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Desfrutando Cristo Como


A Palavra e o Espírito Por
meio da Oraçã o

Witness Lee CONTEÚ DO

1. Transferindo a Palavra para o Espírito por meio da Oraçã o


2. Servindo o Senhor com Oraçã o mais do que com a Palavra Exterior
3. Lidando com Cristo como a Palavra e o Espírito
4. Mais Ilustraçõ es sobre a Leitura da Palavra com Oraçã o
5. Cristo como a Palavra Tornando-se o Espírito para Ser Desfrutado por Nó s
6. Comendo a Palavra Lendo e Orando
7. Desfrutando Cristo por meio da Oraçã o
8. Exercitando Nosso Espírito para Desfrutar o Senhor em Oraçã o
9. Orar para Desfrutar o Senhor e Expressar Seu Encargo

PREFÁ CIO

Este livro é composto de mensagens dadas pelo irmã o Witness Lee em Los Angeles, Califó rnia,
Estados Unidos, no treinamento de Verã o de 1965. Estas mensagens nã o foram revisadas pelo
orador. O tema do Treinamento de Verã o foi “A Vida Interior e a Vida da Igreja”. O capitulo
sete deste livro já foi publicado na forma de livrete com o titulo “The Enjoyment of Christ”, o
qual foi falado juntamente com as mensagens deste livro.
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CAPÍTULO 1
TRANSFERIR A PALAVRA PARA O ESPÍRITO POR MEIO DA ORAÇÃ O

Leitura Bíblica: Jo 1:7, 11; 6:5.3; 1Co 15:45b; At 6:4; 2:42; 10:9; Is 56:7

A é em Sua plenitude, sã o as riquezas de Cristo (Ef 3:8, 19b). Toda a plenitude de


Deus Bíblia revela que Deus é o nosso desfrute e que todas as riquezas de Deus, o
que Ele
está corporificada em Cristo (Cl 1:19) e torna-se os itens das riquezas de Cristo. A
realidade de Cristo é o Espírito, que é o Espírito da realidade (Jo 14:17), e tudo o que Cristo é,
isto é, todas as riquezas de Cristo, sã o reveladas na Palavra (1:1). Portanto, para conhecer as
riquezas de Cristo temos de conhecer a Palavra que é a revelaçã o de tudo que Cristo é. Além
do mais, o lugar em que o Deus Triú no torna-se real para nó s é o nosso espírito humano (3:6).
Para Cristo tornar-se real para nó s e para que O desfrutemos sempre, temos de exercitar o
espírito. Nã o há outra maneira de desfrutá -Lo, e nã o existe outro ó rgã o com o qual possamos
desfrutá -Lo. Temos de exercitar o nosso espírito para que tudo o que Deus é em Cristo tornese
real para nó s por meio do Espírito Santo e segundo é revelado na Palavra. Os fatores do nosso
desfrute de Deus sã o estes cinco itens: Deus, Cristo, o Espírito Santo, a Palavra e o nosso
espírito.

CRISTO PRIMEIRAMENTE É A PALAVRA E, DEPOIS, TORNA-SE O ESPÍRITO

Cristo é primeiramente revelado como a Palavra, e em Sua ressurreiçã o Ele foi transferido da
Palavra para o Espírito. Portanto, nossa experiência de Cristo é uma experiência de transferir
constantemente a palavra para o Espírito. Joã o 6:63 é um versículo grandioso na Bíblia. Ele
diz: "O Espírito é o que dá vida; a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos tenho dito
sã o espírito e sã o vida". A palavra é espírito e o Espírito é vida. A palavra é vida para nó s
somente quando é transferida para o Espírito. Nã o recebemos diretamente a palavra da vida.
Precisamos de uma etapa intermediá ria, isto é, a palavra deve ser espírito para ser vida para
nó s. Sem essa etapa, a palavra é mero conhecimento para nó s. Para conhecer as Escrituras e
conhecer a vida, precisamos estar familiarizados e bastante esclarecidos a respeito desses
princípios. Entã o, teremos as chaves para abrir a Palavra. Caso contrá rio, nã o importando
quantas vezes a leiamos, iremos lê-la cega e tolamente, e ela nunca será clara para nó s.

Os quatro Evangelhos nos dizem que o Senhor Jesus veio como a Palavra. No princípio, na
eternidade antes da fundaçã o do mundo, Ele era a Palavra, e no tempo Ele veio por meio da
encarnaçã o (Jo 1:1, 14). Portanto, o Novo Testamento começa com Cristo como a Palavra.
Entã o, no final do Evangelho de Joã o, Cristo tornou-se o Espírito como o sopro de vida (20:22).
Esse Evangelho começa com a Palavra e termina com o Espírito. A Palavra e o Espírito nã o sã o
duas pessoas; sã o uma pessoa com dois aspectos. Primeiro Ele era a Palavra, e, por fim,
tornou-se o Espírito. Com a ajuda das Epístolas podemos perceber quem é esse Espírito. O
termo adequado usado para esse Espírito é "Espírito vivificante". Primeira Coríntios 15:45b
diz: "O ú ltimo Adã o, porém, tornou-se Espírito vivificante" (lit.).

Novamente vemos que a Bíblia é aberta por esse princípio, de que a Palavra torna-se Espírito
como vida. Cristo é a Palavra, Ele se tornou o Espírito, e esse Espírito é o Espírito vivificante.

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A MANEIRA DE TOMAR A PALAVRA COMO VIDA

É pela Palavra por meio do Espírito que Cristo é vida para nó s e nos transmite vida. Segundo a
letra da Bíblia muitos cristã os sabem que Cristo é vida, mas nã o sã o muitos os que podem
dizer como Cristo pode ser vida para nó s de maneira prá tica. Devemos ter clareza de que
Cristo é vida para nó s porque é a Palavra que se tornou Espírito vivificante. Agora, para
receber Cristo, percebê-Lo como realidade e experimentá -Lo como nossa vida, devemos
conhecer a Palavra e saber como transferir a Palavra para o Espírito vivificante. Essa é a
maneira de tomar Cristo como vida.

Desde a juventude ouvi mestres cristã os dizer que a palavra da Bíblia é vida. Contudo, eles nã o
me disseram como as palavras pretas impressas no papel branco da Bíblia podem ser vida. A
resposta é que a palavra em preto e branco deve ser transferida para o Espírito. Se a palavra
está meramente em letras, ela nã o é vida; é mero conhecimento, que mata (2Co 3:6). É quando
a palavra é transferida para o Espírito que se torna vida, porque nã o sã o as palavras
diretamente que dã o vida, mas o Espírito.

OS DISCÍPULOS "LERAM" CRISTO COMO O ESPÍRITO VIVIFICANTE NOS EVANGELHOS

Nos quatro Evangelhos, os discípulos receberam a Palavra, mas nã o receberam o Espírito. Foi
depois dos quatro Evangelhos, no livro de Atos e nas Epistolas, que eles receberam o Espírito.
Isso significa que a Palavra que receberam nos quatro Evangelhos foi transferida para o
Espírito, que experimentaram e contataram em Atos e nas Epístolas. Nessa ocasiã o eles
lidaram nã o apenas com a Palavra, mas também com o Espírito.

Na época dos Evangelhos, os discípulos nã o tinham o Novo Testamento. Contudo, ainda


tinham Cristo e lidavam com Ele como a Palavra. Primeira Joã o 1:1 diz: "O que era desde o
princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos pró prios olhos, o que
contemplamos, e as nossas mã os apalparam, com respeito ao Verbo da vida". [O vocá bulo
Verbo também pode ser traduzido por Palavra. Naquela época, tudo que Pedro, Joã o e os
demais discípulos tinham ouvido, visto, contemplado e tocado era a Palavra. Em sua primeira
Epístola, Joã o nã o disse que eles haviam visto o Filho de Deus, ou Jesus Cristo. Em vez disso,
eles viram, ouviram. contemplaram e até mesmo tocaram a Palavra. Essa Palavra. nã o era uma
composiçã o escrita com letras pretas em papel branco. Era uma Pessoa viva, que os discípulos
"leram" diariamente. Essa Pessoa é o Deus Triú no que se encarnou para ser um homem
chamado Jesus. Esse Jesus tinha muitas "histó rias" para serem lidas pelos discípulos. Joã o 1:14
diz: "E o Verbo [Palavra] tornou-se carne, e armou taberná culo entre nó s (e vimos a Sua gló ria,
gló ria como do Unigênito da parte do Pai), cheio de graça e de realidade". Pedro, Tiago, Joã o e
todos os primeiros discípulos contemplaram a gló ria dessa Pessoa viva, e dessa maneira O
"leram".

Desde o momento em que foram chamados, Pedro. André, Tiago e Joã o começaram a "ler" essa
Pessoa viva. Onde quer que fossem com essa Pessoa, eles contemplavam a ela e o que ela fazia.
Dessa maneira eles O "leram" por três anos e meio. Uma vez eles experimentaram uma
violenta tempestade no mar. Eles ficaram aterrorizados com a tempestade, mas essa Pessoa
viva, como a Palavra viva, dormia ali (Mt 8:24-25). Quando despertou, Ele simples-mente deu
ordem ao ar e a á gua para que a tormenta parasse (v. 26). Entã o, os discípulos se
maravilharam, dizendo: "Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?" (v. 27). O que
eles fizeram naquela ocasiã o foi ler a Palavra viva. Mais tarde, Pedro, Tiago e Joã o foram para

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o monte com a Palavra viva, onde O contemplaram ainda mais. De repente Seu rosto se
tornou resplandecente como o sol. Pedro disse: "Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei
aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias" (17:4). Pedro nã o lera
claramente a Palavra viva, começando, portanto, a falar tolices. Entã o, uma voz vinda do céu
disse: "Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo; a Ele ouvi!" (v. 5). Moisés e Elias
desapareceram, deixando apenas Jesus. Foi assim que Pedro leu a Palavra viva. Quando eles
desceram do monte, os cobradores do imposto do templo perguntaram a Pedro se Jesus
pagava o imposto. Pedro respondeu que sim (vs. 24-25). Quando ele entrou na casa, Jesus lhe
perguntou: "De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo? dos seus filhos ou dos
estranhos?" É como se Jesus tivesse dito: "Os reis da terra cobram imposto de seu pró prio
filho? Você nã o ouviu no monte que Eu sou o Filho de Deus? Por que entã o você disse aos
cobradores do imposto que Eu, o Filho do Rei, tenho de pagar imposto?" Quando Pedro foi
corrigido pelo Senhor, talvez ele tenha desejado dizer: "Entã o estou errado. Tu nã o deves
pagar o imposto do templo". Contudo, Jesus concordou em pagar o imposto, mas nã o de
maneira fá cil para Pedro. Pedro teve de fazer algo difícil. O Senhor disse: "Mas, para que nã o
os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e tira o primeiro peixe que subir; e, abrindo-lhe a
boca, achará s um está ter. Toma-o, e entrega-o a eles por Mim e por ti" (v. 27). Pedro deve ter
ficado muito incomodado. Enquanto lançava o anzol no mar, ele pode ter dito para si mesmo:
"Nã o sei de que direçã o virá o peixe, e tem de ser um peixe com uma moeda na boca.
Simplesmente nã o consigo crer nisso. Tenho de aprender a liçã o. De agora em diante, nã o
devo dizer coisa alguma. Devo manter a boca fechada e nã o me envolver". Deve ter sido
intençã o do Senhor naquela ocasiã o ensinar o Pedro imprudente a nã o falar nada quando
viessem os cobradores de impostos. Ele simplesmente deveria ter dito: "Esperem um pouco,
por favor. Deixem-me perguntar a Jesus. Eu nã o sei nada e nã o tenho base ou direito para falar
coisa alguma. Deixem o Mestre falar". Assim, Pedro leu muito da Palavra viva.

De acordo com os quatro Evangelhos, pode ser que Pedro tenha lido o Senhor Jesus mais do
que qualquer outra pessoa. Depois da ressurreiçã o do Senhor, quando chegou o dia do
Pentecostes, Pedro levantou-se para falar. Apó s ter sido educado pelo Senhor, Pedro falou
muito, nã o de maneira tola, mas no Espírito e na vida. Todos precisamos aprender a maneira
de ler a Palavra. Devemos abandonar a maneira tradicional de ler. A velha maneira nã o dá
revelaçã o alguma; dá somente conhecimento morto de letras em preto e branco.

OS EVANGELHOS FORAM ESCRITOS SEGUNDO O QUE OS DISCIPULOS "LERAM" DA


PALAVRA VIVA

Os quatro Evangelhos foram escritos pelos primeiros discípulos com base no que eles leram
de Cristo como a Palavra viva. Primeiro eles leram algo do Senhor, e depois escreveram o que
leram, para que nó s lêssemos. Antes de Joã o escrever os capítulos catorze a dezessete de seu
Evan-gelho, ele "leu" a Palavra, ouvindo o Senhor. Parte do que os discípulos leram do Senhor
foram Suas palavras faladas, mas parte do que leram foi o viver, o andar e os atos do Senhor
Jesus. Eles viram como Jesus agia, comportava-se e lidava com as pessoas. Entã o, depois de ter
visto todas essas coisas, eles as reuniram na forma escrita para que nó s as lêssemos. Eles
foram os primeiros a receber a Palavra; nó s somos a geraçã o seguinte.

A PALAVRA VIVA TORNOU-SE O ESPÍRITO EM ATOS E NAS EPÍSTOLAS

Os quatro evangelhos revelam Cristo como a Palavra viva, a quem os discípulos leram
diariamente por três anos e meio. Naquela época o Senhor Jesus era a Palavra, mas nã o era o
Espírito. Em Atos e nas Epístolas, entretanto, Ele já nã o era somente a Palavra para os
discípulos. Nessa época os discípulos lidavam com Cristo como o Espírito vivificante (1Co
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15:45b). Foi por meio da crucificaçã o e ressurreiçã o que esse Jesus, que é a Palavra, foi
transferido para o Espírito.

A MANEIRA PRÁ TICA DE TRANSFERIR A PALAVRA PARA O ESPÍRITO

Em nossa experiência, porém, precisamos ver como podemos desfrutar Cristo como a Palavra
transferida para o Espírito. É difícil dizer se hoje lidamos com o Senhor e O desfrutamos como
a Palavra ou como o Espírito. Se simplesmente estudamos a palavra da maneira ensinada
pelos seminá rios, por exemplo, desfrutamos o Senhor principalmente como conhecimento na
mente, embora, por Sua misericó rdia, possamos de modo inconsciente desfrutá -Lo um pouco
como o Espírito. Hoje, contudo, desfrutamos o Senhor como a Palavra mais em nosso espírito
do que em nossa mente. Por fim, nó s O desfrutaremos cabalmente como o Espírito em nosso
espírito. Tudo o que sabemos sobre Ele como a Palavra deve ser transferido para o Espírito.
Entã o, por fim, desfrutaremos o Senhor nã o apenas como a Palavra, mas também como o
Espírito vivificante.

A maneira de transferir Cristo como a Palavra para o Espírito é abrir o coraçã o, abrir o espírito
e exercitar o espírito para orar. Nos quatro Evangelhos está a Palavra que foi "lida" pelos
primeiros discípulos, e em Atos está o Espírito. Entre o registro dos quatro Evangelhos e a
primeira parte de Atos, os discípulos oraram por dez dias. Foi por meio da oraçã o que a
Palavra foi transferida para o Espírito. A partir de entã o, Pedro tornou-se uma pessoa de
oraçã o. É por isso que no capítulo seis Pedro disse: "Quanto a nó s, nos consagraremos à
oraçã o e ao ministério da palavra" (v. 4). Primeiro vem a oraçã o, depois o ministério da
palavra. Consagrar-se à oraçã o significa que a oraçã o deles nunca cessava. Atos 2:42 confirma
que todos os discípulos perseveravam nas oraçõ es.

Em Atos 10, Cornélio enviou seus servos para chamar a Pedro. Nessa ocasiã o, que fazia Pedro?
Ele orava no eirado da casa (v. 9). Nos quatro Evangelhos vemos um Pedro tagarela, nã o um
Pedro que orava. Hoje, muitos irmã os sã o tagarelas. À s vezes falam sobre as mensagens, mas
à s vezes é apenas tagarelice. Nã o há muita oraçã o. Em Atos, contudo, o Pedro tagarela
tornouse uma pessoa de oraçã o. Os discípulos já tinham lido Cristo como a Palavra nos quatro
Evangelhos. Eles já conheciam claramente a Palavra. Agora, o que necessitavam era transferir
a Palavra para o espírito por meio da oraçã o.

Considere o tema da oraçã o dos cento e vinte discípulos nos dez dias antes do Pentecostes.
Alguém pode achar que Pedro orou pela esposa; que Joã o e Tiago oraram pelo negó cio
pesqueiro do pai; que André orou pela família na Galiléia e que Maria e Marta oraram por
Lá zaro. Contudo, nã o foi assim. O Senhor Jesus dissera-lhes que esperassem pela promessa do
Pai. Ele disse: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vó s o Espírito Santo, e sereis minhas
teste-munhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra"
(1:8). No versículo 22 Pedro falou sobre a escolha de Matias: "Um destes se torne testemunha
conosco de sua ressurreiçã o". Eles precisavam escolher um para completar o nú mero doze, a
fim de dar testemunho adequado de Jesus. Os discípulos devem ter percebido que para que
fossem testemunhas do Senhor era necessá rio que Cristo fosse trabalhado neles.

Por, essas duas passagens podemos perceber qual foi o tema da oraçã o dos discípulos
naqueles dez dias. Eles devem ter dito: "Senhor, abandonamos tudo além de Ti. É ramos
galileus, mas abandonamos nossa casa e nossa terra. Eis-nos aqui agora simplesmente como
vasos vazios. Esse pequeno aposento superior é como um altar, e estamos sobre o altar
esperando ser cheios de Ti, possuídos e tomados por Ti e mesclados Contigo. Senhor, nesses
três anos e meio temos lido tudo o que és. Agora, foste para o céu, mas nos disseste que
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devemos ser Tuas testemunhas na terra. Como podemos fazer isso? Senhor, eis-nos aqui
abertos para Ti. Vem encher-nos. Vem possuir-nos, ocupar-nos e saturar-nos".

Os discípulos nã o oraram de maneira superficial. A oraçã o deles deve ter sido profunda. Os
cento e vinte haviam deixado casa, parentes, trabalhos, objetivos, fama e tudo o mais. O
Senhor lhes havia dito que eles seriam Suas testemunhas, mas eles nã o podiam sê-lo sem ser
cheios Dele. Eles precisavam que o Senhor os tomasse, possuísse, ocupasse, enchesse,
saturasse, revestisse de poder e equipasse. Esse deve ter sido o conteú do da oraçã o deles. Foi
por meio dessa oraçã o, orando o que eles haviam lido de Cristo como a Palavra, que o que eles
leram foi transferido para o Espírito. Portanto, a partir do dia do Pentecostes, eles foram
verdadeiramente um com o Senhor em espírito, e o Senhor foi um com eles. É por isso que
quando Saulo de Tarso perseguiu Estevã o e os outros discípulos, o Senhor Jesus lhe disse:
"Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 9:4). Quando Saulo perguntou: "Quem és tu,
Senhor?", o Senhor respondeu: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (v. 5). Saulo pode ter
pensado: "Eu persegui a Pedro, Tiago, Joã o e Estevã o, mas nunca persegui a Jesus". Contudo,
ao falar dessa maneira a Saulo, o Senhor revelou que perseguir Seus discípulos era perseguiLo.
Jesus era um com Pedro, Joã o, Tiago e todos os discípulos, porque Ele era nã o somente a
Palavra, mas também o Espírito. Desde o dia do Pentecostes, a Palavra fora transferida para o
Espírito. A partir desse dia, os primeiros discípulos lidaram nã o apenas com o Senhor como a
Palavra, mas também com Cristo como o Espírito.

NOSSA NECESSIDADE DE SEMPRE ORAR COM A PALAVRA QUE OUVIMOS

O princípio aqui é que sempre que lemos ouvimos ou aprendemos algo do Senhor temos de
orar. Devemos guardar esse principio nã o apenas individualmente, mas também na vida
coletiva. A maneira adequada de se ter uma reuniã o ministerial é que apó s a mensagem
tenhamos algum tempo para que todos orem juntos. Nã o deveríamos simplesmente dar-lhes a
mensagem e encerrar a reuniã o. Temos de orar para transferir a palavra que ouvimos para o
Espírito.

Na primavera de 1961 estive com os jovens em Manila. Naqueles dias todos, gastamos mais
tempo orando do que ouvindo mensagens. Por aproximadamente duas semanas, dia e noite,
aqueles jovens oravam. Oravam antes de ir para a reuniã o, e oravam na reuniã o. Nã o havia um
começo definido das reuniõ es. Todos simplesmente oravam ao chegar. A oraçã o durava muito
tempo, à s vezes quase uma hora antes de se começar a mensagem. A mensagem terminava em
trinta ou quarenta minutos, e entã o eles oravam por cerca de mais uma hora. Havia uns cem
jovens e todos oravam, à s vezes cinqü enta ou sessenta em cada reuniã o. Aquele foi um
verdadeiro mover do Senhor em Manila que os preparou para uma perseguiçã o que viria. A
oraçã o naquela conferência fortaleceu toda a igreja ali. Também lançou bom fundamento para
a igreja em Manila, de maneira que até hoje dois terços dos membros da igreja sã o jovens.

Nã o quero dizer que deveríamos mudar a forma de nossas reuniõ es. Antes, precisamos mudar
nossa atitude percepçã o e maneira e vida. Na situaçã o miserá vel de hoje, muitos nã o oram.
Eles simplesmente "vã o à igreja no domingo de manhã e sentam-se para ouvir uma
mensagem. Temos de dar uma virada nessa situaçã o. Temos de ser revolucioná rios para ter
uma nova situaçã o. Os irmã os devem ser ajudados a aprender a orar e a ter uma vida de
oraçã o, Entã o, quando forem à reuniã o, eles irã o para orar. Isaías 56:7 diz: "A minha casa será
chamada Casa de Oraçã o para todos os povos”. Todos devem ir à reuniã o para orar. Nã o
deveríamos cantar tanto; antes precisamos orar mais para escavar o coraçã o e abrir o espírito.
Entã o, podemos ter um tempo para o ministério da palavra e quando falarmos a palavra, ela

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será viva e alcançará o espírito dos que a ouvirem. Depois que a palavra for dada, ainda
precisamos de um tempo para orar.

