele está repreendendo aqueles Seus
seguidores, aquela multidão que O seguia, porque eles estavam equivocados acerca de algumas coisas.
Basicamente, tais equívocos eram com relação à Sua identidade e propósito, ou seja, Ele não veio dos céus
para encher a barriga deles com pão de fermento, mas sim, seus corações com um alimento espiritual. Na
verdade Ele É o próprio alimento de Deus que sacia a fome espiritual da humanidade.

Observação importante no texto: Jesus conhece as intenções do coração humano! (vs.25 – Quando o
encontraram do outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Mestre, quando chegaste aqui?”).

4. Jesus não se importou em responder esta pergunta, porque conhecia o real motivo da busca por
Ele. O povo não estava interessado em saber de fato como Jesus havia chegado do outro lado,
mas usou essa pergunta como desculpa e forma de disfarçar o verdadeiro intento de seus
corações com relação a Jesus: Obter alimento fácil e de graça!

5. Eles não se importavam realmente com Jesus, não estavam preocupados com Ele ou com Sua
segurança e conforto ou mesmo se precisava de algo, mas simplesmente em tirar algo dEle. Se
alguma coisa acontecesse com Ele, isso implicaria em perda de benefícios.

Para refletir e debater: Você conhece pessoas com a mesma característica ou perfil em suas reais
intenções para com Jesus? Essas pessoas se apresentam como seguidores, mas na verdade são mal
intencionados, pois só desejam obter algo de Jesus e não desfrutar de Sua presença. Essas pessoas não
pensam no pão que permanece, mas somente no que perece. Encher a barriga, satisfazer suas necessidades
imediatas é mais importante do que viver uma vida de total dependência dEle tanto em questões materiais
como espirituais.

I – JESUS CONHECE A NATUREZA DO CORAÇÃO HUMANO (vs.22-27).

A alma ansiosa indaga, questiona, busca respostas imediatas e concretas; não espera para ouvir a voz de
Deus. Quem é o homem para questionar quando e como Deus faz as coisas? Jesus não respondeu à
86
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

multidão; Ele conhecia o coração de cada uma daquelas pessoas; sabia o que realmente as motivava a
procurá-Lo.

O profeta Jeremias afirma que o coração humano é enganoso e que somente Deus o conhece – “Enganoso
é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Eu, o
SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu
proceder, segundo o fruto das suas ações” (17.9,10).

A pergunta curiosa das pessoas ficou sem resposta. Deus não está em busca de curiosos, mas de discípulos
comprometidos com Ele! O importante naquele momento não era questionar Jesus, mas ouvir o que Ele
tinha a dizer. O interesse do coração da multidão era pura e simplesmente material, como ovelhas que não
tinham pastor, foram atrás de Jesus por causa de Seus feitos. Foram direto para Cafarnaum pois sabiam que
de lá Jesus saia para novas missões.

A natureza do coração humano representada na multidão é essencialmente egoísta. Tais pessoas querem
Jesus porque Ele pode lhes dar algo. Não procuram Jesus por amá-Lo e querem obedecê-Lo, seguindo-O
como um verdadeiro discípulo. Jesus sabia muito bem de suas intenções, pois conhecia o que havia em
Seus corações.

Jesus declara às pessoas o real motivo delas O buscarem e faz duras advertências. Antes da multiplicação
dos pães, as pessoas procuravam por Jesus em busca de cura para as suas enfermidades. Depois, as pessoas
foram levadas a procurá-Lo por causa da “comida que perece”. Essas evidências mostram que o coração
humano também é inconstante, imediatista e inclinado para as coisas terrenas e não celestiais.

O que a Bíblia nos ensina sobre essa disposição do coração humano...

O apóstolo Tiago alerta que a inconstância é uma característica do homem faltoso em sabedoria e de ânimo
dobre, ou seja, do homem “... que não tem firmeza e nunca sabe o que deve fazer” (Tg 1.8 – NTLH). O
imediatismo traz consigo a necessidade de satisfação pessoal e a impulsividade custe o que custar. O
imediatismo grita no coração das pessoas a fim de que elas satisfaçam à desenfreada paixão carnal. Uma
vez saciada a paixão carnal, o imediatismo gera a culpa, a depressão, o arrependimento, o desejo de
vingança e morte. O imediatismo leva a pessoa ladeira abaixo.

A Bíblia nos dá vários exemplos de ações humanas imediatistas. Dentre eles, menciono dois: Esaú, que na
ansiedade de satisfazer sua fome, vendeu seu direito de primogenitura (Gn 25.27-34), e, Siquém que viu a
jovem Diná, filha de Jacó, e a desejou ardentemente, vindo a estuprá-la e em seguida a rejeitá-la. Este triste
fato evoluiu para o desejo e concretização de vingança dos irmãos de Diná que, ardilosamente, mataram
não somente Siquém, mas todos os homens da cidade dos Siquemitas, incluindo o rei Hamor, pai de Siquém
(Gn 34).

Sabedor de sua natureza pecaminosa, o rei Davi clamava a Deus – “Não permitas que meu coração se
incline para o mal, para a prática da perversidade na companhia de homens que são malfeitores: e não
coma eu das suas iguarias” (Sl 141.4). Esta deve ser a nossa oração também!

Jesus ensina às pessoas que O procuravam sobre o trabalho. Ele diz que o trabalho visa o suprimento do
alimento para o físico e é importante; mas além deste trabalho, há um trabalho que permanece para a
eternidade. Por ocasião da cura do paralítico no tanque de Betesda, Jesus respondeu aos líderes religiosos
o propósito de Sua vinda e ministério ao afirmar que “... O meu pai trabalha até agora, e eu também
trabalho” (Jo 5.17). A saúde da alma é tão importante quanto a saúde física.

Jesus também ensina que a vida terrena é transitória e breve, portanto, precisamos sim, cuidar do corpo que
Deus nos deu para vivermos nesta terra, porém devemos também cuidar da alma, pois é ela que vai adentrar
a eternidade (“Todos vão para o mesmo lugar; todos procedem do pó e ao pó tornarão” (Ec 3.20); “Pois
não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Tu me farás ver os
87
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl
16.10,11).

Jesus ensina também o princípio da mordomia do corpo e da alma e a prioridade do espiritual sobre o
material (Dt 8.3; Mt 4.4; 6.33). Em Jesus há fartura de alimento espiritual; só o Filho tem a aprovação do
Pai para reconciliar a criatura com o Criador por Sua morte e ressurreição (Mt 17.5).

No verso 27, observamos que as necessidades espirituais têm primazia sobre as coisas materiais. As
palavras de Jesus, nesse verso, lembram essa verdade é muito importante àqueles que estão trabalhando
apenas para ganhar o pão material, completamente indiferente as necessidades da alma e do espírito.
Conforme Carson (2007, p. 285):

Ele está repreendendo suas noções puramente materialistas do Reino (cf. vs.15). Essas
pessoas vivem como se não tivessem alma, como se não fosse seres espirituais. Vivemos
num mundo materialista, e para ser materialista basta viver e trabalhar só para a comida
que perece, só para satisfazer os desejos da carne, só para a vida material. Isto é ser
materialista.

Conforme Hendriksen (2004, p. 303), em relação a primeira frase do verso: “Não trabalhem pela comida
que se estraga, mas pela comida que permanece para a vida eterna...”.

“Essas palavras veladas deveriam ser comparadas com o texto muito parecido, em 4.14;
e a resposta, especialmente a contida no versículo 34, deveria ser comparada com a de
4.15. Quando comparado com entendimento da mulher samaritana a respeito da água, o
entendimento dos judeus a respeito de palavras de Cristo sobre comida (i.e..., pão; ver 31-
35) não era melhor. Ambos interpretaram as palavras literalmente, e ambos estavam
errados”!

E em relação à última parte do verso: ... “Deus, o Pai, nele colocou o seu selo de aprovação”, precisamos
entender que o plano salvador de Deus é seguro, é selado, é confirmado, para que o homem não tenha
nenhuma dúvida e também nenhuma desculpa de se perder espiritualmente. Temos que aprender com Jesus
a valorizar o que de fato tem valor, isto é, a nossa vida interior, a nossa vida espiritual.

II – JESUS ENSINA QUE CRER É MAIS IMPORTANTE QUE FAZER (vs.28-30).

O diálogo entre Jesus e a multidão continua. Os ensinos de Jesus, o Mestre dos mestres, continuam focados
na dicotomia entre: espiritual x terreno – crer x fazer. Apesar de haver declarado: “Este é
verdadeiramente, o profeta que devia vir ao mundo...”, as pessoas ainda não sabiam realmente quem era
Jesus. Elas estavam demasiadamente focadas no que podiam ver e seus corações não estavam prontos para
ver e apreender os ensinos de cunho espiritual que Jesus estava ensinando.

Isso nos leva a refletir em mais duas características da alma pecaminosa; a incredulidade e a cegueira
espiritual. Ambas caminham de mãos dadas e juntas trabalham para levar a alma empedernida à perdição
eterna – “Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos
feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e
enxofre, a saber, a segunda morte” (Ap 21.8).

É natural do ser humano a crença de que deve “fazer algo” para buscar a Deus. No folheto evangelístico: É
tão fácil ser salvo, o Pr. Gerson Rocha escreve: “Deus já preparou a salvação dos pecadores. É como um
banquete: É só aceitar o convite e dele participar”. Jesus disse: “Vinde a mim... e achareis descanso para
as vossas almas...” (Mt 11.28-30). Se você crê que a salvação está pronta, como um banquete, é só
apropriar-se dela...”.

88
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Crer é o caminho a seguir. Crer é acreditar, é dar um passo de fé entregando sua vida a Deus para O qual
TODAS as coisas são possíveis – “..., mas para Deus tudo é possível...”. Porque para Deus não haverá
impossíveis em TODAS as Suas promessas... os impossíveis dos homens são possíveis para Deus, de fato,
“...sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia
que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Mt 19.26; Lc 1.37; 18.27; Hb 11.6).

Jesus responde às pessoas que a parte que cabe a elas é apenas CRER nAquele que Deus enviou. É
interessante notar que, mesmo sendo Deus, Jesus não usava desta prerrogativa para se impor às pessoas.
Ele nos ensina uma boa lição de ética. Em alguns momentos pontuais Jesus afirmou categoricamente “EU
SOU O FILHO DE DEUS” (Mc 14.61-62; Jo 9.35-37; 10.36).

A cegueira espiritual das pessoas era tão grande que questionavam Jesus a ponto de testá-Lo. A pergunta
desafiadora tem um fundo de ironia e desdém em relação a Jesus. – “Que sinal miraculoso mostrarás para
que o vejamos e creiamos em ti? Que farás? (vs.30). Na mente finita do ser humano há uma sede pelo fazer,
preferencialmente, por fazer algo visível, que impacte, que faça brilhar os olhos e mexer com as emoções
das pessoas. A multidão queria ver para crer. Mas Deus, em Seu infinito amor quer, primeiramente, que
creiamos e, como consequência, veremos! – (“Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu que, se creres, verás
a glória de Deus?” – Jo 11.40).

No relacionamento com Deus, quem deve estar no controle de nossas vidas e da situação é DEUS e não
nós. Deus não faz sinais maravilhosos com o propósito de agradar as pessoas, mas O faz para manifestar
ao mundo o Seu poder, Sua glória e Sua pessoa. (“Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz,
ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face
de Cristo”. 2 Co 4.6). Crer em Jesus Cristo como Senhor e Salvador é obra que Deus aprova. Quem não
crê no que viu como crerá no que deseja ver?

