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Aluízio A. Silva
Editado e publicado no Brasil por:
VINHA Editora
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Goiânia – GO – Brasil
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sac@vinhaeditora.com.br
Exceto as de outra forma indicadas, as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Sagrada, Edição Revista e Atualizada
(RA), trad. João Ferreira de Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), São Paulo, SP, 1993.
Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a
autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo
artigo 48 do Código Penal.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2010
Sumário
Introdução 5
Cap 21 Gênesis 16-22 – A graça de Deus para o cumprimento de Seu propósito 175
O Pentateuco é formado pelos primeiros cinco livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio.
É costume dos judeus dar como nome ao livro a primeira palavra nele mencionada. Todavia,
o nome Gênesis, do primeiro livro de nossa Bíblia em português, vem do grego e significa
“princípio”. O nome do livro no original hebraico é a palavra hebraica bereshit.
Dois séculos antes de Cristo, os judeus resolveram traduzir o Velho Testamento do hebraico
para o grego, que era o idioma franco daquela época, talvez como o inglês o seja hoje. Como os
judeus haviam se espalhado por todo o mundo, seus filhos começaram a ter dificuldade com o
hebraico – eram judeus, seguiam o judaísmo, mas nasceram e foram criados em outros lugares
e muitos deles falavam apenas o grego. Assim, foi feita uma tradução do Velho Testamento para
o grego, conhecida como Septuaginta (a maneira técnica de referir-se a ela é LXX). É chamada
assim por ter sido realizada por 70 sábios que, segundo o folclore, traduziram sem ter contato
uns com os outros, mas, ao final do trabalho, as 70 traduções eram completamente iguais e
harmônicas, o que foi entendido como um sinal da autoridade da tradução feita.
Os gregos, diferentemente dos judeus, tinham outro costume para dar nome aos livros.
Eles se baseavam no assunto ou no tema tratado pelo livro. Então, como o assunto tratado
no primeiro livro da Bíblia era o princípio das coisas, o início de tudo, deram-lhe o nome de
Gênesis. O mesmo aconteceu com o livro de Êxodo, cujo significado é “saída”, pois seu tema
básico é a saída do povo de Israel do Egito. Levítico foi chamado assim porque é, na verdade,
6 GÊNESIS
um manual de instrução para os levitas. Deuteronômio vem de duas palavras: deutero, que
significa repetição, e nomos, lei. Ao lerem o livro, pensaram que se tratava apenas da repetição
das diversas leis citadas nos livros anteriores.
A Bíblia é um livro extraordinário! É composta por 66 livros redigidos por vários homens e,
apesar disso, mantém a unidade e a harmonia. Foi escrita num período de aproximadamente
2000 anos e, durante esse tempo, mais de 40 homens foram usados por Deus para escrevê-la;
no entanto, mesmo assim conseguiu manter um pensamento único.
A Bíblia, com os livros estabelecidos como nós a conhecemos hoje, foi finalizada no ano 397
num concílio chamado Concílio de Cartago, uma cidade do norte da África. Ali foi declarado
o cânon das Sagradas Escrituras.
Sabemos que a partir dos séculos VI e VII, a Igreja Católica proibiu a leitura da Palavra de
Deus. A Bíblia tornou-se, então, exclusiva de um grupo homens, de clérigos, pessoas conside-
radas mais capazes que as demais, e o homem comum ficou privado da luz da Palavra de Deus
por mil anos, durante a Idade Média, conhecida como o período das trevas. E por que trevas?
Porque a luz da Palavra de Deus foi vedada aos homens.
Porém, no século XVI, Deus levantou Martinho Lutero, na Alemanha, justamente quan-
do a imprensa havia sido inventada, usando-o para fazer a primeira tradução da Bíblia para
uma língua moderna. Martinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e, a partir de então,
as pessoas comuns puderam ter acesso à Palavra de Deus. Desde essa época, ela foi traduzida
para diversos outros idiomas e, dessa forma, se espalhou pelo mundo, de modo que, hoje, a
esmagadora maioria da humanidade pode ter acesso a ela em seu próprio idioma.
Contudo, o mais importante é compreendermos que a Bíblia, de fato, não é um mero livro.
Por trás das letras impressas num papel, há uma pessoa que é espírito, que é vida.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a re-
preensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o
homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra. (2Tm 3:16-17)
O texto diz que toda a Escritura é inspirada. A palavra “inspirada”, no original, significa
“soprada”. Portanto, toda a Escritura é soprada por Deus. A palavra traduzida como “sopro” é
pneuma, a mesma usada para “espírito” e que também significa vento.
É muito importante entendermos que Deus e Sua Palavra são um. Quando falamos algo,
nossa palavra é separada de nós, mas com Deus não é assim. Quando o Senhor fala, Ele próprio
sai junto com Sua Palavra, de tal maneira que, quando a ouvimos e recebemos o que sai de Sua
boca, não recebemos meramente uma palavra, mas o próprio Deus dentro de nós.
INTRODUÇÃO 7
A Bíblia foi escrita sob inspiração divina e, hoje, ao ministrar a Palavra de Deus, podemos
ser canais para transmitir a palavra viva a todos aqueles que abrem o coração para recebê-la.
Quando recebemos a Palavra, acolhemos a semente de Deus, o próprio sopro de Deus dentro
de nós. Jesus disse que Suas palavras são espírito, ou seja, sopro de Deus, mas também são vida:
“O espírito é o que vivifica. A carne para nada aproveita. Mas as palavras que vos tenho dito
são espírito e são vida” (Jo 6.63). Por isso, nunca devemos tomar a Palavra de Deus de maneira
comum, mas entender que estamos tocando em algo espiritual.
Revelação significa ver, à luz do Espírito de Deus, o que não podíamos ver antes; é ter os
olhos abertos pelo Espírito Santo. Evidentemente, revelação não é ver o que ninguém nunca
viu antes. Alguns querem ler a Palavra de Deus e descobrir algo inédito, que homens de Deus
através dos séculos nunca notaram. Grandes mestres têm se levantado nesses 2000 anos de
Igreja e criado um depósito espiritual do qual temos compartilhado. Ter revelação não é des-
cobrir algo novo, mas talvez algo que seja novo em nossa experiência, em nosso coração. É essa
revelação que traz vida, que habilita a vencer o pecado, que dá força para lutar contra o diabo,
que é uma arma espiritual genuína. Quando há essa revelação é que a transformação acontece,
pois a Palavra de Deus se torna espírito e vida em nós.
No original grego existem duas palavras traduzidas igualmente como “conhecer.” Estas pala-
vras são “gnosko” e “oido”. “Gnosco” aponta para o conhecimento objetivo e natural enquanto
“oido” aponta para o conhecimento subjetivo e espiritual. Não adianta conhecer as coisas de
Deus apenas com a mente, precisamos ter a revelação em nosso espírito.
Na história de Samuel vemos um exemplo desses dois tipos de conhecimento, pois ele
servia a Deus, mas ainda não O conhecia (1Sm 3:1-7). Outro exemplo é o de João Batista
(Jo 1:26, 31) que era primo de Jesus e, portanto, o conhecia, mas ainda não como o salvador,
o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Em João 8:19 Jesus diz que os judeus não
conheciam a Deus, todavia, eles O conheciam de uma forma religiosa, mas o Senhor diz que
isso que não é suficiente.
O enfoque histórico
Cada livro da Bíblia segue uma ordem cronológica. Devemos compreender essa ordem, as
histórias contidas no livro e ter em mente um esboço da sequência dos fatos. Apesar de ser
necessário, esse enfoque não é suficiente para nós, pois o alvo de Deus através de sua Palavra
não é contar história, mas falar e ministrar vida. O enfoque é a vida, não a história. Todavia,
ainda assim precisamos conhecer o aspecto histórico.
O enfoque profético
A primeira profecia da Bíblia está em Gênesis 3:15. Todas as profecias posteriores estão liga-
das a ela. Dirigindo-se à serpente, Deus disse: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Naquele
momento, Deus declarou a vinda do Messias. Dessa forma, podemos estudar tudo o que vem
depois a partir desse entendimento profético, identificando a pessoa do Senhor Jesus em toda
a Palavra de Deus.
O enfoque alegórico
Cada livro do Velho Testamento é uma ilustração viva das verdades do Novo Testamento.
Portanto, este enfoque considera tudo o que está no Pentateuco como sendo uma ilustração,
ou uma sombra do que se tornou realidade no Novo Testamento.
Ofícios – o sacerdócio era um ofício que tipificava Cristo como nosso sumo-sacerdote.
Objetos – o Tabernáculo com todos os seus objetos, como a arca da aliança, o maná, etc.
b. Símbolo
É algo que, por analogia ou convenção, assume o significado de outra coisa, podendo ter ou
não uma relação com o objeto representado. Na Bíblia vemos vários símbolos para o Espírito
Santo, como a pomba, o fogo ou o óleo.
c. Analogia
Uma analogia é uma comparação onde se procura encontrar uma relação de identidade e se-
melhança. Vemos um exemplo em Romanos 7:1-6, onde Paulo faz uma analogia de dois maridos.
Pode-se fazer uma analogia a partir de um ponto de semelhança entre coisas diferentes.
Um tipo é uma analogia, mas nem toda analogia é um tipo. Um tipo é sempre proposto
pela Bíblia. A analogia, não. Por isso, ao fazer uma analogia, há sempre o risco de fazermos
comparações que não estão em harmonia com o resto da Bíblia. Assim, para não cometermos
tal erro, precisamos ter sempre em mente que todo o Velho Testamento é uma sombra, um tipo
do Novo Testamento e, portanto, enxergaremos Cristo em todo ele.
O LIVRO DE GÊNESIS
Precisamos estudar o livro de Gênesis porque nele estão as sementes de toda a revelação
bíblica. Todo o propósito de Deus é revelado nesse livro na forma de semente, que depois é
desenvolvida, como se germinasse e culminasse no Novo Testamento.
O nome
Na Bíblia em hebraico o nome do livro é bereshit, que significa “no princípio”. Quando a
Bíblia foi traduzida para o grego, deram-lhe o nome de Gênesis, que significa “princípio”.
10 GÊNESIS
Autor
Moisés
Data
Aproximadamente 1.400 a.C.
Tema
Deus criou (cap. 1 e 2), Satanás corrompeu (cap. 3), o homem caiu (cap. 3-11) e Javeh
prometeu salvar (cap. 12). A queda teve seu início no jardim do Éden, continuou no dilúvio
e se consumou em Babel. Mas Deus, ao chamar Abraão, nos deu, através dele, a promessa
da salvação.
Esboço
A criação – 1:1 a 2:25
A queda e a promessa de redenção – 3:1 a 4.7
As gerações de Caim e Sete até o dilúvio – 4.8 a 7:24
Do dilúvio até Babel – 8:1 a 11.9
Os patriarcas – 11:10 a 50:26
Capítulo
1
A CRIAÇÃO DE DEUS
GÊNESIS 1:12
A criação de Deus revela Seu desejo de manifestar Seu propósito na eternidade. Ela ma-
nifesta o próprio Deus, declarando Sua glória e anunciando Seu poder. Através da natureza,
podemos conhecer algo de Deus.
A criação prova a existência de Deus e o homem é indesculpável, pois Deus pode ser reco-
nhecido em Sua própria criação.
12 GÊNESIS
Ao criar o homem à sua imagem e semelhança, com autoridade para dominar sobre toda a
criação, Deus tinha um propósito.
1. O MOTIVO
Deus criou todas as coisas para o seu prazer, segundo:
...nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus
Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade... desvendando-nos o
mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em
Cristo. (Ef 1.5, 9)
2. O PROPÓSITO
Deus criou todas as coisas para glorificar a Cristo. Embora não encontremos os termos Filho
de Deus ou Cristo em Gênesis 1, baseados em Romanos 5:14, sabemos que Adão era um tipo
de Cristo.
Em Zacarias 12:1 lemos que Deus estendeu o céu, fundou a terra e formou o espírito do
homem dentro dele. Os céus são para a terra, a terra é para o homem e o homem é para Deus.
3. A BASE
A base de toda a criação é a vontade de Deus. Apocalipse 4:11 mostra que todas as coisas
foram criadas de acordo com a vontade de Deus:
4. OS MEIOS
Tudo o que Deus fez e ainda faz é pela Palavra e pelo Espírito. É pela união da Palavra com
o Espírito que a vida é gerada, como mostra Gênesis 1:2-3: “A terra, porém, estava sem forma
e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.
Disse Deus: Haja luz; e houve luz”. A vida de Deus só é formada onde há a Palavra e o Espírito.
Pela fé, entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de
maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem. (Hb 11:3)
Porém, a Palavra que gera vida não é apenas a letra, pois esta mata, mas, sim, a Palavra
revelada. Quando falamos de Espírito que vivifica, falamos da unção e do fluir de Deus em
nós. E tudo isso já está à nossa disposição pela graça de Deus. O homem não pode criar nada,
nem gerar vida, mas, ao receber de Deus Sua Palavra e Seu espírito, não há limites para o que
o Senhor pode fazer através dele.
Precisamos entender que a Palavra é uma pessoa, é Jesus Cristo, o Verbo de Deus que se
fez carne.
5. O PROCESSO
Jó 38:4-7 diz que quando Deus criou a terra, as estrelas e os anjos já estavam lá. Isto prova
que os céus com todos os exércitos de anjos foram criados primeiro e a terra foi criada em
segundo lugar.
Podemos dizer que a Bíblia tem dois princípios: o de Gênesis e o de João. O princípio men-
cionado em João é o princípio da eternidade, quando só havia Deus, o Verbo. Já o princípio
narrado em Gênesis mostra o princípio do tempo.
Deus...
No original hebraico, a segunda palavra de Gênesis 1:1 é Elohim que, literalmente, poderia
ser traduzida por “deuses”. Na verdade, a palavra “deus” não é um nome, mas uma designação
genérica para uma divindade. No texto de Gênesis, vemos que Elohim está no plural, porém, o
verbo está no singular. No verso 26 Ele chama a Si mesmo de nós, com certeza, referindo-se à
trindade. Deus é um, mas é trino, subsiste na forma de três.
Criou...
14 GÊNESIS
Nos capítulos 1 e 2, três verbos são usados com respeito à criação de Deus: criar, fazer
e formar.
Criar significa trazer algo à existência a partir do nada. Só Deus pode criar, o homem não.
Fazer é tomar algo existente e, então, usá-lo para produzir outra coisa. Deus tomou o barro
como matéria-prima e dele fez o homem.
2
A QUEDA DE LÚCIFER
GÊNESIS 1:12
Entre os versículos 1 e 2 de Gênesis, algo aconteceu, muitas eras se passaram. Cremos que a
criação original de Deus, incluindo os céus e a terra, foi consumada no verso 1. E, a partir do
verso 2, temos a recriação e a restauração.
A terra era sem forma, vazia, com trevas e abismo. Esta é a descrição do caos, mas Deus não
cria nada caótico. Como podemos constatar nos versículos abaixo, Deus não criou a terra desse
jeito, mas algo aconteceu para que ela se tornasse assim.
16 GÊNESIS
Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a
terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas
para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro. (Is 45:18)
Tudo o que Deus faz tem fundamentos estáveis, medidas e padrões, como vemos claramente
nesse texto de Jó. Portanto, a maneira como Deus age não combina com a descrição do estado
em que a terra se encontrava no versículo 2 do primeiro capítulo de Gênesis.
Olhei para a terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não tinham
luz. (Jr 4:23)
Aqui Jeremias não se referia a Gênesis, mas à situação de juízo que sobreveio a Israel e Judá
através de Nabucodonosor.
Eis que o Senhor vai devastar e desolar a terra, vai transtornar a sua
superfície e lhe dispersar os moradores. (Is 24:1)
Ou seja, quando vier o juízo de Deus, virá a desolação. Não será o mesmo caos descrito em
Gênesis, mas será também sinal de julgamento.
Quando Deus trouxe juízo ao povo do Egito, uma das pragas enviadas foram as trevas. O
mesmo vai acontecer na grande tribulação, quando o juízo de Deus for derramado sobre a terra.
Então, disse o Senhor a Moisés: Estende a mão para o céu, e virão trevas
sobre a terra do Egito, trevas que se possam apalpar. Estendeu, pois,
Moisés a mão para o céu, e houve trevas espessas sobre toda a terra do
Egito por três dias. (Ex 10:21,22.)
Portanto, uma terra sem forma, vazia e em trevas, de maneira alguma, pode ter sido criada
assim por Deus, pois essas não são características inerentes a Ele.
Podemos, então, dizer que o versículo seria mais bem entendido se fosse: “a terra, porém,
tornou-se sem forma e vazia”.
Portanto, com base nesses argumentos, podemos afirmar que algo terrível aconteceu entre
os versículos 1 e 2 do primeiro capítulo de Gênesis. Deus havia criado a criado a terra, mas esta
se tornou sem forma, vazia e em trevas. Um verdadeiro cataclismo aconteceu. E o único evento
bíblico que pode ter causado tal devastação é a queda de Lúcifer.
A rebelião de Lúcifer está implícita entre esses dois primeiros versículos do livro de Gênesis
e, para entender melhor a sua queda, há dois textos bíblicos muito importantes: Ezequiel
28:11-19 e Isaías 14:12-15.
1. A origem de Lúcifer
Satanás foi um anjo criado por Deus, antes de Ele ter criado a terra. O livro de Jó (38:4-7)
nos diz que quando Deus lançava a medida do fundamento da terra, os filhos de Deus (os
anjos) alegremente cantavam.
Em Ezequiel 28 vemos que Satanás era não somente um dos anjos, mas o mais alto arcanjo,
o cabeça de todos os anjos. Esse texto descreve a posição de Satanás no universo antes de sua
rebelião e corrupção.
Todo este capítulo parece falar a respeito do rei de Tiro. Mas o versículo 13 diz: “estavas no
Éden, jardim de Deus”. Este não era o Éden onde Adão fora colocado. Este Éden estava nos
céus, no monte santo de Deus.
“De todas as pedras preciosas te cobrias”. Ele estava coberto com pedras preciosas e, segundo
G. H. Pember, isso indica o lugar de sua habitação.
“A obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava em ti; no dia em que foste criado, foram
preparados.” (v. 13 – RC). Isso indica que Satanás era alguém envolvido na adoração celestial.
Além disso, nos tempos antigos; instrumentos musicais como tambores e flautas eram para
os reis (Dn 3.5; 6:18). Isso indica que Satanás ocupava a posição mais alta naquele universo.
Foi por isso que mesmo o Senhor Jesus chamou-o de “o príncipe deste mundo” (Jo 12:31). O
apóstolo também o chama de “o príncipe da potestade do ar” (Ef 2:2).
A QUEDA DE LÚCIFER 19
Assim, ele se tornou “o príncipe “deste mundo”. Sua posição e cargo eram tão altos que mes-
mo “Miguel, o arcanjo... não ousou pronunciar juízo injurioso contra ele...” (Jd 9). Miguel era
um dos arcanjos (Dn 10:13) e o fato de não ousar repreender Satanás prova que a graduação
de Satanás deve ser mais alta que a dele. Assim, podemos concluir que Satanás deve ser o mais
alto arcanjo.
“Tu eras querubim ungido...” (Ez 28:14). Ezequiel nos diz que os querubins sustêm a glória
de Deus (9:3; 10:18) e estão muito achegados ao trono de Deus (1:26; 10:1). Ezequiel também
diz que os querubins são os quatro seres viventes (10:20), semelhantes aos quatro citados em
Apocalipse (Ez 1:10; cf. Ap 4.7) que lideram a adoração a Deus. Isso revela que aquele que
hoje é Satanás, originalmente o querubim ungido, deve ter sido designado por Deus para ser
o cabeça entre Suas criaturas, liderando-as na adoração ao Senhor. O que ainda pode indicar
que o arcanjo ungido também tinha o sacerdócio, e deve ter sido o sumo sacerdote na adoração
universal a Deus.
“Permanecias no monte santo de Deus...”, é muito provável que seja nos céus, “e movias-te
por entre pedras de fogo” (B.J.). Em Êxodo 24:10, 17, Moisés e Arão viram, sob o trono de
Deus, pedras preciosas com a glória de Deus como fogo abrasador. Essas deviam ser as pedras
de fogo.
Ao lado de Ezequiel 28, Isaías 14:12 também nos ajuda a ver a origem de Satanás. Diz-nos
que ele era a “Estrela da Manhã (ou Lúcifer, conforme o hebraico), Filho da Alva”. Assim como
a estrela da manhã é a líder entre outras estrelas, também Satanás deve ter sido o cabeça de to-
dos os anjos. O título “Filho da Alva” mostra que ele já estava lá antes, no começo do universo.
A origem de Satanás foi maravilhosa. Ele era o querubim ungido de Deus, o mais achegado
a Ele, mantendo a mais alta posição na criação de Deus. Ele tinha não somente a realeza, mas
também o sacerdócio, a própria posição que nós, o povo redimido de Deus, temos para sempre
(Ap 5.9-10; 20:4- 6). Mas, ele foi privado de sua posição e ofício quando se rebelou contra o
Criador. Deus, agora, nos escolheu para sermos Seus sacerdotes e reis, para nos apossarmos da
posição e dos ofícios de Satanás, para envergonhá-lo e glorificar ao Senhor.
2. A Rebelião de Satanás
Ezequiel 28:15 diz que Satanás era perfeito em seus caminhos desde o dia em que fora
criado. Evidentemente, Deus não criou um Satanás maligno, mas um arcanjo bom e perfeito.
Contudo, num dado tempo, este arcanjo, o querubim ungido, rebelou-se contra Deus.
a. A causa
Satanás rebelou-se contra Deus por causa do orgulho em seu coração. Ezequiel 28:17 diz
que seu coração se elevou por causa de sua formosura e ele corrompeu sua sabedoria por causa
de seu resplendor. Ele era “cheio de sabedoria e formosura”; “sinete da perfeição” (Ez 28:12).
20 GÊNESIS
Ao observar sua beleza, Satanás tornou-se orgulhoso; olhou para seu resplendor e se corrom-
peu. Do mesmo modo, hoje, ao olharmos para o que Deus fez de nós e nos esquecermos dEle,
somos sempre tentados a sermos orgulhosos. O orgulho foi a causa da rebelião de Satanás.
Todas as virtudes naturais e todos os dons espirituais podem ser utilizados pelo diabo para
nos fazer orgulhosos. Até o apóstolo Paulo podia ser tentado a se ensoberbecer pela “excelência
das revelações” (2Co 12:7). O orgulhoso diabo ainda está percorrendo a terra, procurando os
orgulhosos para devorá-los (1Pe 5:8). A única maneira de “resistir” a ele é “humilhar-nos” a nós
mesmos (1Pe 5:5-6, 9 - V.R.).
Satanás exaltou a si mesmo, mas o Senhor Jesus “a Si mesmo Se humilhou” (Fp 2:8). Assim,
o Senhor venceu Satanás, e Satanás nada tem Nele (Jo 14:30)
b. O propósito
Satanás queria ser igual a Deus. Esse foi o propósito de sua rebelião contra Deus. Em Isaías
14:13-14 lemos que Lúcifer disse: “Eu subirei ao céu... exaltarei o meu trono... e no monte da
congregação me assentarei. Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo”.
c. O processo
Satanás se rebelou contra Deus com a intenção maligna de derrubar a autoridade de Deus
(Ez 28:15-18; Is 14:13-14). Não somente ele se rebelou, mas grande parte dos anjos que esta-
vam sob sua mão também se rebelaram. Em Apocalipse 12:4, 9 vemos que um terço das estrelas
dos céus, isto é, um terço dos anjos, o seguiram (em Apocalipse, estrelas representam anjos).
Em Mateus 25:41, o Senhor Jesus disse: “o diabo e seus anjos”. Efésios 2:2 descreve Satanás
como “o príncipe da potestade do ar” e Efésios 6:12 nos diz que os principados e potestades
estão no ar. Esses principados e potestades eram anjos sob a mão de Satanás, governando sobre
o universo antes de Adão.
Quando Satanás se rebelou contra Deus, a maioria de seus anjos o seguiu em sua rebelião,
tornando-se os anjos caídos, os espíritos malignos. Hoje, no universo, há duas categorias de an-
jos: bons e maus. Os anjos bons estão com Deus, os maus são aliados de Satanás contra Deus.
A QUEDA DE LÚCIFER 21
Os seres viventes que estavam na terra nessa época, e mais tarde se tornaram os demônios
da terra, também se uniram a Satanás em sua rebelião. Se lermos os quatro evangelhos, vere-
mos que na terra há outro tipo de espírito – os demônios. Sendo assim, quem e o que são os
demônios?
A maioria dos cristãos pensa que os demônios são idênticos aos anjos caídos, mas, de acordo
com Efésios, os anjos caídos vivem no ar, não na terra. Os quatro evangelhos revelam que,
rigorosamente falando, os demônios nunca entram no ar, mas tanto se movem na terra como
na água, que é o lugar de sua habitação. Lembremo-nos do incidente com o homem possesso
de muitos demônios (Mt 8:28-32): quando o Senhor Jesus expulsou aqueles demônios, eles
rogaram-lhe permissão para entrarem numa manada de porcos. Depois de entrarem nos por-
cos, eles correram para a água, onde gostavam de ficar.
Mateus 12:22-27, 43-45 é muito significativo a este respeito. Nesse trecho da Palavra, pode-
mos ver que Satanás tem seu reino diabólico e é o “príncipe dos demônios”. O versículo 43 diz:
“quando o espírito imundo (o demônio) sai do homem, anda por lugares áridos procurando
repouso, porém não encontra”. O demônio que foi expulso do homem mudo e cego estava
buscando repouso, o qual não pode encontrar em lugares áridos. Isto mostra que o lugar de
descanso, o lugar de habitação dos demônios, é na água. O versículo 44 nos diz o que acontece
se eles não encontram água: “Por isso diz: voltarei para minha casa...”. Esta “casa” é o corpo
físico dos seres humanos. O lugar de habitação dos demônios é a água, e seu lugar de habitação
temporário é o corpo humano.
Atos 23:8-9 prova que os demônios não são anjos caídos. Ali vemos que os anjos e os espí-
ritos são classificados como dois tipos diferentes de seres. Mesmo os antigos fariseus judaicos
colocavam demônios e anjos em categorias separadas. Se lermos os quatro evangelhos cuida-
dosamente, descobriremos que os demônios também são chamados espíritos malignos. Não
somente os anjos são espíritos; os demônios também são.
Quem são os demônios? Por que os demônios gostam de entrar na água ou no corpo huma-
no? No livro “As Eras Mais Primitivas da Terra”, G. H. Pember fez um estudo completo deste
assunto. A geologia e a arqueologia descobriram que a terra tem milhões de anos de idade,
com fósseis de milhares e milhares de anos. Tudo parecia contradizer a Bíblia, mas Pember
encontrou a resposta. Entre Gênesis 1:1 e 1:2, houve um período de tempo que ele chamou de
intervalo. Ninguém pode dizer qual a extensão deste intervalo, mas, de qualquer modo, deve
ter sido um longo período de tempo.
Depois de estudar inteiramente esse assunto, Pember concluiu que num certo tempo após a
criação original, Satanás e seus anjos se rebelaram. Além disso, Pember concluiu, pelo registro
bíblico, que nessa era pré-adâmica existiram na terra alguns seres viventes com espírito e que
estes seres também se uniram a Satanás em sua rebelião contra Deus. Assim, Satanás, seus anjos
caídos e estes seres viventes foram todos julgados por Deus.
Após esse julgamento, tais seres perderam seus corpos e tornaram-se espíritos sem corpos.
Esta é a razão pela qual os demônios querem entrar num corpo físico. A água pela qual Deus
os julgou tornou-se o abismo onde os demônios devem viver.
22 GÊNESIS
Um dia, enquanto Jesus atravessava o mar, um forte vento soprou e surgiu uma grande
tempestade. Contudo, o Senhor Jesus não orou, Ele ordenou que o vento parasse e que a tem-
pestade se aquietasse (Mt 8:23-27). Mas, por que o ar se tornou tempestuoso e a água agitada?
Porque haviam anjos caídos no ar e demônios na água. Eles sabiam que Jesus estava indo à
outra praia para expulsar demônios (Mt 8:28-32). Hoje, o ar ainda está cheio de anjos caídos
e a terra cheia de demônios.
Os anjos maus seguiram Satanás na rebelião contra Deus. Os demônios, outra espécie de se-
res, são espíritos sem corpos, que vivem na água e trabalham na terra. Satanás é o príncipe deste
mundo que inclui a terra e o ar. No reino de Satanás estão os anjos caídos no ar, os demônios
na água e os seres humanos caídos na terra.
d. O resultado
A rebelião de Satanás acarretou o julgamento de Deus. Ele não pode tolerar qualquer re-
belião no meio de Suas criaturas, por isso, imediatamente após a rebelião de Satanás, Deus
declarou Seu julgamento contra ele (Ez 28:15-18; Is 14:15).
Os céus e a terra certamente foram profanados pela rebelião de Satanás (Ez 28:18) e, assim,
também foram julgados por Deus. Jó 9:5-7 diz que Deus derrubou as montanhas em Sua ira,
abalou a terra do seu lugar, ordenou ao sol que não se levantasse e selou as estrelas. Quando
Deus fez isso? Não podemos encontrar um registro de tal acontecimento na história humana.
Presumimos que tenha acontecido antes do mundo adâmico, no tempo em que Deus julgou
os céus e a terra devido à rebelião de Satanás e seus seguidores.
Por causa do Julgamento de Deus, os céus não deram sua luz. A terra foi coberta pelas trevas
e sepultada sob profundas águas. Assim, “a terra tornou-se sem forma e vazia”, coberta de águas
e envolvida com trevas (Gn. 1:2).
Isaías 45:18 diz: “... Deus, que formou a terra... não a fez para ser um caos”. Jó 38:4-7
mostra que Deus criou a terra em boa ordem. Diz que, quando Deus “lançava os fundamentos
da terra”, “lhe pôs as medidas” e “estendeu sobre ela o cordel”, “as estrelas da alva, juntas, ale-
gremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus (os anjos).”
Quando Deus lançou os fundamentos da terra, Ele pôs sua medida. Isso significa que Ele
a criou em boa ordem. Assim, quando as estrelas da manhã viram isto, elas se emocionaram e
cantaram, e quando todos os anjos viram, gritaram de alegria. Provavelmente, isso aconteceu
em Gênesis 1:1, não em Gênesis 1:2. Como poderiam as estrelas da manhã cantar e os anjos
gritar de alegria quando a terra era sem forma e vazia?
Sempre que as palavras “sem forma” e “vazia” são usadas juntas no Velho Testamento, elas
denotam o resultado de um julgamento (Jeremias 4:23, Isaías 24:1, Isaías 34:11). O que quer
que tenha sido julgado por Deus, torna-se assolado e vazio.
As trevas que estavam na face do abismo também eram um sinal de julgamento, porque as
trevas são provenientes do julgamento de Deus (Ex 10:21-22; Ap 16:10).
A QUEDA DE LÚCIFER 23
Assim, a terra mencionada em Gênesis 1:2 não estava nas mesmas condições de quando
Deus a criara originalmente. Ela foi criada por Deus em boa ordem, mas “tornou- se” sem
forma e vazia. Como já vimos, a palavra traduzida por “tornou- se” é a mesma palavra usada
em Gênesis 19:26 que diz que a mulher de Ló “tornou-se uma estátua de sal”. Ela não era uma
estátua de sal, mas tornou-se uma. No mesmo princípio, a terra, originalmente, não era sem
forma e vazia, mas tornou-se assim.
Embora Satanás, os anjos rebeldes e os demônios tenham sido todos julgados por Deus, eles
ainda estão se movimentando e trabalhando hoje, porque o julgamento sobre eles ainda não foi
totalmente executado, mas um dia será (Ap 12:12; Mt 8:29; Lc 8:31).
Hoje Satanás ainda pode ir a Deus para acusar Seu povo (Jó 1:6-12; 2:1-7; Ap 12:10).
Ele ainda está “vagando” pela terra, “procurando alguém para devorar” (1Pe 5:8),
Está trabalhando para cegar as pessoas (2Co 4:4),
Para enganá-las (2Co 11:14),
Para encher seus corações (At 5:3)
Para alcançar “vantagem sobre nós” (2Co 2:11).
Ele ainda é “o homem valente”, guardando “seus bens” (Mt 12:29).
Os anjos rebeldes ainda são “os dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 6:12; cf.
Dn 10:20). Alguns anjos caídos estão presos agora para julgamento (2Pe 2:4; Jd 1:6).
O julgamento de Lúcifer ainda não foi completado. Quando ele foi lançado na terra, foi
julgado; quando O Senhor foi crucificado, sua cabeça foi esmagada; mas, no futuro, ele será
lançado no lago de fogo e enxofre.
O julgamento sobre eles ainda precisa ser executado. Deus julgou Satanás e todos os seus
seguidores, mas isso não significa que o Senhor executou Seu julgamento no momento em que
Ele o proferiu. Condenar é uma coisa; executar a condenação é outra.
A execução do julgamento de Deus não será efetuada pelo próprio Deus. Ele não fará isso.
Nenhum juiz efetua, ele mesmo, a execução. Para isso, ele precisa de alguns executores. Assim,
quem executará o julgamento de Deus sobre Satanás e seus seguidores serão os cristãos, a igreja,
os crentes vencedores. O julgamento sobre Satanás e seus seguidores não foi executado porque
Deus está esperando que a igreja se levante.
Em Apocalipse 12, vemos que os vencedores executarão o julgamento de Deus sobre Satanás.
Além disso, dia a dia em nossos lares, toda vez que somos vitoriosos, nossa vitória é uma exe-
cução desse julgamento.
Este é o tempo de executarmos o julgamento de Deus sobre Satanás. Hoje, a igreja deve
orar para “amarrar o homem valente” e “roubar sua casa” (Mt 12:29), lutar contra os espíritos
malignos no ar (Ef 6:12) e expulsar os demônios (Mt 17:21) onde quer que os vejamos traba-
lhando para fazer mal às pessoas. Deus julgou os demônios e confinou-os na água, mas a igreja
vai introduzir a era em que o mar não mais existirá (Ap 21:1) e os demônios que agora estão
24 GÊNESIS
confinados nela terão o julgamento executado sobre eles (os mortos no mar mencionados em
Apocalipse 20:13 não podem ser seres humanos, mas devem ser demônios).
3
A CRIAÇÃO E A NOVA CRIAÇÃO
GÊNESIS 1:331
A maneira como Deus criou todas as coisas é apenas um tipo de como somos recriados e
restaurados pelo Senhor. Como já dissemos, a terra tornou-se sem forma e vazia por causa da
queda do diabo, mas esta não era a sua condição original, pois Deus não cria nada para ser um
caos. Do mesmo modo, o homem também não foi criado para viver e ser um caos, mas tornou-
se assim por causa da ação do pecado e do diabo.
A descrição de Gênesis 1 é uma questão totalmente relacionada com a vida. É uma analogia
à iluminação e à obra do evangelho de Deus na vida do homem hoje. A intenção de Deus não
é fazer um registro histórico da criação, mas ministrar-nos coisas espirituais.
Em 2 Coríntios 4:6, Paulo certamente está se referindo ao capítulo primeiro de Gênesis. Ele
está relacionando o que aconteceu naquele momento com o que acontece hoje na vida de cada
um de nós ao nos convertermos ao Senhor.
26 GÊNESIS
Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo res-
plandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da gló-
ria de Deus, na face de Cristo. (2Co 4:6)
Gênesis 1:1-2 é um resumo da história do homem. Em Adão, ele foi criado bom, mas foi
danificado pelo diabo e se tornou:
a. Sem forma - perdeu a forma original que Deus planejou que tivesse.
b. Vazio – o homem ficou vazio, pois Deus já não está mais no lugar que deveria ocupar.
Esse espaço só volta a ser preenchido depois da reconciliação com o Senhor.
c. Em trevas - todos nós outrora andávamos em trevas, como está escrito em Colossenses
1:13: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do
seu amor”.
e. Coberto pelas águas da morte – na Bíblia, as águas podem simbolizar tanto vida quanto
morte. É morte quando é água parada ou água do mar. É vida quando é um rio que flui. A
terra estava totalmente coberta pela água, não havia vida nela. Assim também é o homem sem
Deus: está morto.
A respeito da obra do Espírito, Jesus disse: “Quando ele vier, convencerá o mundo do
pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não creem em mim; da justiça, porque vou
para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado”
(Jo 16:8-11).
É o Espírito Santo quem nos convence do pecado (relacionado a Adão), da justiça (rela-
cionada a Cristo) e do juízo (relacionado a Satanás). Ele faz isso pairando sobre nós de uma
maneira suave.
A C R I A Ç Ã O E A N O VA C R I A Ç Ã O 27
b. A Palavra veio
Tudo o que Deus faz, Ele o faz pela Palavra e pelo Espírito. Da união entre a Palavra e o
Espírito a vida é gerada.
Tiago nos mostra que fomos gerados pelo Espírito e pela Palavra:
Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para
que fôssemos como que primícias das suas criaturas. (Tg 1:18)
Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê na-
quele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou
da morte para a vida. (Jo 5:24)
c. A luz veio
Esse foi o resultado da ação conjunta entre o Espírito e a Palavra, pois a primeira coisa que
Deus disse foi: “Haja luz...” Ter luz é a nossa primeira necessidade. Luz é revelação, vida, clare-
za. A Palavra de Deus libera luz.