Devemos permitir que na reuniã o todos orem. À s vezes, em Taipé, nã o havia tempo suficiente
para que todos orassem, um apó s outro, de maneira que todos começaram a orar ao mesmo
tempo, duas ou três mil pessoas, em voz alta. Nã o é que nó s os tivéssemos encorajado a fazer
assim; eles o fizeram espontaneamente, porque todos queriam orar. No início de 1961
tivemos uma conferência acerca do edifício de Deus. Essa conferência foi maravilhosa
simplesmente porque todos os presentes usaram muito tempo em oraçã o.

Nos quatro Evangelhos, os primeiros discípulos tiveram a Palavra por três anos e meio, mas
ainda nã o tinham o Espírito. Naquela ocasiã o Cristo era apenas a Palavra para eles Foi por
meio da oraçã o deles por dez dias que Cristo foi transferido a eles em sua experiência como o
Espírito. A partir daquele dia eles se tornaram um povo de oraçã o, lidando nã o apenas com a
Palavra, mas também com Cristo como o Espírito vivificante. Todos devemos guardar o
princípio de transferir a palavra que temos ouvido para o Espí-rito por meio de nossa oraçã o.

Capítulo Dois
SERVIR AO SENHOR COM ORAÇÃ O MAIS DO QUE COM A PALAVRA EXTERIOR

Leitura Bíblica: Cl 3: 16-17; Ef 5: 18-19; 1Ts 5:16-20; Ef 6:17-18; Hb 10:19-22; 4: 16; Jo 6:63

Nos quatro Evangelhos, o Senhor Jesus veio como a Palavra. Depois, por meio de Sua
crucificaçã o e ressurreiçã o, Ele foi transfigurado no Espírito (1Co 15:45b). Apó s a Sua
ressurreiçã o e ascensã o, desde o livro de Atos e passando por todas as Epístolas, o Senhor
Jesus é o Espírito vivificante. Portanto, em nossa experiência precisamos aprender a transferir
para o Espírito o Senhor como a Palavra. Precisamos conhecê-Lo como a Palavra, a expressã o,
a revelaçã o, a mani-festaçã o de Deus, mas precisamos mais do que isso. Depois de conhecê-Lo
como a Palavra, precisamos que Ele seja transferido para o Espírito nã o apenas para que O
conheçamos, mas também O experimentemos.

Nos quatro Evangelhos, o Senhor Jesus é revelado como a Palavra, a expressã o, a manifestaçã o
de Deus para O conhecermos. Nessa época Jesus estava sempre junto dos primeiros discípulos
para que eles O vissem, estudassem e conhecessem. Diariamente, naqueles três anos e meio,
Pedro e os demais discípulos conheceram cada vez mais ao Senhor.

Contudo, quando chegamos ao livro de Atos e à s Epistolas, vemos o Senhor Jesus como o
Espírito vivificante habitando em nosso espírito (Rm 8:16; 2 Tm 4:22), nem tanto para O
conhecermos, mas principalmente para participarmos Dele e O provarmos, desfrutarmos e
experimentarmos. Temos aqui dois passos em nosso lidar com o Senhor. O primeiro é
conhecê-Lo o melhor possível como a Palavra. O segundo é desfrutá -Lo, prová -Lo e
experimentá -Lo o mais profundamente possível. O princípio é que todos devemos aprender a
transferir o Senhor como a Palavra para o Espírito.

SER ENCHIDO COM A PALAVRA QUE FOI TRANSFERIDA PARA O ESPÍRITO

Colossenses 3:16-17 diz: "Habite, ricamente, m vó s a palavra de Cristo; instruí-vos e


aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e
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câ nticos espirituais, com gratidã o, em vosso coraçã o. E tudo o que fizerdes, seja em palavra
seja em açã o, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai". Esses dois
versículos mostram-nos que salmos, hinos e câ nticos espirituais provém da palavra que nos
enche. Quando somos enchidos com a palavra, louvamos e agradecemos com salmos, hinos e
câ nticos. A passagem paralela em Efésios 5:18-19 diz: "E nã o vos embriagueis com vinho, no
qual há dissoluçã o, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vó s com salmos, entoando e
louvando de coraçã o ao Senhor com hinos e câ nticos espirituais". Dessas passagens nesses
dois livros irmã os, uma nos diz que quando somos enchidos com a palavra, nó s louvamos o
Senhor com salmos, hinos e câ nticos; enquanto a outra diz que quando estamos cheios no
espírito, nó s louvamos com salmos, hinos e câ nticos. Isso prova que a palavra se torna Espírito
para nó s. Quando somos cheios adequadamente com a palavra, somos, ao mesmo tempo,
enchidos no espírito.

Por experiência pró pria, sabemos que a palavra deve tornar-se o Espírito. Caso contrá rio,
jamais poderemos louvar adequadamente. Louvar com hinos nã o é algo que provém, apenas
da mente; nosso louvor deve vir do espírito. Quando nosso espírito é tocado pela palavra
como Espírito, temos louvor em nosso interior.

Quando a palavra falada a nó s entra em nó s, ela se torna a palavra novamente, e quando eles a
recebem, ela se torna Espírito para eles. Ao sair, o Espírito torna-se a palavra, e a palavra
recebida de maneira adequada torna-se o Espírito. Se a palavra nã o se torna o Espírito, ela é
mero conhecimento, a letra que mata (2Co 3:6). Se recebermos a palavra apenas na mente, ela
será conhecimento na letra, mas quando a recebemos no espírito, ela se torna Espírito. Além
disso, quando a palavra se torna Espírito, ela se torna vida.

A ORAÇÃ O É A Ú NICA MANEIRA DE RECEBER A PALAVRA COMO O ESPÍRITO

Nã o é necessá rio ensinar as pessoas a receber a palavra na mente. Elas fazem isso de modo
espontâ neo. Contudo, nã o sã o muitos os cristã os que sabem receber a palavra como o Espírito.
A ú nica maneira de recebê-la como o Espírito oraçã o. Nã o importa quã o profundamente nó s a
recebamos, ela nã o será vida para nó s enquanto nã o tiver-mos oraçã o adequada. Uma pessoa
pode ouvir o evangelho e ser profundamente inspirada e movida elo Espírito Santo. Contudo
se ela nã o orar, nã o poderá ser salva. Nã o importa quã o profundamente seja inspirada, ela
ainda precisa orar; isso é um princípio. Muitas vezes fomos inspirados por uma boa
mensagem, mas deixamos de orar. Assim, de depois de pouco tempo a inspiraçã o se vai. Para
guardar a mensagem que ouvimos e pela qual fomos inspirados, devemos imediatamente
introduzi-la no espírito por meio da oraçã o. Entã o, ela será semeada em nosso espírito e mes-
clada com ele pela oraçã o. Orar faz uma enorme diferença.

Em nossa pregaçã o do evangelho aprendemos que, a despeito do quanto as pessoas entendam


uma mensagem e sejam inspiradas por ela, ainda temos de ajudá -las a orar. Orar é como
assinar um contrato, mas se nã o o assinarmos, ele nada vale. De agora em diante, depois que
uma mensagem for liberada, temos de ajudar os ouvintes a orar a respeito dela.

Podemos aplicar o mesmo princípio à nossa leitura. Toda vez que lemos a Bíblia, precisamos
pô r em oraçã o o que lemos e entendemos. Se gastarmos dez minutos lendo, devemos gastar
pelo menos quinze minutos orando. Precisamos orar mais para receber em nosso espírito o
que lemos. Muitas vezes, quando lemos a palavra, ganhamos conhecimento na mente, mas nã o
somos nutridos interiormente. Enquanto nã o gastarmos tempo para orar sobre o que lemos,
nã o seremos nutridos no espírito. Entã o, nã o apenas seremos iluminados e ensinados, mas
também alimentados, refrescados e fortalecidos interiormente.
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Temos sofrido muito simplesmente porque negligenciamos esse princípio. Ao ler, ouvir e ter
comunhã o, passamos a conhecer muitas coisas, e somos verdadeiramente inspirados, mas
negligenciamos a oraçã o. Portanto, o que ouvimos e o que nos inspirou desaparecem com
rapidez. Gradualmente, porém, guardamos o conhecimento na mente. Como resultado, temos
muito conhecimento, mas nã o temos suficiente crescimento em vida. O conhecimento na
mente torna-se a letra que mata, a qual destró i nossa vida cristã .

NEM DESPREZAR A PALAVRA MINISTRADA

As Epístolas enfatizam que precisamos orar mais do que ler. Primeira Tessalonicenses 5:1620
diz: "Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de
Deus em Cristo Jesus para convosco. Nã o apagueis o Espírito. Nã o desprezeis as profecias". Se
lermos todos esses versículos juntos, podemos ver que orar tem muito a ver com nossa açã o
de graças a Deus. O versículo 17 diz-nos que devemos orar sem cessar, o 18, que devemos dar
graças em tudo, e o 19, que nã o devemos apagar o Espírito. Isso implica que, se nã o orarmos,
iremos apagar o Espírito. Podemos pensar que apagamos o Espírito fazendo algo errado. Na
verdade, apagamos o Espírito simplesmente deixando de orar. Além disso, o versículo 20 fala
de profecias. Profecias referem-se à palavra e ao ministério da palavra. Nã o orar pelo que
ouvimos é desprezar o ministério da palavra. Se respeitamos o que ouvimos no ministério da
palavra, iremos orar sobre o que ouvimos e orar com o que ouvimos.

RECEBER A PALAVRA COM TODA ORAÇÃ O

Efésios 6:17-18 diz: "Tomai também o capacete da salvaçã o e a espada do Espírito, que é a
palavra de Deus; com todo oraçã o e sú plica orando em todo tempo no Espírito e para isto
vigiando com toda perseverança e sú plica por todos os santos". O contexto dessa passagem
mostra-nos que orar é muito mais importante do que ler. Isso nã o significa que nã o devemos
ler e ouvir mensagens. Devemos fazê-lo. Contudo o que necessitamos é orar mais do que ler.
Precisamos que a oraçã o seja combinada com nossa leitura. Precisamos orar, com toda porçã o
da Palavra que lemos e toda mensagem que ouvimos e a respeito delas. Caso contrá rio, poderá
ser apenas conhecimento na mente; jamais será alimento e suprimento de vida no espírito.
Teremos conhecimento, mas nã o 0 Espírito. Por fim, teremos morte em vez de vida. Todos
temos de aprender esse princípio. Para que nossas reuniõ es tenham novidade e frescor de
vida, temos de ajudar os irmã os a que diariamente pratiquem orar mais do que ler. Temos
negligenciado muito este assunto.

SERVIR COMO SACERDOTES QUEIMANDO INCENSO

Deus precisa e deseja ter um povo de sacerdotes. Todos fomos salvos para ser sacerdotes (Ap
1:6; 1Pe 2:5, 9). Um sacerdote é alguém que queima incenso diante de Deus (Ê x 30:7-8).
Queimar incenso é orar. Somente os que vã o ao Senhor para orar e contatá -Lo, cumprem o
propó sito de Deus. Nos quatro Evangelhos, quando o Senhor Jesus veio a terra entre os judeus,
nã o havia muitos sacerdotes. Antes, havia muitos escribas. Escribas sã o eruditos religiosos,
teó logos; nã o sã o sacerdotes. Sacerdotes nã o sã o pessoas de conhecimento; sã o pessoas de
incenso. Diariamente eles queimam incenso, isto é, oram. Zacarias, pai de Joã o Batista, é um
bom exemplo de sacerdote, indo ao templo para quei-mar incenso e orar (Lc 1:8-
9).

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Por toda a Bíblia, mesmo no tempo de Adã o, a intençã o de Deus era ter um povo sacerdotal.
Esse é o ú nico tipo de pessoa que Deus precisa. Abel era sacerdote e Noé também. Eles nã o
tinham um sacerdote oficial para oferecer suas ofertas. Eles pró prios as ofereciam. Contudo, o
principal trabalho dos sacerdotes nã o é oferecer sacrifícios; é queimar incenso.

Há dois altares no taberná culo. Um está fora do taberná culo, e o outro, dentro. O altar do
holocausto no lado de fora do taberná culo é feito de bronze, enquanto o altar do incenso,
dentro do taberná culo, é de ouro (Ê x 27: 1-2; 30:1, 3). O altar do holocausto visa ao altar do
incenso. Podemos provar isso de duas maneiras. Primeiramente, o fogo utili-zado para
queimar o incenso vinha do altar do holocausto. O ú nico fogo que podia ser usado para
queimar o incenso era o fogo do altar do holocausto, o fogo celestial que vinha de Deus (Lv
9:24). Qualquer outro seria "fogo estranho", como o que os dois filhos de Arã o ofereceram
(10:1). Isso significa que para orar temos de fazê-lo com base na redençã o da cruz. A redençã o
no altar do holocausto visa à comunhã o no altar de incenso. No altar do holocausto há a
purificaçã o do sangue com vistas à comunhã o. Primeira Joã o 1:7 diz-nos que, para manter a
comunhã o, precisamos da purificaçã o pelo sangue. Sem o altar do holocausto, nã o temos base
para queimar o incenso, isto é, para ter comunhã o com Deus. A redençã o visa à comunhã o. Ela
nos conduz de volta à comunhã o com Deus. Em segundo lugar, o sangue derramado sobre o
altar do holo-causto é levado para o Lugar Santo para ser aspergido sobre os quatro chifres do
altar do incenso (Lv 4:7a). Isso prova novamente que o altar externo ao taberná culo visa ao
altar no Lugar Santo.

Os sacerdotes nã o somente traziam as ofertas; eles queimavam incenso, e queimar incenso é


orar. Efésios 6:5-7 diz-nos que até mesmo ser servo de um senhor humano é um tipo de
serviço a Deus. Contudo, esse nã o é um serviço como o que os sacerdotes tinham quando
queimavam incenso. Muitos levitas trabalhavam em torno do altar no á trio, sem entrar no
Lugar Santo. Eles apenas levavam as vacas e ovelhas, as imolavam, esfolavam e tinham muitas
outras tarefas. Era um serviço a Deus, mas era diferente do serviço dos que queimavam
incenso. Precisamos aprender a queimar incenso de maneira refinada para oferecer um aroma
agradá vel a Deus. Servir a Deus no á trio como levita é um tipo de serviço, mas servir como
sacerdote queimando incenso diretamente para Deus é outra coisa.

Entrar no Santo dos Santos é ainda mais profundo. No Santo dos Santos nã o há um altar, mas a
arca com a gló ria shekinah de Deus. O serviço no á trio, o serviço no Santo Lugar e o serviço no
Santo dos Santos sã o todos serviços a Deus, mas que tipo de serviço queremos ter? O serviço
no Santo Lugar exige que aprendamos a queimar incenso orando.

NOSSA NECESSIDADE DE ORAR EM ESPÍRITO

O taberná culo e o templo representam nosso ser que é composto de três partes: espírito, alma
e corpo. Para queimar incenso, devemos aprender a nos conduzir, agir e servir interiormente
e nã o apenas exteriormente. Pouco a pouco devemos aprender a estar no espírito. De acordo
com o registro da Bíblia, é difícil discernir se o altar do incenso está fora ou dentro do véu,
diante da arca (Ex 30:6; 1Rs 6:22; Hb 9:3-4). Esse é um problema para os estudiosos da Bíblia.
Contudo, esse arranjo está sob a soberania de Deus Em tipologia isso significa que, quando
começamos a orar, estamos principalmente na alma e somente um pouco no espírito. É difícil
dizer se estamos orando no Lugar Santo ou no Santo dos Santos. Depois de alguns minutos,
porém, entramos mais profundamente no espírito. Nesse momento oramos no espírito.

Arã o tomou um incensá rio para queimar incenso diante de Jeová dentro do véu do
taberná culo (Lv 16:12-13). Esse incensá rio é diferente do altar do incenso. De acordo com a
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interpretaçã o bíblica adequada, o altar do incenso é para oraçõ es em geral, ao passo que o
incensá rio é para oraçõ es especiais. Oraçõ es especiais sã o um tanto mais profundas, no Santo
dos Santos. Todas nossas oraçõ es especiais devem ser no espírito. Portanto, devemos
aprender a nos conduzir, agir, viver e andar de maneira interior.

NOSSA NECESSIDADE DE CONTATAR O SENHOR INTERIORMENTE POR MEIO DA ORAÇÃ O


Todos devemos buscar viver de maneira interior para contatar o Senhor. O que Deus necessita
é um povo que O contata orando. No cristianismo hoje há muita atividade exterior, mas nã o há
muito contato interior com o Senhor a fim de queimar incenso. Um sacerdote é uma pessoa
que queima incenso interiormente, nã o no á trio, mas no Santo Lugar, e até mesmo no Santo
dos Santos, para contatar o Senhor. Hebreus 10:19-22 exorta-nos a entrar no Santo dos
Santos, e 4:16 encoraja-nos a tocar o trono da graça. Quem entra no Santo dos Santos e toca o
trono da graça é um sacerdote. Em Colossenses 4: 16, Paulo exortou os colossenses a ler sua
epístola aos laodicenses, mas, em sua maioria, os escritores das Epístolas encorajam-nos nã o a
ler mais, mas a ser pessoas de oraçã o, pessoas que constante-mente vã o ao Santo dos Santos
para tocar o trono da graça.

O tipo de pessoa que pode contatar Deus nã o é a que faz obra, mas a que ora. O que
precisamos hoje na restauraçã o do Senhor sã o mais pessoas que oram. Esperamos no Senhor
que Ele mude a maneira das nossas reuniõ es, mas se nã o formos um povo que ora, somente
teremos reuniõ es formais. Somente quando nos tornamos pessoas de oraçã o é que podemos
ter reuniõ es vivas. Podemos comparar o formalismo das reuniõ es cristã s à s ataduras que
envolvem os mortos. Em Joã o 11:44, o Senhor disse à s pessoas que removessem as ataduras
do Lá zaro ressuscitado. Contudo, se Lá zaro nã o tivesse ressuscitado, retirar as ataduras teria
apenas exposto seu mau cheiro. Se mudarmos a maneira de nos reunir sem que nossas
reuniõ es sejam vivas, elas serã o cheias de mau cheiro, como um cemitério cheio de morte.
Portanto, devemos encorajar os irmã os a aprenderem a orar.

ORAR SOBRE O QUE LEMOS E COM O QUE LEMOS PARA CONTATAR O SENHOR

A fim de ser um povo de oraçã o temos de ler a Palavra diariamente, mas temos de orar mais
do que lemos. Se usarmos dez minutos para ler devemos usar outros vinte para orar. Esse tipo
de oraçã o nã o é por assuntos, negó cios, cô njuge, escola, trabalho nem mesmo por socorro. É
simplesmente orar sobre o que lemos e com o que lemos a fim de contatar o Senhor. Nã o se
trata de uma oraçã o de negó cios, mas de uma oraçã o para contatar Deus. Precisamos
aprender a orar a fim de comer e beber Cristo. Devemos esquecer os negó cios e as
necessidades. Temos Mateus 6:33 como promessa: se buscarmos primeiro o Seu reino e a Sua
justiça,

Ele nos acrescentará tudo o que necessitamos. Deve-mos aprender a simplesmente buscá -Lo,
orando sobre o que lemos e com o que lemos.

Pouquíssimos cristã os têm uma vida de oraçã o adequada, e menos ainda oram com o que
lêem. Temos de orar com o que lemos e sobre o que lemos. Entã o, a palavra que recebemos se
tornará o Espírito em nosso espírito, e quando a palavra se torna Espírito, ela é vida para nó s.
"As palavras que Eu vos tenho dito sã o espírito e sã o vida" (Jo 6:63). Como a palavra pode
tornar-se Espírito para nó s? Nã o há outra maneira senã o pela nossa oraçã o. Podemos orar a
respeito dessa palavra. Que o Senhor nos conceda verdadeira mudança e verdadeira revelaçã o
no espírito, para que possamos servi-Lo nã o meramente no á trio, mas no Lugar Santo e até
mesmo no Santo dos Santos. Todos precisamos aprender a nã o ser escribas ou mestres, mas
sacerdotes, dando mais atençã o à oraçã o do que à leitura.
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Capítulo Três
LIDAR COM CRISTO COMO A PALAVRA E O ESPÍRITO
Leitura Bíblica: Jo 6:57, 63; 2Co 3:6b

A intençã o de Deus é mesclar-se conosco e trabalhar-se em nó s. A primeira figura na Bíblia


apó s a criaçã o do homem é a de Deus apresentar-se ao homem como a á rvore da vida na
forma de alimento para que o homem coma (Gn 2:8-9). Comer é desfrutar, e tudo o que
desfrutamos comendo é mesclado conosco. Deus deseja oferecer-se a nó s para que possamos
desfrutá -Lo todo o tempo. Dessa maneira, Ele pode ser vida e tudo para nó s e até mesmo
tornar-se nosso pró prio componente.

Deus como desfrute para nó s está em Cristo. Cristo é a pró pria corporificaçã o de Deus; toda a
plenitude da deidade habita Nele corporalmente (Cl 2:9), isto é, tudo o que Deus é está
corporificado em Cristo. Cristo vem até nó s como a corporificaçã o de Deus para que O
tomemos, comamos, bebamos e desfrutemos. O pró prio Cristo nos disse que veio como o pã o
da vida celestial para comermos e como á gua viva para bebermos (Jo 6:51; 7:37-38). Comer e
beber Cristo é tomá -Lo como nosso desfrute. Cristo é a pró pria corporificaçã o de Deus para
que possamos participar Dele e desfrutá -Lo.