Devemos nos lembrar que esta “obra de crer” deve ser entendida sob dois aspectos: Jesus disse que Ele
esperava que todos confiassem totalmente em Deus por Ele ser quem Ele É e não porque Ele poderia
abençoar com bênçãos materiais; Jesus nos ensina que crer nEle como enviado de Deus é muito mais que
uma obra, um esforço pessoal. Crer em Jesus é uma dádiva da graça de Deus, derramada pelo Pai sobre nós
(cf. vs.44,45).

III – JESUS, O PÃO DO CÉU (vs.31-36).

Continuando o discurso de Jesus com a multidão, vemos as pessoas recorrendo ao Antigo Testamento, na
parte histórica que todo judeu bem conhece. O povo rememora a história após a saída dos judeus do Egito
e o período em que seus pais peregrinaram no deserto. Lembraram que o maná, o pão do céu, foi dado a
eles como provisão (Êx 16.4). Podemos inferir a fala do povo a Jesus como algo assim: “Mestre, Moisés
provou ser um líder enviado e designado por Deus para dirigir o povo e foi por meio de Moisés que o maná
foi enviado por Deus do céu. E então Rabi (Mestre)? Que sinal o senhor vai fazer para que nós o vejamos
e assim creiamos em ti? Quais são os teus feitos?”. Estariam essas pessoas “determinando” o que Jesus
devia fazer? Uma coisa eu sei: Jesus não satisfez a este desejo provocador da multidão. Como sempre, Ele
as ensinou com amor.

Faz-se aqui, necessário falarmos um pouco do Maná que serviu de alimento ao povo de Israel no deserto
por 40 anos (Dt 8.2,3). No deserto, os israelitas estavam em peregrinação rumo à Terra Prometida; não
podiam plantar e nem colher e dependiam totalmente da provisão de Deus. Este é um dos ensinamentos que
tiramos desta situação. À semelhança do povo de Israel no deserto, estamos transitoriamente nesta vida
terrena e dependemos de Deus para todas as coisas, a começar pela vida e ar que respiramos.

Para dirigir o povo nessa jornada, Deus estava à frente conduzindo o povo por meio de Seu servo Moisés.
A evidência da presença de Deus se manifestava na nuvem durante o dia e a coluna de fogo durante à noite
que, se deslocavam e paravam em determinados lugares – (“O SENHOR ia adiante deles, durante o dia,
numa coluna de nuvem, para os guiar pelo caminho; durante a noite, numa coluna de fogo, para os alumiar,
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

a fim de que caminhassem de dia e de noite”. Êx 13.21). O povo nunca sabia quanto tempo permaneceria
em cada lugar; sabiam apenas que quando a nuvem ou a coluna de fogo se moviam, era o momento de
desmontarem o acampamento, reunir as famílias, os pertences e os animais e, partirem rumo ao
desconhecido.

Não ter o controle e as rédeas da situação, angustia a alma do ser humano. Este é mais um ensinamento de
Deus para nossas vidas. Por meio desta situação “aparentemente instável”, Deus nos ensina que devemos
depender dEle em todo e qualquer momento, tempo e lugar onde pisar a planta de nossos pés. Assim como
Deus nunca abandonou o povo de Israel, Ele também nunca nos abandonará – (“Nunca se apartou do povo
a coluna de nuvem durante o dia, nem a coluna de fogo durante a noite”. Êx 13.22).

O maná era algo novo que os israelitas não conheciam. O significado da palavra “maná” em hebraico, vem
da pergunta “o que é isto?” (Êx 16.15). Esta palavra, no entanto, tem uma mensagem simbólica na Bíblia.

A tipologia é o estudo das figuras e símbolos da Bíblia, com os quais Deus procura mostrar, por meio de
coisas terrestres as coisas espirituais. Visto a incapacidade da mente humana de compreender as coisas
divinas, nos mesmos termos encontramos no Antigo Testamento Deus falando das glórias celestiais através
de coisas terrestres, ou sejam, TIPOS, ou o que revelam o ANTÍTIPO. Não se pode conhecer o ANTÍTIPO,
sem antes conhecer o TIPO. O maná é o TIPO (sombra) e o ANTÍTIPO é o real que é a Palavra de Deus e
o próprio Cristo (Jo 1.1).

Nos versos 32 e 33 Jesus esclarece às pessoas sobre o que acabaram de se referir ao maná. Ele faz com que
elas atentem para o fato de que Deus é maior do que Moisés, sendo Deus o provedor tanto no tempo da
peregrinação no deserto como naquele presente. Jesus mostra também que o maná no deserto saciou a fome
daquele povo, mas que Deus havia enviado o verdadeiro Pão do Céu que desceu ao mundo para saciar a
fome da humanidade e dar vida. Em outras palavras, Jesus estava dizendo que “os seus ouvintes tinham
maior privilégio que os ouvintes de Moisés”. (Ryle, 1985, p. 76).

Hendriksen (2004, p. 305) apresenta um quadro comparativo muito interessante e elucidativo sobre esses
versículos:

Moisés como agente de Deus, meramente deu O Pai do céu, é sempre o verdadeiro doador
instruções ao povo sobre a maneira correta de
coletar o maná
Mesmo se considerarmos Moisés como sendo O Pai está dando o verdadeiro pão do céu. O
doador, a verdade é que ele não deu o verdadeiro verdadeiro pão do céu é Jesus, o antítipo.
pão do céu, maná foi apenas um tipo, e não o
antítipo.
O maná que fornecia, ao descer do céu visível, era O que Jesus, o verdadeiro pão da vida dá é a vida
nutrição. eterna.

Assim como a mulher samaritana em João 4.15 pediu a Jesus que lhe desse a “água da vida”, a multidão
pede a Jesus que dê a eles o “pão da vida” (vs.34). Jesus então, claramente se apresenta como o Pão da Vida
(vs.35) e acrescenta “... o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”. Jesus
Cristo tanto dá, como sustenta a vida. A saciedade em Jesus Cristo é completa! É o pão que foi enviado
pelo próprio Pai, o próprio Deus, para o alimento espiritual do mundo. Explicando essa frase importante,
Boor (2002, p. 129) diz que:

O verdadeiro pão de Deus precisava realizar algo extraordinário: precisava “dar ao


mundo”, ou seja, ao reino das trevas e da morte, “vida”, vida verdadeira, divina e, por
decorrência, vida eterna. Quem compreende isso, não pode ver nele nada mais que um
“sinal”, que aponta para algo maior.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Jesus quis despertar o interesse do coração do povo pelas coisas espirituais e eternas. Ele era o verdadeiro
pão. Jesus disse que aquele que desceu do céu é quem dá vida ao mundo. Jesus alimenta a alma, comunica
vida espiritual ao coração. É Ele o pão do céu, provisão divina para o nosso alimento espiritual.

No verso 34, observamos a necessidade de discernimento espiritual. Aqui João registra a palavra do povo:
“Senhor, dá-nos sempre desse pão!”. Aqui vemos que o povo entendeu que Jesus ensinava sobre o pão
material, como Nicodemos que entendeu que era necessário nascer de novo fisicamente (Jo 3.4).
Precisamos urgentemente manter os nossos ouvidos e olhos para enxergar as categorias espirituais e não
ficarmos presos nessa esfera terrena e material.

IV – JESUS REVELA OS PLANOS E A VONTADE DO PAI (vs.37-40).

Além de destacarmos que esta era a primeira ocasião em que Jesus se denomina “Eu Sou” (vs.35), devemos
destacar este verso, pois certamente nas Suas palavras temos o centro desse importante texto. O conteúdo
dessa mensagem foi muito bem apresentado nas palavras de Carson (2007, pg. 289):

“A pessoa faminta e sedenta que vem a Jesus tem a sua fome satisfeita e sua sede saciada.
Isso não significa que não haja necessidade de contínua dependência dEle, de contínua
alimentação por parte dEle; significa que não há mais aquele vazio no íntimo que havia
por ocasião do encontro inicial com Jesus”.

Quando resumimos esses pensamentos podemos extrair esse princípio norteador para todo esse parágrafo:
somente aqueles que colocam sua confiança em Jesus terão saciada a sua fome espiritual e plena comunhão
com Ele. Em Seu ensino mesmo diante da incredulidade dos Seus contemporâneos, Jesus garantiu que
podemos chegar confiadamente, que Ele não nos lançará fora.

Todavia, a primeira frase do verso 37 nos chama a atenção: “Todo aquele que o Pai me der virá a mim...”,
aqui temos um tema realmente importante. Algumas pessoas podem ver Jesus, ouvir a Sua Palavra, ver os
Seus milagres, mas não crer nEle. Quer dizer, os olhos deles estão como que fechados, os olhos da alma
não podem ver identificando o Salvador e o plano eterno de Deus na redenção humana.

Os judeus com quem Jesus dialogava, estavam impedidos de receberem o pão do céu por causa da cegueira
espiritual. Podiam aceitar de Jesus um pedaço do pão para o alimento físico, porém, estavam incapacitados
de receber a benção para a salvação da alma. Enquanto isso acontece com alguns, com outros ocorre o
contrário. Por quê? Este verso 37 nos esclarece essas situações. Aqui temos uma referência ao que
chamamos na teologia de eleição/predestinação. Conforme as palavras do texto, é Deus quem traz o homem
a Jesus. É Deus quem toma a iniciativa para que o homem creia. O plano soberano de Deus quanto à
salvação, embora não anule a responsabilidade humana por sua decisão (aceitar ou não), é Deus quem age
irresistivelmente no coração humano para incliná-Lo ao arrependimento e à fé salvadora em Cristo.

No verso 38, Jesus declara que veio fazer a vontade do Pai, colocando como garantia da Sua Palavra, o seu
desejo primário de cumpri-La, vontade esta estabelecida desde a eternidade. Se Ele tinha essa consciência
e sempre declarou que essa era a Sua tarefa, sabendo que Ele foi a tudo obediente ao Pai, podemos descansar
nessa garantia que Ele nos dá. E a vontade de Deus para Jesus era de que Ele cumprisse a Sua missão.

No verso 39a, Ele nos garante a segurança acerca da nossa salvação. A vontade de Deus para Jesus era
muito clara, e foi muito bem entendida pelo próprio Senhor. Em Suas palavras: “E esta é a vontade daquele
que me enviou: que eu não perca nenhum dos que ele me deu...”. Ele nos garante que podemos nos chegar
a ele convictos de que jamais seremos lançados fora de Sua presença. E no verso 39b, temos mais uma
garantia no cumprimento da vontade do Pai: “...mas os ressuscite no último dia”, além de não nos perder,
Jesus reforçou o Seu compromisso conosco. Seremos ressuscitados por Ele no último dia. A todo aquele
que crer nEle, essa promessa é real, pois a morte não poderá destruir a vida que Cristo nos concede.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Por fim, no verso 40, Jesus fala de mais uma promessa ou garantia àqueles que creem em Cristo e foram
por Ele chamados: a vida eterna. Jesus afirma que, quem O vir e nEle crer pode ter a certeza da vida eterna
(cf. 5.24). Em relação às ações de “ver a” e “crer em” Jesus, McDonald (2008, p. 268), nos esclarece:

“Ver o Filho... aqui não significa vê-Lo com olhos naturais, mas antes, com os olhos da
fé. Devemos ver e reconhecer que Jesus Cristo é o Filho de Deus e o Salvador do mundo.
Depois devemos também crer nEle. Isso significa que, por um ato definido da fé, devemos
receber o Senhor Jesus como nosso salvador pessoal”.