A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas
trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela. (Jo 1:4-5)
E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas.
Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o
primeiro dia. (Gn 1:4-5)
A primeira experiência que necessitamos ter em nossa vida cristã é o discernimento entre a
luz e as trevas, o “dia” e a “noite”. Em outras palavras, o Senhor nos capacita a fazer a separação
entre aquilo que é de Deus e aquilo que é do diabo, para que, como está escrito em Levítico
10:10, façamos “diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo”.
28 GÊNESIS
Paulo pergunta em 2 Coríntios 6:14: “que comunhão tem a luz com as trevas?”. Deus se-
parou a luz das trevas, por isso não devemos tentar misturá-las. Esta separação é a santificação.
As águas de baixo nos falam do que é terreno e as águas de cima, do que é celestial. Agora
já não é mais uma questão de separar o santo do profano, de ser pecaminoso ou não, mas da
origem de tudo.
Isso é o que chamamos de “operação da cruz”: o discernimento entre o que é natural e o que
é espiritual, entre o terreno e o celestial, entre o que é da alma e o que é do espírito.
Por isso devemos experimentar a cruz, pois ela evita que façamos algo naturalmente bom,
mas que procede da nossa alma e não do nosso espírito, sendo, portanto, algo que vem da terra
e não do céu.
O fato de algo ser da alma não significa, necessariamente, que seja pecado. Pode ser uma boa
virtude, como, por exemplo, uma bondade natural. Porém, se não vem de Deus e não procede
do Espírito, o Senhor não a aceita. Por isso, não adianta nos “maquiarmos” com virtudes terre-
nas, pois Deus não aceita nada que tenha origem aqui na terra. As coisas de Deus são celestiais.
O homem não pode produzir algo espiritual em si mesmo. O Espírito é quem o produz. Por
isso existem coisas da alma e coisas do espírito.
Sempre que Deus completava Sua obra, dizia que o que havia feito era bom. Porém, nesse
dia, Ele não disse. O Senhor não falou que as águas dos mares eram boas porque elas simboli-
zam morte – o que vem do mar, ou seja, da nossa alma, invariavelmente produzirá morte. Mas
o que vem do Espírito sempre gera vida.
Para Deus, tão importante quanto o que se faz é a origem do que se faz.
Somente nesse dia houve a separação entre a terra e o mar. Como já foi citado, as muitas
águas, ou o mar, simbolizam a morte, pois cobriam toda a terra e nelas estavam os demônios.
A terra, por sua vez, simboliza frutificação e vida. Por esse motivo, em outros lugares da Bíblia,
a terra simboliza o Senhor Jesus.
Esta separação é ainda mais sutil que as anteriores, pois mostra que é possível estar livre do
pecado e das coisas terrenas e mundanas e ainda assim ser alguém sem a frutificação e a vida
abundante e plena do Espírito. Essa diferença é bem ilustrada na parábola das dez virgens.
Eram dez virgens, todas puras e fiéis, mas cinco delas não possuíam azeite sobrando, ou seja,
vida em abundância.
Pelo número de separações mostradas por Deus em Gênesis e em outras passagens bíblicas,
podemos constatar a importância e a seriedade desse assunto para a vida cristã. Isso acontece
porque separação significa santificação. Onde não há separação e santificação não há vida.
E disse: Produza a terra relva ervas que deem semente e árvores frutíferas
que deem fruto segundo a sua espécie, cuja semente esteja nele, sobre a
terra. E assim se fez. (Gn 1:11)
Disse também Deus: Produza a terra seres viventes, conforme a sua es-
pécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua
espécie. E assim se fez. (Gn 1:24)
30 GÊNESIS
Não cremos na evolução, mas, definitivamente, podemos afirmar que existem níveis inferiores
e superiores de vida. Sem dúvida, há espécies mais complexas e muito mais dotadas de inteligên-
cia que outras. Sendo assim, ainda que não haja evolução, sabemos que há crescimento de vida.
A sequência da criação nos mostra um crescimento gradual de vida, iniciando por espécies
mais rudimentares até as mais complexas. Isso também se aplica à vida cristã que, da mesma
forma, se desenvolve gradualmente: o homem começa num nível rudimentar e caminha até
chegar à estatura do varão perfeito, à perfeita varonilidade do Senhor Jesus. Quando somos
salvos, recebemos vida, mas ainda incipiente. Porém, com o passar do tempo, a vida de Deus
em nós vai se desenvolvendo e tomando o controle de nosso ser, até que a imagem de Cristo
seja formada em nós.
Podemos observar que a sequência da criação nos mostra um crescimento gradual do tipo
de vida.
No primeiro estágio apareceram os vegetais – nós somos como árvores plantadas junto a
ribeiros de águas (Sl 1:3). Depois, os peixes, seres muito superiores aos vegetais, mas ainda
um nível rudimentar de vida. Os homens são comparados a peixes, pois Pedro foi feito um
pescador de homens (Mt 4:19).
Depois dos peixes, no próximo nível, vieram as aves – Isaias 40:31 diz que aqueles que esperam
no Senhor serão como águias. Em seguida vieram os animais terrestres, répteis e mamíferos. E,
por fim, o homem foi formado como o ápice da criação. Em Romanos, Paulo diz que Adão era
apenas um tipo de Cristo, portanto, podemos afirmar que o homem aqui representa o nível da
perfeita maturidade de vida que atingiremos quando alcançarmos a estatura de Cristo (Ef 4:13).
4. O CRESCIMENTO DA VIDA
Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para faze-
rem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para esta-
ções, para dias e anos. E sejam para luzeiros no firmamento dos céus,
para alumiar a terra. E assim se fez. (Gn 1:14-15)
Certamente uma condição básica para que a vida cresça e se desenvolva é a luz. Embora ela
tenha surgido no primeiro dia, a luz não era tão concreta e forte. Então, no quarto dia, surgi-
ram os luzeiros.
De acordo com a revelação bíblica, luz é vida (Jo 1:4). Toda a criação está focalizada na vida.
Não devemos ler a Palavra de Deus do ponto de vista científico e natural, mas devemos tomá-la
do ponto de vista de Deus. Deus é vida e luz e tudo o que Ele faz é visando ministrar vida e luz.
a. Aparecem os luzeiros
João nos ensina que precisamos andar na luz para mantermos comunhão uns com os outros.
Nós já temos a luz residente em nós, mas ainda precisamos da luz de três fontes para nos ajudar:
o sol, a lua e as estrelas.
O sol simboliza o Senhor Jesus, a lua representa a igreja e, as estrelas, os santos individual-
mente. Estas três fontes de luz são para fazer separação entre luz e trevas e para sinais, estações,
dias e anos.
A primeira fonte de luz é o sol. Em tipologia, o sol representa Cristo. Em Mateus 4:16
vemos que, quando Cristo apareceu pregando, ele apareceu como uma grande luz. As pessoas
que estavam nas trevas viram uma grande luz. No mesmo evangelho, lemos que, no reino fu-
turo, nós também brilharemos como o sol, porque seremos tal qual Cristo é: “Então, os justos
resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” (Mt 13:43).
Mas para vós outros que temeis o meu nome nascerá o sol da justiça,
trazendo salvação nas suas asas; saireis e saltareis como bezerros soltos
da estrebaria. (Ml 4:2)
A segunda fonte de luz é a lua. É difícil encontrar um versículo mostrando que a lua tipifica
a Igreja, mas podemos usar como base o sonho de José. Em seu sonho, o pai era o sol, a mãe
era a lua e os irmãos, onze estrelas. Sendo Cristo o sol, é natural que sua noiva seja a lua.
A lua é um objeto que não possui luz própria, mas reflete o sol. Isto é um quadro da Igreja,
que não possui luz de si mesma, mas reflete a luz de Cristo. Além disso, a lua não é estável, ela
pode estar cheia, minguante ou nova. Mas o sol, por sua vez, é sempre o mesmo.
A terceira fonte de luz são as estrelas. Elas representam os santos vencedores que resplande-
cem no meio da noite escura deste mundo.
32 GÊNESIS
Em Apocalipse está escrito que as igrejas são candelabros refulgindo nas trevas e os anjos das
igrejas, ou seja, os vencedores são estrelas nas mãos do Senhor:
Quanto ao mistério das sete estrelas que viste na minha mão direita e
aos sete candeeiros de ouro, as sete estrelas são os anjos das sete igrejas,
e os sete candeeiros são as sete igrejas (Ap 1:20).
A primeira finalidade dos luzeiros é fazer separação entre a noite e o dia. Esta separação já
havia sido feita, mas agora os luzeiros a tornam ainda mais nítida e forte. Além disso, os lu-
zeiros criados no quarto dia não são para gerar vida, mas para proporcionar o crescimento da
vida. Quanto mais elevado for o nível de vida, maior será a compreensão e a resposta a Deus,
permitindo, assim, que Ele mesmo seja expresso em nós.
As trevas simbolizam a morte, e a luz, a vida. Nesta criação, ainda temos de tolerar a noite
por algum tempo, mas chegará o tempo em que não haverá mais noite (Ap 21:25). Todos nós
precisamos da lua e das estrelas para termos maior discernimento e separação.
A segunda finalidade dos luzeiros é sinalizar. A sinalização está relacionada com movimen-
tos. Os sinais podem nos indicar a direção ou o momento certo de seguir ou parar. Nos tempos
antigos, os marinheiros navegavam de acordo com as estrelas. Hoje, os sinais de trânsito nos
orientam ao dirigir. E na vida cristã, nossos irmãos são instrumentos de Deus para nos orientar
também. Não devemos ser independentes deles, pois precisamos dos irmãos para nos alertar.
Caso contrário, nos perderemos.
Em Jeremias 8:7 lemos o seguinte: “...a cegonha no céu conhece as suas estações; a rola, a an-
dorinha e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do
A C R I A Ç Ã O E A N O VA C R I A Ç Ã O 33
Senhor”. Muitos crentes desejam ter uma vida de eterna primavera e verão, mas, se desejamos
crescer, precisamos também de invernos e outonos. São as mudanças de estações que propiciam
o crescimento da vida.
A última finalidade dos luzeiros é estabelecer o começo de novos ciclos. Dias e anos nos
falam de novos começos.
Quando o povo de Israel saiu do Egito, o Senhor disse que aquele era o início de um novo
ano (Ex 12:2). Quando fomos salvos, também tivemos o início de um novo ano, uma transla-
ção em nossas vidas. Nenhuma lavoura pode crescer sem estações, dias e anos. Como lavoura
de Deus, precisamos desses ciclos de vida.
Gênesis 8:13 diz que Noé voltou à terra no primeiro dia do primeiro mês. Ele teve um novo
começo, no primeiro dia do primeiro mês.
Êxodo 40:2, 17 nos diz que o Tabernáculo foi levantado no primeiro dia do primeiro mês.
Outro novo começo. Não podia ser em nenhum outro dia, porque apenas o primeiro dia do
primeiro mês nos fala de começo.
2 Crônicas 29:17 e Ezequiel 45:18 nos mostram que o povo purificou e santificou o templo
no primeiro dia do primeiro mês. De acordo com Esdras 7:9, a volta da Babilônia começou no
primeiro dia do primeiro mês.
Todo cristão precisa desses quatro novos começos: chegar à terra, levantar o tabernáculo, pu-
rificar o templo e retornar do cativeiro. Todo crescimento precisa desses recomeços que devem
ocorrer no primeiro dia do primeiro mês.
O primeiro capítulo do livro de Gênesis encerra com a criação do homem, porque o alvo
final da vida de Deus é nos levar à estatura de varão perfeito. Se seguirmos todo esse processo
registrado aqui, alcançaremos o cumprimento da vontade de Deus em nós. A Bíblia é um livro
de vida e o que o Senhor quer através da Sua Palavra é nos transmitir vida, para que possamos
crescer e expressar Deus em nossa geração.
Capítulo
4
O PROPÓSITO DE DEUS PARA O HOMEM
GÊNESIS 1:2628
O propósito não é algo que escolhemos, mas é determinado por Aquele que nos criou.
Sendo assim, nossa tarefa é descobrir qual foi a intenção de Deus ao nos fazer.
O homem foi criado no sexto dia. O primeiro dia do homem é o sétimo de Deus. Isto é um
sinal do propósito pelo qual fomos criados por Deus. Quando o Senhor criou o homem, não o
colocou numa fábrica para trabalhar, mas, sim, no Éden, que significa lugar de delícias. Fomos
criados para desfrutar do Senhor e termos prazer nele.
Podemos ver claramente em Gênesis que o principal propósito de Deus foi ter o homem
para expressá-lo e representá-lo. Cada animal foi criado segundo a sua espécie, mas o homem
foi criado conforme a espécie de Deus.
Deus é apenas um, mas disse “façamos”, pois é um ser triuno – Deus, Jesus e Espírito Santo.
O homem era apenas um, mas Deus disse “dominem” (Bíblia de Jerusalém), porque foi criado
com três partes – corpo, alma e espírito.
Isso não significa, porém, que o homem é, ou algum dia será deus, pois só há um Deus.
Contudo, foi feito semelhante a Deus e pode ter comunhão com Ele.
Nós somos vasos de Deus para que Ele seja o nosso conteúdo. Assim como garrafas foram
feitas para conter água, nós fomos feitos para conter Deus.
Uma boa ilustração disso é a luva: ela é a imagem e semelhança da mão, mas não é a mão.
Ela apenas foi criada conforme a mão com o propósito de contê-la. Do mesmo modo, o ho-
mem foi criado à imagem de Deus, com o propósito de conter Deus.
Contudo, ainda que seja feita à imagem e semelhança da mão, uma luva só tem sentido se
tiver a mão como conteúdo – somente assim ela adquire forma e propósito. O mesmo acontece
com o homem: é a imagem e semelhança de Deus, mas, se o Senhor não estiver dentro dele,
não passa de uma “luva” vazia caminhando pelo mundo.
Além disso, somente a mão para a qual a luva foi feita pode preenchê-la completamente.
Assim também acontece com o homem, pois somente Deus pode completá-lo plenamente.
O homem foi criado à semelhança de Deus para que pudesse contê-lo e ter comunhão com
Ele. Assim, porque Deus é espírito, o homem também foi feito um ser espiritual, para que,
sendo do mesmo tipo, pudessem ter comunhão um com o outro. Como já vimos, o que se diz a
respeito de todos os animais é que foram feitos segundo a sua espécie, mas a respeito do homem
se diz que foi feito semelhante a Deus. Nós somos da espécie de Deus.
O homem é vaso de Deus e, segundo a Bíblia, é formado por três partes: corpo, alma e espírito.
O corpo é a parte física e foi criado para contatar as coisas da esfera material. É a parte
mais superficial.
A alma é a psique, a parte psicológica que contém emoções, vontade e pensamentos. Foi
criada para contatar as coisas do mundo psíquico e é uma parte mais profunda que o corpo.
O espírito é a parte mais profunda do homem, pertencendo ao nível espiritual e foi criado
para contatar as coisas de Deus. É o lugar onde Deus habita no homem.
O propósito de Deus era, e ainda é, entrar no espírito do homem para ser seu conteúdo e
sua satisfação. Este é o propósito da existência humana. Portanto, não fomos criados apenas
para conter comida em nosso estômago ou conhecimento em nossa mente. Fomos criados
para conter Deus em nosso espírito. Sem Ele, nós somos vazios. Mas, quando compreen-
demos que o Senhor é nosso conteúdo, passamos a entender que tudo em nós tem que
acontecer a partir dele.
Quando compreendemos que, agora, nossa vida está oculta em Deus e Ele está em nós, pois
“aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele” (1Co 6:17), nossa maneira de ver e viver
a vida cristã é totalmente transformada. Tudo de que precisamos para ser, para viver e praticar
a Palavra de Deus já está dentro de nós; todas as virtudes estão resumidas em uma só pessoa,
Jesus Cristo que é o nosso conteúdo. A nossa sabedoria é apenas o recipiente para a sabedoria
de Cristo. O nosso amor é o recipiente para o amor de Cristo.
Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de
Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção. (1Co 1:30)
Precisamos entender que carregamos Deus dentro de nós por toda a eternidade. Uma vez
que nos convertemos e o Espírito de Deus entrou em nós, estamos amalgamados com Ele
para sempre. Fomos unidos de tal maneira, que é impossível nos separar. Deus tornou-se um
conosco em nosso espírito.
Contudo, infelizmente, podemos resistir à vida de Deus para que ela não domine em nós.
Por isso, às vezes, Ele precisa nos quebrar, quebrar nossa alma para que Ele, que é nosso con-
teúdo, possa se expressar através de nós. Então, quando nos abrimos e deixamos que Ele tenha
o controle, experimentamos o que é ser, de fato, um vaso cujo alvo é expressar completamente
a imagem de Deus.
Deus é invisível, no entanto, Ele tem uma imagem. A imagem de Deus é Cristo (Cl 1:15;
Jo 1:18; Hb 1:3)
38 GÊNESIS
Uma vez que o homem foi criado à imagem de Deus e a imagem de Deus é Cristo, então,
o homem foi criado à imagem de Cristo. Todavia, um dia, Cristo veio se fazer semelhante ao
homem.
Em uma primeira análise, essa reciprocidade pode gerar alguma confusão, pois, quem foi
feito à imagem de quem? Porém, ao meditarmos a respeito de quem é Deus, entendemos que
isso aconteceu porque Seu alvo final é se unir ao homem. Em toda a Sua glória e grandiosidade,
esse Deus maravilhoso e soberano teve um propósito de criar o homem para que este pudesse
ser um com Ele. Deus quis compartilhar conosco algo de Sua natureza divina de maneira que,
no final, seremos tal qual Ele é.
Por causa da queda, perdemos parte da semelhança com Deus. Porém, quando Jesus veio,
Ele nos deu a promessa e o Espírito para que fôssemos transformados novamente à Sua ima-
gem. Cristo se fez homem para que pudéssemos ser como Ele é, para que recebêssemos a vida
de Deus, assim como a luva recebe a mão e, no final, pudéssemos nos unir a Ele, tornando-nos
um só.
Não há glória maior que esta: tornar-se semelhante a Deus e unir-se a Ele. Nem mesmo os
anjos desfrutam de algo assim, pois não são semelhantes a Deus, não carregam a natureza di-
vina em si e não são um só espírito com Ele como nós somos. Essa semelhança e unidade com
Deus é um privilégio exclusivo reservado aos filhos de Deus.
O PROPÓSITO DE DEUS PA R A O H O M E M 39
Este é um aspecto extraordinário da graça de Deus: Ele não precisa de nada nem de ninguém
– na verdade, Ele “Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois
ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At 17:25) – porém, misteriosa-
mente, Deus nos criou para sermos seus ajudantes, servos, cooperadores.
Deus criou o homem para ser um instrumento dEle a fim de trazer Seu governo novamente
sobre todas as coisas, pois, antes da criação do homem, Lúcifer já havia caído e se tornado
Satanás, trazendo com ele a rebeldia. Ele fora lançado na terra e esta se tornou o único lugar no
universo onde a autoridade de Deus é questionada. Por isso, em certo sentido, fomos criados
para resolver um problema de Deus, dominando algo que estava fora de controle e exercendo
esse domínio em Seu lugar.
Deus deu ao homem a autoridade para exercer o domínio como se fosse Ele mesmo. E,
para isso, o fez à Sua imagem. Quem visse Adão, saberia que ele representava Deus, pois era
semelhante a Ele. Assim, porque ele tinha a imagem, exercia o domínio, pois a imagem é para
expressar e o domínio para exercer autoridade e ter um reino.
Precisamos conservar em nossa mente as duas palavras mais importantes aqui: imagem e
domínio. Porque temos a imagem, exercemos o domínio. Imagem é para expressar e domínio
é para exercer autoridade e ter um reino.
Quando vemos as ordens que Deus deu a Adão, Sua intenção de fazer do homem um ins-
trumento fica evidente:
a. crescer e multiplicar
Deus quer ter muitos filhos semelhantes a Ele, por isso criou Adão à sua imagem e seme-
lhança e ordenou que se multiplicasse e desse origem a outros iguais a seu Criador. Ele poderia
ter criado milhões de homens de uma só vez. Porém, desde o início, Deus já mostrou que um
dos aspectos de Sua obra é trabalhar gradualmente, através de sementes.
Após a queda, contudo, o homem passou a gerar filhos semelhantes a si mesmo, pois, a
partir de então, tornou-se pecador e passou a trazer em si a imagem do pecado, que é o diabo.
Deus, então, rejeitou a velha criação e enviou Jesus. Sabemos, portanto, que o Senhor Jesus
veio para cumprir aquilo que Adão falhou em cumprir.
40 GÊNESIS
Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma viven-
te. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro
o espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem,
formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o
primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terre-
nos; e, como é o homem celestial, tais também os celestiais. E, assim
como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a
imagem do celestial. (1Co 15:45-49)
Adão, a velha criação, era alma vivente, mas Jesus, e com Ele a nova criação, é espírito vivi-
ficante, ou seja, as ordens para Adão seriam cumpridas na esfera natural e hoje, em Cristo, as
mesmas ordens são cumpridas na esfera espiritual. Todos nós também recebemos a ordem de
crescer e multiplicar, não na esfera natural, mas na espiritual.
b. Sujeitar
Deus nos criou para resolver a primeira questão, ou seja, estabelecer Seu reino na terra. Isso
significa que nossa tarefa não é apenas pregar o Evangelho, mas também desfazer as obras do
diabo. A Igreja está aqui para sujeitar o inimigo, tanto em nível individual quanto coletivo.
O PROPÓSITO DE DEUS PA R A O H O M E M 41
Sujeitamos as obras do diabo quando expulsamos demônios e curamos enfermos. Por isso,
quando Jesus realizava alguma dessas coisas, dizia que era chegado o reino e Deus. Assim, é ne-
cessário que nós, como igreja, confrontemos as obras do diabo onde quer que as encontrarmos.
Além disso, individualmente, cada um de nós deve aprender a subjugar o diabo. Portanto,
todos precisamos lidar com ele, sujeitando-o em todas as esferas de nossa vida. E, para isso,
Deus nos deu os instrumentos necessários: o nome de Jesus, a espada do Espírito, o próprio
Espírito Santo em nós e mais uma série de armas espirituais poderosas em Deus.
O alvo de Deus é que Seu reino venha sobre a terra e ele atingirá esse objetivo através
do homem.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido
ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus.
(Mt 16:19 ou Mt 18:18)
O problema do homem é que ele caiu e precisa receber a salvação. O problema de Deus
é que Satanás está usurpando a autoridade sobre a terra. Portanto, todo precisou lidar com o
inimigo, sujeitando-o em todas as esferas de nossa vida.
Sujeitar o inimigo é vencê-lo em todas as circunstâncias, não deixando que ele leve vanta-
gem em nenhum momento. Quando negamos o ego, ou quando louvamos e adoramos a Deus,
estamos sujeitando o diabo, pois ele foi um adorador que caiu, mas nós, contudo, escolhemos
a Deus voluntariamente. O ego é a expressão do orgulho satânico e, quando o negamos, sujei-
tamos Satanás.
c. Dominar
A esfera do domínio do homem é simbolizada pelo mar, a terra e o ar. Jesus nos mostrou
que até mesmo os animais mencionados em Gênesis 1:28 simbolizam demônios no restante
das escrituras.
Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passa-
ram, e o mar já não existe. (Ap 21:1)
O ar é o lugar da habitação dos anjos caídos (Ef 2:2). As aves do céu simbolizam demônios,
tanto aqui como na parábola do semeador, onde as aves que roubavam a semente do coração
dos homens eram também demônios.
d. Guardar
A última ordem dada ao homem foi para guardar o jardim. Porém, ele não a cumpriu e o
inimigo entrou.
Conservar e guardar ainda são ordens válidas para nós. Muitos não cumpriram o propósi-
to de Deus no passado porque não guardaram o depósito de Deus em sua vida, porém, em
Apocalipse 3:11, lemos a seguinte exortação: “Venho sem demora. Conserva o que tens, para
que ninguém tome a tua coroa”.
3. IMAGEM E DOMÍNIO
O ponto central dos versículos 26 a 28 do primeiro capítulo de Gênesis é “imagem e
domínio”. O propósito de Deus, desde Adão, era dar ao homem Sua imagem e domínio. O
homem recebeu a imagem de Deus para exercer o domínio na terra em Seu lugar. A imagem
é a base da autoridade ou do domínio – é porque se parece com Deus que o homem pode
exercer autoridade.
O homem recebeu a imagem de Deus para exercer o domínio na terra em Seu lugar. Como
represente de Deus, Adão precisava expressá-lO em sua imagem.
O PROPÓSITO DE DEUS PA R A O H O M E M 43
A base da autoridade ou domínio é a imagem. É porque eu me pareço com Deus que tenho
Sua autoridade. Tudo é determinado por aquilo com que nos parecemos – se com escorpião,
serpente, cordeiro ou filho de Deus.
A imagem precede o domínio, e o sacerdócio introduz a realeza. Por isso João Batista veio
antes, a fim de introduzir o Rei Jesus (Mt 3:1-3).
A principal função do sacerdote era levar as pessoas a Deus. A realeza, por outro lado, tem
a função de representar Deus diante dos homens. O primeiro ministério foi o sacerdócio. Mas
o sacerdócio introduz a realeza, assim como Samuel, o sacerdote, constituiu Davi como rei.
Todo verdadeiro evangelista precisa ser como um rei. Jesus nos deu Sua autoridade para
pisar serpentes e escorpiões. Se agimos assim, somos reis.
Para ter domínio é preciso ter imagem, assim como para ter realeza, é preciso, antes, ter sacerdócio.
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de pro-
priedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele
que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. (1Pe 2:9)
Deus quer que sejamos bons mestres da Palavra, mas, acima de tudo, Ele quer que expressemos
Sua imagem pelo sacerdócio que, para nós, hoje, fala do tempo que gastamos em Sua presença.
Após a queda, o homem perdeu a imagem de Deus e, desde então, nasce com a figura do
pecado, pois perdeu a glória de Deus (Rm 3:23). Assim, a obra do Espírito, hoje, é nos trans-
formar para podermos expressar Deus, mudando nossa imagem espiritual através da renovação
da nossa mente por meio da Palavra, a fim de que possamos exercer domínio, realeza.
Paulo diz que precisamos ser transformados pela renovação de nossa mente, pois somente
quando ela é renovada para pensar de acordo com a Palavra é que somos transformados nova-
mente na imagem do Senhor.
44 GÊNESIS
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela reno-
vação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável
e perfeita vontade de Deus. (Rm 12:2)
Além disso, precisamos contemplar o Senhor. Quanto mais tempo gastamos na presença de
Deus, mais Sua imagem vai sendo impressa em nós, mais ficamos cheios de Sua glória.
Por toda a palavra de Deus, vemos que somente aqueles que expressaram Sua imagem pu-
deram exercer autoridade e domínio.
Abraão é a primeira pessoa de quem se diz que venceu o inimigo, e ele o fez porque edifi-
cou um altar. Altar nos fala de oração e consagração – quanto mais oramos e adoramos, mais
parecidos com Deus ficamos. E quanto mais mostramos Sua imagem, mais autoridade temos.
José também manifestou domínio e autoridade porque ele andou em santidade e cumpriu o
propósito de Deus. Todos nós sabemos que a santidade é a imagem de Deus.
A respeito de Moisés se diz que sua face brilhava por causa da glória de Deus (Ex 34:29-30).
Assim, ele teve autoridade para governar a casa de Israel e para vencer o inimigo (Ex 14:30-31).
Paulo diz que precisamos contemplar o Senhor e sermos transformados de glória em glória na
imagem do Senhor (2Co 3:9). Quando isso acontece, temos autoridade e domínio.
Foi Davi quem derrotou o inimigo e não Saul, porque Davi é quem tinha a imagem de Deus
sobre ele. Um adorador sempre acaba por manifestar a imagem de Deus.
Daniel foi alguém que andou em santidade diante de Deus, era alguém que expressava Deus
(Dn 1:8), por isso ele foi colocado numa posição de domínio e autoridade.
Por fim, o Senhor andou aqui na terra como homem comum, mas manifestou autoridade
sobre todas as coisas, porque ele continuamente expressava Deus até ao ponto de ser transfigu-
rado diante dos discípulos.
a. A bênção de Deus
Em Gênesis 1:28 é a primeira vez que a palavra bênção é mencionada na Bíblia. E em que
circunstância esta bênção foi liberada? Quando Deus alcançou Seu propósito, ou seja, teve o
homem com sua imagem para exercer Seu domínio. Depois de ter concluído Seu trabalho, Ele
abençoou o homem. Assim, vemos que a bênção não é algo aleatório, mas alcança aqueles que
estão debaixo do propósito do Senhor para sua vida.
O PROPÓSITO DE DEUS PA R A O H O M E M 45
A bênção está no propósito, que é ter o homem com Sua imagem para exercer Seu domínio.
E esses dois aspectos se manifestam hoje pelo sacerdócio e pela realeza.
A imagem de Deus e Seu domínio se manifestam pelo sacerdócio e pela realeza. Quando en-
tramos no sacerdócio, temos fé para exercer a realeza e, então, a bênção de Deus vem sobre nós.
Qual o significado do descanso de Deus em Gênesis 2? Deus descansou não porque esti-
vesse cansado, mas porque estava satisfeito. Sendo assim, o significado do descanso de Deus é
satisfação e prazer.
A satisfação de Deus está ligada com a consumação de Seu propósito. Deus havia planejado
ter o homem com sua imagem para exercer o domínio. Então, após criá-lo no sexto dia, Deus
disse que tudo era muito bom (Gn 1:31) e, no dia seguinte, descansou.
Em Gênesis 1:31 Deus disse que tudo era muito bom. Deus somente disse isso no dia sexto
porque foi ali que o homem foi criado. Se desejamos entrar no descanso, temos de cumprir
estas duas condições: satisfação e propósito.
Naturalmente, sabemos que o descanso é apenas uma semente lançada em Gênesis e que se
desenvolve na Palavra de Deus (Ex 20:8-11; Mt 11:28-29; Hb 4:9-11; Is 26:12).
Capítulo
5
O PROCESSO PARA FORMAR O HOMEM
GÊNESIS 2:717
No primeiro capítulo de Gênesis, temos uma descrição geral da criação. Porém, no capítulo
dois, passamos a ver essa criação de forma mais detalhada.
Logo no início, no verso 5, vemos que nenhuma planta havia nascido na terra ainda.
Primeiro, porque Deus não havia feito chover sobre a terra. Segundo, porque ainda não havia
o homem para cultivá-la. O propósito de Deus somente pode ser alcançado através do homem.
É verdade que o crescimento vem de Deus, mas o quanto uma semente poderá produzir
depende do homem que a cultiva. Pode acontecer que dois lavradores, plantando sementes
semelhantes, sob as mesmas condições climáticas e de solo, obtenham resultados bastante di-
ferentes na colheita por causa da maneira com que cada um trabalhou e cultivou sua lavoura.
Cada lavrador tem grande parcela de responsabilidade sobre o resultado, pois o pleno potencial
da semente é alcançado pelo trabalho de Deus com a cooperação do homem.
É muito importante atentarmos para o fato de que Deus não fez chover enquanto não
criou o homem. Ou seja, Deus só faz chover quando há um homem, quando há aquele que é
segundo o Seu propósito. Enquanto não houver alguém para lavrar e preparar a terra, e cuidar
da semente para que ela germine, cresça e frutifique, Deus não mandará chuva. Isso se aplica
especialmente à Igreja, pois, se há sequidão em vez de crescimento e frutificação, é sinal de que
não há homens para cumprir o propósito de Deus no meio dela.
Como já foi dito, Deus não precisa de nada nem de ninguém. Porém, em Sua soberania, Ele
escolheu usar o homem como Seu instrumento na terra. Sendo assim, se Deus encontrar um
homem, Ele realizará Seu propósito, caso contrário, seu plano será adiado até que Ele encontre
alguém que atenda Seu chamado para cooperar com Ele em Sua obra.
1. A FORMAÇÃO DO HOMEM
a. Tendo o corpo feito do pó da terra
Como sabemos, o diabo caíra e fora lançado na terra. Deus pega, então, do pó desta terra e
faz o homem frágil como vaso de barro para derrotar o inimigo. Seu desejo é, pois, manifestar
Sua glória aos principados e potestades, fazendo com que esse homem frágil pudesse derrotá-
los, como nos mostra Paulo em Efésios 3:10: “para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de
Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais”.
Glória é diferente de poder. O poder de Deus já era conhecido dos anjos e demônios, mas
Ele quis revelar Sua glória através da Igreja, usando instrumentos tão pequenos e frágeis como
nós, homens, para vencer Satanás, aquele que se diz grande. Pois, “Deus escolheu as coisas
humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são”
(1Co 1:28). Essa é a glória de Deus.
O P R O C E S S O PA R A F O R M A R O H O M E M 49
Quando o maior vence o menor, não há glória alguma. Não há glória em Golias vencer
Davi. Porém, como é glorioso quando o pequeno Davi vence o gigante Golias sem armaduras
ou armas poderosas! É assim que Deus mostra Sua glória.
A obra de Deus não é feita por gente extraordinária, mas por pessoas improváveis. Ele não
procura super-homens, mas aqueles através dos quais possa expressar Sua glória, pois Deus
deve ter primazia em nós, não a nossa própria força ou sabedoria.
Adão, por si só, não poderia dominar nem sujeitar coisa alguma, pois ele era homem como
nós, cheio de limites. Para que pudesse cumprir o propósito de Deus, ele precisava comer da
árvore da vida e, assim, ter algo divino dentro dele e ser como Jesus. Aliás, Jesus foi o que Adão
deveria ter sido: Ele era homem, tinha uma vida como nós temos, mas tinha o poder de Deus
dentro dele, o poder da árvore da vida.
Deus fez o homem do pó e não de ouro. O pó pode gerar e conter vida, mas, se semearmos
sementes no ouro, ela nunca germinará.
A palavra “fôlego” usada em Gênesis 2.7 é “neshamah”, traduzida por “espírito” em Provérbios
20:27. Isso também se repete em João 3:5-8, quando Jesus fala sobre o Espírito e o vento, e
a palavra grega “pneuma” é traduzida como “vento” e também como “espírito”. Isso significa,
portanto, que o fôlego a que se refere Gênesis é o espírito humano (Zc 12:1; Jó 32:8).
Em Gênesis 2:7 lemos que: “...formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou
nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente”. Portanto, o homem tinha o
corpo, que era o primeiro elemento, Deus soprou o espírito humano em suas narinas, ou seja,
o espírito de vida, e, como resultado, ele se tornou alma vivente. Assim, a alma foi formada
pela junção do corpo com o espírito, e existe entre esses dois níveis, o material e o espiritual.
Em Romanos 8:16, Paulo escreve que o Espírito testifica com nosso espírito: “O próprio
Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”; e, em 2 Timóteo 4:22, ele
diz: “O Senhor seja com o teu espírito”.
dentro de um aparelho de rádio, existe um receptor que capta as ondas que chegam até ele. Do
mesmo modo, dentro do nosso corpo está o nosso espírito, criado por Deus como um receptor
das ondas celestiais. É através dele que percebemos, sentimos, ouvimos e falamos com Deus,
bem como somos guiados por Ele. Assim como nosso corpo permite que entremos em contato
com o mundo material, Deus é espírito e só podemos entrar em contato com Ele pelo nosso
espírito, que é nosso canal, nosso meio de comunicação com o Senhor.
Quando o fôlego de vida (o espírito) entrou no corpo do homem, este se tornou alma vivente.
A alma é a parte do nosso ser que está entre o espírito e o corpo, tendo surgido de uma
reação provocada pela junção do natural com o espiritual. E Deus a amou tanto, que enviou
Jesus para salvá-la.
Após a queda, o corpo da velha criação foi rejeitado por Deus e seu destino é voltar ao pó,
de onde veio. No futuro, receberemos um novo corpo, glorificado.
Quanto ao espírito, no dia em que o homem morreu, ele também morreu para Deus. Por
isso, no livro de Ezequiel, a Palavra de Deus mostra claramente que o Senhor nos dá novo
espírito: “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o
coração de pedra e lhes darei coração de carne” (Ezequiel 11:19). Isso é o que acontece quando
nos convertemos. O corpo e o espírito podem ser novos, porém, o mesmo não acontece com
a alma. Em todo o Novo Testamento, vemos que o trabalho de Deus em nós é curar, restaurar
e transformar nossa alma.
É a alma que nos torna diferentes de qualquer outro ser criado por Deus, inclusive dos anjos,
que são seres apenas espirituais.
Por meio de nossa alma entramos em contato com o mundo psicológico: pensamentos,
emoções e vontade.
A palavra Éden significa prazer ou delícias. Assim, o jardim do Éden era um lugar de prazer,
deleite e recreação. Ainda que o homem tivesse que cultivá-lo, esta não seria uma atividade
árdua, ao contrário, seria agradável.
Depois de criá-lo, Deus não colocou o homem numa fábrica, numa escola ou em um exér-
cito, mas num jardim, um lugar agradável e aprazível. Isto mostra que a intenção de Deus ao
criar o homem não foi a de que este trabalhasse para Ele. Antes, Deus o quis para Si, para que
tivessem prazer um no outro.