DEUS CORPORIFICADO EM CRISTO COMO A PALAVRA PARA O CONHECERMOS

Cristo veio como a corporificaçã o de Deus para ser desfrutado por nó s primeiramente como a
Palavra e, por fim, como o Espírito. Podemos ver isso claramente no Evangelho de Joã o. No
princípio havia Deus como o Verbo, ou a Palavra (1:1). A Palavra é a expressã o, definiçã o, a
revelaçã o de Deus. No Evangelho de Joã o, Deus é expresso e revelado por meio da vida e do
andar do Senhor Jesus enquanto Ele esteve na terra. É por meio Dele que conhecemos a
plenitude de Deus, que tipo de Deus Ele é e como Ele é o nosso des-frute. Enquanto Cristo
estava com os discípulos, eles O ouviam, viam e tocavam (1Jo 1:1). Diariamente eles "liam" a
Palavra viva. Se alguém ficasse conosco de manhã até à noite, dia e noite, nó s, por fim, o
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teríamos "lido" de maneira cabal. Por três anos e meio, Pedro e os demais discípulos liam
constantemente algo de Cristo, nã o em letras em preto e branco, mas em uma Pessoa viva.
Pela leitura que os discípulos fizeram de Cristo por três anos e meio, eles passaram a conhecer
quem era Ele.

CRISTO TRANSFIGURADO NO ESPÍRITO PARA O NOSSO DESFRUTE

Contudo, Cristo somente podia estar no meio deles. Naquela ocasiã o Ele nã o estava dentro
deles. Portanto, eles somente puderam conhecê-Lo, mas nã o desfrutá -Lo plenamente. Para se
comer algo, essa coisa precisa ser morta, cortada em pedaços e cozinhada. Entã o, o que
anteriormente apenas contemplá vamos irá tornar-se uma deliciosa refeiçã o para ser tomada,
provada e desfrutada. Foi isso o que o Senhor Jesus disse aos discípulos depois de ter estado
com eles por três anos e meio. Ele lhes disse que seria crucificado. Ser crucificado é ser morto,
ser "colocado no fogo e cozi-nhado". Ser cozinhado é ser transformado, mudar de forma para
poder ser comido, Por Sua crucificaçã o e ressurreiçã o, Cristo foi transfigurado da carne para o
Espírito. Depois dos quatro Evangelhos, essa Palavra tornou-se o Espírito vivificante (1Co
15:45b; 2Co 3:17).

Nas Epístolas nã o vemos Cristo principalmente como a Palavra. Somente 1 Joã o 1:1 o
menciona como a Palavra. Contudo, o livro de Atos e as Epístolas dizem-nos diversas vezes
que Cristo é o Espírito. Nos quatro Evangelhos, Cristo é a Palavra, como a expressã o e
revelaçã o de Deus, mas em Atos e nas Epístolas, Cristo é o Espírito como nosso desfrute.
Quando Cristo tornou-se o Espírito é que Ele pô de ser nosso desfrute. Como a Palavra, Cristo
era a revelaçã o, mas como o Espírito, Ele é nosso desfrute, torna-se real para nó s e é nossa
experiência. Quando Cristo estava com os primeiros discípulos nos quatro Evangelhos, nos
três anos e meio, Ele era uma revelaçã o para eles, mas nã o podia ser compreen-dido por eles
porque eles nã o podiam experimentá -Lo. Apó s o dia da ressurreiçã o e o dia do Pentecostes,
contudo, Cristo já nã o era apenas uma revelaçã o. Cristo tornou-se uma experiência para os
discípulos porque havia se tornado o Espírito vivificante e habitava no espírito deles (Rm
8:16; 2 Tm 4:22), nã o simplesmente para que O entendessem, vis-sem e conhecessem, mas
para que O desfrutassem, partici-passem Dele e O experimentassem. Para conhecer Cristo,
temos de conhecê-Lo como a Palavra, e para experimentá -Lo, temos de fazê-Lo como o
Espírito vivificante. Cristo como a Palavra é para conhecermos; Cristo como o Espírito é para
O desfrutarmos e experimentarmos.

TRÊ S TIPOS DE PESSOAS QUE BUSCAM A CRISTO

Os Fundamentalistas: Buscam a Cristo Estudando com a Mente

Embora sejamos cristã os há muitos anos, temos conhecido a Cristo principalmente como a
Palavra. Nã o O temos desfrutado suficiente como o Espírito vivificante. Um tipo de cristã o
buscador estuda a fim de conhecer Cristo como a Palavra, tomando notas em sua Bíblia,
marcando-a com cores diferentes e exercitando a mente em concor-dâ ncias, léxicos,
dicioná rios e exposiçõ es. Muitas vezes no passado, ao lidar com Cristo, nó s exercitamos
apenas a mente a fim de estudar dessa maneira.

Os Pentecostais: Buscam a Cristo Exercitando os Dons

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Outro tipo de cristã o diz que isso é muito morto. Esse segundo grupo busca as experiências
pentecostais, possivelmente chegando a produzir algo manufaturado. Repentinamente, parece
que algo desce do céu sobre a pessoa, e ela pula, ri, rola e muda a voz para falar em línguas.

Os que Desfrutam o Cristo que Neles Habita: Exercitam o Espírito

Contudo, nã o sã o muitos os cristã os que conhecem a maneira da vida interior. Cristo foi
primeiramente a Palavra, mas, depois de Sua crucificaçã o e ressurreiçã o, Ele tornou-se, e
ainda é, o Espírito vivificante, que habita em nosso espírito.

Agora temos de exercitar nosso espírito humano como ó rgã o para O contatar, experimentar e
desfrutar interiormente de maneira viva. O Novo Testamento nã o corresponde à maneira dos
fundamentalistas, os que somente estudam a Palavra, nem à dos pentecostais, os que somente
buscam experiências pentecostais. Antes, o Novo Testamento corres-ponde aos que
compreendem e desfrutam o fato de Cristo hoje ser o Espírito vivificante habitando em nosso
espírito. Devemos conhecê-Lo da maneira revelada em 2 Timó teo 4:22: "O Senhor seja com o
teu espírito". Devemos saber exercitar o espírito a fim de compreender, desfrutar e
experimentar o Senhor. Nã o digo que nã o precisamos do conhecimento fundamental ou dos
dons adequados. Sim, precisamos deles. Contudo, o conhecimento fundamental e os dons
adequados sã o para que os cristã os conheçam a Cristo como o Espírito vivificante e O
experimentem exercitando o espírito para contatá -Lo.

SABER LIDAR COM CRISTO COMO A PALAVRA E O ESPÍRITO

Nos quatro Evangelhos, Cristo era a Palavra a fim de revelar Deus a nó s; e em Atos e nas
Epístolas, Cristo é o Espírito vivificante para desfrutarmos, contatarmos e experimentarmos.
Portanto, todos temos de saber lidar com a Palavra e com o Espírito. Alguns podem saber lidar
com a Palavra, mas nã o de maneira adequada. Contudo, estou mais preocupado com o fato de
que muitos nã o sabem lidar com o Espírito.

Temos a Bíblia como a Palavra de Deus, e também temos o Espírito Santo em nó s. Esses dois
itens sã o a riqueza, os bens que herdamos de Deus. Se me perguntarem: “Irmã o Lee, que
riquezas você tem?", eu responderia que tenho apenas estes dois itens: a Bíblia em minhas
mã os e o Espírito Santo no meu espírito. Um bom cristã o sabe lidar com a Palavra e com o
Espírito. Nestes dias nos demos conta de que precisamos de uma maneira adequada para nos
reunir. Contudo, para ter uma reuniã o adequada, precisamos ter uma vida cristã adequada.
Uma reuniã o adequada é a expressã o e o testemunho coletivos de nossa vida cristã . Além
disso, para se ter uma vida cristã adequada, preci-samos saber lidar diariamente com Cristo
como a Palavra e como o Espírito vivificante. Enquanto nã o soubermos lidar adequadamente
com Cristo como a Palavra e o Espírito vivo que habita interiormente nã o seremos capazes de
ter uma vida cristã e uma vida de reuniã o adequadas.

EXERCITAR O ESPÍRITO PARA ORAR COM A PALAVRA QUE LEMOS

Joã o 6:63 diz: "As palavras que Eu vos tenho dito sã o espírito sã o vida". A palavra tem de ser
espírito para ser vida para nó s. Portanto, devemos saber transferir para o Espírito a palavra
que entendemos. Se vamos à Bíblia apenas para exercitar os olhos e a mente a fim de

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entendêla, a palavra ainda será apenas palavra. A maneira de transferi-la para o Espírito é
exercitar nosso espírito para orar.

Um cristã o pode ler Mateus 1:1 que diz: "Livro da geraçã o de Jesus Cristo, filho de Davi, filho
de Abraã o". Se ler esse versículo apenas para entendê-lo, ele receberá a palavra somente de
maneira exterior. Contudo, a palavra apenas na forma de letras traz morte (2Co 3:6). A
maioria dos cristã os a toma somente como conhecimento a fim de armazená -la na mente.
Aliá s, quanto mais fazemos isso, mais morte temos. Essa morte na esfera da mente faz com
que critiquemos os outros, e quando os criticamos temos o mau cheiro da morte. Contudo, se
transferirmos Mateus 1:1 para o Espírito, esse versículo torna-se vida. Entã o, em vez do mau
cheiro da morte, essa palavra trará uma fragrâ ncia, um incenso oferecido a Deus.

Quando um recém-convertido ora com Mateus 1:1, pode ser que ele nã o saiba quem sã o Davi e
Abraã o. Ele pode simplesmente orar: "Senhor Jesus, eu nã o sei quem sã o Davi e Abraã o. Mas
sei que Tu, Senhor, és o Filho de Deus, que se tornou o Filho de Davi. Ó Senhor, Tu és o Filho de
Deus, mas Te tornaste Filho do Homem. Senhor, eu Te louvo e Te adoro. Tu és Deus, contudo,
Te tornaste homem". Se ele ler a palavra dessa maneira, receberá nã o conhecimento, mas o
pró prio Cristo vivo. Quanto mais ele orar dessa maneira, mais o Cristo vivo terá sido infundido
nele por meio da oraçã o. Depois de ler e orar dessa maneira por vá rios minutos, ele estará
cheio, satisfeito e renovado.

Há duas maneiras de lidar com a palavra. Uma é perguntar: "Quem é Davi? É o pai de Salomã o;
mas quem é Salomã o?" Essa é a maneira errada. Ela nos deixará per-didos e poderá fazer com
que estudemos por duas semanas. Entã o nos orgulharemos, sabendo quem é Davi e
conhecendo tudo sobre ele. Iremos para a reuniã o para ouvir o ministrar da palavra,
observando cuidadosamente o que o orador falará sobre Davi. Poderemos achar que sua
palavra nã o é precisa, e assim começaremos a criticá -lo. Podemos dizer: "Esse orador nunca
usou uma boa concordâ ncia bíblica. Ele nã o tem conhecimento adequado. Como pode vir aqui
ensinar-nos?" É exatamente isso que tem ocorrido conosco. Uma vez, uma pessoa que me
ouvia disse: "Esse coitado do irmã o Lee provavelmente nunca leu “A Vida Cristã Normal”. Na
verdade eu ouvi as mensagens da Vida Cristã Normal antes que essa pessoa tivesse nascido.
Isso ilustra como tomar a palavra simplesmente como letras que gera conhecimento, o
conhecimento traz morte e a morte cheira mal. Que o Senhor nos salve e liberte dessa maneira
errada.

A maneira correta de receber a palavra é tomá -la como o sopro de vida da parte de Deus (2Tm
3:16). Ela é o alimento vital pelo qual o homem vive. O homem nã o vive somente do pã o, mas
de toda palavra que procede da boca de Deus (Mt 4:4). É alimento para o espírito, por isso
temos de exercitar o que vamos à palavra, temos de nos dar conta de que ela é alimento
espiritual. Devemos exercitar o espírito para comê-la, e nã o meramente conhecê-la. Devemos
esquecer-nos do conhecimento e simplesmente comer Cristo. Essa é a palavra escrita da
Palavra viva. É a expressã o, a revelaçã o da Palavra viva, que é Cristo. Ele é nosso alimento,
nosso pã o da vida, de modo que sempre que tomamos a Bíblia, tomamos alimento, nã o para o
corpo, mas para o espírito. Assim temos de usar o espírito para tomá -la. Isso está claro para
nó s, mas temos de ter a prá tica de receber a palavra dessa maneira: nã o meramente lê-la para
obter conhecimento, mas para nos alimentar.

Gênesis 1:1 diz: "No princípio, criou Deus os céus e a terra". A maioria das pessoas que lêem
esse versículo é tentada a saber quem estava no princípio e se esse princípio foi há milhares,
milhõ es ou bilhõ es de anos. Essa é a maneira de ler a Bíblia para obter conhecimento,
conhecer pelo exercício da mente. É a maneira errada. A maneira correta é exercitar o espírito.
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Se o fizermos, imediatamente iremos orar: "Senhor, Tu criaste todas as coisas. Tudo foi criado
por Ti, por isso, tudo foi iniciado por Ti. Senhor, quero que Tu entres em minha vida para
iniciar todas as coisas". Tomar a palavra dessa maneira nã o é mero conhecimento. Antes, é
suprimento.

Mateus 8:1-3 diz: "Ora, descendo Ele do monte, grandes multidõ es O seguiram. E eis que um
leproso, tendo-se aproximado, adorou-O dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E
Jesus, estendendo a mã o, tocou-o dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo
da sua lepra". Alguns podem tomar essa palavra como mero conheci-mento e até mesmo
criticar, dizendo que isso nã o parece ser um ensinamento adequado na Bíblia. Todavia,
deveríamos tomar essa palavra louvando e orando: “Senhor, desce novamente hoje para o
lugar onde estou. Estou no lugar de fracasso, no lugar de lepra e nã o consigo libertar-me.
Senhor, se desceres para o lugar onde estou serei libertado. Ó Senhor, fui lavado por Ti, mas
ainda preciso mais e mais de Ti. Desce, Senhor, para o lugar onde estou".

A PALAVRA TORNA-SE O ESPÍRITO PARA NÓ S, POR MEIO DA ORAÇÃ O

Se lermos a palavra pela manhã dessa maneira, esses poucos versículos serã o muito
adequados e constituirã o um rico desjejum. Eles serã o bons até mesmo para toda a semana.
Cada dia daquela semana podemos orar: "Ó Senhor, Tu desceste do monte exatamente para o
lugar onde estou. Fui lavado por Ti. Senhor, eu creio que até hoje Tu vens para mim.
Encontrame aqui". Enquanto trabalhamos, podemos orar: "Senhor, aqui há lepra. Desce para o
lugar onde estou". O dia todo receberemos nã o a palavra, mas o pró prio Senhor. A palavra
será transferida para o Espírito por meio da oraçã o. A palavra é preta e branca exterior a nó s,
mas depois de orarmos ela se torna o Espírito vivo em nosso interior, a nos alimentar,
refrescar, fortalecer e libertar o dia todo.

Podemos ilustrar ainda mais a maneira viva de ler a palavra com 1 Timó teo 1:1. Esse versículo
diz: "Paulo. apó stolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador e de Cristo Jesus,
nossa esperança". Um irmã o pode ler esse versículo, orando e louvando o Senhor por ser
nosso Salvador e nossa esperança. Mais tarde, durante o dia, algo decepcionante pode ocorrer
a ele, mas quanto mais ele ora: "Senhor, Tu és a minha esperança", mais o Espírito em seu
interior o fortalece. Dessa maneira, a palavra esperança torna-se Espírito para ele.

Para orar a fim de transferir a palavra para o Espírito, devemos aprender a exercitar, liberar e
elevar nosso espírito. Nossa oraçã o sobre a palavra deve também ter algum entendimento ou
inspiraçã o em si. Se nã o recebemos algo quando começamos a ler, devemos prosseguir a
leitura. Nã o devemos forçar-nos a ganhar algo em toda porçã o que lemos. A Bíblia é muito
rica. É como um banquete sobre a mesa. Quando chegamos a um banquete, nã o precisamos
esforçar-nos para desfrutar um pedaço de osso sem carne. Se fô ssemos pobres, teríamos de
quebrar o osso para pegar o tutano. Porém, nã o somos pobres; a Bíblia é muito rica.
Inicialmente pode ser que nã o ganhemos nada do que lemos, porém mais tarde, quando
voltamos para aquela mesma passagem, receberemos algo.

Todos precisamos ter a prá tica de receber a palavra dessa maneira, porque estamos
acostumados a receber algo de conhecimento. Depois de determinado período de prá tica,
contudo, estaremos mais acostumados a receber algo de vida. Mesmo sendo fá cil ganhar algo
de conhecimento em certa porçã o da Palavra, nã o o faremos. Se entendemos algo de um
trecho da Palavra, nã o devemos dar atençã o ao simples conhecimento. Em vez disso, devemos
receber algo de vida. Digo novamente: nã o devemos esforçar-nos para ganhar algo de todas as
porçõ es que lemos. Se chegarmos a um "osso" podemos esquecê-lo por enquanto e prosseguir
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para uma mensagem macia e cheia de "carne", a fim de ganhar algo de vida. Ir à Palavra para
banquetear-se no Senhor é como ir à mesa de jantar. Devemos aprender a encontrar algo que
possamos comer.

É muito fá cil ganhar algo de conhecimento, mas nã o é tã o fá cil ganhar algo de vida. Estamos
familiarizados com os ossos, mas nã o conhecemos tã o bem a carne. Todos devemos aprender
essa maneira adequada de ler a palavra. Isso nos ajudará a desfrutar o Senhor, a
experimentá Lo e a viver por Ele. O Senhor Jesus nos disse: "Quem Me come, também viverá
por causa de
Mim" (Jo 6:57). A leitura adequada da Palavra ajuda-nos a compreender o Senhor, desfrutá Lo,
experimentá -Lo e viver por Ele, e também nos ajuda a exercitar o espírito, porque, dessa
maneira, oramos muito. Entã o, nosso espírito é fortalecido, elevado, exercitado e vivificado.
Quando chegarmos à s reuniõ es, será fá cil orar, porque nosso espírito foi exercitado,
fortalecido e elevado. Além disso, teremos algum conteú do para orar. Teremos algo
armazenado em nosso espírito, e nosso espírito estará vivo porque diariamente temos nos
alimentado de Cristo. Essa é a maneira adequada e normal de desfrutar o Senhor.

Capítulo Quatro
OUTRAS ILUSTRAÇÕ ES SOBRE A LEITURA DA PALAVRA COM ORAÇÃ O

Oraçã o: “Senhor sob o Teu precioso sangue aproxima-mo-nos novamente de Ti. Buscamos a
Tua ajuda. Senhor, Tu sabes que nas prá ticas adequadas precisamos de ajuda no espírito. Que
tenhamos a liberdade e o encorajamento para falar e praticar na maneira da vida. Ajuda-nos
para isso. Pedimos-Te em Teu precioso nome.”

NÃ O FAZER UMA ORAÇÃ O FORMAL, MAS FALAR ESPONTANEAMENTE AO SENHOR

Quanto mais adquirimos a prá tica de exercitar o espírito para orar com a palavra que lemos,
mais somos ajustados e mais aprendemos a fazê-lo. Esse tipo de leitura passará a ser
espontâ neo para nó s. Nã o é necessá rio que entendamos o que lemos para entã o fazer uma
oraçã o formal. Simplesmente lemos algo e falamos ao Senhor. Primeiramente, pode ser que
alguns tenham de fechar os olhos para orar, mas depois de alguma prá tica eles se tornarã o
mais interiores e serã o capazes de orar de todos os modos.

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Em determinado ponto seremos capazes de ler e orar com Joã o 15:10, por exemplo. Esse
versículo diz: "Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor; assim
como Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e no Seu amor permaneço". Poderemos
falar ao Senhor de maneira espontâ nea: "Senhor, nã o apenas Tu mesmo és vida, mas até
mesmo Teus mandamentos sã o vida eterna. Nã o tomo Teu mandamento meramente como os
Dez Mandamentos. Antes, eu os tomo como vida, porque eles sã o a Tua pró pria pessoa.
Senhor, Tu nos disseste claramente que sem Ti nada podemos fazer. Tomo Teus mandamentos
simplesmente como a Ti mesmo. Tu és alegria e amor". Nã o é necessá rio fazer uma oraçã o
formal. Podemos simplesmente falar com o Senhor dessa maneira.

Quando falamos ao Senhor dessa maneira, nã o devemos exercitar demais a mente. Antes,
precisamos aprender a exercitar o espírito, a abrir profundamente o nosso interior e falar algo
ao Senhor. Precisamos praticar mais. Quando começamos a ter a prá tica de ler e orar dessa
maneira, precisamos separar algum tempo diariamente. Contudo, depois de nos
acostumarmos mais a isso, poderemos fazê-lo o dia inteiro. Estaremos familiarizados com a
Palavra e seremos capazes de transformar todo e qualquer versículo em oraçã o. Entã o, cada
versículo se tornará Espírito para nó s. Precisamos praticar mais para nos acostumar a isso.

TRANSFORMAR CADA PASSAGEM EM ORAÇÃ O, EXERCITANDO O ESPÍRITO

Precisamos ler a Bíblia sem exercitar nossa escolha. Devemos começar em Mateus 1:1 e
simplesmente continuar a ler na seqü ência. Um dia podemos ler os oito primeiros versículos, e
no dia seguinte continuar a partir do versículo 9 lendo outros cinco ou dez versículos. Uma
manhã podemos chegar a Marcos 4:3-6, que diz: "Ouvi: Eis que o semeador saiu a semear. E
sucedeu que, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a devoraram.
Outra parte caiu em lugar pedregoso, onde nã o havia muita terra, e logo brotou, visto nã o ser
profunda a terra. Quando saiu o sol, queimou-se; e, porque nã o tinha raiz, secou-se". Podemos
orar algo simples, sem muita doutrina e sem "dar uma mensagem" na oraçã o.
Espontaneamente podemos dizer: "Senhor, eu Te louvo porque és o semeador e também a
semente. Ó Senhor, Tu Te semeaste em mim. Oh! a semente! Tu és a semente". À s vezes,
podemos repetir vá rias vezes: "Ó , Senhor, Tu és a semente maravilhosa!" Entã o, podemos
aproximar-nos da esposa e dizer: "Querida, o Senhor é a semente!" Podemos também
dirigirnos ao inimigo e dizer: "Sataná s, você nã o sabe que o Senhor é a semente em mim?".
Essa é uma maneira simples e viva de orar sem muitas palavras. À s vezes nossas oraçõ es têm
palavras demais. Muitas palavras se amontoam, mas nã o há subs-tâ ncia alguma. Nossa oraçã o
quando chegarmos a Marcos 4 pode simplesmente ser: "Senhor, Tu és a semente viva, a
semente da vida que foi plantada em mim. Eu Te louvo porque por Tua misericó rdia nã o estou
à beira do caminho. Temo, contudo, que eu tenha algumas pedras. Pode ser que meu coraçã o
seja o terreno pedregoso. Senhor, mostra-me as pedras e retira-as. Que Tu cresças
profundamente em mim". Tal oraçã o é viva; nã o está na esfera do exercício mental. Temos de
exercitar o espírito para falar algo ao Senhor de maneira viva, do nosso interior. Isso exige
prá tica.