Esse é o desafio que o texto nos dá e essa é a atitude que Jesus espera de nós. Que vejamos pela fé, que
creiamos e que agradeçamos por esta tão grande salvação concedida gratuitamente a cada um de nós. É
maravilhoso tomar conhecimento dessas assertivas de Jesus Cristo a respeito dos planos e da vontade de
Seu Pai.

CONCLUSÃO

Desta passagem extraímos:

1. Jesus tinha certeza de que muitos haviam de vir e crer nELE pela fé;
2. Cristo veio ao mundo para oferecer a todos uma salvação gratuita;
3. Todo o que vem a Cristo é tocado e movido pelo Pai;
4. Na obra de salvar todo pecador, o Pai e o Filho estão unidos;
5. Todos quantos o Pai envia a Jesus estarão sempre protegidos e em segurança;
6. O salvo em Cristo pode descansar e confiar no Pão vivo que desceu do céu, o pão que dá vida
a todos;
7. Jesus cumprirá cabalmente toda a vontade do Pai e, a vontade do Pai é “... boa, agradável e
perfeita...” (Rm 12.2b);
8. A vontade de Deus é salvar; é garantir que o ser humano salvo e redimido pelo sangue de
Jesus Cristo tenha a vida eterna (Jo 3.16) e seja participante da ressurreição do último dia. A
expressão “último dia” é o tempo indicado em João 5.28,29 quando “todos os que se acham
nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão...”;
9. A vontade de Deus não pode ser mudada (Fp 1.6).
10. O Bom Pastor, que dá a vida pelas ovelhas, jamais deixará seu rebanho cair nas garras de
Satanás, mas recolherá para Si no céu cada alma pela qual deu a Sua vida. Jesus garante que
ninguém arrebatará qualquer salvo de Suas mãos (10.28).

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 12 – DE QUE LADO ESTOU? – TOMANDO UMA DECISÃO!

Texto Base: Jo 7

1 Depois disso Jesus percorreu a Galiléia, mantendo-se deliberadamente longe da Judéia, porque ali os
judeus procuravam tirar-lhe a vida.
2 Mas, ao se aproximar a festa judaica das cabanas,
3 os irmãos de Jesus lhe disseram: “Você deve sair daqui e ir para a Judéia, para que os seus discípulos
possam ver as obras que você faz.
4 Ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em segredo. Visto que você está fazendo estas
coisas, mostre-se ao mundo”.
5 Pois nem os seus irmãos criam nele.
6 Então Jesus lhes disse: “Para mim ainda não chegou o tempo certo; para vocês qualquer tempo é certo.
7 O mundo não pode odiá-los, mas a mim odeia porque dou testemunho de que o que ele faz é mau.
8 Vão vocês à festa; eu ainda não subirei a esta festa, porque para mim ainda não chegou o tempo
apropriado”.
9 Tendo dito isso, permaneceu na Galiléia.
10 Contudo, depois que os seus irmãos subiram para a festa, ele também subiu, não abertamente, mas em
segredo.
11 Na festa os judeus o estavam esperando e perguntavam: “Onde está aquele homem?”
12 Entre a multidão havia muitos boatos a respeito dele. Alguns diziam: “É um bom homem”. Outros
respondiam: “Não, ele está enganando o povo”.
13 Mas ninguém falava dele em público, por medo dos judeus.
14 Quando a festa estava na metade, Jesus subiu ao templo e começou a ensinar.
15 Os judeus ficaram admirados e perguntaram: “Como foi que este homem adquiriu tanta instrução, sem
ter estudado?”
16 Jesus respondeu: “O meu ensino não é de mim mesmo. Vem daquele que me enviou.
17 Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim
mesmo.
18 Aquele que fala por si mesmo busca a sua própria glória, mas aquele que busca a glória de quem o
enviou, este é verdadeiro; não há nada de falso a seu respeito.
19 Moisés não lhes deu a Lei? No entanto, nenhum de vocês lhe obedece. Por que vocês procuram matar-
me?”
20 “Você está endemoninhado”, respondeu a multidão. “Quem está procurando matá-lo?”
21 Jesus lhes disse: “Fiz um milagre, e vocês todos estão admirados.
22 No entanto, porque Moisés lhes deu a circuncisão (embora, na verdade, ela não tenha vindo de Moisés,
mas dos patriarcas), vocês circuncidam no sábado.
23 Ora, se um menino pode ser circuncidado no sábado para que a Lei de Moisés não seja quebrada, por
que vocês ficam cheios de ira contra mim por ter curado completamente um homem no sábado?
24 Não julguem apenas pela aparência, mas façam julgamentos justos”.
25 Então alguns habitantes de Jerusalém começaram a perguntar: “Não é este o homem que estão
procurando matar?
26 Aqui está ele, falando publicamente, e não lhe dizem uma palavra. Será que as autoridades chegaram
à conclusão de que ele é realmente o Cristo?
27 Mas nós sabemos de onde é este homem; quando o Cristo vier, ninguém saberá de onde ele é”.
28 Enquanto ensinava no pátio do templo, Jesus exclamou: “Sim, vocês me conhecem e sabem de onde
sou. Eu não estou aqui por mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro. Vocês não o conhecem,
29 mas eu o conheço porque venho da parte dele, e ele me enviou”.
30 Então tentaram prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos, porque a sua hora ainda não havia chegado.
31 Assim mesmo, muitos dentre a multidão creram nele e diziam: “Quando o Cristo vier, fará mais sinais
miraculosos do que este homem fez?”
32 Os fariseus ouviram a multidão falando essas coisas a respeito dele. Então os chefes dos sacerdotes e
os fariseus enviaram guardas do templo para o prenderem.
33 Disse-lhes Jesus: “Estou com vocês apenas por pouco tempo e logo irei para aquele que me enviou.
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

34 Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão; vocês não podem ir ao lugar onde eu estarei”.
35 Os judeus disseram uns aos outros: “Aonde pretende ir este homem, que não o possamos encontrar?
Para onde vive o nosso povo, espalhado entre os gregos, a fim de ensiná-lo?
36 O que ele quis dizer quando falou: ‘Vocês procurarão por mim, mas não me encontrarão’ e ‘vocês não
podem ir ao lugar onde eu estarei’?”
37 No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse em alta voz: “Se alguém tem sede,
venha a mim e beba.
38 Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”.
39 Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito
ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado.
40 Ouvindo as suas palavras, alguns dentre o povo disseram: “Certamente este homem é o Profeta”.
41 Outros disseram: “Ele é o Cristo”. Ainda outros perguntaram: “Como pode o Cristo vir da Galiléia?
42 A Escritura não diz que o Cristo virá da descendência de Davi, da cidade de Belém, onde viveu Davi?”
43 Assim o povo ficou dividido por causa de Jesus.
44 Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos.
45 Finalmente, os guardas do templo voltaram aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus, os quais lhes
perguntaram: “Por que vocês não o trouxeram?”
46 “Ninguém jamais falou da maneira como esse homem fala”, declararam os guardas.
47 “Será que vocês também foram enganados?”, perguntaram os fariseus.
48 “Por acaso alguém das autoridades ou dos fariseus creu nele?
49 Não! Mas essa ralé que nada entende da lei é maldita.”
50 Nicodemos, um deles, que antes tinha procurado Jesus, perguntou-lhes:
51 “A nossa lei condena alguém, sem primeiro ouvi-lo para saber o que ele está fazendo?”
52 Eles responderam: “Você também é da Galiléia? Verifique, e descobrirá que da Galiléia não surge
profeta”.
53 Então cada um foi para a sua casa.

INTRODUÇÃO

A
vida é feita de decisões. Todos os dias, somos obrigados a tomar em média, de 400 a 1000 pequenas
decisões: o que vou vestir? O que vou comprar? Com quem vou me encontrar? O que vou comer?
Até quando você resolve não decidir, você já decidiu. Alguém disse o seguinte: “A indecisão é
uma decisão tomada para não decidir.”

A responsabilidade em tomada de decisões é imputada a todo ser humano indistintamente, o que leva cada
indivíduo a se posicionar diante de uma situação específica onde lhe é exigida uma resposta pessoal e
objetiva. Fazer ou não fazer, ir ou não ir, pensar ou não pensar, ajudar ou não ajudar, amar ou não amar,
crer ou não crer, seguir ou não seguir, etc., são decisões e posicionamentos que precisamos tomar. Qualquer
decisão tomada ou lado escolhido, além de revelar quem de fato somos e nossa real escala de valor, pode
se tornar um fator determinante para definir o nosso presente e futuro.

Embora algumas pessoas afirmem que: religião, política e futebol não se discutem, não é essa a realidade
que vivemos em nossos relacionamentos. Todos esses temas acabam por se tornar a pauta presente nos
debates informais e formais de nossas vidas. No que diz respeito à religião, por exemplo, o amor e o respeito
devem permear a vida do cristão enquanto nos relacionamos com outras pessoas que pensam e creem
diferente de nós. Somos responsáveis através do nosso próprio testemunho por tornar o evangelho da
verdade um instrumento para o posicionamento daqueles que nos rodeiam, seja a favor ou contra Cristo.

Definir de que lado nos encontramos no âmbito espiritual é de suma importância, visto que cada um de nós
havemos de nos encontrar diante do Justo Juiz um dia para prestação de contas seja de pensamentos, ações
e omissões (Ec 12.14; Rm 14.12; 1 Pe 4.5 – 14 Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive
tudo o que está escondido, seja bom, seja mau. 12 Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a
Deus. 5 Contudo, eles terão que prestar contas àquele que está pronto para julgar os vivos e os mortos.).

94
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

CONTEXTO

O último discurso de Jesus realizado quando os pães e peixes foram multiplicados na alimentação dos 5000,
não apenas trouxe verdades acerca da graça e misericórdia divina no suprimento daqueles que necessitam
do pão material para alimentar seus corpos, mas também do pão espiritual que É o próprio Jesus Cristo – o
Pão que desceu dos céus.

O discurso de Jesus naquela oportunidade partiu de uma observação importante acerca do objetivo central
daqueles que à princípio O seguiam – o alimento material. Infelizmente, Jesus não estava sendo seguido
por Seus ensinamentos e promessas de vida eterna, mas apenas pelos milagres que realizava. Nem todos
eram discípulos pelo fato de seguirem os ensinamentos de Cristo, mas apenas pela obtenção de benefícios
materiais.

No capítulo 6.66 lemos: Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de
segui-lo. Em outras traduções dizem que esses discípulos O abandonaram. A ideia central transmitida por
aqueles que O deixaram é que Jesus é um frustrador de expectativas, embora as expectativas de muitos
sejam as mais absurdas em relação a Ele.

Observações importantes:

• Todo o grupo que seguia a Jesus foi chamado de discípulos, ou seja, temos uma possível indicação
de dois tipos ou grupos de discípulos. Eles andavam com Ele, viam o que Ele fazia e provavam os
benefícios materiais em seus próprios corpos, mas conscientemente abandonaram a Jesus quando
foram questionados em suas reais intenções e expectativas para com Cristo;
• O próprio Jesus em certa ocasião fez questão de mencionar: “No meio do trigo há também o joio,
que parece com o trigo, mas não é”, confirmando que muitas vezes a aparência não condiz com a
essência;
• O importante é compreendermos também que a fé que Jesus requer daqueles que O seguem é uma
fé que leva naturalmente a pessoa a conhecer Sua identidade e propósito. Esta é uma fé que
verdadeiramente transforma e salva!