O homem foi criado no sexto dia, ou seja, o primeiro dia do homem foi o sétimo de Deus, o
dia em que o Criador descansou. Isto também é um sinal do propósito pelo qual fomos criados
por Deus: para desfrutar do Senhor e termos prazer nele, na comunhão um com o outro.
É certo que fomos criados para ser instrumentos de Deus e temos um trabalho a ser executa-
do. Contudo, ao olharmos para a vida de Jesus, aquele que cumpriu integralmente o propósito
de Deus para o homem, veremos que a prioridade de Deus é outra. Antes que Jesus tivesse feito
qualquer coisa, em Seu batismo, “o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea como
pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3:22).
O prazer que Deus tem em nós não depende do que fazemos – Jesus ainda não havia feito coisa
alguma, mas o Pai já tinha nele todo o prazer.
Nós trabalhamos no descanso, no sábado de Deus. Servimos a Ele nesse descanso. E quanto
mais andamos no propósito de Deus, compreendendo esses princípios, mais nossa alma fica
descansada. O corpo pode até se cansar, mas a alma e o espírito precisam sentir constantemente
que somos amados por Deus, que Ele tem prazer em nós.
Porém, o inverso também acontece: se não sentirmos o amor de Deus por nós, podemos
estar no lugar mais aprazível, mas, ainda assim, não conseguiremos nos sentir aprovados por
Ele. Por isso, tantos homens de Deus trabalham desordenadamente, buscando ser aprovados
pelo Senhor e, assim, desfrutar do descanso e do prazer da comunhão com Ele. Contudo, não
conquistamos o amor de Deus por causa do que fazemos. Ele nos ama desde o momento em
que nos criou.
O conceito de árvores na Bíblia é muito importante. Ela começa e termina falando da árvore
da vida, por exemplo ( Gn 2:16-17, 3:1-3, 22 e 24, Ez 47:12, Ap 22:2, 14 e 19).
Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista
e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a
árvore do conhecimento do bem e do mal. (Gn 2:9)
52 GÊNESIS
Ao ler esse versículo, vemos que as árvores eram agradáveis à vista, mostrando que Deus
queria fazer o homem feliz, e boas para alimento, ou seja, traziam satisfação e prazer. Ele não
queria o trabalho de Adão nem tampouco quer o nosso; Ele quer, sim, a nossa felicidade. Deus
fica contente quando vê nosso sorriso e quer que estejamos satisfeitos com as obras dEle e com
Ele mesmo. Não devemos nos importar se temos feito algo para Deus. Antes, precisamos con-
siderar se estamos satisfeitos e contentes com Ele.
Romanos 14:17 diz que o reino de Deus é “justiça, paz e alegria no espírito” e quem está
nele desfruta de tudo isso. Devemos ser jubilosos na presença de Deus. Se não estamos felizes e
alegres diante do Senhor, estamos errados diante dEle. Nessas condições, tudo o que fizermos
para Ele será um fardo pesado.
A segunda coisa que se diz é que as árvores eram boas para alimento. Não se diz que eram
boas para tirar madeira e fazer coisas. Além disso, havia a árvore da Vida no centro do jardim.
Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista
e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a
árvore do conhecimento do bem e do mal. (Gn 2:9)
Então, me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai
do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da sua praça, de uma e outra
margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o
seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos.
(Ap 22:1-2)
Como podemos ver através dos versículos acima, a árvore da vida é citada no livro de Gênesis
e, novamente, no livro do Apocalipse, porém neste, ela está cercada pelo rio da vida. Assim,
por analogia, podemos entender que o rio que sai do Éden é um símbolo do rio mencionado
em Apocalipse.
Para que o propósito de Deus se cumprisse, Adão precisava ter a vida de Deus, representada
pela árvore e o rio da vida – a árvore representando Jesus, ou a Palavra, e o rio, o Espírito.
Sempre lembrando que tudo o que Deus faz é pelo Espírito e pela Palavra.
Deus é vida e esta árvore era a maneira de Adão receber a vida de Deus. É como se o próprio
Adão tivesse de nascer de novo. Em certo sentido, o novo nascimento não tem nada a ver com
o pecado porque, mesmo antes da queda, o homem ainda precisava receber a vida incriada de
Deus. Para cumprir Seu propósito, nós precisamos receber Sua vida.
Num sentido bem específico, sabemos que a árvore da vida aponta para o Senhor Jesus. João
diz que a vida estava nele: “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens” (Jo 1:4). Além
disso, o próprio Senhor disse que era a vida.
O P R O C E S S O PA R A F O R M A R O H O M E M 53
Por fim, Ele disse que era a videira verdadeira. Ele é a árvore de vida e nós fomos enxertados
nele. “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor” (Jo. 15:1). Jesus é a própria vida.
Precisamos desfrutar dele como realidade e não como uma mera doutrina.
O conceito de rio é vital em toda a Palavra de Deus (Sl 36:8-9; 46:4; 65:9; Ex 17:1-7; Jl
3:18; Zc 14:8; Jo 4:14; 7:37-38; Ap 22:1-2).
A árvore da vida aponta para o Senhor Jesus, pois Ele disse que é a vida (Jo 14:6), a própria
vida que é a luz dos homens (Jo 1:4). Assim, a árvore da vida simboliza o Senhor Jesus, mas a
Bíblia diz que a árvore da vida está na margem do rio, e esse rio aponta para o Espírito Santo.
Esse rio que saia do Éden se dividia em quatro braços, ou seja, possuía quatro extensões. Nós
sabemos que o rio aponta para a obra do Espírito de Deus que flui como um rio do nosso inte-
rior. O rio é um só, mas ele tem quatro braços que nos falam da obra completa e maravilhosa
do Espírito de Deus. Eles são chamados de Pison, Gion, Tigre e Eufrates.
1. Pison
“Pison” significa “fluindo gratuitamente” (Is 55:1). Segundo a concordância Strong, tam-
bém pode ter o significado de “crescimento ou aumento”. Isso nos fala do Espírito Santo de
Deus, que nos foi dado gratuitamente.
Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não
tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem
dinheiro e sem preço, vinho e leite. (Is 55:1)
É sem dinheiro e sem preço porque ninguém pode pagar, é a graça de Deus estendida a nós.
Esse rio está correndo hoje no meio do povo de Deus, fluindo do nosso interior pela graça.
Na margem do rio Pison havia ouro. O rio da vida tem poder de trazer o ouro. O ouro sim-
boliza a natureza e a glória de Deus. Isso significa que esse rio tem o poder de colocar em nós a
54 GÊNESIS
natureza divina. A primeira coisa que precisamos receber é a vida de Deus no novo nascimento
pelo Seu Espírito.
Também se diz que bdélio e ônix são encontrados ali. O bdélio também pode ser traduzido
como pérola segundo alguns intérpretes. Essas pedras apontam para a transformação, pois a
pérola é um grão de pó que foi transfigurado.
A pérola é uma mistura de mineral com animal. Ela nada mais é do que um glóbulo branco,
brilhante e nacarado que se forma na concha da ostra. Quando um grão de areia penetra em
seu interior, no fundo do mar, a ostra o envolve com uma secreção e aquele grão de areia se
transforma na pérola.
Antes disso, não tínhamos valor algum e éramos apenas pó da terra. Em Cristo, o Senhor nos
atribuiu valor. O Espírito Santo tomou esse pó e o injetou em Cristo. A vida de Deus começou,
então, a nos envolver e a fluir do nosso interior, dia após dia, até que fomos transformados
numa pérola preciosa. Mas, Jesus não é apenas a grande ostra, Ele é também o comerciante rico
que, depois de encontrar essa pérola de grande valor, vendeu tudo o que possuía e a adquiriu
(Mt 13:45, 46).
Na Nova Jerusalém, cada porta é uma grande pérola. As portas da cidade são grandes pérolas
para indicar que entramos nela pela transformação e santificação. Ali não entrará o pó da terra
que se tornou comida para a serpente; mas entrará o pó glorificado em forma de pérola.
2. Gion
“Gion” significa “correnteza forte”. Segundo a concordância Strong, significa “uma corren-
teza que arrebenta as margens”.
Isso nos mostra que o rio da vida é um rio de correnteza violenta. Essa correnteza quebra
aquilo que está oprimindo e prendendo. Esse rio tem poder de quebrar cadeias, porque a unção
quebrará o jugo que está sobre nossas costas.
Jesus disse: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior
fluirão rios de água viva”. Isso Ele disse com respeito ao Espírito que
haviam de receber os que nele cressem. (Jo 7:38, 39)
Esse rio de água viva é uma correnteza forte. Diz a Palavra de Deus que esse rio vai para
Cuxe, que hoje é a Etiópia. O fato de ir para Cuxe mostra o poder do rio para mudar aquilo
que não podemos por nós mesmos.
O P R O C E S S O PA R A F O R M A R O H O M E M 55
Embora não possamos mudar a cor de nossa pele, ou seja, mudar nossa natureza, a forte
correnteza do rio de Deus nos transforma e até nos glorifica.
O rio de Deus tem o poder de nos transformar. Não importa quem éramos, nem quem
somos, se esse rio fluir do nosso interior, ele tem poder para nos transformar. Ninguém tem o
poder de mudar alguém: nenhum de nós muda a si mesmo, esposa alguma muda seu marido,
nem o marido muda a esposa, pai não muda o filho e filho não muda o pai. Não conseguimos
mudar nem a nós mesmos. Essa é obra exclusiva do rio de Deus fluindo em nós. Se o rio vier,
ele nos transforma, nos muda sem que vejamos, ele tira o coração de pedra e põe um coração
de carne.
3. Tigre
O terceiro braço do rio é chamado de Tigre. A palavra “tigre” é “hidéquel” em hebraico, e
significa “rápido”. Isso aponta para a obra do Espírito Santo em nós que é forte e rápida. Se
permitirmos ao rio de Deus mover em nós, veremos a mudança rapidamente.
Esse braço do rio flui da Assíria, que significa lugar plano onde o rio inunda. Isso mostra que
esse rio é forte porque inunda a terra, mostrando a fonte de vida abundante do Senhor.
O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que
tenham vida e a tenham em abundância. (Jo 10:10)
Não apenas esse rio nos inunda, mas nós mesmos nos tornamos uma fonte para inundar
quem está ao nosso redor.
Deus quer nos dar uma vida de inundação, como diz o Salmo 84; quando passarmos pelo
vale árido, faremos dele um manancial de vida. Aquele que é cheio do espírito, aonde chega,
não tem sequidão nem aridez. O ambiente pode estar pesado, mas, quando ele chega, ainda
que tudo esteja seco, fica livre por causa do fluir do rio de dentro dele e logo começam a
aparecer os brotinhos verdes de vida. É o jardim de Deus, é inundação do céu. Aquele que
é cheio de Deus tem vida para si e tem em abundância para abençoar os que estão ao seu
derredor também.
4. Eufrates
“Eufrates” em hebraico significa “doce e fértil”. Segundo a concordância Strong, significa
também “frutífero”. Glória a Deus porque o último braço do rio nos faz doces e frutíferos
diante de Deus! Somente podemos dar fruto se o rio da vida estiver fluindo do nosso interior.
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benigni-
dade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas
coisas não há lei. (Gl 5:22, 23)
O rio da vida tem fluído desde o princípio. Em Gênesis, era o rio com os quatro braços
que banhava o Éden e que possuía ouro em suas margens (2:10-14). Em Êxodo, esse rio fluiu
da rocha ferida no meio do deserto e a rocha era o próprio Senhor Jesus (Ex 17:6; 1Co 10:4;
Nm 20:11). Nos Salmos, é o rio de água cristalina que alegra a cidade de Deus, o santuário
das moradas do Altíssimo (Sl 46:4). Em Ezequiel, esse rio sai do templo e se torna profundo
levando vida aonde quer que chegue (Ez 47:5-9). Depois vemos em João que, na cruz, a água
saiu do lado de Jesus indicando que Ele é a fonte do rio da vida (Jo 19:34; Jo 4:10-14; Jo 7:37,
38). Há um rio de vida que percorre toda a Palavra de Deus.
Capítulo
6
AS DUAS ÁRVORES DO JARDIM
GÊNESIS 2.717
Quando Deus criou o homem, Ele o colocou no jardim do Éden, onde havia duas árvores
em especial: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal. O homem estava,
então, diante de uma escolha e tinha livre arbítrio, ou seja, total liberdade para escolher e tomar
sua decisão.
Muitos não entendem o motivo pelo qual Deus deu ao homem essa liberdade de escolha.
Porém, não fazê-lo iria contra Sua própria natureza.
Há duas razões pelas quais Deus criou o homem com livre arbítrio:
a. Porque Deus é grande e nobre, portanto, jamais forçaria o homem a escolhê-lO e aceitá-
lO, ou lhe deixaria sem alternativas.
b. Para responder à acusação do inimigo de que Deus “suborna” o homem com bênçãos,
levando-o, assim, a amá-lO pelo que Ele lhe dá, não pelo que Ele é, como vemos no livro de Jó:
A única forma de Adão poder escolher Deus era tendo uma alternativa a Ele, por isso o
Senhor o colocou diante de duas árvores: a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem
e do mal. A primeira simboliza o próprio Deus e a segunda, tudo o que não é Deus, inclusive
o diabo.
Como já mencionamos, Deus quer expressar Sua sabedoria aos principados e potestades
através da Igreja (Ef 3:10). Ele não quer mostrar Seu poder, mas, sim, Sua glória e sabedoria.
Outro aspecto da glória de Deus – além de ter criado o homem do pó da terra, frágil, e
usá-lo para derrotar Satanás – é Jesus, surrado, suando sangue, ainda assim dizendo que queria
Deus. Esta é a glória de Deus: ter uma Igreja que O ama e serve em meio à tribulação, quando
tinha a opção de não fazê-lo.
1. A ÁRVORE DA VIDA
a. Representa Deus como vida
A árvore da vida simboliza o próprio Deus como única fonte de vida.
Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz. (Sl 36:9)
A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. (Jo 1:4)
Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus
não tem a vida. (1Jo 5:12)
dentro dele. Isso envolve um aspecto de dependência, pois Deus queria que Adão fizesse uma
obra, mas não por ele mesmo e sim pela capacidade que vem de Deus.
Tudo o que está relacionando com a vida exige dependência. Por exemplo, ninguém se for-
ma em respiração ou recebe diploma de comer ou beber água, porque a vida é espontânea. Por
outro lado, o conhecimento gera independência, pois, uma vez que sabemos algo, queremos
fazer sozinhos.
Esse princípio pode ser visto na vida de Abraão. Quando Deus o chamou, não lhe disse para
onde ir. A cada dia Abraão tinha de depender de Deus como se fosse um mapa para guiá-lo. A
presença de Deus era o mapa.
Não devemos pensar que somente por sermos incapazes de fazer algo somos, então, depen-
dentes. Por exemplo: enquanto não sabemos pregar, ficamos nervosos e dependo de Deus em
oração para poder ministrar. Enquanto é assim, por causa da dependência, Deus libera Sua
unção e Sua graça. Todavia, depois de pregar algumas vezes, aos poucos, vamos ganhando
segurança, dependemos cada vez menos e, consequentemente, oramos menos. O resultado é
que Deus nos usa menos.
Do ponto de vista natural, a primeira vez em que fazemos algo é sempre a mais difícil.
Porém, do ponto de vista espiritual, o problema não é a primeira, mas centésima vez. Depois
de muito fazer, ganhamos autoconfiança e deixamos de depender de Deus.
A oração é um sinal de que estamos buscando vida e, talvez, seu principal aspecto seja
reconhecer que nós somos débeis e limitados e, portanto, precisamos estar conectados nEle
para que Ele possa fazer através de nós, pois Deus só pode usar aquilo que flui de dependência.
Onde há dependência, Ele age.
Paulo disse que o poder se manifesta (se aperfeiçoa) na fraqueza. Porém, esta fraqueza não
representa pecado, mas, sim, dependência. Tudo tem de ser feito na dependência de Deus,
porque Ele é a única fonte de força.
Tendemos a achar que o pecado é sinal de fraqueza, porém, ao contrário, ele demonstra a
força e a autoconfiança por parte de quem o pratica. Muitas vezes, aquele que peca, o faz por
se achar forte o suficiente para vencer o pecado sozinho. Contudo, aquele que conhece sua
fraqueza, sabe que necessita de Deus para vencer e rapidamente se quebranta diante do Senhor,
reconhecendo sua dependência dEle.
60 GÊNESIS
Para que isso aconteça, é necessário que Deus nos leve ao fim de nós mesmos, ao fundo do
poço. E isso é bom, pois, quando chegamos nesse ponto, o único lugar para onde podemos
olhar é para cima, para o céu, e Deus se torna nossa única saída. Quem nunca chegou ao fim
de si mesmo, ainda não viu o começo de Deus.
Não podemos confundir incapacidade com dependência. A incapacidade é apenas uma con-
dição momentânea de alguém que ainda não aprendeu como agir e, portanto, é dependente
porque precisa que outro faça por ele. Quando a ignorância é vencida, a dependência acaba.
A verdadeira dependência não é aquela que decorre da simples incapacidade, mas da renún-
cia daquele que pode fazer e, voluntariamente, depõe as armas e se rende ao Senhor para que
Ele faça. Só é capaz de ter essa dependência quem come da árvore da vida.
Outra maneira de aprender a dependência pode ser vista na profecia de Gênesis 3:15,
onde, depois da queda de Adão, Deus, disse que iria esmagar a cabeça da serpente pela se-
mente da mulher:
Vemos que a inimizade foi colocada entre a serpente e a mulher, não o homem. Por um lado,
a mulher ali aponta para a Igreja, mas por outro, aponta para um princípio de vida: o princípio
da vida feminina, ou seja, o princípio da dependência.
No universo existem dois tipos de vida: a vida masculina e a vida feminina. A vida mascu-
lina simboliza liderança, provisão e força. E a vida feminina fala de dependência, fragilidade e
submissão. Por isso, Deus é mostrado sempre como uma figura masculina, não por machismo
ou questões culturais, mas porque Ele é o cabeça e é, por excelência, a vida masculina.
Quando estava entre nós, Jesus viveu, em relação Deus, no princípio da vida feminina, ou
seja, em dependência e submissão completas para com Deus, não para com os homens.
Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho
nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai;
porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz...
Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O
meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim
a daquele que me enviou. (João 5:19, 30)
Para com Cristo, cada homem é noiva e deve viver uma vida de dependência e submissão
ao noivo. A igreja é sempre feminina, para indicar o tipo de vida de que Deus se agrada e
pode usar.
A única maneira de sermos úteis para Deus é andando no princípio da dependência, porque
tudo o que é feito em independência é rebelião diante de Deus. Através da independência,
dizemos que não precisamos de Deus nem de ninguém, que somos autossuficientes. Ou seja,
nos julgamos iguais a Deus, pois só Ele é autossuficiente. Por isso, toda independência será
quebrada por Deus.
O resultado obtido por quem come da árvore do conhecimento do bem e do mal é a morte.
Não uma morte física instantânea, mas a separação de Deus, que é a fonte de toda a vida. De
uma maneira indireta, a árvore do conhecimento simboliza o próprio Satanás.
b. Representa independência
O Senhor Jesus rejeitou completamente a árvore do conhecimento, mas, infelizmente, nós
ainda nos alimentamos muito dela e somos muito independentes – fazemos e falamos muitas
coisas baseadas em nosso próprio entendimento, na opinião que temos a respeito deste ou da-
quele assunto. Porém, a Igreja do Senhor não é edificada através do nosso conhecimento, mas
da vida de Deus. A verdadeira obra só é edificada através da dependência.
Por isso, Jesus nunca se permitiu ser tentado a entrar pelo caminho da árvore do conheci-
mento, como podemos observar em algumas ocasiões como as que veremos a seguir.
Quando a mulher samaritana lhe perguntou sobre o lugar de adorar, querendo envolvê-lo
em uma questão polêmica para que Ele expressasse Sua opinião, o Senhor não respondeu sua
pergunta, não caiu na tentação. Não é uma questão de lugar, mas de espírito.
Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem
neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não
conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos
judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai
procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus
adoradores o adorem em espírito e em verdade. (Jo 4:21-24)
Nicodemos queria que Jesus lhe desse provas de que era o Messias através de palavras pro-
fundas e conhecimento, mas a resposta do Senhor foi muito simples: “A isto, respondeu Jesus:
Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus” (Jo 3:3).
Quando Lázaro estava doente, Jesus não foi vê-lo e todos lhe perguntavam o motivo. Porém,
Jesus não entrou na discussão; apenas foi até lá e ressuscitou Lázaro. (Jo 11:1-6, 43-44)
Quando questionado sobre a mulher pega em adultério, como lemos em João 8:1-11, Jesus
não respondeu nem sim, nem não; não entrou no mérito do que era certo ou errado. “Como
insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado
seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.”
(Jo 8:7-8)
Podemos dizer que a independência é como um isolante, basta um pouquinho para cortar o
fluir da eletricidade, ou seja, da vida de Deus. Muitos livros nos dão fórmulas de como vencer
isso ou alcançar aquilo, porém, o que nós realmente precisamos é apenas de comer da árvore da
vida, de tê-la como fonte de suprimento. Deus em Cristo é a fonte de tudo o que precisamos.
Muitas vezes, algo que nos é lícito pode não ser conveniente (1Co 6:12; 10:23), por isto o
legalismo é tão perigoso, pois ele traz em si a ideia de não depender de Deus. Uma pessoa le-
galista não é conduzida pela vida de Deus dentro dela, mas por um código de conduta baseado
no que pode ou não ser pecado. Contudo, ainda pior que o legalismo é a reação a ele, ou seja,
a ideia de que tudo é permitido.
Exemplo 2
Todas as vezes em que andamos com base unicamente na lógica e na razão, o resultado é
morte. Toda discussão é fruto de arrazoamentos baseados no conhecimento, não de uma pala-
vra recebida de Deus para aquela questão específica.
Muitas igrejas são destruídas por causa das opiniões humanas baseadas na árvore do conhe-
cimento do bem e do mal. Quando formos dar uma opinião, devemos falar da parte de Deus,
dizer o que está na mente dEle. Ninguém quer saber nossa opinião, mas todos desejam saber o
que vai no coração do Pai. A Casa de Deus é edificada quando alguém fala da parte de Deus e
não quando fala sua própria opinião.
AS D U A S Á RV O R E S D O J A R D I M 63
Exemplo 3
Qualquer coisa pode tornar-se árvore do conhecimento. Tomar a Bíblia para tocar em Deus
e receber vida através dela é comer da árvore da vida. Mas, usar a Palavra de Deus apenas para
adquirir conhecimento é comer da árvore do conhecimento e, consequentemente, morte.
3. A SITUAÇÃO TRIANGULAR
No Éden havia uma situação triangular, pois o homem estava diante de duas árvores: uma
que representava Deus e a outra, o diabo. Hoje, esta mesma situação ocorre dentro de nós,
pois, depois do pecado, nossa carne tornou-se aliada de Satanás, mas Deus passou a habitar em
nosso espírito. Assim, temos a árvore do conhecimento em nossa carne e a árvore da vida em
nosso espírito. Nossa alma, portanto, está entre a carne e o espírito.
É certo que em nossa carne não habita bem algum, como lemos em
Romanos 7:18:
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem
nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
(Rm 7:18)
Portanto, assim, como Adão, nós temos de fazer uma escolha vital: sermos expulsos do
Éden ou continuar a desfrutar da comunhão plena com Deus. A solução para nossos impasses
e conflitos não é saber quem ou o que está certo ou errado, mas sim, escolher a árvore da vida
e receber a vida de Deus através da cruz.
Capítulo
7
A FORMAÇÃO DA MULHER
GÊNESIS 2:1825
Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-
ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. Havendo, pois, o Senhor Deus
formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus,
trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que
o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. Deu
nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a
todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma
auxiliadora que lhe fosse idônea. Então, o Senhor Deus fez cair pesado
sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas
e fechou o lugar com carne. E a costela que o Senhor Deus tomara ao
homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. E disse o homem:
Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á
varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e
mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. Ora, um
e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam.
(Gn 2:18-25)
66 GÊNESIS
Em Romanos 5:14, lemos que Adão era um tipo, uma prefiguração de Cristo e, a partir
desse entendimento, podemos dizer que Eva é um tipo da Igreja. Portanto, Cristo e a Igreja
formam o casal universal.
É importante mencionar que podemos ler esse texto de Gênesis com um enfoque histórico,
considerando-o apenas como uma descrição da origem do casamento – o que não está errado.
Porém, esse relato não foi feito somente para essa finalidade.
De acordo com o apóstolo Paulo, a união entre Adão e Eva, na verdade, aponta para a união
entre Cristo e a Igreja, como está escrito em Efésios:
O grande mistério a que Paulo se refere é a união entre a humanidade e a divindade. Chegará
o dia em que a humanidade, na Igreja, se unirá à divindade, em Cristo, e eles se casarão. Da
mesma maneira como homem e mulher, através da união sexual, se tornam um só, o relaciona-
mento de intimidade profunda entre Cristo e a Igreja também os fará serem um só.
A intimidade sexual entre o homem e a mulher é santa, pois simboliza a união espiritual ín-
tima e profunda entre Cristo e Sua Igreja. Por isso o diabo procura profaná-la e ridicularizá-la.
Além disso, muitos ainda não compreenderam a importância dessa união e não dão à Igreja
seu real valor, considerando-a apenas um ajuntamento de pessoas que se reúnem para celebrar
um culto a Deus. Porém, quando entendemos verdadeiramente quem ela é e o que representa
essa união entre a humanidade e Cristo, nossa atitude e nosso compromisso com a Igreja mu-
dam radicalmente.
Deus viu que não era bom que o homem estivesse sozinho, mas deixou que Adão percebesse
essa necessidade. Então, deu-lhe uma auxiliadora.
Do mesmo modo, entendemos que o propósito de Deus não pode ser cumprido apenas com o
homem, ou seja, Cristo. Deus ainda precisa da mulher que irá cooperar com Ele, ou seja, a igreja.
A FORMAÇÃO DA MULHER 67
Deus mandou que Adão colocasse nome nos animais para que ele percebesse que nenhum
deles poderia ser seu complemento; eles não eram do mesmo tipo, não se pareciam com ele,
não estavam à sua altura e, portanto não poderia tê-los como companheiros.
O mesmo aconteceu com Cristo: Deus precisou criar alguém com quem Ele pudesse ter
comunhão, porque em todo o universo não se encontrou ninguém que estivesse à Sua altura.
Isso é um grande privilégio para nós.
Sabemos que o processo de criação da mulher iniciou-se pela criação do homem. Antes que
Eva viesse à existência, Deus criou Adão. Porém, eles eram apenas uma ilustração de Cristo e
a Igreja. Então, para que a Igreja fosse criada, um dia, Deus tornou-se homem através de Jesus
Cristo. Antes de vir ao mundo, Ele era somente Deus, mas agora, é também homem, pois após
a ressurreição, tornou-se um homem glorificado.
Portanto, o Senhor se fez homem para que, então, pudesse ter Sua noiva.
b. Adão dormindo
Para trazer Eva à existência, Deus fez o homem dormir para que pudesse tirar dele uma
costela a partir da qual formaria a mulher.
Na Bíblia, o sono simboliza a morte, logo, compreendemos que o Senhor Jesus teve de
morrer para trazer Sua noiva à existência. Por três dias e três noites ele esteve dormindo o sono
da morte.
De acordo com as Escrituras, Jesus foi o grão de trigo que caiu na terra para morrer, gerar
muitos grãos e, com eles, fazer o pão que é o corpo, Sua Igreja. Porém, antes de morrer, um dos
soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. (Jo 19:34). Assim, algo
lhe foi tirado a fim de que a noiva pudesse ser criada. O sangue é para a redenção, mas a água
é para gerar vida na Igreja.
Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com san-
gue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão. (Hb 9:22)
Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro,
que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos
legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem
mácula, o sangue de Cristo. (1Pe 1:18-19)
Moisés levantou a mão e feriu a rocha duas vezes com o seu bordão, e sa-
íram muitas águas; e bebeu a congregação e os seus animais. (Nm 20:11)
Após a queda, o homem passou a necessitar do sangue para ser purificado. Porém, a água,
ou seja, a vida de Deus, era necessária antes mesmo do pecado. A redenção é uma correção de
rota, mas a água da vida é o projeto original de Deus. Nesse aspecto, o novo nascimento nada
tem a ver com o pecado porque, antes mesmo de pecar, Adão já necessitava receber em si a vida
de Deus através da árvore da vida. Em certo sentido, ele precisava nascer de novo, pois tinha
apenas a vida natural, mas não o fez.
Hoje, nós temos a oportunidade de ter algo que Adão não teve, pois, através de Cristo,
recebemos não só a salvação e o perdão, mas também nascemos de novo ao recebermos a vida
de Deus em nós.
Adão foi feito do pó da terra, porém, Eva foi formada de uma de suas costelas. Portanto, a
matéria-prima usada por Deus para formar Eva foi somente Adão.
Sendo assim, para edificar a Igreja, só precisamos de Cristo e, aplicando esse princípio em
nosso trabalho de edificação da Igreja hoje, precisamos estar atentos ao fato de que tudo o que
não é Cristo, também não é Igreja.
A verdadeira Igreja não depende de atividades, registros formais ou de uma placa na porta.
A verdadeira Igreja é fruto da Palavra e da unção.
Porém, somos tão preocupados com estratégias e métodos que nos esquecemos da essência,
ou seja, de Cristo. Ele é a Palavra, portanto, quando ela é revelada às pessoas, a Igreja nasce,
cresce e é edificada.
Cristo significa “O Ungido”, logo, só é Igreja quando há unção. Tudo o que fazemos na nos-
sa força e no nosso conhecimento e não é fruto da unção de Deus ou da operação do Espírito
Santo em nós, não é Igreja. Tudo o que é natural, fruto do ego e da independência do homem
não tem parte na Igreja e não pode ser usado na sua edificação. E se for usado, a seu tempo,
certamente será removido pelo fogo.
Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto,
o qual é Jesus Cristo. Contudo, se o que alguém edifica sobre o funda-
mento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, manifesta
se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está
sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo
o provará. (1Co 3:11-13)
Esta é uma questão básica e a primeira lição na vida cristã: o importante não é o que estamos
fazendo, mas, sim, a fonte, a origem daquilo que fazemos para Deus e apresentamos a Ele.
Muitas vezes, temos dificuldade em separar nossas fontes, em saber o que vem de nós mesmos
e o que vem do Espírito de Deus, mas a Palavra tem esse poder e precisamos usá-la para isso.
d. Adão despertado
Assim como o sono de Adão simboliza a morte de Cristo, o despertar do homem representa
Sua ressurreição.
Ao ver Eva, Adão disse que ela era osso de seus ossos e carne de sua carne. Ou seja, ele
reconheceu que a mulher era parte dele, que tinham a mesma natureza. Da mesma forma, no
dia do arrebatamento, Cristo olhará para Sua Igreja e a reconhecerá como parte de Si mesmo.
É por isso que podemos ser um com Cristo, porque somos carne de sua carne e osso dos seus
ossos. Somos da sua natureza; podemos ser seu par; saímos dEle e voltaremos para Ele.
A igreja é a auxiliadora idônea do Senhor Jesus. Assim, quando cada um de nós estiver mi-
nistrando vida através da unção, da oração e do Espírito, estaremos, então, edificando a Igreja
de Cristo onde quer que estivermos. E é contra essa igreja que o Senhor Jesus diz que as portas
do inferno não resistirão nem prevalecerão. Ela nunca poderá ser destruída, porque Cristo é
eterno, indestrutível; e ela é parte dele.
70 GÊNESIS
O objetivo de Deus é ser um com o homem. Ele alcançou isso pela cruz e pela ressurreição.
Esse tornar-se uma só carne é um grande mistério na Palavra. Primeiro porque fala de uma
união tal entre Deus e os homens que parece nos levar a sermos divinos sem sermos Deus. Não
existe graça maior que esta: homens insignificantes como nós serem participantes da natureza
divina. Jesus nos amou a ponto de fazer de nós Sua noiva, coparticipantes de tudo o que Ele
tem e é, compartilhando conosco Sua glória em uma união eterna.
Por outro lado, essa união também mostra que a igreja não é, simplesmente, vários cristãos
unidos a outros. Ela não é uma questão de muitos homens, mas de uma vida. A Igreja só é
igreja porque possui muitos homens que têm a mesma vida, que é Cristo.
É como se cada um de nós tivesse uma porção de Cristo e, quando essas porções são colo-
cadas juntas, se completam formando a habitação eterna de Deus, ou seja, a Igreja, o corpo
de Cristo.
Capítulo
8
A QUEDA DO HOMEM
GÊNESIS 3:17
Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor
Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis
de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvo-
res do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio
do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que
não morrais. Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morre-
reis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão
os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. Vendo a
mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore
desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu
também ao marido, e ele comeu. Abriram-se, então, os olhos de ambos;
e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram
cintas para si. (Gn 3:1-7)
O primeiro capítulo de Gênesis mostra o propósito eterno de Deus para o homem; o se-
gundo, como ele pode ser alcançado. E o capítulo três, que estudaremos agora, mostra como
Satanás entrou em cena, provocando a queda do homem. Contudo, o relato a respeito da que-
da é bastante sucinto, pois o objetivo da Palavra de Deus não é simplesmente contar a história,
mas revelar princípios que devem reger nossa vida.
72 GÊNESIS
Assim, é muito importante estudarmos não só a queda, mas também o processo pelo qual
ela aconteceu para que conheçamos a maneira como o diabo agiu, e ainda age, e estejamos
atentos às suas ciladas.
I. A BASE DA TENTAÇÃO
Satanás agiu levando o homem a duvidar do que Deus diz e do que Deus é.
1. A ação de Satanás
Satanás significa “adversário ou acusador” e diabo significa “sedutor”. Compreendemos, en-
tão, que o inimigo nos envolve com suas tentações e nos seduz para fora do propósito de Deus.
Estamos sempre entre duas palavras: a de Deus e a do diabo. E, embora não passem de
ilusões, muitas vezes, as mentiras do diabo nos parecem muito mais concretas e reais do que as
verdades contidas na Bíblia. Porém, cabe a nós escolher em qual delas acreditaremos e deposi-
taremos nossa fé.
Isso é o mais importante, pois vencemos quando cremos e assumimos como fato tudo
o que Deus diz, mas somos derrotados quando duvidamos disso. Por isso é tão importante
não só conhecer a Palavra de Deus, mas também orá-la e confessá-la, concordando com ela e
permanecendo firme no que ela afirma, mesmo que o que sentimos ou o que os outros falem
seja diferente.
Antes de comer o fruto, o homem cometeu o pecado da incredulidade. Ele optou por crer
na pessoa errada. Por isso caiu. Era de se esperar que Eva corrigisse a serpente, mas em vez disso,
ela até mesmo a ajudou a distorcer a Palavra de Deus, já que a ordem “e nem tocareis nele” não
fora dada por Deus.
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abenço-
ado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo.
(Ef 1:3)
Deus não está retendo nada de nós, nenhuma bênção sequer. Ao contrário, Ele nos faz par-
ticipantes de toda sorte de bênçãos.
Mas, o diabo tentou enganar Eva ao fazer parecer que eles estavam perdendo algo, que Deus
não queria que comessem da árvore do conhecimento do bem e do mal para que não fossem
semelhantes a Ele, pois não admite concorrência. Todavia, o que Adão e Eva talvez não soubes-
sem é que eles já eram imagem e semelhança de Deus; eles foram criados assim. Satanás tentou
convencê-la de que a intenção de Deus era lhes impedir de receber algo bom e Eva não atentou
para o fato de que eles já desfrutavam de tudo o que Deus tinha para lhes oferecer.
Do mesmo modo, quantos de nós temos sido privados das bênçãos de Deus por duvidarmos
da Sua bondade? Quantos se enchem de temor ao passar por períodos de bonança e prosperida-
de, só esperando o momento em que Deus vai lhes “puxar o tapete” e tratar com a vida deles?
Muitos têm a ideia de que servir a Deus é algo ruim e exige sacrifício e sofrimento constantes,
sem se lembrarem de que o Senhor criou o homem para desfrutar da comunhão com ele no
Jardim do Éden.
A Bíblia nos mostra o quanto Deus é bom e se preocupa com o nosso bem, mas, muitas
vezes, o diabo tenta nos impedir de crer no que está escrito:
Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pen-
samentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. (Jr 29:11)
Infelizmente, ainda acreditamos na mentira do diabo e temos uma imagem muito distorcida
de Deus, enxergando-O como alguém castigador. Mas, Deus é bom, gracioso e tem prazer em
satisfazer os desejos do nosso coração que estão alinhados com a Sua vontade.
é digno de confiança. Eva, então, acreditou que a sua desobediência não teria a morte como
consequência, como o Senhor havia falado.
Assim, o primeiro pecado cometido pelo homem foi a incredulidade, pois ele duvidou do que
Deus disse. E hoje, a base de todo pecado continua sendo a mesma: nós duvidamos das conse-
quências dele. Há pessoas muito “corajosas” para pecar, que não temem o resultado do pecado.
Sendo assim, no final das contas, todas essas mentiras lançavam dúvida quanto ao caráter
de Deus.