QUANDO TRANSFERIMOS A PALAVRA PARA O ESPÍRITO, A BÍBLIA TORNA-SE UM


LIVRO "DIFERENTE" PARA NÓ S

Precisamos mudar nossa maneira de ler a Palavra. Devemos tomar a palavra como a verdade,
e nã o só como conhecimento e perceber que ela deve ser transferida para o Espírito. Esse é o
princípio correto. Para que seja aplicada a nó s, temos de saber transferir a palavra para o
Espírito. Muitas pessoas lêem a Bíblia, mas nã o recebem suprimento algum. Elas crescem em
conhecimento, mas nã o em vida. Para crescer em vida, precisamos perceber a maneira
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adequada de transferir a palavra para o Espírito. Por fim, a Bíblia será verdadeiramente
aberta como vida a nó s. Ela se tornará um livro diferente para nó s. O irmã o Watchman Nee
disse uma vez que pessoas diferentes têm Bíblias diferentes. Nã o é que a Bíblia mude; ela é a
mesma. A sua têm sessenta e seis livros, assim como a minha. A sua começa com Gênesis e
termina com Apocalipse, e a minha também. Contudo, nossa experiência da Bíblia é diferente.
O tipo de Bíblia que temos depende do tipo de pessoa que somos e de como a lemos.

Ouvi o irmã o Nee falar essa palavra há muito tempo, mas gradualmente em minha experiência
vim a perceber que isso é verdade. Uma vez, um irmã o veio a mim e disse: "A Bíblia é
realmente boa". Eu lhe perguntei: "Que você quer dizer com isso?" Ele disse: Em todo o mundo
nã o há outro livro como esse que ensine como as mulheres devem submeter-se ao marido".
Descobri que esse irmã o tinha um problema com a esposa. Ele sempre esperava que ela lhe
fosse submissa e tornou-se cristã o com esse objetivo. Ele nos disse que deveríamos enviar
algumas irmã s à sua casa para ajudar a esposa quanto a esse ensinamento. Isso ilustra que, se
somos determinado tipo de pessoa, a Bíblia será determinado tipo de livro para nó s. O tipo de
Bíblia que temos depende do tipo de pessoa que somos. A mesma Bíblia pode ter sido
determinado livro para nó s há cinco anos e ser hoje outro livro. Se praticamos a maneira
adequada de orar com o que lemos, a Bíblia "mudará " apó s apenas seis meses. Ela será outro
livro. Precisamos dessa prá tica para receber a palavra da maneira da vida.

TOMAR AS PROMESSAS DO SENHOR POR MEIO DA ORAÇÃ O

Certas partes da Palavra sã o promessas. Isaías 54:1-2 é uma promessa para as estéreis. Esses
versículos dizem: “Canta alegremente, ó estéril, que nã o deste à luz; exulta com alegre canto e
exclama, tu que nã o tiveste dores de parto; porque mais sã o os filhos da mulher solitá ria do
que os filhos da casada, diz o Senhor. Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua
habitaçã o, e nã o o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas". Quando lemos
isso, podemos orar resumidamente com espírito forte a fim de tomar a promessa do Senhor:
"Senhor, tomo Tua palavra como uma promessa para mim. De mim mesmo nã o consigo
romper em câ nticos, mas Tu podes fazê-lo. Minha tenda é meu espírito. Senhor, alarga-o.
Alarga-o e estende o toldo da minha habitaçã o". Tome essa palavra como a promessa do
Senhor e gaste tempo para orar a respeito. Se lidarmos com o Senhor dessa maneira, o
Espírito Santo nos dará maneiras vivas de expressã o. Entã o, quanto mais as falarmos, mais
provaremos, desfrutaremos e absorveremos, nã o o mero conhecimento, mas o pró prio Senhor
como vida e suprimento.

LER A PALAVRA DE MANEIRA NOVA, A MANEIRA DA VIDA

Essa é a maneira correta de ler a palavra. É algo absolutamente diferente da antiga maneira. A
antiga maneira de ler é a maneira natural, com a qual as pessoas lêem qualquer publicaçã o
comum. A maneira de os filhos de Deus lerem a palavra viva deve ser diferente. Ela nã o deve
ser natural e religiosa, mas espiritual e viva:

Podemos ainda ilustrar a leitura da Palavra orando com Isaías 15:1. Esse versículo começa
com: "Sentença contra Moabe. Certamente, numa noite foi assolada". Ao ler isso, podemos
novamente orar: "Senhor, nã o sei o que é Moabe, mas sei que a cidade na qual vivo pode ser
como Moabe. Senhor, dá -me encargo por esta cidade". Podemos simplesmente orar até obter
entendimento espiritual. Entã o, a Escritura nã o será apenas uma palavra ou algum
conhecimento, mas algo vivo. Muitas vezes, por meio desse tipo de oraçã o, o Senhor fará algo.
O Senhor ouvirá e responderá nossa oraçã o e nos dará encargo pela cidade na qual vivemos. A

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partir desse momento, teremos um encargo verdadeiro dia a dia. Mesmo quando ao trabalhar
ou dirigir, oraremos com lá grimas por nossa cidade.

Há grande diferença entre a maneira do conhecimento e a maneira da vida de se compreender


a Palavra, de fazer que ela seja viva no espírito. O que temos é a Palavra viva de Deus.
Aproximar-se dela adequadamente sempre prepara o caminho para que o Espírito Santo
venha. Se praticarmos ir adequadamente à palavra o Espírito Santo virá , e muitas coisas
acontecerã o de maneira viva. Permitamos que o Espírito Santo faça muitas coisas
maravilhosas. O que lemos nã o é a palavra em letras mortas; é algo vivo é algo vivo.

Primeira Timó teo 6:1 diz: "Todos os servos que estã o debaixo de jugo considerem dignos de
toda honra o pró prio senhor, para que o nome de Deus e a doutrina nã o sejam blasfemados".
Como nã o somos tal tipo de servos, talvez nã o tenhamos inspiraçã o para orar com esse
versículo. Nã o devemos forçar-nos a extrair algo dele. Antes, podemos passar por esse
versículo, deixando-o temporariamente de lado, e continuar a leitura. Contudo, à s vezes
podemos ser inspirados por esse tipo de passagem. Podemos perceber que Cristo é esse
Senhor, ou Amo; temos de servi-Lo honesta e fielmente. Se tivermos tal percepçã o, devemos
transformá -la em oraçã o. Novamente digo: nã o construa uma oraçã o. Em vez disso,
simplesmente fale espontaneamente ao Senhor. Se construirmos uma oraçã o, iremos vagar na
mente. Devemos sempre evitar exercitar a mente dessa maneira. Devemos ser simples para
falar a partir das profundezas do nosso ser, para falar algo proveniente do espírito. Podemos
dizer: "O Senhor, embora eu nã o seja tal tipo e servo, sou Teu servo, e Tu és meu Senhor.
Quero servir-Te honestamente".

TOMAR A PALAVRA COM ORAÇÃ O EXIGE PRÁ TICA

Alguém pode perguntar: Como posso orar sem compor uma oraçã o?" Isso exige prá tica. Por
fim chegaremos ao ponto de simplesmente orar sem fazer uma composiçã o. Quando temos
uma conversa familiar, nã o fazemos compo-siçã o alguma; apenas falamos. Precisamos ter a
prá tica de falar com o Senhor enquanto lemos Sua Palavra. Sem pensar, considerar ou compor,
simplesmente falamos a partir do espírito: "Ó Senhor, nã o tenho um senhor terreno, mas
tenho a Ti como meu Senhor".

Em todas as coisas é necessá rio prá tica, e esse assunto nã o é exceçã o. Precisamos adquirir a
prá tica de exercitar o espírito e treinar nossas faculdades para que se acostumem a esse tipo
de leitura e oraçã o. Esperamos no Senhor. De agora em diante, todos temos de aprender essa
maneira de conta-tar palavra e transferir a palavra para o Espírito. Entã o, desfrutaremos o
Senhor e sempre oraremos no espírito. Nosso espírito será fortalecido, aumentado e
vivificado. Entã o, quando nos reunirmos, teremos espírito forte, vivo e o acú mulo do conteú do
divino em nó s.

Capítulo Cinco
CRISTO COMO A PALAVRA TORNA-SE O ESPÍRITO PARA SER ESFRUTADO POR NÓ S

Leitura Bíblica: Jo 1:1, 14, 18; 14:16-20; At 9:4; Rm 8:9-11; 1Co 6:17; 15:45b; 2Co 3:17; 4:7;
13:5; Gl 1:16; 2:20; 4:19; 6:1; Ef 3:16-17 Fp 1:19; Cl 1:27; 3:4, 11; Ap 2: 1, 7, 8, 11; 5:6; 22: 1-2

Precisamos de uma visã o completa do Senhor Jesus como a Palavra e como o Espírito. Os
quatro Evangelhos sã o um relato, uma figura e uma revelaçã o completos do Senhor Jesus

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como a expressã o de Deus, a Palavra de Deus para "lermos", vermos e entendermos (Jo 1:1,
14, 18). Para conhecer quem é o Senhor Jesus e o que Ele é, temos de gastar tempo estudando
os quatro Evangelhos. Nesses quatro livros Ele nos é revelado em muitos aspectos. Ao lê-los,
devemos prestar atençã o de maneira especial nã o ao que Ele fez, mas, indo além, ver o que Ele
é. Pelo que Ele fez, o Seu ser é revelado. Precisamos aprender principalmente o que Ele é e
quem Ele é.

Os quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e Joã o) nos dã o uma figura plena desse Cristo
maravilhoso como a Palavra, expressã o e revelaçã o de Deus. Depois dos Evan-gelhos, vem a
segunda parte do Novo Testamento: Atos e as Epístolas. Nessa parte, o Senhor Jesus é
revelado nã o apenas como a Palavra, mas como o Espírito (1Co 15:45b; 2Co 3:17). Como a
Palavra, Ele está no está gio da revelaçã o, expressã o e explicaçã o e como o Espírito está no
está gio do desfrute e da experiência. Portanto depois de conhecer Cristo como a Palavra
temos de desfrutá -Lo como o Espírito.

Precisamos ser capazes de mostrar à s pessoas como Cristo é revelado nos Evangelhos como a
Palavra, e nã o como o Espírito, e como é revelado nas Epístolas nã o tanto como a palavra, mas
principalmente como o Espírito. Estudar o Novo Testamento com isso em vista pode-se levar
um ou dois anos. Muitos cristã os hoje têm um ponto fraco por conhecer as coisas espirituais
somente de maneira superficial, meramente repetindo o que os outros dizem, mas sem saber
como demonstrar o que dizem a partir das Escrituras. Isso nã o é correto. Os cientistas hoje
estudam as coisas a partir dos fundamentos. Eles se tornam especialistas e podem res-ponder
à s perguntas detalhadamente. Da mesma maneira, e especialmente porque tomamos o
caminho da restauraçã o do Senhor, nã o podemos simplesmente repetir o que os outros dizem.
Temos de conhecer cabalmente a verdade de Cristo como a Palavra e o Espírito e ser capazes
de responder adequadamente sobre esse assunto. A luz, a confirmaçã o e as provas adequadas
e fortes dessa verdade devem fluir de nó s como uma cachoeira.

Nas Epístolas ninguém pergunta quem é o Senhor. Nos quatro Evangelhos, entretanto, o
Senhor perguntou aos discípulos: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" (Mt
16:13). Os discípulos responderam: "Uns dizem: Joã o Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias,
ou um dos profetas", ao que o Senhor perguntou: "Mas vó s, quem dizeis que Eu sou?" (vs.
1415). Essa passagem é prova categó rica de que nos Evangelhos o Senhor é a Palavra, a
revelaçã o de Deus, para que as pessoas O conhecessem. Em outras oca-siõ es nos Evangelhos,
os discípulos perguntariam: "Quem é este?" (8:27). Nas Epístolas, contudo, nã o encontramos
esse tipo de pergunta. Antes, há outra categoria de expressõ es a respeito de Cristo, porque
nelas Ele é revelado como o Espírito.

Hoje, a maioria dos cristã os está no está gio dos quatro Evangelhos: muitos conhecem a Cristo
como a Palavra, mas nã o O conhecem no está gio das Epístolas. Por causa disso, muitos se
apegam apenas à doutrina e ao ensinamento sobre o Senhor Jesus. Eles podem dizer "Cristo é
Deus e é Homem" meramente no conhecimento, mas têm poucas experiências de Cristo. Por
outro lado, alguns com determinada experi-ência de Cristo nã o têm entendimento adequado.
Dizem ter a experiência de Cristo "pela ajuda do Espírito Santo". É como se dissessem: "Estou
aqui na terra, e Cristo está lá no céu. Estamos muito afastados. É o Espírito Santo que me ajuda
a contatar Cristo". No entendimento deles, Cristo e o Espírito Santo estã o separados, o Espírito
Santo é apenas uma ajuda e um meio. Esse conceito e entendimento sã o errados. A maioria
dos cristã os hoje nã o vê que Cristo é o Espírito (2Co 3: 17; cf. 4:5). Para experimentar Cristo
temos de experi-mentar o Espírito, porque Cristo é o Espírito.

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OS EVANGELHOS SÃ O UMA EXPLANAÇÃ O E REVELAÇÃ O DE CRISTO

O Evangelho de Mateus começa com a genealogia de Cristo. Uma genealogia é a explicaçã o de


uma pessoa, dizendo-nos quem ela é. Portanto, na primeira pá gina do Novo Testamento está
uma explanaçã o, uma revelaçã o da pessoa de Cristo, dizendo-nos quem Ele é. De acordo com o
princípio da primeira mençã o, isso determina que o tema dos Evangelhos é a pessoa de Cristo.
Imediatamente apó s isso vem o registro do nascimento dessa pessoa. As duas primeiras coisas
que precisamos saber sobre uma pessoa sã o a genealogia e o nascimento. Quando
preenchemos formulá rios sobre nó s mesmos, temos de dizer quem sã o nossos pais, qual a
nossa nacionalidade e a data e local de nascimento. Isso nos mostra novamente que os
Evangelhos nos dizem quem é Cristo e que tipo de pessoa Ele é.

Depois de Sua genealogia e nascimento, os Evangelhos registram a apresentaçã o de Cristo pelo


seu precursor, Joã o Batista. Uma apresentaçã o é uma revelaçã o, um tipo de explanaçã o que
nos diz quem é a pessoa. Hoje em dia, nos negó cios e na sociedade, sempre precisamos de
referências. Os Evangelhos nos dã o uma referência para apresentar Cristo e provar quem Ele
é. Em seguida há um teste, uma tentaçã o, para provar que tipo de pessoa é Cristo. Dessa
maneira, cada pá gina dos Evangelhos prova ama coisa: que tipo de pessoa Ele é.

Embora Seu teste tenha provado quem é Cristo, ainda precisamos de algumas ilustraçõ es e
explanaçõ es prá ticas, tais como os relatos de Mateus 8, 15 e, finalmente, 17, em que Cristo foi
repentinamente transfigurado no monte. Nã o temos esse tipo de registro nas Epístolas.
Quando chegamos à s Epístolas, a figura muda. Os Evangelhos e as Epístolas apresentam dois
tipos de figuras de Cristo.

Mateus, Marcos e Lucas pertencem à mesma catego-ria. Nesses três Evangelhos, Cristo é
revelado como homem. No primeiro Evangelho, Ele, como homem, é um Rei comis-sionado
com toda a autoridade. No segundo livro, como homem, Ele é um servo que serve nã o apenas a
Deus, mas também a nó s, com poder, amor e até com Sua pró pria vida. No terceiro livro, como
homem perfeito Ele é nosso Salvador, que morreu para nos redimir. O ú ltimo Evangelho está
em outra categoria. O Evangelho de Joã o diz-nos: "No princípio era o Verbo" (1:1). Esse
Evangelho nos diz que Cristo era o Verbo, e o Verbo era Deus. Aqui, Cristo é revelado como o
Deus encarnado, que veio para transmitir vida a nó s. Dessa maneira, os Evangelhos
apresentam uma figura e um registro de todos os aspectos de Cristo como a Palavra,
mostrando-nos quem e que tipo de pessoa Ele é. Todos os registros, capítulo apó s capítulo,
têm esse ú nico propó sito. Ler os Evangelhos é simplesmente ler uma explanaçã o e uma
definiçã o de alguém.

Contudo, nos Evangelhos, Cristo ainda nã o é o Espírito. Ele estava entre as pessoas a fim de ser
visto, entendido apreendido, mas nã o podia entrar nelas para ser desfrutado por elas. Elas
podiam apreciá -Lo, admirá -Lo e louvá -Lo, mas nã o podiam compartilhá -Lo e participar Dele.
Podiam entendê-Lo como o Verbo, mas, enquanto a Palavra nã o se tornasse o Espírito, Ele nã o
podia entrar nelas.

JOÃ O 14 É O PONTO DE VIRADA NOS ESTÁ GIOS DE CRISTO

Por essa razã o, nã o podemos encontrar um versículo ou passagem nos quatro Evangelhos que
nos diga que Cristo é o Espírito ou que está nos discípulos, até chegarmos a Joã o 14 e 15.
Contudo, Joã o 14 e 15 fala de Cristo nã o meramente relacionado com o está gio dos
Evangelhos. Esses capítulos nã o se referem a algo que acontece nos Evangelhos. Eles predizem

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algo a respeito de Cristo no está gio das Epístolas. Da mesma maneira, Joã o 20 acontece nos
Evangelhos, mas esse capítulo pode ser considerado como o fim do está gio dos Evangelhos e o
começo do está gio das Epístolas.

Foi por meio de Sua morte e ressurreiçã o que Cristo como a Palavra tornou-se o Espírito. É
por isso que Joã o 14 diz-nos que Ele tinha de passar pela morte e ser ressus-citado. É a partir
desse capítulo que o Espírito é mencionado tã o claramente. Os versículos 16 e 17 dizem: "E Eu
rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador a fim de que esteja para sempre convosco, o
Espírito da realidade, que o mundo nã o pode receber, porque nã o O vê, nem O conhece; vó s O
conheceis, porque Ele habita convosco e estará em vó s". Cristo foi o primeiro Consolador, mas
Ele havia de enviar outro Consolador, o Paracleto, o Espírito da realidade.

O versículo 17 diz que esse Espírito habitaria entre os discípulos e estaria neles. Estar neles
indicava um passo posterior. A Palavra já estava entre eles, porque o Verbo se tornara carne e
armara taberná culo entre eles (1:14). Com-tudo, os discípulos precisavam do segundo passo
do Senhor, para que Ele pudesse tornar-se o Espírito a fim de estar nã o apenas entre eles, mas
neles. O versículo 17 do capítulo catorze diz, com respeito ao Espírito: “Ele habita convosco e
estará em vó s”, mas, logo a seguir, o versículo 18 diz: “Nã o vos deixarei ó rfã os, virei a vó s”. Ele
no versículo 17 torna-se Eu no versículo 18. Cristo ir mediante a morte e ressurreiçã o foi Sua
vinda como o Espírito a fim de estar nos discípulos.

Os versículos 19 e 20 continuam: "Ainda por um pouco e o mundo nã o Me verá mais; vó s,


porém, Me vereis; porque Eu vivo, vó s também vivereis. Naquele dia, vó s conhecereis que Eu
estou em Meu Pai, e vó s em Mim, e Eu em vó s". Naquela ocasiã o Ele somente podia estar entre
os discípulos; Ele nã o podia estar neles. "Naquele dia", contudo, Ele estaria neles. Esses sã o os
dois passos de Cristo: encarnar-se para estar entre os discípulos e ser transfigurado no
Espírito para estar nos discípulos.

Como o ponto de virada nesses dois passos, Joã o 14 é o capítulo mais significativo de toda a
Bíblia. É nesse trecho da Palavra que temos o Espírito da realidade, o Espírito como a
realidade de Cristo, e é nesse ponto da Palavra que temos a frase em vó s. Em toda a Bíblia, tal
frase nunca foi usada dessa maneira. Entã o, no capítulo seguinte, o Senhor diz: "Permanecei
em Mim, e Eu permanecerei em vó s" (15:4). Se Cristo fosse apenas a Palavra, como poderia
permanecer em nó s? Para permanecer em nó s, Ele tem de ser o Espírito. É nesse ponto de
virada que a Palavra tornou-se o Espírito por meio da crucificaçã o e ressurreiçã o. Portanto
depois de Sua ressurreiçã o Ele já nã o é apenas a Palavra; antes é principalmente o Espírito.
Como o Espírito, Ele pode estar em nó s e de fato está em nó s.

O LIVRO DE ATOS MOSTRA-NOS QUE CRISTO ESTÁ NOS DISCÍPULOS

Aparentemente nã o há versículo em Atos que nos diga que Cristo estava em Pedro, Joã o, Tiago
ou Estevã o. Contudo, em Atos há o fato que prova que Cristo nã o apenas estava nos discípulos,
mas até mesmo era um com eles. Quando Se revelou a Saulo de Tarso, Ele disse: "Saulo, Saulo,
por que me persegues?" (9:4). É como se dissesse: "Quando você perseguiu Estevã o e meus
outros discípulos, você Me perseguiu, porque Eu sou um com eles. Eu sofri sua perseguiçã o
neles". Eis aqui o fato de que Cristo era um com todos os discípulos, porque, como o Espírito
Ele estava em todos os discípulos.