3 motivos pelos quais muitos chamados “discípulos” deixam de seguir a Cristo:

1. Muitos dos que abandonam a fé em Jesus, o fazem por considerar “duras” as Suas palavras (6.60).
Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: “Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la?”

- Aqueles que abandonam a fé em Jesus possuem como característica principal um coração insensível e não
ensinável, ou seja, não querem ser confrontadas com a verdade da Palavra de Deus e pagarem o preço. A
mensagem de Jesus foi considerada insuportável. Eram “seguidores” de Jesus, mas estavam longe de
intimidade com Ele.

2. Muitos dos que abandonam a fé em Jesus, se “escandalizam” com as Suas palavras (6.61).
Sabendo em seu íntimo que os seus discípulos estavam se queixando do que ouviram, Jesus lhes disse:
“Isso os escandaliza?

A palavra para definir “escândalo”, no grego, significa “pedra de tropeço”. Escandalizar, portanto, é
tropeçar ou fazer alguém tropeçar. O que aconteceu com os discípulos de Jesus é que eles estavam
tropeçando no que Jesus falava. As verdades eram reveladoras e confrontadoras.

Jesus chegou a dizer em Mateus 18.7 – “Ai do mundo, por causa das coisas que fazem tropeçar! É inevitável
que tais coisas aconteçam, mas ai daquele por meio de quem elas acontecem!”. Talvez a ideia que Jesus
tinha em mente envolvia diferenciar coisas que fazem tropeçar e pessoas que se tornam motivos de tropeço.
Aquilo que faz tropeçar é inevitável, mas pessoas podem evitar tais coisas ou serem motivos para tal
tropeço.
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

3. Muitos dos que abandonam a fé em Jesus, são verdadeiros “traidores” (6.67,70,71).


67 Jesus perguntou aos Doze: “Vocês também não querem ir?” 70 Então Jesus respondeu: “Não fui eu
que os escolhi, os Doze? Todavia, um de vocês é um diabo!” 71 (Ele se referia a Judas, filho de Simão
Iscariotes, que, embora fosse um dos Doze, mais tarde haveria de traí-lo.).

Só os discípulos íntimos ficaram depois de um “ultimato” de Jesus: “Vocês também não querem ir?”,
aqueles que O abandonam se posicionam não como discípulos, mas como adversários. Ilustrando
posteriormente com Judas e sua traição.

Diabo, quer dizer adversário, acusador. Jesus estava dizendo que Judas era um traidor, pois havia se
colocado em oposição a Ele como um adversário e acusador. Mesmo se referindo à uma pequena
comunidade (os doze), Jesus sabia da oposição que enfrentava entre aqueles que O seguiam.

Tal mensagem confrontadora de Jesus, tornou-se um desafio ao posicionamento de Seus verdadeiros


discípulos e um desafio à compreensão de que não há para onde Seus verdadeiros discípulos seguirem, pois
somente Jesus Cristo tem as palavras de vida eterna (6.68,69).

I – UM CHAMADO À DECISÃO

No capítulo 7, a cena se dá novamente em Jerusalém, durante a Festa dos Tabernáculos, provavelmente seis
meses depois dos últimos acontecimentos. Esta era a festa mais popular dos judeus, pois celebrava a
passagem de Israel pelo deserto, e também celebrava a colheita anual (cf. Êx 23.16). Era celebrada seis
meses antes da Páscoa, na época de setembro/outubro, e sua duração era de oito dias, pois começava com
o Yon Kipur , o dia da Expiação. Nesta festa havia uma cerimônia de água sendo derramada pelos degraus
do Templo, simbolizando a água providenciada por Deus no deserto (cf. Êx 17.1-7), e também acontecia a
cerimônia em que se acendiam as lâmpadas, lembrando a coluna de fogo que conduziu o povo na caminhada
pelo deserto (cf. Êx 13.21,22; 14.19-25). A primeira cerimônia ofereceu base às palavras de Jesus nos
versos 37 e 38 deste capítulo sete. A segunda cerimônia deu base para as palavras de Jesus no capítulo
8.12ss. Esses acontecimentos do capítulo 7 ocorreram provavelmente em setembro/outubro do ano 20 d.C.
Jesus sabia que na próxima Páscoa, em abril de 30 d.C., Ele daria a Sua vida pelos nossos pecados.

Quando observamos estes versos, em resumo, podemos dizer que este capítulo nos mostra que todos os
homens têm a responsabilidade de ser posicionar, de reagir diante da pessoa, da vida e da obra de Jesus.
Portanto, diante desses relatos, é significativo estudarmos este capítulo, verificando o relacionamento de
Jesus com diversos tipos de pessoas e reações, em vista às Suas explicações sobre Sua missão. Já estivemos
observando que a pessoa de Jesus trazia muitas controvérsias. Ele entrava em muitas discussões e as pessoas
à Sua volta nunca ficavam neutras em Suas opiniões sobre Ele. Os que O conheciam O amavam, ou
odiavam.

Quando Jesus veio ao mundo, Se chocou com a ordem estabelecida. Ele questionou e quebrou alguns tabus,
balançando o estado atual da sociedade humana, e em especial da sociedade judaica. A humanidade tinha
seus paradigmas sobre seu modo de viver, sobre sua moralidade, sobre sua religião e seu comando político.
Ao chegar, com Sua própria conduta e ensinos, Jesus entrou em conflito com esses conceitos da sociedade
humana.

Onde quer que Jesus fosse tinha multidões atrás de Si, não Lhe dando sequer tempo para descansar ou fazer
Sua refeição tranquilo, pois onde quer que fosse a multidão seguia-O para ouvi-Lo e ver os sinais que Ele
fazia. Então, Jesus passa a abordá-los de forma confrontadora, e percebemos daí que aquelas pessoas
começam a abandoná-Lo, ou ainda a serem sarcásticas para com Ele, ou até O traem. Eles tinham suas
razões para fazer isso. Algumas delas porque não suportavam ouvir o que Jesus ensinava. Algumas estavam
até se divertindo, mas o seu compromisso era de fato com os prazeres do mundo. E todas elas, sem exceção,
deixaram a Jesus, porque ainda não haviam sido sensibilizadas e ensinadas por Deus. Quando essas pessoas
decidem deixar a Jesus, podemos perceber que em nenhuma ocasião Ele lhes implora que fiquem. Ele lhes

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

dá “carta branca” para irem embora, chegando a perguntar a Seus discípulos se eles desejavam ir-se
também.

Ao lermos os capítulos 7, 8 e 9 do livro de João percebemos que embora Jesus tenha manifestado o seu
amor, naqueles dias, o que mais marcou não foi o amor, mas as Suas Palavras. E o resultado disso não foi
uma resposta positiva do povo, de apreciação e aproximação dEle, mas ao contrário, ocasionou rejeição e
hostilidade. Podemos perceber que Jesus, em nenhum momento teve unanimidade. Aliás, uma pequena
parcela das pessoas estava acolhendo o que Jesus falava, porque concordava com Ele. Sua postura e Suas
palavras estavam sempre causando profundas discussões, e polêmicas naqueles dias. Por vezes nós mesmos
gostaríamos que quando falássemos de Jesus e de Suas palavras, as pessoas aceitassem de forma unânime
e voluntária. Mas o que ocorre é que, de início, pelo menos, as pessoas reagem negativamente. Nós vivemos
num país classificado de “cristão”. Será que, de fato, somos? Será que hoje, significa alguma coisa ter o
nome de “cristão”?

II – O GRUPO DOS JUDEUS (HOSTÍS) (vs.1).

Percebemos que Jesus tinha pleno conhecimento dos acontecimentos. Tudo aquilo que envolvia Jesus não
passava despercebido aos Seus olhos. Ele sabia do aumento da perseguição e não desconhecia o desejo dos
líderes judaicos de matá-Lo. Diante disso, Ele entendeu por bem ficar na Galiléia, indo para Jerusalém
posteriormente.

Esses judeus citados era um grupo de judeus extremamente hostis, constituído, neste contexto de dois ou
três tipos de judeus, e não se tratava de toda a nação judaica. Vemos, por exemplo em João 7:45:
“Finalmente os guardas do templo voltaram aos chefes dos sacerdotes e fariseus...”. Esses fariseus eram
uma seita, que nos tempos de Jesus compunha-se de cerca de 6000 adeptos, extremamente legalistas. Eles
haviam transformado os 10 mandamentos em 613 ordenanças, mas muitas vezes conseguiam encontrar
respaldo dentro da própria lei, para não cumpri-la. Esses eram os líderes religiosos da nação. Havia também
os sacerdotes, chamados saduceus, que eram os líderes políticos, ligados com Roma, e não eram tão
aplicados à lei como os fariseus. Eram liberais, não aceitando uma série de coisas que a lei dizia.

E um terceiro grupo, que encontramos em 8.3 são os mestres da lei, ou escribas, que eram aqueles que
copiavam, estudavam, ensinavam e davam interpretação da lei. Era um grupo especializado na lei, muito
relacionado com os fariseus. Quando Jesus aparece, os escribas, saduceus e fariseus compunham esse grupo
chamado de judeus. Esses judeus desejavam matar a Jesus, como Ele o disse. E por aproximadamente um
ano, após sair de Jerusalém, Ele fica na Galiléia, não retornando para lá, por esse motivo. Lemos em 7.11:
“Na festa, os judeus o estavam esperando, e perguntavam: onde está aquele homem?”. Jesus conhecia as
suas intenções, quando eles O estavam procurando. E embora a multidão soubesse dEle, nada falava em
público, por medo dos judeus. Porque eles sabiam quais eram as intenções e o que havia no coração daquela
liderança da nação.

No verso 25 percebemos o que a população de Jerusalém falava: “Então, alguns habitantes de Jerusalém
começaram a perguntar: Não é esse o homem que estão procurando matar?”. Jesus sabia, os habitantes de
Jerusalém sabiam, o povo sabia, que aqueles judeus desejavam mata-Lo. Notemos em 7.15: “Quando Jesus
ensinava os judeus, eles fixaram admirados e perguntaram: Como foi que esse homem sabe as letras (ou,
tem tanta instrução), sem ter estudado”. Saber as letras, como traz algumas traduções, quer dizer mais do
que ser alfabetizado. Pois todo o povo da Palestina era alfabetizado, naquela época. Mas significa que
através do Seu falar, Jesus demonstrava conhecer a Lei de Deus, na perspectiva acadêmica, como os de
Jerusalém.

Um rabino, um mestre da lei, era classificado por conhecer a Lei de Moisés, e a “michná”, que era uma
revelação, um escrito paralelo aos escritos de Moisés, uma tradição oral que havia sido escrita
posteriormente. Se conhecesse somente a Lei de Moisés, era considerado um iletrado, e se alguém não
conhecesse nenhuma das duas, era considerado um animal.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Ao observar Jesus, alguém que vem da Galiléia, esperam ver alguém com sotaque de caipira, um tanto
ignorante, e por isso ficam admirados, porque Ele não frequentou a Universidade Hebraica de Jerusalém,
mas conhece as letras, e é diferente dos rabinos, pois ensinava como quem tinha autoridade. Que tipo de
autoridade é essa? Na educação formal daquele povo eles tinham as explicações dos seus rabinos e mestres
da lei. Se havia alguém que escrevesse algo, ali estavam as notas de rodapé, as citações, a relação de livros
pesquisados. Mas Jesus não possuía isso. Porque nenhum daqueles rabinos anteriores havia acrescentado
nada a Ele. Ele sabia do que estava falando, e ia além do que os rabinos daquela época iam, ao ponto deles
se admirarem do que Ele lhes falava. Marcos 1.22 cita: “Maravilhavam-se da sua doutrina pois os ensinava
como quem tem autoridade, e não como os escribas”. E eles O comparavam com os escribas.