“...agradável aos olhos...” – depois de ter visto, percebeu que o fruto era atraente.
Neste ponto sua alma foi atingida.
“...árvore desejável para dar entendimento...” – agora seu espírito fora atingido, pois
foi produzido um desejo soberbo de ser como Deus.
Em Mateus 4, vemos que o processo de tentação de Jesus aconteceu na mesma ordem. Assim
como Adão foi tentado, Jesus também teve que ser tentado, pois Ele veio para ser o primeiro
de uma nova raça, então precisava ser aprovado. O diabo é espírito e espíritos não mudam.
Portanto, da mesma maneira como ele agiu com Eva, agiu com Jesus e ainda hoje age conosco.
Primeiro foi a tentação pelo pão – isso atinge o corpo, é algo físico. Aponta para “bom
para se comer” de Gênesis 3.
Depois foi tentado a pular do pináculo do templo – isso seria um espetáculo para os
olhos, a fim de ganhar reconhecimento e aceitação, mostrando aos outros como Ele
era extraordinário, digno de admiração, que realmente Ele era o Messias.
E por fim vemos a tentação pelo desejo de glória – Satanás ofereceu a Jesus toda a
glória deste mundo.
Ao ler 1 João 2:16, vemos que o processo contra nós ainda é o mesmo:
Existe ainda uma forma simples de compreendermos o processo de tentação e, desta manei-
ra, poderemos vencer no meio da luta.
a. Despertar a atenção – nunca há tentação em relação a algo para o qual não estejamos
atentos. Por isso, a primeira atitude do inimigo é chamar nossa atenção para algo.
c. Despertar o desejo da alma – o desejo é um ato específico da nossa alma e, neste ponto,
a tentação já começa a se tornar irresistível, pois ela está diretamente ligada ao nosso desejo.
Somos tentados em algo que desejamos, algo que é interessante para nós, o que torna inútil
nosso esforço em resistir à tentação. Por isso precisamos fugir dela, não tentar vencê-la.
d. Acionar a intenção da vontade – neste estágio, sim, o pecado aconteceu. Em Mateus 5:28
lemos o que Jesus ensinou a respeito das nossas intenções: “Eu, porém, vos digo: qualquer que
olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela”.
É muito importante compreendermos todo esse processo para que não caiamos na cilada do
inimigo que tenta nos convencer de que já pecamos simplesmente porque fomos tentados. Ser
tentado não é pecado – Jesus foi tentado em todas as coisas e não pecou. Por isso, a compreen-
são desse processo também nos leva à vitória.
Não nos tornamos pecadores quando cometemos o primeiro pecado; somos pecadores des-
de o dia em que nascemos. O ato em si é apenas o fruto de algo que já foi plantado em nós. O
pecado é uma questão de ser, não meramente de fazer.
O corpo totalmente santo criado por Deus foi então contaminado pelo veneno da serpente
e tornou-se aliado dela. Por isso, receberemos um novo corpo quando da volta do Senhor.
Pela desobediência, o homem tornou-se independente de Deus e recebeu algo do diabo den-
tro de si. A vontade de Deus era que o espírito tivesse o controle do homem. Porém, a queda
fez com que a alma tomasse essa posição, fazendo do homem um ser egocêntrico.
A desobediência é terrível, mas sua consequência é ainda pior, pois é ter o veneno da serpen-
te dentro de si. E foi para isto que Jesus veio: para tirar veneno de dentro do homem.
Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como
também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos,
obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da
ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração... (Ef 4:17-18)
Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados. (Ef 2:1)
Morte não significa aniquilação e sim, separação. Alguém que já morreu não deixou de
existir, mas está separado de nós. Adão e Eva não morreram fisicamente imediatamente após
terem pecado, porém, seu espírito já não podia mais ter comunhão com Deus. O homem não
deixou de existir, mas tornou-se separado de Deus.
b. Em relação a si mesmo
O homem passou a experimentar culpa e angústia em seu coração.
78 GÊNESIS
c. Em relação ao diabo
O homem caído tornou-se escravo do diabo e vive debaixo de sua acusação.
O homem que foi criado livre se vendeu como escravo do diabo quando comeu da árvore do
conhecimento do bem e do mal. E Satanás, depois de seduzir e conseguir que o homem caísse,
passou a acusá-lo e oprimi-lo.
Capítulo
9
A PROMESSA DA REDENÇÃO
GÊNESIS 3:815
Depois que Adão pecou, Deus lhe fez duas perguntas: “Onde estás?” e “Que fizeste?”. Mas,
por que questionar, uma vez que Ele não precisava que o homem lhe contasse para saber o que
havia acontecido? Ele fez isso para dar a Adão a oportunidade de confessar e se arrepender de
seu pecado. Todas as vezes em que Deus faz esse tipo de pergunta ao homem, é para lhe dar a
chance de refletir e mudar de vida.
É isto o que Deus faz: em seu amor, sempre nos acolhe e salva. Por isso, nunca devemos fugir
do Senhor ou nos esconder dele por causa dos nossos pecados. Ao contrário, devemos correr
para Ele, pois, só Deus pode nos limpar e restaurar.
do próprio Deus. E, até hoje, o homem tem agido da mesma forma, tentando se esquivar da
responsabilidade por seus erros.
Desde a infância, nunca assumimos nossas culpas, pois nossa tendência natural é projetar
em outros aquilo que não toleramos em nós mesmos. Culpamos os pais, a sociedade e até o
governo pelas transgressões, e, no fim da lista, sempre colocamos Deus como o responsável por
tudo. Há alguns que chegam a culpar Deus por ter colocado neles desejos que, depois, lhes
proibiu de saciar.
Não importa qual seja a circunstância, a escolha do caminho a seguir é sempre nossa.
Podemos até não ter a chance de escolher como tudo vai começar, mas certamente podemos
decidir como irá terminar. Um homem cujo pai foi violento, por exemplo, não escolheu que
tipo de pai teria. Contudo, por mais que tenha sofrido, tem a chance de escolher que atitude
terá em relação ao pai: odiá-lo, ignorá-lo ou até perdoá-lo. Mas, se escolher odiá-lo, a decisão é
dele, não do pai ou de Deus, portanto, ele é totalmente responsável por ela.
Poucos, entretanto, assumem o erro e se dispõem a arcar com as consequências de suas es-
colhas. Mas, o caminho da libertação e da restauração certamente passa pelo o arrependimento
e pela confissão dos pecados.
Adão não apenas não assumiu a responsabilidade por seu próprio pecado como também
quis livrar-se de sua culpa acusando Eva. Ao dizer que a culpa era da mulher, ele tentou fazer
com que ela fosse punida em seu lugar.
Quanta diferença da atitude de Jesus que, não sendo culpado, deu a vida pela Igreja! O
primeiro Adão, mesmo tendo pecado assim como Eva, quis entregá-la para que fosse morta
a fim de poupar a própria vida. O último Adão, porém, apesar de não ter cometido pecado
algum, estando ainda na cruz, pediu ao Pai que perdoasse Sua noiva e entregou Sua vida por
ela. Jesus não precisaria sofrer o que sofreu, mas por amor a nós Ele foi crucificado e recebeu o
castigo que nós deveríamos receber. Quanto a Adão e Eva, ambos pecaram, mas Adão queria
que somente Eva sofresse as consequências.
Se Adão realmente amasse Eva a ponto de dar a vida por ela, ao invés de culpá-la e querer
que apenas ela sofresse pelo pecado dos dois, assumiria diante de Deus sua responsabilidade
como cabeça do casal, pediria a Ele que a poupasse do castigo e tomaria para si toda a culpa
pelo pecado de ambos. Mas não foi isso o que ele fez!
Então, o Senhor Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és
entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváti-
cos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida.
(Gn 3:14)
82 GÊNESIS
A maldição proferida por Deus não foi dirigida ao animal, mas ao diabo e aponta para a
posição de onde ele agora atua, ou seja, no nível rasteiro. O diabo foi limitado a agir na terra.
Nós, porém, estamos assentados com Cristo nos lugares celestiais, segundo está escrito em
Efésios 2.6: “e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em
Cristo Jesus”.
Assim, permanecendo em Cristo, nós estamos em uma posição de autoridade sobre o diabo,
mas se sairmos dela, entraremos na esfera do inimigo.
2. Comer pó
Sabemos que cobras não comem pó, portanto, essa maldição também se refere ao diabo e
significa que ele também se alimenta de algum tipo de nutrição espiritual representada aqui
pelo pó da terra. Como o pó foi a matéria prima usada por Deus para fazer o corpo do homem,
podemos concluir que o alimento do diabo é a carne – não no sentido literal, mas subjetivo.
Após amaldiçoar a serpente, Deus libera para a mulher uma profecia de vitória. Ainda no
Éden, Deus estabeleceu a história da redenção.
1. A mulher
Em primeiro lugar, essa profecia aponta para Eva e, depois, para a Igreja, da qual Eva é
apenas um símbolo.
A PROMESSA DA REDENÇÃO 83
Existe uma inimizade, uma guerra entre a serpente e a mulher (Ef 6). Esses conceitos seme-
ados em Gênesis 3:15 são colhidos em Apocalipse 12, onde vemos a mulher universal, ou seja,
a Igreja, a serpente que se tornou um grande dragão e o filho varão.
Como já vimos, a Igreja formada pelos santos, homens e mulheres de Deus, deve assumir a
posição de uma mulher diante de Deus, expressando a vida feminina que simboliza dependên-
cia e submissão, pois só ela pode derrotar a serpente.
2. A descendência da serpente
De acordo com a profecia, a serpente teria filhos, ou seja, todo homem gerado após o peca-
do, e aponta para o povo que segue a Satanás.
Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele
foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque
nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. (Jo 8:44)
3. O descendente da mulher
Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem concebe-
rá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. (Is. 7:14)
84 GÊNESIS
Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que,
nele, fôssemos feitos justiça de Deus. (2Co 5:21)
Isso foi possível por causa da aliança feita entre Jesus e o homem, selada na última ceia,
quando Ele e seus discípulos comeram o pão e beberam o vinho. Naquele dia, uma troca espi-
ritual foi feita e, pela nova aliança, tudo o que era do homem, ou seja, o pecado, a escravidão,
o veneno da serpente, passou a ser de Jesus e o que era de Jesus passou a ser do homem. Jesus
tomou, então, o nosso pecado e o levou para a cruz, recebendo, assim, o castigo que nós deve-
ríamos receber. Tudo isso já havia sido mostrado no Antigo Testamento através das ordenanças
relativas aos sacrifícios: antes de sacrificar um cordeiro, o ofertante impunha as mãos sobre ele
e todos os seus pecados eram transferidos para o animal; assim, ao morrer, o cordeiro levava
junto todos os pecados de quem o havia ofertado.
Foi exatamente isso o que aconteceu com Jesus porque “Aquele que não conheceu pecado,
ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5:21). Contudo,
além de ser o Cordeiro de Deus que nos justificou, na cruz, Jesus também destruiu a serpente
e tirou de nós seu veneno, como Ele mesmo disse em João 3:14: “E do modo por que Moisés
levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado”.
A promessa da redenção foi feita em Gênesis, mas levou milhares de anos para ser cumpri-
da. E, durante todo esse tempo, tanto os homens quanto o próprio Satanás ficaram à espera
daquele que viria para cumpri-la. Podemos até mesmo acompanhar, por toda a história bíblica,
as tentativas do diabo de destruir o descendente da mulher que viria para esmagar sua cabeça.
Logo após a queda, o diabo talvez tenha pensado que Abel, por ser justo, seria o filho da
mulher que o combateria; então, usou Caim, que era sua descendência, para matar o irmão.
Depois, na vida de Abraão, quando, percebendo a aliança entre ele e Deus, tentou produzir
esterilidade para que não houvesse a descendência prometida. Então, vemos o povo de Israel no
Egito, crescendo e se multiplicando, despertando, assim, a desconfiança de Satanás que cuidou
de eliminar todos os meninos para que dali não viesse o filho varão.
E assim ele prosseguiu em suas tentativas de eliminar o povo judeu, como a que está descrita
no livro de Ester, quando uma lei foi promulgada autorizando o assassinato de todos os judeus.
A PROMESSA DA REDENÇÃO 85
Por fim, através do rei Herodes, novamente ordenou o assassinato de todos os meninos a fim
de matar aquele que o destruiria.
Satanás sabia que o descendente da mulher viria, pois o próprio Deus lhe havia dito. Porém,
apesar de todas as suas tentativas, ele não conseguiu impedir que o Messias nascesse e cumprisse
a profecia feita lá no Éden. Agora, aguardamos a volta de Jesus para que Ele complete Sua obra.
O ferimento no calcanhar demorou três dias para sarar, não mais que isso, pois a morte não
pôde contê-lo, porque pecado não houve nele. O salário do pecado é a morte e, onde não há
pecado, não pode haver morte.
O que vemos em Gênesis é que Deus amaldiçoou a serpente e a terra, mas não o homem e a
mulher; caso contrário, não haveria salvação para eles, pois não há como redimir aquilo que o
próprio Deus amaldiçoou. Por isso, não há salvação para a serpente e a própria terra que ficou
debaixo de maldição – ela terá que ser restaurada e, no fim, teremos novos céus e nova terra.
O que houve, então, não foi maldição, mas a determinação de certos sofrimentos para
restringir a maldade e o pecado que agora havia na vida do homem e da mulher. Com a
queda, o homem adquiriu uma natureza pecaminosa e por isso precisou que sua liberdade
fosse restringida.
A intenção de Deus, portanto, não era condenar o homem e a mulher, mas discipliná-los e
restringir o pecado na vida deles. E, para isso, como todo pai amoroso, Deus impôs limites aos
seus filhos, a fim de protegê-los. Até mesmo a psicologia reconhece a necessidade de restrição.
Qualquer pai ou mãe de bom senso colocará restrições e limites na vida de seus filhos.
Por isso, uma das consequências mais terríveis do pecado é a mudança na maneira com que
Deus nos trata. O plano original de Deus não era multiplicar as dores da mulher ou fazer com
que o homem se desgastasse para lavrar a terra, mas o pecado “forçou” Deus a mudar o modo
de lidar, de se relacionar eles. E essa mudança pode causar perdas irreparáveis à nossa vida.
Quando há arrependimento do pecado, a comunhão pode ser restaurada, mas o relacionamen-
to não é mais o mesmo.
Por exemplo: um homem tem um filho com quem se relaciona bem, mas, certo dia, ele
resolve pegar dinheiro da carteira do pai sem permissão. Ele, então, pede perdão e a comunhão
86 GÊNESIS
entre eles é restaurada. Porém, se ele persistir no erro, o pai terá de mudar sua maneira de agir.
Ele já não deixará sua certeira à vista como sempre fez. O relacionamento entre eles já não será
o mesmo, pois o erro do filho mudou o modo de agir do pai.
a. O sofrimento do parto
Deus multiplicou as dores de parto da mulher, limitando assim, a manifestação do pecado
em sua vida.
Hoje, por causa do avanço da medicina, não enxergamos isso como restrição, pois a mulher
pode evitar tanto a gravidez quanto a dor do parto – o que tem causado em nossa geração uma
promiscuidade sem precedentes. Porém, em outras épocas, antes das pílulas anticoncepcionais
e dos anestésicos, as mulheres pensavam muito bem antes de ter qualquer tipo de atividade
sexual que não fosse apropriada, ou seja, dentro do casamento, pois as consequências eram
muito sofrimento e dor.
E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em trans-
gressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela per-
manecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso. (1Tm 2:14-15)
b. O governo do marido
A mulher assumiu o encabeçamento na queda, por isso deve agora ser governada pelo marido.
O que acontece é que, depois do pecado, o trabalho passou a ser acompanhado de fadiga e
suor, causando-lhe um desgaste físico que o leva à morte, como está escrito em Gênesis 3:19:
“No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque
tu és pó e ao pó tornarás”.
O cansaço é uma restrição que impede o homem de pecar, pois, como se sabe, a mente
ociosa é campo fértil para o diabo. Assim, enquanto está ocupado com o trabalho, ou cansado
por causa dele, o homem não tem tempo nem disposição para o pecado.
c. A morte física
De acordo com esse texto, Deus não condenou o homem à morte eterna, mas o poupou da
aflição de uma vida eterna no pecado. Se ele comesse da árvore da vida, estaria automaticamen-
88 GÊNESIS
À primeira vista, a morte física parece uma condenação, mas não é. A primeira morte é
apenas um limite. A segunda morte, o lago de fogo e enxofre é que será a condenação eterna.
Em seu esforço humano, Adão e Eva tentaram cobrir o pecado com obras representadas
pelas folhas de figueira. Mas essa tentativa foi inútil porque o esforço humano para alcançar a
salvação é vão. A única maneira de cobrir o pecado é pelo sangue, como lemos em Hebreus:
Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com san-
gue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão. (Hb 9:22)
2. A fé
Crer é o primeiro passo para a salvação e Adão, depois de ouvir todas as restrições impostas
por causa do pecado e tudo o que aconteceria com eles a partir de então, creu que não morre-
riam, pois Deus estava lhes concedendo vida e lhes daria uma descendência. Deus disse que a
mulher teria um filho e esse filho esmagaria a cabeça da serpente. Adão temia ser morto, mas,
como sua mulher teria um filho, eles, então, viveriam. Assim, Adão colocou em sua esposa o
nome de Eva, que significa “vivente” ou “vida”, demonstrando sua fé na promessa que Deus
havia feito.
A salvação operada por Jesus na cruz tem dois aspectos: a obra e o poder da cruz. A obra
da cruz é a substituição: nós deveríamos morrer, mas Jesus morreu em nosso lugar. O outro
aspecto é o poder da cruz que é chamado de inclusão, ou seja, quando Cristo morreu, nós tam-
bém morremos com Ele em Sua morte. Em Gênesis, vemos como esses dois aspectos estavam
presentes na redenção de Adão e Eva.
A PROMESSA DA REDENÇÃO 89
a. A substituição
Para cobrir o homem e a mulher, Deus teve de matar um animal (provavelmente um cor-
deiro) para que as peles fossem retiradas. Adão e Eva deveriam morrer, mas o animal foi morto
no lugar deles. Isto é o que chamamos de substituição e foi o que aconteceu conosco: nós tí-
nhamos que morrer, mas Jesus morreu em nosso lugar. Nós tínhamos que sofrer a condenação
porque havíamos pecado, mas Jesus nos substituiu na cruz.
Acreditamos que o animal tenha sido um cordeiro porque em Apocalipse 13:8 está escrito
que Jesus é o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo, indicando assim que,
profeticamente, Adão e Eva desfrutaram da redenção mesmo lá no Éden, pois aquele primeiro
cordeiro sacrificado apontava para o sacrifício de Jesus.
Quando Adão e sua esposa viram Deus matando o animal, devem ter ficado muito impres-
sionados. Primeiro porque nunca haviam visto a morte antes. Depois, por pensarem que eles
deveriam morrer, mas um animal estava morrendo em seu lugar.
Aquele animal foi morto pelo próprio Deus, assim como Cristo morreu por vontade do Pai.
Ele era um símbolo de Cristo como Cordeiro de Deus, sendo sacrificado em nosso lugar.
b. A inclusão
Mas a obra da cruz não é apenas a substituição, é também a inclusão.
No Éden, além fazer o sacrifício, Deus também tomou a pele do animal e a colocou sobre
Adão e Eva que, a partir de então, de alguma maneira, passaram a se identificar com ele. Era
como se eles e o animal fossem parte um do outro. E o mesmo acontece conosco: assim que
somos cobertos com Cristo, começamos a expressá-lo.
A roupa de Adão o fazia aceitável diante de Deus que, ao olhar para ele, via o animal sobre
ele, não o próprio Adão. Isto é inclusão!
A nossa salvação não aconteceu apenas com Cristo morrendo em nosso lugar; a verdade é
que nós também morremos com Ele na cruz, conforme está escrito em Romanos:
90 GÊNESIS
Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para
que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como
escravos. (Rm 6:6)
Ele morreu para que nós pudéssemos morrer também. A morte dele foi a nossa morte, por
isso fomos libertos do pecado e nascemos de novo, como lemos em Efésios:
...e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares
celestiais em Cristo Jesus. (Ef 2:6)
Quando cremos em Cristo, nos tornamos um com ele. De forma que tudo o que diz res-
peito a Ele também diz respeito a nós, porque fomos incluídos nEle. Mas essa inclusão não
aconteceu apenas após a ressurreição. Ela ocorreu no dia da última ceia, quando Jesus selou a
nova aliança. A partir de então, por tudo o que Ele passou, nós passamos também:
Sua morte foi a nossa morte.
Sua ressurreição foi a nossa ressurreição.
Sua ascensão foi a nossa ascensão.
Sua vida é a nossa vida.
Sua herança é a nossa herança.
Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que,
como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim
também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos
com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na
semelhança da sua ressurreição, sabendo isto: que foi crucificado com
ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído,
e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu está
justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que
também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressus-
citado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio
sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu
para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós
considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo
Jesus. (Rm 6:4-11)
Todas essas verdades de que Paulo fala no texto acima estavam presentes no capítulo três de
Gênesis, mas tudo em forma de semente. Porém, é a fé que torna real a verdade da inclusão:
Cristo morreu por nós e nós morremos com Ele. Mas, se morremos com Cristo, cremos que
também vivemos com Ele e nossa vida agora está oculta nele, pois agora Ele é a nossa vida. O
velho homem já foi sepultado e o que vive hoje é o novo homem na presença de Deus.
Capítulo
10
Caim e Abel
Gênesis
Coabitou o homem com Eva, sua mulher. Esta concebeu e deu à luz a
Caim; então, disse: Adquiri um varão com o auxílio do Senhor. Depois,
deu à luz a Abel, seu irmão. Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavra-
dor. Aconteceu que no fim de uns tempos trouxe Caim do fruto da
terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vez, trouxe das primícias do
seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua
oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou. Irou-se,
pois, sobremaneira, Caim, e descaiu-lhe o semblante. Então, lhe disse
o Senhor: Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se
procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes
mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti
cumpre dominá-lo. Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo.
Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu
irmão, e o matou. Disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão?
Ele respondeu: Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão? E disse Deus:
Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim. És
agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de
tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará
ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra. Então, disse Caim ao
92 GÊNESIS
Senhor: É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que
hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me;
serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará.
O Senhor, porém, lhe disse: Assim, qualquer que matar a Caim será vin-
gado sete vezes. E pôs o Senhor um sinal em Caim para que o não ferisse
de morte quem quer que o encontrasse. Retirou-se Caim da presença
do Senhor e habitou na terra de Node, ao oriente do Éden. (Gn 4:1-16)
Sabemos que Adão creu em Deus e em Sua promessa ao colocar em sua esposa o nome de
Eva, que quer dizer “vivente”. Mas, no capitulo quatro de Gênesis, podemos constatar que Eva
também creu no cumprimento da profecia dada por Deus em Gênesis 3:15 colocando em seu
primeiro filho o nome de Caim, que significa “adquirido do Senhor”. Ela, com certeza, pensou
que Caim fosse o descendente prometido que esmagaria a cabeça da serpente. Não imaginava,
porém, que demoraria ainda alguns milênios até que Jesus viesse através de Maria.
Estas duas linhagens de homens são representadas pela árvore da vida e a árvore do conhe-
cimento do bem e do mal. São dois tipos de homens, dois tipos de pensamento, duas formas
de viver. No Novo Testamento, essa distinção é feita entre os que andam segundo a carne e
aqueles que andam segundo o espírito, entre os que fazem a vontade de Deus e aqueles que não
se importam com ela (Jd 11, 1Jo 3:11-12, Hb 11:4, 12:24).
1. Caim
a. Trabalhando e servindo a Deus no esforço próprio
Como vemos em Gênesis 4:2, Caim era lavrador e, na Palavra de Deus, a lavoura simboliza
o trabalho e o esforço humano. Assim, ao oferecer a Deus do melhor de sua lavoura, Caim esta-
va oferecendo as suas boas obras e o seu esforço próprio, mas isso é inaceitável diante de Deus.
Uma lavoura não surge espontaneamente, mas é necessário que o homem trabalhe para que
ela seja formada, por isso ela representa o esforço próprio. Uma oferta nessas condições nada
mais é que obras humanas tentando agradar a Deus.
A Bíblia fala muito a respeito do caminho de Caim e de Abel, e, sempre que se refere a
Caim, é no aspecto negativo, como lemos em Judas:
Desde aquele tempo até os dias hoje, os homens andam pelo caminho de Caim, ou seja, o
caminho do esforço próprio para tentar agradar a Deus.
Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos ame-
mos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassi-
nou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más,
e as de seu irmão, justas. (1Jo 3:11-12)
Porém, como considerar as obras de Caim como sendo más, se ele deu o melhor que ti-
nha? Elas eram más porque ele tentou aproximar-se de Deus através da justiça própria. Este
é o caminho de Caim e o princípio de todas as religiões: aproximar-se de Deus baseado no
mérito próprio.
A relação entre o homem e Deus nunca pode ser baseada no mérito humano. Por isso, preci-
samos ter muito cuidado para não cairmos no caminho de Caim involuntariamente, tentando
ser aceitos pelo Senhor com base em algo que tenhamos feito, e não pela Sua graça. Sempre que
chegarmos diante de Deus, devemos fazê-lo pela graça, pois não temos mérito algum.
Deus não aceita qualquer oferta, somente aquela que procede da fé, como lemos em Hebreus:
Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim;
pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus
quanto às suas ofertas. Por meio dela, também mesmo depois de morto,
ainda fala. (Hb 11:4)
Ao oferecer do fruto da terra, Caim estava oferecendo algo a Deus sem derramamento de
sangue. Ele rejeitou o caminho da redenção de Deus, que provavelmente tinha aprendido de
seus pais, e resolveu fazer do seu jeito. Oferecendo algo sem derramamento de sangue, ele es-
tava assumindo-se justo diante de Deus. Porém, se a nossa justiça não é procedente da fé então
não somos aceitáveis diante de Deus (Fp 3:9; 1Co 1:30).
Caim inventou sua própria religião, com sua maneira de agradar a Deus. Ele agiu de acordo
com seu conceito natural do que era certo ou errado. Colocou sua vontade no centro, não a de
Deus. Assim podemos distinguir todas as religiões do verdadeiro cristianismo: a religião tem o
homem no centro, mas o cristianismo é Cristo no centro.
94 GÊNESIS
Essa ainda é uma postura muito comum e, certamente, sempre que andarmos no espírito,
encontraremos alguém que irá nos resistir. Porém, ao contrário do que possamos pensar, essa
resistência não virá de uma pessoa estranha, mas de alguém que caminha conosco – como
aconteceu com Caim e Abel, que estavam juntos cultuando a Deus, mas, depois, a atitude de
um causou a morte do outro.
Isso acontece porque é na presença de Deus que se estabelece a distinção entre a carne e o
espírito. A carne não pode conviver com o espírito por que são opostos entre si. Por isso, houve
um momento em que Caim teve que separar-se de Abel, Abraão precisou apartar-se de Ló,
Isaque foi afastado de Ismael, Jacó separou-se de Esaú e Davi não caminhou mais com Saul.
Por todo o Antigo Testamento, podemos ver Deus fazendo a separação entre aqueles que eram
seus e os que pertenciam à linhagem de Caim, como Ismael, Esaú e Saul que viveram segundo
o mesmo princípio de vida.
E essa linhagem maligna persiste até hoje! Encontramos em nosso meio, pessoas que perten-
cem a ela e, infelizmente, são malignas também, mesmo estando dentro do convívio da igreja.
Qualquer um que negue a graça de Deus e crie um relacionamento com Ele baseado no mérito
pessoal é maligno. Em Filipenses, lemos que Paulo buscava:
...ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a
que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada
na fé. (Fp 3:9)
Qualquer um que ensine outra coisa é do caminho de Caim, pois a justiça, assim como a
justificação, é Cristo:
Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de
Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção. (1Co 1:30)
Tudo o que é feito baseado na troca, precisa ser avaliado, porque pode ser o caminho de
Caim e, invariavelmente, é o caminho das pessoas gananciosas, que tentam obter ganho através
da piedade.
Quando Caim e Abel foram adorar juntos, mas somente um deles foi aceito e o outro não,
a inveja, surgiu no coração de Caim.
A inveja é um dos piores sentimentos que existem e é fácil identificar alguns de seus sinto-
mas. Um deles é a irritação diante da vitória dos outros – em vez de se alegrar, o invejoso se
irrita com o sucesso da outra pessoa. Para ele, chorar com os que choram é fácil, mas alegrar-se
com os que se alegram é muito difícil.
CAIM E ABEL 95
Foi assim com Caim: ele não conseguiu alegrar-se com o fato de Abel ter sido aceito e, em
vez de humilhar-se diante de Deus e buscar mudar sua atitude para que também fosse aceito,
talvez até mesmo com a ajuda do irmão, voltou-se contra ele e rebelou-se contra Deus.
Outros sintomas da inveja são procurar ostentar algo maior e melhor do que o outro tem e
a tentativa constante de diminuir a vitória dos outros, desmerecendo o trabalho e o esforço da
outra pessoa. A bênção do outro se torna, para o invejoso, uma maldição angustiante.
Quando há ciúme e inveja, todos os tipos de problemas surgem, até mesmo o assassínio, “pois,
onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins” (Tg 3:16).
2. Abel
a. Trabalhando e servindo a Deus no descanso
Abel era um pastor de ovelhas, o que é uma tarefa relativamente simples. Ao contrário da
lavoura, que exige muito esforço, a criação de ovelhas, em boa parte do tempo, consiste em
apenas observar o rebanho. Naqueles dias, o homem não comia carne, pois Deus só deu os
animais como alimento após o dilúvio (Gn 1:29; 9:3). Portanto, o trabalho de Abel talvez fosse
exclusivamente cuidar das ovelhas a fim de tosquiá-las para obter a lã necessária para as roupas.
O trabalho de Abel nos fala de fé e descanso, enquanto o de Caim nos fala de esforço.
Contudo, é imprescindível não confundir descanso com passividade. A passividade é a falta de
atitude, mas o descanso é uma atitude interior de fé e confiança. A maneira de servir a Deus é
no descanso.
Abel achegou-se a Deus confiado nos méritos do Senhor, não nos seus.
O mesmo ainda acontece hoje, pois todos aqueles que adoram a Deus da maneira correta,
irão incomodar.
Em João 12 vemos a história de Maria, que ofertou ao Senhor um perfume muito precioso
derramando-o sobre Jesus. Todos ficaram maravilhados com sua atitude, menos Judas, porque
ele andava pelo caminho de Caim.
96 GÊNESIS
Sempre que andarmos pelo caminho de Abel, seremos perseguidos, tanto pelos de fora
quanto por alguns mais próximos a nós. Quando somos satisfeitos com o Senhor e cheios de
alegria e vida, naturalmente atraímos antipatia dos carnais.
Abel era pastor de ovelhas (Gn 4:2). Jesus é o verdadeiro bom pastor do rebanho de Deus
(Jo 10:11, 14; Hb 13:20)
Abel foi chamado de justo (Mt 23:35). O Senhor é chamado de o Justo (At 7:52; 22:14)
Abel foi morto por seu irmão na carne (Gn 4:8). O Senhor foi morto por seus irmãos ju-
deus, pelo mesmo motivo: inveja.
O sangue de Abel clama por justiça (Gn 4:10; Hb 11:4). O sangue de Jesus fala coisas ainda
superiores ao que fala Abel, pois fala de perdão (Hb 12:24).
A segunda queda, porém, foi muito mais grave, pois não houve nela apenas desobediência,
mas também mentira e homicídio.
Caim queria cultuar a Deus, mas não tinha a disposição de ser verdadeiro diante do Senhor. Do
mesmo modo, quando nos apresentamos diante de Deus para cultuá-lO, mas, a despeito de nossa
postura exterior, nosso coração não é sincero com Ele, temos como resultado a morte espiritual.
ser semelhante ao Altíssimo (Is 14:14). Depois, invejou também o homem, pois este era exata-
mente o que ele sempre desejou ser: semelhante a Deus.
Caim matou Abel por causa de sua inveja. Em sua concepção ele fora rejeitado, mas na
verdade, Deus foi muito misericordioso e generoso, porque Caim deveria ter sido morto por
causa do seu homicídio.
2. O resultado
a. A maldição sobre o homem (Gn 4:11)
Depois de ter caído, Adão não foi amaldiçoado. Porém, após a segunda queda, Caim foi
amaldiçoado. Na verdade, o próprio pecado é uma maldição.
Vaguear sem destino, sem objetivo, sem satisfação e sem descanso é resultado do aprofun-
damento no pecado. Quanto mais o homem se envolve com o pecado, mais sem rumo ele se
torna. Contudo, quanto mais andarmos na presença de Deus, mais foco e propósito teremos.
d. O medo do próximo
Sabemos que Deus seria justo se tivesse matado Caim, mas este não temeu morrer nas mãos
de Deus, e sim nas mãos de outros. Nisto vemos que não havia o menor sinal de arrependi-
mento em Caim.
Deus não disse que Caim seria morto por outros homens, mas ele teve medo, pois projetava
em outros a sua própria natureza. Quem não confia em ninguém não é confiável. Se alguém
pensa constantemente que o outro pode roubá-lo, é porque ele mesmo deve ser um ladrão, pois
sempre avaliamos os outros a partir de nós mesmos. Caim era o único homicida na terra, mas
tinha medo de ser morto porque ele já havia matado.
A história que começou com um culto a Deus, terminou com o homem saindo de Sua
presença. E isso vem se repetindo durante toda a história da humanidade em meio àqueles que
querem fazer a vontade de Deus. Tudo começa piedosamente, mas pode terminar de maneira
terrível, fora da vontade de Deus.
O motivo pelo qual tudo isso acontece está no princípio mencionado em João 3.6: “O que é
nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito”. Quem tenta agradar a Deus,
desde o início, fazendo algo na carne, não irá transformá-lo em algo do espírito pelo meio do
caminho. O que começou carnal não se tornará espiritual depois, pois o que nasce da carne
não se torna do espírito. Caim começou na carne e o resultado foi piorando cada vez mais, pois
um abismo chama outro.
A carne pode se manifestar de maneira sutil ou não, apresentando uma aparência bonita ou
feia. A morte, a prostituição, o homicídio, etc., são o lado feio dela. Mas seu aspecto bonito é
a tentativa de agradar a Deus baseado nas obras próprias. Contudo, mesmo que se apresente
como algo aparentemente bom, é carne e, se não for tratada, mais cedo ou mais tarde, mani-
festará seu lado ruim.
Se quisermos fazer algo para Deus, devemos fazê-lo, desde o início, no espírito.
Adão foi expulso do Éden, apesar de talvez nem ter desejado isso, mas Caim saiu da presença
de Deus voluntariamente. Embora tenha iniciado um culto, ele, na verdade, não desejava a
presença de Deus.
Isso nos mostra como a queda foi se aprofundando ao longo o tempo. Ela começou no Éden,
culminou no dilúvio e chegou até Babel, quando o homem se rebelou totalmente contra Deus.
E coabitou Caim com sua mulher; ela concebeu e deu à luz a Enoque.
Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque, o nome de seu filho.
A Enoque nasceu-lhe Irade; Irade gerou a Meujael, Meujael, a Metusael,
e Metusael, a Lameque. Lameque tomou para si duas esposas: o nome
de uma era Ada, a outra se chamava Zilá. Ada deu à luz a Jabal; este foi
o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O nome de seu irmão
era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e flauta. Zilá, por
sua vez, deu à luz a Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante,
de bronze e de ferro; a irmã de Tubalcaim foi Naamá. E disse Lameque
às suas esposas: Ada e Zilá, ouvi-me; vós, mulheres de Lameque, escu-
tai o que passo a dizer-vos: Matei um homem porque ele me feriu; e
um rapaz porque me pisou. Sete vezes se tomará vingança de Caim, de
Lameque, porém, setenta vezes sete. (Gn 4:17-24)
Nesse texto, vemos que Caim construiu toda uma civilização para si e, a partir de então,
sua linhagem teve início. Essa é a primeira menção de cidade na Bíblia e determina muito
do seu significado:
CAIM E ABEL 99
Dos homens citados no capítulo quatro de Gênesis, não se menciona a idade de nenhum,
pois, para Deus, não tiveram vida diante dEle. Mas os homens registrados a partir do capitulo
5, foram homens que venceram a queda em sua geração. Não construíram nada, apenas vive-
ram e geraram filhos, mas sua idade foi mencionada, pois, viveram diante de Deus.
Capítulo
11
A QUEDA FINAL DO HOMEM
GÊNESIS 5 6:10
Gênesis 4 diz que tais homens viveram, mas não diz quanto tempo, indicado que para Deus
não viveram; enquanto que no capítulo cinco se menciona a idade de cada um.
Gênesis 4 nos fala de muitas obras e realizações; enquanto o capítulo cinco nos fala que
eles apenas geraram filhos. O mundo procura realizações e feitos que produzam significância e
significado, mas os filhos de Deus procuram produzir frutos diante de Deus.
O capítulo quatro de Gênesis fala do pecado e do crime, mas, no capítulo cinco, lemos sobre
homens que andaram com Deus.
No capítulo três temos o relato da primeira queda do homem, mas no capítulo quatro temos
um aprofundamento da queda. O homem, aqui, tornou-se homicida.