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AS EPÍSTOLAS DIZEM-NOS QUE CRISTO, COMO O ESPÍRITO, ESTÁ EM NÓ S

Nas Epístolas, Romanos 8:9-11 diz-nos que Cristo está em nó s. Essa passagem fala
alternadamente do Espírito de Deus, do Espírito de Cristo e do pró prio Cristo. O Espírito de
Deus é o Espírito de Cristo, e o Espírito de Cristo é o pró prio Cristo. Essa passagem deixa
muito claro que Cristo agora é o Espírito. Portanto, tudo o que Romanos 8 fala sobre o
Espírito, fala de Cristo como o Espírito. O Espírito ali men-cionado nã o é diferente e nada
menos do que o pró prio Cristo. Cristo como o Espírito vive em todas as pessoas salvas.

A seguir, 1 Coríntios 6:17 diz: “Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”. Essa é uma
prova contun-dente de que o Senhor é o Espírito. Se Ele nã o fosse o Espí-rito, como
poderíamos ser um espírito com Ele? É também uma forte prova de que temos um espírito
humano e que Cristo, como o Espírito, está em nosso espírito, para que sejamos um espírito
com Ele. Primeira Coríntios também usa diversas vezes a frase em Cristo 1:2, 4, 30; 4:15, 17;
15:22; 16:24). Por fim, 15:45b diz: "O ú ltimo Adã o tornou-se Espírito vivificante" (lit.).

Diversas passagens em 2 Coríntios mostram-nos que Cristo está em nó s. O versículo 17 do


capítulo três diz: "O Senhor é o Espírito", e 4:7 diz que Cristo é o tesouro em nó s, os vasos de
barro. No final do livro, 13:5 diz: "Examinai-vos a vó s mesmos se realmente estais na fé;
provai-vos a vó s mesmos. Ou nã o reconheceis que Jesus Cristo está em vó s? Se nã o é que já
estais reprovados".

Gá latas 1:16, 2:20, e 4:19 dizem-nos que Cristo está em nó s, e o ú ltimo versículo, 6:18, diz: "A
graça do nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmã os, com o vosso espírito". A seguir, Efésios
3:1617 é uma oraçã o para que o nosso homem interior seja fortalecido e para que Cristo faça
morada em nosso coraçã o. Filipenses 1:19 fala da provisã o abundante do Espírito de Jesus
Cristo, que estava no apó stolo Paulo. Colossenses 1:27 diz: "Cristo em vó s, a esperança da
gló ria", 3:4 fala de "Cristo, que é a nossa vida", e o versículo 11 diz que “Cristo é tudo em
todos”. Igualmente podemos também encontrar versículos como esses nas demais Epístolas.
Esses sã o apenas alguns dos versículos que nos mostram que Cristo como o Espírito vive em
nó s. Nã o é necessá rio respigar esse tipo de passagem; há uma grande colheita delas no Novo
Testamento.

APOCALIPSE REVELA O CRISTO QUE FALA, COMO O ESPÍRITO QUE FALA, E O CRISTO
REDENTOR COMO O ESPÍRITO QUE FLUI

Cada uma das sete epístolas em Apocalipse 2 e 3 começa com "Estas coisas diz...", referindo-se
ao pró prio Senhor em Suas diversas qualificaçõ es (2:1, 8, 12, 18; 3:1, 7, 14), mas o final de
cada epístola diz: "Ouça o que o Espírito diz à s igrejas" (2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22). Apocalipse
2:1, por exemplo, diz: "Ao anjo da igreja em É feso escreve: Estas coisas diz aquele que
conserva na mã o direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro". Diz
aquele, significa "diz Cristo". Contudo, o final da epístola diz: "Quem tem ouvidos, ouça o que o
Espírito diz à s igrejas" (v. 7). Assim podemos ver que aquele é o Espírito e o Espírito é aquele.
Igualmente, o versículo 8 diz: "Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o
primeiro e o ú ltimo, que esteve morto e tornou a viver". Quem fala aqui é Cristo. Contudo, o
versículo 11 começa com: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz à s igrejas”. O começo
de cada epístola diz que o Senhor fala, mas o final de cada uma delas diz que o Espírito fala. O
Espírito é o Senhor, e o Senhor é o Espírito. Apocalipse 5:6 diz: "Entã o, vi, no meio do trono e
dos quatro seres viventes e entre os anciã os, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele
tinha sete chifres, bem como sete olhos, que sã o os sete espíritos de Deus enviados por toda a

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terra". O Senhor como o Cordeiro tem sete olhos, e os sete olhos sã o os sete Espíritos. Isso
indica que Cristo vem a nó s como os sete olhos, isto é, como o Espírito, para nossa experiência.
Além disso, o Cordeiro está no trono, do trono flui o rio da á gua da vida, e na á gua da vida
cresce a á rvore da vida (22:1-2). Essa é uma figura do Cristo redentor que se tornou Espírito
vivificante, fluindo constantemente com suprimento de vida.

Por meio disso tudo, podemos ver que Cristo nã o é mais apenas a Palavra, mas o Espírito
vivificante, nã o apenas para conhecermos e entendermos, mas para desfru-tarmos tomarmos
e experimentarmos. Nã o podemos desfru-tar Cristo conhecendo-O apenas como a Palavra.
Temos de desfrutar Cristo tornando-se real para nó s como o Espírito. Portanto, nã o devemos
exercitar apenas a mente para entendê-Lo; temos de exercitar o espírito para contatá -Lo em
nosso espírito, conforme revelam as Epístolas.

Capítulo Seis
COMER A PALAVRA LENDO E ORANDO

Leitura Bíblica: Cl 3:16; Ef 5:78-20; Mt 4:4; Jr 15:16; Ê x 30:7-8

A VIDA CRISTÃ É UMA VIDA DE DESFRUTAR CRISTO

Colossenses 3:16 diz: "Habite, ricamente, em vó s a palavra de Cristo; instruí-vos e


aconselhaivos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e
câ nticos espirituais, com gratidã o, em vosso coraçã o". Salmos sã o câ nticos mais longos, hinos
sã o mais curtos e câ nticos espirituais sã o mais curtos ainda, como "corinhos". O versí-culo 17
prossegue: "E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em açã o, fazei-o em nome do Senhor
Jesus, dando por ele graças a Deus Pai". O resultado disso está nos versículos 18 a 20:
"Esposas, sede submissas ao pró prio marido, como convém no Senhor. Maridos, amai vossa
esposa e nã o a trateis com amargura. Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é
grato diante do Senhor". Os versículos seguintes, entã o, passam a falar aos pais, aos servos e
aos senhores. Isso indica que todas as coisas adequadas na vida cristã , tais como a mulher
submeter-se ao marido, o marido amar a mulher, os filhos serem submissos aos pais, os servos
servirem adequadamente, e os senhores tratarem os servos com justiça, tudo provém do
desfrute do Senhor por meio da palavra em louvor e açã o de graças.

De acordo com o contexto desses versículos, primeiramente temos a palavra como o meio de
transmitir Cristo a nó s, e nó s O desfrutamos a tal ponto que somos cheios Dele. Entã o,
louvores e açã o de graças fluem como á gua viva. A partir desse tipo de desfrute do Senhor, a
submissã o é produzida nas mulheres, o amor surge nos maridos, e a honra aos pais surge nos
filhos. Todos esses assuntos relacio-nados ao andar cristã o resultam do desfrute de Cristo.

Efésios 5:18-20 confirma essa mesma verdade. Esses versículos dizem: "E nã o vos
embriagueis com vinho, no qual há dissoluçã o, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vó s
com salmos, entoando e louvando de coraçã o ao Senhor com hinos e câ nticos espirituais,
dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo".
Colossenses 3:16 diz-nos para enchermos da palavra, enquanto Efésios 5 diz-nos para

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enchernos em espírito. Os versículos 21 e 22 prosseguem: "Sujeitando-vos uns aos outros no
temor de Cristo. As mulheres sejam submissas ao seu pró prio marido, como ao Senhor". Em
seguida, Efésios 6 prossegue falando aos filhos, aos pais, aos servos e aos senhores (vs. 1-9).
Isso equivale à s palavras de Paulo em Colossenses, mostrando novamente que todos os
assuntos adequados da vida cristã provêm de encher-se interiormente e desfrutar o Senhor.

Parece que muitos cristã os "pulam" a passagem referente a encher-se no espírito e tomam
apenas a passagem que ensina que as mulheres devem submeter-se ao pró prio marido, que os
maridos devem amar a mulher, e que os filhos, os servos e os senhores devem comportar-se
ade-quadamente. Contudo, todas essas coisas no andar cristã o provém do desfrute de Cristo.
Quando nos enchemos de Cristo e O desfrutamos ao má ximo, algo flui desse encher interior. A
submissã o da mulher e o amor do marido sã o o transbordar do encher interior. A questã o de
maior importâ ncia em Colossenses 3 e Efésios 5 é o desfrute de Cristo. Se nos enchermos de
Cristo, todas essas outras coisas surgirã o espontaneamente.

A vida cristã nã o é religiosa nem meramente moral; é simplesmente uma vida de desfrutar
Cristo o tempo todo. Todos os assuntos adequados e necessá rios, provém desse desfrute e
dependem dele. Até mesmo a pró pria vida da igreja é questã o do desfrute de Cristo. Se nã o
tivermos o desfrute de Cristo, será difícil ter a vida da igreja. Poderemos ter certo tipo de
religiã o ou organizaçã o, mas nã o teremos a vida da igreja. A vida da igreja é o transbordar do
desfrute de Cristo. Isso é provado na ú ltima parte de Efésios 5, que fala da igreja (v. 32).
Quando todos desfrutamos Cristo ao má ximo, a vida da igreja j vem à existência.

DESFRUTAR CRISTO TOMANDO A PALAVRA COMO COMIDA

A intençã o de Deus é dar-se a nó s como nosso desfrute em Cristo por meio do Espírito.
Portanto, temos de saber como desfrutá -Lo. Entã o teremos a vida cristã adequada. Tanto a
vida cristã como a vida da igreja dependem de uma coisa: o desfrute Cristo. Desfrutar Deus em
Cristo é simplesmente lidar com duas coisas: a palavra e o Espírito. Temos a Bíblia sagrada
nas mã os e o Espírito Santo no espírito. Tanto a Bíblia sagrada como o Espírito Santo sã o os
meios para desfrutarmos Cristo. Cristo é a Palavra e é o Espírito. Portanto, para desfrutá -Lo,
temos de lidar com a palavra e o Espírito.

Há duas maneiras de ler a palavra. Uma é lê-la e nã o contatar Cristo. Muitos cristã os a lêem
sem jamais contatar Cristo. Essa maneira é errada. A maneira correta de lê-la é perceber que
ela nã o é para mero conhecimento, mas para alimento. "Nã o só de pã o viverá o homem, mas
de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4:4). Jeremias 15:16 diz: "Achadas as tuas
palavras, logo as comi". Preci-samos comer a palavra porque ela é alimento.

A comida física é para o corpo, portanto temos de comê-la com o corpo e introduzi-la no corpo.
No mesmo princípio, a palavra é comida espiritual, comida para o espírito, portanto temos de
comê-la com o espírito e introduzi-la no espírito. Todos temos de aprender a tomar a palavra
por meio do espírito e introduzindo-a nele. Nã o há outra maneira de fazê-lo a nã o ser por
meio da oraçã o. Devemos orar acerca de tudo e também com tudo o que lemos e entendemos.
Isso é algo muito negligenciado pelos cristã os hoje em dia. Muitos lêem a Bíblia, mas poucos a
lêem dessa maneira.
Precisamos comprar a comida física, cozinhá -la, e separar uns quinze a vinte e cinco minutos
para comê-la. Nã o devemos comer depressa demais. Precisamos de tempo suficiente para
comer adequadamente. Podemos correr a um supermercado a fim de comprar algo à s pressas
e podemos jogar algo no forno para cozinhar rapidamente, mas nã o podemos jogar algo em
nosso estô mago rá pido demais. Precisamos de tempo para mastigar e comer de maneira
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refinada. Igualmente, precisamos de algum tempo diariamente para tomar a palavra de
maneira refinada, nã o exercitando a mente para entender, mas exercitando nossa parte mais
interior, o espírito. Para tomar a palavra dessa maneira precisamos orar sobre o que lemos e
entendemos, ou seja, ler com oraçã o. Precisamos aprender a orar nã o de maneira formal,
compondo uma oraçã o, mas de maneira informal assim como conversamos com uma pessoa
amada.

Pode ser que, à s vezes, necessitemos ler a Bíblia para ganhar algum conhecimento bíblico.
Podemos também ter de consultar um dicioná rio bíblico a fim de aprender o significado de
palavras novas que encontramos. Contudo, essa nã o é a principal maneira de lidar com a
palavra. O que mais necessitamos é separar vinte ou trinta minutos, pelo menos uma vez ao
dia, embora fosse melhor três vezes, para lidar com a palavra, nã o meramente a fim de
conhecê-la, mas para comê-la, digeri-la e transferi-la para o Espírito. Nã o diga que você nã o
tem tempo para isso. Se você nã o tem tempo para gastar com a palavra, é melhor nã o gastá -lo
com uma refeiçã o material. Antes, gaste o tempo de uma refeiçã o material com uma refeiçã o
espiritual. Nã o tenha medo de perder uma refeiçã o. Eu lhe garanto que você ficará mais
saudá vel. Para ser espiritualmente saudá vel, precisamos tomar pelo menos uma refeiçã o
espiritual diariamente.

Nã o podemos esperar que um irmã o seja normal e saudá vel em sua vida cristã se nã o sabe
comer o Senhor ao lidar com a Palavra. Nã o importando quantas mensagens possamos dar à s
pessoas e quã o boas sejam, se os que as ouvem nã o sabem comer do Senhor, beber o Senhor e
banquetear-se no Senhor, as mensagens nã o lhes serã o eficazes. Podemos ter mensagens
sobre a cruz e sobre muitas outras coisas, mas ainda precisamos alimentar-nos do Senhor,
beber Dele e banquetear-nó s Nele. Isso é da maior importâ ncia. Espero que todos
pratiquemos isso diariamente, especialmente pela manhã . Precisamos gastar pelo menos dez
minutos com o Senhor a fim de banquetear-nos Nele comendo a palavra.

A MANEIRA PRÁ TICA DE COMER A PALAVRA

A maneira de comer a palavra é, primeiramente, nã o ler muito Nosso tempo com a palavra nã o
é para comprar algo no supermercado; é para tomar o café da manhã . Por-tanto, nã o devemos
comer muito, apenas uma porçã o adequada. Em segundo lugar, nã o devemos tentar entender
demais. Em outras ocasiõ es podemos precisar exercitar a mente ao ler, mas nosso tempo para
comer a palavra nã o é para exercitar a mente. Devemos simplesmente ler, e entender o que for
possível. Nã o precisamos tentar entender mais do que isso; caso contrá rio podemos ficar
frustrados. Se lermos alguns versículos ou meio capítulo e nã o enten-dermos, devemos
continuar a ler. Talvez nos versículos seguintes entendamos algo.

Em terceiro lugar, uma vez que entendemos alguma, coisa, devemos ponderar um pouco sobre
ela. Nã o gosto de usar a palavra meditar, porque esse termo tem sido usado erroneamente. À s
vezes, meditar é meramente exercitar a mente. Nesse caso, é melhor nã o meditar. Quando
alguns cristã os meditam demais, eles viajam por toda a Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, de
volta para Salmos e novamente para Gênesis. Isso nã o ajuda. Contudo, quando somos
inspirados com algo da palavra, devemos considerar a esse respeito.

Entã o, em quarto lugar, imediatamente devemos orar sobre o que entendemos. É por meio
desse tipo de oraçã o que temos um contato novo nã o apenas com a palavra, mas também com
o pró prio Senhor por meio da palavra. Por fim, o Senhor e a palavra, a palavra e o Senhor,
tornam-se um conosco. Dessa maneira, nossa oraçã o e leitura serã o mescladas. Enquanto

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lemos e consideramos, falamos algo ao Senhor, e, ao fazê-lo, ponderamos a palavra e
consideramos o que entendemos. Isso é orar e ler, ler e orar, mesclados.

Mateus 8:1-4 diz que o Senhor Jesus desceu do monte e curou um leproso. Quando lemos essa
porçã o, podemos ser inspirados com o fato de o Senhor ter descido do monte. Entã o podemos
dizer: “Eu Te louvo, Senhor, porque Tu desceste do monte. Tu desceste para onde eu estou. Ó
Senhor, desce mais uma vez hoje para que eu seja curado. Se vieres, minha lepra será
eliminada". Pode nã o ser possível orar dessa maneira por uma hora, mas é possível fazê-lo por
vinte minutos. Tente fazer isso pela manhã e novamente durante o dia. Sugiro especialmente
aos jovens que tenham uma Bíblia pequena no bolso. Durante o dia ou nos intervalos ou
descanso, abram a Bíblia e leiam dois ou três versículos. Entã o ganharã o algo e poderã o orar
sobre isso.

Alguns podem perguntas: "Como posso ler e orar? Para ler tenho de abrir os olhos, mas para
orar tenho de fechá -los". Esqueça essa coisa de abrir ou fechas os olhos. Se precisar fechas os
olhos, feche-os espontaneamente, mas se nã o precisa fechá -los, nã o faça disso um formalismo.
Mesmo quando fechamos os olhos, ainda podemos "ler", porque a palavra já entrou em nó s.

É muito conveniente ter a palavra em nosso interior. Muitas vezes as pessoas nã o percebem
que estou lendo a palavra, porque nã o uso a Bíblia exteriormente. Contudo, muitas vezes eu
"leio" interiormente. Recordo-me de Roma-nos 8:1-2: "Agora, pois, já nenhuma condenaçã o há
para os que estã o em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da
lei do pecado e da morte". Espontaneamente digo ao Senhor: "Eu Te louvo, pois estou em
Cristo. Aleluia, nã o estou em Los Angeles; estou em Cristo!" Quando sou incomodado por
alguma coisa, digo: "Nã o estou neste lugar. Estou em Cristo. Louvado seja o Senhor! Aleluia!
Estou em Cristo!" Temos de estar fora de nó s mesmos desta maneira: "Louvado seja o Senhor,
o Espírito dá vida! Ó Senhor, Tu és o Espírito da vida, e esse Espírito vivificante está em mim.
Nesse Espírito está a lei libertadora, libertando-me da lei do pecado e da morte". Podemos
também voltar-nos para o inimigo e dizer: "Sataná s, nã o mais tenho medo de você. Tenho
Outro que é mais forte que você. Se vier lutar comigo, você será derrotado". Essa é a maneira
viva de ler a palavra.

LER E ORAR PARA ENCHER-SE DA PALAVRA E DO ESPÍRITO

Dez minutos antes de servir o jantar, podemos voltar para a palavra e orar. Quando o jantar
chegar, já teremos tido uma boa refeiçã o, comendo apalavra e alimentando-nos do Senhor.
Tente isso; você verá a diferença em sua vida cristã . Sua vida cristã será diferente da que você
tinha no passado. Você saberá alimentar-se do Senhor e da palavra. Por fim, você será cheio da
palavra e com o Espírito. Será difícil diferenciar entre a palavra e o Espírito. Em Colossenses
3:16, a palavra de Cristo nos enche, mas em Efésios 5:18, somos cheios do Espírito. A palavra e
o Espírito sã o um. Quando somos cheios da palavra, somos cheios do Espírito.

É errado ser cheio da palavra e nã o sê-lo do Espírito. Nã o se esqueça desta fó rmula: "A palavra
sem o Espírito é conhecimento. Conhecimento sem vida é morte. Depois de algum tempo a
morte cheira mal". Sempre ler sem comer, sem orar, meramente amontoa conhecimento na
letra. A letra mata (2Co 3:6), e a morte produz mau cheiro. Portanto, temos de transferir a
palavra para o Espírito. Sempre que temos o Espírito temos vida, e sempre que temos vida
temos um aroma suave. O aroma suave de Cristo exalará continuamente de nó s (2Co 2:15). O
segredo, a chave, é transferir a palavra para o Espírito por meio da oraçã o. Isso nã o significa
que nã o devemos ler e estudar a palavra para ganhar conhecimento. Todos precisamos fazer

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tal coisa, assim como precisamos ir ao supermercado para comprar mantimentos e
armazená los. Contudo, isso nã o é tudo. Precisamos comer.

Podemos conhecer muito sobre a Bíblia, mas quanto temos comido? Esse é o problema entre
os cristã os. Nã o estamos acostumados a comer, portanto agora precisamos aprender a fazê-lo.
Por isso tenho o encargo de enfatizar a questã o de comer. Se alguém nã o tem o desejo de
comer Deus, tal pessoa está doente. Somente os doentes nã o têm apetite. Tal pessoa deve orar
para que o Senhor a cure. Cristã os saudá veis, todavia, devem ter a prá tica de comer. Mesmo
que sinta que tem clareza a esse respeito, você ainda precisa praticar mais.

NÃ O É NECESSÁ RIO ENTENDER TUDO O QUE LEMOS, NEM LER RÁ PIDO DEMAIS
OU COMPOR ORAÇÕ ES FORMAIS

Salmos 35:1-2 diz: "Contende, Senhor, com os que contendem comigo; peleja contra os que
contra mim pelejam. Embraça o escudo e o broquel e ergue-te em meu auxílio". Nã o é muito
fá cil aplicar uma passagem assim, a nã o ser que, pela soberania do Senhor, tenhamos um caso
como o do salmista. Se nã o tivermos tal caso, nã o precisamos aplicar esses dois versículos a
nó s mesmos. Nã o devemos tentar forçar coisa alguma. Se houver algo em versículos como
esses para ser digerido, entã o podemos digerir. Caso contrá rio, podemos simplesmente
prosseguir para os versículos seguintes. Nã o é necessá rio extrair algo de todos os versí-culos.
A Bíblia é muito rica; se continuarmos a ler, por fim ganharemos algo. Pode ser que numa
manhã nada recebamos de uma passagem, mas alguns meses mais tarde, quando houver
necessidade, o Espírito a trará de volta para o nosso entendimento. Naquela ocasiã o
poderemos orar melhor.