O público estava manifestando a sua apreciação por Jesus, e a sua perspectiva de que Jesus tinha um ensino
superior aos seus líderes. Então, lemos em Marcos 7.19, que os judeus desejam matar Jesus. No verso 20,
segundo os judeus, Jesus estava endemoniado. Eles estavam classificando Jesus de alguém que estava tendo
crises de perseguição, e que os acusa de querer matá-lo. Podemos perceber assim que eram hostis com
Jesus.

Nos versos 45 e 46, vemos que o ensino de Jesus gerava tal respeito e temor nos que O ouviam, que os
guardas que foram designados para prender Jesus, quando voltam às autoridades que lhes perguntam:
“Porque vocês não O trouxeram?” Ao que eles responderam: Ninguém jamais falou da maneira que esse
homem fala”. Esses guardas não eram pessoas ignorantes. O líder dessa guarda do templo era o segundo
homem que tinha poder ali, respondendo somente ao sumo sacerdote. Então, aqueles que foram para prender
Jesus, diante da maneira e do que Ele fala, não conseguem prendê-Lo, pois estão impactados pela autoridade
e conteúdo do que Ele fala. Por isso, os judeus começam a ofendê-los: “Vocês viram aqui entre nós,
fariseus, alguém que confia ou que crê nele?”, em outras palavras: “Vocês são tão ignorantes quanto esse
povo?”. Começam a apelar e a ser hostis com aqueles guardas, e a humilhar aquele povo, que segundo eles
nada sabem, e são como o pó da terra.

Um homem ali, chamado Nicodemos, é mais sensato e se contrapõe a eles, questionando que a lei manda
que a pessoa seja ouvida antes de ser condenada. Então a reação deles para com Nicodemos é: “Você
também é da Galiléia, pois da Galiléia não surge profeta!”. Na verdade, alguns profetas haviam vindo da
Galiléia, como Elias e Jonas, mas o que eles desejavam era rejeitar a Jesus, e por isso perdiam o senso, com
hostilidade. Entre nós também há quem seja hostil a Jesus, nos dias de hoje.

III – O GRUPO DOS IRMÃOS DE JESUS (CÍNICOS) (vs.2-5).

O relato de João, nesses versos, nos mostra um tema recorrente no seu evangelho. Por diversas vezes, João
nos mostra a incredulidade das pessoas diante das reivindicações de Jesus. Parece-nos que a natureza
humana, por si só, carrega o peso da incredulidade e da dureza de coração. Como destacou Ryle (200, p.
90):

...devemos observar nessa passagem a intensa dureza de coração e a incredulidade da


natureza humana. E, assim, somos informados que nem mesmo os seus irmãos criam nele.
Jesus era manso, imaculado e santo, mas alguns de seus parentes mais chegados não o
receberam como o Messias. Os judeus procuravam mata-lo, e isso era triste; porém, pior
ainda era a incredulidade dos seus irmãos.

O que João nos mostra aqui é o diálogo que os irmãos de Jesus tiveram com Ele a respeito da Sua
manifestação como Messias. Como mencionamos, Seus irmãos, que foram criados com Ele, não criam que
Ele era alguém divino, que era o Messias prometido. Na verdade, além de não crerem nEle, eles o tratavam
como um desajustado (cf. Mc 3.20,21; 31 e 6.1-5).

Sabemos que nem sempre o relacionamento com irmãos é fácil. Geralmente traz alguma hostilidade e falta
de compreensão. Creio que isso está de acordo com o pensamento que diz: “familiaridade gera desprezo”.
E no caso de Jesus, isso não foi diferente. Imagine alguém que possui um irmão perfeito. Seus irmãos
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

tinham muitas dificuldades em conviver com Ele. Eles estavam às portas da Festa dos Tabernáculos, que
encerrava o ano agrícola e fiscal de Israel. Já haviam sido feitas as quatro colheitas principais, da azeitona,
cevada, uvas e do trigo, e agora, as multidões estavam se achegando a Jerusalém para louvar e bendizer a
Deus, que tinha suprido todas as necessidades do povo. Era uma grande festa, e os irmãos que não criam
em Jesus lhe sugerem ir para Jerusalém, para fazer o “seu show”.

Havia entre os rabinos daqueles dias uma tradição que dizia: “O Messias chegará de forma espetacular.
Subirá no telhado do Santíssimo Lugar, no Templo e dirá: “A vocês pobres, o tempo da redenção chegou”.
E provavelmente os irmãos de Jesus conhecem essa tradição, por isso tentam “empurra-Lo” para lá. Mas
estão sendo cínicos, pois não criam nEle. Em outras ocasiões percebemos sua atitude com Jesus, por
exemplo em Marcos 3.21 “E quando os parentes de Jesus ouviram isso, saíram para O prender, porque
diziam: Está fora de si”. Eles consideraram que Jesus estava louco. Marcos 3.31 diz: “Nisso chegaram sua
mãe e seus irmãos, e tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-Lo”. Eles estavam considerando que
Jesus não está entendendo direito as coisas. Agora, no capítulo 7, entendo que estavam agindo com chacota
e cinismo em relação a Jesus. A isso, a única coisa que ele responde é: “Não é chegada ainda a minha
hora”.

IV – O GRUPO DA MULTIDÃO (DUVIDOSOS E DIVIDIDOS) (vs.7.12;40,41,43).

No verso 12, temos os mais diversos tipos de reação à pessoa de Jesus. João destaca a reação da multidão.
Buscavam a Jesus com os mais diferentes propósitos. Como naquela ocasião da festa em que Jerusalém
recebia gente de todos os lugares, certamente tínhamos galileus e tantos outros das diversas regiões por
onde Jesus e Seus discípulos tinham passado, ensinando, pregando e curando os necessitados (cf. Mt 4.23;
9.35). Muitos O procuravam por curiosidade, pois tinham ouvido sobre a presença de “um profeta de Deus”
no meio deles e, outros O procuravam porque tinham sido beneficiados por alguma atitude compassiva de
Jesus. Certamente outros, porém não muitos, O procuravam por causa das Suas palavras, pois Jesus:
“...ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (cf. Mt 7.29). Já outros, provavelmente
em menor número, O procuravam dizendo: “...nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é
verdadeiramente o Salvador do mundo...” (cf. 4.42).

No verso 43 vemos que o povo ficou dividido por causa de Jesus. Vemos que eles discutiam, e discordavam,
também por terem visto os sinais. Muitos perguntaram: “Quando o Messias vier, será que fará coisa
superior ao que este faz?”. No verso 31 diziam: “Assim mesmo muitos dentre a multidão creram nEle e
disseram: Quando o Cristo vier, fará mais sinais miraculosos do que este homem fez? “Alguns, portanto,
criam que Ele era o Cristo, e outros que era profeta, como no verso 40: “Certamente este homem é um
profeta”. Através de literatura, que foi encontrada na caverna, do lado ocidental do Mar Morto, pudemos
descobrir, nos anos 60, que aquela comunidade de piedosos tinha uma perspectiva diferente acerca do
Cristo. Alguns achavam que o Cristo seria aquele que viria e estabeleceria o Reino de Deus, e que uma
outra pessoa seria o profeta prometido por Moisés. Sendo assim, 2 pessoas diferentes.

Hoje, olhando para o cumprimento das profecias na vida de Jesus, é fácil sabermos que Jesus cumpriu a
profecia sendo o profeta, o sacerdote, e que vai assumir a Sua posição de rei. Mas naqueles dias isso não
estava muito claro aos seus olhos. Por isso a discussão de quem era Jesus, inclusive comparando a Sua obra
com a obra de Moisés. Eles estavam na pista certa, mas não conseguiam coordenar todas as coisas, como
por exemplo nos versos 41 e 42, as questões sobre o nascimento do Messias: “Outros disseram: Ele é o
Cristo. E ainda outros perguntaram: Como pode o Cristo vir da Galiléia? a Escritura não diz que o Cristo
virá da descendência de Davi, da cidade de Belém, onde Davi viveu?”. Devemos notar que essa multidão
estava atenta a coisas que de fato a Lei falava.

Em 2 Samuel 7.12 vemos a promessa de Deus, a Davi: “Quando os teus dias se cumprirem e descansares
com teus pais, então farei se levantar o seu descendente que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino”.
Isaías 55.3 diz: “Inclinai os ouvidos, vinde a mim e ouvi e a vossa alma viverá, porque convosco farei uma
aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi”. Miquéias 5.2 cita: “E tu, Belém
efrata, pequena demais para figurar com o grupo de milhares de Judá, de Ti sairá o que há de reinar em
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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Israel, cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”. Realmente as profecias
apontavam para os fatos que a multidão estava dizendo. Eles estavam certos, e embora tivessem muitas
dúvidas tinham o espírito de descobrir a verdade.

Essa quarta opinião era a do povo que habitava a cidade de Jerusalém. Era um pouco diferente daquela
multidão, mas bastante peculiar e curiosa. Vemos no verso 25: “Então alguns habitantes de Jerusalém
começaram a perguntar: Não é esse o homem que estão procurando matar? Aqui está ele falando
publicamente e não lhe dizem uma palavra! Será que as autoridades chegaram à conclusão que ele é
realmente o Cristo? Mas nós sabemos de onde é esse homem, e quando o Cristo vier, ninguém saberá de
onde ele é.” A multidão sabia. As Escrituras revelavam, mas eles se achavam sábios. Nada sabiam, mas
tinham uma grande convicção. Porém era errônea. Eles tinham certeza de que Jesus tinha vindo da Galiléia,
mas ele havia nascido em Belém. Eles estavam começando a achar que os seus líderes estavam acolhendo
o que Jesus dizia, mas na verdade eles só não estavam conseguindo responder nada. Porém esse povo achava
que sabia o que a sua liderança pensava. Eles eram absolutamente fechados para aprender, por acharem que
sabiam muito e que as autoridades, o povo e Jesus não sabiam nada. Eles não desejavam ser ensinados, pois
criam que tudo sabiam. Esse era o povo de Jerusalém, os convictos inconsistentes.

V – CRISTO – FONTE DA VIDA (vs.37-39).

No momento culminante da Festa dos Tabernáculos, Jesus mudou o enfoque das Suas palavras, que eram
de advertência, de conscientização e até de condenação. Jesus prometeu algo maravilhoso que mudaria para
sempre a humanidade e especificamente aqueles que nEle cressem.

De acordo com o verso 37: “...Se alguém tem sede, venha a mim e beba”, temos uma promessa feita no dia
final da festa. Era o dia especial. Repetindo aquilo que tinha falado em particular para a mulher samaritana
(cf. 4.13,14), agora anunciava publicamente a mensagem esperançosa. Esse grande dia, conforme Bruce
(2006, p. 161), era o dia final, pois a festa durava oito dias, e no oitavo dia havia a “santa convocação”, a
“reunião solene” (cf. Lv 23.36; Nm 29.35; Ne 8.16). As atenções se voltavam para esse momento solene
e, nesse momento especial, Jesus Se manifestou.