Então, disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no ho-
mem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos. Ora,
naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os fi-
lhos de Deus possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos;
estes foram valentes, varões de renome, na antiguidade. Viu o Senhor
que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era con-
tinuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se arrependeu o
Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração. Disse
o Senhor: Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o ho-
mem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de
os haver feito. Porém Noé achou graça diante do Senhor. Eis a história
de Noé. Noé era homem justo e íntegro entre os seus contemporâneos;
Noé andava com Deus. Gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé. (Gn 6:1-10)
Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda do Filho do
Homem. (Mt 24:37)
Portanto, se andarmos nos caminhos que os homens de Deus trilharam naqueles dias, do
mesmo modo como eles venceram, também poderemos obter a vitória hoje.
Dentre todos os homens que andaram com Deus citados nesses três capítulos, podemos
considerar Abel como o mais importante e o primeiro a vencer em sua era, pois ele foi o primei-
ro a experimentar a graça de Deus. Outros também a experimentaram, mas ele foi o primeiro.
A princípio, o fato de Deus ter aceitado a oferta de Abel pode parecer acepção de pessoas
por parte de Deus, pois, no conceito natural, a oferta de Caim era, mesmo esteticamente, tão
ou mais aceitável que a de seu irmão. Porém, o Senhor estabeleceu um caminho para que nos
aproximemos dEle e, como lemos em Hebreus, esse caminho é o sangue de Cristo, representa-
do naquela ocasião pela oferta de Abel.
O nome Abel significa “sopro”, algo breve como uma bolha de sabão, e é proveniente da
mesma palavra usada por Salomão e traduzida em português como “vaidade” em todo o livro
de Eclesiastes. Abel percebeu a futilidade da vida e de suas obras e que não poderia, de si mes-
mo, ofertar nada a Deus, por isso, fez sua oferta segundo o coração de Deus.
Os homens sempre pensam que Deus está interessado em suas habilidades, suas boas obras
e no melhor que eles podem lhe oferecer. Por meio da religião, buscam agradá-lo de alguma
maneira, seja através de obras, martírio, penitência, cultos e louvores, tudo a fim de obter a
A QUEDA FINAL DO HOMEM 103
salvação. Porém, a salvação só pode vir através de um único meio: do sacrifício de Jesus na cruz
e do sangue derramado por Ele, da justiça de Deus que está em Cristo, de Sua sabedoria que é
loucura para os homens, de Sua graça em Cristo Jesus.
A Bíblia até menciona que Caim teve filhos, mas o principal que se diz a respeito de sua
geração é que eles fizeram coisas, eram grandes realizadores. No versículo 17, ficamos sabendo
que Caim construiu uma cidade, evidência de sua extrema habilidade. Ele construiu uma cida-
de para o filho, o que exige habilidade, talento, trabalho e muita criatividade.
A narração continua até chegar a Lameque (v 19). Esse homem teve duas esposas, Ada e
Zilá. Ada deu à luz a Jabal, o pai dos que habitam em tendas e possuem gado. O texto diz que
ele foi pai, porém, pai dos que fazem alguma coisa. A ênfase não está nos filhos, mas na habili-
dade que eles têm, no que eles produzem.
Depois, lemos no verso 21 a respeito de Jubal, pai dos que tocam harpa e flauta, dos que
trabalham com arte e diversão. Nesse texto, podemos perceber a habilidade dessa gente. Além
deles, no verso 22, lemos a respeito de Tubalcaim, que era artífice, alguém que, além de ter
habilidade artística, também dominava a técnica de artesão. Artífice é uma mistura do artista
com o artesão. Ele era entendido em produzir obras de arte de bronze e de ferro, bem como
armas cortantes.
Se vivessem em nossos dias, essas pessoas estariam nas capas de revistas. Elas realizam gran-
des coisas e fazem grandes feitos. Tudo digno de nota. São a descendência de Caim e o valor
deles é exclusivamente este: o que eles fazem. O texto bíblico não diz quanto tempo viveram
– indicando que para Deus estavam mortos –, apenas registra o que realizaram.
É algo impressionante! No verso 7, descobrimos que “Depois que gerou a Enos, viveu Sete
oitocentos e sete anos; e teve filhos e filhas”. O mesmo vemos no verso 10: “Depois que gerou
a Cainã, viveu Enos oitocentos e quinze anos; e teve filhos e filhas”. Este padrão se repete com
relação a todos daquela geração: eles apenas viveram e geraram filhos. O fato de se mencionar a
idade de cada um, em oposição à geração de Caim, indica que eles viveram aos olhos de Deus.
104 GÊNESIS
Talvez nos questionemos a respeito de que Enos e Noé também fizeram coisas para Deus.
De fato, sobre Enos se diz que, a partir dele, se começou a invocar o Senhor. Todavia, invocar
e orar são coisas tidas como nada aos olhos da geração de Caim. Até entre os cristãos há essa
mentalidade. Certa vez, um irmão foi até a casa de um pastor pedir sua ajuda. Ao chegar,
perguntou ao pastor: “Você está fazendo alguma coisa?” O pastor lhe respondeu: “Eu estou
orando”. Diante da resposta, o irmão retrucou: “Bom, já que o irmão não está fazendo nada,
poderia vir comigo resolver um problema?”. Essa é a mentalidade de Caim, para quem a oração
não é fazer algo.
Entretanto, nas gerações de Adão houve quem realmente fizesse algo para Deus: Noé.
Ocorre que, até o fazer dele não era em função de uma obra, um programa ou uma realização
artística ou ministerial. Deus não queria dele um ministério de construção de arcas, para que
Noé ficasse a vida inteira construindo arcas. A obra de Noé teve o propósito de preservar a
vida, não o trabalho em si mesmo. Além disso, o fazer de Noé teve algum valor para a geração
de Caim? Podemos até imaginar Jabal apresentando seu último modelo de tenda, Jubal dando
um concerto com suas mais novas composições e Tubalcaim expondo suas obras de arte em
bronze. Eles se viram para Noé e perguntam: “Qual é a sua realização?” E Noé seriamente diz:
“Eu estou construindo uma arca”. “Mas, para quê?”, perguntam eles. “Porque virá um grande
dilúvio e na arca estaremos salvos”, responde Noé. Os outros menearam a cabeça com um olhar
condescendente como a dizer: “Pobre homem, investindo a vida em algo inútil”.
Esta é a atitude da geração de Caim: quando dizemos que nosso trabalho é edificar uma
grande arca, os “Cains” riem de nós. A arca é, na verdade, um símbolo da Igreja, que será pre-
servada no Dia do Juízo de Deus. Por isso, eventualmente, há pastores que são questionados
se são apenas pastores ou se também trabalham. Quem vive para gerar é sempre desprezado
pela geração de Caim. As donas de casa são tratadas da mesma maneira. Sempre há alguém
perguntando: “A senhora é apenas dona de casa ou trabalha também?” Gerar é algo desprezado
pelo mundo. Uma mulher que decide abandonar uma carreira para ter filhos é taxada de louca.
“Como é possível deixar uma carreira por causa de filhos?” E as que investiram a vida criando
filhos são acusadas de terem desperdiçado sua existência.
Há dois tipos de pensamentos, de paradigma. E esses dois tipos de mentalidade vão permear
toda a Palavra de Deus. De um lado, a mentalidade dos que querem fazer algo para Deus. Do
outro, a mentalidade dos que querem gerar filhos para o Senhor.
Talvez essas diferenças ainda pareçam algo muito abstrato, mas, fazem toda a diferença.
Todos devemos ter o compromisso de gerar filhos, cuidar deles, discipulá-los e levá-los a crescer
para que eles também tenham seus próprios filhos. Isso não significa não ter que fazer coisas,
até porque certas atividades são imprescindíveis para manter a vida. Mas, não devemos fazer
das atividades o foco de nossa vida cristã; ter filhos, sim, é o centro de nossa vida.
Quando tentamos ser aceitos por Deus através de nossas obras, corremos o risco de cair no ca-
minho de Caim. Mas, se quisermos realmente agradar ao Senhor, devemos gerar filhos espirituais.
Naquele tempo, os filhos eram naturais, mas, hoje, eles são espirituais e o relacionamento
com eles faz a Igreja acontecer – a salvação pela graça, pelo sangue de Jesus, é que faz nascer a
Igreja. Mas, muitas vezes, a confundimos com obras, eventos, tarefas e tantas outras coisas que,
A QUEDA FINAL DO HOMEM 105
embora sejam boas e até necessárias, não são a vontade de Deus e não podem fazer com que
Seu propósito seja cumprido. Na vida da Igreja Deus não precisa tanto do trabalho do homem,
mas de sua multiplicação.
A começar por Enos, o segundo a vencer em seus dias, os homens citados no capítulo 5
invocaram o Senhor.
O ato de invocar o Senhor está relacionado com a queda progressiva do homem. Adão não
precisava chamar por Deus, pois, todos os dias, o Criador vinha estar com ele. Porém, ele caiu
e, depois dele, Caim aprofundou ainda mais a queda até que, a partir da terceira geração, Deus
parecia tão distante que se tornou necessário invocá-lo. O homem chegou a tal ponto que seu
espírito amortecido era incapaz de comunicar-se com Deus.
Mas, aqueles homens invocaram a Deus porque sentiam necessidade de estar com Ele, ti-
nham fome dEle.
Invocar significa clamar em alta voz e nos transmite a ideia de uma grande necessidade e
clamor por Deus em meio a uma geração corrupta.
Ainda hoje somos instruídos a invocar o Senhor. Precisamos chamar por Ele em voz alta a
fim de que Ele se achegue a nós. E, apesar de a invocação estar muito associada ao ocultismo e
aos espíritos malignos, ela também é necessária em nosso relacionamento com Deus.
Enoque foi o terceiro vencedor e o primeiro homem a ser arrebatado, pois andou com Deus
e foi tomado por Ele. Sabemos que, antes que venha o juízo, haverá o arrebatamento e ele não
é para todos, apenas para aqueles que permanecem vigilantes no meio da noite, para os que
andam com Deus.
Assim, se desejamos ser arrebatados, precisamos: andar segundo a graça, como Abel; gerar
filhos para Deus, como os homens citados em Gênesis 5; invocar o nome do Senhor, cientes da
necessidade que temos dEle, como Enos; e, assim como Enoque, que certamente fez todas essas
106 GÊNESIS
coisas, precisamos andar com Deus de tal maneira que Ele nos tome para Si. Pelo princípio da
primeira menção, podemos dizer que essa é a condição para o arrebatamento.
O que é andar com Deus? É segui-lo e andar por onde Ele determinar, sem ultrapassá-lo ou
andar à Sua frente; é não fazer algo segundo a própria direção ou desejo. Ao contrário, andar
com Deus é concordar com Ele e fazer tudo segundo Sua revelação e direção.
Quando Enoque andou com Deus, ele certamente não o fez de acordo com suas opiniões
ou pensamentos, com seu conceito humano ou levado pelas ideias do mundo, mas andou de
acordo com a vontade de Deus.
Há pessoas que não andam com Deus; ao contrário, O levam a andar o tempo todo atrás
delas, puxando-as e tentando guiá-las para a direção correta.
Não é fácil andar com outra pessoa, pois temos de seguir seu ritmo, ir aonde ela deseja e
pelo caminho que ela quer. Porém, se desejamos que essa caminhada dê certo, devemos deixá-la
conduzir, pois em Amós 3;3 está escrito: “Andarão dois juntos, se não houver entre eles acor-
do?”. Assim, andar com Deus é dizer “Amém!” para a vontade dEle, é concordar com o que
Ele diz e estabelece.
Esse é um ponto importante porque é muito difícil diferenciar a obra de Deus da nossa
com base apenas na aparência. É fundamental saber de quem foi a iniciativa e se Deus está no
negócio. Se foi Ele quem começou e continua à nossa frente, podemos prosseguir, pois a obra
é dEle. Caso contrário, devemos parar.
Em 1 Samuel 6, lemos o que aconteceu quando Davi quis levar a arca para Jerusalém sem
esperar pelas instruções de Deus a respeito de como deveria fazê-lo. Ele estava fazendo algo
que era da vontade do Senhor, mas antecipou-se a Ele e fez do seu jeito. Como consequência,
dois de seus soldados morreram ao tentar segurar a arca e “ajudar” a Deus, pois não podemos
segurar algo que Ele quer derrubar.
Não devemos construir o que Deus não está edificando, mas também precisamos ter cui-
dado para não destruir o que Ele está levantando. Precisamos estar atentos ao Seu mover.
Precisamos parar quando Ele para e seguir quando Ele segue.
Andar junto, nesse contexto, é ter intimidade, e Enoque tinha intimidade com Deus. Só nos
tornamos íntimos de alguém quando andamos junto com ele, aprendendo a conhecer seu ca-
ráter e reconhecer sua vontade através de seus gestos, atitudes e de sua maneira de se expressar.
Porque andamos juntos, aprendemos a perceber o que o outro está sentindo a respeito de algo,
muitas vezes, apenas pela expressão corporal. Andar com alguém implica em ser um com ele
no pensamento, no amor e na escolha.
A QUEDA FINAL DO HOMEM 107
É assim que acontece tanto nos relacionamentos naturais quanto em nosso relacionamento
com Deus. Precisamos estar atentos e ser rápidos em reconhecer o que agrada a Deus, pois Ele
sempre se expressa. E essa percepção acontece em nosso espírito.
Houve uma ocasião em que Jesus andou com seus discípulos, e não o contrário. Foi quando
Ele os seguiu pelo caminho de Emaús (Lc 24), Ele foi atrás deles, pelo trajeto determinado
por eles, a fim de cativá-los. Eventualmente, Deus também faz isso conosco. Ele vem até onde
estamos e anda atrás de nós porque deseja nos atrair.
Andar com Deus é também uma questão de fé. Foi assim com Enoque naquele tempo e
ainda é conosco hoje.
Pela fé, Enoque foi trasladado para não ver a morte; não foi achado, por-
que Deus o trasladara. Pois, antes da sua trasladação, obteve testemunho
de haver agradado a Deus. De fato, sem fé é impossível agradar a Deus,
porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele
existe e que se torna galardoador dos que o buscam. (Hb 11:5-6.)
3. A QUEDA FINAL
A queda final do homem aconteceu quando os filhos de Deus se misturaram com as filhas
dos homens. A mistura é algo que não agrada ao Senhor e foi por causa dela que o Senhor
trouxe julgamento aos homens.
Na Palavra de Deus, a mistura com outros povos e o casamento são questões muito impor-
tantes, como lemos a seguir:
Segundo a Bíblia, há apenas duas raças formadas por espécies distintas que não devem ja-
mais se misturar: os incrédulos, que são da velha criação, do antigo Adão, e os crentes, que são
da nova criação, da espécie de Cristo.
Essa advertência a respeito das coisas impuras não se refere a legalismos tolos, mas a valores
de Deus e do mundo, à mistura entre o espiritual e o mundano. Há, por exemplo, líderes que
108 GÊNESIS
edificam a Igreja, que é espiritual, com princípios do mundo. Eles a tratam como se fosse uma
instituição comercial e agem em relação às outras igrejas locais como se fossem concorrentes
em um negócio. Precisamos estar atentos para não misturar o que é carnal com o espiritual,
para não introduzirmos na igreja, muitas vezes até involuntariamente, valores mundanos que
estão à nossa volta. A casa de Deus tem que ser separada, sem mistura.
Por isso, hoje, há três níveis de homens caídos: aqueles que, apesar da morte espiritual, ainda
têm valores bons em sua alma e agem de acordo com eles; há outros cujo espírito está morto e
a alma é perversa, que maldiz as coisas de Deus; por fim, há aquele que está no nível mais baixo
dos três, pois, além de ter o espírito morto e a alma fechada para Deus, é uma pessoa promís-
cua, voltada apenas para os sentidos físicos, para a sensualidade, para a satisfação da carne.
A primeira, mais comumente ensinada, é que os filhos de Deus são os homens da linhagem
de Sete descritos no capítulo 5, homens piedosos que andaram com Deus; e os filhos dos
homens, por sua vez, são os descendentes de Caim, homens ímpios – imorais, perversos, ho-
micidas, polígamos.
A falha desta interpretação é que, no Velho Testamento, apenas Adão foi chamado de filho
de Deus. Apenas ele poderia ser chamado assim, pois foi criado por Deus sem pecado. Todos
os outros, nascidos após a queda, eram filhos da serpente.
A segunda interpretação é que os filhos de Deus eram anjos caídos e os filhos dos homens,
os homens em geral.
No Velho Testamento, apenas os anjos são chamados de filhos de Deus. E nesse trecho espe-
cífico do livro de Jó, o termo refere-se aos anjos caídos, ou seja, a terça parte dos anjos do céu
trazidos por Satanás em sua queda (Ap 12:4). Assim, sabemos que havia anjos caídos na terra.
A QUEDA FINAL DO HOMEM 109
Por uma questão de coerência, os filhos de Deus mencionados em Jó devem ser os mesmos
mencionados em Gênesis. Se em Jó eram anjos caídos, então devem ser também em Gênesis.
...e a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandona-
ram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas
eternas, para o juízo do grande Dia; como Sodoma, e Gomorra, e as
cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregado à prostituição como
aqueles, seguindo após outra carne, são postas para exemplo do fogo
eterno, sofrendo punição. (Jd 6, 7)
Outro resultado dessa união foi o surgimento dos nefelins, uma raça de gigantes (Gn 6:4)
– a palavra traduzida como “gigante”, no original, é “nefelin” que significa cair, caído, que faz
cair, desviado, perdido e que produz perdição. Essas são todas descrições de ações demoníacas
e não há dúvidas de que houve uma mistura na espécie humana, uma mutação genética para
que nascessem homens de estatura, força e valentia maiores que as dos homens comuns, des-
cendentes de Adão e Eva.
Uma mutação genética somente acontece quando há alguma interferência exterior. Se pe-
garmos uma vaca e cruzarmos com um boi da mesma raça, não importa quanto tempo passe,
seus descendentes sempre gerarão bois e vacas da espécie deles. Mas, se, de repente, nascer um
bezerro gigante, então houve uma mutação. Essa, sem dúvida, foi uma das causas do dilúvio.
5. O RESULTADO DA QUEDA
a. Deus retira Seu Espírito
No verso 3, vemos que Deus muda Seu plano, pois toda a humanidade se corrompeu a
ponto de sobrar apenas uma família temente a Ele sobre a terra.
De alguma maneira, o Espírito de Deus não podia mais agir sobre os homens que habitavam
a terra. Jesus disse que no tempo da sua volta será como nos dias de Noé, então, não é absurdo
presumir que, nos últimos dias, os homens criarão clones que serão uma raça onde o Espírito
de Deus não agirá.
110 GÊNESIS
12
O DILÚVIO
GÊNESIS 6:11 A 7:24
Ao observarmos as atitudes dos homens que geraram Noé, vemos que Adão bebeu das
fontes da salvação, Abel agradou a Deus adorando segundo o princípio da fé, Enos invocava o
Senhor, Enoque andou com Deus e foi arrebatado, e, quando chegamos a Noé, diz-se que ele
achou graça diante de Deus.
Naqueles dias, o homem chegara ao nível mais baixo de degradação, tornando-se perverso
e corrupto ao máximo. O inimigo parecia estar dizendo a Deus que, mesmo tendo o Senhor
criado o homem para derrotá-lo, ele, Satanás, havia vencido.
O que fazer, então? Pareceria sensato destruir tudo. Mas, Deus é eterno e imutável (Tg
1:17); quando Ele toma uma decisão, ela permanece pela eternidade. Deus nunca pode ser
derrotado e Ele sempre encontra alguém que tenha o coração voltado para Ele e que ache graça
a Seus olhos.
Em toda a história, quando tudo parece estar perdido, Deus sempre levanta pessoas que têm
achado graça diante dEle, como Noé, ou Daniel, que resolveu não se contaminar na corte do
rei da Babilônia (Dn 1:8).
A graça de Deus é, para muitos, algo difícil de ser compreendido por ser totalmente ime-
recida. Pode não ser fácil acreditar que Deus queira dar tudo a quem não merece nada, mas é
isso o que Ele faz. Mais ainda, a alguém que merece a condenação, Ele não somente o livra dela
(misericórdia), como o faz herdeiro de tudo o que Ele tem (graça).
Por isso, aqueles que entendem o que é a graça têm plena liberdade de se achegarem a Deus
sabendo que são aceitos por Ele, independentemente do que tenham feito ou da condição em
que se encontrem. O Pai os aceitará e, se necessário, disciplinará os que precisarem de correção,
pois a graça também se manifesta através da disciplina. O Senhor nos corrige e não nos deixa
permanecer no erro. Isso também é graça!
Noé achou graça diante de Deus, ou seja, ele confiou que Deus trabalhava e lutava por ele,
que o aceitava incondicionalmente e que a presença dEle era sua força e poder.
Aqueles que vivem pela graça prosperam, pois sabem que são aceitos, entregam sua vida ao
Senhor confiando que Ele dará o suprimento, e têm paz. Porém, os que vivem pela lei não são
assim. Seu sentimento de aceitação baseia-se em suas obras e virtudes, o que os faz pensar que
só podem se achegar a Deus se estiverem totalmente irrepreensíveis. Mas, nenhum homem está
nessa condição e o único meio de sermos aceitos é através do sangue de Jesus.
Tudo o que temos e alcançamos nos é dado por Deus pela graça – frutos, vitórias e até
mesmo o Reino. Muitos não recebem porque não pedem ao Senhor e querem obter através do
próprio esforço e merecimento.
O DILÚVIO 113
b. Andou pela fé
Noé andou pela fé, não se baseando no esforço ou no que via. Assim, também herdou a
justiça que procede da fé, pois, quem crê, chama Deus de verdadeiro e isso lhe é imputado
para justiça. Assim foi com Abraão, Noé e é com cada um de nós – não somos justos pelo que
fazemos, mas somente porque cremos que Deus é.
Todo caminho para Deus passa pela fé nEle. O pecado foi a incredulidade, mas, quando
cremos, aceitamos que o que Deus diz e faz é verdadeiro. Assim, O honramos e, ao honrá-lo,
recebemos graça.
c. Praticou a justiça
Noé não apenas herdou a justiça, mas também a praticou de tal maneira que se tornou
exemplo de um homem justo:
...ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel
e Jó, eles, pela sua justiça, salvariam apenas a sua própria vida, diz o
Senhor Deus. (Ez 14:14)
Segundo a Palavra, justiça, graça e fé caminham juntas. Em primeiro lugar, porque somos
justificados pela fé e, em segundo lugar, porque é a graça que nos capacita a viver a justiça
Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais
os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em
vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo. (Rm 5:17)
A justiça é um dom, um presente de Deus, não algo que obtemos por esforço próprio. Hoje,
Jesus Cristo é a nossa justiça, assim, devemos apenas recebê-lo e viver de acordo com Ele.
A Igreja não é constituída apenas pelos cristãos que ainda estão vivos hoje, mas inclui tam-
bém aqueles que já morreram no Senhor, ou seja, é um corpo místico que envolve todos os sal-
vos em todas as épocas. Ninguém recebe sozinho toda a revelação, por isso, precisamos juntar
o que outros receberam a fim de sermos enriquecidos pelo conhecimento de outros.
Diferente de seus antepassados que apenas geraram, ele foi comissionado não somente a
gerar, mas também a fazer algo mais para Deus. O que Deus havia requerido de todos os outros
era que vivessem diante dele e gerassem filhos, mas, a Noé, ordenou que construísse a arca.
À primeira vista, isso pode parecer contraditório, pois já vimos que Deus não quer que an-
demos pelo caminho de Caim, que é o caminho do “fazer”. Porém, é preciso entender que tudo
depende do que estamos fazendo. Há obras que são feitas como um fim em si mesmas, mas
a obra de Noé foi a arca, um instrumento de salvação que simboliza a Igreja hoje. Construir
arcas não era a profissão de Noé; esse não era seu ministério. O chamado de Noé foi salvar e,
por extensão, condenar uma geração.
Ainda hoje, Deus pode fazer o mesmo conosco: requerer de nós algo que não demandou
de nossos irmãos anteriormente. Ele pode nos comissionar a fazer determinadas obras que não
tenham um fim em si mesmas, mas sejam instrumentos de salvação.
Do mesmo modo, talvez Ele também queira nos dar alguma nova revelação que não foi dada
a outros que vieram antes de nós; e precisamos estar prontos para recebê-la.
3. A obra de Noé
a. Realizou sua obra exatamente como lhe fora ordenado
A obra de Noé foi realizada de acordo com a revelação recebida – nada mais, nada menos.
Da mesma forma, quando somos comissionados por Deus a fazer algo, devemos agir estrita-
mente dentro da revelação que Ele nos der para a realização de tal ministério. Para Moisés ele
disse: “Faça tudo como lhe foi mostrado no monte” (Ex 25:40). Não há lugar para a inventivi-
dade humana na obra de Deus. Tudo deve ser feito conforme a revelação dada.
Deus não usa sempre os mesmos meios e pode fazer algo novo na Igreja para cumprir Seu
propósito – novos tipos de milagres e sinais, por exemplo. Devemos estar abertos para isso.
Porém, também precisamos tomar cuidado para não nos abrirmos para algo simplesmente
porque é novo ou diferente. Devemos nos certificar de que a novidade tem o selo de Deus.
Deus pode nos dar missões curtas ou longas, mas, independentemente de sua duração, de-
vemos realizá-las com o mesmo empenho, pois isso não é fruto do nosso esforço, mas da graça
de Deus.
Há obras que podem ser completadas rapidamente, mas, às vezes, uma obra é iniciada por
uma geração e concluída pelas seguintes. Talvez, hoje, estejamos colhendo os frutos da semea-
dura de outros, que por sua vez, também plantaram em terrenos que outros araram.
Assim como Noé, temos o encargo de pregar a mesma mensagem de salvação e, apesar de,
hoje, mais pessoas crerem nela, devemos estar preparados para sofrer tanta humilhação e opo-
sição quanto ele sofreu.
Não se sabe ao certo qual a abrangência do dilúvio, mas acredita-se que a inundação alcan-
çou apenas a parte habitada da terra e, portanto, seu tamanho seria suficiente para abrigar um
casal de cada animal que habitava ali. Quanto às provas arqueológicas, há evidências de que
uma grande inundação aconteceu no Oriente Médio, cerca de cinco mil anos atrás.
Contudo, tais questões não devem afetar a maneira como interpretamos e pregamos a
Palavra de Deus. A Bíblia não é um documento arqueológico, mas um livro de vida e, por isso,
devemos nos ater principalmente ao significado do dilúvio, e não a esses pontos. Assim, o mais
importante para nós é que o dilúvio aponta para a plena salvação de Deus.
Pedro diz que a salvação é pelas águas, as águas do batismo, mostrando que o dilúvio foi um
meio de salvação e simbolizou o batismo:
116 GÊNESIS
A salvação completa de Deus não somente nos liberta da condenação, como também do
poder do diabo e de sua influência tenebrosa, o que podemos ver através da história do êxodo
dos hebreus do Egito.
Ao sair do Egito, os israelitas não fugiram da condenação de Deus, mas da escravidão. Se, no
dia seguinte à páscoa, decidissem ficar no Egito, teriam sido salvos do anjo da morte, porém,
ainda estariam debaixo da autoridade e do poder de faraó. Contudo, após a travessia do mar, a
Bíblia não menciona mais Faraó, pois o Mar Vermelho, ou seja, o batismo, representou o fim
da escravidão sob seu domínio.
Embora alguns digam que o batismo não é necessário porque somos salvos pela graça e,
portanto, não precisamos de mais nada, ele é fundamental porque marca o fim da obra do
diabo em nossa vida.
Como mostra o texto acima, o batismo era realizado pelos apóstolos e nós, que seguimos sua
doutrina, também devemos fazê-lo. Ele não é apenas mera formalidade, mas uma experiência
espiritual que todos aqueles que crêem em Jesus devem ter.
Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo
Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele
na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre
os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade
de vida. (Rm 6:3-4)
O sangue de Cristo nos salva da condenação do inferno, e o batismo é uma grande sepultura
que nos salva do mundo. Quando somos batizados, nos tornamos cidadãos do reino de Deus
O DILÚVIO 117
e deixamos de fazer parte deste mundo, por isso Satanás, seu governante, não tem mais poder
legal sobre nós.
Assim como os hebreus foram livrados da morte pelo sangue do cordeiro e libertos do Egito
quando atravessaram o Mar Vermelho, no dia em que somos batizados, também ficamos defi-
nitivamente livres da morte e do domínio do diabo.
A salvação de Moisés teve, portanto, dois aspectos: o sangue do cordeiro pascal e as águas do mar.
Em 1 Coríntios, Paulo confirma que a passagem do povo de Israel pelo mar Vermelho
representou o batismo nas águas, e acrescenta ainda outro tipo: o batismo no Espírito Santo,
simbolizado pela nuvem.
Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos
sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados,
assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. (1Co 10:1-2)
Aqueles mesmos dois aspectos observados na salvação dos hebreus também podem ser vistos
com relação a Noé e ao dilúvio:
Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos
por ele salvos da ira. (Rm 5:9)
O batismo é uma experiência com a cruz, quando somos crucificados para o mundo e ele
para nós.
13
A SAÍDA DA ARCA
GÊNESIS 7 E 8
Sabemos que passar pelas águas do dilúvio foi um símbolo do batismo do Novo Testamento,
que é uma grande sepultura onde o mundo foi sepultado para nós e nós para ele. Sendo assim,
a saída da arca é, portanto, a experiência subsequente, ou seja, a ressurreição.
Se o dilúvio simbolizou o sepultamento de uma velha vida, a saída da arca simboliza o início
de uma nova vida no Senhor.
Assim como Noé e sua família se depararam com uma nova vida e um novo mundo, da
mesma forma, nossa vida de ressurreição traz consigo novas realidades, pois tudo o que tem
origem na velha criação, em Adão, está morto e, em seu lugar, surgem as realidades do Espírito,
da nova criação.
I. A SAÍDA DA ARCA
1. O tempo da saída da arca
Disse o Senhor a Moisés e a Arão na terra do Egito: Este mês vos será o
principal dos meses; será o primeiro mês do ano. (Ex 12:1-2)
No texto de Gênesis, lemos que a arca pousou em terra no dia 17 do sétimo mês. E, em
Êxodo, lemos que, a partir da Páscoa, o sétimo mês tornou-se o primeiro.
Jesus morreu na páscoa, ou seja, no décimo quarto dia do mês de abibe (Ex 12.6; Jo 18:28).
Assim, sua ressurreição aconteceu no dia 17 do sétimo mês (que na verdade tornou-se o pri-
meiro). A arca pousou no monte Ararate no exato dia da ressurreição de Cristo, o que indica
seu sentido espiritual.
É importante lembrarmos também que saíram oito pessoas da arca e, na Palavra de Deus, o
número oito simboliza a ressurreição, aponta para um novo começo.
Ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a janela que fizera na arca e soltou
um corvo, o qual, tendo saído, ia e voltava, até que se secaram as águas
de sobre a terra. Depois, soltou uma pomba para ver se as águas teriam
já minguado da superfície da terra; mas a pomba, não achando onde
pousar o pé, tornou a ele para a arca; porque as águas cobriam ainda a
terra. Noé, estendendo a mão, tomou-a e a recolheu consigo na arca.
Esperou ainda outros sete dias e de novo soltou a pomba fora da arca. À
tarde, ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim
entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra. Então,
esperou ainda mais sete dias e soltou a pomba; ela, porém, já não tornou
a ele. (Gn 8:6-12)
Após a ressurreição, temos uma nova vida, a vida de ressurreição que, naturalmente, só pode
ser vivida na Igreja, ou seja, na comunidade daqueles que passaram da morte para a vida.
Sendo assim, temos, na Igreja, dois tipos de pessoas representados por dois animais: o corvo
e a pomba. Eles simbolizam os dois tipos de crentes que são enviados para o mundo julgado
por Deus.
a. O corvo
O corvo simboliza os crentes carnais que voltam ao mundo julgado por Deus. Por amarem
o mundo, eles vão e não retornam, como Paulo nos mostra através do exemplo de Demas.
A SAÍDA DA ARCA 121
b. A pomba
A pomba representa os crentes espirituais que permanecem na Igreja. Ela sempre voltava
para a arca e, certo dia, chegou com um ramo tenro de oliveira, que simboliza o Espírito.
Cristãos cheios do Espírito Santo também saem para o mundo, mas, além de sempre voltarem
para a arca, eles se alimentam do ramo tenro de oliveira, pois têm prazer no que é do Espírito.
O altar significa, primariamente, consagração a Deus. Aquilo que agrada a Deus é a nossa
vida no altar. Quanto mais fazemos algo para nós mesmos, quanto mais trabalhamos para nós
mesmos, mais nos sentimos insatisfeitos. Todavia, encontramos satisfação quando fazemos algo
somente para Deus.
Quando sabemos que somos amados por Deus, que Ele nos aceita incondicionalmente e
tem planos bons para nós, somos verdadeiramente felizes. E essa felicidade agrada ao Senhor.
Contudo, Ele não nos ama porque merecemos, mas por causa de Cristo, em quem, agora,
estamos inseridos.
Quando não sentimos o amor de Deus por nós, vivemos com medo, nos sentindo devedores, e
não vivemos a plenitude da vida de ressurreição. Só podemos ter vida abundante quando estamos
certos de que Deus aspirou o cheiro suave do sacrifício de Jesus e ficou contente conosco.
A maneira mais prática de sabermos se estamos ou não agradando a Deus é vendo se estamos
felizes. Quando estamos felizes, Deus também está; se estamos descontentes Deus também está.
O segredo de afastar a maldição é obedecer e agradar a Deus. Ele mesmo disse que nunca
mais amaldiçoaria a terra por causa do homem.
Infelizmente, muitos de nós, por falta de entendimento, somos enganados e não vivemos a
vida abundante que Deus nos dá após o novo nascimento. Há aqueles que, estando livres, vi-
vem como escravos, podendo caminhar, vivem como se estivessem acorrentados, estando sãos,
vivem como se fossem doentes e não desfrutam da plenitude da nova vida.
A alternância das fases é uma benção para nós. A maldição seria uma vida só de verão ou de
inverno, só de dia ou noite, ou, ainda, uma vida só de semeadura ou de ceifa. Precisamos passar
por situações de seca e de chuvas, por tempestades e calmarias, por tempos fáceis e difíceis, a
A SAÍDA DA ARCA 123
fim de crescermos e sermos renovados por Deus. Assim é na vida natural e também na espiri-
tual. As adversidades, muitas vezes, nos mostram verdades a respeito de Deus que ainda não
conhecíamos, nos levam a ter experiências com Ele que não seriam possíveis em circunstâncias
mais amenas.
Uma borboleta, por exemplo, só desenvolve e fortalece suas asas através do esforço que
precisa fazer para abrir e sair do casulo. Se tentarmos poupá-la disso, certamente não voará. Da
mesma forma, se evitarmos as dificuldades, não amadureceremos e, por isso, seremos incapazes
de cumprir o propósito de Deus para nós.
No princípio Deus deu essas mesmas ordens para Adão. Noé novamente as recebe e cumpre,
mas o cumprimento final vem somente conosco, a Igreja. Adão e Noé eram alma vivente e
geravam filhos naturais. Mas nós, hoje, somos espírito vivificante e devemos gerar filhos espi-
rituais semelhantes a Jesus. Somos uma nova raça que precisa crescer, se multiplicar, sujeitar e
dominar sobre a terra.
Disse também Deus a Noé e a seus filhos: Eis que estabeleço a minha
aliança convosco, e com a vossa descendência, e com todos os seres
viventes que estão convosco: tanto as aves, os animais domésticos e os
animais selváticos que saíram da arca como todos os animais da terra.
Estabeleço a minha aliança convosco: não será mais destruída toda car-
ne por águas de dilúvio, nem mais haverá dilúvio para destruir a terra.
(Gn 9:8-12)
As pessoas poderiam temer um novo dilúvio a cada vez que o céu escurecesse. Assim, para
não dar espaço a esse temor, como garantia, Deus fez com eles uma aliança, dizendo que as
águas da morte não virão novamente.
Muitos de nós ainda vivemos debaixo do medo de outro dilúvio, da queda espiritual.
Estamos de pé, mas tememos cair no futuro. Porém, estamos debaixo da aliança – não mais a
noaica, mas a nova aliança em Cristo Jesus. Não precisamos temer coisa alguma. Deus é abso-
lutamente fiel à sua Palavra.
Não podemos viver outra vez atemorizados. Deus deseja que desfrutemos de vida e de paz.
124 GÊNESIS
Disse Deus: Este é o sinal da minha aliança que faço entre mim e vós e
entre todos os seres viventes que estão convosco, para perpétuas gerações:
porei nas nuvens o meu arco; será por sinal da aliança entre mim e a terra.
Sucederá que, quando eu trouxer nuvens sobre a terra, e nelas aparecer o
arco, então, me lembrarei da minha aliança, firmada entre mim e vós e
todos os seres viventes de toda carne; e as águas não mais se tornarão em
dilúvio para destruir toda carne. O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me
lembrarei da aliança eterna entre Deus e todos os seres viventes de toda
carne que há sobre a terra. Disse Deus a Noé: Este é o sinal da aliança
estabelecida entre mim e toda carne sobre a terra. (Gn 9:12-17)
O arco íris é o símbolo da fidelidade de Deus, por isso, ao redor de Seu trono, há um arco
íris, como vemos em Apocalipse:
Isso significa que o trono de Deus é edificado sobre sua Palavra e sobre sua fidelidade, pois
Ele não se esquece de Sua aliança.