Quando comemos alimento material, nã o devemos engolir depressa demais. Temos de


mastigar por algum tempo. Da mesma maneira, quando lemos e oramos a palavra, nã o
devemos ler rá pido demais, tampouco devemos compor oraçõ es formais. Simplesmente
devemos ler e conversar com o Senhor de forma espontâ nea. Quando era jovem, eu era muito
religioso. Sempre que orava, sentia que devia ajoelhar-me e falar adequadamente. Isso é
demasiadamente religioso e formal. Mais tarde, percebi que o Senhor nã o honra essas coisas.
Antes, Ele honra o fato de sabermos com-tatá -Lo e comê-Lo. Por um lado, nã o devemos ser
levianos, frouxos e selvagens, mas, por outro devemos esquecer a formalidade e a religiã o e
simplesmente ser espontâ neos. À s vezes, podemos ler a palavra no jardim ou no carro, à s
vezes podemos sentar-nos, e outra: vezes teremos de nos ajoelhar para ler e falar com o
Senhor. Simplesmente devemos contatar o Senhor conversando com Ele de modo muito
espon-tâ neo, contudo no espírito, a fim de absorvê-Lo lendo e orando, ou seja, conversando
com o Senhor com base no que lemos e entendemos.

A PALAVRA TORNA-SE O ESPÍRITO QUE LIDA COM TODOS OS NOSSOS PROBLEMAS Se


tentarmos fazer isso, veremos a diferença em nossa vida cristã . Muitos problemas serã o
resolvidos espontâ nea-mente por esse tipo de comer, porque iremos digerir muitas
"vitaminas" espirituais que tratam os problemas e tragam a morte. Há muitos problemas que
nã o podemos resolver e ninguém pode ajudar-nos. Igualmente, há muitas perguntas que
ninguém pode responder. Contudo, simplesmente banqueteando-nos no Senhor dessa forma,
o suprimento e o alimento interior cuidarã o de todos os nossos problemas. A nutriçã o
resolverá os problemas. As vitaminas satisfarã o à s necessidades e matarã o os germes.

Uma vez senti que tinha um problema nos olhos. No começo da noite era-me difícil enxergar
ou ler. Quando contatei um oftalmologista, ele disse-me que eu precisava de vitamina A. Eu lhe

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disse: "Há algo errado com minha visã o. Por que você está me falando sobre comer?" Ele riu e
disse: `'Simplesmente compre algumas vitaminas ou cá psulas de ó leo de fígado de bacalhau e
tome-as diariamente. “Três dias depois você verá a diferença”. Aprendi com essa experiência.
O problema nã o era que eu nã o conseguia enxergar; o problema era que eu tinha carência de
vitamina A. No mesmo princípio, muitos problemas em nossa vida cristã sã o devidos a uma
coisa: estamos carentes de Cristo. Nã o quero dizer que estejamos carentes do conhecimento
de Cristo. Pode ser que tenhamos muito conhecimento de Cristo. Nã o estamos carentes da
"receita", mas da pró pria "vitamina". Simplesmente precisamos tomar mais de Cristo. Entã o
ficaremos bem. Nã o discuta; simplesmente tente. Entã o você será grato por essa palavra.

ACENDER AS LÂ MPADAS E QUEIMAR INCENSO

Na tipologia do taberná culo, lidar com as lâ mpadas e queimar incenso andam juntos. Ê xodo
30:7-8 diz: "Arã o queimará sobre ele o incenso aromá tico; cada manhã , quando reparar as
lâ mpadas, o queimará . Quando, ao crepú sculo da tarde, acender as lâ mpadas, o queimará ; será
incenso continuo perante o Senhor, pelas vossas geraçõ es". Pela manhã , o sacerdote queimava
incenso quando lidava com as lâ mpadas, e ao anoitecer, ele queimava incenso novamente
quando as acendia. Além do mais, o incenso nã o era somente para um dia, um mês, um ano ou
uma geraçã o; era incenso constante, contínuo, perpétuo perante o Senhor, por todas as
geraçõ es. Isso significa que todos os dias, quando lidamos com as lâ mpadas, precisamos
queimar incenso.

Queimar incenso tipifica nossa oraçã o, com Cristo como o incenso oferecido a Deus, e acender
as lâ mpadas tipifica nosso lidar com a Palavra, ou seja, nossa leitura da Bíblia. Temos aqui um
princípio. Sempre que acendemos as lâ mpadas, temos de queimar incenso. Ou seja, sempre
que lidamos com a palavra de maneira adequada a fim de receber luz, temos de orar e oferecer
incenso a Deus. É somente por esse tipo de oraçã o que a palavra que lemos e entendemos
pode ser transferida para o Espírito e tornar-se vida para nó s.

Muitos de nó s lêem a Bíblia, mas estou preocupado porque podemos nã o lê-la dessa maneira
viva. Eu recomendo a você que o faça dessa maneira viva. De agora em diante, devemos ler a
palavra dessa forma e ajudar os outros a contatar o Senhor diariamente lendo dessa maneira.
Isso causará mudança entre nó s.

PRATICAR E DESENVOLVER NOSSA ORAÇÃ O COM A PALAVRA A FIM DE BANQUETEAR-


NOS NO SENHOR

Joã o 14:1-3 diz: "Nã o se turbe o vosso coraçã o; crede em Deus, crede também em Mim. Na
casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim nã o fora, Eu vo-lo teria dito; pois vou
prepararvos lugar. E se Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos receberei para Mim
mesmo, para que onde Eu estou estejais vó s também". Essa é uma boa porçã o da palavra com
a qual orar. Orar sobre esse trecho exige certa prá tica, desenvolvimento e consideraçã o. Nã o
devemos ir rá pido demais aqui. Precisamos "provar" essa porçã o “mastigando-a". Podemos
dizer: "Senhor, eu Te agradeço por ter ido preparar o caminho, preparar um lugar e
conquistar o lugar onde eu possa estar no Pai, para que eu possa estar onde Tu está s. Senhor,
eu percebo que hoje estou no lugar onde Tu está s, contudo preciso perceber mais isso. Dá -me
mais e mais experiência de que estou no Pai, assim como Tu". Devemos aprender a aplicar tal
porçã o dizendo: "Senhor guarda-me hoje no lugar onde Tu está s. Agora vou para o escritó rio.
Guarda-me no Pai. Dá -me o sentimento de estar Contigo no Pai o tempo todo". Quando
tomamos a palavra dessa maneira, nã o sã o apenas palavras de letras pretas no papel branco.

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Antes, é algo vivo. É dessa maneira que exercitamos o espírito e temos um contato novo com o
Senhor. Assim é fá cil usar o espírito para orar.
À medida que adquirimos a prá tica de tomar a palavra desse modo, devemos aprender a orar
nã o meramente com nosso conhecimento, mas exercitando o espírito a fim de dizer ao Senhor
algo que sai do nosso interior, para ter um contato real com Ele. Precisamos exercitar o
espírito para nos levar à presença do Senhor e falar algo diretamente em Sua presença, face a
face. Isso é uma verdadeira oraçã o, e nã o apenas uma oraçã o por assuntos, negó cios ou
encargos; é uma oraçã o para contatar e digerir o Senhor. Essa é a forma de se alimentar do
Senhor por meio da palavra. Ao mesmo tempo, enquanto oramos, bebemos o Senhor.

Joã o 5 começa com: "Depois disso, havia uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Ora,
existe em Jerusa-lém, junto à porta das ovelhas, uma piscina, que em hebraico se chama
Betesda, a qual tem cinco pó rticos” (vs. 1-2). Esse capítulo é um "bom pedaço de carne" e
precisa de um desenvolvimento adequado. Como essa porçã o é tã o rica, podemos conversar
com o Senhor por dez, vinte ou trinta minutos em oraçã o. Podemos dizer: "Senhor, naquele dia
houve uma festa. Eu Te agradeço porque hoje Deus é minha festa. Em Jerusalém havia uma
piscina com cinco pó rticos. Hoje, Tu és minha Jerusalém e minha piscina. Nã o é necessá rio que
eu fique entre os pó rticos. Agora estou em Ti; estou em Cristo. Nã o preciso esperar, como um
homem impotente, por um anjo. Tu és o Anjo que veio para o lugar onde estou. Também és a
á gua. Nã o preciso esperar até que a á gua seja agitada. Tu as agita o tempo todo. Senhor, eu Te
louvo; sempre que as agitas, sou curado. É s ainda o verdadeiro sá bado para mim. Senhor, eu
Te louvo porque hoje tenho um sá bado, uma festa, um poço, um anjo, a á gua e o agitar".

Em seguida, podemos aplicar essa porçã o orando: “Senhor, faz com que tudo isso se torne real
para mim. Nã o é necessá rio que eu vá para o céu. Tu já vieste aqui, e agora está s comigo. Tu
nã o pedes nem exiges coisa alguma. Apenas supres e transmites. Nã o é preciso que eu faça ou
mude coisa alguma. Tu simplesmente transmites algo a mim no lugar onde estou". Se lermos e
orarmos dessa maneira, a Bíblia será um livro diferente. Será um livro vivo.

Nã o devemos permitir que uma passagem da Bíblia como essa se esvaia rapidamente. Talvez,
na manhã se-guinte, possamos voltar ao mesmo trecho. Entã o teremos algo mais. Podemos
orar: "Senhor, peço nã o apenas por mim, mas por muitos necessitados". Teremos o encargo de
cuidar dos outros e teremos intercessã o autêntica pelos outros. Essa é a maneira viva de ler a
palavra. Todos precisamos fazê-lo. Assim como necessitamos de alimento para viver
físicamente, também necessitamos de alimento para viver espiri-tualmente. Precisamos
alimentarnos e nos banquetear, tomar algo do Senhor para o nosso espírito.

NÃ O TRAZER NOSSOS CONCEITOS RELIGIOSOS, MAS TER UMA VISÃ O PARA NOSSAS
ORAÇÕ ES

Nossa oraçã o com a palavra nã o deve ser formal. Quando somos formais, tornamo-nos
religiosos. Freqü entemente confundimos ser formal e religioso com ser espiritual. Quanto
mais praticamos a maneira viva de ler a palavra, somos mais de fato espirituais e menos
formais e religiosos. Se praticarmos dessa maneira por apenas meio ano, poderemos abrir os
mesmos capítulos e versículos que lemos hoje e falar ao Senhor de modo diferente. Isso
provará que estamos mais no espírito e nã o somos mais tã o religiosos como costumá vamos
ser.

Pode ser difícil para alguns saber a diferença entre ser religioso e ser de fato espiritual em
digerir, compreender e aplicar uma passagem da palavra. Ser religioso significa que sabemos
o que agrada a Deus e que esperamos ser ou fazer tal coisa. Podemos orar: "Senhor, ajuda-me
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a fazer tal coisa". Quase todos os cristã os que lêem Lucas 21:1-4, por exemplo,
espontaneamente pedem ao Senhor que os ajude a ser como a viú va pobre que lançou duas
moedas no gazofilá cio. Por um lado, nã o há nada de errado com essa oraçã o; por outro, é uma
oraçã o religiosa.

Nã o é necessá rio ter uma visã o do Senhor para ter esse tipo de conceito religioso. Até mesmo
as pessoas do mundo que nã o conhecem a Cristo e sã o contra Ele, quando lerem essa porçã o,
dirã o: "Essa viú va está certa. Se eu fosse cristã o, gostaria de ser como ela". Contudo, as
pessoas do mundo nã o têm visã o. Se tivermos a visã o adequada da palavra, veremos que nã o
se trata de ofertar mais ou menos, mas de fazer algo na presença do Senhor. A visã o adequada
relaciona-se à presença do Senhor, e nã o em ser como a viú va. Deveríamos orar: "Senhor,
ajuda-me a estar na Tua presença" Tudo o que fazemos na presença do Senhor é correto. O
que importa é viver, andar e fazer as coisas na presença do Senhor. "Senhor, tem misericó rdia
de mim para que eu sempre ande e viva sentindo a Tua presença".

Entender esse pequeno trecho da palavra de modo que nã o seja natural nem religioso exige
visã o. Quando nos aproximamos da palavra, nã o devemos tentar entender de forma natural.
Se tentarmos entendê-la de modo natural, nã o precisamos sequer lê-la, porque já temos um
conceito religioso. Tentar agradar a Deus oferecendo mais "moedas" com maior sinceridade
nã o requer a palavra de Deus. Já tínhamos esse conceito antes mesmo de ser salvos. Nã o
devemos trazer à palavra conceitos humanos como esse. Precisamos esquecê-los. Exercitar o
espírito e negar a nó s mesmos inclui abandonar todos os nossos conceitos naturais e
religiosos quando nos aproximamos da palavra.

Devemos ir à palavra sem qualquer entendimento natural. À s vezes, quando determinado


entendimento vem até nó s, temos de conferir: "Esse conceito é natural? É um conceito
religioso?" Se praticarmos isso, aprenderemos a ter discernimento. Entã o, quando chegarmos
a uma passagem como Lucas 21, teremos a visã o da presença do Senhor, e oraremos: "Senhor,
em tudo que eu fizer, dá -me a misericó rdia e a graça para que sinta a Tua presença. Quero
fazer tudo aos Teus pés. Quero fazer tudo sob a Tua supervisã o. Tudo que eu fizer deve ser
aprovado na Tua presença".

Por meio dessas mensagens obtivemos clareza sobre a maneira adequada de ler e orar.
Contudo, todos nó s ainda precisamos de mais prá tica.

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Capítulo Sete
DESFRUTAR CRISTO POR MEIO DA ORAÇÃ O
Leitura Bíblica: Ap 5:8; 8:3-4; Rm 8:26, Sl 27:4, 8

Apocalipse 5:8 diz: "E, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro
anciã os prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa de ouro e taças de
ouro cheias de incenso, que sã o as oraçõ es dos santos”. As taças sã o as oraçõ es dos santos, e
no interior delas está o incenso. Isso significa que algo como o incenso, tã o agradá vel a Deus,
está nas oraçõ es dos santos. A oraçã o os santos é o recipiente, e o incenso é o conteú do.

Apocalipse 8:3-4 diz: "Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensá rio de ouro,
e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as oraçõ es de todos os santos sobre o altar
de ouro que se acha diante do trono; e da mã o do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do
incenso, com as oraçõ es de todos os santos".

Romanos 8:26 diz: "Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza;
porque nã o sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nó s
sobremaneira, com gemidos inexprimíveis". Embora nã o saibamos pelo que devemos orar, o
Espírito intercede em nó s e por nó s, muitas vezes com gemidos inexprimíveis.

Salmos 27:4 diz: "Uma coisa peço o Senhor, buscarei: que eu possa na Casa do Senhor todos os
dias da minha vida, par contem lar a beleza do Senhor e meditar no seu templo". A Casa do
Senhor tem dois significados: A igreja é a casa de Deus (1Tm 3:15), e nosso espírito humano
também é habitaçã o do Senhor (Ef 2:22).

Salmos 27:8 diz: "Ao meu coraçã o me ocorre: Buscai a minha presença; buscarei, pois, Senhor,
a tua presença". Isso mostra que o coraçã o do salmista falou-lhe interiormente algo do Senhor.
Seu coraçã o disse: "Buscai a minha pre-sença". Em seu coraçã o havia um clamor e uma
proclamaçã o dizendo que ele tinha de buscar a presença do Senhor. Entã o sua resposta foi:
"Buscarei, pois, Senhor, a tua presença.

MESCLAR A LEITURA DA PALAVRA COM ORAÇÃ O

Neste capítulo queremos ter mais comunhã o sobre desfrutar Cristo intimamente. Sempre há
diversas maneiras de se fazer alguma coisa, mas queremos saber a melhor maneira. A melhor
maneira de orar é misturar a leitura da Palavra co oraçã o. Devemos ler a Palavra para
desfrutar o Senhor, Quando o lemos a Palavra, a mente nã o deve tomar a liderança. À medida
que lemos, espontaneamente enten-demos alguma coisa. Entã o, podemos considerar o que
lemos. Depois de considerar, podemos transferir o que entendemos e considerar em oraçã o.
Devemos orar exercitando o espírito.

Nã o devemos exercitar a mente para compor uma oraçã o. Antes, devemos orar com sentenças
e frases curtas. Quando falamos com pessoas com quem temos intimidade, nã o como s algo de
maneira formal, contudo, muitos de nó s nã o oram nem conversam com o Senhor intimamente.
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Em vez disso, compomos algo formal. Isso mata nosso espírito e ajuda-nos a exercitar a mente.
Precisamos aprender a orar de maneira muito espontâ nea com termos e frases, mas sem
qualquer composiçã o formal. Deveríamos aprender a ser espontâ neos com o Senhor.
Enquanto oramos, lemos a Palavra, e enquanto lemos, oramos, Nossa oraçã o e leitura estã o
mescladas. Essa é a maneira de lidar com a Palavra a fim de desfrutar Cristo.
Cristo é vida e tudo para nó s, para o nosso desfrute. Por um lado, o Senhor é a Palavra e está
na Palavra. Por outro, o Senhor é o Espírito e está no Espírito. Também, a Palavra é o Espírito.
Joã o 1:1 revela que Cristo era o Verbo, isto é, a Palavra, no princípio. Joã o 6:63 mostra que a
Palavra é o Espírito. Efésios 6:17 mostra que o Espírito é a Palavra. Temos a Palavra nas mã os
e o Espírito em nosso espírito. Esses sã o os dois meios para contatar e desfrutar Cristo. A vida
cristã nã o é uma vida religiosa, mas é uma vida desfrutar Cristo o tempo todo.

Nosso andar diá rio cristã o e todas as virtudes da vida cristã adequada provém do desfrute de
Cristo. Efésios 5 e 6 fala que as mulheres devem submeter-se ao marido, os maridos devem
amar a mulher, os filhos devem honrar aos pais, os pais devem cuidar dos filhos, os servos
devem servir fielmente aos senhores e os senhores devem tratar os servos adequadamente.
Tal viver humano adequado provém de ser enchido com Cristo (Ef 5:18), que é desfrute e
Cristo. Ate mesmo combater a luta espiritual, relatada no final de Efésios, provém do desfrute
de Cristo.

Primeiro, podemos desfrutar Cristo lidando com a Palavra. Se queremos desfrutar Cristo,
devemos saber lidar com a Palavra. Se nã o sabemos lidar com a Palavra de maneira adequada,
na maneira da vida, jamais poderemos desfrutar Cristo adequadamente. Temos também de
aprender a orar é beber Cristo como o Espírito (1Co 12:13). É também inalá -Lo, respirá -Lo (Jo
20:22; Lm 3:55-56 - VRC). Todos temos de aprender a lidar com a Palavra e a orar a inalar
Cristo como o Espírito. Ao orar, trabalhamos juntamente com Cristo, dando-Lhe terreno e
oportunidade para operar algo por nosso intermédio. Assim, podemos dizer que há duas
maneiras de desfrutar Cristo. Uma é ler a Palavra; outra, a outra é orar. Precisamos mesclar a
leitura da Palavra com a oraçã o.

DESFRUTAR CRISTO ORANDO

Para aprender a desfrutar Cristo orando, devemos abandonar o velho modo de orar. Também
nã o devemos orar por assuntos ou preocupaçõ es pessoais. Antes, devemos orar para louvá Lo,
adorá -Lo agradecer-Lhe, contemplar Sua beleza e inalá -Lo. Muitas vezes temos de orar
gemendo, dizendo "O Senhor, ó Senhor..." Essa é a melhor oraçã o. A verdadeira oraçã o nã o
provém de nó s mesmos, para que o Senhor faça algo por nó s. A verdadeira oraçã o é o Espírito,
que é o pró prio Cristo, operando e agindo em nó s, para que nos abramos a Ele a fim de
expirá Lo e inspirá -Lo (ver Hino n° 136). Devemos dar a Ele um caminho livre para sair e
entrar a fim de expressar algo de Si mesmo.

Orar nã o é cuidar de muitas coisas. Orar é respirar o ar espiritual, que é o pró prio Senhor.
Diariamente, até mesmo diversas vezes ao dia, temos de aprender a respirar o Senhor como o
ar espiritual. Mesmo enquanto dirigimos o carro ou preparamos a comida em casa, podemos
respirar invocando do nosso interior: "Ó Senhor". Essa é a melhor oraçã o.

Apocalipse mostra-nos que as oraçõ es dos santos sã o as taças ou o incensá rio que contém
Cristo como o incenso. Em nossa oraçã o deve haver Cristo como o incenso. Temos de queimar
incenso diariamente, oferecendo oraçõ es com Cristo subindo até Deus. Cristo está em nó s e
precisamos ter oraçã o como o incensá rio, as taças, o recipiente ara o Cristo que habita em nó s
como o incenso. Se nã o oramos temos Cristo no nosso interior, mas nã o como o incenso que
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sobe até Deus. A oraçã o adequada nã o é por nossas necessidades prá ticas, e sim para a
expressã o de Cristo. Oramos para expressar Cristo, isto é, para dar ao Cristo que habita em
nó s a oportunidade de ser o incenso, de subir até Deus e de ser expresso em nossa oraçã o.

Mateus 6:31-33 diz: "Portanto, nã o andeis ansiosos, dizendo: Que comeremos? ou: Que
beberemos? ou: Com que nos vestiremos? porque todas essas coisas os gentios procuram
ansiosamente; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas. Buscai, porém, em
primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça, e todas essas coisas vos serã o acrescentadas".
Podemos até dizer ao Senhor: "Senhor, nã o preciso orar tantas coisas. Mateus 6:31-33 diz que
Tu já sabes de que necessito". Se nã o estivermos em paz quanto à s nossas necessidades
pessoais, podemos lembrar ao Senhor que nos alimente e cuide de nó s segundo a Sua Palavra.
Simplesmente devemos buscar o Senhor, o Seu reino e a Sua justiça. Tudo de que precisamos,
o Senhor nã o apenas nos dará , mas também acrescentará . Devemos aprender a orar e a buscar
o pró prio Senhor para contemplar Sua beleza.

Depois podemos prosseguir e aprender a perguntar ao Senhor. Isso significa que devemos
aprender a perguntar ao Senhor sobre o que temos de orar. Nã o ore segundo o que você acha
que deve orar, mas pergunte ao Senhor o que Ele quer que você ore. À s vezes você pode ter de
perguntar: "Senhor, posso orar agora por determinado amigo? Posso orar agora pela pregaçã o
do evangelho?”