1. O que Ele prometeu?

Essa cerimônia era repleta de detalhes, conforme nos esclarecem Radmacher; Allen; House (2010, p. 248):

A cada dia da festa o povo trazia ramos de palmeira e marchava ao redor do grande altar.
Um sacerdote então pegava água do tanque de Siloé com um jarro de ouro, levava até o
templo e a derramava sobre o altar oferecendo-a a Deus. Essa cerimônia repleta de emoção
era um memorial às águas que fluíram da rocha quando os israelitas vagaram pelo deserto.
No último dia da festa, o povo marchava sete vezes ao redor do altar em memoria às sete
voltas dadas ao redor dos muros de Jericó. É bem provável que, no exato momento em que
o sacerdote derramava a água sobre o altar, Jesus tenha clamado em alta voz: “Se alguém
tem sede, que venha a mim e beba”.

Aproveitando essa cerimônia muito significativa, Jesus prometeu água viva para todos os que tivessem
sede. Jesus prometeu e ainda promete saciar nossa sede com a água espiritual, a vida eterna.

2. Qual a fonte prometida por Jesus?

A fonte é o próprio Cristo, pois esse é o significado da afirmação: “...venha a mim...”. Assim como Jesus
anunciou que aquele que bebesse dessa água especial não teria mais sede (cf. 4.14), e anunciaria no capítulo
14 verso 6, mostrando ser Ele o único caminho; aqui também Ele demonstra que é a própria fonte dessa
água viva. É em Jesus que temos o suprimento das nossas necessidades espirituais.

3. Qual o pré-requisito para obter-se a promessa?


100
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Crer em Jesus (Quem crer em mim...). Essa afirmação não indica que devemos crer num corpo doutrinário,
num grupo de artigos que descreve nossa fé. Crer em Jesus significa crer numa pessoa: na pessoa divina de
Jesus Cristo, o verbo de Deus que habitou entre nós (cf. 1.14). Crer em Jesus é o requisito básico para se
passar da morte para a vida (cf. 3.36; 11.25). Crer em Jesus significa que encontramos nEle o suficiente
para a satisfação da nossa alma.

4. Em que base foi feita a promessa?

Com base nas Escrituras. Conforme as promessas dos profetas, haveria um novo tempo. Esse tempo novo
estava sendo anunciado por Jesus. As antigas promessas se cumpririam (cf. Is 33.21; 43.19,20; 44.3; 58.11;
Jr 31.12; Ez 36.24-27; 47.1-12; Jl 3.18; Zc 13.1; 14.8). Jesus deu, não apenas a base para as Suas palavras,
mas também especificou: “...do seu interior fluirão rios de água viva”. E sobre essa frase, Bruce é muito
feliz ao esclarecê-la:

Onde exatamente a Escritura diz isto? No contexto do livro de Zacarias, ficamos sabendo
que...correrão de Jerusalém águas vivas... (Zc 14.8). Ezequiel, que dá mais detalhes sobre
as águas, acrescenta que ... tudo por onde quer que passe este rio... (Ez 47.9). O
cumprimento desta profecia e de outras semelhantes (cf. Jl 3.18; Is 33.21)... para todos os
que leem a descrição de João está claro que ele está falando do... rio da água da vida,
brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro (cf. Ap 22.1). As águas saem
da Jerusalém celeste; elas saem da morada de Deus em vidas que lhe são consagradas, em
corações crentes onde Cristo habita.

5. Qual o simbolismo da água da vida?

Conforme João, o simbolismo era o mais precioso possível. A promessa era e ainda é maravilhosa: “... Ele
estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem...”. A promessa era que o
Espírito Santo viria para estar permanente em todo aquele que cresse em Jesus, o Filho de Deus (cf.
20.30,31). Essa interpretação é confirmada por Carson (2007, p. 329), pois ele diz:

“A água, algumas vezes, servia como símbolo do Espírito Santo...e, em pelo menos uma
interpretação judaica, a cerimônia em questão era chamada de “tirar a água” porquê de lá
eles tiravam a inspiração do Espírito Santo, como está escrito: Com alegria vocês tirarão
água das fontes da salvação (cf. Is 12.3)”.

O crente em Jesus permitirá que Espírito Santo flua de sua vida alcançando e abençoando outros. O Espírito
Santo é essa água viva a jorrar daqueles que creem em Jesus Cristo.

6. Quando essa promessa se realizará?

Somente depois que Jesus fosse glorificado. O cumprimento dessa promessa aconteceu no dia de
Pentecostes, quando o Espírito Santo veio sobre os cristãos, sobre os verdadeiros discípulos de Jesus Cristo
(cf. At 2.1-4). As palavras do verso 39 são importantes, pois ensinam que todos os que recebem Jesus Cristo
recebem também o Espírito Santo. E, sobre a benção do Espírito Santo vir para todos os que creem em
Jesus Cristo, McDonald esclarece e enfatiza: “Em outras palavras, não é verdade como alguns dizem, que
o Espírito Santo vem habitar nas pessoas algum tempo após a conversão. Esse versículo afirma de modo
claro e perspicaz que todos os que creem em Cristo recebem o Espírito Santo”.

VI – A NECESSIDADE DE UMA TOMADA DE DECISÃO POR CRISTO (vs.40-44).

No último parágrafo deste capítulo, João nos mostra as diversas opiniões, as diversas posições em relação
à pessoa de Jesus Cristo. E, por isso, João nos mostra também a inutilidade do conhecimento meramente
intelectual. Ele nos mostra a necessidade do conhecimento experimental para podermos usufruir de tudo o
que a crença no Senhor Jesus Cristo nos proporciona.
101
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

a. Para uma tomada de decisão por Cristo a fé não pode ser especulativa (vs.40,41).

Nesses versos lemos: 40 Ouvindo as suas palavras, alguns dentre o povo disseram: “Certamente este
homem é o Profeta”. 41 Outros disseram: “Ele é o Cristo”. Ainda outros perguntaram: “Como pode o
Cristo vir da Galiléia? Aqui percebemos o alvoroço que criaram em torno de Jesus. Os corações são
diversos, as mentes são diferentes e, por isso, diante da mensagem de Cristo, enquanto uns se salvam,
outros, infelizmente, se perdem. Certamente o Senhor não tem prazer em que alguém se perca, porém, cada
um é responsável pela própria decisão.

b. Para uma tomada de decisão por Cristo a fé deve estar baseada na Palavra de Deus
(vs.42).

No verso 42 comprova-se que os judeus sabiam que o Cristo seria um descendente de Davi e que nasceria
em Belém. Eles perguntaram: “A Escritura não diz que o Cristo virá da descendência de Davi, da cidade
de Belém, onde viveu Davi?”. Se tivessem sido mais zelosos e mais atenciosos com a profecia, teriam
perguntado, teriam investigado e comprovariam que Jesus preenchia essas condições. Ele era descendente
de Davi e tinha nascido em Belém. Que grande oportunidade eles perderam!

c. Para uma tomada de decisão por Cristo a fé deve provocar definições (vs.43,44).

Mais uma vez, João nos mostra que diante de Jesus as definições são diferentes. Alguns O aceitam, outros
O rejeitam, mas o fato é que, diante de Jesus, todos têm de se posicionar. Estas são as palavras desses
versos: 43 Assim o povo ficou dividido por causa de Jesus. 44 Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém lhe
pôs as mãos. Novamente se ressalta aqui o controle divino sobre as circunstâncias. Jesus não seria
“arrebatado” e preso antes do tempo determinado pelo Pai. O controle divino enquanto é percebido na
preservação de Cristo até que se cumprisse o plano da redenção, também conclama cada indivíduo a decidir
sua vida no que concerne a reconhecer Cristo como Senhor e Salvador de sua vida.

VII – IMPLICAÇÕES DE UM ENCONTRO COM CRISTO (vs.45-53).

a. O ensino de Jesus provoca reflexões sobre a fé.

O retorno dos guardas do templo aos principais sacerdotes e aos fariseus, os quais formavam o Sinédrio,
nos mostra dois tipos de reações:

1ª Reação – Das autoridades quando viram os guardas chegarem de mãos vazias se surpreenderam.
Porque teriam negligenciado suas ordens? Porque não cumpriram sua tarefa? Perguntaram com
certa paciência porque não tinham trazido Jesus preso para que continuassem com seus planos?

2ª Reação – Dos guardas do templo quando declararam: Jamais alguém falou como este homem
(vs.46). Esses guardas, como descrevemos anteriormente, não eram pessoas incultas, pelo
contrário, eram da tribo de Levi, trabalhadores do templo e conhecedores dos detalhes da religião.

b. A falta de fé em Cristo é fruto de cegueira espiritual.

A resposta dos guardas irritou os componentes do Sinédrio. E eles reagiram. Os guardas do templo foram
enviados para prenderem Jesus, porém voltaram maravilhados com a mensagem o Senhor. Não é possível
saber se alguns deles creram, mas isso pode ter acontecido. Porém, é triste observarmos a reação das
autoridades, a rejeição, a opinião já formada e o desprezo dos religiosos por aqueles que pensavam de modo
diferente deles: 47 “Será que vocês também foram enganados?”, perguntaram os fariseus. 48 “Por acaso
alguém das autoridades ou dos fariseus creu nele? Eles estavam se colocando como parâmetros da verdade.
Se nenhum deles cria em Jesus, como alguém poderia crer naquele que, segundo as suas avaliações, era um
enganador? Quem cresse em Jesus era reconhecida como: “...ralé que nada entende da lei é maldita.”
(vs.49).
102
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

c. A falta de fé provoca endurecimento do coração.

Mesmo Nicodemos, sendo “...um dos principais dos judeus” (cf. 3.1), mesmo sendo um dos membros da
máxima corte judaica, foi alvo das críticas. Sendo da Galiléia, a região norte desprezada pelas autoridades,
ele os enfrentou com palavras da própria Lei, de que tanto se orgulhavam, mas só obteve uma resposta
irônica: 52 Eles responderam: “Você também é da Galiléia? Verifique, e descobrirá que da Galiléia não
surge profeta”.

O que percebemos nas palavras das autoridades era o profundo preconceito que os judeus do sul tinham
contra os galileus, a tal ponto daquela região ser chamada de “Galiléia dos gentios” (cf. Is 9.1). Não apenas
ironizaram Nicodemos como expuseram uma das razões pelas quais rejeitam Jesus. Através das suas
palavras tão agressivas, é possível percebermos como os seus corações estavam endurecidos.

CONCLUSÃO

O texto encerra-se com uma frase lapidar: E cada um foi para sua casa (vs.53). Esta foi a decisão que a
liderança judaica tomou. Este posicionamento oposto à pessoa de Jesus demonstra que a cegueira espiritual
em que se encontravam insensibilizou seus corações diante do testemunho dos guardas sobre Cristo. Diante
de Jesus, não há como não decidir. Jesus quer saciar a sede de todos, porém nem todos querem beber da
água que Ele graciosamente oferece. Sabe por quê? Porque não querem assumi-Lo como Senhor de Suas
vidas.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

ESTUDO 13 – TRATANDO COM PECADORES

Texto Base: Jo 8.1-11

1 Jesus, porém, foi para o monte das Oliveiras.


2 Ao amanhecer ele apareceu novamente no templo, onde todo o povo se reuniu ao seu redor, e ele se
assentou para ensiná-lo.
3 Os mestres da lei e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher surpreendida em adultério. Fizeram-na ficar
em pé diante de todos
4 e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério.
5 Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz?”
6 Eles estavam usando essa pergunta como armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus
inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo.
7 Visto que continuavam a interrogá-lo, ele se levantou e lhes disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado,
seja o primeiro a atirar pedra nela”.
8 Inclinou-se novamente e continuou escrevendo no chão.
9 Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando pelos mais velhos. Jesus ficou só, com a
mulher em pé diante dele.
10 Então Jesus pôs-se em pé e perguntou-lhe: “Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?”
11 “Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua
vida de pecado”.