Após o dilúvio, Noé tornou-se o patriarca, o homem mais velho, experiente e a maior auto-
ridade sobre seus descendentes. Ele tornou-se o líder, mas, por descuido, cometeu uma falha,
embriagando-se e ficando nu em sua tenda.
A SAÍDA DA ARCA 125
Aqueles que estão em posição de liderança, devem estar sempre atentos, pois, quanto mais
Deus lhes faz prosperar, maior a tendência à indisciplina e, por causa dela, muitos não alcan-
çam a plenitude do que o Senhor tem para eles.
Na verdade, o sucesso é mais perigoso que o fracasso, pois, como disse Salomão, onde há
luto, se medita a respeito da vida e da morte. No fracasso, temos a oportunidade de buscar
ao Senhor, aproximando-nos dEle. Mas, no sucesso, é fácil nos esquecermos de Deus e de
nossas responsabilidades.
Noé ficou nu fisicamente, simbolizando uma falha espiritual, e sabemos que, uma vez que
o homem caiu, não pode mais voltar à posição anterior. No Éden, Adão estava nu, mas após
a queda, teve que cobrir-se e, mesmo com a redenção operada por Jesus, o homem não pode
voltar à sua condição original. Hoje, precisamos de cobertura, como lemos em Gálatas: “...
porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes.” (Gl 3:27), e Paulo
nos exorta a não comparecermos nus perante o Senhor. Jesus Cristo é nossa vestimenta.
Devemos ter muito cuidado para não expor as falhas daqueles a quem Deus constituiu
como autoridade, pois não há autoridade que não seja constituída por Ele. Afrontá-la é como
afrontar o próprio Deus.
Cam não mentiu a respeito do pai, mas foi amaldiçoado porque o expôs. Sem e Jafé foram
abençoados porque honraram Noé, cobrindo-o.
14
A TORRE DE BABEL
GÊNESIS 11
Na primeira queda, o homem deixou de usar o espírito. Adão e Eva não se rebelaram
diretamente contra Deus, mas perderam a presença de Deus e tornaram-se conscientes. O
resultado dessa consciência foi que Adão se sentiu envergonhado – o que, de certo modo,
é um bom sinal, pois, ficar envergonhado diante do pecado ainda é resquício de algo bom
dentro do espírito humano. Entretanto, isso significa que o homem caiu da presença de
Deus para sua consciência.
Na segunda queda, o homem caiu de sua própria consciência e tornou-se da alma. Caim não
se envergonhou do que havia feito e não temeu a Deus, apenas teve medo de outros homens.
Na terceira queda, o homem se corrompeu totalmente e a Palavra de Deus diz que ele
tornou-se inteiramente carnal, não possuindo nenhuma restrição moral. O homem se afastou
ainda mais de Deus.
Todo homem caído se encontra em um destes quatro níveis em relação a Deus. Não que haja al-
gumas pessoas mais perto de Deus do que outras, mas existem pessoas mais corrompidas que outras.
I. A REBELIÃO
A partir da quarta queda, Satanás começou a edificar sua obra. Babel, na verdade, é uma
semente de edificação maligna iniciada em Gênesis e desenvolvida por toda a história bíblica;
seu espírito, sua mentalidade, atitudes e teologia continuam até hoje.
Ao longo do tempo, Babel se tornou a cidade celeiro do Egito, onde o povo de Israel foi
escravizado; depois, tornou-se Babilônia, cujo rei, Nabucodonosor, saqueou o templo de
Jerusalém, e, por fim, culminará na grande Babilônia descrita em Apocalipse.
Do mesmo modo, a edificação de Deus também se iniciou a partir desse ponto. Antes, Ele
tinha apenas homens isolados, como estrelas no firmamento. Porém, depois desses acontecimen-
tos, com o chamado de Abraão, Ele começará a construir uma nação, irá edificar seu tabernáculo,
enviar o Messias e estabelecer Sua Igreja, até que tudo culmine na Nova Jerusalém celestial.
Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens,
mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras
que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a
fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermé-
dio de Jesus Cristo. (1Pe 2:4-5)
Jesus disse que ele é a pedra angular e que a Igreja, também constituída de pedras, é edificada
sobre Ele. A Nova Jerusalém é edificada com pedras preciosas.
Pedras e tijolos têm significados diferentes: tijolos simbolizam a obra do homem, pedras
simbolizam a obra de Deus. Pedras são feitas e transformadas por Deus, mas tijolos são feitos
pelo homem. Babel foi construída com tijolos e, as cidades-celeiros de Faraó também (Ex 1:11,
14a). Isto nos mostra que as pedras representam uma obra que é de Deus, e os tijolos, o esforço
humano e a obra do inimigo.
Cuxe gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra. Foi valen-
te caçador diante do Senhor; daí dizer-se: Como Ninrode, poderoso caça-
dor diante do Senhor. O princípio do seu reino foi Babel... (Gn 10.8-10)
Babel foi construída por Ninrode, cujo nome significa “rebelião” e lendas a seu respeito
contam que ele estimulava as pessoas a se rebelarem contra Deus – exatamente o que fará a
religião do anticristo descrita no livro do Apocalipse.
Babel se desenvolveu até tornar-se a grande Babilônia em Apocalipse e sua construção revela
diversos princípios malignos.
a. A origem da idolatria
Foi em Babel que surgiu o emblema idólatra da mãe com o bebê no colo. Segundo a histó-
ria, a estátua representava Semíramis, esposa de Ninrode que, depois da morte do marido, teve
um filho que disse ser a encarnação dele como messias. Essa invenção babilônica espalhou-se
por todo o mundo: no Egito era Ísis e Horus; na Índia, Isi e Iswara; em Roma, Fortuna e
Júpiter; na Grécia eram Ceres e Pluto, e estavam presentes também no Tibete, China e Japão.
Infelizmente, foi adotada também por cristãos, como a Igreja Católica.
130 GÊNESIS
As lendas a respeito de Ninrode sustentam que ele se tornou invencível e convenceu as pes-
soas a não mais dependerem de Deus, mas de si mesmas. Também de acordo com a lenda, ele
temia o nascimento de um líder que levasse o povo de volta para Deus. Então, à semelhança de
Faraó e Herodes, ordenou a matança de crianças. A tradição judaica diz que ele queria impedir
o nascimento de Abraão (História dos Hebreus, de Flávio Josefo).
Devemos ter cuidado para não deixarmos que a vaidade nos leve a nos gloriarmos em nossas
próprias obras, pois o Senhor não permite que obras assim permaneçam, pelo próprio bem
de quem as empreende. Basta ver como Deus trata os grandes ministérios em que o nome do
homem está mais em evidência que o dEle.
Ainda hoje, esta é a vontade de Deus para a Igreja: que ela se multiplique e espalhe, levando
o evangelho por onde for.
II. O RESULTADO
1. Dispersão
O primeiro resultado da rebelião contra Deus foi a dispersão. Por um lado, foi um juízo
divino, mas por outro, foi o estabelecimento da vontade primária de Deus.
A TORRE DE BABEL 131
A igreja primitiva também foi dispersa por Deus como meio de cumprir Seu propósito.
Entretanto, é melhor obedecermos a Deus do que estarmos sob sua disciplina. No final, a
vontade de Deus sempre será feita.
2. Confundidos em línguas
O segundo resultado do juízo e da maldição é a confusão das línguas.
O conceito de línguas pode ser entendido como articulação e expressão de nossos conceitos.
A vontade de Deus é que na Igreja haja uma única forma de falar. Falar a mesma coisa não é
algo ruim, antes, é sinal de bênção de Deus.
Não é por acaso que a descida do Espírito Santo, no Pentecostes, teve como sinal o falar em
línguas. Em Babel houve confusão, mas em Pentecostes houve luz e comunicação. Em Babel
Deus desceu para julgar; em Pentecostes, Ele veio para nos encher e abençoar. Em Babel os
homens se espalham por não se entenderem. Em Pentecostes os homens foram reconciliados
uns com os outros. Onde há o Espírito Santo de Deus, há comunicação genuína não apenas
na mente, mas no coração.
Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos
a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente
unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer. (1Co 1:10)
Por causa da unidade, não haveria limites para as intenções dos edificadores de Babel. E isso
também pode acontecer com a Igreja do Senhor. As portas do inferno não poderão prevalecer
sobre uma igreja em unidade e edificada sobre Jesus Cristo.
Capítulo
15
O DEUS DE ABRAÃO, ISAQUE E JACÓ
GÊNESIS 12
Ao se apresentar a Moisés, Deus usou como “sobrenome” Abraão, Isaque e Jacó. O Senhor
Jesus citou esse mesmo versículo no Novo Testamento para afirmar que Deus não é Deus de
mortos, mas de vivos (Mt 22:32; Mc 12:26; Lc 20:37)
Além disso, o Senhor disse que veríamos Abraão, Isaque e Jacó no reino:
Ao falar do reino, o Senhor não mencionou nenhum outro nome, mostrando que Abraão,
Isaque e Jacó ocupam um lugar especial na Bíblia.
Abraão, Isaque e Jacó ocupam essa posição tão especial na Bíblia porque Deus quer separar
um grupo de pessoas para estar sob Seu nome e torná-los Seu povo.
O tratamento que esses três homens tiveram e as experiências pelas quais passaram resulta-
ram no povo de Deus. Portanto todas as experiências de Abraão, Isaque e Jacó são as experiên-
cias que todo o povo de Deus deve ter.
O nome de Deus está ligado à nação de Israel e ao nome desses três homens. Sendo Deus
um ser triuno ele necessita de três pessoas para representá-lo: Abraão simboliza a obra do Pai;
Isaque, a obra do Filho, e Jacó simboliza a obra do Espírito Santo. Por isso, Deus é Deus de
Abraão, Isaque e Jacó.
Além disso, cada um desses homens representa três diferentes princípios espirituais. Portanto,
todo o povo de Deus precisa ter em si o elemento de Abraão, o de Isaque e o de Jacó. Sem tais
elementos, não podemos ser o povo de Deus.
Ter somente a experiência de Abraão não é suficiente, porque Ismael também vem de Abraão.
Também não é suficiente dizer que temos a experiência de Abraão e Isaque, porque Esaú
também veio de Isaque.
Somente podemos ser povo de Deus se tivermos a experiência completa de Abraão, Isaque
e Jacó.
1. ABRAÃO
A raiz do nome Abraão é “Ab” que significa “pai”. A lição que ele aprendeu foi ver Deus
como Pai – aquele que origina todas as coisas. Conhecer a Deus como Pai significa aprender
que tudo vem dEle.
Todos nós precisamos compreender que não iniciamos coisa alguma. Quando conhecemos
a Deus como Pai, a iniciativa humana se vai naturalmente. Quando nos envolvermos em algu-
ma obra, precisamos saber se foi Deus quem a iniciou, para que não corramos o risco de passar
à Sua frente e fazer algo que não O agrade.
Abraão não iniciou coisa alguma. Foi Deus quem iniciou. Ele nunca havia pensado em sair;
foi Deus quem o chamou e o trouxe do outro lado do rio Eufrates (Gn 12:1-5). Abraão não
foi voluntário para ir à terra que mana leite e mel. Quando foi chamado, nem sabia para onde
estava indo.
Quando Deus chama, a posição do homem é secundária e tudo o que ele tem a fazer é
obedecer. Um voluntário escolhe o que, onde, quando e como fazer algo, mas a obra de Deus
O DEUS DE ABRAÃO, ISAQUE E JACÓ 135
não pode ser feita assim. Ela é realizada por homens chamados e comissionados por Ele para
cumprirem integralmente Sua vontade e Seu propósito.
Porém, o chamamento não se destina apenas à nossa vida ministerial; ele começa pela nossa
conversão. Estávamos mortos em nossos pecados, mas Deus nos escolheu e chamou para a
salvação, para nos dar vida e nos levar para o reino de Seu Filho.
Quando sabemos que Deus é Pai, não nos sentimos tão confiantes em nossa própria força
nem dizemos que podemos fazer algo por nós mesmos. Abraão não podia iniciar nada; até
mesmo seu filho foi dado por Deus.
Abraão conheceu a Deus como Pai. Porém, não com um conhecimento meramente doutri-
nário e, sim, aquele que nos leva a confessar que somente Deus é a fonte de tudo.
Sem passarmos pela experiência de chamamento de Abraão, não podemos ser povo de Deus.
A primeira lição que temos de aprender é que nada podemos fazer, pois tudo depende de Deus.
Ele é o Pai e iniciador de tudo.
2. ISAQUE
Isaque é o filho da promessa (Gl 4:22-23), mas era um homem simples, comum. Não era
como seu pai, Abraão, que fora chamado de Ur dos Caldeus como pioneiro, nem como Jacó,
que passou por muitos tratamentos de Deus e cuja vida foi cheia de dificuldades. Toda a vida
de Isaque foi um desfrute da herança de seu pai. Essa foi sua experiência.
A lição que Isaque nos ensina é que nada temos além daquilo que herdamos do Pai.
É impossível ter a experiência de Isaque sem passar pela de Abraão. Por um lado, precisamos
ser chamados, mas também precisamos experimentar receber graciosamente o que o Pai nos dá.
Aos olhos de Deus, somos apenas aqueles que recebem.
Isaque não realizou obra alguma. Tudo o que tinha, recebeu por herança, e tudo o que fez
foi desfrutar. Até sua esposa foi escolhida por seu pai e levada a ele. É verdade que Isaque cavou
alguns poços, mas mesmo estes haviam sido primeiramente cavados por seu pai:
Se tudo o que temos foi conquistado por nosso próprio braço, se não desfrutamos da graça
de Deus, então não podemos ser Seu povo. Tudo o que temos, recebemos dEle: a salvação, a
vitória, a justificação, a santificação, o perdão, a liberdade...
136 GÊNESIS
Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas rece-
bido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras
recebido? (1Co 4:7)
3. JACÓ
Mesmo sabendo que tudo vem do Pai e que nossa vida é uma questão de receber, ainda assim
tentamos fazer e conquistar coisas pelo nosso esforço. Tentamos fazer coisas por nós mesmos.
Isto mostra que o princípio de Jacó está em nós. A atividade da carne e o poder da alma, ou
seja, nossa vida natural, ainda estão presentes e tentam tomar o controle.
Sabemos doutrinariamente que Deus é o iniciador de tudo, contudo na prática nós mesmos
começamos muitas coisas. Nossa vida natural ainda precisa ser tratada. Se podemos ou não
seguir o caminho do Pai ou receber da herança do filho, tudo depende de aceitarmos ou não a
disciplina do Espírito Santo.
Abraão nos fala sobre o Pai, Isaque nos fala sobre o Filho, mas Jacó nos fala do Espírito
Santo. Não que Jacó seja o Espírito Santo, mas suas experiências representam a obra do Espírito
Santo em nós.
A história de Jacó tipifica a disciplina do Espírito Santo. Vemos nele uma pessoa astuta cheia
de maquinações e enganos. Sua característica predominante era a esperteza. Ele podia enganar
a qualquer um: enganou seu pai, seu irmão e seu tio. Mas, ao mesmo tempo, vemos também
uma pessoa que o Espírito Santo disciplinou passo a passo.
Jacó segurou o calcanhar de seu irmão, mas ainda assim nasceu depois dele. Enganou seu
irmão com uma sopa de lentilhas por causa da bênção da primogenitura, mas foi ele quem teve
de fugir de casa. Recebeu a bênção no lugar de seu irmão, mas foi ele quem se tornou um an-
darilho. Quando morou na casa de Labão, Jacó quis casar-se com Raquel, mas precisou casar-se
primeiro com Lia. Por vinte anos o calor o consumiu de dia e a geada, de noite. (Gn 31:40).
Em Peniel Jacó aprendeu a lição mais importante de sua vida. Quando estava face a face com
Deus, o Senhor lhe tocou na articulação da coxa esquerda e Jacó se tornou manco (Gn 32:25).
A articulação da coxa é a parte mais forte do corpo humano e isso significa que Deus tocou na
parte mais forte de sua vida natural.
Antes de ser manco, era Jacó, mas depois, passou a ser Israel (Gn 32:28). Daquele dia em
diante, ele não era mais o suplantador, mas alguém que fora suplantado. Antes daquele dia, ele
enganara seu pai, mas agora era enganado pelos filhos (Gn 37:28-35).
No fim de sua vida, Isaque foi enganado por Jacó, pois vivia baseado no que era natural.
Jacó, porém, após ser tratado pelo Espírito, chegou à velhice com pleno discernimento espiri-
O DEUS DE ABRAÃO, ISAQUE E JACÓ 137
tual. Suas experiências foram a disciplina do Espírito Santo. Elas foram provações pelas quais
um homem esperto tem de passar.
Jacó fora tratado por Deus na sua esperteza. Ele derramou muitas lágrimas e sua força na-
tural foi despojada por Deus. É este tipo de experiência que nos faz povo de Deus. Quando o
Espírito Santo nos disciplina não ousamos mais confiar em nós mesmos.
Abraão nos mostra o Pai. Mostra-nos que tudo vem de Deus e que não podemos ter nada
por nós mesmos.
Isaque nos mostra o Filho. Entendemos que recebemos tudo por herança como filhos e que
a nossa posição é de receber.
Jacó nos mostra a disciplina do Espírito Santo. Como nos é fácil agir sem orar. Como é fácil
desenvolvermos autoconfiança separados de Deus.
Depois que Deus trata conosco, nos tornamos mancos. Ser manco não significa ser incapaz
de andar. Significa apenas que cada vez que andamos, percebemos nossa fraqueza e incapacida-
de. Esse é um traço na vida daqueles que conhecem o Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Capítulo
16
O CHAMAMENTO DE ABRAÃO
GÊNESIS 12
O objetivo de Deus é ganhar um grupo de pessoas que seja chamado pelo Seu nome e que
seja seu povo. Para alcançar esse objetivo, Ele primeiro trabalhou em Abraão, depois em Isaque
e, então, em Jacó.
As experiências de Abraão, Isaque e Jacó são as experiências básicas de todo o povo de Deus.
A genealogia de Jesus começa com Abraão. O Novo Testamento começa com ele. O próprio
Senhor Jesus falou muitas vezes a respeito dele. Quando disse “antes que Abraão existisse, Eu
Sou” (Jo 8.58), Ele tomou Abraão como o ponto de partida, não Adão.
Embora Abel, Enos, Enoque e Noé tenham sido bons homens, eles, contudo, foram pessoas
abençoadas individualmente. Foram como boas pedras no meio de uma corrente pecaminosa.
Mas, com Abraão, Deus começou a mudar seu curso. Através dele as famílias da terra podem
140 GÊNESIS
ser abençoadas, pois através dele vieram a libertação e o redentor. A redenção foi cumprida por
Jesus, mas o ponto de partida foi Abraão.
É interessante que todos aqueles homens de Deus que vieram antes de Abraão receberam
graça diante de Deus, mas Abraão foi chamado para transmitir graça. Uma coisa é ser chamado
para receber graça; outra é ser chamado para ser instrumento de graça.
Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa
de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande
nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!
Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoa-
rem; em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12:1-3)
O propósito de Deus ao chamar Abraão foi restaurar o homem de sua condição pecaminosa
Na escolha de Abraão estavam incluídos três aspectos: introduzi-lo na terra que Deus lhe
mostraria, fazer dele uma grande nação que se tornaria o povo de Deus e, por intermédio dele,
abençoar todas as famílias da terra.
Então, Josué disse a todo o povo: Assim diz o Senhor, Deus de Israel:
Antigamente, vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitaram
dalém do Eufrates e serviram a outros deuses. (Js 24:2)
Abraão e sua família eram idólatras, mas, Deus, em Sua soberania, resolveu escolhe-lo. Isso
nos mostra que a escolha do Senhor não se baseia no mérito humano. Para Ele, não importa de
onde viemos ou quão pecadores somos. Ele é soberano e chama a quem quer.
Deus tirou Abraão da idolatria e iniciou, através dele, um novo começo para que Seu povo
fosse formado e Sua Igreja fosse estabelecida.
Do lado negativo Deus chamou Abraão para fora daquela terra para tirá-lo da idolatria.
Pelo lado positivo Deus queria estabelecer uma base a partir da qual um povo fosse gerado
para reivindicar a terra para Si, para exercer Sua autoridade e para expressar Sua glória.
Em Mateus 6, Jesus ensinou seus discípulos a orarem pedindo que o reino de Deus viesse,
ou seja, que a autoridade e a vontade do Senhor fossem feitas sobre a terra.
O CHAMAMENTO DE ABRAÃO 141
O seu alvo com esta nação era ter um caminho no meio dos homens. Deus queria um povo
que fosse Seu testemunho na terra – Ele dá muito valor ao testemunho. Pessoas são salvas
quando testemunham e confessam que pertencem a Deus.
Abraão era gentio, mas Deus o visitou e formou um povo a partir dele. Inicialmente, era o
povo de Israel, mas, hoje, são todos aqueles que crêem. As promessas feitas a Abraão se cum-
priram na Igreja.
O chamado que Deus fez a Abraão naquele tempo é o mesmo que Ele faz a nós hoje: somos
chamados a ser instrumentos dEle para abençoar. Assim, para que Seu propósito seja cumpri-
do, é preciso haver homens que atendam a esse chamado.
Abraão precisou passar por tantas provas porque essa era a única maneira de outros recebe-
rem sua ajuda. Em Gálatas lemos que os da fé é que são filhos de Abraão, gerados dele.
Toda obra espiritual é baseada no princípio da geração e não da pregação. Filhos são
gerados por aquilo que é vivo e vida em nós. Pregar sem gerar é inútil. As pessoas podem
entender as doutrinas e ainda assim irem para o inferno, por isso, não adianta informação
sem transformação.
Somente a testificação pode gerar filhos para Deus, pois quem testifica fala de algo que é
vivo dentro de si e não de doutrina. É inútil pregar aos outros algo que não temos em nós
mesmos. Só geramos quando contagiamos os outros com a vida de Deus que está em nós.
142 GÊNESIS
Depois de criar Adão, a primeira ordem que recebeu foi para ser fecundo e encher a terra.
Só depois deveria dominá-la. Isso nos mostra que Deus não criou o homem para trabalhar,
mas para gerar outros como ele. Adão era imagem e semelhança de Deus, e deveria gerar filhos
assim. Do mesmo modo, o desejo de Deus para nós, hoje, é que geremos muitos filhos seme-
lhantes a Jesus.
Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma viven-
te. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro o
espiritual, e sim o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem, for-
mado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o pri-
meiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos;
e, como é o homem celestial, tais também os celestiais. (1Co 15:45-48)
E sabemos que o propósito de Deus não mudou, mas, após a queda, o homem decidiu fazer
obras em vez de gerar filhos. Após o dilúvio, Deus deu a mesma ordem a Noé, mas ele também
não obedeceu. Até que a desobediência foi evidenciada na construção de Babel.
Então, Deus chamou Abraão e, em vez de apenas lhe abençoar, como fez com os outros,
ordenou que ele fosse uma bênção para que, nele, todas as famílias fossem abençoadas, pois
Deus mesmo faria dele uma grande nação.
Porém, a obra de Deus não acontece baseada no esforço humano, e Abraão lutou a vida toda
para gerar um filho e cumprir o propósito do Senhor.
Deus levou Abraão por caminhos totalmente contrários aos que ele, naturalmente, es-
peraria trilhar. Talvez ele quisesse ir para Babel edificar algo ainda maior que a torre para
superar aquela obra maligna, mas, em vez disso, o Senhor o levou a sair da cidade e habitar
em tendas, como peregrino.
O mundo caminhava em uma direção, mas Deus levou Abraão para o rumo oposto. Pela
fé, ele não habitou em uma cidade sem fundamentos, mas peregrinou à espera de uma cidade
fundamentada e edificada por Deus, a Nova Jerusalém.
O CHAMAMENTO DE ABRAÃO 143
Abraão precisava gerar filhos para que a nação fosse formada, mas não conseguia. E Deus
conhecia sua limitação. Porém, isso aconteceu para que a glória pela realização da obra fosse
exclusivamente de Deus e não dele, para que não houvesse dúvida de que Deus havia operado,
não o homem. Tudo vem de Deus e é Ele quem nos dá os filhos.
Isso também pode ser visto no Novo Testamento através da vida de Jesus. Durante Seu
tempo na terra, tudo o que Ele fez foi para gerar filhos.
O apóstolo Paulo também tinha o mesmo encargo para gerar e, depois, cuidar dos filhos que
o Senhor lhe dava a fim de que crescessem e se reproduzissem.
Então, Josué disse a todo o povo: Assim diz o Senhor, Deus de Israel:
Antigamente, vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitaram
dalém do Eufrates e serviram a outros deuses. (Js 24:2)
Precisamos entender a soberania de Deus. Foi Ele quem escolheu Abraão e não o contrário.
A primeira lição que Abraão precisou aprender é que tudo é iniciado por Deus.
a. O primeiro chamamento em Ur
Tomou Tera a Abrão, seu filho, e a Ló, filho de Harã, filho de seu filho, e
a Sarai, sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos cal-
deus, para ir à terra de Canaã; foram até Harã, onde ficaram. (Gn 11:31)
144 GÊNESIS
No primeiro chamado, Deus disse a Abraão para sair de sua casa e do meio de sua parentela,
mas Abraão obedeceu apenas a metade da ordem. Ele foi para Harã, mas levou consigo seus
parentes. Isto mostra que a fé de Abraão cresceu gradualmente e não foi forte desde o princípio.
O chamamento de Abraão não era uma questão de salvação e, sim, de ministério, por isso
Deus lhe ordenou que saísse de sua casa e de sua parentela. O chamamento de Noé foi para
salvação e livramento, por isso incluiu toda a família. Mas, quando a questão é o ministério, a
prioridade muda.
Apesar de Abraão crer e sair, sua resposta não foi completa, pois levou consigo alguns pa-
rentes e parou no meio do caminho. Como resultado, seus dias em Harã foram perdidos, dias
inúteis e de atraso.
Porém, Abraão não deixou para trás seus parentes e levou consigo Ló, seu sobrinho, de
quem precisou se separar mais tarde.
Apesar de a iniquidade ter se multiplicado na terra desde Adão, Deus agora estava se moven-
do para restaurar e salvar o homem. Tudo isso começou com o dia em que o Deus da Glória
apareceu a Abraão em Ur dos Caldeus. E seu segundo chamado nos mostra que uma vez que
Deus estabeleceu fazer algo, nada poderá impedi-lo.
Precisamos louvar a Deus pela sua imensa paciência, porque ele nunca desiste de nós. Abraão
não somente recebeu a aparição de Deus, mas foi incumbido da vontade de Deus.
Capítulo
17
ABRAÃO E A HERANÇA ALTAR E TESTE
GÊNESIS 1214
Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Tinha
Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã. Levou Abrão consigo a
Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam
adquirido, e as pessoas que lhes acresceram em Harã. Partiram para a terra
de Canaã; e lá chegaram. Atravessou Abrão a terra até Siquém, até ao car-
valho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra. Apareceu
o Senhor a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali
edificou Abrão um altar ao Senhor, que lhe aparecera. (Gn 12:4-7)
Quando Deus chamou Abraão, deu-lhe a visão do propósito estabelecido para sua vida.
Porém, é fácil esquecermos o que Deus quer fazer em nós e através de nós. Não devemos nos
enganar pensando que uma vez que temos a visão, tudo o mais estará resolvido e jamais a per-
deremos. Existem muitas coisas que podem turvar nossa visão espiritual.
Para mantermos a visão e nosso coração aquecido, necessitamos que Deus nos apareça várias
vezes e fale conosco, como fez a Abraão. A Palavra de Deus renova e mantém a visão. Também
precisamos ser testados para que a visão se firme dentro de nós. Três vezes Abraão edificou um
altar e três vezes foi testado.
146 GÊNESIS
O altar é usado na Bíblia como símbolo de uma atitude de adoração, de um coração volta-
do para adorar ao Senhor. Altar é um lugar de entrega e consagração, de reconhecimento do
senhorio de Deus sobre nós. O resultado dessa atitude é ouvir a voz de Deus. Onde há altar, o
Senhor fala, como fez com Abraão em cada um dos altares que edificou.
1º ALTAR – SIQUÉM
A palavra Siquém significa “ombro”, ou seja, um lugar de força, que suporta grandes pesos.
Portanto, o significado de Siquém é “força”, mostrando que a força de Deus está em Canaã.
Porém, o poder de Deus não é apenas miraculoso, é também o poder da vida que satisfaz, é
o suprimento completo do Senhor para nossa vida.
Em Siquém estava o carvalho de Moré, nome hebraico que significa “professor”. Isso nos
mostra que a força de Deus está no ensino que procede de vida, em Sua palavra. Quando temos
certeza do que o Senhor quer, não há espaço para dúvida em nosso coração. Portanto, o grande
segredo da nossa força é a convicção completa da vontade de Deus.
Mas, após a rendição, vem a provação, pois altar e teste caminham juntos, e Abraão preci-
sou ser testado para ver se ficaria ou não na terra que Deus havia lhe mostrado. Não mante-
mos a visão apenas com o altar, precisamos também ser testados e aprovados diante de Deus.
Infelizmente, Abraão foi reprovado.
Depois, seguiu Abrão dali, indo sempre para o Neguebe. Havia fome
naquela terra; desceu, pois, Abrão ao Egito, para aí ficar, porquanto
era grande a fome na terra. Quando se aproximava do Egito, quase ao
entrar, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei que és mulher de formosa
aparência; os egípcios, quando te virem, vão dizer: É a mulher dele e
me matarão, deixando-te com vida. Dize, pois, que és minha irmã, para
que me considerem por amor de ti e, por tua causa, me conservem a
vida. Tendo Abrão entrado no Egito, viram os egípcios que a mulher era
sobremaneira formosa. Viram-na os príncipes de Faraó e gabaram-na
junto dele; e a mulher foi levada para a casa de Faraó. Este, por causa
dela, tratou bem a Abrão, o qual veio a ter ovelhas, bois, jumentos,
escravos e escravas, jumentas e camelos. Porém o Senhor puniu Faraó
e a sua casa com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão.
Chamou, pois, Faraó a Abrão e lhe disse: Que é isso que me fizeste? Por
ABRAÃO E A HERANÇA - A LTA R E T E S T E 147
que não me disseste que era ela tua mulher? E me disseste ser tua irmã?
Por isso, a tomei para ser minha mulher. Agora, pois, eis a tua mulher,
toma-a e vai-te. E Faraó deu ordens aos seus homens a respeito dele; e
acompanharam-no, a ele, a sua mulher e a tudo que possuía. (Gn 12:20)
Houve fome na terra onde Abraão estava e ele resolveu ir para o Egito até que ela acabasse.
Em tipologia Bíblica, o Egito simboliza o mundo, portanto, podemos dizer que Abraão caiu
da fé.
c. Perdeu de vista o plano de Deus para sua vida (comparação vv. 2 e 12)
Abraão não creu que Deus poderia livrá-lo da fome. Se Deus disse que faria dele uma grande
nação, supriria suas necessidades e ele não morreria enquanto o propósito não se cumprisse.
E a queda de Abraão não afetou apenas ele, mas também os que estavam ao seu redor.
Abraão deveria ser instrumento de bênção, mas levou maldição à casa de faraó, o que deve ter
sido para ele motivo de grande tristeza e vergonha.
Por causa de Abraão, Deus feriu a faraó com grandes pragas. Podemos ser bênção ou mal-
dição para os outros. Deus queria que Abraão fosse uma bênção, mas certamente faraó não se
sentiu abençoado com a presença de Abraão.
Quando estamos fora do centro da vontade de Deus para nossa vida, nos tornamos um
problema para quem está perto de nós. Nossos filhos sofrem, nosso cônjuge sofre, nosso patrão
sofre, etc.
É o caso de Jonas. Deus o chamou para ir a Nínive, mas ele decidiu que era melhor ir para
Társis. No meio do caminho, houve uma grande tempestade e todos estavam a ponto de
morrerem por causa de Jonas. Deus queria que ele fosse uma bênção, mas não creio que os
passageiros daquele barco se sentissem abençoados com a presença dele ali.
148 GÊNESIS
Outro exemplo foi Davi. Deus queria que o rei fosse um instrumento de bênção para a
nação. Mas Davi resolveu tirar o censo do povo sem a ordem de Deus. Qual foi o resultado?
Muitos morreram por causa do pecado do rei. Davi deveria ser uma bênção, mas não creio que
o povo sentisse isso (2Sm 24).
Esse primeiro teste foi para saber o quanto Abraão valorizava a terra e se não cederia à pres-
são das necessidades.
Mas, Abraão caiu, cedendo à pressão, e o resultado de sua queda foi voltar para o lugar ini-
cial. Precisamos perceber que o tempo fora da vontade de Deus é um tempo perdido.
Precisamos voltar para a posição inicial, nos consagrando novamente no primeiro altar que
edificamos ao Senhor (13:3-4). Abraão voltou para a primeira posição:
Saiu, pois, Abrão do Egito para o Neguebe, ele e sua mulher e tudo o
que tinha, e Ló com ele. Era Abrão muito rico; possuía gado, prata e
ouro. Fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde pri-
meiro estivera a sua tenda, entre Betel e Ai... (Gn 13:1-3).
Outro ponto que, assim como a pressão das necessidades, também faz cair aqueles a quem
Deus chama é o fascínio do mundo. Ló, por exemplo, após se separar de Abraão, vendo que
a vida na cidade era muito mais fascinante que viver em tendas, foi armando tendas desde o
campo até alcançar Sodoma, onde habitou até que essas cidades foram destruídas (Gn 13:12).
Ainda hoje, todos os que são chamados por Deus devem estar atentos para que sejam aprovados.
2º ALTAR – BETEL
Fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até ao lugar onde primeiro
estivera a sua tenda, entre Betel e Ai, até ao lugar do altar, que outrora
tinha feito; e aí Abrão invocou o nome do Senhor. (Gn 13:3-4)
O nome hebraico “Betel” significa “casa de Deus”. Portanto, Deus nos chama para edificar-
mos Sua Casa, a Igreja. É a ela que nos consagramos.
Deus não está à procura de homens fortes e sozinhos, como Sansão, nem deseja que sejamos
um amontoado de pedras desorganizadas. A intenção de Deus é edificar um templo de pedras
vivas, a casa de Deus. O individualismo precisa ser atacado e destruído na Igreja, pois não
podemos ser Betel se andarmos em independência.
ABRAÃO E A HERANÇA - A LTA R E T E S T E 149
É interessante que o altar ficava entre Betel e Ai. Ai no hebraico significa “montão de ru-
ínas”. Podemos ter Betel onde as pedras estão edificadas ou Ai onde as pedras estão apenas
amontoadas. Sempre teremos diante de nós a carne e o espírito.
Também podemos dizer que Betel simboliza a Igreja e Ai aponta para o mundo. O altar é a
fronteira entre os dois reinos.
2º TESTE - A SEPARAÇÃO DE LÓ
Abraão foi testado para ver se tentaria reter a terra por sua força própria. Precisamos apren-
der a lição de confiar em Deus e não tentar reter na força aquilo que Ele nos prometeu.
Chegou um momento em que Abraão precisou se separar de Ló, pois o chamado foi para
Abraão, não para Ló.
Ló escolheu a melhor parte da terra, porém, Abraão não deixou de receber o que Deus havia
lhe prometido. Quando Deus tem algo para nós, não precisamos nos defender; Ele mesmo se
encarrega de fazer o melhor.
Depois que Abraão abriu mão, deixando que Ló ficasse com o melhor, Deus pôde lhe dizer
que, na verdade, toda a terra seria dada a ele e à sua descendência. Mesmo Ló usando uma par-
te, toda a terra era de Abraão. Este é um princípio espiritual válido para todos nós em todas as
épocas: aquilo de que abrimos mão, Deus nos dá; o que retemos, nós perdemos. É o princípio
da semeadura e da colheita aplicado à vida de Abraão.
3º ALTAR – HEBRON
A palavra hebraica “Hebrom” significa comunhão, e “Manre” significa força, saúde e unção
(gordura). Portanto, esse altar representa a comunhão da casa de Deus que nos leva a desfrutar
da força que vem da unção (gordura).
Cada um dos altares que Abraão edificou foi feito num lugar específico significativo. A ma-
neira de preservarmos a visão do chamado de Deus é edificando altares onde oferecemos nossa
vida como sacrifício e ouvimos a Deus.
Esses três altares são a definição de Canaã e a forma como Deus espera abençoar todas as
famílias da terra.
Sucedeu naquele tempo que Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar,
Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, fizeram guerra contra
Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra, contra Sinabe, rei
de Admá, contra Semeber, rei de Zeboim, e contra o rei de Bela (esta é
Zoar)... Tomaram, pois, todos os bens de Sodoma e de Gomorra e todo
o seu mantimento e se foram. Apossaram-se também de Ló, filho do
irmão de Abrão, que morava em Sodoma, e dos seus bens e partiram...
Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair trezentos e de-
zoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até
Dã. E, repartidos contra eles de noite, ele e os seus homens, feriu-os e
os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco. Trouxe de novo
todos os bens, e também a Ló, seu sobrinho, os bens dele, e ainda as
mulheres, e o povo. Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos
reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale
de Savé, que é o vale do Rei. Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão
e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse:
Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e
bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas
mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo. Então, disse o rei de Sodoma
ABRAÃO E A HERANÇA - A LTA R E T E S T E 151
Abraão não alimentou nenhuma queixa contra Ló por ele ter escolhido a melhor parte.
Também não pensou que aquilo era um castigo de Deus. Ao saber que seu sobrinho fora levado
cativo, Abraão se dispôs a livrar Ló do cativeiro. Isso mostra que aqueles que estão posicionados
em Hebron não guardam ressentimento e, assim, experimentam a vitória.
Depois da guerra, o Rei de Sodoma queria dar-lhe todo o despojo da guerra, mas Abraão
rejeitou. Ele havia aprendido a lição de que era Deus quem cuidava de sua vida e ele não pre-
cisava obter nada por meio de artifícios.
Depois que Abraão venceu a guerra, Melquisedeque veio ter com ele e esta é a primeira vez
que Deus é chamado de Deus que possui a terra e o céu. Foi então que Abraão passou no teste
e pôde se tornar, de fato, instrumento para trazer à terra o plano de Deus e Seu reino.
Capítulo
18
LÓ COMO SÍMBOLO DO CRENTE DERROTADO
GÊNESIS 12 A 14
A partir do capítulo 13 de Gênesis, encontramos a história de Abraão e Ló. Esses dois ho-
mens simbolizam dois estilos de vida: o homem carnal e o homem espiritual, o crente derrota-
do e o crente vencedor. Segundo a Bíblia, todos os crentes são vencedores; na verdade, mais que
vencedores. Mas, contraditoriamente, muitos vivem como derrotados. Legalmente, são donos
de uma grande herança, mas não usufruem dela.
Muitos crentes vivem uma vida cristã sem compromisso com o reino de Deus e, mesmo
assim, ainda se declaram vencedores. O fato de sermos salvos faz-nos legalmente vencedores,
mas precisamos manifestar essa vitória em nossa experiência. Traçando um paralelo entre a vida
de Abraão e de Ló, observamos o padrão de Deus para o crente vencedor. Tanto Abraão quanto
Ló eram homens de Deus e a vida deles representa, para nossos dias, grandes sinais proféticos.
Muitos de nós, em nossa vida cristã, ouvimos Deus por tabela, ou seja, Deus fala com um
irmão abençoado, e nós seguimos esse irmão, em vez de ouvirmos Deus diretamente. É mais
cômodo seguir o líder, o profeta ou o irmãozinho mais experiente. Não estou dizendo que
não devemos ouvir Deus através de nossos líderes. A questão é que os líderes deveriam apenas
confirmar aquilo que Deus já falou conosco. O crente vitorioso é aquele que aprendeu a ouvir
Deus e que faz a vontade divina. O derrotado, por sua vez, segue o líder, a multidão, a onda,
a moda...
Não há como alcançar uma vida de vitória se vivemos atrás de profetas, videntes ou algo pa-
recido. Eu creio em profecia, mas não creio que um crente deva ir atrás de um profeta para ou-
vir a Deus. Se agirmos assim, estaremos apenas espiritualizando o antigo costume de procurar
adivinhos ou cartomantes. Se Deus quer falar conosco através de um profeta, Ele certamente
mandará esse profeta até nossa casa. E, caso isso aconteça, o profeta apenas confirmará algo que
Deus já falou a nós, em nosso íntimo.
Não somos seguidores de homens, mas de Deus. O ponto central do evangelho é Cristo
dentro de nós; o Espírito Santo habita em nós e nos conduz a toda a verdade. Contudo, isso
não significa que devamos andar sozinhos. A vontade de Deus é que tenhamos comunhão com
outros irmãos e testifiquemos ou confirmemos uns com os outros a respeito do que Ele tem
nos falado.
Não haja contendas entre mim e ti, entre os meus pastores e os teus
pastores, porque somos parentes chegados [...] peço-te que te apartes de
LÓ C O M O S Í M B O L O D O C R E N T E D E R R O TA D O 155
mim; se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita,
irei para a esquerda (Gn 13:8-9).
Ló não buscou em Deus nenhuma orientação sobre qual direção deveria seguir – preferiu
confiar em seu bom senso. Olhou para as campinas verdejantes de um lado, e para a terra seca
e esturricada do outro. Para que lado ele decidiu ir? Certamente para aquele que lhe pareceu
melhor, do ponto de vista natural. Isso é andar pela vista, sem depender de Deus. Não pode-
mos condená-lo pela escolha feita. Muitos de nós também temos tomado decisões semelhantes,
simplesmente olhando para o campo mais verde. Ser crente não significa ser bobo e inconse-
quente, escolhendo sempre a pior opção. Todavia, os espertinhos não são mais bem sucedidos
por causa de sua esperteza.
Embora as circunstâncias pareçam óbvias, é preciso orar. Mesmo que pareça ser completa es-
tupidez não fazer um negócio lucrativo, é preciso ouvir Deus antes de tomar qualquer decisão.
Não devemos confiar em nossa capacidade própria. Não devemos confiar no natural, nem nos
deixar guiar pela lógica humana.
Ló andou pela própria vista e foi parar em Sodoma. Ele não foi para lá de uma vez, mas aos
poucos. Gênesis 13:12 diz que ele armava suas tendas de lugar em lugar, até chegar a Sodoma.
Tomamos uma decisão astuciosa hoje, uma mais esperta amanhã e, aos poucos, direcionamos
nossa vida para Sodoma. O resultado de confiar na força e no entendimento próprio é o pecado
de Sodoma.
O grande problema do cristianismo em nossos dias foi ter transformado a vida cristã numa
questão meramente moral. Deus não quer fazer de nós homens bons, simplesmente. Ele quer
fazer de nós homens que tragam a natureza divina para dentro nós mesmos. Não é uma questão
de saber o que é certo ou errado, mas de saber qual é a vontade de Deus. Diante de uma situa-
ção qualquer, podemos avaliar e concluir que nossa conduta não é pecaminosa, dolosa ou anti-
ética e, ainda assim, estarmos errados por não ser aquela a vontade do Senhor. O entendimento
próprio é um grande empecilho para uma vida vitoriosa. Jamais teremos vitória confiando em
nosso bom senso e inteligência.
O problema é que habitar em tendas, naqueles dias, fazia parte do mover de Deus. Por que
Abraão habitava em tendas? Hebreus nos dá a resposta:
Vencedores andam debaixo do mover de Deus; derrotados fazem o que lhes é mais confor-
tável. Escolhas são fundamentais, mas devem ser feitas de acordo com a vontade de Deus.
Habitando em tendas, Abraão estava assumindo uma atitude profética: mostrava sua fé e
esperança em Deus. Era também uma forma de não se contaminar com o mundo. Recentes
descobertas arqueológicas confirmam que cada cidade, naquela época, era consagrada a um
deus, e seus habitantes eram obrigados a adorá-lo. Talvez seja este o motivo de os patriarcas
terem habitado em tendas: era uma forma de testemunhar de Deus e rejeitar a idolatria. Se
desejarmos ser crentes vencedores, necessitamos, assim como Abraão, estar em harmonia com
o mover de Deus em nossos dias, ainda que, aos padrões do mundo, pareça algo ilógico.
Tudo aconteceu porque Ló estava no lugar errado, na hora errada. O entendimento próprio nos
leva para fora da vontade de Deus e, nessas circunstâncias, podemos sofrer perdas desnecessárias.
Não vemos Ló agradecendo a Abraão como o fizeram os outros reis ímpios. E o pior, ele
voltou a morar em Sodoma, pois já estava acostumado com o pecado da cidade.
Antes de Deus agir, Ele compartilha Seus planos. Mas com quem? Somente com o
crente espiritual.
Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma sem primeiro revelar
o seu segredo aos seus servos, os profetas. (Am 3:7)
Deus tem agido em nosso meio. Mas, quantos percebem o mover de Seu braço em nossos
dias? Há uma intensa agitação no mundo espiritual, mas muitos de nós estamos dormindo
tranquilamente como Ló, em Sodoma, à beira da destruição.
LÓ C O M O S Í M B O L O D O C R E N T E D E R R O TA D O 157
Mesmo depois de ouvir o que Deus faria àquela cidade, Ló ainda demorou a obedecer ao
Senhor e precisou ser arrastado para fora de Sodoma.
Ao destruir Sodoma, Deus lembrou-se de Abraão, e salvou Ló, ou seja, ele foi salvo pela
intercessão do homem espiritual. Deus salvou Ló por causa de Abraão.
O vencedor tem ampla entrada no céu, mas o crente derrotado vai como que arrastado.
Por outro, em Gênesis 19:30-38, lemos que Ló gerou Amon e Moabe. Dispensa comentá-
rios a forma incestuosa como Ló – com as próprias filhas – gerou esses filhos. Mais importante
é o fato de que, tanto a Amon quanto a Moabe, foi-lhes vedado o direito de fazer parte da con-
gregação de Israel (Dt 23:3). Em consequência disso, tornaram-se inimigos do povo de Deus
por todos os seus dias. Amon e Moabe apontam para o fruto da carne, podre e vergonhoso.
Que fim melancólico para um servo de Deus!
8. A MULHER DE LÓ
A esposa de Ló é a única mulher de quem Jesus mandou que nos lembrássemos (Lc 17:32).
Ela, assim como seu marido, não foi condenada junto com os ímpios de Sodoma, mas houve
algo nela que não a fez vencedora. A Bíblia diz que ela olhou para trás e se tornou em uma
estátua de sal.
Deus estava tirando-a de Sodoma para levá-la a um lugar seguro, assim como tirará os cren-
tes da terra e levá-los para a glória.
Jesus disse em Mateus 5:13 que todo crente vencedor deve ser como o sal da terra. Todavia,
tal sal pode vir a se tornar insípido. A mulher de Ló é um exemplo de um crente que se tornou
insípido, perdeu o sabor e tornou-se derrotado.
Olhar prá trás é se misturar com o mundo. Ela e sua família não participavam do pecado em
Sodoma, mas gostavam de ver, de apreciar de longe.
Capítulo
19
A ALIANÇA DE DEUS COM ABRAÃO
GÊNESIS 15
que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à es-
cravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei
a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas.
E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice.
Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a
medida da iniquidade dos amorreus. E sucedeu que, posto o sol, houve
densas trevas; e eis um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo que
passou entre aqueles pedaços. Naquele mesmo dia, fez o Senhor aliança
com Abrão, dizendo: À tua descendência dei esta terra, desde o rio do
Egito até ao grande rio Eufrates: o queneu, o quenezeu, o cadmoneu, o
heteu, o ferezeu, os refains, o amorreu, o cananeu, o girgaseu e o jebu-
seu. (Gn 15)
Para entendermos melhor a aliança entre Deus e Abraão, precisamos ter em mente toda a
história até então.
Deus projetou criar, na terra, alguém que fosse Seu reflexo para exercer domínio por Ele.
Fez, então, o homem refletindo Sua vida, natureza e glória. Contudo, esse homem cometeu
alta traição contra Ele, vendendo-se à escravidão do pecado e de Satanás.
Porém, Deus não desistiu e estabeleceu um plano: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a
tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3:15).
Passaram-se dois mil anos e Deus começou a por Seu plano em operação; um plano que viria
através de uma aliança de sangue.
Havia uma aliança entre Deus e Adão, mas ela foi quebrada pelo pecado e, onde há quebra
de aliança, a morte deve acontecer. Por isso, o cordeiro morreu no lugar do homem e sua pele
cobriu a nudez do homem.
A nova aliança feita por Jesus foi uma aliança de sangue. Na cruz, o que era nosso tornou-
se dele e o que lhe pertencia passou a ser nosso também. Ele tomou nossa morte e nos deu
Sua vida; trocou nossa condenação ao inferno pela salvação e um lugar no céu; tínhamos a
maldição, mas Ele se fez maldição em nosso lugar e nos abençoou com toda sorte de bênçãos
espirituais. Jesus é o Filho de Deus, mas, tornou-se Filho do Homem para que pudéssemos ser
feitos filhos de Deus.
A ALIANÇA DE DEUS COM ABRAÃO 161
Satanás sabe do poder que existe atrás de uma aliança (ou pacto) de sangue e ele também faz
alianças desse tipo no ocultismo e na maçonaria. Contudo, a aliança de sangue nasceu em Deus.
a. A troca da túnica
A túnica significa a vida e, quando um dos parceiros tira a túnica e dá ao outro, significa que
ele está lhe dando sua vida.
b. A troca do cinto
A troca do cinto significava: “dou-lhe a minha defesa e a minha proteção. Quem luta contra
você, luta contra mim”.
c. Cortar o cordeiro
O animal era morto, cortado ao meio, e as metades eram colocadas uma de frente para a
outra. As duas pessoas da aliança caminhavam por entre as partes, formando a figura de um
oito, que significa o infinito.
O símbolo é este: “eu morri, você morreu; começamos uma nova vida como parceiros de
aliança; e esta aliança é eterna”.
Os termos da aliança eram escritos e, em todos eles, havia duas partes: as bênçãos e as
maldições da aliança. Ambos os participantes conheciam esses termos e sabiam que o fato de
o outro não cumpri-los, não o eximia de manter-se fiel à aliança, pois esta não é um contrato
162 GÊNESIS
ou uma simples troca. Israel quebrou sua aliança com Deus por diversas vezes, mas o Senhor
permaneceu fiel a ela, pois Sua aliança com Seu povo é unilateral e a infidelidade deles não
muda em nada a fidelidade dEle.
Os céus são os céus do Senhor, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos
homens. (Sl 115:16)
Sendo, então, a terra dos homens, Deus não violaria esse direito e precisaria de um meio
legal para fazer isso. Portanto, um homem teria de ser instrumento de redenção.
Mas esse homem não poderia ser filho de Adão, porque a semente dele estava cheia de peca-
do, estava contaminada, e cada semente produz de acordo com a sua espécie. O redentor não
poderia ter pecado, não poderia ser escravo, pois um escravo não pode libertar outro. Contudo,
era preciso que fosse homem. Assim, Deus gerou Seu Filho através do Espírito Santo e o co-
locou em uma mulher para que Ele nascesse e entrasse no mundo da maneira correta, como
homem, como o bom pastor que entra pela porta das ovelhas.
Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco
das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. Aquele,
porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. Para este o
porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas
próprias ovelhas e as conduz para fora. (Jo 10:1-3)
No primeiro versículo, Jesus está falando de Satanás, pois o aprisco é a terra, as ovelhas são
os filhos dos homens e a porta de entrada na terra é o nascimento físico. Satanás não nasceu
aqui. Ele não é homem, não é filho do homem; ele subiu por outra porta, tomando emprestado
o corpo da serpente.
O pastor Jesus Cristo, porém, entrou na terra pela porta que o porteiro, o Espírito Santo, lhe
abriu. O Filho de Deus, que era desde o princípio, tornou-se homem para redimir a humanidade.
mou, Ele tinha Jesus em vista, Sua própria semente que viria através da descendência de Abraão
e por meio de quem Suas palavras se cumpririam e todas as famílias da terra seriam abençoadas.
Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente hu-
mana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma
coisa. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente.
Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como
de um só: E ao teu descendente, que é Cristo. (Gl 3:15-16)
Quando Deus olha para Abraão, está vendo Sua semente, que será homem e esmagará a
cabeça da serpente; esse é o plano de Deus.
Então, o Senhor entrou em aliança com Abrão e todos os rituais mencionados anteriormen-
te foram seguidos por ambos. Porém, em vez de dar-lhe a túnica, Deus disse a Abrão: “Não
temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande” (Gn 15:1). Desse
modo, Abrão entendeu que estava seguro, oculto em Deus; quem lutasse contra Ele estaria
lutando contra o Senhor.
Deus pediu que ele pegasse três animais da terra e duas aves – e Abraão não esperou nenhum
detalhe, porque ele sabia o que era uma aliança. Então, partiu os animais ao meio e colocou as
metades, uma defronte da outra. (Gn 15.9-11).
Abrão esperou por Deus para caminharem por entre as partes e, durante a espera, aves de
rapina chegavam para comer as carnes e ele as enxotava. Esse é o símbolo de Satanás, que quer
destruir a aliança, antes mesmo que ela aconteça.
E sucedeu que, posto o sol, houve densas trevas; e eis um fogareiro fume-
gante e uma tocha de fogo que passou entre aqueles pedaços. (Gn 15:17)
Enquanto Abrão dormia, Deus estabeleceu Sua aliança. Quando acordou, viu que, cami-
nhando por entre as partes, estavam duas pessoas: um fogareiro fumegante, que é Deus Pai, e
a tocha de fogo, que é Jesus.
Abraão era quem deveria estar caminhando com Deus no meio daqueles animais, mas ele
era pecador e não poderia fazer algo assim – Deus não tem parte com o pecado e não poderia
tomar para Si o pecado de Abraão. Em vez disso, Jesus, o cordeiro que havia sido morto desde
a fundação do mundo, tomou o lugar de Abraão, pois, Ele seria aquele que tomaria todo o
pecado do homem, a morte e a maldição que pertenciam a ele, e daria em troca a vida e tudo
o que é de Deus. Somente Jesus pode fazer essa intermediação.
Por um lado, foi uma aliança entre Deus e Abrão. Por outro, foi uma aliança entre Deus e
Ele mesmo.
Deus ordenou que Abrão se circuncidasse na carne do prepúcio, como um sinal de aliança
perpétua entre ele e suas gerações. O sinal era no órgão reprodutor porque a aliança era com
164 GÊNESIS
Abrão e sua descendência, até chegar à semente, a quem as promessas foram feitas e em quem
todas as nações da Terra seriam abençoadas.
Deus também mudou o nome de Abrão, retirando parte de Seu próprio nome e colocando
no dele. No hebraico, o nome de Deus tem quatro letras “YHWH” e, para nós, é impronunci-
ável. Mas, dentre estas quatro letras, a que corresponde ao “H” do nosso alfabeto aparece duas
vezes, e é a letra aspirada “Ah”. Então, no meio do nome Abrão, Deus colocou o “Ah” e ele
passou a ser Abrahão.
Mas, além de mudá-lo, Deus também acrescentou o nome de Abraão ao Seu, passando a se
chamar “Deus de Abraão” – esse é o seu “sobrenome”, que significa “tudo o que é de Abraão é
meu”. E Abrahão, por sua vez, significa “tudo o que é de Deus é meu”.
Essa é a aliança de sangue! Deus nada negará a Abraão. Mas será que Abraão nada negará a
Deus? A aliança deve ser testada.
2. O nascimento de Isaque
Quando Sara tinha oitenta e nove anos e Abraão noventa e nove, receberam essa palavra,
que era uma semente. O útero de Sara já estava morto, envelhecido, mas a Palavra, que é vida,
penetrou nele e o filho da promessa veio: Isaque, único e amado.
Porém, tudo o que Deus faz tem em vista sua própria semente e, um dia, Deus enviou um
anjo do céu a uma filha de Abraão, cujo útero era virgem, mas, ao receber a Palavra de que daria
à luz um filho (Is 7:14; Mt 1:23), concebeu. Assim, o filho da promessa veio à terra, a promessa
se materializou, a Palavra se fez carne e habitou no meio de nós, a semente de Deus na terra.
Os dois são cabeça de aliança. Abraão passou a ter um Deus no céu, e Deus, a ter um ho-
mem, uma boca e um corpo na terra. Deus estava entrando legalmente no planeta Terra, via
aliança de sangue. Assim, por causa da circuncisão, até os filhos de Abraão seriam filhos de
Deus. Foi a partir daí que a revelação de Deus começou a ser transmitida, porque Deus passou
a ter homens na terra.
3. A prova da aliança
Estava claro que Abraão teria tudo de Deus na terra, mas, perante as cortes celestiais, Satanás,
seus príncipes e potestades, poderia se levantar algum questionamento a respeito da validade
da aliança: será que Deus teria tudo de Abraão? Se Deus não pudesse ter tudo dele, a aliança
seria unilateral.
A ALIANÇA DE DEUS COM ABRAÃO 165
Foi, então, que veio a tremenda prova da aliança, mostrada no capítulo 22 de Gênesis: Deus
deu um filho a Abraão, mas, depois, pediu a ele que lhe desse Isaque, o filho gerado da pro-
messa. A aliança lhe permitiu fazer isso porque, se Abraão recebeu alguma coisa, Deus também
poderia receber. Essa é a legalidade da aliança.
Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova e lhe disse: Abraão! Este
lhe respondeu: Eis-me aqui! Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu úni-
co filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali
em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei. (Gn 22:1-2)
Abraão não hesitou, porque era homem de aliança e sabia que deveria fazer o que Deus
estava lhe ordenando. Quem está em aliança não precisa pedir; diz e está feito.
Em Hebreus 11:17-19, lemos que Abraão, quando foi posto à prova, não hesitou em dar
seu único filho, porque sabia que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre os mortos,
de onde, em figura, o recobrou, embora não tivesse um único testemunho da história de um
morto ressuscitado.
Abraão levantou a mão, pronto para imolar Isaque, quando este lhe perguntou onde estava
o cordeiro para o holocausto (Gn 22.7). Nos céus, a Trindade se inclinou; os anjos e querubins
estavam todos voltados para o que estava acontecendo. Passaria Abraão na prova? Ele, então,
levantou seus olhos para o céu e, como homem de Deus e cabeça de aliança, pôde então dizer
o que queria de Deus; pôde declarar o que Deus faria ao profetizar que Deus proveria para Si
mesmo o cordeiro (Gn 22.8).
Soou a voz da Terra até o trono de Deus. O homem da aliança decretou que chegaria o mo-
mento em que Deus proveria Seu próprio cordeiro. O Filho de Deus seria Seu cordeiro. Abraão
estava dando seu filho e Deus daria o dEle.
Abraão colocou naquele monte o nome “Jeová Jireh”, que significa: o Senhor proverá. Deus
proverá o cordeiro!
Quando Abraão levantou a mão para imolar o filho, do céu bradou a voz do Senhor dizen-
do: “Abraão, não faças nada ao menino, porque agora sei que temes a Deus” (Gn 22:12).
166 GÊNESIS
No reino do Espírito, diante do tribunal eterno, estava comprovado que Deus teria tudo o
que quisesse de Abraão. Deus tinha tudo do homem. A aliança estava selada. Os propósitos de
Satanás seriam frustrados.
Como Abraão estava disposto a entregar a Deus seu único filho, Deus, então, podia, legal-
mente, dar Seu único filho a Abraão para que todas as famílias da terra fossem abençoadas.
Para o filho de Abraão, Deus proveu um cordeiro, mas o filho de Deus seria o próprio cordeiro.
Em Apocalipse 5, lemos que Jesus, o cordeiro de Deus, ao chegar no céu depois de fazer a
redenção, colocou-se diante de Deus, em cujas mãos havia um livro selado por dentro e por
fora, do qual ninguém havia sido achado digno de abrir.
Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um
Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete
Espíritos de Deus enviados por toda a terra. Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele
que estava sentado no trono; e, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e qua-
tro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos, e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és
de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para
Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os constituíste
reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra. (Ap 5 6-10)
No dia em que o homem caiu no pecado, ele se vendeu para o diabo, entrando em aliança
com ele. Assim, tudo o que era do homem passou a ser de Satanás. Assim, o livro visto nas
mãos de Deus era como uma escritura que dava ao diabo o poder legal de posse sobre a terra e,
junto com ela, todos os homens.
Contudo, a lei de Moisés dizia que um parente próximo poderia resgatar, ou seja, comprar
de volta o que lhe pertencia. Mas, o preço era muito alto e nenhum daqueles cujo nome estava
no livro poderia pagá-lo, pois eram todos escravos e apenas alguém que fosse livre teria recursos
para fazê-lo.
Jesus, então, se fez homem para tornar-Se esse parente próximo e nos resgatar. Anjos não
poderiam fazê-lo; nem mesmo Deus poderia, pois Ele é o juiz. Mas, Aquele que entrou no céu
A ALIANÇA DE DEUS COM ABRAÃO 167
era homem e Deus. Ele, então, passou a ter o direito de pegar de volta o livro, a escritura de
posse, pois pagou por ela o preço exigido: sangue puro sem contaminação do pecado.
Naquele livro está o nome de todos nós. Mas, por causa da aliança entre Deus e Abraão,
Jesus pôde legalmente vir e se tornar o parente próximo, a fim de nos comprar de volta
para Deus.
Assim, toda a nossa história dependia daquele dia em que Abraão subiu no monte com
Isaque para oferecê-lo ao Senhor. O homem terá tudo de Deus quando Deus tiver tudo do
homem. Porque Abraão não negou seu único filho, Deus pode nos dar Jesus, o Unigênito do
Pai. Porque Abraão semeou tudo, agora Deus pode colher todas as famílias da terra.
Capítulo
20
ABRAÃO E A GERAÇÃO DE ISAQUE
GÊNESIS 1622
Até o capítulo 14 do livro de Gênesis, a ênfase do tratamento de Deus com Abraão estava na
posse da terra. A partir do capítulo 15, a ênfase está na geração de um filho (Gn 15).
Depois de voltar vitorioso da guerra contra os cinco reis, Abraão se sentiu amedrontado.
Por isso, Deus começou lhe dando uma palavra de segurança: “Não temas...”. O Pai da fé era
homem como nós e se sentia amedrontado algumas vezes.
170 GÊNESIS
Nos versos de 4 a 6, Deus responde a Abraão que não seria seu servo o herdeiro, mas alguém
gerado de suas próprias entranhas. Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado para justiça.
Esta é a primeira vez que se menciona que alguém creu em Deus e esse fato vem associado
à justificação. Então, através do princípio da primeira menção, sabemos que isso tem uma
razão de ser e esses assuntos não foram colocados juntos por acaso. Isso nos mostra que nossa
justificação vem pela fé, não por obras ou méritos próprios.
Em sua conversa com Deus em Gênesis 15, foi Abraão quem falou primeiro sobre a neces-
sidade de ter um filho. Naturalmente, Deus sabia que isso era necessário, mas Ele se agrada
quando nós percebemos seu coração e sua mente. É interessante como Deus nos permite con-
versar com Ele e expressar-lhe o que se passa em nosso coração.
Porém, só podemos nos aproximar de Deus quando somos justificados; quando, pela fé,
cremos no sacrifício de Jesus por nós e que ele foi suficiente para nos reconciliar com Deus.
Quando cremos na graça de Deus.
Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim
de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao
que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão
(porque Abraão é pai de todos nós, como está escrito: Por pai de muitas
nações te constituí.), perante aquele no qual creu, o Deus que vivifica os
mortos e chama à existência as coisas que não existem. Abraão, esperan-
do contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo
lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E, sem enfraquecer na fé,
embora levasse em conta o seu próprio corpo amortecido, sendo já de
cem anos, e a idade avançada de Sara, não duvidou, por incredulidade,
da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus,
estando plenamente convicto de que ele era poderoso para cumprir o
que prometera. Pelo que isso lhe foi também imputado para justiça.
E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em con-
ta, mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será
imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os
mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas
transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. (Rm 4:16-25)
O propósito de Deus não é atingido por muitas pessoas que se ajuntam, mas por aqueles
que ele gera; e Ele só gera pessoas quando elas creem. Os que não são gerados por Deus não são
contados e não podem cumprir o propósito de Deus.
ABRAÃO E A GERAÇÃO DE ISAQUE 171
b. Parceiros de aliança
Abraão perguntou a Deus como poderia saber que, de fato, possuiria a terra. Sua pergunta
não era um sinal de incredulidade, mas a necessidade de ter um sinal para sua fé. E Deus lhe
respondeu fazendo com ele uma aliança de sangue.
Quando somos feitos parceiros de aliança, podemos estar certos de que Deus honrará
Sua palavra.
c) A semente
Isto mostra que aquele que herda a terra é apenas um. No que se refere a Abraão, é Isaque;
mas, num contexto mais amplo, aponta para Cristo. Ele é a semente. Isaque era apenas uma
sombra. Ele é a realidade. É Cristo quem herdará a terra e nEle são abençoadas todas as famílias
da terra.
Assim como Abraão gerou Isaque e o manifestou ao mundo, nós, como Igreja, precisamos
gerar Cristo e manifestá-lO ao mundo.
Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos; tendo, porém, uma
serva egípcia, por nome Agar, disse Sarai a Abrão: Eis que o Senhor me
tem impedido de dar à luz filhos; toma, pois, a minha serva, e assim me
edificarei com filhos por meio dela. E Abrão anuiu ao conselho de Sarai.
(Gn 16:1-2)
O grande teste para a nossa fé é o tempo. Na medida em que o tempo passava, Abraão e
Sara resolveram fazer algo por iniciativa própria para colaborar com o plano de Deus. Abraão
creu que Deus lhe daria um filho, mas não percebeu que precisava também abandonar toda a
sua capacidade humana. A questão já não era se Abraão teria um filho, mas, sim, por meio de
quem o filho seria gerado.
É certo gerar filhos, mas a questão é quem os está gerando e com qual força, pois, para Deus,
a origem do que fazemos é tão importante quanto o que estamos fazendo. Quando fazemos
172 GÊNESIS
algo por intermédio de nós mesmos, isso é Ismael, é obra da carne. Mas, se fazemos algo por
meio de Deus, é Isaque, é obra do espírito. Sabemos que Deus sempre rejeita Ismael. Para fazer
a vontade de Deus, a obra precisa estar livre do pecado e também de nossa força natural. O
que vem de Deus flui da dependência dEle. O Senhor não aceita nada que não se origine nEle.
a. A graça e a lei
Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da mulher escrava e outro
da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante
a promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas
alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escra-
vidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde
à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus filhos. (Gl 4:22-25)
No texto acima, Paulo faz uma analogia usando Agar para representar a lei, e Ismael para
simbolizar a carne. A lei representa as justas exigências de Deus. A carne, por sua vez, é nosso
esforço humano, mesmo que usado para tentar agradar a Deus. Qual o resultado? Os que que-
rem cumprir a lei sempre caem na carne e permanecem debaixo de maldição.
Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição;
porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanece em todas
as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las. E é evidente que, pela
lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.
(Gl 3:10-11)
Se guardar a lei é tentar agradar na força própria, então podemos dizer, baseado no verso
acima, que isso produz maldição. Aqueles que pensam poder agradar a Deus fazendo algo para
Ele estão debaixo de maldição. Só agradamos a Deus andando por fé e dependência.
Isaque tinha que vir por meio de Sara, pois, de acordo com o que Paulo escreve em Gálatas
4, ela representa a graça. Enquanto a lei diz “Faça!”, a graça diz “Eu faço por você!”. Somente
aqueles que andam pela graça podem agradar a Deus.
Deus rejeita aqueles que fazem o que não lhe agrada, mas rejeita também aqueles que fazem
algo que lhe é agradável, porém, o fazem de acordo com seus próprios conceitos.
Abrão gerou Ismael quando tinha 86 anos. Nesse tempo, ele ainda tinha força natural para
gerar um filho. Deus, então, esperou até que ele completasse 100 anos (Gn 16.5), quando sua
energia natural teria acabado, para lhe dar Isaque. Para gerar Isaque, ele teve que esperar.
Cabe a nós escolher se desejamos gerar Ismael ou Isaque. Para gerar Ismael não temos de
esperar, podemos gerá-lo a qualquer hora. Mas, para gerar Isaque, precisamos esperar o tempo
de Deus e aguardar que Ele faça a obra.
Ismael pode ser traduzido por duas características: o tempo errado e a fonte errada.
ABRAÃO E A GERAÇÃO DE ISAQUE 173
b. A circuncisão de Abraão
Depois que Abraão gerou Ismael, Deus ficou treze anos sem falar com ele (Gn 16:16; 17:1),
o que nos mostra a gravidade da carne em nossa vida. Para Deus, o período da carne é um
tempo de perda total.
Em Gênesis 17:1, temos a primeira menção de Deus como “El Shaddai”, o Deus todo po-
deroso ou todo suficiente. Deus se revelou assim para mostrar a Abraão o que Ele pode fazer.
A partir de então, Deus renovou Sua aliança com Abraão e com a sua descendência. E como
sinal dessa aliança, instituiu a circuncisão. Em outras palavras, Deus queria ter um povo sem
nenhum poder ou força da carne.
A carne tem um lado mau que deseja o pecado e um lado que deseja agradar a Deus.
Romanos 8:8 mostra que os que estão na carne não podem agradar a Deus. Isso significa que
eles tentam, mas Deus não pode aceitar. A principal característica da carne é a autoconfiança.
O alvo da circuncisão é levar uma pessoa a ser alguém que teme e treme diante de Deus.
Deus incumbiu Abraão de orar para que as mulheres da casa de Abimeleque fossem curadas
e esse foi um grande teste para ele, pois dura coisa é quando temos de orar para outro receber
algo que nós mesmos não temos.
O princípio de dar primeiro para depois receber pode ser visto nesse momento da vida de
Abraão, porque ele orou e todas as mulheres foram curadas de sua esterilidade.
174 GÊNESIS
Por fim, Deus pediu a Abraão que entregasse Isaque como holocausto, no monte.
a. Os termos da aliança
Deus e Abraão eram parceiros de aliança e a única maneira de Deus dar Seu próprio filho
era se Abraão não negasse seu único filho.
21
A GRAÇA DE DEUS PARA O
CUMPRIMENTO DE SEU PROPÓSITO
GÊNESIS 1622
O propósito de Deus se cumpre por causa da Sua graça, não por nosso mérito ou esforço
próprio. Se Ele não nos escolheu baseado em nossa capacidade ou habilidades, por que tenta-
ríamos agradá-lO através disso? Por que tentaríamos realizar Sua obra usando nossos próprios
meios? Com uma atitude assim, só conseguiremos gerar Ismael, pois tudo o que é baseado no
mérito é fruto da lei.
A graça nunca deve produzir em nós soberba; ao contrário, seu resultado deve ser a gratidão
pelo que o Senhor nos dá e faz por nós, porque, em nossa própria força, não conseguimos gerar
Isaque. Somente através da graça é que podemos gerar o fruto da graça porque ele só vem no
momento que Deus quer, através do poder dEle.
A obra de Deus é iniciada nEle, feita na força dEle para que, no fim, a glória seja somente dEle.
Era Abrão de oitenta e seis anos, quando Agar lhe deu à luz Ismael. (Gn 16:16)
176 GÊNESIS
Abrão tinha 86 quando gerou Isaque e 99 quando foi circuncidado. Portanto, Deus ficou 13
anos sem falar com ele, sem liberar uma Palavra a Abraão. Isso nos mostra a gravidade da carne
em nossa vida: ela impede nossa ligação com o Senhor, porque Ele não tem comunhão com a
carne. Para Deus, o período em que somos guiados pela carne é um tempo de perda total.
Além disso,quando Deus pediu a Abraão que sacrificasse seu filho, referiu-se a Isaque como
sendo seu único filho (Gn 22:2). Ele não desconsiderou Ismael por alguma rejeição direta à
pessoa dele ou de Agar. A questão é que, quando se trata do cumprimento de Seu propósito,
Deus não conta a obra da carne.
Primeiro, Abraão deveria ser uma bênção, mas agora deveria ser perfeito.
Essa perfeição que Deus pediu a Abraão não era nunca errar, pois Ele sabia que isso seria
impossível. O que Ele pediu foi para que Abraão fizesse tudo de acordo com a vontade e os
princípios dEle.
Para sermos perfeitos, precisamos andar na presença de Deus, pois a perfeição é a presença
do próprio Deus.
Shaddai é uma palavra hebraica cujo significado é “seio inexaurível”. Assim, El Shaddai
significa “o Todo-Suficiente”, aquele em quem o suprimento nunca acaba.
Para que Abraão fosse perfeito e a promessa do Senhor se cumprisse através dele, tudo de
que precisava era andar na presença dAquele que supriria todas as suas necessidades.
Prostrou-se Abrão, rosto em terra, e Deus lhe falou: Quanto a mim, será
contigo a minha aliança; serás pai de numerosas nações. Abrão já não
será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te
A GRAÇA DE DEUS PA R A O C U M P R I M E N T O D E SEU PROPÓSITO 177
A mudança de nome é uma maneira de confirmar a aliança, mas também nos fala de mu-
dança de vida. Deus deseja mudar nossa vida, pois, antes de sermos instrumentos, precisamos
ser transformados.
Antes, Abrão era um pai exaltado e gerou apenas Ismael. A partir de então, tornou-se Abraão,
pai de Isaque e de multidões.
O propósito de Deus somente pode ser cumprido pela fecundidade. E, para Abraão ser
fecundo, ele precisou ser transformado.
e. A circuncisão
A aliança precisa de um sinal e, no caso da aliança entre Deus e Abraão, esse sinal foi a
circuncisão. A partir de então, Deus renovou Sua aliança com Abraão e sua descendência. Ou
seja, Ele queria ter um povo sem nenhum poder ou força da carne.
2. O SIGNIFICADO DA CIRCUNCISÃO
a. Despojar-se da carne (Cl 2:11-12)
Segundo Paulo, a circuncisão, agora, não é a que se faz por mãos humanas, mas, sim, o des-
pojamento do corpo da carne. A carne não é somente o pecado, mas também nossos talentos
naturais, força e capacidade humanas.