Uma boa ilustraçã o disso é encontrada em Gênesis 18, quando o Senhor com dois anjos foi
visitar Abraã o. A Bíblia nos diz que Abraã o era amigo de Deus (2Cr 20:7; Is 41:8; Tg 2:23). O
relato de Gênesis 18 mostra que havia uma amizade íntima entre eles. Abraã o recebeu o
Senhor como um amigo, um convidado, e serviu ao Senhor (vs. 1-8). O Senhor e Abraã o
tiveram um desfrute mú tuo. O Senhor perguntou entã o a Abraã o: "Sara, tua mulher, onde
está ?" (v. 9), e disse a Abraã o que ela daria à luz um filho (v. 10). Abraã o nã o pediu um filho ao
Senhor em Gênesis 18. Antes, permitiu que o Senhor lhe falasse algo. Nã o devemos levar
muitas coisas na oraçã o para que se intrometam em nossa comunhã o com o Senhor. Devemos
contemplar o Senhor e deixá -Lo desfrutar-nos enquanto O desfrutamos. Devemos deixar que
Ele nos pergunte algo, assim como perguntou a Abraã o: "Tua mulher, onde está ?" Depois
devemos deixar que Ele fale algo a nó s.

Apó s Sua comunhã o com Abraã o, o Senhor e os dois anjos começaram a sair. O versículo 16
diz: "Tendo-se levantado dali aqueles homens, olharam para Sodoma; e Abraã o ia com eles,
para os encaminhar". Isso significa que Abraã o os acompanhou. Isso mostra como Abraã o
tratava o Senhor como um amigo íntimo. É como se ele dissesse: "Senhor, já vais? Que pena; eu
nã o gostaria que fosses. Deixe-me acompanhar-Te um pouco. Pelo fato de Abraã o acompanhar
e conduzir o Senhor, surgiu o encargo pela intercessã o.

O versículo 17 diz: "Disse o Senhor: Ocultarei a Abraã o o que estou para fazer?" O versículo 17
proveio do fato de Abraã o acompanhar e conduzir o Senhor no versículo 16. Se Abraã o tivesse
simplesmente dito: "Até logo, Senhor", e nã o O tivesse acompanhado determinada distâ ncia, o
Senhor nã o teria tido comunhã o adicional com ele. O Senhor nã o pô de esconder de Seu amigo
íntimo o que estava para fazer. Ele teve de contar-lhe.

O Senhor, entã o, disse a Abraã o que ia julgar Sodoma. De fato, naquele momento o Senhor
tinha um verdadeiro encargo por Ló , e precisava de alguém que orasse por Ló . O Senhor
sempre precisa de alguma intercessã o para fazer algo pelos outros. Por meio de sua comunhã o
com o Senhor, Abraã o, tomou conhecimento da intençã o do Senhor. Por serem amigos
íntimos, nã o era necessá rio que mencionassem nominalmente a Ló .
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Os versículos 22 e 23 dizem: "Entã o, partiram dali aqueles homens [os dois anjos] e foram
para Sodoma; porém Abraã o permaneceu ainda na presença do Senhor. E, aproximando-se a
ele, disse: Destruirá s o justo com o ímpio?" Mesmo com a partida dos dois anjos, Abraã o nã o
desejava deixar o Senhor. Ele permaneceu diante do Senhor para ter comunhã o mais íntima.
Abraã o começou a interceder, perguntando ao Senhor se Ele destruiria o justo com o ímpio.
Isso quer dizer que ele estava orando por Ló . Isso mostra que o encargo pela intercessã o vem
do nosso contato com o Senhor. Quando o Senhor nos revela o Seu coraçã o, sabemos Sua
intençã o e esta se torna nosso encargo, que volta ao Senhor como nossa intercessã o. O desejo
do coraçã o do Senhor era salvar Ló de Sodoma, mas o Senhor precisava que alguém orasse por
Ló . Sem alguém para orar por Ló , o Senhor nã o podia agir. Esse é o princípio da encarnaçã o.
Na nova criaçã o, na obra da graça do Senhor na salvaçã o, sempre há a necessidade da
encarnaçã o. Isso quer dizer que sempre é necessá rio que alguém coopere com o Senhor.
Entã o, o Senhor tem base para fazer algo. Gênesis 19:29 indica que, quando o Senhor destruiu
Sodoma, Ele salvou Ló como resposta à oraçã o de Abraã o. Depois da comunhã o cabal de
Abraã o com o Senhor, Gênesis nos diz: "Tendo cessado de falar a Abraã o, retirou-se o Senhor;
e Abraã o voltou para o seu lugar" (18:33). Ao ler Gênesis 18 podemos ver que Abraã o falou,
mas o versículo 33 diz que assim que cessou de falar a Abraã o, o Senhor se retirou. Isso nos
mostra que a melhor oraçã o nã o é falar ao Senhor, mas o Senhor falar a nó s. Devemos deixá -
Lo cessar de falar a nó s. Entã o, podemos dizer amém ao Seu falar. Devemos indagar: "Quando
terminamos nossa oraçã o e dissemos amém, fomos nó s que terminamos o que tínhamos para
falar, ou foi o Senhor?”

Rigorosamente falando, a oraçã o adequada é o Senhor falando por intermédio de quem ora.
Por isso devemos aprender a orar para contemplar Sua beleza e inalá -Lo a fim de expressá -Lo.
Se nã o sabemos o que orar, podemos gemer, dizendo: "Ó Senhor, nã o sei como orar nem o que
orar. Ó Senhor..." entã o teremos a melhor oraçã o.

Precisamos praticar a comunhã o descrita neste capítulo. Primeiramente devemos aprender a


ler e orar acerca da Palavra. Precisamos também orar para contemplar o Senhor e respirá -Lo
como nosso ar espiritual. Talvez possamos tomar dez ou quinze minutos de manhã para ler e
orar a Palavra. Depois, precisamos de outro momento, talvez uns cinco minutos, apenas para
orar. Devemos abrir-nos ao Senhor, buscá -Lo, buscar Sua face para contemplá -Lo, adorá -Lo,
louvá -Lo e agradecer-Lhe. Se temos algum sentimento interior que nã o sabemos expressar,
podemos gemer diante Dele. Se praticarmos esse tipo de oraçã o viva e íntima, seremos
nutridos, refrescados e fortalecidos pelo Senhor nã o apenas de manhã , mas o dia todo.

Precisamos aprender a orar desse modo todo o tempo. Primeira Tessalonicenses 5:17
exortanos a orar sem cessar. Somente orando assim é que podemos orar sem cessar. Orar
dessa forma é respirar espiritualmente. Nã o importa o que fazemos, podemos orar à maneira
da respiraçã o espiritual. Devemos orar sem cessar, nã o importa o que estamos a fazer. Assim
desfrutaremos Cristo continuamente.

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Capítulo Oito
EXERCITAR O ESPÍRITO PARA DESFRUTAR O SENHOR EM ORAÇÃ O

Depois de termos usado vinte ou vinte e cinco minutos para desfrutar o Senhor, lidando com
Sua palavra, precisamos de um tempo para simplesmente orar. Nesse tempo nã o devemos nos
preocupar com o que lemos. Nã o devemos manter coisa alguma na mente, mas apenas buscar
a Sua face, abrir-nos a Ele, contemplá -Lo e falar-Lhe algo, sobre Sua bondade e beleza, adorá Lo
e reverenciá -Lo.

Inicialmente, alguns podem começar sua oraçã o dizen-do: "Senhor, confesso que nã o sei como
Te desfrutar ou Te louvar desta maneira". Isso pode ser bom, mas é apenas o começo da
prá tica da oraçã o. Depois de praticarmos um pouco mais esse tipo de oraçã o, nã o devemos
dizer que nã o sabemos fazê-la. Antes, quando nos aproximarmos do Senhor, devemos
expressar de maneira muito positiva algo da nossa percepçã o interior. Podemos perceber que
o Senhor é amá vel e, assim, orar: "Ó Senhor, Tu és tã o amá vel!" Pode-mos também perceber
que o Senhor é tã o disponível e, assim, orar: "Senhor, eu Te adoro! Tu és tã o disponível. Ó
Senhor, eu Te adoro e louvo por Tua disponibilidade". Dessa maneira, podemos falar algo de
maneira positiva com segurança e confirmaçã o.

ORAR PARA EXPRESSAR NOSSA COMPREENSÃ O INTERIOR DO SENHOR

Dizer que nã o sabemos louvar o Senhor é uma desculpa. Por fim, o Senhor nã o nos permitirá
essa desculpa. Ele pode dizer: "Você sabe Me louvar". Temos compreendido muitas coisas a
respeito do Senhor, assim, deveríamos simplesmente expressar na oraçã o algo da nossa
percepçã o interior. A adoraçã o, louvor e açã o de graça que rendemos ao Senhor sã o as
expressõ es da nossa percepçã o interior. Podemos dizer a um irmã o, por exemplo: "Irmã o,
você é tã o amá vel". Isso é um tipo de louvor, à quele irmã o, que é a expressã o da percepçã o
que temos dele. Da mesma maneira, em nosso interior nó s compreendemos algo do Senhor.
Essa percepçã o interior é expressa, à s vezes como adoraçã o, à s vezes com louvor e à s vezes
como açã o de graça que rendemos a Ele. À s vezes precisamos dizer: "Ó Senhor, eu amo a Tua
presença. Eu amo contemplar a Tua beleza. Eis-me aqui para abrir-me a Ti. Ó Senhor, abre-Te
mais a mim".

Estamos no começo desse tipo de prá tica. Depois de determinado período de prá tica, nos
libertaremos de composiçõ es e explicaçõ es em nossa oraçã o. Quanto mais praticarmos orar
dessa maneira, mais seremos simples em nossas expressõ es. O princípio bá sico é
simplesmente expres-sar nossa percepçã o interior do Senhor.

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Um irmã o pode orar: "Senhor, Tu deixaste claro que vives e habitas no meu espírito". Esse
tipo de oraçã o pode ser meramente um tipo de explicaçã o ou definiçã o: Em vez disso,
devemos simplesmente expressar algo da nossa percepçã o interior. Podemos dizer: "Ó
Senhor, que graça! Que graça Tu estares aqui. Que graça Tu estares comigo e que graça Tu
estares no meu espírito! Ó Senhor, Tu és tã o amá vel!" Essa é a expressã o da percepçã o de que
o Senhor vive em nó s.

Em uma ou duas semanas da nossa prá tica de orar dessa maneira, podemos definir e compor
nossas palavras com muita habilidade. Depois de certo período de prá tica, contudo, seremos
mais simples. Nossas oraçõ es serã o expres-sõ es, nã o definiçõ es ou explicaçõ es. Nossas
oraçõ es podem ser simplesmente sentenças curtas ou até mesmo frases simples. Podemos
dizer: "Ó Senhor, quã o bom é que Tu estejas em mim o tempo todo". Dessa maneira podemos
esquecer nossa mente natural e exercitar o espírito. Quando oramos, temos de concentrar
toda a nossa força no nosso espírito para falar algo: "Ó Senhor, que misericó rdia! Que graça!
Oh! que bom! Ó Senhor, aleluia! Nã o consigo expressar. É bom demais". Isso é dizer algo do
espírito, nã o compor uma oraçã o. Se orarmos com pequenas sentenças e nã o compusermos
nossas oraçõ es, teremos a liberaçã o do espírito. Nosso espírito será liberado e elevado. Façam
uma tentativa.

Essa é a maneira de falar uma mensagem. Quando um jovem irmã o começa a ministrar, ele
freqü entemente prepara uma introduçã o e cada parte da mensagem com uma compo-siçã o
adequada. À medida que prossegue, contudo, ele deixa esse tipo de formalidade para trá s e
fala à s pessoas de maneira mais eficaz e liberada.

Algumas pessoas podem orar com muita composiçã o porque estã o acostumadas a orar em
pú blico nas reuniõ es. Contudo, até mesmo quando oramos nas reuniõ es, devemos aprender a
expressar em vez de explicar. Em vez de orar de maneira explicativa: "Senhor, é um privilégio
estarmos diante de Ti nesta hora", podemos simplesmente expressar: "Ó Senhor, que
momento precioso! Como é bom estarmos aqui!” Isso é uma expressã o, nã o uma explicaçã o.
Nossa maneira atual de orar prova que no passado nos acostu-mamos a uma maneira antiga.
Agora devemos ter a prá tica de orar de maneira nova, com sentenças curtas. Nossas
explicaçõ es e definiçõ es devem tornar-se expressõ es de nossa percepçã o interior. Nã o
devemos nos preocupar com pensamentos, consideraçõ es e composiçõ es. Simplesmente
devemos nos importar com nossa percepçã o interior.

NÃ O ORAR COM COMPOSIÇÕ ES, MAS COM AS RIQUEZAS DE CRISTO

Se virmos um edifício em chamas, nã o iremos dizer ao nosso vizinho: "Meu caro amigo, é
importante que você saiba que há um incêndio nas imediaçõ es". Ninguém falaria dessa
maneira. Antes, gritaríamos: "Fogo!" Isso é uma expressã o e nã o uma explicaçã o. Devemos
aprender a orar de maneira a expressar algo da nossa percepçã o interior. Em nosso interior
percebemos algo do Senhor, e simplesmente o expressamos. Muitos salmos, no Antigo
Testamento, sã o falados dessa maneira. Eles nã o explicam as coisas; antes, expressam algo.
Quanto mais deveria ser nosso caso hoje em dia. Muitos de nó s aprenderam a maneira errada
de orar. Trata-se da maneira religiosa, natural de orar. Temos de mudar nossa maneira. Se os
amados irmã os no nosso meio tomarem esta palavra de praticar a oraçã o que vem da nossa
percepçã o interior, nossa oraçã o melhorará muito.

Quanto mais praticarmos, mais seremos libertados da maneira da composiçã o. Se reduzirmos


nossa composiçã o, teremos mais expressã o, e quando tivermos mais expressã o, teremos as
riquezas nã o da composiçã o, mas dos itens do Senhor. Podemos dizer: "Ó Senhor, Tu és minha
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comida, minha bebida e minha respiraçã o. Oh! o meu ar fresco! Minha força e iluminaçã o". O
pró prio Senhor, como comida, bebida e ar que respiramos, é as Suas riquezas. Entã o,
continuamos: "Tu és minha satisfaçã o. Oh! a preciosidade e o frescor desse ar! Ó Senhor, que
refrescante! Nã o há palavras para expressar". Esse tipo de oraçã o é rico em essência e nã o em
composiçã o, sentenças, frases e palavras. Quanto mais orarmos dessa maneira, mais
absorveremos do Senhor.

Precisamos praticar mais e mais esse tipo de oraçã o. Devemos aprender a nã o compor, mas a
expressar algo que vem do interior do nosso espírito a fim de contatar o Senhor com
expressõ es simples, quanto mais curtas melhor. Se o fizermos, sentiremos as riquezas de
Cristo, e teremos a aplicaçã o e o sentido prá tico da experiência de Cristo em nosso caminhar
diá rio. Nó s O desfrutamos o tempo todo, de maneira que, quando nos aproximamos Dele,
temos certa percepçã o, certo sentimento. Podemos ter desfrutado muito 0 Senhor a tarde
toda. Entã o, à noite, podemos ter cinco minutos para orar antes do jantar. Nã o é necessá rio
fechar a porta ou nos ajoelhar. Onde quer que estejamos, podemos simplesmente expressar
algo ao Senhor: "Ó Senhor, que fortalecimento durante toda a minha tarde! Eu Te adoro,
Senhor. Tu és minha força". Quanto mais orarmos dessa maneira, mais seremos fortalecidos,
mais desfrutaremos e mais absorveremos o Senhor.

NÃ O NOS IMPORTAR COM A MENTE NATURAL, MAS


EXERCITAR O ESPÍRITO PARA ORAR

Os Salmos foram escritos na forma de expressõ es diri-gidas ao Senhor. Contudo, tantos


cristã os do Novo Testa-mento nã o podem ser comparados aos salmistas do Antigo
Testamento. Eles têm o Espírito que habita interiormente, mas nã o usam seu espírito para
orar com expressõ es simples. Nã o quer dizer que devemos orar com expressõ es do Antigo
Testamento, como: "Por ti, ó Deus, suspira a minha alma" (Sl 42:1). Antes, é o princípio dos
salmistas que está correto: "Ó Deus, minha alma suspira por Ti!" Todos precisamos aprender a
mudar nossa maneira de orar. Creio que se o fizermos, os irmã os serã o mais animados e as
reuniõ es serã o mais vivas.

Mesmo se orarmos com um bom espírito, ainda podemos ter muita composiçã o em nossa
oraçã o. Isso ocorre porque todos nó s somos "diplomados na mesma escola", onde nos
formamos no mesmo curso de velhas oraçõ es. Precisamos deixar de compor nossa oraçã o.
Devemos aprender a orar exercitando o espírito a fim de expressar alguma coisa, nã o
exercitando a mente para compor algo. Esse é o princípio adequado da oraçã o. Qualquer
mú sculo que usamos sempre é fortalecido e cresce. O mesmo ocorre com o espírito. Quanto
mais o usarmos, mais ele crescerá e será fortalecido.

Na oraçã o, devemos aprender a concentrar-nos no espírito e esquecer a mente natural. Nã o


devemos compor coisa alguma, mas simplesmente expressar algo que vem do interior
conforme percebemos e sentimos. Precisamos ter um sentido interior do Senhor. Podemos
senti-Lo nã o apenas como nossa comida, bebida e porçã o, mas como muitos outros itens. À s
vezes, podemos dizer: "Ó Senhor, estou experimen-tando Tua soberania. Durante todo este
dia, que soberania experimentei". Essa é a expressã o de nossa experiência do Senhor naquela
ocasiã o. Todos temos de aprender essa maneira. Entã o, creio que nossas reuniõ es serã o muito
enriquecidas por nossas oraçõ es desse tipo.

Depois de certa prá tica, mudaremos a maneira de orar. Espontaneamente diremos: "Senhor,
Tua presença é preciosa, tã o amá vel!" Se sentimos que estamos na mente, nã o devemos
explicar isso ao Senhor, dizendo: "No passado, fiquei muito na mente. Como estou na mente!
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Ajuda-me a perceber que devo exercitar meu espírito. Mas, Senhor, nã o sei como fazê-lo". Essa
é uma boa oraçã o, mas está muito na mente quanto à (composiçã o, explicaçã o e raciocínio. Se
estivéssemos em um terremoto, nã o haveria tempo para explicar nada. Simplesmente
gritaríamos: "Terremoto!" Da mesma maneira, podemos simplesmente gritar: "Senhor,
liberta-me da mente. Ó Senhor, da mente! Liberta-me! Que misericó rdia, Senhor! Que graça!
Tu está s no meu espírito. Ó Senhor, ajuda-me a exercitar o espírito. Oh! o espírito! Senhor, o
espírito! Senhor, ajuda-me a exercitar!" Isso é oraçã o de verdade. É uma expressã o e nã o uma
explicaçã o. Depois de orar dessa maneira por cinco minutos, estaremos no céu. Pratiquem isso
e vocês sentirã o a diferença. Sua oraçã o será totalmente diferente.

FAZER ORAÇÕ ES CURTAS COM UM ESPÍRITO FORTE NAS REUNIÕ ES


Para orar na maneira de composiçã o, nã o precisamos de nenhuma ousadia. Podemos estar
fracos em nosso espírito e introspectivos. Para orar de maneira a expressar nossa percepçã o,
contudo, é preciso ousadia, força no espírito e libertaçã o da introspecçã o. Quanto mais forte
for o nosso espírito, mais curtas serã o as sentenças e frases da nossa oraçã o. Quanto mais viva
for nossa oraçã o, menor será o palavreado e menos raciocínio natural haverá em nosso
discurso. Devemos aprender a orar dessa maneira nova. Entã o, quando chegamos à reuniã o,
podemos orar da mesma maneira, à maneira de nã o explicar, mas de expressar. Aprendam a
orar dessa maneira.

Digo novamente: precisamos de mais prá tica. Deveríamos praticar essa maneira de orar nã o
apenas em nossos momentos privados, mas nas reuniõ es. Sem dú vida, a neces-sidade na
reuniã o nem sempre será a mesma. À s vezes preci-samos de uma oraçã o longa como o Salmo
119, o mais longo dos salmos, com cento e setenta e seis versículos em vinte e duas estrofes de
oito versículos cada. Contudo, a maioria das vezes nossa oraçã o nas reuniõ es deve ser viva,
forte e curta fim de expressar algo da nossa percepçã o do Senhor. Oraçõ es curtas, que nã o sã o
prolixas, sã o ricas em seu efeito. Fazer uma oraçã o prolixa significa que estamos orando na
mente. Quando oramos no espírito, nosso falar é curto. Precisamos praticar essas duas coisas:
contatar o Senhor lidando com a Palavra e orar de maneira nova para desfrutá -Lo.

Capítulo Nove
ORAR PARA DESFRUTAR O SENHOR E EXPRESSAR SEU ENCARGO

Leitura Bíblica: Ef 5:18-20; 6:18-20; Jd 20; Gn 18:76-33; 1Sm 1: 10-11; Lc 7:46-55

Nesta mensagem consideraremos a maneira adequada de desfrutar o Senhor, participar Dele e


interceder para, expressar Seu encargo em oraçã o.

A ORAÇÃ O É O RESULTADO DO NOSSO DESFRUTE DO SENHOR

Efésios 3:16-17a diz: "Para que, segundo a riqueza da sua gló ria, vos conceda que sejais
fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no
vosso coraçã o, pela fé". O versículo 19b diz: "Para que sejais tomados de toda a plenitude de
Deus". A seguir, 5:18-20 nos diz que tipo de pessoas sã o fortalecidas pelo Espírito no homem
interior, ocupados por Cristo no coraçã o, e cheios em todo o seu ser até a plenitude de Deus.

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Esses versículos dizem: "E nã o vos embriagueis com vinho, no qual há dissoluçã o, mas
encheivos do Espírito, falando entre vó s com salmos, entoando e louvando de coraçã o ao
Senhor com hinos e câ nticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo".

Salmos, hinos, louvores e açã o de graças sã o o transbordar de ser cheio no espírito. O fato de o
transbordar incluir câ nticos indica que se trata de desfrute. Sempre que cantamos há uma
forte prova de que desfrutamos algo. Portanto, ser cheio no espírito é desfrutar o Senhor, e em
tal condiçã o derramamos nosso louvor e gratidã o a Deus. Louvor e açã o de graças sã o o
transbordar do desfrute interior de Cristo. Além disso, é desse desfrute que provém o viver
adequado de maridos, esposas, filhos, pais, servos e senhores na vida cristã (vs. 22, 25; 6:1, 4,
5, 9).