INTRODUÇÃO

O
exercício da misericórdia, compaixão e graça desde que o pecado entrou no mundo, parece que
tem se tornado uma prática quase que impossível entre os seres humanos. Vivemos numa sociedade
marcada por egoísmo, orgulho e autossuficiência. O próprio Jesus em Seu sermão profético (Mt
24), já destacava a ausência do amor na humanidade enquanto um sinal que apontaria para Sua segunda
vinda, ou seja, como o mundo estaria quando retornasse. Paulo também destacou em 2 Timóteo 3.1-5 como
a impiedade se manifestaria nas ações humanas, tornando os homens implacáveis e privados de qualquer
manifestação de sentimento mútuo.

Nosso senso de justiça própria nos impede de enxergar o nosso próprio pecado e deficiências e de forma
injusta e equivocada agimos muitas vezes como juízes, condenando o próximo por suas ações como se
fossemos os mais perfeitos e íntegros de todos os homens. As pedras que muitas vezes carregamos em
nossas mãos representam a nossa própria agressividade, nosso desejo de vingança, nossa ânsia pelo
protesto, pela crítica, pela atitude condenatória. Tal gesto muitas vezes vem revestido de legalidade, quando
quem pratica se considera puro, santo, imaculado, cumpridor da lei, religiosamente perfeito, sem qualquer
débito diante de Deus.

O ato de julgar e de condenar revela a atitude de quem se vê irrepreensível, mas na verdade se trata de uma
mera projeção. Quem condena o pecador geralmente não consegue ver o próprio pecado, e sem conseguir
trabalhar com as próprias falhas, projeta seus próprios erros nos outros. Aquelas pedras que os líderes judeus
ansiavam por lançá-las representam o apego cego à lei, a norma, ao desejo de alcançar a salvação e de se
sentir quites com Deus pela observância dos preceitos, sem ver a amplitude da graça e da misericórdia do
Pai celestial e do Filho Jesus Cristo. Existe um ditado popular que apresenta uma verdade que se aplica
perfeitamente ao nosso estudo: “Quem tem telhado de vidro, não joga pedra no vizinho”.

Toda proposta de tratamento com pecadores sejam eles surpreendidos ou não em seus pecados, precisa ser
revestida de graça, misericórdia e compaixão, visando a restauração do pecador e permitindo que o amor
de Cristo seja o instrumento de restauração e aproximação da presença de Deus. O temor do Senhor é o
fundamento que enquanto nos protege do pecado, também nos capacita no auxílio daqueles que foram
enredados pelo pecado.

104
Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

CONTEXTO

Este texto dá início com a visível frustração dos líderes judaicos que haviam ordenado a prisão de Jesus aos
guardas do Templo, os quais voltaram profundamente encantados pelos ensinos de Jesus, bem como
chocados pela reação dos ouvintes à mensagem de Cristo (7.46,49). Um dos líderes judaicos, Nicodemos
deixa no ar uma observação sobre a necessidade de ouvir o acusado antes de condená-lo, o que faz com que
cada um vá a princípio para sua própria casa para refrescarem a cabeça (7.53).

O início do capítulo 8, nos dá a entender que o tempo de reflexão que os líderes judaicos tiveram, foi
exclusivamente para tramar uma situação ardilosa e específica para testar Jesus na Lei de Moisés e assim
O prenderem e condenarem à morte.

De acordo com o texto base, era madrugada e Jesus volta do monte das Oliveiras para o templo e logo pela
manhã já estava ensinando. Lá estava Ele rodeado de pessoas, alguns são discípulos, outros apenas curiosos.
Quer discípulos, quer curiosos, eles O ouvem atentamente. Podemos dizer que aquelas pessoas abriram mão
do sono para estarem com Jesus bem cedo para ouvi-Lo. Acordaram cedo para comer de um pão espiritual
que somente Ele poderia oferecer. Somente o verdadeiro Pão da Vida pode saciar a fome espiritual das
pessoas.

Não sabemos o que Jesus estava ensinando, mas foi nesse instante da manhã que um bando interrompe o
ensino de Jesus. Invadem o pátio, eram líderes religiosos, homens respeitados e importantes na sociedade.
A horda é constituída da mais alta nata da sociedade judaica, eram os escribas e fariseus, eram os pastores
e diáconos daquela época.

Esses homens saem de alguma rua estreita com uma mulher. Podemos dizer que esses homens agem
deliberadamente como vigilantes da moralidade, policiais do pecado alheio, gente com olhos abertos para
detectar como radares humanos a fraqueza do outro.

Com eles está uma mulher. Como diz Max Lucado: “e lutando para manter o equilíbrio na crista dessa
onda bravia encontrava-se uma mulher semidespida”. Apenas momentos antes estava na cama com um
homem que não era o seu marido. Esses policiais do pecado alheio não estavam interessados na preservação
da Lei, nem muito menos na questão do adultério, pois se não teriam levado o homem também. Queriam
apenas usar de forma desonesta essa situação para apanhar Jesus em algum erro, em uma armadilha (vs.6).

I – A SUPERIORIDADE DE JESUS SOBRE A LEI (vs.4-6).

4 e disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em ato de adultério. 5 Na Lei, Moisés nos
ordena apedrejar tais mulheres. E o senhor, que diz?” 6 Eles estavam usando essa pergunta como
armadilha, a fim de terem uma base para acusá-lo. Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão
com o dedo.

Jesus veio para proclamar as boas novas de salvação, sendo Ele mesmo a concretização da mensagem
divina. Ele proclamava a vida eterna em Si mesmo. Ele ensinava aos homens qual o único caminho para a
salvação. Certamente Jesus pregava e curava (cf. Mt 4.23; 9.35), mas o ministério de ensino era básico em
sua manifestação à humanidade. Podemos notar isso em outras passagens onde João caracteriza Jesus
chamando-O de “mestre” (cf. 1.38; 3.2,10; 8.4; 11.28; 20.16 e, especialmente em 13.13,14, onde o próprio
Jesus se autodenominou “mestre”).

Ainda era de madrugada de acordo com o texto, por volta de 6 horas, quando se iniciava o dia, Jesus desceu
para o templo para ensinar, comprovando que essa era a sua ênfase ministerial. É justamente com base
nessa ênfase que Jesus comprovará sua superioridade sobre a Lei diante daqueles que se apresentavam
como intérpretes da Lei (escribas e fariseus). Conhecedores da Lei e de que Deus requeria amor a Ele e ao
próximo (cf. Mt 22.34-40), não viviam de acordo com o que ensinavam. Pelo contrário, eles demonstraram

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

toda a sua insensibilidade e desrespeito ao ser humano apanhando aquela mulher e, não se importando com
ela, utilizaram-na como uma isca para conseguir seu objetivo: acusar Jesus (cf. vs.6).

Dirigindo-se a Jesus como “mestre”, eles demonstram mais, publicamente, que reconheciam esse aspecto
principal o ministério de Jesus, como o povo O reconhecia, embora Ele não tivesse cursado nenhuma das
escolas de interpretação daqueles dias, comandadas por outros rabinos, intérpretes da Lei, como por
exemplo, a escola de Gamaliel (cf. At 5.34). As alegações feitas por eles estavam corretas diante da Lei,
conforme Levítico 20.10 e Deuteronômio 22.20-24 confirmando a punição contra os adúlteros. E, então,
baseados na Lei, numa leitura correta (e não na sua interpretação), quiseram saber a recomendação de Jesus,
não para cumprirem e finalizarem o caso, mas para apanhar Jesus em alguma contradição.

A tentativa dos religiosos nessa, e em outras ocasiões (Mt 19.3; 22.15-18; 34,35; e paralelas em Mc 10.2;
12.15; Lc 10.25), as autoridades por motivo de ciúmes e inveja, diante das colocações de Jesus, tentaram
colocar armadilhas para que Ele caísse nelas, contradizendo-Se ou então ficando contra a Lei ou contra
Roma que dominava o estado de Israel. Essas tentativas se davam mais no campo do ensino, com perguntas
bem formuladas, com a apresentação de casos hipotéticos para que Jesus expressasse Sua opinião e, assim,
Se tornaria passível de descrédito e condenação.

Desde o início do ministério de Jesus, logo ficou claro que Ele tinha uma mensagem diferente e coerente
com Sua vida e Seus atos, conforme vemos ser a conclusão do povo, depois do Sermão do Monte (cf. Mt
7.28,29), foi crescendo o desejo das autoridades tirarem a Sua vida (cf. Mt 12.14). Nesse caso específico
(como em Lc 10.19-26), se Jesus ordenasse o apedrejamento Se colocaria contra o governador romano,
pois só ele tinha o direito de executar alguém condenado. Mas, se Jesus não fosse favorável ao
apedrejamento, estaria Se colocando contra a Lei mosaica, o que também O tornaria culpado, desacreditado
como alguém que não respeitava a Lei, e, portanto. passível de ser condenado. Essa situação também foi
descrita por Pack (1983, pg. 135), com alguns outros detalhes:

Eles expuseram o caso dela a Jesus e pediram que se pronunciasse, ao mesmo tempo o
lembravam de que a lei mandou que tais mulheres fossem apedrejadas... (cf. Lv 20.10;
Dt 22.22)... Se Jesus ordenasse que eles a apedrejassem, estaria contrariando a lei romana
ao condená-la a morte, e ao mesmo tempo perderia o apreço da multidão que o considerava
compassivo e cheio de perdão. Se não ordenasse o apedrejamento, as autoridades o
condenariam como alguém que não apoiava a Lei. Este foi o mesmo tipo de dilema que se
apresentou a ele na pergunta: É lícito pagar tributo a César? (cf. Mc 12.13-17)...

Com o passar do tempo, como é natural, na vida deles e na nossa, como diz Hebreus 3.13, o pecado começa
a endurecer o coração, de forma que nem mais se sente. Ficamos com a consciência cauterizada. E assim,
embora nem percebessem as suas próprias falhas, ou as ocultassem, eram extremamente perspicazes com
as falhas alheias.

Dessa forma podiam negligenciar a lei em tantos aspectos, mas uma mulher adúltera, isso não!
Possivelmente com um homem adúltero eles fossem tolerantes, mas uma mulher adúltera, isso não! Isso
ocorre como Jesus disse em Mateus 7.3-5: 3 “Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão,
e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? 4 Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me
tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?5 Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então
você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão. O fariseu típico não percebe, ignora ou
despreza os seus pecados, mas, apesar de ter uma trave no seu olho, é capaz de discernir o cisco dos outros.
Ele é capaz de tratar com o pecado dos outros, menos com o seu próprio.

Escrever com o Dedo

Mas Jesus inclinou-se e começou a escrever no chão com o dedo.