178 GÊNESIS
A circuncisão só foi estabelecida após o nascimento de Ismael, pois nada mais é que tirar a
carne fora para que o propósito de Deus se cumpra, e não um meio de salvação, como vemos
no texto a seguir:
A circuncisão sempre era praticada no oitavo dia, pois o número oito simboliza a ressurrei-
ção, o dia do novo começo. A circuncisão, portanto, é rejeitar tudo o que era da velha criação,
é cortar a carne fora para o início de uma nova vida.
Andamos na carne quando andamos por nós mesmos, em nossa própria força. Mas, an-
damos no Espírito quando andamos pela graça de Deus, na dependência do suprimento do
Espírito Santo.
A carne tem um lado mau que deseja o pecado e um lado que deseja agradar a Deus.
Romanos 8.8 mostra que os que estão na carne não podem agradar a Deus. Isso significa que
eles tentam, mas não conseguem, pois Deus não pode aceitar. A principal característica da
carne é a autoconfiança.
O alvo da circuncisão é levar a pessoa a ser alguém que teme e treme diante de Deus.
c. Igual ao batismo
Precisamos ser a circuncisão viva: servir a Deus no Espírito, nos gloriarmos em Jesus e não
confiarmos na carne.
Capítulo
22
A VIDA DE ISAQUE: O ALTAR, A TENDA E O POÇO
GÊNESIS 26
A vida de Abraão, Isaque e Jacó foi caracterizada por três elementos: o altar, a tenda e o poço.
Esses elementos são simbólicos e nos falam de uma vida plena, inteiramente consagrada a
Deus e cheia do Seu mover.
1. O ALTAR
O altar nos fala de consagração e de entrega de tudo diante de Deus. Em última análise, o
altar aponta para a cruz.
182 GÊNESIS
Como já vimos, o dilúvio simboliza a morte pelo batismo, e a saída da arca, ressurreição.
Em sua nova vida, o primeiro ato de Noé foi levantar um altar e ofertar ao Senhor. Portanto,
do mesmo modo, em nossa nova vida com Cristo, precisamos ter consagração plena e prática.
Depois que Paulo viu Jesus, ele perguntou: “...que farei Senhor?” (At 22:10).
Depois de ver o Senhor, Isaías disse: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6:8).
Somente quando temos um encontro com Deus é que podemos edificar-lhe um altar.
O primeiro móvel do Tabernáculo era um altar. Ele era a fronteira entre a casa de Deus e o
mundo. Para se chegar diante de Deus, era preciso, antes, passar pelo altar.
A oferta que se fazia nele era, antes de tudo, o holocausto, e o alvo era que toda a oferta fosse
consumida ali.
Durante sua peregrinação, Abraão edificou um altar entre Betel e Ai. Betel quer dizer “Casa
de Deus” e Ai significa “um montão de ruínas”. Isso mostra que, para Deus, o mundo já é um
lugar arruinado, e, entre ele e a casa do Senhor deve existir um altar. É a fronteira de separação.
A VIDA DE ISAQUE: O A LTA R , A T E N D A E O P O Ç O 183
O altar é um estilo de vida e não podemos edificar uma igreja de vencedores sem crentes
que tenham um altar edificado no coração. O altar edificado com pedras é um símbolo de uma
consagração que deve acontecer em nosso coração. Ele mostra o que é prioridade para nós,
aquilo a que nos dedicamos.
Deus não pode aceitar nada menos que uma consagração completa. Ele quer que nos apre-
sentemos a Ele como um sacrifício vivo, totalmente dedicado à Sua obra.
No tempo do Novo Testamento, nosso sacrifício é vivo e Deus quer sempre nos consumir
para estarmos sempre vivos.
Pode acontecer, também, de a consagração ser quebrada. Isso não ocorre, necessariamente,
porque pecamos. A santificação, sim, é quebrada pelo pecado, mas a consagração é rompida
quando saímos do lugar onde deveríamos estar.
Abrão teve um incidente em sua vida: ele deveria ficar em Canaã, mas caiu e foi viver no
Egito. Contudo, depois de restaurado, ele voltou para o mesmo ponto onde estava antes da
queda e edificou novamente um altar ao Senhor no mesmo lugar.
É maravilhoso saber que podemos edificar um altar pela segunda vez ao Senhor. Isso se
chama restauração e seu resultado é que o fogo de Deus cai do céu.
Então, Elias disse a todo o povo: Chegai-vos a mim. E todo o povo se che-
gou a ele; Elias restaurou o altar do Senhor, que estava em ruínas. Então,
caiu fogo do Senhor, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e a
terra, e ainda lambeu a água que estava no rego. (1Rs 18:30, 38)
2. A TENDA
A tenda simboliza comunhão com Deus, uma vida diante dele em adoração e intimidade.
184 GÊNESIS
Somos peregrinos neste mundo, pois nossa pátria não é aqui – quando nascemos de novo,
nos tornamos cidadãos do reino de Deus. Segundo Paulo, somos embaixadores do céu e esta-
mos aqui de passagem, apenas para representar nosso Rei e nosso reino.
Em Êxodo, lemos que Moisés levantava sua tenda fora do arraial e, naquele lugar, o Senhor
falava com ele.
Ora, Moisés costumava tomar a tenda e armá-la para si, fora, bem longe
do arraial; e lhe chamava a tenda da congregação. Todo aquele que bus-
cava ao Senhor saía à tenda da congregação, que estava fora do arraial.
(Ex 33.7)
A tenda não é uma habitação fixa, mas móvel. Ela é altamente flexível e, assim, estamos
sempre prontos para partir e seguir o Senhor aonde Ele for.
Em todas as épocas há um mover de Deus e, nos dias de Abraão, o mover era habitar
em tendas.
Para podermos seguir o mover de Deus, precisamos estar sempre disponíveis. Não fincamos
alicerces neste mundo; estamos sempre prontos para nos movermos com Deus.
De certa forma, um prédio é um local solene e formal, o que, em vez de gerar intimidade,
nos intimida, gera distanciamento. A tenda, por outro lado, é um lugar aconchegante.
Em geral, todo prédio é um monumento erguido para realçar alguma obra humana que está
prevalecendo; mas tendas sempre são simples, como foi a vida de Jesus.
A VIDA DE ISAQUE: O A LTA R , A T E N D A E O P O Ç O 185
3. O POÇO
Naqueles dias, ter um poço era vital, pois não haveria como sobreviver em uma terra árida
e com poucos rios como aquela sem uma fonte de água viva.
Em Isaías 47, lemos que as águas saem do limiar do templo, ou seja, do altar. Em Apocalipse
22:1 está escrito que um rio sai do trono de Deus. O fluir de Deus é fruto do altar e da tenda,
pois onde há consagração, haverá um rio, e onde há um trono erigido, ali haverá uma fonte
de vida.
Pessoas consagradas que têm um altar edificado em sua vida, passam por lugares áridos e
levam o rio de Deus até eles, transformando-os num manancial de vida.
Todavia, acontece algo em relação ao poço: quando escavamos nossa vida para que o poço
do Espírito flua, é certo que teremos a experiência de Isaque em Gênesis 26:12-33.
Semeou Isaque naquela terra e, no mesmo ano, recolheu cento por um, porque o Senhor
o abençoava. Enriqueceu-se o homem, prosperou, ficou riquíssimo; possuía ovelhas e bois e
grande número de servos, de maneira que os filisteus lhe tinham inveja. E, por isso, lhe entu-
lharam todos os poços que os servos de seu pai haviam cavado, nos dias de Abraão, enchendo-
os de terra. Disse Abimeleque a Isaque: Aparta-te de nós, porque já és muito mais poderoso do
que nós. Então, Isaque saiu dali e se acampou no vale de Gerar, onde habitou. (Gn 26:12-17)
Entulho é tudo aquilo que um dia foi útil, mas que agora se tornou desnecessário.
Não devemos temer a separação, pois é necessário que ela aconteça para que haja unidade.
A realidade de cada um deve ser exposta.
e. Eseque
Cavaram os servos de Isaque no vale e acharam um poço de água nascente. Mas os pastores
de Gerar contenderam com os pastores de Isaque, dizendo: Esta água é nossa. Por isso, chamou
o poço de Eseque, porque contenderam com ele. (Gn 26:19-20)
Isaque voltou a cavar poços e ao primeiro ele chamou Eseque, que quer dizer “contenda”.
O poço era de água nascente, ou água viva, como está no original, mas é interessante que os
filisteus disseram que o poço era deles.
Quando entramos em um mover de Deus, sempre haverá aqueles que dirão que o que
experimentamos não é nosso, mas que o mover pertence a eles. Talvez isso aconteça porque,
no passado, tenham bebido daquela fonte, mas depois a abandonaram e, quando veem outros
bebendo daquele mesmo poço, ficam enciumados.
f. Sitna
Então, cavaram outro poço e também por causa desse contenderam. Por
isso, recebeu o nome de Sitna. (Gn 26:21)
Parece incrível que o mover de Deus possa produzir inimizade, mas este é o fato: se Deus
move através de nós, a inveja pode chegar ao ponto de inimizade e até perseguição.
g. Reobote
Partindo dali, cavou ainda outro poço; e, como por esse não contende-
ram, chamou-lhe Reobote e disse: Porque agora nos deu lugar o Senhor,
e prosperaremos na terra. (Gn 26:22)
O terceiro poço recebeu o nome de Reobote, que quer dizer “amplidão, um grande espa-
ço”. No terceiro poço não contenderam porque já era notório que a bênção do Senhor era
com Isaque.
A VIDA DE ISAQUE: O A LTA R , A T E N D A E O P O Ç O 187
Do mesmo modo, nós também teremos a mesma experiência. Haverá um momento em que
o mover de Deus será tão inquestionável que todos terão de reconhecer que Deus é conosco.
Precisamos perseverar no mover de Deus até que cheguemos ao último poço: Berseba.
Abimeleque e o povo perceberam que Deus era com Isaque e, por isso, fizeram com ele
uma aliança de paz. Depois disso, deram ao poço o nome de Seba, que significa “aliança
ou juramento”.
O alvo final de Deus é que todos reconheçam Sua bênção em nosso meio. Quando houver
o reconhecimento, precisaremos nos abrir para eles e permitir que entrem na aliança. É isso o
que nos leva ao nível mais elevado do mover de Deus, o avivamento.
Capítulo
23
ISAQUE E O AMADURECIMENTO EM VIDA
GÊNESIS 27
Na época em que isso aconteceu, Isaque tinha 137 anos, mas morreu aos 180. Ele ainda
viveu mais 43 anos depois de pensar que estava morrendo.
Na Bíblia, a palavra “velho” tem uma conotação negativa, pois simboliza morte. Paulo diz
que a Igreja deve ser sem ruga, ou seja, sem sintomas de velhice, sem sinal de morte. A Igreja
gloriosa só tem vida.
190 GÊNESIS
A palavra “velho” não descreve maturidade espiritual, mas demonstra o fato de ser espiritu-
almente velho e, portanto, inútil para Deus, como vemos nos exemplos a seguir:
a. O maná
Deus não aceita nada velho e amanhecido. Quando alguém insistia em guardar o maná, ele
apodrecia.
b. O sacerdote
O sacerdote não podia tocar em nada morto, pois ele não podia estar com um morto e,
depois, ministrar ao Senhor. Não há comunhão entre Deus, que é vida, e a morte.
c. O nazireu
O nazireu era alguém consagrado ao Senhor, por isso ele não podia tocar em nada morto.
d. Os odres velhos
O vinho novo aponta para o mover do Espírito Santo de Deus, e o odre nos fala das estru-
turas da igreja. Deus sempre tem trazido um vinho novo, o problema é que, com o passar dos
anos, os odres envelhecem e se enrijecem. Ser novo é ser flexível.
O odre era feito de couro e, quando envelhecia, tornava-se rígido. Como o vinho novo, ain-
da fermentando, aumentava o volume dentro do odre, este se rompia. Para manter-se sempre
novo, o odre precisava ser ungido com óleo para manter sua flexibilidade.
O mesmo acontece à Igreja: somente a unção do Espírito pode nos manter sempre frescos e
flexíveis, aptos a conter o mover de Deus e reter Seu vinho novo.
2. FICOU CEGO
Isaque não amadureceu em Deus. Ele não sabia o que acontecia ao seu redor e não tinha
discernimento espiritual.
Desde o nascimento de seus filhos, Deus já havia lhe dito que o mais novo seria grande e o
mais velho, servo. Porém, Isaque andou e fez suas escolhas baseado em suas preferências pesso-
ais, em seus conceitos naturais.
ISAQUE E O AMADURECIMENTO EM VIDA 191
Isaque orou ao Senhor por sua mulher, porque ela era estéril; e o Senhor
lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu. Os filhos lutavam
no ventre dela; então, disse: Se é assim, por que vivo eu? E consultou ao
Senhor. Respondeu-lhe o Senhor: Duas nações há no teu ventre, dois
povos, nascidos de ti, se dividirão: um povo será mais forte que o outro,
e o mais velho servirá ao mais moço. (Gn 25:21-23)
Isaque não percebeu que Deus havia escolhido Jacó. Ele tinha preferência por Esaú e tentou
liberar a bênção com base no conceito humano e no sentimento natural.
Jacó passou por uma experiência semelhante, mas diferentemente de seu pai, deliberada-
mente trocou as mãos sobre os filhos de José conforme a percepção do espírito e não pelos
sentidos naturais. Podemos ser fisicamente velhos, mas espiritualmente cheios de frescor e vida.
Capítulo
24
A EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO DE JACÓ
GÊNESIS 2835
O livro de Gênesis contém biografias de nove grandes homens: Adão, Abel, Enos, Enoque,
Noé, Abraão, Isaque, Jacó e José. Porém, o registro mais longo é o da história de Jacó, ocu-
pando quase a metade do livro. A razão de Deus gastar mais tempo falando sobre Jacó é que,
na experiência da vida, nada consome mais tempo que a transformação da alma. Fomos salvos
num momento, perdoados e regenerados em um segundo. Todavia, a transformação requer
toda a nossa vida.
Vimos que Abraão, Isaque e Jacó representam aspectos diferentes de nossa experiência com
Deus: Abraão aponta para o Pai e nos fala da experiência de ser chamado e aprovado; Isaque
nos fala da Experiência do Filho e nos mostra a questão da posse da herança; mas Jacó aponta
para a experiência do Espírito Santo, ou seja, a transformação de Jacó em Israel – o nome Jacó
significa “usurpador” ou “enganador”, mas Israel é “príncipe de Deus”.
A grande característica de Jacó é seu desejo sincero de ser participante das promessas de
Deus. Porém, uma vez que essa participação estava reservada ao primogênito, Jacó, então, usou
de meios fraudulentos para conseguir a bênção, enganando seu pai e seu irmão.
O processo de Deus para transformar Jacó envolveu três experiências com Deus. E, em cada
uma, Jacó avançava no processo de tratamento divino. É fácil mudar um edifício material, mas
é difícil transformar um suplantador em príncipe de Deus. Isso não pode ser feito da noite para
o dia; é uma obra que demanda toda a vida.
I. A EXPERIÊNCIA EM BETEL
É interessante vermos as diferenças entre Jacó e Esaú:
Jacó era o preferido da mãe; enquanto Esaú era o preferido do pai. Como alguém
criado mais junto à mãe, ele tinha habilidades de culinária, enquanto Esaú era caçador.
Jacó era liso, Esaú era peludo.
Não se menciona um problema de caráter de Esaú, mas Jacó era suplantador.
As deficiências de Jacó geraram nele desejo das coisas de Deus. Esaú, entretanto, era
profano e desprezava as coisas espirituais.
Por causa do amor pelas coisas mundanas, pelos prazeres físicos, Esaú desprezou o direito
da primogenitura (Hb 12:16-17). Com sua atitude, Esaú, na verdade, desprezou a Deus. Jacó
errou em enganar, mas Esaú errou muito mais em desprezar as coisas de Deus. Infelizmente,
existem muitos “Esaús” em nosso meio, que desprezam as coisas de Deus.
Depois de ter enganado seu irmão e seu pai em relação à bênção, Jacó se viu obrigado a fugir,
o que já era tratamento de Deus, pois teria de deixar a proteção da mãe e enfrentar seu tio. No
caminho de sua fuga, Jacó teve um encontro com Deus em Betel.
E sonhou: eis posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu e os
anjos de Deus subiam e desciam por ela. (Gn 28:12)
No Novo Testamento, vemos que Cristo é a escada vista por Jacó, quando lemos o que Ele
disse a Natanael:
Em verdade vos digo, que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subin-
do e descendo sobre o filho do homem. (Jo 1.51)
A EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO DE JACÓ 195
Cristo é aquele que traz o céu à terra e liga a terra ao céu. Primeiro ele veio à terra para,
depois, ligar a terra ao céu. Os anjos sobem e descem porque trabalham em função daquele que
há de herdar a salvação.
Jacó havia pensado que, para ele, não havia mais esperanças e Deus já o havia rejeitado.
Estava se sentindo só e sem esperanças, mas Deus veio e lhe mostrou que uma escada estava
posta, ou seja, em Cristo, Ele não pode desistir de nós.
Jacó recebeu a continuidade da revelação iniciada com Abraão, em que este entendeu que,
através de sua descendência, todas as famílias da terra seriam abençoadas. Porém, Jacó, enten-
deu também como isso se realizaria: pela casa de Deus, Betel, o lugar onde a escada está posta.
Jacó tomou a pedra, erigiu com ela uma coluna e, sobre ela, entornou azeite.
Jesus estava dizendo que Sua Igreja era um edifício que O tinha como pedra angular (ali-
cerce), e era constituído de outras pedras, que são os filhos de Deus. Portanto, nós somos essas
pedras que formam a casa de Deus. Jacó entornou azeite sobre a pedra, mostrando que nós, as
pedras espirituais, devemos estar cheios do azeite, que é o Espírito Santo, para sermos unidos
uns aos outros e nos tornarmos edifício espiritual para a habitação de Deus (1Tm 3:15).
A Pedra sobre a qual Jacó repousou veio a ser uma coluna, pois Jesus é, de fato, essa pedra
sobre a qual repousamos e é a coluna de Sua Igreja.
Betel significa uma revelação do propósito de Deus de ter uma casa na terra que seja tam-
bém Sua expressão, e este propósito se cumpriu por meio da Igreja. Mas, para que Jacó pudesse,
ele próprio, ser uma pedra no edifício, precisava ser transformado.
E Deus começou a operar essa transformação por meio de tratamentos com Labão, seu tio.
Com ele, Jacó sofreu na pele o que ele mesmo fizera a seu irmão: foi enganado, levado a viver
no pó e na humilhação. Tudo isso o afligia, mas a mão de Deus estava por trás daquela situação
com o propósito de transformá-lo.
196 GÊNESIS
Após seu casamento, vimos que as duas esposas de Jacó competiam para gerar filhos. Tal
competição colocou-o numa situação complicada, fazendo-o parecer uma formiga num forno
quente. Quatro mulheres, as duas esposas e as duas servas, tornaram difícil a vida de Jacó.
Após a primeira experiência, Jacó avançou para outra ainda mais profunda quando, incon-
formado com sua condição, agarrou-se a Deus em busca de transformação. Peniel quer dizer
“face de Deus” e a experiência de Jacó naquele lugar foi uma revelação do próprio Senhor.
Jacó se cansou de ser quem era e buscou a face de Deus à procura de mudança, pois é somen-
te na medida em que contemplamos a Deus que somos transformados. Toda transformação é
fruto de maior conhecimento do Senhor por meio da revelação no espírito.
Existem dois meios usados por Deus para transformar nossa alma:
E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela reno-
vação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável
e perfeita vontade de Deus. (Rm12:2)
A EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO DE JACÓ 197
Quando mudamos a maneira de pensar, nossa vida é mudada, pois somos aquilo que pen-
samos. Assim, na medida em que conhecemos a Palavra de Deus e nos enchemos dela, somos
transformados. Quanto mais nos enchemos de Cristo, mais semelhantes a Ele nos tornamos.
A segunda forma que Deus usa para nos transformar é contemplá-lo, pois, ao fazermos isso,
somos transformados à Sua imagem.
O homem caído perdeu a imagem de Deus, ou seja, Cristo, Sua glória (Rm 3:23). Contudo,
quanto mais tempo gastamos contemplando-O, seja por meio da oração, da leitura da Palavra
ou do louvor e da adoração, mais somos transformados para refletir Seu caráter. Sem a contem-
plação, nossa transformação fica comprometida.
Nosso espírito foi criado para conter Deus, mas nossa alma tem a função de refletir o Senhor,
Sua imagem.
A principal razão de sua luta com o Senhor é que Jacó era muito natural, por isso, ainda era
necessário que essa força natural fosse quebrada – o que Deus fez ao tocá-lo na coxa, que é a
parte mais forte do corpo – e, assim, ele contasse apenas com a força do Senhor.
Foi nesse ponto que Deus mudou o nome de Jacó para Israel, assim como fez com Abraão,
mudando seu nome após o nascimento de Ismael, quando ele já não tinha mais idade para
gerar filhos. Somente depois que nossa força natural é quebrada por Deus é que vemos a ma-
nifestação de Sua transformação.
Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a
minha vida foi salva. (Gn 32:30)
Peniel é um lugar de encontro com Deus; é o lugar onde vemos a Deus face a face e nossa
vida é transformada. É um lugar de se sentir profundo pesar pelo pecado, pois é onde Deus nos
mostra quem realmente somos. Ali nos vemos na luz de Deus.
a. Somos confrontados
Em Peniel, assim como fez com Jacó, Deus pergunta qual é nosso nome. Como somos
conhecidos no mundo espiritual?
198 GÊNESIS
O confronto de Deus é para cura e restauração, nunca para acusação. Portanto, Ele espera
que nossa resposta seja sincera e gere arrependimento, pois todo pecado é uma base legal para
a ação do diabo em nossa vida: matar, roubar e destruir (Jo 10:10).
Jacó lutou com Deus e mostrou uma postura ativa de cooperação com Ele. Mas, aqueles que
caminham em passividade jamais alcançam coisa alguma do Senhor, pois o encontro com Deus
é fruto de uma luta intensa.
c. Agarramo-nos em Deus
A Palavra de Deus diz que Jacó segurou o anjo de Deus e não o deixou ir.
Precisamos nos agarrar em Deus e tocar suas vestes até que delas saia virtude para nos mudar.
d. Somos “desconjuntados”
A coxa de Jacó foi desarticulada pelo Senhor, o que nos mostra que todo encontro com Deus
é fruto de quebrantamento e sempre gera mais quebrantamento ainda.
O músculo da coxa é o mais poderoso do corpo. Isso significa que a força natural de Jacó
foi completamente quebrada; ele ficou marcado para sempre e nunca mais andaria com sua
própria força, como o fazia antes.
Deus tem seus meios de nos quebrantar e, ainda que possa nos tocar fisicamente para isso,
na maioria das vezes, toca nossa cerviz, que é a força da alma. Em nosso encontro com Deus,
precisamos reconhecer que o poder pertence ao Senhor.
e. Somos transformados
Em Peniel, o nome de Jacó foi mudado. Antes era Jacó, que significa enganador, mas foi
mudado para Israel, príncipe de Deus. Ao perguntar seu nome, Deus estava tirando todas as
máscaras de Jacó.
Em 2 Coríntios, Paulo nos mostra a importância de sermos subjugados por Cristo, como
Jacó, em Peniel:
Conduzir-nos em triunfo não é nos fazer triunfar. O triunfo é do próprio Deus sobre nós.
Ele tem interesse em subjugar-nos para que nos sujeitemos ao senhorio de Cristo.
A palavra grega traduzida por “conduz em triunfo” era uma palavra especial usada na an-
tiguidade para descrever um cortejo triunfal como os que realizavam os generais do império
romano ao vencerem uma batalha.
A ideia que Paulo quer nos passar nesse texto é que nós somos esses cativos e Cristo é o ge-
neral vitorioso. Houve um dia em que éramos inimigos de Cristo, mas Ele triunfou sobre nós.
Daquele dia em diante, nos tornamos cativos de Cristo.
Temos de admitir que, muitas vezes, resistimos a Deus, e isso é o mesmo que não nos dei-
xarmos vencer por ele. Se desejamos um ministério no espírito, precisamos ser subjugados e
derrotados pelo Senhor em nossa vontade e na obstinação do nosso ego. Quando perdemos
para o Senhor, então vencemos o maligno.
Jacó foi tocado na coxa e, assim, foi subjugado. Porém, o Senhor diz que ele lutou e preva-
leceu. Isso aconteceu porque ele permitiu ser quebrado e conduzido, porque abriu mão de sua
obstinação. Esta foi sua vitória: ser conduzido em triunfo. Desse modo, ele deixou de ser Jacó
e passou a ser Israel.
Disse Deus a Jacó: Levanta-te, sobe a Betel e habita ali; faze ali um altar
ao Deus que te apareceu quando fugias da presença de Esaú, teu irmão.
Então, disse Jacó à sua família e a todos os que com ele estavam: Lançai
fora os deuses estranhos que há no vosso meio, purificai-vos e mudai
as vossas vestes; levantemo-nos e subamos a Betel. Farei ali um altar ao
Deus que me respondeu no dia da minha angústia e me acompanhou
no caminho por onde andei. Então, deram a Jacó todos os deuses es-
trangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhes pendiam das ore-
lhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém.
E, tendo eles partido, o terror de Deus invadiu as cidades que lhes eram
circunvizinhas, e não perseguiram aos filhos de Jacó. Assim, chegou Jacó
a Luz, chamada Betel, que está na terra de Canaã, ele e todo o povo
que com ele estava. E edificou ali um altar e ao lugar chamou El-Betel;
porque ali Deus se lhe revelou quando fugia da presença de seu irmão
[...] Vindo Jacó de Padã-Arã, outra vez lhe apareceu Deus e o abençoou.
Disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó. Já não te chamarás Jacó, porém
Israel será o teu nome. E lhe chamou Israel. Disse-lhe mais: Eu sou o
200 GÊNESIS
À época de Gênesis 35, Jacó já deveria ter quase cem anos e, mesmo tendo passado por várias
situações, sofrido muito e ter sido tratado por Deus, ainda não havia passado por uma purificação.
Todos nós precisamos de uma experiência radical em Peniel, mas também precisamos res-
ponder aos processos de Deus, pois a trajetória da vida cristã envolve dois grandes princípios:
entrar por uma porta e percorrer um caminho.
Entrar por uma porta significa passar por uma experiência. A passagem por uma porta sig-
nifica que, abruptamente, depois de uma experiência, nos vemos numa nova posição. Entrar
pela porta quer dizer que somos mudados de maneira radical e abrupta.
Todavia, o outro lado da moeda é que, além de uma experiência de mudança, precisamos
também trilhar um caminho de mudança, necessitamos passar por um processo de transfor-
mação. Esse é o caminho estreito, um processo em que somos inseridos no qual o espírito nos
muda dia a dia.
Podemos ver claramente esses princípios na vida do povo de Israel: a passagem pelo mar
vermelho foi uma porta, mas a caminhada pelo deserto foi um processo. Depois, para que
pudessem tomar posse da terra, os israelitas tiveram que atravessar o rio Jordão, o que foi uma
experiência, uma porta, mas a conquista foi um processo.
Em Betel, Deus apareceu a Jacó pela primeira vez, quando ele viu uma escada ligan-
do a terra ao céu e os anjos subindo e descendo por ela. Mas aquele sonho não mudou
Jacó completamente.
1. A ordem de Deus
Depois disso, Jacó teve uma experiência radical em Peniel, quando seu nome foi mudado,
significando que seu caráter fora transformado.
Porém, Deus mandou Jacó de volta para Betel, dando-lhe uma ordem que envolvia três etapas:
a. Subir a Betel
Deus inicia a Bíblia com Sua criação e termina com Sua habitação. A conclusão da Palavra
de Deus é a habitação eterna de Deus, ou seja, Sua Igreja.
Na experiência de Jacó em Betel, vemos que, no auge de sua maturidade, o Senhor o enviou
de volta à “casa de Deus”, pois o ápice de nossa maturidade espiritual está relacionado à forma
como somos edificados como igreja. Estar vinculado à igreja e edificado nela é subir a Betel.
A EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO DE JACÓ 201
Ninguém que seja maduro em Deus ignora o Corpo de Cristo, pois o crescimento verda-
deiro é expresso através do encargo de cooperar com Deus no cumprimento de Seu propósito.
b. Habitar ali
A Igreja não é um prédio, mas o povo de Deus. Nós somos Seu templo. Por isso, precisamos,
como Davi, aspirar ardentemente estar com o Senhor e ter comunhão, meditando na obra que
Ele tem feito, que é a união do homem com Deus.
Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias
da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo. (Sl 27:4)
O alvo de Deus é que cheguemos ao nível de desejá-lo acima das bênçãos que Ele concede.
A consagração acompanha todos os estágios da vida, como vimos na história de Abraão, que
edificou altares por toda sua vida: em Siquém, entre Ai e Betel, em Hebron e, por último, no
monte Moriá.
2. A resposta de Jacó
A esta ordem de Deus, Jacó respondeu com três atitudes espontâneas, fruto de maturidade espiritual:
Um ídolo é qualquer coisa que substitui Deus. Pode ser educação, dinheiro, posição, ambi-
ção, nome, etc. Até nossos filhos e cônjuges podem se tornar ídolos para nós.
b. Purificando-se
Jacó também exortou a todos que se purificassem (Gn 35:2). Purificação é a limpeza de
toda impureza.
202 GÊNESIS
3. Subjugando o inimigo
O resultado do altar e da purificação é que o terror de Deus virá sobre nossos inimigos (Gn
35.5), ou seja, sobre o diabo e seus demônios. Não precisamos lutar muito para termos vitória
sobre o diabo, precisamos somente aterrorizá-lo com santidade e pureza.
5. A maturidade de Jacó
Depois de Deus ter tratado com Jacó, sua vida foi transformada. Podemos ver isso quando
ele recebe a notícia de que José ainda estava vivo. Ele não condenou ou censurou seus outros
filhos pelo ato terrível que fizeram (Gn 45:21-28). Muito embora tivessem vendido José como
escravo e tivessem mentido a seu pai, não os censurou. Isso é vida transformada pela cruz.
Jacó também não manifestou nenhuma empolgação ao ver José na posição de governante
do Egito, o que mostra desprendimento do ego. Talvez, em outras épocas, sua reação fosse se
gabar por isso.
A EXPERIÊNCIA DE TRANSFORMAÇÃO DE JACÓ 203
Em terceiro lugar, Jacó não pediu nada do Egito, nem a Faraó, nem a José. Anteriormente,
Jacó não pedia, ele suplantava e roubava dos outros, mas, nessa ocasião, ele não exigiu nem
pediu coisa alguma, não aproveitou da posição para obter ganhos para si.
Quando Jacó já era velho, Deus lhe retirou Raquel e também José, o filho do seu amor. Isto
foi algo feito por Deus para gerar brandura e longevidade em Jacó. Seu coração já não estava
mais nas coisas terrenas, mas em Deus.
25
A VIDA DE JOSÉ
GÊNESIS 3750
Do ponto de vista espiritual, a vida de José é como se fosse uma extensão da vida de Jacó.
Depois de vendido como escravo pelos irmãos para o Egito, foi injustamente acusado e
posteriormente elevado ao posto de governador.
Foi instrumento de Deus para preservação da vida de seu povo, morreu aos 110 anos e foi
embalsamado segundo os costumes egípcios.
Teve dois filhos, Efraim e Manassés, cujas tribos são também conhecidas por “casa de José”.
Recebeu a bênção de Jacó (Gn 49:22-26) e Moisés (Dt 33:13-16) e viveu durante o período
dos hicsos.
José era o filho de Jacó com sua amada Raquel, e a preferência de seu pai gerou ciúme e ódio
em seus irmãos, que planejaram matá-lo. Porém, salvo por Rubem, foi vendido para o Egito,
onde serviu na casa de Potifar, um alto oficial egípcio.
206 GÊNESIS
A mulher de seu patrão o assediou, mas este, esquivando-se, foi por ela acusado e, conse-
quentemente, preso.
Ao apresentar soluções administrativas para o problema, José foi feito governador do Egito
e, ali, usado para preservar a vida de seu povo e dos demais.
José é um símbolo de uma vida abençoada e próspera. No entanto, o que percebemos é que
ele era vocacionado para transformar tragédias em bênçãos.
Porém, a visão não é uma questão de criatividade ou do que sonhamos fazer para agradar a
Deus, mas da vontade dEle. A visão é aquilo que Deus sonhou para nós, o sentido e a direção
que Ele determinou para nossa vida.
José foi alguém que sonhou (Gn 37:1-11). Todavia, antes de ver o sonho realizado, Deus o
levou a um processo de amadurecimento. E o mesmo Ele faz conosco.
Aqueles que recebem uma palavra de Deus, sempre terão que enfrentar a inveja dos demais.
Através da depreciação, muitos tentarão matar o sonho que Deus planta em nosso coração.
A VIDA DE JOSÉ 207
d. Vencendo o pecado por causa do Senhor, demonstrando que não estava amargurado
com Deus
Depois que teve os sonhos, José enfrentou situações de extrema adversidade, contudo, não
se voltou contra Deus. Ao contrário, venceu o pecado por causa do Senhor.
Pessoas amarguradas com Deus cedem facilmente às propostas do diabo. José, porém, sabia
que todas aquelas circunstâncias eram momentâneas e, não cedendo ao pecado, provou que
sabia que o Senhor cumpriria o que lhe havia dito.
José tinha dezessete anos quando teve o sonho e foi vendido por seus irmãos. Não sabemos
por quanto tempo ele serviu como escravo a Potifar, mas além desse período, ainda ficou preso
injustamente por mais treze anos. Em circunstâncias assim, ele tinha muitas razões para ficar
amargurado, mas não o fez porque esse era o processo de amadurecimento pelo qual tinha que
passar para que o sonho de Deus fosse realizado em sua vida.
A vida de José foi marcada por mais dificuldades que facilidades, no entanto, foi também
uma vida marcada pela bênção de Deus.
A maioria de nós pensa em bênção como algo material que recebemos de Deus. Porém, o
conceito bíblico de bênção é diferente: ela não está ligada a nós, mas ao propósito de Deus.
O Senhor não faz acepção de pessoas e não abençoa um ou outro baseado no mérito de cada
um. A bênção de Deus está condicionada ao Seu propósito, portanto, Ele abençoa quem está
dentro dele. Essa é a “posição de bênção”.
José estava vivendo como escravo, mas o Senhor estava com Ele e o fazia prosperar.
f. Abençoado como homem de Deus, apesar de sua visão ter demorado a se cumprir
José podia ver o “futuro”, pois sua visão não se restringia a estreiteza da prisão (Gn 41:11, 15, 16).
José fez jurar os filhos de Israel, dizendo: Certamente Deus vos visitará,
e fareis transportar os meus ossos daqui. (Gn 50:25).
b. Caráter
José era, antes de tudo, um homem de caráter (Gn 37.9-19). Uma mulher que tinha poder
sobre ele tentava-o como homem e pressionava-o como empregado, mas ele não se deixou en-
volver. Muitas pessoas, no lugar de José, usariam desculpas de que a tentação era muito grande,
de que não tinham como resistir ao assédio e, se não cedessem, perderiam o emprego, ou os
amigos etc. Mas, nada disso justificava o pecado, pois José tinha caráter.
c. Simpatia
O Senhor, porém, era com José, e lhe foi benigno, e lhe deu mercê
perante o carcereiro; o qual confiou às mãos de José todos os presos que
estavam no cárcere; e ele fazia tudo quanto se devia fazer ali. E nenhum
cuidado tinha o carcereiro de todas as coisas que estavam nas mãos de
210 GÊNESIS
José, porquanto o Senhor era com ele, e tudo o que ele fazia o Senhor
prosperava. (Gn 39:21-23)
O carcereiro gostou de José, pois uma pessoa abençoada irradia simpatia onde quer
que esteja.
d. Oportunismo oportuno
José havia feito um favor ao copeiro-chefe e não perdeu a oportunidade de pedir que este se
lembrasse disso. Uma pessoa abençoada sabe aproveitar as ocasiões com sabedoria.
Em tempos como esses, onde muitas tribulações, incidentes, tentações e riscos nos assolam
todos os dias, o único projeto capaz de dar certo é o de José do Egito. Para isso, devemos nos
lembrar de alguns de seus princípios:
3. Não cair em túneis sem fim. Se cairmos na cisterna da depressão, da angústia, da ansieda-
de, da frustração e da derrota, precisamos saber que sempre há um modo de sair dela.
4. Não admitir uma condição permanente de carência e necessidade. Uma porta sempre
se abrirá.
5. Não ter medo de crescer de repente. Devemos pedir sabedoria a Deus para lidar com
o sucesso.
7. Não acreditar que existam situações imutáveis. As tentações e lutas vêm na proporção da
nossa força, e Deus nos dá a graça de enfrentá-las.
8. Não se assombrar diante dos grandes desafios. Devemos nos lembrar que fomos escolhi-
dos e aceitar os desafios.
9. Não se esquecer do lugar de onde se vem. Devemos nos lembrar daqueles que colabora-
ram para nosso sucesso com gratidão e misericórdia.