Depois disso, Efésios diz-nos que somos habilitados e ganhamos o encargo de lutar a batalha
contra o inimigo de Deus (6:10-20). Dessa forma, esse livro conclui com oraçã o. Os versículos
18 a 20 dizem: "Com toda oraçã o e sú plica, orando em todo tempo no Espírito e para isto
vigiando com toda perseverança e sú plica por todos os santos e também por mim; para que
me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o
mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja
ousado para falar, como me cumpre fazê-lo". Quando somos cheios do Senhor e O
desfrutamos, temos os itens adequados da vida cristã como resultado desse desfrute. Entã o,
somos capacitados e habilitados para lutar a batalha contra o inimigo de Deus e somos
encarregados disso, orando sempre no espírito com toda oraçã o e sú plica.

SER CHEIO DO ESPÍRITO PARA ORAR NO ESPÍRITO SANTO

Judas 20 diz: "Vó s, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito
Santo". Para orar no Espírito Santo, devemos ser cheios Dele; devemos inalá -Lo.

UM EXEMPLO MARAVILHOSO DE INTERCESSÃ O

Gênesis 18 contém boa ilustraçã o e grande ajuda com respeito à oraçã o. Esse capítulo relata a
conversa e a conferência entre Abraã o e o Senhor. O Senhor veio até Abraã o com dois de Seus
anjos. Abraã o recebeu o Senhor, serviu-O e ministrou-Lhe, e o Senhor desfrutou o que Abraã o
Lhe ministrou (vs. 1-8). Entã o, enquanto o Senhor desfru-tava tudo aquilo, Ele disse a Abraã o
o que faria por sua esposa Sara, de modo que ela daria à luz um filho (v. 10). Parece que esse
contato entre o Senhor e Abraã o era suficiente.

Contudo, quando o Senhor e os dois anjos prepararam-se para partir, Abraã o nã o desejava
perder a Sua presença, assim ele os acompanhou por certa distâ ncia. Os versículos 16 a 24
dizem: "Tendo-se levantado dali aqueles homens, olharam para Sodoma; e Abraã o ia com eles,
para os encaminhar. Disse o Senhor: Ocultarei a Abraã o o que estou para fazer, visto que
Abraã o certamente virá a ser uma grande e poderosa naçã o, e nele serã o benditas todas as
naçõ es da terra? Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a
fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor
faça vir sobre Abraã o 0 que tem falado a seu respeito. Disse mais o Senhor: Com efeito, o
clamor de Sodoma e Gomorra tem-se multiplicado, e o seu pecado se tem agravado muito.
Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor que é vindo até
mim; e, se assim nã o é, sabê-lo-ei. Entã o, partiram dali aqueles homens e foram para Sodoma;
porém Abraã o permaneceu ainda na presença do Senhor. E, aproximando-se a ele, disse:

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Destruirá s o justo com o ímpio? Se houver, porventura, cinqü enta justos na cidade, destruirá s
ainda assim e nã o poupará s o lugar por amor dos cinqü enta justos que nela se encontram?"

Os versículos 32 e 33 concluem essa porçã o: "Disse ainda Abraã o: Nã o se ire o Senhor, se lhe
falo somente mais esta vez: Se, porventura, houver ali dez? Respondeu o Senhor: Nã o a
destruirei por amor dos dez. Tendo cessado de falar a Abraã o, retirou-se o Senhor; e Abraã o
voltou para o seu lugar".

Quando Abraã o nã o se mostrou disposto a perder a presença do Senhor, o Senhor disse:


"Ocultarei a Abraã o o que estou para fazer?" Isso é a transmissã o do encargo do Senhor por
intercessã o. Havia um encargo no coraçã o do Senhor, e, nesse momento, Ele encontrou a
pessoa adequada para compartilhá -lo. Suponha, entretanto, que, quando o Senhor se pusesse
a partir, Abraã o simplesmente tivesse dito: "Até logo". Esse teria sido o final de seu contato, e
nenhum encargo por intercessã o teria sido revelado a Abraã o.

O Senhor tinha um sentimento muito afá vel. Ele nã o transmitiu Seu encargo a Abraã o antes de
este o ter acompanhado por determinada distâ ncia. Antes, o Senhor o manteve oculto. Apenas
quando Abraã o O acompanhou é que Ele transmitiu Seu encargo. Entã o, foi como se Ele tivesse
dito: "Como posso ocultar de Abraã o o que estou para fazer? Tenho de contar a ele".

Naquela ocasiã o, o Senhor revelou a Abraã o Sua grande preocupaçã o com Sodoma. Na
verdade, Sua preocupaçã o era com Ló , que estava em Sodoma. Assim Abraã o veio a saber, o
que estava no coraçã o do Senhor, de modo que ganhou encargo para interceder por Ló .
Abraã o orou de forma pessoal, para consultar o Senhor e barganhar com Ele. O Senhor
concordou que se houvesse cinqü enta justos em Sodoma, Ele a pouparia, mas como Abraã o
percebeu que nã o havia cinqü enta, ele reduziu o nú mero para quarenta e cinco, quarenta,
trinta, vinte e dez. Essa intercessã o era uma espécie de conferência e troca de idéias entre
Abraã o e o Senhor.

Aparentemente Abraã o falou muito com o Senhor. Contudo, no final desse relato, o versículo
33 diz: "Tendo cessado de falar a Abraã o, retirou-se o Senhor; e Abraã o voltou para o seu
lugar". Ele nã o diz que quando Abraã o cessou de falar com o S amém e se foi. Em vez disso, diz
que Senhor cessou de Seu falar se foi. Essa é uma boa ilustraçã o da intercessã o adequada.

ORAR CONFESSANDO E ABSORVENDO O SENHOR EM NÓ S

A oraçã o adequada é uma oraçã o em que desfrutamos o Senhor, bebendo-O e respirando-O.


Essa é a primeira coisa que deveríamos fazer quando vamos orar. Se algo nos impede de orar
assim, devemos perceber que há algo errado entre nó s e o Senhor, e lidar com isso
confessando. Deveríamos dizer: "Senhor, deve haver algo errado comigo. Revela-me o que é".
Se estivermos abertos ao Senhor, o Espírito Santo nos dará o sentimento de que estamos
errados em determinadas coisas. Devemos, entã o, seguir esse sentimento e confessar nossos
erros e aplicar o sangue do Senhor. Se depois disso ainda tivermos o sentimento de que algo
nos impede, mas nã o sabemos o quê, devemos pedir ao Senhor que nos cubra e purifique de
qualquer coisa com Seu sangue precioso. Podemos firmar-nos sob a purificaçã o do Seu sangue
pela fé. Entã o, imediatamente devemos esquecer esse sentimento de frustraçã o, olhar para o
Senhor e absorver algo Dele. Preci-samos aprender a desfrutar o Senhor dessa forma.

Precisamos usar algum tempo para absorver o Senhor. Nã o podemos fazê-lo apressadamente.
Devemos esperar no Senhor e falar algo a respeito Dele. Isso é respirá -Lo. A princípio nã o

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deveríamos orar por muitas coisas que estã o na memó ria. Quando nos aproximamos do
Senhor, precisamos esquecer tais coisas e nã o ter encargo por nada que nã o seja o pró prio
Senhor. Devemos simplesmente contatá -Lo, respirá -Lo e desfrutá -Lo. Essa é a primeira
questã o sobre a oraçã o.

ORAR PARA EXPRESSAR O CORAÇÃ O DO SENHOR, UMA VEZ ENCHIDOS DELE

O segundo item importante sobre a oraçã o é expressar algo do Senhor. Isso significa que o
Senhor deve dar-nos o encargo de algum desejo do Seu coraçã o. O desejo do Seu coraçã o
torna-se um encargo para nó s. Depois de termos inalado o Senhor e absorvido algo Dele, o que
absorvemos torna-se um encargo em nó s, e o expressamos em oraçã o. Essa é a maneira
autêntica e adequada de orar.

À s vezes, essa expressã o em oraçã o pode ser a respeito de nossa condiçã o. O Senhor pode
darnos o sentimento de que somos carnais ou desleixados. Se Ele o fizer, nã o devemos dizer
nada diferente. Tudo que dissermos além disso nã o terá a unçã o. Somente teremos unçã o para
dizer: "Senhor, livra-me da minha situaçã o atual. Sou tã o carnal e tã o desleixado. Liberta-me
totalmente". À s vezes pode ser neces-sá rio que clamemos ou até mesmo choremos na oraçã o.
Quanto mais orarmos assim, mais tocaremos a unçã o e seremos tocados por ela.

Depois de ouvir uma mensagem exortando-nos a nã o ser carnais e desleixados, podemos ir ao


Senhor em nosso esforço pró prio e orar sobre carnalidade e desleixo. Contudo, isso nã o
funciona e nã o produz qualquer mudança em nó s. Nã o deveríamos tentar corrigir-nos dessa
maneira. Antes, devemos primeiramente ir ao Senhor a fim de lidar com toda frustraçã o e
coisa negativa, e entã o devemos absorver o Senhor, desfruta-Lo e recebê-Lo em nó s. Entã o,
algo do pró prio Senhor em nó s nos dará sentimento para orar.

À s vezes o encargo do Senhor será alguma coisa pela igreja, por algum irmã o ou por
determinada obra. Essa é a hora adequada para orar por esses assuntos. Nã o se trata de uma
oraçã o iniciada por nó s mesmos, mas pelo Senhor que está em nosso interior. Isso é mais que
uma simples petiçã o ao Senhor; é uma expressã o do Senhor. Expressamos o Senhor a partir do
nosso interior porque fomos cheios Dele. Nossa oraçã o é algo do Senhor, é até mesmo o
pró prio Senhor para expressarmos. Essa é a maneira adequada de orar, nã o apenas para
desfrutar o Senhor, mas também para expressá -Lo na intercessã o. Orar assim é orar no
Espírito Santo. Recebemos algo do Senhor e fomos cheios Dele. Agora, porque inalamos e
absorvemos o Senhor, tudo o que orarmos será algo do Espírito Santo.

Muitos cristã os praticam orar segundo uma lista de oraçõ es ou um caderno com nomes.
Quando vã o orar, eles primeiramente verificam o que está registrado em seu caderno. Esses,
sem dú vida, sã o cristã os muito bons e devotados, e, à s vezes, o Senhor opera soberanamente
por meio desse tipo de oraçã o. Ele é cheio de graça. Assim como o ar, Ele entra em qualquer
lugar em que haja uma fresta. Contudo, isso nã o significa que esse modo de orar seja correto.
Nã o é o melhor. O melhor modo de orar pode ser comparado ao abrir das janelas. Os irmã os
que cuidam do local de reuniõ es chegam antes da reuniã o para abrir as janelas e as portas.
Essa é a forma correta de deixar o ar entrar. Se houver um buraco na vidraça ou uma fresta na
porta, o ar pode penetrar, mas é uma maneira insatisfató ria de deixar o ar entrar. Igualmente,
a melhor maneira de orar é "abrir nossas janelas" para o céu, ou seja, abrir-nos para o Senhor
e contatá -Lo. Todos nó s precisamos aprender diá riamente a nos abrir ao Senhor, a "abrir
nossas janelas" a Ele, assim como Daniel orava três vezes ao dia com as janelas abertas em
direçã o a Jerusalém (Dn 6:10).

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Precisamos abrir-nos ao Senhor e gastar tempo com Ele. Nã o devemos pensar que nã o temos
tempo para isso. Nã o devemos desculpar-nos pela falta de tempo. As irmã s sã o ocupadas com
cozinha, roupas e muitas outras coisas, mas nã o podem dizer que nã o têm tempo para
respirar. Até mesmo quando cozinham, elas devem abrir-se ao Senhor. No ú ltimo ano e meio,
compusemos duzentos e trinta novos hinos. Muitas vezes, enquanto compunha, eu dizia:
"Senhor, abro-me a Ti. Ó Senhor, vem". Isso mostra que nã o podemos dizer que estamos
ocupados demais para orar. Enquanto trabalhamos precisamos abrir-nos ao Senhor. À s vezes,
pode ser necessá rio orar em um local fechado, mas essa nã o é a maneira normal, saudá vel.
Uma vez, quando tive uma enfer-midade, por dois anos e meio, passei muito tempo
esforçando-me para respirar. Contudo era uma situaçã o anormal. Hoje, estando saudá vel,
respiro o tempo todo, nã o importa o que faça, onde esteja e com quem esteja.

Temos de aprender a contatar o Senhor dessa maneira. Devemos abrir-nos a Ele a fim de
absorver algo Dele. Se sentirmos um impedimento, devemos imediata-mente perguntar-Lhe o
que está errado e confessá -lo. Se nã o tivermos clareza do que especificamente está errado,
devemos dizer ao Senhor que estamos sob Seu sangue e aplicarmos sua purificaçã o. Entã o,
temos de contatar o Senhor pela fé para louvá -Lo, depender Dele, apreciá -Lo, adorá -Lo,
contemplar Sua beleza e estar em Sua presença por certo tempo a fim de louvá -Lo e falar algo
a Seu respeito.

Quanto mais contatamos o Senhor dessa maneira, mais somos cheios Dele. Depois que O
desfrutarmos, espon-tâ neamente haverá um profundo sentimento em nó s, e teremos encargo
para orar. Esqueceremos nossos assuntos, problemas, fardos e aborrecimentos, e
gradualmente ganha-remos o encargo da intercessã o. Teremos o encargo na oraçã o de
expressar algo pelo Senhor, e podemos perguntar-Lhe se esse encargo é Dele ou nã o, assim
como Abraã o ganhou encargo com o desejo do Senhor com respeito a Ló e orou enquanto
conversava e trocava idéias com o Senhor. Depois de inalar o Senhor e de sermos cheios Dele,
teremos o encargo de orar, à s vezes por nó s mesmos e à s vezes pela família, pela igreja, pelos
santos, pelo evangelho, pelos pecadores e até mesmo pelas igrejas em lugares muito distantes.
Seremos um com o Senhor para desfrutá -Lo e expressá -Lo. Esse é o significado adequado de
orar no Espírito Santo. Somente dessa maneira é que podemos orar no Espírito Santo e orar
sem cessar (1Ts 5:17).

Nã o é preciso ser formal ou ter boa composiçã o nas oraçõ es. Antes, devemos falar livremente
ao Senhor. Quanto mais praticarmos orar assim, mais oraremos com palavras simples e até
mesmo singelas. Muitas vezes podemos simplesmente suspirar em nossa oraçã o. Esses
suspiros sã o como o "selá " nos Salmos ou como as pausas nas partituras musicais. Isso torna
nossa oraçã o mais significativa. Depois de haver orado por determinado tempo, podemos
fazer uma pausa para descanso, um selá . Nã o deveríamos correr demais ou falar algo
apressadamente. Nosso descanso dá ao Senhor a oportunidade de dizer algo. Se tivermos um
pequeno silêncio em nosso falar, o Senhor nos dará mais palavras. À s vezes precisamos
descansar e até mesmo tatear em busca de palavras. Isso dará ao Senhor uma chance de nos
impres-sionar com alguma expressã o nova. É fá cil ter nosso tempo de oraçã o pessoal assim.

EVITAR CONCEITOS NATURAIS E RELIGIOSOS NA ORAÇÃ O

Quando oramos para adorar o Senhor e louvá -Lo, temos de aprender a abandonar a maneira
natural e reli-giosa de pensar. Temos muitos itens positivos nas Escrituras com os quais
podemos louvar o Senhor. Nã o é necessá rio que usemos expressõ es provenientes de
sentimentos religiosos e naturais. Devemos aprender a falar coisas que vêm das profundezas e
também a usar expressõ es da Bíblia. Vemos esse tipo de falar na oraçã o da mã e de Samuel
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(1Sm 1:10-11) e no louvor de Maria, a mã e do Senhor Jesus (Lc 1:46-55). Também precisamos
aprender a orar como Paulo orou em Efésios 1:17-23 e 3:14-21. Quando louvamos e adoramos
o Senhor, precisamos abandonar nossas idéias, conceitos e sentimentos naturais e falar algo
celestial, espiritual, novo, cheio de vida, cheio de unçã o e cheio da suavidade do Senhor.

Sempre que vamos orar, nã o devemos levar nessas coisas velhas ao Senhor. Devemos
simplesmente contatá -Lo e abrir-nos a Ele. Nã o devemos considerar o que vamos dizer.
Devemos esquecer nossa mente natural e aprender a sentir algo do Senhor que está em nosso
interior, exercitando a percepçã o interior a fim de falar algo a Ele. Nã o precisamos compor
nosso discurso. Antes, quando sentimos algo no espírito, nas profundezas do nosso ser,
devemos expressá -lo resumidamente. Compor a oraçã o irá contrariar o sentimento interior.
Se, por exemplo, sentimos que o Senhor é amá vel, podemos dizer: "Ó Senhor! Oh! Tu és tã o
amá vel!" O Senhor sabe o que queremos dizer; nã o é necessá rio completar o discurso. À s
vezes, seguindo o sentimento interior, podemos orar: "Ó Senhor, Tu és tã o profundo. Isso me
satisfaz". Basta proferir algo que provém do nosso interior, com palavras e frases simples, sem
qualquer composiçã o. Devemos expressar apenas o sentimento interior.

Com esse propó sito, precisamos usar o tempo ade-quado na oraçã o. Se possível, devemos
trancar-nos com o Senhor e nã o deixar que nada interfira em nosso tempo com Ele. Entã o,
teremos algo para expressar. Se nã o tivermos algo para expressar, nã o devemos fazer uma
composiçã o. Nã o existe uma lei que diga que cada vez que desfrutamos o Senhor, devemos ter
um encargo para expressar. Fazer algo assim seria de nossa criaçã o. Se nã o temos algo em
parti-cular para expressar, devemos apenas desfrutar o Senhor. Pode ser que pela manhã
simplesmente O desfrutemos, e duas horas mais tarde a expressã o venha. Nesse momento,
podemos espontaneamente ter um encargo para orar. Esse será um encargo dado a nó s pelo
Senhor. Nã o devemos fazer de nosso contato com o Senhor uma rotina. Isso poderá mortificar-
nos Antes, o princípio é este: aproximamo-nos do Senhor para nos abrir e sentir um encargo
para orar.

O ENCARGO DA NOSSA ORAÇÃ O TEM UM FOCO PRINCIPAL

Quando chegamos à presença do Senhor para orar com um encargo, precisamos focalizar-nos
em um assunto de cada vez. Nã o podemos ir a um banquete comer muitos pratos de uma só
vez. Orar por muitos assuntos sem focalizar um encargo verdadeiro pode indicar que nossa
prá tica é meramente religiosa. Quando oramos assim, nã o podemos dizer pelo que oramos
particularmente. Quando vamos ao Senhor, devemos ser tocados por Ele em determinado
assunto. À s vezes podemos ser tocados pelo amor do Senhor, por Sua santidade ou por Sua
presença. Quando recebermos um assunto do Senhor, teremos encargo por esse assunto.

Considere a oraçã o de Daniel (Dn 9:3-19). Foi uma longa oraçã o, mas enfatizava um ponto
principal: a revelaçã o de que no final dos setenta anos o Senhor libertaria Seu povo do
cativeiro e os levaria de volta (v. 2). Daniel ganhou encargo no que viu, e sua oraçã o
concentrava-se naquele ú nico assunto. Similarmente, o Salmo 119, com cento e setenta e seis
versículos, é o capítulo mais longo da Bíblia, mas focaliza uma ú nica coisa: a palavra de Deus.
Há um verdadeiro encargo no louvor desse Salmo. Nossa oraçã o deve ter um foco central. É
difícil termos dois encargos ao mesmo tempo. Nã o podemos dizer se tal oraçã o é "carne de
vaca, de carneiro ou de porco". Se nossa oraçã o for uma coleçã o de muitos itens sem um
verdadeiro encargo, isso pode indicar que ela provém do nosso eu natural e conhecimento
religioso.

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Precisamos abandonar as coisas do nosso passado natural e religioso e aproximar-nos do
Senhor com coraçã o simples, singelo, e espírito aberto para ser tocados por Ele. Se
aprendermos a nã o falar naturalmente, falaremos de maneira adequada. Uma vez, um jovem
mú sico inscreveu-se para estudar com um especialista na Itá lia. O especialista lhe disse: “Vou
recebê-lo como aluno com uma condiçã o: por três anos você nã o deve abrir a boca para falar".
O jovem considerou se poderia ou nã o aprender algo se nã o falasse, e por fim concordou com
a condiçã o. Ele esteve três anos sob tutela desse especialista, até que um dia o tutor lhe disse:
"Fale agora para expressar seu sentimento". Uma vez que o jovem começou a falar, tudo o que
expressava era o que o tutor lhe ensinara. Se o aluno tivesse sido autorizado a se expressar
naqueles três anos, isso teria sido uma frustraçã o para o seu aprendizado. Da mesma forma,
muitas vezes precisamos ir ao Senhor para estar em silêncio. À s vezes, nã o devemos dizer
nada de nó s mesmos, mas deixar-Lhe ensinar-nos o que dizer.

Devemos evitar todo conceito e entendimento religioso quando oramos. À s vezes temos de
fazer uma oraçã o longa, ainda assim precisamos concentrar-nos em um encargo principal. À s
vezes podemos orar: "Senhor, tem misericó rdia de mim". Essa é uma boa oraçã o. Em Mateus
20:32-33, Jesus perguntou aos dois cegos: "Que quereis que Eu vos faça? Responderam-Lhe:
Senhor, que se nos abram os olhos". Como oraçã o, isso foi suficiente. Nã o havia necessidade de
dizer: "Senhor, sei que Tu és o Filho de Davi. Tu vieste com o poder de Deus. Tu és soberano,
Tu podes fazer todas as coisas. Se quiseres, podes curar-me". Devemos aprender a nã o falar
assim quando oramos. Entã o teremos algo ade-quado para falar. Quanto mais oramos, mais
desfrutamos o Senhor, mais O absorvemos e inalamos. Entã o, teremos um encargo que
provém do fato de termos sido cheios do Senhor, e poderemos proferir e expressar algo Dele.

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