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

Seguindo adiante na análise da passagem bíblica, no momento que Jesus é confrontado com a questão, Sua
reação inicial é sentar-Se e pôr-Se a escrever no chão com o dedo. A interpretação desse gesto é variada
pelos diversos comentadores dos Evangelhos. Pode tratar-se de um gesto de menosprezo pela questão
trazida, uma vez que Ele foi interrompido quando ensinava e estava ciente de que se tratava de uma
armadilha. Ou ainda, um gesto para ganhar tempo e refletir sobre qual a resposta mais adequada dada a
delicadeza da situação.

Segundo Mathew Henry (1662-1714), pastor presbiteriano e comentarista da Bíblia, as hipóteses variam
entre algo muito grave, nomes de homens maus ou, ainda, os próprios pecados daqueles que acusavam a
mulher, especialmente na segunda vez que Ele se senta no chão escrevendo. De qualquer forma, tanto Henry
quanto o próprio Calvino (1509-1564), consideram que o ato teve mais uma atitude de desprezo e reflexão
de Cristo pela questão trazida com intenção de Lhe prejudicar, do que propriamente algum interesse pelo
que especificamente teria sido escrito.

Em outras interpretações, considera-se o ato em si de escrever com o dedo na análise da passagem, ação
essa carregada de simbologia. Em alguns trechos da Bíblia, a imagem de escrever com o dedo é usada
quando Deus “escreveu com Seu próprio dedo” as tábuas da Lei de Moisés. São eles: Êx 31.18 – “Depois
de o Senhor ter acabado de falar a Moisés no Monte Sinai, entregou-lhe as duas tábuas do testemunho,
tábuas de pedra, escritas com o dedo de Deus”. Dt 9.10 – “O Senhor entregou-me as duas tábuas de pedra
escritas com o Seu dedo divino, e contendo todas as palavras que o Senhor vos dirigira sobre a montanha,
do meio do fogo, no dia da Assembleia”.

Portanto, quando Jesus inclina-Se e escreve com o dedo (no caso, o dedo do filho de Deus, que seria o
próprio dedo de Deus), Jesus estaria resgatando a simbologia bíblica desse ato, ou seja, o ato de escrever a
lei divina. A lei de Moisés, escrita pelo dedo de Deus, foi escrita na pedra nas alturas de uma montanha. A
nova lei, trazida por Cristo, seria agora escrita no chão, acessível a todos os seres humanos. O gesto,
portanto, poderia indicar que a resposta para aquela questão estaria na seara de uma nova lei divina, que
começava a ser escrita por Cristo.

Não foi só que Jesus escreveu que destruiu o ardor condenatório dos acusadores. As Suas palavras fizeram
com que esses religiosos, por fim, avaliassem as suas próprias vidas: “Se algum de vocês estiver sem
pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela” (vs.7). Jesus surpreendeu-os mostrando-lhes que: com a
atitude de usar a mulher como um instrumento de manobra para conseguirem o seu intento e com a intenção
do coração deles, querendo derrotar e condenar Jesus, eles estavam se mostrando desqualificados para
exercerem com isenção e imparcialidade o papel de juízes daquele caso. Mas é digno de nota que Jesus
usou a própria Lei, que eles tanto preservavam e usavam, para mostrar-lhes o erro.

Jesus usou o princípio vindo de Deuteronômio 13.19 e 17.7 (9 Você terá que matá-lo. Seja a sua mão a
primeira a levantar-se para matá-lo, e depois as mãos de todo o povo. 7 As mãos das testemunhas serão
as primeiras a proceder à sua execução, e depois as mãos de todo o povo. Eliminem o mal do meio de
vocês.), mostrando-lhes que as testemunhas do ato pecaminoso deveriam atirar a primeira pedra. Eles se
orgulhavam de seguir a Lei, por certo se esqueceram desse princípio totalmente justo.

A superioridade de Jesus sobre a Lei é revelada não apenas no amor, graça, compaixão e misericórdia, mas
também no despertamento da consciência daqueles que supostamente eram religiosos interpretes da Lei.
Eles foram induzidos por Jesus a olharem para dentro de si, refletir sobre suas motivações e reconhecerem
que não estavam preocupados com a obediência à lei mosaica, mas que apenas a usavam para os seus
propósitos. Jesus, ao apelar para as Suas consciências, tirou a questão do plano judicial e a colocou no plano
moral, no qual, toda a situação, e não só o pecado da mulher, deveria ser considerada ou julgada.

De fato, toda a armadilha que tinham preparado contra Jesus, desconsiderando a mulher e a própria Lei,
caiu por terra diante da palavra de Jesus que evocou a própria Lei que deveria ser cumprida, não apenas em
parte, mas em todos os seus itens, em toda a sua intenção. As palavras de Jesus fizeram com que recuassem

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Quem é Jesus? – Um Estudo no Evangelho de João

e não dessem sequência àquele plano diabólico. Diante das palavras de Jesus não há argumentação que nos
desculpe.

Para refletir e debater: Porque será que temos grande facilidade em julgar outras pessoas por seus pecados
e grande dificuldade para enxergar nossas próprias deficiências e transgressões? Porque o exercício da
compaixão e graça pelo pecador se torna quase que impossível e somos tentados ao ataque com as pedras
de uma falsa piedade e justiça quando na verdade estamos desqualificados moral, ética e espiritualmente
diante de Deus e dos homens?

II – A GRAÇA E A MISERICÓRDIA DE JESUS SOBRE O PECADOR (vs.9-11).

9 Os que o ouviram foram saindo, um de cada vez, começando pelos mais velhos. Jesus ficou só, com a
mulher em pé diante dele. 10 Então Jesus pôs-se em pé e perguntou-lhe: “Mulher, onde estão eles?
Ninguém a condenou?” 11 “Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “Eu também não a condeno.
Agora vá e abandone sua vida de pecado”.

Após Jesus confrontar os religiosos por meio de seus próprios pecados, deixou-se claro de que diante do
tribunal terreno ou celestial, não haviam mais acusações sobre aquela mulher. Jesus somente deixou de
escrever depois que os líderes foram embora. Vendo a mulher só, paralisada diante dEle, Jesus dirigiu-lhe
a palavra: “Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?”. Ao perguntar sobre os seus acusadores, Jesus
por certo, quis enfatizar a gravidade da situação em que a mulher se encontrava. Tinha quebrado a Lei.
Tinha pecado contra as ordens divinas e por isso merecia a acusação e a condenação. Jesus queria que ela
se defrontasse com o seu pecado, assim como fizera com a mulher samaritana quando lhe pediu pra chamar
o seu marido (cf. 4.16-18).

A mulher ao responder que ninguém a havia condenado, chamou Jesus de “Senhor”. Isso não significa que
ela tenha necessariamente reconhecido a divindade de Jesus, mas por certo, pôde reconhecer nEle a
compaixão, graça e misericórdia que ela nunca experimentara anteriormente em sua vida. Portanto, sentiu-
se aliviada, pois não havia mais condenação dos homens e logo perceberia que não haveria condenação
divina.

Passos para a restauração...

Declarou Jesus: “Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado”.

Na declaração de Jesus, após a constatação de que os supostos acusadores da mulher adúltera, já não mais
se encontravam presentes no local, restando apenas Jesus e a mulher, podemos aprender que não há perdão
eficaz (livramento de juízo e condenação) quando não há arrependimento genuíno, ou seja, abandono
radical de uma vida na prática deliberada do pecado.

As palavras de Jesus foram pronunciadas como um desafio, um encorajamento à santificação. Você já


imaginou como essa mulher estava se sentindo durante todo o acontecimento? Provavelmente ela se sentia
envergonhada, por ter sido levada publicamente diante de um Mestre, tendo que enfrentar também o olhar
da multidão; ultrajada, pois se tornou um joguete nas mãos dos religiosos; amedrontada, enquanto
aguardava o desfecho dos acontecimentos; mas agora, diante de Jesus, sentiu-se valorizada, quando o
Mestre lhe deu atenção, dirigindo-lhe a palavra em público, o que os fariseus não faziam; e sentiu-se
também perdoada, pela palavra divina de Jesus.

Jesus não estava proclamando que ela não era culpada por seu pecado de adultério. De forma alguma! Ele
estava apenas cumprindo a Sua missão, claramente exposta quando conversou com Nicodemos (Jo 3.17 –
Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por
meio dele.). Jesus foi o advogado daquela mulher pecadora. Jesus defendeu-a das garras ímpias dos fariseus
e escribas. Eles que tentaram jugar e condenar Jesus, saíram envergonhados e calados. Aquela mulher, por

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sua vez, redimida e amada por Jesus. Eles não puderam condená-la porque eram pecadores, mas Jesus não
tinha pecado, era santo, justo, era Deus.

Após dizer que não a condenava, Jesus acrescentou: “...Agora vá e abandone sua vida de pecado”. E. é
bom lembrar que quando Ele dá uma ordem, ele também oferece logo as condições necessárias para que o
pecador cumpra a Sua ordem. Quando disse àquela mulher para não pecar mais, certamente através do
Evangelho (cf. Rm 1.16,17), estava transformando aquela vida numa vida de alguém que procura a
santidade, como Ele tem feito através dos séculos com milhares de pecadores.

Quando Jesus opera em nossas vidas, Ele não somente nos perdoa, mas nos transforma e liberta do pecado.
Ele não nos perdoou para levarmos a mesma vida de pecado. Ele assim o fez para nos transformar na Sua
imagem e semelhança.

CONCLUSÃO

a. A graça restauradora de Deus dialoga

Apenas pela graça, visto que o pecado separou o homem de Deus, é que se torna possível o diálogo de Deus
com o homem. Assim como em tantos outros eventos, a começar pelo Éden, aqui, mais uma vez, o Senhor
toma a graciosa iniciativa de conversar com o ser humano, sendo Ele quem É, e nos quem somos: “Mulher,
onde estão eles? Ninguém a condenou?” “Ninguém, Senhor”, disse ela. Declarou Jesus: “Eu também não
a condeno”. (vs.10,11a).

b. A graça restauradora de Deus absolve

Pela lei a mulher era culpada. O rei Davi vivenciou uma situação parecida, e mesmo sendo culpado, foi
objeto da graça de Deus (2 Sm 12.1-15). Jesus, Deus encarnado, lhe diz: “Eu também não a condeno”. O
panfleto acusatório é graciosamente contestado e suplantado pelo argumento e tese da graça (Rm 8.33,34
– 33 Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem os
condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou e está à direita de Deus, e também
intercede por nós.).

c. A graça restauradora de Deus liberta

A graça liberta das prisões do pecado e da culpa. A ordem é clara: “agora vá” (vs.11c). Sem discursos,
sem rodeios, sem ameaças. A libertação provinda da graça é objetiva, plena e verdadeira (Jo 8.36 –
Portanto, se o Filho os libertar, vocês de fato serão livres.).

d. A graça restauradora de Deus responsabiliza

Não estamos tratando aqui de relativização moral ou de antinomismo (aversão às leis). Estamos tratando
sobre a graça restauradora que busca na essência e no espírito da lei o seu real significado e propósito. A
graça de Deus outorga perdão, mas é acompanhada de um convite à responsabilidade: “abandone sua vida
de pecado” (vs.11d). A superabundância da graça (Rm 5.20) não nos dá o direito de abusar ou de banalizá-
la (Rm 6.1,2 – 1 Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? 2 De maneira
nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele?).

A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens (Tt 2.11). Se aproprie dela em nome de Jesus!

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